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Q 4 ke ALICA DE MOC AMMIOLE ‘TRIBUNAL SUPREMO Copia do douto acérdio proferido a fis, 195 9 212 dos autos de Recurso Penal registados sob n? 34/2023-P, em & recorrente Anténio Calisto & Fecorrido Tribunal Superior de Recurso de Maputo 48 Secgdo. Sumario: {Em processo penal os ecursos com elt suspensvos80 os tarathvamente desriminados nos nts 1e2 do artig 462 do CPP, sendo os restantes com eleito meramente devolutv; CConsequentemente, © CPP contemplando expressamente a materia reletva acs suspensiva, &naplicivel no cata 0 CPC come ditto suino, ‘© recurso do despacho de aplcacSe de uma medida de coacy {40 CPP, tem eleit meramente devoutvo (0 despacho que val $80, porque no contemplads no artigo $62 4 « mantenha a prisio preventiva dove, para além de se basear na exséncla do indicios suficientes da pritica de crime dos equstos mencionados nas alineas 1) « b So artigo 243 (Gurus comisi deli, deve indcare demostrar a existénci dos pergcs prevatos no artige 2a smsbox 60 CPP (pericuaibetats Nio se mostrando preenchidos os requsitosacima mencionados, legal piso prevertva, devendo sero arguldorestitue imediatamente biberdade. ‘lel ndo contém uma norma que estabelece os requisites do despacho de aplcagio de medidas de coactie, a semethanca do que acontece com a sentenga no artigo 413 do CPP, pelo que na sustncin de norma expressa, 0 Jule dave atr-se aos requisites estabelecidos para a sentenga €om a necessaries aedaptagdese is normas dos artigos 243 e245, entre auras, para evarato seu despacho, Nesta conformidade, o despacha de aplicagio de medidas de casio deve conter, ‘Uma enunclagso sintética, mas compreensve, dos factos imputadot 20. argudo, ‘ircunstincas de tempo, lugar @ mod quando eras forem coneidas (5 meios de prova os meios de obtengio de prova que indicia of fates imputados, sao se a sua comunicagdo pusergravemente em causa a investiga, impossiblitar a descobertadaverdade ou trat erigo para a vida, a integridade fisica ou psiquica ou a liberdade dos participates processus ov das vitimas do crime, Inching as A qualificago jurgica dos factos. 'K enunciagio, por referéncia a factos concretos, dos pressupostos de aplcagio das medidas e, ‘nomeadamente, os previstos nos artigos 234 e245; ambos do CPP ACORDAO Acordam, em conferéncia, na Sec¢do Criminal do Tribunal Supremo Relatério No processo n® 01/2023, que correu termos no Tribunal Superior de Recurso de Maputo {TSR- Maputo}, 0 arguido Anténio Calisto, com os demais sinais nos autos, interpos ‘ecurso para este Tribunal Supremo do despacho do Venerando Juiz Desembargador da Secgio de Instrucdo Criminal que vaidou e manteve a sua prisfo preventva, 20 abrigo do artigo 243, nf 1, alinea a} do Cédigo de Processo Penal(CPP). Na sua motivacdo, o recorrente diz conclusivamente 0 seguinte: 2) encontra-se preventivamente preso nas celas do Estabelecimento Penitencisrio Preventivo de Maputo por decisio judicial apés o primeira interrogatéri 8 prisio fol antecedida de detengo e conducio a0 Gabinete Central de Combate 3 Corrupgao (GCCC], por agentes de investigacio criminal daquela insttuiclo, em onexdo com o alegado cometimento do crime de concussio p.e p. nos termos do 1? 2 do artigo 419 do Cédigo Penal (CP); ©) noentanto, b) talilicito criminal que the é imputado nio se consubstancia em factos Concretos objectivamente apurados e que sejam passiveis de tal mputacio; ‘mas ainda que se admitisse, por hipdtese, que tivesse praticado tal licito, ainda assim, 0 processo nao carece de instrucio por que a pena cominada é de 2 anos e sels meses, seguindo o proceso sumério, com julgamento imediato; como se pode verificar, a prisio preventiva do arguido é injstificada, pelo que a medida aplicada, assente em factos indicidrios inconsistentes e instavels, viola direitos fundamentais do arguido, desde logo, o direto a liberdade e presuncio de inocéncia; 9) ) eainda a norma contida no ndmero 2 do artigo 59 da Constituigo da Replica de Mogambique, que proclama o seguinte; “os arguidos gozam de presuncéo de inocéncia até condenagao judicial definitiva”; para além disso, faltam os pressupostos legais para a manutengio da prisio preventiva; necessidade, adequacao e proporcionalidade; 605 principios constitucionais da liberdade e da presungio da inocéncia impde que 8 aplicagao da medida de coaccdo de prisio preventiva obede¢a 20s principios da necessidade, adequac3o e proporcionalidade; hy i) sd0 requisitos legais cumulativos, condicionantes da manuten¢o do arguido em risdo preventiva nos termos do artigo 244 in fine do CPP os seguintes: comprovado receio de fuga, comprovado perigo de perturbacdo da instrucdo do brocesso, fundado receio de perturbacao da ordem publica ou de continuidade da actividade criminosa; 1) conjugando, tanto os pressupostos legals, quanto os principios relativos 8 manutengao da prisdo, verfica-se que a decisdo de manter a prisio do recorrente ‘mostra-se de todo destituida de fundamento, uma vez que nio se mostram ‘eunidos in casu 0s pressupostos legaisfixados no artigo 245 do CPP, X) @ tendo ainda em atencio os principios da precariedade e subsidiariedade da medida de coacgao de prisdo preventiva, que preconizam a aplicagao preferencial de outras medidas de coaccio, que ndo necessariamente a prisio preventiva, por exemplo a liberdade proviséria: mediante caugao ou por termo de identidade residéncia; ')_ assim sendo, concluise que ¢ ilegal a base sobre @ qual foi mantida a prisio Breventiva e, por lhe faltar fundamentacdo juridico-legal, € nulo o despacho recorrido, devendo ser revogado e substitulde por outro que determine a libertac3o proviséria do arguido. A terminar, © recorrente roga que se dé provimento ao presente recurso e, em consequéncia, seja substituida a medida de coaccdo de prisio preventiva pela liberdade Proviséria por termo de identidade e residéncia (TIR}, ou quando assim no se entenda, mediante caugo meramente carceréria afim de aguardar os ulteriores termos processuai © Magistrado do Ministério Piblico junto do TSR-Maputo respondeu pugnando pela improcedéncia do recurso. Neste Tribunal Supremo, a Dignissima Pracuradora Geral Adjunta da Repdblica emitiu seu douto parecer no qual suscita, como prévia, 2 questio atinente ao efeito do recurso. Adur que o despacho recorrido admitiu o recurso, fixando-Ihe o modo de subida assim como 0 respectivo efeito, fls. 123, como sendo 0 suspensivo, todavia integra-se na previsio da ‘linea c} do n® 1 do artigo 460 do CPP. Trata-se de uma decisio que mantém as medidas de coacglo, no se mostrando como tal contemplads na previsio normativa do artigo, {482 do mesmo cédigo que elenca os recursos com efeito suspensivo, rax8o pela qual o recurso tem efeito devolutivo, contrariamente ao entendimento vertide no despacho ora impugnado, Conclui que, tendo sido fixado 0 efeito suspensivo ao presente recurso, em vez do devolutivo, que € 0 legalmente prescrito, promove que nesta sede se altere 0 efeito do recurso, com as consequéncias dai decorrentes, Equanto ao objecto do recurso, a llustre Magistrada do Ministério Pablico verte a opiniao de que 0 recurso procede, por ndo se verificarem os requisitos da aplicag3o da prisio breventiva previstos no artigo 245 do CPP, propondo ent3o a revogagio do despacho ‘ecorrido que manteve a priséo preventiva do arguido, ordenando-se, em consequéncia, asvalibertagdo mediante caugo nunca inferior a $0,000, OOMts (cinquenta mil meticais) (© que tudo visto, cumpre apreciar e decidir + Questio prévia suscitada pelo Ministério Publico No seu douto parecer, a Dignissima Magistrada do Ministério Publico nesta instdncia suscita, como prévia, a questio atinente ao efeito do presente recurso, alegando que o tribunal recorride fixoushe © efeito suspensivo, porém, entende que tem efeito devolutivo por néo estar incluido na previsio do artigo 462 do CPP, e caso a sua opiniao seja de acolher, propde que o Triounal, antes de mais, fixe o efeto do recurso no caso em aprego. Compulsados os autos, deparamo-nos com o despacho do tribunal recorrido a fis. 123 de seguinte tear: “Recurso proprio, tempestivo, interposto por quem tem legitimidade, a subir nos préprios autos, nos termos do disposto n® 1, alinea c) do artigo 460 do CPP e ‘com efeito suspensivo, nos termos do artigo 7402 do Cédigo de Proceso Civil (CPC), ‘plicével subsidiariamente, por forgo do artigo 464 do CPP”. Ora, como se extrai do transcrito despacho, para além da questdo suscitada pelo Ministério Publico, uma outra emerge, também do teor do despacho ora posto em crise, €econsiste em saber se, em matéria de recursos em processo penal e maxime quanto aos seus efeitos, alei é omissa para que se esteja perante uma situaco de lacuna e como tal carecida de preenchimento por aplicagio do direito subsidirio, no caso 0 CPC, como foi decidido pela instancia recorrida, Por razbes metodolégicas hi-de convir que comecemos pela titima questo ora equacionada - a relativa & aplicagao do direito subsidiério, verticando-se que o CPP em vigor contempla, no artigo 462, os recursos com efeito suspensivo de forma exaustva, alias, na esteira do CPP de 1529, que consagrava expressamente uma norma sobre @ matéria, a do artigo 658°, Dai poder-se concluir, sem sombra para dividas que, quanto ao efeito dos recursos ppenais, tanto no direito antigo, quanto no direita em vigor e por maioria de raz3o. 0 4 legislador estabeleceu uma disciplina especifca e completa no Cédigo de Processo Penal’ razio pela qual no existe qualquer omissio de regulamentagio susceptivel de fundamentar a aplicagao do regime subsidirio do CPC, conforme previsto no artigo 464 4d0.CPP, 20 contrario do decidido pelo tribunal recorrido, Posto isto e examinando a questo fulcral suscitada pelo Ministério Pubico, temos de afiancar, desde jd, que a mesma reveste-se de extrema simplicidade, como se vai demonstrar a seguir. Na verdade, &incontroverso, tal como defende a Excelentissima Magistrada do Ministério PUblico nesta instincia, que em processo penal os recursos com efeito suspensivo S30 apenas 0s descriminados no artigo 462 d CPP; todos os outros tém efeitos meramente devolutiva, €mbora nBo exista uma norma expressa que o consagre no CPP vigente, como sucedia no CPP de 1925, resulta claro que a enumeragdo constante do artigo 462 do CPP 6 taxativa, sendo, pois de exclur, quanto a0 efeito suspensivo, todos os recursos que ali io se mostrem expressamente previstos. Diferentemente se passam as coisas em processo Civil, onde o regime regra quanto aos efeitos dos recursos & o suspensivo, determinando a lei que o efeito devolutivo deva ‘ecessariamente ser declarado pelo juz apedido do recorido (cf. artigo 6938 do CPC) ‘Assim sendo, por se constatar que, de entre os recursos elencados no citado preceito de leie, designadamente, nos seus nimeros 1 e 2, ndo se contempla o recurso sobre decisio que imponha ou mantenha medidas de coac¢o,foreoso & conclur que este recurso tem feito meramente devolutivo, tal como acertadamente defende 2 Dignissima Procuradora Geral Adjunta no seu douto parecer, pelo que se dé por procedente, nesta patte, 0 alegado, devendo, em conferéncia, fnarse o efeito devolutivo a0 presente recurso, de harmonia com 0 preceitvado no artigo 703° do CPC, aplcavel ‘subsidiariamente, e ainda observar-se 0 disposto no né 4 do ctado preceito legal. Mk Fundamentasso 1, Delimitagdo do objecto de recurso Face as conclustes alegaterias do recorrente, resume-se a questio decidenda em saber se, atentas as circunstancias e motivagdo que ditaram a imposigdo a0 arguido da medida ‘de coacgdo mals gravosa~a prisdo preventiva, esta de manter, como decidiva instincia recorrida ou, pelo contrétio, deve ser revogada e substitulda por outra menos gravosa, rnomeadamente o termo de identidade ou caucio, tal como peticiona o recorrente que conga oe ecoe om us epdamentagi uni e propa qu dea de esr suena ao agev em atria ciel comose determinava no aio 64% Go CP de 1923 ‘No PP de 199 conemplavase um prec defo ele elute como reqs ra ag Et secundado pelo Magistrada do Ministério Publico nesta instancia, sob a alegagSo de que ‘ndo se mostram reunidos os pressupostos fixados na lei para a manuteng3o da sua prisio. 2. Apreciagio 22. Circunserito, assim, o objecto de recurso a materia cognoscivel, cumprira to s6 afer da conformidade com a lei da prisio preventiva imposta pelo tribunal recorrido na sequéncia do primelro interrogatério ao arguido preso em flagrante delitoe, ainda, se ¢ ‘de manter tal medida de coaccdo enquanto decorre a instrugio do respectivo processo, CO despacho impugnado pelo recorrente é do seguinte tear’ “Compulsodos 0s autos e ouvido o arguido, resultam indicios suficientes de o mesmo estar incurso no crime de concussdo previsto e punido nos termos do n? 2 do artigo 419 do CP, em concurso com o crime de prevoricagdio previsto e punido nos termos do artigo 411, n® 41,a1.b)e 2; ambos do CP, atento ainda oo artigo 425, também do CP, aprovado pela Lei 18 24/2019, de 24 de Dezembro. Foi 0 arguido preso numa situagéo de flagrante delito, nos termas do n® 1 do artigo 299 do CPP e, pela gravidade da infrocgio cometida mostram-se insuficientes quaisquer medidas de liberdade provisria pelo que, ao abrigo do artigo 243, n° 1 linea a) do CPP determino que o mesmo aguarde sob custédia os subsequentes termos do processo. -Mandados de recondugdo @ cadeia e observe-se os notificagdeslegois” €, pois, contra 0 teor do despacho recrsido, que o arguido se insurge por entender que 10 se mastram preenchidos 0s pressuposts legs de que depends a sua apliaco, no aque € coroborade pela Dignssima Magstrada do Ministrio Public nesta istncia Mas, antes de entrarmas na anise dos fundamentos que mabilza © cecorrente pare ddemonsiraro bem fundado da sua pretenso,conveniente se mostra que dliitemos 2 naturezajrisica do despacho or imouenado, © despacho de apiasio de uma media de coacgdo & um act judicial deiséroe como tal deve ser fundamentado (tr. artigos 107, n€ 4 e 8; ambos d CPP. Nesta medida, por se consatarque ale contem umarocmaespefiafiando os espetivos requis, de aplcarse com as necessrias adaptagbes a norma do artigo 413 do CPP que estabelece os requisitos da sertenc, dado esta repesentaro acto decsériopadro por exceléncia. A exigéncia egal da fundamentaio dos actos decisis , de uma manera geal, as {ecsbes judiciais ou de motivagdo das sentencas, radica em tr razdes fundamentais: 1) controlo da administragSo da justica; 2) exclusdo do cardcter voluntari ico e subjectvo 6 do exercicio da actividade juristicional e abertura do conhecimento da racionalidade e coeréncia argumentativa dos julzes; 2) melhor estruturagdo dos eventuais recursos, jpermitindo as partes em juizo um recorte mais preciso ¢ rigoroso dos vicios das decisbes judiciais recorridas’ Assim, a fundamentagdo do despacho que aplica uma medida de coacgio deve conter, sab pena de nulidade (cfr. artigo 418 do CPP}*: a} Uma enunciagao sintética, mas compreensiva, dos factos imputados ao arguido, incluindo as circunsténcias de tempo, lugar e modo quando estas forem conhecidas. 1) Os meios de prova e os meios de obtendo de prova que indiciem os factos imputados, salvo se a sua comunicagSo puser gravemente em causa a investigacio, impossibiitar a descoberta da verdade ou criarperigo para a vida, a integridade fisica ou psiquica ou a liberdade dos partcipantes processuais ou das vitimas do crime, ©} Aqualifcacao juriica dos factos. 4) AenunciagSo, por referéncia afactos concretos, dos pressupostos de aplicacso das medidas e, nomeadamente, os previstos nos artigos 234 e 245; ambos do CPP. Com base na requisitabildade exigida para a aplicag3o das medidas de coactdo atentando agora no despacho recorrido, ea comesar pelo requisto da alinea a), verifia Se que se limitou a qualifcarjuridicamente os factos, sem primeiro fazer sua enunciagao ‘assim como as circunstancias de tempo modo e lugar, quando podia e devia, visto existivem nos autos elementos pertinentes para oefeito, Debrugando-nos sobre o requisito da alinea b}, colhe-se que o despacho nfo incics nem (0 melos de prova nem os meios de obtengio de prova que serviram para alicercar a sua decisio, nBo se vislumbrando que a comunicagdo desses meios pudesse no caso em prego impossibiltar a descoberta da verdade ou criar perigo 2 integridade fisca ou psiquica, designadamente, da ora queluosa dos autos. E quanto 20 requisito da alinea c), nenhum reparo merece 8 qualifcagSo juridica dos factos, pelo que aquele mostra-se preenchido, No concernente 20 requisito da alinea d atinenteaos pressupostos dos artigos 234€ 245, ambos do CPP, o primeiro sobre a adequacao e proporcionalidade, e 0 uitimo, relative * este seo, Cento, 1), Games, Dit Constauconale Ter Consus? ge Armed, 203, ieee? Ch De Aloguerue, Paso Pt, nComentte do Cis de Proceso Penal Eto acaias Unweriade ato tar 208, } aos requisitos gerais de aplicagdo das medidas de coacgio, o despacho recorrido é ‘omisso, NBO se ocupoU pura e simplesmente da matéria ‘uma apreciagdo global do despacho recorrido sob sindicancia, do ponto de vista da sua fundamentacZo, leva-nos a concluir que o mesmo padece de graves insuficiéncias, que cembora ndo constituam um vicio susceptivel de determinar a sua anulagdo, no deixam, contudo, de empanar o seu brilho e justeza como acto decisério, visto ndo reunir todos cs requistos determinantes da sua validade. Consequentemente, admitindo que se esti perante uma fundamentacio deficente, renhum obstaculo se ergue a que se conheca do objecto de recurso tendo presente que in cosu, 08 poderes de cognigSo deste Tribunal circunscrevem-se a0 conhecimento da rmatériade facto e matériade direito, cumprindo-the, neste ambito, corrigir e aperfeigoar a decisio recorrida quanto &s apontadas defciéncias, 2.2. Segundo nesta linha, tem-se como dado adquirido que o tribunal recorrdo alicerga 2 sua decisdo de valdare manter a prisio preventive do arguido no esposto na linea a) do n® 1 do artigo 243 do CPP, que dspde ns seguintes termos 41. Se considerar inadequadas ou insuficentes, no caso, os medidas referidas nos cortigos onteriore,o juz pode impor a0 arguido o prsto preventiva quando: 0) Houver fortes indicios da prética de crime doloso punivel com pena de pristo superior 0 2 anos”. © fundamento legal invocado pela instincia recorrida para aplicar ou manter a prisio preventiva 20 arguido, posto que no sustte de per si qualquer reparo, mostra-se, no entanto,insuficiente no despacho de aplicagdo da medida de coacgao, face ao dever de fundamentagdo que, como acto judicial decisério, € imposto a0 juiz pelo n® 4 do artigo 107 conjugado com 0 artigo 8; aibos do CPP. Naverdade, colhe o nosso sufrégio o ponto de vista do tribunal recorrido de que os crimes imputados a0 arguido sio punive's com moldura penal abstracta superior a dois anos de prisio e, concretamente, o crime de prevaricagdo previsto na alinea a} do nt 1 do artigo 411 do CP, punido com a moidura penal abstracta de 1 a8 anos de pris Nestas circunstancias, resulta claro que ndo asssterardo ao recorrente quando pretende que devia ser jugado em processo sumério, com o fundamento de que o crime que the 6 Imputado corresponde & pena maxima até 2 anos, sendo tal argumento verdadeiro tio 56 quanto ao crime de concussio e no também em relardo ao crime de prevaricagio, que o recarrente deliberadamente, ou nBo, omitiv, para o qual alei comina a pena de 1 / 48 anos de prisdo e que portal motivo corresponde-the o processo comum prescito no 181.40 artigo 305 e ndo 0 sumario (prevsto no artigo 420); ambos do CPP. Todavia, nao basta a verificago deste Unico pressuposto para a aplicag3o das medidas de coacgio, como também se mostra insuficiente a mera alusio em abstracto 8 gravidade da infraccéo sem © demonstrar objectivamente, v.g., com base no tipo e natureza do crime. Tornavase ainda indispensivel, tomar em consideragio o principio da legalidade consagrado no artigo 232 do CPP, segundo o qual “a liberdade das pessoas s6 pode ser limitado, toto! ou parciolmente, em fungdo de exigéncias processais de natureza cautela, pelas medidas de coocgao”. E ainda ponderar, se nfo sera de aplcar 20 caso qualquer das outras medidas de coaccdo ‘menos gravosas (termo de identidade e residncia- artigo 237} caugio, artigo 239, ov as demais prevstas nos artigos 240 a 242) em decorréncia do principio da subsidiariedade, segundo o qual somente se deve recorrer as medidas detentivas em ultima ratio e apos certificar-se de que nenhuma medida de coacéo menos gravosa é suficiente para farantirasatisfacdo das exigéncias cautelares, com assento no n® 2, do artigo 234 do CPP, ue dispde 0 seguinte: “a prisdo preventiva sé pode ser apliceda quando se revelarem manifesta e fundadamente inadequadas ou insufcientes as outros medidas de coacgo” Pois, € 0 proprio n® 1 do artigo 243, que manda ao juie aplicar @ medida de prisio preventiva, se considerar inadequadas ou insuficientes as medidas referidas nos artigos anteriores, ou seja, todas a que cima mencionamas, Esta exigéncia, quanto & medida de coaccio privativa de liberdade, decorre da conjugacio dos prineipios da proporcionalidade e adequacio bem como do principio da presunggo dainocéncia © principio da proporcionalidade, também conhecido como principio da proibigio de excess, significa que os melos legals restritivos e os fins obtidos devem situar-se numa Justa medida, impedindo a adop¢ao de medidas legais restritivas desproporcionadas & excessivas em relagdo aos fins obtidos, 20 passo que o principio da adequacio preconiza {que as medidas legalmente prevstasrestitivas de direitos, liberdades e garantias deve revelar-se como meio adequado para prossecucio dos fins visadas pela lei (salvaguarda ‘de outros direitos ou bens constitucionalmente protegidos s principios acima enunciados encontram consagracSo legal no artigo 234 do CPP, estabelecendo, no nts 1, que “as medidos de coaccéo @ aplcar em concreto devem ser J cdequadas 0s exigéncias cautelares que o caso requerer e proporcionais 6 gravidade do crime eas sangSes que previsivelmente venham o ser aplicodos” Nesta conformidade, nao basta a admissibilidade, em abstracto, da aplicago ao arguido de uma medida de coaccdo, importando ainda que ela se mostre necessiria no cas0 concreto, objectiva e subjetivamente: a medida tem de ser objectivamente idénea para assegurar 0 fim para que que a lei permite, mas também é preciso que seja proporcional 2 pravidade da infraccdo eas sangdes que venham a ser aplicadss. E quanto 20 principio constitucional da presungio de inocéncia insito non 2 do artigo 539 da Constituigdo da Republica de Mocambique (CRM), resulta como corolio, no que concretamente & aplicagio da prisio preventivaconcerne que, representando as medidas de coacgao limitacBes aos direitos de quem a elas se ve sujeito, por que aplicadas numa fase em que o arguido ¢ presumido inocente, mastra-se imperiosa a necessidade de uma acentuada ponderasio até porque normalmenteé apicada na fase iniial da investigacio, © ap65 © primeiro interrogatério em que o arguido ainda nio teve oportunidade de exercer 0 seu direita de defesa e do contraditéri, Ante 0 exposto e com vista a obviar & aplicagdo abusiva e arbitrétia das medidas de coacglo, alelestabelece, no artigo 245 do CPP, a regra segundo aqual:” nenhume medida de coacg0 previsto no copitul anterior, éexcepedo do que se contém no artigo 237, pode ser oplicada se em concreto se nd verificar: 4) fuga ou perigo de fuga; 6) perigo de perturbagéo do decurso da instrugdo ou do audiéncia preliminar do rocess0 ¢, nomeadamente,perigo para a aguisigda, canservagéo ou veracidade da prove; ou ¢) perigo em rozéio da natureza e dos circunsténcios do crime, ov da personolidade {do arguido de perturbagéo da ordem e da tranqulidede publicas ou de continuago do actividade criminaso, Como se intul, para que o juz sejalegitimado, no caso concreto, a aplicar qualquer ‘medida de coacgao e, em especial, ada pris preventiva,além da existéncia de indicios da pratica de crime (fumus comiss delt)e dos requsitos especificos de cada uma delas, importa ainda que se verifique pelo menos um dos requisitos gerais anunciados nas alineas a}, be c} do artigo 245 do CPP, ou sejacrcunstancias também conhecidas por pericula iberttis. Todavia, atentando no despacho a ls. 60, que valida e mantém a prisSo do argudo, nio ‘se vislumbra que o despacho recorrd se tenha debrusado sobre @ materia em termos {de demonstrar que se verficam as exigéncias cautelares(periculaliberttis) 0 cya, 0 pretendendo aqui averiguar se ao tempo da validagio e manutengio da prisio gqevetva do arguio eta ou ndo qualauer dos perculaibertatis previstos male, para ques justificasse a aplcagdo da medida de coaccio de prisio preventva,imeressa tio sb determinar, Se no momento em que o recurso é apreciado,verifica‘se algum destes pressupostos determinantes da manutengio da prisio do arguido até a presente data Assinale-se que em qualquer das alineas do artigo 245 utiliz-se a palavra “perigo", signiicando com iso que devemos estar perante um perigo iminente e nfo meramente tipottico, virtual ou longicuo, para além isso, tas perigos devem resutar dos elementos factuais disponivels no rocesso,analisados © ponderados de acordo com as regras de experiénciacomum (0 despacho que aplca a medida de coacgia nd pode basear-se sobre perigo para a aquisiglo, conservacio ou veracidade de provas de rhodo genérico; ndo pode reportar-se a um genério perigo de fuga do arguido, mas deve referi-se a uma fuga ou perigo de fuga coneretos, como de modo andlogo no pode aludir a um perigo abstracto de perturbagio da ordem e tranquilidade péblicas ou de continuagdo da actvidade criminosa, devendo serem certficados os factos em que assenta ojulzo de perigsidade’ Assim, pare que a manutengSo da prisdo preventiva esteja coberta de licitude,terd de se verificar em conereto, pelo menos um dos requisites: 1) fuga ou perigo de fuga 'Na previsdo da alinea a) do artigo 245, pretende-se acautelar a presena do arguido aos terms do processo e efectividade da decisio final Importa, a propésito deste perig, chamar& atencio para dois aspectos particularmente relevantes: primeiro diz que ha que ter presente que aleindo presume o perigo de fuga, cexige-se que esse pergo sejaconcreto, oque significa que ndo basta a mera prababilidade de fuga dedurida de abstractas e genéricas presungGes, mas que se deve fundamentar sobre elementos defacto que indiciem, concretamente, aquele perigo, nomeadamente porque revelam preparacio de fugat; 20 passo que quanto ao segundo diz a doutrina? que tem sido pouco exigente na fundamentagdo féctica do perigo de fuga, geralmente deduida da gravidade do crime e das sangOes penais que, previsivelmente, venham a ser aplcadas ao agente. ashe, Gemano Marques ncrso de proces poral eco, EL owes Verb 2008, 6257 “ou Sha, Gemane Marques, nur ge Dveta roel en tao Revstaeacuata, ago ero. 208.9297 "ide, rolee ot e237 a ¢, pois com base num juizo global de todas as circunstancias do caso, que se pode fundamentar uma concluséo sobre a verficagdo de perigo de fuga, podendo recensear se como elementos desse perigo, a verificacio de uma fuga anterior, ter estado em sivagio de contumacia, a gravidade da pena que poderd vir a ser cominada face a aravidade do crime imputado, a personalidade do arguido revelada nos factos praticados «suas consequéncas, a situagdo financeira familiar, profssional e social do arguido, 2 incertera em relagdo ao modo de vida e paradeiro do arguido, as ligagBes com paises cesrangeiros € a5 exsténcia de sinais de que o arguido prepara a sua fuga, como por exemplo possuir blhete de avido, comboio ou autocarro para viajar para o estrangeiro em dias muito prdximos do cometimento do deli, ‘Transpondo agora os descritos elementos da fuga ou perigo de fuga para 0 caso sob sindicSnca,constata-e que afactualidade material existente nos autos no nos permite formular um juizo favoravel & verificagdo de quaisquer dos apontados elementos de perigo e, desde logo, ndo temos por verifcada qualquer fuga anterior na falta de informacSo de que 0 arguido tivesse alguma ver fcado preso preventivamente;e, elas smesmas ratdes, mostra-seexcluida apossiblidade de o arguido ter estado numa situagio de contumacia 8 que nfo existe prova de que conta elecorreutermos processo crime ‘0 qual no fol julgado devido a impossibildade de onotificar da data designada para a audiéncia de discussio e julgamento, ou para a execugio da detengdo preventiva, tequsitoexigido pelo artigo 380 do CPP, para a declarac3o da contumécia ‘Quanto & gravidade do crime, colhe-se que arguido vem indiciado da pratica do crime de concussio p.€ p, pelo n# 1 artigo 419 para o qual se comina a pena de pris até 2 anos ©0 crime de prevaticagio p. e p. nas termos da alinea a) don? 1 do artigo 411 com a rmoidura penal abstract de 1a 8 anos de prio, ambos os crimes integrados no Capitulo \-sob aenigrafe “crimes contra o realiza¢do dajustigo", do Titulo Vi, dedicado aos crimes, contra o Estado. Assim sendo, embora os factos de ver indiciado o arguido, no plano da culpa, uma censura particularmente severa, por sobre si na qualidade de magistrado judicial impender o dever especial de no os cometer ou de obstar que sejam cometidos ou de concorrer para sua punigSolcr. circunstincia 24° do artigo 40 do CP}, certo & que, do ponto de wsta da ilcitude, os mesmos sdo de gravidade relativa tendo em atenglo as rmolduras penais cominadas, além de nao serern reveladores de uma personalidade perigosa Reale-se que o arguido € mapistrado judicial de profiséo, nfo se vslumbrando que os seus proventos mensals Ihe proporcionem sufcente desafogo material que nos legtime a suspeitar que possa emoreender a fuga, aso sola posto em liberdade aarredadas se mostram também quaisquerincertezas quanto a0 modo de vida e paradeiro do arguido, jd que este ¢ juiz de direito no activo, pelo menos o era até a data da sua prisdo, sendo por isso certos e conhecidos, quer 0 local de trabalho, quer o da residéncia. Outrossim, ndo existem nos autos elementos de que o arguido tenha ligagBes com paises estrangeiros ou com cidadaos desses paises por forma a alicercar as suspeitas de que 0 mesmo, uma vez em liberdade, possa empreender a fuga para algum desses paises, no se descortinando, além disso, que no acto da detenc3o em flagrante delito, 0 arguido tenha sido surpreendido na posse de bilhete de viagem para o estrangeiro que pudesse fundar a suspeita de que poderd em liberdade vir a fugir. Pelo exposto e sem necessidade de mais consideragdes, se conclu pela nao verificagdo 4 pressuposto relaivo & fuga ou perigo de fuga para a aplicacao da medida de coacgdo de prisdo preventiva li) Perigo de perturbago do decurso da instrugdo ou audiéncia preliminar do Processo e, nomeadamente, perigo para aquisicSo, conservacio ow veracidade da prova Importa clarificar, antes de mais, que apesar de este requisito consagrar 0 perigo de perturbagdo nas fases da instrugdo e da audiéncia preliminar, como justificagso da aplicag3o da medida de coacsdo, tal nfo deve ser entendida apenas naquelas fases processuais, mas abrange toda a actividade processual até a0 julgamento. Claro que 0 requisito da alinea b) do artigo 245 do CPP mostra-se de verificagio mais provavel na fase da instrugo do que nas restantes fases processuais, dado que é no Ambito dela que decorrem as investigagdes de modo mais amplo, pois, posteriormente, @ pelo menos apds uma acusago, jS haverd indicios suficientes da responsabilidade do arguido, Este perigo envolve toda a actividade de recolha de elementos de prova, em qualquer das fases do processo, Na verdade, o arguido pode ser um agente bastante perturbador da instrugdo, prejudicando a aquisiglo, conservacdo ou veracidade das provas. Para além disso, em liberdade, nada impede que o arguido possa perturbar a instrugdo ou 0 julgamento (por exemplo, combinando com outros arguidos uma determinada versio para 0$ factos, simulando novos factos ou falsos alibis, aterrorizando ou subornando as testemunhas, ou fazendo desaparecer documentos probatorios, produzindo documentos falsos, ete. E tal como no requisito anteriormente examinado, havendo a possibilidade de o arguido desenvolver uma actividade no sentido de prejudicar a investigacao e a prova, nao basta, B yj porém, a mera probabilidade de tal acontecer. Também quanto a este requisito, necessirio que fique demonstrado esse perigo pela acorréncia de factos que indiciem a actuagao do arguido com esse objective, e que 0 recurso a outros meios processuais consentidos, no seja bastante para evitar a perturbagdo da instrucao° ‘No caso em apreciacéo, o arguido foi preso em flagrante delto indiciado da pratica dos aludidos crimes de prevaricacio e concussio e, face aos elementos de prova coligidos nesta fase, como se alcanca dos documentos juntos aos autos de fis.4 a 51, de entre os quais, @ exposi¢do-deniincia formulada pela queixosa na qual relata de forma ‘pormenorizada todo 0 iter criminis até & entrega do valor 20 arguido com 0 qual fol surpreendido no acto da detenco;fotocépias das notas em dinheiro apreendidas em sua posse; as cOpias das pecas processuas relativas aos autos de regulacdo do exercicio do poder parental que correram termas na 4® Seccdo de Familia e Menores do Tribunal Judicial da Provincia de Maputo a cargo do arguido, extractos da corresnondéncia via \WhatsApp mantida entre avitima e arguido, de fis, 98 a 102, entre outros. Por aqui logo se ve, que os autos revelam ter sido carreada prova indiciaria abundante ¢ suficiente para fundamentar a acusagio, e se mais dilgéncias instratorias devam ser realizadas, tal nfo pode, no entanto, justifcar 0 receio de que 0 arguido, em lberdade, possa pertutbar, por qualquer dos modos acima mencionados, a instrugdo do pracesso Ese 2 isto acrescero facto de que no se colhe a existencia de umn minimo incicio nos autos de que © arguido tenha, 20 longo do tempo em que se encontra sob prisS0, assumido uma conduta que consubstancie intromissao ou interferéncia nos actos de instrugdo do processo com o propésito de perturbar e Inviabilizar 0 seu curso normal, Togo se vé que o requisito da alinea b) do artigo 245 do CPP também nJo se mostra ppreenchido no caso sub judlce. iil) Perigo, em raxo da natureza e circunstAncias do cri 40 arguido, de perturbagio da ordem e da trang continuagio da actividade criminosa ee da personalidade idade publicas ou de se atentas as circunstancias do crime e da personalidade do arguido for de presumie 2 continuagdo da actvidade criminosa pela qual 0 arguido estejaindciado no processo, pode justificar-se a aplicaclo de uma medida de coacrSo. Toe op ee 8 0298 Segundo Germano Marques da Siva’, a perturbagdo da ordem e tranquldade piblicas deve reportar-se 20 previsivel comportamento do arguido e ndo ao crime por ele ingiciriamente cometido, ainda que o comportamento no constituailicit criminal Para esta teori, no que toca aos pressupostos de aplcacso da prisdo preventiva (€ demals medidas coatvas estario em causa os crimes que despertam na comunidade sentimentos de realizacdo de justica popula, crimes de tal forma brutais que levarn 0 Cidado a descrer nas instincias formais de controle, em face do precriedade das Fespostas que oferece num momento de cheque, No que tange 3 personalidade do Aarguido, estaremos perante situacdes em que a sua postura cria o temor, 0 panico Ou Brande inseguranca,originando na comunidade sentimentos de ddio, vinganga e, mesmo, de eliminacao fisica $6 que tal orientagao, segundo © mesmo autor, comporta o inconveniente de o Perigo em causa ser amide fundsmentad na relevincia que os meios de comunicagao social atribuem aos factos, pelo que deve ser rejeitada, j8 que a motivacdo destes nada tem 2 ‘ver, as mais das vexes, com a realizagSo da justica, mas com o proprio interesse comercial a venda das noticias, 0 que leva 20 empolamento dos indicios para agradar a0 publico que é seu cliente Relativamente ao perigo de que este continue a actividade criminosa, também deverd ser fentendido que esta exigéncia cautelar deve ser interpretada com bastante culdado, ressalvando-se o perigo de que a finalidade da prevencao especial do agente sirva de pretexto para uma medida de coace¥o, principalmente quando se refere 2 da prisdo preventiva, Dai que a doutrina chame a atenclo para que 2 fundamentacio da medida referida na linea c) do artigo 245 seja interpretada cuidadosamente, em termos que o seu Smbito se restinja 20 de verdadeiro Instituto processual, com fungSo cautelar atinente 20 proprio processo, endo de medida de seguranca alhela ao processo em que é aplicada."® E que 2 aplcagio de uma medida de coacgdo ndo pode servir para acautelar a pratica de {qualquer crime pelo arguido, mas t8o s6 a continuacSo da actividade criminosa pela qual 0 arguido esta indiciado. Nesta conformidade, devemas ter quanto a este perigo idénticas preocuparées tendo em ‘conta um comportamento futuro do mesmo agente © no uma qualquer presun¢ao retirada do tipo de crime quellhe ¢imputado,e tal avaliagdo terS de se reportar ao mesmo * Nsop ele ot gap 201 svlggem, aie 95300 as tipo de crime, no vad Adlquirindo natureza cautelar uma medida que sirva para evitar a pric de qualquer crime pelo argide Tomando como 6b; probatérioteaid SE OS pressupostos acabados de enunciar, e analisado 0 acervo iGo 20 processo,ndo se descortna aexisténcia de um minima indo que nos permit 2 ca coe @ Suspeita de que o arguido possa ser agente perturbador da ordem ‘de publicas uma ver colocado em liberdade proviséria. A perturb Tieeurbart do ordem etrangutade pubes decore da gravida do crime das clas Em que fol praticado, gerando uma enorme revolta e sentimento colectivo de inses : Seen an rstadaindignacio quando ndo see segue uma reacsoimediats€ caz por pare dasinsténcas formats de control, Assim sendo, para que se verifique o requsito da alinea c) do artigo 245 do CPP, torna-se "necessirioo preenchimento ds seguints elementos: 1) 0 tip, naturezoe grovidade do Crime e des circunsténcias em que foi comet, 2) que o crime tenho provocado olarme S0ciolesentimentas comunitério de vinganca face dinoperGncia dos rgos de prevensb0 e repressio do crime. Quanto 20 primeiro elemento, vimos ja que oarguido foi acusado da pratica do crime de ‘Concussio p. © p.p. pelo artigo 411 e o crime de prevaricacdo p. © p. pelo artigo 418, © primeiro, com a moldura penal abstracta até 2 anos de pris ¢ 0 segundo, punivel com a pena de 1 a 8 anos de priséo; ambos so crimes contra 0 Estado. Os factos que suportam a matéraindiciria que pende sobre o arguido foram praticados sem qualquer sofisticagSo dos melos ou instrumentos utilizados, nem com ameagas ou oléncia contra a pessoa da ofendida, resultando claro que olegslador, 20 censurar uma das incriminagBes com a pena de det a 8 anos de prisfo, entendeu serem de pequena ou iméGia gravidade e, portanto, excluidas, em principio, do universo de tipos legals de crimes cujapratica, pela sua gravidadee circunstincias em que of, provoca sentimento colectivo de inseguranga e indigna¢do para que 0 juiz esteja legitimado a aplicar as medidas de coacgo de prisio preventiva, ‘Termos em que se tem por nfo verificado 0 primeiro elemento relativo & gravidade do crime. No que tange 20 segundo elemento, para além da censura especialmente severa que recai sobre a conduta do arguido no plano da culpa (pelo especial dever que tinha de no praticar o crime ou de abstar a sua pritica ou de concorrer para a sua punigdo), nBo se vé {que of aludidos crimes tenham gerado no selo da comunidade sentiments de revota, 16 e / de inseguranca e indignacs iBNagao, razd segundo requisito, 2280 pela qual nao se mostra igualmente preenchido o Relativamente & continua, ©) do artigo 245 do cf Personalidade do argui criminosa, 680 da acti Pe dade criminosaprevista na ima parte d lines cor 2 pean itt stents a6 cicnstncias do cme ou da © evistir © receio de que este continue a actividade A continuagai iNUaGEO crim paseera: se em fundamento na perigosidade criminal ¢ deduz-se 2 eer praia conforme a sua predisposicdo, tendéncia ou propensao DctNidede crininone ae eealmeezem podem recair suspeitas de continuagao da re individues a quem a Cc enlolscecieei Geel ee eae ee eee representa, #€ como factor dissuasor que Ihe inerente. Tal poderd ser aferido, ae signadamente, pelo nimero de crimes cometidos, a espécie © Imes praticados, os motivos determinantes, as circunstdncias em que foram cometid tidos e o comportamenta e género da vida do criminoso, que revelem habito ara a pratica de crimes" E todos estes elementos constituem indiclos reveladores da perigosidade crimi susceptivel de criar fundado recelo de que o arguido possa continuar 2 actividade

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