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A IGREJA EFEMINADA

Stephen C. Perks1

Uma publicação Credo Reformado.

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Stephen C. Perks é Diretor do Kuyper Foundation (www.kuyper.org) e autor de diversos
livros. Fonte: Christianity and Society, Volume X, Number 1, January 2000, p. 2 – 3.
Disponível em <http://monergismo.com/stephen-perks/a-igreja-efeminada/>.
Credo Reformado - Estudos e Artigos Sobre Confessionalidade Reformada.

Recentemente fui questionado se seria correto dizer


que, na história do mundo, dinastias e civilizações inteiras
de fato naufragaram na rocha da homossexualidade. Minha
resposta foi que não deveríamos pôr as coisas desse modo.
Claro, eu creio que a prática homossexual é imoral e
proibida pela Lei de Deus. Todavia, em Romanos 1.21 – 32,
Paulo põe dessa forma: deixaram de servir a Deus para
servirem à criatura. Como uma consequência, Deus
entregou-lhes às paixões impuras. Homossexualidade é
julgamento de Deus sobre uma sociedade que abandonou a
Deus e adora a criatura em vez do Criador. A apostasia
espiritual é a rocha na qual as culturas, incluindo a nossa, foi
fundada, e a homossexualidade é o julgamento de Deus
sobre tal apostasia. Esta é a razão porque a
homossexualidade era uma prática comum entre as antigas
culturas pagãs; na verdade, é uma prática comum entre a
maioria das culturas pagãs, incluindo a nossa crescente
cultura neo-pagã. Em resumo, a ideia de que a tolerância da
homossexualidade é um mal que conduzirá ao julgamento de
Deus não é bíblica, pois coloca o carro na frente dos bois. É
exatamente o contrário! A prevalência da homossexualidade
em uma cultura é um sinal seguro de que Deus já tem
executado ou está executando sua ira sobre a sociedade por
sua apostasia. A causa deste julgamento não é a prática
imoral da homossexualidade (apesar dos atos imorais
homossexuais); mas sim, sua apostasia espiritual. A
prevalência da homossexualidade é o efeito, não a causa da
ira de Deus visitando aquela sociedade. E em uma sociedade
cristã (ou talvez devesse dizer “pós-cristã”), isso significa,

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inevitavelmente, que a prevalência da homossexualidade na


sociedade é julgamento de Deus sobre a igreja por sua
apostasia, sua infidelidade para com Deus, porque o
julgamento de Deus começa com a Casa de Deus (1Pe 4.17).

Esta, decerto, não é uma mensagem popular aos


cristãos. É fácil levantar o dedo para os pecados e
imoralidades grosseiros, mas a igreja está muito menos
disposta a considerar seu papel nos males sociais que
maculam nossa era. A apostasia espiritual que nos levou à
presente condição começou na igreja, e grande parte do
fracasso da sociedade moderna, que os cristãos
corretamente lamentam pode, em alguma medida, ser
atribuída a esta apostasia da igreja como a causa
fundamental. E mesmo agora a igreja recusa-se a assumir
sua responsabilidade para preservar a sociedade deste mal
tão sério, tendo abdicado de seu papel profético como
porta-voz de Deus para a Nação.

Claro, isto não quer dizer que não deveríamos desafiar


o lobby gay e não trabalharmos para estabelecer uma
moralidade bíblica em nossa sociedade. Nós devemos. Mas,
também devemos escolher as prioridades corretas; e eu
temo que a igreja tenha um diagnóstico equivocado destes
problemas e tenha escolhido errado as suas prioridades. A
Igreja sofre com o flagelo homossexual, tanto quando, e
talvez mais, do que qualquer outro setor da sociedade (com
exceção da mídia e do mundo do entretenimento). Para
maior parte deste século, a igreja tem procurado um deus

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feminino para substituir o Deus da Bíblia. Nós tivemos


ministros que ensinaram, agiram e pregaram como mulheres
há muitos anos. O Ministério Pastoral de nossa geração é, no
geral, caracterizado pela feminilização. O crescente número
de homossexuais no ministério é, penso, simultaneamente
uma causa e efeito relacionados a isto e, ao mesmo tempo,
uma manifestação do julgamento de Deus sobre a igreja.
Muitas vezes, é claro, o julgamento funciona numa relação
de causa e efeito, porque toda criação é obra de Deus;
portanto, ela funciona de acordo com Seu plano e vontade.
A igreja tem se tornado completamente efeminada por causa
de um clero efeminado. O Ministério hoje é dirigido
primariamente por mulheres, e ministros têm começado a
pensar e agir como mulheres, porque o Cristianismo tem se
tornado naquilo que é chamado de “religião salva-vidas” –
mulheres e crianças primeiros. E o mundo vê isso bem
adequadamente.

Por exemplo, foi-me dito em mais de uma ocasião por


pastores e presbíteros que, quando eles visitam os membros
de suas igrejas, se porventura o homem da casa vem
recebê-los à porta, frequentemente a primeira coisa que
este homem diz é: vou buscar a esposa. Pastores e
Presbíteros estão ali para mimar as mulheres e as crianças;
ou então, como pensa o mundo, isto é simplesmente porque
o ministério na igreja é frequentemente dirigido
principalmente às mulheres e crianças, e não aos homens.
Tenho observado o mesmo tipo de coisa em reuniões das
igrejas. Se alguém levanta uma questão doutrinária ou

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mesmo assuntos sérios sobre a missão da igreja, o interesse


é quase nulo. No entanto, frequentemente tem havido, e
continua havendo, enormes problemas doutrinários e
problemas relacionados ao entendimento da igreja de sua
missão no mundo, incomodando essas igrejas; apesar disso,
estas igrejas nem mesmo consideraram que isso merece
discussões nas reuniões de liderança da igreja. Os líderes da
Igreja falarão de maneira interminável sobre
“relacionamentos” e afins, mas evitarão questões
doutrinárias [como evitam] a praga porque estes assuntos são
considerados causas de divisão e que dificultam os
“relacionamentos”.
Agora, no fundo eu creio que isto é um sério problema
criado pela feminização da liderança da igreja. A agenda da
liderança, que é uma agenda masculina, foi substituída por
uma agenda feminina, que é um desastre para liderança. A
igreja tem abandonado o Deus das Escrituras pelo conforto
de uma divindade do tipo feminino que não requer líderes
eclesiásticos que exponham doutrinas bíblicas ou ajam com
convicção de acordo coma Palavra de Deus (ambos são
percebidos, muitas vezes com razão, como causador de
divisão – Mt 10. 34ss); mas, em vez disso, exige líderes
simplesmente para mãe de suas congregações de uma forma
feminina. Isso, naturalmente, produz ministros efeminados e
uma igreja efeminada. Mas, isto não é simplesmente uma
causa e efeito impessoal relacionadas. Deus age através de
causas secundárias em sua Criação para executar sua
vontade. Um ministério efeminado e uma igreja efeminada
são a resposta de Deus para a determinação de a igreja

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substituir o Deus da Escritura por um deus do sexo


feminino; e esta cruzada contra o Deus da Bíblia tem sido
em sua própria maneira, uma característica do
evangelicalismo, como abertamente tem sido a
característica do liberalismo que os evangélicos dizem
abominar, mas ainda assim, estão dispostos a imitar.

Este não é um problema apenas agora na igreja, mas


porque está na igreja, a sociedade em geral é agora
feminizada e efeminada. Somos governados por mulheres e
homens que pensam e agem como mulheres. Mas, as
mulheres não fazem bons governos em geral. Em Margaret
Thatcher tivemos uma situação inversa: uma mulher que
pensava mais como um homem deve pensar, mas a exceção
não anula a regra. Eu não estou discutindo um ponto
político aqui, nem endossando qualquer posição [política];
até porque eu acredito que isto tudo é parte da situação em
julgamento. O mundo está de cabeça para baixo, porque os
homens viraram de cabeça para baixo por sua rebelião contra
Deus. Jean-Marc Berthoud frisou bem este ponto em seu
artigo “Humanism: Trust in Man – Ruin of the Nations”, o
qual eu recomendo em relação a este tópico. Agora somos
governados por mulheres e crianças (Is 3.4, 12).

Mas, a Liderança não é feminina. Líderes Efeminados


não governam bem, seja o Estado, seja a Igreja. É vital que a
Justiça seja temperada com Misericórdia. Mas alguém não
pode temperar a Misericórdia com a Justiça. Quando a
misericórdia é colocada antes da justiça, as sociedades

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sofrem colapsos nas situações idiotas que temos hoje, onde os


criminosos são libertos e as pessoas inocentes são
condenadas. Por exemplo, as punições infligidas aos
motoristas por inadvertidamente dirigirem um pouco acima
do limite da velocidade hoje, mesmo onde não há perigo
envolvido, são muitas vezes mais graves do que os castigos
infligidos aos ladrões. E hoje um pai pode ser punido por
bater em um filho travesso – mesmo que tal castigo seja
realizado num ambiente de amor e disciplina e não haja
perigo para criança – mas ainda assim, alguém pode, com
impunidade, assassinar os filhos ainda não nascidos. O
Estado ainda paga por esses abortos, fornecendo-lhes o
Sistema Único de Saúde.

Creio que isto é o resultado final da feminização de


nossa cultura. Pensa-se, frequentemente, que a liderança
feminina é mais compassiva, mais carinhosa. Isto é um mito
que a ideologia feminista tem trabalhado nas percepções
populares da realidade em nossa cultura. Pelo contrário, a
cultura feminista é uma cultura violenta, uma cultura que
produz o aborto e ao mesmo tempo exige que se extinga as
coisas tipicamente masculinas. Uma situação mais perversa
é difícil de se imaginar. Em última análise, o feminismo é, na
prática, inerentemente violento, intrinsecamente instável,
intrinsecamente perverso, inerentemente injusto, porque
ele é todas essas coisas em princípio, a saber, a rejeição da
ordem criada por Deus; e as consequências de um
compromisso religioso sempre se desenvolverão na prática.
O Feminismo está, agora, desenvolvendo as consequências

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práticas de sua visão religiosa da sociedade (e isto é sua


religião).

As igrejas têm falhado em ver isso. Elas têm abraçado o


feminismo vigorosamente, e como consequência, se
tornaram uma importante avenida pela qual o Feminismo
tem sido capaz de influenciar nossa cultura. O clero estava
envolvido na feminização da fé e da igreja bem antes do
Movimento Feminista tivesse se tornado consciente na
percepção popular. E a feminização de nossa cultura é um
dos principais motivos para sua anarquia e violência. Por
exemplo, o resultado da feminização da sociedade tem sido
a de que os homens perderam o seu papel em muitos
aspectos. O feminismo tem definido homens em nada mais
do que briguentos ou efeminados. Na perspectiva feminista,
estas são as duas alternativas para os Homens, embora isso
não possa ser entendido por muitas feministas; talvez
normalmente não seja, porque o Feminismo é ingênuo e não
opera com base na razão, mas na emoção; e estas coisas
trazem-nos novamente ao problema da liderança e governos
femininos. Emoções não lideram ou governam bem. Para as
Feministas, os homens são governantes incapazes; as
mulheres devem governar.

Agora nós temos o governo de mulheres e homens


efeminados. O efeito de colocar as virtudes femininas no
lugar das virtudes masculinas, e as virtudes masculinas no
lugar das virtudes femininas tem sido a de subverter a ordem
criada. Como resultado, a justiça é desprezada e a

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misericórdia é transformada e colocada em seu lugar. A


Liderança é masculina, mas é preciso temperá-la com as
virtudes feministas. Quando as virtudes feministas estão na
liderança, as virtudes masculinas não podem funcionar; a
masculinidade é feita desnecessária. Isto é um dos
problemas mais sérios da nossa sociedade. O Feminismo
tornou a liderança masculina na igreja e da nação obsoleta e,
agora, estamos colhendo as consequências espirituais e
sociais disto. A Justiça é uma vítima! A misericórdia cessa de
ser misericórdia e torna-se indulgência dos piores vícios.
Violência, anarquia, desordem e uma sociedade disfuncional
são o legado da Feminização de nossa Sociedade, porque neste
sentido, nem as virtudes masculinas, nem as femininas
podem desempenhar apropriadamente seu papel. O mundo é
posto de ponta cabeça. Até mesmo as igrejas “crentes na
Bíblia” são anestesiadas na sua apostasia em relação a este e
muitos outros assuntos em nossa sociedade. Temos uma
igreja efeminada, e uma sociedade efeminada e, portanto, a
resposta de Deus tem sido um ministério cada vez mais
homossexual e uma crescente sociedade homossexual. Este
é o justo julgamento de Deus sobre nossa apostasia
espiritual.

A resposta é o arrependimento, voltar-se para Deus e


abandonar nosso caminho de rebelião contra a ordem divina
da Criação. A igreja deve começar isto. O julgamento começa
com a igreja (1Pe 4.17) e o arrependimento também. Eu não
creio que resolveremos o problema homossexual até
reconhecermos sua causa. É o julgamento de Deus sobre a

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apostasia da Nação. Liderando o caminho para esta


apostasia estava a igreja.

O que tenho dito acima não significa minimizar a


seriedade do problema homossexual, nem sua imoralidade.
Mas devemos reconhecer isto como uma manifestação do
julgamento de Deus, como Paulo tão claramente ensina em
Romanos, capítulo um. A resposta está em combater as
causas, enquanto não deixamos de fazer as outras coisas. O
que eu disse aqui não significa promover uma diminuição da
oposição cristã aos direitos homossexuais por qualquer
meio; mas significa encorajar a uma maior leitura do
problema, porque é nesta vasta leitura do problema que
detectamos a causa e esperamos a solução para o problema.

Além disso, este assunto não é um assunto isolado. É


parte inseparável da re-paganização de nossa sociedade,
uma tendência de que a igreja, em grande medida, não
apenas tem tolerado, mas por vezes, estimulado, por sua
percepção míope de fé e sua negação prática de sua
relevância para toda a vida do homem, incluindo seus
relacionamentos e responsabilidades. Enquanto a crítica é
necessária e vital na tarefa profética da igreja de levar a
Palavra de Deus para influenciar nossa sociedade, ela não é
o bastante.
Em vez disso, a igreja também deve jogar fora o seu
próprio consentimento na prática do humanismo secular e
praticar o pacto da vida da comunidade redimida no
momento que ela tenha qualquer efeito sobre nossa cultura.

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Portanto, o julgamento continuará ininterruptamente até a


igreja mais uma vez começar a viver para fora, bem como
falando a palavra de vida para sociedade em sua volta.
Somente então quando ela começar a manifestar o reino de
Deus; e apenas quando a igreja começar a manifestar o reino
de Deus novamente, nossa sociedade começará a ser liberta
do julgamento de Deus.

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