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28 de Agosto de 2023

Clarinha, em meio a minhas reflexões recentes, percebo como os


pensamentos fluem incessantemente, como uma correnteza incontrolável.
Anseio por desvanecer essa constante saudade que se aninha dentro de mim,
embora evite rotulá-la assim. Por vezes, sinto-me cativo no tecido do tempo,
envolto por lembranças tão breves, porém intensamente doces. Não consigo
discernir qualquer sombra de maldade em teu ser, mesmo que uma parte de
mim anseie por tal vislumbre, apenas para explorar o sabor amargo da raiva.
Não é ciúmes que me acomete, tampouco o desejo de retornar e reescrever
nosso passado; é, simplesmente, o enigma que minha mente tornou-se nos
últimos tempos. É como se meu eu de 2020 tivesse ressurgido, ainda buscando
por ti, e como comunicar a ele que tu partiste há meses? Uma tarefa árdua,
compreendes? Sinto-me, por vezes, um navegante perdido, mesmo com a
companhia de minha amada, que me preenche de alegria. No entanto,
pequenos pensamentos me atormentam.

Uma verdade aceitei há tempos: foste meu primeiro amor e essa realidade
permanecerá inalterada. Pois, quando alguém é pioneiro em qualquer
experiência, essa marca permanece indelével. Creio que os defeitos que
outrora me marcavam, esses me foram destituídos; não mais careces
preocupar-te com minha jornada. Ocorre, entretanto, que por vezes
desaponto-me, ao relembrar que a teus olhos, sempre serei um mero ex-
webnamorado. Incerto se almejo mais do que essa designação, sabes? Mas o
título que me atribuíste ocasionalmente me inquieta, pois sempre frisaste a
natureza virtual de nosso vínculo. Detesto essa palavra, ela limita a vastidão
que percebia em ti, por que não fui para ti algo mais?

O passado me envolve nas noites paradoxais, numa dança de lembranças e


sentimentos conflitantes, e isso me desagrada sobremaneira. Anseio por
silenciar os pensamentos, por trilhar adiante e sepultar todas essas
recordações, as boas e as menos belas.

Laerte da Silva
27 de Agosto de 2023
Clarinha, sentado aqui, entre versos e sonetos que ecoam enquanto canções, sinto o frio lá
fora. Este clima me transporta às madrugadas em que minha mão gelava, sacrificando-se pelo
prazer de conversar contigo. Clarinha, compreende que para sempre existirá uma versão de ti
que namora o Laerte. Aquele perfil antigo que perdeste em 2021 ainda ostenta dois destaques
repletos de memórias conosco; confesso que dei uma olhada recentemente. Éramos tão tolos
naquela época, mas, felizmente, isso permanece no anonimato, resguardando as ações e
postagens daquela fase.

Em ocasiões, pressinto o que está por vir. Não que seja um sábio do futuro, mas há uma
sensação que se assemelha, entende? Ano passado, manifestei meu temor de perder-te neste
ano, de ver o contato esmaecer, de nos despedirmos eternamente, e não é que isso realmente
ocorreu? Porém, em nosso caso, não carecia de grande esforço para perceber que, mais cedo
ou mais tarde, chegaria o desfecho definitivo, pois simplesmente não havia como prosseguir da
forma anterior.

Dias atrás, assisti a um vídeo no TikTok sobre cruzar com uma estranha na rua, mas conhecê-la
intimamente. Em parte, senti-me conectado a essa ideia. Quando estava em Goiás, não
encontrei uma desconhecida na rua, mas passei em frente à casa de alguém que desconhecia.
De maneira curiosa, sabia muito a seu respeito; conhecia suas cores favoritas, seus medos, a
localização de sua cama, os nomes de seus pais e até o da cachorrinha que latia. Sabia onde
estudava e, surrealmente, até o nome que planejávamos dar a nosso filho. Por que, por vezes,
conhecemos tão profundamente aqueles que são estranhos para nós?

Essa conexão inexplicável com desconhecidos parece tocar nas fibras mais profundas da
nossa humanidade. Talvez seja a capacidade inata de perceber e compreender, de criar
laços sutis que transcendem a mera aparência. No cruzamento de olhares, nas entrelinhas dos
gestos, encontramos fragmentos de vidas que se entrelaçam, como se nossas almas
reconhecessem algo familiar e ancestral em outros seres.

No nosso caso, Clarinha, essa proximidade emocional era a argamassa que unia nossos
corações, a despeito da distância física. As conversas na madrugada, as confidências
compartilhadas, os sonhos traçados em conjunto — tudo isso forjou uma conexão que, mesmo
que tenha evoluído e se transformado, deixa uma marca indelével. Essa profundidade de
entendimento é rara e especial, um reflexo do quanto fomos capazes de nos entrelaçar nas
nossas histórias pessoais.
Talvez um dia possamos compreender plenamente por que algumas conexões são tão
profundas com aqueles que, de certo modo, permanecem desconhecidos.

Laerte da Silva
28 de Agosto de 2023
Clarinha, que o dia te acolha com sua luz. Hoje, ao despertar, meus pensamentos dançaram em
torno de ideias que talvez careçam de um fio condutor lógico. Sempre repeti a mim mesmo que,
caso fosse possível retornar ao passado, teria feito escolhas distintas. Evitaria cruzar contigo,
fugiria de teus encantos, resguardaria meu coração da paixão que nutri. No entanto, neste
instante, questiono a precipitação dessas palavras.

Agora vejo com clareza que sim, repetiria cada passo, cada encontro, cada sentimento.
Conhecer-te, abraçar-te, perdoar-te e buscar-te novamente, tudo faria parte de um ciclo que,
por mais intrincado, não deixa de ser nosso. Em algum canto do mundo, alguém poderia rotular
minhas palavras de loucura, mas talvez essa pessoa desconheça a profundidade das jornadas que
percorremos.
Alterar as escolhas passadas seria adulterar o rumo que a vida traçou. Não teria a chance de
cruzar caminhos com Yasmin, de entregar meu coração ao amor que nutro por ela, de
compartilhar os instantes com as pessoas que hoje me cercam. O amadurecimento que alcançei,
fruto das trilhas tortuosas, talvez jamais tivesse se materializado. Hoje, visualizo com clareza os
erros e os desvios que cometemos, mas o momento é de olhar para frente.

Cada erro que compartilhamos, mesmo que doloroso, construiu os alicerces do nosso
aprendizado. Foram passos equivocados que nos conduziram ao acerto que agora vislumbramos.
Longe de desejos maléficos ou palavras maldosas, minha visão de ti se transformou em algo belo e
pacífico. Embora por vezes a raiva tente encontrar espaço, sei que esta é a perspectiva correta.
O que transcorreu, mesmo que difícil, era uma parte intrínseca de nossa jornada. Aceitar esse fato
é render-se à correnteza da vida, compreendendo que cada onda, cada turbulência, estava
destinada a nos levar ao porto da sabedoria e da realização.

Se pudesse, apagaria a mágoa que por vezes se manifesta, pois vejo agora que o perdão e a
compreensão são os alicerces sobre os quais construímos nossa visão de mundo. A beleza reside
na jornada completa, com todos os seus altos e baixos, tristezas e alegrias.
É como se a maturidade me tivesse presenteado com lentes que enxergam além das sombras, que
compreendem que o passado moldou o presente, e que o presente esculpirá o futuro. Nessa
dança contínua entre os dias, percebo que cada pequeno passo nos trouxe até este momento, e
que cada momento contém a promessa de um novo começo.

fNão se trata mais de desejar voltar atrás, de questionar o que poderia ter sido diferente. O
importante é o agora, é a perspectiva que ganhamos graças aos desafios enfrentados e
superados. As escolhas feitas, por mais que tenham sido dolorosas, foram uma expressão de nossa
humanidade, da nossa busca por amor, crescimento e significado.
Clarinha, que mesmo em meio às palavras que não puderam ser ditas, às feridas que não foram
completamente curadas, possamos lembrar que fomos uma parte fundamental na jornada um do
outro. Nossa história, por mais complexa que seja, faz parte do mosaico que é a vida, e sou grato
por cada pedaço, por cada lição e por cada lembrança que trago comigo.

Laerte da Silva

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