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Ambarkanta
Sobre a Forma do Mundo

Nota do Tradutor: O texto abaixo foi traduzido da série HoME (history


of middle earth), publicada e editada por Cristopher Tolkien, filho do
professor Tolkien. Os contos desta série são, na verdade, um grande
apanhado de textos e histórias que Tolkien desenvolveu ao longo dos
anos, mas que nunca teve oportunidade (ou mesmo vontade) de
publicar. Algumas destas informações são arcaicas, e podem entrar em
conflito com as histórias publicadas em suas edições oficiais.

Sobre a Forma do Mundo:

Ao redor de todo o Mundo estão as Ilurambar [1], ou as Muralhas do


Mundo. Elas são como gelo, vidro e aço, estando acima de toda a
imaginação dos Filhos da Terra, frias, transparentes e duras. Elas não
podem ser vistas, nem podem ser transpostas, exceto pela Porta da
Noite.

Dentro destas muralhas a Terra está situada: acima, abaixo e em todos os lados está Vaiya, o
Oceano Envolvente. Mas ele é mais como o mar abaixo da Terra e mais como o ar acima dela. Em
Vaiya abaixo da Terra mora Ulmo. Acima da Terra situa-se o Ar, que é chamado Vista, e sustenta
pássaros e nuvens. Por esse motivo ele é chamado acima Fanyamar, ou Casa de Nuvens; e
abaixo Aiwenórë ou Terra dos Pássaros. Mas este ar situa-se apenas sobre a Terra-média e os
Mares Interiores, e seus limites são as Montanhas de Valinor no Oeste e as Muralhas do Sol no
Leste. Por este motivo as nuvens raramente chegam a Valinor, e os pássaros mortais não passam
para além dos picos de suas montanhas. Mas no Sul, onde há principalmente frio e escuridão, e a
Terra-média extende-se próxima às Muralhas do Mundo, Vaiya, Vista e Ilmen sopram juntos e
confundem-se mutuamente.

Ilmen é aquele ar que, sendo límpido e puro, é impregnado de luz, embora não a emane. Ilmen fica
acima de Vista, e não é grande em profundidade, porém é mais profundo no Oeste e no Leste, e
menor no Norte e no Sul. Em Valinor o ar é Ilmen, mas Vista sopra ocasionalmente, especialmente
em Casadelfos, parte da qual está na base oriental das Montanhas; e se Valinor é obscurecida e
seu ar não é purificado pela luz do Reino Abençoado, ele toma a forma de sombras e névoas
cinzentas. Mas Ilmen e Vista misturar-se-ão como sendo um só, porém Ilmen é respirado pelos
Deuses, e purificado pela passagem dos astros; pois em Ilmen Varda decretou o curso das
estrelas, e mais tarde do Sol e da Lua.

De Vista não há como sair nem como fugir, exceto para os servos de Manwë, ou para aqueles aos
quais ele concede poderes como os de seu povo, que podem sustentar-se em Ilmen ou mesmo em
Vaiya superior, que é muito tênue e frio. De Vista pode-se descer para a Terra-média. De Ilmen,
pode-se descer para Valinor. Ora, a terra de Valinor estende-se quase até Vaiya, que é mais
estreito no Oeste e Leste do Mundo, mas mais profundo no Norte e no Sul. As costas ocidentais de
Valinor não estão, portanto, muito longe das Muralhas do Mundo. Contudo, há um abismo que
separa Valinor de Vaiya, e ele é preenchido por Ilmen, e por este caminho pode-se descer de Ilmen
acima da terra para as regiões inferiores, às raizes da Terra, e para as cavernas e grutas que estão
nas fundações das terras e mares. Lá é o lugar de permanência de Ulmo. De lá originam-se as
águas da Terra-média. Pois estas águas são compostas por Ilmen, Vaiya e Ambar (que significa
Terra), uma vez que Ulmo funde Ilmen e Vaiya e envia-os através dos veios do Mundo para
purificar e renovar os mares e rios, os lagos e as fontes da Terra-média. E as águas correntes
possuem assim a memória das profundezas e das alturas, e guardam um pouco da sabedoria e
música de Ulmo, e da luz dos astros do céu.

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Nas regiões de Ulmo as estrelas algumas vezes estão escondidas, e lá a Lua freqüentemente vaga
e não é vista da Terra-média. Mas o Sol não se demora lá. Ela [2] passa sob a terra às pressas, a
fim de que a noite não se prolongue e o mal se fortaleça; ela é puxada através do Vaiya inferior
pelos servos de Ulmo, sendo aquecida e preenchida com vida. Assim os dias são medidos pelas
rotas do Sol, que navega de Leste a Oeste através do Ilmen inferior, ocultando as estrelas; ela
passa sobre o centro da Terra-média sem se deter, e muda seu curso em direção ao norte ou para
o sul, não caprichosamente, mas devido à rota e à estação. E quando ela ergue-se acima das
Muralhas do Sol é a Aurora, e quando mergulha atrás das Montanhas de Valinor, é o Anoitecer.

Mas os dias em Valinor são diferentes dos da Terra-média. Pois lá a hora de maior luz é o
Anoitecer. Então o Sol desce e repousa por algum tempo na Terra Abençoada, deitando-se no seio
de Vaiya. E quando ela penetra em Vaiya, o mesmo torna-se ardente e fulgura com um fogo róseo,
e por um longo tempo ilumina aquela terra. Mas a medida em que ela passa em direção ao Leste o
fulgor desvanece, e Valinor é privada de luz, e é iluminada apenas pelas estrelas; e então os
Deuses muito se lamentam pela morte de Laurelin. Ao amanhecer, a escuridão é profunda em
Valinor, e as sombras de suas montanhas estendem-se pesadamente sobre as mansões dos
Deuses. Mas a Lua não se demora em Valinor, e passa rapidamente sobre ela para mergulhar no
abismo de Ilmen, pois ele sempre persegue o Sol, e raramente a alcança, quando então é
consumido e obscurecido em sua chama. Mas às vezes acontece de ele chegar sobre Valinor
antes de o Sol ter partido, e então desce e encontra sua amada, e Valinor é preenchida com uma
luz mesclada tal qual prata e ouro; e os Deuses sorriem lembrando-se da fusão da Laurelin e
Silpion há muito tempo atrás.

A Terra de Valinor inclina-se para baixo a partir do sopé das Montanhas, e sua costa ocidental está
no nível do fundo dos mares interiores. E não longe dali, como foi dito, estão as Muralhas do
Mundo; e no sentido oposto à costa mais ocidental no centro de Valinor está Ando Lómen, a Porta
da Noite Eterna que penetra as Muralhas e abre-se para o Vazio. Pois o Mundo encontra-se em
meio a Kúma, o Vazio, a Noite sem forma ou tempo. Mas ninguém pode ultrapassar o abismo e a
região de Vaiya e chegar àquela Porta, exceto unicamente os grandes Valar. E eles fizeram aquela
porta quando Melko foi sobrepujado e colocado na Escuridão Exterior; e ela é guardada por
Eärendel.[3]

A Terra-média situa-se no meio do Mundo, e é composta de terra e água; sua superfície é o centro
do mundo, das fronteiras do Vaiya superior aos confins do inferior. Antigamente assim era a sua
forma. Era mais elevada no centro, decaindo de cada lado em vastos vales, mas ergue-se
novamente no Leste e Oeste, mais uma vez decaindo para o abismo em suas bordas. Os dois
vales eram preenchidos com a água primordial, e as costas destes antigos mares eram no Oeste
as regiões montanhosas mais ocidentais e a borda da grande terra, e no Leste as regiões
montanhosas e a borda da grande terra sobre o outro lado. Mas ao Norte e ao Sul ela não decaía,
e podia-se ir por terra do extremo Sul do abismo de Ilmen ao extremo Norte do mesmo. Os mares
antigos, portanto, situam-se em canais, e suas águas não vertiam para o Leste ou Oeste; mas eles
não possuíam costas tanto ao Norte como ao Sul, vertiam para o abismo, e suas cachoeiras
tornavam-se gelo e pontes de gelo por causa do frio; de forma que o abismo de Ilmen era aqui
fechado e pontificado, e o gelo estendia-se ao Vaiya, e até as Muralhas do Mundo.

Ora, é dito que os Valar, entrando no Mundo, desceram primeiro sobre a Terra-média no seu
centro, exceto Melko, que desceu no Norte distante. Mas os Valar pegaram uma porção de terra e
criaram uma ilha, consagrando-a, e a colocaram no Mar Ocidental e permaneceram nela, enquanto
estavam ocupados na exploração e na primeira disposição do Mundo. Como é contado, eles
desejaram criar lamparinas, e Melko ofereceu-se para desenvolver uma nova substância de grande
força e beleza para seus pilares. Ele levantou estes grandes pilares ao norte e ao sul do centro da
Terra, mesmo assim mais perto dele do que o abismo; os Deuses colocaram lamparinas sobre
eles, e a Terra teve luz durante algum tempo.

Mas os pilares foram criados com falsidade, sendo talhados em gelo; eles derreteram e as
lamparinas caíram em ruína, e sua luz foi derramada. Mas o derretimento do gelo criou dois

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pequenos mares interiores, ao norte e sul do centro da Terra, e havia uma terra setentrional, uma
terra central e uma terra meridional. Então os Valar retiraram-se para o Oeste e abandonaram a
ilha; sobre a região montanhosa na margem ocidental do Mar do Oeste, eles elevaram grandes
montanhas, e atrás delas criaram a terra de Valinor. Mas as montanhas de Valinor curvam-se para
trás, e Valinor é mais ampla no centro da Terra, onde as montanhas andam ao lado do mar; e ao
norte e ao sul, as montanhas nivelam-se em direção ao abismo. Há duas regiões da Terra
Ocidental que não pertencem à Terra-média e, apesar disso, são exteriores às montanhas: elas
são sombrias e vazias. A situada ao Norte é Eruman, e aquela ao Sul é Arvalin;[4] há apenas um
desfiladeiro estreito entre elas e as extremidades da Terra-média, mas este desfiladeiro é
preenchido com gelo.

Para sua proteção posterior, os Valar empurraram a Terra-média no seu centro e compromiram-na
em direção ao leste, de forma que ela foi encurvada, e o grande mar do Oeste é muito amplo no
centro, a mais vasta de todas as águas da Terra. A forma da Terra no Leste era muito semelhante
àquela no Oeste, exceto pelo estreitamento do Mar Oriental, e o deslocamento da terra naquela
direção. E além do Mar Oriental situa-se a Terra Oriental, da qual pouco sabemos, e é chamada a
Terra do Sol; ela possui montanhas, menores do que as de Valinor, mas ainda assim muito
grandes, que são as Muralhas do Sol. Em razão da queda da terra, estas montanhas não podem
ser vistas, exceto pelos pássaros que voam às maiores altitudes, através dos mares que as divide
das costas da Terra-média.

E o afastamento da terra também ocasionou o aparecimento de montanhas em quatro direções,


duas na Terra do Norte e duas na Terra do Sul; aquelas no Norte eram as Montanhas Azuis no lado
ocidental, e as Montanhas Vermelhas no lado oriental; e no Sul eram as Montanhas Cinzentas e as
Amarelas. Porém Melko fortificou o Norte e lá ergueu as Torres Setentrionais, que também são
chamadas de Montanhas de Ferro, e elas voltavam-se para o sul. E na terra central havia as
Montanhas de Vento, pois lá um vento fortemente soprava vindo do Leste antes do Sol; e Hildórien,
a terra onde os Homens primeiro despertaram, situa-se entre estas montanhas e o Mar Oriental.
Mas Kuiviénen [5], onde Oromë encontrou os Elfos, está ao Norte junto às águas de Helkar.

Mas a simetria da antiga Terra foi mudada e partida na primeira Batalha dos Deuses, quando
Valinor marchou contra Utumno, que era a fortaleza de Melko, e Melko foi acorrentado. Então o
mar de Helkar (que era a lâmpada setentrional) tornou-se um mar interior ou grande lago, mas o
mar de Ringil [6] (que era a lâmpada meridional) tornou-se um grande mar fluindo de norte a leste
e unindo por canais tanto o Mar Ocidental como o Oriental.

E a Terra foi novamente partida na segunda batalha, quando Melko foi mais uma vez deposto, e ela
modificou-se ainda mais pela a deterioração e o passar de muitas eras. Mas a maior mudança
ocorreu quando a Forma Primordial foi destruída, e a Terra foi arredondada e separada de Valinor.
Isto aconteceu nos dias do ataque dos Númenoreanos sobre a terra dos Deuses, como é contado
nas Histórias. E desde aquele tempo o mundo tem esquecido as coisas que haviam anteriormente,
e os nomes e as lembranças das terras e águas de antigamente pereceram.

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[1] O presente texto pertence aos primórdios da mitologia tolkieniana, sendo escrito por volta de 1930. Muito foi
modificado pelo próprio Tolkien (alguns pontos mais de uma vez) antes da publicação do Silmarillion, em 1977,
editado por seu filho Christopher. Muitos nomes foram deixados de lado, outros sofreram alterações, como é o caso
de Ilurambar, forma primitiva de Eärambar. (N. do T.)
[2] No decorrer do texto, Tolkien refere-se ocasionalmente ao sol como "ela" e à lua como "ele", por ambos serem
conduzidos por seus respectivos maiar: Arien (a maia do sol), e Tilion (o maia da lua). (N. do T.)
[3] Formas primitivas de Melkor e Eärendil respectivamente. (N. do T.)
[4] Formas primitivas de Araman e Avathar respectivamente. (N. do T.)
[5] Forma primitiva de Cuiviénen. (N. do T.)
[6] Formas primitivas de Illuin e Ormal respectivamente. (N. do T.)

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