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oHOMEM ESPIRITUAL

POR

LE\\"IS SPERRY CHAFER, D.D. ,.L1TT.D.

Publicado pel;,

CJrnprensa 1lalisla l.c8ular


LITERA TURA EVANGELICA PARA O BRASil "
Ro. ~ 170, 8rooklin - 04558 - 510 Paulo - SP.
1980
COJ)llrlght. por Lowl. S pcrry ChaCer

'rodos 011 (ilt'd tu:; I'Cf:lor vados

com a devida nutOI·17./l,ÇnO


PHEFACIO

o valor do assu11to deste livro é incalculáYel. A verda-


deira espiritual idade é aquela maneira de viver com que os
TITULO DA PRIMEIRA EDIÇÃO EM PORTUGUSS: filhos de Deus podem satisfazer e glorificar o Pai. .ú: aquela
AQUELE QUE ESPIRITUAL e conduta cristã que traz ao próprio coração do crente a pa7
e a alegria celestiais; é aquele gênero de vida do qual depende
toda a utilidade do crente. Dado que Deus faz Seu trabalho
PRIMEIHA EDIÇÃO BRASILEIRA , JULlIO , 1968 por meios humanos, a qualidade ou idoneidade do instrumento
SEGUNDA IMPRESSÃO BRASI LEIRA, AGOSTO, 1980 humano determina o progresso alcançado.
É convicção unânime de que o andar diário dos crentes
deve experimentar um gradual aperfeiçoamento; mas, para
alcançar essa perfeição, só há um único caplinho e esse é o
de Deus. Pretender exortar um Cristão que não é espiritual,
só pelo simples fato de se exortar, representa perda de tempo
e de esforço. Quando aquele crente se torna um crente real-
mente espiritual, ele não precisa mais de exortação; mas sua
Este livro foi produzido pela Imprensa Batista Regular do
vida, tanto por exemplo como por preceito, transforma-se em
Brasil, em cooperação com a entidade evangélica OUTREACH
exortação viva.
Regra geral, os Cristãos sentem-se insatisfeitos na realiza-
INOORPORATED de Grand Raplds, Michlgan, E . U. A. ção dos seus ideais. As palavras "Não consigo realizar o bem",
estabelecem perfeitamente qual a sua maior dificuldade. O
processo divino que conduz à percepção dos Seus desígnios
e depois à execução destes, tem de ser compreendido e logo
.",U'''''"J posto em prática; caso contrário, falharemos .
"... ..
<'l'...,;;, .... .;'\
, " A doutrina da Bíblia no que se refere à natureza do Cristão
e à sua ação diária, tem dado motivo a algumas discordâncias.
O propósito fundamental deste livro, porém, não é corrigir por-
Impresso no Brasil menores doutrinais. O seu objetivo é, antes, firmar a notável
revelação das graças divinas que conduzcm à vida vitoriosa.
Por isso, a nossa intcnção ê abstermo-nos de qualquer contro-
vérsia sobre assuiltos de importância secundúria, tendo em \·ista
a ' nossa presente incapacidade- "p3ra andarmos como convém ;'\
.santos".
A minha súplica, pois, é que esta exposição da vida espI- IN DICE
ritual, como uma realidade e uma força, possa ajudar aqueles
que são chamados a proclamar Cristo neste mundo de trevas
c que esperGm ouvir dizer o :Mest rc: "Bem está, servo bom CAP1TULO I
e fiel" . TRf:S CLASSES DE HOMENS

LC"WÍs Sperr)' Chufcr I'ÃCINo\

o HOMEM NATUR,\L •..... • • • .. • . • . • • • • • . • . •• . II


O HOME:.[ CARNAL 14
O HOMEM ESPIRITUAL •...•.•..• . .. 16

CAP IT ULO IT
OS MINISTJ!:RTOS DO ESPíRITO

As VÁRIAS RELAÇÕES •.•.. 19


1. O Espírito Segundo o Velho Testamento . . .... . 16
2 . O Espirito Segundo os Evangelhos e os Atos até
10,43 . . . . ..... . 20
O Dia de Pentecostes ... . . .. . . .. . ....... . .. . . 21
3. O Espírito Segundo o Resto dos Atos e as Epístolas 2.
Os MINISTÉRIOS DO EsrÍRI'fO . . . . . .•...•... _ 24
1. O Ministério do Espírito que Restringe 24
2. O Ministério do Espírito que Reprova 26
3. O Ministério do Espírito que Regenera ..... . 27
4. O Ministério do Espírito que Habita no Crente 28
a) Segundo a Revelação . .. . . ........ . 29
b) Segundo a Razão 33
5. O Min istério do Espirito que Batiza . . 33
6. O Ministério do Espírito que Sela . . .. . ... _.. . 34
7. O Ministério da Plenitude do Espírito . . . .. . .. . 35
Indice Indice

PÁGINA
CAPITULO III

A PLENITUDE DO ESP1RITO OU A VERDADEIRA


4. A Disciplina é a Correção e Educação do Filho
ESPIRITUALlDADE
Pecador pelo Pai (Hebreus 12:3· 15) .......... 74
PÁGINA
5. Um Exemplo do Arrependimento Cristão (11 Cor.
7,S-1l) ..... .... ...... ...... .... ........... 75
6. O Arrependimento, a Confissão e a Restauração de
o QUE i:: A PLENIT UDE DO EspiRITO? . . . . . . . . . . . . . .. . 37 um Santo do Velho Testamento (Salmo 51 :1-19) 76
As SETE MANIFESTAÇÕI~S DO ESP!RITO . . . . . . . . • •• . . 40 7. A Tríplice Parábola Ilustrativa nos Evangelhos
I. O EspíritoProduz C"uáter Cristão .......... .. . 41 (Luc. 1\,1-32) .............................. . 77
a) Amor .......... . ...................... . 44
CAPITULO V
2. O Espírito.Produz Atividade Cristã ........... . 47
3. O E spiri to
Ensina ...... . ................... . 51
"NÃO AP AGUEIS O ESP!RITO"
4. O EspíritoSuscita LOllvor e Ação de Graças . .. . 53
S. O EspíritoGuia .......... ... ................ . 54
55 Segunda Condição da Verdadeira Espiritualidade
6. O EspíritoTestifica com o Nosso E spírito . . ... .
7. O Espírito Intercede por Nós ......... . .. · 56
56 O QUE É QUE EXT1NGUE o ESPÍRITO • . . . . . . . . . . . . . • . . 84
E)1 QUE CONSi STE A ESPIRITUALIDADE E O QUE NÃo É
59 A VIDA DE SUBMISSÃO .....................•.. . ..... S5
A EsPIRITUA'LIDAOI:: É U)1 TRIUNFO DA GRAÇA DIVII'A
CRISTO, o MODELO . . . . . • • . . . . . . . . . . . . . . . • .• . .. • ..•• 87
CAPITULO IV CONHECENDO A VONTADE DE DEUS . . . . . . . . . • . . . . • . . . 91
O QUE f A VIDA SACRIFICIAL . . . . . . . . . ..... •...... .. 93
"NÃO ENTRISTEÇAIS O ESP1RITO SANTO"
CAPITULO VI
Primeira Condição da Verdadeira Espiritualidade
"ANDAI NO ESPIRITÕ"
O QUE El'TRISTECE o EsP!RITO . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 68
A CURA DOS EFEITOS DO PECADO NO CRISTÃO ... . . . . . . . 69 Terceira Condição da Verdadeira Espiritualid.ade
As SETE PASSAGENS PRINCiPAiS .... ··· · ·· · ·· · · · · · · · 70
I. Só Cri sto Pode Purificar do Pecado (João 13:1-11) 70 O QUE SE ENTENDEi POR" ANDAI NO Esp.iRITO"? ...... 95
2. A Confissão é a Única Condição para a Comunhão, T RÊs RAZÕES PELAS QUAIS SE CONFIA NO EsPÍRITO ... 98
o Perdão e a Purificação (r João 1:1 até 2:2 ) .. 71 1. A Impossível Norma Celestial de Vida em Contraste
3. O Julgamento de Si Mesmo Evita o Castigo. . .. 73 com os Padrões do Mundo .......... . .. .. .... 98
Indice

PÁGINA

2. (J Cri::.tfto Tem de Enfr('!1Iar UI11 Inimigo que Go-


101 Capítulo I
\'e ma o :Mundo
3. .\ :\atl1feZa Adâmica 103
TR~S CLASSES DE HOMENS
. \ Doutrina da Perfeição 10•
A Doutrina da 5:111t ifi('<1ç;\0 ......... . 10ó
Entre o caráter e o gênero de vida di:'!ria dos Cristãos
.\ DO\ltrim da :Katllrcza .\dãlllica lOS exi ste I1ma manifesta diferença. Esta diferença é reconhecida
I. Onde Tem a Sua Origem o ["}ecado que Existe e definida no Novo 1'c::.ta111ellto. Há I1ma possibilidade de
1111l1\ (ri::.lào: ... 110 aperfeiçoamento tanto nesse caráter como nesse gênero ele con-
.. Carne" 111
duta diária de m uitos Cristàos. sendo esse aperfeiço.amento ex-
perimentad o por todos aqueles Cr istãos (lue cumprem certas
.. Velho Homem" 112 condições. Estas constituem, também, um tema importante na
" Pecado" 114 Palavra de Deus.
.'\ :\Iorle do Crente com Cri:;to 11 9 O A póstolo P aulo, inspi rado pelo Espí ri to, dividiu toda a
J{ccapitulaç;1O Bíblica ... . ...... . .. .. .. •. 127 familia humana em três classes : I ) O " homem natural" , aquele
128 que não " nasceu de novo", o homem que nunca se mudou espi-
Ir O Remédio Divino
ritualmente : 2) O " homem camal", aquele que é "menino em
Duas Teorias em Contra ste 128 Cri st o" e que anda " con forme o homem" ; e 3) o homem "es-
O QUE I:; ESf>IRITl:ALlDADF.? 132 piritual ". Estes grupos são classificados pelo Apóstolo segundo
sua capacidade em compreender e receber uma certa for ma
CAPiTULO VII de Verdade, que nos é "revc\ada" dos fatos pelo Espirito. Os
homens são hem diferentes uns dos outros quanto ao fato do
UMA ANALOGIA E A CONCLUSÃO novO nascimento e a vida de poder e de bênção divina; todavia
a dassifica.;:ão desses indivíduos é revelada daramente pela ati-
J. .\ ANALOGIA, (a) SALV.\Ç:\O D.\ CONDENAÇÃO DO tude que tomam perante os falos revelados.
r( Em I Cor. 2:9 a 3 .4. está estabelecida esta tripla dassi-
Pl"·.'\D(). E (iJ) SALV1\ÇÃO DO PODER lJO PECADO 134
ficação, cuja passagem come.;:a como se segue ; "Mas, como está
1 O Estado dAquele que Necessi ta de Ser Salyo esc rito : As coisas que o olho não viu, e o ouvido não ouviu,
(a e b) ... 134 e não subiram ao coração do homem . são as que D eus pre-
? O Objetivo e Ideal Di\'il1os 11a Sah'ação (a e b) 135 parou para os que o amam . l\fas Deus no-las revelou pelo
3 A Salvação Vem SO!llente de Deus (a e b) 136 seu E spírito". Apresenta-se, assim, bem dara, a distinção entre
os assuntos gerais do conhecimento humano que são adquiridos
~. Deus Só Pode Salvar por Meio da CrtlZ e Só pela faculdade de observação, pela percepção auditiva ou pelo
por Ela (a e b) .... . ...... . 136 "coração" (o poder racional)!~ e aqueles outros assuntos que
5. i\ Salvaç;to é pela Fé .(a c b) 137
11. CONCLUSÃO •. . •.•.. . •. .•..•. • •.. 139 9
10 AQUELI': QUE í: ESPIRITUAL TRts CLASSES VE HOMENS 11

~ afirma ,serem-IlOS "revelados" pelo Seu Espírito. Aqui náo :15 coisas espirituais com as espirituais". O Livro de Deus é
há qualquer outra referência senão aquela que já está incluída 11m Livro de palavras, e as mesmas palavras que exprimem a.
nas Escrituras da Verdade, e esta revelação é ilimitada, como ';sabedoria humana" c.'Cprimem também as coisas que "o olho
nos prova a continuação da passagem citada. "Porque o Espí- não viu. e o ouvido não ouviu, e não subiram ao coração do
rito (Aquele que reveJa) penetra todas as coisas, ainda as homem ". Todavia, ;1(!uele que não é ajudado pelo Espírito.
profundezas de Deus", não pode compreender estas "profundezas de Deus", ainda que
Portanto, os homens são classificados conforme a sua capa- C."pressas nas palavras mais familiares ao homem, a não ser,
cidade para compreender e reeeber as "profundezas de Deus", repetimos, que elas sejam " reveladas" por esse Espírito de ver-
Mas ninguém, por si só, pode chegar ao âmago destas "pro- dade. Mesmo assim, e avançando no cOllhecimento destas coisas
fundezas de Deus", "Porque, qual dos homens sabe as coisas reveladas, o progresso só é alcançado quando as coisas espi-
do homem, senão o espírito do homem, que nele está? Assim rituais forem comparadas com outras espirituais. Os segredos
também ninguém sabe as coisas de Deus, senão o Espírito de espirituai s devem ser comunicados por meios espirituais. Fora
Deus" (que as conhece). No entanto, é possível a uma pessoa. do E spírito não pode haver compreensão espiritual.
mesmo sem auxilio (quer dizer, conduzida só por si), penetrar
nos assuntos de seu semelhante, porquanto nele existe "o espí- o H omem Natural
rito do homem". Mas não pode extender ou sair de sua esfera. "Ora o homem natural n50 compreende as coisas (as rc".!-
Não lhe é possível conhecer, por experiência própria, as coisas ladas ou as profundezas) do Espírito de Deus, porque lhe
do reino animal que é inferior a. ele; tão pouco pode entrar parecem loucura; e nem pode entendê-Ias, porque elas se dis-
numa esfera mais elevada e experimentar as coisas de Deus. cernem espiritualmente". Nesta passagem, o homem natural
Mesmo que o homem, só por si, não possa compreender os não é censurado pela sua incapacidade. Simplcsmente. o {llle
mistérios de Deus, o Espírito os conhece, e, por isso, todo se pretende dar é uma informação exata da realidade das suas
aquele que estiver mtimamente relacionado com esse Espírito, limitações, e a passagem prosseguc ainda, detcrmillando a callsa
poderá também atingir o conhecimento desses mistérios. E a verdadeira destas limitações. Acabamos precisamente de ler que
passagem bíblica continua: "Mas nós não recebemos o espírito a revelação nos é dada pelo Espirito. C?lldui.-se, po~anto, que
do mundo, mas o Espí rito que provém de Deus, para que o "homem natural" é impotentc para dlsccrll1r as cOIsas reve-
pudéssemos conhecer o que ("as profundezas de Deus", aque- ladas, enquanto não receber o "Espírito que pro\'é~ de Deus".
las que o olho não viu, etc.) nos é dado gratuitamente por Ele apenas recebeu o "espírito do homem que eXiste nele. E
Deus". "Nós, (isto é, todos os salvos sem exceção) rece- ainda que ele possa. com ;;sabcdoria hu ma~la'~, .Ier as pa~a~'ras,
bemos o Espírito que provém de Deus". Eis aqui uma grande não pode, no entanto, entender o seu slgOl flcado esplfltual.
possibilidade. Ficando nós tão vitalmente relacionados com o Para ele a revelação é "loucura", porque nâo a pode "'0"-
Espírito de Deus, a tal ponto que Ele passa a habitar dentro ccbcr" nem "comprclmder" sequer.
de nós, é possível, devido a essa circunstância, vinHOS a co- Os versículos que precedem o contexto (cap. 1: 18, 23),
nhecer "o que nos é dado gratuitamente por Deus". Só por explicam de certo modo, o que é a rcvelaçâo divina, aquela
nós, porém, jamais poderíamos alcançar esse conhecimento, por- que se d'iz ser "loucura" para o "homem natural". "Porque
que o Espírito é que sabe, Ele é · que habita em nós e é Ele a p.alavra da cruz é loucura para os que perecem; mas para
que tudo nos revela. nós, que somos salvos, é O poder de Deus". "Mas II~ S pre-
Esta revelação divina é-nos transmitida em "palavras" que gamos a Cri sto crucificado, que.é e~,cãlldalo para os Ju~eu~,
só o Espírito Santo ensina, como o Apóstolo continua expondo: e loucura para os gregos 1gentlOs] . Estas palavras SI&"lI-
"As quais também falamos, não com palavras de sabedoria ficam muito maís do que o simples fato histórico da morte de
humana, mas com as que o Espirito Santo ensina, comparando Cristo. Elas são o desenrolar divino da redenção da Huma-
12 AQU!';L.E QUE f; ESPIRITUAL TRts CLASSES DE HO!l-lENS 'o
nidade atra\'es da graça que ]esusCristo 1105 oferece pelo que são de valor, em 1l1ltéria espiritual, as opmiões de 1lI113
Seu sacrifício, incluindo todas as participações eternas que por pessoa que é bem instruíd,. em "sabedoria humana". O "hOll'lClll
esse meio se. podem alcançar. Os princípios morais e muitos natural" com toda a sua ciência e sinceridade, não encontra.
dos cnsiuos religiosos da Bíblia estão ao alcance da capacidade nada mais senão "loucura" l:aquelas coisas que são reveladas
do õ/ hOlllcm natural". Bebendo nestas fontes, é-lhe possível pelo Espírito. Além de que o conhecimento da ciência não
pregar clo(tlicntementc; sim, até mesmo com a maior seriedade, pode ser substituído pela permanência do Santo Espíri to de
sem, no entanto, tCf conhecimento de que "as profun dezas de Deus, nem ter ligação direta com 11le, (porquanto essa. "sabe~
Deus" existem. doria humana" enche demasiadamente o obstinado Eu). E
Satanás, no seu sistema falsificador da verdade, tem tam- como é certo que sem o Espírito não pode haver regeneração,
bém ro un ezas )3r3 rev ar J?I?5. e outnnas logo as "profundezas de Deus" ficam ignoradas. Quando um
e emamos Timoteo. , outrmas estas que, de cer- professor não regenerado, rejeita abertamente as verdades essen-
teza a 50 uta, não sao aceitas pe os verdadeiros filhos de Deus, ciais da salvação, que se encontram na Palavra de Deus, essas
pois está escrito, "Mas de modo nenhum seguirão o estranho, verdades, ordinariamente, são depreciadas e rejeitadas pelo
antes fugirão dele, porque não conhecem a voz dos estranhos" . aluno. Este é o erro crasso de muitos estudantes das Uni-
(João 10: versidades e dos liceus, hoje em dia.
Geralmente, também se presume que o professor ou pre- ·-
gador, que é uma autoridade em qualquer ramo ou ramos do
, I saber humano, em virtude desse saber é, igualmente, capaz de
que com "
asa- discernir assuntos espirituais. Mas não é assim. Uma pessoa
, e apesar da sua religiosidade e prática, tem que não está regenerada (e quem é mais seguramente nào re-
o entendimento fechado para o Evangelho (II Cor. 4 :3,4) e generado do que aquele que nega o fundamento e a realidade
se lhe pedem para formular uma afirmação doutrinária, muito do novo nascimento?) nâo estará apta a receber e a compre~
naturalmente apresentará uma "nova teologia" que, por ser ender as mais simples verdades da revelação. Deus não é uma
tão" renovada, até omite o real significado daqueJa cruz que realidade para o homem natural. "Deus não ocupa todos os

pensamentosi,~,.~~~h~o~m:,~m~~~i3;~~~~~~~§
nos revela as "profundezas de Deus". Sim, essa cruz na qual
o pecado foi expiado pelo sacrifício redentor, é "loucura" para seus
ele. As suas muitas limitações como "homem natural", exi-
gem que a sua atitude seja esta mesma. A sabedoria humana
não lhe pode valer, "visto que também não foi peJa sabedoria
que o mundo conheceu a Deus". Por outro lado, as ilimi-
tadas "profundezas de Deus" são para ser comunicadas "gra- ,
trátamimte" àquele que recebeu "o Espírito que provém de A capacidade para receher e compreender as coisas de
Deus ", Portanto, a revelação divina pode ser manifestada ao Deus não se pode adquirir nas escolas, pois muitos que são
verdadeiro filho de Deus, logo que este tenha recebido o Es- ignorantes possuem essa faculdade, enquanto que outros que
pírito. Devemos, porém, acrescentar que um espírito exerci- são doutos não a têm. É um dom que nasce da permauência
tado é um extraordinário auxiliar; mas se o espírito treinado do Espírito no íntimo da pessoa . Por esta razão, o Espírito
não tiver a presença do Mestre que habita em nós, sua capa- tem sido concedido àqueles que são salvos para que possam
cidade inteJectual nada lhe aproveitará em vir a conhecer o conhecer as coisas que lhes são manifestadas gratuitamente
significado espiritual das coisas reveladas de Deus. por Deus. No entanto, entre os Cristãos há alguns que per-
Graves conseqüências têm surgido pelo fato de se pensar manecem sob certas limitações por causa do seu apego às coisas
14 AQUELE QUE e ESPIR ITUAL TRts CLASSES DE HOMENS 15

do Illllmlu. E~liio im:apacitados de receber "alimento", maIs o homem "carnal", 0: 1 o "menino cm Cristo", não é "capu1.
devido il !;11;l carnalidaclc do que à MIa ignorância. de suportar" as profund' zas de Deus, pois c ainda Criall~:1:
Entre (15 perdidos não há classificação divina, porquanto mas mesmo. assim, e é importante notar, a sua posição é jã
se diz ... crfl1l lodos homens "natIll3-$", Há, contudo, duas de uma realidade tal elevada que nunca poderá ser comparada
c1assificaçúcs de salvos, e no texto Cl!l análise. o homem "es- com a completa incapacidade do "homem natural". O "homem
pirill1rd " ê citado antes do homem "carnal", ficando assim carnal", por se ocupar pouco com o verdadeiro alimento espl"
(:111 contraste direto com o perdido. E este contraste é tanto ritual, entrega-se a Inveja e a coi'ireflda, as quaIs provocam
mais C011VClliente, q uanto é certo que o homem "espiritual" dlVlsoes entre os verdãõeiros crentes:--N'ãõ""Se pretenae faze r,
i: o ideal divino. "AQUELE QUE n ESPIRITUAL" ( 1 aqUI, qual'Cji'i'& aluSão ao acontecimento irreflet ido das divisões
Cor. 2:15) , é o Cr istão modelo ou normal, se não mesmo o e.'Cteriores ou às várias organizações. A referência é feita
mais comum. Mas existe, também, o homem "carnal" e ele somente à inveja e à contenda que tinham dividido a preciosa
tem que ser examinado. comunhão e amor dos santos. Muitas vezes as diferentes organi-
zações podem contribuir para que haja diferenças de classe entre
o Homem Carna l os crentes, mas ncm sempre assim é. O erro aqui apontado,
é o que todo o crente comete quando segue os guias humanos.
o Apóstolo, no capítulo 3:1-4, prossegue com a descrição Mas, notamos com pesar que este erro não seria destruído
do homem "carnal": "E eu, irmãos, não vos pude fala r como nem ~esmo que todas as organizações religiosas desaparecessem
a espirituais, mas como a carnais , como a meninos em Cristo. repenttllamente da ou se fundissem numa só. Lá em
Com leite vos criei, e não com manjar, porque ainda não Corinto estavam "Paulo" de "Ce-
podíeís, l1cm tão pouco ainda agora podeis ; porque ainda sois
carnais ; pois, havendo entre ,'ós inveja, contendas e dissensões.
não sois poryentura carnais, c não andais segundo os homens?
Porque, dizendo um: Eu sou de Paulo; e outro : Eu de Apoios:
porventura não sois cantais?" em organizações fato
a expressão e.'Cterior pe-
Assim, há alguns crentes que são considerados "carnais"
porque só podem receber o leite da Palavra, em contraste com . . e falt~ de. amor. Pois, um Cristão glori-
ficar-se em atitude de partidarismo é, na melhor das hipóteses,
O alimento forte; entregam-se à inveja, a contendas e a dissen-
sões, andando segundo os homens, enquanto que do verdadeiro "conversa vã", e revela :\ mais lamentável falta daquele verda ..
fi lho de Detls se espera que "ande em Espirito" (Cá!. 5.16) , deiro amor cristão que deve dimanar de todos os santos. As
em "amor" (Ef. 5 :2) e que "guarde a múdade do Espír ito" divisões desaparecerão e as suas más conseqü ências só acabarão
(Ef. 4:3). Apesar de salvos, os Cristãos carnais andam quando os crentes "tiverem amor sincero uns pelos outros".
"segundo 0- c r50 éleste rnll11d(5", ãtr"-arrmris-" porque a Mas o crente "carnal" é, também, caracterizado por um " andar "
carne os domina ' TVe'ja-se ""'Rom. 7 :14). A inda nesta mesiiià que está no mesmo plano que o do homem "natural". "Não
car a, 8 :5-7, se encon ra uma descrição Oi eren e. pessoa sois porventura carnais, e não andais segundo os homens?"
al'í'rêferida " está na carne", e por isso não está sah'a; ão
(cf. II Cor. 10:2-5 ) . Os objetivos e as afeiç,õcs baseiam .. se
passo que o CriSfãO"''Carnat '' não eSfa na ""carne"; ooavia,
nele eX iste essa carne; "Porém~vcis, Já n30 es ais na caTiit:, na mesma esfera material que a do homem " natural". Em
iiiãSiiO Espíriio,serque o Espírito de Deus habita em vós. contraste com este andar carnal, lê-se em Cá!. 5 :16: "Digo,
Mas, se alguém não tem o Espírito de C risto, esse tal não é porém: Andai em Espírito, e não cumpnrels a concupiscência
dEle". da carne". A isto se chama espiritualidade.
16 TRts CUSSES DE H OMENS 17

o Homem Espiritua l Duas , transformações


A segunda classificação de crentes, lIa passagem citada. di?
respeito ao homem espiritual. :E.s~e. <:'01110 os olltr,?s, te~ll. qll~
ser CX:\lllinado em todos os rcq\1lS.IIiS (lHe lhe sao eXlgldo~, fé em Cristo; a se-
mediante a única prova da sua aptiaão p..·ua receber ~ com· gunda é quando existe uma perfeita adaptação ao Espírito,
prceudc r a re\'cJação di\'ina. .. Aquele que é espiritual (hscernc Por experiência direta, aquele que é salvo, pela fé em Cr isto,
bem tudas as coisas", pode, ao mesmo tempo, entregar·se completamente a Deus e
A ordem progressiva de 1000 este cont exto é be,m clara: encetar, no mesmo momento, uma vida de verdadeira submi s-
Primeiro: - a re\'ela~flo divina é então collcc{hda, Ela são. Sem dúvida que é este o caso que sucede muitas vezes.
diz respeito às coisas que "0 ulho nrlO \'iu .. e o otl\'ido lláo Foi assim a experiência de Paulo de Tarso (Atos 9:4-6). Ao
ouviu, e não subiram ao coração do homem' . ~ras Deus ,,-- reconhecer Jesus como seu Senhor e Salvador, ele di sse tam-
revelotl pelo Seu Espírito ( 1 Cor. 2:9,10), , , bém, "Senhor, que queres que faça?"
Segundo: - a revelação é s~hre as_., p.r(~JlIndez a s de DC\l ~ . E em tempo algum constou que ele se tenha desviado
as quai s ninguém conhece. Porem O Espmto de Deus conhc- dessa atitude de submissão a Cristo. Todavia, devemos lem-
cc-as (1 Cor. 2:10) . _. ,. brar-nos de que muitos Cristãos são carnais, mas para estes
Terceiro: - os crentes recehem o E,;plflto que 1\1(10 sabe, a Palavra de Deus dá claras instruções quanto ao caminho a
para que eles tamLém possam conhece r os ll1i~láios de Deus seguir pa ra se tornarem espirituais, Estamos, pois, na pre·
(I Cor. 2:12). . . scnça de uma possível transformação da condição camal para
Quarto: - A ~ ahedoria divina est:t ocu lla. !las pr?l;naS a espiritual.
palavras do Livro de Deus; por isso ? COlltel1do espl~ltua~ O homem "espi ritual" é o ideal divino -de vida e de mi-
destas mesmas palavras só é cOlllprecJI(hdo quando. ~Ig\:em e nistério, de poder com Deus e com o homem, duma cons-
capaz de comparar as coisns espirituais COlll as eSjll1"1tuals. (I tante comunhão e bênção.
Cor. 2:13). . Tornar conhecidas estas realidades e as condições revela-
Quinto: _ O homelll " natural" nuo cOlllpreende a ~ COIsaS das sobre as quais tudo pode ser realizado, eis o fim a que
do Espírito de Deus, porque lhe parecem. ~ú\1cl1ra; e na? po~e se destinam as páginas que se vão seguir.
entendê-las, porque elas se di sccrnem esplTItuahncnte. Ele 1130
rccebeu o Espírito que provém de Deus ( I Cor. 2 :14).
Sexto : - o Cr istão carual,

di scerne
não {jualquer limitação no reino das
revelação divina é-lhe concedida "gratui-
tamente" e nela se gloria. No entanlo, também a ele lhe é
permitido, como a qualquer outra pessoa, penetrar nos assnnt.os
que são comuns ao conhecimento humano. Porquanto de d]$-
cerne todas as coisas, mas por ninguém é discernido nem com-
preendido. E como poderia ser de outra forma, se nele está
a "mente de Cristo?"
os MINIsn:RIOS DO EsplRlro

AI Váriu Relaçóel

Não está dentro do propósito deste livro intentar lH))n


d.eclaração cOl1Jplet~ dos ensinos da Bíblia referentes ao Espi-
Capitulo 11 ruo de Deus; porem, certos aspectos de toda a revelação têm
de se r compreendidos e admitidos por aqllcla vida que é sus-
tenta?a por D:us, p~ra ~ue o andar em Espírito poSsa ser
OS M1N1STtR10S 00 ESPIR1TO tam~em conheCIdo e mtehgentemente regislado. O ensino da
Bíbl~a, quanto ao ~~pírito, pode ser dividido em três grupos
Um Cristão é Cristão porque está diretamente relacionado g.era}s.: 1) O Espmlo segundo o Velho Testamento; 2) O
com Cristo; mas "aquele que é espiritual" é espiritt·.al porque, Espmto ~e~undo os Evangelhos e parte dos Atos até 10:43;
além da sua relação com Cristo, por meio da salvação está 3) o ESP!rJto segundo o restante dos Atos e as· Epístolas.
diretamente ligado com o Espírito.
I - O Espírito Segundo o Velho Testamento
Sucede, pois, que qualquer tentatíva para tomar conhe-
cidas a realidade e as condições da verdadeira espiriluaJidade, , . Aqui, como, em todas as Escrituras, declara-se que o Es-
tem de ser baseada num conhecimento claro da revelação da plTlto de Deus e uma Pessoa e não meramente lima influencia.
Bíblia, no que respeita às possíveis relações do Espírito com Ele é revelado C011l0 scndo igual às outras Pessoas da Trin-
os homens. Um dos mais recentes ardis de Satanás é criar dade ~m natureza .d!vina e Seus atributos. Contudo, apesar de
confusão à volta da obra do Espínto, e o que é amda maiS uma lIIcessante atiVidade durante todos os séculos que antece-
importante observar, e que essa conlusao aparece entre os deram a Cruz, não foi senão depois desse. grande aconteci-
crentes mais pie osos e mais sInceros. Como a maneira de mento que Ele se tornou uma Presença "permanente" nos co-
viver do crente tem, perante DêiiS';'""üm valor extraordinário, r~ções d?s homens ,(João 7:37-39; 14:16,17). Muitas vezes
Satanás certamente que procura empregar todos 1)5 seus male- hle mam festava-se as pessoas da forma como está revelada
fícios para desfazer os propósitos de Deus. E para alcançar ~.os acontecimentos ~egistados no Velho Testamento. Apare-
esscs fin s, Satanás não poderia lIsar melhores meios do que Cia-lhes quando quena alcançar certos objetivos e desaparecia
fomentar afinnações, aparentemente verdadeiras, que malogrem tão Vol11l1t~riamente como tinha vindo quando o trabalho já
os resultados práticos, ou estabelecer enganos positivos que im- estava realizado. Tal~to qual}to nos informa aquele registro,
peçam a exata compreensão da fonte de bênção que é divina- d,u~nte todo esse penado ninguém gozava de qualquer privi-
mente proporcionada a todos os sedentos. Esta confusão geral legl?,.oU esperava ter o.privilégio dessa presença soberana do
sobre os ensinos da Bíblia, referentes ao Espírito, reflete-se Espmto. Por vezes, El~seu e Davi .são considerados exceções,
nos nossos hinários. Os elucidários da Bíblia são unânimes m~s de modo nenhum e bem claro que o pedido de Eliseu a
Elias, ':que haja porção dobrada do teu espírito sobre mim"
em lamentar o fato de que muitas das composições de hinos
(II R~ls 2 :9), f~s~e, na mente do jovem El iseu, uma oração
sobre o Espírito são contrárias às Escrituras. Esta confusão a suplicar o Espmto de Deus.- Assim, também, Davi orou
reflete-se, ainda hoje, em certas teorias que se não harmo- pa~ que o E~pírito não fosse retirado dele; esta súplica,
nízam com a Bíblia e são até mesmo anti-bíblicas, e que são por~m, estava .ligada com o grande pecado que de havia co-
defendidas por determinadas seitas. n: etldo. Por ISSO, a sua oração era para que o Espírito o
n~o abando~sse, embora ele tivesse pecado. A sua confis-
18 sao e~tava diante. de Deus e o caso ficou arrumado. Durante
o penodo abrangido pelo Velho Testamento, o Espírito estava
20 AQII~;1.t: QUI: ~ ESP IRITUAL Os MINISTtRIOS 00 EsplRITO

relacionauo rotn o~ homens de 11l\l3 maucira suberana. A luz evidentemelltc (IUC se referia ao ministério daquele Espirito (jllC
da revelação que veio depois, com. o l\UVO Testa~le ! ~I~, ,~ ainda não tinha sido experimentado e que viria "sobre" eles
oração de llavi, "c lIáo rctir~s de 1111111 o .,teu Santo Esp!fl.t~ • para os revestir de poder.
não POdl" COIl) razão, ser fcIta agora. I orquanto o ESplnto H ouve. pois, um pe ríodo. respeitame aos Evangelhos. du-
já n:i(I para habitar permanentemente em nó,;. rante o qual os discípulos. à semelhança da s multidões do tempo
do Velho T estamento, não gozaram da presença do Espírito;
11 _ O Espírito Segundo os Evangelhos e os Atos até 10:43 mas foi lhes concedido o 1I0VO privilégio de orarem pela presença
O caráter essencial da relação do Espírito com os homens, do Espírito. Mais tarde. o próprio Senhor orou ao Pai para
durante o período dos Evangelhos é o da transição - uma que o Espirito, que esta \'a então com eles. passasse a habitar
progressão das antigas relaçõc=s existentes no Velho Tes~mento dentro deles. Foi nessa altura que Ele assoprou sobre os dis-
às relaçôes decisivas e permanentes alcançadas no penodo da cípulos e eles receberam o Espirito que havia de permanecer;
nOV3 dispensação da graça. mas apesar disso foi-lhes determ inado que não se ausentassem
A primeira instrução que os discípulos receberam foi no de Jerusalém. Sem que o Espírito viesse revesti-los de poder,
Velho Testamento, c a declaração que Cristo fez de que o nenhuma atividade podia ser empreendida, Ilem tão pouco
Espírito lhes poderia ser dado se eles O pedi5sem (Lucas se podia desempenhar qualquer ministério. "Recebereis a vir-
11 :13), constituiu tão grande novidade que, tanto quanto nos tude do E spírito Santo, que há-de vir sobre vós; e ser-me-eis
pode informar o registo dos falas, eles nunca O pediram. A testemunhas". Temos aqui uma rcvc1açflO de condições (l ue
nova relação que foi sugerida pela declaração de Jesus, "quanto são permanentes. Não é suficiente que os servos e as teste-
mais dará o Pai celestial o Espírito Santo àqueles que lho munhas recebam o E spírito: Ele tcm que descer sobre eles, ou
pedirem", marm já um avanço na relação progressiva do Espí- encher plenamente os seus corações.
rito COm os homens durante o período do Evangelho.
Precisamente antes da Sua morte Jesus disse: "E eu o Dia de Pentecostes
rogarei ao Pai, e ele vos dará outro Consolador, para que Pelo menos três fato s distintos, referentes à relação do
fique convosco para sempre; o Espírito de verdade, que o Espirito com os homens, se deram no dia de Pelltecostes:
mundo não pode receber, porque não O vê nem o conhece: mas 1) O Espírito veio ao mundo para aqui habitar perma-
vós o conheceis. porque habita convosco, e estará em vós". nenlelllellte através desta dispensação. Assim como Cristo está
(João 14:16,li). As palavras, "E eu rogarei", talvez tenham presentemente sentado à mão direita de Deus, ainda que oni-
levado os discípu los a penS<1r que eles tinham falhado na sú- presente. da mesma maneira o Espirito. apesar de ser também
plica que deveriam ter feito. lHas, fosse como fosse , a oração onipresente. está agora habitando na Terra num lugar deter-
do Filho de Deus não podia ficar sem resposta. e o Espírito minado - dentro de um templo, ou seja de uma habitação
que estava "com" eles iria em breve "habitar dentro" deles. feita de pedra s vivas. aquelas mesmas pedras que formam a
Depois da Sua ressurreição e precisamente antes da Sua Igreja de Cri sto ( Ef. 2:19-22) . Também o crente, indivi-
ascenção, Jesus assoprou sobre os Seus discípulos e disse-lhes, dualmente. é considerado um templo do Espírito ( T Cor. 6: 19).
"Recebei o Espírito Santo" (João 20:22). A partir daquele "Ou não sabeis que o vosso corpo é o templo do Espíríto Santo,
momento o Espírito Santo habitou neles; aquela relação, porém, que habita em vós. proyenienle de Deus, e lJllC não sois de vós
estava ainda incompleta segundo o plano e os propósitos de mesmos?" O Espírito não dei xará o mundo. nem mesmo se-
Deus, pois que Ele logo a seguir "determinou-lhes que não quer uma só pedra do edifício. senão quando o propósito. que
se ausentassem de J erusalém, mas que esperassem a promessa já vem de tempos distantes, de formar esse templo estiver
do Pai, que, (disse ele), de mim ouvistes" (Atos 1.4; cf. c.umprido. Voltando à passagem em Efésios, ela diz assim:
Lucas 24:49). A "promessa do Pai", era a do E spírito, mas "Assim que já não sois cstrangeiros, nem forasteiros, mas con-
22 AQ~I t:I ,1': QUI:: t ESPIRITUAL
Os MrNlSTtRIOS DO EsprRrro

cidadãos uOs S;u11()s, e da família de Deus; edificados (tendo organismo outros membros se "juntavam", confonne iam sendo
sitio edific:ldos, p:\ra fazer parte do templo, cf. v. 21) sobre o salvos. Assim, esses alicerces e o edifício que surgiria depois
fundamen to dos apóstolos e dos profetas (profetas do Novo como "igreja que compõe o seu corpo", repre!ientam o batismo
TestatllClll O, d. 4: 11), de que Jesus Cristo é a principal pedra com o Espírito Santo conforme está escrito: "Porque, assim
da c~ ql1il1a; no qual todo o edifício, bem ajustado, cresce para como o corpo é um, e tem muitos membros, e todos os mem-
tt'llIpln sanlo no Senhor, no (IUa1 também vós juntamente sois bros, sendo muitos, são um só corpo, assim é Cristo também.
J.:dificados para morada de Deus em Espírito". Pois todos nós fomos batizados em um Espírito formando um
O Espírito' desceu no Dia de Pentecostes, e é de notar corpo" (I Cor. 12 :12,13). Logo, o significado do Pentecostes
que aqude aspecto do significado de Pentecostes não, será repe- inclui, igu{!.lmente, o começo do ministério do batismo com o
lido, como a encarnação de Cristo, já que o propósito de Sua Espírito de Deus.1 É claro que este ministério é cumprido
vinda foi realizado, não será repetida. Agora, não há razão sempre que uma almá é salva.
para pedir que o Espírito "venha", porque Ele está prescute. 3) Por ISSO, famb em, naquele dia do Pentecostes as vidas
2) Além di sso, o Pentecostes ma rcou o começo da for- que já estavam preparadas, foram cheias do Espírito, ou seja,
mação de um novo corpo. ou organismo, O qual, na sua rela- o Espírito veio sobre elas, revestindo-as de poder como havia
ção com Cristo, é chamado "a igreja que com põe o seu corpo ". sido prometido. Foi assim que eles começaram o ministério
Embora essa Igreja não ten ha sid o citada no V elho Testa- contínuo de testemunhar. O efeito poderoso deste novo minis-
mento, Cristo prometeu que havia de " edificá-la". "Sobre esta tério do Espirito foi revelado especialmente no caso de Pedro.
pedra edificarei a mi nha igrej a " Ctl·b t. 16 :18). A Igreja, como Antes, possuído de receios, ele havia praguejado e negado o
'organismo definido, não é mencionada como já existindo senão Mestre na presença de uma criada: porém, agora, intrepida-
depois da descida do E spírito no dia de Pentecostes. Só então mente, não só acusa os governadores da nação de serem os
é que é relatado "E naquele dia agregaram-se quase três mil culpados da morte do Príncipe da Vida, como também o poder
almas" (Atos 2:41). Ainda que a palavra grega para desig- do seu testemunho é comprovado pela salvação de três mil
nar igreja não apareça nesta passagem, como acontece em 2 :47, almas.
- "E todos os dias acrescentava o Senhor à igreja aqueles Portanto, o pleno significado do Pentecostes ficou revelado
que se haviam de salvar" - a unidade que se começava a fonnar, de uma maneira absoluta, não só com a descida do Espírito
não era outra senão a Igreja. Veja-se ainda Atos 5: 14 ; 11 :24. que veio habitar no mundo através desta dispensação, mas tam-
Segundo estas passagens, a Igreja que, nos Evangelhos, era bém com o batismo de muitos que se tornaram membros de
ainda futura, passa imediatamente a existir e a ela (os crentes Cristo;'fe com o revestimento de poder daqueles cujas vidas
unidos ao Senhor) começam a ser acrescentados "os que se foram preparadas para o ministério de testemunhar de Cristo.
haviam de salvar". Mas necessário é reafirmar que era "o Qualquer estudante que examine cuidadosamente as Escri-
Senhor que estava acrescentando à Igreja". Seguramente que turas, pode, no entanto, distinguir ainda um passo mais além
não se faz aqui nenhuma referência a uma organização feita de toda a transição que vai das relações do Espírito reveladas
pelo homem, porquanto nunca antes se havia concebido um tal no Velho Testamento, até àquela relação decisiva da dispensa-
empreendimento. Tão pouco se refere a uma sociedade criada ção atual . Muito do que tem sido mencionado até aqui, tor-
pela opinião humana, pois que é o Senhor que faz aumentar nou-se uma realidade pennanente neste período da graça. O últi-
o número dessa Igreja. Um corpo de membros que estavam mo passo a que se alude acima, diz respeito ao fato de que du-
vitalmente ligados a Cristo e eram habitados pelo Espírito co- rante aquele período bem definido no qual o Evangelho era .
meçava então a formar-se e estes fatos reais de relação recí- pr~gado somente aos judeus, período esse que vai do Pente-
proca produziram um organismo tal que os unia a todos com
laços m,!is forte s do que quaisquer laços humanos. A este 1 Veja-se também a pág. 33.
24 AQtlI::L& QUE t ESPIRITUA L Os M I NIST~ RIOS DO ESP!RITO 25

costes à visita de Pedro a Cornélio ou seja cerca de oito anos, que o "homem do pecado" será manifesto, "o qual se opõe
d Espírito, peJo menos num caso, foi recebido através do rito e se levanta contra tudo o que se chama Deus, ou se ",dora".
judaico ( Hch. 6:2) da imposição das mãos (Atos 8:14-17) . E o Apóstolo, prosseguindo na sua afirmação, diz: "E agora
ApcS<lr desta cerimônia humana ter sido repetida em algumas vós sabeis o que o detém, para que a seu próprio tempo seja
circ\!l1stãucias, como para a comunicação da plenitude do Espí- manifestado, P orque já o misterio da injustiça opera: somente
rito, assim como para se consagrar alguém ao ministério da há um que agora resiste até que do meio seja tirado; E
Palavra (Atos 6:6; 13:3; 19:6; I Tim. 4 :14; II Tim . 1 :6 ) , então será revelado o iníquo, a quem o Senhor desfará peJo
o Espírito devia ser recebido pela fé cm Cristo para sal- assopro da sua boca, e aniquilará pelo esplendor da sua vinda" .
vação (João 7:37-39) como mandavam as últimas disposições Sim, "o homem do pecado" há de aparecer com todo o poder
feitas para este período da graça. Esta condição final para de Satanás (v, 9): mas não deixa por isso de ter que se
reçeber o Espírito começou com a pregação do Evangelho aos apresentar naquele dia marcado por Deus, - "para que a seu
gentios em casa de Camélia (Atos 10 :44, cf. Atos 15:7-9,14), próprio tempo seja manifestado", e isto sucederá logo que
e tem continuado assim através de toda esta dispensação. Não Aquele que estorva a marcha do inimigo "seja tirado" de Seu
há qualquer registo de que as mãos tivessem sido impostas lugar. Então, será revelado esse iníquo, a quem o Senhor
sobre aqueles que creram em casa de Cornélio. O Espírito há de destruir quando da Sua vinda.
"caiu sobre eles" (esta frase, c\,identemente, é sinônima dc
receheram O Espírito) quando creram (Atos 8: 18; 10 :43,44; O nome do repressor, a que se refere aqui, não é reve-
11 :1 4,15) . Podemos dizer, então. que os acontecimentos em lado; porém, o Seu poder soberano sobre a Terra e sobre
cas..1. de Cornêlio marcam, sem dú\'ida alguma, o começo de todas as forças das trevas idclltifica-O com a Trindade . e
uma nova mas duradoura ordenança. como o Espírito é a força real e enúgica nesta dispcnsação
logo se concluí que a referência, na passagem citada, é feita
II ll - O Espírito Segundo o Resto dos Atos e as Epístolas ao Espírito de Deus. Ora, assim como é de aceitar que Sata-
nás tenha bastante poder, também é de crer que ele o não
As relações decisi\'as e permanentes entre o Espírito e os empregasse contra si mesmo, "Uma casa dividida contra si
homens du rante esta época estão reveladas em sete ministérios. mesma nfto subsistirá", É, pois, evidente que o Espírito de
Dois deles são dedicados ao mundo perdido; quatro são desti- Deus é que reprime o homem de Satanás e os seus intentos
nados a todos os crentes sem exceção alguma; e o outro é um até aquéle momento divinamente indicado. Não há nenhuma
ministério para todos aqueles crentes (jue chegam a uma rela- alusão de que Satanás será afastado ou retirado do caminho
ção toda especial com Deus. antes, de que o dito " homem do pecado" seja revelado; no
entanto, pode percelx-r-se que é o Espírito que se vai afastar.
Os Ministérios do Espírite E ssa Presença ou relação especial que começou com a Igreja
Estes sete ministérios são: e que com ela tem continuado, só cessará. naturalmente, quando
também a Igreja for levada. Como o Deus Onipresente,
Primeiro o Ministério do Espírito que Restringe (ou o Espírito permanecerá: porém, nessa altura, o Seu minis-
Resiste) tério e a Sua permanência na Igreja serão diferentes. O
Espírito já se encontrava no mundo ainda antes do Pente-
A única passagem que menciona este aspecto da operação costes ; contudo. sabe-se que Ele veio naquele dia porque assim
do E spírito ( 1I Tess. 2 :6-8) tem provocado divergéncias estava prometido. E le veio para ter uma nova morada den-
ent re os estudantes da Bíblia. Nela, o Apóstolo apresenta t ro da Igreja - o corpo dos crentes - e um novo minis-
o fato de que, precisamente no momento antes da vinda de tério no mundo. Este ministério acabará quando a Igreja
Jesus Cristo em toda a Sua glória, dar-se-á a apostasia, e fo r arrebatada, e a Sua habi tação terá o seu íim quando o
26 Os MINISTéRIOS DO EsplRrro

Seu templo de perlras vivas for removido. Daqui, se pode e isso precisamente. "porque vou para llleu Pai, c uão IIIC
concluir qllC a Sua. partida não significará outra coisa senão a vereis mais". Mas, como pode um pecador tornar~se jusl0
reversão do Pentecostes, o que não implica sua ausência por aos olhos de um Deus Santo? Tentar com esfurço próprio
completo do mundo. Pelo contrário, Ele há de voltar para alcançar essa justiça ,geria inútil, seria tempo perdido. Ela
retomar aquelas relações e aqueles ministérios que Lhe perten- só pode vir da parte de Deus, e é para todos e sobre todos
ciam antes de começar esta dispensação. Há certezas abso- os que crêem. Por vezes, torna~se incompreensível à sabe-
lutas da. presença do poder do Espírito no mundo depois de doria humana poder alcançar uma tão perfeita justiça só por-
a Igreja partir. O poder de restrição do Espírito será reti- CJue se crê, e para mais crer numa Pessoa invisivel CJue está
rado c a Igreja será levada naqllele momento que só Deus sentada á mão direita de Deus Pai; todavia, ::lS ::lImas per-
conhece, e então será permitido aos poderes das trevas vir didas devem, até certo ponto, sentir esta grande possibilidade
realizar as suas últimas manifestações e comparecer no dia para poderem \'o1tar~sc para Cristo.
do Juízo final. 3) Além disso, também, o Espírito, neste triplo minis-
Outra prova evidente do poder que o Espírito tem para tério, esclarece OS perdidos no que respeita a um julgamento
reprimir pode ser verificada no fato de que, apesar de todas divino que já passou; pois que o "príncipe deste Illundo está
as suas impiedades, os homens não blasfe mam em nome do julgado". Por este esclarecimento os perdidos são levados a
Espírito Santo. Em todo o mundo existe este poder de limi~ compreender que não é difícil cons(;guir que Deus use de mi-
tação e isto é, evidentemente, um dos ministérios atuais do sericórdia no julgamento dos seus pecados: pelo contrário, eles
Espírito. devem crer que esse julgamento já passou há muito e que só
lhes falta agora confiar na vitória inestimável que foi alcan-
Segundo - O Ministério do Espfrito que Convence o Mundo çada. Todas as acusações feitas por Satanás contra o homem ,
do Pecado, da Justiça e do Juba (que Reprova) por causa do pecado, foram desfeitas e de lima maneira tão
cabal ql~e Deus, que é infinitamente santo, pode agora aceitar
Este ministério por sua própria natureza, deve ser consi~ e salvar os pecadores. "Despojando os principados e potes~
derado mais como um caso individual do que como um caso tades, os expôs publicamente e deles triunfou em si mesmo"
coletivo. Há uma passagem bíblica que diz; "E, quando ele (Col. 2,13-15).
vier, convencerá o mundo do peca.do, e da justiça e do juízo. Sem dúvida que o propósito de Deus é deixar que o Espí-
Do pecado, porque não crêem em mim; da justiça, porque rito se sirva daqueles meíos que Ele achar mais comenientes
vou para meu Pai, e não me vereis mais; e do juízo, porque para levar ao mundo o esclarecimento sobre o pecado, a jus-
já o príncipe deste mundo está julgado" (João 16 :8-11). tiça e o juízo final, c, assim, é que Ele pode serYir~se de um
Esta passagem indica que há um triplo ministério. pregador, de uma. passagem das Escrituras, do testemunho de
1) O Espírito esclar.ece os perdidos, referindo-se a um um Cristão, ou ainda da mensagem impressa em folhetos: mas,
único pecado: "Do pecado, porque eles não crêem em mim". evidentemente, que por detrás de tudo isto está a. operação
O perfeito juízo do pecado foi começado e cumprido na cruz eficaz do Espirito.
(João 1 :29). Por isso o homem perdido tem que tomar co- Assim é que o Espírito ministra ao mundo, revelando
nhecimento do fato de que, por causa da cruz, o seu pre~ fatos que de outro modo seriam desconhecidos à inteligência
mente dever perante Deus é de aceitar a cura que Deus lhe humana, mas que interpretadas simultaneamente por ambas as
proporciona para os seus pecados. Neste ministério, o Espí~ partes, passam a constituir as verdades centrais do Evangelho
rito não envergonha o perdido por ser pecador; mas revela-lhe da Sua graça.
a oportunidade de ter um Salvador, e um Salvador que pode
ser aceito ou rejeitado. Terceiro - o Ministério do Espírito que Regenera
2) O Espírito elucida os perdidos a respeito da justiça Este ministério juntamente com os três seguintes fazem
28 AQIIt.:I.E QlJ& í: ESP IlUTUAL Os M I NISTtRIOS 00 ESP!RITO

parte da sah·::u.;àu (]c todo aquele que crê em Cristo. Da.- tasse a CenS\lra de que ) Espírito não tinha sido derranmdo
quele que nasceu do Espírito (João 3:6) e que por isso se tão abundantemente sob:e os gentios como o fora sobre Ob
tornol1 filho legítimo de Deus. Daquele que já "participa judeus. A passagem diz assim : "E, dizendo Pedro ainda estas
da natun?3 divina" e ao qual Cristo fe z nascer a "esperança palavras, caiu o Espírito Santo sobre todos os que ouvi ram a
da glo ria". E assim como ele é fil ho de Deus, é também palavra. E os fiéis que eram da circuncisão, todos quantos
"herdeiro de Deus. co-herdeiro de Jesus Cristo", A nova tinham vindo com Pedro, maravilharam-se de que o dom do Es-
natureza divina passou a estar mais profundamente implantada pírito Santo se: derramasse também sobre os gentios. Porque
no seu ser do qne a natureza humana de seus pais terrenos. os ouviam falar línguas, e magnificar a Deu s. Respondeu então
Esta transfomlação dá-se no momento em que ele crê, e nunca Pedro: Pode alguém porventura recusar a água, para que não
mais se " olta a re peli r: a Bíblia não fala em lugar algum sejam batizados t!stes, que também receberam como nós O Es-
acerca de uma segunda regeneração feita peJo Espírito. pírito Santo?" (Atos 10:44-47). Relacionada com a explica-
ção que Pedro deu aos crentes judeus, por haver exercido o
Quarto - o Mi nistér io do Es pírito que Habita no Crente seu mi nistério também aos gentios, está a seguinte passagem:
"E, quando comecei a fala r, caiu sobre eles o Espírito Santo,
o fato do Espírito habiwr. prescllte:ncllle, em todos os como também sobre nós ao princípio. E lembrei-me do dito
crentes, é não só \l111a das características notáveis deste pe- do Senho r, quando disse: João certamente batizou COm áglla;
ríodo, como também um dos contrastes de maior relevo entre mas vós sereis batizados com o Espirito Santo. Portanto, se
a lei e a graça. 1 . . Deus lhes deu o mesmo dom que a nós, quando hal'emos crido
O plano divino i:- que. estando a vIda do crente debaIxo no Senhor Jesus Cristo, quem era então eu, para que pudesse
da graça. ela deve ser vivida numa dependência r:onstante do resistir a D eus?" (Atos II :15- 17) .
poder do Espírito. O C ri ~ tão só tem que .medltar sobre a Ainda que com a plenitude do Espíriro que reveste de
sua incapacidade absoluta, ou ponderar cUldadosamente na poder estejam relacionadas outras finalidade s, o que é certo é
ênfase dada a esta verdade expressa no Novo Testamento, para que o dOm do Espírito é aquele dom precioso que Deus COll-
compreender qual a grandeza daquele dom que nos propo~ciona cede também a túda a criatura, no momento em que é salva.
a intima permanência do E spirito conosco. Este do~ fOi con- A posição valiosa que este dom ocupa na Bibl ia, tem muito
siderado pelos Cristãos primitivos como sendo a reahdade fun- mais importância do que aquele que geralmente lhe atribuem
damentai do no\'o e~ lado do crente. Lê-se lia descrição da
primeira pregação do E\'angelho, aos judeus, no dia d~ Pen- os Cristãos. Apesa r da realidade da presença do Espírito em
tecostes, que o dom do Espírito se tornou o acontecImento nós não ser revelada através de toda e qualquer experiência,
novo de mais transcendente importância. Neste mesmo pe- todavia essa realidade é o fundamento do qual devem depende r
ríodo da pregação aos judeus, como está relatado em Atos todos os outros ministérios destinados aos filhos de Deus. l!
5:32, verifica- se que o Espírito é para ser dado a todos aqueles impossível ao crente entrar no plano e provisão para uma vida
que obedecem ao COlwite e ao mandamento do Evangelho. Da
mcsma maneira. também . 11 realidade maravilhosa desse dom de poder e bênção e ao mesmo tempo ignorar a revelação clara
está acentuada nos informes da primeira pregação do Evan- quanto o lugarqueo Espí rito ocupa em relação ao Cristão. E pre·
gelho aos gentios. É fato que o Pentecostes não podia voltar ciso compreender e profundamente aceitar que o Espírito habita
a ser repetido; porém , a ligação do E spirito com essa pre- realmente no verdadeiro filho de Deus e que Ele passa a
gação foi provada de uma forma muito especial. E vidente-
habitar no crente a partir do momento em que este é salvo.
mente que a referida prova fo i dada para que se não S\\SCI-
( I ) A Bíblia não só ensina isto explicitamente, (2) como tam-
I Veja-se também a pAgo 62 . bém o exige a razão segundo o c ritér io de outras revelaç&s:
AQPELE QUE f: ESI'IRITV.AL
os MIN l SttlUOS DO EsplRITO
30

I Cor. 2: 12, "l\Ias Il(,s recebemos.. . o Espírito que pro.


a) Segundo 8 Revelação
vém UeTIeus". -Umã'""Vez mais a relerencJa nao e feita apenas
A vcrtb (k cumo o Espírito habita no crente vai ser exa· a uma certa classe e crenfes: lodos recel>eram o ' spírífõ.
minada agura. independentemente do!' ( utros millistéri~s do Es: I Cor, 6:19;20, " Ou não sabeis que o vosso corpo é o
pirito, Uualquer ministério do E spÍl ito Santo con~lderado a templo do Espírito Santo, que habita em vós, proveniente de
parte do ministério total dEle seria incompleto; maiS, mesmo Deus, e que não sois de vós mesmos? Porque fostes com-
assim, é de real importância que o ministério da presença do prados por bom preÇo; glorificai pois a Deus no vosso corpo,
E!;pirito seja observado separadamentc, Algumas pas~agens das e no vosso espírito, os quais pertencem a DeuS " . Ainda, desta
Escl'íturas serão suficicntes para indicar qual o ellSlIlO que a vez, se não faz referência a um grupo especial de Cristãos ver-
Bíblia fornece sobre este tema fundamental. dadeiramente santos. Pelo contrário, o contexto revela-os como
João 7 :37-39, "E no último dia, o grande dia da festa , sendo culpados de pecado bem grave e a realidade da presença
Jesus pôs-se de pé, e chamou, dizendo: Se alguém. tem st:d~, íntima do Espirito é que leva a fazer este apelo. Os crentes
venha a mim, e beba. Quem crê em mim, como diz. a E.scrl- não são avisados de que perderão o Espírito se não deixarem
tura, rios de água viva correrão do seu ventre (vida mtenor ). de pecar. Antes, e1es são prevenidos de que neles existe o
(Mas isto disse Ele do Espírito que haviam de receber os que Espírito e só por esta e única razão são instados a se voltar a
nEle cressem; porque o Espírito Santo ainda não fora dado, uma vida de maior santidade e pureza. Para estes crentes
por ainda Jesus não ter sido glorificado)". Esta passagem errados havia realidade profunda que não haviam experimen·
contém a promessa inconfundível de que todos aqueles _que tado em sua relação ao Espírito; porém, receber verdadeira-
crêem nEle recebem o Espírito, mas somente quando creem . mente o Espírito nunca era o problema. deles, Ele já estava
Atos 11 :17, "Portanto, se Deus lhes deu o mesmo dom habitando neles.
que a n6s, quando havemos crido no ~e~hor J esus Sristo, q~e m I Cor. 12:13, "Pois todos nós fomos batizados em um
era então eu para que pudesse resistir a Deus? Este e o
relato que Pedro faz da primeira pregação do Eva~lçelho aos são
gentios. Ele afirma que os gentios receberam o Esplflto. quan-
do creram da mesma forma como aconteceu com os Judeus.
A {mica c~l1dição para ser salvo foi crer em Cristo e o Espí- Espírito". T.~Si;iii;;~i'
CáL 3 :,
rito foi recebido como parte integrante dessa salvação. pírito peJas da lei ou pela pregação da fé?" Foi pela fé
Rom. 5 :5, "Porquanto o amor de Deus está derramado que o Espírito foi recebido por fodos os que tem crido com
em nossos corações pelo Espírito Santo que nos foi dado". a fé salvadora.
Rom. 8:9, "Vós, porém, não estais na carne, mas no Es- Gál. 4:6, "E porque sois fil hos (e não porque sois san-
pirito, se é que o Espir,it? de Dell~ habita em vó~. ~as, ~~ tificados), Deus enviou aos nossos corações O Espírito de Seu
alguém não tem o Esplflto de CrIsto, esse tal. nao e d~l~ . F ilho, que clama: Aba, Pai".
Esta referência é bem clara quanto à pcrmanênem do EsplrLto I João 3 :24, "E nisto conhecemos que Ele está em nós,
em nós. Não é somente o próprio fato da salvação a ser pro-- pelo Espírito que nos tem dado".
vado pela Sua presença.; mas sim, todo o reavivamento do
I João 4:13, "Nisto conhecemos que estamos nele, e ele
"corpo mortal" depende do "Seu Espírito que habita em nós". em nós, pois que nos deu do seu. Espírito".
(versículo
Rom. A presença do Espírito em nós é uma " unção" e uma
" conhrmaçao" para eMa fi} o e cus; portanto, estas pa a-
vras nao sao usadas somente a respelto (Ie certa Classe ã e
crentes (1 Joâo 2:20;"27).
c
32 AQU!LII QU& É ESPIRITUAl, Os MINISTtRIOS DO ESP!RITO

Há três passagens que, na opinião de algumas pessoas, sobre eles, ou do qual foram cheios; mas é preciso não tOIl
têm' causado certa confusão qu:mto aos claros ensinos das Es· fun dir com o fato de que eles já tinham recebido o Espí rit o
crituras que acabamos de apresentar e por isso vamos passar quando creram.
a examiná-las. Não há, portanto, qualquer Escritura. que con tradiga o
I ) Atos 5 :32. "E nós somos testemunhas acerca destas testemunho claro da Bíblia de como todos os crentes desta dis-
palavras. nós e também o Espírito Santo, que Deus deu àque- pensação de graça possuem o Espírito.
les que lhe obedecem", Esta afirmação não se refere à vida
cle obediência diária dos Cristãos. ~ um apelo dirigido aos b) Segundo a Razio
perdidos para que se voltem para "a obediência pela fé", A Uma vida consagrada a Deus, assim como um andar san to
citação diz que o Espírito é dado àqueles que obedecem a Deus e digno, os quais devem depender sempre do poder eficaz do
pela fé no Seu Filho como Salvador. O contexto é bem ex- Espírito, tanto são exigidos a um crente como a todos. E
plicito. assim como não deve haver classes de crentes, também não há
2) A passagem em Atos 8:14-17, já foi examinada. Re- um padrão de vida para esta classe e outro para aquela. Mas,
laciona-se com O breve período entre o Pentecostes e a pre- se, na verdade, há algum filho de Deus que ainda não tenha
gação do Evangelho aos gentios. As circunstâncias c..'Cistentes d~nlro de si o Espírito, ele deve, e com toda a razão, ser
neste tempo não devem ser tomadas como sendo a última rela- dispensado daquelas responsabilidades que o poder e a presença
ção entre o Espírito e todos os crentes através desta época. do Espírito prevêem. No entanto, o fato de Deus se dirigir
3) Atos 19:1-6, "E sucedeu que, enquanto Apolo estava a todos os crentes como se possuíssem o Espírito só por si
em Corinto. Paulo, tendo passado por todas as regiões supe- é prova suficiente de como eles têm o E spírito.
riores, chegou a f:feso; e achando ali alguns discípulos (não Pode-se, pois, conclui r que todos os crentes têl,~ o Espí-
necessàriamente Cristãos) . disse-lhes : Recebestes vós já o Es- rito, o que não implica que esses tais tenham passado a tomar
pírito Santo quando crestes? (ou, recebestes vós o Espírito Santo parte em todas as bênçãos possíveis que usufruem aqueles cujas
no momento em que crestes? Veja-se todas as outras versões). vidas já estão cheias do Espírito. Mas, . o que é verdade é
E eles disseram-lhe: Nós nem ainda ollvimos que haja E spí- que eles re<:ebem o Espírito no momento em que são salvos
rito Santo. Perguntou-lhes então: Em que sois batizados, então? e não há q ll~.Iquer indicação de que Ele tenha já alguma vez
E eles disseram: No batismo de João. Mas Paulo disse: Certa- abandonado a pessoa que foi tocada por essa graça divina. A
mente João batizou com o batismo do arrependimento, dizendo Sua presença é .perm61!C1Ite, duradoura.
ao povo que cresse no que após ele havia de vir, isto é, ~m
Quinto - O Minist'rio do Esprrito que Batiza
Jesus Cristo. E os que ouviram foram batizados em nome
do Senhor Jesus". Estes " di scípulos" eram discípulos ou pro- Já foi feita referência a este ministério excepcional do
sélitos de João BalÍsta. Pouco conheciam de Cristo, do ca- Espírito quando relacionado com o Dia de Pentecostes. O
minho da salvação pela fé , e do Espírito Santo. Paulo no- ~n sino completo que a Bíblia nos oferece sobre este assunto,
tando imediatamente a falta da presença do E spírito nestes dis- e apresentado em poucas passagens (Mat. 3: 11 ; Marcos
cípulos, atacou logo o ponto principal com a pergunta, "Rece- 1:8; Lucas 3:16; João 1 :33; Atos 1:5; 11 :16; Rom. 6:3,4;
bestes vós o Espírito Santo quando crestes?" Depois de terem I Cor. 12:13; Cá!. 3:27; Ef. 4:5; Col. 2:12). Entre estas,
ouvido falar da salvação que há em Cristo, e de terem crido, apenas uma passagem define bem o sentido: "Pois todos nós
diz-se que o Apóstolo "lhes impôs as mãos", e que "o Espí- fomos batizados em um Espírito formand o um corpo, quer
rito veio sôbre eles; e falavam línguas e profetizavam". A judeus, quer gregos, quer servos, quer livres. e todos temos
imposição das mãos, assim como os sinais que depois se segui~ bebido de um Espírito" ( I Cor. 12:13, cf, Ram, 6:3). Em
ram, estão biblicamente relacionados com o Espírito que veio nenhuma Escritura está este ministério do E spírito diretamente
34 OS :MINISTÉRIOS 00 ESPI!UTO

relacionado com o poder 011 o serviço. A ele compete somente


for;nar .0 COI.fKl de Crist~ com membros vivos, e quando alguém estais, selados para o dia da redenção". Ef. 4 :30; v{'ja ~I.'
esta UlLldo vItal c orgamcamente com Cristo, sabe-se então que também 11 Cor. 1:22 ; EC. 1:13 ). O ministáio do Espirito
esse lal ('lilá "batizado em um corpo", e que lhe foi "dado pelo <).~al somos ~elados representa, evidclltemcute, o aspecto
beber de um Espírito" (cf. v. 12). Tomar-se membro do da lima0 em relaçao a Deus - responsabilidade, e uma tran-
corpo 1.1(: Cristo implica. o servíço, mas a atividade está sem- s~ção, final. que é "par~. o dia da redenção". O próprio Espí-
pre relacionada com outro ministério que não é o do batismo r~to e ~ selo e, consequentemente, todos os que têm o Espí-
do J;:spírito. Visto 9t~e o batismo com o Espírito é que da nto estao selados. A Sua presença, no coraçflo. é a marca
ao crente a sua poslçao como membro do corpo de Cristo, divina. E~te min,istério ,do Espirito é também exercido quan-
logo e~s~ operaç~o _de Deus é que estabelece cada posição e d? ~e. pratIca a ~e que. e para salvação, não podcndo este mi-
a condtçao do enslao. Nenhum outro empreendimento divino IlIsteno ser repetIdo,. Visto que a primeira confirmação de qual-
para a salvação é de tão elevado alcance no seu efeito. l!: por' quer crcnte por meIO desse selo é feita. IÕpara o dia da re-
causa desta nova união com Cristo que se diz que um Cristão denção".
e~tá "em Cristo", e:esta,ndo "em Cristo" ele tem de parti- Há, portanto. quatro ministérios do Espírito para o
cipar de tudo que Cnsto e e que Ele tem - de Sua vida Sua crente, os quais são exercidos no momento em que ele ~
justiça e de Sua glória. O incrédulo que está "sem C;islo" sal,:o, e nunca mais voltam a repeti r-se segunda vez. Diz-se,
passa a fazer parte integrante desta união com Cristo no mo- entao. que, o: erent: Ilasceu de novo, fo i consagrado ou ungido,
mento em que crê.1 (pelo EsplTito reSidente em sua vida) balizado e selado com
A união ao corpo de Cristo como membros é realizada o r:spírito. P~~e-se ta.mbém acrescentar que estas (Iuatro opc-
como fazendo parte do grande empreendimento divino da sal- raçoes do Espmto realizadas dC1!tro e a fcrvor do filho de Deus
v~ção, a qual é levada a efeito logo que é posta em prática a n~o estão. sujeitas a qualquer .experiência. O Espírito pode,
fe salvadora. 9. q,!~ não há .realmente é qualquer indicação so por SI, tOrnar real tudo Isto no crcnt~ logo que ele é
de que este .mmlsfeno do batIsmo com ° Espírito havia de s...I~o, dando isso, depois, lugar a lima alegria e consolação
maIs. abençoadas. Estes quatro ministérios gerais, que são
ser empr~ldldo uma segunda v~z. Se o batismo que foi reali-
zado no dIa de. Pentecost.es fOi um batismo provisional para e,xercldos da mesma maneira dentro e a favor do crente, cons-
t~os os que aceItam a Cristo nesta dispensação, ou se é indi- IItuem o "Penhor do Espírito" (lI Cor. 1 :22; 5 :5), e as .. Pri-
v l ~u~1 n~ momell.to em. q~e crêel.ll, a diferença que pareça mícias do Espírito" (Rom. 8:23).
exIstIr nao tem ImportancJa maIOr para este estudo em Sétimo - o Ministério d. Plenitud. do Esplrito
curso. O que importa é descobrir o sent ido exato da palavra A realidade, o alcance e as condições deste mini stério do
como representando um ministério especial do Espírito. Espírito constituem a mensagem deste livro e ocuparão os ca-
Sexto - O Ministério do Espfrilo que Sela pítulos que vão seguir-se. O que ficou para trás foi escrito
para que a plenitude do Espírito não fosse confundida com
"E não entristeçais o Espírito Santo de Deus, no qual
nenhuma outra das Suas operações.
1 Em dois evangelhos sinóticos a promessa do batismo com o
Esplrlto é acompanhada da promessa dê um batismo com fogo (Mat. possivel que este julgamento seja o batismo com Cago . Há. uma
3:11; Lucas 3:16). Aq~i1o qUê verdadeiramente se entende por profunda relação entre o batismo com o Esplrllo e este poderoso
batismo com l ogo tem Sldo assunto de multa discussão. "Llnguas batismo com fogo. Enquanto que o batismo com o Espirito dá
repartidas como que de logo" pousaram sobre alguns naquele Dia ao salvo uma posição perfeita quer no tempo presente como na
de PentecQStes; mas esta não tem sido a experiência de todos 08 eternidade, o batismo com fogo, por outro lado, dará ao salvo
crentes. O julgamento das obras do crente, perante o Tribunal uma condição tal que o tornará apto para o que é propriamente
de Cristo (I Cor. 3:9-15; II Cor. 5:10) é o único contato com logo celestial. Ante o Tribunal de Cristo, os Seus olhos como chamas
que estA determinado para todos os que eStão salvos. Portanto, é de fogo (Apoc. 1:14) queimarão todas as Impurezas e somente
aquilo que é celestial permanecerá.
A PLEN ITUDE 00 EsplRITO 37

a doutrina. Este evangelho de libertação tem-se prejudicado


muito por causa daqueles que procuram compreender os seus
principios, analizando algumas experiências pessoais separada-
mente dos ensinos das Escrituras. O perígo deste erro é ma-
nifesto: Nenhuma sô experiência seria uma representação ver-
Capít ulo 111 dadeira ou completa do amplo propósito de Deus para cada
Crislão; e se o fosse, nada menos que a infinita sabedoria de .
A PLENITUDE DO ESPIR ITO, OU A VERDADEIRA Deus poderia formular as suas declarações exatas. Por neces-
ESPIRI TUAl lDADE sidade de instrução bíblica, muitos, ao esforçarem-se por explicar
a razão de uma experiência, inventaram expressões e frases que
Usando várias expressões, a Bíblia ensina que existem não são bíblicas e são, portanto, e invariavelmente, tão imper-
duas classes de Cristãos: aqueles que ;'permanecem em Cristo", feitas como qualquer das conclusões a que chega a inteligência
e os que' ,- llao permanecem " ; aque1es que " dam na llIZ" ,e
. an finita quando tentar ocupar-se das verdades divinas. Seria inútil
os que ';andam em t revas"; aqueles que ';andam segundo o procurar classificar experiências; em todo o caso, quando alguém
Espírito", e os que ;'andam como os homens"; aqueles que encontrou paz, força e bênção pela submissão total a Deus e
"andam em novidade de vida", e os que "andam segundo a confia somente no Seu poder, a Bíblia assinala claramente ser
carne", aqueles que têm o Espírito no seu "íntimo" e "soure" essa razão a causa da maior manifestação da presença e do
os quais foi Ele derramado e aqueles que têm o Espírito no poder do E spirito. P ode dizer-se, então, que esse tal está
seu "íntimo", mas "sobre" os quais não foi Ele derramado; "cheio do Espírito".
aqueles que são "espirituais" e os que são "carnais"; aqueles O que é a Plenitude do Espírito?
que "são cheios do Espírito", e os que o náo são. T odas estas
classificações fazem pa rte do gênero de conduta diária dos sal- Na. Bíblia, não só O significad() da frase "cheio do Espírito"
vos e não é de forma alguma Ul11 contraste entre os salvos e e revelado, mas também a plellitude do Espírito é observada
os perdidos. Onde se encontrar na Biblia um destes significados na experiência dos Cristãos primitivos. Por conseguinte, pela
especiais, como é designado por qualquer destas distinções, aí Palavra de Deus, podemos esperar chegar a uma clara com-
haverá também uma verdade correspondente. Há, pois, a pos- preensão do Que quer di7.er a frase "plenitude do Espírito";
sibilidade de uma grande transição para aqueles que são carnais, porém, ensino nenhum se pode obter nas expressões humana-
passarem à realidade do viver verdadeiramente espiritual. Mas mente 'criadas e, por isso mesmo fora do alcance biblico, tais
a revelação referente a esta possível transição, com todas as como, "uma segunda bênção", "uma. segunda operaçã(} da graça
suas experiências e bênçãos, sô é tomada a sério pelos crentes divina", "a vida mais elevada", e nas variadas frases usadas nas
fervorosos que buscam sinceramente aquela vida diá ria que pode afirmações pervertidas das doutrinas de santificação e de aper"
honrar o nome de Deus. Para esses, há, neste evangel ho de feiçoamento. Perante nós apresenta-se uma esfera de ação ilimi-
salvação, de f.HX1er e de vitória, alegria c consolação sem limites. tada quando se diz que nós podemos ser ;'transformados de
A Bíblia trata desta transição do estado carnal para o glôria em glória" até chegarmos à imagem de Cristo, e isto
espíritual muito desenvolvida mente. No entanto, é possível co- pel(} Espírit(} ( lI Cor. 3 : 18). Ora, o significado (jue esta t rans-
nhecer a ' doutrina sem nunca ter participado das suas bênçãos; formação tem para um crente e as c.:mdições exatas sobre as
assim como é possh'el, por outro lado, e até certo ponto, ter quais essa transformação pode ser realizada. tem de ser com-
participado (la experiência, sem nunca ter chegado a conhecer preendido, não por uma análise imperfeita da experiência, mas
pelas palavras exatas da revelação. É absolutamente viável a
36 um filho de Deus (}bter uma prova satisfatôria de "qual seja
38 AQUELE Qm: t. ESPIHITUAL EsplRITO
""
A PLENITUDE DO

a boa, agrad{lveJ e perfeita vontade de Deus" para si, além do minação do próprio Espírito e na devida altura, ele entrou na
que 'Deus prometeu ainda operar no crente "tanto o querer como posse do resultado inestimável de um constante viver com Cristo.
o efetuar, segundo a sua bo..'l vontade", Pelo Seu poder, as O Espírito é a callsa, enquanto que a experiência da glória
próprias "virtudes daquele que nos chamou das trevas para e da realidade de Cristo, são o efeito.
a sua maravilhosa luz", e ainda a "mente de Cristo", podem Segundo as Escrituras, o crente cheio do Espírito é o ideal
ser reproduzidas naquele que é salvo. Estas bên.ç~o: assi~ como divino quer seja por exemplo, quer seja por mandamento.
as condições que Deus impõe para a sua aqulslçao estao cla- Primeiro, por exemplo: Cristo foi "cheio do Espírito Santo"
ramente expostas na Palavra de Deus. (Lucas 4 :1) ; tooos os memb'ros de URla mesma família. Zacarias.
O Espírito não fala de Si mesmo. O Seu p~opósi!o é Isabel e João, foram "cheios do Espírito" (Lucas I :15,4 1, 67) ;
rC\'clar e glorificar Cri sto (João. 16 :12-,1 5)... 0, ESPlO~O e-nos e os discípulos e outros mais foram-no repetidas vezes depois
dado a conhttcr por meio de tltulos slgll1flcatlVos, tais como que o seu verdadeiro ministério começou (Atos 2:4; 4:8. 31;
';0 Espírito Santo", ou "O Espírito de Deus"; mas, verda- 6:3; 7 :55; 9:17; li :24; 13 :52. Note-se também todas as p.'lS-
deiramente, o Seu nome não é rc\'e\ado. Embora Ele não se sagens nas quais se diz que o Espírito foi derramado" sobre"
rc\'c1c. :1 Si mesmo. todavi:\ Ele é a cansa de toda a verdadeira os crentes).
espiritual idade. /\ Sua tarefa é manifestar "a vida que C~isto Segundo, por mandamento: No Novo Testamento foi' dado
representa", e tiio perfeitamente. que qualquer pessoa pode dIzer: um mandamento bem expressivo: "E não vos embriagueis com
"(Ponluc) para mim viver é Cristo"; mas por detrás d.esta vinho, em que há contendas; mas enchei-vos do Espírito" (ou
força que imrulsiona a vida-exterior que é possível em Cnsto, mais literalmente, "para vos con·servardes cheios do Espirito"
est{1 a vida-interior que nos vem do Espírito de Deus, e tnelo - Ef. 5:18). Aqui a fomIa do verbo é usada llm pouco
nada mais é senão uma conseqüência da plenitude do Espírito. diferentemente da que é costume usar-se em relação aos outros
Paulo fora salvo na estrada de Damasco e ali mesmo, disso ministérios do Espírito. O Cristão renasceu, foi batizado, tor-
podemos ter a certeza, ele recebeu o Espí rito como "pe~hor" nou-se morada do Espírito e foi -selado com o Espírito: por isso
e como "primícias". Mais tarde, quando entrou na cIdade, deve procurar conservar-se (manter-se) cheio do Espírito. A
Ananias ,'cio ter eom ele e. pondo sobre cJe as mãos, disse: revelação do propósito de Deus é que o ~spírito seja ininter-
"Irmão Saulo. o Senhor ]eslls que te apareceu no caminho por ruptamente ministrado ao Cristão: "Aquele pois que vos dá o
onde vinhas. me em'iou p."Ira que tornes a ver e sejas cheio do Espírito" (Gál. 3:5). O Cristão, para ser espiritual, tem, pois,
Espírito Santo". Tinham que se dar dois acontecimentos: Saulo que ser cheio do Espírito e permanecer na plenitude do Espírito.
ia rccuperar a vista e ia ser cheio do Espírito, E bem que nos Uma " experiência" pode ou não acompanhar o primeiro acesso
lembremos de que este fato não fazia parte da sua salva<;ão. à vida de plenitude do Espírito; mas, ainda que se admita a
Soube-se então que "logo caíram dos olhos como que umas hipótese de uma "eXperiência", a Bíblia nada transmite a res-
escamas. e recuperou a vista". Em verdade, não há nenhum peito de uma "segunda bênção" ou "segunda operação da graça
registo de uma emoção ou de uma experiência que pudesse ser divina ", pela qual haverá, para o crente, menos necessidade
tomada como prova de que ele fora cheio do Espírito. No amanhã do poder eficaz e capaeitador de Deus do que para hoje.
entanto, ele foi tão notoriamente cheio como notório foi o re- Pode-se aprender como tJl.clllr>r "andar segundo o Espírito";
cuperar da sua vista. A prova é bem concludente, porquanto porém. nunca na vida se chega a um momento em que haja
a passagem continua dizendo: "e logo nas sinagogas pregava a necess idade de andar menos segundo o Espírito. Os recursos
Jesus, que este era o Filho de Deus" (Atos 9:17-20). Não divinos, para uma vida de vitória continua em Cristo, são
existe prova de que o Apóstolo estivesse cônscio do Espírito; inesgotáveis; mas também as necessidades constantes de criatu·
mas a verdade é que ele ficou totalmente consagrado a Cristo. tas tão fracas nunca acabam.
Não obstante, ele foi "cheio do Espírito" e assim, por deter- ~ importante notar que, por três vezes, no Novo Testa-
40 AQUELE QUE ~ ESPIRITU AL A PLENITUDE DO ESpJRITO

mento, O efeito da bebida forte é comparado com a vida cheia relacionados com outro ministério do E spírito a não ser com
do Éspírito (Lucas J :15; Atos 2 :12-21; Ef. 5 :18). Assim o da plenittlde. São, JXlis, sete essas manifestações do E spírito :
como as bebidas fortes estimulam as forças físicas e as pessoas
são propensas a recorrer a elas como um auxílio IIOS lugares I - O Esplrito Produz Caráter Cristão
difí ceis na vida, também os fi lhos de Deus, tendo que enfrentar "Mas o fruto do Espírito é: caridade, gozo, paz, longani~
a impossível responsabilidade de uma conduta e um serviço midade, benignidade, bondade, fé , mansidão, temperança "
celestial. di rigem-se ao Espírito, fonte de todas as realizações. (auto-domínio, Gál. 5:22,23).
Como cada momento da vida espiritual representa uma neces- Resumidas nestas nove palavras, não se encontra apenas
sidade incomensurável e exigências sobre-humanas, a provisão a afirmaç.ão exata sobre o que é o caráter cri stão, mas também
do poder eficaz e da graça divina tem de ser recebida a todo o uma descrição da vida que Cristo viveu aqui na T erra. É ainda
instante e imediatamente aplicada. "Como fOf o teu trabalho, uma afirmação daquela conduta de vida que Ele pretende que
assim será a tua força". cada Cristão experimente aqui na Terra e já. Estas nove pa-
Ser cheio do Espírito é ter o Espírito a cumprir em nós l.avras formam uma definição bíblica daquilo que está contido
tudo o que Deus quer que esse Espírito faça, pois rara isso na frase "Porque para mim viver é Cristo".
Ele O colocou ali. Ser cheio não é uma questão de se obter Ainda que o mundo se esforce por ser uma vaga repro-
'nais do Espírito; antes, a questão está em o Espírito conseguir dução daquilo que estas nove palavras representam, o fato é
mais de nós. Nunca se JXlderá obter mais do Espírito senão que a realidade dessa reprodução é estranha à natureza humana,
o que é de direito e que todo o verdadeiro Cristão recebeu . por mais perfeita que essa natureza seja. E stas graças, aqui
Já o Espírito, esse JXlde ter tudo o que pretender do crente indicadas são exóticas, isto é, têm uma origem estrangeira, e
e assim ser-Lhe-á possível manifestar nesse crente a vida c nunca poderão ser encontradas na natureza humana se nela
o caráter de Cristo. Uma pessoa espiritual é aquela que, na não forem produzidas pelo poder de Deus. Elas são o "fruto
sua vida diária, experimenta os propósitos e planos divinos do Espírito". Portanto, o caráter cristão não é desenvolvido
realizados pelo poder do Espírito que nela habita. O ca-ráte-r ou "edificado" pelos cuidados humanos Oll pelos seus esforços.
dessa vida será a vida de Cristo que se revela ao mundo através O método para se alcançar um caráter, por meio dos cuidados
do crente e a causa dessa vida será a presença íntima e inin- e da energia, o qual está sendo agora minuciosamente explicado
terrupta do Bspírito que hldo opera (EC. 3 :16-21; n Cor. e constantemente recomendado JXlr muitos, é tudo quanto a
3018 ) . Humanidade pode fazer, e talvez até que esse método vC1lha
O Novo Testamento é bem daro no que se refere ao que a ter a sua realização dentro da esfera das reproduções que
o E spírito pode produzir na vida que está em perfeita harmonia, o mundo escolheu como seus ideais. Os filhos de Deus, porém,
e tuclo quanto gira à volta desta revelação, tomado em conjunto, não têm de enfrentar as meras reproduções que o mundo tomou
é que forma a definição bíblica sobre espiritualidade. Estes para -seus ideais, ainda que por ignorância eles julguem ter
empreendimentos são distintamente atribuídos ao Espírito, e eles que fazê-lo. Antes, pelo contrário, os filhos de Deus, têm de
nada mais são senão as Suas manifestações realizadas lias Cris- enfrentar o problema de manifestar "os louvores [virtudes]
tãos e através deles. d'Aquele" que os chamou "das trevas para a sua maravilhosa
luz ". E les encontrarão na Bíblia muito pouco de estímulo para
As Sete Manifestações do Espírito intentar a "edificação" destas características do Infinito. Ora,
llleslllO que a natureza estivesse nas suas condições mais favo-
Existem sete manifestações do Espirito, as quais se diz ráveis, nunca poderia esperar conseguir isto. Se o alvo não
serem experiências somente dos crentes cheios do Espírito, por- fosse mais elevado que os padrões do mundo, seria justificável
quanto nas Escrituras estes resultados nunCA se encontram a tentativa de se formar um caráter cristão; mas mesmo assim
42 AQUELE QUE t ESPlRITUAI.. A Pu,;N1TUDE 00 ESpJRITO
'"
não haveria qualquer Escritura a justificar a luta humana. O obras da carne são manifestas, as quais são: adultério, pro~t i~
verdadeiTo qráter cristão é, sem dúvida, o " fruto do Espírito". tuição, impureza, lascívia, idolatria, fei tiçarias, inimizades, por~
A posição mesma do filho de Deus, como cidadão celestial, fias, emu lações, iras, pelejas. dissenssões, heresias, invejas,
exige que estas nove virtudes que são o "fmto do Espírito" homicídios, bebedices, glutonarias e coisas semelhantes a estas".
sejam reais na sua vida diária. Ele tem de "andar como é "Mas," em contraste com tudo isto, "o fruto do Espírito é
digno" da vocação a que foi chamado, "com toda a humildade caridade, gozo, paz, longanimidade, benignidade, bondade, fé,
e mansidão, com longanimidade, suportando-se uns aos outros man sidão, temperança" (auto-domínio). "A carne", segundo o
em amor". Assim, também, por outro lado, a sua preciosa sentido empregado nesta e noutras p."lssagcns semelhantes, quer
comunhão "com o Pai e com o Filho " deve depender da pre~ dizer mais do que corpo fisico. O termo representa tudo, _
sença destas características divinas. :ú. preciso, pois, haver um espírito, alma e corpo - tudo aquilo que a pessoa era antes de
certo gênero de vida e de caráter 110 Cristão, para que Deus ser salva. Portanto, desta fonte, 1150 pode vir o verdndeiro
possa tcr comunhão com ele. Mas se Deus encontra, numa vida "fruto" espiri tu<l1. No próprio contexto se decla ra que "a carne
humana, alguma coisa que se assemelhe a Ele mesmo, é porque cobiça contra o Espírito, c o E spí rito contra a carne; e estes
Elc mesmo a colocou nesta \,ida, pois que Ble sabe perfeitamente opõem-se um ao outro".1
bem que essas graças divinas nunca podem aparecer numa vida Existem, pois, dois princípios de vida que são apresentados
sem aquele poder que só a Ele pertence. Ora., se Ele, por Sua ao Filho de Deus: o andar carnal que é pela força da carne,
natureza verdadeira, exige que as graças celestiais sejam a única ou "segundo os homens" . e o andar espiritual que ê pela força
base para a Sua comunhão com aquele filho que nasceu do do Espírito OI! conforme a Cristo. Esta passagem da carta
Espírito. temos qne concordar que Ele não é exagerado em tal aos Gálatas afirma: "D igo, porém: Andai em Espirito [lit.
exigência. porque Ele n50 está à espera que estas graças venham por meio do EspíritoJ, e não cUlllprireis a concupiscência
da carne, mas Ele mesmo tem feito lima provisão completa p.'lra r desejo J da Car)le". Estes dois principios são absolutamente
que elas fossem produzidas pelo Espírito. O fato. porém, de opostos um ao outro. e, portanto, não podem ser misturados.
Ele ter planejado que elas fossem o "fmto do Espírito", muda Andar segundo o Espirito. ou " ser conduzido pelo Espírito",
por completo a responsabilidade humana, Já não é mais uma não quer dizer que a carne seja aI/.rifiada. pelo E spírito em
coisa que a força humana tenha de conseguir, nem tão pouco qualquer circunstância. Pelo contrário, é lIma realização direta
de ser feito pela força humana juntamente com O auxílio do do Espí ri to apesar {la oposição da carne.
Espírito. O verdadeiro caráter cristão é, positivamente, o "fruto Quando se anda segundo o Espírito, os resultados são
do Espírito". Este verdadeiro caráter cristão é produzido tiO celestiais : " Não cl1mpl'ireis a concupiscência da carne". "Para
crente, mas não Pelo crente. Sem dúvida, que o Espírito usa que não façais [quando guiados pelo Espírito] O que (doutro
todas as faculdades do ser do crente para levar a efeito este mod?) quererieis". "Se sois guiados pelo Espírito, não estais
precioso gênero de vida; no crente, todavia, nada há, realmente, deb.'lxo da lei", logo "O fruto do Espírito. é caridade, gozo,
que possa conseguir este resultado. Nem mesmo exíste sequer, paz, longanimidade, benignidade. bondade, fé. mansidão e tem~
na natureza humana, uma centelha destas graças que pudesse perança" ( auto-domínio).
ser ateada em chama. Tudo tem que ser produzido no coração Resultados como estes são preciosos. Enquanto o mundo,
e. na vida pelo Espírito. P or isso o novo problema está pre- para alcançar as virtudes humanas, a cuja soma total se dá
cisamente em manter uma tal ligação com o Espírito que L he o l ~ome de "caráter", encara um prolongado processo de auto-
torne possível realizar co tl/ lnlt(J.m~n te aquilo que Ele veio fazer !re111~mento e de auto-repressão, o Cristão pode conseguir, e
no coração. ImedIatamente, as virtudes celestiais de Cristo : não por esforços
O que a carne pode faze r, fará e tCII~ de fazer, foi declarado
nos versículos precedentes à passagem em análise: "Porque as 1 Veja-se também a pAgo 113.
44 AQUELE QUE t ESr]RITUAL
A PLENITUDE DO EspíRITO

humanos; mas por meio dUllla relação cr:rta com o Espírito que
habila nele. Na verdade, esta rcvrfação é cOlllpletamente estra· pelo [produzido por, ou Illotivado por] Espírito Santo que llOS
nha à maneira de pensar e de agir do homem, e até para muitos foi dado". Isto não é, po.,is, obra do amor humano; pelo COIl-
deles é, :Iinda, um ';provérbio de difícil compreensão", Esta trário, é a manifestação direta do ·'amor de Deus", atravessando
tremenda possibilidade. como rcvela((;o vin(la de Deus, não o coração do crente de harmonia com o Espirito que nele habita.
Jxxlcrá parecer razoável àquele que ainda não perdeu as dúvidas t o cumprimento do último pedido da oração Sumamente Sa-
de que é possível ao sobrenatural ser experi mentado em todos cerdotal de nosso Senhor : .. Para que o amor com que me tens
os momentos da vida. Essas pessoas que duvidam, não deviam amado esteja neles" (João 17:26). É simplesmente o amor de
afirmar, pelo fato de ser par;) das irrf'a l, (jl1e o andar segundo Deus a trabalhar dtlnlra do crente e a-t ravés dcle. Não poderia,
~ Espírito não é uma cOllcessiio bOlldo~a feita por Deus a Seus
de forma alguma, ser humanamente produzido, ou mesmo imi-
fIlhos. A revelação de que n vcrdndeiro caráter cristão é I1Ill tado com êxito e, esse amor, illc\'itavelmentc, é atraido mais
fruto direto do Espírito (11\(.' habita nesse Cristão, encontra-se pelos objetivos da afeição e da graça divinas, do que pelos
nas paglllas da Palavra de Dcus. As afirmaçõcs feitas a este objetivos do desejo humano. Um coração humano nUllca pode
respeito são clara~, assim como c illcisivo e sem complicações prodl/::ir amor divino, mas peJe, sim, cxpcrimimtá·/o. Ter um
o ensino bíblico sobre o as~u1llo. 1'Ias não é somente por isso, coração capaz de sentir a compaixão de Deus, é compartilhar
há mui tos que ~o vivas testemunhas de como esse yerdadeiro da bebida celestial. Ao considerar esta participação no amor
caráter é uma rtalidad," nas suas expe ri<1ncias pessoais. de Deus deve notar-se:
Os efeitos do crescimento cristiio não estão incluídos nessa Prillleira - o amo r que é partilhado com Deus, não é
vitória inlc(liat;:l. Esse crescimento é simplesmente uma con- expe rimentado por aqueles que ainda não estão salvos: "1\las
seqüência. (la. nossa inteira. participação na vontade de Deus que bem vos conheço, que não tendes em vós o amor de Deus"
passa a ~e r efetiva nas nossas vidas. (João ,,42).
As nove pala~ras que definem o caráter cristão, podem ser SeglwdQ - o alllor de Deus abrange o mundo intei ro:
encontradas atravcs do Novo Testamento c, uma vez descobertas "Porque Deus amou o mundo" (João 3:16); "Para que Ele,
podcr-se-á concluir (1) que elas são sempre apresentadas com~ pela graça de Deus, provasse a morte por · LOdos" (Heb. 2 :9);
características divillas, ainda que, por vezes. as rdações e ideais "E ele é a propiciação pelos nossos pecados, e não somente
do mundo se assemelhem à sua realidade; (2) que, seguramente. pelos nossos. mas também pelos de todo o mundo" (1 João 2 :2).
Deus espera encontrá-las na vida do crente; e (3) que elas são Este c o amor divino pelo mundo dos homens perdidos. É o
somente produzidas pelo Espírito (Ie Deus. Cada uma destas amor de Deus que não conhece limites. O que, algumas vezes,
pa.lavras podia ser detalhadamente considerada. e dela tirar.se é denominado por "espírito missionário ", não ~ outra coisa senfw
grandes beneficios; será suficiente, porém, dar o lugar apenas essa compaixão que trouxe o Filho de Deus do Ccu jorrando
a uma., ~orql1anlO se admite que 11110 aquilo que é verdadeiro através de um coração humano. O interesse pelos homens per-
nessa utllca p.,lavra tomada em conSIderação, seja também, até didos não é assegmado por lima manifestação esforçada dos
certo ponto, a verdade de todas as outras. sentimentos humanos: ele é imediatamente realizado nUlll coração
cristão quando há uma relação correta com O Espirito de Deus.
Amor O desejo pela salvação de outras almas, é logo o primeiro pen-
O verdadeiro amor humano existe lia realidade· mas todo samento de muitos, depois que nasceram de novo.
o amor cristão, segundo as Escrituras é distinta~ellte uma Terceiro - o amor de Deus aborrece os hábitos do mundo
manifestação do amor divino através do' coração humano. Em presente. "Não ameis o mundo, nem O que no Illundo há. Se
Rom. 5 :5, encontra-se a afirmação desta verdade, "porquanto alguém ama o mundo, o amor do Pai não está nele. Porque
o amor de Deus está derramado [Iit. jorra} em nossos corações tudo o que há no mundo, a concupiscência da carne, a COll-
cupiscência dos olhos e a soberba da vida, não é do Pai, mas
46 AQUELE QUE e ESPIRITUAL A PLENITUDE 00 EsplRITO

do mundo" (l João 2:15,16). Este amor puro serâ sempre o amor de Deus não é somente sacrificai quanto às riqueza!:!
a experiência daquele a quem o amor de Deus foi comunicado. celestes, é também sacriiical no que respeita à própria vida.
Quarto - o amor de Deus é para os Seus filhos que nas- "Conhecemos o amor nisto: que ele deu a sua vida por nós".
ceram do Espírito. "Muito mais a.icra, sendo justificados pelo E diz mais: "E nós devemos dar a vida pelos irmãos" (I J oão
seu sangue, seremos por ele salvos da ira. Porque se nós, sendo 3:16,17 ). Quanto ao Apóstolo Paulo, ele testificou : "Em CriSlO
inimigos, fomos reconciliados com Deus pela morte de seu Filho, digo a verdade, não minto, dando-me testemunho a minha cons-
muito mais. estando já reconciliados, seremos salvos pela sua ciência no Espirito Santo, que tenho grande tristeza e contínua
\'i da~' ( Rom. 5:9,10); "Cristo também amou a igreja, c a si dor no meu coração. Porque eu mesmo poderia desejar ser
mesmo se entregou por ela" (Ef. 5:25 ) . Ele ama aqueles que separado de Cristo, por amor de meus irmãos, que são meus
são Seus, mesmo até que andem errantes, como é revelado pelo parentes segundo a carne" (Rom. 9:1-3). O Apóstolo sabia
regresso do "filho pródigo". "Se nos amamos uns aos Qutros, perfeitamente bem que não havia razão p..'lra ele ser separado,
Deus está em nós, e em nós é perfeita a sua caridade" (I João visto que o seu Senhor fora. feito maldição por todos; todavia,
4:12 ) . P or esta cOIllJ).'lixão divina o Cri stão prova a realidade ele podia, mesmo assim, desejar ser fei to maldição. Tal cxpe·
de sua fé perante o mundo: "Um novo mandamento vos dou: riência pro"a a ação direta do amor divino numa vida huma.na,
Que vos amcis uns aos out ros; como eu vos amei a vós, que aquele amor que levou Jesus a morrer sob a maldição e o juízo
também vós uns aos otltros vos amcis. Nisto todos conhecerão do pct.1do do mundo. Somente quando esta compaixão divina
que sois mel1S discípulos se vos amardes uns aos outros" (João pelas almas perdidas for reproduzida no crente, é que o trabalho
13:34,.15) . E ste amor divino é ainda a prova da nossa fra- d~ salvação de almas, se tornará 'real e su ficientemente dinâ-
ternidade em Cristo: "Conhecemos a caridade (de Deus) ni sto : mico.
que ele deu a sua vida por nós, e nós devcmos dar a vida pelos Só assim a magnanimida.de do coração de Deus pode ser
irmãos. Quem pois tiver bens do mundo, c, ,'cndo o seu irmão ?1:lIlifesta numa vida humana, e esta única palavra "amor",
necessitado, lhe cerrar as suas entranhas, como estará nele a Juntamente com as outras oito que indicam o fruto do Espírito,
caridade dc Deus? (J João 3: 16.17 ), "Nós sabemos que p.1.S- é a rcpresentação do verdadeiro caráter cristão, As outras oito
samos da morte para a vida, porque amamos os irmãos (I João palavras, quando examinadas nas Sagradas Escrituras, provarão
3,14). ser também graças divinas que se realizam no coração humano,
Quilao - o amor de Deus não tem fim: "como havia somente quando elas forem cOlicedidas. "O meu gozo perma-
amado os seus, que estavam no mundo, amou-os até ao fim" necerá em vós". "A minha paz vos dou",
(eternamcntc, João 13:1 ). Diz-se que o amor de Deus no . _Estas graç?s ~ivina-" não .se produzem em todos os corações
crent e deve ser "pacient e" e por conseguinte benigno, cnstaos; elas 50 sao reproduzidas naqueles que "andam segundo
o Espírito",
Sexto - o amor de Deus é para Israel: "Poi s que com
amor etcrno te amei" (ler. 3 1 :3), P or isso o crente cheio do
Espírito aprenderá a regozijar-se nas grandes profecias e planos 11 - O Espírito Produz Atividade Cristã
de Deus para aquele povo COm quem E.Jc fez alianças eternas, . Deixando uma vez mais a razão humana, e voltando à Bí-
e por quem Ele tem Ulll amor eterno. blia, verifica-se que a atividade cristã é um exercício direto da
Sétimo - o amor de Deus é sacrificai: "Porque já sabeis força do Espírito através do crente. "Rios de água viva COI-
a graça de nosso Senhor Jesus Cristo, que, sendo rico, por amor rerão do seu ventre. E isto disse ele do Espirito" (João
de vós se fez pobre; para que pela sua pobreza enriquecêsseis" 7:38,39), O esforço humano nunca poderia produzir "água
(11 Cor, 8:9). Tal atitude da parte do Filho de Deus, quanto viva", e ,~uito menos "n·os". Esta afirmação está ligada ao
às riquezas eternas tem que, se for reproduzida no Cristão, afetar Deus InÍlmto. O ser humano, quando muito, podia ser o meio
grandcmente a sua atitude no que respeita às riquezas terrenas. ou o canal pelo qual corressem esses jorros de água.
48 AQUELE Qm: t ESPIRITUAL A PLENITUDE 00 EsplRI'rO

A verdadeira atividade do Cristão, assim como a sua sal- executem o mesmo serviço, o Espírito é o que produz a força
vação, jâ c!>Iav:I. projetada no plan? e propósi!()S eternos de e efetua o trabalho individua l e exato em cada um. "E há
Deus: "POf<luC somos feitura sua, criados em Cnsto Jes,lIs p.1.ra diversidade de ministérios , mas o Senhor é o mesmo. E há
as boas ooras, as quais Deus prep1.lou para que an~~sse.mos diversidades de ope ra ~ões, mas é o mesmo Deus que opera
nelas" (TIL 2 :10). Segundo e~ta l;:l,Ssagem,. D.ct~s Ja tmha [capacita] tudo em todos. f..las a manifesla~ão do Espirito é
preparado um serviço muito e~~I~l p..,ra ~ada II1dlVI~uo.d~sen:a­ dada a cada um I Cristão ], para o que fOI" Íltil. Porque a um
]lcnha r, e a prática destes nl1sterlOS parl1culares. e _!Odl~1(~\lalS pelo Espirito é dada a pala\'ra da sabedoria; e a out ro, pelo
é o que cOllstitui "as boas obra s ~', con,r0rme a~ avaha,~es dlvmas. mesmo Espí rito, a p..1lavra da ciência; e a outro, pelo mesmo
Qualquer otlt~a função 9ue na? sel,U a p!e-determlllada para Espírito, a fé; e a outro, pelo mesmo Espírito, os dons de curar;
o indi'víduo, amda que 50 por 51 vahosa. Il:lO pode, no ent~nto, e a outro a operação de maravilhas; e a outro a profecia; e
ser designada por "boas obras", porquanto não é uma {cllura a outro o dom de discernir os espíritos; e a outro a variedade
pessoal da vontade de De~ s. A revelação e a realização de de línguas; e a outro a interpretação das linguas. f.. las um só
"boas obras" não são expenmentadas por todos os crentes,. l~l~S e o mesmo E spírito opera todas estas coisas, repartindo par-
apenas por aqueles que apresentam os seus coq~s e~l ~c T1hclO ticularmente a cada um COmo quer" ( I Cor. 12:4- 11 ).
vivo, santo e agradável a Deus; aqueles que Ilao estao con- Logo, o "dom", é uma " manifestação do Espírito", ou
formados com este mundo", mas são "transformados" pela seja, o serviço divinamente produzido pelo Espirito, e "como
renova~ão dos seus entendimentos (Rom. 12:1,2). Ele quer". ~, pois, evidente que nenhum dom pode ser exer-
Serviço CristrtO, segundo o Novo Testamento, é o exercício citado numa vida que não se submeta aO Espírito.
de um "dom" . O emprego que a Bíblia faz ela palavra "dom" f:: provável que os "dons" enumerados na Biblia fossem
não deve ser confundido com a concepção que o mundo tem as manifestações do Espí rito que mais se salientaram -segundo
de uma "pessoa dotada, talentosa". O ~1Undo ~c:ha qu~ lima as condições e a época em que foi escrito ó registo. Alguns
pessoa dotada é aquela que, pelo seu. nasClment~ hSICO, esta, apta. deles, perduram até a presente hora. l\'las outras manifestações
especialmcnte a desempenhar detenmnadas f~n5oes. Sem. dtlVlda do Espírito, não há dúvida que acabaram. Não é que ísto seja
alguma. que o Espírito se serve destas aptldocs naturaiS; mas um indício de falta de piedade depois da primeira geração dos
um "dom", na verdadeira definição bíblica. da palavra, é um Cristãos. Não há prova evidente de que a piedade tenha dimi-
empreendimento direto ou lima manifestação da operação do nuído. Essas manife sta~õcs do Espírito que deixaram de existir,
Espírito através do crente. É rcalmente o Espírito de Deus estavam relacionadas mais ao começo do que à COlltillllO(ão da
que inicia a atividade, e que usa o crente para rcalizá-la. Não é opera~ão do Espirito nesta época. Isto não é um caso sem
o qucrer do crente a realizar qualqucr coisa, reclamando de Deus precedentes: Quando Cristo nasceu, foi vista uma estrela no
a ajuda para essa tarefa. É, seguramente, a "obra de .Deus" na Oriente, ouviram-se vozes de exércitos angelicais e obtiveram-se
qual devemos " abu'ldar". Segundo a Palavra, o Espírito produz as mais extraordinárias circunstâncias. A estrela, porém, nâo
serviço cristão, da mesma maneira como Ele produz as gr~ça9 continuou a brilhar e as vozes dos anjos nem sempre foram
de Cristo tiO crente e através dele. Todas as faculdades do I1lS- ouvidaS. O mesmo sucedeu com o advento do Espírito e com
tnmlento humano serão usadas nesse trabalho. Esse instrumento a introdução do Seu novo ministério no mundo. Que estas
humano experimentará cansaço e esgotamento no servi~o do manifestações pr imitivas cessaram, pela vontade de Deus, tem
Senhor. A força humana, todavia, nunca poderia produzir os sido a crença dos mais consagrados santos de todas as ge rações
resultados divinos que estão previstos. Além disso, as Escrituras passadas. Contudo, nestes últimos tempos, em que Satanás está
afirmam ciosamente que o verdadeiro serviço cristão é uma usando com eficácia todos os a rgumentos dispon íveis para criar
direta "manifestação do Espírito": "Ora há diversidades de a confusão e div idir os Cristãos desviando o "Seu csfor~o e im-
dons, mas o Espírito é o mesmo". Ai nda que dois Cristãos não pedindo o seu testemunho, há alguns que exigem um regresso
A P LENI TUDE DO EsrfRlTO .,
às maniíestaçõcs do d ia de Pentttostes como a única maneira nunca serão as mesmas em qual<jlle r de duas vidas e por 1l.~II.
de realizar a plenitude do ministério do Espirito. Tais Cristãos lia mesma verdadeira acepção, também duas manifestações d!,
professos SilO ousados em negar a espiritual idade dos santos que, Espírito não serão precisamente as mesmas. Para cada filho
através de todas as gerações não aceitaram os ensinos deles. d~ Deus, há. l~m serviço pessoal " predestinado ", e " rios de águ.1
Evidentemcnte que estão falhando, assim, no conhedmento e na viva" especiai S brotam da parte íntima de cada vida.
observação daqueles dons de que nas Escrituras se fala como . qualquer Cristão poderá entra r no desempenho das suas
sendo de primeira importância, em contraste com os dons infe- p.ropn~s '·b~s obr::as", desde que o Espírito, que a isso habilita,
riores. Tudo o que se fizer no sentido de restaurar as mani- Ja esteja habitando nele ; mas somente aqueles que são su bmissos
fes tações pentecostais deve 'Ser feito em vista de f/Ido quanto a Deu.s, tomam, real~ellte, parte . nisso; porque esse é que é
é ensi nado em I Cor. 14. Se Deus está chamando o Seu PO\·o ~ serviço segundo ~ Sua vontade. Porêm , <juão pouco apreciada
p.1.ra uma renovação de todas as manifestações primitivas do e esta grande realldade! Quantas vezes os Cristãos são exor-
Espírito, porque é que essa renovação está limitada apenas a tados ~ dispender mais energia e a usar todas as suas faculdades
um pequeno grupo, quando há dezenas de milhares fora. dele l1a~ural~ na esperança de que eles possa m prestar serviço cristão.
que estão rendidos a Deus e prontos a fazer a Sua vontade !:ia, eVidentemente, um meio mais cficieQte para assegurar o
sem nunca terem sido levados a tais manifestações? Se Satanás fruto que permanece" nas vidas cri stãs. Lé-se nas Esc rit uras
usa o caso destas manifestações primitivas do Espírito como que o "culto racional", e até mesmo a "boa, agradável e perfeita
um ensejo para confund ir e dividir os Cristãos, é de esperar vontade de Deus", é feita quando o filho de Deus apresenta
que toda a sua força sobrenatural será evidenciada e os seus completamente o seu corpo a Deus. Os crentes assim rendidos
mai s sutís enganos serão impostos para produzir aquilo que pouco precisa~ de exo,:ação, porquanto a ação do Espírito qu~
pare~a ser t rabalho de: Deus. Muitos dos que foram libertos trabalha atraves deles e bem poderosa, e Ete usará todas as
destas crenças e manifestações "pentecostais", desde então eil- faculdades e recursos úteis das suas ,.idas. Os outros Cristãos
contraram as coisas mais essenciais do Espírito, ficando profun- que não se submetem, não sofrem grande alteração por meros
damente interessados por aquelas pessoas que eles COllsideram apelos hu~anos. A coz:agcm descarada que leva uma peSSoa a
ainda cegos e pessoalmcnte satisfeitos com o erro. e~pree~ld~ment os . ~rnals, não é a condição do verdadeiro ser-
O serv iço cristão nem sempre é indispensável à espiritual i- ViÇO crl stao. O UIll CO ponto essencial é o da submissão de um
dade. Se essa for a vontade divina para nós, tanto somos espi- cor~ção e ~e um~ vida através dos qtlais o Espírito que neles
rituais no descan so, no recreio. na doença ou enfermidade, como habIta 11lan.lf~star.a, certamente, o Seu forte poder.
quando estamos em plena atividade. O nosso único interesse A espmt~Jahdade não se alcança pelo serviço: é ela que
é conhecer a Sua "ontade e executá-la; mas normalmente, a ver- produz o serviço. Quando alguém é realmente espiritual, com-
dadeira espiritualidade é expressa e exercida nos mini stérios praz:se en~ dar todo o esforço da sua luta pessoal por um
confiados aos crentes e que só podem ser realizados pelo poder serviço m'.us elevado. A espiritualidade é obra de Deus a favo r
que Deus concede. de Seus fI lhos : e o serviço é o trabalho dos filhos a favor do
O ministério de reabi litação está limitado apenas aos crentes seu Deus, trabalho esse que só pode ser realizado pelo poder
do Espírito que neles habita.
espirituais, confonne nos é relatado em Cá!. 6: 1: " I rmãos, se
algum homem chegar a ser surpreendido nalguma ofensa, vós, 111 - O Espfrito Ensin.
que sois espirituais, encaminhai o tal com espírito de mansidão;
olhando por ti mesmo. para que não sejas também tentado". J:.. manifest~ção do ensino que o Espírito dá ao crente. é
Quantos pesares se evitariam se estas instru~ões fossem obser- descrJta por Cnsto em João 16:12- 15: "Ainda tenho mu ito
vadas ! que vos .dizer, mas v~s. não o podeis suportar agora. Mas,
O serviço exato e a responsabilidade individual do Cristão quando vier aquele E spmto de verd::ade, ele vos guiará em toda
52 AQUELE QUE t ESPIRITUAL A PLENITUDE DO ES I>IRITO

a verdade; porque não falará de si mesmo, mas dirá tudo, ~ qU,e se é que rea.lmenle a lêem. Esta é a tragedia no rCIllO d(l'
tiver ouvi do, c \TOS anu nciará o que há de vir. Ele me glonflc~ra, êxitos infinitos. ~[as a questão não está só em ter prazcr ou
porque há de reccocr do ,que ê meu,. c \'0-10 h~ de ant111~ l ar. proveito pessoais nas maravilhas da verdade divina: ela ellvúlv('
Tudo (Juanto o Pai tem c meti; por ISSO vos dIsse que ha de t:lmbém as realidades de conhecimento ou ignorância.; de ohc~
rccel>c r do que é meu c vo-lo há de anullciar", diêllcia. ou desobediênc ia por falta de compreensão; de força
Eis aqui a promessa de que os filh os. de Deus hão de ou fraqueza; de beneficio ou prejuízo na vida e no testemunho
compartili'laf no mais elevado reino do conheclInento da n~rdad~ daquele que, justamente porque o Espírito habita nele. poderia
como- está revelado na Palavra de Deus. "Tudo quallto o [-'ai vir a conhecer e a cOlllunicar a outros alguma coisa da infinita
tem" está incluído Ilas coisas que são de Cristo e " na(luilo Verdade de Deus. Não hú inst rução humana por maior que
que I~á (le vir ", e tooas estas coisas fon~lam o i!it~i~ado campo seja, que possa corrigi r este defeito. A raiz do mal está na
de ação ao qual o crente pode ser con~hlzldo J?f!.lo dlV11l0 1\,l e5Ire. rOr/lO/idade, e só quando esse mal fur curado, é que os "olhos
Sem dúv ida esta nbundântia de realidade (hvma ocupara para do coração" serão iluminados e as lorrellles de Verdade sant i-
sempre as n~ssas mentes e os nossos corações; mas os. Cristãos ficadora passarão a ser continuas e ininterruptas. .. Aquele fIlie
podem começar agora mesmo a penetrar e a progredir tlestes é espiritual discerne bem tudo'".
reinos da verdade e da graça. "Mas nós recebemos ... o Es- O crescimento crist."io e o profundo conhecimento da Ver-
pírito que provém de Dens, para que pudéssemos conhe~;r o dade têm de se r distintos da espir itual idade. I!. possivel ser
que nos é dado gratuitamente por Deus" ( I Cor. 2 :12 ). li a cheio do Espírito ainda que imaturo !lO crescimento, na expe-
unção que vós recebestes dcle fica em vós, e não tendes ne<:es- riência e na compreensão. O crescimento c ristão está, em gf:ll1de
sidade de que alguém vOS ensine; mas, como a sua t~ nção vos parte, subordinado ao estudo da Palavra, à oraç:oo e à ~t i vidade ;
ensina todas as coisas, c é verdadeira, c não é mentira . como enquallto que a espíritualidade uflo depende destas COIsas, mas
ela vos ensinou. assim nele permanecerei s" (I J oão 2:27 ). cstá depcndente da adaptação imediata ao Espírito. V isto que
Para além do alcance do conhecimcnto humano estão ainda o Espírito é O nosso i\[estre, é impe r ioso que estejamos sempre
" as coisas que o olho não viu, e o ouvido não ouviu, e não numa at itude pronta a receber Seu ensino .. . numa atitude de
subiram ao coração do homem; ... mas Deus no-las revelou deseja r humildemente ouvi r a Sua voz através de todo e <[lIal-
pelo seu Espírito", No entanto, tais verdades são reveladas pel.o quer inst rumento.
Espirito somente aos Cristãos espirituais. Para alguns que ti-
nham sido verdadeiramente salvos, o Apóstolo escreveu : ,. E eu, IV - O EJplrito SUJeita Louvor e Ação de Graças
irmãos, não vos pude falar como a espirituais, mas como a Logo a segui r à exortação em Ef. 5:18 para serelll "cheios
carnais, como a meninos em Cristo. Com leite vos criei, e .não do Espirito ", foi dada uma descrição sobre os resultados norlllais
com manjar, porque ainda não podieis, nem tão pouco amda de tal plenitude: "Falando entre vós em salmos e hinos, e cânt i-
agora podeis" (I Cor. 3:1.2). Esta e uma triste revelação do cos espirituais ; cantando e salmodiando ao Senhor no vosso
estado de alguns crenles . Apesar de terem nascido de novo coração; dando sempre graças por tudo a nosso Deus e Pai ,
e de possuírem o Espirito, a sua "ida carnal inpede-os de com- em liame de 1I0SS0 Sen hor Jesus Cristo", Toda s as coisas
prt'Cnder ou de penetrar "nas profundezas de Deus"" A lgull.s cuutriOucm. para o belll dos filhos de Deus, c por isso C justo
há que, apesar de qualificações acadêmicas, recorrem as Escn- que eles deem S('IIIPrc gra-ças por ludo. bto só pode ser feito
turas da Verdade como "aqueles que encontram grandes des- através do Espírito que conhcr:e "todas as coisas " de Deus.
pojos". A Palav ra de Deus, para eles, é igualmente, "tão doce Assim como as criaturas vivenles. na divina Presença, não
como é o mel ou o favo de mel". Para out ros, não Importando cessam de clamar. " Santo! Santo! Santo!", também é agradável
qualificações educacionais, não há descobt.rta ou revelação ne- que o cidadão celestial renda a Deus contínuos louvores e ações
nhuma da Verdade; a Bíblia é lida por eles como um dever, de graças sem fim.
AqUt:LE QUE: ~ EsPIRITUAL. A Pt.EN ITUDE DO E!;pJIlITO

Segue·se, pois, que a ação de graças por tudo e o 10ll\'or hamlonia com a slla chamada celestial, por um constante andar
a Deus, são os resultados diretos do Espírito naquela ~ssoa. em Espírito. A direção do Espírito não ê experunentada por
que foi cheia por Ele, Estas inegávei s realidades s.'io estranhas todos aqueles em ([uem o Espírito habita; pois que tal direção
ao comção finito, mesmo que esteja n<\s suas melhor~s con· tem de depender de uma vontade de ir aonde Ele, por Sua
di,ões, Nem todos os Cristãos experimentam essas reahd<\dcs; infinita sabedoria, deseja cnviar·nos.1
ill<\S todos eles as podem experimentar com tanta certeza como
experimentam ° poder que lhes foi concedido por intermédio VI - O Espirlto Testifica com o Nosso Espírito
do Espírito que pas~o u a habitar neles, O valor desta l,l1anifes-
tação especial do Espírito dificilmente pode ser conhC:-lda, ~Io Em Rom. 8:16 está escrito: "O mesmo Espírito testi fica
entendimcnto humano. O louvor e a ação de graças sao dlStlll- com o nosso espírito que somos filhos de Deus". O significado
tamente dirigida s a Dells. Nós não podemos avaliar o que fundamental desta Escritura é que o Espírito testifica CO III os
significa para Ele esse autêntico derramamento, ncm qual possa nossos espírit~s. a Deus. É evidente também que Ele test ifica
ser o Seu prejuizo quando esta manifestação não ê realizad,a ,o.os nossos ~spmtos concernente tudo quanto possuímos na qua-
na vida do crente. "A leluia!" " Louv!ldo seja Deus!" " Regozl· l,u:lade ?e fIlhos de Deus. O trabalho de testi ficar do Espírito
jai-,'os sempre no Senhor!" c menclol?ado Ol1lra vez em Gát. 4:6: "E porque sois filhos,
Deus envIou aos no.!osos corações o Espírito de seu Filho que
v- O Espirito Gui. clama: Aba, Pai", O Espirito não SÓ põe em prática en~ nós
esta relação, como também Ele faz reais todos os grandes f.::ttos
Visto que todo o exame sobre a vida do crente que anda qU,e .rcceLemos por fé. "Para que segundo as riquezas da Sn.:1
em Espírito, conforme nos conta a Epístola aos Romanos, se glor~a: vos conceda ~lIe ~ejais corroborados com poder pclo seu
completa 110 come,o do capítulo oitavo, tudo aquilo que se lhe Esplflto tiO l~omem .tntenor; para que Cristo habite pela fé lias
segue devia ser considerado como verdadeiro somente para aquc· vossos coraçoes; afIm de, estando arraigados e fundados em
les que já fotam adaptados a uma vida e um andar de maior amor, f?Oderdes perfeitamente compreender, com todos os S.1.lItos,
amplidão segundo o Espírito. Nesta porção das Escrituras, en· qual seja a largura e o comprimento, e a altura, e a profundidade,
contram-se três manifesta<:;ões distintas do Espírito, as quais c conhecer o amor de Cristo, que excede todo o entendimento
servem p...1.ra completar toda a re\'elação da operação exata do ~ra que ,:ejai~ cheios de toda a plenitude de Deus" (Ef:
Espí rito delllra e através daquele que foi cheio por E le. 3.16- 19). E dIsseram UIII para o outro: Porventura não ardia
Em R om . 8: 14 declara-se: "Porque todos os que são guiados em nós o 1l0S~0 coração quando, pelo caminho, 110S falava, e
pelo Espírito de Deus, esses são filhos de Deus", Por~~nt?, quando nos abria as Escrituras?" A suprema paixão do Apóstolo
daqui se pode concluir que esta é que deve ser a expenencla Paulo resume-se em três palavras: "Para conhe<:ê-IO".
normal do Cristão segundo o plano e O:; propósitos de Deus. Por ~ta manifesta,ão ~rticul~r do Espírito, as coisas que
~ igualmente ,'erdade que ruguns Cristãos são a normais a tal se não veem tomam·se reaIS. EXIste a possibilidade de estar
ponto l"Jue não s.'io constantemente guiados pelo Espírito; porque sempre aprendendo, e "nunca.,. chegar ao conhecimento da
em Gálatas 5 :18, também se diz: "Mas, se sois guiados ~10 v;rdade". A verdade tem que ser 11m fato real para nós. Pela
E spírito, não estais debai xo da lei ". O <\Ildar em Espírito. ou fe . podemo~ saber qu~ somos rt:rdoados e justificados para sem-
a vida que é guiada pelo Espírito. é uma das grandes e novas pre; .!llas e outra COIsa bem dIferente ter uma experiência do
realidades desta era da graça; alguns crentes, porém, 'estão corac?o. em que tudo é tão real como verdadeiro. Podemos
ainda tão longe desta bênção que as suas vidas diárias são acredItar na nossa segurança e na glória futura; porém, sentir
moldadas e adaptadas à ordenança e às relações da velha' dis-
pensação. Uma das supremas glórias desta era, ê poder o fi lho
de Deus, um cidadão do Céu, viver uma vida sobrenatural de 1 VeJa·se também a pAgo 91.
56 A PLENITUDE DO ESP!RITO 51

o seu poder 11(1 cora~nO é diferente. Podemos ainda crer !las mento celestial ludo aquilo {Jue fora recebido por fé lI0 que
"coisas CJu e Ilfio de vir", conforme os ensinos exatos qll~ 110S dá respeita às posições e possessões em Cristo; e, finalmente,
a Palav ra : cOllwdo, é uma experiência preciosa sentir ess..'1s predispondo, esclarecendo e fortalecendo o crente para interceder
realidadt's prt'sen tes em nós pelo Espírito que nos diz que em oração.
"O SI'nl,or está perto", e que a nossa eterna glória com Ele A \'erdadeira espiritual idade é a sétima manifestação do
P{)S~ ;t começar dum momento para outro. Estas experiencias Espirito de1lfro e através daquele em quem Ele habila. É mais
qllC se produzem no coração são concedidas a cada um dos uma divina manifestação produtiva da \'ida do que uma simples
Seus filhos pela infinita graça de Deus; mas somente aqueles intcrfllpção das coisas que se chamam "mundanas". A \'erda-
que permanecem nEle podem conhecer esta vida de glória deira espiritualidade não consiste naquilo q1le se mio faz, mas
inefável. é antes aquilo que se ta:::. Não se trata de supressão : é tudo
o que tem expressão que é claro, categórico. Não é qualquer
VII - O Espírito In tercede por N6s coisa do auto-controle: é a vida totalmente controlada por Cristo,
que revela Sua beleza. Se a(]ue\e que não é regenerado, deixasse
Esta promessa está regislada em Rom. 8 :26 e refere-se a de peca!', não poderia ser salvo - nflo seria nascido de Deus.
uma maneira particular de orar. A intercessão deve ser con- Da mesma maneira, o Cri stão não seria espiritual se se abstivesse
siderada dentro daquele rnini stério limitado em que nos encon- da mundaneidade; não viria a possuir qualquer das manifesta-
tramos entre Deus e o nosso semelhante. Numa palavra, servir ções do E spírito.
de mediador é simplesmente orar pelos outros. Sob tais con-
dições de limitação, nós não sabemos o que havemos de pedir, O mundo e 0,5 Cristãos terrenos e "carnais" voltam-se para
mas o Espírito ajuda as nossas fraquezas. Orar a favor de as coisas chamadas "mundanas", porque descobrem nel:ls um
outros é, sem dúvida, o maior ministério confiado ao filho de attestésico que suprime a dor de um coraçflo vazio .e de uma
Deus, mas para o qual. interiormente, ele está e estará sempre vida vã. Esse anestésico, que quase sempre, só por si, é .1.1150-
menos preparado. Podemos chegar a conhecer a verdade que lutamente Inofensivo, nfto é, afinal, um caso tão grave como o
pregamos; porém, no campo da intercessão. tudo é 110VO, des- coração e a vida que estão vazias. POIICO se conseguirá a favor
conhecido e inacessível à inteligência humana . Alguns Cristãos da verdadeira espiritualidade se os pseudo doutores de almas
chegaram a penetrar neste ministério ilimitado da oração. Nem continuarem a persuadir os aflitos a viver sem o anestésico.
todos têm penetrado; mas lodos os Cristãos podem penetrar E se estes instrutores não apresentarem o conforto e a satisfação
nesse ministério. como reais e que só Deus pode ministrar ao coração e à vida
de cada um, as condições llão melhorarão. Quão errada é a
Em que Consiste a ESplritualidade e o que teoria de que, para se ser espiritual, se tem de abandonar as
Não' Esplr itua lidade diversões, os passatempos recreativos e os divertimentos úteis!
Tal concepção de espiritualidade é filha de uma consciência hu-
Para concluir, pode-se dizer que um Cristão espiritual é manamente mórbida. É bem estranha à Palavra de Deus. É um
aquele que é cheio do Espírito e no qual o Espírito, capaz de ardil de Satanás para fazer com que as bénçãos de Deus se
produzir todas as coisas, faz Cristo manifestar-se quer produ- tornem detestáveis à juventude que está cheia de vida e de
zindo um verdadeiro caráter cristão que é o "fruto do Espírito"; vigor. É para lamentar que existam pessoas que . na sua cegueira,
quer impulsionando um verdadeiro serviço cristão através do estejam dando uma tal ênfase àquilo que a Verdade dá como
exercício de um "dom do Espírito"; quer administrando o en- impróprio, que se cria a impressão de que a espiritual idade é
sino pessoal da Palavra de Deus; quer inspirando o verdadeiro adversa à alegria, à liberdade e à naturalidade de expressão
louvor e ação de graças; que r guiando o crente até o "andar do pensamento e da vida segundo o Espírito. A espiritualidade
em Espírito" continuamente; quer transformando em a rrebata- l1ão significa uma atitude forç adamente piedosa. Não é "Tu não
AQU~LI!: Qm: t ESl'llm UAL A PLENITUDE DO ESplRITO

deves", mas sim, "Tu deves". Arrojadamente ela abre as beneficiará o Cristão que nâo abandonar aquele pnl\9ípio de
portas da bcm-nvelltllrança eterna, dos poderes e recursos de vida governada por meio de regras, e, não aprender a andar
Deus. t~ coisa séria eliminar da vida o elemento importantíssimo segundo o Espírito pela liberdade que Deus ordenou, e Iltlma
de distração c recreação sadias. Ninguém pode ser física . mental, nova e contínua comunhão com o seu Senhor. Só e1ltão, os
e espiritualmente normal se descurar este fator essencial à vida preceitos divinos passarão a ser guardados pelo poder de Deus.
hwualla. Deus tomou as devidas precauções para que a nossa
;tlt'gria fosse completa.
Dcve~se notar, também, que llma das caracteristicas da
A ESpiritualidade é um Triunfo da Graça Divina ,
verdadeira espiritualidade é que ela põe de lado os desejos c Em I Cor. 9:20,21, o Apóstolo classifica os homens em
as decisões de somenos valor. O remédio biblico e prático para três gnlpoS, segundo o ponto de vista da 51la relaçáo com a
o "mundanismo" entre os Cristãos, é ellcher de tal maneira o autoridade de Deus. Ele fala daqueles que estavam '·debaixo
coração e a vida com as bênçãos eternas que Deus prodigaliza, da lei"; dos que estáo "sem lei", e dele próprio ~ como
que haja uma alegre preocupação que distrai de tudo quanto representante de todos os crentes - que já não estão nem
não é espiritual. Uma folha morta que, possivelmente, se agar- "debaixo da lei" (uma posição judaica), nem "sem lei" (a
rou ao rebento, levada pela violência fUNosa da tempestade posição gentílica); mas "debaixo da lei de Cristo", frase es!a
invernal, cairá silenciosamente quando começar na Primavera a que será melhor traduzir por "dentro da lei de Cristo" . As
nova abundância de seiva que vem do interior da planta. A Epístolas estão cheias de muitas e variadas expressões que se
folha cai porque há uma nova mallifcstaç;to de l"ida a impelir referem a esta última ligação: "a lei do amor"; "assim CUIll-
de dentro para fora. E assim como a folha morta não pode prireis a lei de Cristo"; "se guardarmos os seus mandamentos";
ficar onde um novo rebento começa a nascer, também o mun- "estai, pois. firnlcs na liberdade com que Cristo nos libertou.
dauismo não pode permanecer onde as bênçãos do Espírito e não torneis a meter~vos debaixo do jugo da servidão"; "a lei
começam brotando. Mas nós não somos chamados para pregar (o jugo da servidão) foi d,Hla por Moisés, mas a graça e a
sobre "fôlhas mortas". A nossa mensagem é sobre aquela Pri- verdade vieram por J esus Cristo". A relação do crente com
mavera imperecível, que nunca morre. É -sobre a emanação a divina autoridade encontra-se, pois, no fato de que o crente
maravilhosa da vida ilimitada de Deus. Quando sois guiados está "delltn! da lei de Cristo".
pelo Espírito, jit não podeis proceuer como dantes". A Bíblia apresenta, pelo menos, três regras distintas e
É trabalho do Espírito produzir no crente lima vida que completas para o viver diário.
passa a ter caráter celestial; esta vida não se pode imitar; no
entanto, hit tendência para se supôr que a espiritual idade con~ Primeira - A lei de Moisés
si5te na luta que se trava para se atender a um dado número
Todos os aspectos da vida de um israelita estavam previstos
de regras especiais, ou, na imitação de um ideal celestial. Mas
a espiritual idade não se alcança pelo esforço: ela tem de ser nas regras dos estatutos e nas cerimônias rituais. Aqueles prin~
rec/amada pela fé. Tão pouco é a imitação de um ideal celestial; cípios de governo eram, de fato, para Israel e. somente para
antes, é ;} c01l/.lmicação do poder divino que só por si pode Israel desde l\-foisés até ao aparecimento de Cristo (João 1 :17).
reali?;}r esse ideal. "A letra mata. mas o Espírito vivifica".
A Palavra escrita mostra qual deva ser o caráter da vida espi- Segunda - A lei do Reino
ritual e exorta ao seu cumprimento; mas como ela fjelmente Esta lei está prevista nos princípios que hão de governar
revela. essa vida só pode ser vivida pelo poder de Deus que o reino e só tomará forma quando ele for estabelecido na Terra.
é cultivado no crente. Nós fomos chamados "para que sirvamos A estrutura da verdade contida neste aspecto da lei, encontra-se
em novidade de espirito, e não na velhice da letra", Pouco nos Profetas do Velho Testamento, na pregação de João Batista
60 AQU~L& QUE t EsPIRITUAL A PLEN ITUDE DO ESP!RlTO .,
e IIOS primeiros ellsmos de Cristo. Ela apresenta-se sempre sistema perfeito e, por ism, não necessita de qualquer suple.
como lei purot \las suas características, mas com pormenores menta da lei. Em \'erd ad ~, esse sistema reune muitos dos prin.
ainda l11ai~ excelentes. Enquanto qU\t a lei de Moisés condenava cípios (lue pertenciam à lei , mas estes são sempre e de tal ma.
o adultério, a lei do reino condena até o olhar sensual. Enquanto neira. modificados que ficam de perfeita harmonia com a posição
que a lei de }.loisés condenava o assassínio, a lei do reino con- e a liberdade daqueJ.e que está "dentro da lei de Cristo".
dena um simples pensamento de rancor. Mas ainda que a lei Nenhum Cristão está debaixo da lei como regra de vida.
de i\loisés seja um sistema distinto da lei <lo reino, ambas tem Quantas vezes isto i= exposto 110 Novo Testamento! Mas também
lima mesma particularidade - representam a pura lei. ~ verdade que Cristão algum é " sem lei". Esta afirmação é,
Terceira - A Doutri na da Graça Igualmente, o assunto constante das Epístolas. As discussões
sobre estes dois temas só cessariam se todos os crentes com-
Como regra de vida, existJe um conselho divino que é diri- preendessem verdadeiramente o que quer dizer estar "dentro da
gido aos salvos desta dispensação. É a doutrina da graça. Estes lei d: Cristo" . .Estar "dentro da lei de Cristo" significa estar
ellsinos da graça formam UIlI sistema tão completo que abrange debaIXO dos enslllOs da graça com todas as suas prov isões que
todas as eventualidades que possam surgir na vida do crente. 1~\'al11 à vitória. Não ê difícil abandonar a lei C0ll10 regra de
um sistema separado e inde~ndellte de qualquer outro sistema VIda (Iuando descobrimos que llGS foi concedido um outro sis-
de \,ida que se encontre na Bíblia. Ele apresenta padrões celes- tema, perfeito e em absoluta harmonia com as doutrinas da
tiais porque é dirigido somellle a pessoas renascidas, cidadãos graça!
dum reino celeste. Por haver 111uito de comum entre estes três Os ensinos da graça apresentam dois aspectos que são
sistemas compietos e distintos de verdade, algumas pessoas têm fundamentais:
sido levada s a pensar que as várias regras e preceitos encon- . Prime.iro - (lão a conhecer o modo e o gênero de tlma
tradas em todGS os códigos de governo deviam ser reunidas VIda que e sobrenatural; estes p.,drõcs não ' são outros senão
numa só mas ampla obrigação imposta ao crente. Juntar estes "a vida que é Cristo". Visto. que a presente posição do redimido
sistemas, e aplicá-los todos ao crente desta época, seria intro- é celestial, estas exigências da graça não são pesadas demais.
duzir deveres que só por si mesmos. até certo ponto, são con- A lei mosaica, ou a lei do reino, cmoora completas nos seus
traditórios e confusos. e seria aiuda ignorar as diferenças pró l~rios princípios diretivos, e ainda que cumprindo cabalmente
essenciais entre a lei e a graça. a ml~ são que lI.les foi designada, nfto se destinavam à reprodução
A graça não só indica o plano di"illo que salva e guarda da VIda de .Cnsto no crente. Os seus padrões de vida, apesar
os pecadores indignos, mas também ensina os que já são salvos de santos, Justos e bons, são terrenos. As exigências da lei
a saber como devem conduzir-se na \·ida. "Porque a graça de não reconhecem as atividades mais essenciais que são manifjes·
Deus se há manifestado, trazendo salvação a todos os homens. fadas pela graça divina - oração, vida de fé e o serviço de
ensinando-nos que, r:enullciando a impiedade e às concupiscências ganhar almas. Os ensinos da graça são celestiai s e estão tão
mundanas, vivamos neste presente século sóbria. e justa, e pia- distantes da lei como elevado está o Céu acima da Terra. Os
mente; aguardando a ocm-aventurada esperança e o apareci- ensinos da graça, no entanto, pelo fato de apresentarem um
mento da glória do grande Deus e 110SSO Senhor Jesus Cristo; padrão d~ vida muito mais difícil do que qualquer lei, não
o qual se deu a si mesmo por nós para 110S remir de toda a qu~re~l dIzer que o c~ente os tenha que enfrentar pelo seu
iniqüidade. e purificar para si 11111 povo seu especial, zeloso de propno esfo rço. Se assIm fosse, certamente que o crente ficaria
boas obras" (Tito 2:1 1-14). Os ensinos da graça que prevêem ainda mais profundamente mergulhado no principio da lei que
luda a esfera de ação do crente e todas as suas lutas, podem leva. ao fracasso total e o desespero. Mas Cristo é para ser
ser encontrados em varias passag.ens dos Evangelhos e dos Atos, marufestado, em absoluto, pela graça. É com esse fim que são
assim como através das Epístolas do Novo Testamento. J1 11m dados os màis minuciosos detalhes da conduta celestial; nunca,
62 AQUBLE QU~ É ESPIRITUAL A PLENITUDE 00 ESPíRITO

porém, separadamente de outro fato igualmente característico e vos será fcito" (JO;IO 15:7). É sob c~la:> condições tão bem
desta dispensação. definidas que pode se r concedida a mais ampla. liberdade. Está,
Segllndo - A nova ,..ida que está "na lei de Cristo" é assim, designado que o Cristão na plenitude do Espírito, fique
para ser vi\'ida pelo poder eficaz do Espíri~o que h~bi.ta ~o absolutamente illd~lldellte para fazer, em perfeita liber dade,
crente. Como lemos observado, o estar debaixo da lei, Jamais tudo. aquilo que o seu coração o leve a f:ner; pois que, quando
proporcionou amparo algum. O pecado dominava os que cu.m- na plenitude do Espírito, de sÓ deseja "fazer o que ê de sua
pri:Ull a lei que era a própria a condená-los. Mas o estar debaixo vontade e o que lhe for agradável " . A isto se chama "cumprir
da graça garante que " o pcrado não terá domínio sobre vós" , a lei de Cristo". E tambêm cumpre, substitui e ultrapassa tudo
"~Se sois guiado3 pelo Espírito nâo estais debaixo da lei", O o que outra qualquer lei contém. Um Cristão "carnal" é a
fato desta capacidade para o viver diário ter sido proporcionada violação de todo o plano divino e dos privilégios da graça. Ele
num caso e noutro não. é a prova mais concludente de que está debaixo da graça só por posição, porquanto ele ainda se não
existe uma importante diferença entre lei e graça. submeteu à vontade e pooer de Deus. Encontrando-se em tais
Embora não esteja debaixo da lei como regra de vida, o circunstâncias nenhuma mercê divina pode permanecer nele e
Cristão cheio do Espírito fica, no entanto, numa posição em falha muito em apreender todas as maravilhas da graça divina.
que não pode praticar as coisas que doutro modo faria (Gál. Nunca se deve, no entanto, concluir que a vida da graça
5:17). Isto é devido ainda ao fato de ele estar "dentro da lei é Il!strita e limitada. Só o "homem natural" para quem os
de Cri sto". Estando sob o {X>der e dir.eção do Espírito, o crente assuntos do Espírito são apenas " loucura", e o "homem carnal"
já nâo pode proceder daquela maneira que, em circunstâncias que "não pode suportar" as coisas espirituais, é que têm aquela
diferentes, poderia, porquanto os desejos do coração que o Es ~ opinião. Nem do "homem natural", nem do "carnal" jamais se
pirita encheu foram transformados. É num crente assim trans- pode esperar que venham a compreender o triunfo da vida espi-
formado que o poder de Deus opera "tanto o querer como o ritual pela graça. Já chega que a glória destas-realidades divinas
efetuar, segundo a sua boa vontade". É por isso, também, que sejam conflludidas e mal interpretadas pelas opiniões de tais
o Apóstolo ata pelos hebreus: "Ora, o Deus de paz, .' .vos pessoas.
aperfciçõe em toda a boa obra, para fazerdes a sua vontade, Estar "dentro da lei de Cristo", é transpor o portal das
operando em vós o que perante ele é agradável por Cristo realidades que são infinitas. É sentir corno a larva quando sai
Jesus" (Heb. 13:20,21) . Os Cristãos cheios do Espírito, são da escura prisão da crisálida, para aquela gloriosa liberdade que
as únicas pessoas no mundo que conhecem as bênçãos da ver- depois, já como borboleta, usufrui no espaço celeste e na vastidão
dadeira liberdade. E liberdade de ação quer dizer independência <lo mundo bafejado pelo sol. Mas enquanto que a borboleta
absoluta para agir conforole cada tltn é impelido pelos seus pró~ !1~0 precisa duma lei que a proibe de voltar ao seu estado pri-
prios e mais profundos desejos. Separada deste poder eficiente mitivo, nós, na verdade, e infelizmente, temos que descobrir
do E spírito, esta liberdade facilmente pode dar lugar às mani- que em nós existe a presença da carne que deve permanecer
festações da carne. "Porque vós, irmãos, fostes chamados à ('11\ absoluta sujeição ao poder de Deus. Para alcançar esta
liberdade. Não useis então da liberdade para dar ocasião à carne, vitória, Deus e mais que suficiente.
mas servi-vos uns aos outros pelo amor" (Gál. 5:13). :Ir debaixo É-nos aconselhado que permaneçamos firmes na bendita
da graça, que o Cristão exemplar tem de ser cheio do Espírito. libt:rdade de Cristo. E a nossa liberdade não consiste apenas
Por conseguinte, é-nos divinamente prometido e assegurado que rnl ficarmos livres da lei, mas consiste também na realidade
todo o desejo do nosso coração como filhos de Deus, será mo~ da(lllele poder do Espírito que nos vivifica e IlOS torna aptos.
tivado pelo Espírito que em nós habita. Esta é a provisão divina S(' lias afastarmos da total dependência de Deus, imediatamente
para a oração que prevalece: "Se vós estiverdes em mim, e as /leremos enredados pelos esforços carnais, o que representa u!n
minhas palavras estiverem em vós, pedireis tudo o que quiserdes, I rgresso aos principias e às exigências da lei. Quão importante
64 AQUELt: QUE É ESPlRlTUAL A PLENITUDE 00 ESplRITQ 65

é a exortação. " Sede cheios do E spírito"! li como é grande Podemos afirmar, também, que a espiritual idade, ou a ple-
o contrtlstc entre o nada humano e ti suficiência divina, - nitude do Espírito, não depende de uma espera paciente. Os
precisamente tão reais ~ll1a como ,a, outra ~ , . discípulos esperaram clez dias pela vinda do Espírito ao mundo
É possivcl ser nascido do Esplfl'o. batizado com o Esplnto, e Ele veio porque lhes foi prometido que viria. Eles nâo estavam
habitado pelo Espírito e selado com tr Espírito, e estar no en- esperando somente pela sua plenitude pessoal, mas sim, pelo
tanto, sem a plenitude do Espírito. Estes quatro primeiros ministério completamente novo do Espírito que ia começar
ministérios são perfeitamente realizados em cada crente, logo como aconteceu no Dia. de Pentecostes. Quando Ele veio, todos
a partir do momento em que foi salvo, porque eles estão de- os que estavam preparados no coração e na vi<la. foram ime-
pendentes da fidelidade do Pai P.'U3 com Seu Filho. Já o último diatamente cheios do Espirito e nenhum crente, desde então.
destes ministérios, a plenitude do Espírito, nem por todos os tem tido que esperar pelo Espírito.
Cristãos é experimentado. porquanto ele depende da fidelidade Portanto, Ilem a oração nem o esperar, são condiçues de
do filho para com seu Pai. espiritualidade.
A espiritllalidade não se consegue pela oração eficaz, porque Das três coudições bíblicas, segundo as quais um Cristão
poucas passagens !ta da Escritura que afirmem ao crente ser pode ser espiritual, 011 cheio do Espirito, dllilS estão diretamente
necessário ora r para receber a plenitude do Espírito. Pelo con-
trflrio, este trabalho é a operação 1Iormai do Espírito pela qual
Ele enche aquele que estfl corretamente relacionado a Deus. O
Cristão estará sempre cheio enquanto permitir o Espirito con- sentadas como uma ordem. O fato de que "Ninguém pOde vir a
trolar sua vida.1 mim, se o Pai que me enviou o não trouxer", ti, sem dúvida alguma
verdadeiro: assim como é igualmente verdade que alguns recurso~
da vontade humana, ainda que divinamente propor cIonados ~ exI-
1 Numa critica à primeira edição deste livro, que velo pubU- gida peias palavras, "Crê no Senhor Jesus CrIsto, e serAs' salvo".
cada na "Revlstn Tcológlco de Prlnceton", em abril de 1919, o E ainda mais: "Esta é a vo ntade de Deus, fi vossa sanUflcac!io"
critico, Revdo. Benjamin B. Wartield, D.D .. opôe-se a esta alirmaçi't.o, é também uma revelação invariavelmente verdadeIra; mas é Igual~
e 11. todos os e nsinos semelhantes deste livro. :Este ensino, aponta mente verdade que a vontade do crente é exIgida quando se lhe
ele, "submete a obra benigna de Deus à decisão humana". Este pede que "se submeta a Deus". Considerar, portanto, esta verdade
ensino será blbllco? apenas num dos seus aspectos, é levar-nos, por um lado, ao fatalis-
A Escritura Sagrada dá Indlscutlvel ênfase à soberania de Deus. mo, no qual não há. lugar para as süpUcas em ora!:ão não há
Deus tem determinado com perfeição o que há de ser e, uma vez motIvo para a süplica do amor de Deus, não há fundamento para
estabelecido o Seu propósitO. este será realizado, porque é Inaceitável condenaç-.lo, não há ocasião para o apelo evangéllco, nem razão
que Deus possa, jamais, ser enganado ou ficar desiludido. Mas, para uma grande parte das "'erdades sagradas; por outro lado,
também, as Escrituras apresentam igual enfase ao fato de que, é levar-nos a destronar Deus. Enquanto que a vontade é movida
fi cando entre estes dois aspectos Integros da Sua soberania - o pelo poder que Deus concede, a espiritual idade segundo o. Palavra
Seu plano eterno e o perfeito cumprimento deste - Ele tem per- de Deus, é destinada a defender daquela escoIha humana divina-
mitido liberdade suficiente para certo exerclclo da vontade humana. mente influenciada; Rom. 12:1,2; Gil. 5:16; Et. 4:30; I Tess. 5:19 c
Procedendo desta forma, os Seus objetivos determinados não ficam, 1 João 1:9, t ornam tudo bem claro. Diz-se que os homens est!io
de modo algum, comprometidos. Parece, porém, haver aqui uma "con.denados"."porqu~to eles não creram" (João 3:18), e o pe<:ado
dificuldade, mas o que, nas Escri turas, é dilicll para o entendimento dommarA a Vida do Cnstão se o apelo "Não r eine portanto o pecado
finito harmonizar, é, sem dúvida, harmonizado na mente de Deus. em nosso corpo mortal", não for considerado. Declarar qUe a es-
Embora seja certo que Deus é que comunica a força Impul- pirltuaHdade se torna possivel, no que respeita à parte humana
sionadora e a gra!:a eficaz pelas quais se pode crer para salvaçào Ilelas a~s e ~titudes ~,centuadamente humanas, pode parecer "um~
(João 6:44, cf. 12:32>, ou pelas quais qualquer pode submeter-se expressa0 mUIto forte (para citar o critico) .se for considerada
a uma vida espiritual (FII. 2:13), também, é claramente revelada A hase duma teoria teológica absoluta; mas seja como for, a espiri-
que, dentro do propósito e poder soberano de Deus, Ele tem con- tunlldade é claramente blblica.
dicionado quer a salvação quer a vida espiritual, de acordo com O mesmo comentador opõe-se ao ensIno de que haja uma
estas condições humanas. Tanto a fé como a submissão são apre - [losslvel passagem repentina do estado carnal para o estado espiri-
66 A PLEN I TUDE 00 ESpJRITO 67

ligadas com a questão do pecado na vida diária do crente, e "O nosso bendito Redentor
a outra com .1 entrega da vontade a Deus. Estas três condiçõcs
vão ser consideradas a seguir. Antes do Seu terno e último suspiro exala r,
Um Guia, um Consolador legol!,
Para conosco vir habitar.

"E toda a virtude que possuímos,


tua!. Citando : "Aquele Q.Ue crê em Jesus Cristo está debaixo da E toda a vitória ganha,
graça, e tóda a sua carreira, quer na sua evolução quer no seu Todo o pensamento de Santidade,
êxito, é determinada pela graça, e, por conseguinte, tendo sido
o cren te predestinado para ser contormado à imagem do Filho Só a Ele pertencem."
de Deus, certamente que esse tal se vai tornando conforme essa
imagem, visto que Deus mesmo garante que aquele que foi cha-
mado e justificado, também sera glorificado. :e natural que se
e ncontre Crist ãos em todos os g ra us desta evol ução, pois é um
processo pelo qual todos têm de passar; mas não se ha de encon trar
nenhu m Cristão quem, no te mpo e da maneira apontados por Deus.
não passe por todas as Cases deste processo espiritual. Não ha du as
espécies de CristAos, embora haja CrisUlos em todos os graus con-
cebivels de progresso em direção a o (mico alvo, ao qual todos estão
avançando e ao qual todos chegarão".
Sem düvlda que ha vArios graus de carnalldade, assim como
há variados graus de esplrltualldade, mas o caso de negar cate-
gorlcamenté a afirmação de que hA duas classes bem distintas
de crentes - "carnais" e "espiri t uais" - deveria ser melhor defen-
dido pela explicação concludente de uma grande parte das E:scrl-
turas Sagradas, nas qua is est'o. dupla classiCicação sobre Cristãos,
parece ser ensinada.
Na mente deste comentador, hã. evidentemente, confu são e ntre
a passagem da carnalldade para. a espl r ltualldade e o cr escimento
cristão. O crescimento cristão é, realmen te, um processo de desen-
volvimento segundo o plano determinado de Deus que acabara, com
a certeza do Infinito, numa completa semelhança com Cristo;
por outro la do a espirltualldade é o estado presente da bênção e
de poder do crente que, ao mesmo tempo, pode estar ainda multo
imat uro. Um Cristão pode e deve tornar-se espiritual a partir do
momento em que foi salvo. A esplritualldade, que é a manifestação
continua do Espirlto na vida, é concedida, em abundância, a tOO03
os crentes que "confessem" os seus pecados, "se submetam" a Deus,
e "andem não segundo a carne, mas segundo o Esplrito". Quando
se obedece a estas condições, os resultados são imediat03, porquanto
nenhuma evolução é ind icada. J acó, uma figura do Velho Testa-
mento, foi completamente transformado numa só noite.
A experiência cristã leva o testemunho infallvel a duas reali-
dades bem notórias : (1) Há uma muda nça repen ti na do estado
carnal para o espiritual quando os requisitos blbUcos são cumpridos.
E (2) há uma perda brusca de bênção espiritual sempre que haja
submissão ao pecado.
"NIo ENTRISTEÇAIS O ESplR l TO SANTO" 69

àquele em quem habita o Espírito é: "E não entristeçais o


Espí rito Santo de Deus, no qual estais selados para o dia da
redenção (Ef . 4 :30).
Uma vida verdadeiramente espiritual deve, pois, depender,
em grande parte, da boa compreens.i.o e adaptação quanto à
Capitulo IV questão do pecado na vida diária do crente. A este respeito
Deus rala com muita clareza e pode-se admitir que o ensino
"NAO ENTRISTEÇAIS O ESPIRITO SANTO" bíblico sobre o assunto dos pecados dos Cristãos é duplo: ( 1)
Deus tomou as devidas precauçõcs para que o pecado de Seus
Primeira Condição da Verdadeira Espiritualidade filhos fosse evitado,l e (2) E le também tomou a devida pre-
caução para que o efeito do pecado, se ele chegasse a ser come-
Aos Cristãos está ordenado viverem, todos os momentos tido, fosse curado. Torna-se imperativo, IXlrtanto, reconhccer
das suas vidas com o Espírito Santo de Deus. A vida para esta dupla classificação do propósito de Deus ao t ratar do
eles é uma união vital com Aquele que é infinitamente Santo. assunto do pecado de Seus Filhos.
Logo, o pecado num Crist,ã~ é direlan~cnte contrário a qual-
quer man ifestação do Espmto nessa \'Ida. A Cura dos Efeitos do Pecado no Cristão

O que Entristece o Esprrito Havendo pecado, (lue deve fazer um Cristão? Qual a con-
dição divina para curar os estragos do peca.do na espiritualidade
O pecado destrói a espiritualidade. I sto pre:isa se.~ ~s S lm , do crente? Não se pretende nomear, aqui, pecados que abor-
porque, sempre que o pecado é tolerado no viver dia no. do recem o E spirito. E le fica ent ri stecido por todo e qualquer
crente, o Espírito que habita nel~, tem forçoS:lment~ que dClxar pecado e Ele é suficientemente capaz de convencer a pessoa
o Seu ministério santo, que esta exercendo at;a'l!cs dele p~ra em que Ele habita do pecado ou pecados que O entristecem.
exercer um ministério de súplica a ele. A B,bha não enSUla Assim também, é um problema que diz respeito somente ao
que o Espírito se afasta pelo fato do pecado. existir naquele pecado conhecido, porquanto ninguém pode tratar concretamen-
em que Ele habita: Pelo contrário Ele se entnstece por cansa te, do pecado que é desconhecido. A primei ra condição da
do pecado. , . .' verdadeira espiritual idade está centralizada em assuntos defi-
O filho de Deus vive ou com um Espmto entristecido ou nidos. n o pecado que, por ter entristecido o Espírito, se torna
não entristecido. Poder-se-á então perguntar e, com certa um problema distinto, pois a expressão "entristecer o Espírito,
razão, à luz da Palavra de. Deus, se. a pessoa salva, te.ndo rece- tanto se refere à experiência do coração daquele em qllcm Ele
bido o Espírito, pode contllluar a vIver .~e~lIldo os d,ta~es da habita, como à atitude pessoal do Espirito para com o pecado.
sua consciência. Os padrões da conSClenCla h~~an~. tem de O problema, portanto, é um mal bem definido, a respeito do
dar lugar a um p<"\drão de critério moral q~le _e II1fl~ltamellte qual o filho de Deus se tornou consciente por meio do Espí-
mais elevado. O modo de viver de um enstao entristece ou rito. Este pecado conlrl:cido deve ser tratado segundo a orien-
não o E spírito Santo de Deus. O Apóstolo Paulo fala, ?O tação exata da Palavra de Deus.
fato de que a sua consciência lhe d e~ testemunho ?o ~spmto Se a ignorância espiritual for experimentada fora do co-
Santo, e é muito provável que o Espínto use a conSClenCla co~o nhecimento de qualquer pecado especial que se tenha cometido,
uma faculdade humana; mas E le tão certamente lhe comum:a é privilégio do Cristão, pedir, por meio da oração, um melhor
o nova padrão da santidade infinita de Deus. A exortaçao esclarecimento. As condições fí sicas, muitas vezes, influem no

68 1 Veja~se o capitulo VI.


70 AQUELE QUE É Es PIRITUA l. "NlO ENTiUSTEC;AIS O EspíRITQ SANTO" 71

estado mcntal, e, quando isto aconte<::e ê muito errado supor-se pedida à nação de I srael; mas agora, naquele Cenáculo, despe-
que um estado mórbido ou infeliz do espírito é, necessariamente, de-Se d~s ~e~s discipulos, n~o como jud~us mas como aqueles
um3 conseqüência de pecado. Se alguém é ciente de haver q~le estao limpos !lO lodo. A respeito deles. Jesus disse
esgotado as forças dos seus nervos, ou de estar fisicamente amda, "Vós já estais li l.11pos. pela palavra que vos tenho fala-
abatido deve-se tomar em consideração esse fato. do". Neste discurso, Ele eSlava antecipando as novas condi-
Na Bíhlia. a oferta e a condição divinas para a cura do ções e relações que iam ser alcançadas depois do Seu sacrificio
pecado. numa pessoa que não é salva, estão resumidas nl1ma 50 na .cruz (João 16 :4): ~ importante n6tar que o Seu primeiro
palavra "crê", porque o perdão do pecado, tratando-se de (,I1 SIl1O. que se referia à atual relação do Cristão com Deus.
alguém que não ê salvo, é apenas oferecido como uma parcela dizia respeito fi. purificação da corrupção, mO:<lrando assim
inseparável do todo da obra divina de salvação. Esta obrn qual a sua importância na opinião divina. O caminho da sal-
de salvar. que só a Deus pertence, indui muitas fases impor- vaçã~ já tinha sido rel"clado neste Evangelho, 110~ capítulos
tantes, além do perdão do pecado, dependendo a salvação. ex~ ant,?r~~ r es. _mas no começo do c<lpitulo 13. Ele dirige-Se àqueles
clusivamente de crer. Por conseguinte não é possível separar que Ja eSlao salvos, e fala-lhes da divina ])urificaç;io <Ias !-l1as
determinada parte da obra total da Sua graça salvadora. como transgressões.
por exemplo o perdão, e reclamar este separadamente do todo Depois de cear le\·antOIl-Se. tirou os vestidos exteriores .
indivisível. ~. portanto, erro levar alguém. que não é salvo. cingiu-Se .com lima toalha (a insignia <1e :-en·o). deitou ;;gIl3
a buscar o perdão de seus pecados como uma operação à parte. numa b~c~a, e com~ou a lavar os pés aos di~ciplllos. Isto é
Um pecador sem os seus pecados não ser ia um Cristão. por~ uma Illllllatura daquele empreendimento mu ito mais amJlI(l.
qU<lnto a salvação representa mais que subtrair :'>- é adicionar. quando Ele se retirou da companhia de Sel1 Pai no Céu . Se
"Eu dotl~lhes a vida eterna". Logo, o problema de pecado do despojou dos vestidos de toda a Sua glória e Se humilhol1,
incrédulo será tesolvi<lo como uma parte integrante da total i ~ tomando a forma de servo. sendo obediente até a
morte e
dade da obra divina de salvação. e ,nunca separadamente, lem~ morte de cruz, p..,ra que, pudéssemos ser limpos pela lavag'em
brando~se que a salvação depende de crer. da ,regeIler?~ão .(Tito 3 :5). No empreendimento mais amplo,
Assi m como, também. na Bíblia. a oferta e a condição esta a punflcaçao completa: no outro, há apenas uma purifi.
divinas para curar os efeitos do pecado. na vida do Cristão . cação p..,rcial. a qual é simbolizada pela la\'agem dos pés so-
estão sinteti zadas numa só palavra, "confessar". O significado mente daquele que 110 mais está "todo limpo".
essencial desta única pal<lvra e do seu uso na questão da eura Esta dupla purificação foi também representada pela lava-
do pecado de um filho de D eus, é uma doutrina importante gem ordenada ao sacerdote do Velho Testamento. Quando cle
ela Palavra Santa. ainda que muito desprezada. O regresso entrou no seu ministério. foi-lhe dado um banho cerimonial,
de um crente (em pecado) à bênção, é o mesmo. quer seia ti todo o seu corpo, fllUa vc:.: por todas (:tx. 29:4). No en-
a ntes da cruz, ou depois da cruz, e o ensi no da Bíblia , quanto lanto, era-lhe exigido que lavasse as mãos e os pés lIuma bacia
à reabilitação de um crente, está contido em sete passagens de cobre antes de cada ministério ou serviço (:tx. 3O:17~21).
principai s. Por isso, o crente do Novo T estamento, embora seja limpo
I1lI1a ve7. por toda s, quanto à sua salvação. tem de ser. tam-
As Sete Passagens Principais ht\ll1. pl1riíicado de toda a imundície. e só Cri sto o pode tornar
Primeira - S6 Cristo Pode Purificar do Pecado (João 13 : 1·11 ) pl1 ro.
O fato de que os pecados dos Crist~os devem ser lavados
só por Cristo, está revelado em João 13:1 - 11. Esta passagem Segunda - A Confissio é a Única Condiçio para a Comunhio,
é exatamente no começo da conversa havida no Cenâculo. o Perdio e a Purificaçio ( I João 1:1 a 2:2)
Algumas horas antes, Cristo tinha fe ito o Seu discurso de des- Esta passagem em I João, é a segunda daquelas mais
72 AQ!1I!:L.r. QUE t ESPIRITUAL
"Nio EN1'RISn:ÇAlS o EsplRITQ SANTO"

importa ntes IJUl' dit.c1I1 respeito ao tratamento do Pai para


COlll Seus filhos (Jlle pecaram. João, a experimentada tcstenltl - piaç~o do peca??. Por i~so, no Novo Testamento, Oll seja,
Ilha. quatllo h hénçüo de perfeita comunhão e relação com o depOiS do sacrlflcr~ ter Sido feno na cruz por nós, se drz
Pai c com Seu Filho, escre,"c estas coisas para que nós pos- que o sangue de Cnslo passou a. ser a expiação suficiente pelos
samos lalll])(!m gozar essa mesma comunhão. "Deus é luz ", pecados. "Isto é o meu sangue, o songl/e do Novo Testa-
ou perfeita santidade. Se dissermos que temos comunhão com mento, que é derramado por muitos, para remissão dos peca-
Ele c, todavia, andarmos em trevas (pecado), mentimos c não dos" (Mal. 26:28) . Quer dizer, todo o perdão divino, seja
praticamos a verdade. Por outro lado, se andarmos na luz, para o .não salvo ou para o sal\'o, é agora baseado no sangue
C0ll10 Ele na luz esta, temos comunhão com o Pai e com Seu qu~ .Cr~ sto derramou. O Seu sangue é a resposta à última
Filho J esus Cristo. Longe de pensar, porem, que esta pas- eXlgencJa ,?e um Deus s..,n~,o. Quando fomos salvos Ele per-
sagem exige perfeição impecável. Não é lambem \111130 ordem d:x>u-.nos.. todas as ofe~l sas (Col. 2:13). I sto representa per-
para o Cristão ser a luz ou aquilo que só Deus pode se r : dao ll./dural e que r dizer que as causas da condenação são
antes, é que haja uma adaptação imediata à luz que Deus remo~'lda s. pa:-a sempre. H á. ainda o perdão paterl/al que é
derramou na vida através do Espirito. Ele requer de nós exercrdo no hlho que transgnde. Não é aplicado com o fim
a conjissiio. Quando Ele nos convence do pecado, ou fica en- de o resgatar da destruição e da condenação, mas é aplicado
tri stecido por causa do pecado, esse pecado tem de ser tratado para o _restabelecer daquele estado no f]lln l ele e~t:i fO ra de
imediatamente. E a passagem continua a afirmar que há so- cormmhao, ao estado de plena bénção de cor1l\rrlhão com o Pai
mente uma condição para curar a conseqüência do pecado na e com Seu Filho. Tudo se passa num ambiente familiar e a
vida do crente: "Se confessarmos os nossos pecados, Ele é ~eabi1ita çã? faz parte do gozo absoluto daquelas bênçãos. Não
fiel e justo, para nos perdoar os pecados, c 110S purificar de e \'erd~deJT::lmente reabilitação filial, - sobre isto a Bíblia
toda injustiça" (vers. 9) . Não se trata de misericórdia e bene- nada diZ. É uma restauração à comunlrão com Dens.
volência: Ele é fiel e j usto para perdoar, e tudo isto é con- O ~ristã~ que transgride pode ser perdoado e purificado
cedido com a única condição: confessar. Ele é "fiel" para da sua mfraçao somente quando fizer lima confissão movida
com Seus filhos, pois nós estamos lidando selllpre e somente por aquele arrependimento sincero que nasce no coração. OS
com o 110SS0 Pai (2:2). Ele é "jr/s/o" porque o sangue expia- 110SS0S pecados são perdoados não pelo fato de peáinuos que
tório foi rlerramado para cobrir o poder condenatório de todo sejamos pe rdoados. É só quando cOllfessarmos os nossos p<'~
pec.,do (João 5:24). Assim, em perfeita justiça é que o per- cados que alcançamos perdão. ~'ào serve de nada substituir
dão do Pai é usado para com Seus filhos. :t oração pela confissão, embora seja a oração o meio pelo
O perdão divino não é, de forma alguma, UI11 ato de hran- CJl~al se expressa a sinc;ra tristeza de se haver pecado. Grande
dura. Deu s só pode perdoar com justiça, quando a ofensa lIumero de pessoas ha (I'" pedem ])Crdão seUl no entanto
feita à Sua santidade ti\'er sido plenamente s..,ldada. O signi- '
ra1.erem a COI! rrssão dos seus pecados. Para o fi"lho de Deus
ficado básico da palavra perdoar, segundo as EscrittlT;'\s, é C]u.e est" debaixo da graça, não há p..,ssagem alguma nas Es-
remissão. Ela representa o ato divino de sC'parar o pecador cnturas que justifique esta substituição.
do pecado. O pe rdão humano reside, simplesmcnte, em Icv:l11- A verdade englobada nesta passagem não pode aplicar-se
tar a pena do castigo; o perdão divino só é exercido q\lando :1S p:ssoas que não estão salva s ainda, pois estas recebem o
o castigo, em conformidade com as condiçõcs impostas pela Sua p:rdao ar:nas como uma parcela daquela sua completa s.11va-
infinita justiça, tiver sido primeiramente e.."-..:ecutado ~obre o pe- c;ao que hao de ter quando crerem. O filho de Deus é per-
c,tdor, ou pelo seu Substituto. I sto já era assim no Velho doado quando faz lima plena {(mfissão.
Testamento: "O sacerdote fará expiação dos seus pecados que Terceira - O Julga mento de Si Mesmo Evit. o Castigo
cometeu, e Ihc será pC'rdoado o pecado" (Lev. 4:35). O per- (I Cor. 11:31,32)
dão de Deus era possível só quando já havia uma plena ex- A terceira passagem principal, relacionada com a cura dos
"Nlo ENmISiEÇATS o EspíRITO SANTO" 75

efeitos do pecado na vida do crente, enContra-se (sem refe- Em I Cor. li :30, lê-se acerca dos julgamentos do Pai,
rência ao contexto importante em T C(lr, 11 :31 ,32: "Porque, resultantes do pecado de Seus filhos: "Por causa disto há entre
se nós nos julg:\ssemos a nós mesmos, não scríamos julgados. vós muitos fracos e doentes, e muitos que dormem". Fraqueza,
Mas, qu:mdo somos julgados, somos repreendirlos pelo Senhor. doença e até mesmo a morte podem ser portanto incluídas, na-
para nf\o sermos condenados com o Illl1ndo" .. O que iorna mais queles processos que o Pai usa com o Seu filho. Não se
completa a importante revelação (tl1e se ohtem desta pass..'\gem, deve, porem, concluir que toda a fraqueza , doença e morte
é a ordem que ela manifesta. Verifica-se aqui C)ue o Pai es- entre os crentes são disciplinas vindas de Deus. A passagem
pem que Seu filho transgressor seja o primei ro a julgar-se a apenas ensina que a disciplina pode apresentar estas f()rmas
si n1e~mo ou a fazer a confissão; mas se o filho não se julga particulares.
a si próprio. fazendo um3 confissão completa dos sellS pecados. Em João 15:1-17, encontra-se o ensino que diz respeito à
então o P:'Ii tem de o julgar. Quando o filho é assim julgado importância de permanecer em Cr isto. Mas isto não é senão
pelo Pai. está sendo castigado. De\'e-se notar. no entantO. outro termo que significa qual a vida de verdadeira espirit ua-
'1\11' esta atitude tem em vista Iml fim determinado: "Para lidade. Nesta passagem são expostas algumas das conseqüên-
llão sermos condenados com o mundo", Para um filho de cias que se sofrem por não permanecer em Cristo. A vara
Deus. poded havcr castigo, mas condenação é que n;io há. A que não dá fruto é arrancada do seu lugar; no entanto, não
Sua maravilhosa graça como Pai. obscrva-se na condescendên- deixa de ser uma vara mas evidentemente q\le foi privada de
cia em esperar até {llle Seu filho se tenha jl1lgado a si mesmo: estar "com o Senhor". Esta afirmação adapta-se à que diz
mas como Pai justo, Elf' não pode deixar passar o pec:ldo que "muitos dormem". Deixar de permanecer em Cristo. tem
que ' Seu filho não confessou. Se este julgamento de si próprio como conseqüência, também. a perda da eficácia da oração,
é omitido. Deus tem (le exercer a disciplina. a perda do pode r, que faz produzir fruto e serviço e a perda
da comunhão e alegria no Senhor. 1
Quarta _ A Disciplina é a Correção e Educação do Filho O próprio peso da mão de Deus pode tornar-se excessi-
Pecador pelo Pai (Heb. 12:3-15) vamente duro. Davi descreve as experiências que teve quan~
A passagem central da Bíblia sobre a disciplina . encon- do "se calava" ou se recusava a confessar o seu pceado: "En-
tra-se em Heb. 12 :3-1 5 e deve ser incluída COIllO uma das p.'\ s- quanto eu me calei. envelheceram os meus ossos pelo meu bra-
sagens principais a respeito da cura do resultado do pecado mido em todo o dia. Porque de dia e dc noite a tua mão
na vida de um Cristão. Atra\'és desta passagem nós podemos pesava sobre mim: o meu humor se tornou em sequidão de
compreender que a disciplina é a correção do Pai para todos estio. Confessei-te o meu peeado, e a minha maldade nào
os filhos. pois Ele disse. "o Senhor corrige a quem ama". encobri. Dizia eu: confessarei ao Senhor as minhas transgres-
e durante o período di sciplinar, "Deus vos trata como a filhos ". sões, e tu perdoaste a maldade do meu pecado. Pelo que
Esta correção tal como é executada pela disciplina. tem em todo aquele que é santo orará a ti, a tempo de te poder achar".
vista "sermos participantes da sua santidade") A di~ci\)\ina (Sal. 32,3-6).
é mais' do que correção e castigo. O significado da p.'\lavra O peso da mão de Deus é como uma dor constante da
inclui treinamento e desem·olvimento . Portanto. ela pode ser alma. Nada mais é que um Espirito entristecido; a Sua mão
aplicada pelo Pai para ensinar, aperfeiçoa r e edl~car o filho. misericordiosa, porém. pode ser ainda mais pesada quando cor-
Pela revelação de Deus é-nos dado o esclarccm1ento sobre rige, se nós não dissermos como Dav i : "ConfeSSO-lI' o meu
a forma geral que pode tomar a disciplina que Ele aplica. É pecado". 2
lógico. concluir que o Pai traIa individualmente com Seus filhos
e que os Seus processos são múltiplos.
I Veja a pAg. 89.
1 Veja-se a pég. 93. !!Veja-se também o capitulo IV.
76 AQUE LE QUE t ESi>lR1TUAI.. "NÃo ENTRISTEÇAIS O ESplRlTO SANTO" 77

Quinta Um Exemplo do Arrependimento Cristio bém a revelação divina que lhe tinha sido concedida. ['1'('
(11 Cor. 7:8-11) vendo, porém. a sua recuperação, ele disse: " Então ensinare i
aos tran sgressores os teus caminhos, e os pecadores se cuu
Em II Cor. 7 :8-11, está registado um exemplo de verda- verterão a ti".
deira tristeza pelo pecado por parte do crente. O Apósto!o, E stando salvo, ainda que mesmo pelas disposições do Velho
na sua primeira carta aos Coríntios, foi usado pe l ~ Espi! ltO Testamento, o regresso de Davi a Deus foi por meio da con-
para os convencer do pecado e nesta passagem, que e a qU11lta fissão. Há porções desta passagem importante que, embora
das rassagens p'rincipais que vit:nos citando, é-nos dada l~ma verdadeiras por se tratar de um santo do Velho Testamento,
descnção da tnsteza deles devida ao pecado, e dos efcltos não podiam se r aplicadas com exatidão a um crente da nova
desta tristC7.3 nas suas vidas. Assim se obtém um importante dispensaç..'io da graça. Nós nunca precisamos de pedir, "Não
esclarecimento do efeito transformador do arrependimento e da me reti res o teu Espírito Santo", pois que .Ele veio para habi-
confissão na \'ida de um crente. !\ passagem é a seguinte: tar conosco. Da mesma maneira, também, não necessitamos
"Porquanto, ainda que vos tenha contristado com a carta. não de suplicar perdão e restauração. Desde que o sangue foi der-
me ar rependo; embora já me tenha arrependido (vejo que ramado na cruz, as bênçãos do perdão e da purificação são
aquela carta. vos contristou por breve tempo), agora me alegro, instantaneamente derramadas pela fidelidade e justiça de Deus
não porque fo stes contristados, mas porque fostes contristados sobre o crente que faz a sua plena confissão.
para arrependimento; pois fostes contri stados segundo Deus,
para que de nossa parte nenhum dano sofrêsseis. Porque a Sétima - A Tríplice Parábola Ilustrativa nos Evangelhos
tristeza segundo Deus produz arrependimento para a salvação (Luc. 15:1-32)
que a ninguém traz pesar; mas a tristeza do mundo produz A últ ima das sete passagens principais que tratam da
morte. Porque, quanto cuidado não produziu isto mesmo ~ m cura dos dei tos do pecado na vida espiritual de um crente,
vós que segundo Deus fóstes contristados! que defesa, .qt1~ 111,~ quer este seja do Velho Testamento, ou do "Novo, encontra-se
dignação. que temor, que saudades, que zelo, que "tndlta! em Lucas 15: 1·32. Esta porção das Sagradas Escrituras, con-
(Edi.:;ão Revista e Atualizada). tém uma par.ibo!a dividida em três partes - a da ovelha per-
Tal é o poder transformador e o resultado permanente dida. A da dracma perdida, e a do filho pródigo. Embora
do verdadeiro arrependimento e da sincera confissão na vida sejam narrados três incidentes, só um propósito fundamental
de um crente. existe. O valor especial desta passagem, quanto à relação
estabelecida, está em revelar a comp.:lixão divina, como se pode
Sexta _ O Arrependimento, a Confissão e a Restauração observar na restauração dum santo transgressor. É o coração
de um Santo do Velho Testamento (Sal. 5 1:1-19) do Pai a manifestar-se; a ênfase recai mais no pastor do que
Como está mencionado no Salmo 51, Davi é um exemplo na ovelha; mais na mulher do que na dracma perdida é mais
lIotável do verdadeiro arrependimento e confissão por parte de no pai, do qtle em qualquer um dos filhos.
um santo do Velho T estamento. Nas Escrituras Sagradas, Ao considerarmos esta passagem, devemos ter em mente
o seu pecado está patenteado juntamente com O seu coração que o que se relata aqui está sob aquelas condições existentes
quebrantado e contrito. Ele foi sal~o (aind~ que segun~o os antes do sacrifício da cruz. Portanto, a passagem trata prin-
preceitos do Velho Testamento), poIS ele pedIU ora~ldo: ~e~ ­ cipalmente com Israel. Os israelitas eram o povo da aliança
titui-me a alegria da tua salvação". Ele não pedIU, restltUl- do Velho T estamento, "as ovelhas do seu pasto"; e sua situa-
me a minha salvação, porquanto ele sabia que a sua salvação ção não foi modificada até vir a nova promessa do Seu san-
que dependi3 somente da fidelidade de Deus, não deixara ~e gue. Como povo da promessa eles também podiam readquirir
existir. Ele apenas rogava que lhe fosse dada aquela a1egrta as bênçãos do seu concerto, caso as tivessem perdido por causa
que de perdera por causa do pecado, assim como perdera tam- do pecado, na condição do arrependimento e da confissão. Este
78 AQUY.LE QUE É ESPIRITUAL "NÃO ENTRISTEÇAIS o EsrfR ITO SANTO" 7!t

falo, segundo as Escrituras Sagradas e como tem sido obset'- Cristãos. Estes israelitas eram irrcpreensiveis por calL~a dn .•
vado, ê verdade quanto a todo o povo da aliança. Embora. sacrifícios de animais oferecidos na expectativa da mOJ'le de
as promessas de Tsrael não tenham o mesmo caráter das "novas Cristo; para os Cristãos essa remissão provêm da fé no san-
promessas feitas no seu sangue", as cláusulas impostas para a gue que por Cristo já foi derramado. Um, é a justificação
recupc]'ação das bênçãos da promessa, são as mesmas quer num pelas obras, realizadas segundo os hOll1ens; a Ol1tr.:I, é a justi-
caso quer no outro. A realidade da promessa permanece atra- ficação pela fé segundo a obra perfeita de Deus.
,'és da fidelidade de Deus, mas as bênçãos dessa promessa Os {ariseus e os escribas murmuraram quando viram <lue
podem-se perder por causa da infidelidade do sanlO. Pode Jesus recebia os publicanos e os pecadores e que comia com
também a bênção ser recuperada não peja formação de uma eles. Foi, portanto, para eles que Cristo contou esta pará-
outra aliança, mas pelo regresso aos privilégios imutáveis da bola - expressamente àqueles fariseus e escribas que murmu-
aliança original. ravam, e não a todos, em qualquer parte. E se não conser-
var em mente o verdadeiro propósito pelo qual a parúbola foi
A parábola, tríplice, é a respeito dos israelitas e a eles contada, pouco se poderá compreender da verdade que ela
dirigida. Seja qual for a aplicação que a parábola possa tcr encerra.
para os Cristãos da Ilova dispensnção, ela só é possivel pelo Voltando ~ sua interpretação, devemos, de certo modo,
arrependimento e confissão como o meio de restauração co- tomar em consideração a impressão, quase que universal, de
mum a ambos os concertos. Temos, portanto, nesta parábola, que esta parábola é uma ilustração sobre a salvação. Sendo
um retrato da atitude do coração de Deus para todo e qual- ela uma reproouçiio fiel do coração de Deus, tem, evidente-
quer povo da Sua promessa, quando peca. mente, que se ocupar mais da restauração do que da rege-
A parábola começa assim : "Aproximavam-se de J esus 1leração.
todos os publicanos e pecadores para o ouvir. E murmura- ~ primeira parte da parábola é a respeito de 11m homem
vam os fariseus e os escribas dizendo: Este recebe pecadores que t~nha cem ovelhas. "Qual dentre \·ós, é o homem que,
e come com eles". Aqui, está a chave de tudo o que se possulIldo cem ovelhas e perdendo lima delas, não deixa no
vai seguir. "Publicanos e pecadores não eram gentios. Pu- deserto as noventa e nove, e vai em busca da que se perdeu,
blicanos eram os israelitas da promessa "feita aos pais", aqul:- até encontrá-la?" Não se trata aqui de uma descrição sobre
les que se tinham tornado traidores da sua nação ao ponto noventa e nove ovelhas e uma cabra, mas sim sobre cem ove-
de passarem a ser os cobradores de impostos de Roma. "Pe- lhas; e "ovelhas", segundo as Escrituras Sagradas, são sem-
cadores" eram os israel itas da mesma promessa que não
apresentaram os sacrificios para remi ssão dos pecados, con-
°
pre povo da promessa. Mas não só os israelitas eram ovelhas,
como o são também, os Cristãos da nova dispensação. Jesus,
forme ordenado pela lei de Moisés. Um israelita era consi- quando falava daqueles que haviam de ser salvos pela Sua
derado "inculpável" perante a lei, somente quando tivesse dado morte, dizia aos judeus: "Ainda tenho outras ovelhas, não
cumprimento às ofertas exigidas. Por isso Paulo podia dizer deste aprisco" (João 10:16).
de si mesmo, referindo-se à sua situação primitiva como judeu Ainda uma outra diferença importante se deve notar na
debaixo da lei; "segundo a justiça que há na lei, irrepreen- parábola em questão: A ovelha, a dracma, e o filho estavam
sível ". O Apóstolo não proclama a perfeição impecável: ele .' perdidos", Illas de tal maneira que precisavam de ser "acha.
dá testemunho de como sempre foi fiel em cumprir os sacri- dos". Isto, certamente, não significa a mesma coisa que estar
fícios prescritos pela lei de Moisés. Os {ariseus e escribas, perdido de tal maneira (Iue é necessário ser salvo. O uso
eram os israelitas que davam a vida inteira ao cumprimento b.íblico da palavra "perdido" tem, pelo menos estes dois signi-
rigoroso da lei de Moisés. Paulo era {ariseu, "Hebreu dos fi cados absolutamente diferentes. "O Filho do H omem veio
hebreus". Estes homens não eram Cristãos e como tal não buscar e salva r o que se havia perdido"; mas em todas as
deviam ser julgados. Há pouca coisa comum aqui com os três partes da parábola, encontram-se mais as expressões bus-
80 AQIJt.:LF. Q m: t EsPIRITUAL "NÁo ENTRlSTEÇAlS o ESI,jRITO SANTO"
'1
car e aeltor, tio que buscar e sahmr. A pa Iavra ". sa ]\"0,
" dC· para que crendo pudéssemos ter vida em Seu nome, nem lIl1Ia
vemos obl:icrvar. nem uma so vez aparece nesta pa~aboJa. Ora, vez sequer usa a palavra " arrepclldimcllto ". Os não-salvos,
se esta parábola for cOi~siderada C0l110 "um, etlsl~o s~bre ,a hoje em dia, são salvos pelo crer, o que evidentemente inclui
salvação não se pode eVitar o cr,ro do lUuyersahs,mo, poiS a forma de arrependimento que pode ser produzido por aqueles
este Pastor busca até achar aqUIlo que esta pe rdido. Pelo que estão " mortos em ofensas e pecados". Arrependimento
con trário. a passagem apresenta uma fiel manifestação do ~o­ significa, pois, a transformaçâo da vontade, e ninguém pode
ração de Deus. para com o Seu filho errante que ne~; ss na crer em Cristo, como seu Salvador, sem ter modificado a sua
m:ds de ser achado do que salvo. As " noventa e nove , qUI; vontade com respeito ao seu pecado, à sua condição de perdido,
estiLO salvas 110 aprisco em relação àquela que está pcr~l~a, e e à colocação da sua confiança no Único que é "poderoso para
um3 infeliz descrição das proporções que sempre CX 1Sl m\~1 salvar".
entre os salvos e os não salvos. Se a parábola fosse para ensI- A segunda parte da parábola que é a respeito da mulher
nar a salvação de um pecador, teria sido muito melhor qU,e e da dracma perdida, trata da mesma hi stória de bl/scar e achar
ela tivesse apresentado " noventa e nove " que esta\'am perdl- aquilo que estava perdido. A ênfase principal nesta parte da
d o~ . e uma salva no aprisco. E a parftbola ~ontilll:~;_ . parábola, recai na alegria da pessoa que acha. 11 a alegria
"Achando-a, põe-na sobre o~ ombros. cheiO de . Jubilo. E, d'Aquele em cuja presença se encontram os anjos. A histór ia
indo para ca sa. reulle 05 amigos e vizinhos, dlzendo-lI:es : é, outra vez, acerca de um pecador arrepelldido, e nâo de um
Alegrai-vos comigo, porque já .ach~i, ~ minha ,ovelha perdida. pecador que crê.
Digo-vos que assim haverá maior Jubilo no ceu pc.r um pe- A terceira parte da parábola, refere-se a "Um certo homem".
cador (lue se arrepende, do que por noventa e nove Jllstos que Evidentemente que esta história é contada para revelar o co·
não necessitam de arrependimento". (E.R.A.) ração daquele pai. Ele tinha dois filhos, sendo um deles "pu-
O pecador a que se refere aqui, 110 pr~mei ro versículo da blicano e pecador", e o outro "fariseu e escriba". Um, aban-
passagem, não pode ser nenhum outro senao um dos pe;ado- donou as bênçãos da casa paterna ( sem, no entanto, perder
res da promessa e a respeito do qual foi contada a parabola. a sua posição de filho ), e o outro mUrllltU"OI~ quando o pecador
Ele, como pessoa pertencente à promessa, e aqui r:presentado foi restaurado.
pelo Espírito mais como aquele que regressa, atravcs do arre- Para o espírito de um judeu não podia haver abismo de
pendimento, do que um que é salvo atr~ves . ~o.s fun?amentos mais aviltante miséria do que encontrar-se apascentandQ por·
da fé salvadora. P or isso, uma vez mai S, dlflcll sena encon- cos numa herdade. Aqui, nós temos o Senhor a afirmar, em
t rar um grupo (le pessoas dentro da igreja ~lIe correspondes~e termos da Sua própria época e do Seu povo, que um filho
aos" noventa e nove justos que não necessitam . de arrepe.nd" desencaminhado pode voltar, confessando-se, ainda mesmo que
mento". T odavia, este caso era possível d,eba,xo , da leI de venha dos mais profundos abismos do pecado. Foi ali, naquela
Moisés sendo di sso 11111 bom exemplo o Apostolo 1 aula. Os terra longínqua e na companhia dos porcos, que o filho, "caindo
pr6prids fariseus e escribas aos quais foi ~li~igi?a a paJ~vra, em si", se propôs voltar para seu pai, resolvido a fazer aquela
pertenciam a esse grupo. Segull?o as eXlgenclas extenores confissão que é a única expressão normal de um coração ver-
da lei de ~I ois~s, eles não necessitavam arrepender-se. dadeiramente arrependido. Não está mencionada a regenera-
Arrependimento, que qller dizer transformação da \'on· ção. Também, nada se diz da fé, sem a qual nenhuma alma
tade, é 11m elemento essencial da nossa salvação atual; I~as podia esperar ser salva para ser filho de Deus. Tratava-se
está presentemente contido no único ato de crer; e prova disto simplesmente de um filllQ que voltava para seu pai como filllo.
são as cento e CÍ!1<!üenta passagens do Novo Testamento que A opinião de que uma pessoa não salva, quando se entrega
submetem completamente a nossa salvação atual ao acr,. ou ao a Cristo, "regressa aO lar", como é muitas vezes expressa nos
seu sinônimo, fé. O Evangelho segundo S. João: escTlt.o es- sermões e nos hinos evangélicos, é estranha aos ensinos da
pecialmente p..'lra. que pudéssemos crer que Jesus e o Cristo e Palavra de Deus. Os filhos que se desviam, podem regr~sar
82 AQUELE QUE t ESPIRITUAL "NÃO ENTRISTEÇAIS o ESf'IRITO SANTO"

ao lar, c, (,5t;\lIdo perdidos, porque se desviaram do bom cami-


nho, podem ser achados. Esta circunstância, porém. não podia e de toda a E scritura a este re.speito, podemos concluir que
ser aplic<l.<la àquele que mmca fora filho de Deus. Certamente: um crente mesmo imperfeito, aliâs como todos nós somos, à.
que esse tal está perdido, mas precisa mais ser salvo. Na nova hora da sua morte, será recebido 110 Céu, embora tenha (lc
di~pens:H.;ão, as pessoas ainda n5.o sah·as, podem voltar-se para sofrer a perda de todos os galardões e de muita alegria e
Oe\15, mas não regressar a Deus. ainda que, quando se encontrar face a face com o seu Senl;or,
Quando o hlho que regressava, esta\';l ainda longe. o pai, seja intimidado a fazer ali aquela confissão até então negli.
vendo-o, teve compaixão dele c, correndo, lançou-se-lhe ao pes- genciada.
coço e beijou-o. O pai vira-o porque eSUl\'a olhando naquela Pode-se então concluir destas sele passagens maIs Impor-
direção. Com certeza ele nunca ti~ha deix.ado de. olhar par~ tantes, que a cura dos efeitos do pecado na vida espiritual de
lá. desde aquela hora em que seu fIlho haVia partIdo. Este e um filho de Deus, é prometida àquele que, arrependido de todo
o retrato do coração do Pai. alias, expresso, também. na busca o seu coração, faz uma verdadeira confissão de seus pecados.
feita pelo pastor e pela mulher. O pecado é sempre pecado aos olhos de Deus. Não ê
Qualquer just iça teria exigido que este fi lho, que "olto.u. menos pecado pelo fato de ser cometido por um crente, nem
fosse muito severamente cast igado. Não deson rou ele o nome pode ser curado em caso nenhum senão por in termédio da
paterno? Não dissipou ele a riqueza de seu pai? Não se arrui- relação que há em Cristo.' É porque o preço da reden<;ão já
nou ele a si mesmo? Todavia, não foi castigado. O fato de foi pago, pelo sangue precioso de Cristo, que Deus pode salvar
ele não ter sido castigado, revela-nos a verdade bendita da os pecadores que crêem somente, e, restaurar os santos que
nova dispensação que, por c.1.\Isa do sac~ifício de C r ist~ n:l apenas se confessam. Nem um só grau do castigo que caiu
cruz, o Pai pode e quer receber o Seu fIlho sem o castIgar. sobre o nosso Substituto jamais pode cair sobre um santo ou
As condições para a restauração residem apenas na confissão um pecador. Visto que Cristo o suportou todo por nós, crer
de um coração quebrantado. O castigo do pecado caill sobre ou confessar é tudo o que, com justiça, pode .ser exigido. En-
Alguém em nosso lugar. quanto aquele que pecou não fizer confissão, ele está cOllten-
A confissão daquele filho foi dirigida primeiramente ao dendo COm aquilo que é mau e por isso está em discórd ia com
Céu e depois a seu pai; este é o verdadeiro método de toda o Pai. "Dois não poderão andar juntos, ·se não estiverem de
a confissão, que deve ser feita em primeiro lugar a Deus e acordo". Deus não pode concordar com o pecado. Mas o
depois àqueles que ficariam ofendidos se lhes negássemos con- filho pode estar de acordo com O Pai, o que representa. verda-
fessarmo-nos. deiro arrependimento se for expresso em sincera confissão.
Grande é o poder da confissão de um coração queb~an­ Arrependimento é a transformação da vontade. S por ele que
tado. Por isso, ninguém poderia acreditar que aquele fllho deixamos o pecado e nos voltamos para Deus.
que voltou, depois de ter sido restaurado e de ter gozado no- A bênção não depende da perfeição absoluta: resulta, antes,
vamente a paz no seio da família e o conforto do lar, viesse de não se entristecer o Espírito. Também, não é uma ques-
a pedir a seu pai, instantes depois, mais d<?s seus bens. para tão que trata de pecado oculto: pelo contrário, é uma atitude
poder voltar à vida de pecado. Tal proce<hmento estana em daquele coração que deseja sempre e a todo O instante con-
completo desacordo com a confissão que ele tinha feito e que fessar os pecados conhecidos. "Se confessannos os nossos pe.
deixou transparecer um coração abatido. A confissão sincera cados, ele é fiel e justo para nos perdoar os pecados e nos
tem um poder real e transformador (veja-se 11 Cor. 7:11). purificar de toda a injustiça". O crente que confessar com-
Mesmo durante todos os dias que esteve ausente de seu pletamente todo o pecado conhecido, terá destruído um, senão
lar, ele continuou sendo filho. Ainda que tivesse morrido, no todos, os obstáculos que impedem a mais perfeita manifesta-
campo, junto dos porcos, mesmo assim ele teria morrido como ção do Espírito.
filho. Tanto quanto nos é possível analisar este assunto ,q.ue "E não entristeçais o Espírito Santo de Deus, no qual
explica a situação de um Cristão transgressor, dessa anal1se estais selados para o dia da redenção" (Ef. 4:30).
"Nlo APAGUEIS o ESP!RITO" 85

Quando pela Sua graça, tivermos entrado no Cêu e ti\ler-


mos alcançado l1m~ maior visão e compreensão dessa esfera,
olh~remos .J>.'lra. tras, para a nossa peregrinação na terra, e
e~ltao senti remos ou alegria ou tristeza, ao contemplarmos a
Vida que !cvamos. Há uma vida sem pesares. Ela consiste
Cl pítulo V cl.n. ter feito a vontade de Deus. e aquele plano e propósito
dlVlllos serão clemamente reconhecidos como o melhor que Deus
"NAO APAGUEIS o ESPIRITO " teve para nós.

Segunda Condição di Verdadeira Espiritualidade A Vida de Submissão

"Não apagueis o Espírito" (I Tess. 5:19) é outra ordetp Sub!llet~rll1o-n os a. Ele é permitir que Ele determine e
explícita para o crente e diz respeito à sua rela~ão com Aquele execute poSição e a efic:icia da nossa vida. Só Ele o pode
que nele habita. fazer. De todos os inumeráveis caminhos em que possamos
andar somente. Ble sabe qual é melhor. Só -Ele, também, tem
o que é que Apaga o Espíri to? poder para glllar os nossos passos nesse caminho e ali os fazer
permanecer. Assim como só Ele possui aquele grande amaI
a Espírito "apaga-se" devido a qualquer oposição à mani · f.M?r n6s, o qu~1 nunca deixará de move-lO para fazer, para
festa vontade de Deus. n simplesmente dizer "não" a Deus, ~os .. tudo aql\llo que a. Sua sabedoria, poder e amor podem
e nesse sentido relaciona-se de perto às ordens divinas para I!1splrar. Na verdade, a vida é triplamente abençoada quando
serviço. O Espírito pode ser "apagado ", também, devido a aprendemos a submetenllo-nos à vontade de Deus.
qualquer oposição à providência de Deus na vida. Nada. ~e sc~ ma!s r,nal dirigid~ do que a vida daquele
A palavra "apagar", quando relacionada com o Espírito. que se dirige a SI propno. Propositadamente Deus omiti u
não significa que Ele se extingue ou que Ele se retira: é, antes, da ~ossa. criação ,~oda a !ac~l ldade, 011 poder, de' nos dirigirmos
o ato de resistir ao Espírito. O Espírito não retira a Sua a nos .mesmos. Eu S~I , o Senhor, que não cabe ao homem
presença, pois Ele veio para habitar em nós. determlOar o seu cammho, nem ao que caminha o dirigir
Segundo as Escrituras, a responsabilidade do crente em os seus.1.>aSsas" (Jer .. 1?:~3 - E.R,A.). Faz parte do
realizar a verdadeira espiritualidade, encontra-se, uma vez pl~no dlVIll? que o P:III:IPIO fundamental de orientação nos
mais, reduzida a uma única e decisiva palavra, "submissão". seja concedido pelo propno Deus. Uma das conseqüências da
"Mas oferecei-vos a Deus como ressurrectos dentre os mortos, queda de Adão, é, ~ independência da vontade humana para
e os vossos membros a Deus, como instrumentos de justiça" com !=>eus; sem dUVida que o homem se torna mais espiritual
(Rom. 6:13 - E.R.A.). Tal atitude de coração para com a e ~als ;onform~do c?m o desígn.io. do seu Criador quando ele
vontade de Deus é a que convém àqueles que "estão vivos dentre esta ma l ~ submISSO a vontade dlVlIla. Que maior prova que-
mortos", e tomar qualquer Qutra atitude não é mais nem menos remos nos dessa queda, senão a luta que é necessário travar-se
do que tornar-se rebelde dentro da família e da casa de Deus. para. a Ele nos sub~etermos? O que não sentiremos nós quan-
a nosso Pai nunca Se engana. A Sua vontade é sempre e infi- do tivermos, conseguido essa submissão e pudermos dizer, "Não
nitamente a melhor, portanto, não devemos " apagar o Espí- s: .r~ça a ,!,lIlha vontade, mas a Tua!" É porque o nosso viver
d.JaTlo sera desnorteado e u~ !racas~o sem a direção do Espí-

.
rito". Não devemos dizer "não" a Deus.
rito Santo, e por,que _o Esplflto veIO para faze r justamente
esta obra, que nos nao podemos ser perfeitamente ajustados
86 AQtJELY. Qm: t ESPIRITUAL "NÃO APAGUEIS o EspfRITO"

a Ele, Ilem sermos espirituais, sem que nos submetamos à von- É apenas a dedicação de nós mesmos a tudo aquilo que Deus
tade de Deus. possa escolher para nós agora e sempre. Este é que é o 110SS0
A apresentação absoluta dos nossos corpos para serem "culto racional", se ele for "santo e agradúvel a. Deus". Quan-
"sacrifício vivo" é não só o "culto racional" como também do não estivermos conformados com este mundo, e quando
uma decisão de capital importância para o filho de Deus. Se- formos. transformados pela renovação do nosso entendimento,
guindo as declarações doutrinárias da dupla obra de Deus, daremos, então, nas nossas \'idas, lima prova satisfatória "dessa
para nós, quanto à nossa salvação, CQmo está relatado em boa, agradável e perfeita vontade de Deus" que nos é desti-
Romanos, capítulos I a 8. e depoi s da porção da Epis,tola nada. Por isso, a submissão é apresentada como a primeira
q\IC se refere à dispens::H;ão de Israel, a mensagem do hvro condição e de todas a mais importante, para aquele que é
,"olta, \lO capítulo 12. ao apelo para a maneira de \'iver que salvo. Continuando a análise desta porção das Escrituras,
convem àquele que foi salvo do castigo do pecado, e paTa quem pode-se tirar muitos ensinamentos sobre o que é presta r cu lto ;
a salvação do poder do pecado já está providenciada. mas até mesmo o apelo para se prestar culto não terá bene-
ficio algum se não houver uma apresentação absolu ta do corpo
É precisamente 110 começo desta importante porção das
como sacrifício vivo.
E scrit uras que é feito este apelo tão necessário. A passagem
começa assim : "Rogo-vos pois, irmãos, pelas misericórdias de Cristo, o Modelo
Deus. que apresenteis (a mesma p..1.1avra que "submeter". em
Rom. 6 :13 ) os vossos corpos por sacr ificio vivo, santo e agra- Uma das perfeições humanas do Senhor J esus, foi a Sua
dável a Deus. (Iue é o \'osso culto racional. E não vos con- absoluta submissão à vontade de Seu Pai, c disto dão as E s-
formeis COm este século. mas transformai-vos (tran sfigurai-vos) crituras abundante testemunho. Em Hebreus 10 :5-7, temos :
pela renovação da vos~a mente. para que experimenteis qual " Por isso, ao entra r no mundo, diz: Sacrificio e oferta não
seja a boa, agradável e perfeita vontade de Deus". quiseste, antes corpo me for maste; não te deleitaste com holo-
A expressão "Rogo-vos" está muito longe de ser uma caustos e ofertas peta pecado. Então eu disse: Eis aq\li estou
ordem. Ela é uma sÍlplica àquela maneira de viver que con- (no rolo do liv ro está escrito a meu respeito), para faze r, ó
vém aos filhos de Deus. Não é qualquer coisa que temos de Deus, a lua vontade".
fazer para ser salvos; é alguma coisa que devemos fazer p?r.- Ele estava, assim, submet ido à vontade de Seu Pai, e a
que estamos salvos. A primeira exor tação nesta porção utll Sua submissão incluia mesmo o Seu corpo humano ("mas corpo
desta Epístola da salvação, é para que todo o corpo se al~re­ me formaste"), o sacrificio do qual ia valorizar todos os sacri-
sente em sacrifício vivo. Contudo, não se deve chamar Isto ficios de an imais que eram agradáveis a Deus e que tinham
de "consagração", porquanto consagração é obra de Deus. ,0 sido cxe<:utados anteriormente, mas que, por outro lado, ia
crente pode resignar-se, submeter-se ou apresentar-se, porem invalidar toda a tentativa de sacrificio que pudesse seguir-se.
Deus é que tem que tomar e aplicar o que é apresentado. I sto Quando Ete estava próximo ao Seu sacrifício na cruz, disse:
se chama consagração. Estamos, novamente, perante uma es· "Não se faça a minha vontade, mas a tua". E outra vez, no
cassez de Escr ituras que 110S garantam uma possível «reconsa- Salmo 22, se regista o que Ele dissera a Seu Pai: "Porém
gração". Não podemos escolher somente em parte a vontade tu és Santo", e o que se segue dissera Ete na hora mais amar-
de Deus como regra das nossas vidas. ga da Sua crucificação, quando estava clamando: "Deus meu,
Não teremos resolvido faler a Sua vontade, senão quando, D eus meu, porque me desamparaste?" E ainda mais, em Fi!.
realmente, senti rmos o desejo de fazer a vontade dEle. Por- 2:8, se diz que Ele foi "obediente até à morte, e morte de
tanto a verdadeira dedicação, não exige uma r econsagração cruz"
a De'us. Não se trata aqui de qualquer serviço especial que A submi ssão absoluta do Filho para fazer a vontade do
possa tornar-se uma prova como resultado de nossa disposição. Pai, não é somente o exemplo supremo de uma atitude normal
88 AQUELE QUE ~ ESI'IRITU,\L "N40 APAGUEIS O ESP!RITO"

de qualquer filho de Deus, para com seu Pai , mas esta atitude Pri.meira - A vontade de Cristo era ir aonde Se11 Pai
tem de ser também comunicada e mantida no coração do crente quissesse. O Seu lar era na glória. Era ali o Seu ambiente
pelo Espírito, depois que o primeiro ato de apresentação lenha pátrio; porém, Ele veio a este mundo com uma missão c a
sido realizado. A passagem seguinte é lima exortação com mensagem da graça. "Deus teve um único Filho e Este foi
este objetivo: "Tende em vós o mesmo sentimento que houve missionário". Esta era a vontade de Seu Pai para Ele, e a
também em Cristo Jesus" (Fil. 2:5). A primeira !:><1.1avra Sua atitude pode ser expressa por estas palavras familiares:
desta passagem é bastante elucidativa, porC]l1unto nesta peque- "Meu Senhor, dirigido por Ti, irei Tua ordem cumprir".
nina palavra "te11(le" est<Í resumido todo o ensino híblico que
se refere à responsabilidade do crente perante a possível ma- Segrmda - Cristo queria ser aqtlilo que Seu Pai quisesse.
nifestação de Cristo na vida diariamente condt1zida pelo E spí- "A si mesmo se esvaziou". Não só qu is despojar-se da Sua
rito. Nós, por nós mesmos, não poderíamos produzir tal ma- glória, mas desejou também ser escarnecido. vituperado e cru-
nifestação; podemos, porém, "permitir" que ela seja realizada cificado. Esta era a vontade do Pai para Ele I'! a Sua atitude
pode ser expressa nestas palavras: "Estou pronto, o que que·
em nós por Alguém. O fato, evidentemente, não está em re·
res, a ser".
solver fazer qualquer coisa; pelo contrário, é uma atitude de
consentimento para com Aquele que pode agir até à última Terceira conclusão - Cristo queria fa::er tudo o que Seu
condição da Sua bendita vontade. Assim, com o receio de que Pai quisesse. F oi obediente até à morte, e procedendo assim,
nós não pudéssemos reconhecer o caráter exato da imagem de a Sua atitude pode ser expressa. mai s uma vez , pelas palavras :
Cristo, o qual nós somos levados a "permitir" a se rcproduzir "Farei. metI Senhor, mcu dever".
em nós, e com receio de não estarmos preparados para a ope- Talvez que, muitos dos que c:antam o hino acima cit<lrlo,
ração, desses elementos especiais na nossa vida diária, está re- não tenham ainda enfrentado a questão de uma entrega posi·
gistada uma clara e detalhada descrição desses elementos do tiva à vontade de Deus; todavia, sem que esta ren<liçiio seja
"sentimento de Cristo". os quais são fundamentais: "Pois ele, feita, não é possível haver ,'erdadeira espiritualidade. Mas
stlbsistilldo em fanna de Deus, não julgou como usurpação o quando isso se der, Deus concederá o poder suficiente para a
ser igual a Deus; antes a si mesmo se esvaziou, assumindo a realização de toda a Sua vontade. E a passagem termina com
forma de servo, tornando-se em semelhança de homens; e, as palavras: "Porque Deus é quem efctua ell1 ,'ós tanto o
reconhecido em figura humana, a si mesmo se humilhou, tor- querer como o realizar, segundo a !il\a hoa \·ontade". E assim
nando-se obediente até à morte, e morte de cruz . Pelo que é Ele que toma conta e continua a tlerr,lIl1a r tod<ls as rea\i·
também Deus o exaltou sobremaneira e lhe deu o nome que dades espirituais naquela vida que eSI;Í norm<llmente adaptada
está acima de todo nome" (vs. 6-9 - E.R.A.). a Ele (Gol. 3.3). FiL. 2.: {"S
Devemos notar que estas particularidades, que em conjunto Nosso Senhor ao tratar do import<lllte ass\ll110 da respon-
formam "o sentimento de Cristo", não são mencionadas, sim- sabilidade do crente em se entrcgar completamente a Dcus
plesmente. para relatar fatos acerca de Jesus Cristo; elas são declarou que era o mesmo que peTJn<lnecer n'Ele (João 15 :1-17 ) .
apresentadas para que nós possamos ter exatamente um per- Os result<ldos da vida de permanência são triplos : (I) A ora-
feito conhecimento daquilo que vai ser reproduzido em nós , ção é efica~ - "Se permanecerdes em mim e as minha s pala-
e daquilo que vamos "permitir" que Ele faça em nós e por vras permanecerem em vós, pedireis o que quiserdes. e vos
nosso in termédio. A manifestação divinamente produzida na será feito"; (2) O gozo é cc/I'stial - "Tenho-vos dito estas
vida do crellte, será "o sentimento de Cristo"; mas isto, assim coisas para que o meu gozo esteja em vós, e o vosso gozo
nos asseguram as Escrituras, é realizado pelo poder do Espí- seja completo"; (3) O fruto é demo - "Não fostes VÓ9
rito. "Porque para mim o viver é Cristo". Eis o resultado. que me escol hestes a mim ; pelo contrário. eu vos escolhi a
A causa é o poder do Espírito de Deus. Do muito que a vós outros e vos designei para que vades e dcis fruto. e o
passagem nos revela, podem-se tirar, pelo menos, três conclusões: vosso fruto pennancça". Estes resultados incl uem tudo o que
90 AQUELE QUE t. ESPI RI TUAL "NÃo APAGU EIS o EspfRITO"

é essencial numa vida espiritual e são estipuladas por Cristo Deve-se declarar, uma vez mais, que este caso, tão simples <'111
em obediencia a tudo quanto Ele dissera: "Se guardardes os si mesmo, se torna complicado de um momento para outro
meus mandamentos, permanecereis no meu amor; assim como quando se relaciona com qualquer questão de obediência. Tra-
também eu tenho guardado os mandamentos de meu Pai, e ta-se arenas da vontade de Deus, considerada isoladamente,
no seu amor permaneço". Permanecer. pois, é simplesmente pela qual, decerto Ele vai operar em nós, com tooos os por-
suhmeter-se à manifesta vontade de nosso Senhor, precisamclllc menores, aquilo que é mais agradável aos Seus olhos _ 1! Ele
da mc,;ma maneira como Ele Se submeteu à vOlltade de Seu que opera em nós tanto o querer como o efet\1ar. segundo a
Pai. Sua boa vontade.
Logo, a submissão à ,'ontade de De\lS não se prova com T alvez tenhamos (Jue esperar muito tempo para averigl1:'1r
qualquer decisão em particular; é, antes, uma questão de se qual seja a Sua vontade; mas, uma vez claramente revelada,
adotar a vontade de Deus como regra de vida. Estar na von- já não pode haver lugar para discussões no coração qne 11.10
tade de Deus, é simplesmente desejar fazer a Sua vontade sem desejaria apagar ° Espírito.
referência a qua!(juer tarefa especial que Ele escolha. É jul-
gar Sua vontade como sendo soberana, mesmo antes de saber Conhec=endo a Vontade de Deus
° que Ele deseja que nós façamos. Portanto, nâo é apenas
Como, geralmente. há o desejo de querer saber mais pre-
uma questão de se desejar fazer Cjualquer coisa em especial;
mas é uma questão de se desejar fazer fudo - quando, onde cisamente como podemos conhecer a vontade de De11s, dá-se
e como parecer melhor ao Seu coração de amor. É tomar a a seguir a resposta:
posição normal e natural da confiança infantil , a qual já con- Primeiro - A Sua direção é só para aqueles (J11e iá esti'ío
decididos a fazer o que Ele quer. A esses dir-sc-á : "Deus é
sentiu na vontade do Pai ainda antes que qualquer manifes-
tação do Seu querer fosse revelada. Não se pode acentuar capaz de falar suficientemente para que a alma submissa escute ".
por demais esta distinção. 'É natural dizer-se: "Se Ele CJuer Segundo - A direção divina será sempre segundo as E.<;-
crituras. E à Sua palavra podemos recorrer sempre com uma
que eu faça alguma coi sa. que diga o que q11er e então eu re-
solverei° que hei de fazer". É claro que a uma. pessoa (Iue
piedosa expectativa; contudo, é muito perigoso dispor da Biblia
como loteria mágica. Não se aprende o significado de uma
se apresente com tal atitude de coração Ele nada revela. T em
passagem, "deitando sortes". Também não se pode conhecer
de haver uma relação mútua de confiança na qual a Sua von-
tade possa ser aceita de lima vez para sempre e sem qualquer a vontade de Deus, pela Bíblia, abrindo °
Livro e seguindo
reserva. E por {jue não há de ser assim? A nossa resistência fielmente o primeiro versículo que ao acaso se lê. Verdadei-
ramente, não é uma questão de sorte, nem tão pouco a nossa
às vezes não é demonstrada pelas palavras, "Eu sei que és
homem rigoroso 1" Será Ele, realmente, um Homem rigoroso? relação com a Sua Palavra é tão superficial que vamos en-
contrar o Seu bendito desejo para nós, lendo, às cegas. um
Se por nossas próprias mãos conduzirmos as nossas vidas, po-
versículo casual. T emos de estudar e conhecer as Escrituras
deremos te r, por ventura, alguma esperança de sabermos inte-
para que tooa a palavra da Sua revelação nos possa instruir.
ligentemente escolher para nós o que é melhor? lmpôr-se-á o
Terceiro - Ele não dirige os Seus filhos por reqra algu-
Pai, cujo amor é infinito, a Seu filho? Ou poderá Ele alguma
ma. Tão pouco serão dois dos Seus filhos guiados da mesma
vez ser descuidado? maneira. e, até mesmo, é muito provável que Ele nunca dirija
Não fazemos promessa alguma de que não vamos pecar qualquer de Seus filhos duas vezes exatamente pelo mesmo pro-
nem transgredir a vontade de Deus quando nos submetemos a cesso. P ortanto, as regras, têm tendência a falhar. Pelo CJue
Ele. Também não prometemos modificar os 110SS0S próprios se pode concluir. que a verdadeira espirituali(lade consiste numa
desejos. A verdadeira ati tude (jue o homem toma foi expressa vida livre de leis, vivida, pelo poder do E.<;pírito, até ao mais
nestas palavras: "Consinto em desejar fazer a Sua vontade", minucioso pormenor da individualidade.
92 AQUELE QUE! t ESPIRITUAL.
"NÃo APAGUEIS O EspíRITO"

Quarto - A direção divina ê pelo Espírito que habita no


crente. Segue~seJ pois, que a verdadeira direção, nesta dis- o filho deve receber (Heb. 12 :6) . Um, é para comg!r tantas
pensação, é mais por uma consciência íntima, do que por sinal vezes quantas forem necessárias; mas o outro é o que se recebe
exterior. Logo que tivermos cumprido fielmente as condições uma única vez para a conquista da vontade humana. Pelo
para uma vida espiritual, teremos a "mente do E spírito". Ele fato da nossa vontade ser conquistada por esta forma, não se
tanto é capaz de IlOS convencer do mal, como é de nos comu- segue que ela fique enfraquecida perante os nossos semelhantes.
nicar uma convicção clara do llcm. Devido à nossa atual e ~la foi su~metida somente a Deus. Quão simples podia ser
singular relação com o Espírito, Ilão é necessário, nem pru- !sto; todaVia, quantos anos de açoites muitos têm sofrido só
dente confiar mais no ""elo de lã" ou na "coluna de nuvem", porque não se nomalizaram em relação à vontade de Deus
ainda que, por vezes, Ele possa servir-se destas coisas exte- para eles. Nem toda a aflição deve ser contada como açoite.
riores para nos guiar. É Deus que efetua em nós tanto o Quando se trata de açoite, logo a nossa própria consciência
querer como o realizar, segundo a Sua boa vontade. Devemos, nos acusa de, teimosamente, não nos havermos submetido. E
portanto, tomar conhecimento do que é a realidade do Espí- a este respeito não há que duvidar.
rito que habita em nós e o que significa "andar" nEle. . A submissão à mente e à vontade de Deus, é um ato defi-
ll1do que abre as portas ao caminho divinamente apontado, no
Ser guiado pelo E spírito, é ser levado através das mais qual podemos andar intimamente com Cristo e em plena ativi-
puras relações que jamai s o coração pode conceber. O "ca- dade com Ele. Um filho de Deus só pode considerar-se nesse
bresto e o freio" devem dar lugar ao relancear dos olhos (Sal. caminho se, nos limites da sua própria compreensão, tiver a
32:8,9). Nesta altura, Satanás a[k1.recendo como"anjo de luz", consciência de estar sujeito à vontade de Dcus. "Eu não
procurará confundir O entendimento, apresentando as suas imi- vim para fazer a minha vontade, mas a vontade daquele que
tações da direção de De115 da maneira como Deus dirige. Todo me enviou", foi o exemplo de submissão revelado em Cristo.
o crente deve, pois, estar atento a este perigo. Para desviar No Salmo 40:6 está registado a respeito de Cristo que Ele
a vida do crente, Satanás serve- se de uma consciência doentia. dissera a Seu Pai: "As minhas orelhas abriste" (literalmente,
de uma noção errada quanto ao cumprimento do dever, 0\1 de furaste). Isto, sem dúvida, refere-se à lei do criado-escravo,
uma falta de compreensão no que respeita aos c!fsinos exatos que, tendo sido posto em liberdade, se submeteu para sempre
da Palavra de Deus. Todavia, a orien tação de Satanás será ao seu Senhor (~x. 21 :5,6). "E ele morreu por todos, para
imediatamente descoberta visto ela ser nociva, dolorosa c de- que os que vivem não vivam mais para si mesmos, mas para
sagradável. O mesmo já não sucede com a dir~ão do Espí- aquele que por eles morreu e ressuscitou" (lI Cor. 5:15 -
rito, que é suave e satisfaz o coração daquele que está sub- E.R.A.).
misso a Deus. Devemos lembrar-nos de que a vontade de Deus
se chama "boa", "agradável", e "perfeita" (Rom. 12:2) , e que o que é Uma Vida Sacrificial?
quando andamos com Ele, Ele efetua em nós "tanto o querer
como o realizar segundo a sua boa vontade" (Fil . 2 :13). Deus A razão mais nobre para a submissão à vontade de Deus
é Quem opera em nós "o que lhe é agradável" (Heb. 13 :21 ). não é simplesmente desejar vitória na vida, ou poder ou bên~
No lado divino, a entrega da vontade humana é obriga- ção. É muito especialmente poder viver aquela vida de sacri-
tória. O Pai não pode suportar a rebeldia na Sua família, fício que ~ a. vida com Cristo. Sacrifício nâo significa aflição
nem tão pouco pode Ele realizar os Seus benditos desígnios ou dor; e, s!mplesmente, fazer a vontade de Outrem. Pode
na vida de Seu filho, se a S\1a vontade não for abertamente ~parecer t.ribulação pelo caminho; a nota predominante, porém,
reconhecida como a melhor. Há a considerar tlma diferença e a alegna, e, a bênção do coração, é a paz.
entrc o castigo que é p.1.ra correção, o qual pode, muitas vezes, Todo, o filho de Deus deve, pois, submeter-se, tenninan-
ser repetido, e o "açoite" que é dado uma só vez e que lodo temente, a vontade de D eus. Não com respeito a uma só
parte da vida diária apenas em relação a uma questão na vida
94 AQUELE QUE t EsPIRITUAL

diária, Jllas como uma atitude pcrll1~nente .l~ra . com De~s.


Fora disto, não poderá havt':r v erd~delra espmtuah?ade e na?
,;c poderá também escapar ao açOite dado pela mao. do Pai,
porquanto Ele não pode, l,tem pe.rm~tirá, que o Seu filho CO~­
tinllc vivendo sem as precIOsas bençaos que o Seu a?1o~ deseJ,a Capítulo VI
outorgar. O pecado de Satanás contra Deus na pnmeHa glo-
ria, foi uma quíntupla expressão das duas pal,avras pro~oca­ "ANDAI NO ESP fRlTO"
doras "Eu hei de" (ls. 14 :13,14), e toda a vida qU,e nao se
submete a Deus, está perpetuando a violação de Satanas.: Para
Terceira Condição da Verdadeira Espiritualidade
ser espiritual não se deve dizer "não" a Deus - "Nao apa-
gueis o Espírito". A verdadeira espiritualidade depende também de uma ati-
tude positiva de confiança na presença e poder do Espírito que
habita em nós. As duas condições anteriormente mencionadas,
foram de caráter negativo. Representam coisas que o crente,
para ser espiritual, não deve faze r. Não deve entristecer o
Espírito deixando de confessar todo o pecado já conhecido. O
crente não deve apagar o Espirito dizendo "não" a Deus. A
terceira, e última, condição, porém, é de caráter positivo. 11
qualquer coisa que o crente deve fazer para ser espiritual !

o que se Entende por" Andai no Espírito"?

Há várias passagens das Escrituras em que aparece esta


expressão fundamental; mas é em Gál. 5 :16 que ela está mais
diretamente demonstrada. "Digo, porém: Andai no Espírito e
jamais satisfareis à concupiscência da carne". A passagem será
melhor interpretada assim: "Digo, porém, estejais andando por
meio do Espí rito, e jamais satisfareis à concupiscência da carne".
O filho de Deus não tem poder algum em si mesmo, pelo
qual possa estimular, ou manter um andar "no Espírito". Esta
Escritura, quando interpretada com exatidão, mostra que não
está a exigir que um crente, pelo seu próprio esforço, realize
este andar no Espírito". Pelo contrário, revela que o Espí-
rito é que vai andar através do crente. A respons.1.bilidade
humana consiste apenas em depender absolutamente do Espí-
rito. Ser guiado pelo Espírito é, simplesmente, andar com
uma confiança resoluta na capacidade e poder d' Aquele que

95
AQUELE QUE t: ESPIRITUAL
" ANDAI NO EsP!RITQ"

habita em nós. Esta mesma verdade, ainda que apresentada . 0 ..g~Jlero de vida que honra a Deus .
de uma maneira diferente, está exposta, no versículo 18: "Mas, Vida dlarla do crellte o objetivo divino ,e haver. sen.1pre na
se sois guiados pelo Espirito, não estais sob a lei". De forma tudo, nunca é resultado de . A sua reahzaçao, COII-
nenhuma é o crente que guia ou dirige o Espírito; deve, no ainda dos recursos da carne ~1II~a resolu~~o ou luta humana, Oli
entanto, depender do Espírito, c esta é precisamente a sua bate da fé". Entre a " luta '; e por se. comba!er o bom com-
responsabilidade cama esta revelada nesta passagem. pode realizar e a "luta" :>ara para reailzar aquilo que só Deus
A terceira condição de verdadeira espirilualidade é, pois, n'Ble para fazer o que s$ Ele manter uma ~tItude de confiança
ter uma confiança contínua 110 Espirito para fazer aquilo que rença. O filho de D f" pode fazer, ha uma grande dife-
Ele veio fazer e o que somente Ele pode fazer . Esta é a de se empenhar em P:~:/Q1;~:' apenas, C~1ll a responsabilidade
medida de precaução do Pai para que o pecado seja evitado Espírito. E ste deve ser ;- 1.lI1ma atitude de confiança no
na vida de Seus (ilhas. Os resultados da importância desta É. esta a sua tarefa d· . o o Jell.vo. da sua constante atenção.
a
providência divina p.ua evilar o mal, " jamais satisfa reis COIl- . IVlllamente indicada e o seu lugar de co
nos Importantes desígnios de D eus. •
cupiscência da carne", lIltrapassam as nossas possibilidades de
compreensão.
Muitas vezes é o "princípio de dias" na vida de um crente,
quando ele realmente crê e obser va, suficientemente, a Palavra . por-
de Deus, para tornar-se consciente das suas próprias limita- pirito. é a~ SU,d. atitude de confiança no Es-
todas as faculdades, ~~~ti~e;tS:Jrrto l;>O?,: .dominar e vivificar
ções, e quando ele seriamente, cOllsidera a revelação exata
acerca do que ele, por si mesmo, pode ou não fazer, e o que . s e pnvI eglOs humanos.
o Espírito, que nele habita, veio realizar. Nós raras vezes De toda maneIra é a pr'· .d
nos esforçamos por fa zer o trabalho que encarregamos outrem sendo vivida e ele será cient opna VI a do crente que está
de fazer. Normalmente confiamos na pessoa que foi encarre- dades; mas elas receberão e ~nas do uso, ~Ias suas facul-
gada de fazer esse trabalho. Já alguma vez procuramos depen- poderia ser de Outra mane~ er d~ Espmto, COmo não
der em tudo do Espirito? Estaremos nós contando in!"eligen~ rito, não põe de lado as fun I~. A a~o poderosa do Espí-
temente com o E spírito para que Ele resolva aqueles aSSlmtos rito humanos É atravé dçfes normais da alma e do espí-
especiais que, segundo as Escrituras, E le é indicado para re-
Deus. "Se pelo Espírito est.
3
tude da força' que há de ~eal~:~ ue . Ele tran~mite a pleni-
~POIS a bendita vontade de
solver? Acreditaremos nós que, na verdade, somos tão inca-
pazes como nos declara a Sua Palavra? Cremos nós sincera- concupiscência da carne" "F ~I~ nn. a,n~o, jamais satisfareis à
.. . e e a vltorra que vence o mundo"
mente que Ele é suficiente para fazer todas as coisas que nós O .RaclOnalismo está diretamente o .. , .
não podemos e que está esperando que Lhe seja permitido que se lIlsurgem contra o ensino de
que
~~to ~ fc. Ha aqueles
realiza-las ? Tendo nós começado pelo Espírito, tanto quanto Mas essa rebeldia provem do fato d I a sa vaSão só pela fé.
concerne ao plano divino para a salvação, seremos agora aper- a Palavra de Deus ou não c e e es ou nao conhecerem
feiçoados pela carne? Ao encontrar as questõcs sem soluções aqueles que se recusam r e: em nela . . Semelhantemente, há
na vida cristã, estamos vivendo conscienciosamente segundo o inflexível na vida diária d~ ~~:llttar o . enslllo de que a vitória
princípi o das obras, ou segundo o princípio da fé! A Bíblia também é devido ao fato d I e, seJ.a somente pela fé, e isto,
afinna, de uma maneira categórica, que o crente só deve viver Escrituras ou não crerem nef esses taiS .ou não .conhecerem as
segundo o princípio de fé, quando ele, realmente, estiver dentro namente produzida, não se ba~ia A doutnna da .v,da santa, divi-
do plano que Deus traçou para o seu viver diário. Estes ensi- a um dos grandes assuntos senã em um ou do~s textos apenas.
nos simples, encontram-se nas páginas do Livro de Deus e Epístolas pois não ' o o tema maIS extensivo das
, e somente amplament d I ·d
um crente cuidadoso dificilmente os poderá evitar. toda ti. sua grandeza com t b' e esellvo VI o em
, o am em todas as exortações ao
98 AQUELE QUE t EsPIRITUAL
"ANDAI NO EspfRITO"

Cristão são baseadas nos princípios ~a.tos, revelados na


E la é um dos elementos maIs Importantes das p
!Ovi:
t . no que respeita â sua posIção e responsabilidade, são chamados
fi na.
dências . o,
divinas que caracterizam penodo da graça . para viver como "peregrinos e estrangei ros" lia T erra, e COIIIO
testemunhos na terra do inimigo. Os princípios que os gover-
Três Razões pelas Quais se Confia no Esplrito nam podem-se encontrar relatados nos Atos e nas Epistolas
e em porções dos Evangelhos. Estes moldes celestiais não são
A Bíblia ex -e, pelo menos, três notáveis causas quei",l- impostos às pessoas que, no mundo, não estão ainda regene~
pedem a espiritu~dade nos filhos de Deus, ~~~ndo nece~~:~ radas, pois como Ilão receberam o E spirito não estão prepa.
uma confiança implícita e const3;l1te no . ?lrl~Os ~~l::mas ce- radas para poderem viver segundo as regras que são confiadas
m nós ' (1) "O mundo " , ou seja a opoSlçao a ._ aos Cristãos. Não traz vantagem nem meSmo é sensato apli~
. . . ( 2) "A c··ne"
1eestJals' ... . , ou aquilo que dentro
, . do Cnstao
(3) "Sase car os moldes cristãos a pessoas Ilão regeneradas. A lém disso,
- 'Espírito " militando" contra o Espmto; e . d- o pad rão de vida celestial é de carater muito mais elevado do
opo,e ,~o ue roc'ura impedir todos os planos e propósitos e que a lei israelita, assim como os direitos do cidadão celestial
~~~:.• ~assa~emos agora a apresentar a segu,ir mai s, detalha- são mais elevados do que os direitos do cidadão terreno. Da
damente estas três causas, mas em ordem dIferente. lei israelita faziam p..1.rte muitos dos princípios et'emos que pro-
cediam do verdadeiro caráter de Deus. Como tal, estes prin-
Primeira - A Impossfvel Norma Celestial de Vida em Contraste cípios não desaparecem; porém, a maneira e.."ata da sua adap-
com 0$ Padrões do Mundo !ação sofre transformação para (Jue possam ser aplicados à
nova comunhão que o povo escolhido mantém com Deus.
D eus só tem um Livro e esse inclui toda s as pessoas de Assim, o crente já "não está debaixo da lei", apesa r de nove
od as dispensações. NnJe encontramos a Sua vontade e
tla~~s uanto a I srael na época anterior à cruz, e a Sua v~n­ dos mandamentos de Moisés, que fazem parte do Decálogo, con-
~ropósitos
tinuarem a existir e de reaparecerem com- caráter e ênfase
rade e tanto p..1.ra lsrael como para todas as na;;es diferentes ent re as exortações debaixo da graça. T ão pouco
. d ras posteriores P or isso, encontramos, tam m,
!e;~:s vo:a~e e propósitos ·para o povo esO?lhido d~ presente
o crente está "sem lei", pelo fato de pertencer a Cristo. H á,
realmen te, um valor incalculável em conhe<:er tudo o que Deus
d· - O s filhos de I srael foram remIdos e libertos do
~s~ça~~us de~ia g~~ern~: . ~~
tem dito a todas as pessoas de todas as épocas ; mas o Cristão
deu-lhes a lei que os sua deve interessar-se, prinCipalmente, pelo propósito e plano e.xatos
t a ' Estas regras especiais nunca haVIam SI o Irlgl as a que Deus tem para de. O cidadão celestial não encontrará
err . qualquer povo senao
outro "h
_ ao povo de I srael e estas regras,
t 1" para si mesmo uma revelação perfeita da vontade de Deus em
es ialmente dirigida a I srael, apelaya ao ornem na ur~ .
vlgor,_com~ r:~a
qualquer porção das Escrituras que foram anunciadas às pes-
E!: lei, porém , deixou de estar el!l de 6v.'t:: soas de outras épocas, ainda que, na verdade, ele encontre
obrigatória depois da morte de CrIsto (Jo:-o 1.17 'I dom. . lei muita coisa de comum. Não pode haver entendimento claro
II Cor. 3:'1-13 ; Gál. 5:18 ). Está, tambem~ revea a uma do Livro de Deus fora desta diferença.
ue há de overnar Israel quando se reumr. outrn vez e s:
q belecer!a terra que lhe pertence sob '? remado d? seu Re1 Segundo as Escrituras o Cristão está destinado a ser um
~~sias. O reino d'Ele será legal em carater, Oll te.ra o cunho ente sobrenatural e, corno tal, terá de viver sobrenaturalmente.
Isto é racional. Os Cristãos são cidadãos celestiais a parti r
da lei Os princípios desta lei já foram esta b~lec,~ os e pr:-
vistos· pelos profetas do Velho T estamento e, alem d,S~O, ;t~~~ do momento em qlDe são salvos e, por isso, é natural que lhes
ainda citados em passagens do Novo Testam:nto. . _ seja exigido que "andem COmo é digno da vocação Com que
contém também uma regra de viver que se aplica aos c:,dad~~s loram chamados". Eles não podem ser dispensados de tal vida
celestiais da presente dispensação, os quais, ainda que celestlaJs consistente. Não se tomaram cidadãos por meio de uma regra
de vida qualquer, mas eles tomando-se cidadãos pelo poder de
"AN[)Af NO ESP!R1TQ" 101
AQuI::U: QUE f EsPIRITUAL
100
A !lava reg!';! de vida que é apresentada aos filhos de Deus

Deus, convem '1"0... v,"'' a" , scglllHlo a. posição que Deus lhes que estão debaixo da graça é, poi s, impossível do ponto de
concedeu. . _ . r vista humano, e a sua prática deve depender de uma confiança
As pa5~agens seguintes sen'lfao, para Ilustrar °fll~la:Sat~e absoluta no E spírito que habita em nós pma fazer a perfeita
sobrehumano da presente regra de vl<la própria dos vontade de Deus. Um Crist;10, para ser espiritual, tem de
Dens. que estão debaixo da graça: . aoS "andar segundo o Espirito".
"No\'o mandamento vos dou: que vos am,els un,s
• . bé 'os ameis uns Segunda Razão - O Cristão Tem de Enfrentar um Ini migo
outros' assim como eu vos amei, que tam m' ,
't "(J ão 13 "34)' "O meti mandamento e este, que q ue Governa o Mundo
aos QU TOS o ., ." (João 15 '12 )
vos ameis uns aos outros, assim como cu vos amei , , ' ',,' A Biblia representa Sa tanás como sendo o inimigo dos
A lei exigia que o amor fosse dado a outrem como ~ ti mesmo
Amar como Cristo 1105 amou, é infinitamente mais elevado, e santos de Deus e, especialmente, dos deste século. Entre Sa-
tanás e as pessoas que não são crentes, não há controvérsia s,
11Iunanamente impossíyel. pois que elas já fazem pa rte do seu sistema de governo, Essas
"E não entristec;ais o E spírito de Deus", (EC 4.:~~. pessoas não foram ainda libertas dos poderes das trevas e
" ... L evando calivo todo pensamento a ObedlCIlCI3 de tran sportadas p..ra o reino do Filho de Deus. Assim como
Cristo" (TI Cor. 10:5) . P ' em Satan<Í.s é o poder que opera na(llIeles que ainda não crêem
"Dando sempre graças por t~ldo"a nossO ~eus e ai, (Ef. 2 :2), Deus é o poder que opera naqueles que já estão
nome de nosso Senhor Jesus Cnsto (Ef. 5.20). salvos ( Fi!. 2 :13 ) . Todo o ser humano ou está sob o poder
"A fim de proclamardes as virtudes daquele que vos cha- de Satanás, 0 11 sob o poder de D cus. Tsto não qucr dizer que
mou das trevas para a sua mar~vilhosa luz:: (I Ped. 2,:92 i7) os Cristãos não possam ser influenciados por Satanás, que
"Regozijai-vos sempre. Or~I, se~ cessar ( 1 Tess. 5. 1 , " os não salvos não possam ser influenciados pelo Espírito de
" R ogo-vos, pois, eu, o prls]onelro no Senhor, que andeiS Deus ; Illas quer dizer que a posição de cada um está em um
de modo digno da vocação a que. fo.stes chamados, com toda ou outro dom ín io, e o domínio de Satanás não é, em todos os
humildade e mansidão, C0111 longammldade, suportando-vos un s casos, caracterizado por coisas inerentemente vis confor me são
aos outros em amor esforçando-vos diligentemente ~r pre- julgados pelo mundo. O objetivo principal de Satanás é ser
servar a unidade do Espjr ito no vínculo da paz" (Ef. 4 ,1-3 - "semelhante ao Altíssimo" (I s. 14: 14 ), pois ele própr io "se
E.R.A.), . • ' . nnssíveis transforma em anjo de lu z", e os seus ministros "se trans-
Embora estas passagens apresentem eXlgenclas lm,,_ formam em ministros de justiça" (Il Cor. II :13- 15). Os mi-
para os recursos humanos, é evídel\te ql~e Deus espera q~e el~ nistros de Satanás, sendo ministros de justiça, pregam um
",'am realizadas na vida de todos os dias do crente. E e "" evangelho de reforma e de salvação por meio das boas quali-
melhor do que nós, que nunca se n.amos,canazC$ 1""'
de pr"od
/_
uZlr dades humanas, ao invés de a salvação somente pela graça,
qualquer destas q~alid~des . de vid?-; por ISSO mesmo ~le nar~ sem IiCr relacionada com qualquer virtude humana. Logo, o
impõe ex igências IrraC]onals naqU ilo que espera de ~os, ~ mundo com todos os seus padrões morais, e cultura, não está
quanto E le está pronto a providenciar t,~d.o quan.to Ble eXige. absolutamente livre do poder de Satanás e do seu controle
~ precisamente para este fim que o Esp!TIto habita no lcrente. ativo . Certamente que ele, fora da redenção que há em Cristo,
De nós mesmos, nem sequer nos é ped~do que tente~os a cançar procura imitar e promover ritos de religião e excelência huma-
estes padrões. As Epístolas estão CheIas de ga.r~ntl~s d~. ~omo na, e certamente que o mundo está preparado para fazer preci-
samente isso. Ele cega os entendimentos incrédulos, mas isto
• fo cça vinda de Deus por intermédio
,
do Espmto e su IClfente
"D eus e. o queeetua
para realizar tudo o que Deus eXige: boa a respeito de uma só coi sa : eles são cegados por Satanás para
em vós tanto o querer como o realizar, segundo a sua que lhes não respland~a a luz do evangelho ( lI COí, 4 :3,4 ).
vontade",
102 AQUELE QUE t: ES1'IRITUAL "ANDAI NO EsPfRlW" 103

A inimizade de Satanás tem sido sempre e só conlra a Tercei ra Ruio - A N.tureza Adi mica
Pessoa de Deus, e não contra a humanidade. t:: somente quan-
do nós nos tornamos "co-participantes da natureza divina" Há Cristãos que são tão negligentes, que não se interes-
que descobrimos que lemos um novo e poderoso adversário. ~am pela. ~essoa nem pelo trabalho do Espírito Santo, ou pelas
Os ataques dos seus "dardos inflamados" são dirigidos Justas dlslmçóes que detenninam as condições da verdadeira
a Deus que habita em nós. Contudo. o conflito é real e o espiritualidade; mas, estas diferenças e condições apelam àque-
adversário c sobre-humano. Quanto ao mais. sede fortaleci- les que, c?m to?a a sinceridade, desejam ter uma vida que
dos no Senhor e na força do seu poder. Revesti-vos de toda agrade. sahsfatonamente a Deus. Sabemos que Satanás tem
a armadura de Deus, p.'lra poderdes ficar firmes COntra as cila- armadilhas e falsas doutrinas no reino das mais profundas rea-
das do diabo: porque a nossa luta não é contra o sangue e lidades espirituais. A maioria destes falsos ensinos são ba-
a carne, e sim, contra os principados e potestades, contra os seados num mal-entendido ensino da Bíblia a respeito do pe-
dominadores deste mundo tenebroso. contra as forças espiri- cado, especialmente o problema do pecado que está relacio-
tuais do mal, nas regiões celestes" (Ef. 6 :10-12 - E.R.A .) . nado com o crente.
Estes dominadores do mundo tenebroso, as forças espirituais do A ~scritura é " útil para o ensino, para a repreensão, para
mal, dos quais se diz aqui que sustentam um conflito incessante a correçao, para a educação na justiça, a fim de que o homem
contra nós, não podem ser derrotados com estratagemas e forças de Deus sei.a. perfeito (completamente desenvolvido), e perfei-
humanas. A Bíblia não confirma as suposições tolas de que o tamente habilitado para toda boa obra" (II Tim. 3 :16,17); mas
diabo fugirá perante a simples resi stência de uma decidida von- na mesma Epístola somos também incitados a "manejar bem"
tade humana. Temos, sim, de "resistir ao diabo", mas isso só a Palavra da Verdade. Deve-se notar que dois dos quatro
pode ser feito "firmes na fé", e quando nos "sujeitarmos" a valores das Escrituras, na vida do " homem de Deus" como
Deus (Tingo 4:7; I Ped. 5 :9). Satanás, sendo pela criação é citado na passagem acima, são "repreensão" e "co';'eção";
superior a todas as outras criaturas, não pode ser vencido por no entanto, quão poucos, espedalmente daqueles que estão
uma delas. Até mesmo o arcanjo Miguel, como se sabe. "qnall- agarrados ao erro, apresentam um espírito dócil ao ensino.
do contendia com o diabo ... não ousou pronunciar juizo de P~rece que uma das características de todos os enganos satâ-
maldição contra ele, mas disse: O Senhor te repreenda". O niCOS, é que aqueles que abraçaram esses enganos paTeC:em não
arcanjo Miguel não contende com Satanás; ele precisa depender estar, honestamente, inclinados a reconsiderar as suas bases.
do poder de Outro, agindo sobre um principio de fé, e não Apenas lêem as suas próprias revistas ou aquela literatura que
de obras. Certamente que llm Cristão. com todas as suas limi- seduz e, muitas vezes até, evitam, cuidadosamente de ouvir
tações, tem de recorrer ao poder de Deus quando em conflito qualquer ensino corretivo da Palavra de Deus. BSI~ obstáculo
com aquele poderoso advers.i.rio, e lhe é mandado proceder ~u~~t~ quando ~ erro deles os leva a assumi r uma posição
assim: "Embraçando sempre o escudo da fê. com o qual po- 1llJushflcada relatIva a uma suposta libertação do pecado, ou
dereis apagar todos os dardos inflamados do maligno" ( Ef. a realizações pessoais de santidade. Uma "correção", ou "re-
6016). preensão ", para esses, parece ser uma insinuação à "apostasia",
O conflito do crente com Satanás, é tão ,'iolento e con- e nc;nhuma ~soa de espírito zeloso escolheria com gosto tal
tínuo quanto este poderoso ser o possa tornar. Diante dele cammho. MUlto erro está prosperando com estas diretrizes e
é como se nós não rôs~mos nada; mas Deus antecipou-se á ~em nenhum outro dinamismo senão o zelo humano, sendo por
nossa incapacidade, providenciando uma completa vitória por IS,SO que a Palavra de Deu~ é constantemente mal interpretada
intermedio do Espírito que habita em nós: "Porque maior é 50 para sustentar as teoTlas humanas. Muitos destes erros
o que está em vós do que o que estâ no mundo" (1 João 4:4). fi~m reprovados e são corrigidos logo que é reconhecida a
Um Cristão, por causa da força do novo inimigo, deve "andar diferença fu ndamental entre a posição do crente em Cristo.
segundo o Espírito" se ele quiser ser espiritual. e a sua e.rperiência no viver diário. T udo o que Deus tem
AQueLE Qm: t EsPIRIT UAL "ANDAI NO ESP!RITO" 105
104

feito por nós em Cristo, é perfeito e completo ; não se deve quantos estão .s:ndo santificados". ( Heb. 10:14). Isto é c1ara-
confundir, porem, esta perfeição com a imperfeição da vida ment~ a perfelçao da obra de Cnsto por nós e não deve estar
diár ia. relacionada com o viver diário do crente.
Existem cinco doutrinas bíblicas que estão IIltimamente
relacionadas com a questão do pecado no crente, as quais são 3} A matur idade e o entendimen to espirit u,.is
habitualmente mal compreendidas. e as quais, sendo falsificadas,
podem ser usadas pelo inimigo para levar até mesmo os crentes "Entretanto, e."I(pomos sabedoria entre os experimentados "
mai s sinceros de espírito. à mais ilusória presunção e ao erro (adultos,. 1 Cor; 2:6, cf. 14;20). Veja-se também, II Cor.
mais nocivo. Estas doutrinas são: ( I ) A existência no crente 13: 11; FI!. 3:b; 11 Tim. 3:17).
da contínua presença da natureza adãmica, a qual constitui o
tema prescnte; (2) A CUfa divina das conseqüências do pe- 4) A perfeisão que progride
cado n3 "ida espiritual de mn Cristão, o que já foi conside-
rada; (3) O ensino híblico <ju<tnto à. perfei,ão; (4) O ensino
bíblico sobre a santi ficação; e, (5) O ensino bíblico acerca . ".Sois assim insensa.tos que, tendo começado no Espírito,
da morte do crente em Cristo. Para que haja uma compre- estej ais agora vos aperfeiçoando (sendo aperfeiçoados) na car-
ensão maís clara do tema qne se está t ratando, vamos consi- ne?" (Gál. 3:3).
derar em primeiro lugar c, resumidamente, ° ensino bíblico
sobre a perfeição c santificação. Ql1anto ao ensino que trata 5) A perfei s ão e m qualquer coisa espec ial
da morte do crente em Cristo, ocupar-nos-emos dele mais tarde
e no momento mai s apropriado deste estudo . . a ) Na vontade de Deus: " Para que vos conserveis per·
feitos c plenamente convictos em toda a vontade de Deus"
A Doutrina da Perfeição (Col. H2 ).
Na Palavra de Deus. a perfeição ê apresentada sob sete. " b) Na imita~ão de um aspecto da bondade de Deus:
aspectos: P orta,:lto, sede vos perfeitos, como perfeito ê o vosso Pa i
~ I ~te. (Mat ..S:4~). O contexto e a respeito do amor do
1) O uso delt,. palavra no Velho Testamento a plicada ai pelos Seus Illlmlgos e a exortação e para que este aspe t
a p&5soas. da bondade do Pai seja imitado. co
A palavra, no Velho Testamento, significa " sincero" c c) ·No serviço: "O Deus de paz vos aperfeiçoe em todo
bem " (Heb. 13,21).
"reto". Noé era "reto" (Gên. 6:9) ; jó era "sincero" (Jó
1 :1,8); evitando os pecados que as outras nações praticavam, <I) Na paciência: ."Ora a perseverança deve ter ação
Israel podia ser "perfeito" (Deut. 18:13); o Í11turo do homem c?mpleta, ~ra que seJa1S perfeitos e íntegros, em nada defi-
"sincero" era a paz (Sal. 37 :37). Por isso, também, os santos cientes (Tlago 1 :4 ).
segundo a ordenança do Velho Testamento, estarão inscritos
no Ceu como "os espíritos do~ justOs aperfeiçoados" ( Heb. 6) O aperfeiçoamento final do individuo no Céu
12 :23). Contudo, a Biblia não indica que esta s pessoas eram
sem pecado. . "O qual nós anunciamos, advertindo a todo homem e
ensmando a todo homem em toda a sabedoria, a fim de que
2) A perfeição da posição em Cr isto apresentemos. todo homem perfeito em Cristo" (Col. 1 :28, cf.
"Porque com uma única oferta aperfeiçoou para sempre Col. 1 :22; FI!. 3:12; I Ped. 5 :10; I Tess. 3:13) .
106 AQUELE QUE t EsPI RITUAL "ANDAI NO EsP!RITO" 107

f) A perfeiçio fin al do corpo coletivo dos crent.. Primein - A Santificação Quanto . Posição do Crente
no C'u
"Mas vós sois dele, em Cristo Jesus, o qual se nos tomou
"Até que todos cheguemos à unidade. da fé e . ~o plen?
conhecimento do Filho de Deus, à perfeita varonthd3~e, a da parte de Deus . . . santificação" ( I Cor. 1 :30), "Nessa VOll-
medida da estatura da plenitude de Cristo" (Ef. 4:13. Veja-se. tade ê que temos sido santificados, mediante a oferta do corpo
de Jesus Cristo, uma vez por todas" ( Heb. 10:10). Da mesma
também, 5:27; João 17:23; Jud. 24; Apoc. 14:5) . maneira também, o Apóstolo se dirige a todos os crentes como
A palavra "perfeição" tal como se encontra no Novo
"santos", e nas Escritl1ras faz-se referência aos " santos pro-
T estamento, é unta tradução ou de lima ou de outra ~l,a~ras
fetas", "irm5.os santos", "sacerdotes santos", "mulheres san-
gregas que significam - uma "maduro" e - outra. aJus-
tado", ~ evidente que nenhuma destas palavr~s. cons~d.erada tas", a "nação santa". Dirigia-se. ainda o Apóstolo, aos cren-
tes de Corinto chamados " santos" sendo já "santificados" (I
etimologicamente. tem qualquer relaçã~ CO~l Impecablhdade.
Estes fatos deviam ser observados mais cUld~dosamente por Cor. 1:2; 6: 11) ; no entanto, esta mesma carta foi escrita para
repreender aqueles Cristãos que cometiam pecados tremendos
aqueles que têm tentado formular uma dOul fll!a ~,egI1l1~O.?
uso um tanto já desvirtuado, da pnlavra portuguesa perfeito. (I Cor. 5: 1,2; 6: 1,7,8). Eles eram "santos" e "5..'l.ntificados"
:11 precisamente nesta altura, que nós, talvez, possamos chegar em Cristo, mas estavam, ainda, longe de serem assim na con-
duta diária.
à eonclusão que as Escrituras são pa~a nós u!ua palavra ?e
"repreensão" ou "correção". Na realidade, ha uma perfeita
libertação para cada filho de Deus, a qual. é realizada pelo Segunda - Santifi cação Baseada na Experiência
Espírito, mas este fato não deve ser confundido c~m qua!quet Esta pe rspectiva do plano de Deus p..'l.ra o crente é pro-
uso da palavra "perfeito", especialmente quando a tncapacldade gressiva em alguns dos seus aspectos, e está em absoluto con-
para pecar está subentendida pelo liSO desst1 palavra. traste com a santifica~ão da posição do crente que foi "feita
A Doutrina d. Santificação uma vez". Ela é realizada pelo poder de Deus atra,·ês do Es-
pírito e da Palavra:
Além disso a doutrina não deve ser criada para exceder "Santifica-os na verdade; a tua p..'l.lavra é a verdade" (João
aquela que é atualmente expressa pel? uso bíblico d~ ~avra 17:17. Veja-se, também, II Cor. 3:18; Ef. 5:25 ,26; T Tess.
"santificar". P ara descobrIr o perfeito alcance e Slgtl1flcado 523; 11 Ped. 3018).
desta palavra, é necessário incluir todas as passagens do Velho A santificação b.'l.seada na expenencla, relaciona-se a
e Novo Testamentos em que ela é usada, e acrescentar, tam- "árias condições:
bém a estas todas as passagens nas quais as palavras "santo li 1) Referente à submissão a Deus.
e "~grado'" são usadas, visto que estas três pala,:ras são tra- Apresentando o seu corpo em sacrificio vivo, o filho de
duções da mesma palavra original, tanto do HebralCo como do Deus fica, por esse meio, separado para Deus, e, por isso, san-
tificado segundo a experiência. A apresentação pode ser abso-
Grego. . ..
O slgmflcado . ..
pnmltlvo d e " s;3n,·C·
J, Ica.r, o e ,,~ ..
"" san ," ;,0.- luta e, então, não admite a evolução progressiva, mas, se ê
grado", é de que uma pessoa ou cOisa ~ dita como sendo sepa- parcial, requer um desenvolvimento mais prolongado. Em
rada, ou classificada; geralmente' como que pertencendo a peus. ambos os casos, a santificação é experimental.
Ainda que estas palavras e a verdade que elas expl'lmem, 2) Referente ao pecado.
se encontrem através de toda a Bíblia, este estudo refere-se O filho de Deus, pode de tal maneira cumprir todas as
somente àquele aspecto do ensino que se. aplica ao .f!lho de condições para a verdadeira espiritualidade que experimentará
Deus que está debaixo da gra~a: E po~. lSt~ se venflca que todas as liberta~ões e vitórias que lhe são providenciadas para
os crentes são objeto de uma tnpla sant1flea~ao: viver sobre o poder do pecado, ou, por outro lado, pode apt-
108 AQU ELE QUI:!: Ê ESPIRITUAL
"ANDA I NO ESP!RITO" l&J

ri01elltar apenas, uma libertação parcial. Em qualquer caso,


ele é sepa rado c experimentalmente santificado. de se emregar ao poder divino ]:h1.ra que possa ser liberto do
3) Referente ao crescimento cristão. poder do pecado, da mesma mancira como c1e já se ent regou
E ste aspecto da santificação pela experiência é, em todos aquele po!ler de Deus quc ~ libert,?11 da cOlldelloção do pecado.
os casos, progressivo. De modo nenhum, deve ele ser confun- A sal,vaçao tanto para a Ilbcrtaçao, quanto para a santidade,
dido com submissão incompleta a Deus ou vitória imperfeita tudo e oh.Ta de Deus dC11tro e o· favor daquele que confia !l'Ele.
Admite-se, ger~lmente, o fa,to de que, o incrédulo poSsuI
sobre o pecado. O seu significado é, que o conhecimento da
verdade, a devoção e a experiência estão naturalmente sujeitos
ao desenvolvimen to. Pela eficácia do seu desenvolviment o pre-
lima natureza decalda. ° eqmvoco, poren"!, é para com o
c~ellte .. NO ensino da Bíblia é claro, mas, no entanto, ainda
sente, como Cristãos, os crentes ficam, experimentalmente, se- ha Cn ~!aos profes sos qlle, erradamcnte, presumem terem dei-
parados para Deus. Esse desenvolvimelllo deve ser aumen- xado Ja dc pos~ui r .a tendência para. pecar.1 Esta questão
tado a cada dia que passa. E assim, mais uma vez, o Cristão tanto pode ser discutida do ponto de vista experimental, como
f~ca sujeito a uma santificação experimental a qual é progres-
do ponto dc vista da Bíblia.
sIVa. Ten.do. como base a expcricncia, vcrifica-se que os mais
santos filhos de Deus têm mostrado estarem cônscios da pre-
Terce ira - A Santificação Final sença e do ~er. de uma natureza deca ída. Isto se pode cha-
mar de conSCICIICla normal do crente sillcero. Tal consciência
Também a san tificação pela experiência só será perfeita c~n~l do, não quer dizer falta de maturidade: antes, é a evi~
quando os santos se reun irem na Sua presença em glória. de!lCIa de ~ma v:rda.deir~ humildade e visão clara do seu pró-
"Quando cle se manifestar, seremos semelhantes a ele", e "con- ~flO coraçao. Nao Impltca falta de comunhão com Deus oca-
for mes à imagem de seu Filho" (I João 3:2; Rom. 8:29). SIOnada pela of~tlsa ao Espírito Santo através do pccado. Quem
O ensino bíblico com respeito ir. santificação é, pois, ( 1) pode odiar maiS o pecado, senão aquele que .tem a cOllsciêncio
que todos os crentes sâo santifiCados por causa da sua posi- da sua presença e do SCl.1 poder.? E quem corre o maior perigo
rão em Cristo " feita uma vez" no momento em que são salvos. dos seu~ e~t~a~s. na Vida espmtual, senão aquele que numa
Esta santificação é t ão perfeita como Ele é perfeito. (2) presunçao. mJustl~lcada tem sup~st? que a inclinação para o
Todos os crentes vão sendo santificados pelo poder de Deus p~cad:, fOI destnuda? A controverSla de que ninguém tem in-
através da Palavra e esta santificação é tão perfeita quão per- chnaçao I~ara o pecado, deve ser baseada numa horr ível falta
feito for o crente. Por isso. também. (3) todos os c rentes ?e conhecimento ~e si próprio, no que respeita à força e aos
serão santificados e perfeitos em glória na própria imagem do Impulsos do cNoraçao. ou en~ão. tal. suposição é feita pela falta
Filho de Deus. A Bíblia, portanto, não ensina que qualquer de c.om'p~een sao do verdadeiro cara ter do próprio pecado. Se
fi lho de Deus, fica completamente santificado na vida diária ~lm .lIldlvlduo se pode convencer a si próprio de que o pecado
antes daquela consumação final de todas as coisas. e (!If~rer~te de qualquer, co/;sa que elc costuma fazer, ou que
esta IIlchnado a faze r ; e alem do que cle pense, sinta ou em-
A Doulrin. d.. N.. lurez. Adi mic. preenda, cle po~e,. realment~, convencer-se que nunca pecou.
Se" pelo seu propTlo entend imento, alguém pode modificar °
A terceira e última razão a ser mencionada sobre porque carater do ~ado, com certeza esse tal pode, por esse pro-
o crente dcve, conscienciosamente, confiar no Espírito, como cesso, tornar Isenta de culpa a sua COllSciêllcia.. E não são
já foi citado, é que ele ainda possui a natureza adâmica 'Sobre poucos os que pensam assim hoje no mundo. A verdade não
a qual, ele só por si, não tem domínio suficiente. O Cristão pode prevalecer quando baseada em experiências humanas. Ela
é liberto e salvo pela graça de Deus; mas ele sozinho não tem que ser baseada na revelação,
pode conduzir-se num viver que honre a Deus. P or isso tem
l Veja·se a pAgo 139.
llO AQUELE QUE ~ ESPIRITUAL "ANDAI NO EsptRITO" III

o pecado l1:l0 é aquilo que qualquer pessoa preconceituosa s~ltado o ~l~SSO regresso a um estado de queda. Onde esta·
e desviada afirma ser: pecadu é aquilo que Deus revefol~ que namos _espiritualmente, depois de ter pecado, se a experiência
é. O pecado tem sido bem definido, de um estudo de toda a de Adao é de algum valor como evidência no presente caso?
Palavra de Deus, como sendo "qualquer violação da vontade Para melhor compreensão do ensino bíblico quanto ao
revelada de Deus, Oll falta de submi ssão a essa \'ontade", n ~ssunto do pecado no Cristão, vão ser definidas três palavras
" errar o alvo", Mas que alvo? Certamente o alvo divino. Importantes:
Temos nós feito toda e so m ellft a Sua vontade com idéias tão
puras como o Céu e com a fidelidade imutá.vel do Infinito? Deus "Carne " (Grego - sarx).
preparou uma vitória perfeita; mas todos nós falhamos, muitas A palavra, no seu uso geral, refere-se ao corpo fí sico.
vezes, na sua realização. Se possu irmos qualquer grau de co- No entanto, ela tem também um significado moral ou ético
nhecimento de Deus, e de nós próprios, concluiremos que, aos sendo deste último aspecto que nos vamos ocupar.' '
olhos de Deus, nós estamos muitas e muitas vezes longe da . O vocábulo "carne", quando usado na Bíblia com signi-
isenção do pecado. Ter a noção da iniqüidade, tem sido, por fIcado ~ora l , qu.er d!zer muito mais do que corpo físico; no
vezes, o testemunho dos crentes mais espirituais de todas as seu s~t.ldo ele mclUl a totalidade da pessoa não regenerada,
gerações, porque lhes foi e tem sido impossível ver a Pessoa - esplrlto, alma e corpo. Inclui o corpo, mas também indui
de Deus. Já, o reto de coração, abominava-se a ele próprio o espírito e a alma humanos que dão vida ao corpo. Um
diante de Deus. Daniel, contra quem não foi achada culpa, corpo fí sico é "carne" quer esteja morto ou vivo. Mas o uso
disse: "A minha alegria se me tornou em abominação". moral d'.l palavra quer dizer que está viva e inclui aquilo que
Ao considerar-se a revelação bíblica no que se refere aos a faz v~~ente e 39uilo que ela própria expressa através do
pecados dos Cristãos, duas perguntas podem ser feitas com corpo fISICO. Os Impulsos e desejos da vida são chamados
certa razão: (1) " Onde tem a sua origem, o pecado que existe "c<:,ncup~sc~ncias d~ ~r ~e". "Andai no I2spírito, e jamais
s~tlsfarels a concupJscencla da. carne" (Gil 5: 16. Veja-se, tam·
nos filhos de Deus?" e, (2) "Qual e o remédio divino?" A
Palavra de Deus é rica em respostas para estas perguntas. bém, Ef. 2:3; I~ I:'ed. 2:18; I João 2:16; Rom. 13:14). Que
~ ~so que a Blbha ~az da palavra "concupiscência" não se
1 _ Onde Tem a Sua Origem o Pecado que Existe num hmlt~ apenas aos desejOS desordenados, é evidenciado pelo fata
Cristão? de dizer-se que o Espírito Santo "milita contra a carne" con-
fo.rme o versículo seguin~e deste contexto (veja-se, ta~bém,
O pecado é o fruto de uma natureza caída. Isto foi sem- Tt<lgo 4:5),! Mas: as Escnt~r~ ~mla são mais explicitas no que
pre assim com a exceção do primeiro pecado o qual resultou se refere a amplitude do slgt1lÍ1cado desta palavra. E assim
na queda. Nós pecamos por causa da natureza caída que rece- elas aludem à "sabedoria humana" (lI Cor. 1:12); "tábuas
bemos de Adão, e das gf'raçõts inumeráveis dos antepassados de carne, nos corações" (lI Cor. 3:3); "mente carnal" (Cal.
pecadores. E isto tanto se dá com os que não são regene- 2:18, cf. Rom. 8:6). O Apóstolo não diz que, tanto o seu
rados como os que o são. Todavia, alguns insistem que o corpo como a sua natureza, são "carnais"; ele diz, "E" sou
Cristão que se supõe ter sido liberto da natureza do pecado, carnal" (Rom. 7:14), e, "em mim (isto ê na minha carne)
ainda pode continuar a pecar da mesma maneira que Adão não ~abita bem nenhum" (Rom. 7:18). ,,'Carne", quer dize;
pecou, _ devido à natureza CJue não caiu. Ora, Adão só p.ropnamente o etl. O eu não regenerado está, no íntimo de
pecou uma vez com a. natureza pt'rfeita e ninguém mais, desde ~1 . mesmo, desesperadamente mal e condenado; mas, está su-
então até agora, pecou à semelhança de Adão. Pudéssemos )CJto. ao J?Oderoso novo nascimento e à última transforma~ão
nós estar, atualmente, nas .mesmas circunstâncias que os nossos prOVidenCiados pela graça e poder de Deus.
primeiros pais, não poderíamos pecar e ainda conservar aquela A~ .t odo deste "homem natural" é dada uma nova natu-
posição. O primeiro pecado que cometê~semos teria como re- reza dlvllla quando ele é salvo. A salvação é mais do que uma
"ANOA.I NO EspIRITO" llJ
AQUELE QUE t.: EsPIRITUAL
112
libertação. Assegurado esse juízo, o caminho fica aberto para
-" É mais do que lima transformaçâo a vitória maravilhosa através do Espirito.
"mudança de coraçao . . ~ d 1
da uilo que é velho: é uma regeneração, ou ~naça? e qua · Na segunda passagem, na qual se usa a expressão "velho
u~r coisa completamente nova que. se poSSUI conJuntamen~ homem", o fato do velho homem ter sido já crucificado com
~om a velha naltlreza, enql1anto eSllVer!110S neste cor~~nali _ Cristo, é motivo para um apelo: "no sentido de que, quanto
presença de duas naturezas ?postas (I~ao d:. dll~~r~ milita ao trato passado, vos despojeis do velho homem, que se cor~
dades) num indivíduo. ocasIOna conflito. A ~ rompe segundo as concupiscências do engano e vos removeis
contra o E spírito, e o Espírito C01~tra a carne; POd rque 'ds~o no espírito do vosso entendimento, e vos revistais do novo
opostos entre SI. o . • "(Gál 5'17) . Nao se pretende
•.. •
ar •a I ela homem, criado segundo Deus, em justiça e retidão procedentes
de (ile esta sujeição divina sobre a carne, seja semp ~e lmpres~ da verdade" (Ef. 4:22~24 - E.R.A.).
o dI I d ,r"'nte o tempo que estivermos no corpo; naO obstan- Na terceira passagem, a situação sugere, outra vez, a expe-
cm 1\'e B'bl' I '" I
h' m testemunho bem c aro e c
d amo o crente _ ricncia correspondente. "Não mintai s uns aos out ros, uma
te, na I la a li "d ESI)írito" c "nao vez que vos despistes do velho homem com os seus feitos, e
pode experimentar um constante an ar no . d
. à concu iscéncia da carne". E para conseg\ur tu o vos revestistes do novo hO~m que se refaz para o pleno co-
~~~~\P~ll~O se pron;ete eliminar a "carne". ~,e.spí rito hun,~~~~~ nhecimento, segundo a imagem daquele que o criou" (Co\.
a aíma e o corpo tem que permanecer e a vlto.na sobre .a 3 :9,10). Quanto à pO$1',ào, o "velho homem " foi despojado
ne "oe gan ha p-Io '- poder do Espírito
~
que habita em nos. para sempre. Segundo a experiência, o "velho homem" per·
"Velho Homem" (Grego - palaios antbropos). manece como uma força ativa na vida, a qual pode ser con-
Este termo é usado só trCS vezes ,no Novo T~~ament? trolada somente pelo poder de Deus. Mas nós só nos apro-
Uma vez refere- se à posiçãd presente do . velho hQt11em atraves veitaremos dessa eficácia divina, quando renunciarmos intei·
da mort~ de Cristo (Rom. 6:6). Nas out:;s duas pass~~en~ ramente ao pensamento de compromisso ou ~e tolerância para
(Ef 4,22-24' Col. 3:3,9) o fato de que o velho homem f01 com o fru to da velha natureza e, pela fé, aplicamos o antídoto
desPoj~do pa'ra sempre, const itui a base de um chamamento do Espírito o qual foi divinamente providenciado para a vitó~
ria. O resultado de tal "adaptação" e "mortificação dos nossos
para uma vida santa. . T d membros", é abrir caminho para que o Espírito possa opera r,
. m 6 ·6 Ic-se : "Sabendo isto, que fOI . CruCI ~ca .0
Em Ro. . Ih homem" Não se faz aqUI refercncla na vida , as manifestações do "novo homem", Cristo Jesus. l
com ele o 110550 ve o
.
"
. . ' do Cristão' antes e uma co-trUCI Icaça
'r -o
o

Nâo podemos julgar o "velho homem". Isso já fez Cristo


alguma a ex.pe·nencra. ., 1 Ele foi por nós. Tão pouco podemos controlar o "velho homem". Isso
"com ele" e, evidentemente, na época e ugar e'rn q~~tamente fará o Espírito por nós. "Revest i~vos do Senhor Jesus Cristo,
crucificado 1 No contexto, esta passagem vem .lC. ri e nada disponhais para a carne, no tocante às suas cOllcupis ~
. . I t que se refere à nossa Iransferencla d? P .
a s.egUlr aI? re a ~ o úitimo Adão na primazia da sociedade cências" (Rom. 13:14). O fruto do "velho homem" e o do
melro A(ao par . w I tO pe'petuado "novo homem", lembremo·nos disto, estão postos, claramente,
(Ro m 5 · 12.21)
..·
O primeiro Adao ta como es a
T ~ d C' to O nosso "vclfio em contraste em Gál. 5 : 1 9~23: "Ora, as obras da cante são
em nós. {oi julgado na crucl ~caçao e f1S. d Adão' foi conhecidas, e são: prostituição, impureza, lascívia, idolatria,
homem" aquela natureza calda que recebemos e . ' feitiçarias, inimizades, porfias, ciúmes, iras, discórdias, dissen·
" oro' do com ele" Esta co~crt1cificação, como adiante se
crucl Ica ... . f I do porque torn:l. sões, facções, invejas, bebedices, glutonarias, e coisas semelhan-
, ' de maior importâncIa, dlV1llamente a an , " tes a estas ... Mas o fruto do Espírito é: amor, alegria, paz,
vera, e . I'b - do poder do " velho homem.
possível uma verdadeira I ertaçao .. ., ltes longânimidade, benignidade. bondade, fidelidade, mansidão, do-
Contra a natureza pecadora deve eJostIr l~m reto JUIZO ai mínio próprio".
que qualquer trabalho dívino seja empreendIdo a favor da nossa
1 Veja·se a pAg. 40.
1 Veja-se as págs. 119 -128.
AQUELE QUE J!: EsPIRITUAL "ANDAI NO ESP!RITO" 115
114

Não há fundamento bíblico algum que fa,~a d~eren5a e~:~ natureza divina que é a vida eterna. Aquilo que era, nasce
adâmica e a "natureza hwna.na. s "Iao 't' de novo e p.'\ssa a ser uma nova criatura em Cristo Jesus,
a natureza nquanto que os sa vos em embora fique como a mesma personalidade que nasceu de de-
nerados só têm uma natureza, e .d em de Adão e
d 5 A penas há uma natureza cal a, que v • terminados pais segundo a carne. Ainda que nascido de Deus
uaa · única natureza nova que vem de Deus.. ., foi e possuindo uma nova natureza divina, a fraqueza da carne I:
um O "velho homem", pois, é a natureza adamlca q.u~ Ja t" as inclinações da natureza pe<:amillosa, continuam a habitar
. ustificada com a morte ~e Cristo. Contudo,. ela am a n~:s:. nele até à transformação final do terreno para o celestial .
~onosco como um princípIo atlv<! das, ~:: d~a~re u~ con- ,Na carta de I J oão 1 :8,10, encontramos uma clara adver-
vItÓria experinumtaJ, s?~re ela, 50 ~ra ~'O " velho tência contra toda e qualquer presunção sobre pecado, Pri.
fiança absoluta no Espmto que habita dentro e nos__ todo" meiro, OS Cristãos são repreendidos por dizerem que não têm
homem" é, portanto, só uma pane da carne mas nao o , natureza pecaminosa: "Se dissermos que não temos pecado
«Pecado" (Grego - hamartia). nenhum, a nós mesmos nos enganamos, e a verdade não estâ
em nós". Isto refere-se claramente à natureza pecadora do
A terceira palavra da Bíblia relacionada com a fonte do
. D ' " do" Em algumas por- Cristão e não tem aplicação alguma aos que não são salvos.
malquehánosfllhosd~ eus,~ peca . R 6'1 38:13
- das Escrituras mUlto especlahnente em om" d ' n dirigido apenas aos crentes, mas a todos os crentes. Não
C;oes _ 1'1 2'2' há uma importante diferença entre os ~IS adianta pensar que a passagem refere-se a determinado desven-
e I ) 000 '1 a ;,' do" Os dois significados, tornar~se-ao turado, a algum ignorante ou até a certa classe de Cristãos não
usos da pa avra peca, lavra se refere algumas consagrados. Aqui não se trata de distinção de classes. 13. o
claros se nos lembrarmos de que a pa , mald~e resul~ testemunho do Espírito de Deus com referência a toda a pes-
vezes,' à natu reza adâmica, e, outras vezes, t:reza é a origem
soa que nasceu de novo. Dizer alguém que nele não há natu-
tante dessa natureza. Peca4o, cJm~ uma ,na e dã o seu pró~ reza pecadora, signi fica que essa pessoa se etlgalla a si mesma
do pecado que se comete. P~ca, °a em: r:;d~~. Pecado quer e que nela não há verdade. Esta passagem tem, evidente-
prio fruto no pecado, o qu e d - o suas mente, a intenção de "corrigir" aqueles Cristãos que clamam
d' er o "velho homem", enquanto que os peca os sa
IZ , _ 'da Pecado é aquilo que somos por nascl~ estarem libertos da natureza pecaminosa e os quais se têm a rro-
mamfestaçoes na VI. d - maldades que fa.=etnos gado o direito de crer que eles estão realmente livres. Uma
mento, ao passo que peca os 530 as
mente feita em si própria, nem sempre correspollde à mente
durante a vida. "carne" de Deus.
H á abundantes provas bíblicas do fato de que a ai _'
.. "cado" são as fontes do m , e sao Na mesma passagem, os Cristãos são também repreendidos
o "velho homem.' ou pe 'durante o tempo em que eles por dizerem que os seus pecados não são fruto da velha na-
patrimônios dos filhos de Deus le é um "tesouro"
permanecem neste corpo terreno. " Para e habitar nele; tureza: "Se dissermos que não temos cometido pecado, faze-
mo-lo mentiroso, e a sua palavra não está em nós" ( I Jooo
sagrado a p:>Sse do "novo home~ ~U~~~~o! O vaso de
mas ele tem este tesouro num vas . hum' ilhação" (lI 1 :10). Nada poderia ~r mais explícito, É provável havet
_ .e ma,', que o "corpo da nossa
ba r ro, nao Cr istãos que tenham sido ensinados a dizer que não pecaram:
mas para isto acharão eles também uma palavra de "repre-
COf. 4:7; Fi!. 3. :2 l). o Eu _ conserva a mesma indivi·
A persona1I d ad e - bo ensão", se enfrentarem o Espírito de Deus. E assim, uma vez
dualidade atravé~ de todas as oper~ç~~s td:n~::~ç~~ er~;~
mais, isto não diz respeito somente a determinada classe de
perimente o maior progresso .posslve , ~ " si ões e Cristãos não consagrados: diz respeito a todos os Cristãos,
neração da sua c?ndição perdida emC~:o, aXq~o POqu~ era, Estar em desacordo com o claro ensino desta importante pas-
domínios como filho de ~~us em f i . 'd da dova sagem corretiva, é fazê-lO "mentiroso" e tornar conhecido o
se diz ser perdoado, justificado, salvo, e poSSUi or fato de que "a sua palavra não está em nós",
AQUELE QUE t ESPIRITUAL "AND.I NO EsrIRITO" 117

Logo, o pecado tem a Stla ori.g~m somente I.la natureza pe- a lei de Deus segundo o homem interior", que sofreu a expe-
cadora e não na nova natureza dlvma . Esta Importante ver· ri~ncia deste bem profundo conflito. Do mesmo modo, tam-
dade ~ apontada nesta mesma EpistGla. n~m~, p:ssagem. que bém, se tem reclamado, algumas vezes, dizendo que esta pas-
não só ensina, primeiramente, que o Cfl stao Ja nao. ~ralica o sagem se refere somente a Paulo como um judeu que estava
pecado como fazia antes de receber a !lava natureza dIV.l1la: ma~ debaixo da lei de :r.,'loi sés e, portanto, não podia aplicar-se a
que ensina também que o pecad~, não pode ser at~lbU\do: a qualquer gentio, "isto que a lei de Moisés não era destinada
natureza divina como sua causa. Todo aque~e que e naSCido aos gentios. Sim, realmente, é verdade que a lei não foi dada
de Deus não vive na prática de pecado ; POiS o que perma- aos geutios. a propósito principal desta passagem não é fazer
nece nele é a divina semente [natureza} ora, esse [refenndo-se realçar uma característica especial de um judeu debaixo da lei:
em especial à "semente"} não pode vi,'er pecando, porque (a representa. simplesmente um santo enfrentando a impossibili-
"semente"] é nascido de Deus" .(3:9, literal). ~ eVidente que dade de viver conforme a vontade revelada de Deus, não sim-
a nova natureza é aquela que fOI gerada de Deus, e .por. ?,"u~a plesmente por catlsa da fraqueza humana, mas por causa de
da presença desta natureza, aquele em quem ~la habita Ja nao um princípio energicamente oposto da "carne". Se, nesta pas-
comete pttado da mesma maneira como faZia .antes de ser sagem, se faz referência exclusivamente à lei de Moisés, assim
salvo, nem tâo pouco pode o pecado ser prQ~Il::JdQ. pela nova parece que essa referência não é feita senão como uma ilustração
natureza que vem de DeuS, A passagem nao e n sl~a _que ~ de uma declaração clara do pensamento e da vontade de Deus.
Cristãos não pecam, GU até mesmo. que al!lJl~s Cnstaos nao a ~Ilsamellto e 3 vontade de Deus para o crente, que está
pecam pois que se não tem em vista deternunada classe de debaiXO da graça , como já foi observado, são muito mais im-
Crjstã~s, mas o que aqui se diz é a verdade sobre todos os possíveis para a força humana do que a lei de Moisés. Muito
que têm sido "gerados de Deus". mais "miseráveis " somos nós considerados quando empreende-
Além disso, as Escrituras ensinam que, desde que há duas mos o nosso conflito presente pelo "poder da carne". A "lei"
naturezas no crente, um conflito se trava entre a, nova natu- de Deus, mesmo como está mencionada no Novo Testamento
reza, através no E'S pírito, e a velha nature~a atr.aves .da ,carne. às vezes, representa mais a Sua vontade revelada p..'\ra o Se~
"Digo, porém: Annai no Espírito, e jama.l~ satlsfarel s a co~ ' povo, do qu:, propriamente, a "lei de Moisés". Evidentemente,
que o con fhto de que se {ala nesta passagem, é mais sobre
cupiscência na carne. Porque a carne ml!lta contra o Es~~
o "mal " e o "bem", do que sobre a lei de Moisés. Se o capí-
rito, e o Espírito contra a carne; p?:que s~o o~tos entre SI,
tu lo 7 de Romanos não diz respeito aos crentes que estão
para que l quando andardes em Espltlto] l1ao faC;aI~ o que por-
ventura seja [caso contrário] do vosso querer (Gal. 5:16,17). debaixo da graça, também o capítulo oito o não diz; pois que
Um outro aspecto nesta verdade está largamente tratado em ao passar de um para outro capítulo, não há qualquer inter·
ru~ão n~ desenvolvimento da. doutrina. O,tI da sua aplicação.l
Rom. 7: 15 a 8:4. Nesta passagem pode observar-se ~I,ue ,?
MaiS atras, no contexto, a ICI de MOlses foi posta à parte
velho "Eu" está em constante oposição com o novo Eu.
(6:14; 7:1-6), e a nova lei de Cristo (I Cor. 9:21; Cá\. 5:2 ;
Por vezes já se têm dado o direito a esta passagem, de
se referir ela a certa experiência da vida do Apóstolo antes de 1 Para. relutar esta alegação tem sido apontado haver uma erise
ele ter sido salvo. Mas isto leva-nos a graves problemas. De especial que é Indicada pelas palavras do capo 7:25, "Graças a
maneira nenhuma tal conflito pode estar biblicamente relacio- Deus por Jesus Cristo nosso Senhor". Contudo estas não são
nado com a vida de Saulo de Tarso, nem com qualquer outro palavras de agradecimento pela salvatão: é um louvor pela liber-
homem não regenerado. Saulo de Tarso, n~o e.ra um. "homem tação do poder reinante do pecado. E de lato, era llbertal;ão
para aquele Que podia dizer: "Assim que eu mesmo CQm o
miserável"· ele era um fariseu que se satisfazia a SI mesmo, entend~~ento sirvo à lei de Deus, mas com a carne à lei do
vivendo "~m toda a boa consciência" e "segundo a lei, in- pecado. Isto dUJcilmente poderia descrever a experiência de um
culpável". Foi só quando ele com~ou a "regozijar-se com homem não regenerado.
AQUELE QUE r; ESPIRITUAL "AND.ü NO EsJ>JRlTO" 119

João 15:10) , a "vida em J esus ,C:risto" (8:2), ou aquela que A resposta para esta importante pergunta e para este grito
é produzida tlQ crente pelo EspJr1to (8:4), passaram a estar de angústia com o qual a passagem acima tennina, é dada.
em evidência. .' E ' 't no versículo seguinte (8:2). "Porque a lei do Espírito de vida,
Nesta. passagem, nem sequer se faz ~eferencla ao ~p~n o, em Cristo Jesus me livrou da lei do pecado e da morte". Isto
rova portanto não ser um conflito entre o Espmto e é mais do que uma libertação da lei de Moisés: é a libertação
o que P , , "E "eovelho
a "carne": antes, é um conflito entre o novo u imediata do pecado [o velho eu ] e da morte [suas conseqüên-
"E, u "É
. o n o vo "Eu" - o homem , regenerado
. ' - separado,tendo cias]. Veja-se Rom. 6:23. O resultado desta libertação está
por enquanto, do poder eficaz do Esplrlto, e ~Isto c?,mo _ indicado pela santidade que se regista no capítulo oitavo, como
que enfrentar toda a lei de Deus (v. 16), a carne que nao que em contraste com a miséria descrita no capítulo sétimo.
muda. (v. 18), e as aptidões do novo homem (vs. 22, 23, 25~. Temos, por um lado, o "Eu", para o qual tudo é irremediável,
Surge, então, uma pergunta v~tal - Pode o homem regene~adA' tudo é derrota; por outro, temos o "Eu" que é hábil e vitorioso
separado do Espirito, cumpnr toda a vontade de peus por intermédio do Espírito. Somos, portanto, libertos pela "lei",
resposta é clara. Ainda que ele tenha "prazer" na lei de Õ .eus, ou poder, do Espírito. Deve dar-se, no entanto, toda a atenção
(na qual nenhum homem não regenerado tem prazer; veja-se à verdade exposta no capítulo 7:25, de que é "por J esus Cristo
Rom. 3:10-18; I Cor. 2:14), ele tem?e descobr"r o poder, que nosso Senhor". Somos libertos pelo Espírito; mas isso só é
divinamente foi providenciado, para vl~:r atraves da mor~: de possível através de Jesus Cristo nosso Senhor, porque com
Cristo (v. 25), e pelo poder do Esptrlto (8:2). Fora Isto, Ele fomos crucificados, mortos e sepultados.
só há uma constante derrota (v. 24). .
A passagem, com algumas interpretações, fica como se A Morte do Crente com Cristo
segue' Porque nem mesmo [o novo eu] compreendo o meu
[o velho eu1 próprio modo de agir, pois não faço [o velho eu] A substituição é a única razão assinalada na Bíblia para
o que prefiro [o novo], e, si m, o que detesto [o no~ol· Ora explicar a morte de Cristo. 'Ele estava tomando o lugar de
se [o velho] faço o que [o novo] não quero, consmto com outros. Foi um empreendimento sem limites, como ilimitadas
a lei [ou a vontade de Deus para mim], que é boa. Neste c."\so, foram as suas conseqüências. Nada há mais fundamental para
quem faz isto já não sou eu [o navaL. mas o pecad~ [o velho eu} o entendimento de um crente, do que ele compreender, até certo
que habita em mim. Porque eu. sei que em mim. [o velho] ponto, o que é que a morte de Cristo produziu. Pelo que deveria
(isto é, na minha carne), não habita bem ~enhum: }XlIS o_querer haver mais ensino sobre este grandioso assunto. Um resultado
o bem está em mim, não, porém, o efetua-lo. Porque nao faço do ato de recordar a morte do Senhor, no partir do pão, é
[o velh01 o bem que prefiro [o naval. mas o mal que [o nov01 poder a consciência de cada um penetrar no significado e valor
não quero, esse faço {o velha]:, ~~as, se eu [o velho} faço daquela morte. É digno de nota que, aqueles Cristãos que são
o que eu [o novo] não quero, Ja nao sou .eu [o n?vo] qu~m mais freqUentemente exercitados no espírito no que respeita ao
o faz, e, sim, o pecado [o velho eu1 que habita e~ m!m., ET':tao, significado da Sua morte no partir do pão, estão muito mais
ao querer [o novo] fazer o bem, encont ~o a lei [~ao e lei de atentos para compreender o valor do sacrifício de Cristo por
Moisés ] , de que o mal [o ,·elho eu] reSide em ml~. Porqt1~: eles. Os discípulos ajuntavam-se. no primeiro dia da semana
no tocante ao homem interior, tenho prazer na lei de Deus, para partir o pão (Atos 20:7). Eles conheciam qual o verdadeiro
mas vejo nos meus membros, outra lei [o velho eu], que, desejo do Senhor a respeito deles neste importante assunto e
guerreando contra a lei da minha mente [o novo .eu que tem eles sabiam, também, o valor desta ordenança nas suas pr6prias
prazer na lei de Deus] , me faz prisioneiro da lei do pecado vidas. Um filho de Deus devia procurar sempre tornar maior
(o velho eu"] que está nos meus membros. Desventurado a demonstração de apreço pela obra completa do seu Salvador.
[Cristão] homem que sou! - quem me livrará do corpo desta Tanto mais que à Sua mesa foram tomadas providências a este
morte ?" respeito, quando da fiel memória da Sua morte.
"ANDAI NO EsI'IRITO" 1:.!1
120 AQutLE QUE t ESPIRITUAL

se Deus tivesse que os julgar pelos SCIIS pecados antes de po-


Pelos Seus sofrimentos que O levaram à morte, o Fil~o derem ser salvos! "Castiga-me, ó Senhor, mas em justa medida,
de Deus suportou o castigo dos nossOS pecados, tornando assim não na tua ira, para que não me reduzas a nada" (Jer. 10:24).
possível ([ue um Deus santo recebesse pecadores em Sua graça Como e grande a Sua misericórdia! Ele passou a ocu\Xlr-se do
salvadora, sem castigo pelos seus pecad~s .. Os pecadores, em problema do pecado, resolvendo-o a favor de todas as pessoas
virtude da Sua substituição por eles, 50 tem que crer e ~er com a morte do Substituto. É por esta razão que Ele pode
salvos. O homem agora enfrenta unIa única <Juestão de confiar agora livrar da cO'ldcnação do pecado. :Mas ainda mais, a que
pessoalmente no Salvador, e só são condenados por causa da ponto não chegou a Sua misericórdia, desde que 'Ele também
sua falta de fé no Filho de Deus (João 3:18; 11 Cor. 5:19). \Xlssou a julgar com justiça o nosso " velho homem"! E é por
Do mesmo modo, uma reaJicladc positiva refeT~lIte a natureza causa disto que Ele pode agora libertar os Seus filhos do poder
do pecado foi alcançada para o crente. atrav~ da morte de do pecado. Diz-se, então, que "o velho homem" foi "crucificado
Cristo. E por essa morte passou a. se~ l>osslvel a um Del~s com ele", e que "morremos com ele", "iomos sepultados com
santo dirigir a velha natureza. com Justiça, ~em sobre ela Calr ele" e que partilhamos da Sua ressurreição. Está provado que
qualquer juízo presente, e para o crente ser hvre do seu poder. tudo isto foi feito com um grande objetivo, para que "também
Pela morte de Cristo foi suportado, por todos os horne.ns, nós andássemos em novidade de vida", assim como Cristo "foi
o CGstigo dos pecados cometidos, e, assim. foi julgado e de~rel:o. levantado dos mortos pela glória do Pai". Que libertação e
a favor dos filhos de Deus, o poder do pecado. A reahzaçao que andar podem ser e..'<perimentados, desde que sejam segundo
de tudo isto constituiu um problema de incalculáveis dimel!sócs, o poder e glória da ressurreição! Ressurreição, é bom acrescen-
pois que. desde o principio o pecado é contra Deus e 50 Ele tar, não é a simples inversão de morte; é a introdução ao poder
pode tratar com ele. A Bíblia apresenta o peca(lo sob o ponto e limites infindos da vida eterna. É nesta nova esfera de ação
de vista divino. Ela, também, revela o problema d: Deus que e por este novo poder que os Cristãos passam agora a "andar".
foi criado pelo pecado e regista o Seu processo e metodo exatos A passagem começa assim: "Que diremos pois? Permane-
para a solução dele. ceremos 110 pecado para que seja a graça mais abundante?
O assunto em consideração, está relacionado co~, a m~rt.e De modo nenhum. Como vivellCmos ainda no pecado, (nós os
de Cristo assim como esta está relacionada com os Jll1ZOS d1VI- que para ele morremos? Assim, também, os verso 7, 8, 11;
nos sobr; a natureza pecaminosa que existe nos filhos de Deus. Col. 2,20; 3,3).
A necessidade de tais juízos e a revelação subliJ~le de ,que es:es Nos capítulos antecedentes desta epistola, foi apresentado
juízos já foram perfeitamente consumados para nos, esta descnto que da salvação s~ passa à seg1lrança. No começo desta pas-
em Rom. 6:1-10. Esta pass:lgem é não só o f"ndalllcnto . .mas sagem, apresenta-se a questão da salvação para a santidadc da
também a chave da possibilidade de um "andar no Espí~ltO". vida diária. Este segundo aspecto da salvação é só para quem
'Está declarado aqui que os Cristãos não prec~s.."lITl "conh.nu~; já foi salvo - a segurança. "Permaneceremos nós (que esta-
no pecado", mas que podem "andar, ~~n n~':'ld::de de .vida . mos salvos e 9eguros na graça) 110 pecado?" Não nos ficari4
"O pecado não terá domínio sobre vos , e Ja nao prC:lsamos bCII~, como filhos de Deus, proceder assim, nem tão pouco isso
continuar a ser "escravos do pecado". Foi com este fim que nos é 11ecessário, visto que já estamos "mortos para o pecado".
Ele foi levado à cruz. Quão importante é, pois, aos Seus ~Ihos: Mas, quem estará "morto para o pec."ldo". Será verdade que
o gênero da nossa vida diária,' porque a ~ua morte lIa,o 50 algum Cristão já tenha experimcntado uma morte para o
abrangeu a nossa felicidade eterna na gl6na, mas lambem o pecado ? NI/nca houve sequer um. No entanto, a morte de
nosso "andar" atual! que se fala nesta passagem, diz-se ter sido consumada
A velha natureza tem de ser julgada para que Deus possa a favor de todos os crentes. Nela se afirma que todos os
lidar livremente com ela 110 viver diário do crente e fora de Cristãos morreram para o pecado. Uma morte que inclui tudo
todos os juízos. Que perdição não seria para os descrentes não podia ter C0ll10 base a e.rpcriênci<J. Tem que depender
122 AQIJEUi QUE a EsPIRITUAL "ANDAI NO EsplRrro" 123

de posição. Deus considera todos OS crentes, quan!o à sua na· mente unidos a Cristo através do nosso batismo no Seu corpo:
tureza pecaminosa mortos em Cristo e cOm Cnsto; porque "Ou, porventura, ignorais que todos os que fomos batizados em
só assim é que e!e~ podem "andar em novidade de vid~" como Cristo J esus, fomos batizados na sua morte?" Assim como
aqueles que estão "vivos para Deus", Já não é neces:án,o pecar. é certo estarmos "n'Ste", assim também participamos do valor
Nós não podemos ir contra o poder de, uma ten.de~lcla so~re da Sua morte. De igual modo, a passagem relata ainda: "Fomos,
a qual não temos domínio, pois ela COlltUlU3 a exIstir em .Il?~, pois, sepultados com ele na morte pelo batismo" (cf. Cal. 2:12).
e é superior às nossas forças; mas Deus preparou ~ pOSSlblh- P or conseguinte, passamos a ser participantes da Sua crucifi-
dade de uma vitória e liberdade absolutas, quer Julgan~~ a cação (v. 6), morte (v. 8), sepultamento (v. 4), e ressurreição
velha natureza, quer dando-nos a presença e o poder do Espm~o. ( vs. 4, 5, 8) e, assim partilhamos tão essencialmente como
Só dependemos de Deus mediante uma libertação; mas E~e ",ao se fôssemos nós, crucificados, mortos, sepultados e ressuscitados.
pode libertar sem que primeiramente tenha julgado com )ust\5 a Scr batizado em Jesus Cristo constitui a substância da qual
a nossa velha natureza. Isto Ele já fez , assim como també~ são atributos, a co-participação na Sua crucificação, morte,
já nos deu aquele Espírito que está sen:pre, prese~\te e que e sepultamcnto e ressurreição. Uma coisa é a causa; enquanto
o único que está apto a faze r tudo. Asslm.e vencida a neces- que as outras são os efeitos. Tudo está dentro de um impor-
sidade de pecar e nós ficamos livres para agirmos noutro plano tante propósito divino a realizar. "Para que como Cristo foi
e sob o poder da Sua vida de ressurreição. ressuscitado dentre os mortos pela glória do Pai, assim também
Segue--se, então, a explicação importante sobre a relação andemos nós em novidade de vida", ou segundo um novo prin-
atual do crente com a morte de Cristo como base fundamental cipio de vida. O nosso" andar", portanto, é o objetivo divino.
da sua libertação do poder do pecado. Primeiramente é-nos Cristo morreu em nosso lugar. O julgamento pertencia-nos;
dado um esboço (vs. 3, 4), depois repete-se a mesma ver.da?e, mas Ele tornou-Se o nosso Substituto. Passamos, assim, a ser
mas mais detalhadamente ( vs. 5-10). Não faz parte do obJetIVO contados como cooperadores em tudo que o nosso Substituto
fez. O que Ete fez supriu para sempre as justas exigências
deste estudo considerar a importância de uma ordenança que
de Deus contra o nosso "velho homem" e abriu o caminho para
representa a verdade da nossa morte com Cristo. Essa ~r~~­
nal1ça, na melhor das hipóteses, não é senão a imagem da l~eJa aquele "andar" que agrada a Deus (veja-se 11 Cor. 5: 15).
principal. Nenhuma lei estabelecida. pelo homem pod~ reahzar A medida que a passagem vai prosseguindo, esta verdade
o que aqui se descreve. O nosso batIsmo e'm Jesus Cnsto, n~da da nossa cooperação com Cristo é novamente apresentada e
mais é senão a operação de Deus a colocar-nos etn Cn sto muito mais minuciosamente : "Porque, se [como I fomos unidos
(cf. Gál. 3 :27) . Isto quer dizer, evidentemente, que é pelo nos:o rassociados, desenvolvidos conjuntamente, a palavra é lIsada
batismo que passamos a fazer parte do Seu corpo, ~ta açao somente uma vez no Novo Testamento] com ele na semelhança
do Espírito (1 Cor. 12 :13); pois por nenhuma o~tra razao so~os [singularidade, veja-se Rom. 8:3; Fil. 2 :7J da sua morte, cer-
todos nós "batizados em Cristo". Ficando vitalmente. llmdos tamente o seremos [agora e eternamente] também na semelhança
e colocados "n'Ele" pelo batismo do Espírito, nós partilhamos da sua ressurreição". Nós já estamos unidos a Cristo pelo
do que Ele é, e daquilo que El,e fez . Ele ~ a just ~ ça de Deus batismo do Espírito (I Cor. 12:12, 13), o que nos coloca numa
e as Escrituras ensinam que nos fomos fCltos Justiça de Deus posição fora do alcance dos julgamentos do pecado e, portanto,
n' Slo (lI Cor. 5 :2 1), e feitos at:eitáveis no Amado (Ef. 1 :6). livres para compartilharmos da experiência do eterno poder e
T udo isto é verdadeiro pelo fato de estarmos "n'Ele". Do mes- vitória da Sua ressurreição. "Sabendo isto, [porque sabemos
mo modo, também , Ele substituiu-nos, e aquilo que Ele fez istol que foi crucificado com ele (com o mesmo propósito divino
é-nos atribuido porque estamos "n'Ele" - ou ~rque estamos como foi relatado anteriormente] o nosso velho homem para que
batizados em Jesus Cristo. O raciocínio que se tira desta pas- o corpo do pecado seja destruido [a nossa possibil idade de ex-
sagem é baseado nesta união vital pela qual estamos corporal- pressão é através do corpo. Este fato é usado como um símbolo
"ANDAI NO EsplRlro" 1:l5
124 AQUELE QUE t EsPIRITUAL

a respeito da manifestação do peca~o. O corpo nã,? ~ destruido; com Cristo garantiu uma libertação possível; mas esta tem que
mas o poder do pecado e os me,los de expressa0 pod~~ ser scr assumida e reclamada por atos humanos de fé semelhantes
J
anulados. Veja-se v. 12]. e não sirvamos ao pecado o . ~elho aos que estão expressos na palavra "considerar " e nas palavras
homem"] como escravos; porquanto quem morreu, JustlÍlcado suplementares que se seguem na passagem: "Mas oferecei-vos
r
está do pecado aqueles que uma vez morre~am pa:a o pecado, a Deus, como ressurretos dentre os mortos, e os vossos membros
assim como nós morremos com o nossO Substituto, ficaram agora a Deus como instrumentos de justiça. Porque o pecado [a na-
livres dos seus direitos legais}. Or~, se j,i m.?rre~los c~m tureza] não terá domínio sobre "ós, pois não estais debaixo da
Cristo], cremos que também com ele vIveremos (n30 ~ no Ccu, lei [a qual por si só não tem poder para ser cumprida]. e, sim,
mas agora mesllw. Tania certeza há para a VIda n Ele, como da graça" [que garante o Substituto suficiente e o ilimitado poder
para a morte n'Ele1: Sabedores [ou, porque s..:?en~osl que. ~la­ do Espírito de DeusJ.
vendo Cristo ressuscitado dentre O!i mortos, Ja 11ao morre, a Todas as providências foram tomadas. "Não reine, por-
morte já não tem domínio sôbre êle [Por isso. somos levados tanto, o pecado em vosso corpo mortal, de maneira que obedeçais
a crer que o mesmo sucede conosco}. Pois, quanto a ler mor- às suas paixões". Quem pode avaliar a verdade que se encerra
r ido de uma vez para sempre morreu para o peca~o [a, natu- numa só palavra "portanto"? Ela refere-se a todo o empreen-
reza'l: mas, quanto a viver, vive para Deus" (assIm nos po- dimento da morte de Cristo, pela qual fomos unificados com
demos, tamb6n, viver para Deus). . Cr isto para que {Xlssamos receber os merecimentos eternos da
Estas realidades estão registadas nas E scrituras segundo Sua crucificação, morte, sepultamento e ressurreição. Tudo isto
o significado e valor da morte de Cristo e o da nossa presente já estava preparado para nós ainda antes de termos nascido.
posição nEle. para que possamos ser levados a crer ~ue tudo "Portanto", por causa de tudo isto que presentemente foi reali-
é para nós e que realmente é a verdade a .nosso respeito agora zado e providenciado, nós somos encorajados, de uma maneira
mesmo. Crendo ni stD, podemos sem receio recl~mar a .1l?s.sa extraordinária, a fazer parte do Seu plano e- do Seu propósito
posição na Sua infinita graça e ousar pen~tra~ na Vida de VI~OTla. no que respeita à nossa libertação. A fé, que crê que a vitória
Até aqui, nesta passagem. nada fOI dltD c?m. respeite., a é possível porquanto considera ter sido julgado o "velho homem",
qualquer compTDmisso humano, nem tampouCD fOI feita referen- é o resultado normal de tal revelação. Em parte alguma nos
cia a qualquer esforço do homem. Tudo é trabalho de Deus é imposto executar a Sua crucificação, morte, sepultamento e
para. nós e a conclusão desta importante p.'\ssagem é termos ressurreição; antes, somos estimulados pela revelação daquilo
que COJlh~cer, realmente, o Seu plano e provid~n:ia, e que. por que foi feito, a considerar que as exigências divinas para nossa
eles nos é garantida a libertação da escravldaD ao pecado. libertação do "velho homem" foram completamente saldadas, e
Baseados neste conhecimento adquirido na Sua Palavra, a res- a crer que, por causa disto mesmo, podemos agora "andar em
peito de tudo quanto Deus fêz em Cristo. imediat::nente s.~ seg~l e Ilovidade de vida" .
uma exortação que apresenta a nossa responsabilidade: A~s , m Poderá qualquer Escritura proviu que alguns Cristãos
também vós considerai-vos mortos para o pecado, mas V IVOS morreram para o pecado depois de uma experiência pessoal ?
para Deus em Cristo J esll.s". Não somos acooselh~dos a con-
Várias passagens do Novo T estamento referem-se ao crente
sidC'Tar a 11(l11lre:a pecallllnosa como morta; mas e-nos acon~
como estando já morto; contudo, nenhuma delas se refere a lima
se1hado considerarmos 116$ próprios mortos para o pecado. Sem
que a morte de Cristo, literalmente ~alando, destr?i o ~er do
experiência.: pelo contrário, todas se referem à ,posição que o
crente foi levado a tomar através da sua união com Jesus Cristo
"velho homem " de tal maneira que ficamos sem dlsposu;;ao para
na S ua morte. "Se morrestes com Cristo" (Col. 2:20); "Porque
pecar? Não, porque a passagem continua afir mando: ."Não reine,
Illor restes, e a vossa vida está oculta juntamente com Cristo,
portanto, o pecado em vosso corpo mortal, de manelTa que o~
em Deus" (Col. 3 :3); "Estou crucificado com Cristo" (Gál.
deçais as suas paixões " . Logo, é evidente 9~e o "velho home~
2 :20( 19· E.R.A.) ; "Mas longe esteja de mim gloriar-me, se não
continuará ativo, se não fôr controlado sufiCientemente. A umao
"ANDAI NO EspfiUT'O" 127
AQUELE QUE t EsPIRITUAL
126

na cruz de nosSO Senhor Jesus Cristo, pela qual o mundo está vitória nã.o alcançariam
met " Ih s-···, ,-
os filhos de Deus, S".. VlHISH~rea-
n ~ que o ve o homem" foi crucificado com Cristo e
I

po~ ISSO, da parte div~na. tomou-se possível, para eles, vf~:;


crucificado para mim, e eu para o mundo" (Gál. 6:14); "E os
que são de Cristo Jesus crucificaram a carne, com as suas paixões
e concupiscências" (GáL 5 :24). Na última passagem, assim como on e o po?e~ e a mam(eslação do pecado podem ser constan-
nas outras, faz-se referência a qualquer coisa que é realizada temente ehmmados!
em todos aqudes que são de Cristo. Portanto, o resultado de
uma consagração especial é particular de alguns, não podia Recapitulação Bíblica
referir-se a uma experiência. Estas passagens, visto que se d Toda. : declaração doutrinaI referente à possível libertação
referem a todos os crentes, só podem ter um significado: pela reca?0'
a ,escravl ~ao ao que se encontra em Rom. 6: 1 a 8·4
sua união com Cristo a "carne com as suas paixões e concupis- (~~/:)sum~a e conel.mda n~s dois últimos versículos do cont~t~
cências" foi crucificada, quanto à nossa posi,ão. A palavra d ., . _ estes dOl~ verslculos, sete fatores que fazem parte
crucificar, quando relacionada com os crentes, emprega-se sem- a rev.e1açao . a respeito da possível vitória sobre o pecado e
pre no passado, querendo significar o fato judicial e não uma os qu.azs serviram de assunto à análise em todo o contexto ~ão
experiência espiritual. O crente pode "considerar-se morto", menCIOnados outra vez, como uma conclusão de tudo o'
porém, nunca ele é intimado a crltcificar-se. Até mesmo o con- aconteceu antes. Esses fatores são. que
siderar-se morto só ê possível pelo poder eficaz do Espírito. N- 1 . , "A r '.el·"(B. :3). que representa
. a justa vontade de Deus
"Mas, se pelo Espírito mortificardes os fcitos do corpo, certa- . . ao. esta Imitada a lei de Moisés (veja-se 6:14; 7:4,25) qu~
mente viveras" (Rom. 8:13). Foi-nos dito, claramente, que a ~a tl?ha ~sado (7:1-4; II COTo 3:1-18· Gál. 3:24,25) Ela
crucificação foi levada a efeito uma vez para sempre. Perante me. UI. a9U1lo. que o Espírito produz naq~ele que é espiritual
este ato divinamente consumado, os filhos de Deus têm, de (8.4, ~al . .s.22,~~) .. A t,entahva para assegurar perfeita justi
"considerar", "oferecer-se", "considerar-se" (como morto para por melO da obedlencla, so pela força humana medo te uaJ ça
o pecado), "pôr para longe", "não permitir", "despojar-se", ordem, falhará sempre. A graça da. as proVidencias: . lan necessárias
q quer
"tomar toda a annadura de Deus", "pensar nas coisas lá do par~ que os seus padrões celestialmente difíceis pos
alto", "revestir-se do novo homem que se refaz para o pleno reahzados pelo poder eficaz do Espírito , s a m ser
conhecimento, segundo a imagem daquelc que o criou", "negar-se .2:. <tA enfermidade da carne" (8:3), ou a absoluta im-
a si mesmo", "permanecer" em Cristo, "combater", "correr
dp?s~lblhdade
(7 ['2dos recursos humanos em lace das exigências
com paciência a carreira", "andar em amor", "andar no Es- mnas ,,:"1- 1; João 15 :5).
pírito", "andar na luz'" "andar em novidade de vida". E sta 3. O pecado na carne" (8·3) A uil
é a responsabilidade humana para com aquela libertação que
Deus preparou através da morte de Seu F ilho e que se propõe
~á~~f~71~). de "enfermidade": é op~st~ aoqEs;írf~e /7a:l~~~
agora executar através do Espírito. . 4. Cristo veio "em semelhança de carne pecaminosa"
(8.3) . Ele tomou o lugar de uniã() vital com o pecad (6·5
10, 11 ); mas não veio para ser pecador, nem partil~ar ;b
O objetivo divino, portanto, em tudo o que está registado
em Rom. 6: 1-10, é para que possamos "andar em novidade de
vida". Deus satisfez todas as exigências da Sua santidade, cum- natureza ,?O pecado. (Heb. 4·:15; 7 :26).
prindo por nós, através de Cristo, os castigos infligidos à natu- 5. "E, com ef~lto,. condenou [julgou] Deus, na carne
reza pecadora, os quais Ele podia, a todo o momento exigir. o ~a~o (8:3). FOI assim que llIe satisfez todos os clamores
~-nos dado para. comfrreender-mos e C1'ermcs. "Sabendo isto", da JUStlÇ~, de ~eu s contra o "velho homem" (6:10; 7:25).
ou, porque sabemos isto, somos justificados na nossa confiança 6 .•. A fim de que o preeeito da lei (veja-se 7·4 22 25]
para que possamos "andar em novidade de vida", a judados pelo se cumpTlsse em nós" (8:4): e nunca para ser c~Pricb. por
poder eficaz do Espírito. Que tranqüilidade, que paz e que nós (6:4, 14; 7: 4, 6). ~ °" fruto do Espírito".
AQUELE QUE t EsPIRITUAL "ANOAI NO EsP!RlTO" 129
128

7. "Que não andamos sq~ulldo a carne, mas seg~tnd.o o que habita nele, e isto só é possível através da morte de Cristo.
E spírito" (8:4). Esta. é a condIção humana para um \'ltonoso Em ambas as teorias há uma sincera tentativa para alcançar
"andar" , Tem de ser pelo E spírito (6:11-22): . uma completa vitória na vida diária, a qual é prometida aos
Todas as providências são tomadas atraves do Julgamento filhos de Deus. Uma das teorias começa por uma adaptação
divino sobre a "carne" e o "velho homem" em benefí~io da muito violenta, e, depois, imediatamente varia e modera as suas
vida espiritual de todos os Cristãos, até mesmo do cumprimento reclamações até se aproximar do nível de uma cxpen·ência efetiva.
da absoluta vontade de Deus em nós pelo E spírito. Mas estas A outra, com~a por um reconhecimento absoluto da limitação
medidas só se tornam eficazes para aq\leles que "andam, não humana mas depois descobre tanto na morte de Cristo e da
segundo' a carne, mas segundo o Espírito": Te~os f:velações presença, propósito e poder do Espírito, que os resultados que
e instruções daras vindas de Deus c, por ISSO, ~. perigoso ne- daí advêm são ilimitados, O objetivo de cada teoria, é libertar
gligenciá-las ou recusá-Ias, ou falhar nas responsablhdades exatas, a vida da escravidão ao pecado, É, portanto, só uma questão
confiadas a nós. da qua,l é o plaTlo e o metodo de Deus na realização. Ambas
as teonas nào podem ser verdadeiras, porque são contraditórias.
11. O Remédio Divino Procurando determinar qual das duas está conforme à Palavra
de Deus, pode-se declarar:
o método divinG de cGmbater a natureza pecaminosa que
existe no crente, é controlar, direta e incessantem~nte, essa Primeiro - Destruir, Não é o Processo Divino de Tratar
natureza, por meio do Espírito que habita n~le. Este e, pod,e-: se as Dificuldades do Crente
afirmar um dos mais importantes empreendimentos do Esplflto
em e ; favor do crente, E le tenciona tanto controlar a velha Existem três razões importantes pelas quais o Cristão deve
natureza como manifestar a nova. depender inteiramente do Espírito de Deus. llle tem de enfren-
tar o "mundo, a carne e o demônio", Mas ele não se liberta
Duas Teorias em Contraste dos ba.ixos padrões dG mundo e passa aos padrões elevados do
cidadão celestial pela destmição do mundo. Tampouco se livra
Quanto ao método divino de tratar com a nature~a peca~i­ do seu conflitG com o inimigo pela destruição de Satanás, Estas
nosa que existe nG crente, são sustentadas duas teonas geraIs. vitórias, diz-se, só podem ser ganhas pelG direto e constante
Um~, sugere que a velha natureza é dcstr!~ída:, ou qua~d? _se poder de Deus. Ê lógico, pois, concluir à luz destes fatos, que
é salvo, ou a seguir a uma série de expenencla~ e de bençaos o processo divino de tratar com a "carne", ou o "pecado" não
espirituais dependendo, portanto, o genero de Vida d,o cr~nte, é pela destruição. De que serve a destruição no conflito com a
da ausência de disposição para pecar.1 A outra teorIa af~rn:a natureza do pecado, se ela não pode ser utilizada no conflito
que a velha natureza permanece tanto tempo quanto o, Cn~tao com o mundo e com o diabo?
estiver neste corpo, e que o gênero de vida depend~ ~o Imediato
e constante! controle sobre a "carne", feito pelo Esptnto de Deus Segundo - Deslruir, Não Está de Acordo com a
Experiência Hum.na
1 A crença sobre essa destrulcfio não está bem detlnida. Há um Talvez esteja ~e acordG com a imodesta suposição humana
manifesto desacordo entre os seus parUdãrios quanto ao alcance
que eles desejam dar à teoria. Não está no propÓSito deste estudo de alguns ; mas mUltGS dos seus defensores não ousam reclamar
apresentar as diversas aparências e modificações que são de~en­ u~~ compl.eta liberdad~ do pecado, pelo contrário, inventaram
didas por esta teoria: antes, os resultados rigorosamente lógiCOS vanas tconas pelas quais procuram dar conta dos seus pecados.
da teoria são expostos para que se possa deduzir quais os con- Uma das teorias é para assegurar que o pecado deles é o pecado
trastes mais evidentes entre estes dois princlplOS Inteiramente
de um ser sem queda, tal como Adão o era antes de ter pecado,
diferentes do viver cristão.
"ANDAI NO EspfRlTO" lJl
130
AQUE1.E QUE t EsPIRITUAL

• pode-se dizer que nós não somos façais o que [caso contrário} seja do vosso querer" ( Cál. 5 :17;
Em face desta declaraçao, .' Adão' passamos a estar cf. Tiago 4:5). Assim, também, em Rom. 7:15-24, e 8:2, a fonte
salvos à conformidade con~ o pnfme;~ade co'm o último Adão. do pecado, que existe no crente. diz-se se r a natureza pecaminosa
NU Crisl o e a ser salvos e . eoo or . ciro do que alguém a trabalhar através da carne, e que a vitória só é alcançada
Se esta teoria fosse verddade.lf":, .0 rrl~esult= em queda com pejo poder supremo do E spírito. Os ensinos extraordinários
cometesse, nesse estado e tnocenCla, r' do pecado de Adão da teoria da destruição, vão ao ponto de parecer mostrar que
consequ'" ;""";as
... "",
,.
U
t'o ,,'rias e como teve o e CitO
I-
t reza e na sua comun lao c
oru Dcus . o Cristão não fica com disposição alguma para pecar no dia
na sua propna na uI d "tem uma distinção entre a sua seguinte, e, por isso, esta teoria leva, seja quem for, de uma
Além disso, a gUlls a m , afirmam que pecam por maneira alarmante, a não fazer caso da atenção e confiança que
. 'd e a natureza h umana, e 'd
natureza cal a . d esmo que a natureza cal a se deve ter no poder de Deus. A Bíblia ensi na que a origem
causa da natureza humana,. am _a m f damento algum nas
esteja destruída. Tal teona nao tem un oculta do pecado permancce e que, se o "andar no E spirito"
cessasse, dar-se-ia imediatamente um regresso à s " paixões" e
E scrituras. clh ra evitar o pecado, o que "concupi scências" da carne, Enquanto "andardes pelo E spírito,
Deus tem um processo m or pa so está livre de ousadas jamais satisfareis à concupiscência da carne". Todos nós somos
está. claramente revelado. Esse .pr~es , " e depende
. ~ r ue ele " nada dlspoe para a carne . ~ críaturas com hábitos e, por conseguinte, podemos, de uma ma-
SUposlçoes, po q dE"t A asserção da destTlllçaO, neira crescente. adaptarmo-nos ao andar 110 Espírito. Tambêm
unicamente. do ~;r . o do'ss~~t~~ mai s espirituais desta e das podemos guardar conhedmentos através das experiências. Deste
é estranha a expenenc13. P I d Deus não existe qualquer modo, o andar .segundo a "carne" pode cessar num dado mo-
gerações passadas . . ~a a avra e
exemplo de destrUlçao. menta; mas a capacidade para andar segundo a "carne" persiste.
Nesta ordem de idéias, a verdadeira espiritualidade sign i-
• A O.. trui,io Não Está de Acordo com a Revelação
Tercelro - fica. por agora, não desejar pecar (Fil. 2 :1 3f; no entanto, isto
Palav ra de Deus temos "instrução", "correção" e não implica a destruição da capacidade para pecar: pelo con-
Na -o" Por elas nós devemos determinar as nossas con- trário, quer dizer que, por causa do poder eficaz de Deus, é
repr~ensa não r ualquer impressão do pensamento, ou, ~r possível, a todo o momento, alcançar uma vitória absoluta.
c1us~s e. po q .• . f r de qualquer pessoa, A Blbha Também continua a ser verdade nós sempre precisarmos d'Ele
analisar seja que expenencJa o
em completamente. llIe disse, "Sem mim nada podeis fazer
ensin(Ú _ Todos os crentes são avisados COIl:ra as conjetur~: (João 15 :5). Como o "contágio" do pecado está continuamente
em nós. pre<:isamos a todo o instante "da oposição vitoriosa do
da teoria da destruiçãO:, " Se disser:~e~;;n~~~ste~~s v':t:de Espírito". O "andar" no Espírito torna-se divinamente fácil
[natureza] nenhum, a 110S mesmos n ,
em todos os passos da caminhada.
não está. em nós" (I. J0á<? 1 :8), L'bertador e todo
( 2) O Espinto vela para ser o nossO 1 • ' (4 ) - Os processos divinos de tomar providências acerca
. -d Bíblia no que respeita à Sua presença, propcslto da "carne" e do "velho homem", não têm sido segundo a des-
o ensmo a , . 'f' - a1l71lma se a nossa
, pod" não terá evidentemente, Slgnl IcaçaO a- " p truição. Deus preparou uma série infinita deles com a morte
" I t outros meios. ar
vitória tiver de ser alcançada t?t~ men e pc,r Pessoa e a obra de Seu Filho, para que, por onde. quer que fôssemos, pudésscmos
l
essa razão, a teoria da destrUlçao co cx:ara a. '
, . ição de somenos lmportancla, " andar em novidade de vida". A maneira deste andar está
do EsplTlto numa ~ , . d conflito inces- expressa em regras como estas: "crer", "submeter-S(!", "não
(3) _ O Espínto hberta por meio e um .' pennitir", "mudar de vida", "considerar-se morto", "permane-
.. A carne [a qual inclui a velha natureza] m~lta contra
san t e. . carne' porque sao opostos cer"; mas, nem sequer uma destas regras se assemelha ao ile:tl-
o Espírito e o Espínto contra a , E "t ] ão tido que está subordinado à teoria da destruição. As Escrituras
entre si; Para que [quando andardes segundo o spm o n
t "ANDAI NO EspIRITO"
132 AQUELE QUE EsPIRITUAl.
''''
não nos aconselham a "considerar" morta a natureza: antes, o Espírito". Esta confiança no E spírito é imperativa por causa
elas incitam-nos a "considerarmo-nos" mortos para ela. não só da dificil chamada divina, mas também do poder oposto
(5) _ Os ensinos dos partidários ~a destrl1ição, ~o b~­ de Satanás e da continua presença da "carne", COIl1 a sua
seadas numa falsa interpretação das Escnturas no que diZ n;"- natureza adâmica. ~ impossível resolver hoje as questões de
peito à nova união do ~rente com Cristo na S~a_ morte: ~9U\lo amanhã. O andar é feito passo a passo e isto exige um C01Isla111e
que na Bíblia é defendido como sendo. da f0.nçao do IIld LV~duo aproveitamento do poder de Deus. A vida do Cristão nunca
e que existe apenas na mente e determmaçoes de I?~us, e amda pode ser comparada à subida de um balão, no qual poderíamos
o qu!,= foi realizado tlrna v.e~ por todas, em bene.f.!cl~ de t~os subir uma única vez e não voltar a ter qualquer trabalho ou
os filhos de Deus, é admludo como um3 expenellclG na Vida tentação. Pelo contrário, é um "andar", uma "carreira", um
diária de uns poucos, os quais ousam classificar-se a si mesmos "combate". Tudo isto revela continuidade. O combate da fé,
COmO livres da tendência para pcrar. é o que representa uma contínua at itude de confiança no Espírito.
(6) _ As conclusões da doutrina de de,st~lIição, SãD ba- Para aqueles que assim andam com Deus, há uma porta aberta
seadas em ensinos crrados quanto ao uSO blbhco da palavra que os conduz à "comunhão com o Pai e com seu Filho" e
"carne". Os defensores deste ensino, não compreendem que os leva aquela vida que produz frutos de paciência e de ativi-
a palavra "carne " refere-se a tudo, - esp:í~ i to, alma e co~~,­ dade em todas as manifestações espirituaís para a glória de Deus.
que compõe o homem natural, e que, admltld~ mesmo a. hlpote,:;e . ~m conclusão, o 9ue vem a ser, afinal, a verdadeira espi-
da eliminação da natureza peca~ora, nem ~ss~m :ssa el~~maç~? ntualldade? 11 a mamfestação desimpedida do Espírito Santo
resolveria todos os problemas cnados pe~as hml~açoes da carne,,' que habita. em nós. ~x:istem ao todo, sete dessas manifestações.
"Em mim (isto é, na minha carne), nao habita bem nenhum. Estas realidades bendItas, são todas proporcionadas na presença
Portanto a "carne", deve permanecer tanto tempo quanto o e.IJ:Oder do ~syí rito e, _serão, nor~men te produzidas peJo E s-
"vaso d~ barro", o "corpo da nossa humilhação" permanecer . plflto no Cnstao que nao esta entristecendo o E spírito, mas que
Certamente que o corpo não ê dest ruído. . confessou t~~ o pecado conhecido; naquele que não está apa-
(7) A tese da destruição, está mais relaCIOnada com ;l S gando o ESplntO, mas que se submete a Deus; e ainda naquele
experiências humanas do que com a revelaç~? ~e Deus. Ela que anda no Espírito numa atitude que depende absoluta e
sempre se tem contentado em analisar a e~~nencla e .em tentar so~ente do Seu poder. Esse tal é espiritual, porque ele está
provar as suas conclusões por estas anal~ses. AqUIlo que é cheIO do Espirito. O Espírito tem liberdade para realizar nele
uma experiência normal de libertação reahzada pelo. ~:r do todos OS planos e desejos que Deus lhe detenninou. Fora disto,
Espírito facilmente se pode tornar numa suposta eVidenCia de nada mais há a desejar na vida e no serviço de todos OS dias.
"perfeição impecável", "completa santificação" e "destruição~'. "Graças a Deus que nos dá a vitória por intermédio de nosso
Uma conjetura humana nunca potle tomar o lugar da revdaçao Senhor Jesus Cristo" ( I Cor. 15 :57).
"" ,
dlvma.
As duas teorias são irreconciliáveis . Ou temos que ser
libertos pela eliminação repentina ~e toda a te~dência pata
pecar e, por isso, não precisamos maIs do poder eÍlca z d~ Deus
para combater o domínio do pecado. Ol! ~emos que ~er hbert~s
pelo imediato e constante poder do Esplnto que habIta em nos.
A Bíblia, evidentemente, ensina este último.
O que' Espiritualidade?
A terceira condição, portanto, para ser-se espiritual, é ter
uma forte confiança no Espírito, O que significa "andar segundo
UMA ANALOGIA E A. CONCLUs.lO 135

acham impotentes e sem poder para modificar ou melhorar a


sua condição. A única esperança que lhes resta e depender
em absoluto de Alguém que tem poder e graça salvadora:
"Cre no Senhor Jesus Cristo e serás salvo".

C.pftulo VII b) Do poder do pecado.

UMA ANALOGIA E A CONCLUSAO De maneira semelhante, as Escrituras revelam que a si-


tuação do regenerado, em rela~ão ao poder da natureza pecadora,
I. A An.logi. é de incapacidade e impotência: "Porque eu sei que em mim
(isto é, na minha carne), não habita bem algum"; "Acho então
A Bíblia descreve a nossa li berta~ão da escravidão do esta lei Nn ,nitn.; que, quando quero fazer o bem, o mal está
pecado como uma fonna distinta d7 salvaçã?, havendo u~a comigo", A esperança do filho de Deus na salvação do poder
analogia entre esta e o aspecto mais conhecido de salvaçao, do pecadO' depende também e, em absoluto, do poder e da g~a
a qual é a libertação da penalidade e ~a condenação do ~do. de Outrem. "Porque a lei do Espírito de vida, em Cristo Jesus,
Nos primeiros cinco capítulos da Eplstola ao Romanos, e-~os me livrou da lei do pecado e da morte". "Se pelo Espírito
apresentada a nossa libertação da culpa do pecado e do castigo andardes, não cumprireis a concupiscência da carne",
que merecemos por causa dele, ~ra.nsforn~ada W1 just ificação
e segurança pela redenção que ha em Cnsto. No começo do Segundo - O Objetivo ti Ideal Divinos na Salvação
capítulo seis, uma nova pergunta se levanta: "Perm~necere~os
nós (agora salvos e seg,uros em C ris.t?) ~m . pec?do? A ~lalOr a) Da. condenD{ão do pecado.
parte de três desses capltulos, como ~a_ fOI dito, e, p?IS, dedicada
a uma declaração dos fatos c condlçoes da salvaçao do pod~r
reinante do pecado na vida diária do filho de Deus . .A analog'la Entre aquilo que uma pessoa não regenerada é antes de
entre estes dois aspectos de salvação pode ser conSiderada em ser salva, e o estado a que ela é levada pelo poder de Deus,
cinco pormenores: existe o maior contraste possível . Nem mesmo a etemidade
será suficiente para dar oportunidade a descobrir as múltiplas
Primeiro _ O Eslado dAquele que Necessita de Ser Salvo: maravilhas da Sua gra<;a salvadora, "Quando o virmos, seremos
semelhantes a ele". Agora mesmo "somos filhos de Deus".
Fomos predestinados para sermos "cQllformes à imagem de
a) Da condenação do pucuJo . seu Filho",
A Palavra de Deus apresenta uma extensa descrição s?bre
o estado daqueles que não são regenerados e que necessitam b) Do poder do pecado.
de ser salvos da culpa e da condenação ~:' pecado ...Esses são
os que estão "perdidos", "condenados, e csl>mtualmente Assim, também, ao Cristão, segundo o plano de Deus, está
"mortos"· "Não há um justo, nem sequer um"; "Todos pe- indicado encontrar uma perfeita vitória através de Jesus Cristo,
caram e destituídos estão da glória de Deu s". Mas por detrás e pelo poder do Espírito. "Rogo-vos, pois, eu, o preso do Senhor,
de tudo isto está a revelação de que eles, por si mesmos, se que andeis como é digno da voca~ão com que fostes chamados".
"Não entristeçais o Espírito". "Não extingajs o Espírito".
13. "Andai na luz", "Habitai em mim",
13<; AQUELE QUE t ESPIRITUAL UMA A NALOG IA E A CONCLUsAo 137

Terceiro _ A S. lv. çi o Vem Somente d. Deus todos, logo todos morreram" (em Um). Por esta morte Ele
pagou por nós tão perfeitamente a condenação do pecado, que
a) Da ctmdnu;Jfão do pecado. Deus agora tem l i~rdade até mesmo para justificar qualquer
pecador, sem castigo ou condenação. Portanto, um obstáculo
A salvação só pode vir de Deus, pois que todos os asP'!C:tos
moral na vida de um pecador já não serve mais de obj~ão
dela ultrapassam as JX>5sibilidades e forças humanas. Das mUitas
à sua salvação. Pela morte de Seu Fi lho, Deus tomou-se livre
e grandes maravilhas que, tomadas em conjunto, constituem a
para salvar o maior dos pecadores. Nesta tão grande salvação
salvação da culpa e da condenação do pecado, nem uma delas
sequer, poderia ser compreendida, quanto mais realizada, pelo Ele lorna-se reto e justo porque o Senhor Jesus sofreu pelos
nossos pecados.
homem. "É o poder de Deus para salvação"; "Para que ele
seja justificador daquele que crê". b) Do podtr do pecado.
b) Do poder do pecado. Ora, o Cristão não poderia ser salvo do poder do pecado
se Deus não tivesse, primeiramente, levado o "velho homem"
É igualmente verdade que o crente é impotente para ~e a juízo. Se Deus tivesse que julgar primeiro a nature1.a do
livrar a si mesmo do poder do pecado. Só Deus pode consegUIr pecado em nós, ainda antes de Ele poder exercer domínio nas
isso, e Ele propõe-se fazê- lo conforme a revelação que está con- nossas vidas, a nossa situação seria desesperada. Deus julgou
tida na Sua Palavra. No homem não há poder algum que o o "velho homem" no momento em que fomo s crucificados,
possa libertar do "mundo, da carne e de Satanás". "Se andardes mortos e sepultados com Cristo. O Senhor não sofreu apenas
pelo Espírito, não cumprireis a concupiscência da carne". "É pelos nossos pecados. E le morreu também pora o pecado. Ele
Deus que opera em vós tanto o querer como o efetuar, segundo sofreu a condenação pelos nossos pecados e morreu também para
a sua boa vontade". "A lei do Espírito de vida, em Cristo a natureza do nosso pecado. "Pois, quanto a ter morrido, de
J esus, me livrou da lei do pecado e da morte". "No demais, uma vez morreu para o pecado". "Sabendo isto, que o nosso
irmãos meus, fortalecei·vos no Senhor e na força do seu poder". homem velho foi com ele crucificado". Justamente porque Cristo
"Por J esus Cristo nosso Senhor". morreu para o pecado, é que Deus com justa liberdade exer~
domínio sobre a "carne" e sobre a natureza adâmica, empre-
Quarto - Deus Só Pode S. lvar por Meio da Cruz e 56 por Ela gando o Seu pode r para a nossa salvação da servidâo ao pecado;
assim como Ele tem, também, justa liberdade para salvar a
a) Da condeMfão do pecado.
pessoa não regenerada do castigo do pecado porque Cristo sofreu
todos os juízos pelo pecador.
Nem um só pecador haveria para salvar. se Deus ti,:'"eSs~
que examinar em nós a questão do pecado, no que respeIta a Quinto - A S.lvaçio , pel. F'
culpa e ao castigo, no momento em que Ele fosse e::-ercer a graç;;.
salvadora. 11 só porque Ele já se ocupou do castIgo do pecado 8.) Da condemJ(ão do pecado.
na morte de Cristo, que Ele pode salvar o pecador sem serem
necessários quai squer juizos cot1sumidores. Agora, o pecador Dado que a salvação é sempre e somente obra de Deus.
só tem que crer que tal graça salvadora lhe é facultada pelo a única relação que o homem pode manter com ela, é a da
Filho de Deus. O Senhor J esus sofreu até à morte" pelos" esperança no Único que pode tomar a Seu cargo realizá-la. A
nossos pecados. "E.1e mesmo levou em seu corpo os nossos pe- salvação da culpa e da condenação do pecado opera-se em nós
cados sobre o madeiro". "Ele foi entregue em lugar das nossas no momento em que cremos. Depende do alo de fé. As pessoas
transgressões"; "Porque assim julgan10s que, se um morreu por não são salvas, ou continuam salvas, das conseqüências dos
138 AQUELE QUE t EsPIRITUAl.. UMA ANALOGIA E A CONCLUsAo 13!)

pecados, ~Io fato delas pt1'maneetrem na sua fé. Fé salvadora, o Espírito, quando salva do poder predominante do pecado,
como relacionada ao primeiro aspecto de salvação, é um ato não deixa de se ocupar da personalidade daquele que Ele salva.
de fé. Nós somos salvos pela graça mediante a fé. Pelo contrário, Ele sujeita ao Seu poder as faculdades e as
possibilidades do indivíduo. Quer dizer, é o poder de Deus a
b) Do poder do pecado. atuar por intermédio das faculdades humanas da vontade, dos
sentimentos e do gênio. A experiência do crente que está sendo
A salvação que santifica a vida de todos os dias, <: igual- habilitado pelo Espírito, é apenas aquela de fica r com a cons-
mente obra de Deus, e a única relação que cada filho de Deus ciência da sua própria autoridade de escolha, dos seus próprios
pode manter com ela, <: uma atitl/.de de esperança para com sentimentos, desejos e tendências relacionadas exclusivamente
Aquele que tem poder para tudo. Mas para que isso aconteça, com a sua pessoa. O poder que ele possui está " no Senhor
necessário é haver lima adaptação da vida e da vontade a Deus, e na força do seu poder".
e esta saJvação deve então ser reclamada por fé, o que neste
caso representa uma atitllde de fé. Só somos salvos do poder 11. Conclusão
do pecado enquanto cremos. Aquele, pois, que foi justificado
por um ato de fé tem que passar a viver pela fé . Há uma mul- Como até aqui este estudo se tem ocupado principalmente
tidão de pecadores, por quem Cristo morreu, que ainda não da teoria ou doutrina da vida espirihJal, não deixa de vir a
estão salvos. Por parte de Deus, todas as medidas já foram propósito fazer o aditamento de algumas sugestões práticas.
tomadas, e eles só têm que, pela fé, partilhar da Sua graça Visto que uma vida sob o poder do Espírito depende de
salvadora que para eles há em Jesus Cristo. Há, também, uma uma contlmla atitude de rendição pessoal e a apropriação do
multidão de santos, cuja natureza pecadora já foi perfeitamente poder divino, é importante que os Cristãos tenham um período
julgada e para os quais foram tomadas providências _divin~s de contato definido com Deus durante o qual possam examinar
para uma vida de vitória e de glória para Deus, que nao cstao os seus corações no que respeita ao pecado e à sua submissão,
ainda a realizar essa vida de vitória. Eles só necessitam entrar, e no qual possam ainda reconhecer tanto a sua incapacidade
pela fé nesta graça salvadora do poder e do domínio do pecado. como a suficiência de Deus a qual se transmite pelo Espírito.
Esta e.' que e. a re aJ'd
1 a de de um " andar,
" de uma "corrida" , Só então, eles podem reclamar o Seu poder e a Sua força para
e de um "combate". É uma atitude pcrsevcrallte. F omos cha- vencer a sua própria fraqueza. A Bíblia não dá. regras quanto
mados para "militar a boa milícia da fé". Os pecadores só ao tempo desse período ou quais as condições. :a um caso
são salvos quando confiarem no Salvador, assim como os santos absolutamente individual que tem de ser tratado entre o filho,
não serão vitoriosos enquanto não confiarem no Libertador: E no pleno uso da sua personalidade própria e seu Pai.
Deus tomou isto possível por meio do sacrifício de Seu Fdho.
A salvação do poder do pecado deve, pois, sen reclamada por fé. 1
e d os sentimentos, é um ato que pode ser, e multas vezes ê, na
verdade, como '6 joue uma nova conversão, uma nova 'chamada
1 Debatendo o mesmo aspecto desta analogia, o Bispo Moule. etlclente'. Não há. dúvida alguma que essa condição, dado que a
da Inglaterra, escreve: "A primeira condição é por sua nalureu pessoa compreenda estar na luz de Cristo, serA seguido até final
única e simples: é uma aceltaçã~, uma Incorporação. A segunda por recordaç6es e reiterações; nio meros regressos aos principias
é por sua natureza progressiva e reveladora: a descoberta, dando-se da antiga situação (o que, certamente, não faz parte do plano de
lugar a que ela se faça da grandeza dos recursos que há. em Cristo Deus), mas por resultados bem definidos provenientes da nova
para a vida. O último' caso pode, não é deve, incluir, assim, uma descoberta das neceMldades pessoais e do pecado que hA em si,
grande crise de consciência, uma reação particularmente espiritual. e m ulto mals do que Isso, das 'riquezas' que se relacionam com
J!: bem provivel que ele Inclua diversos pontos de partida, virios Cristo. E, assim, de progresso em progresso, poderá a bendita
desenvolvimentos crltlcos avanços bem definidos. A submissão de promessa da Plenitude do Espbito ser recebIda com santa e ju-
si mesmo ao poder de Cristo, para purlficaçlo intima da vontade bUoa. l"Hlldade", "Outlinu 01 Ohn.tian Doctrine", pAgo 199.
140 AQUELE QUE t: ESPlR1TUAL UMA ANAl.OGU. E A CONCL Uslo 141

Espiritualidade não é um ideal para ser vivido no futur~: sentido de alcançar objetivos espirituais e de aprender a viver
é para ser experimentado ag()ra m esmo, A pergunta essencial e a servir pelo poder que Deus proporcionou. A verdadeira
é, "Já estou andando segundo o Espírito?" Responder a esta espirituaJidade não sabe o que é "estar quieto". :e. uma vida
pergunta, não deve depender da presença ou da ausência de mais ativa, expansiva e vital porque é forta1ecida pelo poder
qualquer manifestação extraordinária do sobrenatural. Grande ilimitado de Deus. :e. bem possível que os Cristãos cheios do
parte da vida deve decorrer num lugar comum e tranqüilo; Espírito, cheguem ao fim do dia fisicamente exaustos. Sentem-se
mas, mesmo ai, devemos ter a convicção de estarmos de bem cansados por trabalhar, mas não cansados do trabalho.
com Deus e em Sua comunhão constante. "Amados, se o nosSO A vida cheia do Espírito nunca está livre de tentação; fi.'lS
coração nos não condena, temos confiança para com Deus" "Fiel é Deus, que vos não deixará tentar acima do que podeis,
(1 João 3:21). Do mesmo modo, não devemos confundir nervos antes com a tentação dará também o escape, para que a possais
exaustos, fraquez.a física ou depressão com falta de espirituaJi· suporta r". O claro ensino desta promessa, de hannonia com
dade. Muitas vezes o repouso é mais necessârio do que o orar, toda a Escritura que se relaciona com este assunto, é que as
âssim como o recreio fí sico é mais util do que sondar o coração. tentações que são " humanas", podem acontecer a todos nós;
Também nos devemos lembrar de que as Suas precauções contudo, há um caminho divinamente preparado para que por
são sempre .perfeitas; o tomarmos parte nestas precauções, p0- ele possamos escapar. O filho de Deus não tem necessidade
rém, é que é muitas vezes imperfeito. Há. sem dúvida, ainda, de se submeter à tentação. Sim, a posS1'bilidade de petar existe
uma alusão corrente às atitudes e ações humanas, em relação sempre, mas nunca a necessidade.
a Deus como sendo" absolutas", tai s c()m() " entrega absoluta", Houve alguém que disse e muito bem, que dos crentes es-
"consagrarão absoluta" e "devoção absoluta". Ainda que haja pirituais têm a honra de estar nas lutas que se travam nas
condições bem definidas pelas quais possamos ser espirituais, trincheiras da fre nte. :e. aqui que se 'Sente mai s violentamente
lembremo-nos de que, partindo do ponto de vista do Deus Infi- a pressão do inimigo. Mas também lhes é "dado o privilégio
nito, a nossa harmonia com aquelas condições é, muitas vezes, de observarem a derrota esmagadora do inimigo; quanto mais
imperfeita. Aquilo que Ele proporciona e concede é da mais abundante é o poder de Deus. tanto mais elevadamente é hon-
alta perfeição divina; mas a nossa adaptação é humana e, por- rado o crente espiritual .
tanto, está freqüentemente sujeita a ser aperfeiçoada. O fato Viver na irrealidade é criar obstáculos à espiritualidade.
do nosso possível resgate, o qual depende somente dEle, não Tudo o que tiver o sabor de "hiIXlCrisia religiosa" é prejudicial.
sofre alteração. Em qualquer altura poderemos receber tanto De uma maneira especial. aquele que foi transformado do natural
quando Lhe permitinnos que Ele o conceda. para o espiritual, algumas vezes necessita de ser novamente
Normalmente, a posição do Cristão espiritual é aquela de levado à sua naturalidade primitiva. - significando isto, cer-
estar ocupado com um serviço frutífero para o seu Senhor. tamente, uma naturalidade de costumes e de vida. A verdadeira
Mas isto não é regra. Apenas precisamos de saber que estamos vida espiritual apresenta uma amplitude.de tal maneira suficiente.
submetidos e prontos a faz er seja o que for que Ele pedir de que nos permite viver muito próximo de todas as classes de
nós. "Descansar no Senhor", é uma das vitórias essenciais pessoas, sem nos afastar de Deus. A espiritualidade deve opâr-se
numa vida espiritual. "Vinde vós, aqui àparte, e repousai um ao pecado, mas nunca pôr obstàculos à amizade e confiança dos
pouco". Tanto somos espirituaIs descansando, recreando-nos, pecadores (Lucas 15:1 ). Quem melhor pode observar as faltas
donnindo ou estando incapacitados, se esta for a Sua vontade dos outros senão aquele que tem visão espiritual? E por essa
para nós, como o somos quando exercemos atividade. razão, quem é que necessita mais do poder divino para o guardar
A vida espiritual não é passiva. Mas muitas vezes se julga de se tornar severo demais, com tudo o que pode resultar de
erradamente que assim é, e justamente pelo fato de que alguém , tal atitude? Precisamos de estudar mai,s cuidadosamente a adapta-
para ser espiritual precisa de abandonar o esforço pessoal no ção que foi experimentada pelo Apóstolo Paulo, como está
142 AQUELE QUE t ESPIRITUAL UMA ANALOGIA E A CONCL.USXO 143

revelada em I Cor. 9 :19-22. Se a nossa especie de espiritualidade a nossa confissão, devemos considerar pela fé, que 110550 perdão
não permite que Cristo seja atraente para os outros, é por9u,e e restauração têm sido plenamente realizados, e imediatamente
essa nossa espiritualidade está precisando de algumas mO(hfl- tomar o nosso lugar na Sua comunhão e na Sua graça divina.
cações enérgicas. Que Deus ,livre os Seus fil.hos de fi~g!rem um O ensino de que "o pássaro com a asa partida nunca mais
tom de voz piedoso, uma piedosa melancoha de esplflto, u~ volta a voar tão aJto", está muito fora do espírito das Escrituras.
piedosa expressão do seu rosto, ou ainda uma maneira de vestir Pelo sacrifício de Cristo, deixou de existir para o santo ou para
aparentemente piedosa (se é que pelo trajar eles desejem pare.cer o pecador, a condenação do pecado. Antes, "o pássaro com a
santos). A verdadeira espiritualidade é um aclamo intenor. asa partida pode tornar a voar ainda mais alto"; porém, quando
É qualquer coisa de mais simples e natural e deve-se tonlar
se quebra ou anula essa comunhão íntima, não deve haver com-
num gozo e numa atração para todos. placência alguma.
Não basta personificar ideais ou imitar outros. ~ precisa- Nunca somos aqueles santos maravilhosos de quem Deus,
mente na análise das experiências que está o grande perigo. com certa razão, se possa orgulhar: somos, apenas, os Seus
E é por isso que muitos são levados, facilmente, a tentar imitar filh inhos. imaturos e sem sabedoria, com os quais Ele é infini-
qualquer outra pessoa. Aquilo que nos dá a nossa preciosa tamente paciente e sobre os quais Ele tem sentido gozo em
distinção é nossa própria personalidade, e nada mais lhe agrada colocar a infinita bondade de Seu coração. .Ele, sim, Ele é
tanto do que sermos aquilo que Ele nos destinou. Há Cristãos maravilhoso. Nós não o somos.
que estão dispostos a "fazer circular uma verdade que não é Crêde no que está escrito. Lembrai-vos das palavras vivas
vivida"; repetem frases piedosas, cuja verdade eles nunca.expe- em Romanos 6 :6,9: "Sabendo isto", ou "Sabendo que". Somo!!
rimentaram realment e. I sto tem, forçosamente, que entristecer sempre justificados quando agirmos à base de evidência fide-
o Espírito. digna. E que palavra de testemunho mais infalível, senão a
:abom não esquecer que estamos sempre tratando COJ1l o imperecível Palavra do nosso Deus? Por essa Palavra é que
nosso Pai. Muitas vezes o andar em Espírito é interpretado nÓS sabemos que Deus providenciou um perfeito juízo para os
como sendo um ato mecânico. Mas o caso é que nós não esta- nossos pecados e por causa do nosso pecado, e que o caminho
mos lidando com uma mâquina: antes, estamos tratando com cstâ aberto para uma vida abundante de poder daquele Espírito
o Pai mais terno e compassivo de todo o universo. O segrêdo abençoado. Sabemos que esta espécie de vida faz parte do Seu
mais profundo do nosso caminhar, é preci~mente conhecê-fO, plano de amor por nós. Está da nossa parte o crer na Sua
e, portanto, crer no Seu coração de Pai, e que podemos depositar promessa infalível. Não é imposição reclamarmos do Deus a Sua
no Seu peito benigno as nossas faltas, se necessário for, ou graça; antes deixar de ~dir tudo quanto o Seu amor deseja
muito simplesmente falar com Ele, dando-Lhe ações de graças dar, seria feri-lo mais do que todas as outras coisas.
por todas as vitórias que para nós alcançou. Quando entramos Não necessitamos de prestar uma atenção direta ao pro-
no conhecimento do conforto e do alívio que tal comunhão nos gresso da nossa fé. A fé vai aumentando à medida que con-
proporciona, teremos menos ocasião para aborrecer qualquer templamos a fidelidade de Deus. Acreditemos na verdade da
outra pessoa. Está da nossa parte contar-Lhe exatamente o que Sua Palavra, quando diz: "A minha graça te basta".
sentimos, tal e qual o que somos de maus no coração, e até A verdadeira espirituaJidade é uma realidade. :e. essencial-
mesmo a nossa se<:reta incredulidade. Proceder assim ó o mesmo mente constituída por todas as manifestações do Espírito dentro
que abrir-Lhe a porta do nosso coração para receber a Sua e através daquela pessoa em quem Ele habita. Ele manifesta
bendita luz e poder. O afastamento da comunhão intima, é no crente a vida que é a de Cristo. E.le não veio para se revelar
a primeira coisa que devemos recear, assim como o "pedir a Si mesmo, mas para tornar Cristo real tlQ coração, e através
auxílio" para todos os acidentes espirituais, consiste no simples do coração do homem. Por isso Paulo pode escrever: "Por
ato de L~ contarmos todas as coisas. Depois de tennos feito causa disto me ponho de joelhos perante o Pai de nosso Senhor
144 AQutLE QUE 11.: EsPIRITUA L

Jesus Cristo, do qual toda a família nos céus e na terra toma


o nome, para que, segundo as riquezas da sua glória, vos conceda
que sejais corroborados com poder pelo seu Espírito no homem
interior ; para que Cristo habite pela fé nos vossos corações;
afim de, estando arraigados e fundados em amor, poderdes
perfeitamente compreender, com todos os santos, qual seja a
largura, e o comprimento, e a altura, e a profundidade, e co-
nheeer o amor de Cristo, que excede todo o entendimento, para
que sejais cheios de toda a plenitude de Deus. Ora, àquele
que é poderoso para fazer tudo muito mais abundantemente
além daquilo que pedimos ou pensamos, segundo o poder que
em nós opera, a esse glória na igreja, por Jesus Cristo, em ".
todas as gerações, para todo o sempre. Amém",

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