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FACULDADE DE DIREITO
LISBOA
2018
UNIVERSIDADE DE LISBOA
FACULDADE DE DIREITO
LISBOA
2018
Aos meus pais e a minha irmã Paula pelo amor, carinho,
cuidado, oportunidade concedida e incentivo.
AGRADECIMENTOS
PARTE I
O PROBLEMA DA ALTERAÇÃO DAS CIRCUNSTÂNCIAS PERANTE OS DIREITOS
NACIONAIS ………………………………………………………………………………………………4
PARTE II
A CLÁUSULAS DE HARDSHIP NO DIREITO DO COMÉRCIO INTERNACIONAL…………...70
CONCLUSÃO………………………………………………………………………………………….168
REFERÊNCIAS………………………………………………………………………………………..171
RESUMO
Esta dissertação tem por objetivo analisar como o problema da manutenção dos
contratos desequilibrados em razão de alterações supervenientes das
circunstâncias é resolvido adentro das diversas sistemáticas jurídicas. Para tanto
o presente trabalho será dividido em três partes, assim consideradas na
sequência dos traçados introdutórios e da delimitação do tema. A primeira é
destinada à aferição das soluções adotadas para o problema da alteração das
circunstâncias pelos sistemas jurídicos nacionais, cito: francês, alemão, italiano,
português, brasileiro, inglês e norte-americano à luz das fontes de direito que se
prestam à integração dos contratos quando houver lacunas. A análise dar-se-á
desde a solução através da cláusula medieva ‘rebus sic stantibus’ até os dias
atuais frente a estes contextos jurídicos e será concluída com uma síntese
comparativa. A segunda é destinada a verificação das soluções do direito do
comércio internacional até a modelação das cláusulas de hardship de adaptação
que reflitam o conceito / teoria do hardship trazida pelos Princípios UNIDROIT.
Esta será concluída com alguns ensaios conclusivos. A terceira tem como intento
aferir a viabilidade e interesse na negociação de cláusulas de hardship de
adaptação nos moldes referidos nos contratos sujeitos as ordens jurídicas
portuguesa, brasileira, inglesa e norte-americana. Como também a cláusula de
hardship como expressão da interação entre os sistemas jurídicos nacionais
pertencentes a família jurídica romano-germânica e do Common Law e entre
estes e o contexto internacional. Para tanto foram analisadas pesquisas
bibliográficas, legislativas, jurisprudenciais dos ordenamentos jurídicos sob
aferição, visando se obter melhor compreensão do tema.
This dissertation seeks to analyze in the national and international law systems
the ability to solves the problem of how to discharge contractual parties in a civil
contract because of the changed circumstances. It is divided into three sections.
The first section focuses on the specific solutions adopted by French, Germany,
Italy, Portuguese, Brazilian, English, and North American systems for the
changed circumstances specific when the Court needs to fulfill the gaps in a civil
contract. In this section, the evolution of the medieval clause named ‘rebus sic
stantibus’ will be analyzed and the relation between this clause and the national
rules. The second section focuses on analyzing the solution adopted by the
international commerce law for the same problems referred: how to discharge the
parties in a contract when it is affected by changed circumstances. In this section
we will analyze how the problem is solved by the soft law - UNIDROIT Principles.
Furthermore, in this section we will analyze the negotiation solutions adopted by
the contracting parties in an international agreement, named hardship clause.
The last section seeks to analyze the proceed of introduction, the viability and
interested in hiring the hardship clause in national civil contracts or in international
contracts that are subject to the national law, specifically Portuguese, Brazilian,
English and North-American law. Finally, this dissertation will analyze the
hardship clause as an expression of the interaction between these referred law
systems.
1 MARTINS-COSTA, Judith. A boa-fé no Direito Privado: critérios para a sua aplicação. São
Paulo: Marcial Pons, 2015. p. 591.
2 MARTINS-COSTA, Judith. A boa-fé no Direito Privado…, p. 591.
2
PARTE I
O PROBLEMA DA ALTERAÇÃO DAS CIRCUNSTÂNCIAS
PERANTE OS DIREITOS NACIONAIS
Quid Juris, 2001. p. 17; LYNCH, Maria Antonieta. Da cláusula rebus sic stantibus à onerosidade
excessiva. In: Revista de Informação Legislativa, Brasília, a. 46, n. 184, 2009. p. 8.; AGUIAR
JUNIOR, Ruy Rosado de. Comentários ao Novo Código Civil. v. 6. Tomo 2. Rio de Janeiro:
Forense, 2011. p. 840-843.
6
5 Leciona CORDEIRO, António Menezes. Da boa fé no Direito Civil. Coimbra: Almedina, 2015.
p. 940-94, que o aparecimento da cláusula somente se deu na vigência do Direito medieval,
porque enquanto perdurou o pensamento romano não se podia considerar a modificação das
circunstâncias enquanto princípio, mormente porque os romanos não possuíam um brocardo
sistemático. De mais, conforme ensina LARENZ, Karl. Derecho Justo: Fundamentos de ética
jurídica. Traducción y presentación de Luis Díez-Picazo. Editorial Civitas, S.A. Madrid. 1985. p
32 e ss, os princípios jurídicos são os pensamentos que dirigem uma regulamentação jurídica.
Não são, em si, regras perfeitamente acabadas, mas os fundamentos iniciais de uma regulação
jurídica. Podem, no entanto, transforarem-se em regras materiais, quando remeterem a um
conteúdo intelectual capaz de conduzir a uma regulamentação. Neste caso, serão considerados
princípios materiais.
6 No sentido de considerar a cláusula prender-se à doutrina e prática forense medieval
posicionam-se: COSTA, Mário Júlio de Almeida. Direito das Obrigações. 12ª ed. Coimbra:
Almedina, 2009. p. 324; LEITÃO, Luís Manuel Teles de Menezes. Direito das Obrigações. v. II.
11ª ed. Coimbra: Almedina, 2017. p. 123-124 e ss; VICENTE, Dário Moura. Direito Comparado.
v. I. 3ª ed. Coimbra: Almedina. 2015. p. 114-115; FONSECA, Arnaldo Medeiros da. Caso Fortuito
e Teoria da Imprevisão. 3ª ed, Revista Forense, 1958. p. 197 e ss.
7 A doutrina da cláusula ‘rebus sic stantibus’ exigia, para a sua aplicação, que houvesse uma
prévia estipulação a este respeito pelas partes, de modo que, se não houvesse clausulado
prevaleceria o cumprimento das obrigações nos moldes assumidos na contratação, ou seja,
vigorava então o princípio da ‘pacta sunt servanda’. (Cfr. LEITÃO, Direito das Obrigações…, vol.
II, 2017. p. 124). Ensina, no entanto, PEREIRA, Caio Mário da Silva. Instituições de Direito Civil:
Contratos. v. 3. 17. ed. Rio de Janeiro: Editora Forense, 2013. p.143-144, que a cláusula ‘rebus
sic stantibus’ consistia em presumir, nos contratos comutativos, uma cláusula, a qual não se lê
expressa, mas se considera implícita, e assegura a adstrição dos contratantes ao contrato, desde
que as circunstâncias ambientes permaneçam as mesmas que vigoraram aquando da
contratação. Neste mesmo sentido: GOUVEIA, Alfredo José Rodrigues Rocha de. Da teoria da
imprevisão nos contratos civis. Revista da Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa.
Lisboa, 1958. p. 9 e ss.
8 PIRES, Cândida da Silva Antunes. A teoria da imprevisão no Direito Civil Francês. Faculdade
circunstâncias. Coimbra: Almedina, 1995. p. 8; COSTA, Mário Júlio de Almeida. Direito das
Obrigações…, p. 324.; ASCENSÃO, José de Oliveira. Alteração das circunstâncias e justiça
7
contratual no novo Código Civil. 2004. [Consult. em 10 out. 2017] Disponível em:
<http://www.fd.ulisboa.pt/wp-content/uploads/2014/12/Ascensao-Jose-Oliveira-ALTERACAO-
DAS-CIRCUNSTANCIAS-E-JUSTICA-CONTRATUAL-NO-NOVO-CODIGO-CIVIL.pdf>.
10 FERREIRA, Durval. Erro negocial…, 1995. p. 8; COSTA, Mário Júlio de Almeida. Direito…,
2009. p. 324.
11 Eis que a conceção cristã via no comércio uma atividade humana não indiferente à busca e
359.
16 PIRES, Cândida da Silva Antunes. A teoria…,1960-1961. p. 19 e ss.
17 GLITZ, Frederico Eduardo Z. Anotações sobre a cláusula de Hardship e a Conservação do
18 Fora este cenário o responsável por motivar a inexistência, ao menos em termos gerais, de
regras positivas que objetivassem promover o restabelecimento do equilíbrio contratual nas
relações afetas por forças supervenientes capazes de transformar o “sinalagma genético”
estabelecido no momento da conclusão contratual (Cfr: MARTINS-COSTA, Judith. A boa-fé…,
2015. p. 591). À época, as raras hipóteses para revisar o conteúdo de um contrato pela via judicial
após sua conclusão, referiam-se aos casos em que a vontade das partes encontrava-se viciada
- erro. (Cfr: GLITZ, Frederico Eduardo Z. Contrato e sua conservação: Lesão e Cláusula de
Hardship. Curitiba: Juruá Editora. 2008, p. 3-4/28-31; GLITZ, Frederico Eduardo Z. Anotações…,
2011, p. 4-5; ASCENSÃO, José de Oliveira. Alteração das circunstâncias..., 2004, p. 3-5).
19 GLITZ, Frederico Eduardo Z. Anotações…, 2011. p. 4.; GLITZ, Frederico Eduardo Z.
Contrato… 2008, p. 3-4 / 28-31; FONSECA, Arnaldo Medeiros da. Caso Fortuito…, 1958. p. 199
e ss; ASCENSÃO, José de Oliveira. Alteração das circunstâncias..., 2004, p. 3-5
20 Aponta, PIRES, Cândida da Silva Antunes. A teoria…, 1960-1961, p. 73 e ss, decisões
jurisprudenciais em França, a partir do ano de 1843, que vieram a tratar de questões relativas a
cláusula medieval ‘rebus sic stantibus’.
21 ASCENSÃO, José de Oliveira. Alteração..., 2004, p. 4.
9
ao outro22.
Assim sendo, aquando da contemporaneidade contratual o modelo
liberal do contrato entrou em crise. Isto em razão do forte apelo social e
intervencionista deste contexto. Também em virtude das transformações sociais
relacionadas às consequências da Revolução Industrial, a qual se iniciou no
século XVIII e teve sua segunda etapa no século XIX23. Igualmente, por
consequência dos desequilíbrios monetários e econômicos decorrentes da
Primeira Guerra Mundial (1914 - 1918), sobretudo na Alemanha, país que teve
sua economia devastada em razão da inflação24. Ainda, por se ter percebido que
o processo de contratação estava sujeito à ocorrência de descontentamentos,
contrariedades, riscos e da possibilidade de inadimplemento. Fora, então, em
decorrência da crise desencadeada que a busca por meios seguros para se
garantir o equilíbrio entre os contratantes, coibir abusos e preservar os interesses
sociais foram elevadas.25
Diante do novo momento que se viu à altura prevalecer, passaram,
então, a ser tentadas novas construções que visavam solucionar os problemas
originados no seio dos contratos em consequência de alterações supervenientes
das circunstâncias contratuais. Nesta medida se tinha a intenção de conter os
excessos ocasionados em razão da manutenção de um contrato
desequilibrado26. As tentativas se firmaram pela doutrina, que muitas vezes fora
sobretudo em razão da alta da inflação que neste período decorreu. Por esta razão, muito
embora o Código Civil alemão, à época vigente, fosse explícito ao permitir que as partes viessem
a se desobrigar do cumprimento de suas obrigações apenas em casos de impossibilidade,
pautados no princípio da boa-fé, igualmente presente na sistemática jurídica alemã daquela
altura, os tribunais alemães começaram a permitir a desobrigação relativamente ao cumprimento
da obrigação em casos de dificuldade. Isto porque, consideraram contrário ao referido princípio,
exigir o cumprimento do contrato alterado e nesta medida desequilibrado, que estivesse a causar
dificuldades para o seu cumprimento. (Cfr: PERILLO, Joseph. Force Majeure and Hardship under
the UNIDROIT Principles of International Commercial Contracts. p. 1-9. [Em linha]. Disponível
em: https://www.cisg.law.pace.edu/cisg/biblio/perillo3.html Acesso em: 19 jun 2017. Também no
sentido de referir-se que entre 1914 a 1918 os países beligerantes voltaram a desenvolver teorias
a este respeito: PIRES, Cândida da Silva Antunes. A teoria…, 1960-1961, p. 12 e ss.
25 Cfr: GLITZ, Frederico Eduardo Z. Anotações..., 2011, p. 5.; GLITZ, Frederico Eduardo Z.
entretanto outras foram mecanismos consagrados pelo legislador, conforme ocorreu, por
exemplo no que toca a teoria da alteração das circunstâncias do Direito Português. (Cfr:
ANTUNES, José A. Engrácia. Direito e Justiça: contratos comerciais, noções fundamentais. Vol
especial da Universidade Católica. 2007. p. 215).
29 Também chamadas de leis de emergência, legisladas em razão do estado de guerra.
11
30 Neste sentido, vale citar o caso de um contrato de transporte por estrada entre Paris e Ruão,
em que, no ano de 1843, o tribunal de Ruão sentenciou no sentido de liberar as partes das
obrigações assumidas. Esta decisão decorreu porque estes contratos foram celebrados no
momento em que se iniciavam as construções de linhas de caminho de ferro. Entretanto, de
forma surpreendente, as obras referentes as estradas de ferro foram concluídas demasiado
rápido. Deste modo, os comboios passaram a circular pelos mesmos trajetos, fato este que gerou
concorrência entre aqueles que operavam pelas rodovias e aqueles que operavam pelos
caminhos de ferro. Por não ser o objetivo, à altura da contratação, haver concorrência entre
aqueles que operavam por estradas e os operados através da linha de ferro. E ainda, por ter sido
alterado o estado de coisas que fora levado em consideração aquando da contratação. O tribunal
de Ruão entendeu por bem liberar os contratantes, parte dos contratos de transporte entre Ruão
e Paris, das suas obrigações. Todavia, o fez de forma a fundamentar a decisão no alargamento
no conceito de força maior. (Cfr: PIRES, Cândida da Silva Antunes. A teoria…, 1960-1961. p. 73
e ss).
31 Cfr: PIRES, Cândida da Silva Antunes. A teoria…,1960-1961, p. 73 e ss / 85-95.
32 Cfr: HONDIUS, Ewoud / GRIGOLEIT, Hans Christoph (Edit.) - Unexpected Circumstances in
European Contract Law, Cambridge University Press, 2011, ISBN 978-1-107-00340-8, p. 144-
150; PIRES, Cândida da Silva Antunes. A teoria…,1960-1961, p. 75 e ss; SANTOS JÚNIOR,
Eduardo dos. A imprevisão ou alteração das circunstâncias no Direito privado francês e as
perspectivas. In: Estudos em homenagem ao professor Doutor Jorge Miranda. Vol VI, Faculdade
de Direito da Universidade de Lisboa, 2012. p 492 e ss.
12
35 Cfr: COSTA, Mário Júlio de Almeida. Direito..., 2009, p. 325; SANTOS JÚNIOR, Eduardo dos.
A imprevisão…, 2012, p 479 e ss; PIRES, Cândida da Silva Antunes. A teoria…, 1960-1961, p.
107-112.
36 Cfr: VICENTE, Dário Moura. Direito Comparado. Vol II. Almedina: Coimbra, 2017, ISBN
teoria a pessoa que viesse a manifestar a sua vontade teria como intento, da
mesma forma que uma pessoa que viesse a emitir a sua vontade condicionada
a algo, que o efeito jurídico da relação somente passasse a existir no caso de
certas situações se verificassem. Se o estado de relação, também chamado de
estado de coisas, sobrevivesse sem que o pressuposto tido por base se
verificasse ou se o estado deixasse de existir, não haveria de se falar em
correspondência entre a relação com a vontade manifestada. Nesta hipótese a
relação acabava por ser ineficaz e o prejudicado, nos termos da teoria, poderia,
com relação ao beneficiado, defender-se através de uma exceção ou de ação
objetivando resolver a relação.38
Por esta razão a pressuposição funciona como uma «autodelimitação da
vontade, que não se desenvolveu a ponto de construir uma condição»39 para o
negócio. Significa dizer que, consoante esta teoria, a pressuposição se cuida de
uma condição não desenvolvida no negócio, tácita ou expressamente
manifestada, porém cognoscível pela outra parte. De mais, a incidência da
doutrina da pressuposição era reconduzida à vontade humana. Daí porque
considerada uma teoria de cariz subjetivista e voluntarista. Na vontade do(s)
sujeito(s) que se deveria procurar a razão de ser das posições jus subjetivas e
que se justificaria a modificação do contrato. Embora tenham sido bastante
importantes os traçados desta teoria, não encontrou abrigo na lei civil alemã. 40
Para além de não ter encontrado morada na lei civil alemã, também não
fora suficientemente aceite pela via jurisprudencial para solucionar os casos de
alteração das circunstâncias no âmbito contratual. Disto resultou o
desenvolvimento da teoria da base do negócio. Diferente da teoria anteriormente
citada, esta fora desenvolvida para resolver o problema da alteração das
circunstâncias na Alemanha desde o seu momento inicial. Diz-se isto porque a
teoria da base do negócio fora aprimorada com o decorrer dos tempos, veja-se.
No ano de 1921 fora definido por Paul OERTMANN a teoria da base do
negócio em com seus traçados subjetivos. Na altura restou especificada a base
do negócio como sendo a base que comportava a representação de uma das
António Menezes. Da boa-fé... 2015, p. 978; FONSECA, Arnaldo Medeiros da. Caso Fortuito…,
1958, p. 209 e ss.
15
41 LEITÃO, Luís Manuel Teles de Menezes. Direito… vol. II, 2017, p. 124-126.
42 Cfr: HONDIUS, Ewoud / GRIGOLEIT, Hans Christoph (Edit.). Unexpected Circumstances in
European Contract Law, Cambridge University Press, 2011, ISBN 978-1-107-00340-8, p. 61-63.
43 LEITÃO, Luís Manuel Teles de Menezes. Direito… vol. II, 2017, p. 124-126.
44 LEITÃO, Luís Manuel Teles de Menezes. Direito… vol. II, 2017, p. 125-126.
16
45 CORDEIRO, António Menezes. Da boa fé… 2015, p. 1046-1048 e ss; LEITÃO, Luís Manuel
Teles de Menezes. Direito… vol. II, 2017, p. 126.
46 LEITÃO, Luís Manuel Teles de Menezes. Direito… vol. II, 2017, p. 126.; CORDEIRO, António
transaction (1) If circumstances which became the basis of a contract have significantly changed
since the contract was entered into and if the parties would not have entered into the contract or
would have entered into it with different contents if they had foreseen this change, adaptation of
17
the contract may be demanded to the extent that, taking account of all the circumstances of the
specific case, in particular the contractual or statutory distribution of risk, one of the parties cannot
reasonably be expected to uphold the contract without alteration. (2) It is equivalent to a change
of circumstances if material conceptions that have become the basis of the contract are found to
be incorrect. (3) If adaptation of the contract is not possible or one party cannot reasonably be
expected to accept it, the disadvantaged party may withdraw from the contract. In the case of
continuing obligations, the right to terminate takes the place of the right to withdraw». GERMAN
Civil Code (BGB Bürgerliches Gesetzbuch), 18 August 1896. Reformado em 2002. [Em linha].
Disponível em: <http://www.fd.ulisboa.pt/wp-content/uploads/2014/12/Codigo-Civil-Alemao-
BGB-German-Civil-Code-BGB-english-version.pdf>. Acesso em: 05 jan. 2018.
49 HONDIUS, Ewoud / GRIGOLEIT, Hans Christoph (Edit.). Unexpected Circumstances…, 2011
p. 181-185.
18
neste domínio jurídico51. Ainda que a referência pela lei positiva tenha se dado
somente neste ano referido, a jurisprudência vinha há muito admitindo, em
algumas situações, a mitigação do princípio ‘pacta sunt servanda’ em razão do
princípio ‘rebus sic stantibus’.
Tal se pode notar da sentença da Corte de Cassação de Turim, datada
de 16 de agosto do ano de 1900. Na ocasião, este tribunal explanou sobre a
aplicação da cláusula, estabelecendo que em decorrência de alteração do
estado de coisas o vínculo jurídico entre os contratantes não mais se justificava,
de modo a afetar a ideia de que o contrato fazia lei entre as partes.52
Não obstante, o tema veio a ganhar maior relevância após a Primeira
Grande Guerra. Isto pelas mesmas razões já referidas: exposição aos efeitos
nocivos que alterações económicas, políticas e outras, acabaram por
desencadear no seio dos contratos, efeitos esses que foram, em sua maioria,
estruturados em um contexto que imperava o modelo liberal dos contratos. Daí
para frente, o estudo a respeito da temática passou a decorrer com maior
interesse e engajamento e assim foi feito em Itália. Juristas começaram, então,
a discutir o fundamento jurídico do instituto, os efeitos jurídicos que de sua
incidência desencadeariam, assim como o campo de sua incidência.53
Os primeiros movimentos que se perfizeram de forma legislada para
atender as situações anormais e graves decorrentes do contexto histórico
referido, se deram através da promulgação de leis especiais, de exceção. Neste
domínio destaca-se o Decreto nº 739 de 27 de maio de 1915 que, em seu artigo
1º, o qual fala das dilações aos pagamentos por causas derivantes do estado de
guerra, estabeleceu que, para todos os efeitos do artigo 1226 do Codice Civile a
guerra seria considerada um caso de força maior, não somente frente as
situações em que houvesse impossibilitado o cumprimento da prestação, mas
também quando a tivesse a tornado excessivamente onerosa (contudo, desde
51 Cfr: REGIO Decreto 16 marzo 1942, n. 262. Codice Civile. [Em linha]. Disponível em:
<http://www.studiocataldi.it/codicecivile/>. Acesso em: 17 jun. de 2018.
52 Cfr: MARTINI, Angelo de. L’eccessiva onerosità nell’ esecuzione dei contratti. Milano: Dott. A.
Giufrfrè Editore, 1950, p. 10-13; FONSECA, Arnaldo Medeiros da. Caso Fortuito…, 1958, p. 14
e ss.
53 FONSECA, Arnaldo Medeiros da. Caso Fortuito…, 1958, p. 14 e ss
19
54 «Art. 1. A tutti gli effetti dell’art. 1226 c.c. la guerra è considerata come caso di forza maggiore
non solo quando renda impossibile la prestazione, ma anche quando la renda eccessivamente
onerosa, purchè l’obbligazione sia stata assunta prima della data del decreto di mobilitazione
generale.» REGIO Decreto 27 maggio 1915, nº 739. [Em linha]. Disponível em:
http://www.unife.it/giurisprudenza/giurisprudenza/iscriversi/piano-studi/storia-del-diritto-
penale/materiale/clausola%20rebus%20sic.pdf. Acesso em: 17 de jun. de 2018; Sobre os demais
movimentos, cfr: FONSECA, Arnaldo Medeiros da. Caso Fortuito…,1958 p. 14 e ss / 259 e ss.
55 VICENTE, Dário Moura. Direito Comparado…, 2017, p. 239-240; AGUIAR JUNIOR, Ruy
p. 118-126; VICENTE, Dário Moura. Direito Comparado…, 2017, p. 239-240; AGUIAR JUNIOR,
Ruy Rosado de. Comentários..., 2011, p. 872.
20
57 PINTO, Carlos da Mota. Teoria geral do direito civil. 4. ed. Coimbra: Coimbra Editora, 2012. p.
606-607.
58 Manifesta-se COSTA, Mário Júlio de. Direito..., 2009, p. 335, no sentido de que a jurisprudência
dos tribunais superiores, antes do Código Civil de 1966, não era concorde quanto a possibilidade
de resolver ou modificar os contratos por alteração de circunstâncias, com a exceção das
situações em que tivesse um preceito legal a tratar do referido assunto. Ainda, cfr: CORDEIRO,
António Menezes. Da boa fé... 2015, p. 918-922 e ss.
59 Pese embora a rejeição da teoria da pressuposição na Alemanha, muitos países, dentre eles
Lições de Direito Civil. 4. ed. Coimbra: Almedina, 1995. p. 703 ss.; ANDRADE, Manuel de. Teoria
Geral da Relação Jurídica: Facto Jurídico, em especial Negócio Jurídico. v. 2. Coimbra:
Almedina, 1974. p. 403; VARELA, Antunes. Ineficácia do Testamento e Vontade Conjectural do
Testador. Coimbra: Coimbra Editora, 1950. p. 263 ss. e 323 ss.; SERRA, Adriano Vaz.
Resolução…, 1957, p. 15 ss.
61 Cfr: FERNANDES, Luís A. Carvalho. A teoria..., 2001. p. 17 e ss; GOUVEIA, Alfredo José
princípio do equilíbrio contratual, mesmo substantivo, não é o mesmo que a justiça do conteúdo,
porque esta valora as estipulações das partes contratantes; Ainda acerca do princípio da
equivalência nos contratos sinalagmáticos, cfr: LARENZ, Karl. Derecho Justo…, 1985, p. 76 e
ss.
64 COSTA, Mário Júlio de Almeida. Direito..., 2009, p. 334-335.
22
Andrade Pires de; VARELA, João de Matos Antunes. Código Civil Anotado. v. 1. 4. ed. Coimbra:
Coimbra Editora, 1987. p. 412-416.
69 Sobre os contratos comutativos de execução continuada não há divergência, pois estes detêm
71 Neste sentido: COSTA, Mário Júlio de Almeida. Direito..., 2009, p. 344.; SERRA, Adriano Paes
da Silva Vaz. Resolução..., 1957, p. 35-87. VASCONCELOS, Pedro Pais de. Teoria... 2015, p.
370.; LEITÃO, Direito... vol. II, 2017, p. 131.; FRADA, Manuel A. Carneiro da. Crise financeira
mundial e alteração das circunstâncias: contratos de depósito vs. contratos de gestão de carteira.
In: Estudos em Homenagem ao Professor Doutor Sérvulo Correa. v. 3. Coimbra: Almedina, 2010.
p. 481-482.; SILVA, João Calvão. Contratos Bancários e Alteração das circunstâncias. In: Boletim
da Faculdade de Direito, Coimbra, v. 90, tomo 2, 2014, p. 539-566.
72 Ainda, leciona CORDEIRO, António de Menezes. Tratado... v. IX, 2017, p. 555-556, que a falsa
representação da base do negócio leva ao erro, previsto no artigo 252º, nº 2 do Código Civil.
Diversamente, no âmbito do artigo 437º não há erro. As partes contratantes tinham presente
determinada realidade, seja ou pela natureza das coisas ou, ainda que não o digam, porque este
conhecimento se prova, a qualquer título.
73 LEITÃO, Luís Manuel Teles de Menezes. Direito... vol. II, 2017, p. 129; Refere o que é a base
dar com recurso à base do negócio, CORDEIRO, António Menezes de. Da boa fé... 2015, p.
1056, 1088, 1091-1092 e 1106 e ss, entende que a base do negócio é uma fórmula vazia
reconhecida, mormente porque uma série diferenciada de doutrinas, trouxeram inúmeras
explicações do que se deve entender por base do negócio, porém não foram capazes de
esclarecer o que se pretende com este conceito até o fim. Por esta razão, ensina que a
determinação das circunstâncias com recurso à base do negócio não é medida de solução.
Defende, no entanto, que a delimitação das circunstâncias para fins de modificação ou resolução
contratual por alteração de circunstâncias deve ser determinada em concreto e a nível normativo,
com recurso à boa fé – desde que para a boa-fé se encontre um conteúdo material. Isto porque,
somente interessarão para fins da incidência do preceito nº 437º do Código Civil as
circunstâncias que, quando atingidas, tornarem a exigência do cumprimento do negócio contrária
aos princípios da boa-fé. Não obstante, leciona ainda que a impossibilidade subjetiva do
cumprimento do contrato pelo devedor não pode motivar o recurso aos preceitos que tratam da
alteração das circunstâncias, uma vez que a alteração diz respeito ao circunstancialismo que
circunda o contrato, objetivamente considerado. E mais, o faz neste sentido interpretando que
os ensinamentos do art. 791º do Código Civil, que dispõe sobre a hipótese de extinção da
obrigação nas situações em que o devedor restar impossibilitado de cumpri-la e não puder se
fazer substituir por terceiro - ou seja, que tratam da impossibilidade subjetiva do devedor -,
excluem a possibilidade de abranger, o artigo 437º e seguintes, a hipótese de alteração fundada
na impossibilidade subjetiva. Em que pese o posicionamento constante do livro «Da boa fé no
Direito Civil», em obra mais recente, refere o mesmo autor que as circunstâncias relativas ao
instituto da alteração das circunstâncias concentram-se na base negocial objetiva. Nesta medida,
assegura, estar em causa, nos termos da lei, o circunstancialismo objetivo, que integra a base
do negócio objetiva, ou seja, as circunstâncias em que as partes assentaram, objetivamente, a
decisão de contratar. Garante que não relevam: i) superveniências a nível de aspirações
24
da Mota. Teoria..., 2012, p. 611-612; VASCONCELOS, Pedro Pais de. Teoria..., 2015, p. 371.
78 VICENTE, Dário Moura. Direito Comparado. Vol II. Almedina: Coimbra, 2017, ISBN
9789724071206, p. 235 e ss; SUPREMO Tribunal de Justiça. Processo 187/10.4TVLSB.L2.S1.
79 ASCENSÃO, José de Oliveira. Onerosidade excessiva por “alteração de circunstâncias”. In:
Estudos em memória do Professor Doutor José Dias Marques. Coimbra: Almedina, 2007. p. 516.
80 Considera, COSTA, Mário Júlio de Almeida. Direito..., 2009, p. 337, a boa-fé critério para aferir
a gravidade da alteração. Nestes termos, ressalta que cabe observar se o contratante que
pleiteou a resolução ou revisão contratual por alteração de circunstâncias aceitaria ou deveria
aceitar, se agindo de boa-fé, vincular-se à contratação nos moldes que sua base se apresenta
diante das novas circunstâncias vigentes. Também neste sentido contribui CORDEIRO, António
Menezes. Tratado... v. IX, 2017, p. 558, na medida em que admite importar a boa-fé na
determinação das circunstâncias que, ao serem afetadas, possibilitam a utilização do disposto
no art. 437º e ss. do Código Civil. Isto, porque somente importarão as circunstâncias que, ao se
modificarem, afetem gravemente a boa-fé.
25
81 CORDEIRO, António Menezes. Tratado... v. IX, 2017, p. 555; ASCENSÃO, José de Oliveira.
Onerosidade..., 2007, p. 522-524 e 526-527; «A questão que é colocada pelo instituto
da alteração das circunstâncias no caso concreto é a de saber se as partes contratariam como
contrataram se soubessem que as vendas das moradias aos clientes finais nos prazos previstos
e por preços superiores aos pagos pelos Réus seria praticamente impossível: é por demais
evidente que não o fariam, nem uma nem outra.» Cfr: TRIBUNAL da Relação de Lisboa.
Processo n. 1320/11.4TVLSB.L1-8. Julgamento em 19 de fevereiro de 2015.
82 VICENTE, Dário Moura. Direito Comparado…, 2017, p. 236 e ss.
83 COSTA, Mário Júlio de Almeida. Direito..., 2009, p. 338; LEITÃO, Luís Manuel Teles de
Menezes. Direito... vol. II, 2017, p. 129; CORDEIRO, António Menezes. Tratado... v. IX, 2017, p.
556.
84 Identifica, COSTA, Mário Júlio de Almeida. Direito..., 2009, p. 338, que a boa-fé assume papel
relevante também no âmbito da anormalidade. Por esta razão, diz que seria contrário à boa-fé
exigir que a parte fique vinculada ao contrato modificado diante de uma alteração anormal, a
qual, nem sempre nos resultados, coincidirá com a imprevisibilidade, em razão da boa-fé. Isto
porque, quando a boa-fé assim exigir, uma alteração anormal, embora previsível, poderá ensejar
a resolução ou modificação do contrato por recurso à norma da alteração das circunstâncias.
Elucida a questão referida através do exemplo do aluguel de uma janela para assistir ao cortejo.
Nesta situação refere que pode ser previsível que o cortejo não venha a se realizar ou que
modifique o trajeto a executar. Mas seria o caso de possibilitar a resolução (ou revisão, se
couber) do contrato, porque seria contrário à boa fé exigir que a parte permaneça vinculada
àquela contratação que tinha como fim possibilitar-lhe assistir ao cortejo que se sabe, não irá
mais passar pelo local em que contratou o aluguel da janela. De forma semelhante entende
VASCONCELOS, Pedro Pais de. Teoria... 2015, p. 372. Tal se nota, ao referir a inexistência de
confusão entre os conceitos de anormalidade e imprevisibilidade, na medida em que nem tudo o
que é anormal (excecional), pode ser previsto ou imprevisível. Para melhor explicar a questão
cita o seguinte exemplo: é normal que um partido do Governo ganhe as eleições e também que
as perca, porém não é normal que haja uma revolução ou uma outra ruptura constitucional.
Também considera que a boa-fé vai intervir na concretização da anormalidade CORDEIRO,
26
António Menezes. Tratado... v. IX, 2017, p. 558, uma vez que diz que modificações admissíveis
à partida ou de significado menor não afetam gravemente a boa-fé.
85 Ainda, a depender da dimensão de uma crise econômica mundial - como exemplo a crise que
(art. 251º Código Civil); assim como há erro sobre os motivos determinantes da vontade (que
não reporta à pessoa do declaratário e nem ao objeto do negócio) e o erro sobre a base do
negócio (art. 252º Código Civil) (Cfr: CORDEIRO, António Menezes. Da boa fé... 2015, p. 1085
e ss).
89 Refere sobre a necessidade de ser a alteração superveniente: TRIBUNAL da Relação de
91 Importante notar que a lesão no Direito português deve ser verificada pelo desequilíbrio,
diferentemente do que ocorre com o Direito comum brasileiro e Italiano, que coloca a lesão na
onerosidade excessiva de uma parte em relação a outra (Cfr. CORDEIRO, António Menezes.
Tratado... v. IX, 2017, p. 558). Não obstante, designadamente no domínio do direito brasileiro,
esta questão da lesão vem sendo relativizada, sobretudo por força do Enunciado nº 365 do
Conselho de Justiça Federal, consoante se verificará na sequência (Cfr: CONSELHO da Justiça
Federal. IV Jornada de Direito Civil. Enunciado aprovados. [Em linha]. Disponível em:
http://www.cjf.jus.br/enunciados/enunciado/483. Acesso em: 20 de set. 2017).
92 Cfr: ASCENSÃO, Oliveira. Direito Civil Teoria geral: Relações e Situações Jurídicas. v. 3.
Coimbra: Coimbra Editora, 2002. p. 200; LEITÃO, Luís Manuel Teles de Menezes. Direito.. vol.
II, 2017, p. 130 e ss; VASCONCELOS, Pedro Pais de. Teoria... 2015, p. 372; VICENTE, Dário
Moura. Direito Comparado…, 2017, p. 236 e ss; Refere que a lesão ocasionada para uma das
partes deve ser capaz de provocar um desequilíbrio entre prestação e contraprestação:
TRIBUNAL da Relação de Lisboa. Processo n. 400/14.9YRLSB.L1-2. Julgamento em 18 de
setembro de 2014.
93 Cfr: COSTA, Mário Júlio de Almeida. Direito..., 2009, p. 339.; ASCENSÃO, José de Oliveira.
Alteração..., 2004, p. 3; VICENTE, Dário Moura. Direito Comparado…, 2017, p. 236 e ss.
94 Segundo CORDEIRO, António Menezes. Da boa fé... 2015, p. 1107 e ss; CORDEIRO, António
Menezes. Tratado... v. IX, 2017, p. 561, a referência constante no dispositivo acerca das
circunstâncias estarem fora dos riscos do contrato não assume relevância. Isto porque, quando
a superveniência da alteração ocorrer em circunstâncias integrantes à álea normal do contrato,
a exigência das obrigações assumidas não seria contrária aos ‘princípios da boa fé’ de modo que
restaria obstado o recurso aos preceitos dos artigos 437º a 439º do Código Civil, mesmo que
não houvesse referência ao risco.
95 COSTA, Mário Júlio de Almeida. Direito..., 2009, p. 341.
28
LEITÃO, Luís Manuel Teles de Menezes. Direito... vol. II, 2017, p. 131.; CORDEIRO, António
Menezes. Tratado... v. IX, 2017, p. 533-534 e 536-537).
101 Considera, LEITÃO, Luís Manuel Teles de Menezes. Direito... vol. II, 2017, p. 130, que a
alteração de circunstâncias é uma modalidade específica do abuso do direito (art. 334 do CC),
porque, no caso de um direito de crédito, por força da boa-fé, torna-se ilegítimo ao credor exigir
a prestação quando os limites relativos ao equilíbrio das prestações no contrato estiverem
ultrapassados.
29
102 Analisa se o exercício do direito dos autores, ao exigirem dos réus o estrito cumprimento do
contrato em causa, viola os limites impostos pela boa-fé porque a exigência tornou-se abusiva.
Cfr: TRIBUNAL da Relação de Lisboa. Processo n. 400/14.9YRLSB.L1-2. Julgamento em 18 de
setembro de 2014.
103 COSTA, Mário Júlio de Almeida. Direito..., 2009, p. 340; LEITÃO, Luís Manuel de Menezes.
fé bastante para justificar a resolução ou revisão contratual por alteração de circunstâncias, não
sendo necessário recorrer a verificação dos pressupostos de qualquer das formulações da teoria
da base do negócio ou de outra. A mais, em posicionamento mais recente, CORDEIRO, António
Menezes. Tratado... v. IX, 2017, p. 560, ressalta que as exigências da boa-fé podem, em
concreto, dispensar, no todo ou em parte, algum dos pressupostos exigidos no art. 437º e
seguintes do Código Civil. Contudo, assegura que, uma vez dispensada a anormalidade, estar-
se-á adentrando no abuso do direito e não, propriamente, na alteração de circunstâncias.
105 ASCENSÃO, José de Oliveira. Alteração..., 2004, p. 3.; ASCENSÃO, José de Oliveira.
Nesta hipótese, caberá aos tribunais decidir os novos contornos para o contrato
segundo critérios de equidade, voltando a atenção para restaurar o equilíbrio 109.
Pela teleologia do artigo 437º do Código Civil a modificação do contrato,
quando for se operar pelos tribunais com fundamento na equidade, terá de ser
feita de forma a não contundir gravemente com os princípios da boa-fé. De mais,
deverá ser feita de modo a tentar reaver a equivalência entre as prestações. Eis
que não está em cogitação, através da modificação, possibilitar que a parte
lesada venha a realizar as mais-valias que previa e que poderiam ter sido
computadas se não tivesse se operado a alteração de circunstâncias. E mais,
por esta mesma razão, quando se operar a modificação, a parte lesada sempre
sofrerá algum prejuízo ou, ao menos, um não-lucro.110
No entanto, se o contrato perdeu a sua razão por que não era mais
possível reaver o equilíbrio contratual, a resolução contratual acabará por se
impor111. Sobretudo porque o que se pretende da eficácia da alteração de
circunstâncias é a individualização da justiça do caso concreto112. Uma vez
decido pela resolução do contrato, terá esta lugar, segundo o artigo 439º, nos
termos do artigo 432º e seguintes do Código Civil. Ainda que possa ter efeitos
retroativos, em princípio, não abrangerá as prestações já realizadas113. Esta é a
delimitação trazida pela sistemática jurídica portuguesa para fins de eficácia da
doutrina da alteração das circunstâncias e, nesta medida, é a solução para o
problema da manutenção do vínculo das partes aos contratos desequilibrados
de forma superveniente.
109 CORDEIRO, António Menezes. Da boa fé... 2015, p. 1105-1106 e ss; Frente ao Direito
português a preferência do sistema, sempre que possível reaver o equilíbrio do contrato, será
pela revisão contratual, cfr: OLIVEIRA, Nuno Manuel Pinto. Em tema de alteração das
circunstâncias: a prioridade da adaptação/modificação sobre a resolução do contrato. In: Edição
Comemorativa do Cinquentenário Código Civil. (p. 255-311). Universidade Católica Editoria,
Lisboa, 2017, ISBN 9789725405741, p. 255 e ss.
110 CORDEIRO, António Menezes. Tratado... v. IX, 2017, p. 568.
111 COSTA, Mário Júlio de Almeida. Direito..., 2009, p. 348-349.
112 CORDEIRO, António Menezes. Tratado... v. IX, 2017, p. 567.
113 VICENTE, Dário Moura. Direito Comparado…, 2017, p. 238 e ss.
31
114 Neste sentido coloca AGUIAR JUNIOR, Ruy Rosado, Comentários..., 2011, p. 872, ao dizer
que, pese embora a reprodução bastante fiel dos dispositivos da codificação italiana, ainda se
reconhece nestes preceitos influência de outros ordenamentos, como o português e argentino.
Código Civil argentino: «Artigo 1.198 – (...) nos contratos bilaterais comutativos e nos unilaterais
onerosos e comutativos de execução diferida ou continuada, se a prestação a cargo de uma das
partes se tornar excessivamente onerosa, por acontecimentos extraordinários e imprevisíveis, a
parte prejudicada poderá demandar a resolução do contrato. O mesmo princípio se aplicará aos
contratos aleatórios, quando a excessiva onerosidade se produza por causas estranhas ao risco
próprio do contrato. Nos contratos de execução continuada, a resolução não alcançará os efeitos
já cumpridos. Não procederá a resolução, se o prejudicado houver obrado com culpa ou estiver
em mora. A outra parte poderá impedir a resolução oferecendo melhorar equitativamente os
efeitos do contrato.»
115 Neste espeque, a função social dos contratos e os princípios do artigo 170 da Constituição
da prestação devida e o do momento de sua execução, poderá o juiz corrigi-lo, a pedido da parte,
de modo que assegure, quanto possível, o valor real da prestação. (Da Resolução por
Onerosidade Excessiva) Art. 478. Nos contratos de execução continuada ou diferida, se a
prestação de uma das partes se tornar excessivamente onerosa, com a extrema vantagem para
a outra, em virtude de acontecimentos extraordinários e imprevisíveis, poderá o devedor pedir a
resolução do contrato. Os efeitos da sentença que a decretar retroagirão à data da citação. Art.
479. A resolução poderá ser evitada, oferecendo-se o réu a modificar equitativamente as
condições do contrato. Art. 480. Se no contrato as obrigações couberem a apenas uma das
partes, poderá ela pleitear que a sua prestação seja reduzida, ou alterado o modo de executá-
la, a fim de evitar a onerosidade excessiva.» Cfr: LEI n. 10.406, de 10 de janeiro de 2002. Institui
o Código Civil. DOU, 11 jan. 2002. [Em linha]. Disponível em:
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/2002/L10406.htm>. Acesso em: 05 jan. 2018.
33
âmbito122. Esta regra fora positivada a fim de se aplicar aos contratos paritários,
entre iguais. De mais, fora feita de forma a abranger a maior parte dos casos em
que o Código Civil, nesta medida ficam por estas abarcados os contratos
comerciais. A regra trazida por este sistema jurídico presta-se a se aplicar a
generalidade dos casos, portanto não leva em consideração especificidades
próprias de algum, ou alguns, setor(es) de mercado.
Subjacente aos artigos de lei que comportam a roupagem atribuída pela
sistemática jurídica brasileira à cláusula ‘rebus sic stantibus’ está o princípio da
justiça contratual comutativa que, neste ordenamento, recepciona o chamado
princípio do equilíbrio contratual. Diga-se, o qual comporta a mesma ideia de
reequilíbrio entre as prestações do princípio da equivalência das prestações no
Direito português e é uma exceção ao princípio ‘pacta sunt servanda’. De mais,
também subjaz a esta solução o princípio da função social dos contratos, o qual
é tido como um dos princípios basilares do Direito dos Contratos e demanda o
resgate do equilíbrio das obrigações (função social interna), como forma de
preservação de trocas úteis e justas no tecido social (função social externa)123.
Seja no tocante as relações cíveis, comuns, atinentes aos contratos
paritários, quanto relativamente às relações consumeristas, atinente aos
contratos entre desiguais, para que haja a intervenção heterónoma do Estado –
mediante a atuação do juiz – no domínio da autonomia privada dos contratantes,
caberá comprovação concomitante da existência de uma série de requisitos e
pressupostos de admissibilidade. Tais elementos terão de ser considerados
tanto para a exegese do artigo 478 e seguintes, quanto para a do artigo 317,
ambos do Código Civil, como também para a exegese do artigo 6º, inciso V,
combinado com o artigo 51, inciso IV do Código de Defesa do Consumidor.
Outrossim, esta incidência perfazer-se-á através da provocação dos tribunais
judiciais no momento em que tiver de decorrer a integração das lacunas
contratuais. Veja-se.
122 FARIAS, Cristiano Chaves de; ROSENVALD, Nelson. Direito dos Contratos. Rio de Janeiro:
Lúmen Juris, 2011, p. 612; KHOURI, Paulo R. Roque A. A revisão judicial dos contratos no novo
Código Civil, Código do Consumidor e Lei nº 8.666/93. São Paulo: Atlas, 2006. p. 29.
123 FARIAS, Cristiano Chaves de / ROSENVALD, Nelson. Direito…, 2011, p. 622;
34
124 Importa ter em atenção que no Brasil, a rigor, a quase totalidade dos riscos nos contratos
consumeristas é tentada de ser repassada aos consumidores. Daí porque a maior proteção
legislativa a esta categoria concedida.
125 CAVALIERI FILHO, Sérgio. Programa de Direito do Consumidor. São Paulo: Editora Atlas,
2008, p. 8 e 106.
126 Não obstante, em que pese seja o fornecedor o profissional da relação contratual e não goze
dos mesmos direitos que o consumidor, ele não é imune à superveniência de fato que venha a
lhe causar excessiva onerosidade no cumprimento de sua prestação. Nos termos do artigo 4º,
inciso III do CDC, a Política Nacional de Relação de Consumo tem por objeto a “harmonização
dos interesses dos participantes das relações de consumo e compatibilização da proteção do
consumidor com a necessidade de desenvolvimento econômico e tecnológico, de modo a
viabilizar os princípios nos quais se funda a ordem econômica (art. 170, da Constituição Federal),
sempre com base na boa-fé e equilíbrio nas relações entre consumidores e fornecedores”. Nesta
medida, não se pode conceber que uma relação contratual que deve ser equilibrada vede ao
fornecedor, que prejudicado excessivamente pela eclosão de evento superveniente, beneficiar-
se de qualquer medida que venha a desonerá-lo da excessiva onerosidade superveniente. Por
esta razão, na hipótese de ser afetado por evento superveniente, para invocar o instituto da
onerosidade excessiva, deverá fazê-lo consoante o regime regulado no Código Civil – artigos
317º, 478º a 480º do Código Civil -, demonstrando, todos os requisitos exigíveis (Cfr: KHOURI,
Paulo R. Direito..., 2013, p. 106).
35
coloca o artigo 6º, segunda parte do inciso V do referido diploma legal 127. Esta
hipótese verificar-se-á no âmbito dos contratos consumeristas comutativos de
execução continuada, seja periódica ou de execução única, mas diferida.
Ainda que, excepcionalmente, possa haver revisão contratual no âmbito
consumerista de contratos findos128, o que demonstra, que em casos
excepcionais haverá a possibilidade de revisão dos contratos extintos129.
Referida hipótese somente poderá se operar desde que haja demonstração do
advento de um evento superveniente, responsável por promover a rutura do
equilíbrio económico-financeiro da relação contratual.130
Relativamente ao evento, basta que seja este superveniente. Não é
relevante tratar-se de um fato imprevisível, extraordinário, irresistível ou até
mesmo que poderia ter sido previsto, mas não foi. Entretanto, ainda que careça
da comprovação da extraordinariedade da eclosão do evento, deve este estar
fora da álea contratual típica do contrato de consumo. Não é, entretanto,
permitido ao consumidor beneficiar-se do instituto da onerosidade excessiva
quando a onerosidade decorrer de um risco ordinário ao contrato,
nomeadamente porque, muito embora seja o consumidor vulnerável dentro da
relação de consumo, não pode ser considerado imune a todos os riscos que
possam dela decorrer.131/132
127 «Artigo 6º. São direitos básicos do consumidor: (…) V – a modificação das cláusulas
contratuais que estabeleçam prestações desproporcionais ou sua revisão em razão de fatos
supervenientes que as tornem excessivamente onerosas; (…)». LEI n. 8.078, de 11 de setembro
de 1990. Dispõe sobre a proteção do consumidor e dá outras providências. [Em linha]. Disponível
em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/l8078.htm>; Acesso em: 05 de Janeiro de 2018.
128 Conforme entendimento do Superior Tribunal de Justiça (STJ) brasileiro, consoante súmula
das relações contratuais. 4. ed. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais. 2002. p 783.; NUNES,
Luiz Antonio Rizzatto. Comentários ao Código De Defesa do Consumidor. 3. ed. São Paulo:
Saraiva, 2007. p. 146-147; LYNCH, Maria Antonieta. 2009, Da cláusula..., p. 16-17; CAVALIERI
FILHO, Sérgio. Programa..., 2008, p. 108; KHOURI, Paulo R. Roque A. Direito do Consumidor:
Contratos, Responsabilidade Civil e Defesa do Consumidor em Juízo. 6. ed. São Paulo: Atlas,
2013. p. 103-104.
132 Cfr: TRIBUNAL de Justiça do Distrito Federal. Apelação Cível nº 20050111058729APC.
análise do art. 6º, inciso V, da Lei 8.078/90. In: Âmbito Jurídico, Rio Grande, v. 14, n. 88, 2011.
Disponível em: <http://www.ambito-
juridico.com.br/site/index.php?n_link=revista_artigos_leitura&artigo_id=9440>.
37
137 NUNES, Luiz Antônio Rizzatto. Comentários..., 2007, p. 190; KHOURI, Direito..., 2013, p. 117.
138 CAVALIERI FILHO, Sérgio. Programa..., 2008, p. 163-165.
139 Ressaltando a pretensão de reequilíbrio contratual estar amparada na alegação de nulidade
de cláusula iníqua ou abusiva, a teor do artigo 6º, incisos IV e V, e artigo 51, inciso IV do Código
de Defesa do Consumidor: TRIBUNAL de Justiça de Santa Catarina. Acórdão nº 20130369540
SC 2013.036954-0. Julgamento em 20 de novembro de 2013; SUPERIOR Tribunal de Justiça.
T4 – Quarta Turma. Recurso Especial nº 437.660 - SP (2002/0056040-9). Julgamento em 08 de
abril 2003.
38
contrato subsistir sem ela (como, por exemplo, quando a nulidade for declarada
com relação a cláusula que trata do objeto, diga-se cláusula essencial para a
sobrevivência do contrato) a relação contratual será nula nos termos do artigo
51, inciso IV e §1º, inciso III do Código de Defesa do Consumidor. Situação esta
que implica na liberação das partes com relação as suas prestações contratuais,
mas por razão diversa daquela que advém do Código Civil. Esta é a solução
brasileira para os desequilíbrios supervenientes no seio dos contratos
consumeristas.140
140 CAVALIERI FILHO, Sérgio. Programa..., 2008, p. 165; KHOURI, Paulo Roque A. Direito...,
2013, p. 118.
141 KHOURI, Paulo Roque A. A revisão..., 2006, p. 33.
142 A disciplina dos referidos dispositivos assim se perfez, pois, contratos de duração não se
doutrinadores como: FARIAS, Cristiano Chaves de.; ROSENVALD, Nelson. Direito..., 2011, p.
786; GOMES, Orlando. Contratos. 26. ed. Rio de Janeiro: Editora Forense, 2008, p. 217-218.
146 Entendendo pela inaplicabilidade do instituto da onerosidade excessiva aos contratos de swap
porque a alteração não estava fora dos riscos próprios daquela contratação: TRIBUNAL de
Justiça do Estado do Paraná. Acórdão nº 7662493 PR 0766249-3. Julgamento em 15 de junho
2011.
147 Contratos unilaterais, também denominados negócios jurídicos unilaterais, são assim
de onerosidade excessiva superveniente não pode ensejar a revisão dos contratos unilaterais,
na medida em que a leitura do artigo 480º não pode se dar de forma divorciada do artigo 478º.
150 FARIAS, Cristiano Chaves de.; ROSENVALD, Nelson. Contrato..., 2011, p. 623.
151 Nos termos do referido dispositivo, a modificação designada pode se dar quantitativamente,
quando houver redução na prestação, bem como qualitativamente, na medida em que houver
alteração no modo que a prestação será executada (KHOURI, Paulo Roque A. A revisão..., 2006,
p. 34-38). Ademais, o requerimento para que decorra alteração da prestação deve ser feito
40
judicialmente (DINIZ, Maria Helena. Código Civil anotado. 15. ed. São Paulo: Saraiva, 2010, p.
401).
152 Refere-se AGUIAR JUNIOR, Ruy de. Comentários..., 2011, p. 898-899, ao bloqueio dos
depósitos bancários ocorrido por força do Plano Collor que inviabilizou cumprimento de
prestações contratuais.
153 Comporta haver um nexo causal entre o fato superveniente e a onerosidade excessiva.
154 AGUIAR JUNIOR, Ruy de. Comentários..., 2011, p. 902.; MARTINS-COSTA, Judith.
Comentários ao Novo Código Civil. vol. V. Tomo I. 2ª ed. Rio de Janeiro: Forense, 2009, p. 310-
311.; KHOURI, Paulo Roque A. A revisão..., 2006, p. 52.
155 FARIAS, Cristiano Chaves de.; ROSENVALD, Nelson. Direito..., 2011, p. 616.
156 Definição teórica de álea normal do contrato, tendo em vista que o Código Civil brasileiro não
a trata expressamente, por: AGUIAR JUNIOR, Ruy de. Comentários..., 2011, p. 903.
41
as suas peculiaridades, é que será ela anormal para o contrato e por isto
extraordinária.
A mais, o evento a relevar deve ser, do mesmo modo, imprevisível.
Acerca da definição da imprevisibilidade do evento existe, no contexto jurídico
brasileiro, discussão no que toca {a sua definição157/158. Entretanto, deve
prevalecer o entendimento de que à imprevisibilidade procede uma análise
objetiva, independente da aferição da situação psíquica das partes aquando do
fecho do contrato. Eis que, em uma perspectiva objetiva, a vontade não tem
praticamente nenhuma contribuição, já que o que está em causa é o conteúdo
157 A primeira vertente identificada aceita a teoria da imprevisão, de matriz francesa, para tratar
do elemento imprevisibilidade. Esta, em regra, recusa encarar o fato imprevisível tendo como
parâmetro o mercado e assegura que deve sê-lo feito tendo como parâmetro as partes da
contratação. Nesta medida, considera ser imprevisível aquilo que está fora da cogitação das
partes aquando da contratação (Cfr: TARTUCE, Flávio. Manual de Direito Civil. 6. ed. São Paulo:
Editora Método, 2016, p. 660-661.; AGUIAR JUNIOR, Ruy de. Comentários..., 2011, p. 899.;
DINIZ, Maria Helena. Direito Civil Brasileiro. v. 3. 32. ed. São Paulo: Saraiva, 2016, p. 399-400;
ainda, pese embora reconheça que os artigos 478º a 480º incorporaram à Ordem Jurídica
brasileira a teoria da onerosidade excessiva, entende que para determinação do elemento
imprevisível deve-se recorrer da teoria da imprevisão: GOMES, Orlando. Contratos..., 2008, p.
215). Esta corrente, pondera decisivo para definir a imprevisibilidade a previsão ou não do evento
pelas partes, o qual é avaliado de forma subjetiva. Isto implica considerar que uma situação
extraordinária pode ser imprevisível. Mas, para esta, os elementos imprevisibilidade e
extraordinariedade não são equivalentes e, portanto, não se confundem (Cfr: AGUIAR JUNIOR,
Ruy de. Comentários..., 2011, p. 899; ao explicar a questão: ASCENSÃO, José de Oliveira.
Alteração..., 2004, p. 9 e ss). Ainda, posiciona-se pela avaliação da imprevisibilidade
acompanhada da ideia de probabilidade. Todavia não uma probabilidade puramente objetiva,
mas que envolve subjetivismo dos contratantes. A probabilidade é medida pelas circunstâncias
conhecidas pelas partes, conforme o juízo que façam derivado de suas condições pessoais, seus
conhecimentos e aptidões, e ainda da experiência que detém. Logo, é imprevisível o fato que
notoriamente não seria provável de influir eficientemente sobre a contratação das partes segundo
um juízo razoável que façam proveniente da experiência. E, para este juízo de probabilidade do
evento devem ser consideradas as condições objetivas do contrato, que seriam definidas pela
natureza do contrato, quantidade de contratantes, condições do mercado, e junto a isto, as
condições subjetivas das partes. Contudo, esta mesma vertente reconhece que apesar de a
distinção teórica entre extraordinário e imprevisível ser identificável, na prática os dois elementos
são indistintamente tratados, como se comportassem o mesmo significado (Cfr: AGUIAR
JUNIOR, Ruy de. Comentários..., 2011, p. 900-901; AGUIAR JUNIOR, Ruy Rosado de. Extinção
dos contratos por incumprimento do devedor: resolução. 2. ed. Rio de Janeiro: Aide Editora. Rio
de Janeiro, 2004. p. 154-160).
158 O que acontece é que a conceção voluntarista e subjetivista do elemento imprevisível,
Renato Ferreira da. Princípios do Direito das Obrigações (p. 46-67). In: Obrigações. Instituto de
Direito Privado – IDP. Editora Atlas. São Paulo. 2011. p. 49 e ss.; SILVA, Clóvis do Couto e. A
obrigação como processo. Rio de Janeiro: Editora FGV. 2006. p. 20.
162 FARIAS, Cristiano Chaves de.; ROSENVALD, Nelson. Direito..., 2011, p. 618.
163 Neste sentido coloca ASCENSÃO, José de Oliveira. Alteração..., 2004, p. 9 ss, que o
“imprevisível” conforme consta da lei, deve ser efetivamente interpretado como imprevisível
enquanto qualificador do fato e não como imprevisto porque não previsto pelas partes, o que
descreve o estado de espírito dos agentes.
164 KHOURI, Paulo Roque A. A revisão..., 2006, p. 157.
165 De forma a relacionar a extraordinariedade com os riscos impróprios do contrato:
ASCENSÃO, José de Oliveira. Alteração..., 2004, p. 9 ss.; AGUIAR JUNIOR, Ruy de.
Comentários..., 2011, p. 898-903; a considerar a necessidade de eclodir o evento fora dos riscos
próprios do contrato: KHOURI, Paulo Roque A. A revisão..., 2006, p. 56-61.
166 ASCENSÃO, José de Oliveira. Alteração..., 2004, p. 9 ss.
167 São exemplos do que se pretende abarcar dentro dos conceitos de imprevisibilidade e
Bresser voltou a ser previsível quanto à sua ocorrência, todavia não significa dizer que os índices
da inflação são sempre previsíveis pelo homem comum, mediano e que sejam, na dimensão que
se apresentaram integrantes do risco do negócio. TRIBUNAL de Justiça do Rio Grande do Sul.
Apelação Cível, nº 586053548. Julgamento em 24 de março de 1987.
171 BRASIL. CJF – Enunciados. Disponível em: http://www.conjur.com.br/2006-nov-
12/cjf_disponibiliza_125_enunciados_jornada?pagina=6>.
172 O enunciado revela que mesmo fatos previsíveis em um contexto como a guerra, alta de
inflação, greve, podem ser qualificados, em uma relação contratual em concreto, imprevisíveis e
extraordinários, porque, conforme a dinâmica de um determinado contrato, a intensidade das
consequências da eclosão de um evento como estes pode não ser pertinente aquela contratação
porque no curso natural das coisas não poderia influir no contrato (Cfr. FARIAS, Cristiano Chaves
de.; ROSENVALD, Nelson. Direito..., 2011, p. 617-618). Ademais disto, obstante se esteja a falar
do CJF, não está em foco qualquer questão relativa aos contratos com a Administração Pública,
eis que as especificidades destes não são objeto de estudo no presente trabalho.
173 Desta mesma forma cumpre entender os «motivos imprevisíveis» constantes do artigo 317
do Código Civil. Na medida em que não há sentido em recorrer à psique dos contratantes para
determiná-los pois, seria voltar ao subjetivismo e voluntarismo que não é o que se pretende neste
seio (KHOURI, Paulo Roque A. A revisão…, 2006, p. 31-34).
44
174 FRANTZ, Laura Coradini. Excessiva..., 2014, p. 220-224.; ASCENSÃO, José de Oliveira.
Onerosidade..., 2007, p. 528-529; FARIAS, Cristiano Chaves de; ROSENVALD, Nelson.
Direito..., 2011, p. 616.; GOMES, Orlando. Contratos..., 2008, p. 215.
175 Ressaltando que não está em causa para a aplicação do instituto da onerosidade excessiva
619; e; TARTUCE, Flávio. Manual..., 2016, p. 661.; ASCENSÃO, José de Oliveira. Alteração...,
2004, p. 9 ss.
178 Este entendimento não é unívoco no seio do Direito Civil brasileiro. Por isto é possível deparar-
falar em «desproporção manifesta» está visando tratar daquilo que foge ao equilíbrio contratual,
porque as prestações, em decorrência da alteração advinda, passaram a ser manifestamente
desproporcionais (KHOURI, Paulo Roque A. A revisão..., 2006, p. 31-34).
183 Entendendo a mora como pressuposto para aplicação dos artigos 478º a 480º do Código Civil:
MARTINS-COSTA, Judith. Comentários..., 2009, p. 311.; AGUIAR JUNIOR, Ruy de. Extinção...,
2004, p. 919-920.; FARIAS, Cristiano Chaves de; ROSENVALD, Nelson. Direito..., 2011, p. 619-
620.
184 Pela possibilidade do pleito de resolução ou revisão contratual mesmo que em mora o
impossibilidade resulte de caso fortuito ou de força maior, se estes ocorrerem durante o atraso;
salvo se provar isenção de culpa, ou que o dano sobreviria ainda quando a obrigação fosse
oportunamente desempenhada». Este dispositivo imputa ao devedor em mora a
responsabilidade pelo seu inadimplemento relativo mesmo que a impossibilidade seja resultante
de caso fortuito ou força maior.
186 MARTINS-COSTA, Judith. Comentários..., 2009, p. 311; AGUIAR JUNIOR, Ruy de.
o lesado promover ação judicial para se liberar da sua prestação 187. Tanto o
pedido resolutório quanto o pedido revisório deverão ser fundados nos artigos nº
317 e 478 a 480 do Código Civil188.
Muito embora os artigos 478 a 480 (que tratam expressamente da
onerosidade excessiva superveniente no Código Civil) não disponham
expressamente sobre a possibilidade de revisão do contrato, a preferência do
sistema jurídico brasileiro tem se firmado pela revisão quando o caso assim
admitir189, por três razões que seguem dispostas.
Primeiro, em virtude do princípio material da justiça contratual, que
recepciona o princípio do equilíbrio entre as prestações nos contratos
comutativos (e, por vezes, aleatórios)190. Segundo, porque o mercado tem
interesse na manutenção dos acordos de vontade e ao fazê-lo, por meio da
revisão, está, adentro da sistemática jurídica brasileira, em conformidade com o
princípio da função social do contrato191. Terceiro, porque o sistema jurídico
brasileiro possibilita o deferimento de menos do que foi pedido pelas partes,
desde que não se modifique a natureza ou o objeto da lide192.
De mais, por não constar a possibilidade revisional no corpo da regra
dos artigos 478 a 480, o pedido de revisão contratual por excessiva onerosidade
superveniente deverá ser fundado de modo a cumular os artigos 317 - que está
situado no Título III, “Do adimplemento e extinção das obrigações”, Capítulo I,
“Do pagamento”, Seção III, “Do objeto do pagamento e sua prova” - e 478 do
Código Civil193. Eis que, na mais remota raiz do artigo 317 do Código Civil, é
possível identificar estar subjacente a este a regra da cláusula ‘rebus sic
187 GOMES, Orando. Contratos..., 2008, p. 218; PEREIRA, Caio Mário da Silva. Instituições...,
2013, p. 143-146.
188 Cfr: AGUIAR JUNIOR, Ruy de. Comentários… 2011, p. 920. Ademais, também refere
JUNIOR, Ruy de. Comentários..., 2011, p. 911-917. MARTINS-COSTA, Judith. A boa-fé..., 2015,
p. 593.; DINIZ, Maria Helena. Código..., 2010, p. 399.
47
Título III – Do inadimplemento e extinção das obrigações, Seção “Objeto do pagamento e sua
prova”, necessário o preenchimento dos seguintes pressupostos: i) Haja obrigação a ser
adimplida em momento posterior ao da sua origem – contratos de execução; ii) Superveniência
de motivos imprevisíveis, quer dizer, fatos imprevisíveis quando do nascimento da obrigação,
determinantes de alteração do valor da prestação – conceitos de extraordinário e excepcionais;
iii) desproporção manifesta entre o valor da prestação devida e o valor do momento da execução
– excessiva onerosidade para um e extrema vantagem para outro, bem como os demais referidos
para a aplicação do art. 478 do Código Civil (Cfr. AGUIAR JUNIOR, Ruy de. Comentários...,
2011, p. 912. Também pela exigência de comprovação dos mesmos requisitos: KHOURI, Paulo
Roque A. A revisão..., 2006, p. 31-34).
196 Não obstante o posicionamento aqui considerado, cabe referir que no Direito brasileiro
Civil organizada pelo Conselho de Justiça Federal. O faz ao estabelecer que se deve atribuir um
alargamento aquando da interpretação do artigo 479º do Código Civil e possibilitar ao julgador,
nas ações que tenham por objeto a resolução do contrato por excessiva onerosidade, modificar
o contrato, por equidade, desde que ouvida a parte autora, respeitada a sua vontade e observado
o contraditório. Prescreve referido enunciado: «Enunciado nº 367: Art. 479. Em observância ao
princípio da conservação do contrato, nas ações que tenham por objeto a resolução do pacto por
excessiva onerosidade, pode o juiz modificá-lo equitativamente, desde que ouvida a parte autora,
respeitada a sua vontade e observado o contraditório». Ademais disto, o que se pretendeu com
este pronunciamento foi preservar o vínculo dos particulares contratantes, consoante o princípio
da conservação do negócio jurídico (Cfr: FARIAS, Cristiano Chaves de; ROSENVALD, Nelson.
Direito..., 2011, p. 621).
202 AGUIAR JUNIOR, Ruy de. Comentários..., 2011, p. 937.
49
203 Cfr: FRANTZ, Laura Coradini. Excessiva..., 2014, p. 233. No mesmo sentido, ao tratar da
equidade na alteração de circunstâncias do direito português, assim se posiciona:
VASCONCELOS, Pedro Pais de. Teoria... 2015, p. 375-376;
204 Ao tratar da forma que a equidade deverá se operar no Direito português aquando da revisão
modalidades resolutórias previstas no Código Civil brasileiro primeiramente porque nas situações
em que se operar a extinção contratual por onerosidade excessiva superveniente não haverá,
necessariamente, a perda do interesse pelo adimplemento. De mais, pois, inexiste uma
impossibilidade absoluta em cumprir com a obrigação estabelecida, o que há é uma extrema
dificuldade (Cfr: FARIAS, Cristiano Chaves de.; ROSENVALD, Nelson. Direito..., 2011, p. 613.;
GOMES, Orlando. Contratos..., 2008, p. 214). A sentença judicial que resolver o contrato terá
efeito retroativo e nos termos do artigo 478º os efeitos retroagem à data da citação (Cfr: FRANTZ,
Laura Coradini. Excessiva..., 2014, p. 234). Assim, caso o contrato seja de execução única e
diferida, as partes voltam à situação anterior, situação esta condicionada à data da citação.
Todavia, caso se trate de contrato de execução periódica ou continuada, haverá necessidade de
excepcionar a regra do art. 478 acerca dos efeitos pois, as prestações satisfeitas não serão
atingidas, vez que estas serão consideradas exauridas (Cfr: GOMES, Orlando. Contratos...,
2008, p. 219). Para este caso, por analogia, os efeitos deverão ser equiparados à hipótese de
resilição contratual (Cfr: FRANTZ, Laura Coradini. Excessiva..., 2014, p. 235).
206 Conforme leciona CORDEIRO, António Barreto Menezes. Do Trust no Direito Civil. Coimbra:
Almedina, 2014, p. 59 e 195-196 e CORDEIRO, António Menezes Barreto. Direito Inglês dos
Contratos I: formação, conteúdo, vícios. AAFDUL, 2017, p. 31 e ss o termo Common Law pode
se prestar a múltiplos seguimentos. Para designar a família jurídica composta pelos sistemas de
inspiração inglesa; cada ordenamento pertencente a esta família; o Direito desenvolvido pelos
tribunais nestes ordenamentos jurídicos; as decisões jurídicas criadas pelos tribunais que apenas
aplicavam Direito Comum. Não obstante, nesta investigação prestar-se-á, salvo indicação em
contrário a referir a família jurídica composta pelos sistemas de inspiração inglesa.
50
207 Consoante refere VICENTE, Dário Moura. Direito Comparado…, 2015. p. 225 e ss.; VICENTE,
Dário Moura. O lugar dos sistemas jurídicos lusófonos entre as famílias jurídicas. (p. 11-44). In:
Studos em comemoração do quinto aniversario do Instituto Superior de Ciências Jurídicas e
Sociais. Vol I. Praia, Setembro, 2012. p. 20, a despeito de os territórios que integram, sobretudo
a Inglaterra, terem pertencido ao Império Romano durante cerca de quatro séculos, não há nos
dias atuais vestígios do Direito romano diante da Ordem Jurídica inglesa. De mais, embora tenha
sido tentada a receção deste Direito durante a Idade Média, nos tribunais ingleses houve rejeição
da aplicação pelos juristas e censura desta aplicação por decisão real. Deu-se, sobretudo em
razão do receio de que com a receção do Direito Romano as liberdades individuais consagradas
no Direito inglês fossem restringidas. Acerca da não receção do Direito romano e formação do
Common Law, cfr: CORDEIRO, António Barreto Menezes. Do Trust…, 2014, p. 65-168.
208 O liberalismo tem sua principal expressão nos escritos de John Locke (1632-1704); enquanto
que o fundador do utilitarismo foi Jeremy Bentham (1748-1832). Neste sentido cfr: VICENTE,
Dário Moura. Direito Comparado..., 2015. p. 227.
209 ASCENSÃO, José Oliveira. Interpretação das leis, integração das lacunas, aplicação do
210 Isto porque, a partir da jurisprudência surgiram os precedentes vinculativos «stare decisis»
que impõem a obrigação aos tribunais de seguir as questões de Direito («rationes decidenti»)
que tiverem sido consideradas em casos com fatos análogos, o que decorreu neste domínio)
(Cfr: VICENTE, Dário Moura. Direito Comparado…., 2015. p. 240, 255-260 e ss, 320-327; TIMM,
Luciano Benetti. Common Law e Contract Law: uma introdução ao Direito contractual norte-
americano. Ano 1 (2012), nº 1, 525-572. Disponível em: http://www.idb-fdul.com/. p. 532).
211 Cumpre observar, conforme leciona CORDEIRO, António Menezes Barreto. Direito Inglês…,
2017, p. 31 e ss, que o Direito contratual inglês é produto de inúmeras decisões dos tribunais
centrais.
212 Cfr: ASCENSÃO, José de Oliveira. Interpretação…, p. 913-941.
52
213 Cfr: BARANAUSKAS, Egidijus / ZAPOLSKI, Paulius. The effect of change in circumstances
on the performance of contract. Mykolas Romeris University, Faculty of Law, 2009, 4(118), p.
197-216, disponível em:
https://www.mruni.eu/upload/iblock/e7c/11baranauskas,%20zapolskis.pdf; p. 201 e ss; RIMKE,
Joern. Force majeure and hardship: Application in the international trade ractice with scpecific
regard to the CISG and the UNIDROIT. Principles of International Commercial Contracts, 1999-
2000, p. 7.
214 Cfr: PARADINE v. Jane. [1647] EWHC KB J5, (1647) Aleyn 26, [1658] EngR 486, (1658) Sty
47, (1658) 82 ER 519 (C); CHESHIRE, Fitfoot/ FURMSTON’S. Law of Contract, 12ª ed., London
/ Dublin / Edinburgh: Butterworths, 1991, p. 569 e ss.
53
A. Principles of contract law. St. Paul: Tomson, 2ª ed, 2004, XV, ISBN: 978-0-314-91162-9, p.
307 e ss «a condition is implied that the impossibilty or performance arising from the perishing of
the person or thing shall excuse the performance»; RIMKE, Joern. Force majeure…, 1999-2000,
p. 7; : BARANAUSKAS, Egidijus / ZAPOLSKI, Paulius. The effect…, 2009, p. 201 e ss;
217 HILMMAN, Robert A. Principles… 2004, p. 307 e ss.
218 KRELL vs Henry, 2 K.B. 740 (1903).
219 Cfr: RIMKE, Joern. Force majeure…, 1999-2000, p. 7-8; ainda sobre a doutrina da frustration,
cfr: ANDERSON, Arthur. Frustration of Contract – a rejected doctrine. In: De Paul Law Review.
Vol III, Autumn – winter 1953, number 1, (p.1-22), 1953. [Em linha]. Disponível em:
http://via.library.depaul.edu/cgi/viewcontent.cgi?article=3808&context=law-review. Acesso em:
01 de dez. 2018. p. 1 e ss.
54
220 Cfr: KRELL vs Henry, 2 K.B. 740 (1903); CHESHIRE, FITFOOT / FURMSTON’S. Law of
Contract…, p. 574 e ss; HILMMAN, Robert A. Principles…, 2004, p. 315-316; RIMKE, Joern.
Force majeure…, 1999-2000, p. 7.
221 Cfr: KRELL vs Henry, 2 K.B. 740 (1903); HILMMAN, Robert A. Principles… 2004, p. 315-316;
224 Cfr: HONDIUS, Ewoud / GRIGOLEIT, Hans Christoph (Edit.). Unexpected Circumstances in
European Contract Law, Cambridge University Press, 2011, ISBN 978-1-107-00340-8, p. 6-7;
PINHEIRO, Luís de Lima. Cláusulas típicas…, 2004, p. 247-255; RIMKE, Joern. Force
majeure…,1999-2000, p. 8; DAVIS Contracts Ltd. v. Fareham Urban District Couoncil. [1956] AC
696, [1956] UKHL 3, [1956] 2 All ER 145.
225 Cfr: PINHEIRO, Luís de Lima. Cláusulas típicas…, 2004, p. 247-255; RIMKE, Joern. Force
majeure…, 1999-2000, p. 8.
226 HONDIUS, Ewoud / GRIGOLEIT, Hans Christoph. Unexpected Circumstances…, 2011, p.
Separata da Obra “Estudos de Direito Comercial Internacional Vol. I”, p. 239-269, Almedina,
Coimbra, 2004, p. 247-255; RIMKE, Joern. Force majeure…, 1999-2000, p. 8.
56
momento subsequente.
57
233 É possível verificar a higidez do posicionamento dos tribunais ingleses no que toca aos
requisitos capazes de provocar a incidência do conceito de frustraion através de alguns julgados
dos tribunais ingleses. O primeiro a se ter em conta trata-se do caso DAVIS Contracts Ltd. v.
Fareham Urban District Couoncil. [1956] AC 696, [1956] UKHL 3, [1956] 2 All ER 145. Neste caso
os demandantes haviam contratado a construção de 78 casas por um preço fixo e com o prazo
de entrega oito meses. Devido a atrasos imprevisíveis nas obras, mau tempo e outras razões
que fizeram com que a conclusão das obras se desse em vinte e dois meses e houvesse um
acréscimo significativo nos custos, 17.000 libras a mais do que o que havia sido inicialmente
contratado. Pleitearam, os empreiteiros, por reparação em razão da frustração do contrato.
Inobstante as alegações, a Câmara dos Lordes entendeu que não havia frustração, porque não
é a dificuldade, os inconvenientes ou perdas materiais que dão causa a incidência da doutrina.
Deve haver, para além destas questões, uma grande alteração da obrigação de modo a torná-la
diferente dos termos contratados. Também se pode perceber estas questões através dos
julgados que derivaram dos casos relativos ao Canal de Suez, suprarreferidos.
234 Acerca da impossibilidade de revisão do contrato quando houver a incidência da teoria da
frustration não há unanimidade. Entende, PINHEIRO, Luís de Lima. Cláusulas típicas…, 2004,
p. 249, que o tribunal, neste caso, poderá adaptar ou terminar o contrato.; do caso conhecido
como: STAFFORDSHIRE Area Health Authority v. Staffordshire Staffs Waterworks Co, [1978] 1
WLR 138, [1978] 3 All ER 769, é possível notar o posicionamento dos tribunais ingleses no
sentido de desobrigar as partes de suas prestações e deixar com elas acertem novos termos
mediante a celebração de um novo contrato. Em suma, este caso teve em atenção um contrato
de fornecimento de água, celebrado no ano de 1919 entre um fornecedor e um hospital. Este
tinha como objeto a distribuição de água a qualquer tempo para o hospital e por um preço fixo.
Não obstante o acordo entabulado, no ano de 1975, a prestação do fornecedor fora afetada pela
inflação. Daí porque pretendeu desobrigar-se de sua prestação. À luz deste caso, a Corte
entendeu que havia decorrido uma mudança radical desde o momento em que o contrato foi
celebrado (50 anos antes), o que motivou a desobrigação das partes com relação ao contrato
entabulado, para que posteriormente, e de modo a atender as suas necessidades, celebrarem
novo contrato.
235 Cfr: CHESHIRE, FITFOOT / FURMSTON’S. Law of Contract…, 1991, p. 583 e ss; RIMKE,
Act, 1943, Chapter 40, London: Published by her Majesty’s Stationery Office, 80p net, ISBN 1 10
58
Majesty’s Stationery Office, 80p net, ISBN 1 10 850064 0. [Em linha]. Disponível em:
http://www.legislation.gov.uk/ukpga/1943/40/pdfs/ukpga_19430040_en.pdf. Acesso em: 17 de
jun. de 2018.
238 CORDEIRO, António Menezes Barreto. Direito Inglês…, 2017, p. 175 e ss.
239 PARRY, David Hughes. The Sanctity of Contracts in English Law. Londres: Stevens & Sons
Dezembro de 1921 pelo Supremo Tribunal do Estado de Nova Iorque, Appelate Division, em
COURT of Appeal. Appelate Division, em Doherty v. Monroe Eckstein Brewing Co., 191 N.Y.S.
59; Cfr: WEISKOPF, Nicholas R. Frustration of Contractual Purpose – Doctrine or myth? In: t.
John’s Law Review, vol 70, Issue 2 Volume 70, Spring 1996, Number 2, Article 3, March 2012,
disponível em:
https://scholarship.law.stjohns.edu/cgi/viewcontent.cgi?referer=https://www.google.com/&httpsr
edir=1&article=1607&context=lawreview.
60
Acesso em: 10 de fev. de 2018, a despeito de se tratar de um código de Direito, difere das
codificações romanistas. Cfr: VICENTE, Dário Moura. Direito Comparado…, 2015, p. 320 e ss.
247 TIMM, Luciano Benetti. Common Law… 2012, p. 560.
248 TIMM, Luciano Benetti. Common Law… 2012, p. 560.
249 HILMMAN, Robert A. Principles… 2004, p. 305 e ss.
250 HILMMAN, Robert A. Principles… 2004, p. 305 e ss.
61
such a pair has the same effect on the other's duties to render performance of the agreed
equivalent as it would have if only that pair of performances had been promised. § 377. Restitution
in Cases of Impracticability, Frustration, Non-Occurrence of Condition or Disclaimer by
Beneficiary. A party whose duty of performance does not arise or is discharged as a result of
impracticability of performance, frustration of purpose, non-occurrence of a condition or disclaimer
by a beneficiary is entitled to restitution for any benefit that he has conferred on the other party
by way of part performance or reliance.»
254 HILMMAN, Robert A. Principles… 2004, p. 310; SUPREME Court of California. Mineral Park
Land Co vs. Howard. Supreme Court of California, Mar 13, 1916, 156 P. 458, (Cal. 1916).
255 UNIFORM Commercial Code: official text and comments. The American Law Institute, National
by the occurrence of an event, the non-occurrence of which was a basic assumption in which the
contract was made, his duty to render that performance is discharged, unless the language or the
circumstances indicate the contrary». RESTATEMENT (Second) of Contracts. [Em linha].
Disponível em: https://www.nylitigationfirm.com/files/restat.pdf,. Acesso em: 05 de jan. de 2018.
64
261 «Where, after a contract is made, a party’s performance is made impracticable without his fault
by the occurrence of an event, the non-occurrence of which was a basic assumption in which the
contract was made, his duty to render that performance is discharged, unless the language or the
circumstances indicate the contrary». ». RESTATEMENT (Second) of Contracts. [Em linha].
Disponível em: https://www.nylitigationfirm.com/files/restat.pdf; acesso em: 05 de Janeiro de
2018.
262 RESTATEMENT (Second) of Contracts. [Em linha]. Disponível em:
https://www.nylitigationfirm.com/files/restat.pdf,. Acesso em: 10 de fev. de 2018, § 240. Part
Performances as Agreed Equivalents. If the performances to be exchanged under an exchange
of promises can be apportioned into corresponding pairs of part performances so that the parts
of each pair are properly regarded as agreed equivalents, a party's performance of his part of
such a pair has the same effect on the other's duties to render performance of the agreed
equivalent as it would have if only that pair of performances had been promised. § 377. Restitution
in Cases of Impracticability, Frustration, Non-Occurrence of Condition or Disclaimer by
Beneficiary. A party whose duty of performance does not arise or is discharged as a result of
impracticability of performance, frustration of purpose, non-occurrence of a condition or disclaimer
by a beneficiary is entitled to restitution for any benefit that he has conferred on the other party
by way of part performance or reliance.
263 Cfr: SUPREME Court of New York. Maple Farms, Inc. v. City School District of the City of
Elmira, NY. Supreme Court of New York, 352 N.Y.S. 2d 784, 1974 N.Y; HILMMAN, Robert A.
Principles… 2004, p. 310.
65
264 Acerca da interpretação contractual no contexto norte-americano, cfr: DIMATTEO, Larry A.;
HOGG, Martin. Comparative Contract Law: British and American Perspective. Oxford University
Press. United Kingdom. 2016, ISBN 978-0-19-872873-3, p. 231-293.
265 Cfr: SUPREME Court of New York. Maple Farms, Inc. v. City School District of the City of
Elmira, NY. Supreme Court of New York, 352 N.Y.S. 2d 784, 1974 N.Y; HILMMAN, Robert A.
Principles… 2004, p. 310.
266 Cfr: SUPREME Court of California. Mineral Park Land Co vs. Howard. Supreme Court of
California, Mar 13, 1916, 156 P. 458, (Cal. 1916); HILMMAN, Robert A. Principles… 2004, p. 310.
267 As «immutable rules» são regras que não podem ser derrogadas pelas partes e imperam
mesmo que intentem os contratantes a afastá-las. Cfr: AYRES, Ian; GERTNER, Robert. Filling
Gaps in Incomplete Contracts: An Economic Theory of Default Rule. The Yale Law Journal, vol
99:87; 1989-1990, (p. 87-130), p. 87 e ss.
268 AYRES, Ian; GERTNER, Robert. Filling…, 1989-1990, p. 87-130, p. 87 e ss.; TIMM, Luciano
269 Neste sentido é possível notar através das decisões dos seguintes casos: ESTADOS UNIDOS
DA AMÉRICA. Supreme Court of South Dakota. Groseth International Inc vs Tenneco, INC 410
N. W. 2d. 159 (S. D. 1987) (Groseth I), eis que entendeu que: “[...] a continuação das mesmas
condições de mercado e financeira das partes não é uma presunção ordinária básica das partes”;
Ainda, COURT of Appeals for the Sixth Circuit. Karl Wendt Farm Equipment CO, INC Co. vs
International Harvest Co., 931 F2d 1112 (6th Cir. 1991), entendeu: “[...] uma dramática queda no
mercado de equipamentos agrícolas resultando em redução de lucros não frustra os propósitos
elementares do contrato”. Cfr: TIMM, Luciano Benetti. Common Law…, 2012, p. 560-561;
FRANSWORTH, E. Allan. Contracts. 4ª ed, New York: Aspen Publishers, 2004, ISBN 0-7355-
4540-5 (PB), p.634-635.
270 TIMM, Luciano Benetti. Common Law…, 2012, p. 560-561.
271 Cfr: VICENTE, Dário Moura. Direito Comparado..., 2017, p. 245 e ss.
272 Sobre o «freedom of contract», cfr: DIMATTEO, Larry A.; HOGG, Martin. Comparative…,
PARTE II
A CLÁUSULA DE HARDSHIP NO COMÉRCIO INTERNACIONAL
275 Isto, na hipótese de não haver uma cláusula no contrato que previsse soluções para
resguardar a economia contratual, que houvesse sido alterada em virtude de um evento exterior
ao contrato. E, em razão de sua redação, permitisse ao tribunal competente intervir no seio do
negócio entabulado entre as partes (Cfr: MOSER, Luiz Gustavo Meira. A cláusula de hardship e
o contrato interno e internacional. Disponível em:
http://centrodireitointernacional.com.br/static/revistaeletronica/artigos/Luiz%20Gustavo%20Meir
a%20Moser%20Comercio.pdfp. p.2.; PRADO, Maurício Almeida. Novas Perspectivas do
Reconhecimento e Aplicação do Hardship na Jurisprudência Arbitral Internacional. RBAr – nº 2
– Abr-Jun/2004 – Doutrina Nacional, p 33).
276 Cfr: ANTUNES, José Engrácia. Direito e Justiça…, 2007, p. 215; GLITZ, Frederico. Contrato
económico e menos para atender aos anseios sociais que se deu a atribuição de nova roupagem
para a cláusula ‘rebus sic stantibus’ (Cfr: GLITZ, Frederico. Contrato e sua conservação…, 2008.
p. 149 e ss. e 156).
283 GLITZ, Frederico. Contrato e sua conservação…, 2008. p. 149 e ss. e 156.
284 GLITZ, Frederico. Contrato e sua conservação…, 2008. p. 149 e ss. e 156.
73
287 «In case of prohibition of import or export, blockade or war, epidemic or strike, and in all cases
of force majeure preventing the shipment within the time fixed, or the delivery, the period allowed
for shipment or delivery shall be extended by not exceeding two months. After that, ig the case of
force majeure be still operating, the contract shall be cancelled.» Cfr: ALBERT D. Goan & Co. v.
Société Interprofissionelle des Oléagineux Fluides Alimentaires. (1960), 2 Q.B. 334 335 (1959).
288 BIRMINGHAM, Robert L. A second…, 1969, p. 1400-1402.
289 Cfr: RIMKE, Joern. Force majeure…, 1999-2000, p.3 e ss.
290 «Artigo 1. (1) A presente Convenção aplica-se aos contratos de compra e venda de
mercadorias celebrados entre partes que tenham o seu estabelecimento em Estados diferentes:
(a) quando estes Estados sejam Estados contratantes; ou (b) quando as regras de direito
internacional privado conduzam à aplicação da lei de um Estado contratante. (2) não é tomado
75
em conta o fato de as partes terem o seu estabelecimento em Estados diferentes quando este
fato não ressalte nem do contrato nem de transações anteriores entre as partes, nem das
informações dadas por elas em qualquer momento anterior à conclusão deste. (3) não são
tomadas em consideração para aplicação da presente Convenção nem a nacionalidade das
partes nem o caráter civil ou comercial das partes ou do contrato.» CONVENÇÃO da ONU sobre
os contratos de compra e venda de mercadorias. Uncitral: Viena, 1980. [Em linha]. Disponível
em: http://www.globalsaleslaw.org/__temp/CISG_portugues.pdf. Acesso em: 20 set. de 2017.
291 «Artigo 6. As partes podem excluir a aplicação da presente Convenção ou, sem prejuízo do
disposto no artigo 12, derrogar qualquer das suas disposições ou modificar-lhe os efeitos.»:
UNCITRAL. Convenção da ONU…, 1980.
292 A Convenção de Viena de 1980 fora projetada pela Comissão das Nações Unidas para o
de suas obrigações se provar que tal inexecução deve-se a um impedimento alheio a sua
vontade e que não se poderia razoavelmente esperar dela que o levasse em consideração no
momento da conclusão do contrato, que o evitasse ou superasse, ou que evitasse ou superasse
suas consequências. 2) Se a inexecução por uma das partes dever-se à inexecução por um
terceiro que a parte contratou para executar todo o contrato ou parte dele, essa parte só fica
exonerada de sua responsabilidade nos casos em que: a) o for em virtude das disposições do
parágrafo precedente; e b) o terceiro contratado também seria exonerado se as disposições
desse parágrafo fossem aplicadas a ele. 3) A exoneração prevista no presente artigo produz
efeito enquanto durar o impedimento. 4) A parte que não executou suas obrigações deve
comunicar a outra parte do impedimento e de seus efeitos sobre sua capacidade de executá-las.
Se a outra parte não receber a comunicação em um prazo razoável a partir do momento em que
a parte que não executou tomou conhecimento ou deveria ter tomado conhecimento do
impedimento, esta deverá pagar perdas e danos devidos à falta de recebimento. 5) As
disposições do presente artigo não impedem nenhuma mas partes de exercer outros direitos
além de demandar perdas e danos nos termos da presente Convenção.» Tradução por: PRADO,
Maurício Almeida. Interpretação e… p. 3.
76
no tráfego jurídico internacional, em particular através da CISG. Porém, o conceito trazido por
este instrumento internacional não foi suficiente para solucionar o problema integralmente. Pode-
se apontar como um dos motivos a validade da Convenção apenas pelos países que havia
ratificado seus termos; ou ainda em virtude do próprio artigo 79 da Convenção que por muito se
discutiu se serviria para solucionar os chamados casos de hardship. Cfr: CISG. Parecer nº 7…,
p. 1-24, 2007; Ainda que a doutrina se posicionasse pela impossibilidade de mitigação do
princípio ‘pacta sunt servanda’, a jurisprudência arbitral por algumas vezes reconheceu a
existência do princípio ‘rebus sic stantibus’ no comércio internacional (lex mercatoria). É o que
se pode notar das sentenças proferidas nos casos da Câmara do Comércio Internacional de nº
1512 e nº 4761, cfr: PRADO, Maurício Almeida. Novas Perspectivas…, 2004, p 33-34 e ss.
301 GLITZ, Frederico. Contrato e sua conservação… 2008, p. 138.
77
VICENTE, Dário Moura. A autonomia privada e os seus diferentes significados à luz do Direito
comparado. In: Revista de Direito Civil da Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa, nº 2,
2016, Almedina: Coimbra, 2016, ISBN 9780216355354.
305 GLITZ, Frederico Eduardo Z. Contrato e sua conservação…, 2008. p. 138.
306 «Quando se menciona a contemporaneidade contratual analisada pelo viés do Direito
contrato. Isto porque, conforme ressaltar-se-á no decorrer deste trabalho, o que está subjacente
a ela é a cláusula medieval ‘rebus sic stantibus’. E, nem sequer sobre a cláusula ‘rebus sic
stantibus’ há a absoluta certeza quanto a precisão do seu surgimento, conforme fora retro
referido.
308 MARTINS-COSTA, Judith. A cláusula de hardship e a obrigação de renegociar nos contratos
de longa duração. Revista de Arbitragem e Mediação. Ano 7. n 25. Abirl/jun 2010. p.19.
78
309 Cfr: PRADO, Maurício de Almeida. Novas Perspectivas… 2004, p 59.; MOSER, Luíz Gustavo
Meira. A cláusula… p. 2.
310 Refere PRADO, Maurício Almeida. Novas Perspectivas… 2004, p 59, que no contexto dos
tribunais internacionais por muito a definição de hardship restou imprecisa e que o tratamento a
este termo destinado à época era ainda referido como ‘rebus sic stantibus’. Deste modo, para
além de a definição do termo não ser precisa, era também genérica.
311 GLITZ, Frederico. Contrato e sua conservação… 2008, p. 137 e ss.
312 «A primeira edição dos Princípios Relativos aos Contratos do Comércio Internacional fora
aprovada pelo Conselho de Direção do UNIDROIT em 1994, e continha, a par das disposições
gerais, regras sobre a formação do contrato, a validade, a interpretação, o conteúdo, o
cumprimento e o incumprimento. A segunda edição foi aprovada em 2004, e oferece cinco
capítulos adicionais sobre representação; contrato a favor de terceiro; compensação; cessão de
créditos; assunção de dívidas; e transmissão da posição contratual e prescrição» (Cfr:
PINHEIRO, Luís de Lima. Direito Comercial… 2005. p. 175). Ademais, acerca dos princípios
UNIDROIT: BONELL, Michael Joachim. A new Approach to International Commercial Contracts:
the UNIDROIT Principles of International Commercial Contracts. Editor M.J. Bonell. Kluwer Law
International. 1998. p. 3-17. Breves apontamentos acerca da proposta trazida pelos Princípios
UNIDROIT: VICENTE, Dário Moura. Da Responsabilidade Pré-contratual em Direito
Internacional Privado. Almedina: Coimbra. 2001. p. 366 e ss. Com relação aos Princípios
UNIDROIT, cabe dizer que estes não detêm força obrigatória para as partes, porque não têm
poder normativo, e serão aplicados na prática em razão de seu poder persuasivo (Cfr: RIMKE,
Joern. Force majeure…, 1999-2000, p. 29 e ss; FUCCI, Frederick R. Hardship… 2006, p. 9 e ss).
Muito embora não comportem poder normativo, podem obter o status de regra de direito,
tornando-se assim vinculativo, quando as partes de um contrato assim aderirem (Cfr: PRADO,
Mauricio Almeida. Novas Perspectivas…, 2004, p 49; RIMKE, Joern. Force majeure… 1999-
2000, p. 29 e ss). Ademais, apesar de não dependerem as regras contidas nos Princípios das
tradições jurídicas nacionais, as disposições nestes constantes estabelecem uma ponte entre
diversas tradições jurídicas (Cfr: VICENTE, Dário Moura. A crise económica mundial e os
contratos internacionais. In: Revista de Direito Civil da Faculdade de Direito da Universidade de
Lisboa, nº 3, 2017, Almedina: Coimbra, Separata. 2017, p. 25). De mais, quanto a estes,
prudente, qualquer que seja a utilização atribuída pelas partes às normas neles contidas,
dimensionar no negócio a medida da incidência dos Princípios (UNIDROIT. Princípios relativos
aos Contratos Comerciais Internacionais Unidroit. Versão provisória publicada em língua
portuguesa. Publicada pelo Ministério da Justiça. Roma 1995. p. 23 e 30-31; UNIDROIT.
Princípios Unidroit relativos aos Contratos Comerciais Internacionais 2010. Tradução Professor
Lauro Gama Jr. [Em linha]. Disponível em:
https://www.unidroit.org/english/principles/contracts/principles2010/translations/blackletter2010-
portuguese.pdf. Acesso em: 07 jan. 2018.).
313 Consoante dito anteriormente, fora publicada no ano de 1994 a primeira edição dos Princípios
UNIDROIT, a qual trouxe regras de direito substantivo destinadas a serem usadas no comércio
internacional. As normas nestes Princípios contidas encontram-se abertas para várias utilizações
79
1994, instrumento este que carrega o grande mérito de, desde sua publicação,
ter acrescentado «segurança às complexas relações desenvolvidas por meio
dos contratos internacionais314». Com o advento do referido instrumento
decorreu uma evolução da chamada lex mercatoria315-316, definiram-se regras de
direito substantivo a serem usadas no comércio internacional de todo o mundo317
e fora dada expressão à teoria de hardship, através dos artigos 6.2.1 a 6.2.3 que
a trouxeram enquanto regra, a ser, possivelmente, aplicada ao domínio dos
contratos do comércio internacional318.
Daí para frente as relações comerciais desequilibradas de forma
superveniente, em virtude de terem sido alteradas as circunstâncias que deram
causa a contratação, deixaram de depender das soluções advindas das
tradições jurídicas, das condições políticas e económicas dos países em que as
regras devessem ser aplicadas319. Deixaram também de depender de solução
negociada no domínio do contrato, de modo que passou a ser possível haver
solução com recurso aos instrumentos internacionais, desde que escolhidos
pelas partes a incidir no contrato aquando da integração contratual. E mais,
houve delimitação do conteúdo e das consequências jurídicas a decorrerem em
caso de hardship320.
Para além dos Princípios UNIDROIT também foram trazidas regras
neste sentido através dos Princípios Europeus do Direito dos Contratos,
Principles of European Contract Law (dovarante PECL). Publicados no ano de
1999, passaram a disciplinar, em suma, sobre questões relacionadas a
internacional, que confere um grau de uniformidade internacional e fora constituída com base em
convenções internacionais, leis-modelos, documentos públicos, em segundo plano, nos
costumes e usos do comércio internacional (Cfr: PINHEIRO, Luís de Lima. Direito Comercial
Internacional: contratos comerciais internacionais; Convenção de Viena sobre a venda
internacional de mercadorias; Arbitragem transnacional. Almedina. Coimbra. 2015. p. 180-181).
316 PRADO, Maurício Almeida. Novas Perspectivas…2004, p. 48 .
317 Embora os Princípios não representem um ius commune internacional, são expressões do
que se pode chamar de best rules para o comércio internacional (Cfr: VICENTE, Dário Moura. A
crise… 2017, p. 26).
318 Sobre terem os Princípios UNIDROIT sido publicado para a unificação da lei privada, cfr:
321 LANDO, Ole. Principles of European Contract Law and UNIDROIT Principles: Moving from
Harmonisation to Unification? In: Uniform Law Review (Revue de Droit Uniform). 2003-1/2. Vol.
VIII. p. 123 e ss; Principles of European Contract Law. Parts I and II. Prepared by The Comission
of European Contract Law. Chairman: Professor Ole Lando. Edited by OLE LANDO and HUGH
BEALE.
322 «Principles of European Contract Law, 1998, Article 6.111 (ex art. 2.117) – change of
circumstances: (1) A parte é obrigada a cumprir suas obrigações mesmo se a execução se tornar
mais onerosa, quer porque os custos da execução tenham aumentado ou porque o valor da
contraprestação tenha diminuído. (2) Se a execução do contrato se tornar excessivamente
onerosa por conta da alteração das circunstâncias, as partes estão obrigadas a negociar com o
fim de adaptar o contrato ou resolvê-lo, desde que: a) a alteração das circunstâncias aconteça
após a conclusão do contrato; b) a alteração das circunstâncias não pudesse ser levada em
consideração no momento de conclusão do contrato, e; c) o risco da alteração não fosse
assumido, contratualmente, pela parte lesada. (3) Se as partes falharem em chegar a um acordo
dentro de um prazo razoável, a Corte deve: a) resolver o contrato em data e termos a serem
identificados pela Corte, ou; b) adaptar o contrato de modo distribuir entre as partes, de maneira
justa e dentro da equidade, os ganhos e prejuízos advindos da alteração das circunstâncias. Em
qualquer dos casos a Corte deve obrigar ao pagamento de indenização aquele que se recusar a
negociar ou romper as negociações de forma contrária à boa-fé». Tradução por: GLITZ,
Frederico Eduardo Z. Contrato e sua conservação…, 2008. p. 169. Versão em inglês disponível
em: https://www.cisg.law.pace.edu/cisg/text/textef.html#a6111. Acesso em: 23/04/2017.
323 A razão de considerar que trazem os Princípios Europeus dos Contratos os traçados da teoria
de hardship se dá porque foram estes elaborados, quase que na integralidade, pela mesma
comissão europeia que participou da elaboração dos Princípios UNIDROIT.
81
324 A respeito dos artigos que tratam da cláusula de hardship, cumpre ressaltar que estes foram
trazidos já na versão dos Princípios de 1994.
325 A regra trazida pelos Princípios UNIDROIT é de que as partes estarão obrigadas a cumprir
com os termos do contrato que se obrigaram, mesmo que a sua prestação tenha se tornado mais
onerosa. Nestes termos reflete o artigo 6.2.1: (Observância do contrato) As partes estão adstritas
ao cumprimento do contrato, das suas obrigações, mesmo quando a execução se tenha tonado
mais onerosa (sem prejuízo do que diz os artigos seguintes). Este entendimento decorre do
princípio geral do caráter vinculativo do contrato (art. 1.3 – Força vinculativa do contrato: um
contrato celebrado validamente vincula as partes contratantes. Este artigo enuncia o princípio da
pacta sunt servanda). Mesmo que a parte sofra pesadas perdas em vez de lucros ou o
cumprimento tenha se tornado inútil, as cláusulas do contrato devem ser observadas. (Há
exceções, a exemplo art. 6.2.3).
82
contrato, não é, em si, o que determina a situação de hardship. É, entretanto, o responsável por
criar a base factual da dificuldade (Cfr: GIRSBERGER, Daniel; ZAPOLSKIS, Paulius.
Fundamental Alteration of the contractual equilibrium under hardship exemption. Mykolo Romeris
University, 2012, p. 122 e ss. Disponível em:
https://www.mruni.eu/upload/iblock/434/7_Girsberger.pdf., p. 123 e ss).
330 MARTINS-COSTA, Judith. A boa-fé… 2015. p 597 e ss.
331 GLITZ, Frederico. Contrato e sua conservação…, 2008, p. 161 e ss.
332 PINHEIRO, Luís de Lima. Direito Comercial… 2005, p. 216; OLIVEIRA, Fernando Baptista.
Contratos privados…, 2015. p. 338 e s; VICENTE, Dário Moura. A crise…, 2016, p.26.; Coloca
RIMKE, Joern. Force majeure…p. 6: «The circumstances in which hardship generally exists (as
usually set out in hardship clauses) normally incorporate three elements. First, the circumstances
must have arisen beyond the control of ether party; self-induced hardship is irrelevant. Second,
they must be of fundamental character. Third, they must be entirely uncontemplated and
unforeseeable».; UNIDROIT. Princípios…. 1995. p. 175-178; UNIDROIT. Princípios… 2010, p.
18 e ss.
83
333 Nos comentários oficiais dos Princípios UNIDROIT, restam exemplificadas situações de
aumento e de diminuição – ou frustração – do valor da prestação e contraprestação.
Relativamente ao aumento dos custos da prestação cita-se situação em que o aumento dos
custos deveu-se a um aumento espetacular do preço das matérias-primas que eram necessárias
para a produção de determinadas mercadorias. Com relação a diminuição do valor da
contraprestação cita-se dois casos que merecem destaque. O primeiro relativamente a
diminuição drástica do valor da contraprestação devido a um aumento espetacular da inflação
num preço que fora contratualmente adotado. O segundo relativamente a frustração da finalidade
da contraprestação devido a proibição da construção em um lote de terreno que fora adquirido
para este fim. (UNIDROIT. Princípios… 1995. p. 175-176; UNIDROIT. Princípios… 2010, p. 18 e
ss). Faz também menção a alteração fundamental em razão do aumento ou diminuição dos
custos da prestação: GLITZ, Frederico Eduardo Z. Contrato e sua conservação… 2008, p. 161 e
ss.
334 O termo utilizado é imprevisibilidade do evento. Todavia, não cabe proceder a leitura da
imprevisibilidade à luz da teoria da imprevisão de matriz francesa, vez que os requisitos relativos
a cláusula de hardship a afastam da referida teoria (Cfr: GLITZ, Frederico Eduardo Z. Contrato e
sua conservação… 2008, p. 164 e ss).
335 Parece pertinente referir que a análise cabe aquando da produção de efeitos da cláusula pois,
seguintes, apesar das tensões politicas agudas existentes nesta região. Dois anos depois da
conclusão do contrato, rebenta uma guerra entre facções em conflito em países vizinhos. A
guerra provoca uma crise mundial de energia e os preços do petróleo sobem em flecha. A não
poderá invocar hardship porque esse aumento do preço do petróleo bruto não era imprevisível.»
«3. Num contrato de compra e venda entre A e B, o preço é expresso na moeda do país X, cujo
valor já vinha a depreciar-se lentamente em relação a outras moedas mais importantes antes da
conclusão do contrato. Um mês mais tarde, uma crise política no país X provoca uma
desvalorização de cerca de 80% da moeda. A menos que algo diferente resulte das
circunstâncias, este será um caso de hardship, porque uma aceleração tao fulgurante da perda
de valor da moeda do país X não era previsível.» Neste sentido: UNIDROIT. Princípios… 1995.
p. 177; UNIDROIT. Princípios… 2010, p. 18 e ss; Os mesmos exemplos estão referenciados na
versão em inglês de 2010, disponível em:
http://www.unidroit.org/english/principles/contracts/principles2010/integralversionprinciples2010
-e.pdf. Acesso em: 28/06/2017.
339 Cfr: GLITZ, Frederico Eduardo Z. Contrato e sua conservação… 2008, p. 164. A tartar sobre
341 Cfr: ANTUNES, José A. Engrácia. Direito e Justiça…, 2007, p. 220; GLITZ, Frederico Eduardo
Z. Contrato e a sua conservação… 2008, p. 162.
342 UNIDROIT. Princípios…, 1995. p. 175; UNIDROIT. Princípios… 2010, p. 18 e ss.
343 UNIDROIT. Princípios…, 1995. p. 175; UNIDROIT. Princípios… 2010, p. 18 e ss.
344 Inspirado no caso Northern Corp. vc Chugach Eletric Assoc, de 1974 US, é exemplo hipotético
133 e ss, esta situação decorre em casos de ganhos inesperados. Nomeadamente quando a
prestação de uma das partes, não necessariamente das duas, recebe benefícios que não eram
esperados pelas partes aquando do fechamento da contratação. Como exemplo, enumeram o
caso da venda de uma vaca que, tanto comprador quanto vendedor, acreditavam na
oportunidade que era infértil. Por esta razão fora a vaca vendida por um preço, diga-se, dez
vezes menor do que seria vendida no caso de ser fértil. Não obstante, após o fechamento do
contrato a vaca ficou prenha, o que demonstrou tratar-se esta de uma vaca fértil. Neste caso o
comprador teve um benefício inesperado.
346 Para que se possa considerar a ‘frustration of purpose’ para este fim, primeiramente cabe
verificar se houve frustração da finalidade que era comum a ambas as partes na relação
86
2008, p. 163.
348 PINHEIRO, Luís de Lima. Direito Comercial… 2005, p. 216; OLIVEIRA, Fernando Baptista
de. Contratos privados… 2015. p. 338 e s; VICENTE, Dário Moura. A crise…, 2017, p. 26.; Neste
sentido também coloca RIMKE, Joern. Force majeure… 1999-2000: “The circumstances in which
hardship generally exists (as usually set out in hardship clauses) normally incorporate three
elements. First, the circumstances must have arisen beyond the control of ether party; self-
induced hardship is irrelevant. Second, they must be of fundamental character. Third, they must
be entirely uncontemplated and unforeseeable”.; UNIDROIT. Princípios…, 1995. p. 175-178;
UNIDROIT. Princípios… 2010, p. 18 e ss.
349 ANTUNES, José A. Engrácia. Direito e Justiça…, 2007. p. 218-221.
350 UNIDROIT. Princípios…, 1995, p. 175-178; UNIDROIT. Princípios… 2010, p. 18 e ss.
351 PINHEIRO, Luís de Lima. Direito Comercial… 2005. p. 216; OLIVEIRA, Fernando Baptista
de. Contratos privados… 2015. p. 338 e ss; VICENTE, Dário Moura. A crise…, 2017, p. 26.;
Princípios… 1995. p. 175-178; UNIDROIT. Princípios… 2010, p. 18 e ss.
352 Muito embora de acordo com a regra geral a deterioração financeira de uma das partes
adentre a esfera do controle das partes, o que não pode ser abarcado pelas situações de
hardship, em casos excecionais há doutrina que considera a possibilidade. Designadamente
quando se tratar de contratação de uma pequena companhia, a qual houver sido acometida por
uma alteração de circunstâncias. Nesta hipótese poderá se justificar a incidência da hardship.
Em casos como este considera-se essencial a verificação de que o cumprimento do contrato
pela parte prejudicada é capaz de levá-la à ruína financeira ou falência, entre outras
peculiaridades que deverão ser analisadas à luz do caso concreto (Cfr: GIRSBERGER, Daniel/
ZAPOLSKIS, Paulius. Fundamental alteration… 2012, p. 131 e ss).
87
353 Cfr: GRANZIERA, Maria Luiza Machado. Contratos Internacionais…1993, p. 78 e ss; GLITZ,
Frederico Eduardo Z. Contrato e sua conservação… 2008, p. 161.
354 VICENTE, Dário Moura. A crise…, 2017; FUCCI, Frederick R. Hardship… 2006. p. 26.;
grau de risco, mesmo que não tenha tido total consciência deste risco no momento em que
contratou» (Cfr: UNIDROIT. Princípios…, 1995. p. 175-178; UNIDROIT. Princípios… 2010, p. 18
e ss).
356 UNIDROIT. Princípios…, 1995. p. 177 e ss; UNIDROIT. Princípios… 2010, p. 18 e ss.
357 UNIDOIRT. Princípios…, 1995. p. 179-183; UNIDROIT. Princípios… 2010, p. 18 e ss.
358 Ao referir sobre o funcionamento do dispositivo que fundamenta a cláusula, cfr: VICENTE,
de se chegar a um novo plano para o contrato, o qual será a elas vinculante 361.
A adaptação por elas efetuada deverá se dar de boa-fé, mormente porque a
própria redação do artigo 6.2.3 assim faz crer e também porque a boa-fé negocial
é «ideia fundamental subjacente aos Princípios», conforme consta no seu artigo
1.7 e comentários oficiais362. Como também deve se dar de modo a aliviar a
excessiva onerosidade que o cumprimento da prestação do contrato alterado
seria capaz de impor para a parte prejudicada363/364. A renegociação contratual
nos termos dos dispositivos não decorrerá de forma automática. Assim como,
não dará direito à suspensão automática da execução contratual por qualquer
das partes365/366.
Nos termos dos dispositivos em questão, caso decorra o prazo para
readaptação contratual sem êxito no rearranjo, seja porque as partes não
chegaram a um acordo ou porque a parte não lesada ignorou, completamente,
o pedido de renegociação, poderá ser submetida, por qualquer das partes, a
questão ao tribunal que tenha jurisdição para tanto367. Diga-se, o qual, poderá
entender pela resolução do contrato ou modificação dos termos contratados.368
Com efeito, na hipótese de haver recusa de um dos contratantes, mas
sobretudo da parte não prejudicada, quanto a renegociação do contrato alterado,
seja porque agiu propositadamente neste sentido ou porque se omitiu de se
de Lima. Direito Comercial… 2005. p. 216; VICENTE, Dário Moura. A crise…, 2017, p. 26.
365 Artigo 6.2.3, UNIDROIT. Princípios…, 1985, p. 179; UNIDROIT. Princípios… 2010, p. 18 e ss.
366 Importa observar que os Princípios UNIDROIT não propõem procedimento para a
renegociação contratual a ser efetivada pelas partes. Diferente é o que ocorre na cláusula
desenhada pela UNCITRAL. UNCITRAL, Legal guide on drawing up international contracts for
the construction of industrial works. New York. 1988, p. 246 e ss. Disponível em:
https://www.uncitral.org/pdf/english/texts/procurem/construction/Legal_Guide_e.pdf.
367 Nestes termos é a redação do artigo 6.2.3 dos Princípios UNIDROIT: Princípios…, 1985, p.
179; UNIDROIT. Princípios… 2010, p. 18 e ss; PINHEIRO, Luís de Lima. Direito Comercial…
2005, p. 221.; GLITZ, Frederico Eduardo Z. Contrato e a sua conservação… 2008, p. 171.
368 UNIDROIT. Princípios…, 1995. p. 179-183; UNIDROIT. Princípios… 2010, p. 18 e ss.
89
internacional. 2) As partes não podem excluir nem limitar o alcance deste dever. ARTIGO 2.15
(Má fé nas negociações) 1) As partes são livres de negociar e não podem ser tidas por
responsáveis se não chegarem a um acordo. 2) Porém, a parte que na condução ou na ruptura
das negociações agir de má ++fé responde pelo prejuízo causado à outra parte. 3) Considera-
se que está de má fé designadamente a parte que enceta ou prossegue negociações quando
tenciona não chegar a acordo» (Cfr: UNIDROIT. Princípios…, 1985, p. 36 e 70; UNIDROIT.
Princípios… 2010, p. 18 e ss).
373 Cfr: PERILLO, Joseph. Force Majeure…, p. 1-9.
374 Sobre tratar-se a cláusula de hardship de uma cláusula mais evoluída que a cláusula rebus
sic stantibus: OLIVEIRA, Fernando Baptista de. Contratos privados… 2015. p. 340 e ss.
90
375 Consideram subjacente à cláusula de hardship a cláusula rebus sic stantibus: MOSER, A
cláusula…, p. 1-17; GLITZ, Frederico Eduardo Zenedin; SANTOS, Thaysa Prado Ricardo dos. A
cláusula de hardship e o equilíbrio contratual – uma fórmula jurídica de justiça e democracia
contratual. disponível em:
http://www.fredericoglitz.adv.br/upload/tiny_mce/CAPITULOS_DE_LIVROS/GLITZ__PRADO_-
_Clausula_de_hardship_e_equilibrio_contratual.pdf.; PRADO, Maurício Almeida. Novas
perspectivas…2004. p. 32.; OLIVEIRA, Fernando Baptista de. Contratos privados…, 2015. p.
340 e ss.
376 Destaque para: Princípios UNIDROIT sobre os Contratos Comerciais Internacionais, artigo
1.1 «As partes são livres de celebrar um contrato e de estipular o seu conteúdo»; Princípios de
Direito Europeu dos Contratos – PECL -, artigo 1:102 «As partes são livres de celebrar um
contrato e de estipular o seu conteúdo, sem prejuízo das exigências da boa fé e das regras
imperativas estabelecidas por estes Princípios»; Projeto do Quadro Comum de Referência –
DCFR -, artigo II.-1:102 «As Partes são livres de celebrar um contrato ou outro ato jurídico e de
estipular o seu conteúdo, sem prejuízo de quaisquer regras imperativas aplicáveis»; Proposta de
Regulamento do Parlamento Europeu e do Conselho relativo a um Direito Comum Europeu de
Compra e Venda – CESL – artigo 1º, nº 1 «As partes são livres de celebrar um contrato e estipular
o seu conteúdo, sob reserva das disposições imperativas aplicáveis». Neste sentido: VICENTE,
Dário Moura. A autonomia privada…2016, p. 277-305.
91
377 Neste sentido refere LEITÃO ao que se deve entender por autonomia privada. Cfr: LEITÃO,
Luís Manuel Teles de Menezes. Direito… vol I, 2017. p. 19 e ss.
378 Pondera LARENZ, Karl. Derecho… 1985, p. 67 e ss, que a autodeterminação, entendida como
carece de compreender toda a sistemática jurídica que está subjacente a contratação. Nem todo
contrato poderá trazer uma cláusula de hardship válida e eficaz. Vide, neste sentido, a relação
que se tem na República Popular de China com o princípio da autonomia privada. Muito embora
os Princípios Gerais de Direito Civil da República Popular da China, artigo 4º, consagrem o
princípio da autonomia da vontade, este é limitado apenas à esfera da conclusão contratual e
não abrange a escolha do parceiro contratual, a estipulação do conteúdo do contrato, sua
modificação, cessão ou definição da forma. Neste sentido: VICENTE, Dário Moura. A autonomia
privada… 2016, p. 290.
93
388 Dentre as várias funções que os Princípios UNIDROIT detém, destaca-se a possibilidade de
as partes acordarem em incorporar, seja uma ou várias de suas regras, como cláusulas
contratuais. Neste sentido: GAMA JÚNIOR, Os Princípios … p. 106 e ss. Neste sentido: GAMA
JÚNIOR, Lauro. Os Princípios UNIDROIT relativos aos contratos do comércio internacional: uma
nova dimensão harmonizadora dos contratos internacionais. p. 106 e ss. Disponível em:
http://www.oas.org/es/sla/ddi/docs/publicaciones_digital_XXXIII_curso_derecho_internacional_
2006_Lauro_Gama_Jr.pdf.
389 Lembrando-se, entretanto, que a validade e eficácia da cláusula estará condicionada as
elaboração dos variados instrumentos que servem para auxiliar as partes na modelação de
cláusulas desta natureza, cfr: PINHEIRO, Luís de Lima. Direito comercial…, 2005, p. 220-221.
94
Internacional, doravante CCI, eis que se trata de uma cláusula padrão usada
corriqueiramente pelos comerciantes internacionais391.392
Assim se faz tendo em vista que, inexistindo delimitação neste sentido
ficaria inviável dar conta, de forma exaustiva e exitosa, das cláusulas de hardship
de adaptação que podem ver-se modeladas. Conforme dito, por se estar a
adentrar o campo da autonomia privada dos contratantes, as cláusulas podem
formatar-se dos mais diversos modos393 e o conceito de hardship para o contrato
em concreto pode variar. Especialmente porque é, usualmente, no contexto da
cláusula de hardship que se discute o seu conceito394 e que as partes se ocupam
de especificar a relevância jurídica da alteração de circunstâncias que tornam o
cumprimento do contrato especialmente oneroso395.
Deste modo, delimitar a análise para os instrumentos referidos é forma
de, a partir de um padrão que se estabelece para este estudo, permitir identificar
as circunstâncias e o evento a desencadear a incidência da cláusula com maior
sucesso. Segundo, porque tratá-las consoante às disposições dos instrumentos
391 A CCI, fora fundada no ano de 1919 com o objetivo de representar o mundo dos negócios em
um momento histórico, em que o mundo intentava recuperar-se da devastação ocasionada pela
primeira Guerra Mundial, tornou-se uma organização que assumiu papel central no
desenvolvimento do comércio mundial. Haja vista que passou a definir, cada vez mais e de forma
mais complexa, regras internacionais, mecanismos e padrões que são usados reiterada e
diariamente pelos comerciantes internacionais. Designadamente no ano de 2003, a “Comission
on Commercial Law and Practice” da organização desenvolveu um modelo de cláusula de
hardship, chamada de cláusula-tipo de hardship. Esta fora desenhada com a finalidade de
facilitar o processo de elaboração de cláusulas de hardship nos contratos internacionais tanto
pelas partes, quanto por seus advogados e ajudá-los a levar em consideração a necessidade de
negociação de uma cláusula que previsse soluções para casos em que decorressem
circunstâncias inesperadas. PORTUGAL. International Chamber of Commerce. Disponível:
Informações disponíveis em: http://www.icc-portugal.com/ICC-Portugal/historia.
392 Para além dos referidos instrumentos, a hardship, ainda que possa ter assumido outro nome
reproduzir o que fora desenvolvido nos instrumentos internacionais pode ser motivada,
sobretudo, pelas especificidades da atividade desenvolvida. Por seus operadores conhecerem
melhor os riscos próprios que podem circundar aquela contratação específica, poderá ser o caso
de pormenorizarem condições e situações que não se veriam em uma cláusula padrão.
394 Neste sentido se coloca: RIMKE, Joern. Force majeure…, 1999-2000.
395 A respeito da relevância jurídica da alteração das circunstâncias que torna o cumprimento do
contrato especialmente oneroso nos sistemas jurídicos nacionais, cfr: PINHEIRO, Luís de Lima.
Direito Comercial…, 2005. p. 216.
95
Princípios UNIDROIT, que as diretrizes fornecidas têm um caráter geral. Sobretudo porque, os
contratos do comércio internacional comportam, frequentemente, cláusulas muito mais precisas
e elaboradas. Cfr: UNIDROIT. Princípios… 1995. p. 179; UNIDROIT. Princípios… 2010, p. 18 e
ss.
96
relação a outros tipos de contrato, o hardship será normalmente invocado nos contratos de
prestação duradoura, isto é, nos contratos em que a prestação de pelo menos uma das partes
se estende por um certo lapso de tempo.» Neste sentido: UNIDROIT. Princípios…, 1985, p. 174
e ss; UNIDROIT. Princípios… 2010, p. 18 e ss.
404 OLIVEIRA, Fernando Baptista de. Contratos privados… 2015. p. 337 e ss; PINHEIRO, Luís
de Lima. Direito Comercial… 2005. p. 216; VICENTE, Dário Moura. A crise…, 2017, p. 26.
405 GLITZ, Frederico Eduardo Z. Contrato e sua conservação…, 2008, p. 161 e ss.
406 PINHEIRO, Luís de Lima. Direito Comercial… 2005, p. 216; OLIVEIRA, Fernando Baptista
de. Contratos privados…, 2015. p. 338 e s; VICENTE, Dário Moura. A crise…, 2016, p.26.; Neste
sentido também coloca RIMKE, Force majeure…p. 6. «The circumstances in which hardship
generally exists (as usually set out in hardship clauses) normally incorporate three elements.
First, the circumstances must have arisen beyond the control of ether party; self-induced hardship
is irrelevant. Second, they must be of fundamental character. Third, they must be entirely
uncontemplated and unforeseeable».; UNIDROIT. Princípios…. 1995. p. 175-178; UNIDROIT.
Princípios… 2010, p. 18 e ss; GLITZ, Frederico Eduardo Z. Contrato e a sua conservação…
2008, p. 162.; ANTUNES, José A. Engrácia. Direito e Justiça…, 2007, p. 220.
407 GLITZ, Frederico Eduardo Z. Contrato e sua conservação…, 2008, p. 163; PINHEIRO, Luís
contratação408; v) tenha havido alteração nos riscos que não sejam próprios da
contratação409.
Havendo consenso entre os contratantes acerca da ocorrência do
hardship, terão as partes de renegociar o plano contratual, através de propostas
sérias e em um prazo razoável, o que deverão fazer à luz dos ditames da boa-
fé. Caso os contratantes infrinjam este dever contratual, estar-se-á diante de uma
infração contratual, sancionável consoante o Direito ou instrumentos
aplicáveis.410
Diante da incorporação dos artigos dos Princípios UNIDROIT com forma
de cláusula de hardship nos contratos, é pertinente que façam as partes constar
expressamente a incorporação da norma. Sobretudo porque não se tem
reconhecido a possibilidade de rescindir o contrato ou exigir a sua adaptação a
pedido da parte, em razão de uma alteração das condições económicas do
contrato, quando não houver expressamente previsto no contrato uma cláusula
de hardship411 (a não ser que o Direito que se presta a integrar o contrato traga
solução neste sentido).
Para além da cláusula de hardship que venha a reproduzir os termos dos
artigos 6.2.2 e 6.2.3 dos Princípios UNIDROIT, destacam-se, também, os
trabalhos realizados pela International Chamber of Commerce (ICC),
designadamente na elaboração de cláusula-tipo de hardship publicada no ano
de 2003.
Tal cláusula-tipo se trata de um modelo de cláusula geral, que não leva
em consideração as circunstâncias particulares de cada setor de atividade ou de
uma transação em especial. Por esta razão é que as partes contratantes,
querendo, poderão, para além de tão somente incorporá-la sem alterações,
utilizá-la como ponto de partida para a formulação de uma cláusula que seja mais
408 PINHEIRO, Luís de Lima. Direito Comercial… 2005. p. 216; OLIVEIRA, Fernando Baptista
de. Contratos privados… 2015. p. 338 e ss; VICENTE, Dário Moura. A crise…, 2017, p. 26.;
Princípios… 1995. p. 175-178;
409 VICENTE, Dário Moura. A crise…, 2017; FUCCI, Frederick R. Hardship… 2006. p. 26.;
183; GLITZ, Frederico Eduardo Z. Contrato e sua conservação... 2008, p. 155-167; MARTINS-
COSTA, Judith. A cláusula… 2010, p. 24.
411 Neste sentido: PINHEIRO, Luis de Lima. Direito Comercial…, 2005. p. 173; GIRSBERGER,
412 Neste sentido coloca LIMA PINHEIRO, ao tratar da cláusula de força maior (Cfr: PINHEIRO,
Luís de Lima. Direito Comercial…, 2005. p. 212); A mais, assim decorre porque em tais cláusulas
há grande margem de atuação das partes (Neste sentido; GLITZ, Frederico Eduardo Z. O
contrato…, 2008, p. 167).
413 Cfr. ICC Hardship Clause 2003, Paris, 2003.
414 [1]. A party to a contract is bound to perform its contractual duties even if events have rendered
performance more onerous than could reasonably have been anticipated at the time of the
conclusion of the contract. [2]. Notwithstanding paragraph 1 of this Clause, where a party to a
contract proves that: a) the continued performance of its contractual duties has become
excessively onerous due to an event beyond its reasonable control which it could not reasonably
have been expected to have taken into account at the time of the conclusion of the contract; and
that b) it could not reasonably have avoided or overcome the event or its consequence, the parties
are bound, within a reasonable time of the invocation of this Clause, to negotiate alternative
contractual terms which reasonably allow for the consequences of the event. [3]. Where
paragraph 2 of this Clause applies, but where alternative contractual terms which reasonably
allow for the consequences of the event are not agreed by the other party to the contract as
provided in that paragraph, the party invoking this Clause is entitled to termination of the contract.
Disponível em:
http://www.derecho.uba.ar/internacio//nales/competencia_arbitraje_iic_force_majeure_and_har
dship_clauses_2003.pdf.
99
p. 161.
417 Nestes termos consta nos comentários da cláusula da ICC «not reasonably have been
expected». ICC – International Chamber of Commerce. ICC, Force Majeure Clause 2003. ICC
Hardship Clause 2003. Paris ICC Publishing 2003. p. . Importa, mais uma vez referir, que não
está em causa aqui as aspirações subjetivas dos contratantes para definir o que é inesperado
para o contrato.
418 A respeito dos eventos refere: GRANZIERA, Maria Luiza Machado. Contratos
Internacionais…1993, p. 78 e ss.
100
base contratual. A interpretação assim decorre por duas razões: i) nos contratos
paritários, em que o princípio da equivalência entre prestações está subjacente,
é fundamental que haja equilíbrio entre prestação e contraprestação 419, e, ao se
tornar uma das prestações excessivamente onerosa no decorrer da execução
contratual, vislumbra-se a ocorrência de um desequilíbrio superveniente na base
do contrato, a qual comporta as circunstâncias fundamentais, essenciais, do
contrato; ii) também porque a cláusula-tipo da Câmara do Comércio
Internacional reflete o que está subjacente aos Princípios UNIDROIT e ao artigo
1467 do Código Civil italiano420, eis que fora nestes instrumentos inspirada421.
Relativamente ao que se deve considerar como sendo excessiva
onerosidade para o cumprimento do contrato, o critério para a definição da
alteração causada pelo evento não resta indicado, conforme ocorre com os
Princípios UNIDROIT422. É, entretanto, deixada a definição da excessiva
onerosidade para ser trabalhada à luz do contrato em concreto, podendo ser
estabelecido pelas partes, se assim entenderem, o critério, contratualmente423.
Assim como os Princípios UNIDROIT, a cláusula da CCI não se ocupou
de tratar da natureza do evento a ser considerado424. Entretanto, deve ser o
evento, ou ao menos as consequências prejudiciais deste evento,
supervenientes à conclusão do contrato425. Para além disto, cumpre, o evento
que interfere no seio do contrato e o desequilibra, estar fora do controle da parte,
não podendo ser a ela imputável. Daí porque são considerados para a eficácia
para o cumprimento do contrato. Neste sentido: GLITZ, Frederico Eduardo Z. Contrato e a sua
conservação… 2008, p. 161.
423 GLITZ, Frederico Eduardo Z. Contrato e a sua conservação… 2008, p. 162.
424 GLITZ, Frederico Eduardo Z. Contrato e a sua conservação…, 2008, p. 163.
425 Segundo os comentários da cláusula modelo da CCI, a menção aos eventos que não puderem
426 A respeito dos eventos refere: GRANZIERA, Maria Luiza Machado. Contratos
Internacionais… 1993, p. 78 e ss.
427 GIRSBERGER, Daniel/ZAPOLSKIS, Paulius. Fundamental Alteration… 2012, p. 123 e ss.
428 Referidos pressupostos estão enunciados no nº 2 do modelo de cláusula de hardship
apresentado pela CCI. Cfr. ICC Hardship Clause 2003, Paris, 2003.; Cfr ainda: VICENTE, Dário
Moura. A crise…, 2017, p. 23.
429 VICENTE, Dário Moura. A crise…, 2017, p. 17.
430 Referem dever ser a renegociação em razão da cláusula de hardship à luz do princípio da
boa-fé: GLITZ, Contrato e sua conservação… 2008, p. 155, nota 579; PRADO, Novas
Perspectivas…, 2004, p 48; MONTEIRO, António Pinto /GOMES, Júlio. A «Hardship Clause»…,
1998, p. 22. Sobre a cláusula de hardship, cfr: CORDEIRO-MOSS, Giuditta. Boilerplate…, 2011.
p. 122 e ss; 175 e ss; 263; 326; 341; 367.; PINHEIRO, Luís de Lima. Estudos de Direito Comercial
Internacional. Vol. I, Almedina: Coimbra, 2004, ISBN 97897204021485; VICENTE, Dário Moura.
A crise…, 2017, p. 17.
431 VICENTE, Dário Moura. A crise…, 2017, p. 23; PINHEIRO, Luis de Lima. Direito Comercial…,
2005. p. 221.; GLITZ, Frederico Eduardo Z. Contrato e sua conservação… 2008, p. 170; ICC
Hardship Clause 2003, Paris, 2003.
432 PRADO, Maurício de Almeida. Novas Perspectivas…, 2004 p 48; MONTEIRO, António Pinto
adaptação (em que às partes é imposto o dever de renegociar o contrato), podem as cláusulas
de hardship assumir o formato de cláusulas de indexação ou de revisão automática. Nestes
casos, diferentemente do que trazem os instrumentos internacionais, a modificação do contrato
que destas resultam ocorrerá de forma automática, evitando, desde modo a necessidade de
recurso aos tribunais. Cfr: PINHEIRO, Luís de Lima. Cláusulas típicas… 2004, p. 247-255.
442 MARTINS-COSTA, Judith. A cláusula…, 2010, p. 20.
104
Eduardo Z. Contrato e sua conservação…, 2008, p. 137 e ss.; COSTA, José Augusto
Fontoura/NUSDEO, Ana Maria de Oliveira. As cláusulas…, 1995, p. 77.
451 GLITZ, Frederico Eduardo Z. O contrato e sua conservação… 2008, p. 179 e ss.
452 GLITZ, Frederico Eduardo Z. O contrato e sua conservação… 2008, p. 149 e ss.
106
453 MOSER, Luiz Gustavo Meira. A cláusula…p. 5; OLIVEIRA, Fernando Baptista de. Contratos
Privados…2015. p. 340 e ss.
454 GLITZ, Frederico Eduardo Z. Os contratos …, 2008, p. 154.
455 ASCENSÃO, José de Oliveira. O Direito: Introdução e Teoria Geral. 13ª ed. Coimbra:
ao decidir terá de se preocupar apenas com o caso que lhe é trazido, sem, no entanto, ter de
ponderar a necessidade de adotar a mesma decisão para caso que, mais tarde, venha a ter de
decidir (Cfr: CORDEIRO, António Menezes. A decisão segundo a equidade. In: O Direito. a. 122,
v. 2, p. 261-280, 1990. p. 267. CORDEIRO, António Menezes. Tratado… , 2012, p. 598-560).
Quando oportunizado recurso à equidade como critério de decisão à luz das circunstâncias do
caso deverá, o julgador, solucionará a problemática de forma bastante particular e com o intuito
de chegar ao mais próximo do que seria a justiça para a situação em voga (Cfr: VICENTE, Dário
Moura. Direito Comparado..., 2015, p. 139-142). Especialmente porque a equidade se trata de
uma «régua maleável» e não rígida como a norma positivada (Cfr: ASCENSÃO, José de Oliveira.
O Direito..., 2005, p. 246). no âmbito da decisão que deverá ser tomada pelo julgador em razão
de hardship, caberá ao tribunal, ao decidir fundado na equidade, considerar o contrato real, fruto
da autonomia privada das partes e ainda, aquilo que ele deveria ser diante das circunstâncias
alteradas. Aquando da decisão deverá fazer um cotejo entre as duas situações referidas para
definir o que prevalecerá, se o contrato modificado ou a extinção da relação contratual. Ainda, a
decisão deverá se dar de modo a não contundir com o princípio da boa-fé, eis que este é princípio
que norteia as relações negociais internacionais. Também, deverá ser feita de forma a se tentar
reaver a equivalência entre as prestações. Por esta razão não está em cogitação, através da
modificação que porventura vier a se operar pelo tribunal, possibilitar que a parte lesada venha
realizar as mais-valias que previa e que poderiam ter sido computadas no caso de não ter se
operado situação de hardship. E, por esta mesma razão, quando se operar a modificação a parte
lesada sempre sofrerá algum prejuízo ou, ao menos, um não-lucro. (Cfr: Neste sentido
MENEZES CORDEIRO, ao falar da equidade no âmbito da alteração das circunstâncias.
CORDEIRO, António Menezes. Da boa fé... 2015, p. 1105-1106 e ss). No entanto, no caso de
ter o contrato perdido a sua razão de ser porque não era mais possível reaver o equilíbrio
contratual, a resolução contratual será a medida a se impor (Cfr: COSTA, Mário Júlio de Almeida,
Direito..., 2009, p. 348-349). Sobretudo, porque o que se pretende ao admitir a intervenção de
um terceiro no âmbito de um contrato internacional é a individualização da justiça do caso
concreto. Todavia, assim não deverá decorrer quando dela resultar uma injustiça ainda maior do
que àquela que adviria com a revisão contratual (Também neste sentido pondera MENEZES
CORDEIRO ao tratar da equidade no âmbito da alteração das circunstâncias no direito
português. CORDEIRO, António Menezes. Tratado… v. IX, 2017, p. 567).
107
458 MOSER, Luiz Gustavo Meira. A cláusula… p. 5-6; OLIVEIRA, Fernando Baptista de. Contratos
Privados…, 2015. p. 340 e ss.
459 COSTA, José Augusto Fontoura /NUSDEO, Ana Maria de Oliveira. As cláusulas…, 1995, p.
87.
460 MARTINS-COSTA, Judith. A cláusula… 2010. p. 18.
461 MOSER, Luiz Gustavo Meira. A cláusula…, p. 5-6. OLIVEIRA, Fernando Baptista de.
estado de fato, no sentido de «estar de boa-fé», situação esta que, por antinomia,
viria a ser tratada como má-fé. Contudo aponta, de forma concomitante, para:
PARTE III
A CLÁUSULAS DE HARDSHIP E OS DIREITOS NACIONAIS
468 Para mais notas sobre a cláusula de hardship, confrontar: FUCCI, Frederick R. Hardship…
2006, p. 02-11.
469 GLITZ, Frederico Eduardo Z. Contrato e sua conservação… 2008, p. 157. Também referindo
que sendo o contrato silente no que toca previsões para as partes no caso de hardship, havendo
alteração fundamental das circunstâncias que fundaram a contratação, será a questão submetida
a lei a que se submete o contrato: FUCCI, Frederick R. Hardship… 2006, p. 11.
111
470 Acerca dos países que integram a família do Common Law, refere, Dário Moura Vicente:
«Assim, compreende-se nela, na Europa, o Direito vigente na Inglaterra, no País de Gales, na
Irlanda do Norte e na República da Irlanda (o Direito escocês, como se verá adiante, não
pertence a esta família jurídica, visto que constituiu um sistema hibrido); na América, o Direito
dos Estados Unidos (à exceção do da Luisiana) e do Canadá (salvo o da província do
Quebeque); na Oceânia, o da Austrália e o da Nova Zelândia; e em África, os Direitos da Nigéria,
do Gana, da Tanzânia, do Quênia, do Uganda e da Libéria. Na Ásia, há países, como a Índia, o
Paquistão e Israel, cujos sistemas jurídicos são fortemente tributários do Common Law inglês;
mas, como veremos adiante, não se integram nesta família jurídica, antes constituem igualmente
sistemas híbridos, dada a relevância fundamental que assumiram na sua formação os Direitos
religiosos (respectivamente o hindu, o muçulmano e o judaico) observados pelas populações
locais.» VICENTE, Dário Moura. Direito Comparado..., 2015. p. 228-229.
471 Cfr: VICENTE, Dário Moura. O lugar…, 2012. p. 19 e ss; p. 39 e ss; VICENTE, Dário Moura.
Direito Comparado…, 2015, p. 93-216, 225 e ss; Acerca dos princípios que estão subjacentes a
estes sistemas jurídicos, os quais são considerados como princípios de Direito justo, cfr:
LARENZ, Karl. O Derecho…; TAVARES, Ana Lúcia de Lyra. Identidade do sistema jurídico
brasileiro, recepções de direito e função do direito comparado. In: Revista Brasileira de Direito
Comparado. 2009. p. 59 e ss (p.70); CORDEIRO, António Barreto Menezes. Do Trust… 2014, p.
112
59 e 195-196 e CORDEIRO, António Menezes Barreto. Direito Inglês… 2017, p. 31; HILLMAN,
Robert A. Principles…2004, p. 12 e ss; ASCENSÃO, José Oliveira. Interpretação…, p. 913-941;
TIMM, Luciano Benetti. Common Law…2012, p. 532.
472 Não se está a tratar das relações que possam vir a ser firmadas com consumidores, eis que,
Interpretação das leis, integração das lacunas, aplicação do princípio da analogia. Disponível
em: https://portal.oa.pt/upl/%7B0a2c7ef5-b0a3-449f-bee8-88db3fc0335f%7D.pdf; p. 913-941.
113
476 Neste sentido se coloca: MONTEIRO, António Pinto. A «Hardship Clause»…, 1998, p. 19 e
ss.
477 COSTA, Direito..., 2009, p. 334-335.
478 TIMM, Luciano Benetti. «A manutenção da relação contratual empresarial internacional de
longa duração: o caso da hardship». 2006, In: Revista trimestral de direito civil: RTDC. Vol 7, n
27, p. 235-245, (jul/set 2006) Rio de Janeiro, Padma, p. 235 e ss.
479 Relata António Pinto Monteiro que a Revolução de 25 de Abril de 1974, embora as evidentes
repercussões na vida económica, não fora considerada pela jurisprudência portuguesa para fins
de aplicação do regime da alteração das circunstâncias. Ainda, fenómenos como a
nacionalização das empresas ou o encerramento da Bolsa também não foram considerados para
fins de eficácia do regime da alteração das circunstâncias, a despeito de serem situações
utilizadas de exemplos de escola da alteração da chamada «grande base negocial». O que
demonstra inexistir qualquer segurança a respeito das situações que serão consideradas para
fins de aplicação do instituto. Sobretudo porque a interpretação da situação a ser considerada
para tal fim dar-se-á no momento da integração contratual. Neste sentido: MONTEIRO, António
Pinto. A «Hardship Clause»…, 1998, p. 28 e ss.
115
480 Neste sentido: MONTEIRO, António Pinto. A «Hardship Clause»…, 1998, p. 29 e ss; TIMM,
Luciano Benetti. A manutenção… 2006, p. 235 e ss.
481 A situação referida decorrerá nos casos em que as partes não pretenderem, por elas,
promover a renegociação contratual. Eis que, caso queiram, poderão fazê-lo a qualquer tempo.
482 Cfr: VICENTE, Dário Moura. Direito Comparado…, 2017, p. 238 e ss.
483 MONTEIRO, António Pinto. A «Hardship Clause»…, p. 36-38.
116
do Estado484/485. Para além disto, a despeito de, através da previsão legal ficar
demonstrada a preocupação do sistema jurídico português com a complexidade
e justiça social que acompanham a conceção contemporânea do contrato como
instituto jurídico, sobretudo porque a norma positiva traz uma forma de garantir
justa e equilibrada apreciação dos interesses dos contratantes486. Contar apenas
com esta possibilidade pode se mostrar insuficiente para resguardar a justa e
equilibrada apreciação dos interesses económicos do contrato e, por vezes, uma
medida insatisfatória.
Entretanto, por, sobretudo no âmbito empresarial ser o contrato «uma
forma de relacionamento económico e social equilibrado economicamente
(“ganha-ganha”) e não apenas uma relação jurídica ou um acordo de vontades
congelado no tempo do fechamento do negócio487», o que se concebe
contemporaneamente por contrato deve acompanhar a revolução económica.
Ainda, o contrato deve deixar de ser encarado como um vínculo de antítese entre
as partes e passar a ser encarado como um instrumento de cooperação entre os
contratantes para que possam atingir objetivos que tenham em comum 488. Daí
porque é oportuno observar outras soluções, de cunho colaborativo, para os
casos de desequilíbrio superveniente ao contrato, as quais sejam expressão do
exercício da autonomia de ambos os contratantes. Sem se limitar às soluções
legais que prevejam intervenções heterónomas para resolver o problema de
desequilíbrios supervenientes em razão da alteração das circunstâncias.
Nesta linha procede, então, analisar a viabilidade de modelação de
cláusulas de hardship de adaptação à luz dos Princípios UNIDROIT ou da
cláusula-tipo da CCI, consoante especificado anteriormente e doravante referida
de cláusula de hardship.
484 Em sentido contrário coloca FRADA, Manuel Carneiro da. Autonomia Privada e Justiça
Contratual. (p. 239-254). In: Edição Comemorativa do Cinquentenário Código Civil. (p. 239-254).
Universidade Católica Editoria, Lisboa, 2017, ISBN 9789725405741, p. 245 e ss, eis que
considera que a regra trazida pelos artigos 437º e ss do Código Civil realiza o sentido mais
profundo da autonomia privada. Tendo em vista que permite haver o acompanhamento da
vontade das partes às circunstâncias específicas que lhes são concomitantes.
485 Sobre a relação entre a autonomia privada e a heteronomia, cfr: TELLES, Inocêncio Galvão.
489 Neste sentido: CARVALHO, Jorge Morais. Os princípios da autonomia privada e da liberdade
contratual. In: Para Jorge Leite: escritos jurídicos. Vol. II. Coimbra Editora. 2014. p. 99 e ss.
RODRIGUES JUNIOR, Otavio Luiz. Autonomia da vontade, autonomia privada e
autodeterminação: notas sobre a evolução de um conceito na Modernidade e na Pós-
modernidade. In: Revista de Informação legislativa. Brasília, ano 41, nº 163, julho/setembro 2004.
(Separata) p. 117.
490 Neste sentido: CARVALHO, Jorge Morais. Os princípios…, 2014. p. 101 e ss.
491 CORDEIRO, António Menezes. Tratado de Direito Civil. Parte Geral: negócio jurídico. 4ª ed.
de fixar livremente o conteúdo dos contratos, celebrar contratos diferentes dos previstos neste
código ou incluir nestes as cláusulas que lhes aprouver. 2. As partes podem ainda reunir no
mesmo contrato regras de dois ou mais negócios, total ou parcialmente regulados na lei.
495 CARVALHO, Jorge Morais. Os princípios…, 2014. p. 103 e ss.
118
desenvolve-se e afirma-se dentro do seu âmbito (…)». TELLES, Inocêncio Galvão. Manual…,
2002. p. 18 e ss.
498 Cfr: FRADA, Manuel Carneiro da. Autonomia Privada…2017, p. 239 e ss.
499 Neste sentido coloca: VASCONCELOS, Pedro Pais de. Teoria…, 2010, p. 15.
500 ASCENSÃO, José de Oliveira. Direito Civil, Teoria geral: acções e factos jurídicos. Vol. II.
tal dispositivo estatuiu que no momento da interpretação dos negócios jurídicos onerosos deve
prevalecer o sentido “que conduzir a um maior equilíbrio das prestações.” Neste sentido: Neste
sentido coloca: VASCONCELOS, Pedro Pais de. Teoria Geral…, 2010, p. 25-26 e ss.
505 A respeito do papel da boa-fé no Direito, sobretudo no Direito Português, cfr: CORDEIRO,
506 FRADA, Manuel Carneiro da. Autonomia Privada… 2017, p. 241 e ss.
507 Neste sentido coloca OLIVEIRA ASCENSÃO, ao afirmar que para saber se uma norma é
injuntiva ou dispositiva cabe verificar, caso por caso, «se a regra trazida é ou não essencial à
fisionomia do instituto, se pode ou não ser posta de parte sem que se rompa o equilíbrio dos
interesses que foram tidos em conta pelo legislador». ASCENSÃO, José de Oliveira. O Direito…,
2005, p. 521-522. De mais, ensina MENEZES CORDEIRO no que toca a interpretação da lei, o
fazendo em conformidade com o artigo 9º do Código Civil português que diz: «Artigo 9º.
(Interpretação da lei) 1. A interpretação não deve cingir-se à letra da lei, mas reconstituir a partir
dos textos o pensamento legislativo, tendo sobretudo em conta a unidade do sistema jurídico, as
circunstâncias em que a lei foi elaborada e as condições específicas do tempo em que é aplicada.
2. Não pode, porém, ser considerado pelo intérprete o pensamento legislativo que não tenha na
letra da lei um mínimo de correspondência verbal, ainda que imperfeitamente expresso. 3. Na
fixação do sentido e alcance da lei, o intérprete presumirá que o legislador consagrou as soluções
mais acertadas e soube exprimir o seu pensamento em termos adequados». A lei não deve ser
interpretada no sentido literal, imediato, que dela se pode exprimir. Fazê-lo desta forma pode
conduzir a conclusão inadequadas no que toca a intenção legislativa. É necessário ter em
atenção aquando da tarefa interpretativa o que está subjacente ao dispositivo legal e, nesta
medida, verificar as conexões e implicações que apenas poderão ser valoradas em conformidade
com o ordenamento jurídico em seu todo. (CORDEIRO, António Menezes. Tratado… vol I, 2012.
p. 671 e ss).
508 CORDEIRO, Tratado… v. IX, 2017, p. 539 e ss.; CORDEIRO, Direito das obrigações. 1. p.
73; JORGE, Fernando Pessoa. Direito das obrigações. 1972. p. 196 e ss..
509 Neste sentido: MONTEIRO, António Pinto. GOMES, Júlio. A «Hardship Clause»…, 1998, p.
34. Também entendendo que os artigos 437º e seguintes do Código Civil devem ter caráter
supletivo: Neste sentido: CORDEIRO, António Menezes. Da boa fé..., 2015, p. 1107;
CORDEIRO, António Menezes. Tratado... v. IX, 2017, p. 539 e 560; LEITÃO, Luís Manuel Teles
de Menezes. Direito... vol. II, 2017, p. 130-131; TELLES, Inocêncio Galvão. Manual dos… 2002,
p. 349.
121
512 Em sentido contrário: FRADA, Manuel Carneiro da. Autonomia Privada…2017, p. 241 e ss.
513 CORDEIRO, António Menezes. Tratado… v. IX, 2017, p. 539 e ss.; PINHEIRO, Luís de Lima.
Direito Comercial…, 2005, p. 240 e ss.
514 Neste sentido cfr: ARAÚJO, Fernando. Teoria económica…, 2007, p. 625 e ss. Ainda sobre a
análise económica do direito, cfr: CALABRESI, Guido / MELAMED, A. Douglas. Property Rules,
Liability rules, and inalienability: one view of the cathedral. In: Harvard Law Review, vol. 85, apr
1972, nª 6, (p. 1089-1128), p. 1089 e ss.; COASE, R.H. The Problem of Social Cost. In: The
Jornal of Law and Economics, vol. III, oct. 1960 (p. 1-44), p. 1 e ss.
515 Em sentido contrário, cfr: FRADA, Manuel Carneiro da. Autonomia Privada e Justiça
Contratual. (p. 239-254). In: Edição Comemorativa do Cinquentenário Código Civil. (p. 239-254).
Universidade Católica Editoria, Lisboa, 2017, ISBN 9789725405741, p. 241 e ss,
516 Para além de caber considerar como «azares do destino» acontecimentos de ordem política,
económica, social e outros que podem decorrer e interferir no equilíbrio de um contrato. Cabe
considerar adentro deste domínio a interpretação que vier a dar um tribunal, na pessoa de seu
julgador, para as situações que possam provocar a eficácia da norma positiva constante do
Código Civil português (artigos 437º e ss). Conforme já referido nesta mesma investigação.
517 CORDEIRO, António Menezes. Tratado… v. IX, 2017, p. 541.
123
518 MONTEIRO, António Pinto. GOMES, Júlio. A «Hardship Clause»…, 1998, p. 36-38.
519 Podem, por exemplo, os contratantes determinarem que a renegociação deverá se dar
através de mediação. A mediação para além de ter menores custos, dá oportunidade as partes
de, com a ajuda de um facilitador profissional, chegarem a uma solução ao problema que lhes
acometeu. Nesta medida, acaba dando vazão a acordos mais satisfatórios e preserva o bom
relacionamento das partes envolvidas.
520 CORDEIRO, António Menezes. Tratado… v. IX, 2017, p. 542.
124
521 Importa ter em atenção que os contratos, uma vez válidos e eficazes, tornam-se vinculativos
as partes contratantes e, nesta medida, as partes ficam vinculadas aos efeitos nele previstos.
Por assim dizer, as cláusulas que constem em um contrato que válido e eficaz em sua
integralidade, também são vinculativas. Acerca dos efeitos dos contratos, cfr: TELLES, Inocêncio
Galvão. Direito das Obrigações. 1997. Editora Coimbra. 7ª ed. p. 82 e ss.
522 ARTIGO 406º (Eficácia dos contratos) 1. O contrato deve ser pontualmente cumprido, e só
pode modificar-se ou extinguir-se por mútuo consentimento dos contratantes ou nos casos
admitidos por lei. 2. Em relação a terceiros, o contrato só produz efeitos nos casos e termos
especialmente previsto na lei.
523 TELLES, Inocêncio Galvão. Direito… 1997, p. 82 e ss.
524 LEITÃO, Luís Manuel Teles de Menezes. Direito das Obrigações…, vol. II, 2017, p. 138 e ss.
525 CORDEIRO, António Menezes. Tratado… v. IX, 2017. p. 540 e ss.
125
sido cumprido de forma inexata ou incumprido. Neste sentido coloca o artigo 799º do Código
Civil, o qual coloca: «(Presunção de culpa e apreciação desta) 1. Incumbe ao devedor provar
que a falta de cumprimento ou o cumprimento defeituoso da obrigação não procede de culpa
sua. 2. A culpa é apreciada nos termos aplicáveis à responsabilidade civil». Ainda neste sentido,
cfr: LEITÃO, Luís Manuel Teles. Direito das Obrigações… vol. II, 2017, p. 138 e ss.; Para outras
notas sobre o cumprimento das obrigações, cfr: CORDEIRO, António Menezes. Tratado… v. IX,
2017.
533 Sobre a possibilidade de responsabilização civil pelo incumprimento, cfr: TELLES, Direito…,
1997, p. 135 e ss; LEITÃO, Luís Manuel Teles de Menezes. Direito das Obrigações… vol. II,
2017, p. 141 e ss.
534 Cfr: PINHEIRO, Luís de Lima. Direito Comercial…, 2005, p. 240 e ss.; Sobre a execução
específica e reparação por perdas e danos, confrontar: VICENTE, Dário Moura. Direito
Comparado…, 2017, p. 276-282.
535 MARTINS-COSTA, Judith. A cláusula…, 2010, p. 28 e ss.
536 Conforme sobredito este é um ponto controverso frente a sistemática jurídica portuguesa. Isto
porque não há unanimidade no que toca a possibilidade de derrogação da regra dos artigos 437º
a 439º do Código Civil. Há forte corrente que manifesta a impossibilidade de derrogação
completa da regra da alteração das circunstâncias, assumindo, então, esta regra uma
imperatividade subsidiária. Pelo que, em um caso como o referido não ficariam as partes sem
solução a ser vislumbrada pelos tribunais. Neste sentido, cfr: FRADA, Manuel Carneiro da.
Autonomia Privada… 2017, p. 239-254.
127
que compõem o sistema para resolver eventuais injustiças que poderão vir a ser
ocasionadas com a manutenção do contrato desequilibrado de forma
superveniente537.
537 Nestes termos coloca MARTINS-COSTA, Judith. A cláusula…, 2010, p. 28, 33-34, ao referir
sobre o sistema jurídico brasileiro.
538 Embora algumas soluções possam ser aplicadas também com relação as relações de
539 Neste sentido trata MARTINS-COSTA ao fazer uma introdução geral as diretrizes da
sistemática adota pelo Código Civil brasileiro de 2002. Cfr: MARTINS-COSTA, Judith.
Comentários…2009, p. 1-76.
540 Acerca da aferição da existência e validade dos negócios jurídicos frente ao Direito brasileiro,
Atlas. p. 7 e ss. Também neste sentido: MELO, Leonardo Machado de. Princípios do direito
contratual: autonomia privada, relatividade, força obrigatória, consensualismo. (p. 67-96) In:
Teoria Geral dos Contratos. coord. LOTUFO e NANNI. Editora Atlas: São Paulo. 2011. p. 78 e
ss.
543 MELO, Leonardo Machado de. Princípios…, 2011. p. 82.
544 SIMÃO, José Fernando. Direito Civil…, 2006, p. 7 e ss. MELO, Leonardo Machado de.
Princípios…, 2011. p. 78 e ss
129
pública, conforme coloca o parágrafo único do artigo 2.035 do Código Civil (Parágrafo único.
«Nenhuma convenção prevalecerá se contrariar preceitos de ordem pública, tais como os
estabelecidos por este Código para assegurar a função social da propriedade e dos contratos»).
Nesta medida não poderá ser afastado por vontade das partes. TARTUCE, Flávio. A função
social dos contratos. 2005. p. 201. A função social do contrato detém função em dois momentos.
Relativamente as partes de um contrato. Assim como, na relação dos contratantes com terceiros.
Com relação aos contratantes a função social representa a justiça interna do contrato. Assim
sendo, as cláusulas iniquas ou abusivas são contrárias a função social do contrato e por isto
podem ser consideradas nulas. Isto tendo em conta que estas cláusulas contrárias à função
social do contrato, desvirtuam o fim a que o contrato se presta, qual seja, de oportunizar a
circulação de riquezas e o alcance de fins comuns aos contratantes. Considera a função social
como um delimitador do exercício da autonomia privada e da liberdade contratual: NEGREIROS,
Teresa. Teoria do Contrato: novos paradigmas. Editora Renovar. Rio de Janeiro. 2002. p. 205 e
ss.
550 Artigo 421. «A liberdade de contratar será exercida em razão e nos limites da função social
do contrato.»
551 Artigo 422. «Os contratantes são obrigados a guardar, assim na conclusão do contrato, como
552 A teoria contemporânea do Direito dos contratos consagrou princípios que são considerados
princípios sociais. Estes, o a boa-fé objetiva, equilíbrio económico do contrato e função social do
contrato, acabaram assumindo o papel de relativizar os princípios contratuais tradicionais, diga-
se, os quais não foram afastados da sistemática jurídico, a despeito de haver mitigação. Neste
sentido, cfr: LOTUFO, Renan. Teoria Geral dos Contratos. In: Teoria Geral dos Contrato. IDP –
Instituto de Direito Privado. Editora: Atlas. São Paulo. 2011. p.1-21.
553 A fazer menção sobre os princípios que integram a teoria contratual contemporânea do Direito
entre as posições económicas dos contratantes mesmo quando este vier a ser
afetado de forma superveniente. Agir deste modo é garantir a justiça no seio dos
contratos.558
Outrossim, deste modo não se estará por olvidar que o contrato deve
respeitar tanto as partes contraentes, como também as condicionantes sociais
que o envolvem e o afetam. Situação que se perfaz em conformidade com o
princípio da função social dos contratos (designadamente sua função interna), a
qual se trata da função exercida na ordem econômico-social559.560
Como condicionante do princípio da função social dos contratos
encontra-se a solidariedade561, a qual traz consigo a ideia de haver necessidade
de colaboração entre os contratantes, de respeito pelas partes às situações
jurídicas anteriormente constituídas562. Tudo o que oportuniza uma tal cláusula,
eis que uma alteração superveniente no circunstancialismo do contrato, altera a
situação jurídica que deu causa à sua constituição.
Ademais disto, em virtude da autonomia que as partes detêm, que sedia
o princípio da liberdade contratual e por esta razão a liberdade de modelação e
liberdade de forma, fora consagrada pela Ordem Jurídica brasileira a
possibilidade de as partes celebrarem contratos ditos atípicos. Diga-se, contratos
estes que não constam pormenorizados em lei e, por isto, permite-se à
formulação de cláusulas que as partes entendam pertinentes à integrarem seus
contratos. Tal permissão consta do artigo 425 do Código Civil de 2002 e se
perfaz, do mesmo modo, como fundamento para a negociação de cláusulas de
hardship563.
Noutro diapasão, no Direito brasileiro não se pode considerar que a regra
trazida pelo instituto da onerosidade excessiva superveniente se trata de regra
imperativa. De início, porque no âmbito contratual há prevalência da vontade das
social dos contratos. Cfr: NEGREIROS, Teresa. Teoria…, 2002. p. 205 e ss.
562 NEGREIROS, Teresa. Teoria…, 2002. p. 205 e ss.
563 Neste sentido: COSTA, José Augusto Fontoura; NUSDEO, Ana Mara de Oliveira. As
cláusual… 1995, p. 77; GAMA JÚNIOR, Lauro. Os Princípios…, p. 48; MOSER, Luiz Gustavo. A
cláusula…; MARTINS-COSTA, Judith. Comentários….2009, p. ; MARTINS-COSTA, A
cláusula… 2010, p. 22.
132
564 MELO, Leonardo Machado de. Princípios…, 2011. p. 85.; GOMES, Orlando.
Contratos…2008, p. 26
565 Neste sentido GOMES, Orlando. Contratos… 2008, p. 26
566 Importa ter em atenção as especificidades, variantes e facetas relativas aos contratos
consumeristas constituídos no domínio do Direito brasileiro. Para tanto cfr: MARQUES, Claudia
Lima. Contratos… 2002. p. 62.
567 Neste sentido GOMES, Orlando. Contratos… 2007, p. 26
568 A respeito da interpretação, qualificação e integração dos contratos, cfr: BENACCHIO,
Marcelo. Interpretação dos contratos. In: Teoria Geral dos contratos. Interpretação dos contratos.
LOTUFO, Renan/NANNI, Giovanni Ettore (coord). IDP – Instituto de Direito Privado. Editora
Atlas: São Paulo. 2011. p. 364 e ss.
133
dão força para a afirmação de não ser a modelação de uma cláusula de hardship
defesa por lei569.
569 Neste sentido: COSTA, José Augusto Fontoura; NUSDEO, Ana Mara de Oliveira. As
cláusual… 1995, p. 77; GAMA JÚNIOR, Lauro. Os Princípios… p. 48; MOSER, Luiz Gustavo. A
cláusula…; MARTINS-COSTA, Judith. Comentários…. 2009, p. ; MARTINS-COSTA, A
cláusula… 2010, p. 22.
570 Vide o que fora dito a respeito da extraordinariedade e imprevisibilidade do evento
573 Neste sentido coloca: CORDEIRO, António Menezes. Tratado… v. IX, 2017. p. 541.
574 MARTINS-COSTA, Judith. A cláusula…, 2010, p. 24.
135
575 Por se tratar de uma obrigação de fazer incide, neste tocante, a legislação processual atinente
a execução. Neste sentido: MARTINS-COSTA, Judith. A cláusula…, 2010, p. 31.
576 Neste sentido, leia-se, reuniões físicas/presenciais ou não. Nesta medida podem as tratativas
cláusula…, 2010, p. 28, 33-34; VELOSO, Sílvia Mechelany / CATEB, Alexandre Bueno. Análise
económica do inadimplemento contratual oportunista versus o inadimplemento eficiente (eficient
breach). In: Revista da Associação Mineira de Direito e Economia. (p. 18-44) Disponível em:
www.revista.amde.org.br/index.php/ramde/article/download/197/pdf
582 Tal se pode notar dos dizeres de: FARIAS, Cristiano Chaves de; ROSENVALD, Nelson.
Direito... 2011, p. 621; AGUIAR JUNIOR, Ruy de. Comentários... 2011, p. 925-926; «Enunciado
nº 367: Art. 479. Em observância ao princípio da conservação do contrato, nas ações que tenham
por objeto a resolução do pacto por excessiva onerosidade, pode o juiz modificá-lo
equitativamente, desde que ouvida a parte autora, respeitada a sua vontade e observado o
contraditório.» CONSELHO de Justiça Federal. IV Jornada de Direito Civil. Enunciado nº 367.
[Em linha] Disponível em: http://www.cjf.jus.br/enunciados/enunciado/488, acesso em: 05 de
Janeiro de 2018.
583 MARTINS-COSTA, Judith. A cláusula…, 2010, p. 28 e ss.
584 MARTINS-COSTA, Judith. A cláusula…, 2010, p. 28 e ss.
137
se caracteriza não apenas pelo retardo da prestação, mas pela dissintonia em prestar da forma
devida, ou seja, da forma que prevê o contrato. Sendo assim, haverá dissintonia quando o
contrato prevê a renegociação, por meio de uma cláusula de hardship, e há recusa injustificada,
protelação ou emprego de artimanhas para adiar as reuniões ou delas se esquivar. A mora
poderá se transformar em inadimplemento definitivo se a prestação, por causa da mora, perder
a utilidade para o credor (art. 395 do Código Civil), cabendo neste último caso a resolução do
contrato por inadimplemento. E mais, em ambos os casos, tanto de mora quanto de
inadimplemento definitivo, caberá indenização por perdas e danos. Neste sentido leciona:
MARTINS-COSTA, Judith. A cláusula…, 2010, p. 34.
587 MARTINS-COSTA, Judith. A cláusula…, 2010, p. 28, 33-34.
138
588 CORDEIRO, António Menezes Barreto. Direito Inglês…, 2017, p. 36-37; VICENTE, Dário
Moura. Direito Comparado. 2015. p. 260.
589 Neste sentido coloca: HILMMAN, Robert A. Principles…, p. 306-307.
590 Sobre a sistematização dos implied terms em: i) terms implied by statute; ii) terms implied by
custom; iii) terms implied at Common Law; iv) terms implied by law; iv) terms implied by fact, cfr:
CORDEIRO, António Menezes Barreto. Direito Inglês…, 2017, p. 36-37; VICENTE, Dário Moura.
Direito Comparado…, 2015. p. 93 e ss.
139
implícitas por força da lei» (terms implied in law), as quais podem ser resultantes de disposições
legais ou de precedentes judiciais. Entretanto, tem alcance muito mais estrito do que a integração
que decorre com recurso a lei dos países romanistas. VICENTE, Dário Moura. Direito
Comparado…, 2017, p. 149 e ss.
140
596 PARADINE v. Jane. [1647] EWHC KB J5, (1647) Aleyn 26, [1658] EngR 486, (1658) Sty 47,
(1658) 82 ER 519 (C).
597 A respeito do Direito justo, dos valores por trás desta conceção, cfr: LARENZ, Karl. Derecho
Justo…, 1985.
141
598 A respeito da boa fé no Direito inglês, cfr: CORDEIRO, António Menezes Barreto. Direito
Inglês…, 2017, p. 36-37; VICENTE, Dário Moura. Direito Comparado..., 2015. p. 93 e ss.; Ainda
sobre este tema, discorre DIMATTEO, Larry A. / HOGG, Martin. Comparative… 2016, p. 196-209
e 356 e ss, que, pese embora a relutância de o Direito inglês reconhecer a doutrina da boa-fé no
âmbito contratual, há sinal de ter sido esta resistência mitigada através do julgado referente ao
caso YAM Seng Pte Ltd v International Trade Corporation Ltd, (2013 EWHC 111 QB, 2013 1 All
ER Comm 1321. Outrossim, ressalta que esta relutância tem como fundamento a importância de
resguardar a certeza nas relações comerciais e também a intenção de se manter o Direito inglês
com o status do Direito de maior escolha nas relações internacionais.
599 VICENTE, Dário Moura. Direito Comparado…, 2017,
600 HILMMAN, Robert A. Principles…, p. 318-320.
142
principal meio para o enforcement dos contratos será, entretanto, a ação delitual
conhecida como assumpsit.601
Destarte, segundo o referido e que os precedentes ingleses trouxeram a
doutrina da frustration, a qual, muito embora carregue semelhanças com a
doutrina do hardship, mormente quando se está a falar dos requisitos
necessários à incidência, não encontra correspondência integral com esta, assim
como com relação aos efeitos jurídicos que hão de se produzir, fazendo-se
referência às considerações lançadas na Parte I deste trabalho, a respeito da
diferença entre os conceitos de frustration e hardship. Quando aos contratos
entre privados se aplique o Direito inglês e queiram as partes se precaver dos
efeitos nocivos que alterações supervenientes das circunstâncias podem causar
no equilíbrio do contrato, para além de ser válida e eficaz, a negociação de
cláusulas de hardship (de adaptação) é recomendável. De mais, disto se extrai
a razão de os contratos modelados de modo a permitir a incidência desta ordem
jurídica serem, em termos de conteúdo e repartição de riscos, bastante mais
pormenorizados.602
rules, cfr: AYRES, Ian; GERTNER, Robert. Filling Gaps…, 1989-1990, p. 87-130, p. 87 e ss.
144
608 Cfr: VICENTE, Dário Moura. Direito Comparado…, 2017, p. 326-327.; sobre a não
vinculatividade dos restatements, cfr: TIMM, Luciano Benetti. Common Law…, 2012, p. 560;
FRANSWORTH, E. Allan. Contracts… 2004, p. 619;
609 TIMM, Luciano Benetti. Common Law…, 2012, p. 535.
610 Nos EUA verifica-se uma forte corrente que atribui bastante importância a análise económica
do direito. Não obstante a análise económica do direito possa contribuir de forma auxiliar ao
Direito, não pode ser capaz de reduzir o direito a um complexo de normas e esquecer da base
ética e axiológica do direito. Para além da economia, há exigências de outras naturezas que
devem ser observadas, como o Direito. Diga-se mais, não é a realidade económica que conduz
o Direito, e o Direito que deve conduzi-la. Neste sentido, cfr: VICENTE, Dário Moura. Direito
Comparado…, 2017, p. 334-338; A respeito do Direito justo, do papel dos princípios em uma
ordem jurídica, cfr: LARENZ, Karl. Derecho Justo…, 1985.
145
617 Os países do Common Law são bastante mais permissivos no que toca a modelação de
cláusulas desta natureza. Eis que a autonomia privada, conforme dito, é a trave mestra destes
e, por isto, tem imensa vazão.
148
618 Neste sentido coloca VICENTE, Dário Moura. Direito Comparado…, 2015, p. 481 e ss, ao
tratar da interação dos sistemas jurídicos.
619 A falar de fenómenos de interação entre sistemas jurídicos: VICENTE, Dário Moura. O lugar…
2012, p. 15 e ss.
620 A falar de fenómenos de interação entre sistemas jurídicos: VICENTE, Dário Moura. O lugar…
2012, p. 15 e ss; VICENTE, Dário Moura. Direito Comparado…, 2015, p. 519 e ss.
621 O pluralismo jurídico, para além de ser verificável de forma macro, pode também ser visto
dentro das próprias famílias jurídicas, eis que dentro das próprias famílias jurídicas existem
escolhas de soluções jurídicas distintas. «No sentido mais geral, portanto, a ideia de pluralismo
jurídico reflete a existência, em dado campo social, de mais de um conjunto de regras
obrigatórias. Este termo pode ser compreendido de duas formas: (i) como arranjo pelo qual o
151
sistema jurídico convive com a diversidade (reconhecendo-a e atribuindo-a regras distintas) e (ii)
no sentido de “heterogeneidade normativa”, a qual estaria submetido o indivíduo, em que o
Direito não encontra suas fontes em um único sistema, mas também em autorregulações de
vários campos sociais que podem: ajudar-se, complementar-se, ignorar-se ou frustrar-se
mutuamente.» De mais, podem as regras serem legisladas ou serem normas para além da lei.
GLITZ, Frederico. Contrato, Globalização e Lex Mercatoria. São Paulo. Clássica Editora. 2014.
p. 35 e ss e 53.
622 GLITZ, Frederico Eduardo Z. Contrato e sua conservação… p. 157. Também referindo que
sendo o contrato silente no que toca previsões para as partes no caso de hardship, havendo
alteração fundamental das circunstâncias que fundaram a contratação, será a questão submetida
a lei a que se submete o contrato: FUCCI, Frederick R. Hardship… 2006, p. 11.
152
623 Neste sentido: VICENTE, Dário Moura. A autonomia privada… 2016, p. 277-305.
153
624 Cfr: CORDEIRO, António Menezes Barreto. Direito inglês…, 2017, p. 36-37; VICENTE, Dário
Moura. Direito Comparado…, 2015, p. 260.; CORDEIRO-MOSS, Guiditta. Boilerplate… 2011, p.
278 e ss; PARADINE v. Jane. [1647] EWHC KB J5, (1647) Aleyn 26, [1658] EngR 486, (1658)
Sty 47, (1658) 82 ER 519 (C); VICENTE, Dário Moura. Direito…2017, p. 248 e ss.; HILMMAN,
Robert A. Principles…2004, p. 306-317; NEGREIROS, Teresa. Teoria… 2002. p. 24 e ss.
625 CORDEIRO, António Menezes Barreto. Direito… 2017, p. 260.
626 Cfr: CORDEIRO, António Menezes Barreto. Direito…2017, p. 36-37.
627 Cfr: CORDEIRO, António Menezes Barreto. Direito… 2017, p. 36-37; VICENTE, Dário Moura.
possa prever os efeitos das suas condutas e organizar suas vidas e decisões de
acordo com esta previsibilidade possível. Daí porque a estruturação se dar por
uma mínima interferência do Estado no seio privado assim evitam-se máculas
ou desvirtuações nas decisões dos particulares628.
Para além de a autonomia privada para o exercício da modelação de
cláusulas de hardship de adaptação não sofrer delimitações pelos outros
princípios subjacentes ao sistema, também não é o caso de delimitações
decorrerem a partir de regras injuntivas neste tocante. Certo é que no contexto
jurídico inglês, para operar no domínio dos contratos, existem as cláusulas
implícitas, chamadas de terms implied, as quais compreendem os terms implied
by law, que, por sua vez, podem ter uma origem legal (implied terms by law –
statute -), costumeira (terms implied by custom) ou jurisprudencial (terms implied
by common law). De mais, que estes, ao serem comparados ao imaginário
jurídico romanista, encontram correspondência às regras supletivas, e nesta
medida se prestam a integrar contratos lacunosos em algumas hipóteses.
Contudo, a estes, apenas em casos bastante específicos e de forma expressa,
é atribuído caráter injuntivo, o que não é o caso do conceito de frustration of
purpose.629
Nos Estados Unidos da América, também é dada ampla expressão ao
princípio da autonomia privada e escassas são as delimitações que o exercício
desta autonomia sofre frente a este contexto. A ampla liberdade encontra
justificativa nos ensinamentos decorrentes dos princípios do «sanctity of
contracts», «freedom of contract» e também do princípio da atipicidade
contratual. Especialmente porque o princípio do «freedom of contract» garante
às partes grande liberdade de celebração e estipulação das cláusulas a constar
em seus contratos, o que é corroborado pelo segundo princípio, eis que, ao não
haver contratos-tipo, também chamados de contratos nominados, resta
garantida a liberdade que os contratantes têm em acertar os termos de suas
relações.630
635 Cfr: CARVALHO, Jorge Morais. Os princípios…2014, p. 103 e ss; CORDEIRO, António
Menezes. Tratado… v. II, 2017, p. 39 e ss.; LEITÃO, Luís Manuel Teles de Menezes. Direito…
vol I, 2017, p. 21 e ss.
636 Cfr: VASCONCELOS, Pedro Pais de. Teoria…2010, p. 15 e 25 e ss; TELLES, Inocêncio
António Menezes. Da boa fé… 2015, p. 1107; CORDEIRO, António Menezes. Tratado… v. IX,
2017, p. 539 e 560; LEITÃO, Luís Manuel Teles de Menezes. Direito…, vol. II, 2017, p. 130-131
e ss; VASCONCELOS, Pedro Pais de. Teoria Geral…2010, p. 15 e 25 e ss; TELLES, Inocêncio
Galvão. Manual…, 2002, p. 18 e ss.; ASCENSÃO, José de Oliveira. Direito Civil…1999, p. 78 e
ss; VICENTE, Dário Moura. Direito Comparado, vol I e II, 2015 e 2017; ASCENSÃO, José de
Oliveira. O Direito…, 2005, p. 521-522; CORDEIRO, António Menezes. Tratado de Direito Civil
157
: introdução, fontes de direito, interpretação da lei, aplicação das leis no tempo, doutrina geral.
4ª ed. Coimbra, Almedina, 2012. v. I, p. 671 e ss; MONTEIRO, António Pinto. GOMES, Júlio – A
«hardship clause»… 1998, p. 34.
638 Cfr: MARTINS-COSTA, Judith. A cláusula… 2010, p. 22; SIMÃO, José Fernando. Direito
e ss, 154 e ss, 205 e ss; FARIAS, Cristiano Chaves de / ROSENVALD, Nelson. Direito…2011,
p. 622 e ss; MARTINS-COSTA, Judith. Contratos… 2011, p. 48 e ss; MELO, Leonardo Machado
de. Princípios…2011, p. 85 e ss; GOMES, Orlando. Contratos… 2008, p. 26 e ss.
640 SIMÃO, José Fernando. Direito…2006, p. 7 e ss; NEGREIROS, Teresa. Teoria… 2002, p. 24
e ss, 154 e ss, 205 e ss; FARIAS, Cristiano Chaves de / ROSENVALD, Nelson. Direito… 2011,
p. 622 e ss; MARTINS-COSTA, Judith. Contratos… 2011, p. 48 e ss; MELO, Leonardo Machado
de. Princípios…2011, p. 85 e ss; GOMES, Orlando. Contratos…2008, p. 26 e ss.
158
643 VICENTE, Dário Moura. Direito Comparado…, 2017, p. 280 e ss; SILVA, João Calvão da.
Cumprimento e Sanção Pecuniária Compulsória. Coimbra, 1987. p. 190 e ss;
644 SILVA, João Calvão da. Cumprimento…1987. p. 140 e ss.; 184 e ss.; TELLES, Inocêncio
Galvão. Direito…, 2002, p. 135 e ss; LEITÃO, Luís Manuel de Menezes. Direito… vol. II, 2017,
p. 141 e ss; PINHEIRO, Luís de Lima. Direito…2005, p. 240 e ss; VICENTE, Dário Moura. Direito
Comparado…2017, p. 276-282. Frente ao contexto jurídico brasileiro poderá o credor, em casos
como este, pedir tanto pela resolução do contrato nos termos do artigo 475 do Código Civil,
quanto o seu cumprimento forçado. Em qualquer caso caberá, entretanto, a indemnização por
perdas e danos.Cfr: SIMÃO, José Fernando. Direito Civil… 2006, p. 84 e ss; MARTINS-COSTA,
Judith. A cláusula… 2010, p. 28, 33-34; VELOSO, Sílvia Mechelany / CATEB, Alexandre Bueno.
Análise económica…
645 Artigos 817º e 798º do Código Civil português, cfr: DECRETO-Lei nº 47 344, de 25 de
novembro de 1966. Código Civil Português. (Actualizado até à Lei 59/99, de 30/06). [Em linha].
Disponível em: <http://www.stj.pt/ficheiros/fpstjptlp/portugal_codigocivil.pdf>. Acesso em: 17 jun.
de 2017.
161
646 HILMMAN, Robert A. Principles… 2004, p. 305 e ss; VICENTE, Dário Moura. Direito
Comparado…, 2017, p. 246 e ss; PINHEIRO, Luís de Lima. Cláusulas…2004, p. 247-255;
RIMKE, Joern. Force majeure… 1999-2000, p. 8; INGLATERRA. Law Reform…, seção 1 (2) e
(3); BARANAUSKASM Egidijus / ZAPOLSKI, Paulius. The effect…2009, p. 201-204.
162
647 HILMMAN, Robert A. Principles… 2004, p. 305 e ss; VICENTE, Dário Moura. Direito
Comparado…, 2017, p. 246 e ss; PINHEIRO, Luís de Lima. Cláusulas típicas…2004, p. 247-255;
RIMKE, Joern. Force majeure…, 1999-2000, p. 8; INGLATERRA. Law Reform;
BARANAUSKASM Egidijus / ZAPOLSKI, Paulius. The effect… 2009, p. 201-204.
648 Cfr: CORDEIRO, António Menezes Barreto. Direito inglês…, 2017, p. 175 e ss; CORDEIRO-
MOSS, Guiditta. Boillerplate…, 2011, p. 278 e ss.; PARADINE v. Jane. [1647] EWHC KB J5,
(1647) Aleyn 26, [1658] EngR 486, (1658) Sty 47, (1658) 82 ER 519 (C); VICENTE, Dário Moura.
Direito Comparado…, 2017 , p. 248 e ss.; GLITZ, Frederico Eduardo Z. Anotações…, 2011. p.
4.; RIMKE, Joern. Force majeure…, 1999-2000, p. 7-8.
649 Cfr: TIMM, Luciano Benetti. Common Law… 2012, p. 560 e ss; RESTATEMENT (Second) of
Justo…, 1985.
164
de leis causais em que se intenta dar efeito para técnicas de resolução dos
problemas sociais, como se estivesse diante de uma espécie de «engenharia
social».657
Relativamente aos requisitos e pressupostos à incidência das regras
legais dos sistemas português e brasileiro, a despeito de disparidades que possa
haver entre os requisitos hábeis a provocar a eficácia das regras legais entre
ambos os contextos jurídicos, fora demonstrado que não representam diferenças
cruciais entre elas. Para além de não haver tais distinções entre as regras
internas destas sistemáticas, também não se vislumbra diferenças significativas
entre os elementos a provocar a eficácia delas e da regra do «hardship» ou das
cláusulas de hardship negociadas de forma a incorporar a teoria do hardship do
comércio internacional. As semelhanças são resultantes sobretudo do fato de
todas estas teorias serem teorias que trouxeram nova roupagem à cláusula
medieval ‘rebus sic stantibus’.
Não obstante, na mencionada teoria não se vislumbrem distinções
cruciais entre os requisitos legais e pressupostos de admissibilidade das
soluções teóricas referidas, o que demonstra prestarem-se a solucionar casos
semelhantes (os casos de desequilíbrios supervenientes que, dado serem
responsáveis por desencadear alterações das circunstâncias, tenham tornado o
cumprimento do contrato excessivamente oneroso para uma das partes). Isto
poderia levar a pensar inexistir grande interesse em negociar, nos contratos
paritários, entre privados, sob a égide destas sistemáticas jurídicas, solução
equivalente às soluções legais, eis que já há solução pelo sistema. A realidade
da prática dos tribunais portugueses e brasileiros nesta seara é de que em um
número escasso de casos se logrou êxito em se ver a aplicação dos regimes
legais, designadamente porque é de difícil reconhecimento a ocorrência dos
requisitos previstos658.
De mais, as soluções legais trazidas pelos sistemas jurídicos português
e brasileiro preveem, mediante a comprovação cumulativa dos elementos à
incidência da norma, a possibilidade de revisão ou resolução do contrato
657 Neste sentido, ao tratar da análise económica do direito no âmbito do Direito norte-americano:
VICENTE, Dário Moura. Direito Comparado... 2015, p. 334 e ss.
658 MONTEIRO, António Pinto. A «hardship clause»…, 1998, p. 28 e ss; TIMM, Luciano Benetti.
A manutenção… 2006.
166
659Cfr: CORDEIRO, António Menezes. Tratado… v. IX, 2017, p. 541.; MONTEIRO, António Pinto
/ GOMES, Júlio. «A cláusula de hardship»… 1998, p. 36-38.
660 Ao referir sobre a interação dos sistemas jurídicos: VICENTE, Dário Moura. Direito
CONCLUSÃO
661Não obstante aqui se esteja a referir contextos jurídicos como o francês, alemão e italiano,
conforme dito já em sede introdutória, o presente trabalho não teve como foco aprofundar-se nas
nuances das regras destes sistemas. Entretanto, teve o intento de trazer algumas noções a
respeito destas regras dada a sua importância no domínio da alteração das circunstâncias.
169
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