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Obstrução

Uretral
Grupo I - Ana Carolina Alves, Bárbara Andriotti, Eduarda
Gueno, Matheus Witt, Sofia Velho e Thamires Antunes
RESENHA
Felino, 5 anos, macho, castrado, SRD, 4,2 kg
ANAMNESE DE
EMERGÊNCIA
C Há 24 horas tutor notou que ele vai na caixinha e não consegue urinar (tenesmo
vesical), parecia urinar em gotinhas e vocalizava (disúria/estrangúria), urinando em
locais diferentes (periúria). Está muito abatido, não quer comer (hiporexia).

A Não sabe informar, acha que não.

P Realizou castração com 6 meses, já teve episódio de dificuldade para


urinar há 1 ano, mas melhorou com AINE.

U Come ração seca, fica disponível, mas não come há mais de 24horas.

M Nega.
EXAME FÍSICO DE
EMERGÊNCIA
A e B: S/A na ausculta, FR: 25 mpm, vias aéreas patentes;

C: FC: 120 bpm (bradicardia), pulso fraco e arrítmico (indica vasoconstrição


periférica), TPC 2 s’, mucosas normocoradas, ΔTcp 8 e borborigmos
ausentes/reduzidos (intervalo ideal em gatos é de 7,5-8, acima destes valores
indica vasoconstrição periférica), PAS 70 mmHg (alteração em linha central),
desidratação 12%.

D: apático, decúbito lateral, V na escala AVDN (nível de consciência), TR: 34,5 ºC


(hipotermia).

E: vesícula urinária muito repleta, não esvazia na compressão, dor à palpação,


ponta do pênis de coloração enegrecida.
QUARTETO DE
EMERGÊNCIA
Ht: 42% (desidratação);
PT 8,0 g/ dL;
Glicemia 140 mg/dL;
Lactato 2,5 mmol/L (marcador de perfusão
tecidual, perfusão afetada quando é >3 mmol/L).
HEMOGRASOMETRIA
pH: 7,20 (7.27-7.41) - ACIDOSE
HCO3-: 15,8 mmol.L (18-23 mmol.L)
pCO2: 39,6 mm/Hg (32,7-44,7)
BE: -12 mmol.L (-3 a 2 mmol.L)
AG: 28 (12- 24)
Na: 142,8 (145- 157 mEq/L) - HIPONATREMIA
K: 6,5 (3,6- 5,5 mEq.L) - HIPERCALEMIA
Ca: 0,97 mmol.L (1,07 - 1,5 mmol.L) - HIPOCALCEMIA
TRIAGEM
MODELOS DE CLASSE (I, II, III, IV)
Classe I
Hipotérmico
DIAGNÓSTICO
Obstrução uretral.

MEDIDAS A SEREM TOMADAS


Cistocentese de alívio, corrigir alterações hidroeletrolíticas, déficit
de perfusão, desequilíbrio ácido-base, anestesia/bloqueios
regionais, desobstrução uretral e cuidados de enfermagem.
PRÉ DESOBSTRUÇÃO
1. FLUIDOTERAPIA
Ringer lactato levemente aquecido (cristaloide isotônico).

2. HIPERCALEMIA
Aumento dos níveis do íon potássio no sangue;
Consequência: promove alteração do potencial de membrana
atrioventricular, podendo causar arritmias que evoluem para
fibrilação;
Potássio em um organismo sadio é eliminado na urina, em um quadro
de obstrução uretral, ocorre a inviabilidade urinária, então o potássio
não é excretado pela via renal e em resposta a acidose sofre
translocação do espaço intra para extracelular;
PRÉ DESOBSTRUÇÃO
Excesso de potássio extracelular diminui o potencial de
repouso das membranas celulares, produzindo o efeito de
bloqueio despolarizante. Isso tem como consequência
fraqueza muscular e alteração na propagação do impulso
elétrico em células cardíacas;
K+ = 6,5 mEqL (potássio acima de 5,5 mmol/L espera-se
que ocorra amplitude da onda T);
Hipercalemia moderada de 6-8 mEq/L.
PRÉ DESOBSTRUÇÃO
3. HIPOCALCEMIA
Diminuição dos níveis de cálcio;
Níveis de fósforo elevados podem contribuir com este quadro, pois o fósforo se
liga ao cálcio;
Gera complicação cardíaca já que o o Ca2+ é importante no processo de
condução elétrica do coração;
Gluconato de cálcio (0,5-1 ml/kg) IV lento
Gluconato de cálcio ajuda a blindar os cardiomiócitos do excesso de potássio.

4. CHOQUE HIPOVOLÊMICO NÃO HEMORRÁGICO


Distúrbio circulatório;
Perda de fluidos e eletrólitos associados a vomito, diarreia e desidratação
(paciente com 12% de desidratação);
Causa diminuição de retorno venoso, causando hipotensão e queda de débito
cardíaco;
PRÉ DESOBSTRUÇÃO
Mecanismo compensatório: vasoconstrição periférica e bradicardia;
Coração, pulmão e cérebro são órgãos vitais, necessitam de volemia constante, em
situações de choque hipovolêmico o volume que iria para os rins e baço é desviada
para esses órgãos vitais. Nesses quadros observa-se vasoconstrição periférica
(aumento de ΔTcp, TPC aumentado, mucosas pálidas, oligúria, anúria,
hipóxia/isquemia intestinal - borborigmos intestinais diminuídos) e taquicardia;
Quadros de hipovolemia causam hipoperfusão tecidual, assim os órgãos não recebem
a quantidade de oxigênio necessário. Essa falta de O2 causa um desvio na rota
aeróbica da respiração celular que passa a ser feita de forma anaeróbica, que tem
como produto o lactato
NÃO PODEMOS FAZER DESAFIO VOLÊMICO - ESTÁ HIPOTÉRMICO;
PRÉ DESOBSTRUÇÃO
Avaliação se a fluidoterapia está fazendo efeito: aumento de pressão sistólica,
normalização de FC e ΔTcp, débito urinário, diminuição de lactato, avaliação de
onda cardíaca, reestabelecimento de mucosas e TPC, borborigmos intestinais
presentes, pulso normocinético;

5. ACIDOSE
Causa: incapacidade do organismo eliminar a urina causa a reabsorção de H+;
Acidose normoclorêmica;
HCO3- diminuído + anion gap (AG) aumentado;
Queda de bicarbonato não acompanhada pela elevação do cloro, o AG se eleva
para manter o LEC;
PRÉ DESOBSTRUÇÃO
Bicarbonato diminui porque se combina com os ácidos orgânicos formados,
como o ácido lático (reações de tamponamento);

Imagem: Livro Tratado de Medicina Interna de Cães e Gatos (2014).

Sinais clínicos: depressão, apatia, menor resposta a estímulos.


ABORDAGEM DO
PACIENTE OBSTRUÍDO
TRÍADE DA MORTE FELINA: BRADICARDIA, HIPOTENSÃO E HIPOTERMIA

DISTÚRBIOS
Hipercalemia, acidose, uremia, hipovolemia, hipotermia,
hiperfosfatemia e hipocalemia;

DIAGNÓSTICOS DIFERENCIAIS
Neoplasia vesical, defeitos anatômicos e infecções anatômicas;

Azotemia em primeiro momento pós renal e com evolução de


quadro torna-se renal e pré-renal (hipovolemia).
ABORDAGEM DO
PACIENTE OBSTRUÍDO
ANALGESIA PRÉVIA
Metadona IM (0,15 mg/kg);
Realizar acesso venoso, optando sempre pelo cateter venoso de maior calibre
(22G ou 20G). Realizar tricotomia no local e assepsia com álcool, localização da
veia safena, introdução de cateter e sua devida fixação. Realizar 2 acessos
venosos, um para medicação e outro para reposição volêmica e tratamento de
hipocalcemia;

ANALGESIA VISCERAL
Maroptant IV (0,1 ml/kg);
ABORDAGEM DO
PACIENTE OBSTRUÍDO
Iniciar reposição volêmica e correção dos eletrólitos, sendo utilizado ringer
lactato aquecido.
Reidratação: peso x % desidratação x 10
Manutenção: 40 ml/kg/dia

CORREÇÃO DE HIPERCALEMIA
Glicose 50% (diluir em solução salina na proporção de 1:1) associada a insulina
regular (0,1-0,5 U/kg). Exclusivo pela via endovenosa.
Após iniciar a correção dos distúrbios hidroeletrolíticos repetir gasometria após
4h, monitorar a estabilização do ritmo cardíaco e se tudo estiver evoluindo
bem iniciar o tratamento da causa de base;
ABORDAGEM DO
PACIENTE OBSTRUÍDO
CISTOCENTESE DE ALÍVIO
Montar sistema fechado com torneira de 3 vias, agulha 28 x 0,8, extensor e
seringa de 10 ou 20 ml. Posicionar o animal em decúbito lateral, fazer
tricotomia no local e assepsia com álcool. Pressionar a bexiga contra a
parede do abdômen, penetrar com a agulha a 45º na linha alba. Iniciar
esvaziamento vesical, reservando uma seringa com urina estéril para análise,
retirar o máximo de urina possível.
Deve-se tomar cuidado com pacientes que tenham histórico de urina com
hematúrica, pois parede vesical pode estar friável. Nesses casos não se
recomenda cistocentese de alívio.
Iniciar desobstrução somente após realização de nova gasometria e
melhora da hipercalemia, melhora de PAS e de TR.
DESOBSTRUÇÃO
SEPARAR MATERIAIS
Cateter de calibres 24G, 22G e 20G;
Seringas estéreis de 5 a 10 ml;
Solução fisiológica aquecida para hidropropulsão;
Sonda uretral - avaliar o tamanho conforme o paciente;
Gel de lidocaína;
Fio de nylon para fixação de sonda;

SEDAÇÃO
Midazolan IM (0,2-0,5 mg/kg) com acepromazina IM (0,03-0,2
mg/kg)
DESOBSTRUÇÃO
1. Posicionar o paciente em decúbito dorsal e realizar
tricotomia ampla na região do pênis e assepsia do
local;
2. Bloqueio em nervo pudendo com lidocaína sem
vasoconstritor (5 mg/kg). Importante para diminuir a
resistência uretral durante a sondagem e também
para diminuir a sobrecarga renal medicamentosa;
3. Campo cirúrgico e luvas estéril;
4. Exposição do pênis do animal, aplicação de gel de
lidocaína e inspeção visual e manual (massagem) a Imagem: Cadernos Técnicos de Veterinária e Zootecnia (2017).

procura de plugs;
DESOBSTRUÇÃO
5. Introdução do cateter de menor calibre (24G) junto com
hidropropulsão, tendo como objetivo deslocar cálculos que estejam na
uretra, esse passo deve ser seguido até que todo o cateter, sem o mandril,
entre sem resistência na uretra. Repetir o mesmo com os cateteres de
calibre 22G e 20G;
6. Sondagem do animal com sonda estéril. Importante palpar a bexiga e
medir o comprimento que a sonda deve ser introduzida evitando "nós" da
mesma dentro da bexiga. Realizar lavagem vesical com solução
fisiológica aquecida e fixação da mesma.
CUIDADOS PÓS DESOBSTRUÇÃO
Hipocalemia: diurese intensa após a desobstrução pode causar uma
perda elevada de potássio, infusão de KCl (necessário repetir gasometria);
Sonda de espera para avaliar fluxo urinário, débito urinário e aspecto da
urina. Avaliar retirada de sonda em 24-48-72h;
Atonia vesical: durante a obstrução a distensão da bexiga pode causar
atonia do músculo detrusor da bexiga, por isso é necessário que a vesícula
urinária seja esvaziada de 2-2h no início, após passar, fazer a cada 4h;
Avaliar uso de prazosina (0,5 mg/gato), VO a cada 24h de 3 a 4 dias.
Auxiliando no relaxamento do esfíncter uretral, pois pode ocorrer
espasmo uretral devido a inflamação e irritação pela sondagem ou pelo
cálculo;
CUIDADOS PÓS DESOBSTRUÇÃO
Paciente deve permanecer com analgesia, estimulante de
apetite e na fluidoterapia;
Usar AINE somente quando a azotemia ou uremia estiverem
normalizadas (meloxicam 0,1 mg/kg, a cada 24h, durante 3
dias);
Antibiótico somente após resultado da cultura e
antibiograma de urina e após retirada de sonda;
Na alta: alinhar com tutor medidas de manejo.
REFERÊNCIAS
BIBLIOGRÁFICAS
DE OLIVEIRA SAMPAIO, keytyanne; ALEIXO, G. A. de . S. .; SOUSA-FILHO, R. P. de; SILVA, E.
C. B. da . OBSTRUÇÃO URETRAL EM GATOS . Veterinária e Zootecnia, Botucatu, v. 27, p. 1–12,
2020. DOI: 10.35172/rvz.2020.v27.531. Disponível em:
https://rvz.emnuvens.com.br/rvz/article/view/531. Acesso em: 5 maio. 2023.

JERICO, Márcia; NETO, João; KOGIKA, Márcia. Tratado de Medicina Interna de Cães e Gatos.
1ªed. Rio de Janeiro: Roca, 2015.

Luiz MontanhimG.; Morelli MarangoniJ.; de Oliveira PigossiF.; Alessandra Martins Del BarrioM.;
Apparicio FerreiraM.; Bonafim CarvalhoM.; Castro MoraesP. Protocolo emergencial para
manejo clínico de obstrução uretral em felinos. Revista de Educação Continuada em Medicina
Veterinária e Zootecnia do CRMV-SP, v. 17, n. 3, p. 22-28, 17 dez. 2019.

MORAES, Reiner. Avaliação epidemiológica, clínica, laboratorial e terapêutica de gatos com


doença do trato urinário inferior de felinos (DTUIF) obstrutiva em Botucatu/SP, Brasil.
Repositorio Institucional UNESP, 2022. Disponível em:
<https://repositorio.unesp.br/handle/11449/238314>. Acesso em: 01 mai. 2023.
MUITO OBRIGADA!

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