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ESCOLA CONVERGÊNCIA

de teologia & vida cristã

O EVANGELHO
DE DEUS
A boa nova de uma perspectiva pessoal e cósmica

Monte Mor/SP
2018
Esta apostila foi redigida a partir das videoaulas ministradas na Esco-
la Convergência de Teologia & Vida Cristã EAD (Ensino a Distância)
e outros materiais didáticos relacionados, cujas referências constam
no corpo da mesma.

Copyright© 2018 por Escola Convergência
Todos os direitos reservados

Autor:
Harlindo de Souza

Compilação e Elaboração de Texto:


Lauriane Lima de Sousa Hayashiguti
Camila Brum
Revisão Teológica:
Harlindo de Souza

Revisão Final:
Maria de Fátima Barboza

Diagramação:
Fabi Vieira

Esta apostila ou qualquer parte dela não pode ser reproduzida
ou usada de forma alguma sem autorização expressa da Escola
Convergência, exceto pelo uso de citações breves desde que
mencionada a fonte, com endereço postal e eletrônico.

ESCOLA CONVERGÊNCIA
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Sumário
Aula 1
Quem é Deus? . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 5

Aula 2
Quem é o Homem? . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 18

Aula 3
Quem é Jesus? . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 28

Aula 4
A Resposta . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 41

Aula 5
A Criação . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 52

Aula 6
A Queda . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 61

Aula 7
A Redenção . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 71

Aula 8
A Consumação . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 85
Aula 1
v.1.0.0

QUEM É
DEUS?
“Ó profundidade da riqueza, da sabedoria e do conhecimento de Deus!
Quão insondáveis são os seus juízos, e quão inescrutáveis, os seus
caminhos! Pois, quem conheceu a mente do Senhor? Quem se tornou
seu conselheiro? Quem primeiro lhe deu alguma coisa, para que lhe seja
recompensado? Porque todas as coisas são dele, por ele e para ele. A ele
seja a glória eternamente! Amém.” (Rm 11.33-36)

Conhecer a Deus e a sua obra é, sem dúvidas, a maior necessidade dos seres humanos.
O próprio Deus adverte seu povo a respeito da importância de conhecê-lo. Através
do profeta Jeremias¹, ele diz que o verdadeiro motivo para se gloriar não seria ou-
tro, senão conhecê-lo. Conhecer a Deus implica em compreender as facetas do seu

1. Jr 9. 23,24

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O EVANGELHO DE DEUS
A boa nova de uma perspectiva pessoal e cósmica

caráter e seu plano eterno. Portanto, esse será o objetivo dessa disciplina, um
mergulho profundo nos aspectos importantes do caráter de Deus e sua obra.
O intuito é levá-lo a compreender algumas das características que compõem a
mensagem do evangelho na palavra de Deus.
A pregação do evangelho deve ser proclamada aos que não creem, com intuito de
levá-los a Cristo, mas também àqueles que já foram alcançados por essa mensagem.
Os nascidos de novo devem ser constantemente alimentados pelas boas novas da sal-
vação. O homem precisa ser relembrado que a graça de Deus é o único motivo que o
torna livre da condenação eterna. Sendo assim, no decorrer dessa disciplina você será
relembrado sobre as grandezas de um Deus que salva e liberta o homem do pecado.
O conteúdo do evangelho, que explicaremos ao longo dessas oito aulas, é concen-
trado em: Deus, o homem, Jesus e a resposta (Criação, Queda, Redenção e Consu-
mação). Em cada um desses pontos se desenvolve a narrativa bíblica que culmina
na grande revelação da salvação e restauração apresentadas pelo evangelho.
Nessa primeira aula falaremos sobre Deus. Veremos sobre alguns de seus atributos,
com intuito de esclarecer a ligação entre a pessoa de Deus e o evangelho. É im-
portante compreender quem Deus é na mensagem do evangelho (as boas novas da
salvação), para que dessa forma possamos compreender com intelecção a sua obra.
A centralidade do evangelho está na pessoa de Deus, portanto, é necessário conhe-
cê-lo para assimilar com clareza a mensagem que ele quer transmitir à humanidade.

ONIPOTENTE

“Eu sou o SENHOR, o Deus de toda a humanidade; existe alguma coisa


impossível para mim?” (Jr 32.27)

“Há alguma coisa difícil para o SENHOR?” (Gn 18.14a)

Deus é Todo-Poderoso, não existe nada que ele não possa fazer. Ele possui ca-
pacidade suficiente para fazer tudo que lhe agrada. Sua vontade pode ser plena-
mente satisfeita, pois ele é todo-poderoso para cumpri-la. Sua voz foi forte o su-
ficiente para dar vida ao mundo que conhecemos e nada escapa do seu controle.
Segundo A. W. Pink (2016)² o poder de Deus é “aquilo que dá vida e movimento a

2. PINK, A. W. Os atributos de Deus. São Paulo: Publicações evangélicas selecionadas, 2016.


p. 73.

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O EVANGELHO DE DEUS
A boa nova de uma perspectiva pessoal e cósmica

todas as perfeições de Deus.” Nenhum demônio, enfermidade ou fenômenos natu-


rais resistem ao comando daquele que tudo criou. Seu poder é ilimitado, é impossí-
vel ao homem mensurá-lo ou medi-lo. Outra característica a respeito da onipotên-
cia de Deus é que ela é imutável, ele jamais deixará de ser eternamente poderoso.
O poder de Deus é inato e inerente a ele, não foi adquirido, mas sempre existiu.
Nas palavras de A. W. Pink (2016): “o poder de Deus é como ele mesmo - auto exis-
tente, auto sustentado. O mais poderoso dos homens não pode acrescentar sequer uma
sombra de poder ao Onipotente.”³ A mente humana é limitada, não sendo capaz de
compreender a totalidade da onipotência de Deus, ainda que vislumbrando aspec-
tos visíveis da sua magnitude. O intelecto humano é inepto no que diz respeito ao
conhecimento das grandezas do Criador. A totalidade de quem Deus é não caberia
nos pensamentos humanos. Nem mesmo a mais grandiosa de suas obras poderia
revelar, em plenitude, a grandeza do seu poder.
Deus é possuidor de tão grande poder que criou tudo que existe por meio de sua
voz; ao seu comando tudo veio a existir, enquanto os seres humanos necessitam de
recursos e ferramentas para o exercício de seus trabalhos.

“Teus são os céus, e tua é a terra; tu estabeleceste o mundo e tudo que há


nele. O Norte e o Sul, tu os criaste; o Tabor e o Hermom regozijam-se em
teu nome.” (Sl 89.11,12)

“Pois ele falou, e tudo se fez; ele mandou, e logo tudo apareceu.” (Sl 33.9)

Todos os aspectos do poder de Deus deveriam despertar no homem um sincero


ímpeto de adoração. As grandiosas obras feitas por suas mãos deveriam arrancar
os mais belos louvores da humanidade. Nas sábias palavras de A. W. Pink (2016), a
alma iluminada deve muito bem adorar um Deus tal como esse! As estupendas e infini-
tas perfeições de um ser como Deus requerem fervoroso culto.4
Ainda sobre a onipotência de Deus, existem algumas atitudes que são contrárias
ao seu caráter, portanto, impossíveis de serem feitas por ele. Deus pode fazer tudo
quanto deseja, contudo, jamais fará algo que seja contrário ao seu caráter, vejamos:

3. ibid., p.75.
4. PINK, A. W. Os atributos de Deus. São Paulo: Publicações evangélicas selecionadas, 2016.
p. 81.

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O EVANGELHO DE DEUS
A boa nova de uma perspectiva pessoal e cósmica

A. Deus não pode mentir.

“Deus não é homem para que minta, nem filho do homem, para que se
arrependa. Por acaso, tendo ele dito, não o fará? Ou, havendo falado,
não o cumprirá?” (Nm 23.19).

“Céu e terra passarão, mas as minhas palavras nunca.” (Mt 24.35).

Deus é a própria verdade, seria contrário ao seu caráter mentir.

B. Deus não pode ser tentado pelo mal.

“Quando tentado, ninguém deve dizer: Sou tentado por Deus, pois Deus
não pode ser tentado pelo mal e a ninguém tenta.” (Tg 1.13).

Deus é separado de todo pecado, portanto, é impossível que seja contaminado ou


tentado pelo mal.

C. Deus não pode negar a si mesmo.

“se somos infiéis, ele permanece fiel; pois não pode negar-se a si mesmo.”
(2 Tm 2.13).

Embora o poder de Deus seja infinito, o uso que ele faz desse poder é qualificado
por seus outros atributos. A limitação não está em seu poder, mas na sua falta de
desejo por fazer o que é mau.
O intuito de discorrer a respeito desses três pontos, não é revelar as fraquezas de
Deus, o contrário é verdadeiro. Essas características revelam que Deus, mesmo
tendo poder para fazer tudo que quer, fará apenas aquilo que é de acordo com seu
caráter. Ele não fará algo que transgrida a sua santidade. Precisamos entender que
ele é onipotente, contudo, esse poder está direcionado à sua santidade e soberania.

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O EVANGELHO DE DEUS
A boa nova de uma perspectiva pessoal e cósmica

INDEPENDENTE

“Ó profundidade da riqueza, da sabedoria e do conhecimento de Deus!


Quão insondáveis são os seus juízos, e quão inescrutáveis, os seus cami-
nhos! Pois, quem conheceu a mente do Senhor? Quem se tornou seu
conselheiro? Quem primeiro lhe deu alguma coisa, para que lhe seja
recompensado? Porque todas as coisas são dele, por ele e para ele. A
ele seja a glória eternamente!” Amém. (Rm 11.33-36)

“Quem primeiro deu a mim, para que eu lhe retribua? Tudo o que existe
debaixo do céu é meu.” (Jó 41.11)

“O Deus que fez o mundo e tudo o que nele há, Senhor do céu e da terra,
não habita em templos feitos por mãos de homens. Tampouco é servido
por mãos humanas, como se necessitasse de alguma coisa. Pois é ele mes-
mo quem dá a todos a vida, a respiração e todas as coisas.” (At 17.24,25)

Deus não depende de nada nem de ninguém. O homem que vive de maneira inde-
pendente está sujeito ao erro, porém, Deus, sendo autossuficiente, não necessita
de auxílio ou amparo. Segundo A. W. Pink (2016), “toda criação dá testemunho,
não só do grande poder de Deus, mas também da sua inteira independência de todas
as coisas criadas”.5 Deus não resgatou o homem, por meio da mensagem do evan-
gelho, por carência ou necessidade, ele criou e salvou a humanidade por causa do
amor que transborda de seu ser. Deus não possui necessidades a serem supridas,
mas é glorificado quando o seu amor é derramado sobre os homens, satisfazendo
suas almas. Ele é exaltado quando o homem supre cada uma de suas necessidades
nele, e somente nele. Nisso são demonstradas a glória e beleza de Deus, ele salva
e convida o homem a ser inundado de amor, ainda que este não possua nada para
oferecer em troca. Por meio do sangue de Cristo, derramado em favor dos homens,
ele comprou os seus, não para preencher alguma lacuna, mas para demonstrar a
sua glória. Portanto, ele é digno de receber nossas vidas como oferta de adoração.

“Porque todo animal da floresta é meu, assim como o gado, aos milhares
nas montanhas. Conheço todas as aves dos montes, e tudo o que se move
no campo é meu. Se eu tivesse fome, não te pediria, pois o mundo é meu e
tudo que nele existe.” (Sl 50.10-12)

5. PINK, op. cit., p. 75.

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O EVANGELHO DE DEUS
A boa nova de uma perspectiva pessoal e cósmica

Deus criou tudo que existe de acordo com a sua vontade, sem auxílio algum. Ele
criou o homem para ser eternamente dependente dele, mas em nada depende de
nós. A independência de Deus revela seu poder, ele tem controle e domínio sobre
todas as coisas e em nada necessita de auxílio. Em contrapartida a essa verdade, a
independência do homem gera morte, pois até mesmo o ar que respira é dádiva de
Deus. Mesmo os homens que se posicionam contrários a Deus, têm seu fôlego de
vida sustentado pelas mãos daquele que tudo criou.

CRIADOR

“No princípio, Deus criou os céus e a terra.” (Gn 1.1)

“Nosso Senhor e nosso Deus, tu és digno de receber a glória, a honra e o


poder, porque tu criaste todas as coisas e, por tua vontade, elas existiram
e foram criadas.” (Ap 4.11)

Deus criou o universo e tudo que nele há, portanto, possui direito sobre toda a
criação. O mesmo que, por meio da sua voz, deu vida a tudo que existe, continua
a reger o mundo com o poder inerente a ele. Segundo Albert M. Wolters (2006)
“o mesmo Deus criador e o mesmo poder soberano que chamou o cosmos à existência
no princípio, o mantém na existência de momento a momento até hoje.”6 Ele não criou
o mundo e se ausentou, tampouco absteve-se, ele continua a reger o universo que
está debaixo do seu poder criativo. Muitos podem se indignar com o fato de Deus
determinar um padrão correto de conduta, ou ainda com o fato de ele julgar aqueles
que vivem longe desse padrão. Mas a grande verdade a respeito disso é que Deus,
por ter criado todas as coisas, tem direito sobre sua criação. Ele é o único que pode
julgar a moral dos homens, o único que pode dizer o que deve ou não deve ser feito,
pois foi seu sopro divino que deu vida aos homens. Tudo que foi criado por Deus
está debaixo de sua tutela.
O mesmo poder que atuou na criação vem atuando ao longo dos séculos, governan-
do todas as coisas. Como dito anteriormente, Deus não criou o universo e o que
nele há para deixá-lo à mercê da sorte. Ele é o criador, dono e Rei, sua poderosa
mão continua a reger o universo. Sobre isso Wolters (2006) diz:

6. WOLTERS, Albert M. A criação restaurada: Base bíblica para uma cosmovisão reformada.
São Paulo: Cultura Cristã, 2006. p 25.

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O EVANGELHO DE DEUS
A boa nova de uma perspectiva pessoal e cósmica

A onipotência do comando de Deus, pela


qual ele faz todas as coisas como são, é a
mesma que foi no princípio da criação e em
cada momento da história. Isso é o que os
teólogos querem dizer quando escrevem
que é difícil, senão impossível, fazer uma
distinção decisiva entre “criação” e “pro-
vidência” como obras de Deus. A obra diária
de Deus, de preservar e governar o mundo,
não pode ser separada do seu ato de chamar
o mundo à existência. No vocabulário de
Deus, “fazer” e “governar” são sinônimos.7

Deus deu origem, sustenta e governa a humanidade, tudo por amor ao seu nome.
Todas as obras criadas por Deus foram feitas para o seu prazer, para que fosse glori-
ficado. Ele não é apenas todo-poderoso e independente, mas aquele que criou tudo
que existe de acordo com o propósito da sua santidade.

“Os céus proclamam a glória de Deus, e o firmamento anuncia as obras


das suas mãos.” (Sl 19.1)

SANTO

Deus é santo, ou seja, separado de todo pecado. Mesmo antes que o pecado viesse
a existir como uma prática real, ele já era santo, eternamente santo. Contudo, não
é santo apenas por ser separado de tudo aquilo que é mau, mas por ser dedicado a
tudo que é bom e honroso. Segundo A. W. Pink (2016):

Muitas vezes ele é intitulado “o Santo” nas Escrituras. Sim, porque


nele se acha a soma total de todas as excelências morais. Ele é pureza
absoluta, que nem mesmo a sombra do pecado mancha. “Deus é luz”
(1Jo 1.5). A santidade é a excelência propriamente dita da natureza divi-
na: o grande Deus é “majestoso em santidade” (Êx 15.11).8

7. ibid., p.26.
8. PINK, op. cit., p.65.

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O EVANGELHO DE DEUS
A boa nova de uma perspectiva pessoal e cósmica

Vejamos alguns outros aspectos sobre a santidade de Deus:


Deus abençoa e santifica o sábado:

“Lembra-te do dia de sábado, para o santificar. Seis dias trabalharás e farás


o teu trabalho; mas o sétimo dia é o sábado do SENHOR teu Deus. Nesse
dia não farás trabalho algum (...). Porque o SENHOR fez em seis dias o céu
e a terra, o mar e tudo o que neles há, e no sétimo dia descansou. Por isso, o
SENHOR abençoou o dia de sábado e o santificou.” (Êx 20.8-11)

Deus orienta o que deve ser feito à porta da tenda da congregação (ou Tabernáculo):

“Este será o holocausto contínuo através de vossas gerações, à entrada


da tenda da revelação, diante do SENHOR, onde vos encontrarei, para
falar contigo. Virei aos israelitas ali, e a tenda será santificada pela mi-
nha glória. Santificarei a tenda da revelação e o altar. Também consa-
grarei Arão e seus filhos, para que me sirvam como sacerdotes. Habitarei
no meio dos israelitas e serei o seu Deus; e eles saberão que eu sou o
SENHOR seu Deus, que os tirou da terra do Egito para habitar no meio
deles. Eu sou o SENHOR seu Deus.” (Êx 29.42-46)

A santidade de Deus é exaltada pelos homens e pelos anjos:

“Eu também te louvarei ao som do saltério, pela tua fidelidade, ó meu


Deus; eu te cantarei ao som da harpa, ó Santo de Israel. Meus lábios,
assim como a minha vida, que remiste, exultarão quando eu cantar teus
louvores.” (Sl 71.22,23)

“... eu vi o Senhor assentado sobre um alto e sublime trono, e as abas de


seu manto enchiam o templo. Acima dele havia serafins; cada um tinha
seis asas; com duas cobriam o rosto, com duas cobriam os pés e com duas
voavam. E clamavam uns aos outros: Santo, santo, santo é o SENHOR
dos Exércitos; toda a terra está cheia da sua glória.” (Is 6.1-3)

“O SENHOR reina! Tremam os povos! Ele está entronizado sobre os


querubins. Estremeça a terra! O SENHOR é grande em Sião; exaltado
acima de todos os povos. Louvem teu grande e tremendo nome, pois tu és
santo. (...) Exaltai o SENHOR, nosso Deus, e prostrai-vos diante do es-
trado de seus pés, pois ele é santo. (...) Exaltai o SENHOR, nosso Deus,

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O EVANGELHO DE DEUS
A boa nova de uma perspectiva pessoal e cósmica

e adorai-o no seu santo monte, pois o SENHOR, nosso Deus, é santo.”


(Sl 99.1-3,5,9)

Padrão moral para a humanidade:

“O SENHOR disse a Moisés: Fala a toda a comunidade dos israelitas:


Sereis santos, porque eu, o SENHOR vosso Deus, sou santo.” (Lv 19.1,2)

“Como filhos obedientes, não vos amoldeis aos desejos que tínheis em
tempos passados na vossa ignorância. Mas sede vós também santos em
todo vosso procedimento, assim como é santo aquele que vos chamou,
pois está escrito: Sereis santos, porque eu sou santo.” (1 Pe 1.14-16)

“Naquele dia se gravará sobre as campainhas dos cavalos: consagrado


ao SENHOR; e as panelas no templo do SENHOR serão como as bacias
diante do altar. E todas as panelas em Jerusalém e Judá serão consa-
gradas ao SENHOR dos Exércitos; todos os que vierem sacrificar as
pegarão e cozinharão nelas. Naquele dia não haverá mais comerciantes
no templo do SENHOR dos Exércitos.” (Zc 14.20,21)

A santidade de Deus é condição moral, determinada por ele, necessária à saúde


do universo.9 O mal, como uma doença moral, traz morte, mas em contraste a
isso temos a santidade de Deus, que representa tudo aquilo que é saudável e traz
vida. Deus tem interesse em tornar o universo criado por ele um lugar revestido de
saúde moral, mas para que isso venha a acontecer faz-se necessário a destruição de
tudo aquilo que fere a sua santidade.

JUSTO / RETO

“Ele é a Rocha! Suas obras são perfeitas, porque todos os seus caminhos
são justos. Deus é fiel, e nele não há pecado; é justo e reto.” (Dt 32.4)

Tudo que Deus faz é justo e reto, ele é o próprio padrão de justiça e retidão. Ele é
glorificado quando sua justiça é estabelecida. Tudo que ele criou e faz tem como

9. TOZER, A. W. O conhecimento do Santo. São Paulo: Impacto, 2018. p. 215

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O EVANGELHO DE DEUS
A boa nova de uma perspectiva pessoal e cósmica

propósito principal a honra do seu nome. Sendo assim, Deus age em retidão quan-
do se dedica à sua própria glória. Quando o homem se dedica à sua própria glória
ele está pecando, mas quando Deus trata a si mesmo como o centro do universo,
ele é justo. A nenhuma criatura é dado o direito de colocar-se como centro do uni-
verso, mas àquele que tudo criou é concedido esse direito.
Outro ponto é que sua justiça está contida no fato dele enviar pecadores para o in-
ferno,10 da mesma forma que está contida no fato dele salvar pessoas da condenação
eterna. Esse é um preceito que escandaliza diversas pessoas, todavia o estabeleci-
mento do padrão moral de Deus não deveria escandalizar. A ofensa com a justiça
de Deus sendo instaurada revela um coração centrado em si próprio e não na glória
daquele que é santo. Tal atitude deveria conduzir ao arrependimento.
Segundo A. W. Pink (2016), muitas pessoas se ofendem com o fato de Deus se irar,
porém, a Bíblia apresenta mais referências a respeito da ira de Deus do que do seu
amor. Ele é o padrão de justiça, o homem que se ofende com a forma como Deus
governa e julga o mundo, escandaliza-se com aquele que criou e tem domínio sobre
todas as coisas. Ainda segundo Pink:

A ira de Deus é uma perfeição divina tanto quanto a sua


fidelidade, o seu poder ou a sua misericórdia. [...] Como
poderia aquele que é a soma de todas as excelências olhar
com igual satisfação para a virtude e o vício, para a sabe-
doria e a tolice? Como poderia aquele que é infinitamente
santo ficar indiferente ao pecado e se negar a manifes-
tar a sua “severidade” (Rm 11.22) para com ele? [...] a própria
natureza de Deus faz do inferno uma necessidade tão
real, um requisito tão imperativo quanto o próprio céu.
[grifo nosso]11

Deus odeia a injustiça, é contrário à sua natureza ser apático frente a maldade e o
pecado. Deus, por amor ao seu nome, rege a terra em justiça e retidão e detesta
tudo que vai contra seu padrão divino. Ele é o único puro e santo capaz de deter-
minar o que é correto, portanto, cabe ao homem entregar-se aos preceitos divinos,
confiando que ele sabe a forma justa e reta de guiar a humanidade, seja manifestan-
do sua graça ou sua ira.

10. “E não temais os que matam o corpo e não podem matar a alma; pelo contrário, temei aque-
le que pode destruir no inferno* tanto a alma como o corpo.” ( mt 10.28)
11. PINK, op. cit., p.144.

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O EVANGELHO DE DEUS
A boa nova de uma perspectiva pessoal e cósmica

Tudo no universo é bom na medida em que segue a natureza de Deus


e é mau na medida em que deixa de fazê-lo. Deus é o seu próprio prin-
cípio autoexistente de equidade moral, e, quando condena o homem
mau ou recompensa o justo, ele está meramente agindo de acordo com
a sua natureza, influenciado por coisa alguma além de si próprio.12

O EVANGELHO EXPLÍCITO

O evangelho explícito é composto por duas perspectivas a respeito das boas novas
da salvação, elas apontam para a relação existente entre a obra de Cristo com o
homem e a criação.
Evangelho no chão (aspecto antropológico):
Engloba a narrativa bíblica sobre Deus, o homem, Cristo e a resposta. Ao observar
o evangelho sob essa perspectiva, o homem pode perceber claramente a obra re-
dentora de Cristo estendida à humanidade, sendo possível ainda perceber a glória
de Deus reinando sobre o seu plano eterno para o homem.
Evangelho no alto (aspecto cosmológico):
Por meio dessa perspectiva é possível ver a conexão entre a salvação e a restauração
cósmica, a narrativa bíblica a respeito da redenção.13
Todos os pontos vistos até agora têm como propósito fazê-lo compreender a men-
sagem do evangelho. Fechar os olhos para quem Deus de fato é nas Escrituras
é o mesmo que abster-se de uma correta compreensão a respeito do evangelho.
Esse é o sentido por trás do título dessa disciplina, tendo em vista que Deus é aque-
le que idealizou e proclama as boas novas por meio do seu Filho.

CONCLUSÃO

A justiça e retidão de Deus revelam que ele sempre age de acordo com seu padrão
justo. A justiça, em termos bíblicos, tem a ver com organizar tudo em seu devido

12. TOZER, op. cit., p. 177, 178.


13. WILSON, Jared. CHANDLER, Matt. Evangelho Explícito. São José dos Campos, SP: Editora
Fiel, 2013. p.17.

15
O EVANGELHO DE DEUS
A boa nova de uma perspectiva pessoal e cósmica

lugar. Em contrapartida, o mundo prega que justiça tem a ver com igualdade, ideia
que não condiz com o padrão de justiça imutável de Deus.
Todo o assunto que circunda a onipotência, independência, santidade e justiça de
Deus, nos conduz a um dilema. Esse dilema consiste no fato de que, todos esses
atributos revelam que Deus não deveria salvar o homem, uma vez que o jugo desi-
gual entre Criador e criatura é extremamente perceptível. Deus deveria condenar
a humanidade, sem exceções, ao inferno. Todavia, ainda assim, condenados eter-
namente ao castigo da ira divina, não seriam capazes de pagar a dívida gerada pela
ofensa feita contra Deus. Todos pecaram e estão destituídos da glória de Deus14,
portanto: Todos os seres humanos mereceriam o inferno!
Quando tentamos de alguma forma cobrar que Deus faça determinada coisa por
nós, ou quando o julgamos como déspota, isso revela que cremos em um evange-
lho distorcido. Outro ponto alarmante, que demonstra o quanto o evangelho vem
sendo distorcido, encontra-se definido na expressão “deísmo moralista terapêutico
cristão”, criada pelo sociólogo Christian Smith. Segundo Matt Chandler e Jared
Wilson, “a ideia por trás do deísmo moralista terapêutico cristão é que somos capazes
de ganhar o favor de Deus e nos justificar diante dele em virtude de nosso compor-
tamento” (2013).15 Tal ideia se disfarça de pensamento cristão no meio de muitas
igrejas. Muitas vezes, em grupos religiosos, os assuntos discutidos dizem respeito
ao bem-estar, ao fato de considerarem a bondade algo inato nos seres humanos e
ainda sobre como o mal pode ser evitado por eles. Crenças como essas, por mais
que circulem ao redor do nome de Jesus, estão longe de serem assuntos centrados
nas verdades do evangelho.

DEÍSMO - parte do princípio de uma crença em Deus;


MORALISTA - tem a conduta moral como centro, e não a cruz;
- tem como objetivo o bem estar do ser humano e
TERAPÊUTICO não a gloria de Deus;
- usa símbolos e linguagens cristã, mas a sua essên-
CRISTÃO cia não é Cristo;

14. Rm 3.23
15. WILSON, Jared. CHANDLER, Matt. op. cit., p 13.

16
O EVANGELHO DE DEUS
A boa nova de uma perspectiva pessoal e cósmica

Por vezes, os cristãos são revestidos por justiça própria, fato que os impede de
compreender com clareza a mensagem da salvação. Por algum motivo, presume-se
que a obra da cruz salva o homem apenas dos pecados cometidos antes da conver-
são, mas a partir desse ponto ele deve assumir o controle e ser o responsável por
se autopurificar. O homem acredita que, por meio do seu esforço, obterá a melhor
performance espiritual, fato que não corresponde à verdade. É necessário conhecer
as verdades a respeito de Deus e das boas novas que ele quer comunicar ao homem.
A mensagem do evangelho, revelada nas Escrituras, aponta para um Deus todo-po-
deroso, bom, reto e rico em misericórdia. A Bíblia tem o evangelho como centro de
sua mensagem, mas para compreender essa mensagem de boas novas é necessário,
primeiramente, olhar para o coração daquele que proclama ao homem essa palavra.
A mensagem do evangelho é o próprio Deus.

17
Aula 2
v.1.0.0

QUEM É O
HOMEM?
INTRODUÇÃO

Na aula anterior falamos sobre quem é Deus, vimos que é impossível adentrar nas
verdades do evangelho, sem antes mergulhar na realidade de quem Deus é. Como
sequência ao assunto da disciplina, falaremos sobre o homem, discorreremos sobre
sua condição após a queda. A humanidade encontra-se imergida no pecado e é em
meio às suas maldades que o evangelho ressoa. As boas novas da salvação propa-
gam-se em um contexto de completa corrupção. O pecado de Adão condenou a hu-
manidade ao jugo desse mal, toda a criação foi e ainda é afetada pela maldade, desde
o Éden. Portanto, é necessário voltar os olhos para o que a Bíblia tem a dizer sobre
a condição humana. O que as Escrituras falam a respeito de quem é o homem? Ao
olhar para a humanidade, segundo a ótica bíblica, é possível perceber a condição
em que o evangelho encontrou o homem e sobre a condição que gera nele a neces-
sidade pela mensagem salvífica de Cristo.

18
O EVANGELHO DE DEUS
A boa nova de uma perspectiva pessoal e cósmica

O homem é mau, ainda que pense em praticar o bem, sua natureza o faz pender
para tudo aquilo que é contrário à lei de Deus¹. Além de ter em si uma natureza pe-
caminosa o homem é incapaz de melhorar a si próprio, contudo mantém-se iludido
por acreditar que existe bondade inata em seu coração. Como se não bastasse todas
essas idiossincrasias a respeito da condição humana, o homem ainda se nutre de
uma religiosidade nociva e opressora. Esses serão assuntos que veremos a fundo
nessa aula, pois é necessário conhecer a verdadeira natureza do homem, para assim
caminhar rumo à proposta do evangelho.

MALDADE INATA X MALDADE ADQUIRIDA

Os questionamentos a respeito da maldade humana são diversos, esse é um tema


que divide opiniões. A problemática em torno de seu contágio e propagação está
longe de ser resolvida e vista com irenismo diante da comunidade filosófica. Segun-
do Jean-Jacques Rousseau (1712-1778)² o homem nasce bom e é corrompido pela so-
ciedade. Rousseau considerava o processo civilizatório como força motriz da mal-
dade no mundo. Essa ideia ganhou diversos adeptos, mas o convido a considerá-la
por outra perspectiva, vejamos: Se o homem é produto do meio, visto que é bom
e a sociedade o corrompe, nos resta o seguinte questionamento: quem pode ser
responsabilizado pela corrupção da sociedade senão o próprio homem? A sociedade
aqui referenciada diz respeito a um grupo de indivíduos corruptos, que de forma
perversa incluem homens bons em seus círculos de maldade, corrompendo-os. Tal
teoria desconsidera que a sociedade é formada, contudo, por homens. Ao supor que
o homem nasce livre de qualquer maldade é necessário encontrar o culpado pela
degradação da humanidade, pois em algum momento esse ciclo de bondade inata foi
quebrado. Tal ideia é ingênua por natureza, uma vez que para acreditar que o homem
nasce, de fato bom, é necessário fechar os olhos para toda vileza presente em nosso
próprio coração. Todavia ela tem se infiltrado como verdade dentro e fora da igreja.
Contrário a esse pensamento que diz ser a bondade algo inato ao ser humano,
temos a visão bíblica. De acordo com a palavra de Deus a bondade natural do
ser humano é uma farsa, um produto de esperteza. O homem opta pela bondade
quando percebe que o mal não é um caminho suficientemente vantajoso.

1. Rm 7. 18,19.
2. Importante filósofo, teórico político, escritor e compositor de Genebra. Considerado um
dos principais filósofos do iluminismo.

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O EVANGELHO DE DEUS
A boa nova de uma perspectiva pessoal e cósmica

Sem floreios ou voltas, a grande verdade a respeito do ser humano é que ele é peca-
dor, ou seja, mau em sua natureza. Segundo Greg Gilbert:

A Bíblia diz que não somente Adão e Eva são culpados de pecado.
Todos nós somos. Em Romanos 3.23, Paulo diz: “Todos pecaram e
carecem da glória de Deus”. E um pouco antes ele diz: “Não há jus-
to, nem um sequer” (3.10). O evangelho de Jesus Cristo é cheio de
pedras de tropeço, e essa é uma das maiores. Para corações humanos
que pensam obstinadamente de si mesmos como bons e autossufi-
cientes, essa ideia de que os homens são fundamentalmente peca-
minosos e rebeldes não é apenas escandalosa. É também revoltante.³

Portanto, a ideia de que o homem é bom é completamente contrária à ideia bíblica


a esse respeito. Em Gênesis, do capítulo 6 ao 8, vemos a história de Noé, homem
considerado justo em seu tempo, um homem que andava com Deus. Porém, ao
ler sua história, percebemos que as pessoas ao seu redor abraçavam a maldade. A
corrupção do povo era tamanha que Deus decide exterminá-los. O desfecho desse
enredo é famoso, Deus ordena que Noé construa uma arca para salvar a si, a sua
família e parte da criação. É enviado então o dilúvio, a ira divina afogou o mundo
por conta de sua grande maldade. Porém, o fato de Noé e sua família terem sido
poupados, não significa que a partir desse ponto a humanidade caminharia purifi-
cada de seus pecados. A parcela da criação que foi poupada ainda era constituída
por pessoas intrinsecamente más. A natureza pecaminosa continuou a existir no
coração de Noé e de sua família.
Em Gênesis, capítulo 8, temos a seguinte passagem:

“Então Noé edificou um altar ao SENHOR, tomou de todo animal lim-


po e de toda ave limpa e ofereceu holocaustos sobre o altar. O SENHOR
sentiu o aroma suave e disse em seu coração: Não tornarei a amaldiçoar
a terra por causa do homem, pois a imaginação do seu coração é má des-
de a infância; nem tornarei a ferir de morte todo ser vivo, como acabo de
fazer." (Gn 8.20,21)

Nessa passagem Noé acaba de sair da arca e faz um sacrifício diante de Deus, a
passagem diz que o cheiro do sacrifício o agradou. Mas ainda que o cheiro daquele
sacrifício tenha sido suave diante de Deus, ele se refere ao homem e às futuras

3. GILBERT, Greg. O que é o evangelho?. São José dos Campos, SP: Editora Fiel, 2015. p.70

20
O EVANGELHO DE DEUS
A boa nova de uma perspectiva pessoal e cósmica

gerações como sendo imbuídas de maldade. Então, prometeu que não amaldiçoaria
mais a terra por conta de sua maldade, pois sabia muito bem que o homem é mau
desde a sua meninice e que sua natureza é corrupta. Todos, sem exceção, nascem
maus e contaminados pelo pecado. Mesmo os homens que a Bíblia considera como
sendo justos, são maus em sua essência e precisam de Deus para serem resgatados
de suas maldades. Jesus foi o único homem justo e livre de pecados que andou
sobre a terra.

A CONDIÇÃO HUMANA

Daremos prosseguimento ao assunto falando sobre quatro pontos a respeito da


condição humana. Os três primeiros pontos são a maldade humana, a incapacidade
do homem em melhorar a si próprio e a sua ilusão.

1. O HOMEM É MAU

Precisamos entender que a natureza do homem é pecaminosa e a sua maldade


estabelece a necessidade do evangelho. O homem é mau desde sua infância,
nenhum ato de bondade cometido por ele é impulsionado por sua natureza. A raiz
da maldade impregnou-se na humanidade quando Adão decidiu rejeitar a autori-
dade de Deus, desobedecendo-o. As consequências do pecado de Adão e Eva foram
desastrosas para eles, para seus descendentes e para o resto da criação.4
Veremos abaixo o que a Bíblia tem a dizer sobre a maldade humana:

“E o SENHOR viu que a maldade do homem na terra era grande e que


toda a imaginação dos pensamentos de seu coração era continuamente
má. Então o SENHOR arrependeu-se de haver feito o homem na terra,
e isso lhe pesou no coração.” (Gn 6.5,6)

“O coração é enganoso e incurável, mais que todas as coisas; quem pode


conhecê-lo?” (Jr 17.9)

“Todos nós somos como o impuro, e todas as nossas justiças, como trapo
da imundícia; e todos nós murchamos como a folha, e as nossas malda-
des nos arrebatam como o vento. E não há quem invoque o teu nome, que

4. GILBERT, Greg. op. cit., p. 69.

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O EVANGELHO DE DEUS
A boa nova de uma perspectiva pessoal e cósmica

desperte e te detenha, pois escondeste de nós o rosto e nos consumiste por


causa das nossas maldades” (Is 64.6,7)

“Pois não há um só homem justo sobre a terra, que só faça o bem e nunca
peque.” (Ec 7.20)

“Eu nasci em iniquidade, e em pecado minha mãe me concebeu.” (Sl 51.5)

“SENHOR, ouve a minha oração, dá ouvidos às minhas súplicas! Res-


ponde-me conforme tua fidelidade e justiça; e não condenes o teu servo,
porque ninguém é justo diante de ti.” (Sl 143.1,2)

“E então? Somos superiores a eles? De modo nenhum, pois já demonstra-


mos que tanto judeus como gregos estão todos debaixo do pecado; como
está escrito: Não há justo, nem um sequer. Não há quem entenda; não há
quem busque a Deus. Todos se desviaram; juntos se tornaram inúteis. Não
há quem faça o bem, nem um sequer. A garganta deles é um sepulcro aber-
to; enganam com a língua; debaixo dos seus lábios há veneno de serpente;
a sua boca está cheia de maldição e amargura. Os seus pés se apressam
para derramar sangue. Nos seus caminhos há destruição e miséria; e não
conheceram o caminho da paz. Não possuem nenhum temor de Deus.”
(Rm 3.9-18)

“Porque eu sei que em mim, isto é, na minha carne, não habita bem al-
gum; pois o querer o bem está em mim, mas não o realizá-lo.” (Rm 7.18)

“Ele vos deu vida, estando vós mortos nas vossas transgressões e peca-
dos, nos quais andastes no passado, no caminho deste mundo, segundo
o príncipe do poderio do ar, do espírito que agora age nos filhos da deso-
bediência, entre os quais todos nós também antes andávamos, seguindo
os desejos carnais, fazendo a vontade da carne e da mente; e éramos por
natureza filhos da ira, assim como os demais.” (Ef 2.1-3)

“E prosseguiu: O que sai do homem é que o torna impuro. Pois é de


dentro do coração dos homens que procedem maus pensamentos, imora-
lidade sexual, furtos, homicídios, adultérios, cobiça, maldade, engano,
libertinagem, inveja, blasfêmia, arrogância e insensatez. Todas essas coi-
sas más procedem de dentro do homem e o tornam impuro.” (Mc 7.20-23)

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O EVANGELHO DE DEUS
A boa nova de uma perspectiva pessoal e cósmica

Esses são alguns dos versículos que revelam a maldade humana. A palavra de Deus
não mede esforços quando o assunto é apontar o quão pecador o homem é. O pe-
cado é como uma lama que inunda o homem por dentro e se espalha por todo seu
ser. Não existe nenhum aspecto do seu caráter que não seja manchado pelo pecado.
A esse respeito, Greg Gilbert nos diz que:

Toda parte de nossa existência humana está corrompida pelo pe-


cado e sob seu poder. Nosso entendimento, nossa personalidade,
nossos sentimentos e emoções, bem como a nossa vontade, estão
todos escravizados pelo pecado. Por isso, Paulo diz em Romanos
8.7: “O pendor da carne é inimizade contra Deus, pois não está su-
jeito à lei de Deus, nem mesmo pode estar.” Que declaração cho-
cante e apavorante! O domínio do pecado em nós é tão completo
- nossa mente, entendimento e vontade - que vemos a glória e a
bondade de Deus e, por desgosto, as rejeitamos inevitavelmente.5

A maldade humana é um tema bíblico que não abre margem para questionamentos
ou interpretações. O homem é mau, é rebelde contra a vontade de Deus, ainda que
de forma involuntária. Sua natureza o direciona ao pecado desde sua tenra idade.

2. O HOMEM É INCAPAZ DE MELHOR A SI PRÓPRIO

“Pode o etíope mudar a sua pele ou o leopardo as suas pintas? Podereis


vós fazer o bem, estando treinados para fazer o mal?” (Jr 13.23)

O homem não é apenas mau, ele é também incapaz de melhorar a si próprio. Não
existe no homem nenhuma arma que o ajude a evoluir ou purificar sua natureza
pecaminosa. Qualquer tentativa de autopurificação pode resultar apenas em uma
troca por pecados socialmente aceitos. Por exemplo, um homem pode desejar se
livrar da impureza sexual, uma vez que tal pecado pode trazer prejuízos para sua
vida. Mas será grato se trocar a imoralidade pelo orgulho. Tal atitude não revela
uma evolução espiritual, isso significa apenas que houve esperteza na forma como
o pecado foi administrado. Não existe nenhuma habilidade no homem capaz de
ajudá-lo a evoluir e livrar-se de seus pecados. O caminho que resta à humanidade
é o caminho de arrependimento, é necessário reconhecer toda maldade que habita

5. GILBERT, Greg. op. cit., p. 76.

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O EVANGELHO DE DEUS
A boa nova de uma perspectiva pessoal e cósmica

em nosso coração e aceitar o fato de que não temos em nós a mínima capacidade
de nos autopurificar. O homem possui a habilidade inata de ser mau, porém, é
completamente inapto no que diz respeito a curar-se de sua maldade.

3. O HOMEM É ILUDIDO

“Se dissermos que não temos pecado algum, enganamos a nós mesmos, e
a verdade não está em nós. Se confessarmos os nossos pecados, ele é fiel
e justo para nos perdoar os pecados e nos purificar de toda injustiça. Se
dissermos que não temos cometido pecado, nós o tornamos mentiroso, e
sua palavra não está em nós.” (1 Jo 1.8-10)

Além de maus e incapazes de curar-se de suas maldades, os homens são iludidos. Ain-
da que alguns creiam na maldade que habita em seus corações, não acreditam ser essa
maldade algo preocupante. O homem acredita que o seu pecado é um mero detalhe
que pode ser facilmente corrigido por ele. Greg Gilbert (2015), afirma que muitas ve-
zes os homens acreditam que a natureza humana é como uma esfera de quartzo, polida
e brilhante. Por mais que esteja suja com poeira ou lama, mantém-se completamente
intacta e bela por baixo desses desasseios. Ainda segundo Greg Gilbert:

O quadro bíblico da natureza humana não é tão belo assim. De acor-


do com a Escritura, a esfera da natureza humana não é brilhante
de modo algum. E a lama não está apenas cobrindo o lado de fora.
Pelo contrário, estamos completamente atingidos pelo pecado.
As fendas, a lama, a imundície, a corrupção atingem até o âmago.6

Precisamos abraçar a opinião de Deus a respeito do homem, não a nossa. A opinião


divina sobre a natureza humana é que ela precisa ser completamente reformada pela
mensagem da cruz. Deus enviou a sua lei para que o homem pudesse perceber a dis-
tância existente entre o seu pecado e a santidade divina. Nem mesmo as nossas ten-
tativas de bondade são livres de corrupção. O profeta Isaias7 nos diz que até mesmo
nossos atos de justiça são como trapo de imundícia diante de Deus. Mesmo as obras
mais justas executadas por nossas mãos não são suficientes para agradar a Deus.
A lei divina mostra ao homem o quão incapaz ele é, por mais que tente cumpri-la
ele irá falhar. Nós não conseguimos fazer aquilo que é correto diante de Deus por

6. GILBERT, Greg. op. cit., p. 76.


7. Is 64.6,7.

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O EVANGELHO DE DEUS
A boa nova de uma perspectiva pessoal e cósmica

causa do pecado. Apenas quando temos um encontro com Deus e somos acusados
da nossa total incapacidade em cumprir a sua lei é que estaremos preparados para
receber o evangelho. Uma vez que toda a nossa esperança pecaminosa na bondade
humana é aniquilada pelo padrão divino contido nela. Reconhecer a sua própria
maldade e pecado é a única forma de conduzi-lo a Deus.

4. A RELIGIOSIDADE QUE OPRIME

“Mas se tu te chamas judeu, te apoias na lei e te glorias em Deus; e co-


nheces a vontade dele, aprovas as coisas excelentes, sendo instruído na
lei, e estás convencido de que és guia dos cegos, luz dos que estão nas
trevas, instrutor de ignorantes, mestre de crianças, que tens na lei a for-
mulação do conhecimento e da verdade. Tu, pois, que ensinas os outros,
não ensinas a ti mesmo? Tu, que pregas que não se deve furtar, furtas?
Tu, que dizes que não se deve cometer adultério, adulteras? Tu, que abo-
minas os ídolos, rouba-lhes os templos? Tu, que te glorias na lei, desonras
a Deus pela transgressão da lei? Pois, como está escrito, por vossa causa
o nome de Deus é blasfemado entre as nações.” (Rm 2.17-24)

O homem é capaz das maiores atrocidades, entre suas inúmeras atitudes pecami-
nosas está o fato de se apropriar da lei de Deus e usá-la como instrumento para
oprimir outras pessoas. A lei de Deus nos foi dada para acabar com a ilusão de que
somos bons; um de seus objetos é gerar corações humildes, porém, tem sido usada,
muitas vezes, como objeto de orgulho e arrogância. O homem é mau, incapaz de
melhorar a si próprio, iludido e ainda religioso. É comum que a lei de Deus seja uti-
lizada como pódio, para que o homem se vanglorie diante dos outros, julgando-se
melhor do que aqueles que são ignorantes quanto ao conhecimento da lei. Quando
usamos o conhecimento da lei de Deus, sem a prática, para oprimir outras pessoas,
ou quando tentamos barganhar com Deus usando a sua própria palavra, estamos
sendo religiosos.
Muitas vezes, quando o homem esbarra na sua incapacidade em cumprir a lei
divina, ele a distorce encaixando-a em um formato que condiga com a sua
mediocridade. Existem diversas versões particulares dos preceitos divinos, um
conjunto de regras impostas sobre as pessoas, mas que não se assemelham em
nada à verdadeira lei. Infelizmente usamos o conhecimento da lei de Deus para um
propósito completamente contrário aos desígnios divinos.
O propósito de Deus sempre foi salvar o homem por meio de sua graça. Sempre foi
que seus filhos chegassem à conclusão que necessitam desesperadamente dele e

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O EVANGELHO DE DEUS
A boa nova de uma perspectiva pessoal e cósmica

da sua misericórdia. Por esse motivo ele entrega a sua lei aos homens, para tirá-los
do entorpecimento que os tornam completamente iludidos quanto à sua própria
natureza. A lei serve para confrontá-lo e conduzi-lo ao total abandono à mensagem
do evangelho. Mas muitas vezes a transformamos em uma religião, imputamos à lei
de Deus as nossas tradições e nos tornamos como os fariseus.
Enquanto Jesus demonstrava graça e amor aos pecadores que se aproximavam dele,
era ao mesmo tempo implacável com os religiosos da época. Os fariseus apropria-
ram-se da chave do reino de Deus, mas a escondiam de si e dos demais pecadores.
Tal atitude despertava a ira de Cristo. O objetivo de Deus não é que nos tornemos
religiosos por causa do nosso muito conhecimento, mas que sejamos humilhados
diante do seu evangelho.
Esses quatro pontos, a respeito da condição humana, apontam para o evangelho,
visto que a primeira palavra do evangelho é arrependimento.

“Depois que João foi preso, Jesus foi para a Galileia, pregando o evan-
gelho de Deus e dizendo: Completou-se o tempo, e o reino de Deus está
próximo. Arrependei-vos e crede no evangelho.” (Mc 1.14,15)

Nessa passagem Jesus começa a pregar o evangelho após João ter sido preso. Ele
não abandonou a mensagem que João pregava, mas começou a pregar sobre arre-
pendimento. Isso nos mostra que antes de crer no evangelho é necessário abraçar
a mensagem de arrependimento. Não é possível trilhar o caminho proposto por
Cristo sem compreender que todos os homens são falidos como criaturas de Deus.

IDENTIFICANDO ATITUDES RELIGIOSAS

Ao passo que você conhece a lei de Deus, é possível que se questione sobre a exis-
tência de atitudes religiosas em sua vida. É possível fazer uma autoanálise e buscar
compreender, por meio de seis aspectos muito simples, se existe religiosidade em
seu coração. Vejamos esses aspectos que denunciam a religiosidade:
1. Orgulho: Orgulhar-se do seu conhecimento, ainda que não pratique.
2. Esforço humano: Crer que consegue agradar a Deus por meio de suas atitudes.
3. Autopreservação: Zelar pela sua própria imagem (sua reputação) e importar-se
demasiadamente com a opinião alheia;
4. Necessidade de mediador: Delegar a responsabilidade de ouvir a voz de Deus a
um mediador, pastor, líder religioso, pai, esposo, entre outros.

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O EVANGELHO DE DEUS
A boa nova de uma perspectiva pessoal e cósmica

5. Barganha: Barganhar com Deus achando que pode apaziguá-lo e ganhar suas
bênçãos através de boas obras ou ritos religiosos.
6. Julgar: Julgar os outros, comparando-se com eles.
Se você identifica algum desses aspectos em sua vida, isso é um grande indício de que você
está abraçando regras religiosas, não o verdadeiro evangelho de Deus. O evangelho não tem
a ver com justiça humana, ou regras humanas, mas com a justiça perfeita de Cristo.

CONCLUSÃO

A natureza pecaminosa do homem o faz pensar, por vezes, que sua conduta pode
atrair o favor divino. Porém, vimos que os atos de justiça dos homens são como
trapos de imundícia para Deus. Cada centímetro do ser humano está corrompido
pelo pecado. O homem é mau, incapaz de melhorar a sua condição de pecador,
iludido e ainda religioso. A situação do homem perante Deus não é nada favorável,
visto que ele abomina o pecado, justamente a habilidade que o homem melhor sabe
desempenhar. Por serem religiosos, muitos acreditam que podem chegar a Deus
por meio de suas obras de justiça, porém o evangelho nos diz que existe apenas um
justo perante Deus. Jesus Cristo foi o único homem justo, santo e irrepreensível
que andou pela Terra.
Qualquer noção de justiça própria deve ser abandonada pelo homem. É necessário
que abracemos a opinião de Deus a respeito de nossa natureza. Esse é o primeiro
passo para o arrependimento, o único caminho que conduz às boas novas da salva-
ção. Para abraçar o evangelho bíblico é necessário compreender que qualquer ato
de justiça desempenhado pelo homem, chega às narinas de Deus como um cheiro
desagradável. Quando abandonamos a ilusão de que somos bons, podemos receber
uma justiça muito maior do que a nossa, a justiça do próprio Jesus Cristo. Portanto,
creia no que Deus diz a seu respeito, Ele diz que você é pecador e que sua maldade
é pútrida perante ele. Esse caminho, ainda que difícil, é o único que pode conduzi-
-lo ao verdadeiro arrependimento. Ao abraçar a má notícia de que é pecador, você
se torna apto a abraçar as boas notícias da salvação.

27
Aula 3
v.1.0.0

QUEM É
JESUS?
“Mas agora a justiça de Deus se manifestou, sem a lei, atestada pela Lei
e pelos Profetas; isto é, a justiça de Deus por meio da fé em Jesus Cristo
para todos os que creem; pois não há distinção. Porque todos pecaram
e estão destituídos da glória de Deus; sendo justificados gratuitamente
pela sua graça, por meio da redenção que há em Cristo Jesus, a quem
Deus ofereceu como sacrifício propiciatório, por meio da fé, pelo seu san-
gue, para demonstração da sua justiça. Na sua paciência, Deus deixou
de punir os pecados anteriormente cometidos; para demonstração da sua
justiça no tempo presente, para que ele seja justo e também justificador
daquele que tem fé em Jesus.” (Rm 3.21-26)

28
O EVANGELHO DE DEUS
A boa nova de uma perspectiva pessoal e cósmica

Na primeira aula falamos sobre quem é Deus e o quão importante é compreender


esse assunto para um correto entendimento do evangelho. Na segunda aula fala-
mos sobre o homem e a maldade que habita em seu coração. Falamos sobre o fato
de o pecado estabelecer a necessidade da mensagem do evangelho para a humani-
dade. Daremos prosseguimento ao assunto falando sobre quem é Cristo. Veremos
a respeito do significado da sua obra para nós e a importância de compreender esse
assunto para um melhor entendimento sobre o evangelho bíblico.
O foco dessa aula não é entrar com profundidade na identidade de Jesus, mas, sim,
compreender os aspectos que envolvem a identidade dele em sua obra redentora.
É necessário entender que Jesus Cristo é a única resposta para o abismo que existe
entre o homem e Deus. A depravação humana e a santidade de Deus são realidades
terminantemente opostas, sendo Deus o único capaz de resolver esse dilema.
A história do homem envolve a sua criação, queda e redenção. É importante co-
nhecer cada um desses pontos para compreender com clareza o plano redentivo do
Criador. Precisamos adentrar no conhecimento sobre Cristo e sua obra, pois ele foi
o único capaz de aplacar a ira de Deus. Cristo, por ser plenamente homem e plena-
mente Deus, tornou-se habilitado a resgatar o homem do mar de pecados no qual
habita. É necessário entender que um preço precisava ser pago para sanar a dívida
do homem com Deus, e Jesus era o único capaz de pagá-la. Esse será, portanto, o
assunto dessa aula, Cristo e sua obra.

A IDENTIDADE DE CRISTO

1. PLENAMENTE DEUS

Jesus é plenamente Deus e, por isso, tem todo o direito sobre o homem. Como
Deus eterno, é o único que pode decidir o destino da humanidade, pois é santo,
justo e autor da vida. Jesus sempre existiu e sempre existirá como Deus, embora
tenha vindo a terra como homem, ele continua para todo o sempre como Deus
eterno. Segundo Michael Reeves, “[...] não devemos pensar que aquele que em sua
natureza era Deus tenha excluído alguma coisa de si mesmo, de alguma forma remo-
vendo algum atributo de Deus de si mesmo [...]”¹ .

1. REEVES, Michael. Deleitando-se em Cristo. Brasília, DF: Editora Monergismo, 2018. p.41.

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O EVANGELHO DE DEUS
A boa nova de uma perspectiva pessoal e cósmica

Vejamos abaixo o que a Bíblia diz sobre a divindade de Jesus:


A divindade de Jesus Cristo

“Então Maria perguntou ao anjo: Como isso poderá acontecer, se não


conheço na intimidade homem algum? O anjo respondeu: O Espírito
Santo virá sobre ti, e o poder do Altíssimo te cobrirá com a sua sombra;
por isso aquele que nascerá será santo e será chamado Filho de Deus."
(Lc 1.34,35)

Jesus, o Verbo (a Palavra de Deus)

“No princípio era o Verbo, e o Verbo estava com Deus, e o Verbo era
Deus. Ele estava no princípio com Deus. Todas as coisas foram feitas por
intermédio dele, e, sem ele, nada do que foi feito existiria. A vida estava
nele e era a luz dos homens” (Jo 1.1-4)

“E o Verbo se fez carne e habitou entre nós, pleno de graça e de verdade;


e vimos a sua glória, como a glória do unigênito do Pai.” (Jo 1.14)

Jesus, Deus conosco

“A virgem engravidará e dará à luz um filho, a quem chamarão Ema-


nuel, que significa: Deus conosco.” (Mt 1.23)

Jesus, Deus unigênito

“Ninguém jamais viu a Deus. O Deus unigênito, que está ao lado do Pai,
foi quem o revelou.” (Jo 1.18)

2. PLENAMENTE HOMEM

“Tende em vós o mesmo sentimento que houve em Cristo Jesus, que,


existindo em forma de Deus, não considerou o fato de ser igual a Deus
algo a que devesse se apegar, mas, pelo contrário, esvaziou a si mes-
mo, assumindo a forma de servo e fazendo-se semelhante aos homens.
Assim, na forma de homem, humilhou a si mesmo, sendo obediente até a
morte, e morte de cruz.” (Fp 2.5-8)

30
O EVANGELHO DE DEUS
A boa nova de uma perspectiva pessoal e cósmica

Foi necessário que Jesus viesse à terra como homem, assumindo a forma do ser que
ele mesmo havia criado, para viver uma vida perfeita de obediência ao Pai celeste.
A vida de Cristo na terra foi excelente, não foi encontrado nele pecado algum, e
foi por meio da vida irrepreensível, de um ser plenamente homem e plenamente
Deus, que o homem foi salvo. Segundo Michael Reeves:

E foi assim que o Senhor de toda criação, aquele que precisava inclinar-
-se para contemplar os céus e a terra (Sl 112.6), humilhou-se vindo do
céu para assumir a forma de servo. Ele criou a sua própria mãe e, então,
diante de todos os anjos, o Pai enviou o seu notável Filho. [...] Ele não
se esvaziou de nada daquilo que era: ele esvaziou-se a si mesmo, humi-
lhando-se quanto ao fato de ser Deus conosco na forma de um bebê.
O altíssimo humilhou-se, o Criador tornou-se criatura, a Palavra ficou
muda, o próprio poder de Deus tornou-se um feto indefeso.²

Vejamos abaixo, o que a Bíblia tem a nos dizer sobre a humanidade de Cristo:
Jesus aprendeu a obediência

"Embora sendo Filho, aprendeu a obediência por meio das coisas que so-
freu. Depois de aperfeiçoado, tornou-se a fonte da salvação eterna para
todos os que lhe obedecem” (Hb 5.8,9)

Jesus crescia em sabedoria, inteligência e estatura

“Três dias depois, eles o acharam no templo, sentado entre os doutores,


ouvindo-os e fazendo perguntas. E todos os que o ouviam ficavam admi-
rados com sua inteligência e com suas respostas.” (Lc 2.46,47)

“Jesus crescia em sabedoria, em estatura e em graça diante de Deus e


dos homens.” (Lc 2.52)

Jesus identificou-se com o homem

“Porque não temos um sumo sacerdote que não possa compadecer-se das
nossas fraquezas, mas alguém que, à nossa semelhança, foi tentado em
todas as coisas, porém sem pecado.” (Hb 4.15)

2. REEVES, Michael. op. cit., p.41.

31
O EVANGELHO DE DEUS
A boa nova de uma perspectiva pessoal e cósmica

3. O REI PROMETIDO

“Quando os teus dias se completarem e descansares com teus pais, provi-


denciarei um sucessor da tua descendência, que procederá de ti; e estabe-
lecerei o reino dele. Ele edificará uma casa ao meu nome, e para sempre
estabelecerei o trono do seu reino.” (2 Sm 7.12,13)

Deus firmará o seu trono para sempre, ele é o Messias tão aguardado pelos judeus,
aquele que tem o poder para libertar o povo e conduzi-lo a uma vida de paz.
Jesus, o Cristo, é aquele que governará a terra para todo sempre

“Porque um menino nos nasceu, um filho nos foi concedido. O governo


está sobre os seus ombros, e o seu nome será: Maravilhoso Conselheiro,
Deus Forte, Pai Eterno, Príncipe da Paz. O seu domínio aumentará, e
haverá paz sem fim sobre o trono de Davi e sobre o seu reino, para esta-
belecê-lo e firmá-lo em retidão e em justiça, desde agora e para sempre. O
zelo do SENHOR dos Exércitos fará isso.” (Is 9.6,7)

Deus lhe dará o trono de Davi

“Ele será grande e se chamará Filho do Altíssimo; o Senhor Deus lhe


dará o trono de Davi, seu pai; ele reinará eternamente sobre a descen-
dência de Jacó, e seu reino não terá fim.” (Lc 1.32,33)

4. O REI SOFREDOR

Cristo veio à terra para sofrer em favor da humanidade. Ele sofreu em diversos ní-
veis. De acordo com Greg Gilbert:

O próprio Jesus sabia desde o início que sua missão consistia em


morrer pelos pecados de seu povo. [...] nos evangelhos, Jesus pre-
disse diversas vezes a sua morte. E, quando Pedro tentou, insensa-
tamente, se colocar no caminho dele, Jesus o repreendeu, dizendo:
“Arreda, Satanás! Tu és para mim pedra de tropeço” (Mt 16.23). Jesus
estava determinado a ir para Jerusalém e, portanto, para a sua morte.³

3. GILBERT, Greg. O que é o evangelho?. São José dos Campos, SP: Editora Fiel, 2015. p.91.

32
O EVANGELHO DE DEUS
A boa nova de uma perspectiva pessoal e cósmica

Portanto, Jesus se despiu da sua glória, completamente ciente das dores e sofri-
mentos que o aguardavam na terra.
Vejamos o que a Bíblia nos diz a respeito dos sofrimentos de Cristo:
Ele é o Cordeiro de Deus

“No dia seguinte, João viu Jesus, que vinha em sua direção, e disse:
Este é o Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo.” (Jo 1.29)

Ele salvará seu povo do pecado

“... um anjo do Senhor apareceu-lhe em sonho, dizendo: José, filho de


Davi, não temas receber Maria, tua mulher, pois o que nela foi gerado
é do Espírito Santo. Ela dará à luz um filho, a quem darás o nome de
Jesus; porque ele salvará seu povo dos seus pecados.” (Mt 1.20,21)

Ele era ciente dos sofrimentos que o aguardavam na Terra

“Desse momento em diante, Jesus começou a mostrar aos discípulos que


era necessário que ele fosse para Jerusalém, que sofresse muitas coisas
da parte dos líderes religiosos, dos principais sacerdotes e dos escribas, e
que fosse morto e ressuscitasse ao terceiro dia. Mas Pedro, chamando-o
em particular, começou a repreendê-lo, dizendo: Deus tenha compaixão
de ti, Senhor! Isso jamais te acontecerá. Ele, porém, voltando-se, disse a
Pedro: Para trás de mim, Satanás! Tu és para mim motivo de tropeço,
pois não pensas nas coisas de Deus, mas, sim, nas que são dos homens.”
(Mt 16.21-23)

5. O REDENTOR

A obra perfeita de Cristo trouxe redenção ao mundo. Sua vida, morte e ressurrei-
ção foi o caminho escolhido por Deus para resgatar o homem do destino eterno de
sofrimento ao qual estava destinado.
Vejamos o que Bíblia nos diz sobre a obra redentora de Cristo:

“E, tomando um cálice, rendeu graças e o deu a eles, dizendo: Bebei dele
todos; pois isto é o meu sangue, o sangue da aliança derramado em favor
de muitos para perdão dos pecados.” (Mt 26.27,28)

33
O EVANGELHO DE DEUS
A boa nova de uma perspectiva pessoal e cósmica

Ele entregou a sua vida

“Por isso o Pai me ama, porque dou a minha vida para retomá-la. Nin-
guém a tira de mim, mas eu a dou espontaneamente. Tenho autoridade
para dá-la e para retomá-la. Essa ordem recebi de meu Pai.” (Jo 10.17,18)

Ele veio para servir e dar a sua vida

"... quem entre vós quiser tornar-se grande, será esse o que vos servirá; e
quem entre vós quiser ser o primeiro, será servo de todos. Pois o próprio
Filho do homem não veio para ser servido, mas para servir e para dar a
vida em resgate de muitos.” (Mc 10.43-45)

EXPIAÇÃO

“Cristo nos resgatou da maldição da lei, tornando-se maldição em nosso


favor, pois está escrito: Maldito todo aquele que for pendurado em um
madeiro. Isso aconteceu para que a bênção de Abraão chegasse aos gen-
tios em Jesus Cristo, a fim de que recebêssemos a promessa do Espírito
pela fé.” (Gl 3.13,14)

“Daquele que não tinha pecado Deus fez um sacrifício pelo pecado em
nosso favor, para que nele fôssemos feitos justiça de Deus.” (2 Co 5.21)

“Porque também Cristo morreu uma única vez pelos pecados, o justo
pelos injustos, para levar-nos a Deus; morto na carne, mas vivificado pelo
Espírito.” (1 Pe 3.18)

A expiação diz respeito à obra de Cristo, realizada por meio de sua vida e morte. O
alvo da expiação é a salvação do homem, o perdão de seus pecados e a reconciliação
com Deus. Esse caminho percorrido por Cristo libertou a humanidade da culpa
que pesava em seus ombros, apresentando uma possibilidade contrária à condena-
ção eterna. Por meio da expiação o homem foi habilitado a seguir rumo a uma nova
vida. Em outras palavras, damos o nome de expiação a tudo aquilo que Cristo fez,
em sua vida e morte, para conquistar a salvação do homem. Quando Jesus se apre-
senta a João Batista a fim de ser batizado, João logo o apresenta como o cordeiro de

34
O EVANGELHO DE DEUS
A boa nova de uma perspectiva pessoal e cósmica

Deus que tira o pecado do Mundo4 e a forma usada por Deus para extirpar o pecado
do mundo chama-se expiação.
Ainda sobre a expiação, é importante entender que Jesus foi castigado pelo pró-
prio Deus. O Pai depositou sua ira sobre o Filho, Deus castigou a Deus para que o
homem fosse salvo. Cristo se entregou para sofrer nas mãos do Pai tendo o mesmo
nível de dignidade que ele. A dignidade humana é nula se comparada à dignidade
daquele que foi ofendido pelo pecado. Jesus, ao se entregar como sacrifício pelos
pecados da humanidade, foi o único capaz de aplacar a ira daquele que é santo e
justo. O sangue dele foi derramado em favor dos pecadores, não apenas o sangue
enquanto matéria, mas a sua vida foi completamente entregue na cruz. O sangue
significa a vida, portanto esse foi o preço que o Filho de Deus pagou para resgatar
o homem. A sua vida não foi poupada, sendo espremido até seu último suspiro, a
fim de aplacar a ira do Pai. Porém, um outro aspecto sobre a expiação que deve ser
ressaltado, é o fato de que o sofrimento de Cristo não foi eterno. Na cruz ele dis-
se: está consumado! Todavia o homem, ainda que condenado ao inferno por toda
eternidade, jamais será capaz de pagar sua dívida com Deus. Um coração rebelde
prosseguirá em rebeldia, blasfemando contra Deus enquanto recebe em seu corpo
o castigo por suas maldades. Tal atitude torna a dívida do homem progressivamen-
te mais alta, levando-o para longe do arrependimento de seus pecados. Ou seja,
um coração rebelde por causa do juízo de Deus se tornará cada vez mais rebelde
à medida que recebe o castigo eterno. Porém, Cristo foi castigado pelo Pai sem
rebelar-se contra ele.
A obra de Cristo foi completa, ele é o cordeiro de Deus que tira o pecado do mun-
do. Para compreendermos melhor a sua obra, no que tange à obra da expiação, é
importante que antes tenhamos clareza sobre os motivos que a tornam necessária.
Falaremos a seguir sobre a causa da expiação, o motivo que fez Cristo encarnar e
morrer pelos pecados da humanidade. Para isso dividiremos a causa da expiação em
duas colunas: A Justiça e o amor de Deus.

A EXPIAÇÃO E A JUSTIÇA DE DEUS

“Porque todos pecaram e estão destituídos da glória de Deus; sendo jus-


tificados gratuitamente pela sua graça, por meio da redenção que há em

4. Jo 1.29

35
O EVANGELHO DE DEUS
A boa nova de uma perspectiva pessoal e cósmica

Cristo Jesus, a quem Deus ofereceu como sacrifício propiciatório, por


meio da fé, pelo seu sangue, para demonstração da sua justiça. Na sua
paciência, Deus deixou de punir os pecados anteriormente cometidos;
para demonstração da sua justiça no tempo presente, para que ele seja
justo e também justificador daquele que tem fé em Jesus.” (Rm 3.23-26)

Deus é o Juiz de toda terra, por ser o Criador de tudo que existe, ele torna-se ha-
bilitado a julgar toda criação. Mas ele não é apenas juiz, é também justificador de
todo aquele que deposita fé nele. A retidão de Cristo mantém-se intacta ainda que
ele transforme pessoas injustas em justas. A justiça de Deus estabelece a estrutura
pela qual ele trabalha para alcançar a redenção da humanidade. Cristo foi enviado à
terra a fim de que a justiça de Deus fosse demonstrada.

“a quem Deus ofereceu como sacrifício propiciatório, por meio da fé, pelo
seu sangue, para demonstração da sua justiça. Na sua paciência, Deus
deixou de punir os pecados anteriormente cometidos" (Rm 3.25)

Portanto, Deus declarou sua justiça ao enviar Cristo para morrer pelos pecados
da humanidade, tendo em vista que o homem jamais seria apto a aproximar-se de
Deus sem que antes sua dívida fosse paga. Porém, a motivação por trás da expiação
é o amor de Deus.

A EXPIAÇÃO E O AMOR DE DEUS

“Porque Deus amou tanto o mundo, que deu o seu Filho unigênito, para que
todo aquele que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna.” (Jo 3.16)

“Nisto está o amor: não fomos nós que amamos a Deus, mas foi ele quem nos
amou e enviou seu Filho como propiciação pelos nossos pecados.” (1 Jo 4.10)

O amor de Deus o moveu em direção ao homem. Ele é independente, não tinha


a obrigação de nos salvar, porém, mesmo sendo independente, estabeleceu o pro-
pósito de salvar o homem. Foi por causa da motivação do seu amor que ele decidiu
resgatar a humanidade, o mesmo amor que levou Cristo a entregar-se como sacri-
fício. A necessidade da expiação surge como consequência da decisão amorosa de
Deus por nos alcançar. Segundo A. W. Pink:

36
O EVANGELHO DE DEUS
A boa nova de uma perspectiva pessoal e cósmica

O principal propósito de Deus é recomendar o amor de Deus em


Cristo, pois ele é o único canal através do qual o amor flui. O Filho
não induziu o Pai a amar o seu povo; ao contrário, foi o amor do Pai
que o impeliu a dar o seu Filho pelo seu povo.5

Deus poderia decidir não salvar o homem, nesse sentido é possível dizer que a ex-
piação não era uma necessidade absoluta. Porém, motivado por seu amor, decide
resgatar a humanidade, ainda que a única maneira pela qual ele poderia realizar tal
obra fosse através do sacrifício do seu único Filho. Ainda que a expiação não fosse
uma necessidade absoluta, ela tornou-se a “consequência” da decisão amorosa de
Deus por salvar os homens, com isso a expiação tornou-se uma necessidade absoluta.
A esse conceito é dado o nome de “absoluta necessidade consequente'6 da expiação.
Portanto, o amor e justiça de Deus são igualmente importantes, ambos foram as
causas da expiação. A obra da expiação é motivada pelo amor de Deus, mas é ao
mesmo tempo regulada pela sua justiça. Deus estabeleceu, motivado por seu amor,
o propósito de salvar a humanidade, mas a sua justiça é o meio pelo qual essa salva-
ção precisa acontecer.

A OBEDIÊNCIA DE CRISTO

“Porque, assim como pela desobediência de um só homem muitos foram


feitos pecadores, assim também pela obediência de um só muitos serão
feitos justos.” (Rm 5.19)

“Assim, na forma de homem, humilhou a si mesmo, sendo obediente até


a morte, e morte de cruz.” (Fp 2.8)

Jesus foi obediente em tudo, nisso consiste o cerne de sua obra. Ele viveu uma vida
perfeita de obediência a Deus, tendo em vista que a consequência de sua vida irre-
preensível cairia em favor da humanidade. O fato de Cristo ter sido obediente em
tudo tornou o seu sacrifício válido, e esse é o motivo pelo qual os homens podem
vislumbrar a esperança da salvação. A obediência de Cristo pode ser dividida em
duas partes: ativa e passiva, vejamos.

5. PINK. A.W. Os atributos de Deus. São Paulo: Publicações Evangélicas Selecionadas, 2016. p.
136.
6. GRUDEM, Wayne A Teologia Sistemática. São Paulo: Vida Nova. 1999. p.472.

37
O EVANGELHO DE DEUS
A boa nova de uma perspectiva pessoal e cósmica

1. OBEDIÊNCIA ATIVA DE CRISTO

O homem, devido à natureza pecaminosa que o compõe, é incapaz de obedecer em


plenitude os preceitos divinos. Todavia, Cristo desceu à terra para viver uma vida
perfeita em prol da humanidade. Não foi encontrado nele pecado algum, tampouco
qualquer raiz de rebeldia em seu caráter. Portanto, à vida perfeita que ele viveu,
visando a salvação do homem, damos o nome de obediência ativa. A obediência de
Cristo substitui a desobediência do homem e é por meio disso que somos justifica-
dos diante de Deus.

2. OBEDIÊNCIA PASSIVA DE CRISTO

Cristo sofreu pela culpa que não era sua, assumiu o lugar dos pecadores como uma
ovelha muda enviada ao matadouro. Ele foi punido com o castigo que era designado
ao homem, sendo julgado, humilhado e morto, e a isso damos o nome de obediên-
cia passiva.
Portanto, a obediência ativa de Cristo diz respeito à sua vida perfeita em contraste
à rebeldia do homem. A humanidade é incapaz de cumprir a lei de Deus, por isso
Jesus a cumpriu em nosso lugar. Já a obediência passiva de Cristo tem a ver com a
punição que ele sofreu em favor dos homens. Ele viveu a vida que nós jamais conse-
guiríamos viver e sofreu a morte que nós deveríamos sofrer, para que pudéssemos
ser reconciliados com Deus. Isso é a obra da expiação de Cristo, esse é o cerne de
sua obra na cruz.

OS SOFRIMENTOS DE CRISTO

“Foi desprezado e rejeitado pelos homens; homem de dores e experimen-


tado nos sofrimentos; e, como um de quem os homens escondiam o rosto,
foi desprezado, e não lhe demos nenhuma importância.” (Is 53.3)

Os sofrimentos de Cristo podem ser divididos em três aspectos, sendo esses obstá-
culos que ele precisou suportar para completar sua obra de expiação.
1°Ele se tornou homem
Por ter se tornado homem, Jesus se limitou para sempre, portanto os seus sofri-
mentos não dizem respeito apenas à cruz, mas ao fato de ter se tornado criatura
para toda eternidade. Ele, mesmo sendo Deus, se rebaixou assumindo a forma de

38
O EVANGELHO DE DEUS
A boa nova de uma perspectiva pessoal e cósmica

servo, aceitando toda a dor e humilhação destinada aos homens. A humanidade


jamais compreenderá a grandeza desse sofrimento, uma vez que nunca fomos par-
ticipantes de tamanha glória como a de Cristo. Mesmo sendo Deus ele se tornou
homem, aceitando a humilhante tarefa de limitar-se, por isso esse é primeiro as-
pecto do seu sofrimento
2º - A dor de Cristo
Jesus experimentou uma dor inimaginável, foi crucificado e castigado, experimen-
tando a dor de se tornar maldição por carregar os pecados da humanidade. Sua dor
foi além de física, sendo também psicológica, uma vez que toda a culpa dos peca-
dos dos filhos de Deus, de todas as gerações, foi lançada em seus ombros. Ele foi
mergulhado no sofrimento da experiência de ser abandonado pelo Pai. Até aquele
momento Cristo havia experimentado profunda comunhão com o Pai e isso era o
que o sustentava, fazendo-o caminhar e ter forças para suportar os desafios da sua
missão. Porém, na cruz ele sentiu o abandono do Pai, ali deixou de sentir a presença
bendita do Espírito Santo, assim como a conexão com Deus. Provavelmente, esse
foi o maior dos sofrimentos de Cristo em toda sua obra na terra.
3º- O abandono e a ira de Deus

“Cristo nos resgatou da maldição da lei, tornando-se maldição em nosso


favor, pois está escrito: Maldito todo aquele que for pendurado em um
madeiro.” (Gl 3.13)

Cristo não sofreu apenas o abandono do Pai, mas teve que suportar a ira divina so-
bre a sua carne. Ele foi amaldiçoado por Deus, o Pai se opôs ao Filho e o esmagou
com o peso de sua ira. Com isso, o coração de Cristo foi totalmente despedaçado.

TERMOS QUE DESCREVEM A OBRA DE CRISTO

SACRIFÍCIO: Esse termo se liga ao fato de que os homens deveriam morrer como
sacrifício pelo pecado, mas Cristo se entregou em nosso lugar, recebendo o castigo
que estava destinado aos homens.

“Nesse caso, seria necessário que ele sofresse muitas vezes, desde a fun-
dação do mundo. Mas agora, na consumação dos séculos, ele se manifes-
tou de uma vez por todas, para aniquilar o pecado por meio do sacrifício
de si mesmo.” (Hb 9.26)

39
O EVANGELHO DE DEUS
A boa nova de uma perspectiva pessoal e cósmica

PROPICIAÇÃO: Termo recorrente na Bíblia que significa tornar alguém que está
contra você propício a você. Cristo fez propiciação por nós, ele foi atingido pela ira
de Deus que vinha em nossa direção. Ao desviar a ira de Deus do homem, Cristo
tornou a humanidade apta a receber o amor do Pai.

“Ele é a propiciação pelos nossos pecados, e não somente pelos nossos,


mas também pelos pecados de todo mundo.” (1 Jo 2.2)

RECONCILIAÇÃO: Significa que estávamos separados de Deus por causa dos


nossos pecados e Cristo, por meio da obra da expiação, nos reconciliou com ele.

“Mas todas essas coisas procedem de Deus, que nos reconciliou consi-
go mesmo por meio de Cristo e nos confiou o ministério da reconcilia-
ção. Pois Deus estava em Cristo reconciliando consigo mesmo o mundo,
não levando em conta as transgressões dos homens; e nos encarregou da
mensagem da reconciliação.” (2 Co 5.18,19)

REDENÇÃO: O mesmo que resgate, éramos escravos do pecado e consequen-


temente escravos do reino das trevas, porém Cristo pagou o resgate para que nós
fôssemos libertos. Isso não significa que Cristo pagou um resgate a Satanás, mas
que estávamos cativos e fomos libertos do diabo e do pecado, pela obra expiatória
de Cristo.

“Pois o próprio Filho do homem não veio para ser servido, mas para
servir e para dar a vida em resgate de muitos.” (Mc 10.45)

CONCLUSÃO

A resposta de Deus ao desprezo dos homens por ele foi, desde o ínicio, o sacrifício
do seu Filho, Jesus Cristo. Embora os homens fossem dignos de condenação eter-
na, Cristo obedeceu ao Pai e entregou-se em prol da remissão dos pecados. Jesus
tomou sobre si os pecados dos homens, se tornando maldição e bebendo o cálice
da ira de Deus. Aquele que não tinha pecado algum, se entregou para ser ferido,
humilhado e abandonado por seu Pai. Porém, a história não termina com a sua mor-
te. Ele ressuscitou no terceiro dia pelo poder do Espírito de Deus, que o levantou
dentre os mortos com um corpo glorificado. Assim, a justiça de Deus foi satisfeita
na morte e ressurreição de Jesus. Ele fez, com sua carne e sangue, a ponte sobre o
abismo que havia entre o homem e Deus, reconciliando-os.

40
Aula 4
v.1.0.0

A
RESPOSTA
Até aqui vimos diversos aspectos cruciais que auxiliam no correto entendimento
do evangelho bíblico. Primeiro falamos a respeito do caráter santo e justo de Deus,
assim como o direito que ele detém sobre a criação, uma vez que tudo foi criado por
meio de suas mãos. À medida que a grandeza de Deus é contemplada, a percepção
sobre o seu evangelho aumenta.
Em seguida falamos sobre a depravação do homem. Por meio dessa percepção foi
possível compreender que o homem, imerso em sua maldade, jamais poderia se
aproximar de um Deus santo. Contudo, Deus estabeleceu um meio pelo qual a
humanidade pudesse se reconciliar com ele, a obra expiatória de Jesus Cristo. Ten-
do em vista cada um desses aspectos, falaremos nessa aula sobre a atitude correta
que o homem deve ter frente a esses pontos, ou seja, a resposta ao evangelho.

41
O EVANGELHO DE DEUS
A boa nova de uma perspectiva pessoal e cósmica

Jesus Cristo operou uma maravilha tão exorbitante que exige resposta, quer de ódio,
quer de paixão.¹
Nessas quatro aulas a abordagem feita sobre o evangelho vem sendo vista por uma
perspectiva antropológica, ou seja, estamos olhando para o evangelho do ponto de
vista humano. Como o homem percebe, reage e é atingido pelo evangelho. A partir
da próxima aula olharemos para o evangelho por uma perspectiva cósmica, ou seja,
de forma mais ampla.
Voltando ao assunto da nossa quarta aula, veremos a atitude que o homem deve ter
frente à proposta do evangelho. Olhemos as palavras de Jesus a esse respeito:

“Depois que João foi preso, Jesus foi para a Galileia, pregando o evan-
gelho de Deus e dizendo: Completou-se o tempo, e o reino de Deus está
próximo. Arrependei-vos e crede no evangelho.” (Mc 1.14,15)

Portanto, a reação correta diante do evangelho de Deus é o arrependimento e a fé.


Essa é a atitude que devemos ter em relação ao caráter de Deus. A essa resposta
de arrependimento e fé damos o nome de conversão. Essa é a reação correta ao
evangelho, a conversão por meio do arrependimento dos pecados e a confiança em
Cristo, visando a salvação. Portanto, trabalharemos nessa aula os aspectos e defini-
ções da fé, relacionada à salvação e ao arrependimento dos pecados.

A FÉ SALVÍFICA

A fé salvífica, ou seja, a fé que conduz à salvação, inclui em si três aspectos: conhe-


cimento, aprovação e confiança pessoal. Esses três aspectos contrastam com uma
fé simplesmente mental, reduzida à confiança em si mesmo e que não conduz à
salvação. De acordo com Greg Gilbert:

Fé é uma das palavras que, por muito tempo, tem sido tão mal usada, que
a maioria das pessoas não tem ideia do que ela realmente significa. Peça a
alguma pessoa na rua que descreva a fé, e, embora talvez você ouça
algumas palavras respeitosas e agradáveis, o âmago da questão será,
provavelmente, que fé é crer no ridículo em contrário a toda evidência.²

1. WILSON, Jared. CHANDLER, Matt. Evangelho Explícito. São José dos Campos, SP: Editora
Fiel, 2013. p. 73.
2. GILBERT, Greg. O que é o evangelho?. São José dos Campos, SP: Editora Fiel, 2015. p.100,101.

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O EVANGELHO DE DEUS
A boa nova de uma perspectiva pessoal e cósmica

Para muitos, a fé diz respeito a algo que não pode ser provado, porém tal definição
não condiz com a fé salvífica. A fé implica em uma confiança firme e inabalável3 fun-
damenta nas verdades do evangelho. Vejamos como Paulo descreve a fé de Abraão:

“Abraão, ao contrário do que se podia esperar, creu com esperança, para


que se tornasse pai de muitas nações, conforme o que lhe havia sido dito:
Assim será a tua descendência. E, sem enfraquecer na fé, considerou que
o seu corpo já não tinha vitalidade (pois já contava cem anos), e o ven-
tre de Sara já não tinha vida. Contudo, diante da promessa de Deus,
não vacilou em incredulidade; pelo contrário, foi fortalecido na fé, dando
glória a Deus, plenamente certo de que ele era poderoso para realizar o
que havia prometido.” (Rm 4.18-21)

Abraão creu, ainda que todas as circunstâncias fossem contrárias ao que Deus lhe
havia prometido. Por mais que Abraão tenha cometido erros em seu percurso de fé,
ele não deixou de confiar nas palavras de Deus. Essa é a fé salvífica, uma fé sólida
que independe das circunstâncias para existir, por meio dela Abraão foi justificado
e por meio dela o homem pode receber a vida eterna.
Todas as dádivas dadas por Deus são recebidas por meio da fé, vivemos e morremos
por meio dela, vejamos:
• Recebemos a justiça pela fé (Rm 3.22)
• Somos justificados pela fé (Rm 3.30; Gl 2.16)
• Permanecemos firmes pela fé (Rm 11.20)
• Somos filhos de Deus pela fé (Gl 3.26)
• Somos habitados por Cristo pela fé (Ef 3.17)
• Somos ressuscitados em Cristo pela fé (Cl 2.12)
• Herdamos as promessas pela fé (Hb 6.12)
• Conquistamos reinos, praticamos a justiça, fechamos a boca de leões pela fé (Hb 11.33)
• Somos guardados pela fé (1 Pe 1.5)4

Veremos abaixo, de forma mais detalhada, três aspectos da fé salvífica:

3. ibdem. p 102.
4. WILSON, Jared. CHANDLER, Matt. op. cit., p.99

43
O EVANGELHO DE DEUS
A boa nova de uma perspectiva pessoal e cósmica

O primeiro aspecto
O primeiro aspecto é o conhecimento, ele em si mesmo não é suficiente para sal-
vação, contudo, para que o homem possa crer na obra de Cristo, é necessário que
haja algum conhecimento a respeito dela. Sobre isso o apóstolo Paulo diz em sua
carta aos romanos:

“Todo aquele que invocar o nome do Senhor será salvo. Como, pois, invo-
carão aquele em quem não creram? E como crerão naquele de quem não
ouviram falar? E como ouvirão, se não há quem pregue?” (Rm 10.13,14)

Portanto, a pregação do evangelho é indispensável para que alguém deposite sua fé


na obra redentora de Cristo. Não seria possível crer em algo do qual nunca se tenha
ouvido falar. Entretanto, esse conhecimento não precisa ser de alto nível intelectual,
mas o âmago da mensagem precisa ser absorvido, ou seja, algum conteúdo precisa
ser assimilado para que brote no coração do homem a fé que o conduz à salvação.
O segundo aspecto
O segundo aspecto diz respeito à aprovação, ou seja, não basta que o homem co-
nheça a mensagem do evangelho, é necessário que também concorde com ela. Essa
mensagem precisa ser aprovada, todos os fatos a respeito da obra de Cristo preci-
sam ser vistos como reais e indiscutíveis aos homens que almejam a vida eterna.
O terceiro aspecto
Vimos até agora sobre a importância de conhecer e aprovar a mensagem do evan-
gelho, porém esses dois aspectos não são suficientes para a salvação, é necessário
que um terceiro aspecto seja incluso, me refiro a confiança pessoal. É necessário
que haja uma decisão pessoal por depender de Cristo. A palavra de Deus nos ensina
que fé é dependência, “O evangelho de Jesus Cristo nos chama a fazer o mesmo que
Abraão fez - por nossa fé em Jesus, depender dele e confiar nele para que faça o que
prometeu fazer”5. A fé salvífica é a que crê ser Jesus Cristo uma pessoa viva, que
entregou sua vida em prol do perdão dos pecados e que conduz o homem à vida
eterna e à comunhão com Deus.
Esses três elementos do qual falamos (conhecimento, aprovação e confiança) de-
vem, juntos, compor a nossa fé. É necessário entender que conhecimento e racio-
nalidade não são características opostas à fé, o contrário é verdadeiro. A fé cresce
à medida que o homem se aprofunda na compreensão de tudo que diz respeito a

5. GILBERT, Greg. op. cit., p 103.

44
O EVANGELHO DE DEUS
A boa nova de uma perspectiva pessoal e cósmica

ela. Essa compreensão não deve ser meramente intelectual, mas precisa estar ligada
a uma vida de comunhão com Deus. Todo o conteúdo adquirido a respeito da fé deve
estar conectado a uma vida que confia e se relaciona com Cristo. Ainda que o conte-
údo adquirido não seja perfeito é importante ser batizado pela verdade de que Jesus é
uma pessoa viva, não apenas um conceito ou história. Ele é um homem, um judeu de
33 anos que habita, por meio do Espírito Santo, no interior daqueles que nele creem.
A fé se expande à medida que o conhecimento sobre essas verdades aumenta.
A principal fonte para se aprofundar nesses assuntos é, sem dúvida alguma, as Es-
crituras. A palavra de Deus contém toda verdade e conteúdo necessário para que a
fé na obra de Cristo se torne mais sólida. A fé bíblica, que conduz o homem à salva-
ção, implica na busca pelo conhecimento de quem Jesus é e sobre o que ele fez pela
humanidade. Essa fé tem a ver com concordar e aprovar tudo o que as Escrituras
dizem acerca desse assunto. Conhecer, confiar e relacionar-se com essa terceira
pessoa da Trindade, são passos que conduzem o homem à vida eterna.

ARREPENDIMENTO

“Depois que João foi preso, Jesus foi para a Galileia, pregando o evan-
gelho de Deus e dizendo: Completou-se o tempo, e o reino de Deus está
próximo. Arrependei-vos e crede no evangelho.” (Mc 1.14,15)

Fé e arrependimento devem andar juntos. É necessário crer no evangelho e ainda


arrepender-se de todas as práticas contrárias a ele. O arrependimento é uma since-
ra tristeza pelo pecado, unido a um compromisso verdadeiro de renunciar e aban-
donar as práticas pecaminosas, prosseguindo em uma vida de obediência a Cristo.
Vejamos o que Gilbert Greg tem a dizer sobre o arrependimento:

É afastar-se do pecado, odiá-lo e resolver, pelo poder de Deus, abandonar


o pecado, ao mesmo tempo em que nos voltamos para Deus com fé. Por
isso, Pedro disse à multidão que o ouvia: “Arrependei-vos, pois, e con-
vertei-vos para serem cancelados os vossos pecados“ (At 3.19). E Paulo
anunciou a todos “que se arrependessem e se convertessem a Deus”
( At 26.20). O arrependimento não é um acessório opcional à

45
O EVANGELHO DE DEUS
A boa nova de uma perspectiva pessoal e cósmica

vida cristã. É absolutamente crucial à vida cristã, distinguin-


do os que foram salvos por Deus dos que não foram salvos.6
(grifo nosso)

Portanto, arrepender-se implica em:


1. Uma mudança radical no conceito que possui sobre si;
2. Nojo pelo pecado;
3. Ser inundado por uma tristeza ao visualizar a maldade que habita em nosso
coração ( falaremos sobre esse ponto mais a frente).
4. Força motivadora para correr de volta para Deus, por meio do sacrifício de Jesus;
5. Ter mais desejo por livrar-se do pecado que pela preservação da própria imagem;
6. Ter um coração grato pela dádiva do perdão e da salvação;
7. Admiração e assombro diante da grandeza do amor de Deus, que resgata para si
uma humanidade tão vil.

O arrependimento não significa a total exclusão do pecado, o cristão que se ar-


repende não está isento de deparar-se novamente com suas maldades. Contudo,
o homem que se arrepende genuinamente travará uma guerra constante com o
pecado, lutando até seu último suspiro para resistir, pelo poder de Deus, as forças
do mal. Sobre isso Greg Gilbert diz:

É verdade que, ao regenerar-nos, Deus nos dá poder para lutar contra


o pecado e vencê-lo (1 Co 10.13). Mas, visto que continuaremos a lutar
contra o pecado até que sejamos glorificados, temos de lembrar que o
arrependimento verdadeiro é, mais fundamentalmente, uma questão
de atitude do coração para com o pecado, e não uma simples mudan-
ça de comportamento. 7

Destrinchamos mais o tema arrependimento, dividindo-o em três aspectos:


Primeiro aspecto
O arrependimento precisa vir acompanhado de um entendimento e compreensão
intelectual da maldade humana e do quanto o pecado é maléfico. Apenas dessa
forma será possível entender o arrependimento de acordo com as Escrituras.

6. GILBERT, Greg. op. cit., p 109.


7. GILBERT, Greg. op. cit., p.111.

46
O EVANGELHO DE DEUS
A boa nova de uma perspectiva pessoal e cósmica

“… e terão nojo de si mesmos, por causa das maldades que fizeram em


todas as suas abominações. E saberão que eu sou o SENHOR; não foi em
vão que anunciei que lhes faria esse mal.” (Ez 6.9b,10)

“Mas eu me lembrarei da minha aliança, que fiz contigo nos dias da tua
juventude, e firmarei contigo uma aliança eterna. Então te lembrarás
dos teus caminhos e ficarás envergonhada (...). Firmarei a minha aliança
contigo, e saberás que eu sou o SENHOR; para que te lembres e te enver-
gonhes, e nunca mais abras a boca, por causa da tua vergonha, quando
eu te perdoar tudo quanto fizeste, diz o SENHOR Deus.” (Ez 16.60-63)

“Ali vos lembrarei de vossos caminhos e de todos os atos com que vos
tendes contaminado; e tereis nojo de vós mesmos, por causa de todas
as maldades que tendes cometido. E sabereis que eu sou o SENHOR,
quando eu agir para convosco por amor do meu nome, não conforme as
vossas obras, nem conforme os vossos atos corruptos, ó casa de Israel,
diz o SENHOR Deus.” (Ez 20.43,44)

“E que fruto colhestes das coisas de que agora vos envergonhais? Pois o
fim delas é a morte.” (Rm 6.21)

Segundo aspecto
O segundo aspecto diz respeito a uma aprovação emocional do ensino bíblico so-
bre esse tema. Basicamente, significa que o arrependimento envolve uma profunda
tristeza pelo pecado, associado a um sentimento de aversão às práticas do mal. O
arrependimento gera no interior do homem uma repulsa pelos pecados outrora
praticados. Portanto, esse segundo aspecto implica em uma concordância do en-
sino bíblico a respeito da depravação humana, associado a uma profunda tristeza
pelos pecados ainda praticados.
Terceiro aspecto
O terceiro aspecto do arrependimento bíblico diz respeito a uma decisão pessoal
de se afastar do pecado. Implica em um compromisso profundo e sincero por viver
uma vida de obediência a Cristo. É empenhar-se em não ceder às práticas pecami-
nosas, submetendo força, mente e emoções à vontade de Deus. Aquele que não
experimenta esse profundo desejo por obedecer a Cristo, lutando contra o pecado,
não experimentou o arrependimento genuíno, segundo as Escrituras.

47
O EVANGELHO DE DEUS
A boa nova de uma perspectiva pessoal e cósmica

A TRISTEZA SEGUNDO O MUNDO

A tristeza segundo o mundo é uma resposta emocional errada à pregação do evan-


gelho. Significa, em resumo, um profundo remorso por causa do pecado, podendo
gerar tristeza, depressão ou auto repulsa, mas não vem acompanhado pela obediên-
cia a Cristo. A tristeza pelo pecado, desacompanhada de um profundo compromis-
so por lutar contra a própria depravação, corresponde a tristeza segundo o mundo.
O arrependimento deve estar atrelado à tristeza pelo pecado, contudo em conjunto
a um firme compromisso por abandonar as práticas do mal.

TRISTEZA SEGUNDO DEUS

“Pois a tristeza segundo a vontade de Deus produz o arrependimento


que conduz à salvação, o qual não traz remorso; mas a tristeza do mun-
do traz a morte.” (2 Co 7.10)

A tristeza segundo Deus é aquela que gera no homem o ímpeto por lutar contra sua
própria natureza. Não diz respeito a um simples remorso, mas a um profundo en-
tendimento da própria maldade, associado ao desejo por andar em direção oposta
ao pecado.

OS QUATRO PASSOS BÁSICOS DO EVANGELHO

1. Arrependimento

“Arrependei-vos e crede no evangelho.” (Mc 1.15b)

“Arrependei-vos, e cada um de vós seja batizado em nome de Jesus Cris-


to, para o perdão de vossos pecados; e recebereis o dom do Espírito San-
to.” (At 2.38)

48
O EVANGELHO DE DEUS
A boa nova de uma perspectiva pessoal e cósmica

“Arrependei-vos, pois, e convertei-vos, para que os vossos pecados sejam


apagados” (At 3.19)

2. Crer no evangelho

“Ide por todo o mundo, e pregai o evangelho a toda criatura. Quem crer e
for batizado será salvo, mas quem não crer será condenado.” (Mc 16.15,16)

3. Obediência a fé

“E a palavra de Deus era divulgada, de modo que o número dos discípu-


los em Jerusalém se multiplicava muito, e vários sacerdotes obedeciam
à fé.” (At 6.7)

“Destruímos raciocínios e toda arrogância que se ergue contra o conhe-


cimento de Deus, levando cativo todo pensamento para que obedeça a
Cristo.” (2 Co 10.5)

4. Sinais

“E estes sinais acompanharão os que crerem: em meu nome expulsarão


demônios, falarão novas línguas, pegarão em serpentes, e se beberem al-
guma coisa mortífera não lhes fará mal algum; imporão as mãos aos en-
fermos, e estes serão curados. (...) Então, saindo os discípulos, pregaram
por toda parte, e o Senhor cooperava com eles confirmando a palavra
com os sinais que os acompanhavam.” (Mc 16.17-20)

“Em verdade, em verdade vos digo: Aquele que crê em mim também fará as
obras que eu faço, e as fará maiores, pois estou indo para o Pai.” (Jo 14.12)

“E juntamente com eles, por meio de sinais, Deus testemunhou feitos ex-
traordinários, diversos milagres e dons do Espírito Santo, distribuídos
segundo a sua vontade.” (Hb 2.4)

49
O EVANGELHO DE DEUS
A boa nova de uma perspectiva pessoal e cósmica

O CAMINHO PROGRESSIVO DO
ARREPENDIMENTO E FÉ

Arrependimento e fé, juntos, produzem a verdadeira conversão. Ambos não sur-


gem como um evento isolado na vida dos cristãos, mas são aspectos cruciais da
caminhada rumo à vida eterna. Eles não marcam somente o início da trajetória, mas
cada um dos passos dados no processo de santificação. Para entendermos o evange-
lho é necessário entender que ele é o próprio caminho no qual devemos andar, ele
nos conduz ao objetivo de sermos mais parecidos com Cristo. Então arrependido
e fé são os pavimentos do percurso que os cristãos devem percorrer. Crescer em
arrependimento e fé significa crescer em santidade.
Arrependimento e fé são concordâncias intelectuais e emocionais a respeito do que
é proposto pelo evangelho. Não se refere a algo que acontece somente no início da
conversão, mas que decorre diariamente. O homem precisa crer no evangelho de
Deus e arrepender-se de seus pecados todos os dias. Aqueles que não percebem em
si pecados que ainda precisam de arrependimento estão regredindo em sua cami-
nhada espiritual. Todos os que foram nascidos de novo, sem exceção, possuem em
seus corações raízes de depravação que necessitam de arrependimento constante.
Um cristão que se julga livre de pecados está cego para a realidade e retrocedendo
em sua jornada de fé.
Todos os filhos de Deus precisam amadurecer em sua caminhada, arrependendo-
-se, pela graça de Deus, de seus pecados diários. Cristo é aquele que concede, aos
homens, as armas necessárias para que lutem contra sua própria natureza. Mas para
ser munido dessas ferramentas é necessário crer em Jesus e arrepender-se, a todo
momento, dos maus caminhos.

CONCLUSÃO

Ao compreender a perspectiva antropológica do evangelho, é possível perceber


que o conhecimento sobre Deus se expande. Nossos olhos se abrem para a sua
grandeza e para a pequenez do homem. Ainda é possível dizer que crescer no co-
nhecimento do evangelho implica em uma compreensão mais clara a respeito das
raízes do pecado presentes em nosso coração. Esse é um caminho indispensável
aos cristãos, pois aponta para a beleza do evangelho.
É importante crer em cada um desses pontos, mas além disso é importante enten-
der que Cristo é suficiente para resgatar o homem das suas maldades. Tudo isso fará

50
O EVANGELHO DE DEUS
A boa nova de uma perspectiva pessoal e cósmica

com que cresçamos em arrependimento pelo pecado e em fé na obra do Filho de


Deus. O alvo é nos tornarmos cada vez mais parecidos com Jesus, testemunhando
a respeito de quem ele é, esse é o objetivo do evangelho. Deus não almeja que a sua
glória brilhe somente na face de Cristo, mas que brilhe também na face de cada um
dos seus filhos.

51
Aula 5
v.1.0.0

A CRIAÇÃO
Até aqui olhamos para o evangelho por uma perspectiva antropológica, ou seja, por
meio de uma concepção pessoal e humana. Porém, existe ainda um outro ponto de
vista a ser trabalhado, me refiro à ótica cosmológica. Tal aspecto diz respeito a uma
compreensão divina sobre o evangelho. Portanto, a partir dessa aula seguiremos
nosso assunto através desta concepção. Discutiremos a relação da mensagem do
evangelho com toda a realidade criada por Deus.
Os pontos de vista antropológico e cosmológico são igualmente importantes para
uma profunda compreensão do plano de Deus. Juntas, essas duas perspectivas tra-
zem maior clareza a respeito da obra divina. Nessa aula, falaremos especificamente
sobre a criação e a sua relação com o evangelho.

52
O EVANGELHO DE DEUS
A boa nova de uma perspectiva pessoal e cósmica

“porque nele foram criadas todas as coisas nos céus e na terra, as visí-
veis e as invisíveis, sejam tronos, sejam dominações, sejam principados,
sejam poderes; tudo foi criado por ele e para ele.” (Cl 1.16)

Nas palavras de Paulo, direcionadas à igreja de Colossos, é possível notar que sua
preocupação é esclarecer a premissa de que todas as coisas foram criadas em Cris-
to. Com o advento do pecado o mundo sofreu uma enorme deterioração, passando
a andar em direção contrária ao propósito original de Deus. Porém, Paulo afirma
que a origem de toda realidade conhecida é o próprio Cristo e que nele todas as coi-
sas encontram redenção. Tal redenção conduz o homem à vida eterna, mas também
consiste em tornar a criação apta a cumprir o propósito original pelo qual foi criada.
O alvo do evangelho é a restauração de toda a realidade criada por Deus.
Para falar a respeito desse assunto, faremos uso de uma estrutura simples:

A ESTRUTURA DO ENTENDIMENTO
CORRETO DO EVANGELHO É:
CRIAÇÃO • QUEDA • REDENÇÃO • CONSUMAÇÃO

Cada um desses pontos será visto de maneira mais detalhada, tendo em vista que,
juntos, contribuem para o correto entendimento da mensagem do evangelho.
Assim, é possível ter a revelação a respeito do plano de Deus, ampliada à medida
que vemos o evangelho sendo exposto nas Escrituras.

A CRIAÇÃO E O EVANGELHO

É importante entender que o evangelho é o caminho de retorno da criação ao


propósito original de Deus. A queda não alterou os planos pré-concebidos do Cria-
dor. Ele não partiu para um plano B após a entrada do pecado no mundo. Deus é
poderoso a ponto de converter todos os problemas, que aparentemente poderiam
atrapalhar o seu plano original, em glória ao seu nome. O evangelho é o instru-
mento que Deus utiliza para colocar a humanidade novamente nos trilhos da sua
vontade, estabelecida desde o princípio.
Os pontos que abordam o tema da criação são cercados por polêmicas, existem
diversas linhas que discutem o gênesis, o início de tudo. Contudo, o foco dessa

53
O EVANGELHO DE DEUS
A boa nova de uma perspectiva pessoal e cósmica

aula não é acumular argumentos que respondem as linhas contrárias às Escrituras,


mas, sim, focar na perspectiva evangélica sobre o assunto. Os apóstolos não inter-
pretavam as Escrituras hebraicas por meio de uma ótica científica. A preocupação
deles concentrava-se em transmitir uma mensagem clara e verdadeira a respeito da
criação. Esse é um tema importante para Deus, pois ele se interessa em tornar seus
filhos cientes da origem de sua existência nele, assim como a origem de todos os
problemas que a humanidade enfrenta.
O livro de Gênesis se inicia com base na premissa sobre a existência de Deus, sem
nenhum tipo de informação prévia a esse respeito¹. Deus não explica sobre sua ori-
gem, pois sempre existiu. A experiência da fé vem por meio do contato com a sua
palavra, portanto, Deus não precisa justificar a sua existência, tampouco prová-la.
O desejo dele é que seus filhos mergulhem nas Escrituras, aprofundando-se no
conhecimento a respeito de quem ele é. Deus é infinitamente maior do que tudo
aquilo que o homem conhece, Sua existência não teve um início e jamais terá um
fim. Contudo, ainda que Deus seja infinitamente grande, ele se faz acessível, para
que dessa forma seus filhos, seres finitos e limitados, o conheçam. Desde o princí-
pio existe uma mensagem central ecoando por todos os cantos do universo - Deus
quer se revelar ao homem!

O EVANGELHO EM DOIS PONTOS DE VISTA

Como dito anteriormente, nosso assunto é dividido em dois pontos de vista dis-
tintos, Antropológico e Cósmico. Os pontos que veremos a partir dessa aula se
adequam a uma perspectiva cósmica.
Ponto de vista antropológico:
a. Deus, Homem, Jesus e a Resposta a tudo isso;
b. O evangelho é visto por uma perspectiva pessoal, mas prosseguindo em enten-
dimento a respeito da obra de Deus.
Ponto de vista cósmico:
a. Criação, Queda, Redenção e Consumação;
b. A supremacia de Cristo, a glória de Deus e o destino do Universo são alvos do
evangelho. Esses são objetivos muito maiores do que a salvação pessoal.

1. Gn 1.1

54
O EVANGELHO DE DEUS
A boa nova de uma perspectiva pessoal e cósmica

O CARÁTER DA CRIAÇÃO DE DEUS

A criação será restaurada por Cristo por meio do evangelho, apenas dessa forma
ela estará apta a cumprir o propósito original pelo qual foi criada. Vejamos alguns
aspectos a respeito desse tema:
A criação é ordenada e reflete a glória do criador
Deus criou todas as coisas em perfeita harmonia, com leis e ordens que funcionam
em consonância, sendo seu nome glorificado por meio da excelência de sua obra.
Contudo, Cristo é o responsável por reger e sustentar todas as coisas. A ordem pre-
sente na criação existe unicamente por ser submetida ao domínio do Filho de Deus.

“porque nele foram criadas todas as coisas nos céus e na terra, as visí-
veis e as invisíveis, sejam tronos, sejam dominações, sejam principados,
sejam poderes; tudo foi criado por ele e para ele. Ele existe antes de todas
as coisas, e nele tudo subsiste.” (Cl 1.16.17)

A criação apresenta uma ordem de leis (cosmonomia)


A cosmonomia, kosmos (universo) e nomos (leis). Leis, dizem respeito às leis que
governam a criação. Existem leis que regem o funcionamento do universo, mas
nada acontece de maneira autônoma, todas as coisas são sustentadas pelo poder da
palavra de Deus. Não existe nada no universo que não esteja debaixo das leis e da
ordem criadas por Deus. Sobre isso Albert M. Wolters fala:

“As ordens de Deus também se estendem às estruturas da sociedade,


ao mundo das artes, dos negócios e do comércio. A civilização huma-
na é totalmente normatizada. Em todo lugar descobrimos limites e
propriedades, padrões e critérios: em cada campo dos negócios hu-
manos, há maneiras certas e erradas de agir.²

“Ele é o resplendor da sua glória e a representação exata do seu Ser,


sustentando todas as coisas pela palavra do seu poder e tendo feito a
purificação dos pecados, assentou-se à direita da Majestade nas alturas”
(Hb 1.3)

2. WOLTERS, Albert M. A criação restaurada: Base bíblica para uma cosmovisão reformada.
São Paulo: Cultura Cristã, 2006. p. 37.

55
O EVANGELHO DE DEUS
A boa nova de uma perspectiva pessoal e cósmica

A criação apresenta uma ordem de desenvolvimento temporal (cosmocronologia).


A criação apresenta uma ordem de desenvolvimento temporal. Existe um tempo
que rege todas as coisas, as estações do ano, a colheita, o plantio. Existe uma ordem
cronológica organizando a criação, as sucessões de eventos são todas ordenadas
por uma linha temporal muito bem estruturada pelo Criador.

“Tudo tem uma ocasião certa, e há um tempo certo para todo propósito
debaixo do céu. Tempo de nascer e tempo de morrer; tempo de plantar e
tempo de arrancar o que se plantou; (Ec 3.1,2)

A coerência na diversidade da criação


Deus criou o universo repleto de diversidade, são inúmeras as espécies distintas de
animais e plantas. Ainda os animais ou plantas integrantes da mesma espécie, pos-
suem características que os distinguem uns dos outros. Toda essa diversidade foi
criada para conviver em perfeita harmonia, ou seja, a coerência e a ordem deveriam
reger as relações. Todas essas coisas apontam para a multiforme sabedoria de Deus.
Seus inúmeros atributos são revelados quando olhamos para a sua criação.
A diversidade vista atualmente não diz respeito à diversidade harmônica criada por
Deus no Éden. Na era vigente podemos contemplar apenas resquícios da glória que
aponta para o propósito inicial de Deus na criação

O SER HUMANO E A CRIAÇÃO

Ao final do sétimo dia Deus contemplou a criação, obra de suas mãos, e viu que
tudo era bom. Ao criar o homem, Deus o insere em um mundo sujeito à cosmo-
nomia (leis cósmicas). Portanto, a criação submete seu curso às leis que regem o
universo. O ser humano não é alheio a essa ordem criada, contudo, transcende a
criação, tendo como destino o próprio Deus. O homem foi colocado na Terra para
glorificar o seu nome, por meio do cumprimento do propósito divino, revelando
o potencial da criação através de seu trabalho. Adão foi posto no jardim com o en-
cargo de cultivar e cuidar da criação, por meio desse trabalho a glória de Deus seria
revelada. Segundo Matt Chandler e Jared Wilson:

Deus criou tudo, e tudo era bom, mas aquilo que criou para ser bom
não era um fim em si mesmo, foi-nos dado como bom para que nós

56
O EVANGELHO DE DEUS
A boa nova de uma perspectiva pessoal e cósmica

fôssemos impelidos a adorá-lo. Noutras palavras, quando você e eu


tomamos um bocado de comida, isso deveria nos induzir à adoração
- não da comida, claro, mas do Criador dos alimentos.³

Um outro ponto a respeito do homem é que ele é o único elemento da criação que
se torna moralmente maligno. Nenhum outro elemento da criação tem essa capaci-
dade. O homem transcende a criação, inclusive no que diz respeito à sua maldade.
Deus existia antes de dar vida a tudo que existe. Ele criou o lugar onde habitam os
anjos, criou o homem à sua imagem e semelhança, ele criou o tempo. Ao criar todas
as coisas, Deus cria a estrutura temporal e espacial na qual elas existirão. Deus não
tem princípio, meio ou fim, sua existência se difere de tudo o que a mente humana
é capaz de imaginar.

“Deus é grande, e não podemos compreendê-lo; ninguém consegue con-


tar os seus anos.” (Jó 36.26)

“Antes que os montes nascessem, ou que tivesses formado a terra e o


mundo, sim, de eternidade a eternidade, tu és Deus.” (Sl 90.2)

“Sem pai, sem mãe, sem genealogia, não tendo princípio de dias nem fim
de vida, mas feito semelhante ao Filho de Deus, ele permanece sacerdote
para sempre.” (Hb 7.3)

Ele estabeleceu a criação e resolveu habitar dentro dela, para que dessa forma pu-
desse se relacionar com as criaturas feitas à sua imagem e semelhança. O Pai criou
todas as coisas por meio do Filho e no poder do Espírito Santo.

“No princípio, Deus criou os céus e a terra. A terra era sem forma e
vazia, e havia trevas sobre a face do abismo, mas o Espírito de Deus
pairava sobre a face das águas.” (Gn 1.1,2)

“Todas as coisas foram feitas por intermédio dele, e, sem ele, nada do que
foi feito existiria.” (Jo 1.3)

3. WILSON, Jared. CHANDLER, Matt. Evangelho Explícito. São José dos Campos, SP: Editora
Fiel, 2013. p. 122.

57
O EVANGELHO DE DEUS
A boa nova de uma perspectiva pessoal e cósmica

“no entanto, para nós há um só Deus, o Pai, de quem todas as coisas


procedem e para quem vivemos; e um só Senhor, Jesus Cristo, pelo qual
todas as coisas existem e por meio de quem também existimos.” (1 Co 8.6)

"porque nele foram criadas todas as coisas nos céus e na terra, as visí-
veis e as invisíveis, sejam tronos, sejam dominações, sejam principados,
sejam poderes; tudo foi criado por ele e para ele.” (Cl 1.16)

“nestes últimos dias, porém, ele nos falou pelo Filho, a quem designou
herdeiro de todas as coisas e por meio de quem também fez o universo.”
(Hb 1.2)

“O Espírito de Deus me fez, e o sopro do Todo-poderoso me dá vida.”


(Jó 33.4)

“Envias teu fôlego, e são criados; e assim renovas a face da terra.”


(Sl 104.30)

A RELAÇÃO ENTRE DEUS E A SUA CRIAÇÃO

Deus criou o universo a partir do nada:

“No princípio, Deus criou os céus e a terra.” (Gn 1.1)

“Os céus foram feitos pela palavra do SENHOR, e todo o exército deles,
pelo sopro da sua boca. (...) Pois ele falou, e tudo se fez; ele mandou, e
logo tudo apareceu.” (Sl 33.6,9)

“Todas as coisas foram feitas por intermédio dele, e, sem ele, nada do que
foi feito existiria.” (Jo 1.3)

“porque nele foram criadas todas as coisas nos céus e na terra, as visí-
veis e as invisíveis, sejam tronos, sejam dominações, sejam principados,
sejam poderes; tudo foi criado por ele e para ele.” (Cl 1.16)

58
O EVANGELHO DE DEUS
A boa nova de uma perspectiva pessoal e cósmica

“Nosso Senhor e nosso Deus, tu és digno de receber a glória, a honra e o


poder, porque tu criaste todas as coisas e, por tua vontade, elas existiram
e foram criadas.” (Ap 4.11)

“Antes que os montes nascessem, ou que tivesses formado a terra e o


mundo, sim, de eternidade a eternidade, tu és Deus.” (Sl 90.2)

“Tu somente és SENHOR. Tu fizeste o céu e o céu dos céus, com todos os
seus elementos, a terra e tudo quanto nela existe, os mares e tudo quanto
neles há, e tu dás vida a todos os seres, e os exércitos do céu te adoram.”
(Ne 9.6)

A criação depende do Criador:


Deus está acima de sua criação, todo o universo depende dele para permanecer
existindo. Contudo, ele se envolve com sua criação. Ele sustenta o que criou, está
presente e interage com tudo aquilo que foi feito por suas mãos. Essa é a verdade a
respeito da criação.

“Na sua mão está a vida de todo ser vivo, e o espírito de todo o gênero
humano.” (Jó 12.10)

“Tampouco é servido por mãos humanas, como se necessitasse de alguma


coisa. Pois é ele mesmo quem dá a todos a vida, a respiração e todas as
coisas. (...) pois nele vivemos, nos movemos e existimos, como também
alguns dos vossos poetas disseram: Pois dele também somos geração.”
(At 17.25,28)

“Ele existe antes de todas as coisas, e nele tudo subsiste” (Cl 1.17)
Porém existem algumas visões que são contrárias à visão bíblica sobre o assunto.
São elas:
O materialismo: Teoria que diz ser o universo visível a única realidade existente. É
incoerente um cristão se intitular materialista, uma vez que para ser cidadão do céu
é preciso crer na existência de Deus.
O panteísmo: Teoria que diz não haver distinção entre Deus e a criação. Segundo
essa teoria, Deus não transcende à criação, ou seja, não está acima dela, não é in-
dependente dela.

59
O EVANGELHO DE DEUS
A boa nova de uma perspectiva pessoal e cósmica

O dualismo: Acredita que Deus e o universo material existem eternamente lado a


lado. Essa teoria se torna evidente quando surgem problemas com a vida natural e
secular. Em geral, pessoas dualistas apresentam dificuldades em trabalhar, estudar
ou lidar com quaisquer atividades exclusivamente terrenas. Uma visão dualista en-
cara como correto e sagrado viver em prol de atividades ministeriais, enquanto o
trabalho secular é visto com desdém.
Deus é a fonte e origem de tudo que nós temos no universo, seja visível ou ma-
terial. Não existe nada que seja ruim por si mesmo, tudo que Deus criou é bom,
portanto, não existem motivos para se apegar a uma visão dualista. Deus transcen-
de sua criação, mas ao mesmo tempo está presente nela, santificando e atribuindo
importância a ela, para que dessa forma glorifique o seu nome.
O deísmo: Tal teoria crê que, mesmo Deus tendo criado o universo, não existe ne-
nhuma relação entre criador e criatura. Em resumo, é como se Deus tivesse dado
corda no universo para por fim, ausentar-se. Essa visão não corresponde ao Deus
presente nas Escrituras, pois nelas o criador é retratado como um ser que anseia
por relacionar-se com sua criação.

CONCLUSÃO

O evangelho não tem como objetivo livrar o homem dos perigos do mundo, todavia
sua mensagem tem o poder de revolucionar a realidade conhecida por nós. A obra
de Cristo, por mais que vá em direção a indivíduos isolados, não se resume a esse
ponto, seu propósito diz respeito à salvação e restauração de todo o universo. Deus
é glorificado quando o seu evangelho atinge de maneira pessoal os seus filhos, mas
também quando se expande a toda a realidade criada, fazendo-a alcançar sua ver-
dadeira forma. A mensagem do evangelho tem o poder de transformar toda a cria-
ção, seus alvos são a supremacia de Deus, Sua glória e o destino do universo, são
objetivos infinitamente maiores do que a salvação individual. É errado crer que
o alvo do evangelho se resume à salvação de seres isolados, tal ponto de vista é
egoísta. A obra de Cristo tem a ver com o propósito cósmico de Deus para toda a
sua criação.

60
Aula 6
v.1.0.0

QUEDA
A Queda narra o grande drama da humanidade. Por meio da desobediência de um
só homem, toda a criação foi condenada aos efeitos nocivos do pecado. Portanto,
um profundo e correto entendimento a respeito da queda é indispensável à huma-
nidade, pois é um fato determinante para todo e qualquer homem. Compreenden-
do o quão trágico foi esse evento e seus efeitos para o mundo criado por Deus, é
possível vislumbrar com mais afinco a bendita esperança que é proposta, a restau-
ração de todas as coisas por meio do evangelho.
Nesta aula falaremos sobre o evangelho por meio de uma perspectiva cósmica,
ou seja, uma visão que discorre a respeito da restauração de toda a criação pela
mensagem do evangelho. Na primeira aula falamos sobre o evangelho cósmico,
abrangendo os aspectos que ligam a criação ao evangelho. Falamos ainda sobre o
evangelho como instrumento usado por Deus para conduzir a criação de volta ao seu

61
O EVANGELHO DE DEUS
A boa nova de uma perspectiva pessoal e cósmica

propósito original. A partir de agora nossa atenção será voltada para a queda. Ao
olhar para esse acontecimento, fato que marcou para sempre a história da humani-
dade, é possível enxergar a necessidade da restauração cósmica.

A QUEDA DE SATANÁS

Antes de nos aprofundarmos na queda da humanidade, é necessário compreender


que ela é resultado de uma primeira queda, a de Lúcifer. Ao ler os capítulos 1 e 2 de
Gênesis é possível deduzir que Satanás caiu em algum momento antes da inserção
do homem no jardim. Vejamos:

“E Deus viu tudo quanto fizera, e era muito bom. E foram-se a tarde e a
manhã, o sexto dia.” (Gn 1.31)

Deus declara que tudo que havia criado era bom, portanto, havia perfeita harmonia
e paz na criação. Toda a criação de Deus permanecia boa até esse momento. Con-
tudo, em Gênesis 2.15, quando Deus insere o homem no Éden, lhe é delegada a
função de cultivar e guardar o jardim, vejamos:

“E o Senhor Deus tomou o homem e o colocou no jardim do Éden, para


que o homem o cultivasse e guardasse.”

É possível deduzir que antes de Adão e Eva serem inseridos no jardim, toda a reali-
dade criada por Deus era boa. Contudo, em dado momento veio a existir um certo
perigo. Esse mal que passou a rondar a obra do Criador, tornou necessária a função
dada por Deus a Adão, de guardar o jardim. Cremos que Adão deveria guardá-lo da
influência do mal, pois a queda de Satanás passou a oferecer perigo à ordem estabe-
lecida por Deus. O mundo no qual Adão e Eva viviam já não era mais um lugar sem
defeitos como havia sido em Gênesis 1.31, havia um risco que tornava necessária a
vigília constante. Deus criou um universo perfeito e sem defeitos, porém Satanás
passou a ameaçar essa ordem.
Satanás foi o responsável por enganar Eva, fazendo-a pecar e convidar seu marido
a também pecar contra Deus. Eva foi enganada¹, contudo Adão pecou de forma
voluntária, condenando a humanidade à corrupção de sua própria natureza.

1. 1Tm 2.14

62
O EVANGELHO DE DEUS
A boa nova de uma perspectiva pessoal e cósmica

Adão e Eva falharam em sua missão de proteger a criação das influências do mal, pois
desobedeceram a ordem de Deus e deram ouvidos ao mal que rondava o jardim.

O HOMEM E A MULHER: CRIADOS POR DEUS

O homem foi criado à imagem de Deus:

“E Deus criou o homem à sua imagem; à imagem de Deus o criou; ho-


mem e mulher os criou.” (Gn 1.27)

Existem 3 aspectos do que significa ser imagem de Deus. Vejamos:

Primeiro aspecto
O homem existe enquanto indivíduo, autoconsciente, com suas peculiaridades e
personalidades distintas. O homem é consciente a respeito de si e do mundo que o
cerca. Ele, diferente dos outros seres criados por Deus, possui a capacidade de re-
fletir sobre sua própria humanidade, sendo esse um dos aspectos que o levam a ser
chamado imagem de Deus. O Criador é plenamente consciente a respeito de quem
Ele é e foi da sua vontade compartilhar essa característica com o homem. Portanto,
a humanidade é formada por indivíduos autoconscientes e imbuídos de personalida-
des únicas. Esse é um dos motivos que torna o homem um ser semelhante a Deus

Segundo Aspecto
O homem foi criado para viver em comunidade, assim como o Criador. Deus é tri-
no, ele é Pai, Filho e Espírito Santo, e por dispor de plena comunhão em si mesmo,
criou o homem, para que também pudesse participar dessa realidade. Ao incluir o
homem na comunhão harmônica existente na Trindade, Deus é glorificado.
Adão vivia só no jardim, mas vejamos o que Deus diz a esse respeito:

“Disse mais o SENHOR Deus: Não é bom que o homem esteja só; eu lhe
farei uma ajudadora que lhe seja adequada. (Gn 2.18)

A humanidade não é imagem de Deus apenas como indivíduo isolado. Homem e


mulher, os dois em conjunto são imagem de Deus e refletem o caráter glorioso do
Criador. O fato é que o homem é criado à imagem de Deus por ser criado em comu-
nidade, indivíduos isolados e solitários não revelam a imagem de um Deus trino.

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O EVANGELHO DE DEUS
A boa nova de uma perspectiva pessoal e cósmica

Terceiro Aspecto
O terceiro aspecto da imagem de Deus sendo refletida no ser humano é o que
podemos chamar de corregência ou cocriação. Deus depositou no homem a capa-
cidade de criar e governar, habilidades essas que não foram compartilhadas com os
outros seres da criação.

A RELAÇÃO DE ADÃO E EVA COM DEUS

Deus criou o homem e estabeleceu com ele uma aliança. A obediência de Adão
não se dava apenas por uma submissão a leis impessoais, mas pela fidelidade ao
relacionamento que existia entre Criador e criatura. É possível perceber que havia
uma aliança entre os dois, as ordens dadas por Deus não eram direcionadas a Adão
por ele desempenhar seu papel de maneira correta, mas porque vivia uma vida de
confiança em Deus. Ao andar com Deus, Adão aprendia a exercer seu papel dentro
da criação, portanto, os dois cultivavam uma relação de discipulado. Cada passo
que Adão dava com Deus o levava a aprender como caminhar e agir como o Criador
agia, para que dessa forma pudesse exercer sua função de cocriador e corregente.
A obediência de Adão e a confiança que depositava em Deus eram um treinamento
para que ele viesse a governar a criação, essa era a relação que a raça humana tinha
com seu Criador no princípio.
Adão e Eva não eram, em certo sentido, seres perfeitos quando foram criados por
Deus, tendo em vista que eram limitados e não haviam alcançado plena maturida-
de. Eles participavam do que é possível chamar de mal metafísico, pois não eram
maus, contudo, eram limitados. É importante frisar que Deus não falhou ao criar
o homem, gerando um ser defeituoso e por isso ele pecou, de acordo com Albert
M. Wolters, “o pecado, uma invasão alienígena à criação, é completamente estranho
ao propósito de Deus para as suas criaturas. Ele não foi planejado; não pertence à
criação.”2
Portanto, Deus criou o homem para que expandisse seus conhecimentos e habi-
lidades ao longo do tempo, fato que aconteceria à medida em que ele seguisse as
ordens do Criador.

2. WOLTERS, Albert M. A criação restaurada: Base bíblica para uma cosmovisão reformada.
São Paulo: Cultura Cristã, 2006. p. 68.

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O EVANGELHO DE DEUS
A boa nova de uma perspectiva pessoal e cósmica

O ENGANO

Um ponto importante a ser dito sobre a queda é que Eva foi enganada pela serpen-
te. As Escrituras deixam claro que Eva foi enganada, enquanto Adão pecou de for-
ma consciente. O fato de Eva ter sido enganada revela que, possivelmente, dentro
de seu coração era nutrida uma desconfiança de Deus. A serpente se aproveitou e
alimentou essa desconfiança para o sucesso de seus objetivos malignos. Esse enga-
no pode ser dividido em cinco estágios, vistos em Gênesis 3.

Primeiro estágio: questionamento


A serpente questionou, diante da mulher, a ordem de Deus. Ela fez uso de uma
pergunta completamente distorcida para lançar no coração de Eva as sementes da
desconfiança, vejamos:

“Ora, a serpente era o mais astuto de todos os animais do campo que o


SENHOR Deus havia feito. E ela disse à mulher: Foi assim que Deus
disse: Não comereis de nenhuma árvore do jardim?” (Gn 3.1)

Contudo, Deus jamais havia proibido o consumo das árvores do jardim, sua ordem
era direcionada apenas à árvore do bem e do mal:

“Então o SENHOR Deus ordenou ao homem: Podes comer livremente


de qualquer árvore do jardim, mas não comerás da árvore do conheci-
mento do bem e do mal; porque no dia em que dela comeres, com certeza
morrerás.” (Gn 2.16,17)

Segundo estágio: distorção


Eva, afetada pelo questionamento da serpente, distorceu as palavras de Deus acres-
centando:

“Respondeu a mulher à serpente: Do fruto das árvores do jardim po-


demos comer, mas do fruto da árvore que está no meio do jardim, disse
Deus: Não comereis dele, nem nele tocareis; se o fizerdes, morrereis.”
(Gn 3.2,3).

Porém, como podemos ver em Gênesis 2.17, Deus não havia proibido o homem de
tocar no fruto.

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O EVANGELHO DE DEUS
A boa nova de uma perspectiva pessoal e cósmica

“...não comerás da árvore do conhecimento do bem e do mal; porque no


dia em que dela comeres, com certeza morrerás”.

Terceiro estágio: negação


A serpente nega as verdades contidas na palavra de Deus, dizendo à mulher: “Com
certeza, não morrereis.” (Gn 3.4), mesmo Deus havendo dito que certamente o ho-
mem morreria ao comer do fruto proibido.

Quarto estágio: subversão


Subversão ou manipulação da verdade, isso aconteceu quando não apenas as pala-
vras de Deus foram questionadas, mas quando as intenções do Criador foram co-
locadas em dúvida diante de Eva pela serpente. Segundo a serpente, a intenção de
Deus era esconder de Eva algo bom, por isso proibiu o consumo do fruto da árvore
do bem e do mal. Vejamos:

“Na verdade, Deus sabe que no dia em que comerdes desse fruto, vossos
olhos se abrirão, e sereis como Deus, conhecendo o bem e o mal.” ( Gn 3.5)

Quinto estágio: o engano


Nesse estágio vemos o engano propriamente dito, uma vez que a mulher foi conven-
cida pela serpente que suas palavras eram mais confiáveis que a do próprio Deus.

“Então, vendo a mulher que a árvore era boa para dela comer, agra-
dável aos olhos e desejável para dar entendimento, tomou do seu fruto,
comeu e deu dele a seu marido, que também comeu.” (Gn 3.6)

O PECADO DE ADÃO

Não existe nenhuma explicação clara sobre os motivos que levaram Adão a pecar,
porém, é possível levantar três teorias diferentes a respeito desse assunto:

Primeira teoria
O simples desejo por independência e a crença nas suas próprias habilidades leva-
ram Adão a pecar, ou seja, a possibilidade de comer do fruto não era um pensamen-
to novo. A oferta de Eva foi uma oportunidade de realizar o que já estava em seu

66
O EVANGELHO DE DEUS
A boa nova de uma perspectiva pessoal e cósmica

coração. Quando a Bíblia diz que a mulher comeu o fruto, logo em seguida ela o
ofereceu ao seu marido que rapidamente aceitou. É possível deduzir que Adão en-
contrava-se próximo a Eva, uma vez que ela não precisou se deslocar para oferecer
o fruto. Portanto, segundo essa teoria concluímos que Adão acompanhou a cena de
Eva sendo enganada e foi omisso. Talvez Adão já houvesse decidido, em seu cora-
ção, se rebelar contra o Criador e confiar em sua própria força, influenciado pelo
desejo de ser igual a Deus, porém independente.

Segunda Teoria
Adão pecou por idolatrar sua mulher. Ele desejou ser fiel a Eva, colocando-a no lu-
gar de Deus e por isso foi omisso. Adão não hesitou em pecar, ainda que diante da
possibilidade de perder sua mulher para o pecado cometido por ela.

Terceira Teoria
Essa teoria relaciona as duas citadas acima. De acordo com ela, existia em Adão um
desejo por independência, portanto, ao perceber a oportunidade que sua omissão
criou, ele decidiu apoiar as ações de Eva. Dessa forma ele não perderia sua mulher
e seguiria o caminho que seu coração ansiava. Esse episódio é semelhante ao que
narra a história do rei Acabe e da rainha Jezabel. Acabe era um homem mal e omis-
so diante das ações pecaminosas de sua mulher. Ele via nas ações de Jezabel uma
forma de legalizar os anseios ruins de seu coração.

OS RESULTADOS DA QUEDA NA CRIAÇÃO

As dores de parto
Um dos resultados da queda recaíram sobre a mulher. Deus proferiu o juízo conde-
nando as mulheres a gerar vida por meio de dores.

“E disse para a mulher: Multiplicarei grandemente a tua dor na gravi-


dez; com dor darás à luz filhos; o teu desejo será para o teu marido, e ele
te dominará.” (Gn 3.16)

Tensão relacional
Deus determinou que o desejo da mulher seria para o seu marido e ele a dominaria.
Tal decreto revela que as mulheres, posteriores a Eva, continuariam a agir no mes-
mo padrão de independência e manipulação. Assim como os homens, posteriores a
Adão, continuariam a agir de forma omissa. Um outro resultado da queda se revela

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O EVANGELHO DE DEUS
A boa nova de uma perspectiva pessoal e cósmica

no fato do homem tentar dominar a mulher por meio da força e opressão, não por
meio de uma autoridade correta.
Quando olhamos para a história de Caim e Abel, é possível perceber que essa ten-
são relacional sobe de nível. Ela não diz respeito apenas aos sexos opostos, mas à
humanidade como um todo. Como exemplo disso podemos citar o relato de Lame-
que, que descreve os assassinatos cometidos por ele sem apresentar qualquer re-
morso³. Essa tensão permeia toda e qualquer relação humana, crescendo em níveis
cada vez maiores de crueldade, corrupção e violência.

O trabalho árduo
Um outro aspecto a ser citado, como resultado negativo da queda, é o trabalho
árduo e improdutivo. O esforço do homem parece nunca corresponder ao resulta-
do obtido. O fruto parece infinitamente menor do que o esforço depositado para
alcançá-lo.

“E disse para o homem: Porque deste ouvidos à voz da tua mulher e co-
meste da árvore da qual te ordenei: Não comerás dela; maldita é a terra
por tua causa; com sofrimento comerás dela todos os dias da tua vida.
Ela te produzirá espinhos e ervas daninhas; e terás de comer das plantas
do campo.” (Gn 3.17,18)

A morte
A consequência final da queda é a morte, a partir daquele momento a humanidade
estaria fadada a lidar com a efemeridade de suas vidas. O pecado condenou os ho-
mens a retornar ao pó, o mesmo pó que pela graça de Deus os gerou.

“Do suor do teu rosto comerás o teu pão, até que tornes à terra, pois dela
foste tirado; porque és pó, e ao pó tornarás.” (Gn 3.19)

O homem se tornou dominador e explorador


Antes da queda, o homem era corregente benigno, porém transformou-se em do-
minador e explorador inconsequente após o pecado. O homem passou a extrair os
recursos da criação, sem ao menos dirigir-se a ela de forma graciosa e cuidadosa,
agindo somente em prol de seu benefício.

3. Gn 4.23

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O EVANGELHO DE DEUS
A boa nova de uma perspectiva pessoal e cósmica

Tudo é vaidade
Tudo que foi criado por Deus para sua glória, tornou-se vazio de sentido aos ho-
mens, pois eles buscam encontrar na criação uma forma de satisfazer suas almas.
No livro de Eclesiastes o autor fala que “tudo é vaidade”4, ou seja, tudo que Deus
criou para a glória do seu nome e para o desfrute dos homens, são tidas como vãs,
pois não possuem a mesma glória que havia no princípio. O homem vive em busca
da glória que inundava a criação no princípio, contudo ele não a encontra, uma
vez que o pecado ofuscou a beleza que habitava na criação. Por não encontrar o
anseio mais profundo de sua alma, o homem afunda-se no desespero, tornando-se
dominador e explorador de tudo que Deus criou, porém está sempre consciente da
seguinte verdade: tudo é vaidade!
Ainda sobre isso, vejamos um trecho do livro “Evangelho Explícito”:

No final, não existe nada debaixo do sol que traga realização eterna.
Temos de olhar além do Sol. O sulco de nossos corações não pode ser
preenchido com o que é temporal. Exige a eternidade. Portanto, nos-
sa própria busca por mais e mais, cada vez maior, cada vez melhor, é o
nosso sentimento de que algo está fora, defeituoso, deformado e que-
brado. No mesmo sentido que a morte, a dor e o sofrimento dizem-
-nos que algo no mundo está quebrado, a nossa busca insaciável nos
diz que algo maior que a própria terra está faltando em nossa alma.5

O caos
O último resultado da queda é o caos que se instaurou na criação. O mundo criado
por Deus se tornou um lugar mal e hostil. Os desastres naturais, a guerra entre os
animais, a guerra entre os homens, a exploração desenfreada, todas essas coisas
apontam para uma realidade caótica. Segundo Albert M. Wolters:

Não apenas a raça humana, mas também todo o mundo não huma-
no foi afetado pelo fato de Adão não atender aos mandamentos e à
advertência explícita de Deus. Os efeitos do pecado tocaram toda
a criação; toda coisa criada está, em princípio, tocada pelos efeitos
corrosivos da queda.6

4. Ec 1.2
5. WILSON, Jared. CHANDLER, Matt. Evangelho Explícito. São José dos Campos, SP: Editora
Fiel, 2013. p. 153.
6. WOLTERS, Albert M. op. cit., p. 63.

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O EVANGELHO DE DEUS
A boa nova de uma perspectiva pessoal e cósmica

CONCLUSÃO

A queda afetou o homem e toda a realidade ao seu redor. Portanto, o propósito do


evangelho é restaurar a criação como um todo, ou seja, o homem e o seu habitat
natural. O profeta Isaías declarou7 que “a glória de Deus encherá toda a terra, assim
como as águas cobrem o mar”, e o evangelho é o instrumento pelo qual essa profecia
se cumprirá. Cristo retornará e restaurará toda a realidade caótica que hoje conhe-
cemos. Esse será o evento que trará paz ao coração do homem. Os seres humanos
são afligidos por um vazio eterno que será suprido apenas quando Cristo, ser eter-
no, habitar e restaurar o mundo criado por ele. Vejamos o trecho abaixo:

Quase todos nós, admitamos ou não, temos comprado a filosofia de que


aquilo que realmente precisamos para finalmente sermos felizes é ter
mais do que já possuímos. Isso é loucura. Não tem sentido. Eclesiastes
3.11 diz: “Deus também pôs a eternidade no coração do homem.” Em
algum nível no mais profundo de nossa alma, ela recorda, como quer
que seja, como era a vida antes da Queda. Em algum nível bem profun-
do, nossa alma tem essa impressão gravada pelo dedo de Deus.8

O pecado dilacerou o mundo criado por Deus, porém, haverá um dia em que a
Terra será governada por aquele que trará ordem ao caos existente no interior do
homem e no mundo em que habita.

7. Is 6.3
8. WILSON, Jared. CHANDLER, Matt. op. cit. p 151.

70
Aula 7
v.1.0.0

A REDENÇÃO
Esta é a nossa penúltima aula e agora estamos nos encaminhando para a conclusão
desta disciplina. Na primeira metade das aulas, vimos o evangelho de uma perspec-
tiva antropológica, ou seja, olhamos para a mensagem das boas novas do ponto de
vista humano, como o homem percebe, reage e é atingido pelo evangelho. Da me-
tade para o fim, nossa missão tem sido conhecer o aspecto cosmológico do evan-
gelho, reconhecendo de que forma ele atinge e transforma todo o cosmo criado.
Estas duas perspectivas deixam claro que o desenvolvimento do plano de Deus
na terra, revelado nas Escrituras, está diretamente relacionado e é permeado pela
mensagem central do evangelho. Entretanto, há uma tendência em pensarmos no
evangelho apenas como uma porta de entrada para a vida cristã. Porém, enxergar-
mos as boas novas como uma mensagem destinada somente aos novos convertidos

71
O EVANGELHO DE DEUS
A boa nova de uma perspectiva pessoal e cósmica

ou à salvação dos incrédulos é diminuir e limitar o seu valor, principalmente no que


se refere à redenção de todas as coisas.
Veja o que dizem sobre isso os autores do livro "O Evangelho Explícito":

"...observe nos Evangelhos que Jesus redime as almas de homens e


mulheres, como também as suas histórias. As esperanças dos filhos
de Deus em todo o Antigo Testamento não são apenas sobre a salva-
ção individual — ainda que obviamente isso esteja em vista — mas
tratam da redenção nacional, restauração pactual e reconciliação "no
mundo real"."1

Portanto, através do entendimento que temos adquirido ao longo dessas semanas,


precisamos, como igreja, mudar nossa mentalidade e reconquistar a importância
do aspecto redentivo na mensagem do evangelho. Pois será através das boas novas
do reino que o Senhor restaurará todas as coisas, nas nossas vidas, na criação, em
suma, nos céus e na terra, e estabelecerá o seu trono eternamente.

O EVANGELHO DO REINO

"E este evangelho do reino será pregado pelo mundo inteiro, para teste-
munho a todas as nações, e então virá o fim." (Mt 24.14)

O que é o evangelho do Reino?


É a proclamação da vinda iminente do reino de Deus², que culminará no fim desta
era³, no estabelecimento do seu governo sobre toda a terra4, acompanhado da res-
surreição dos mortos5, do juízo eterno6, da renovação da criação7 e da recompensa
aos justos por meio do Messias8.

1. WILSON, Jared. CHANDLER, Matt. Evangelho Explícito. São José dos Campos, SP: Editora
Fiel, 2013. p. 161.
2. Mt 4.17
3. Is 65.17
4. 1 Co 15.28
5. 1 Co 15.52
6. Ap 20.11-12
7. Ap 21.1
8. Ap 22.1-5

72
O EVANGELHO DE DEUS
A boa nova de uma perspectiva pessoal e cósmica

Essa é a mensagem do reino de Deus que deve ser proclamada a todas as nações.
E, segundo o próprio significado etimológico do nome evangelho, essa mensagem
traz consigo boas notícias. Essas boas novas trata-se da salvação em Cristo, mas
também da restauração de todas as coisas criadas.

A MENSAGEM DO EVANGELHO DO REINO

O principal objetivo da mensagem do evangelho do Reino é fazer com que indiví-


duos que tiveram suas vidas atingidas e transformadas pelas boas novas, tornem-se,
na verdade, um povo que abrace esta mensagem, levando-a a todas as nações, anun-
ciando a vinda do Messias e preparando a terra para o seu retorno.
Jesus não é somente aquele que veio para salvar e restaurar individualmente a vida
dos seus filhos. Ele é, principalmente, aquele que virá para restaurar toda a terra
através do seu reinado eterno. E aqui, é importante ressaltarmos que a segunda
vinda de Jesus se relaciona com o estabelecimento do seu governo sobre a terra.
Conforme visto anteriormente, a estrutura do evangelho engloba: criação, queda, re-
denção e consumação. Ou seja, no decorrer das Escrituras conhecemos o plano origi-
nal de Deus e descobrimos que o seu desejo é constituir para si um povo que reflete a
sua imagem e semelhança na terra. Isto ocorrerá à medida que o seu povo se submete à
sua liderança, aguardando e anunciando o estabelecimento do seu governo.
Logo, se o evangelho que ouvimos e pregamos aborda apenas a perspectiva pessoal do
que ele causa em indivíduos, trata-se, na verdade, de um evangelho incompleto. Ele
será uma boa nova, mas não será a boa nova do reino. Visto que o evangelho do reino
(citado em Mateus 24.14) tem como apontamento central o reino messiânico vindouro.
E a boa notícia é, em suma, a proclamação deste reino. Portanto, abraçar o evan-
gelho do reino envolve anunciar que Jesus está voltando para redimir céus e terra
através do seu governo.

O EVANGELHO DO REINO E
O CHAMADO PEREGRINO

Embora o cristão seja agraciado pela salvação, sua salvação individual não serve
para posicioná-lo a cumprir seu propósito diante do alvo universal de Deus. Há
uma jornada a ser percorrida, pois não é suficiente apenas ser salvo, é necessário

73
O EVANGELHO DE DEUS
A boa nova de uma perspectiva pessoal e cósmica

que o povo escolhido de Deus proclame e testemunhe a mensagem a respeito da


redenção e consumação vindouras.
Proclamar e esperar um evangelho que faz promessas de melhoria de vida nesta era
é crer equivocadamente a respeito do chamado cristão. Se cremos em uma men-
sagem que vem para melhorar o tipo de experiência que temos agora, não estamos
atentos à mensagem central contida nas Escrituras. O que a Bíblia diz é que essa
é uma era má. E a sua maldade será resolvida apenas com a vinda do Messias e o
estabelecimento do seu reino.
Desta forma, crer no evangelho do reino significa abraçar a identidade de um pere-
grino9 que aguarda o início da era vindoura como o momento de realização plena
do seu propósito individual. Ansiando pelo dia em que a sua verdadeira vida, que
hoje está escondida em Cristo, irá se manifestar.
No entanto, o cristão deve ir além do seu chamado peregrino individual e constituir-
-se, coletivamente, como um povo peregrino nesta terra. Este povo, chamado igreja,
proclama e testemunha no tempo presente como tudo há de ser quando o Messias
vier para reinar. Nisto consiste a verdadeira redenção que é trazida pela mensagem
do reino de Deus. Esta é a boa nova em sua forma mais completa e plena.

O EVANGELHO DO REINO E O
DISCIPULADO MESSIÂNICO

Abraçar o estilo de vida de peregrinação implica, necessariamente, em deixar de


lado qualquer conforto que essa vida pode nos oferecer. Em contraste aos ape-
los por sucesso, estabilidade emocional e financeira a qualquer custo que vemos e
ouvimos nas mídias, o cristão é chamado a viver nesta terra, semelhantemente a
Jesus. Ou seja: abraçar, voluntariamente, um estilo de vida de sofrimento que pre-
cede a glória que está por vir.
Paulo descreveu perfeitamente o paradoxo cristão ocorrido no discipulado messiânico:

"Por isso não nos desanimamos. Ainda que o nosso exterior esteja se des-
gastando, o nosso interior está sendo renovado todos os dias. Pois nossa
tribulação leve e passageira produz para nós uma glória incomparável,
de valor eterno, pois não fixamos o olhar nas coisas visíveis, mas naque-

9. 1 Pe 2.11

74
O EVANGELHO DE DEUS
A boa nova de uma perspectiva pessoal e cósmica

las que não se veem; pois as visíveis são temporárias, ao passo que as que
não se veem são eternas." (2 Co 4.16-18)

É importante entendermos que o discipulado cristão não tem o sofrimento como


alvo final. No entanto, é o meio pelo qual se chega à glória. É justamente nesse
contexto que Paulo declara que os sofrimentos presentes não se comparam com o
peso eterno de glória.
Os sofrimentos de Paulo eram de grande expressão10. Ele sofreu naufrágios, foi pre-
so, perseguido, espancado, viveu privações físicas e emocionais e, mesmo assim,
ele declara que nada disso era comparável à excelente glória que o aguardava. Essa
glória a qual ele se refere é a promessa da redenção de todas as coisas.
O que permitirá que os cristãos, assim como Paulo, abracem o discipulado e te-
nham uma estrutura de vida messiânica de sofrimentos nesta era é, justamente, o
entendimento correto do evangelho como sendo o evangelho do reino. Sem visão
clara das promessas que os aguardam11, não há disposição suficiente para trilhar a
jornada de peregrinação.

A VISÃO DO PROPÓSITO ETERNO


E A VOCAÇÃO DO CRENTE

As pessoas, no geral, gostam de ouvir boas histórias. E uma boa narrativa, seja
em filmes, livros ou séries, conta histórias de pessoas que se envolvem em um
propósito maior que suas próprias vidas. Esse envolvimento permite-lhes que
sejam capazes de fazer sacrifícios em prol do alvo maior que está diante delas.
Contribuir para o cumprimento deste alvo, apesar dos sacrifícios que envolvem o
objetivo final, produz uma satisfação pessoal e um senso de sentido. Isto se dá pelo
fato de ver a sua vocação, o seu chamado e missão pessoais contribuindo para a
realização do propósito que é maior que suas próprias vidas.
Desta forma, se há ainda alguma dificuldade e resistência na vida do crente que o
impede de viver sacrifícios e sofrimentos em prol da causa do evangelho, isso pro-
vém da falta de uma visão clara do propósito eterno.
O evangelho do reino é a narrativa que nos dará o entendimento correto para tri-
lharmos a jornada de peregrinação que nos é proposta, e que permitirá que vivamos

10. Fp 4.12
11. Rm 8.23

75
O EVANGELHO DE DEUS
A boa nova de uma perspectiva pessoal e cósmica

uma vida como a dos heróis da fé, em Hebreus 11. Olhar para a estrutura do desen-
volvimento do plano de Deus nas Escrituras é o que nos trará visão e aumentará
nossa fé no cumprimento glorioso do seu propósito.
Embora muitos crentes tenham dúvidas sobre qual seu verdadeiro chamado e vo-
cação, se observarmos atentamente há, diante de nós, um chamado claro para ser-
mos representantes e embaixadores do reino vindouro12. E participar deste reino
é infinitamente superior a qualquer prazer, sucesso ou realização que podemos ter
nesta era.
Os autores do livro "O Evangelho Explícito", declaram:

"Se você for professor, se for político, se for empresário ou agricultor,


se for construtor ou tecnólogo, se estiver no campo das artes, você
não deve dizer: "Tenho de descobrir meu propósito neste trabalho", e
sim, "Tenho de trazer o propósito de Deus a este trabalho"."13

Portanto, independentemente de qual atividade está sendo exercida por você neste
momento e de seu papel vocacional, o Senhor te convida a abraçar sua identidade
vindoura, por meio de Cristo, de ser um rei e sacerdote.

REIS E SACERDOTES

A identidade do povo de Deus como reis e sacerdotes está totalmente relacionada


à expressão do evangelho do reino de Deus. Pois, embora o evangelho seja uma
narrativa ampla e com diversos aspectos importantes, ele culmina no retorno de
Jesus para reinar e governar sobre a terra. Nesse sentido, o Senhor quer que o seu
povo abrace sua nova identidade de reis e sacerdotes para atuar juntamente com
ele na era vindoura.
Assim sendo, o evangelho trata-se também de uma mensagem que anuncia que nós
fomos comprados por Cristo, pelo seu sangue14, para nos tornarmos reis e sacerdo-
tes diante do Deus altíssimo.
A seguir vamos entender melhor o que essa identidade representa:

12. 2 Co 5.20
13. WILSON, Jared. CHANDLER, Matt. op. cit. p 1175.
14. 1 Pe 1.19

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O EVANGELHO DE DEUS
A boa nova de uma perspectiva pessoal e cósmica

SACERDOTES

O que é ser um sacerdote?


O sacerdócio é, primordialmente, um chamado à comunhão. Quando Adão des-
frutava de relacionamento íntimo e contínuo com Deus no Éden, na verdade ele
estava ministrando ao Senhor através do seu sacerdócio. No entanto, este acesso
direto ao Pai foi rompido pela queda, tornando necessário o derramamento de san-
gue (para purificação dos pecados) que possibilitaria o acesso à presença de Deus.
Quando Jesus sacrificou-se na cruz, o seu sangue, derramado em nosso favor, nos
comprou para Deus. Ou seja, para que a comunhão, o acesso ao Pai e a nossa eterna
identidade como sacerdotes fosse restaurada. Portanto, a mensagem do evangelho
do reino reposiciona o povo de Deus no seu papel original de ter comunhão com ele.
Ainda sobre o que é ser sacerdote, vejamos alguns aspectos importantes que ajuda-
rão a compreender e desenvolver este chamado:
1º - Sacerdócio é comunhão:
Ser sacerdote é posicionar-se diante de Deus, à semelhança de Adão — o primeiro
sacerdote — buscando ministrar ao Senhor através de um relacionamento íntimo
de comunhão.
2º - Sacerdócio na Bíblia:
No Antigo Testamento vemos que os sacerdotes eram chamados a ministrar diante
de Deus como se vê na figura do sacerdócio levítico.
3º - Sacerdócio é um ato de serviço:
Ser um sacerdote é servir ao próximo como um representante de Deus. Ou seja, à
medida que servimos o próximo diante de Deus, estamos ministrando adoração a ele.
4º - Sacerdócio e sua recompensa:
Na ocasião em que o Senhor define qual era a parte da herança da terra de Canaã
que cabia a cada tribo, ele escolhe e separa a tribo de Levi para o trabalho sacerdotal
e declara:

"Os sacerdotes levitas e toda a tribo de Levi não terão parte nem herança
com Israel. Comerão das ofertas queimadas ao SENHOR e da herança
dele. Não terão herança entre seus irmãos; o SENHOR é a sua herança,
como lhes disse." (Dt 18.1,2)

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O EVANGELHO DE DEUS
A boa nova de uma perspectiva pessoal e cósmica

Veja que não há recompensa para o sacerdote nesta era, sua herança é o Senhor. Os
sacerdotes são peregrinos que aguardam o verdadeiro galardão, sua herança real,
que não está relacionada apenas à terra, mas ao Deus que habita nela.
Da mesma forma, nós não devemos esperar qualquer tipo de recompensa ou heran-
ça nesta terra. Não há nada que o sistema deste mundo possa nos oferecer. Nossa
esperança está no reino vindouro!

REIS

O que é ser um rei?


Em contraste à ideia atual de que um rei é aquele que é servido, as Escrituras nos
mostram que Jesus — o rei aguardado pelos judeus — viveu seus dias nesta terra
servindo a todos que passavam pelo seu caminho e, principalmente, ao Pai.
Vamos observar mais aspectos do que significa participar do reino de Deus como
um rei:

1º - O reino de Cristo não é dessa era:


O reino de Cristo não é dessa era, logo, a nossa identidade como reis também não
é desta era. Por isso, mesmo que este seja o nosso chamado e nossa identidade em
Cristo, nossa mentalidade não deve ser de exercermos governo e domínio neste
tempo ou sobre o sistema deste mundo. Pelo contrário, nossa postura deve ser se-
melhante à de Jesus em seus dias na terra, que mesmo tendo autoridade real sobre
si, veio como servo sofredor.
2º - Reinar significa servir:
Durante os três anos do ministério de Jesus, sua autoridade foi demonstrada à me-
dida que servia ao próximo e fazia a vontade de seu Pai. Em nenhum momento sua
postura foi de usurpar a glória que lhe era devida15. É muito escandaloso pensar,
por exemplo, na cena em que Jesus lava os pés de seus discípulos16. Este era um ato
comum aos escravos da época, eles eram quem lavavam os pés dos seus senhores.
A autoridade governamental do reino de Deus será reconhecida em nossas vidas
por meio do serviço, jamais através de um domínio impositivo de nossos valores e

15. Fp 2.6
16. Jo 13.12

78
O EVANGELHO DE DEUS
A boa nova de uma perspectiva pessoal e cósmica

crenças. A igreja que testemunha do caráter e da autoridade de Jesus é uma igreja


que se posiciona em favor dos que estão ao seu redor, enquanto abre mão do con-
forto e do individualismo que regem a humanidade.
O paradoxo é justamente este: reinar, no reino de Deus, significa servir17. E este
princípio do reino é imutável. Deus determinou que seja assim nesta era e na vin-
doura. Essa é a lógica do seu reino. E embora no tempo atual isso seja visto como
algo humilhante e desprezível ou como algo que aponta para um retrocesso, o ser-
viço tem grande valor e glória para o Senhor e para o seu reino.
Portanto, mesmo que hoje a sua postura de serviço seja vista com maus olhos ou
de forma depreciativa, na era vindoura há de se revelar a realeza que estava sobre
você em cada um destes momentos. Toda recompensa e galardões adquiridos ao
longo da jornada de serviço, hão de ser manifestados, de dentro para fora, quando
ocorrer a transição desta era para o reino. Por fim, todos irão testemunhar a glória
e majestade no povo de Deus, através de ter abraçado a humildade e o serviço de
Cristo como um chamado de vida.
3º - O reinado como serviço à criação (Mandato Cultural):
Até aqui vimos que o reinar com Cristo relaciona-se com o serviço ao próximo.
Porém, não se limita apenas a servir às pessoas, mas está ligado a servir a Deus em
meio a sua própria criação.
No Éden, Adão ouviu a ordem clara de estabelecer cultura através de cultivar e
guardar a terra. Este cultivo corresponde a tornar a matéria crua da criação de Deus
naquilo que, originalmente, deveria ser para sua própria glória.
Atualmente, há culturas vigentes que são totalmente contrárias à glória de Deus.
No entanto, não será dominando-as de forma impositiva que vamos transformar o
nosso entorno. O meio pelo qual Deus estabeleceu que traria sua glória para a terra
está relacionado a servir a criação de forma que uma cultura seja constituída. Ou
seja, à medida que os seus filhos servem a terra, eles testemunham do Reino de
Deus e da sua vontade.
O mandato cultural — ordem dada a Adão no jardim para cultivá-lo e guardá-lo
— deve ser abraçado pelo povo de Deus. Todavia, o coração correto diante desta
ordem deve ser sempre o de servir em primeiro lugar. Desta forma, o reino será
visto e os seus valores também. Esse é o único caminho! E mesmo que aqueles
que rejeitam esses valores o rejeitem também, ainda assim, o povo de Deus deve
permanecer servindo.

17. Mc 10.43-45

79
O EVANGELHO DE DEUS
A boa nova de uma perspectiva pessoal e cósmica

A consequência de viver este estilo de vida é que, certamente, quem segue o siste-
ma deste mundo irá interpretá-lo mal e, raramente, isso produzirá alguma honra ou
glória no tempo presente. Talvez produza até perseguição e martírio. Mas a questão
é que servir desta forma, testemunha e aponta para o reino de Deus. Consequen-
temente, pessoas têm seus olhos abertos e suas vidas transformadas à medida que
são transportadas do império das trevas para dentro do reino do Filho do seu amor.
4º - Reinar é exercer julgamento:
O papel de um rei não diz respeito somente ao governo ou a tomada de decisões
e direções. Biblicamente, um rei é chamado para julgar as causas do povo. Desta
forma, nossa identidade como reis está relacionada à função de exercer julgamento
sobre pessoas, situações e até mesmo, sobre a criação.
Há uma mentalidade enraizada em alguns, que diz: "não devemos julgar uns aos
outros". O que não se deve pensar, no entanto, é que sua vida pode servir individu-
almente como régua de medir, como padrão para o enquadramento dos que estão
ao seu redor. Contudo, a Bíblia convoca a igreja a exercer juízo, primeiramente,
inclusive, no seu próprio meio.
Vamos analisar atentamente a exortação de Paulo à igreja de Corinto:

"Atreve-se alguém entre vós, quando há queixa de um contra outro, a


levar a questão para ser julgada pelos injustos, e não pelos santos? Ou
não sabeis que os santos julgarão o mundo? E, se o mundo será julgado
por vós, como sois incapazes de julgar as coisas menores? Não sabeis que
iremos julgar os anjos? Quanto mais as coisas pertencentes a esta vida!
Assim, quando tendes negócios desta vida para serem julgados, constitu-
ís como juízes os que são de menos estima na igreja? Digo isso para vos
envergonhar. Será que não há entre vós ao menos um que seja sábio para
julgar as questões entre seus irmãos? Entretanto, um irmão leva outro
irmão ao tribunal, e isso perante os incrédulos?" (1 Co 6.1-6)

Paulo está criticando aquela igreja porque os seus membros não exerciam a sua
função governamental de julgar as causas que aconteciam no meio deles. Portanto,
nós não devemos julgar como indivíduos, mas como corpo de Cristo nós devemos
exercer essa função.
Greg Gilbert diz, no livro "O que é o Evangelho", que: "A igreja é a arena que Deus
escolheu para, acima de tudo, exibir sua sabedoria e a glória do evangelho."18

18. GILBERT, Greg. O que é o evangelho?. São José dos Campos, SP: Editora Fiel, 2015. p.132.

80
O EVANGELHO DE DEUS
A boa nova de uma perspectiva pessoal e cósmica

Por que, então, devemos exercer juízo apenas como corpo de Cristo? Vejamos a
seguir características dessa posição:
O corpo de Cristo
1. Nele há uma união mística e orgânica com Deus.
2. Nele há diferentes funções e diferentes dons.
3. Nele há comunhão pessoal e interdependência.
a) No corpo de Cristo cada membro é ligado ao Cabeça – Cristo.
b) No corpo de Cristo os membros têm uma relação de submissão e de-
pendência uns dos outros.

5º - O reinado sacerdotal:
Quando o corpo de Cristo exerce juízo a um indivíduo, ele não deve fazê-lo para
que haja desprezo ou rejeição da pessoa julgada. A intenção deve ser zelar pelos
padrões bíblicos do reino de Deus no meio do seu povo.
Logo, no contexto da exortação é que Paulo declara: "Com esse homem não deveis
nem sequer comer."19, ele não está incentivando a rejeição de irmãos, ele está discer-
nindo quem faz ou não, verdadeiramente, parte do corpo de Cristo.
A grande questão é que se não entendermos nosso papel sacerdotal como identi-
dade primária, o julgamento que será exercido dentro da igreja, se estiver fora do
contexto de comunhão com Deus, será um julgamento turvo, manchado e conta-
minado.
Observe o que Paulo fala à igreja em Éfeso:

"para que agora a multiforme sabedoria de Deus seja manifestada, por


meio da igreja, aos principados e poderios nas regiões celestiais, segundo
o eterno propósito que fez em Cristo Jesus nosso Senhor, no qual temos
ousadia e acesso a Deus com confiança, pela fé que nele temos." (Ef 3.10-12)
[grifo nosso]

Consequentemente, é de extrema importância que a igreja se coloque à disposição


de Deus, para encontrar-se com ele e ouvir dele como a quer purificar. Pois é nesta
direção que ele está trabalhando antes de retornar para estabelecer o seu reino.
Neste sentido, vamos meditar sobre os aspectos do que é ser uma igreja pura, a
noiva para qual Cristo irá voltar:

19. 1 Co 5.11b

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O EVANGELHO DE DEUS
A boa nova de uma perspectiva pessoal e cósmica

A Noiva de Cristo
A identidade de Noiva é o cumprimento do propósito da humanidade.
a) Ser noiva é uma posição e nada tem a ver com feminilidade.
b) Como auxiliar, ela é uma corregente.
c) Ela tem acesso ao governo e à intimidade.
Portanto, o nosso entendimento a respeito do evangelho do reino de Deus deter-
minará se conseguimos, de fato, compreender o que significa a redenção que há em
Cristo. Logo, a finalidade deste estudo e a sua conclusão, resume-se nas palavras
de Jesus aos seus discípulos em Mateus, capítulo 28: conhecido por todos como a
Grande Comissão.

A GRANDE COMISSÃO

"E, aproximando-se Jesus, falou-lhes: Toda autoridade me foi concedi-


da no céu e na terra. Portanto, ide, fazei discípulos de todas as nações,
batizando-os em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo; ensinando-
-lhes a obedecer a todas as coisas que vos ordenei; e eu estou convosco
todos os dias, até o final dos tempos." (Mt 28.18-20)

A grande comissão consiste, basicamente, no ato da igreja abraçar o seu chamado


para pregar e testemunhar do evangelho do reino de Deus a todas as nações. Mas
não somente isso, Jesus também ordena que o seu povo faça discípulos. O seu dese-
jo é que seu reino não seja apenas anunciado em palavras, mas através de um estilo
de vida que aponta para tal. Desta forma, a mensagem da vinda iminente do rei não
é apenas ouvida, ela é também vista por meio de um povo que está se preparando
enquanto aguarda este reino.
A grande comissão, a pregação do evangelho do reino e a renúncia desta era:
Pregar o evangelho do reino significa anunciar a vinda do Rei, o estabelecimento do
seu reino e do seu governo sobre a terra. Mas além disso, a mensagem do evangelho
do reino denuncia o sistema desse mundo. Portanto, abraçá-la significa renunciar
a esta era20. Isto se dá, porque os verdadeiros discípulos vivem em obediência às
normas do reino vindouro, mesmo que isto lhes custe tudo. Mesmo que eles sejam

20. Mt 16.25

82
O EVANGELHO DE DEUS
A boa nova de uma perspectiva pessoal e cósmica

desaprovados e tenham prejuízos neste tempo, ainda assim eles o fazem porque tem
revelação do que é, verdadeiramente, valioso no reino.
O convite: um chamado ao martírio
Conforme vimos anteriormente, faz parte da grande comissão testemunhar do rei-
no vindouro. Ser testemunha, no sentido original da palavra, significa tornar-se
mártir. Ou seja, testemunhar do reino não é apenas morrer para este mundo, mas
é, principalmente, morrer em favor deste mundo. Para que aqueles que ainda não
conhecem a mensagem da redenção possam vê-la através do testemunho dos dis-
cípulos de Cristo.
O chamado: fazer discípulos
Talvez você tenha dúvidas sobre qual é o seu chamado, em qual área você irá atu-
ar ou para que você é vocacionado. No entanto, quando Jesus declarou aquelas
palavras em Mateus, capítulo 28, ele deixou claro o seu desejo: façam discípulos.
Por isso, qualquer cristão, independentemente do que exerce como atividade, deve
ter como foco discipular as pessoas ao seu redor através do testemunho de um es-
tilo de vida que aponte para a vinda do rei e do reino.
O alvo: alcançar todas as nações
O objetivo da grande comissão é que todas as nações sejam alcançadas pela pre-
gação e testemunho do evangelho do reino. Todas as nações englobam diversas
etnias, tribos, culturas, línguas e nichos sociais. E é por este motivo que nós não
devemos limitar o reino de Deus à nossa "cultura evangélica". A igreja precisa reno-
var sua mente e buscar transmitir o evangelho das formas mais variadas possíveis.
Pois, embora a mensagem seja uma, as formas de compartilhá-la podem e devem
ser diversas para que todas as nações sejam, de fato, alcançadas.
O seu lugar na grande comissão
Portanto, o seu questionamento deve ser: "onde e para quem eu fui chamado a
testemunhar e anunciar esta mensagem?". Este é o cerne da nossa ação diante da
mensagem do reino de Deus.

PREPARANDO O CAMINHO

Deus quer um povo:


1. Esse povo precisa ser e estar preparado.
2. O meio de prepará-lo é anunciando-lhe o evangelho.

83
O EVANGELHO DE DEUS
A boa nova de uma perspectiva pessoal e cósmica

3. O povo é preparado no contexto das nações.


4. A estrutura de preparo são os relacionamentos de aliança.

CONCLUSÃO

Conforme nos aproximamos do fim desta disciplina, é importante termos em mente


que cada um dos aspectos que vimos e estudamos até aqui precisam estar integrados
para formar a mensagem completa do evangelho do reino. Além de estarem encadea-
dos uns aos outros, esses aspectos precisam ser abraçados pelo povo de Deus.
O evangelho pode até ser simples e possível de ser proclamado por qualquer pessoa,
no entanto, não devemos confundir sua simplicidade com falta de profundidade na
mensagem. Apesar da possibilidade de ser compreendido até mesmo por crianças,
o evangelho deve ser alvo de nossa meditação para o resto de nossas vidas. Até os
nossos últimos dias devemos conhecer as riquezas desta mensagem redentora.

84
Aula 8
v.1.0.0

A
CONSUMAÇÃO
"Pois crio novos céus e nova terra; e as coisas passadas não serão lem-
bradas, nem serão mais recordadas." (Is 65.17)

Nesta última aula da disciplina "O Evangelho de Deus", vamos estudar sobre o último
aspecto do evangelho do reino: a consumação de todas as coisas. É importante ter em
vista que assim como toda boa narrativa, o evangelho tem uma conclusão. Cada parti-
cularidade da história do plano de Deus aponta para o fim que o Senhor já decretou.
Além disso, algo que tem sido pontuado até aqui é que as boas novas se tratam de
uma narrativa com diversas partes que juntas e integradas formam o todo. Ou seja,
o evangelho não está completo quando se aborda apenas um aspecto em detrimen-
to de outro. Por isso, vamos revisar o que estudamos até aqui:

85
O EVANGELHO DE DEUS
A boa nova de uma perspectiva pessoal e cósmica

OS OITO ASPECTOS DO EVANGELHO

Durante a primeira metade das aulas, vimos o aspecto pessoal do evangelho, ou


o que Matt Chandler chama de "evangelho no chão". Essa perspectiva nos mostra
quem é Deus, quem somos nós, quem é Jesus Cristo, e qual é a nossa resposta a
estas indagações. O aspecto antropológico tem como essência a redenção pessoal
do homem e o papel de Deus em todo o processo.
Mas nós também estudamos os aspectos que os autores do livro "O Evangelho
Explícito" denominam como o "evangelho no alto". Ou seja, vimos que o evangelho
é entendido por meio da criação, queda, redenção e nesta aula estudaremos a
consumação do plano de Deus.

O EVANGELHO

No chão (aspecto pessoal) No alto (aspecto cósmico)

1. Deus 1. Criação
2. Homem 2. Queda
3. Cristo 3. Redenção
4. Resposta 4. Consumação

Estes oito aspectos do evangelho deixam claro qual é a mensagem que Deus tem
para nós por meio das boas novas. Portanto, meditar em cada um deles é funda-
mental. Primeiro, para termos uma correta compreensão do alvo que está diante
de nós e, em seguida, conhecermos como nossas vidas, individual e coletivamente
contribuem para o plano redentivo de Deus.
Desta forma, nenhum aspecto deve ser negligenciado ou enfatizado mais do que
outro. O evangelho é uma mensagem completa quando aborda cada um desses oito
pontos. Vejamos o que acontece quando há uma ênfase maior de um aspecto em
detrimento do outro:
Enfatizando o aspecto pessoal em detrimento do aspecto cósmico:
O perigo iminente e, por vezes, até sutil, de enfatizar os quatro primeiros aspectos
pessoais das boas novas é torná-lo um evangelho excessivamente centrado no homem.
Logo, é uma mensagem que responde e supre apenas questões de âmbito pessoal, por
exemplo: como as necessidades da minha vida podem ser supridas em Deus?

86
O EVANGELHO DE DEUS
A boa nova de uma perspectiva pessoal e cósmica

Dar essa ênfase pode fazê-lo negligenciar a missão de Deus. Visto que uma visão
correta do evangelho o inclui na participação ativa do que Deus está fazendo na
história a partir daquilo que ele está fazendo em sua vida individualmente.

Enfatizando o aspecto cósmico em detrimento do aspecto pessoal:


Há também aqueles que enfatizam demasiadamente o evangelho no seu aspecto
cósmico. Nesse sentido, o perigo encontra-se no fato de que alguns vão priorizar
contribuir na missão de Deus em detrimento, até, de viverem uma vida santa dian-
te dele. Ou seja, quem enfatiza este aspecto, acredita que ser um cristão engajado
e ativo na obra de Deus é mais importante do que permitir-se ser transformado
interiormente por ele.
No entanto, embora o Senhor nos tenha chamado para contribuir em seu propósito
eterno, ele faz isso por meio da obra redentiva de Jesus em nossas vidas. Portanto, a
cruz precisa ser o ponto de conexão entre o aspecto pessoal e cósmico do evangelho.

A CRUZ NO CENTRO

Vejamos a seguir o que Greg Gilbert declara em seu livro "O Que é o Evangelho?":

Para proclamarmos verdadeiramente o evangelho, temos de explicar


nesse ponto a morte e ressurreição de Jesus e a resposta que Deus exige
dos pecadores. Se dissermos apenas que Deus está redimindo um povo e
refazendo o mundo, mas não dissermos como ele está fazendo isso (por
meio da morte e da ressurreição de Jesus) e como uma pessoa pode ser
incluída nessa redenção (por meio do arrependimento e da fé em Jesus),
não proclamamos as boas novas. Apenas contamos a narrativa bíblica,
seguindo um esboço amplo e deixamos os pecadores sem informações
suficientes para assimilarem o evangelho.¹

E ainda:

As Escrituras deixam claro que a Cruz tem de permanecer no centro do


evangelho. Não podemos movê-la para o lado, nem podemos substituí-la
por qualquer outra verdade como o centro, o âmago e a fonte das boas
novas. Fazer isso significa apresentar ao mundo algo que não salva e,
portanto, não é, realmente, boas novas.²

1. GILBERT, Greg. O que é o evangelho? São José dos Campos, SP: Editora Fiel, 2015. p.145.
2. GILBERT, Greg. op. cit., p. 145.

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O EVANGELHO DE DEUS
A boa nova de uma perspectiva pessoal e cósmica

Logo, a cruz é o vínculo entre os aspectos pessoais e cósmicos do evangelho. É por


meio do sacrifício de Jesus que temos redenção. E será através de testemunharmos
de sua vida, morte e ressurreição que o mundo conhecerá a mensagem transforma-
dora do evangelho.

O EVANGELHO COMPLETO E A REALIZAÇÃO


PLENA DO PLANO DE DEUS

O evangelho completo é, portanto, uma mensagem que atinge indivíduos de forma


pessoal, mas que também abrange cada aspecto da criação. Por isso, precisamos
conhecer dia após dia esta mensagem. Pois ela revela o coração de Deus por meio
de revelar como ele irá consumar seu plano eterno sobre todas as coisas.
O plano cósmico de Deus encontra sua realização plena na sua consumação. E esse
aspecto é abordado pela Escatologia. Consequentemente, o evangelho se conecta
de forma direta e prática com a Escatologia.

A IMPORTÂNCIA DA ESCATOLOGIA

O que é escatologia?
A escatologia é o estudo que diz respeito ao fim de todas as coisas. E embora o
intuito nesta aula não seja estudarmos exaustiva e sistematicamente este assunto (o vere-
mos mais à frente no curso), é importante pontuar aqui sua relevância dentro do evangelho.
Pense na figura do casamento: uma noiva que não se interessa pelo dia e pelos
eventos que antecedem sua união com o noivo, é como um cristão que não se
interessa pela volta de Jesus e pelo fim dos tempos.
Os apóstolos viviam com a convicção profunda de que veriam, ainda em vida, os
acontecimentos escatológicos se cumprirem. Isso não aconteceu, mas precisamos
entender que os assuntos escatológicos devem despertar em nós a esperança e a
expectativa de que Deus concluirá plenamente o seu plano.

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O EVANGELHO DE DEUS
A boa nova de uma perspectiva pessoal e cósmica

TRÊS RAZŌES PARA COMPREENDER


CORRETAMENTE A CONSUMAÇÃO

Os autores do livro "O Evangelho Explícito"³ citam Anthony Hoekema em seu livro
"A Bíblia e o Futuro"4 para reforçar a importância do correto entendimento sobre
o ensino das coisas do fim. Nele, Hoekema diz haver três razões principais para
compreender a respeito da doutrina da consumação:

1. Compreensão correta do que está por vir.


2. Conhecimento de toda a dimensão do plano redentivo.
3. Entendimento das profecias do Antigo Testamento.

Portanto, o evangelho e a escatologia se unem em vários aspectos. O primeiro que va-


mos destacar tem uma tônica mais pessoal, pois trata-se da ressurreição dos mortos.

A PROMESSA DA RESSURREIÇÃO

Diversas passagens nas Escrituras falam a respeito da ressurreição. Mas, talvez, a


que mais aborda com detalhes este tema é 1 Coríntios, capítulo 15, onde Paulo irá
argumentar e tocar em vários pontos concernentes à ressurreição. Vejamos:

"Mas, na verdade, Cristo ressuscitou dentre os mortos, sendo ele o pri-


meiro entre os que faleceram. Porque, assim como a morte veio por um
homem, também por um homem veio a ressurreição dos mortos. Pois, as-
sim como em Adão todos morrem, do mesmo modo em Cristo todos serão
vivificados. Cada um, porém, na sua vez: Cristo primeiro, e depois os
que lhe pertencem na sua vinda. Então virá o fim, quando ele entregar o
reino a Deus, o Pai, quando houver destruído todo domínio, toda auto-
ridade e todo poder. Porque é necessário que ele reine até que tenha posto
todos os inimigos debaixo de seus pés. E o último inimigo a ser destruído
é a morte." (1 Co 15.20-26)

3. WILSON, Jared. CHANDLER, Matt. Evangelho Explícito. São José dos Campos, SP: Editora
Fiel, 2013.
4. HOEKEMA, Anthony. A Bíblia e o Futuro. Cambuci, SP: Editora Cultura Cristã, 2019.

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O EVANGELHO DE DEUS
A boa nova de uma perspectiva pessoal e cósmica

1. O evangelho aponta para a ressurreição:

Esta disciplina chama-se "O Evangelho de Deus" e, desde o começo das aulas, es-
tamos definindo as boas novas como uma mensagem ampla, com múltiplas partes
que compõem o todo. Neste sentido, precisamos entender que o evangelho não é
uma mensagem apenas para livrar almas do inferno.
O objetivo de Deus, demonstrado através do evangelho, não é nos levar a viver
como um espírito desencarnado por toda a eternidade. Pelo contrário, Deus criou
o homem e o colocou no Jardim do Éden para que ele vivesse ali, cultivando a terra,
servindo a Deus e tendo comunhão com o Altíssimo.
Mesmo após a queda5 e, embora Adão tenha pecado e ido contra a vontade do Se-
nhor, ainda assim Deus permanece com seu propósito original. Ou seja, o que foi
estabelecido no princípio será consumado no fim.
Cristo morreu e ressuscitou para que o objetivo inicial de Deus — de ter comu-
nhão com o homem — fosse novamente possível. Nossa comunhão não é apenas
em espírito, nossas almas e corpos serão regenerados para que adoremos o Senhor
com tudo que somos. Por isso, Cristo foi o primeiro a ressurgir dos mortos e a sua
ressurreição garante a nossa.

2. O retorno de Jesus e a recompensa da ressurreição:

Na ocasião em que Jesus voltar para estabelecer o seu reino na terra ele trará juízo e
condenação para os ímpios, mas não fará somente isto. Também trará recompensa
para os justos que estiverem vivos e para os justos que andaram com Deus durante
suas vidas e morreram na esperança da ressurreição. Dentre eles: Abraão, Isaque,
Jacó e tantos outros que passaram pela história. E para que ele possa fazer isso ele
irá ressuscitar esses justos dentre os mortos.
Na ressurreição, todos os justos terão seus corpos renovados pela glória de Deus,
serão livres da influência do pecado, revestidos de imortalidade e, consequente-
mente, viverão para sempre em plena comunhão com ele.

3. A esperança da ressurreição

Nosso corpo apresenta limitações por ter sido contaminado pelo pecado. Da mes-
ma forma, nossa mente sofre ataques por desejos distorcidos e corrompidos. No

5. Gn 3.6-8

90
O EVANGELHO DE DEUS
A boa nova de uma perspectiva pessoal e cósmica

entanto, temos esperança de receber um novo corpo, ressurreto e glorificado, para


sermos libertos da realidade que experimentamos hoje.
Quando o Messias retornar, seremos livres de todas as coisas que nos afligem e nos
atrapalham a viver uma vida que glorifica o nome do Senhor. Sim, esse novo corpo
não será mais sujeito à corrupção, à decadência, às tentações, ao pecado e, princi-
palmente, à morte. Essa é a esperança da ressurreição.

4. O plano original de Deus e seu desfecho:

O objetivo original de Deus era que a realidade do jardim do Éden se expandisse


por toda a terra. E conforme vimos anteriormente, o seu propósito não foi aban-
donado por causa do pecado. Pelo contrário, por meio da redenção em Cristo, o
homem pode voltar ao propósito original de Deus.
O desfecho do seu plano é que toda sua criação seja cheia da sua glória, refletindo
na terra sua beleza, majestade, santidade e tudo que ele é. Portanto, a consumação
de todas as coisas é a certeza de que o conhecimento de quem Deus é encherá a
terra assim como as águas cobrem o mar.6

5. O propósito de Deus na consumação do seu plano:

Um dos aspectos principais da consumação do plano de Deus é restaurar o propósito


original em relação a como a humanidade deveria viver. A intenção de Deus não era
que Adão ficasse preso e limitado apenas ao Jardim do Éden. No entanto, ele também
não queria deixar o homem fora do jardim em seu estado caído após a queda.
Da mesma forma, Deus nunca quis que vivêssemos uma vida repleta de pecado,
em corpos frágeis e corruptíveis, mas ele também não queria que vivêssemos como
almas desencarnadas e desconectadas da terra que ele criou.
O propósito de Deus sempre foi que tivéssemos vidas plenas de sua glória e, ao
mesmo tempo, conectadas com a sua criação para que o seu nome fosse glorificado
por meio de como lidamos com ela. Portanto, é importante fixarmos o entendi-
mento de que a consumação do plano de Deus diz respeito tanto ao homem como
a toda criação.

6. Hc 2.14

91
O EVANGELHO DE DEUS
A boa nova de uma perspectiva pessoal e cósmica

A CONSUMAÇÃO E A CRIAÇÃO

A esperança da consumação de todas as coisas é que, por meio de sermos redimi-


dos e glorificados em Cristo, toda a criação também seja. Pois, assim como já estu-
damos em aulas anteriores, o Senhor sujeitou a criação aos homens — conforme
vemos na ordem do mandato cultural, em Gênesis.7
Logo, se Deus deu o governo da criação ao homem, o seu destino está totalmente
ligado ao destino do planeta terra. Por isso, enquanto a humanidade ainda está ca-
ída e aguarda que o plano de Deus seja consumado, a criação está sujeita à vaidade
e inutilidade, conforme vemos em Romanos:

"Porque a criação ficou sujeita à inutilidade, não por sua vontade, mas
por causa daquele que a sujeitou, na esperança de que também a própria
criação seja libertada do cativeiro da degeneração, para a liberdade da
glória dos filhos de Deus. Pois sabemos que toda a criação geme e ago-
niza até agora, como se sofresse dores de parto; e não somente ela, mas
também nós, que temos os primeiros frutos do Espírito, também gememos
em nosso íntimo, aguardando ansiosamente nossa adoção, a redenção do
nosso corpo." (Rm 8.20-23)

Sendo assim, quando fomos destituídos do revestimento da glória que havia no


princípio e passamos a viver uma vida degenerativa, sob influência do pecado, tudo
que estava sujeito a nós, passou também a ser prejudicado e degenerado. E é por
este motivo que a consumação de todas as coisas inclui todas as coisas criadas e não
somente o homem.
Porém, na consumação do plano de Deus, tudo aquilo que foi atingido pelo pecado
e causou destruição (poluição, injustiça, morte, corrupção, entre outros males) será
plenamente restaurado e cheio da sua glória.
Portanto, o desejo de Deus é que assim como nós seremos plenos da sua glória,
também seja pleno dela tudo o que produzimos, tocamos e vivemos. Ele deseja,
por exemplo, que a música que criamos seja revestida da sua glória, assim como
também os frutos das árvores sejam cheios da sua glória.
Essa restauração será feita no período em que Jesus retornar para governar a terra
juntamente com seu povo. Esse período durará mil anos.

7. Gn 1.28

92
O EVANGELHO DE DEUS
A boa nova de uma perspectiva pessoal e cósmica

O GOVERNO MESSIÂNICO

O governo messiânico sobre a terra corresponde ao período de mil anos que será
inaugurado com o retorno de Jesus. Esse período é conhecido como Milênio. Nes-
te tempo, Jesus libertará a sua criação do cativeiro e da influência do pecado, e
restaurará cada coisa ao seu propósito original de perfeição.​​
Neste período de restauração de todas as coisas, os que tiverem seus corpos glorifi-
cados também irão governar e reinar sobre a terra, servindo a criação para que esta
glorifique o nome de Deus.

1. O Milênio e a redenção de todas as coisas

Durante os mil anos de reinado e governo do Messias, ele restaurará tudo aquilo
que foi manchado pelo pecado em todo o período da história desde a queda do ho-
mem. Esse é o alvo de Jesus durante este período.
Na consumação de todas as coisas, os rios que hoje estão poluídos serão purifica-
dos, a corrupção será aniquilada, a justiça será ordenada e toda a criação conviverá
em harmonia plena. Veja o que o profeta Isaías profetizou sobre este período:

"A justiça será o cinto do seu peito, e a fidelidade, o cinto de sua cintura.
O lobo habitará com o cordeiro, e o leopardo se deitará com o cabrito.
O bezerro, o leão e o animal de engorda viverão juntos; e um menino
pequeno os conduzirá. A vaca e a ursa pastarão juntas, e as suas crias
se deitarão juntas; e o leão comerá palha como o boi. A criança de peito
brincará sobre a toca da cobra, e a desmamada porá a mão na cova da
víbora. Não se fará mal nem dano algum em todo o meu santo monte,
porque a terra se encherá do conhecimento do SENHOR, como as águas
cobrem o mar.” (Is 11.5-9)

Este é o desejo de Deus: ver sua criação restaurada e cheia da sua glória. Jesus irá
redimir a terra para o Pai, mas a mensagem do evangelho nos conclama a participar
com ele desta missão. O seu povo santo, que abraçou as boas novas do evangelho e
foi primeiramente alvo da sua redenção, irá governar e reinar juntamente com ele.
Não subjugando e dominando a criação, mas servindo a ela para que o seu nome
seja glorificado por meio do seu testemunho entre as nações.

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O EVANGELHO DE DEUS
A boa nova de uma perspectiva pessoal e cósmica

2. O Milênio e a consumação de todas as coisas

A restauração da criação, que é operada pelo governo do Messias e do povo que


reina junto com ele, irá crescer e se expandir, até que todo o mundo seja transfor-
mado. E não somente para se parecer com a realidade do Éden, mas para permitir
que o próprio monte da habitação de Deus possa vir sobre a terra.
A Bíblia diz que no final do período de mil anos do governo de Cristo sobre a ter-
ra, a Nova Jerusalém, que é a cidade que desce do céu — aquela mesma cidade de
firmes fundamentos que Abraão esperou durante toda sua vida8 — virá para a terra.
Vejamos o que as Escrituras declaram sobre esse momento:

"Então vi um novo céu e uma nova terra. Pois o primeiro céu e a primeira
terra já se foram, e o mar já não existe. Vi a cidade santa, a nova Jerusa-
lém, que descia do céu, da parte de Deus, enfeitada como uma noiva pre-
parada para seu noivo. E ouvi uma forte voz, que vinha do trono e dizia:
O tabernáculo de Deus está entre os homens, pois habitará com eles. Eles
serão o seu povo, e Deus mesmo estará com eles." (Ap 21.1,2)

Ou seja, céus e terra vão ser uma só coisa. O lugar da habitação de Deus estará entre
nós e o trabalho feito pelo governo de Cristo e dos seus redimidos permitirá que o
Pai habite em nosso meio.
Experimentaremos os novos céus e a nova terra e tudo o que há de bom em am-
bos, o que glorifica a Deus, será potencializado na consumação, para produzir mais
glória ainda para ele. Ou seja, a terra não será semelhante ao céu ou vice-versa. Na
verdade, a experiência futura da consumação de todas as coisas unirá a realidade
de tudo aquilo que Deus criou na terra e viu que era bom com tudo aquilo que é
glorioso no céu.
Portanto, a experiência vindoura da consumação é algo totalmente diferente do
que já foi vivido até aqui. E isso não significa que o homem perderá a sua humani-
dade e o que desfruta de bom hoje. Pelo contrário, significa que o prazer que Deus
permite que desfrutemos em nossas vidas será aperfeiçoado e potencializado para
que, em tudo, a sua glória seja vista.

8. Hb 11.10

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O EVANGELHO DE DEUS
A boa nova de uma perspectiva pessoal e cósmica

O EVANGELHO E A CONSUMAÇÃO

Essa realidade tão almejada — por Deus e por nós — começa com a mensagem do
evangelho. As boas novas transformam primeiro o interior do homem e depois se
expandem transformando as pessoas, as comunidades, cidades e até nações intei-
ras, através de um serviço que aponta para o reino de Deus.
O fim desse plano, ou o que estamos chamando de consumação, consiste na reden-
ção de toda a realidade ao nosso redor. E é justamente através do evangelho que
conhecemos quem é esse Deus maravilhoso que irá redimir todas as coisas, qual é a
realidade vindoura que nos aguarda e o que devemos fazer diante desta mensagem.
O evangelho de Deus é o evangelho que nós queremos investigar, estudar e continuar
nos aprofundando. Essa é a mensagem que desejamos que seja conhecida em toda terra.
Portanto, ao sermos alvo das boas novas, há somente uma resposta a esta mensa-
gem: confiar no Deus que é poderoso o suficiente para concretizar, em plenitude,
a redenção dessa terra e de toda a humanidade caída.

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