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O Menino Que Odiava Deus
O Menino Que Odiava Deus
Textos e Ilustrações
JOEL DUARTE
Diagramação
HENRIQUE GOMES
Revisão
JOSIANE TEIXEIRA
Rio de Janeiro
Joel Alexandre Duarte
2016
Este livro é dedicado à minha irmã Mirian
e às minhas sobrinhas Aline e Elisa.
Agradecimentos
Quem nunca perdeu algo ou alguém na vida e reagiu, no desespero que se segue
após a tragédia, responsabilizando Deus por isso. Uma dor, uma lágrima, um
sofrimento. Ou já os sentimos ou os sentiremos neste mundo um dia, pois a
própria vida é feita de alegria e tristeza que sucessivamente nos acompanham até o
último momento da nossa existência.
O cãozinho do Júnior partiu, quer dizer, morreu. E ele ficou muito, muito
revoltado. A confusão emocional crescente do menino acabou prejudicando o seu
relacionamento com o Criador a ponto de fazê-lo esquecer dos ensinamentos de
Jesus sobre o amor e a bondade divina.
A criança, por um momento, distanciou-se do Único Socorro para todas as
nossas angústias, mas só por um momento!
Boa leitura
Deus te abençoe!
Sumário
Agradecimentos
Prefácio
Apresentação
As dores do mundo
O heresiarca
Final
Glossário
O menino que odiava Deus
O menino que odiava Deus
As dores do mundo
Um dia após a sua triste perda, Júnior teve um sonho horrível e inexplicável.
Sonhou que era um cavaleiro medieval, armado com uma espada mágica, subindo
uma montanha para desafiar o Criador. Depois de todo esforço da escalada, nada
encontrava lá em cima, só a monotonia de um vento dispersivo fazendo as
folhagens entoar um estranho canto.
Irado, o pequeno soldado começava a vociferar:
— O que está esperando? Apareça! — apenas a música da folhagem como
resposta, e, ele continuava a gritar: — Eu te odeio! Apareça pra gente duelar!
O vento se tornava mais intenso e dissipava a sua voz entre os montes.
— Hoje só sai um vivo daqui!
Por fim o guerreiro solitário conseguia pronunciar essas últimas palavras antes
de cair estafado sobre a terra fria.
A luz crepuscular tentava iluminar suavemente sua face escondida sob os
braços. Ninguém respondia a seus apelos de luta... Ninguém...
Então um choro amargo e profundo se fez ouvir e misturou-se com o rumor do
vento. No momento em que o soldado pranteava suas dores, o menino acordou.
Mas continuou chorando.
No retorno pra casa, Júnior encontrou Rutinha e Sarinha que ainda oravam,
quer dizer a Sarinha orava e a Rutinha, convenhamos, ao modo dela, avermelhada,
suando frio, atenta, olhava a sua volta, implorando a Deus para impedir que
curiosos passassem pela rua naquele momento. Ou para que Ele colocasse um
ponto final naquela difícil situação.
Bem ou mal, ela também estava orando. Não do ponto de vista da sua amiga, é
claro! Na verdade, a menina cumpria o mandamento bíblico que ordena orar e
vigiar. Enquanto uma orava a outra vigiava. E foi nesse momento de vigilância que
ela pôde perceber o irmão chegando.
— Até que enfim apareceu! — gritou entusiasmada.
Sarinha não gostou de ser atrapalhada pela imensa e repentina alegria da amiga.
Aquilo tudo só podia significar uma coisa, Rutinha não estava em sintonia com O
Pai. Por isso a menina disse um amém abrupto e abriu os olhos para perguntar:
— Por que me interrompeu? Deus está no controle. O final só poderia ser esse
mesmo.
Rutinha riu mais alto ainda. Sarinha era uma figura, mas era sua fiel amiga.
Podia contar com ela sempre...
Abraçou Júnior e brincou:
— Por um momento pensei que você havia se tornado a centésima ovelha. —
depois perguntou, demonstrando preocupação com a aparência do irmão — Está
tudo bem? Andou brigando?
— Sim. Mas não foi nada de mais!
— Vocês brigaram? — quis saber Sarinha e ao mesmo tempo respondeu. —
Tenho quase certeza de que o Tonhão aprontou alguma! Vou entregar aquele
garoto perverso nas mãos de Deus!
Júnior voltou a repetir que estava tudo bem. Não foi apenas Rutinha e a amiga
que o procuraram, sua mãe, depois de quinze minutos da saída da filha, sentiu-se
apreensiva e também se dispôs a buscá-lo. A mulher já havia perguntado a várias
pessoas sobre o paradeiro do menino, tentava se informar com um vizinho distante
quando viu o filho acompanhado das meninas. A face da criança tinha uma
expressão esperançosa. Bem diferente da visão anterior denunciadora de dor e
desespero. E percebendo os arranhões e um pequeno roxidão abaixo do cabelo,
evitou perguntar a causa, apenas abraçou-o ternamente.
Rutinha ficou olhando a cena edílica que parecia um poema sobre amor
maternal. Voltou-se para a amiga:
— Obrigada pela sua ajuda!
E antes que a menina pudesse responder um abraço carinhoso também as
alcançaram.
Em breve a perda do cãozinho se tornaria uma terna lembrança de um grande
amigo a habitar confortavelmente à memória da criança. Todos retornaram seguros
para casa. As palavras do Salmista iluminaram aquele atribulado dia do menino, e
os guiaram ao longo do caminho: “Deus é o nosso refúgio e fortaleza, socorro bem
presente na angústia. Portanto não temeremos, ainda que a terra se mude, e
ainda que os montes se transportem para o meio dos mares. Ainda que as águas
rujam e se perturbem, ainda que os montes se abalem pela sua braveza.” Salmos
46.1-3.
Glossário
Alarido: som, barulho, confusão.