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Sempre me interessei por detalhes, pelos sorrisos de canto de boca, pelo não dito e tão explícito nas

entrelinhas das tentativas de encobrimento.


O que me cativa são olhos enrugados de gargalhadas, ou de sabedoria marcada pelo tempo.
Gosto de gente que arranca suspiros discretos, de sutilezas de ação, de bons corações.
Cada romance me traz uma lembrança. Aquele dos desenhos misteriosos que eu tentava disvendar,
da facilidade de ser qualquer coisa e agradar. Do homem menino, com seus jogos, tão intenso, todo
sentimento, fez por mim o que eu achei nunca poder despertar em ninguém. Me recordando consigo
entender o humor da vida, será que é realmente uma questão de compatibilidade? Acho que seria
muito mais uma questão de projeções e expectativas frustradas, horizontes suspensos, ou apenas
falta de maturidade mesmo.
O de frases prontas e feitas, decoradas para conquistas fáceis, surpreso por indagações de uma
garota um tanto cética para casos de contos de fadas. Com sede de mundo, vontade de exploração.
Sensação de liberdade, de enxergar a primeira vez, ou apenas ingenuidade...
E o príncipe, esperado e mascarado. Chegado num tempo oportuno de ilusão e necessidade. Olho
para traz e entendo agora que não haveria de ser de outro jeito, era pra ser. O ideal de música,
beleza e conversações sem sentido, de elogios certeiros de encher a cabeça de uma menina com
baixa auto-estima, se descobrindo nova a cada dia. De dias perfeitos, e declarações sempre
desejadas, olhos claros e paixão ardente. Mas com tudo isso veio também acomodação, exploração,
submissão, falta de respeito e a sensação de fracasso tão pesada, com resquícios presentes.
E fez-se uma cisão, entre o antes e depois dele. Todos que se seguiram foram consequências, o que
não faz das experiências menos importantes, mas a fuga já era aliada, alada.
Mas com o tempo a angústia se acalmou, e o ressentimento deu lugar a tentativas. Percebi que a
cautela me fez aproximar de seres exepcionais. E a cada dia descobria belezas escondidas, como um
espectador observando o espetáculo, e me atendo a cada detalhe espetacular, a busca de tesouros
escondidos e enterrados.
Eu escutava versos, e lia olhares. Entre descobertas, o novo as vezes machucava, mas acrescentava
tanto, que apenas continuei deixando tudo (e todos), que tivessem que vir.
Atenta, percebi que cada fase atraia alguém compatível. E teve o blues, e teve o rutz, teve exato e
aquele sem formato. Teve os observadores, a sutileza do encantamento que cativa tanto, e que me
ensinou muito sobre mim mesma, e que sem isso, não seria esse sujeito de hoje.
E surpresa, fui percebendo que apenas sendo eu, consegui me tornar no meu ideal. E que era tão
expressivo e bonito, que os outros conseguiam observar minha mudança, e se sentiam atraidos pela
autenticidade. Entendi que o desenvolvimento não é alcançado por muita gente, e isso gera
admiração.
Todos amantes, que compõe o ser em que me desenvolvi hoje. E cada um deles tem uma
característica tão fundamental e única de seu ser, que mesmo sem materiais objetivos, a memória
me permitirá eternização.
Todos, a sua maneira, me tocaram, e lá bem fundo, acredito esperançosa, que talvez eu também
possa ter deixado um gostinho de amora perdida no fundo de lembranças alheias.
Se ao menos um eu tenha conseguido tocar de verdade, já terá valido minha existência.
As vezes me percebo arrependida da retenção de sentimento, mas depois penso que a intensidade é
só questão de ponto de vista. Não conheço ninguém igual a mim. E do meu jeito, assim meio
confuso, talvez até mesmo esquisito, gravei cada um deles na memória de meu coração.
Acho que eles só foram o que eu precisava que fossem e ponto. Isso não os torna menos
fundamentais. Minha maneira de relacionar é só minha, e sei o que é certo para mim.
Gosto de espontaneidade, de ser pega de surpresa admirando as escondidas um movimento
aparentemente comum e que as vezes revelavam almas.
Pode até ter sido algo da minha imaginação, mas mesmo que seja, não muda de sentido e relevância
para o meu processo de formação.
Aaah, teve amores escondidos, nunca revelados, olhados a distância, que também estão
impregnados em mim.
E então, conclusão? Experiência é só questão de observação e absorção. PERSPECTIVA. E estas
duas ações acontecem de maneiras tão únicas e individuais, que existem um milhão de jeitos
diferentes de se relacionar com outros, tão particulares para cada ser existente nesse universo. E isso
é tão sensacional e extraordinário, que mesmo que em alguns momentos eu perca esse pensamento,
e o niilismo invada, viver para ver, já valerá a pena.

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