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Jesus Cristo, por seu sofrimento e sua morte, liberta e salva do sofrimento

temporal e eterno todo aquele que n’Ele crê


O sofrimento vem perpassando a humanidade desde o princípio do mundo, quando no
jardim do Edem as primeiras criaturas feitas a imagem e semelhança de Deus pecaram e
foram expulsos do Paraíso para o mundo em que atualmente vivemos. Eis, portanto, uma das
fragilidades do ser humano, o sofrimento que é parte inerente de todo ser vivente, sejam
animais racionais ou irracionais.
Neste contexto, entendemos que Deus é bom e deseja o bem de todas as suas criaturas,
tanto é que no capítulo IV do documento “Salvifici Doloris” o Papa João Paulo II nos faz
refletir sobre o sofrimento de Jesus Cristo. E é este o sentido que o documento quer nos
transmitir ao se tratar da maior prova de que Deus quer nosso bem, ou seja, o Divino Criador
oferece à humanidade o seu Filho Único para nos ensinar o caminho da perfeição.
E este caminho, Jesus Cristo mesmo percorreu, com humildade e mansidão, consciente
do seu papel no Plano salvífico de Deus Pai e obediente a Ele, entregou-se ao sofrimento, por
amor aos seus, à morte de Cruz a fim de que todos que n’Ele crê tenha a vida eterna. É em um
diálogo com Nicodemos, relata a Carta Apostólica, que Cristo nos revela esta ação salvífica
pela qual Ele deu sua vida para salvação do mundo.
E de fato, é pelo amor de Deus, em sua compaixão pela humanidade que Ele se mostra
misericordioso como nos fala o próprio cristo em: “Deus amou tanto o mundo que deu seu
Filho unigênito, para que todo aquele que crê nele não pereça, mas tenha a vida eterna” 1. É
uma perfeita entrega de si mesmo que o Senhor nos dá o exemplo de que para se alcançar a
vitória é preciso passar pelo sofrimento que nos aperfeiçoa, pela dificuldade que conseguimos
consolo divino.
Poderíamos dizer também – parafraseando um provérbio popular – que a pessoa
humana não vive caminhando sobre “pétalas de rosas”, mas também no meio das pétalas estão
os “espinhos”. Este provérbio nos ajuda entender que a vida cotidiana do ser humano não é
somente maravilhas, “um mar de rosas”, mas ela também tem seus momentos difíceis, de dor
e sofrimento. Estes sofrimentos, de certa forma, ajudam a pessoa humana a se tornar uma
pessoa melhor, mais madura e virtuosa, se de bom grado, livre e consciente, a pessoa busca
unir seu sofrimento ao de Cristo sofredor em uma entrega de si a Ele.
Esta entrega, no entanto, é uma entrega do sofrimento temporal, mas que pode
transcender. Sim, aqui este termo sofrimento ganha novo sentido, segundo o documento,
reflete-se agora sobre o “sofrimento eterno”, é como se passasse a perceber que há uma

1
Cf. Jo 3,16
esperança, é Cristo, e a motivação para tal entrega de si ao Servo sofredor é a fé profunda e
verdadeira que pode garantir a “vida eterna”.

O homem “perece” quando perde a “vida eterna”. O contrário da salvação não é,


pois, somente o sofrimento temporal, qualquer sofrimento, mas o sofrimento
definitivo: a perda da vida eterna, o ser repelido por Deus, a condenação. O Filho
unigênito foi dado à humanidade para proteger o homem, antes de mais nada, deste
mal definitivo e do sofrimento definitivo [...]2.

Deus, por seu imenso amor, oferece ao mundo o seu Filho único para a salvar toda a
humanidade. Contudo o homem, qualquer um que se abra a graça da conversão – que se dá a
partir da enfermidade, seja do corpo ou da alma, ou ainda de ambos – e aceite a salvação para
que não padeça o sofrimento eterno (a morte eterna), mas venha a ter a vida eterna em Nosso
Senhor Jesus Cristo que, tendo assumido os pecados do ser humano, os seus sofrimentos,
padeceu e venceu a morte (temporal) e com sua ressurreição garante, a todos os que n’Ele crê,
a vida eterna.
A carta também enfatiza a questão do sofrimento humano enquanto sofrimento
temporal que, como citado acima, é parte inerente ao homem, pois é parte do fruto do pecado
deste mundo; são tantas as causas de pecados existentes neste mundo que, de certa forma,
maltrata o homem imbuído nele de dentro para fora, é como uma lepra que decompõe o
homem antes deste morrer. Este é o fruto do pecado que João Paulo II quer transmitir neste
documento, mas o mais importante é saber que este mal que assola a humanidade é destruído
pelo Filho unigênito de Deus que a “liberta” e salva.
Outro ponto interessante que a carta enfatiza é a morte. O homem, muitas vezes, tem a
morte como alívio dos seus sofrimentos temporais, contudo, pode ser um alívio para tal fase
da vida existencial do ser, após a morte há outra fase, o corpo padece os efeitos da
decomposição enquanto a alma, “separada do corpo”, de certa forma, “sobrevive”, apesar do
sofrimento temporal sentido no corpo, com a morte, o fim do mal sentido durante a vida
chega a seu fim definitivo (enquanto temporal).
A alma “subsistente”, certamente, já não experimenta este tipo de sofrimento, pois,
havendo esperança e fé em Cristo ressuscitado, certamente com Ele experimentará o consolo
eterno, a “vida e santidade eternas”. O Cristo, que veio ao mundo para o salvar, certamente
em seu ministério, experimentou também Ele, em sua humanidade, toda dor, todo sofrimento,
2
JOÃO PAULO II. Jesus Cristo: o sofrimento vencido pelo amor. In. Carta Apostólica Salvifici Doloris. O
sentido cristão do sofrimento humano. São Paulo: Paulinas, 1988. Cap. IV. n. 14.
ou seja, além da perseguição e do desprezo dos “homens”, encarou também a agonia e dores
na sua paixão, por isso, pode-se dizer que Jesus Cristo é para nós exemplo de obediência e
amor.

O homem das dores [...] é verdadeiramente aquele “cordeiro de Deus que tira o
pecado do mundo”. Com o seu sofrimento, os pecados são cancelados precisamente
porque só ele, como Filho unigênito, podia toma-los sobre si, assumi-los com aquele
amor para com o Pai que supera o mal de todos os pecados; num certo sentido, ele
aniquila este mal, no plano espiritual das relações entre Deus e a humanidade, e
enche o espaço criado com o bem.3

É exatamente para salvar a humanidade que Deus envia seu Filho ao mundo (o Verbo
que fez carne). O Filho de Deus se fez em tudo semelhante ao homem – exceto no pecado –
Ele se assumiu para si o fardo da humanidade pecadora, tomou para si os sofrimentos, os
pecados e os ofereceu ao Pai juntamente com seu corpo e sangue – a vítima perfeita – para a
remissão do mundo. Tudo isto Ele o fez para que se cumprissem as Escrituras, a promessa de
Deus Pai que tanto amou o mundo que entregou seu Filho amado como servo sofredor.
Cristo sofreu amargamente as dores, os sofrimentos da humanidade ainda indiferente à
sua paixão. Ele morreu para pagar pela culpa da humanidade, para destruir de uma vez por
todas o mal que assola o mundo, contudo, o mundo ainda nos dias de hoje põe a culpa em
Deus por seus sofrimentos, resultado do seus muitos “pecados”. Mas é pela paixão de Cristo
que os sofrimentos dos seres humanos atingem “o seu vértice”, é em Cristo Redentor que a
humanidade alcança a liberdade, o alívio dos sofrimentos do corpo e da alma e, por fim, lhe
garante a vida eterna.

3
JOÃO PAULO II. Carta Apostólica Salvifici Doloris. n. 17
REFERÊNCIAS

JOÃO PAULO II. Jesus Cristo: o sofrimento vencido pelo amor. In. Carta Apostólica Salvifici Doloris. O
sentido cristão do sofrimento humano. São Paulo: Paulinas, 1988. n. 14.

BÍBLIA – Bíblia de Jerusalém. rev. atualizada. São Paulo: Paulus, 2002

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