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Os Tigres Voadores

“Deus Todo-Poderoso, eu me alegro que ele esteja do nosso lado !"


Winston Churchill sobre Claire Chennault

A discussão sobre o Curtis P-40 não é realmente completa sem a citação


histórica de um dos esquadrões de caça mais surpreendentemente montado - o
Grupo de Voluntários Americanos (AVG) de Claire Chennault, mais conhecido
como os Tigres Voadores. Em seu breve período de operação (seis meses), ao
AVG foi creditada a destruição de 296 aviões inimigos contra a perda de oito
pilotos. Este feito é mais surpreendente quando se leva em conta que os Tigres
Voadores utilizavam aeronaves com desempenho inferior a de seus oponentes e
quase sempre os enfrentando em número inferior. Lendas sobre o AVG
cresceram com o passar dos anos desde a guerra; fatos e fantasias foram
entrelaçados a ponto de ser muito difícil separar lenda da realidade. Cinqüenta
e cinco anos depois, membros do AVG foram condecorados com a Bronze Star
e com a Distinguished Flying Cross. A citação diz ... " Os Membros do Grupo de
Voluntários destruíram cerca de 650 aeronaves inimigas enquanto sofrendo
perdas mínimas. " 650 ou 296 aeronaves inimigas abatidas? Mais tarde, o
historiador Dan Ford comparou as informações do AVG com os registros
japoneses (ou o que restou deles) e estimou que os Tigres Voadores devam ter
abatido aproximadamente 115 aviões (que respondem por aproximadamente
400 homens). Se a pontuação final foi 115, 286, ou 650, não importa muito. O
AVG ainda tem a maior relação vitória/perdas entre todas as unidades aéreas
de combate da Segunda Guerra Mundial.

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O gênio por trás do sucesso dos Tigres foi Claire Chennault. Chennault era um
tático brilhante bem como piloto, líder e organizador. Como o velho provérbio
diz, " os Coronéis pensam em táticas, os generais pensam em logística, " ,
Chennault pensou em ambos. Como Capitão do Corpo Aérea do Exército dos
Estados Unidos, teve o infortúnio de não só ter discordâncias com seus
superiores, como de estar normalmente com a razão. Era um oponente da
doutrina que favorecia os bombardeiros aos caças, apoiada e defendida
fervorosamente por Billy Mitchell. Assim sendo, ele optou por dar baixa do
Exército, no posto de Capitão, por motivos médicos. Em 1937, aceitou convite
do General Chiang-Kai-Shek para se tornar um conselheiro militar tendo em
vista a invasão japonesa. Existe um boato, nunca confirmado, que diz que
Chennault pilotou caças e abateu 40 aviões inimigos. Depois de estudar as
táticas de combate aéreo japonesas, Chennault escreveu que “com 100 pilotos"
ele poderia limpar os céus dos aviões japoneses.

No meio do ano de 1941, 100 pilotos foram recrutados a partir das forças
armadas norte-americanos, com um salário inicial de $600 por mês mais $500
para cada avião japonês destruído. Foram também recrutados duzentos
técnicos. Embora, o AVG estivesse trabalhando oficialmente para os chineses,

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a operação era de fato um projeto pessoal do Presidente Roosevelt, sendo
parcialmente financiado pelo governo norte-americano. Como Exército e
Marinha já se preparavam para guerra com a Alemanha fizeram oposição ao
modo como os pilotos estavam sendo recrutados pela China, e só em novembro
de 1941 é que o último contingente chegou a Birmânia, onde Chennault tinha
obtido por empréstimo da Royal Air Force, uma base perto da cidade de
Toungoo.

Foram encomendados cem P-40s pelo sistema de lend/lease. Noventa


aeronaves, principalmente versões de exportação do P-40C Warhawk, foram de
fato entregues, quantidade suficiente para três esquadrões mais algumas
aeronaves de reserva (Nota: Alguma controvérsia existe sobre qual foi o
verdadeiro modelo empregado pelo AVG. Eu suspeito que foi provavelmente o
P-40C, outros - incluindo o piloto Erik Schilling--reivindicam que modelo B).
Devido aos combates e às perdas operacionais normais, o AVG nunca teve mais
do que aproximadamente cinqüenta P-40 em condições de vôo em qualquer
momento.

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Ter aviões e pilotos não era o bastante para Chennault. Ele treinou os pilotos
em temas que variavam de táticas ao desempenho dos aviões inimigos. Só
quando o piloto era um perito em todos os campos do combate aéreo é que
Chennault o julgava pronto para voar.

No dia 20 de dezembro de 1941, os Tigres Voadores atacaram os japoneses


pela primeira vez em Kunming, China. Seis dos dez bombardeiros japoneses
atacantes foram destruídos por dois esquadrões do AVG. Não houve nenhuma
vítima americana.

Usando o que poderia ser chamado de tática "boom and zoom”, na arena de
desempenho do P-40 Warbirds, os Tigres Voadores continuaram atacando os
japonês. Os Tigres voavam alto, picavam sobre o objetivo tendo o Sol pela
retaguarda, atiravam, e subiam de novo. Era uma tática que enfurecia seus
oponentes.

O AVG pintava regularmente as saídas de ar do motor (cowlings) e o cubo das


hélices, de cores diferentes, para enganar o inimigo, de modo que este
pensasse que a força era muito maior que na verdade o era. Falsos sinais de
chamada e nomes de esquadrão eram também utilizados no rádio. Em um certo
ponto, os japoneses juraram ter abatido "todos os 200 aviões do AVG”. Em um

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último relatório, os japoneses reivindicaram a destruição de 544 aeronaves do
AVG.

Durante toda sua existência, o AVG sofreu com falta de suprimento e


materiais. Velas que deveriam ter sido jogadas fora eram limpas e utilizadas
de novo. O óleo do motor era filtrado, utilizando-se pedaços de roupas como
filtro e reciclado. Os registros do esquadrão foram mantidos em diários e
guardados em caixas de papelão. Tudo isso acontecia e o AVG continuava
abatendo aviões inimigos.

Em março de 1942, o AVG contava com apenas vinte P-40Cs, quando cerca de
trinta P-40Es chegaram, transportados por via aérea desde Accra, África. O
melhor desempenho oferecido por esta versão mais potente foi de extrema
utilidade para o AVG. O potencial de ataque ao solo dos P-40E também era
muito superior. Os pilotos do AVG usavam bombas incendiárias e de
fragmentação de 30-lb, mas era questionável se isto não era mais perigoso aos
atacantes que para os atacados.

Para aumentar ainda mais os problemas, o AVG foi solicitado por Chiang - Kai-
Shek para funcionar em missões de apoio aéreo aproximado os exércitos
chineses e britânicos que estavam se retirando. Era o tipo de missão que os
pilotos detestavam por serem extremamente perigosas e não fazerem parte do
tipo de trabalho para o qual eles foram contratados. As missões causaram
muito descontentamento entre os pilotos do AVG.

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Após seis meses de sucesso, os Tigres Voadores foram absorvidos pela 14ª
Força Aérea do Exército dos Estados Unidos. Considerando que o Japão e os
Estados Unidos estavam agora oficialmente em guerra não era mais necessário
manter o grupo operando às escondidas. Era também esperado que o Exército
pudesse absorver os Tigres Voadores como uma unidade de combate
completamente funcional. Porém a estupidez e a falta de habilidade tão típica
do Exército naquele momento não permitiu uma transição tranqüila. Exemplo
típico foi a aposta de US$ 100 feita por um oficial do Exército, em que ele
afirmava que o melhor piloto do Exército era melhor do que o melhor piloto dos
Tigre. Imediatamente um dos pilotos dos Tigre apostou $5.000, dizendo que o
pior Tigre era melhor do que o melhor piloto do Exército.

A América não estava totalmente reabilitada da Grande Depressão, e


encontrar emprego - até mesmo no Exército - era difícil de se obter, e por
isso, a maioria dos pilotos do AVG gostaria de obter uma comissão permanente
no Exército, pois afinal, muitos deles tinham deixado o próprio Exército para
se unirem aos Tigres Voadores. O Exército por outro lado, só estava
oferecendo comissões na Reserva. Seis meses de combates diretos tinham
desgastado muito, tanto os pilotos como os mecânicos, e todos gostariam e
precisavam de um descanso, coisa que o Exército não estava disposto a
oferecer. As missões de ataque ao solo, a alta taxa de baixas e as péssimas
condições de vida conjugadas com
a atitude do Exército
descontentaram os pilotos, sendo
que apenas cinco decidiram se
unir ao Exército.

De seu começo em 1941 de


dezembro até 4 de julho de 1942,
quando foram absorvidos pela
USAAF, ao AVG creditou-se
oficialmente a destruição de 296
aeronave japonesa, com a perda de oito pilotos em ação, dois pilotos e um
mecânico por motivos de ataques aos aeródromos pelos japoneses, e quatro
pilotos desaparecidos. Considerando que havia menos de 100 pilotos
disponíveis, esta é uma taxa de baixas horrorosa. É, porém, uma estatística
bem melhor do que aquela que eles infligiram aos japoneses.

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O maior ás do AVG foi Robert H. Neale, creditado com a destruição de
dezesseis aeronaves inimigas. Oito outros pilotos reivindicaram dez ou mais
vitórias. Talvez seu maior sucesso não é simplesmente mensurável em números;
o grande sucesso do AVG foi que ele proveu apoio moral nos dias mais escuros
de WWII.

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