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Eu sinto frio. Não do tipo que sentia nos invernos em Evermeet, quando podia me
sentar no jantar e sentir o calor
que emanava da cozinha e saciar minha fome
após um longo dia ajudando minha mãe pela casa quando pequena. É
um frio que
entorpece a mente, que faz o pensamento querer se perder. Ultimamente tudo que
sinto é essa sensação
de perda que traz a angústia. Quem sou eu?
Minhas memórias estão confusas, como que cobertas por densas brumas que me
confundem. Repito como um
mantra para mim mesma, não posso me esquecer que eu
sou, de onde vim e meu chamado. Contudo, eu faria tudo
que estivesse ao meu
alcance se pudesse lembrar mais uma vez do rosto deles… eu sei que meus amigos
ainda
sofrem.
Eu ouço risadas ao meu redor, parece que quanto mais tento lembrar de meus
amigos, mais perco eles de vista.
Estou andando por esse lugar, apenas terra e
mais terra sem nenhum sinal de vida. Mas as risadas… elas parecem
se deliciar
com meu agúrio, parecem querer me instigar a me amarrar em minhas memórias para
afastar elas. E
quanto mais tento me agarrar, pior me sinto por não
lembrar. Elas estão me incomodando muito, acho que pela
primeira vez estou
sentindo de fato medo.
Acho que estou ouvindo o som de ondas… Será que o mar está perto? Eu acho que
vou seguir o som. Sempre me
senti melhor perto da água, embora nunca soube bem
explicar o porque. Acho que a vida tem desses mistérios.
Uma de minhas amigas era muito misteriosa. Eu me lembro que ela perdeu o que
tinha de mais importante na vida
dela e em um momento de desespero encontrou
quem a ajudasse. Mas até que ponto a ajuda que encontramos é
sincera? A morte
não é um fim, e como eu mesma estou descobrindo, muitas vezes sequer é um
alento. Mas não é
justo que vivos sofram mais do que o luto pede pelos
mortos. A vida dela para mim é a mais misteriosa, eu não sei
se devo por em
minhas preces para que ela encontre o que perdeu, ou para que ela encontre em si
mesma o que é
preciso para continuar. O preço encontrar o que busca pode ser
muito alto, mas a aflição de aceitar a perda às
vezes é insuportável. Só rogo
para que um destino feliz a encontre.
Estou chegando mais próxima das ondas. Elas estão cada vez mais altas, eu
consigo sentir a presença de Selune,
acho que vejo um brilho prateado em meio a essa
névoa! Preciso tomar cuidado para não tropeçar, há tantos galhos
no chão agora,
pequenas pedras. Eu acho que consigo acelerar o passo, só preciso consiguir
manter o pensamento
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4/23/22, 2:53 PM
O último lembro de que era um humano. O que viveria a mais breve vida entre nós
segundo o curso natural da vida.
Mas o curso natural nem sempre é o que
esperamos não é mesmo? Para ser sincera eu admiro a velocidade e
intensidade com
a qual os humanos vivem, ele já havia sofrido atos terríveis e ao mesmo tempo
vivido amores
intensos. Ele foi abençoado pelos deuses com um inseparável
companheiro, como que prevendo que sua vida faria
com que ele e seu outro
companheiro de vida tomassem diferentes rumos e se desencontrassem. Ele não
confiava
em nós ainda, mas eu sinto que começava a ver em nós aliados não só em
batalhas, mas também na vida. Eu rogo
para que ele encontre quem busca são e
salvo, que o amor possa ser a luz que guie o mundo para um lugar melhor.
Finalmente! O brilho prateado da lua está mais forte, eu estou ouvindo as ondas
se quebrando com intensidade! Eu
poderei encontrar Selune no oceano, ela puxa a
mim para lá assim como puxa as marés! Só mais alguns passos até
que…
Mais brumas…
Esse é o lugar. O som parou, o brilho também. Eu ouço risadas ainda mais
debochadas. Estão por
toda a parte, mas não vejo nada. Espere! Eu sinto meus pés
molhados, talvez o mar esteja aqui.
"AAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAA"
Olho para baixo e vejo apenas um sangue denso, há mãos saindo dele,
eu preciso sair daqui. Eu corro para o
nevoeiro sem rumo, tropeço várias vezes
e ouço as risadas cada vez mais intensas. Eu preciso fugir daqui…
Eu acho que estou ouvindo o mar. Mas eu não sei se tenho forças pra me
levantar. Não, eu conheço essa sensação.
Eu ouço de novo risadas, eles estão
aqui de novo. Eles querem minhas memórias. Não por favor! Eu não quero
perder o
que eu ganhei de mais precioso, eu não lembro mais o rosto nem o nome deles. Não
sei mais nem das
faces de minha família. Será que eu era amada? Eu tinha
família?
Eles não param! Façam parar, por favor… eu não aguento mais.
"VOLEN ME SALVE!"
Author: tiagoferreicasa
Created: 2022-04-23 Sat 14:52
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