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Caso DA II Toda Mat Ria
Caso DA II Toda Mat Ria
DIREITO ADMINISTRATIVO II
a. Competência do PCMS.
Segundo a Lei n.º 169/99, de 18/9 a competência para organizar e gerir os transportes
escolares pertence à Câmara Municipal e não ao Presidente da Câmara (artigo 64.º-1-m)).
Igualmente, a alínea q) do mesmo número e artigo determina que é à Câmara que compete
a aprovação dos programas, cadernos de encargos e adjudicação relativos à aquisição de
bens e serviços.
Portanto, parece evidente que deveria ter sido a CMS a praticar este ato e não o seu
Presidente. Regista-se um vício de incompetência relativa, pois tudo se passa dentro do
Município de Sintra. O desvalor é de anulabilidade (artigo 135.º CPA).
b. A “FULL SPEED, SA” poderá ser ressarcida das despesas que teve com a
apresentação da proposta?
Que esta empresa pode lançar uma ação pedindo a condenação da Administração ao
pagamento de uma indemnização, não há dúvidas. Mas já é uma questão diferente saber se
terá êxito nessa ação. Ou seja, se, nos termos da lei, lhe é devida uma indemnização pela
exclusão.
Estará em causa uma indemnização a título de responsabilidade civil extracontratual do
Estado por ato ilícito, uma vez que a razão de ser dos eventuais danos se funda na prática
de um ato em desconformidade com a lei (ato ilícito).
São requisitos para que possa haver uma indemnização a título de responsabilidade civil
extracontratual do Estado por ato ilícito: i) a existência de ilicitude, ii) culpa, iii) um dano e
iv) nexo de causalidade entre o facto gerador do dano e o dano (artigo 7.º e segs da Lei n.º
67/2007, de 31/12).
Em primeiro lugar, como vimos, é possível sustentar que o ato de exclusão foi
invalido/ilícito. Em segundo lugar, face a um ato ilícito, presume-se a existência de culpa
leve (artigo 10.º-2 da Lei n.º 67/2007, de 31/12), cabendo à Administração provar que ela
não se verifica. Em terceiro lugar, parece que existem danos correspondentes ao custo
suportado pela empresa com a apresentação da proposta. Finalmente, em quarto lugar,
pergunta-se se existirá uma relação de causa-efeito entre a exclusão e o dano. Em princípio,
sim. Mas há um aspeto que pode gerar discussão, uma vez que, mesmo que a empresa não
tivesse sido excluída, não seria garantido que ganhasse o concurso. E, nesse caso, também
deveria ser ela (e não a Administração Pública) a suportar os custos (e o risco) inerente à
sua candidatura.
Enfim, existem razões para sustentar que os pressupostos da responsabilidade civil
extracontratual do Estado por ato ilícito estão preenchidos, mas não se trata de uma
questão absolutamente cristalina.
De qualquer forma, é preciso ter em conta que a obrigação de indemnizar nunca poderia
levar o Município de Sintra a pagar à empresa o montante previsto no contrato que veio a
celebrar com outra empresa. No máximo (e, mesmo assim, é discutível) estará em causa
“…reconstituir a situação que existiria se não se tivesse verificado o evento que obriga à reparação.”
(artigo 3.º-1 da Lei n.º 67/2007, de 31/12). Ou seja, no limite estará em causa o pagamento
de despesas com a apresentação da proposta.
A única questão que se coloca, neste ponto, é a de saber quais os meios de reação que a
“SEMPRE VELOZ, SA” tem à sua disposição.
Para reagir contra a adjudicação, esta empresa pode lançar uma ação urgente, em matéria de
contencioso pré-contratual, na qual pediria a impugnação do ato de adjudicação (artigo
100.º-1 CPTA), uma vez que se trata de um procedimento para celebração de um contrato
de prestação de serviços. Esta ação deveria ser lançada no prazo de um mês (artigo 101.º
CPTA).