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LIBRAS

Carlos Eduardo Lima de Morais


Propostas educacionais
e sociais direcionadas
à pessoa surda
Objetivos de aprendizagem
Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados:

„ Analisar os aspectos relevantes sobre as propostas educacionais para


os sujeitos surdos.
„ Identificar as propostas sociais direcionadas para a pessoa surda.
„ Reconhecer os recursos assistivos e sua possibilidade de uso na aces-
sibilidade para as pessoas surdas.

Introdução
As propostas educacionais e sociais direcionadas à pessoa surda estão
em constante discussão entre aqueles que fazem parte da comunidade
e do movimento surdo e aqueles que representam o governo e definem
as legislações relacionadas ao sujeito surdo. Já foram testadas algumas
propostas educacionais até hoje e conquistados alguns avanços sociais
com base nas reivindicações do movimento surdo e de seus represen-
tantes, como a Federação Nacional de Educação e Integração dos surdos
(FENEIS) e o Instituto Nacional de Educação de Surdos (INES).
Nesse contexto, a proposta deste capítulo é de identificar e analisar
aspectos relevantes sobre as propostas educacionais para surdos e como
elas se relacionam com as propostas sociais direcionadas para estas
mesmas pessoas. Além disso, você irá reconhecer os recursos assistivos
e sua possibilidade de uso na acessibilidade para as pessoas surdas tanto
no contexto educacional quanto social.
2 Propostas educacionais e sociais direcionadas à pessoa surda

Propostas educacionais direcionadas para


a pessoa surda
Ao falarmos de propostas educacionais direcionadas às pessoas surdas, primei-
ramente, temos que ter em mente que grande parte das famílias que possuem
filhos surdos são famílias ouvintes e, devido a isso, essas famílias apresentam
dificuldade na aceitação da língua de sinais como a língua natural da pessoa
surda. Portanto, este é o primeiro desafio a ser superado para uma proposta
educacional de qualidade.
Nesse contexto, o estado falhou durante muito tempo em seu papel, pois
não forneceu assistência social que aconselhasse ou direcionasse estes pais
a criar seus filhos surdos. Ao longo da história, em diversos países, o estado
proibiu o uso da sinalização dos sujeitos surdos e os privou de direitos que os
ouvintes tinham assegurado. Quando o estado permitia que o sujeito surdo
aprendesse, era através de um modelo que refletia a hegemonia ouvintista.
Por séculos isso se manteve até os dias atuais, em que, até poucas décadas
atrás, a única forma de educação oferecida as pessoas surdas era por meio da
oralização. Além disso, a criança por não falar, demonstrava agressividade
e frustração com os familiares que não a entendiam. Ela era diagnosticada
erroneamente com deficiência intelectual e isso dificultava ainda mais o
processo educacional e social da criança surda.
Continuando nessa mesma linha de estudo, o primeiro programa educacional
utilizado para pessoas surdas foi o oralismo, em que o intuito era reintegrar a
pessoa surda para que pudesse falar e escrever como um ouvinte. Esse modelo
ficou marcado pela opressão e pela dificuldade dos sujeitos surdos em conquistar
o direito ao ensino em sua língua natural (língua de sinais), uma vez que no
programa oralista a língua de sinais não tinha reconhecimento e, por isso, era
proibida, restando ao sujeito surdo a sua utilização de forma clandestina. Segundo
Capovilla e Capovilla (2004, p. 23) “apesar das intenções de integração, não se
pode dizer que o método oralista tenha tido sucesso em atingir seus objetivos,
quer em termos de desenvolvimento da fala, quer em termos de leitura e escrita”.
A segunda proposta que o sujeito surdo teve a oportunidade de experi-
mentar ao longo da história foi a comunicação total. Nesse modelo, podia
ser utilizado qualquer tipo de comunicação, inclusive a língua de sinais.
Essa proposta, no Brasil, ficou conhecida como português sinalizado. O
objetivo principal do português sinalizado era fazer com que a interação e
o aprendizado da língua portuguesa (oral e escrita) se tornasse mais fácil
para o sujeito surdo, uma vez que poderia utilizar a língua de sinais como
apoio para o aprendizado. Na opinião de Capovilla e Capovilla (2004, p. 28):
Propostas educacionais e sociais direcionadas à pessoa surda 3

Embora, por princípio, a comunicação total apoiasse o uso simultâneo de


língua de sinais com a língua falada, na prática, tal conciliação nunca foi e
nem poderia ser efetivamente possível devido à natureza extremamente dis-
tinta da língua de sinais com sua morfologia e sintaxe simultânea e espacial
e, logo, à descontinuidade entre ela e a língua falada.

A terceira proposta educacional é o bilinguismo, o qual ainda possui


estudos muito recentes por se tratar de uma proposta relativamente recente
na história de educação dos surdos. Para Quadros (1997, p. 27):

O bilinguismo é uma proposta de ensino usada por escolas que se propõe a


tornar acessível à criança duas línguas no contexto escolar. Os estudos têm
apontado para essa proposta como sendo a mais adequada para o ensino de
crianças surdas, tendo em vista que considera a língua de sinais como língua
natural e parte desse pressuposto para o ensino da língua escrita.

Atualmente, possuímos tanto escolas regulares quanto escolas de surdos


que trabalham com essa proposta de educação bilíngue, em que a língua de
sinais é ensinada como primeira língua e o português escrito como segunda
língua. Contudo, os dois espaços mencionados possuem características de
ensino e formas de aprender totalmente distintas. Enquanto a primeira foca
em integrar a criança surda com outras crianças ouvintes, por meio de uma
escola regular e comum a todas, ensinando ela em língua portuguesa oral,
contando com o apoio de um tradutor e intérprete de língua de sinais para fazer
a ponte comunicacional entre o aluno surdo e os demais colegas e professores
ouvintes e com as salas de AEE — atendimento educacional especializado. Já
a segunda tem como objetivo inserir a criança surda em uma escola específica
para surdos, onde a mesma terá o contato com outras crianças surdas e com
professores surdos ou ouvintes que saibam a língua de sinais, onde as estratégias
de ensino sejam com base na visualidade (imagens, fotos, vídeos e filmes com
legenda, gravação de atividades usando a libras, entre outras estratégias), e,
onde a língua de ensino para o sujeito surdo será a língua de sinais.
Para Quadros (1997), a proposta educacional bilíngue também não se mostra
totalmente eficaz, porque além de bilíngue, ela também precisa focar em uma
educação bicultural, já que o surdo possui cultura própria que se diferencia da
cultura ouvinte. Para Goldfeld (1997), o surdo não precisa almejar uma vida
semelhante ao ouvinte, podendo assumir sua surdez.
4 Propostas educacionais e sociais direcionadas à pessoa surda

Outra proposta educacional bem recente é a pedagogia surda, que é carac-


terizada por focar nos traços culturais do sujeito surdo, nas suas diferenças e
na mediação intercultural. Isso significa que a “normalidade” e os “métodos
clínicos” deixam de ser o foco, abrindo o caminho para uma modalidade focada.

Esta verdade sublime, o surdo encontra quando entra para o mundo totalmente
visual-espacial da comunidade surda, interagindo com a cultura surda, com
as artes surdas,a identidade surda, a língua de sinais dos surdos urbanos e
dos índios surdos, a pedagogia surda em toda a sua complexidade e diferen-
ças (VILHALVA, 2004 apud UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA
CATARINA, 2011​?).

Nos dias de hoje, o foco está em uma proposta educacional que favoreça
a construção da identidade e da diferença do sujeito surdo. Isso significa que
para o sujeito surdo ser formado, ele precisa ter acesso a ambas as culturas da
qual ele faz parte, ou seja, a cultura surda e a ouvinte. Entretanto, a prioridade
inicial é a construção de uma identidade surda pelo sujeito, por meio do contato
com nativos da língua de sinais, da cultura própria da comunidade surda, já
que, em algum momento o contato com suas diferenças será necessário, para
que ocorra a criação do sujeito através das trocas culturais.
Nesse sentido, na atualidade, é fundamental destacar o papel da Base
Nacional Comum Curricular, documento normativo que define as aprendi-
zagens essenciais a serem desenvolvidas ao longo das etapas e modalidades
da educação básica no Brasil. A BNCC é base para construção dos currículos
e das propostas pedagógicas dos sistemas e das redes de ensino de escolas
públicas e privadas em todo o território nacional, da educação infantil ao
ensino médio. A BNCC é guiadas por princípios éticos, políticos e estéticos,
que buscam a formação integral do sujeito e a construção de uma sociedade
democrática e inclusiva. Ela determina que material pedagógico para o ensino
dos surdos seja adaptado. Isso significa que devem ser ajustados os campos
de experiência e os conteúdos das áreas de conhecimento para o ensino na
modalidade visual-espacial (BRASIL, 2018).
A pedagogia surda além de ser bilíngue foca na biculturalidade também,
assim como defende Quadros (2005). Nesse modelo de educação pedagógica
surda não existe mais a submissão ou dependência do que é da comunidade
ouvinte. Nesse caso, acontece um modelo de ensino-aprendizagem própria do
sujeito surdo, que com o passar do tempo, irá aprender a se posicionar como
surdo, evoluindo como sujeito através da mediação intercultural baseada
nas diferenças e não nas semelhanças que impõe ao sujeito surdo o modelo
hegemônico ouvintista.
Propostas educacionais e sociais direcionadas à pessoa surda 5

Propostas sociais direcionadas


para a pessoa surda
A história mostra que o Estado por muito tempo deixou as pessoas com defici-
ência excluídas do restante da sociedade sem poder requerer seus direitos como
pessoa. Com o tempo, a exclusão tomou ares de segregação em que todas as
pessoas com deficiência eram jogadas no mesmo lugar para serem cuidadas.
O tempo passou e hoje fala-se muito sobre a inclusão dessas pessoas, princi-
palmente no contexto escolar, profissional e social. Mas que inclusão é essa?
Do ponto de vista escolar a inclusão mais integrada inclui o surdo, e, ao
mesmo tempo, retira do sujeito surdo o contato com a cultura e com a identi-
dade surda. Por outro lado, a dita exclusão que as crianças surdas vivenciam
nas escolas específicas para surdos, possibilita a inclusão do sujeito surdo na
cultura de sua comunidade e permite a construção da sua identidade como
surdo; mas, também exclui do sujeito surdo a possibilidade de interagir com
outras pessoas ouvintes durante o período escolar.
Sobre o direito ao emprego, uma importante conquista veio somente na
década de 1990, com a criação da Lei n° 8.213, em 24 de julho de 1991, que
dispõe sobre os planos de benefícios da Previdência e dá outras providências
à contratação de pessoas com deficiência.
Essa lei é conhecida também como a lei de cotas para pessoas com defi-
ciência, e, segundo o art. 93 desta lei (BRASIL, 1991, documento on-line):

Art. 93. A empresa com 100 ou mais funcionários está obrigada a preencher
de 2 (dois) a 5 (cinco) por cento dos seus cargos com beneficiários reabilitados,
ou pessoas com deficiência, na seguinte proporção:
Até 200 funcionários........................2%
De 201 a 500 funcionários...............3%
De 501 a 1.000 funcionários.............4%
De 1.001 em diante funcionários......5%
6 Propostas educacionais e sociais direcionadas à pessoa surda

As empresas podem não necessariamente contratar pessoas com deficiência para


compor o quadro de funcionários. Uma alternativa para fugir da multa imposta pelo
delegacia do trabalho e não ter que integrar o funcionário com deficiência na empresa
é assinar sua carteira e pagar um curso de formação inicial ou continuada (curso de
aprendizagem, por exemplo), em que a pessoa com deficiência compareça efeti-
vamente ao curso e, poucas vezes na empresa, o que resolve a problemática de ter
que lidar com o funcionário que necessite de acessibilidade. Infelizmente, essa é uma
alternativa válida e que pode ser utilizada pelas empresas para fugir da multa. Porém,
se de um lado a pessoa com deficiência ganha o direito de fazer um curso gratuito,
por outro lado, ela não tem seu direito ao trabalho atendido plenamente, visto que,
ao final do curso poucos alunos são contratados pelas empresas, pois, a maioria delas
não deseja lidar com pessoas com deficiência, apesar da lei exigir que eles façam parte
do mercado de trabalho através da lei da cota.

A Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional — Lei Federal nº


9.394/96 — estabelece a metodologia baseada na lógica das competências
para o desenvolvimento da educação profissional.
Com base na Lei Federal nº 9.394/96, percebe-se que os efeitos da exclusão
social podem ser minimizados pelo acesso à informação e à formação, bem
como por experiências pessoais a serem proporcionadas nas relações humanas
do ambiente de trabalho e no aprendizado de atividades laborais que ajudem na
construção de um perfil profissional adequado ao mercado de trabalho. Esse
entendimento permite que o indivíduo seja incluído no cenário profissional,
além de possibilitar sua inclusão como cidadão na sociedade.
Entretanto, na prática, percebemos que as empresas fazem vista grossa
para contratar pessoas com deficiência e, assim, preencher seu quadro de
colaboradores com o percentual mínimo exigido por lei. Ao contratar, querem
uma pessoa com deficiência que não tenha problemas, isto é, um surdo que
escute. Nesse caso, buscam por uma pessoa com perda leve de audição e seja
oralizada, mas, o surdo que não é oralizado e usa língua de sinais não serve.
Se uma empresa tiver a opção de escolher entre os dois exemplos irá optar pelo
primeiro sempre, visto que o surdo na visão da empresa vai dar mais trabalho
para incluir (terão que contratar intérprete de libras, capacitar os funcionários
para poderem se comunicar com o colega surdo, etc.).
Propostas educacionais e sociais direcionadas à pessoa surda 7

No contexto social, há várias propostas de acessibilidade que têm sido


debatidas ao longo dos anos, principalmente, nas duas últimas décadas.
No Brasil, a língua brasileira de sinais — Libras — foi oficializada como
língua de uso dos sujeitos surdos, por meio da Lei n° 10.436, de 24 de abril
de 2002. Referente à oficialização da libras em abrangência nacional, antes
mesmo de 2002, ela já era garantida pelo nosso Congresso Nacional desde
1996, através da Lei Federal nº 9.394 já mencionada:

Art. 1º. A Lei nº 9.394, de 20 de dezembro de 1996, passa a vigorar acrescida


do seguinte art. 26-B:
Art. 26-B. Será garantida às pessoas surdas, em todas as etapas e modalidades
da educação básica, nas redes públicas e privadas de ensino, a oferta da língua
brasileira de sinais — Libras, na condição de língua nativa das pessoas surdas.
(BRASIL, 1996, documento on-line)

Contudo, somente em 2004, com o Projeto de Lei do Senado nº 180, a Lei


nº 9.394/96 foi alterada, estabelecendo nas diretrizes e bases da educação
nacional, fazendo o enquadramento no currículo oficial da rede de ensino a
obrigatoriedade da oferta da língua brasileira de sinais — Libras — em todas
as etapas e modalidades da educação básica.
Já o Decreto nº 5.626, de 22 de dezembro de 2005, diz o seguinte:

Art. 23. As instituições federais de ensino, de educação básica e superior,


devem proporcionar aos alunos surdos os serviços de tradutor e intérprete de
libras-língua portuguesa em sala de aula e em outros espaços educacionais,
bem como equipamentos e tecnologias que viabilizem o acesso à comunicação,
à informação e à educação.
§ 2o As instituições privadas e as públicas dos sistemas de ensino federal,
estadual, municipal e do Distrito Federal buscarão implementar as medidas
referidas neste artigo como meio de assegurar aos alunos surdos ou com
deficiência auditiva o acesso à comunicação, à informação e à educação.
Art. 24. A programação visual dos cursos de nível médio e superior, prefe-
rencialmente os de formação de professores, na modalidade de educação a
distância, deve dispor de sistemas de acesso à informação, como janela com
tradutor e intérprete de libras- língua portuguesa e subtitulação por meio do
sistema de legenda oculta, de modo a reproduzir as mensagens veiculadas
às pessoas surdas, conforme prevê o Decreto no 5.296, de 2 de dezembro de
2004. (BRASIL, 2005, documento on-line)

Uma das mais frequentes reinvindicações por parte do sujeito surdo diz
respeito ao art.º 23 § 2º.
8 Propostas educacionais e sociais direcionadas à pessoa surda

A grande problemática é que ao se dirigir a uma instituição privada que oferte ensino
técnico, cursos de extensão ou de ensino superior, o sujeito surdo frequentemente não
é atendido por um atendente que use a língua de sinais (99% dos casos é por meio da
escrita em língua portuguesa ou com o auxílio de um amigo do próprio surdo, que
faz a ponte comunicacional). Essa é somente a primeira barreira comunicacional a ser
transposta. Depois, ainda falta convencer a instituição de que o surdo tem assegurado
por lei o direito a um intérprete de libras durante as aulas e que é a instituição de ensino
que deve pagar pelo serviço. Muitas instituições se negam a fornecer o intérprete,
pois isso encarece o custo do curso; então, elas já dizem que não conhecem nenhum
intérprete de libras para contratar ou que enviarão uma mensagem para o surdo para
avisar “se” fechar a turma de um curso de extensão, por exemplo, só que não dão
retorno nenhum. A única pessoa prejudicada nessa situação é o surdo.

É válido mencionar que não somente no contexto educacional se limitam


as propostas sociais para pessoas surdas. Existe um forte movimento para a
criação de leis que viabilizem propostas por maior acessibilidade comunica-
cional para os surdos.
A Lei n° 10.098, de 19 de dezembro de 2000, garante acessibilidade co-
municacional aos sujeitos surdos, no que tange aos meios mais comuns e
essenciais de comunicação, informação e de participação social:

CAPÍTULO VII
DA ACESSIBILIDADE NOS SISTEMAS DE COMUNICAÇÃO E SINA-
LIZAÇÃO
Art. 17. O Poder Público promoverá a eliminação de barreiras na comunicação
e estabelecerá mecanismos e alternativas técnicas que tornem acessíveis os
sistemas de comunicação e sinalização às pessoas com deficiência sensorial
e com dificuldade de comunicação, para garantir-lhes o direito de acesso à
informação, à comunicação, ao trabalho, à educação, ao transporte, à cultura,
ao esporte e ao lazer.
Art. 18. O Poder Público implementará a formação de profissionais intérpretes
de escrita em braile, língua de sinais e de guias-intérpretes, para facilitar
qualquer tipo de comunicação direta à pessoa com deficiência sensorial e
com dificuldade de comunicação (Regulamentação: Decreto nº 5.626, de 22
de dezembro de 2005).
Art. 19. Os serviços de radiodifusão sonora e de sons e imagens adotarão plano
de medidas técnicas com o objetivo de permitir o uso da língua de sinais ou
outra subtitulação, para garantir o direito de acesso à informação às pessoas
com deficiência auditiva, na forma e no prazo previstos em regulamento.
(BRASIL, 2000, documento on-line)
Propostas educacionais e sociais direcionadas à pessoa surda 9

O acesso à exibição de legenda na televisão brasileira, por meio do recurso


de closed caption, foi testado pela primeira vez no Brasil pela emissora Rede
Globo de Televisão, em 1997 e, se mantém até hoje. Por muito tempo, nem todas
as emissoras ofertavam esse tipo de recurso, contudo, a portaria 310/2006 do
Ministério das Comunicações diz que a partir de 2012 as emissoras precisam
reservar 12 horas de programação com recursos de acessibilidade, entre eles,
o da legenda oculta. Desde o ano de 2017, a totalidade da programação, isto
é, 24 horas de exibição, deverá conter os recursos de acessibilidade.
Uma outra possibilidade de acessibilidade para as pessoas com deficiência
auditiva é a janela com o intérprete de libras, onde a imagem do intérprete é
mostrada no canto da tela do vídeo original que está sendo transmitido.
Ao falarmos de acesso à cultura, como cinema ou teatro, a história muda
um pouco. Hoje, toda a comunidade surda luta por maior acessibilidade nos
cinemas, que só fornecem legenda para filmes estrangeiros. No caso de fil-
mes nacionais e desenhos animados a situação não é a mesma, visto que a
legenda não é fornecida. Devido a isto, existe a um bom tempo, no meio da
comunidade surda, uma campanha (Figura 1) para que seja adotada a legenda
como forma de inclusão.

Figura 1. Campanha para maior inclusão


da comunidade surda.
Fonte: Witt (2013).
10 Propostas educacionais e sociais direcionadas à pessoa surda

Alguns municípios já decretaram por lei municipal a obrigatoriedade de


um número mínimo de sessões de filmes nacionais e de animações infantis,
com acessibilidade através da legenda. Contudo nem todas as cidades do Brasil
pensam igual, sendo que a maioria ainda não oferta esse tipo de acessibilidade.
No contexto do teatro a situação é a mesma, pois, a maioria das peças não
possui acessibilidade através do intérprete.
Como resposta à falta de acessibilidade em teatros, temos o grupo Signa-
tores de Porto Alegre, no Rio Grande do Sul, sendo um dos poucos grupos de
teatro surdo existentes e que faz suas apresentações inteiramente em libras,
com a tradução para a língua portuguesa oral como forma de acessibilidade
para pessoa ouvintes que queiram assistir à peça (Figura 2).

Figura 2. Apresentação teatral para surdos sobre a obra Alice no


País das Maravilhas.
Fonte: Adaptada de Signatores [201-?].
Propostas educacionais e sociais direcionadas à pessoa surda 11

Para saber mais sobre a questão da acessibilidade por meio de legenda em filmes
nacionais e infantis, leia a matéria, que fala como está a situação em Santa Catarina após
um ano dos protestos que foram realizados pela comunidade surda local, exigindo que
os cinemas da cidade de Florianópolis ofertassem acessibilidade através de legenda,
disponível no link a seguir.

https://goo.gl/CNKiVQ

Para maiores informações sobre o grupo teatral Signatores, acesse a página oficial
deles no endereço eletrônico a seguir.

https://goo.gl/bRzbC3

Com relação a comunicação em diferentes espaços sociais, o Decreto nº


5.626, de 22 de dezembro de 2005, em seu art.º 28, traz o seguinte:

Art. 28. Os órgãos da administração pública federal, direta e indireta, devem


incluir em seus orçamentos anuais e plurianuais dotações destinadas a viabi-
lizar ações previstas neste decreto, prioritariamente as relativas à formação,
capacitação e qualificação de professores, servidores e empregados para o uso
e difusão da libras e à realização da tradução e interpretação de libras-língua
portuguesa, a partir de um ano da publicação deste decreto. (BRASIL, 2005,
documento on-line)

Isso significa que na esfera pública o sujeito surdo tem maiores chances de
ser atendido por um servidor, professor ou empregados em geral que saibam a
língua de sinais, sem falar na obrigatoriedade do fornecimento do interprete
em questões mais pontuais, tipo: audiências públicas, eventos promovidos por
entidades municipais, estaduais ou federais para todos os públicos, atendimento
por médico de rede pública, abrir uma conta bancária em instituição pública, etc.
Contudo, na esfera privada a situação é bem diferente. Por exemplo, temos
inúmeros casos de surdos que vão viajar e ao chegar no hotel não encontram
acessibilidade no atendimento inicial e, nem durante a estadia, necessitando
sair do seu quarto de hotel e se dirigir até a recepção, caso deseje solicitar
alguma coisa, pois, o único contato entre a recepção e os quartos dos hóspedes
é por meio do telefone, sendo esse tipo de atendimento inútil para o surdo.
12 Propostas educacionais e sociais direcionadas à pessoa surda

Outra situação recorrente é quando o surdo precisa ir ao médico particular e


o mesmo não sabe libras, o que dificulta muito a procura por ajuda. Nesse caso,
para não perder a viajem o surdo leva o seu próprio intérprete, já que as chances
de um médico, independente da especialidade, saber libras são muito pequenas.
Diante disso, é comum que surdos solicitem para amigos e familiares que
saibam língua de sinais para auxiliar nesse tipo de situação, pois, do contrário,
a única forma de comunicação é o português escrito, ou, em casos muito
específicos o uso de leitura labial e/ou oralização.

Recursos assistivos (mídias digitais


e não digitais) e acessibilidade
Para começar, temos a recente proposta de acessibilidade por meio da opção
de vídeo-prova para pessoas surdas realizarem o Enem de 2017 (Figura 3), e,
que provavelmente será mantida nas edições futuras. Além disso, tivemos o
polêmico tema da redação que muito ajudou na questão de tornar a comuni-
dade surda e sua cultura visual, que usa a libras como meio de comunicação
e expressão, mais conhecida pela sociedade.

Figura 3. Apresentação de uma proposta inclusiva para a redação


do ENEM 2017.
Fonte: Daniel (2017).
Propostas educacionais e sociais direcionadas à pessoa surda 13

Com relação aos recursos assistivos, temos algumas ferramentas importan-


tes que podem auxiliar tanto o sujeito surdo como a pessoa ouvinte no processo
de comunicação, assim como, no processo de aprendizado da língua de sinais.
Vejamos quais são elas:

„ papel e caneta;
„ computador e internet (escrita ou sinalização utilizando editor de texto;
e-mail; redes sociais (WhatsApp, Facebook, Twitter, Instagram, etc.);
Youtube (vídeos em libras e/ou com legenda); Skype (web conferência);
„ programação da TV com closed caption;
„ filmes e vídeos com legenda ou com a janela de acessibilidade (intér-
prete de libras);
„ fotos e imagens;
„ câmera/filmadora para gravação de vídeos em libras;
„ dicionário ou sinalário de língua de sinais;
„ celular/smartphone/tablet (mensagem de texto, WhatsApp, Facebook,
Twitter, Instagram, fotos, videochamada, etc.);
„ aplicativos de língua de sinais.

Você sabia que existem inúmeros aplicativos de libras que você pode baixar em seu
smartphone ou tablet? Esses “apps” utilizam personagens em 3D para simular palavras
e frases de Libras (Figura 4).
14 Propostas educacionais e sociais direcionadas à pessoa surda

Figura 4. Exemplos de aplicativos que simulam a movimentação das


mãos em Libras.
Fonte: ProDeaf (2016), Hand Talk (2018) e Rybená (2017).

Acesse os links para baixar e testar cada uma das versões dos três aplicativos citados:
„ ProDeaf — https://goo.gl/1C6HW;
„ Hand Talk — https://goo.gl/yHR7S5;
„ Rybená — https://goo.gl/D3mPPM.

BRASIL. Lei nº 8.213, de 24 de julho de 1991. Dispõe sobre os Planos de Benefícios


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Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l8213cons.htm>. Acesso
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BRASIL. Lei nº 9.394, de 20 de dezembro de 1996. Estabelece as diretrizes e bases da
educação nacional. Casa Civil - Presidência da República. Disponível em: <http://www.
planalto.gov.br/Ccivil_03/leis/L9394.htm>. Acesso em: 8 maio 2018.
Propostas educacionais e sociais direcionadas à pessoa surda 15

BRASIL. Lei nº 10.098, de 19 de dezembro de 2000. Estabelece normas gerais e critérios


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ou com mobilidade reduzida, e dá outras providências. Casa Civil - Presidência da
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