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Autobiografia Alimentar

Denise Matias

Eu sempre costumo dizer que o café não é uma coisa essencial no meu dia a dia. Aliás eu
até prefiro começar o dia sem ele e tomar algum suco no lugar, mas, pela praticidade,
acabo caindo sempre numa xícara. Na minha infância, costumava ir todos os finais de
semana para a casa da minha avó, que ficava no interior da minha antiga cidade São José
de Mipibu. Lá eu podia ser livre, sabe? Imagina uma criança solta em um terreno de 5
hectares, com vários animais, coisa que sempre gostei, não tinha felicidade maior (KKKK).
Quase como uma lei, minha avó me servia sempre café com margarina pela manhã. Não
sei como ou quando isso começou, mas eu era apaixonada por café exclusivamente com
margarina. Não sei explicar ao certo, eu era só uma criança, mas ver a margarina flutuando
na xícara dava um toque totalmente diferente ao meu dia. Aquele café parecia ser o mais
gostoso do mundo.
Depois de um certo tempo, minha avó precisou se mudar para longe, pois meu bisavô havia
falecido e minha bisavó desejava ter todos os filhos dela por perto durante o tempo de vida
terrena que ainda lhe restava. Então, foi-se embora meu café. Hoje em dia o meu café é
sem graça… não coloco mais a margarina porque cresci, porque sei que faz mal consumir
gorduras em excesso, porque minha vó está longe de mim. Mesmo depois de anos sem
executar essa prática milenar do café com margarina, parece que eu tenho um certo apreço
pelo mesmo. Acho que sempre nos meus piores dias o café estava lá pra me consolar,
mesmo sem a margarina. Quando a cabeça pesa, a ansiedade ataca, o sono bate… essas
coisas assim. Eu sei que não preciso do café, mas da sensação que ele me traz de volta a
infância, quando tudo era mais fácil e não tinha prova de farmacologia. A verdade é que o
café me dá forças, e não me refiro a todo processo fisiológico, mas sim de como se eu
recebesse novamente a liberdade e toda a alegria de estar novamente na casa da minha
vó.

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