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Bordas da Indecisão

- Elisa Guimarães Freitas

O Gotejar.

E naquele momento, o que resta sã o lá grimas,


que correm pelo meu rosto criando formas, inspiraçã o.
Sua queda lenta, que, à s vezes, acaba por se torna uma tempestade.
Outras vezes, apenas um chuvisco em uma tarde cinza.

O gotejar
O som que faz quando toca no papel,
simples melodias que sã o boas de escutar.

Motivaçã o, emoçã o.
Paz, correria, medo.
Através de gotas, há muita mais a se mostrar.

Certeza, como ter certeza do que realmente se trata esse infinito gotejar?
Através de falá cias, é mais fá cil de explicar.
Através de poesia, é mais fá cil se expressar.

Dores, tudo se sente demais.


Medo demais, solidã o demais, pensamentos demais, sempre no plural.

O que é a dor para você?


Um final triste de um filme?
Sua comida favorita acabada?
Aquele arranhã o na perna, que nem mesmo você sabe como fez?
A perda de alguém?

Problemas, todos eles têm.


Todos nó s temos, e sempre vamos ter.
Por isso, nosso gotejar está sempre presente, por mais mesquinha que seja nossa
dor.

No final do dia, as lá grimas sempre escorrem por você.


Queda Livre.

Assista minha lenta decadência, a doce caída ao fim.


Palavras desconexas entram em minha mente, razã o já é algo inimaginá vel.

Mesmo que eu tente, minhas lá grimas nã o sã o o suficiente,


Meu esforço nã o é o suficiente,
Eu sou nã o o suficiente.

Para onde esse cá rcere de pesadelos irá me levar?


Divagando em tú mulos como um fantasma, minha alma grita por apelo, mas nã o
sou escutada.

Somos reféns de um sentimento


Embora nobre... Cruel dor.
Um frio tã o desejado que traz a morte como destino
se desvenda numa nuvem de acontecimentos.
Defloro a razã o que paira num momento.

Distanásia.

Nã o foi minha culpa, nã o.


Que tamanho tem minha culpa
e culpa pelo o que?

Quem sangrou foi eu.

Você com uma faca na mã o,


meu corpo e alma feitos em pedaços
escorrendo sangue fresco.
Eu pedi desculpas,
eu me justificava,
eu implorava por perdã o.

Talvez, meu erro tenha sido acreditar


que essa utó pica realidade, seria diferente para mim.

Entã o, seja o amor profundo em minha vida,


a solidã o que ressente a aurora, que se rompe na madruga.
Que desdenho do amor, profundo sentimento. Um final esperado.
Recuar

Aprendi a recuar.
Aonde ir, onde ficar?
Aonde irei, ficarei.
Como me aconchegar.

Na maviosidade desse relento


hesito em ter-te em minha mente.
Mas como poderei de fato recuar,
se meu entendimento junto a ti está ?

Limbo
Devaneios ambulantes,
mente mirabolante, gigante, pensante,
mundivagante.

Vivendo em distopias,
vazio obscuro, profundidade insondá vel
Nossas mentes se veem em uma
metamorfose constante.

Sem florescer, apenas sobreviver.


Esses pequenos sonhos sã o
apenas um escape de nossa
repugnante imaginaçã o.

Seria este meu castigo, Deus?


Este purgató rio
mas nã o qualquer um.
O pior purgató rio existente é a Terra.

Terras banhadas pelas tuas mã os santas,


gloriosas, bondosas,
apaixonadas em ver o caos e a desgraça
de seus fieis pecadores.
Imagem e Direção.

Arranque fora meus olhos.


Olhos refletores da imagem,
paisagem, miragem.

Sou o doce figurante


pela direçã o de seu pensar.
Cruzamos caminhos, todavia,
eu nunca te via,
mas você me lia.

Lia como um livro com vá rios


finais, começos e meios.
E sempre que este livro mudava,
seu reflexo no espelho acompanhava.

Acompanhava de forma incerta e incorreta,


afinal, isso acontece quando
vermes rastejam para dentro
da pele alheia.

Agora você já me usa como roupa,


usa do movimento e respiraçã o,
sem imagem e direçã o.

Nã o só minha pele como roupa,


mas meus ó rgã os como alimento.
Pedaço por pedaço,
me dilacerando por inteiro
sem se preocupar com o sangue sem paradeiro.

É claro que somos parecidos


Você é eu.
Mas nã o sou você.
Tentara ser como eu, mas
sua alma podre ainda dentro de ti.
Entã o, poderá fugir?
Morada e a Queda Em Vão.

Quando acordo, bem cedo de manhã , minha cabeça começa seu trabalho.
Ela me lembra de respirar, levantar, existir, pensar.
É mais um dia que vem com uma enorme caminhada,
por mais simples e quieta que seja.

Levanto-me com pensamentos de que: “o que será da minha existência hoje?”


Pensar nisso talvez me faça agarrar-me em uma corda de que, à s vezes,
tenho certo controle do que está a me esperar.
Ou nã o.
Olho-me no espelho na esperança de alguma resposta. Em vã o.
Esperava que pelo menos o meu eu que se reflete poderia me dizer algo,
mas novamente, ele me diz que nã o.
Procurar por um propó sito é difícil, principalmente quando nã o tenho
a mínima ideia do que isso significa.

O que significa viver?

Apó s levantar, ando em direçã o à cozinha.


Olho pela janela as á rvores, flores, os pá ssaros e percebo que estou viva.
Sinto meus batimentos cardíacos, meus toques, o cheiro do café, o frio ou o calor.
Penso que, pelos menos naquele momento, estar viva é algo bom.
Apenas a calmaria de simplesmente existir em uma manhã de terça-feira.
Até que o silencio se interrompe por vozes, muitas vozes. E abraços.
Viver também é afeto.
É amar.
Afeto que cada um tem o seu jeito de demonstrar: ganhar um beijo do Bento, o
carinho do Pedro, jogar com o Isaac, o sorriso da minha mã e, ouvir mú sica com
meu pai, encher o saco do Gil, a bençã o feita com o “dedinho” com o vovô Chagas e
a vovó das Neves, ganhar um carinho no topo da cabeça dado pela vovó Pat ou
bater fofoca com a bisa Maria.

Viver também é afeto.


É ter morada.

E nã o só aquela morada fixa, com quarto, sala, banheiro, á rea...


Aquela morada quente, que abraça, protege e que ama.
Eu tenho minha morada. Nã o só uma morada.
Reflito e percebo que finalmente encontrei minha morada.
Naqueles braços me encontrei, me permiti amar, me permiti ser.
Ser humano.
Ser humano com você.
Por um tempo achei que essa coisa de amar nã o seria para mim,
que nunca teria um motivo para acordar.
Hoje, escuto uma mú sica bonita e lembro-me de você.
Penso “ele gostaria dessa mú sica!”.
Nã o só como mú sicas, mas também como lugares,
uma vastidã o de mares.
E esse mar me enche de esperança, alegria de simplesmente está aqui.
O amor transborda, se reinventa e cresce junto, com pequenos aprendizados que
chega de mancinho.

Minha morada veio como um mar calmo e se instalou em mim como um maremoto.

Já nã o tenho mais medo da queda.


Tenho cautela, mas medo nã o.
Mudanças que saem do coraçã o nem sempre sã o um sinal de tempestade.
Cabeça firme para mudanças de estaçõ es, sem fugir, sempre seguir.

Nada é em vã o.

Absence
Um tratado musical
Tal qual um piano desafinado,
triste e cheio de incoerências com mú sicas sem sentido.

Um piano cheio de pragas, vermes e insetos


que o comem e o destroem
de forma lenta e conjunta.
Mas nem sempre ele fora assim.

Meu velho piano era formoso, o melhor da vitrine;


Mais desejado, mais bem planejado e
esculpido de forma cautelosa e cuidadosa.

As mú sicas que o mesmo fazia eram


graciosas e ambiciosas, que apenas ele sabia
como fazer.
Era certeza de que, qualquer um que escutasse,
se encantava em tamanha beleza.

Com o passar dos anos meu piano


chegou a seu á pice de loucura e agonia.
Sua doce melodia se tornava um pequeno grito de dor,
seu teclado emperrava como um grito abafado de socorro
e a madeira se descascava como pele humana sendo
cortada com milhares de facas cegas.

Meu piano se perdeu em si,


vivendo em constante frenesi,
sua pró pria criaçã o utó pica.

Eu sou o piano, o pianista e a plateia.

Coexistência
Corpo e alma.
Casca feita de pele, mú sculos e veias cobrem
o esqueleto que me mantém de pé.

Um esqueleto enfraquecido,
talvez seja pela culpa de existir ou
apenas ressentimento de nã o existir.
Coexistir.

Viver preso em um corpo dividido entre


pensamentos reais e devaneios cheio de exageros.
Viver preso em um corpo dividido entre
um eu autentico e um eu inexistente;

Existente apenas em minha cabeça.

Estopim
Sempre tive medo de armas.
Todas elas, pequenas, grandes, médias;
Armas.
Mas de vez em quando me vejo usando armas,
mas tenho apenas uma arma;
E ela se encontra em minhas mã os.

Me jogo nos braços da agonia;


sorrindo, puxo o gatilho e atiro em direçã o de
um vulto no canto do quarto.

Mas a bala se volta contra mim,


rasga meu peito e aquela dor degradante me cerca.
Eu peço desculpas pelo meu erro.

Assim, ele, o vulto, começa a pular em cima do meu corpo.


Ele humilha a carcaça e se diverte em ver a sujeira;
A minha sujeira.

Agora eu gosto de armas.


Mas tenho medo de usarem armas contra mim.

Renascimento

A poesia que vem da alma,


o renascimento que se aconchega sem avisar sobre a sua chegada
como tempestades em dias ensolarados ou
ventanias na seca.

- “Minha morada veio como um mar calmo e se instalou em mim como um


maremoto.”

E esse mar se juntou ao meu ser, meu viver.

Sentir o amor estando com você é como pegar fogo de dentro pra fora;
Sentir milhares de emoçõ es em questã o de segundos,
como reviver, nascer, reinventar;

É como amar.
Renascer.

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