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Maria Flávia de Monsaraz

PLANETAS
A inteligência da aparência

Astrologia
Primeira iniciação

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Ver cumprir-se o seu destino
O destino
Saber-se célula do universo
Conhecer-se dualidade e não dualidade.

Kabir
Poeta indiano
1440/1518

...desde os tempos mais remotos, os homens utilizaram os Números para exprimir


COINCIDÊNCIAS SIGNIFICANTES, ou seja, as coincidências que podem ser interpretadas.
Há algo peculiar, pode até dizer-se misterioso, nos números. Nunca foram inteiramente
despojados da sua "aura" nominal.
O NÚMERO é, num certo sentido, uma entidade imprevisível.
...a qualidade mais elementar num objecto, reside no facto de ser um, ou de serem vários.
O NÚMERO, mais do que qualquer outra coisa, ajuda a trazer ordem ao caos das
aparências. Ele é o instrumento predestinado a criar ordem, ou a aprender uma ordem já
existente mas ainda desconhecida.
...definimos psicologicamente o NÚMERO, como o ARQUÉTIPO DA ORDEM tornado
consciente.
...mas é igualmente possível que os números tenham sido encontrados, descobertos. Neste
caso não são meros conceitos, mas qualquer outra coisa: ENTIDADES AUTÔNOMAS, que de
algum modo são mais do que quantidades.
...baseiam-se na qualidade de serem elas próprias.
...podem possuir uma verdade ainda por saber .
...têem uma autonomia análoga à dos arquétipos.
São como eles PRÉ-EXISTENTES à consciência.

G. G. Jung
SYNCHRONICITY - an acausal conecting principIe

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Pitágoras e os seus mestres egípcios
diziam que a Essência Divina
é inacessível aos sentidos.
Pelo que empregamos para a exprimir
não a linguagem dos sentidos
mas a do espírito.

Dá ao princípio do universo
o nome de inteligência.
Monade ou unidade.
Porque ele é, na sua essência, imutável.

Dá à matéria o nome de Deíde


ou duplicidade.
Porque está sujeita na sua essência
a toda a espécie de mutações.

Dá ao mundo o nome de Tríade.


A consciência do movimento
nas suas inter-relações.

Pitágoras distingue os números


dos algarismos.
Os algarismos podem contar-se.
São a quantidade, a expressão do visível.

Os números são a qualidade.


Contém esotericamente a relação do todo.
São a simbologia do indizível.

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O número 1
é o todo.
A unidade. O verbo.
É a qualidade.
A inteligência do universo.

Campo unitário
de consciência pura,
presente no íntimo da matéria.

Essência omnipresente.
O que é, em si.
O princípio indisível.
O absoluto.

Ao tentar verbalizar o absoluto já o reduzimos.


É a nossa dolorosa limitação.

Sobre esta super-consciência omnipresente,


envolvente, omnipenetrante, nada pode ser dito.
Está para lá das formulações, conceitos, imagens, comparações,
memórias do cérebro humano.

Robert Linssen
L'Esprit de la Matière

O princípio de unidade
Age na multiplicidade
Imprime o seu poder
Ao movimento da totalidade.

Esse poder é o espírito.

Dane Rudhyar
Rhythm of Wholeness
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O número 2
é o relativo.
A quantidade
que contém em si
a qualidade.

Dois é a energia.
Polaridade que rege o movimento.
Tensão contraditória de opostos
presente em todas as mutações .

Dois é a inter-relação
dos fenómenos.

O número dois é o número um,


manifestado.

Dois é o Cosmos.

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O número 3
é a consciência do um
no dois.

É o homem.
A mente humana
capaz de relacionar a unidade
na dualidade.
A inteligência do homem
quando apreende o absoluto
no relativo.
A qualidade na quantidade.

É a verticalidade do homem
entre a terra e o céu.

O número três é o pensamento.


O entendimento
inerente ao ser humano
que lhe permite analisar
sintetizar, integrar.
Como entidade consciente
do seu percurso,
da sua individualidade,
da sua participação
nos ritmos do Universo.

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O Universo é um pulsar, uma imensa respiração.
Respiração em expansão infinita.
na multiplicidade e no espaço.
Pulsão Cósmica que activa todos os movimentos.

Para os mestres Taoístas


o movimento resulta da tensão de dois polos
opostos, complementares.
O polo receptivo e o polo activo.
Chamaram-lhes Yin- Yang.
Polos de uma respiração cósmica
que se processa em dois tempos.

Irradiação, projecção, expansão, expiração.


Atracção, receptividade, retensão, inspiração.

O movimento dó universo
traduz estes dois tempos de relação
de que a polaridade limite
é a luz e a matéria.

O Sol é activo, expansivo.


O seu elemento é o Fogo.
A Terra é passiva, receptiva.
O seu elemento é a própria terra.
Deste macro-pulsar Sol-Terra
nasceu a vida, o micro-pulsar do coração
e com ele o Homem, ser vivo na Terra
com a qual por natureza se identifica.

Nesta relação, Terra - receptividade, Sol - expansão,


os homens são o Polo-Terra do movimento.
Pura receptividade à expansão solar.

É o significado oculto do Zodíaco.


Prisma da qualidade da luz do Sol.

A natureza antagônica da energia


É o segredo e o imperativo lógico
Da sua conservação.
Stefane Lupasco
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O Zodíaco
traduz o movimento
da Terra e do Sol.
A percepção do micro no macro,
inter-relação cíclica
Homem/Terra - Sistema Solar.

O Zodíaco
é também o número 3.
Registra a evolução
da consciência humana,
a sua via cósmica de integração.

Dá a cada indivíduo
a capacidade de situar
no espaço e no tempo
a qualidade do dinamismo
do seu ciclo de vida.

Percurso iniciático do Homem


do turbilhão caótico da desarmonia
às harmonias
das Esferas Celestes.

Entre o um e o dois.

Kepler diz: tudo está contido entre o um e o dois.


Dois é a oitava do um.
Oitava que contém as tonalidades,
as harmonias do universo.
Tudo se passa na oitava.
Tudo se passa até ao 8.
O oito inicia um novo ciclo.

7 é o princípio da harmonia.

São sete os corpos celestiais,


que definem a primeira referência do homem.

Sete mundos que se interpenetram.


Sete frequências de vibração.
Sete raios.
Sete graus de consciência.
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O Homem é livre de optar.
Aceita ou rejeita
estas sete qualidades,
estes sete estados de conhecimento.
São sete os pecados mortais.
Sete também as chákaras do corpo humano,
o invisível do corpo visível,
veículos de força vital
por onde flui a energia.
Sete os dias da semana.
Sete as cores do arco-íris.
Sete as notas da escala diatónica.

Sol, Mercúrio, Vénus, Terra, Marte, Júpiter e Saturno.


Regem o seu primeiro ciclo de integração.

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Sol

Sol é Sol.
É brilho. É dentro.
É astro-rei. É trilho.
Entendimento.

A razão do destino
em potência contida.
O ciclo do caminho
o ponto - da saída.

Da Terra o polo activo.


É a força e a meta.
Do percurso dos vivos
a direcção da seta.

É princípio de vida.
Energia presente.
Abre a porta escondida
na semente.

Sol é Sol. É luz.


Do tempo o movimento.
Isso que me conduz.
É o fogo. É o centro.

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Lua

Lua.
Esse branco vazio
de não-ternura
esse fundo, esse frio,
essa lonjura.
Noite da nossa mágoa.
Prende à Terra
onde estou, e não segura
essa insuspeita sede
de doçura.
Poço da nossa água.

Água,
a minha, a tua,
elemento
filtrado pela Lua
onde passa e flutua
o sentimento.
Nesse nocturno tempo.

Rio,
de tão longa margem.
Fio
de estreita passagem
onde corre subtil a vibração
da mais profunda e íntima
viagem. - Linguagem
de emoção.

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Mercúrio

Rápido mensageiro
de notícia se veste.
Leva o saber primeiro
de Este para Oeste.

De opostos é visão.
Serve o noticiário.
Permite a relação
de polos ao contrário.

Vive em dualidade
revela, às vezes mente.
Nem sente a qualidade
da nova que se sente.

Rege a contradição
curioso planeta
é papel de escrivão
e tinta de poeta.

É palavra. É recado
do que vai, ao que fica.
Não espera o resultado
transmite - comunica.

Sobre o acontecer
é nota que o registra.
Presente no viver
do jornalista.

É ponte. Ligação.
Carta que se recebe.
Eixo de informação.
Pensamento mais leve.

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Vénus

Do amor
o gesto mais inteiro.
Da forma
a perfeição total.
Da vida
gérmen original
e desejo primeiro.

Amplia o sentimento
obscurece a razão
converte o pensamento
em emoção.

Traduz a formosura
atrai o olhar certo
é pausa de doçura.
É céu aberto.

Onda que valoriza


e transfigura o amado
de amado em desejado.
No amor se realiza.

Une o sentir do esteta


à forma apetecida
algo de mim projecta
além da vida.

É planeta sagrado.
Amantíssima fonte.
O belo revelado.
O horizonte.

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Terra

Terra.
É essa espera intemporal.
Essência maternal.
Passiva, estável,
complementar.
Amável à potência
solar activa.
A Terra
é em seu estar
sólida e receptiva.

Terra
o que contém o gérmen da forma
que transforma
e sustém.
Terra, a mãe.
Yin por natureza.
Terra, essa firmeza.
Alimento do homem
sobre a Terra.

Homem em movimento.
O conflito e a guerra.
Terra.
Planeta não-sagrado.
Instável, em tensão.
Berço do ser fechado
no ciclo da ilusão.
Terra é ser em-terrado
entre o sim e o não.
Homem acorrentado
à própria mutação.
Entre a noite e o dia.
Homem de solidão
onde em tempo melhor
a dor-de-não-amor
o inicia.

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Marte

Marte.
A arte do combate.
O conhecer de espada que não parte.
A arma do poder.

É fogo, é pioneiro
da vida sobre a terra.
O impulso primeiro
primeira guerra.

Agressão que pressinto.


A lei da natureza,
a violência, o instinto
de defesa.

Isso que faz agir


acorda a consciência
o tempo de expandir.
Independência.

O trabalho no duro
o acto repetido.
Pedra a pedra e o muro
foi construído.

Marte concretiza
a faca que manejo
força que realiza
a carga do desejo.

A mão de gestos mil


que a matéria transforma.
A potência viril.
O Homem.

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Júpiter

É o valor da lei.
A força do critério
a coroa do Rei
e do Império.

Activa a realidade
além-da-esperança.
A ética. A verdade.
A segurança.

Sentimento maior
sustem a decisão.
É poder do senhor
e motor de expansão.

É crer. É ter prazer.


É impulso vital.
Onda de bom-viver
irracional.

A certeza sem custo


dum tempo mais inteiro.
A firmeza do justo
espada de cavaleiro.

O fogo. O ideal.
A intuição correcta.
Vestes de cardeal
e abrigo de asceta.

O gesto criador
intraduzível.
É a fé interior
noutro melhor possível.

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Saturno
Saturno é o soturno
o osso, a paciência
o que dentro é caroço.
A resistência.

Do que ontem foi, é espelho.


Comprido é seu cabelo.
Remoendo conselhos
de velho do Restelo.

Vira as costas ao tempo.


É grave e é maduro.
Olha p'ra trás. É lento,
Não sabe do futuro.

Recolhe a aprendizagem
no dia que acabou.
Só respira a aragem
que passou.

Na penumbra fechado
da Terra em que se esconde
com cuidado aprofunda
de onde a onde.
Sempre recusa tudo
o que é começo.
É antigo e sisudo.
Cobra da vida, o preço.

Sua capa não abre.


Seu cajado é o medo.
Guarda no bolso a chave
do segredo.

Saturno
Rege o Capricórnio
Acumula no tempo
A experiência da terra.

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A oitava inicia um novo ciclo.

Os planetas lentos
Urano, Neptuno e Plutão
são já planetas da oitava.

O seu apelo é transcendente.


Mais alta a sua vibração.

Urano oitava de Mercúrio.


Neptuno oitava de Vénus.
Plutão oitava de Marte.

O trânsito de Urano
desencadeia uma vibração
que pela sua rapidez altera o comportamento mental
de quem o registra.
Produzindo, quando não-dissonante,
uma transformação qualitativa.
Urano abre para uma imediata, intuitiva
e global forma de conhecimento.
Altera o modo de pensar, o ritmo do próprio pensamento.
As associações tornam-se involuntárias, inesperadas.
As ideias surgem espontâneas,
súbitas, universais, como que reveladas.
O saber analítico já não satisfaz.
A mente uranizada ultrapassa Mercúrio,
que ainda é raciocínio dedutivo
condicionado pelo relacionamento de situações opostas,
pela dualidade da inteligência e da matéria.
Urano inspira, ilumina.
Sintoniza uma outra dimensão.
É o poder do espírito.

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Urano

Urano
é o plano do plano.
Dinâmico, mecânico,
fatal.
Pluri-dimensional.

A vibração do espaço
A dimensão maior.
É o aço, o abraço
libertador.

A frequência mais alta.


Urano é o não-crível.
Ciclo fora da pauta.
Imprevisível.

Rasga para o futuro.


Revelação. Chamada.
É a fenda no muro.
O desabar da casa.

Liberta, faz sair


do seguro e opressivo.
Pressiona, faz abrir
para o que é vivo.

Obriga a encontrar
a decisão precisa.
Súbita-falta-de-ar
que se materializa.

É ar em movimento
o raio, a queimadura.
É o vento-sem-vento
respiração mais pura.

Rigoroso e abstracto
revoltado e mutável.
Ponte-da-mente-ao-acto.
Implacável.
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Neptuno

Neptuno.
É uno, é mediuno
oceano de percepção final.
Diluição, fusão
dissolução total.

É o filtro e a esponja
do sentido mais vasto.
Alimento da monja
sentimento mais casto.

É mar. É flutuar
sem fim e sem começo.
Amar
à escala do universo.

A vibração, o modo
da sintonia astral.
É já visão do todo.
Acorde musical.

Emoção e sentir
dessa oculta vitória
que nos cabe.
O místico fluir
da longínqua memória
de Unidade.

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Plutão
Plutão.
É a raiva. É o não.

Recusa obstinada
ao melhor que me espera.
Plutão, essa fera
enjaulada
em fundos abissais.
Aprisionada a mundos
para os quais
hoje não há memória.
Plutão
é a noite da história.

O desejo brutal
quando obscuro acontece.
É o mal. Animal
que permanece.

A força do instinto
feroz, incontrolada.
Angústia que pressinto
em potência frustrada.

Plutão é a prisão.
O chão. Poluição.
Destruição na Terra.
Plutão é Escorpião
é guerra.

Em cinzas do passado
a Fénix renascida.
Plutão pacificado
é a vida.

Da negrura da água
às alturas da luz
é o prego e a tábua
no quadrado da cruz.

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Não sou eu
homem entre os homens
quem apresenta os céus
e as névoas monstruosas das estrelas.
São os céus astronómicos que me apresentam
a mim, homem vivo
a vocês, vivos espectadores.
Saímos igualmente desses céus estrelados.
Fizeram-nos da sua substância.
Estivemos contidos em gérmen nessa poeira estelar.
Não apenas poeira material
uma vez que o nosso olhar consciente
lentamente saiu
dessa névoa sem olhar.

R. Ruyer

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