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“É TUDO SOBRE CRISTO” – EXPOSIÇÕES EM COLOSSENSES

02. ORAÇÃO CENTRADA EM CRISTO


Colossenses 1:3-12

Introdução:
No livro de Atos, no capítulo 7, encontramos a primeira eleição de diáconos da história. A constituição
de diáconos se deu porque o serviço das mesas, da distribuição de alimentos, estava sobrecarregando os
apóstolos, que eram os únicos oficiais da igreja naquele tempo. Diante disso, os apóstolos definiram que os
diáconos se encarregariam do trabalho das mesas para que eles pudessem se esforçar em outra tarefa: a Palavra
e a oração. Os apóstolos entenderam que é dever do pastor orar pela igreja. É responsabilidade dos pastores
tirarem tempo para se dedicarem à oração pela igreja.
Diante disso, hoje resolvi perguntar a alguns pastores quais são os principais motivos de oração que eles
têm em relação às suas igrejas. Veja algumas das respostas:

 “Avivar a vontade do povo. Envolvimento.” (Pr. Heron, Campos/RJ)


 “Generosidade.” (Pr. Adelchi, Oitava Betim)
 “Maturidade e paz.” (Pr. Bruno, Oitava IPBH)
 “Para que cada cristão entenda a missão de Deus e seja formado à imagem de Jesus.”
(Pr. Marcos, PIB Morrinhos/GO)
 “Domingo passado oramos por uma igreja perseverante na doutrina dos apóstolos,
com mais comunhão, com mais temor a Deus, com mais simpatia e hospitalidade. E
que de verdade, a face dá igreja apostólica apareça.” (Pr. Jonas, IPB Limeira/SP)
 “Para que Deus avive os convertidos e converta os incrédulos.” (Pr. Alexandre, 3ª IP
Alto Caparaó)
É interessante notar que o alvo das orações é sempre espiritual. E deve ser assim mesmo. Na oração pela
igreja, precisamos focar, primeiramente, em valores eternos, em virtudes espirituais, naquelas coisas que nos
farão ser mais parecidos com Cristo a cada dia.
Hoje, vamos estudar a oração de um pastor por uma igreja local. Paulo, logo após saudar os irmãos de
Colossos, começa a orar por aqueles irmãos, e podemos notar, com bastante facilidade, que a oração de Paulo
tem dois focos principais: gratidão e súplica. Diante disso, este será nosso foco nesta noite: pelo que Paulo
agradece, e pelo que ele suplica em favor de uma igreja amada. E como, afinal de contas, isto pode e deve
impactar nossa vida de oração.

1. PAULO EXPRESSA GRATIDÃO PELOS COLOSSENSES (1:3-8)


O que observamos no primeiro trecho, é que Paulo está agradecendo ao Senhor pela igreja, pelos
cristãos de Colossos. Antes, contudo, de pensarmos nas razões da gratidão de Paulo, é interessante notarmos
duas coisas importantes que aparecem antes. Primeiramente, a constância da oração de Paulo: “Sempre damos
graças […] não deixamos de orar…” (1:3,9). Paulo, que escrevendo aos Tessalonicenses disse que é dever
cristão “Orar sem cessar”, não se furtou a ele mesmo cumprir este mandamento. A caminhada cristã não é
marcada por orações esporádicas, eventuais ou pontuais. Muito pelo contrário, a oração é o combustível da vida
cristã, é o fôlego para nossa alma, é o impulso para continuarmos a caminhada. É interessante o que Pr.
Hernandes afirma sobre a oração de Paulo pelos Colossenses: “Paulo não conhecia face a face a igreja de
Colossos, mas orou por ela sem cessar. A oração é o oxigênio que alimenta a alma. Embora Paulo tivesse
muitos assuntos pessoais a preocupar-lhe a mente, seu foco estava em rogar a Deus em favor de outras
pessoas, e isso de forma intensa e perseverante. Muitos de nós não cessamos de orar porque nunca começamos
a fazê-lo.”1. Paulo chama nossa atenção aqui para a constância que deve existir em nossa vida de oração. Não
podemos esperar problemas aparecerem para nos colocarmos diante do Senhor em oração. Precisamos orar,
esteja tudo bem ou não esteja nada bem.
Em segundo lugar, é importante notarmos a forma como ele introduz sua palavra aos irmãos: “Sempre
oramos por vocês e damos graças a Deus, o Pai de nosso Senhor Jesus Cristo,” (1:3). Por que isto é
importante? Para o judaísmo era perfeitamente natural (e até necessário) chamar a Deus de “Pai”. Isso fazia
parte do culto, da liturgia, do próprio estilo de vida da religião judaica. Contudo, Paulo vai além e não limita-se
a chamar a Deus de Pai. Ele ressalta que é o Deus e Pai de nosso Senhor Jesus Cristo. Segundo Ralph Martin,
“… ‘o espírito da verdadeira fé no Pai’ é achado na compreensão mais plena do nome e da natureza do Pai, que
foi revelada no Seu Filho. O título de Deus como sendo o Pai de Jesus abriu uma nova era na história religiosa,
e deu aos cristãos uma intimidade e calor na sua abordagem a ele.” 2. O que Paulo quer ressaltar aqui? Mais uma
vez, é tudo sobre Jesus. Só podemos conhecer a Deus de verdade por meio de Cristo, nosso Senhor. Só
podemos chamá-lo de Pai se considerarmos que Jesus, mesmo sendo Deus, é o Filho Amado. Como bem
pontuou João Calvino: “Pois não nos é lícito reconhecer qualquer outro Deus que não seja aquele que se nos
manifestou em seu Filho. E esta é a única chave que nos abre a porta, caso estejamos desejosos de ter acesso
ao Deus verdadeiro. Por isto mesmo também ele nos é Pai, porque nos tem abraçado em seu Filho unigênito, e
nele também manifesta seu favor paterno para nossa contemplação.”3.
Tendo esclarecido estes pontos, voltemos nossos olhos às razões da gratidão paulina. Mas, pelo que ele
agradece? Podemos destacar ao menos três motivos de gratidão que inundam o coração de Paulo:
a) Gratidão pela conduta da igreja: o que podemos notar de imediato no texto é que Paulo está
agradecendo a Deus pela fé, pelo amor e pela esperança que os cristãos de Colossos têm. Mais uma vez, vemos
Paulo trabalhando em torno da “tríade da graça”. Paulo é grato a Deus porque a igreja de Colossos tem
vivenciado a fé, que se manifesta em amor e esperança.
Começando pela fé, precisamos relembrar que não é uma fé qualquer. Não é fé em instituições, não é fé
em pessoas, não é fé em dogmas vazios. É fé em Cristo Jesus e em seu Evangelho bendito. Evangelho que foi
recebido por aqueles irmãos como a verdade de Deus e que, profundamente, poderia transformá-los. Esta fé não
é em Cristo como mero objeto, que faria de Jesus meramente um ídolo. O alvo de Paulo, aqui, é afirmar que a
fé daqueles irmãos se manifesta na vida em Cristo. É como se Paulo dissesse o seguinte: “Agradecemos pela fé
que vocês têm na dinâmica da vida em Cristo”, ou seja, a gratidão de Paulo é porque a fé daqueles irmãos está
bem fundamentada, bem enraizada, bem firmada na pessoa, na obra e na vida de Cristo Jesus. Segundo Martin,
“… é a maneira de Paulo, já no cabeçalho da carta, focalizar o Kyrios [Senhor] glorificado como sendo o
doador da nova vida às pessoas sob Seu senhorio.”4. Paulo é grato a Deus pela fé daqueles irmãos pois sabe que
esta fé não é natural a eles. Foi o próprio Deus quem a implantou em seus corações.

1
Hernandes Dias Lopes. Colossenses: a suprema grandeza de Cristo, o cabeça da igreja (São Paulo, SP: Hagnos, 2013), 53.
2
Ralph P. Martin. Colossenses: introdução e comentário (São Paulo, SP: Vida Nova, 2011), 57.
3
João Calvino. Gálatas, Efésios, Filipenses e Colossenses (São José dos Campos, SP: Fiel, 2010), 493-494.
4
Martin, Op. Cit., 58.
Junto da fé, Paulo menciona o amor dos cristãos colossenses. Para Paulo, era mais que natural que a
verdadeira fé fosse acompanhada pelo amor. O resultado de uma fé legítima é o amor. Jesus resumiu os
mandamentos em amar. O amor faz parte, inexoravelmente, da caminhada cristã autêntica e digna. É
interessante notar que Paulo qualifica este amor dizendo que é “por todos os santos”. Será que com isso Paulo
quer dizer que devemos amar apenas aqueles que professam a mesma fé que nós? Certamente, não. Como
Calvino comenta, “Ele emprega a expressão amor para com os santos, não com vistas a excluir outros, mas
porque, na medida em que alguém se uma a nós em Deus, devemos abraça-lo o mais estreitamente com uma
afeição especial. O verdadeiro amor, pois, se estenderá ao gênero humano universalmente, porque todos são
nossa carne e ‘criados à imagem de Deus’ [Gn 9.6]; mas, com respeito a graus, isso começará com aqueles
que são da ‘família de Deus’ [Gl 6.10].”5.
O ponto da gratidão de Paulo é que os Colossenses tiveram seus relacionamentos transformados. Pela fé,
tiveram um relacionamento transformado com o Senhor. Pelo amor, tiveram um relacionamento transformado
com os homens.
Ainda com relação à conduta da igreja, Paulo agradece a Deus pela esperança que aqueles irmãos têm. É
curioso como Paulo trata a questão, pois mostra a esperança como a causa da fé e do amor. Entretanto, em
outros momentos da Escritura, a fé vem antes, e gera amor e esperança. Por que isso? Porque, quando da nossa
conversão a Jesus, a tríade da graça passa a ser uma realidade em nós! Desde a nossa conversão, passamos a
viver a fé, a esperança e o amor, não importando a ordem deles.
Dr. Augustus Nicodemos, brilhantemente, comenta sobre esta passagem:
O versículo 5 mostra que essa fé e esse amor se baseavam na esperança daquilo que estava
reservado nos céus para eles. É muito importante saber disso. Quando Cristo ressuscitou dos
mortos e subiu ao céu, deu à humanidade a certeza e a garantia de que um dia os salvos estarão
com ele – saber isso e confiar nessa verdade faz com que cada cristão tenha fé em Jesus e amor
para com os santos. É por isso que o encontro com Senhor e o desejo de estar com ele permeia
todas as exortações para uma vida terrena santa e fiel: por causa daquilo que está reservado nos
céus aos que o recebem como Senhor e Salvador.

A Bíblia diz com frequência que os cristãos estão no mundo mas não são do mundo. O destino, a
moradia de cada crente em Jesus já está reservada. Por isso importa que os cristãos amem uns aos
outros, vivam de maneira digna, creiam no Senhor Jesus, façam o que tem de ser feito nesta vida e
preguem o evangelho. Essa é a grande motivação, a esperança proposta à igreja. Naturalmente,
esperança nesse contexto quer dizer certeza. É chamada esperança porque ainda não se
concretizou, mas é uma esperança certa – e é por isso que esse amor deve ser demonstrado para
com todos.6

Diante de tudo isso, a gratidão de Paulo pelos colossenses transforma-se em encorajamento para nós:
precisamos ter fé em Jesus, amar uns aos outros e ser movidos pela esperança da eternidade. Estamos na terra,
com os pés no chão, mas com os olhos e o coração no céu, com o nosso Salvador.
b) Gratidão pela expansão do Reino: em segundo lugar, podemos notar que Paulo é grato a Deus
porque o Evangelho tem sido contagiante. Ele tem ganhado terreno, tem conquistado espaço. O Reino de Deus
avança! Como podemos notar isso?

5
Calvino, Op. Cit., 494.
6
Augustus Nicodemos Lopes. A supremacia e a suficiência de Cristo (São Paulo, SP: Vida Nova, 2013), 22.
Logo após Paulo falar da esperança dos colossenses, abre como que um parêntese que fala da expansão
do Evangelho do Reino. Vejamos: “Agora, as mesmas boas-novas que chegaram até vocês estão se
propagando pelo mundo todo. Elas têm crescido e dado frutos em toda parte, como ocorre entre vocês desde o
dia em que ouviram e compreenderam a verdade sobre a graça de Deus.” (Col 1:6). É importante notarmos
algumas coisas aqui.
Primeiramente, o que é o Evangelho? Diz o apóstolo Paulo que aqueles irmãos ouviram e aprenderam a
“verdade das boas-novas”. Dr. Shedd, explicando este texto, diz: “Logos, o termo escolhido por Paulo, e que
em português se traduz por palavra, diz respeito à lógica, razão e mensagem persuasiva por não ser
contraditória. É também o título atribuído por João a Jesus no seu evangelho (Jo 1.1, 14). Assim, o evangelho
resume-se essencialmente na verdade que nos revela quem é Jesus Cristo e o que ele fez por nós em sua vida,
morte, ressurreição e exaltação.”7. O que Paulo está ressaltando aqui é que os irmãos de Colossos não
receberam uma mensagem falsa, um engodo, um pastiche, uma falsificação. Receberam, pelo contrário, o
evangelho verdadeiro, o evangelho da vida, sofrimento, morte, ressurreição e ascensão de Jesus Cristo, o Filho
de Deus! Isso fez com que os Colossenses entendessem a graça de Deus como ela realmente é, e não como os
dissimulados da heresia colossense pregavam.
Em segundo lugar, o Reino se expande pelo mundo todo. A mensagem do Evangelho é universal, e a
terra se encherá do conhecimento da glória do Senhor, disse o profeta (cf. 2:14). As heresias, na maioria das
vezes, são apenas regionais. As falsas doutrinas não se expandem com tanto poder e força quanto o Evangelho
verdadeiro. Paulo agradece a Deus porque não apenas os colossenses receberam o Reino do Senhor, receberam
o Evangelho. Esta graça espalhou-se e ainda espalha-se hoje.
Por fim, é preciso frutificar. Pr. Hernandes diz: “O evangelho é uma força viva. Ele tem vida em si
mesmo. Aonde chega, vidas são transformadas, famílias são salvas, cidades são restauradas e nações são
impactadas. O evangelho transforma o pecador recalcitrante em santo e fiel em Cristo. Seu poder é irresistível.
Sua obra é eficaz. A voz média do verbo grego karpoforéo, ‘dar fruto, frutificar’, enfatiza que o evangelho
produz fruto por si mesmo.”8.
c) Gratidão pelo ministério de irmãos fiéis: Paulo reconhece, por fim, o ministério de seu amado
conservo, Epafras. Foi graças ao esforço, zelo, empenho e dedicação deste irmão que o Evangelho chegou até
os Colossenses. É digno de nota o fato que Paulo não agradece simplesmente a Epafras. Ele agradece a Deus
por Epafras, como que dizendo: “Epafras é um servo fiel, porque DEUS o fez assim.”. Devemos, à luz disto, ser
conscientes da necessidade de orarmos por irmãos que têm sido zelosos e fiéis na proclamação da Palavra,
mesmo que não os conheçamos pessoalmente.

2. PAULO INTERCEDE PELA IGREJA (1:9-12):


Em seguida, após orar em gratidão ao Senhor pela vida cristã dos irmãos de Colossos, Paulo passa,
então, a interceder pela caminhada de fé daquela igreja. É digno de nota, desde já, que os pedidos de Paulo nada
têm a ver com questões materiais ou financeiras. Não que isso seja errado em si mesmo, mas demonstra-nos um
caminho na contramão do que temos visto na atualidade. Os ditos “apóstolos” de hoje só tem interesse por
prosperidade material e cura física. Paulo, em contrapartida, orava por questões espirituais na vida dos
Colossenses. Seus pedidos eram centrados na caminhada de fé que aqueles irmãos já vinham nutrindo e
continuariam a nutrir.
7
Russell Shedd; Dewey Mulholland. Epístolas da prisão (São Paulo, SP: Vida Nova, 2012), 226-227.
8
Dias Lopes, Op. Cit., 47.
Conforme vamos notar, a oração que Paulo faz é profundamente simples, ao mesmo tempo que é
profundamente lógica. O apóstolo faz três pedidos centrais, mas junto a eles ele explica qual a razão daquele
pedido, ou qual o objetivo daquele pedido, ou ainda qual a base daquele pedido. Assim, vejamos.
a) Conhecimento da vontade de Deus e sabedoria (v. 9): primeiramente, Paulo ora para que os
Colossenses tenham pleno conhecimento da vontade de Deus, além de sabedoria e entendimento espiritual.
Antes de saber o porquê de Paulo pedir essas coisas, precisamos entendê-las. Afinal, o que Paulo está pedindo?
Quando pensamos em vontade de Deus, o que costuma vir à nossa mente, logo de cara? De maneira
geral, pensamos em qual a vontade de Deus para meu casamento, para meu trabalho, para a faculdade que vou
fazer, para qual modelo de carro vou comprar. Pensamos que pedir a Deus que nos revele sua vontade é,
simplesmente, nos apontar os caminhos que devemos seguir na caminhada da vida. Entretanto, não é disso que
Paulo está falando. Embora não seja intrinsecamente errado pedir a Deus que nos direcione, conhecer a vontade
de Deus tem muito mais a ver com Deus do que com nós mesmos.
Paulo quer que os Colossenses tenham pleno conhecimento da vontade de Deus. É extremamente
significativo o fato de Paulo usar a palavra “conhecimento” aqui, visto que ele o faz justamente para combater a
heresia colossense. É como se Paulo dissesse o seguinte: “Eis o que vocês, realmente, precisam conhecer: a
vontade de Deus”. Mas, voltemos um pouco: que vontade é essa?
Caminhando por outros textos da Escritura, podemos chegar a alguma conclusão lógica e certa do que
Paulo tem em mente. Por exemplo, o Salmo 143.10 mostra-nos que a vontade de Deus está intimamente ligada
à obediência zelosa e diligente dos mandamentos que Ele nos dá. Ou, ainda, quando observamos Romanos 12.2,
somos levados a entender que a mudança de mente, a transformação do nosso caráter como um sacrifício a
Deus é o que nos leva a experimentar a vontade dele. Por fim, ainda aprendemos com Paulo em
1Tessalonicenses 4:3 acerca da vontade de Deus para nossa vida. Qual a suma de tudo? A vontade de Deus para
nós é que o obedeçamos, sigamos sua Palavra, ouçamos sua voz e caminhemos na direção que ele nos aponta
na Escritura, em primeiro lugar!
Diante disso, à guisa de conclusão, D. A. Carson afirma que “É tolice fingir que você está procurando a
vontade de Deus para a sua vida, em termos de um cônjuge ou alguma forma de vocação cristã, quando não há
um desejo profundo de adotar a vontade de Deus já revelou bondosamente.”9.
Mas, o que acontece se eles conhecerem a vontade de Deus? O texto segue nos ensinando: “Então vocês
viverão de modo a sempre honrar e agradar ao Senhor, dando todo tipo de bom fruto e aprendendo a conhecer
a Deus cada vez mais.” (Col 1:10). Paulo ensina que, quando conhecemos a vontade do Senhor, nós vamos
viver para honrá-lo e agradá-lo; vamos frutificar; e, ainda, vamos conhecer cada vez mais ao Senhor. Veja que
Paulo aponta para ações na caminhada da fé. A vida cristã, de acordo com as Escrituras Sagradas, não é inerte.
Longe disso, ela se movimenta para, ativamente, honrar e agradar a Deus, frutificar para a glória de Deus e
conhecer mais a Deus.
b) Fortalecimento com o poder de Deus (v. 11): em segundo lugar, Paulo ora para que os Colossenses
sejam fortalecidos com o poder de Deus. É digno de extrema atenção o que Paulo está pedindo aqui, visto que
vivemos num tempo em que a força de alguém ou de alguma instituição é medida pela sua influência financeira,
pelo seu porte físico ou por sua fortuna. Paulo mostra-nos, com este pedido, que nada disso é fundamental para
termos forças para a caminhada cristã. O que é realmente importante é que o poder de Deus nos fortaleça. Com
isso, Paulo ensina-nos três lições valiosas.

9
D. A. Carson. Um chamado à reforma espiritual (São Paulo, SP: Cultura Cristã, 2007), 104.
Primeiro, batalhas espirituais exigem forças e poderes espirituais. Aos efésios, Paulo disse o seguinte:
“Uma palavra final: Sejam fortes no Senhor e em seu grande poder. Vistam toda a armadura de Deus, para
que possam permanecer firmes contra as estratégias do diabo. Pois nós não lutamos contra inimigos de carne
e sangue, mas contra governantes e autoridades do mundo invisível, contra grandes poderes neste mundo de
trevas e contra espíritos malignos nas esferas celestiais.” (Ef 6:10-12). Qual é o ponto, então? Nós não estamos
numa luta qualquer! Não são quaisquer armas que nos serão úteis ou fortes o bastante para as batalhas que
iremos enfrentar. Nossa luta é contra as forças espirituais do mal, e para vencê-las precisamos de fortalecimento
espiritual nAquele que tem toda força espiritual coberta de bondade e justiça: o nosso Deus.
Em segundo lugar, somente na força do Senhor é que podemos fazer algo. Gosto muito de pensar no
texto de Deuteronômio 8:11-20 em conjunto de João 15:5. Ambos os textos nos relembram que se
conseguimos alguma coisa, se conquistamos algo, se vencemos alguma batalha, se triunfamos em algum
momento de nossa história, isso não está em nós, mas no Senhor! Precisamos entender, irmãos, que somente na
força do Senhor é que temos condições de lutar pela fé, de viver o evangelho, de caminhar em segurança, de
pregar com autoridade, de combater as heresias, de resistir às oposições! Isso porque não vamos na nossa força,
mas na do Senhor, no poder do Senhor, na autoridade do Senhor!
Por fim, Paulo mostra que este fortalecimento é essencial para a caminhada cristã pelo que nos espera
adiante. Paulo “justifica” este pedido de oração nas palavras seguintes: “… a fim de que tenham toda a
perseverança e paciência de que necessitam.”. O apóstolo está utilizando, aqui, duas importantíssimas e
riquíssimas palavras da língua grega para definir “perseverança” e “paciência”. Hupomene, que é a palavra para
perseverança, tem a ver com resistir firme apesar das circunstâncias adversas; makrothymia, por sua vez, que é a
palavra para paciência, tem a ver com resistir firmemente às pessoas difíceis que se nos opõem. Por que isto é
importante? Como Ralph Martin ressalta: “Perseverança e longanimidade são duas condições necessárias do
caráter cristão diante da adversidade e da oposição. Se uma distinção for tirada entre os dois termos,
‘perseverança’ é usada com relação a circunstâncias adversas, ao passo que ‘longanimidade’ é a virtude
necessária quando pessoas difíceis de serem suportadas atentam contra nosso controle-próprio.”10.
c) Alegria e que sempre graças ao Pai (vv. 11-12): O terceiro pedido de Paulo é que eles tenham
sempre alegria e gratidão em seus corações. Alegria e gratidão são mandamentos enfatizados pelo apóstolo
Paulo, também, na primeira carta aos Tessalonicenses. Por que a alegre gratidão é um elemento essencial na
oração de Paulo? Porque “Não dar graças seria um testemunho mudo de uma catastrófica perda de perspectiva;
agradecer, dar graças com alegria, é lembrar que o Pai ‘… vos fez idôneos à parte que vos cabe da herança dos
santos na luz. Ele nos libertou do império das trevas e nos transportou para o reino do Filho do seu amor, no
qual temos a redenção, a remissão dos pecados’ (1.12-14).”11.
Paulo lembra aos Colossenses que, diferente do que a heresia colossense poderia prometer, Deus já
havia lhes dado herança, já havia dado libertação, já havia feito cada um deles cidadãos do Reino, já havia
redimido a cada um! Paulo ora para que eles sempre se lembrem destas preciosas verdades e, apesar das
circunstâncias adversas e das pessoas complicadas, eles não se entristeçam; pelo contrário, que sejam
alegremente gratos pelo que o Senhor fez!
É brilhante a maneira como Dr. D. A. Carson arremata esta questão:
Se Deus entendesse que a nossa maior necessidade era econômica, ele teria enviado um
economista. Se ele entendesse que a nossa maior necessidade era entretenimento, ele teria enviado

10
Martin, Op. Cit., 63.
11
Carson, Op. Cit., 111.
um comediante ou um artista. Se Deus tivesse percebido que a nossa maior necessidade era
estabilidade política, ele teria enviado um político. Se ele tivesse percebido que a nossa maior
necessidade era na área da saúde, ele teria enviado um médico. Mas ele entendeu que a nossa
maior necessidade envolvia o nosso pecado, a nossa alienação dele, a nossa profunda rebelião, a
nossa morte; e ele nos enviou um Salvador.12

APLICAÇÕES
Permita-me, agora, trazer algumas aplicações práticas para nossa caminhada espiritual. Afinal, o que a
oração de Paulo, profundamente centrada em Cristo Jesus, pode nos ensinar.
Primeiramente, desenvolva o hábito de orar mesmo por quem você não conhece: o apóstolo não
conhecia pessoalmente os crentes de Colossos. Entretanto, isto não o impediu de nutrir genuíno interesse pela
vida espiritual daqueles irmãos a ponto de dedicar-se por eles em oração continuamente! Que grande lição para
nós que, infelizmente, muitas vezes, agimos egoisticamente em nossas orações. Nós que, por diversas ocasiões,
tornamos a oração em algo que existe apenas para que nossos desejos, anseios, prazeres e vontades sejam
satisfeitos. Irmãos, que aprendamos com Paulo a ser generosos em nossas orações! Que aprendamos que nossa
vida de oração não é apenas para nós, mas para nosso irmão também. Ouça-me: é possível que você eu
tenhamos certa facilidade em orar genericamente por questões, pessoas e situações que não conhecemos tão
bem. Por isso, muitas vezes, oramos de maneira genérica pedindo “Que Deus abençoe as missões”, “Que Deus
cure os enfermos”, “Que Deus supra as necessidades”. Mas, quantas vezes, decidimos ser intencionais e
específicos? Quantas vezes, por exemplo, oramos: “Senhor, abençoe a plantação da igreja em Luisburgo. Eu
nunca fui naquela igreja, mas sei que há irmãos meus lá. Que o Senhor prospere aquele trabalho.”; ou então,
“Que o Senhor abençoe o Hospital de nossa cidade, seus médicos, enfermeiros, etc.”. É bastante provável que
você seja capaz de citar nomes de pessoas envolvidas ali. Por que, então, não ser mais específico? Ore!
Em segundo lugar, mantenha a tríade da graça em perspectiva nas suas orações: Paulo,
recorrentemente, relembra o bendito valor da fé, do amor e da esperança na vida cristã, e aqui não é diferente.
Entretanto, diferente de outras ocasiões, aqui Paulo tem estes três elementos em sua oração pelos crentes de
Colossos. O que aprendemos aqui, então? Ora, nossas orações devem ser encharcadas de fé, amor e esperança.
Fé para orarmos, pois é requisito fundamental. Amor, para orarmos generosamente, com motivações corretas,
com intenções bem orientadas, com desejos santos. Esperança, para que verdadeiramente consigamos olhar para
o futuro com graça e confiança de que o Eterno há de realizar grandes coisas.
Além disso, aprendemos que orações centradas em Cristo tem o Reino como tema constante: a
expansão do Reino de Jesus deve ser pulsante no coração do crente em Jesus. É inegável que, inúmeras vezes,
queremos que o nosso reino pessoal prospere, avance e cresça. Desejamos, ardentemente, que nosso planos e
projetos sejam concretizados. Mas, o que dizer do mais importante Reino, o Reino de Cristo? O que temos feito
por seu crescimento e expansão? Quanto temos nos dedicado em oração a fim de vermos os incrédulos vindo à
fé, os desanimados sendo despertados, os desesperados encontrando alívio?!
Em quarto lugar, assuma o compromisso de agradecer e louvar a Deus pela vida de servos fiéis:
“ninguém é uma ilha”. Certamente você já ouviu isto, e temos, realmente, uma grande verdade aqui. Nós não
vivemos a caminhada da fé de maneira isolada e nem num vácuo. Se hoje estamos aqui, é porque servos fiéis do
passado abriram um caminho para nós. Os irmãos de colossenses eram devedores à dedicação e ao empenho de
Epafras. E Paulo também reconhecia-se assim, e por isso orou por aquele irmão. Quantas vezes você parou para
12
Idem.
agradecer a Deus pelos irmãos que ele levantou no passado para que hoje, no presente, você desfrutasse da vida
em comunidade da fé?
Outra importante lição deste texto é para que a santificação permeie nossa vida de oração: a vida
santa não é uma opção ao cristão. É uma imperiosa necessidade. Somos renascidos em Cristo, ressuscitados
pelo poder do Espírito, atraídos à poderosa presença de Deus Pai a fim de que cresçamos em santificação. E,
sem dúvidas, a santificação passa por uma dedicação à vida de oração, e a vida de oração colabora para nossa
santificação. Oramos para crescer em santidade, e crescendo em santidade nos dedicamos à oração.
Em sexto lugar, não tente adivinhar o caminho, mas tenha fé para a caminhada: Kevin DeYoung
disse em um de seus livros o seguinte:
O futuro nos deixa obcecados, e não é assim que Deus quer que vivamos, porque seu modo de
agir não se baseia em revelações do porvir. Sua estratégia consiste em falar conosco pelas
Escrituras e nos transformar pela renovação de nossa mente. O caminho de Deus não é o da bola
de cristal. Seu caminho é o da sabedoria. Temos de parar de pedir a Deus que nos revele o futuro
e tire todos os riscos de nossa vida. Precisamos começar a olhar para Deus, para seu caráter, para
suas promessas, de modo que tenhamos confiança de correr riscos por amor a ele. 13

A vida cristã não é a vida de revelação do futuro, mas é a vida de fé. É a vida de, conhecendo a vontade
revelada de Deus nas Escrituras, continuar caminhando com firmeza no propósito que Deus nos chamou. Pare
de orar para Deus revelar a vontade futura dele se você não tem se devotado e se dedicado a caminhar na
verdade já revelada dele! Assuma o compromisso de agora mesmo viver segundo a vontade de Deus,
conhecendo mais o Senhor, e caminhe com confiança nele.
Em sétimo lugar, não deixe de orar por perseverança: a caminhada tende a ser cada vez mais
difícil. Os dias não nos permitem ser otimistas. A fé cristã vem sendo ameaçada, achincalhada, vilipendiada e
vituperada das piores formas, e certamente piorará. Irmãos amados, oremos para que Deus nos dê a graça de
aguentar firme! Oremos para que Deus nos abençoe de modo que possamos nos manter no caminho sem
desviar. Oremos para que Deus nos sustente com a verdade diante das heresias; com o compromisso com o
Reino acima do compromisso institucional; com uma caminhada fraterna com irmãos na fé resistindo aos falsos
cristãos que habitam no seio da igreja; com uma vida resiliente diante de ofensas, perseguições e oposições.
Por fim, cultive a alegre gratidão em sua vida: às vezes nossas orações são mais parecidas com listas
de mercado do que com declarações de amor a um Deus que nos ama infinitamente. A vida cristã saudável deve
ser marcada pela gratidão em todos os momentos, e de maneira mais intensa e vívida nas nossas orações. João
Calvino mostra a importância da alegre gratidão na vida ao dizer o seguinte: “[…] inquestionavelmente, a
paciência não é sustentada de outro modo senão por uma mente positiva e nunca será mantida com bravura
por alguém que não esteja satisfeito com sua condição.”14.

13
Kevin DeYoung. Faça alguma coisa (São Paulo, SP: Mundo Cristão, 2012), 45.
14
Calvino, Op. Cit., p.

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