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UMA PAGINA DA HISTORIA DE ANGOLA. MORTE DE MUTU-YA-KEVELA E ANIQUILAMENTO DA REVOLTA DO BAILUNDO (1902) NUMA LEITURA DO RELATORIO DO TENENTE PAIS BRANDAO Antonio Faria © objectivo deste trabalho € proceder a uma leitura do Relatdrio elabo- nado pelo tenente Pais Brando no qual é descrita a morte de Mutu-ya-Kevela «ei consequeéneia disso, o fim da Revolta do Bailundo, no Planalto Cental de Angola. Mais do que a narativa militar e a matéria dos telegramas do Govemador-Geral para Lisboa ¢ dos relatérios de outros comandantes milita- Fes, constantes na documentagao avulsa do Arquivo Hist6rico Ultramarino, interessou-me delimitar apenas um pequeno contfito! tenente Pais Brando, mandado deter a revolta de Mutu ya Kevela com uma pequena forga militar, esteve poucos meses na regio do Bailundo? O seu relatério Campanha do Bailtado esta dividido em trés capitulos: 1 - Organizagio da expedigdio e deseripgio da marcha; Il—Estacionamento e servigos; I —Marcha de regress. * As notas foram reolhidas de uma cpa do_doeumento exstnte no Arquivo Histrico Litramarino, com o n? 39R pusian? 2, dos "Gere Militar" com ¢ thule Campana do Harlundo, Relatrio do Tenente Pais Brando, constants tos Gerais Mika. pias 111 113. Essa espin em papel almago pautado exist outrora na Bible do. Musca “Municipal de Nova Lshoa, hoe Huan * A *Coluna do Libolo” conandada peo tenente Pais Brando era constitida pelo teneate Joaquim Gongalves,o lfres Carls de Noronha Mootanba, dos sarsenos, tata ¢ elo ‘bos © soldados de primeia ina, im sieendoe a ¢i soldados de segunda fl un sargentaenfermeio, CLIO ~ Revista do Cento de Histér'a da Universidade de Lisboa, Lisboa, 1997, Paigbes Coltri, pp 129-136. 130 Antonio Faria Apresenta ainda uma conclusio, documentos anexos ¢ ums relago dos refugiados na fortaleza durante o seu comando. ‘Numa obra de autor andnimo intitulada Histéria de Angola, publicada no Porto hé duas décadas aris, Ievantavam-se algumas dividas sobre 0 destino desse chefe militar Mut-ya-Kevela, palanea (ministro) do soba (tei) Calundula. Bello de Almeida refere que 0 conflito no Bailundo deflagrou por razées pouco habituais num conflito armado que arrastou viios reinos do Planalo? ( rei Calundula foi mandado prender pelo capitio Teixeira da Silva. Tal ‘acto motivou a retirada da popalago para a serra do Bimbe, a partir de onde se desencadeou a revolta. Foram tomaudos vatios postos comerciais ¢ contac- tados reis das regides vizinhas. Concentraram-se essas forgas em 1902 para conguistar a fortaleza do Bailando que protegia a vila de Catepe, ‘A capitania-mor do Bailundo existiu a partir de 1891 e resultou da divi- so da capitania-mor do Big, sendo 0 seu primeito capitio-mor © eapitio ‘Teixeira da Silva, Ocupava toda urna vasta zona geogrifica do Huambo, de Benguela e de Cuanza-Sul, Estavam-lhe adstritos os postos militares. de Balombo, Huambo, Luimbale, Galangue, Cassongue e Sambo. Contra a revolta do Bailundo foram enviadas trés colunas militares. A "Coluna do Libolo" comandada pelo tenente Pais Brandao que foi organizada no posto de Libolo; a "Coluna do Norte" sob o comando do capo Massano de Amorim que partiu de Benguela seguindo pelo Bocoio e Luimbale; a "Coluna do Sul” do capitao Teixeira Moutinho que se concentreu em Cacon- dda dali partiu para o Huambo, ‘Terminado 0 levantamento armado foram construfdos varios redutos militares em diversos pontos estratégicos do planalto nos qusis, a par das competéneias militares, os comandantes passaram a exercerfungoes do foro civil Mais tarde, as lendas contaram que Mutu-ya-Kevela foi preso e langado num caldeirio de dgua a ferver para que cozesse, mas cle sait ileso, a rit dos que 0 rodeavam ~ porque ele era como a absbora grelada, encarogada que, [Por mats fervida que seja, nv coze Dai o nome de Mutu-ya-Kevela, insubmisso, indomével até a0 fim, na versio lendiria, o homem que permaneceu na meméria das gentes do Planal- to como no tempo em que organizou a retirada para as montanhas do Bimbe, alG voltar a0 Bailundo e af se anunciar, tal como prometera, cam dois tiros

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