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4/23/22, 2:53 PM ‎

Eu sinto frio. Não do tipo que sentia nos invernos em Evermeet, quando podia me
sentar no jantar e sentir o calor
que emanava da cozinha e saciar minha fome
após um longo dia ajudando minha mãe pela casa quando pequena. É
um frio que
entorpece a mente, que faz o pensamento querer se perder. Ultimamente tudo que
sinto é essa sensação
de perda que traz a angústia. Quem sou eu?

"Valyindriss Galilleyus. Elfa de Evermeet, seguidora de Selune."

Minhas memórias estão confusas, como que cobertas por densas brumas que me
confundem. Repito como um
mantra para mim mesma, não posso me esquecer que eu
sou, de onde vim e meu chamado. Contudo, eu faria tudo
que estivesse ao meu
alcance se pudesse lembrar mais uma vez do rosto deles… eu sei que meus amigos
ainda
sofrem.

Eu me lembro de como todo o meu mundo se virou de cabeça pra baixo


quando sai de Evermeet. Para onde eu fui?
Não me lembro, tudo que me lembro são
de sentimentos. A ira que me consumiu no instante que vi um elfo
clandestino ao
meu lado, um companheiro de Evermeet agindo como um delinquente… Ah por Selune
eu era tão
inocente! É como na passagem que li há muito tempo: "Há mais coisas
entre o céu e a terra do que sonha nossa vã
filosofia." A ira em pouco tempo se
tornou apreço, as palavras que ele me disse faziam sentido, o mundo não era tão
simples quanto pensei e ele prontamente se mostrou disposto a me proteger. Ele
tinha um jeito mágico de ser que
encantava a todos ao redor, sempre muito
cavalheiro, gentil e lutava pela justiça. Eu temo que nos últimos momentos
que
vivemos juntos a dor da perda o estava consumindo. A vingança o estava cegando
mais do que esse denso
nevoeiro que me cerca, o coração dele outrora claro como
cristal se tornava quase que impossível de se ler. Espero
que ele consiga se
libertar da dor da perda e do ódio que o consomem.

Eu ouço risadas ao meu redor, parece que quanto mais tento lembrar de meus
amigos, mais perco eles de vista.
Estou andando por esse lugar, apenas terra e
mais terra sem nenhum sinal de vida. Mas as risadas… elas parecem
se deliciar
com meu agúrio, parecem querer me instigar a me amarrar em minhas memórias para
afastar elas. E
quanto mais tento me agarrar, pior me sinto por não
lembrar. Elas estão me incomodando muito, acho que pela
primeira vez estou
sentindo de fato medo.

Esse sentimento de medo me lembra muito de quando conheci uma de minhas


amigas. Sua presença era
ameaçadora, imponente, um sentimento de receio muito
grande me tomou pela primeira vez que a vi. Mas quanto
mais a conheci, mais esse
receio se tornou segurança. Me sentia completamente segura perto dela. Era uma
mestre
em batalha, nenhum de nossos inimigos resistia a sua força. Mas ela
sempre esteve perdida. Talvez desde seu
nascimento, estava destinada a uma vida
cruel. Mas se pudesse evitaria cada dor que ela sofreu. É justo um filho
pagar
pelos pecados de seus pais? Oh Selune, porque o mundo tem de ser tão cruel?
Minha amiga sabe que os
desafios que virão exigem que ela confie nos outros, mas
ela precisa mais do que tudo confiar em si mesma e na
própria força dela. Sei
que o coração dela é maior do que qualquer sede de sangue.

Acho que estou ouvindo o som de ondas… Será que o mar está perto? Eu acho que
vou seguir o som. Sempre me
senti melhor perto da água, embora nunca soube bem
explicar o porque. Acho que a vida tem desses mistérios.

Uma de minhas amigas era muito misteriosa. Eu me lembro que ela perdeu o que
tinha de mais importante na vida
dela e em um momento de desespero encontrou
quem a ajudasse. Mas até que ponto a ajuda que encontramos é
sincera? A morte
não é um fim, e como eu mesma estou descobrindo, muitas vezes sequer é um
alento. Mas não é
justo que vivos sofram mais do que o luto pede pelos
mortos. A vida dela para mim é a mais misteriosa, eu não sei
se devo por em
minhas preces para que ela encontre o que perdeu, ou para que ela encontre em si
mesma o que é
preciso para continuar. O preço encontrar o que busca pode ser
muito alto, mas a aflição de aceitar a perda às
vezes é insuportável. Só rogo
para que um destino feliz a encontre.

Estou chegando mais próxima das ondas. Elas estão cada vez mais altas, eu
consigo sentir a presença de Selune,
acho que vejo um brilho prateado em meio a essa
névoa! Preciso tomar cuidado para não tropeçar, há tantos galhos
no chão agora,
pequenas pedras. Eu acho que consigo acelerar o passo, só preciso consiguir
manter o pensamento

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ativo e não me entregar ao torpor. Meus dois últimos amigos


que me acompanharam até meus últimos dias me
ajudarão!

O primeiro era ao mesmo tempo semelhante e diferente de mim. Ele havia


encontrado a graça dos deuses, mas
seguia por um caminho mais ligado à
natureza. Era talvez, o coração mais puro de nós. Era tão inocente e sincero
que
parecia mais uma crianças as vezes. Queria proteger os mais novos e tenho
certeza que será capaz de feitos
extraordinários! Espero que consigo se manter
bem e consiga proteger seus discípulos.

O último lembro de que era um humano. O que viveria a mais breve vida entre nós
segundo o curso natural da vida.
Mas o curso natural nem sempre é o que
esperamos não é mesmo? Para ser sincera eu admiro a velocidade e
intensidade com
a qual os humanos vivem, ele já havia sofrido atos terríveis e ao mesmo tempo
vivido amores
intensos. Ele foi abençoado pelos deuses com um inseparável
companheiro, como que prevendo que sua vida faria
com que ele e seu outro
companheiro de vida tomassem diferentes rumos e se desencontrassem. Ele não
confiava
em nós ainda, mas eu sinto que começava a ver em nós aliados não só em
batalhas, mas também na vida. Eu rogo
para que ele encontre quem busca são e
salvo, que o amor possa ser a luz que guie o mundo para um lugar melhor.

Finalmente! O brilho prateado da lua está mais forte, eu estou ouvindo as ondas
se quebrando com intensidade! Eu
poderei encontrar Selune no oceano, ela puxa a
mim para lá assim como puxa as marés! Só mais alguns passos até
que…

Mais brumas…
Esse é o lugar. O som parou, o brilho também. Eu ouço risadas ainda mais
debochadas. Estão por
toda a parte, mas não vejo nada. Espere! Eu sinto meus pés
molhados, talvez o mar esteja aqui.

"AAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAA"

Olho para baixo e vejo apenas um sangue denso, há mãos saindo dele,
eu preciso sair daqui. Eu corro para o
nevoeiro sem rumo, tropeço várias vezes
e ouço as risadas cada vez mais intensas. Eu preciso fugir daqui…

Onde estou? Quem sou eu? A sim…

"Valyindriss Galilleyus. Elfa de Evermeet, seguidora de Selune."

Eu acho que estou ouvindo o mar. Mas eu não sei se tenho forças pra me
levantar. Não, eu conheço essa sensação.
Eu ouço de novo risadas, eles estão
aqui de novo. Eles querem minhas memórias. Não por favor! Eu não quero
perder o
que eu ganhei de mais precioso, eu não lembro mais o rosto nem o nome deles. Não
sei mais nem das
faces de minha família. Será que eu era amada? Eu tinha
família?

"CALEM A BOCA, PAREM DE RIR DE MIM!"

Eles não param! Façam parar, por favor… eu não aguento mais.

"VOLEN ME SALVE!"

Author: tiagoferreicasa
Created: 2022-04-23 Sat 14:52
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