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RESUMO
Terra do Mar Doce: contribuições da academia para a navegação na Amazônia - ISBN 978-65-5360-261-8 - Vol. 2 - Ano 2023 - Editora Científica Digital - www.editoracientifica.com.br
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O ecodesign é exatamente a expressão sucinta desses princípios e consiste em pro-
jetar ou conceber produtos de forma mais ecológica possível. Representa a consolidação
da cultura da racionalidade numa empresa, que passa a gerar produtos concebidos à luz
da ecoeficiência, da adoção de tecnologias limpas e da prevenção à geração de resíduos.
Portanto, o ecodesign assegura que um produto seja proveniente do uso mais racional
possível de energia, de água e matérias-primas, e pode incluir até estudos sobre biodegra-
dação e(ou) reciclagem de resíduos de processos de produção e de produtos em fim de
vida (NAVEIRO et al., 2005).
Neste sentido, apresentou-se neste trabalho uma opção para o desenvolvimento e
construção de uma embarcação de pequeno porte, duplo casco, sem convés (boca aberta),
com a aplicação de compensado naval no cavername e anteparas, fibra de juta (Corchorus
capsularis) na laminação, em substituição à fibra de vidro, garrafas PET como associado de
flutuação entre os cascos, resina de poliéster terefitálico e tiras naturais de miriti (Mauritia
flexuosa) como chapeamento duplo de fundo, proa e costado, demonstrando a confiabilidade,
durabilidade, facilidade no manuseio do material, leveza como um todo e principalmente um
menor custo em comparação com outros materiais compósitos conhecidos.
MATERIAIS
Compensado naval
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Fibras de miriti
Resina poliéster
Tecido de juta
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Figura 2. Tecido de juta usado na fabricação do material compósito.
Nesta pesquisa, foi adotado o método da laminação manual para fabricar o material
compósito a ser usado no fundo, costado, popa e proa da embarcação, tanto no casco externo
como no casco interno, aplicados sobre as tiras de miriti. As tiras de miriti foram montadas
como chapas de ancoragem no casco da embarcação para o tecido de juta.
O material compósito produzido obedeceu aos procedimentos desenvolvidos por
(SANTOS, 2015). Nesta pesquisa, foram usadas na fabricação dos laminados de três ca-
madas a configuração tecido/tecido/tecido. Na Tabela 1, tem-se as propriedades mecânicas
do material compósito pesquisado por (SANTOS, 2015).
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MÉTODOS
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Projeto da embarcação e avaliação da estabilidade
A embarcação foi projetada com a concepção de pequeno porte e “boca aberta” (sem
convés), sem quilha (fundo chato) e duplo casco. Foram ainda, acrescentados 80 unida-
des de garrafas PET (Polietileno Tereftalato) entre dois cascos para reserva de flutuabili-
dade. Os dados gerais como desenho das cavernas, alinhamento destas com a linha de
centro da embarcação, espaçamento entre as cavernas, foram concebidos na plataforma
RHINOCEROS 5.0 que apresentou o formato do casco com as principais dimensões como:
comprimento total, boca máxima, pontal moldado, calado de projeto, área externa total do
casco, volume moldado, capacidade de carga e quantidade de pessoas.
A Figura 4 ilustra o desenho esquemático do barco mostrando a vista superior da em-
barcação com o espaçamento entre as cavernas em mm.
Figura 5. Desenho esquemático com vista lateral das longitudinais até a proa.
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Após o delineamento do casco, utilizou-se o programa HECSALV Ship Project 7.8.0.9.,
obtendo-se a entrada dos dados do programa RHINOCEROS 5.0, para avaliação de dados
necessários para a análise de navios e outras estruturas marinhas flutuantes.
Desenho, corte das cavernas e alinhamento de montagem pela linha de centro (LC)
Figura 7. Ilustração esquemática com as dimensões e numeração das cavernas, onde observa-se a numeração iniciando
em 1 e finalizando em 8.
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O alinhamento para montagem das cavernas pela linha de centro é primordial para a
simulação do formato do casco. As cavernas foram alinhadas da proa para a popa de ponta
cabeça, da caverna 1 até a caverna 8, mantendo-se o espaçamento e alinhamento pela
linha de centro, conforme mostrado na Figura 8.
A embarcação foi construída em casco duplo de boca aberta e fundo chato, com inser-
ção de garrafas PET (Polietileno Tereftalato) entre os dois cascos, tanto no costado como no
fundo, como reserva de flutuabilidade. Uma descrição das etapas é apresentada a seguir:
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Figura 9. Perfis de compensado naval e das tiras de miriti.
Etapa 3: Fixação das tiras de miriti para união das cavernas na face externa da
embarcação - costado, do fundo e espelho da popa
De posse das tiras de miriti foi iniciado a fixação sendo a primeira tira fixada na al-
tura da quilha e depois adicionado as tiras de miriti nas longitudinais do costado e fundo,
“amarrando” todas as cavernas, tendo o cuidado de seguir a curvatura do casco como
um todo. A colocação das tiras de miriti foi realizada até a caverna n° 7, já que a proa da
embarcação necessita de uma etapa específica. A fixação das tiras de miriti foi feita com
grampos de aço galvanizado, pregos e fitas dupla face no cavername. A fixação iniciou-se
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primeiro na altura da quilha e após, colocação de tiras de miriti nas longitudinais do costado
e fundo, “amarrando” todas as cavernas, seguindo assim a curvatura do casco como um
todo. A Figura 11 ilustra a colocação das tiras de miriti.
Figura 11. Detalhe da colocação das tiras de miriti em (a) e em (b) a fixação das tiras de miriti no fundo e costado.
(a) (b)
Fonte: LEMOS (2017).
Etapa 4: Fixação das tiras de miriti para união das cavernas na face externa da
embarcação – proa
Por se tratar de uma embarcação de pequeno porte, a proa da embarcação foi de-
senvolvida em pequena escala e foi tratada de forma específica, sendo traçada a linha de
centro com uma linha de prumo com dois pesos nas extremidades. A partir da metade da
largura do espelho da popa, foi assentado o prumo até a caverna 8, início da estrutura da
proa. Esta etapa é importante, pois se tem o alinhamento do casco com a roda de proa que
terá sua curvatura de acordo com o projeto. A Figura 12 ilustra o detalhe das talas de miriti
(5 mm x 5 mm) na confecção da proa.
Figura 12. Detalhe das talas em (a) miriti (5 mm x 5 mm) na confecção da proa no sentido longitudinal e em (b) talas de
miriti no sentido ortogonal.
(a) (b)
Fonte: LEMOS (2017).
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Para a conformação da proa, foram cortadas tiras de miriti com espessura de 2 mm,
conferindo excelente flexibilidade para a curvatura e contornos da proa e roda de proa. As tiras
de miriti foram fixadas em sentido ortogonal ao das tiras do costado com grampos de aço
galvanizado. Assim, pode-se criar uma boa ancoragem para a futura laminação. A Figura
13 mostra o detalhe das tiras de miriti montadas na proa.
Figura 13. Detalhe das tiras de miriti em (a) montadas na proa e em (b) conformando a roda de proa.
(a) (b)
Fonte: LEMOS (2017).
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Figura 14. Detalhe das cantoneiras em (a) em “L” do tecido de juta e em (b) reforço das cavernas com o fundo e costado
com fibra de juta.
(a) (b)
Fonte: LEMOS (2017).
Um molde feito de papel jornal foi usado para orientar o corte do tecido de juta. Este
molde de papel era tal que apresentava cobertura de toda a área da superfície externa da
embarcação. Depois do corte o tecido foi aplicado na superfície externa do barco e iniciou-
-se a laminação manual com o uso da matriz poliéster. O tecido de juta de recobrimento do
fundo foi feito em uma única tiragem, havendo over lap apenas na junção com o tecido do
costado. Na Figura 15, tem-se a ilustração do fundo da embarcação após a laminação do
tecido de juta no fundo da embarcação.
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Etapa 7: Corte do tecido de juta e laminação do material compósito na superfície
interna do casco externo da embarcação
Figura 16. Região interna do casco externo em (a) antes da laminação e em (b) depois de laminado o tecido de juta.
(a) (b)
Fonte: LEMOS (2017).
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diâmetro das garrafas PET de 60 mm, a fim de acondicioná-las, deitadas, tanto no fundo
como no costado da embarcação. Na Figura 17, tem-se a forma como foram inseridos o
banco de apoio ao navegador, as garrafas PET e o miriti na caverna, gerando o casco in-
terno da embarcação.
Figura 17. Forma como foram inseridos o banco de apoio ao navegador, as garrafas PET e o miriti na caverna.
Tendo sido cortadas as tiras de miriti no formato interno do casco, procurou-se preen-
cher todo seu contorno, seguindo a altura das cavernas. Desta forma, o desenho interno
das cavernas deu o formato do costado e fundo internos. Note-se que nesta fase, optou-se
em montar um banco do operador e antepara de separação da proa (caverna alta) com o
resto do casco, conferindo melhor estanqueidade.
Etapa 9: Corte do tecido de juta para a laminação do material compósito na face interna
da embarcação
A etapa final constou da laminação interna das tiras de miriti no costado e fundo, ten-
do-se o cuidado de executar o fechamento do duplo casco na parte superior integrando-o
como um todo. As etapas da laminação do tecido de juta na face interna e do fundo da
embarcação podem ser vistas na Figura 18.
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Figura 18. Detalhe da laminação em (a) laminação do segundo casco interno, (b) laminação do costado do segundo casco
e em (c) laminação do fundo do casco interno.
RESULTADOS
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de fibra de vidro, com mesmo porte da concebida no laboratório de materiais compósitos
da Universidade Federal do Pará.
Quantidade de Pessoas 2 1
DISCUSSÃO
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positivos que merecem destaque são o custo final de fabricação e a capacidade de carga,
que a embarcação projetada e construída, mostrou-se superior. O custo final ficou reduzido
em 48% e a capacidade de carga da embarcação aumentada em 33,33%.
Segundo (NASSEH, 2008), o sucesso da utilização de materiais compósitos para fa-
bricação de barcos é devido a um grande número de vantagens que esses materiais têm
quando comparados a outros tipos. Uma das principais vantagens sobre materiais como
aço e alumínio é a variedade de estrutura que pode ser conseguida combinando materiais
básicos. Entretanto, a grande diferença em relação a outros tipos de materiais se deve a
ortotropia, que significa que o material pode resistir de forma diferente quando submetido
a cargas em diferentes direções. É possível, então, construir uma embarcação mais leve e
resistente, colocando fibras apenas nas direções onde existam forças atuando.
(NASSEH, 2008), ainda complementa que as construções e embarcações em materiais
compósitos não falham de uma hora para outra, a não ser em fortes impactos. O modo mais
comum de falha é um decréscimo de propriedades mecânicas ao longo do tempo, devido à
baixa qualidade de fabricação e dos materiais utilizados.
CONCLUSÃO
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ou seja, espaço interno e maior peso. Esta condição pode ser melhorada com a inserção
de garrafas PET de menor volume com consequente diminuição da altura das cavernas e
maior espaço interno com diminuição de peso.
Sugere-se, nos próximos projetos de embarcações deste mesmo design, que se au-
mente a boca da embarcação para 1 metro, pelo menos. Assim, a cota metacêntrica aumenta
e o raio metacêntrico se distancia do centro de gravidade como um todo, aumentando a
estabilidade da embarcação mesmo com pesos maiores.
REFERÊNCIAS
MORAES, A. Um barco de fibra de juta e miriti. Jornal Beira do Rio, 2018. Disponível em:
<https://beiradorio.ufpa.br/index.php/nesta-edicao/246-um-barco-de-fibra-de-juta-e-miriti>.
Acesso em: 30/10/2022.
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PROGRAMA COMPUTACIONAL RHINOCEROS 5.0 – Desenvolvimento de geometrias
tridimensionais.
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