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Título

original em inglês:
HOW TO SURVIVE ARMAGEDDON

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1ª edição neste formato


Versão 1.1
2013

Coordenação Editorial: Marcos De Benedicto


Editoração: Márcio Nastrini e Guilherme Silva
Revisão: Adriana Seratto
Design Developer: Fábio Fernandes e Cristiano Soares Vieira
Capa: Flávio Oak
Projeto Gráfico: Paloma Cartaxo
Imagens da Capa: Montagem sobre fotos SXC

Os textos bíblicos citados neste livro são da versão Almeida Revista e Atualizada, salvo outra indicação.

Todos os direitos reservados. Proibida a reprodução total ou parcial, por qualquer meio,
sem prévia autorização escrita do autor e da Editora.

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Dois anos atrás, passei alguns dias na cidade de Nova York. Enquanto eu
caminhava pelas ruas repletas de gente, era comum que as pessoas me
entregassem alguma coisa. A maioria dessas coisas eram anúncios de diferentes
produtos. Mas o segundo tipo de anúncio mais comum eram os panfletos sobre o
fim do mundo. Muitos pretensos profetas parecem estar falando e pensando
sobre o que vai acontecer no fim e, ao que parece, vários deles têm colocado
seus pensamentos no papel para tentar convencer os demais.
Por exemplo, na Times Square, uma mulher me entregou dois panfletos sobre
o fim do mundo e os eventos dos últimos dias. Um deles era sobre o número
666. O tal panfleto alegava que, agora mesmo, nosso governo e os de outras
nações estão tentando criar uma sociedade sem dinheiro. Para isso, estão
fabricando um chip de computador, o qual seria implantado em todos nós. O
chip seria a marca da besta, e todos que o receberem irão para o inferno. De
acordo com o panfleto, é de importância vital que compreendamos os detalhes
da conspiração. Do contrário, seremos levados a aceitá-la.
O segundo panfleto era sobre o que alguns chamam de arrebatamento secreto.
Este apresentava a ideia de que logo chegará o dia em que todo o povo de Deus
simplesmente desaparecerá da Terra. Deus vai raptá-lo e levá-lo para o Céu. O
resto do mundo, entretanto, continuará funcionando como antes. Todavia, um
tempo de terrível tribulação terá início logo em seguida, o qual durará sete anos.
Depois disso, Jesus voltará à Terra.
Da Times Square, fui até a Estação Central, passando pela Rua 42. Ali,
alguém me entregou mais um panfleto. Este alegava que, quando Jesus disse que
ninguém conhecia o dia nem a hora de Sua vinda (Mateus 24:36), isso era
verdade apenas até 1988. Nessa data, Deus teria começado a revelar o tempo
exato da vinda de Jesus para os verdadeiros crentes. De acordo com os autores,
se você quiser estar pronto para esse dia, precisa conhecer o esboço dos eventos
finais apresentado no folheto.
Mas nem preciso ir até Nova York para que me encham de material sobre
cenários dos eventos dos últimos dias e o fim do mundo. Poucas semanas atrás, a
alguns metros de minha igreja, em Grand Terrace, Califórnia, alguém me
entregou um DVD. Cheguei a ver um pouco daquele material, mas não todas as
quatro horas do vídeo. Ali alguém dizia que o fechamento da porta da graça, em
preparação para a segunda vinda de Cristo, havia começado em 11 de setembro
de 2001, quando os terroristas destruíram o World Trade Center, em Nova York.
No vídeo, o locutor insistia que, para estar preparado para o fim do mundo e ser
salvo, eu precisaria saber sobre os eventos ali apresentados em detalhes.
Parece que as cenas dos últimos tempos estão mesmo em todas as partes.
Outro dia, entrei no supermercado e encontrei uma prateleira cheia de livros em
promoção. Eram livros sobre os eventos do fim dos tempos. O que se deve
fazer? É, de fato, importante saber como o mundo vai acabar, ou mesmo pensar
sobre essas coisas? Por que não vivemos apenas um dia após o outro sem nos
preocupar sobre o futuro do mundo?
Houve um tempo em que as pessoas simplesmente acreditavam que a história
da Terra iria continuar para sempre. Um dos principais teólogos do Novo
Testamento no século 20, escrevendo cerca de 80 anos atrás, rotulou de mito o
cenário da volta de Jesus apresentado no Novo Testamento. Ele disse que a
escatologia (palavra que significa o estudo das últimas coisas e do fim do
mundo) do Novo Testamento nunca ocorreu, e que hoje sabemos que nunca
ocorrerá.

Não podemos mais anelar pela volta do Filho do homem nas nuvens dos
céus, nem ter a esperança de que os fiéis O encontrarão nos ares. [….]
É impossível usar a eletricidade, o telégrafo, beneficiar-nos das
descobertas recentes da medicina e, ao mesmo tempo, acreditar no mundo
de espíritos e milagres do Novo Testamento. […]
A escatologia mítica é insustentável pelo simples fato de que a parousia
(vinda) de Cristo nunca ocorreu como era esperado no Novo Testamento. A
história não chegou ao seu fim, e, como qualquer aluno da escola
fundamental sabe, ela seguirá seu curso. 1

Hoje, porém, nem todo aluno da escola fundamental está seguro de que a
história seguirá seu curso. Cientistas e líderes políticos estão pensando
seriamente na maneira como o mundo vai acabar. Alguns cientistas sugerem que
o aquecimento global poderá causar o fim da história humana. Outros estão
preocupados com a possibilidade de sermos sufocados em um oceano de ar
poluído. Cientistas políticos consideram a possibilidade de que venhamos a
destruir a vida humana por meio de uma guerra nuclear. De alguma maneira, a
ideia de que o mundo vai continuar em sua marcha perene está perdendo a
popularidade. Isso, por si só, pode ser um sinal de que Deus está preparando a
Terra para seu grande clímax.
As pessoas, naturalmente, também fazem brincadeiras com a ideia do fim do
mundo. Desenhos animados zombam de pretensos profetas que carregam
cartazes anunciando a tragédia iminente. Há pouco tempo, assisti a um vídeo que
fazia galhofa sobre os debates concernentes ao ensino do evolucionismo ou do
criacionismo nas escolas públicas. Nessa simulação de debate, cientistas e
teólogos discutem se as crianças devem aprender na escola sobre as visões
científicas ou religiosas do fim do mundo. Os cientistas queriam instruir as
crianças no sentido de que o mundo iria acabar devido ao calor do aquecimento
global. Os personagens religiosos buscavam alertar os estudantes de que o
mundo iria perecer no fogo do Armagedom. Nenhuma das opções era muito
atrativa.
É possível que, por trás da sátira e da galhofa, exista um medo genuíno sobre
o que acontecerá, algum dia, ao mundo? Será que os diversos cenários que
aparecem nos livros, folhetos e vídeos realmente se originam em algo que esteja
arraigado no profundo da mente de um grande número de pessoas?
Se assim for, isso acaba levantando o dilema sobre qual das opiniões devemos
escutar. Todas elas parecem ser diferentes e todas defendem ser a opinião
correta. Em quem acreditar, então? Às vezes, parece que o melhor mesmo é
esquecer tudo isso.
Pessoalmente, sinto certo desconforto com a maioria dos cenários relativos ao
fim do mundo. Em primeiro lugar, todos eles parecem dizer que você precisa
conhecer e entender a ordem dos eventos proposta por eles, se quiser mesmo
estar preparado para o fim do mundo. Em outros cenários cristãos, o fim do
mundo significa compreender como as tribulações, as pragas, a marca da besta, o
surgimento do anticristo, o fechamento da porta da graça e demais eventos se
encaixam entre si. Mas as sequências propostas, com seus elementos
contraditórios, não podem estar corretas.
Outro problema que tenho com esses cenários é o senso generalizado de medo
e de pressentimentos que eles têm em comum. Existe um espírito de constante
roer de unhas. E isso se aplica não somente a pessoas seculares pessimistas que
têm preocupações com a poluição e com guerras nucleares. Muitas pessoas
religiosas têm medo do fim, porque veem nele a obra final de um Deus severo e
vingativo.
Em terceiro lugar, muitos desses cenários tentam estabelecer datas e tempos
proféticos com o objetivo de decifrar o futuro e datar o fim dos tempos. Talvez
toda essa tarefa de mapear os eventos que levarão ao fim do mundo seja um
esforço mal dirigido. Em vez disso, minha intenção é virar todo esse assunto de
cabeça para baixo. Acredito que existam boas notícias sobre o fim do mundo.
Ademais, embora eu sinta que possamos conhecer o que virá no futuro, minha
conclusão é de que a maioria dos cenários do fim dos tempos sobre os quais
lemos contém grandes equívocos.
A Bíblia nos apresenta a história de Jesus, e essa história inclui não somente o
que Ele fez enquanto esteve na Terra, mas está repleta de promessas sobre o
futuro. No próximo capítulo, veremos uma dessas promessas. Ela nos dará a
informação mais vital que precisamos saber sobre o futuro e o fim do mundo.
Essa informação afasta o medo e o substitui por felicidade e esperança. Ela
desafia a ideia contida na maioria dos gráficos e cenários do fim do mundo
exibidos nas ruas, nos vídeos e em muitas igrejas.
Vamos, então, ao segundo capítulo para vermos essas boas-novas.

O livro de Atos é o quinto livro do Novo Testamento e o segundo dos dois
volumes escritos por Lucas, um dos companheiros do apóstolo Paulo. Em seu
primeiro livro, o Evangelho de Lucas, ele conta a história do nascimento,
ministério, morte e ressurreição de Jesus. No segundo, ele mostra, então, como o
Espírito Santo inspirou os seguidores de Jesus a levar a todo o mundo as boas-
novas registradas no primeiro livro, formando assim a igreja cristã. Uma das
grandes promessas da Bíblia aparece no capítulo de Atos, em que Lucas relata
como Jesus e Seus discípulos estiveram juntos por 40 dias, após Sua
ressurreição.

Então, os que estavam reunidos lhe perguntaram: Senhor, será este o
tempo em que restaures o reino a Israel? Respondeu-lhes: Não vos compete
conhecer tempos ou épocas que o Pai reservou pela Sua exclusiva
autoridade; mas recebereis poder, ao descer sobre vós o Espírito Santo, e
sereis Minhas testemunhas tanto em Jerusalém como em toda a Judeia e
Samaria e até aos confins da Terra. Ditas estas palavras, foi Jesus elevado às
alturas, à vista deles, e uma nuvem O encobriu dos seus olhos. E, estando
eles com os olhos fitos no céu, enquanto Jesus subia, eis que dois varões
vestidos de branco se puseram ao lado deles e lhes disseram: Varões
galileus, por que estais olhando para as alturas? Esse Jesus que dentre vós
foi assunto ao Céu virá do modo como O vistes subir (Atos 1:6-11).

Os discípulos de Jesus estavam emocionados. Eles haviam esperado que o
Mestre estabelecesse um reino na Terra e acreditavam que aquele era o melhor
momento para isso. Portanto, perguntaram-Lhe se era isso mesmo. Queriam
saber quando Jesus iria estabelecer Seu reino terrestre. Mas, se não fosse naquele
momento, quando seria, então? E o que iria acontecer depois?
Em vez disso, Jesus reorientou o entendimento dos discípulos. Disse-lhes que
não lhes competia conhecer tempos, épocas ou eventos. Deus, o Pai, cuidaria
disso. Tampouco era tarefa deles decifrar datas e eventos do fim dos tempos. No
que lhes dizia respeito, eles deveriam ser testemunhas daquilo que Jesus fizera e
levar a mensagem de onde estavam – Jerusalém – até as áreas em redor – Judeia
e Samaria – e, então, até os confins da Terra. Sua responsabilidade, portanto, não
era conhecer tudo acerca do tempo do estabelecimento do reino de Deus, mas ir
e ser testemunhas de Cristo, preparando as pessoas para a chegada do reino.
Depois que Jesus deixou isso muito claro, Ele foi envolto em uma nuvem e
desapareceu. Então, dois homens, presumidamente anjos ou mensageiros de
Deus, vieram até eles e perguntaram por que estavam olhando para o céu.
Prometeram aos discípulos que Jesus voltaria da mesma maneira pela qual eles
O haviam visto subir. Como veremos ao longo deste livro, é essa promessa (ao
lado de muitas outras semelhantes a ela, no Novo Testamento) que dá aos
cristãos esperança quanto ao futuro. Cremos que o futuro do mundo está nas
mãos desse mesmo Jesus cuja história nos é contada de forma dramática nos
evangelhos, os quatro primeiros livros do Novo Testamento.
Essa é uma notícia particularmente boa, pois o Jesus que encontramos nos
evangelhos é Alguém que pode ser amado e em quem se pode confiar. É Ele
quem virá outra vez e que sustém o futuro do mundo em Suas mãos. Nós, os
cristãos, nos preparamos para o fim da história da Terra não por conhecer os
eventos, mas por conhecer a Jesus.
Quem é esse Jesus? Por que podemos confiar nEle? Pensemos sobre isso.
A promessa que os dois mensageiros divinos fizeram aos discípulos significa
que o Jesus que voltará é o mesmo ser que Se dispôs a deixar as glórias do Céu
para nascer em um estábulo junto a animais malcheirosos, em razão de Seu
grande amor por nós. Em um lindo hino sobre Jesus, encontrado em Filipenses
2:6 e 7, Paulo diz que Cristo, “subsistindo em forma de Deus, não julgou como
usurpação o ser igual a Deus; antes, a Si mesmo Se esvaziou, assumindo a forma
de servo, tornando-Se em semelhança de homens; e, reconhecido em figura
humana”. Esse Jesus que, em Sua própria natureza, é Deus, mas que veio ao
mundo para Se tornar humano e nos salvar, virá outra vez. Isso é uma ótima
notícia.
A promessa de Atos 1 declara que Aquele que está voltando à Terra e que
sustenta o futuro de nosso mundo em Suas mãos é o mesmo Jesus que foi
confrontado por aqueles furiosos acusadores que flagraram uma mulher em
adultério. Eles estavam prestes a apedrejá-la, mas Jesus os afastou dali. Depois
perguntou à mulher onde estavam seus acusadores. Ao ver que eles haviam
desaparecido, Jesus lhe disse: “Nem Eu tampouco te condeno; vai e não peques
mais” (João 8:11).
Esse mesmo Jesus, compassivo e pronto a perdoar, virá outra vez. Isso é uma
ótima notícia.
A promessa de Atos 1 assegura que Aquele que irá nos encontrar no fim da
história é o mesmo que, por gostar tanto das pessoas, e por frequentar suas
festas, chegou a ser acusado de andar em más companhias. Ele realizou Seu
primeiro milagre numa festa de casamento. Jesus aceitava as pessoas sem Se
importar se elas pertenciam à alta sociedade ou se eram simples mendigos.
Esse mesmo Jesus que amava as pessoas, virá outra vez. Isso é uma ótima
notícia.
A promessa de Atos 1 nos conforta com o fato de que Aquele que está prestes
a voltar à Terra é o mesmo que Se dispôs a enfrentar a cruz, o pior instrumento
de tortura conhecido em Seu tempo, embora tivesse o poder de livrar-Se dela,
evitando o sofrimento – tudo isso por nos amar. Paulo continua o hino que
citamos anteriormente: “A Si mesmo Se humilhou, tornando-Se obediente até à
morte e morte de cruz” (Filipenses 2:8).
Esse mesmo Jesus, que foi crucificado, virá outra vez. Isso é uma ótima
notícia.
Ao sofrer a tortura pendurado naquela cruz, Jesus olhou para aqueles que
cuspiram nEle, que zombaram dEle, que O espancaram e O feriram com uma
coroa de espinhos, e orou: “Pai, perdoa-lhes, porque não sabem o que fazem”
(Lucas 23:34).
Esse mesmo Jesus perdoador virá outra vez. Isso é uma ótima notícia.
Finalmente, quando tiraram Jesus daquela cruz e O colocaram em uma tumba,
esta não foi capaz de detê-Lo ali. A despeito da enorme pedra, dos poderosos
soldados e do próprio Satanás, Jesus saiu da tumba como a ressurreição e a vida.
Esse mesmo Jesus vivo e doador da vida virá outra vez. Isso é uma ótima
notícia.
Se você nunca fez isso antes, peço-lhe que busque um dos quatro evangelhos,
logo no começo do Novo Testamento, e o leia do começo ao fim. Veja quem é
esse Jesus. Contemple o que Ele fez por nós. Obtenha uma clara visão de Seu
caráter e amor. Pense, então, sobre o significado de ter o seu futuro em Suas
mãos. Considere como seria saber que é Ele quem sustenta não somente seu
futuro, mas também o futuro do mundo. Reflita sobre tudo isso e veja se não é
mesmo uma ótima notícia.
A promessa da segunda vinda de Jesus só poderá se tornar a esperança que
Deus quer que tenhamos em nosso coração quando soubermos que é “este
mesmo Jesus” quem está voltando para este mundo, e que Ele vem para nos
salvar, trazendo um fim ao pecado e à morte.
Estaremos preparados para Sua chegada não porque temos conhecimento dos
eventos que ocorrerão, mas por conhecer Jesus e confiar nEle como nosso
Salvador, pois é Ele quem nos resgatará do pecado e da morte, dando-nos a vida
eterna. A maioria dos cenários do fim do mundo desconsidera isso. A ênfase está
em descobrir quando Jesus aparecerá e como os eventos atuais podem nos ajudar
a decifrar os tempos e as datas, aquelas mesmas coisas que, segundo o próprio
Jesus declarou, Seus discípulos não deveriam saber (como veremos nos
próximos capítulos). Em vez disso, Ele nos convida a conhecê-Lo.
Por outro lado, Jesus alertou que, antes de Sua volta, apareceriam falsos
profetas e falsos messias. Satanás os usaria para tentar enganar o povo de Deus
(ver Mateus 24). É importante entender, portanto, o que Jesus nos diz sobre Sua
volta. O foco está em conhecê-Lo, mas Ele também nos alerta para que não
sejamos seduzidos por cenários falsos e especulativos. Por isso é importante ver
o que o Novo Testamento ensina acerca da volta de Cristo e como ela ocorrerá. É
isso que faremos ao longo deste livro.
Mas não podemos desviar o foco do ponto mais importante de todos: Jesus
virá outra vez e devemos nos preparar para aquele dia conhecendo-O de tal
maneira, que nenhum dos enganos e falsificações de Satanás possam nos
derrubar.
Hoje, muitas pessoas estão preocupadas com possíveis monstros que estariam
à espreita no limiar da história do mundo. Elas tremem de medo diante das
ameaças de destruição nuclear, aquecimento global, um oceano sufocante de ar
poluído ou mesmo de um Deus furioso e vingador. Mas para os cristãos, o fim
do mundo é uma ótima notícia, pois esse mesmo Jesus, Aquele a quem
conhecemos por intermédio dos evangelhos e passamos a amar, é quem abriga o
futuro em Suas mãos.
Recentemente, estive com dois de meus três netos, um de dois anos e meio e
outro de cinco anos e meio. Foi uma alegria quando, depois de trazer para mim
uma pilha de livros, eles subiram em meu colo e disseram: “Vovô, leia para nós.”
O mais novo me entregou um livro, dizendo: “Primeiro esse!”
Era um livro sobre um dos personagens da Vila Sésamo, o Grover. O livro,
escrito por Jon Stone e Michael Smollin, intitula-se The Monster at the End of
This Book: Starring Lovable, Furry Old Grover 2 [O Monstro do Fim do Livro:
Estrelando o Adorável, Peludo e Velho Grover, em tradução livre]. Quando
começamos a ler o livro, aprendemos que Grover tinha um medo mortal de
monstros, e que havia um monstro no fim do livro. Assim, Grover implorava,
insistia, alertava e rogava aos leitores que não virassem as páginas do livro, pois
ele não queria se aproximar do monstro.
Ao terminar a primeira página, perguntei: “Devemos virar a página? O Grover
não quer que façamos isso.” E meus netos disseram: “Vire a página, vovô!”
Quando a viramos, Grover estava em pânico, implorando que não passássemos
para a próxima página. Mas os meninos me pediram para continuar. À medida
que a história avançava, Grover ia ficando mais agitado e insistente: “Vocês não
sabem o que estão fazendo comigo. Não virem nem mais uma página!” Mas os
meninos insistiam: “Vire a página, vovô!”
Finalmente chegamos ao fim do livro, só para descobrir que não havia
monstro nenhum – apenas o adorável, peludo e velho Grover. E os meninos
riram muito.
Muitos se preocupam com monstros que estariam à espreita no fim do livro,
ao virarmos as páginas da história de nosso mundo. Mas a Bíblia diz que não
devemos temer. Não há nenhum monstro da destruição nuclear ou de uma
catástrofe natural no fim do livro. Em vez disso, ali está esse mesmo Jesus. Isso é
uma ótima notícia.

Se você fosse desenhar um gráfico dos eventos dos últimos dias, por onde
começaria? Quais são os primeiros “eventos dos últimos dias”? Fiquei pensando
sobre isso e fui pesquisar sobre esses eventos na internet. Encontrei um bom
número de exemplos. Vi que muitos deles situam os eventos dos últimos dias
cerca de 200 anos atrás.
Parece ser muito tempo no passado. Eu trabalho com um bocado de jovens
que pensam na Guerra do Vietnã como se fosse história antiga. Para eles, se
alguma coisa não aconteceu poucos anos atrás, não pode ter nada que ver com os
“últimos dias.” Gráficos que iniciam 200 anos atrás não significam nada para
eles. Nossa era é a dos microondas, das refeições rápidas e de ter tudo “agora
mesmo”. Quem vai se preocupar com a história antiga? Qualquer coisa que seja
de 200 anos atrás provoca um grande bocejo.
Quando vamos à Bíblia, porém, percebemos que os últimos dias não se
estendem por apenas 200 anos em direção ao passado, mas alcançam 2.000 anos
atrás! De maneira consistente, o Novo Testamento fala do primeiro século, o
tempo em que foi escrito, como se já fossem os últimos dias. Mas não fique
apenas com minha palavra nessa questão. Examinemos alguns textos.
As primeiras palavras do livro de Hebreus se referem ao primeiro século como
os últimos dias. “Havendo Deus, outrora, falado, muitas vezes e de muitas
maneiras, aos pais, pelos profetas, nestes últimos dias, nos falou pelo Filho, a
quem constituiu herdeiro de todas as coisas, pelo qual também fez o Universo.
Ele, que é o resplendor da glória e a expressão exata do Seu Ser, sustentando
todas as coisas pela palavra do Seu poder, depois de ter feito a purificação dos
pecados, assentou-Se à direita da Majestade, nas alturas” (Hebreus 3:1-3).
Notemos que o livro de Hebreus contrasta o passado, quando Deus falou de
maneira fragmentada, com o tempo em que o livro foi escrito (1º século), quando
Deus falou decisivamente por meio do Filho, Jesus Cristo. O livro exalta a Jesus
como Aquele por intermédio de quem Deus criou o Universo, quem mantém
tudo em funcionamento e quem mais claramente revela Deus ao mundo. Jesus
também fez provisões para nos purificar de nossos pecados (morrendo na cruz),
e agora, em virtude de Sua ressurreição, está sentado à destra do trono de Deus
no Céu. Tudo isso aconteceu dentro daquilo que o autor bíblico chama de
“últimos dias”. Estamos falando de mais de 1.900 anos atrás, e o autor bíblico já
considerava como os “últimos dias”.
Essa passagem de Hebreus, todavia, não é a única que define o 1º século como
últimos dias. Em Atos 2, quando o Espírito Santo foi derramado sobre os
apóstolos, as pessoas que tinham vindo de diferentes nações ouviram os
apóstolos em suas respectivas línguas, e chegaram a pensar que os seguidores de
Jesus estavam embriagados. Mas Pedro lhes disse que aquilo que estavam vendo
não era resultado de embriaguez, mas da ação do Espírito Santo. Ele interpretou
isso como um cumprimento de uma profecia de Joel a qual diz que, nos “últimos
dias”, Deus derramaria Seu Espírito sobre todas as pessoas (ver Joel 2:28-32).
“Então, se levantou Pedro, com os onze; e, erguendo a voz, advertiu-os nestes
termos: Varões judeus e todos os habitantes de Jerusalém, tomai conhecimento
disto e atentai nas minhas palavras. Estes homens não estão embriagados, como
vindes pensando, sendo esta a terceira hora do dia. Mas o que ocorre é o que foi
dito por intermédio do profeta Joel: [...] derramarei o Meu Espírito sobre toda a
carne” (Atos 2:14-17).
O apóstolo diz que aquilo que eles testemunharam era evidência de que os
últimos dias eram em seu tempo.
Vemos a mesma afirmação no livro de Tiago. Ele está censurando os cristãos
ricos que são mesquinhos e entesouram suas riquezas. Aponta nada menos que a
ironia de assim agirem nos últimos dias: “As vossas riquezas estão corruptas, e
as vossas roupagens, comidas de traça; o vosso ouro e a vossa prata foram gastos
de ferrugens, e a sua ferrugem há de ser por testemunho contra vós mesmos e há
de devorar, como fogo, as vossas carnes. Tesouros acumulastes nos últimos dias”
(Tiago 5:2, 3).
Como é possível que os dias finais durem tanto tempo? Será que aqueles dias,
há 2.000 anos, já eram os últimos dias? Se assim for, não seria o caso de a
palavra “últimos” ser motivo para chacotas? Precisamos recorrer a outra
passagem para ver por que os últimos dias começaram há tanto tempo. Em 1
Coríntios, Paulo se dirige a algumas pessoas que parecem negar que haverá uma
futura ressurreição dos mortos. Ele diz que o ensinamento da ressurreição dos
mortos é crucial e vital para a fé cristã. Note a parte seguinte do capítulo. É uma
passagem longa, mas leia com atenção, pois ela contém a chave para o porquê de
terem os últimos dias começado tanto tempo atrás.

Ora, se é corrente pregar-se que Cristo ressuscitou dentre os mortos,
como, pois, afirmam alguns dentre vós que não há ressurreição de mortos?
E, se não há ressurreição de mortos, então, Cristo não ressuscitou. E, se
Cristo não ressuscitou, é vã a nossa pregação, e vã, a vossa fé; e somos
tidos por falsas testemunhas de Deus, porque temos asseverado contra Deus
que Ele ressuscitou a Cristo, ao qual Ele não ressuscitou, se é certo que os
mortos não ressuscitam. Porque, se os mortos não ressuscitam, também
Cristo não ressuscitou. E, se Cristo não ressuscitou, é vã a vossa fé, e ainda
permaneceis nos vossos pecados. E ainda mais: os que dormiram em Cristo
pereceram. Se a nossa esperança em Cristo se limita apenas a esta vida,
somos os mais infelizes de todos os homens.
Mas, de fato, Cristo ressuscitou dentre os mortos, sendo Ele as primícias
dos que dormem. Visto que a morte veio por um homem, também por um
homem veio a ressurreição dos mortos. Porque, assim como, em Adão,
todos morrem, assim também todos serão vivificados em Cristo. Cada um,
porém, por sua própria ordem: Cristo, as primícias; depois, os que são de
Cristo, na Sua vinda. E, então, virá o fim, quando Ele entregar o reino ao
Deus e Pai, quando houver destruído todo principado, bem como toda
potestade e poder. Porque convém que Ele reine até que haja posto todos os
inimigos debaixo dos pés. O último inimigo a ser destruído é a morte (1
Coríntios 15:12-26).

O apóstolo declara que a ideia de uma ressurreição dos mortos é
absolutamente necessária para nossa fé. Ele faz uma ligação entre a ressurreição
de Jesus e a ressurreição dos crentes no fim da história da Terra, quando nosso
Salvador retornar. Faz isso por meio do conceito de “primícias”. Ao longo de sua
história, o antigo Israel tinha como costume separar a primeira parte da colheita,
apresentando-a como oferta a Deus. Essa prática resultava em duas coisas:
mostrava a gratidão da nação a Deus por aquela colheita e era, também, uma
expressão de confiança em Deus de que o resto da colheita estava assegurada.
Paulo diz que Jesus é a primícia da ressurreição final dos mortos. Em outras
palavras, a ressurreição dos mortos já começou com a ressurreição de Jesus
Cristo.
A ressurreição de Jesus não é um evento isolado. Ela é o começo da vitória de
Deus sobre a morte e a destruição do “último inimigo”. Portanto, se a
ressurreição teve início, ela já é o começo dos últimos dias, pois as primícias nos
garantem que o restante da colheita – a ressurreição dos que creem em Cristo –
certamente virá a seguir.
Ouvi, certa vez, meu professor e mentor, Sakae Kubo, usar uma interessante
ilustração para ajudar a compreender uma ideia. Ele usou a analogia do
relâmpago e o trovão.
Atualmente, moro no sul da Califórnia, onde não vemos muitos relâmpagos
nem ouvimos muitos trovões. Mas, por três anos, morei em Atlanta, estado da
Geórgia, onde quase podíamos acertar a hora em nossos relógios pelas tormentas
de fim de tarde. O tempo todo, nosso gramado permanecia verde e viçoso,
embora nunca o regássemos. Os temporais cuidavam disso.
Podíamos ouvi-los se aproximando ao longe. Primeiro víamos um clarão leve
e, depois de alguns segundos, um rugido suave. À medida que a tormenta se
aproximava, os clarões ficavam mais brilhantes, o estrondo, mais forte, e o
tempo entre os dois, mais curto. Quando o estrondo e o clarão eram simultâneos,
sabíamos que a tormenta estava sobre nós.
Aqui está a comparação: experimentamos o relâmpago e o trovão em
momentos diferentes porque a velocidade da luz e do som não são iguais. Em
realidade, as duas coisas são um só evento, mas dependendo da distância em que
nos encontramos, elas parecem ser duas coisas separadas. Assim é com a
ressurreição de Jesus e Sua segunda vinda. Embora elas sejam realmente parte
da mesma ocorrência, a vitória de Deus sobre o poder da morte, nós as
experimentamos em momentos diferentes. Mesmo assim, as duas coisas estão
interligadas de tal maneira, que a ressurreição de Jesus nos dá certeza absoluta
de que a morte está sendo derrotada e de que nossa ressurreição ocorrerá a seu
tempo.
De posse dessa notícia, o mundo se torna um lugar diferente. Ainda temos que
enfrentar a morte, mas sabemos que ela é um inimigo derrotado, que pode nos
manter na sepultura apenas temporariamente. Paulo chama esse período de
“sono”. Mas ele ensina que, quando Jesus retornar, Ele vai despertar todos os
que “dormem”, ou seja, todos os que morreram crendo nEle.
Que diferença faz, para nossa vida, saber que a ressurreição de Jesus já é o
começo do fim? Em primeiro lugar, isso transforma a maneira como vemos os
eventos dos últimos dias. Em vez de ser algo que seguimos em nossos gráficos
para tentar decifrar quando Jesus estará aqui, os eventos dos últimos dias são
aqueles acontecimentos por meio dos quais Deus está operando para derrotar a
morte e estabelecer Seu reino em todo o Universo. Em outras palavras, eles não
são apenas quantitativos, mas qualitativos. Também não são apenas
cronológicos, mas teológicos. Eles são a ação de Deus a fim de oferecer-nos
salvação a todos. E eles já tiveram início com a ressurreição de Jesus.
Por isso, se você estiver esperando que este livro apresente um gráfico que lhe
permita ver quando Jesus vai voltar ou como o Oriente Médio se encaixa na
cronologia do fim dos tempos, você vai se desapontar. Na verdade, se você
espera descobrir algo assim na Bíblia, está perdendo seu tempo. Mas o que você
vai encontrar trará a você muito mais satisfação, a saber, a certeza de que a
morte é um inimigo derrotado e a segurança da salvação em Cristo.
Eu sei que você pode encontrar pessoas que dizem ter descoberto tudo a
respeito dos últimos dias. Tenho encontrado cenários como esse a vida toda.
Lembro-me de um pregador, durante a primeira metade dos anos 70, que estava
absolutamente convencido de que a Guerra do Vietnã era o Armagedom. Antes
que ela terminasse, Jesus iria voltar. Outros diziam que os eventos de 11 de
setembro de 2001, em cinco anos, iriam nos levar à segunda vinda. Quando eu
nasci, alguns membros da igreja que meus pais frequentavam naquela época não
lhes deram os parabéns. Eu nasci durante a Segunda Guerra Mundial, e eles
disseram aos meus pais que achavam uma coisa terrível o fato de terem trazido
uma criança ao mundo quando a batalha do Armagedom já havia começado.
Abrindo a Bíblia em Mateus 24, eles citavam o verso que mostra a aflição das
mães que estivessem grávidas ou tivessem bebês no colo quando ocorressem as
dificuldades que anteciparão a segunda volta de Jesus. Mas aqueles membros da
igreja provaram não ser bons profetas.
Essa falha, entretanto, não faz com que percamos a esperança. Se levarmos a
sério o que os anjos disseram aos discípulos de Jesus, não deveremos esperar que
homem algum seja capaz de predizer quando Jesus vai voltar. Todavia, isso não
nos tira a certeza de que o fim já começou, pois Jesus está vivo e podemos,
portanto, confiar em suas promessas.
Em segundo lugar, essa boa notícia, de que a ressurreição de Jesus já é o
começo do fim, transforma o modo com que vemos a morte. Amamos a vida,
pois Deus é o autor da vida. Como resultado, fazemos todo o possível para
melhorá-la e preservá-la. Mas não ficamos aterrorizados com a morte, pois,
embora ela seja uma inimiga, sabemos que é uma inimiga derrotada, e não pode
ter a última palavra. A última palavra é a palavra de vida e de ressurreição dada
por Deus.
Faz pouco tempo, eu estava ao lado de um homem em seu leito de morte. Ele
é muito jovem para morrer, mas o câncer tem cobrado o seu preço, e a ciência
médica já não pode fazer mais nada. Certamente ele não quer morrer. E embora
tenha lindos netinhos que adoraria ver crescer, ele não se sente amargurado. Ao
contrário, sente paz e calma. Agradece a Deus as bênçãos da vida que até agora
viveu. E, o mais importante, ele tem plena confiança de que, ao Jesus voltar,
nosso Salvador o ressuscitará, e ele verá sua família outra vez. Embora seja
muito triste vê-lo morrer, também é inspirador observar a fé e a confiança que
tem em Jesus Cristo e na promessa de Sua volta. Eis aí a diferença que faz para
nossa vida conhecer a boa notícia sobre a ressurreição de Cristo.
Mesmo assim, a boa notícia de que os últimos dias já começaram com a
ressurreição de Cristo ainda nos deixa perturbados com uma importante questão.
Uma vez que somos uma geração tão impaciente; uma vez que somos pessoas
que queremos as coisas agora mesmo, não depois; uma vez que nos alimentamos
com comida rápida e usamos o forno micro-ondas para esquentar rapidamente a
comida; como será possível manter nossa esperança considerando que os últimos
dias têm durado tanto tempo? Isso parece requerer mais paciência do que a
maioria de nós tem. Esse será o assunto do próximo capítulo.

Já no tempo do Novo Testamento, algumas pessoas aparentemente se
preocupavam com a demora no cumprimento da promessa que Jesus fizera de
voltar. Apocalipse 6:10 apresenta a linguagem simbólica de almas sob o altar,
representando mártires cristãos que clamam e perguntam quanto vai demorar até
que Deus comece o julgamento: “Clamaram em grande voz, dizendo: Até
quando, ó Soberano Senhor, santo e verdadeiro, não julgas, nem vingas o nosso
sangue dos que habitam sobre a Terra?”
Mateus 25 apresenta várias histórias sobre a segunda vinda. Na parábola das
dez virgens, o noivo atrasa sua chegada e, na parábola dos talentos, o senhor se
ausenta durante bastante tempo. Mateus parece estar preparando seus leitores
para um período de tempo mais longo do que eles esperavam, antes da volta de
Jesus.
Primeiramente, devemos nos lembrar do que vimos antes, em Atos 6:6-11.
Jesus deixou muito claro para os discípulos que não competia a eles saber os
tempos e as estações. Sua responsabilidade era testemunhar sobre o que Ele
havia feito. Mas poderemos manter a esperança por tanto tempo? Seriam 2.000
anos tempo demasiado para se esperar?
Não o seria se lembrássemos que o problema não é o tempo, mas a confiança
em Deus. Somente Deus sabe o tempo da volta de Jesus (Mateus 24:36). Ele não
nos pediu para contar ou decifrar, mas para confiar e continuar fazendo Seu
trabalho até que Ele venha. Temos que admitir que isso é difícil, especialmente
para uma geração impaciente como a nossa. Mas é aí que a confiança em Deus
nos sustém. Deus nos confirmou Sua promessa ao ressuscitar Jesus dos mortos.
Confiamos que, uma vez que já vimos as primícias, o restante será cumprido no
tempo determinado por Deus.
Para nós, entretanto, é difícil esperar. Como já mencionei, não estamos
acostumados a isso. Recentemente, viajei de Spokane, estado de Washington, até
Nova York, com meu filho e meu neto de sete anos de idade, Marcus. O voo de
Spokane para Chicago saiu na hora. Na verdade, aterrissamos um pouco antes do
horário previsto. Ao desembarcarmos no portão B, examinamos um enorme
monitor para ver qual era o portão indicado para nosso próximo voo. Era o
portão C. Ao lado do número do voo, o monitor mostrava duas pequenas e
maravilhosas palavras: “No horário.”
Marcus gostou muito de caminhar do portão B até o C. Descemos por uma
escada rolante, passamos por baixo de uma autopista e seguimos por uma
passarela móvel com peças artísticas feitas de neon bem em cima de nossas
cabeças e sinos soando à nossa volta. Ele queria passar de novo por ali. Como
tínhamos tempo, deixamos que ele o fizesse. Ao chegarmos ao nosso portão,
outra vez olhamos o monitor, só para descobrir que aquelas maravilhosas
palavras “No horário” tinham sido substituídas por “Cancelado”.
Fui até o balcão de atendimento ao cliente pedir ajuda, mas não havia
ninguém, só quiosques informatizados, os quais não consegui fazer funcionar.
Mas havia um telefone ao lado do quiosque com um número para se chamar em
caso de necessidade de ajuda pessoal. Liguei para o tal número e escutei uma
mensagem gravada dizendo que aquele telefone havia sido desativado. Peguei,
então, meu telefone celular e liguei para a companhia aérea. Fiquei sabendo que
nos haviam colocado em outro voo, com partida prevista para cinco horas mais
tarde.
Ficamos todos frustrados, pois os planos para aquela noite em Nova York
estavam arruinados. Então soubemos que havia outro voo dali duas horas e meia.
Poderíamos entrar em uma lista de espera. Não estávamos muito esperançosos,
uma vez que éramos o número 17 na lista, logo caindo para o número 20. Mas
poucos minutos antes de fecharem o portão, nossos nomes foram chamados, e
entramos no avião. Embora aliviados por estar dentro da aeronave, mesmo assim
nos sentíamos frustrados. Ainda reclamando um pouco, disse para meu filho que,
em momentos como aquele, eu me lembrava da história de um velho amigo. Era
um professor universitário que estava prestes a se aposentar quando comecei a
lecionar na mesma instituição, na primeira metade dos anos 70.
Sempre que estou frustrado por algum atraso, lembro-me da história daquele
professor. Nos anos 30, ele e a esposa foram para a África do Sul como
missionários. Terminado seu tempo de serviço, já com um novo trabalho
esperando-o nos Estados Unidos, eles empacotaram os pertences, compraram as
passagens para um navio de passageiros e estavam prontos para a viagem, que
aconteceria em poucos dias. Mas a viagem foi adiada, pois o navio estava
atrasado. A espera não durou apenas cinco horas, nem cinco dias, nem cinco
semanas, nem cinco meses. O navio atrasou cinco anos! Ocorre que a Segunda
Guerra Mundial fora deflagrada, e os militares haviam requisitado aquele navio.
Além disso, aqueles mares não ofereciam nenhuma segurança aos viajantes.
Cinco anos se passaram! E eu estava ali me queixando por causa de duas horas e
meia!
Na metade dos anos 80, viajei para a África do Sul para dar aulas por apenas
um trimestre. Antes de partir, aquele velho professor, já aposentado por vários
anos, perguntou-me se eu faria um grande favor para ele e sua esposa. Quando
estiveram na África do Sul, eles tiveram um filho que faleceu com poucos meses
de vida. Eles deixaram aquele país convencidos de que Jesus voltaria em breve e
logo veriam seu filho. Meu amigo disse que ele e sua esposa estavam tão certos
da iminente volta de Cristo que estavam dispostos a deixar a sepultura do filho
naquela terra na esperança de vê-lo muito em breve. Mas 40 anos haviam se
passado, e Jesus não tinha vindo, tampouco eles haviam voltado à África do Sul.
Agora, eles se perguntavam se a sepultura de seu filho ainda estaria lá. Uma vez
que eu estaria perto daquele cemitério, eles queriam saber se eu poderia tentar
encontrar a sepultura do filho.
Assim, em uma das tardes que passei na África do Sul, saí à procura daquela
tumba. Encontrei-a meio desarrumada, mas depois de arrancar um pouco do
capim que crescia em volta dela, coloquei algumas flores que achei por ali
mesmo e tirei algumas fotos. Quando regressei aos Estados Unidos, levei as
fotos para eles, pelo que ficaram muito agradecidos. Com os olhos marejados de
lágrimas, expressaram sua confiança em Deus e a esperança que tinham na volta
de Jesus Cristo. Eles nunca imaginaram que 40 anos iriam se passar desde a
morte de seu querido filho, mas sua esperança não desvaneceu.
Hoje, também eles descansam em uma tumba, a milhares de quilômetros do
filho. Mas os três aguardam a mesma ressurreição.
Há pouco tempo, meu pai morreu, na mesma cidade do leste do estado de
Washington em que viveu meu amigo professor. Quando fomos escolher o local
para enterrar meu pai, acabei comprando um lote sem chegar a reparar nas
sepulturas que estavam ao redor. Dois dias depois, minha irmã e eu fomos olhar
o local em que nosso pai seria enterrado. Ao olhar com mais atenção, vi,
surpreso, que ali estava a sepultura de meu velho professor e de sua esposa, a
apenas poucos metros da tumba do meu pai. Foi mais uma lembrança da
esperança da ressurreição.
Nossa esperança está baseada não no tempo, mas na confiança de que Deus é
fiel e que cumprirá Sua promessa. Não sabemos quanto ainda vai tardar, embora
vejamos razões para crer que estamos na última parte dos últimos dias e que
Jesus em breve voltará, conforme veremos mais adiante neste livro. Todavia,
mais importante do que “quanto ainda vai tardar” é a certeza absoluta de que
podemos confiar em Deus e saber que Sua promessa é fiel. Jesus ressuscitou. Ele
vive. E por causa disso, podemos ter essa certeza. O mais impressionante é que
essa confiança é tão forte que a Bíblia diz que a vida que vivemos neste mundo
já pode ser chamada de “vida eterna”. Esse será o assunto do próximo capítulo.

Cerca de 50 anos atrás, um conjunto de música folclórica bastante popular
chamado Trio Kingston cantava uma música intitulada “The Merry Minuet” (O
Minueto Alegre, em tradução livre). A música até podia ser alegre, mas as
palavras certamente não eram. Vejamos:

Há tumultos na África. Estão passando fome na Espanha. Furacões
assolam a Flórida e, no Texas, precisa-se de chuva.
O mundo inteiro está infestado de almas aflitas. Os franceses odeiam os
alemães; os alemães odeiam os poloneses.
Os italianos odeiam os iugoslavos, os sul-africanos odeiam os
holandeses. E tem bastante gente de quem eu mesmo não gosto!
Mas posso ficar tranquilo, agradecido e até orgulhoso, pois a humanidade
foi dotada de uma nuvem em forma de cogumelo.
Estamos certos de que algum dia alguém vai acender o pavio, e
pereceremos em uma grande explosão.
Há tumultos na África. Há problemas no Irã.
Aquilo que a natureza não nos fizer, o próprio homem o fará.

Mas isso foi há 50 anos. Talvez não tenha tanta importância nos dias de hoje.
Será mesmo? Parece que alguns dos problemas não mudaram muito. Na
verdade, estão piorando. Vivemos em um mundo cheio de problemas e dores. E
o pior de tudo: habitamos um mundo marcado pela morte.
Enfrentamos a ameaça de nuvens atômicas em forma de cogumelo, vemos
aviões de passageiros serem sequestrados para se tornarem armas de destruição
em massa, sabemos que sepultaremos nossos queridos, a menos que eles nos
sepultem primeiro e, mesmo assim, o apóstolo João teve a audácia de sugerir que
podemos ter a vida eterna agora – nesse contexto. Podemos entender como a
promessa de vida eterna pode se tornar realidade no futuro, em outro mundo
onde já não haverá pecado e morte. Mas João fala da vida eterna como realidade
presente para os que creem em Jesus Cristo. Vamos ver, em primeiro lugar,
alguns textos em que ele faz sua afirmação aparentemente absurda e, então,
tentaremos compreender o sentido da mensagem. A seguir estão cinco textos
sobre a vida eterna, todos extraídos ou do Evangelho ou das cartas de João.

João 3:36
“Por isso, quem crê no Filho tem a vida eterna; o que, todavia, se mantém
rebelde contra o Filho não verá a vida, mas sobre ele permanece a ira de Deus.”
O apóstolo declara que quem crê ou confia no Filho, Jesus Cristo, tem a vida
eterna. Ele não declara que “talvez” ou “pode ser” que tenha a vida eterna.
Tampouco declara que “terá” a vida eterna no futuro. Em vez disso, ele diz
“tem” vida eterna agora. Por meio de contraste, ele também nos faz pensar que
quem crê no Filho está livre da ira de Deus.

João 5:24-30
Em verdade, em verdade vos digo: quem ouve a Minha palavra e crê
nAquele que Me enviou tem a vida eterna, não entra em juízo, mas passou
da morte para a vida. Em verdade, em verdade vos digo que vem a hora e já
chegou, em que os mortos ouvirão a voz do Filho de Deus; e os que a
ouvirem viverão. Porque assim como o Pai tem vida em Si mesmo, também
concedeu ao Filho ter vida em Si mesmo. E Lhe deu autoridade para julgar,
porque é o Filho do homem. Não vos maravilheis disto, porque vem a hora
em que todos os que se acham nos túmulos ouvirão a Sua voz e sairão: os
que tiverem feito o bem, para a ressurreição da vida; e os que tiverem
praticado o mal, para a ressurreição do juízo. Eu nada posso fazer de Mim
mesmo; na forma por que ouço, julgo. O Meu juízo é justo, porque não
procuro a Minha própria vontade, e sim a dAquele que Me enviou.

Note as várias coisas que João tem a dizer aqui sobre a pessoa que ouve as
palavras de Jesus e crê nelas. Primeiro, ela tem a vida eterna. Outra vez, o tempo
está no presente. Jesus está falando sobre uma realidade presente. Segundo, ela
já passou da morte para a vida – outra realidade presente. Ele diz que a hora
vem, e já chegou, em que o morto viverá. Obviamente Jesus aqui tem em mente
a vida e a morte espirituais, uma vez que, nos versos 28-30, Ele contrasta isso
com a ressurreição literal. Os que têm vida eterna não somente vão da morte
para a vida como também não serão julgados. Tudo isso está no presente.
Isso não nega, todavia, a promessa de uma ressurreição literal no futuro. Note
que no verso 28 Jesus diz que a hora vem – Ele não diz que já chegou – quando
os mortos que estão nas sepulturas se levantarão para viver outra vez.
Portanto, Jesus, como registra João, faz uma distinção entre a vida eterna e a
futura ressurreição dos mortos, quando Ele retornar à Terra. A vida eterna inclui
a ressurreição futura e a subsequente eternidade com Deus, mas isso não é tudo:
a vida eterna também tem uma qualidade de vida que o crente desfruta em Cristo
Jesus, agora.

João 6:53, 54
“Respondeu-lhes Jesus: Em verdade, em verdade vos digo: se não comerdes a
carne do Filho do homem e não beberdes o Seu sangue, não tendes vida em vós
mesmos. Quem comer a Minha carne e beber o Meu sangue tem a vida eterna, e
Eu o ressuscitarei no último dia.”
Nesse verso, vemos a mesma ideia. O crente recebe alimento espiritual por
meio de Cristo e tem vida eterna agora, e Jesus o despertará na ressurreição do
último dia. A vida eterna é uma qualidade de vida que podemos experimentar no
momento presente, mas também inclui uma futura ressurreição, quando os
mortos serão despertados de seu sono na sepultura.

João 17:3
“E a vida eterna é esta: que Te conheçam a Ti, o único Deus verdadeiro, e a
Jesus Cristo, a quem enviaste.”
Aqui, em Sua oração ao Pai na noite anterior à Sua morte, Jesus define o que
realmente é a vida eterna. É conhecer a Deus e Seu Filho, Jesus Cristo. Afinal de
contas, Deus é a própria origem da vida. Quando estamos em conexão com Ele,
temos vida eterna. Esta é a qualidade de vida que resulta de conhecermos a Deus
e a promessa da ressurreição, um prenúncio, também, de como será viver para
sempre com Deus no futuro. Vejamos mais um texto:

1 João 5:13, 14
“Estas coisas vos escrevi, a fim de saberdes que tendes a vida eterna, a vós
outros que credes em o nome do Filho de Deus.”
Se estivermos conectados a Cristo, não somente teremos a vida eterna, mas
também saberemos que já a desfrutamos. É como diz o antigo hino escrito por
Fanny Crosby: “Que segurança! Sou de Jesus! Eu já desfruto bênçãos da luz!”
Quando colocamos esses textos juntos, uma mensagem clara emerge: Confiar
em Jesus Cristo como o Filho de Deus e nosso Salvador significa estar livre não
apenas da ira divina mas também da preocupação com o julgamento. Indica
ainda que já passamos da morte para a vida e que, embora possamos morrer, a
morte será apenas um sono temporário até que se dê a ressurreição dos mortos,
por ocasião da segunda vinda de Cristo, quando Ele nos ressuscitará para
vivermos com Deus para sempre.
Que diferença isso faz? Continuamos vivendo em um mundo de morte onde
ainda sepultamos nossos queridos. Haveria algo mais que meras palavras em
tudo isso?
Eu creio que esta mensagem transforma a vida presente de diversas maneiras.
Primeiramente, ela nos livra da preocupação sobre nossa salvação e
relacionamento com Deus. Temos a vida eterna agora. Mas ela não provoca em
nós uma atitude arrogante que nos faz pensar que já temos a situação resolvida,
não importa o que façamos. Por ser Cristo a fonte de vida e esperança, devemos
ter os olhos sempre focalizados nEle. Quando damos tapinhas nas próprias
costas e olhamos para nossas supostas realizações, desviamos o olhar de Cristo.
Ou quando nos damos pontapés achando que alguém tão mau jamais poderia ser
salvo, tampouco estamos focalizados no Salvador. Em ambos os casos, temos o
foco em nós mesmos e estamos em perigo. Mas quando fazemos de Cristo o
centro, podemos ter confiança. Já não temos que nos preocupar com nossa
salvação. As Escrituras prometem que o Deus que começou uma boa obra em
nós a completará no dia de Jesus Cristo (Filipenses 1:6).
Em segundo lugar, ela muda nossa abordagem quanto ao fim dos tempos. Em
vez de ficarmos tentando nervosamente descobrir que eventos marcam o fim dos
tempos, mantemos a esperança e anelamos a segunda vinda de Jesus Cristo, pois
isso significa vê-Lo face a face. Não entramos em pânico com a proximidade do
tempo, pois percebemos que já estamos vivendo no fim por conhecermos a Jesus
e estarmos nos relacionando com Ele agora. Embora ainda não tenhamos um
relacionamento face a face com Jesus, nossa experiência presente com Ele nos
dá certeza de que o relacionamento face a face logo ocorrerá.
Finalmente, essa certeza nos deixa livres para entregar nossa vida a Deus e a
serviço de Seu Reino. Em Mateus 10:39, Jesus diz que aquele que achar sua vida
irá perdê-la, mas o que perder sua vida por amor de Cristo irá achá-la.
Encontramos a verdadeira vida ao gastarmos nossa vida por Deus. A confiança
em Cristo nos deixa livres para correr riscos em nome do reino de Deus.
Não é uma questão de temeridade. Tenho um neto de quase de seis anos de
idade para quem “perigo” é sempre uma palavra convidativa. Se há perigo, é isso
o que ele quer. Às vezes, seu desejo atrapalha o bom senso. Seu irmão, de dois
anos e meio, por outro lado, é mais prudente e muitas vezes admoesta o irmão a
ter cuidado. Em alguns momentos, minha filha se refere ao filho mais novo
como seu assistente.
Deus não nos pede para correr riscos por mera diversão, mas Ele nos convida
a dar-nos em serviço a outros em vez de cultivarmos o egoísmo. A confiança na
vida eterna nos deixa livres para assim fazermos.
Penso em um amigo que já não vive mais. Ele cresceu em Nova York, cidade
que amava. Professor e engenheiro de sucesso, tinha uma família maravilhosa –
esposa e dois filhos pequenos. Ele foi convidado a deixar sua querida cidade, a
vida de sucesso e se mudar para uma pequena cidade ao sul do estado de
Washington chamada Walla Walla para ali começar o programa de engenharia
em um pequeno colégio cristão. Isso aconteceu em 1947. Foi aí que sua vida
mudou totalmente.
Sentindo a mão de Deus nesse convite, ele e a família atravessaram o país até
Walla Walla. O choque cultural foi impressionante. Aquela pequena cidade em
nada se parecia com Nova York. Ali, ele e a esposa passaram as primeiras
semanas agachados, esfregando uma velha barraca do exército que serviria como
abrigo para sua nova atividade. Mas Ed Cross permaneceu em Walla Walla até a
morte, e ali estabeleceu uma excelente escola de engenharia, altamente
credenciada, que hoje leva seu nome – Edward F. Cross School of Engineering
of Walla Walla University. Uma placa na parede contém uma de suas declarações
por ocasião da aposentadoria: “Isso aqui não era um trabalho, era um chamado
do Senhor.”
A certeza de vida eterna em Cristo, tanto agora como no futuro, nos deixa
livres para aceitar o chamado feito por Deus para dar-nos em sacrifício pelos
outros e por Ele.

Nos dias de Jesus, muitos declaravam ser o messias. Até encontramos alguns
deles no Novo Testamento. Em Atos 5, quando os saduceus prenderam Pedro e
João e os trouxeram diante do conselho judaico, o Sinédrio, um sábio rabino
aconselhou o grupo que tentava matar os apóstolos.

Eles, porém, ouvindo, se enfureceram e queriam matá-los. Mas,
levantando-se no Sinédrio um fariseu, chamado Gamaliel, mestre da lei,
acatado por todo o povo, mandou retirar os homens, por um pouco, e lhes
disse: Israelitas, atentai bem no que ides fazer a estes homens. Porque, antes
destes dias, se levantou Teudas, insinuando ser ele alguma coisa, ao qual se
agregaram cerca de quatrocentos homens; mas ele foi morto, e todos
quantos lhe prestavam obediência se dispersaram e deram em nada. Depois
desse, levantou-se Judas, o galileu, nos dias do recenseamento, e levou
muitos consigo; também este pereceu, e todos quantos lhe obedeciam foram
dispersos. Agora, vos digo: dai de mão a estes homens, deixai-os; porque,
se este conselho ou esta obra vem de homens, perecerá; mas, se é de Deus,
não podereis destruí-los, para que não sejais, porventura, achados lutando
contra Deus. E concordaram com ele (Atos 5:33-39).

Os dois indivíduos citados não eram os únicos que alegavam ser o messias.
Um punhado deles parecia seguir o mesmo padrão. Um líder carismático reunia
um grupo e apresentava promessas maravilhosas, demonstrando como ele iria
triunfar sobre os romanos. Fazia, então, uma lavagem cerebral nas pessoas para
que seguissem tudo o que ele ordenava. Depois as levava à ruína. Um desses
indivíduos reuniu um grupo nas proximidades do Rio Jordão. Aquele falso
messias afirmou que o rio se fenderia ali, diante deles, do mesmo modo que se
fendera para os israelitas quando eles entraram na terra de Canaã. O rio, porém,
não se fendeu, e as autoridades mataram todos eles. Outro reuniu um grupo no
Monte das Oliveiras, de onde se podia ver o Templo, e anunciou que suas
paredes cairiam qual os muros de Jericó depois do êxodo do Egito. Sua promessa
falhou, e as autoridades exterminaram seus seguidores.
Quando veio Jesus, o verdadeiro Messias, Ele sabia que falsos messias
continuariam a enganar as pessoas. Ele também reconheceu que, antes de Sua
segunda vinda, o problema dos falsos messias se intensificaria. Alertou, então,
Seus discípulos sobre isso.
Certa vez, no Monte das Oliveiras, Jesus lhes disse que chegaria o dia em que
não ficaria pedra sobre pedra naquele Templo. Os discípulos ficaram
horrorizados. Como poderia isso ocorrer? Um acontecimento assim seria,
certamente, o fim do mundo. Então eles O questionaram: “No monte das
Oliveiras, achava-se Jesus assentado, quando se aproximaram dEle os discípulos,
em particular, e Lhe pediram: Dize-nos quando sucederão estas coisas e que
sinal haverá da Tua vinda e da consumação do século” (Mateus 24:3).
Para eles era apenas uma pergunta, pois consideravam que a destruição do
Templo corresponderia ao fim do mundo. Assim, na resposta dada por Jesus ao
longo do restante do capítulo, algumas coisas se aplicam à destruição do Templo;
outras, ao fim do mundo; e ainda outras, a ambos. Mas Jesus não respondeu
exatamente à pergunta dos discípulos. Eles queriam saber que sinais lhes
mostrariam que o fim estava próximo. Em outras palavras, eles estavam
preocupados com perguntas sobre o que e quando.
Jesus redirecionou a questão ao responder-lhes a pergunta. Ele não lhes disse
quando. Na verdade, Ele mencionou uns poucos eventos possíveis de ser
identificados sobre o fim do mundo. Sua preocupação era alertá-los sobre os
falsos messias e falsos cristos que tentariam enganá-los. De fato, Ele estava tão
preocupado com esse assunto que, por três vezes, o repetiu no mesmo capítulo.
Ele começa com um alerta: “Vede que ninguém vos engane. Porque virão
muitos em meu nome, dizendo: Eu sou o Cristo, e enganarão a muitos” (versos
4, 5).
Jesus procura proteger do engano Seus seguidores. No meio de Seu sermão,
Ele declara: “Nesse tempo, muitos hão de se escandalizar, trair e odiar uns aos
outros; levantar-se-ão muitos falsos profetas e enganarão a muitos. E, por se
multiplicar a iniquidade, o amor se esfriará de quase todos. Aquele, porém, que
perseverar até o fim, esse será salvo” (versos 10-13).
Mas nem mesmo esses dois severos alertas foram suficientes. No fim do
sermão, Jesus mencionou mais detalhes: “Então, se alguém vos disser: Eis aqui o
Cristo! Ou: Ei-lo ali! Não acrediteis; porque surgirão falsos cristos e falsos
profetas operando grandes sinais e prodígios para enganar, se possível, os
próprios eleitos. Vede que vo-lo tenho predito. Portanto, se vos disserem: Eis que
ele está no deserto!, não saiais. Ou: Ei-lo no interior da casa!, não acrediteis.
Porque, assim como o relâmpago sai do oriente e se mostra até no ocidente,
assim há de ser a vinda do Filho do homem” (versos 23-27).
Cristo afirma que esses falsos cristos e falsos profetas serão tão espertos e tão
peritos em falsificações que poderão enganar até mesmo os que creem e confiam
nEle. Se até mesmo os próprios eleitos correm o risco de ser enganados, para
onde, então, isso nos leva? Como evitar o engano? Aparentemente, Satanás fará
todo o possível para nos iludir ou enganar.
Felizmente, tanto nesse capítulo como em outras partes do Novo Testamento,
Jesus nos dá algumas diretrizes para que estejamos protegidos. Se os
enganadores são tão espertos, a ponto de enganar até os escolhidos, devemos
prestar muita atenção a Seus alertas. Como, então, estar seguro?
Jesus menciona alguns princípios básicos que, de imediato, desmascaram a
maioria dos que falsamente afirmam ser o Cristo. Em primeiro lugar, Ele explica
que Sua segunda vinda será visível a todos. Ela será como um relâmpago que
ilumina o céu do Oriente ao Ocidente. Um fenômeno como esse não pode ser
secreto. Isso quer dizer que, se alguém afirma que Jesus voltou e que existe um
lugar para onde devemos ir para encontrá-Lo, essa pessoa é um falso cristo.
Todos O verão quando Ele voltar. Ele não vai estar em algum esconderijo nem
irá aparecer em um estádio. Sua chegada será visível para todos.
Em segundo lugar, em 1 Tessalonicenses 4:16 e 17, a Bíblia revela outro fato
que deve nos manter seguros em relação à volta de Jesus. Ali diz que, ao voltar,
Jesus permanecerá nos ares enquanto somos levados ao Seu encontro:
“Porquanto o Senhor mesmo, dada a Sua palavra de ordem, ouvida a voz do
arcanjo, e ressoada a trombeta de Deus, descerá dos céus, e os mortos em Cristo
ressuscitarão primeiro; depois, nós, os vivos, os que ficarmos, seremos
arrebatados com eles, entre nuvens, para o encontro do Senhor nos ares, e, assim,
estaremos para sempre com o Senhor.”
Como resultado, podemos estar seguros de que qualquer um que esteja na
Terra conosco e afirme ser o Messias ou o Cristo que já voltou está mentindo.
Assim, ao dar instruções sobre a maneira como Ele irá voltar, Jesus deseja nos
proteger do engano.
A segunda vinda de Jesus será visível ao mundo inteiro. Todos O verão. Ele
reunirá um grupo de pessoas para encontrá-Lo nos ares. Esse fato bíblico
derruba qualquer alegação de que alguém seja Cristo entre nós, na Terra. Ele
também rejeita qualquer afirmação feita por aqueles que ensinam que Cristo está
em algum lugar secreto.
Infelizmente, quando falsos cristos aparecem em nossos dias, o resultado é
geralmente o mesmo do primeiro século. Seja Jim Jones, seja David Koresh, as
pessoas ainda se deixam levar à tragédia. É por isso que essas afirmações são tão
perigosas. Nossa primeira proteção contra o engano é conhecer os fatos bíblicos
sobre a segunda vinda de Cristo.
A segunda proteção é nos certificarmos de que jamais devemos consentir que
seja entregue o controle de nosso pensamento a outra pessoa. Esses enganadores
frequentemente buscam fazer uma lavagem cerebral nas pessoas. Mas Deus
espera que usemos a mente com a qual Ele nos dotou. Algumas pessoas tentam
de forma errada colocar a fé e as Escrituras contra a razão e a mente. Mas essa
dicotomia é falsa. Apenas com a mente é que podemos conhecer a Deus, escutar
o que dizem as Escrituras e ter fé. Assim, quando Jesus caminhou com os dois
discípulos na estrada para Emaús, Ele “lhes abriu o entendimento para
compreenderem as Escrituras” (Lucas 24:45). E quando Paulo se preocupou com
os coríntios por terem se tornado tão dependentes dos sinais exteriores do
Espírito, tais como falar em línguas estranhas, e por fazerem desses sinais, em
vez da fé em Cristo, uma evidência de sua saúde espiritual, ele disse: “Orarei
com o espírito, mas também orarei com a mente; cantarei com o espírito, mas
também cantarei com a mente” (1 Coríntios 14:15).
Servimos a Deus com a mente, e isso significa que nunca devemos deixar que
ninguém tenha domínio sobre nosso raciocínio. Se permitirmos que alguém
pense por nós, esse será o primeiro passo para sermos enganados. O resultado
inicial é uma perda do bem-estar espiritual. Então, um desastre espiritual
também pode ocorrer. Com frequência, pretensos messias usam o controle da
mente para levar as pessoas ao adultério e outras violações da lei divina, e
terminam causando sua morte.
Deus nos tem dado o privilégio e a responsabilidade de pensar por nós
mesmos, guiados por Sua Palavra e Seu Espírito. Usar essa liberdade nem
sempre é fácil e, portanto, pode ser tentador passar para outra pessoa a
responsabilidade de viver com a liberdade dada por Deus. Isso me faz lembrar da
época em que, por algum tempo, trabalhei como pastor voluntário em uma
penitenciária estadual. Vários presos haviam escapado recentemente da prisão.
Todos eles foram imediatamente capturados. Um dia, perguntei ao capelão como
tantos puderam escapar, quando parecia que os muros da prisão eram à prova de
fuga. Ele me disse que os homens não estavam escapando da prisão, mas para a
prisão. Parece incrível, mas ele me garantiu que era verdade. Explicou que todos
os fugitivos faziam parte de uma turma que estava se adaptando à transição para
o mundo exterior, naquelas suas últimas semanas de aprisionamento. Ele lhes
perguntou por que fugiram justamente quando estavam para ser libertados, e eles
disseram que não poderiam suportar sequer um dia a mais naquela prisão. Mas
isso não era verdade. O capelão disse que a razão real daquela tentativa de fuga
era saberem que, ao serem capturados, teriam a sentença aumentada e, assim,
evitariam ter de enfrentar a responsabilidade que vem com a liberdade. Portanto,
eles realmente escaparam de volta para a prisão! Sempre que tentamos evitar a
liberdade e a responsabilidade de usar a mente que Deus nos deu, abrimos
espaço para o engano.
Temos ainda uma terceira salvaguarda. Se ficarmos tão perto de Jesus, a ponto
de nos acostumarmos à Sua voz e de poder reconhecê-la, será muito mais difícil
sermos enganados. Se permanecermos conectados por meio do estudo da Bíblia
e da oração, poderemos chegar a conhecê-Lo tão bem que qualquer coisa falsa
será facilmente percebida. Conhecer Jesus e manter-se junto a Ele é a terceira e
mais importante defesa.
Quando minha filha, agora adulta, tinha apenas um ano de idade, encontramos
um gatinho amarelo no meio de um movimentado estacionamento. Temendo que
um carro pudesse passar por cima dele, decidimos resgatá-lo. Levamos o gatinho
para casa e, no dia seguinte, voltamos para bater à porta dos vizinhos daquele
local, esperando achar a casa à qual aquele gatinho pertencia. Logo encontramos
seus donos. Eles estavam tristes porque o gatinho havia fugido, mas, ao mesmo
tempo, como estavam tentando doá-lo a alguém, perguntaram se eu gostaria de
ficar com o animalzinho. Como minha filha já estava apaixonada pelo gatinho,
não tive muita escolha. Ficamos com ele.
Durante os 21 anos seguintes, Laura e aquele gato foram a companhia
constante um do outro. No começo, ela não conseguia nem pronunciar a palavra
“gatinho”. O mais próximo era “Datito”. E esse passou a ser o seu nome. Ele se
enrodilhava junto ao pescoço de Laura e ali dormia. Temos fotografias dessa
mesma cena quando nossa filha tinha um ano de idade, quando tinha sete,
quando era uma adolescente e quando tinha 21 anos de idade.
Quando Laura foi estudar em um colégio interno, o gato ficou conosco. Mas,
quando ela retornava, o gato estava à porta para saudá-la. Finalmente, Datito
envelheceu e começou a ficar debilitado. Perdeu o olfato, a audição e a visão,
ficando, finalmente, sem condições de se movimentar. Tínhamos que pôr a
comida junto ao seu nariz para que pudesse encontrá-la.
Mas aquele gato era surpreendente. Mesmo sem olfato, audição e visão,
sempre que Laura voltava para casa, lá estava ele para saudá-la no momento em
que ela abria a porta. Era como se algo, além dos seus sentidos, o atraísse para
Laura. De fato, era grande a proximidade que havia entre os dois.
Se ficarmos perto de Jesus, não seremos vítimas das intensas falsificações dos
últimos dias, quando Satanás operará com artimanhas que, de tão sagazes,
poderão enganar até os próprios eleitos. Ele mesmo tentará aparecer como se
fosse um anjo de luz (2 Coríntios 11:14). Podemos estar em segurança, sabendo
como ocorrerá a segunda vinda, usando a mente dada por Deus, não permitindo
que ninguém a possa controlar e ficando tão próximos a Jesus que reconheçamos
Sua voz.

Alguns dias atrás, eu seguia de carro desde a igreja onde sirvo como pastor até
um hospital próximo para fazer uma visita. Enquanto esperava pela luz verde de
um semáforo, notei que na caminhonete à minha frente havia um adesivo no
para-choque com os seguintes dizeres: “Em caso de arrebatamento secreto, esta
caminhonete é sua.”
Difícil saber se o dono da caminhonete acreditava seriamente na doutrina do
rapto secreto ou se apenas fazia pilhéria com essa ideia. O fato é que muitos
cristãos levam essa doutrina a sério, e ela é bastante popular. Uma série de 16
livros sobre o tempo do fim vendeu mais de 63 milhões de cópias e rendeu
quatro filmes. Todos os livros e todos os filmes dessa série apresentam a ideia de
que haverá um rapto secreto dos verdadeiros crentes antes da segunda vinda de
Jesus.
Neste capítulo, focalizaremos quatro aspectos. Primeiramente, veremos um
esboço da ideia básica do rapto secreto. Em segundo lugar, reconheceremos
quais textos são usados para apoiar essa doutrina. Depois disso, examinaremos
esses textos dentro de seu contexto para sabermos o que eles verdadeiramente
ensinam. Finalmente, faremos a pergunta: “E daí?”
O que ensinam, afinal, os defensores da crença no arrebatamento secreto?
Aqui está o cenário básico: Sete anos antes da real segunda vinda de Cristo,
Deus simplesmente vai arrebatar secretamente os verdadeiros seguidores de
Jesus Cristo e os levará com Ele para o lar eterno. A vida na Terra continuará,
mas os verdadeiros crentes desaparecerão subitamente, o que os livrará de um
tempo de terrível tribulação, o qual ocorrerá durante os sete anos seguintes até
que Jesus chegue nas nuvens dos céus.
De acordo com essa crença, durante os sete anos, o anticristo governará o
mundo, trazendo perseguição, calamidade e problemas como nunca foram vistos
antes. Mas os verdadeiros crentes serão poupados. Durante esse tempo, o
Templo de Jerusalém será reconstruído e, de acordo com alguns, todos os judeus
serão convertidos ao cristianismo. Os cristãos que não estavam preparados para
o arrebatamento terão uma segunda oportunidade. Se passarem pelas tribulações
e forem fiéis a Deus, poderão ser salvos na segunda vinda, que será visível.
Os que apoiam essa ideia apontam para vários textos bíblicos como evidência
para sua posição. Um deles é Mateus 24:40, 41: “Então, dois estarão no campo,
um será tomado, e deixado o outro; duas estarão trabalhando num moinho, uma
será tomada, e deixada a outra.”
Eles interpretam essa passagem bíblica como se duas pessoas estivessem lado
a lado e, de repente, uma delas simplesmente desaparecesse. Para eles o texto
está falando sobre o desaparecimento súbito de todos aqueles que são
verdadeiros crentes, no momento em que se dá o arrebatamento secreto.
Outra passagem usada para apoiar esse ensinamento é 1 Coríntios 15:51 e 52,
em que Paulo declara que os crentes serão transformados em um instante. “Eis
que vos digo um mistério: nem todos dormiremos, mas transformados seremos
todos, num momento, num abrir e fechar de olhos, ao ressoar da última
trombeta. A trombeta soará, os mortos ressuscitarão incorruptíveis, e nós
seremos transformados.”
Os defensores do arrebatamento secreto consideram esse verso como uma
referência ao rapto instantâneo que ocorrerá no começo da grande tribulação. As
pessoas simplesmente estarão ocupadas com os afazeres da vida quando, de
repente, desaparecerão. Além disso, muitos veem na palavra “arrebatados”, de 1
Tessalonicenses 4:17, uma referência ao súbito desaparecimento dos verdadeiros
cristãos: “Depois, nós, os vivos, os que ficarmos, seremos arrebatados
juntamente com eles, entre nuvens, para o encontro do Senhor nos ares.”
Quando analisamos, entretanto, esses três versos em seus respectivos
contextos, descobrimos um quadro bem diferente. Percebemos que não há nada
de secreto no que diz respeito aos eventos descritos. Na verdade, esses textos
apontam para o mesmo evento – a segunda vinda de Cristo – um acontecimento
que será visível para todos. Vamos avaliar as evidências.
Primeiramente, notemos as palavras de Jesus em Mateus 24:26-31. Os
discípulos haviam perguntado sobre a destruição de Jerusalém, a qual eles
imaginavam que ocorreria no fim deste mundo. Como vimos anteriormente,
alguns dos comentários de Jesus se referem à destruição de Jerusalém, outros são
relativos ao tempo do fim, e alguns se aplicam a ambos aspectos. Mas nenhum
deles fala de um arrebatamento secreto antes da segunda vinda. Leia essa
passagem cuidadosamente:

Portanto, se vos disserem: Eis que ele está no deserto!, não saiais. Ou: Ei-
lo no interior da casa!, não acrediteis. Porque, assim como o relâmpago sai
do Oriente e se mostra até no Ocidente, assim há de ser a vinda do Filho do
homem. Onde estiver o cadáver, aí se ajuntarão os abutres. Logo em
seguida à tribulação daqueles dias, o Sol escurecerá, a Lua não dará a sua
claridade, as estrelas cairão do firmamento, e os poderes dos céus serão
abalados. Então, aparecerá no céu o sinal do Filho do homem; todos os
povos da Terra se lamentarão e verão o Filho do homem vindo sobre as
nuvens do céu, com poder e muita glória. E Ele enviará os Seus anjos, com
grande clangor de trombeta, os quais reunirão os Seus escolhidos, dos
quatro ventos, de uma a outra extremidade dos céus.

Consideremos vários elementos associados à série de eventos que Jesus
descreve em Mateus:
• A volta de Jesus é visível, tal como um relâmpago cujo brilho é visto de leste
a oeste.
• As pessoas da Terra se lamentam.
• O Filho do homem (Jesus Cristo) vem.
• Ele vem com poder e glória.
• A trombeta soa.
• As pessoas são reunidas para se encontrar com Cristo.
Fica claro que não há nada de secreto aqui. A segunda vinda é visível, audível
e se manifesta com grande poder e glória. Isso também se encaixa com o que
encontramos em Apocalipse 1:7: “Eis que vem com as nuvens, e todo olho O
verá, até quantos O traspassaram. E todas as tribos da Terra se lamentarão sobre
Ele. Certamente. Amém!”
Essa profecia de João sobre a segunda vinda é, obviamente, sobre o mesmo
evento de Mateus 24, pois inclui as pessoas da Terra se lamentando e a natureza
visível da chegada de Cristo (todo olho O verá). Uma vez que o texto de Mateus
24:40, 41 é paralelo ao de João, devemos vê-lo como um comentário sobre o que
acontecerá na segunda vinda de Cristo, e não algo a ocorrer sete anos antes.
Quando Jesus declara que um será tomado, e o outro, deixado, está
simplesmente apontando para o fato de que nem todos serão salvos quando Ele
voltar. Não está insinuando que haverá um desaparecimento instantâneo antes da
segunda vinda.
Podemos entender, então, que há um conjunto de eventos associados com a
volta de Jesus Cristo. Esses eventos incluem o soar da trombeta e a natureza
aberta e visível de Sua chegada. É significativo, portanto, que quando olhamos
as duas passagens de Paulo (1 Coríntios 15 e 1 Tessalonicenses 4), também
encontramos o soar da trombeta, uma demonstração de que eles estão falando do
mesmo evento. Vemos que isso se confirma pelo fato de que a ressurreição dos
mortos aparece em ambas passagens, e a ressurreição final dos mortos ocorre na
segunda vinda de Cristo (ver capítulo 3).
Quando recorremos a 1 Coríntios 15, temos que ler a partir do verso 51.
Repare no que encontramos no verso 52: “Eis que vos digo um mistério: nem
todos dormiremos, mas transformados seremos todos, num momento, num abrir
e fechar de olhos, ao ressoar da última trombeta. A trombeta soará, os mortos
ressuscitarão incorruptíveis, e nós seremos transformados.”
As Escrituras não associam a transformação instantânea com um rapto secreto
sete anos antes da segunda vinda. Ela ocorre no momento da segunda vinda,
quando soa a trombeta e os mortos são ressuscitados – o mesmo evento descrito
em Mateus 24.
Notemos, agora, quão bem isso se encaixa com 1 Tessalonicenses 4:15-18:

Ora, ainda vos declaramos, por palavra do Senhor, isto: nós, os vivos, os
que ficarmos até a vinda do Senhor, de modo algum precederemos os que
dormem. Porquanto o Senhor mesmo, dada a Sua palavra de ordem, ouvida
a voz do arcanjo, e ressoada a trombeta de Deus, descerá dos Céus, e os
mortos em Cristo ressuscitarão primeiro; depois, nós, os vivos, os que
ficarmos, seremos arrebatados juntamente com eles, entre nuvens, para o
encontro do Senhor nos ares, e, assim, estaremos para sempre com o
Senhor. Consolai-vos, pois, uns aos outros com estas palavras.

A passagem apresenta uma sequência clara. Paulo diz que os que estiverem
vivos não irão para o Céu antes dos que morreram. Mas, na verdade, se os
crentes fossem arrebatados sete anos antes da segunda vinda e da ressurreição
que então ocorrerá, os que ainda estiverem vivos subiriam ao céu antes daqueles
que morreram – sete anos antes. O apóstolo acrescenta que o Senhor descerá do
Céu com alta voz de comando e soar de trombeta: esses são elementos que ligam
o evento à série de acontecimentos que, como vimos, estão associados com a
segunda vinda. Decisivo é o claro ensinamento de Paulo de que o arrebatamento
dos santos entre as nuvens ocorre depois do retorno visível de Jesus e da
ressurreição dos mortos. Portanto, não é possível que esse “arrebatamento” se
refira a um rapto secreto que ocorreria sete anos antes da segunda vinda. Ele está
intrinsecamente atado a outros eventos associados à segunda vinda de Cristo.
Mas o que acontecerá quando Cristo voltar? Ele virá de maneira visível a
todos. Todo olho O verá. Além da demonstração visível de Sua volta, a trombeta
audível despertará os mortos em Cristo enquanto Ele permanece acima da Terra.
Primeiramente, os justos mortos serão ressuscitados e arrebatados para encontrá-
Lo. Depois, os justos vivos por ocasião de Sua vinda se unirão a eles.
Finalmente, Cristo levará ambos os grupos para estar com Ele para sempre.
Pelo menos um outro elemento básico desse quadro unificado aparece nas
passagens bíblicas por vezes utilizadas para apoiar a ideia do rapto secreto. Mas
todas as passagens se encaixam em um quadro que faz sentido. Todas elas se
referem a um único evento, a segunda vinda de Cristo. Não há nada de secreto
aqui.
Mas o que dizer dos sete anos de tribulação? Os que acreditam em um rapto
secreto se apoiam nos períodos de tempo da profecia de Daniel 9:25-27.

Sabe e entende: desde a saída da ordem para restaurar e para edificar
Jerusalém, até ao Ungido, ao Príncipe, sete semanas e sessenta e duas
semanas; as praças e as circunvalações se reedificarão, mas em tempos
angustiosos. Depois das sessenta e duas semanas, será morto o Ungido e já
não estará; e o povo de um príncipe que há de vir destruirá a cidade e o
santuário, e o seu fim será num dilúvio, e até ao fim haverá guerra;
desolações são determinadas. Ele fará firme aliança com muitos, por uma
semana; na metade da semana, fará cessar o sacrifício e a oferta de
manjares; sobre a asa das abominações virá o assolador, até que a
destruição, que está determinada, se derrame sobre ele.

Essa passagem se refere ao período de sete semanas, 62 semanas e uma
semana – um total de 70 semanas, ou 490 dias. Os que ensinam o rapto secreto
interpretam esses dias como dias proféticos que representam um ano, e eles têm
um bom precedente bíblico para isso. A profecia começa no tempo da ordem
para restaurar e reconstruir Jerusalém, um evento ocorrido em 457 a.C. As 69
semanas de anos multiplicadas por sete representariam 483 anos, o que nos leva
ao ano 27 d.C. O que diz a profecia, então? Ela diz que esse é o tempo do
Messias, ou o Ungido, que, na linguagem do Novo Testamento, é Cristo. Parece
que tudo se encaixa. Até agora, isso está bem claro, e os que advogam o rapto
estão corretos em sua interpretação da passagem. A dificuldade começa na
maneira como eles entendem a 70ª semana.
Os que defendem o arrebatamento secreto separam a 70ª semana das outras 69
e introduzem um intervalo de 2.000 anos desde 27 d.C. até o rapto. Mas não há
nada no texto que sugira a existência desse intervalo. Ao contrário, o texto fala
da semana em que o Messias, ou Cristo, confirma o concerto que Ele fez com
Seu povo, de ser o Seu Deus. Portanto, a 70ª semana tem que ver com o
ministério de Cristo na Terra e não com algum evento ocorrido 2.000 anos mais
tarde. O fato de que o sacrifício cessa no meio da semana se refere à Sua morte,
a qual trouxe um fim à necessidade de sacrifícios posteriores. Daniel não apoia a
ideia de uma tribulação de sete anos depois de um intervalo de muitos séculos.
Todas as 70 semanas são contíguas, e a 70ª semana envolve o período do
ministério de Jesus na Terra, Sua morte no meio da semana e a chegada do
evangelho aos gentios no fim daquela semana.
Outro elemento do ensino do rapto secreto é a crença na reconstrução do
Templo de Jerusalém antes da volta de Cristo. Aqueles que apoiam o rapto
acreditam que o Templo será reconstruído durante os sete anos de tribulação.
Uma das profecias usadas para apoiar essa ideia está em Zacarias 1:14-17. O
texto certamente sugere a reconstrução do Templo e de Jerusalém.

E este me disse: Clama: Assim diz o Senhor dos Exércitos: Com grande
empenho, estou zelando por Jerusalém e por Sião. E, com grande
indignação, estou irado contra as nações que vivem confiantes; porque Eu
estava um pouco indignado, e elas agravaram o mal. Portanto, assim diz o
Senhor: Voltei-Me para Jerusalém com misericórdia; a Minha casa nela será
edificada, diz o Senhor dos Exércitos, e o cordel será estendido sobre
Jerusalém. Clama outra vez, dizendo: Assim diz o Senhor dos Exércitos: As
Minhas cidades ainda transbordarão de bens; o Senhor ainda consolará a
Sião e ainda escolherá a Jerusalém.
A pergunta é: Sobre que reconstrução a passagem está falando? Quando ela
ocorre? Se lermos apenas uns poucos versos antes (verso 7), veremos que a
profecia está datada: “No vigésimo quarto dia do mês undécimo, que é o mês de
sebate, no segundo ano de Dario, veio a palavra do Senhor ao profeta Zacarias,
filho de Baraquias, filho de Ido.”
Utilizando a datação moderna, chegamos a fevereiro de 519 a.C. Quando
Zacarias recebeu a profecia, o Templo de Jerusalém estava em ruínas. Em 586
a.C., os babilônios haviam destruído Jerusalém e o Templo, levando os judeus
para o cativeiro. Assim, durante o tempo de Zacarias, o Templo realmente
precisou ser reconstruído. Portanto, é lógico assumir que a profecia é
concernente à reconstrução do Templo de Jerusalém nos dias de Zacarias. E a
profecia foi cumprida. Levou um pouco de tempo, mas lemos sobre a
reconstrução nos livros bíblicos de Esdras e Neemias. A profecia, portanto, não
foi para o fim do tempo, mas para a época de Zacarias.
Nada nas Escrituras relaciona a reconstrução do Templo ao tempo do fim. De
fato, existe grande perigo em distorcer as profecias do Antigo Testamento,
tirando-as de seu contexto original e forçando sua aplicação para os últimos dias.
Deus tem um plano para Israel e revelou-o por intermédio de Seus profetas.
Mas nem todas as profecias relacionadas àquela nação foram cumpridas, pois
algumas delas dependiam da resposta do povo. Por exemplo, Zacarias profetizou
que o desejo de Deus era que, uma vez que Israel tivesse reconstruído o Templo,
todas as nações se juntassem em Jerusalém e ali seguissem o Deus de Israel.
Veja, por exemplo, o que diz Zacarias 8:23: “Assim diz o Senhor dos Exércitos:
Naquele dia, sucederá que pegarão dez homens, de todas as línguas das nações,
pegarão, sim, na orla da veste de um judeu e lhe dirão: Iremos convosco, porque
temos ouvido que Deus está convosco.”
Infelizmente, o povo de Deus nem sempre foi eficaz em testemunhar perante o
mundo, como era Sua intenção. Eles se tornaram exclusivistas. Esses aspectos da
profecia que dependem da ação humana são condicionais, porque Deus não força
os homens. Vemos um claro exemplo da natureza condicional de Suas profecias
no livro de Jonas. Ele profetizou que Nínive seria destruída em 40 dias. O povo,
porém, se arrependeu, e a profecia não se cumpriu – algo que preocupava Jonas
o tempo inteiro. Essa era, sem dúvida, parte da razão de sua relutância em ir para
Nínive. Assim, nem todas as profecias sobre Israel foram cumpridas da maneira
precisa como Deus havia predito, porque elas dependiam, pelo menos em parte,
de como o povo responderia a elas. Em princípio, muitas dessas profecias
tiveram seu cumprimento em Cristo, mas isso não quer dizer que elas também
envolvam o tempo do fim.
De fato, é contraproducente aplicar profecias direcionadas aos judeus do
Antigo Testamento para o fim dos tempos, pois elas não são dirigidas ao
moderno estado de Israel, mas ao povo de Deus daquela época. Muitas vezes, os
escritores do Novo Testamento usam a linguagem dessas profecias para mostrar
como Deus cumprirá, em última instância, a intenção delas. Por exemplo, em
Isaías 65:17-21, o profeta fala de um novo Céu e uma nova Terra.

Pois eis que Eu crio novos Céus e nova Terra; e não haverá lembrança
das coisas passadas, jamais haverá memória delas. Mas vós folgareis e
exultareis perpetuamente no que Eu crio; porque eis que crio para
Jerusalém alegria e para o seu povo, regozijo. E exultarei por causa de
Jerusalém e Me alegrarei no Meu povo, e nunca mais se ouvirá nela nem
voz de choro nem de clamor. Não haverá mais nela criança para viver
poucos dias, nem velho que não cumpra os seus; porque morrer aos cem
anos é morrer ainda jovem, e quem pecar só aos cem anos será
amaldiçoado. Eles edificarão casas e nelas habitarão; plantarão vinhas e
comerão o seu fruto.

Embora essa passagem se pareça com uma profecia sobre o novo Céu e a nova
Terra, quando Jesus vem pela segunda vez, certos elementos ali presentes não se
encaixam. Por exemplo, na nova Terra não haverá morte, e, no texto, a promessa
é de que as pessoas viverão por longo tempo antes de morrer. Essa profecia era
para Israel, mas, por causa da infidelidade do povo, ela nunca foi cumprida
exatamente como predita. Mas Deus não desiste. Ele faz algo ainda melhor – Ele
promete um novo Céu e uma nova Terra onde não haverá mais morte. Assim, em
Apocalipse 21 e 22, João toma emprestada a linguagem dessa profecia e a deixa
ainda melhor. Mas seria um erro tentar aplicar todos os detalhes literais da
profecia de Isaías para o tempo do fim e para a nova Terra que Deus está
preparando para nós.
Um dos problemas da teoria do arrebatamento secreto é que seus seguidores
tomam muitas profecias do Antigo Testamento e as aplicam aos últimos dias e ao
estado de Israel de maneira inconsistente com o contexto original. Levando em
conta o contexto original, nenhuma profecia prediz a reconstrução do Templo de
Jerusalém antes da segunda vinda de Cristo.
Mesmo não sendo bíblica a teoria do arrebatamento secreto, que diferença faz
você acreditar que Jesus vai chegar sete anos depois de um arrebatamento ou
crer que não haverá nenhum arrebatamento?
A teoria do arrebatamento secreto contém vários perigos inerentes. Um deles é
a falsa expectativa de termos uma segunda oportunidade para tomar a decisão de
seguir a Cristo depois do rapto. Mesmo se você não for arrebatado secretamente,
ainda terá outra oportunidade de ser salvo. Isso dá uma falsa noção de segurança
que pode nos iludir com o pensamento de que aquilo que fazemos agora não é
nada importante. Naturalmente, nossa motivação para seguir a Cristo sempre
deve ser o amor por Ele e nosso apreço pelo dom gratuito de Sua graça, e não o
medo do futuro. Entretanto, é importante saber que o presente tem importância.
Outra ameaça é a distração em relação às verdadeiras questões do plano de
salvação, focalizando apenas cenários políticos, conspirações e ideias
especulativas, em vez de confiar em Cristo. Por exemplo, recentemente ouvi
pelo rádio um pregador dizer que se você quer estar preparado para o
arrebatamento e para a segunda vinda, deve manter os olhos fixos no Oriente
Médio. Não seria muito melhor estarmos focalizados em Cristo e em Sua
Palavra?
Muitos dos que creem no rapto também passam muito tempo especulando
sobre quem será o anticristo e o que ele fará. Mas a visão de um único anticristo
no fim dos tempos não se coaduna com aquilo que a Bíblia ensina, como
veremos no capítulo seguinte.
Você pode ser tentado a dizer: “Com todas essas opiniões e interpretações
conflitantes, como poderei estar preparado para me encontrar com Cristo quando
Ele vier?” A única salvaguarda é manter o olhar centralizado em Cristo e nas
mensagens que Ele deixou em Sua palavra. Deus nos ama e não quer que
nenhum de nós se perca. Ele nos guiará se assim pedirmos. Quando oramos pelo
Espírito, Ele nos mostrará a verdade de Sua Palavra e nos manterá em segurança.
Lembre-se de que Ele está do nosso lado e é a única salvaguarda.
Há algum tempo, minha esposa viajou do sul da Califórnia, onde moramos,
até Seattle para visitar nossa filha e sua família. Ela foi de avião até o aeroporto
Sea-Tac, alugou um carro e dirigiu até Lynnwood, ao norte de Seattle, onde
nossa filha mora. Já era tarde da noite.
Eu já estava dormindo quando o telefone tocou. Era minha esposa. “Estou
perdida. Ajude-me, por favor!” Sem gostar da ideia de que minha esposa
estivesse perdida, sozinha, tarde da noite, pedi que ela descrevesse o local onde
estava. Eu queria saber se havia algum ponto de referência que me ajudasse a
identificar onde ela estava. “Você se lembra de um grande estacionamento de
caminhões da U-Haul? Eu passei por ali”, ela disse.
“Ótimo”, respondi. Ela estava a menos de dois quilômetros de seu destino.
Onde estaria em relação àquele ponto de referência? Bem, ela disse que tinha
passado por ali 20 minutos atrás, mas não pôde ver como sair da autoestrada. De
alguma maneira, ela fez meia volta e, agora, não sabia onde estava. Pedi a ela
que procurasse um sinal que indicasse a autoestrada de modo que eu, pelo
menos, soubesse em que autoestrada ela estava. Finalmente, ela achou um sinal
que dizia que estava na 405.
“Na 405!”, exclamei. “Não era para você estar na 405 para ir para a casa da
nossa filha. Se você chegou a estar a menos de dois quilômetros da casa dela,
como é que foi parar tão longe? Você está a mais de 15 quilômetros de lá! Como
pôde se distanciar tanto?” Por alguma razão, ela não gostou muito das minhas
perguntas e disse: “Olha, só quero que você me ajude a chegar na casa da nossa
filha, está bem?” Liguei, então, o computador, achei o local exato em que ela
estava e a guiei até o condomínio onde morava nossa filha. Com o mapa
computadorizado e o telefone, eu a coloquei exatamente em seu destino.
Fiquei feliz por poder fazê-lo. Eu amo minha esposa e não queria vê-la
perdida no meio da noite. Deus nos ama ainda mais e não quer que fiquemos
perdidos em meio à escuridão. Por isso é que Ele nos deu Sua Palavra, Seu
Espírito e Sua promessa de estar conosco. Se mantivermos os olhos focalizados
nEle, Ele nos guiará em segurança até Seu reino.
E o perigo do anticristo? Na verdade, pode ser um conforto ver o que a Bíblia
diz sobre essa figura. É o assunto do próximo capítulo.

Durante vários anos, dei aulas sobre o livro de Apocalipse para estudantes
universitários. Embora eu gostasse de ensinar aquela matéria, identificava nela
algo de perigoso. Sendo eu o professor, todos presumiam que eu fosse uma
autoridade em Apocalipse. Em razão disso, inundavam-me com perguntas para
muitas das quais, devo confessar, eu não tinha resposta. Um assunto sobre o qual
muitos alunos perguntavam era o anticristo. Quem será o anticristo? Quando ele
virá? Como o reconheceremos? O que ele fará? Uma vez que eu ensinava sobre
aquele livro, certamente eu saberia tudo sobre o anticristo.
Todavia, muitos de meus inquiridores ficaram surpresos quando eu lhes disse
que a palavra “anticristo” não aparece no livro do Apocalipse. É verdade, como
veremos mais tarde, que o conceito pode aparecer, mas a própria palavra não
está em parte alguma do livro. Ali estão as bestas e o vários poderes que Satanás
usa, e não há dúvida de que esses poderes se opõem a Cristo, mas o livro não
chama nenhum deles, explicitamente, de “anticristo”.
Essa não é, no entanto, a única surpresa que o Novo Testamento apresenta
sobre o anticristo. Algumas pessoas ficam ainda mais admiradas ao descobrir
que o Novo Testamento fala do anticristo, não em termos do futuro, mas do
passado e presente. Normalmente pensamos no anticristo como uma figura que
vai aparecer imediatamente antes da volta de Cristo, mas o Novo Testamento
menciona que o anticristo já chegou.
E isso nos traz a terceira surpresa. Normalmente pensamos sobre o anticristo
(singular); mas o Novo Testamento fala sobre anticristos (plural). Na realidade,
não existe apenas um anticristo, mas muitos anticristos.
Não fique apenas com minha palavra sobre este assunto. Examinemos juntos
as evidências do Novo Testamento. Somente dois livros do Novo Testamento
mencionam explicitamente o anticristo, a saber, as duas cartas de João, que
chamamos de 1 João e 2 João.
Para que vejamos claramente o material, vamos começar examinando cada
passagem, notando fatos interessantes nelas. Depois de fazer uma pesquisa
rápida nessas passagens, poderemos resumir o ensinamento do Novo Testamento
sobre o anticristo e perguntar o que ele significa para nós. Examinemos,
primeiramente, 1 João 2:18-27.

Filhinhos, já é a última hora; e, como ouvistes que vem o anticristo,
também, agora, muitos anticristos têm surgido; pelo que conhecemos que é
a última hora. Eles saíram de nosso meio; entretanto, não eram dos nossos;
porque, se tivessem sido dos nossos, teriam permanecido conosco; todavia,
eles se foram para que ficasse manifesto que nenhum deles é dos nossos. E
vós possuís unção que vem do Santo e todos tendes conhecimento. Não vos
escrevi porque não saibais a verdade; antes, porque a sabeis, e porque
mentira alguma jamais procede da verdade. Quem é o mentiroso, senão
aquele que nega que Jesus é o Cristo? Este é o anticristo, o que nega o Pai e
o Filho. Todo aquele que nega o Filho, esse não tem o Pai; aquele que
confessa o Filho tem igualmente o Pai. Permaneça em vós o que ouvistes
desde o princípio. Se em vós permanecer o que desde o princípio ouvistes,
também permanecereis vós no Filho e no Pai. E esta é a promessa que ele
mesmo nos fez, a vida eterna. Isto que vos acabo de escrever é acerca dos
que vos procuram enganar. Quanto a vós outros, a unção que dEle
recebestes permanece em vós, e não tendes necessidade de que alguém vos
ensine; mas, como a sua unção vos ensina a respeito de todas as coisas, e é
verdadeira, e não é falsa, permanecei nEle, como também ela vos ensinou.

Vários fatos interessantes sobre o anticristo emergem desse texto.
Primeiramente, João deixa claro que seus leitores já tinham ouvido sobre o
anticristo antes que lhes escrevesse. Ele não está introduzindo um conceito novo.
O apóstolo também considera sua época como a última hora, um tempo quando
os cristãos podiam esperar ver o cumprimento das profecias sobre as quais
tinham ouvido no passado. Também notamos que aqui o anticristo está no plural.
João vê um grupo inteiro de pessoas a quem chama de anticristos. Tendo várias
características em comum, eles parecem ser ex-cristãos. Embora, no passado,
fizessem parte do grupo do qual João participava, eles o deixaram e agora
negavam que Jesus fosse o Cristo ou o Messias. Como resultado, o apóstolo
considera o que eles fizeram como um repúdio tanto ao Pai quanto ao Filho.
Aquelas pessoas não somente rejeitaram os pilares básicos da fé cristã. Elas
também desencaminharam outras pessoas por intermédio de sua falsa doutrina.
João volta ao tema do anticristo em 1 João 4:1-6:

Amados, não deis crédito a qualquer espírito; antes, provai os espíritos se
procedem de Deus, porque muitos falsos profetas têm saído pelo mundo
fora. Nisto reconheceis o Espírito de Deus: todo espírito que confessa que
Jesus Cristo veio em carne é de Deus; e todo espírito que não confessa a
Jesus não procede de Deus; pelo contrário, este é o espírito do anticristo, a
respeito do qual tendes ouvido que vem e, presentemente, já está no mundo.
Filhinhos, vós sois de Deus e tendes vencido os falsos profetas, porque
maior é Aquele que está em vós do que aquele que está no mundo. Eles
procedem do mundo; por essa razão, falam da parte do mundo, e o mundo
os ouve. Nós somos de Deus; aquele que conhece a Deus nos ouve; aquele
que não é da parte de Deus não nos ouve. Nisto reconhecemos o espírito da
verdade e o espírito do erro.

Aqui, João estabelece alguns critérios para testar doutrinas e aqueles que as
apresentam. Os cristãos fiéis reconhecerão que Jesus Cristo veio em carne. O
apóstolo declara que os que se opõem a essa afirmação representam o espírito do
anticristo. Outra vez, João confirma que seus leitores ouviram que o anticristo
está vindo e, de novo, enfatiza que ele já chegou. Mas com essa afirmação vem,
também, a certeza. O poder de Deus é maior que o espírito do anticristo.
Portanto, os crentes não precisam temê-lo.
Há somente mais uma referência específica à palavra “anticristo” no Novo
Testamento, além dessas duas passagens de 1 João. Ela se encontra em 2 João,
que é uma pequena carta com apenas 14 versos. Depois de confirmar o grande
mandamento do amor, o qual também encontramos no evangelho de João e em 1
João, o apóstolo adverte seus leitores sobre os falsos mestres: “Porque muitos
enganadores têm saído pelo mundo fora, os quais não confessam Jesus Cristo
vindo em carne; assim é o enganador e o anticristo. Acautelai-vos, para não
perderdes aquilo que temos realizado com esforço, mas para receberdes
completo galardão. Todo aquele que ultrapassa a doutrina de Cristo e nela não
permanece não tem Deus; o que permanece na doutrina, esse tem tanto o Pai
como o Filho” (2 João 7-9).
Aqui, João se refere ao mesmo problema já tratado em sua primeira carta.
Alguns que, no passado, haviam participado da comunhão cristã não mais
reconheciam que Cristo viera em carne. Outra vez, ele usa a palavra “anticristo”
para se referir àquele grupo e, novamente, utiliza o plural. Muitos enganadores
estão por aí. Segundo o apóstolo, qualquer um que contribui para enganar é
anticristo.
O que devemos fazer com as referências ao “anticristo” do Novo Testamento?
Teriam elas algum significado para nós? Para encontrar a resposta, vamos
explorar com mais detalhes alguns dos fatos que já comentamos.
Em primeiro lugar, é intrigante que João veja em seus dias a última hora, um
fato que já encontramos no capítulo 3. Para os escritores do Novo Testamento, a
ressurreição de Jesus Cristo já foi o começo do fim – as primícias que trouxeram
segurança absoluta de que o fim chegaria. A promessa de Jesus sobre Sua volta
seria cumprida. O mundo já era um lugar diferente pois a vitória tinha sido
conquistada com a crucifixão e a ressurreição. Desse momento em diante, os
cristãos esperam o dia em que aquela vitória será plenamente manifestada, na
segunda vinda de Cristo. Assim, não era nenhuma surpresa para João que, no
alvorecer dessa nova era, aqueles eventos preditos para os últimos dias já
estivessem evidentes para o mundo. E isso incluía o aparecimento do anticristo.
Em segundo lugar, vimos como o apóstolo deixou claro que as pessoas já
esperavam pelo anticristo. Ele não estava introduzindo nada que eles não
tivessem ouvido antes. Naturalmente, não temos nenhuma predição específica ao
usarmos a palavra “anticristo”, mas certamente aquilo que o próprio Jesus disse
nos dá o pano de fundo. Quando lemos Marcos 13 e o registro paralelo da
declaração de Jesus em Mateus 24, vemos que o Salvador previu que falsos
cristos e falsos messias apareceriam. Indubitavelmente, Sua previsão levou à
expectativa de que o anticristo viria. Também encontramos outros escritores do
Novo Testamento se referindo ao mesmo conceito, mas com palavras diferentes.
Em 2 Tessalonicenses 2, Paulo menciona a chegada do homem da iniquidade. E,
naturalmente, o livro do Apocalipse fala de várias bestas, entidades da Terra que
manifestam a obra e a vontade da besta maior, o dragão, que é o próprio Satanás
(ver Apocalipse 12 e 13, por exemplo). Em outras palavras, João está alinhado
com um padrão de ensinamento cristão da igreja primitiva. Mas, sob inspiração
divina, João também aplica esse ensinamento às circunstâncias presentes.
Em seguida, notamos o problema específico em discussão. Aqueles a quem
João rotula de anticristos negam que Jesus Cristo veio em carne. Em outras
palavras, eles rejeitam a Jesus como o Cristo. Quando lemos as cartas de João, é
como se estivéssemos ouvindo somente um dos lados de uma conversa
telefônica. Não sabemos exatamente o que aqueles oponentes estavam dizendo
nem exatamente quem eram eles, mas podemos ter uma ideia. Por exemplo,
alguns elementos da igreja primitiva tentavam mesclar sua fé com certos
ensinamentos pagãos de seu tempo. Mais tarde, essas pessoas viriam a ser
conhecidas como gnósticos. Uma de suas crenças básicas era o dualismo,
segundo o qual a matéria seria algo mau. A criação do mundo material muitas
vezes era vista como um ato infeliz de um deus menor e mau, que teria
corrompido a vida ao aprisionar centelhas da divindade dentro da matéria.
Naturalmente, os que aceitavam ideias como essa dificilmente acreditariam
em Jesus como sendo verdadeiramente humano e divino. Um Cristo divino não
poderia, para eles, ser realmente humano e viver em carne humana. Os antigos
gnósticos cristãos tinham maneiras diferentes de contornar a ideia da
encarnação, ou seja, o ensinamento de que o Verbo se fez carne (João 1:14).
Alguns deles diziam que Jesus não era realmente humano. Apenas aparentava
ser humano. Outros ensinavam que o Cristo divino adotou o corpo de Jesus
apenas temporariamente. Mas era comum ao gnosticismo a visão de que Jesus
Cristo não poderia ser tanto divino como humano.
Não sabemos, de fato, se os oponentes de João eram gnósticos ou se
simplesmente compartilhavam de algumas das ideias dos gnósticos. De qualquer
modo, a história do gnosticismo na igreja mostra como era possível, para o
apóstolo, encontrar-se com pessoas que negavam que Jesus fosse o Cristo.
Finalmente, notamos que João dá um passo ousado. Não importava quem
fossem os indivíduos, ele os via como um cumprimento do anticristo que estava
por vir. Seus ensinos falsos e, especialmente, suas tentativas de enganar as
pessoas e de desviar os cristãos afastando-os de Jesus Cristo eram uma evidência
de compactuarem com o espírito do anticristo. Para João, o anticristo era mais do
que apenas uma figura em particular que emergiria em um dado momento. O
anticristo, obviamente, incluía a obra do espírito satânico a desafiar a Cristo e a
levar as pessoas para longe do Salvador.
Qual é o significado disso tudo para nós, hoje? Atualmente, existe muita
especulação acerca do conceito de um futuro anticristo. Para muitos, tornou-se
uma obsessão descobrir exatamente quem é o anticristo e quando ele vai
aparecer. Mas se levarmos João a sério, todo esse assunto sobre o anticristo é
algo mais amplo do que apenas uma especulação ou obsessão. O perigo do
anticristo não tem sido uma ameaça apenas para um povo durante um
determinado tempo. Ao contrário, há um perigo contínuo de sermos enganados e
acabarmos participando do espírito do anticristo. De fato, se considerarmos
seriamente as palavras de João, qualquer um de nós pode ser um anticristo se
estivermos levando as pessoas a se afastarem da crença genuína em Jesus Cristo
como o Salvador.
Em outras palavras, o que cremos e ensinamos é vital. Não de maneira
meramente abstrata e teórica, mas em relação à nossa afirmação central de que
Jesus Cristo é o nosso Salvador. Muitas forças e poderes no mundo podem tentar
nos afastar da fé em Jesus Cristo. Devemos estar continuamente vigilantes.
Como revela o livro do Apocalipse, Satanás pode operar por intermédio de
indivíduos, de instituições religiosas e de entidades políticas para anular nosso
compromisso com Cristo. Tudo isso, de acordo com João, pode ser rotulado de
“anticristo”.
Embora tenhamos que estar continuamente atentos, é importante que nos
lembremos da certeza que é dada repetidas vezes por João. O poder de Cristo é
suficiente para que evitemos o mal e a falsidade. Se estivermos comprometidos
com Ele, verdadeiramente Aquele que está em nós é maior do que aquele que
opera por meio do anticristo.
Veja bem, quando o Novo Testamento fala sobre o anticristo, o que importa
não é meramente um código secreto que precisamos descobrir para que saibamos
exatamente quando o anticristo vai chegar e quem será ele. Em vez disso, o que
realmente importa é estarmos continuamente vigilantes contra o espírito do
anticristo e seguros de que, se nos mantivermos focalizados em Jesus Cristo, já
teremos vencido o espírito do anticristo, e não precisamos temer.
Quando olhamos para todos os problemas que há no mundo, as tentações para
o mal, os atos e ensinamentos destrutivos de Satanás, que bênção é lembrar que
Aquele que está em nós (Cristo) é maior do que aquele que está no mundo
(Satanás, que está por trás do espírito do anticristo)! Em Jesus Cristo, somos
vitoriosos.

Alguns anos atrás, eu estava cortando o cabelo em uma barbearia no estado de
Michigan, onde estudava. O barbeiro me perguntou onde eu morava, e respondi
que era no sul da Califórnia. “Eu nunca moraria ali”, ele respondeu. E continuou:
“Ali eu não vou nem de visita!” Quando lhe perguntei o motivo, ele disse: “Por
causa dos terremotos.” Embora eu argumentasse que mais pessoas morressem a
cada ano por conta dos tornados que ocorrem na região central dos Estados
Unidos do que nos terremotos da Califórnia, ele não se convenceu.
Quando os discípulos perguntaram a Jesus sobre os sinais de Sua vinda no fim
do mundo, Ele falou sobre terremotos, mas o que Ele disse foi surpreendente.
Geralmente pensamos nessas catástrofes – terremotos, fomes e guerras – como
sinais do fim, mas Jesus vira tudo de cabeça para baixo. Lemos sobre essa
discussão em Mateus 24:1-3:

Tendo Jesus saído do templo, ia-Se retirando, quando se aproximaram
dEle os Seus discípulos para Lhe mostrar as construções do templo. Ele,
porém, lhes disse: Não vedes tudo isto? Em verdade vos digo que não ficará
aqui pedra sobre pedra que não seja derribada. No monte das Oliveiras,
achava-Se Jesus assentado, quando se aproximaram dEle os discípulos, em
particular, e Lhe pediram: Dize-nos quando sucederão estas coisas e que
sinal haverá da Tua vinda e da consumação do século.

Como já notamos no capítulo seis deste livro, os discípulos levantaram um
problema complicado que consistia, na verdade, de duas perguntas sobre duas
coisas diferentes. As duas perguntas eram “Quando?” e “Que sinal haverá da
Tua vinda e da consumação do século?” Concluímos que a preocupação dos
discípulos era com o “quando” e com o “sinal”. Mas isso envolvia dois aspectos
diferentes: a destruição do Templo de Jerusalém e a volta de Cristo no fim dos
tempos. Provavelmente, eles pensaram nas duas coisas como se fossem apenas
um evento. Para eles, se o Templo fosse derrubado, isso deveria ser o fim do
mundo. Por isso não perceberam que as duas coisas estariam separadas por
séculos.
A resposta de Jesus também foi um tanto complicada. A dificuldade está na
associação de dois eventos. Algo do que Ele disse obviamente está baseado na
destruição de Jerusalém, ocorrida em 70 d.C. Por exemplo, Sua instrução para
que fugissem da Judeia foi específica para a área em que ocorreu a destruição do
Templo. Mas Sua declaração de que Sua vinda seria como um relâmpago, que
ilumina desde o Oriente até o Ocidente e é visto claramente por todos, não se
restringia a Jerusalém. Tinha que ver com o segundo advento.
Sua resposta também é complexa porque Ele não responde à pergunta dos
discípulos de maneira direta. Como vimos no capítulo seis, Jesus começou com a
admoestação acerca dos falsos messias e falsos profetas. Depois disso, Ele
mencionou catástrofes normalmente consideradas como sinais da vinda do
Messias. Mas pareceu mudar o foco ao dizer que essas coisas não eram sinais.
Vejamos o que diz Mateus 24:6-8: “E, certamente, ouvireis falar de guerras e
rumores de guerras; vede, não vos assusteis, porque é necessário assim
acontecer, mas ainda não é o fim. Porquanto se levantará nação contra nação,
reino contra reino, e haverá fomes e terremotos em vários lugares; porém tudo
isto é o princípio das dores.”
Jesus diz que não devemos nos alarmar ao vermos essas coisas. Isso ainda não
é o fim. Elas são ocorrências que têm lugar nesse período de espera por Ele.
Esses eventos são apenas o começo. À medida que vamos lendo o capítulo,
vemos que Jesus realmente não revela muito para os discípulos sobre como os
sinais podem ajudar no cálculo do tempo de Sua chegada. Ele usa a palavra
“sinal” somente duas vezes mais no capítulo. A primeira está em Mateus 24:24,
em que Ele fala de sinais e maravilhas que os falsos messias fariam e, a segunda,
está em Mateus 24:30, 31, em que Ele se refere à Sua vinda como um sinal:
“Então, aparecerá no céu o sinal do Filho do homem; todos os povos da Terra se
lamentarão e verão o Filho do homem vindo sobre as nuvens do céu, com poder
e muita glória. E Ele enviará os Seus anjos, com grande clangor de trombeta, os
quais reunirão os Seus escolhidos, dos quatro ventos, de uma a outra
extremidade dos céus.”
O verdadeiro “sinal” é a segunda vinda de Jesus trazendo o reino prometido
com a vitória sobre o pecado e a morte. Assim, em vez de dar uma lista de
indicadores que os discípulos pudessem usar para calcular o tempo da Sua volta,
Ele diz que o verdadeiro sinal será Seu próprio retorno.
O Novo Testamento emprega a palavra “sinal” de diferentes maneiras. Muitas
vezes Jesus a usou de modo negativo para se referir aos milagres que as pessoas
queriam que Ele realizasse a fim de provar Suas alegações sobre quem Ele era.
Um exemplo disso aparece em Mateus 12:38-41:

Então, alguns escribas e fariseus replicaram: Mestre, queremos ver de
Tua parte algum sinal. Ele, porém, respondeu: Uma geração má e adúltera
pede um sinal; mas nenhum sinal lhe será dado, senão o do profeta Jonas.
Porque assim como esteve Jonas três dias e três noites no ventre do grande
peixe, assim o Filho do homem estará três dias e três noites no coração da
Terra. Ninivitas se levantarão, no Juízo, com esta geração e a condenarão;
porque se arrependeram com a pregação de Jonas. E eis aqui está quem é
maior do que Jonas.

Os fariseus e os doutores da Lei queriam que Jesus fizesse alguma coisa
espetacular, mas Ele se recusou a fazê-lo, pois sabia que apenas admiração não
levaria ninguém ao verdadeiro arrependimento. O coração deles somente poderia
ser transformado se O reconhecessem como seu Salvador, que morreria por eles
e depois ressuscitaria. Um sinal que apenas os deixasse maravilhados os faria
esperar por algo ainda mais espetacular no dia seguinte.
O mesmo acontece com os sinais do fim dos tempos. As pessoas, ao se
emocionarem com os eventos que supostamente mostram que a vinda de Jesus
está próxima, frequentemente perdem o entusiasmo quando aquela emoção
desvanece com o passar do tempo. Jesus não queria que as pessoas O seguissem
por verem milagres espetaculares ou porque estavam certas de que Sua segunda
vinda era iminente. Em vez disso, Ele desejava que eles O aceitassem
simplesmente por terem reconhecido que eram pecadores necessitados de um
Salvador, e que Ele tinha vindo de Deus a fim de ser o Salvador. Ele almejava
que eles pudessem ver as questões envolvidas na batalha entre Deus e Satanás
para conquistar a mente dos seres humanos. Somente isso levaria ao verdadeiro
arrependimento e a uma nova vida.
Mesmo assim, embora Jesus se recusasse a apresentar sinais como se fossem
truques de mágica para os fariseus e doutores da Lei, Ele de fato realizou
milagres, e o Evangelho de João chama esses milagres de “sinais”. João registra
sete milagres, os quais geralmente estão ligados ao ensinamento de Jesus sobre
quem Ele é e como Ele veio para salvar. Por exemplo, em João 6, Jesus alimenta
5.000 pessoas com apenas cinco pães e dois peixes oferecidos por um menino.
Depois, Ele fala de Si mesmo como o pão da vida que veio ao mundo. Em João
8, Jesus fala sobre ser a luz do mundo. Depois, em João 9, Ele abre os olhos de
um homem cego como uma demonstração do que faz a luz do mundo.
Finalmente, em João 11, Jesus afirma ser a ressurreição e a vida. Depois disso,
Ele ressuscita Lázaro dos mortos.
Os “sinais” no Evangelho de João mostram que, por intermédio do ministério
de Jesus, o reino de Deus está sendo instaurado em nosso mundo. Eles apontam
para o sinal definitivo e último ao Jesus voltar, trazendo fim para o pecado e a
morte.
Em vista disso, o que estaria Jesus tentando dizer aos Seus discípulos em
Mateus 24, quando eles perguntam sobre os sinais que indicam a segunda vinda?
Em realidade, Ele não dá uma lista de eventos que nos permita calcular quão
próxima está Sua volta. À luz de como Ele respondeu aos fariseus que estavam
em busca de um sinal, seria uma surpresa se Jesus mudasse o foco, tendo em
vista o tipo de vida que Ele queria que os discípulos vivessem. Vemos isso
especialmente no fim do capítulo 24 de Mateus. Em vez de dizer como descobrir
quando é o tempo do fim, Ele explica que, a despeito do tempo, eles devem ser
fiéis a Ele e viver de acordo com os princípios e valores que Ele ensinou. Para
ilustrar, Jesus usa duas analogias, ambas fazendo referência a servos fiéis. Veja o
que está escrito em Mateus 24:42-51:

Portanto, vigiai, porque não sabeis em que dia vem o vosso Senhor. Mas
considerai isto: se o pai de família soubesse a que hora viria o ladrão,
vigiaria e não deixaria que fosse arrombada a sua casa. Por isso, ficai
também vós apercebidos; porque, à hora em que não cuidais, o Filho do
homem virá.
Quem é, pois, o servo fiel e prudente, a quem o senhor confiou os seus
conservos para dar-lhes o sustento a seu tempo? Bem-aventurado aquele
servo a quem seu senhor, quando vier, achar fazendo assim. Em verdade
vos digo que lhe confiará todos os seus bens. Mas, se aquele servo, sendo
mau, disser consigo mesmo: Meu senhor demora-se, e passar a espancar os
seus companheiros e a comer e beber com ébrios, virá o senhor daquele
servo em dia em que não o espera e em hora que não sabe e castigá-lo-á,
lançando-lhe a sorte com os hipócritas; ali haverá choro e ranger de dentes.

Quando o patrão se ausenta e deixa o servo encarregado de cuidar de seus
negócios, ele não quer que o servo seja fiel apenas quando acha que o patrão vai
chegar. Os servos devem ser fiéis porque se importam com o patrão e levam a
sério as responsabilidades que lhes foram confiadas. Jesus deseja que Seus
discípulos O sirvam porque O amam e desejam fazer Sua vontade, e não
simplesmente porque Ele pode aparecer a qualquer momento. Nosso
relacionamento com Ele deve estar alicerçado no reconhecimento da graça que
foi derramada sobre nós.
Em Mateus 25, Jesus conta mais três histórias que ilustram o tipo de vida que
Ele deseja para Seus discípulos. Essa vida envolve comprometimento com Ele, o
uso responsável dos dons que Ele dá e o cuidado e a compaixão para com o
próximo. Em outras palavras, Ele quer que Seus seguidores comecem a viver
agora de acordo com os princípios e valores do reino de Deus. (Falaremos mais
sobre isso no capítulo 13.)
Frequentemente pensamos que o mundo e o reino de Deus são coisas
separadas. Imaginamos que o reino de Deus está lá em cima, e o nosso mundo
está aqui embaixo, onde vivemos. Mas vemos no ministério de Jesus a
sobreposição das duas coisas. Em Cristo, o reino já está instaurado neste mundo.
E, quando vivemos de acordo com os valores de Seu reino, somos, de certa
maneira, sinais desse reino. Damos testemunho a respeito dele e deixamos que as
pessoas saibam que o reino em sua forma definitiva está chegando.
Naturalmente, percebemos que não é possível trazer totalmente o reino de
Deus para este mundo, pois Ele é quem acabará com o pecado e a morte. Mas
podemos apresentar uma alegria antecipada desse reino e atrair outras pessoas a
Deus, de modo que estejam preparadas para nele entrar. Assim fazendo, nos
tornamos, de fato, “sinais” do reino. Os sinais não são simplesmente eventos que
apontam para a vinda de Cristo. São também pessoas que testemunham diante do
mundo acerca do reino de Deus.
É um reino cujos valores estão de cabeça para baixo, em comparação com a
maioria dos valores deste mundo. Ali reinam a humildade em vez da arrogância,
a generosidade em vez da avareza, e serviço em vez de status. Jesus chama Seus
discípulos para viver os valores de Seu reino agora mesmo, tornando-se, assim,
expressões da realidade do reino e da promessa de que ele está próximo. Esse
fiel testemunho do reino ocorre não por causa de uma sequência cronológica do
tempo, mas em virtude do comprometimento com Jesus.
Isso quer dizer que o tempo não tem nenhuma importância ou que nunca
deveríamos enfatizar a vinda de Cristo? Embora nossa fidelidade a Deus deva
ser constante, ainda que não baseada no tempo de Seu aparecimento, seria tolice
ignorar as abundantes evidências de que estamos vivendo nos últimos dias deste
mundo. Por exemplo, Jesus declara em Mateus 24:22: “Não tivessem aqueles
dias sido abreviados, ninguém seria salvo; mas, por causa dos escolhidos, tais
dias serão abreviados.”
Ao longo da maior parte da história de nosso mundo, uma ideia dessas teria
parecido absurda. Como poderia ter fim a vida de toda a Terra? As pessoas até
poderiam causar muitos estragos ao planeta, mas pôr fim à vida humana seria
impossível! Hoje, porém, a humanidade é capaz de acabar com a vida na Terra.
Basta acionar dois ou três botões. E se o passado nos pode guiar de alguma
maneira, vemos que nunca fomos muito bons em nos conter quando temos poder
à nossa disposição. Vivemos em um tempo em que a vida humana enfrenta
grandes ameaças. Seria, portanto, uma tolice não querer enxergar o significado
do tempo em que vivemos. Eu creio que Jesus virá em breve. Mas não é o tempo
de Sua volta que deve nos motivar a viver fielmente, e sim o que Ele é e aquilo
que tem feito por nós.
Portanto, embora Jesus nunca tenha respondido à pergunta sobre “quando”,
temos evidências ao nosso redor de que o fim se aproxima rapidamente. Outra
declaração de Jesus, em Mateus 24, diz que o evangelho será pregado em todo o
mundo antes de Sua volta (verso 14). Hoje, temos a capacidade de espalhar as
boas-novas de salvação por intermédio dos meios de comunicação e de maneiras
que jamais havíamos sonhado até a geração anterior. Isso é uma indicação de que
estamos vivendo na última parte dos dias finais. No próximo capítulo,
examinaremos a passagem do livro do Apocalipse que nos dá mais detalhes
sobre o que significa o evangelho ser pregado em todo o mundo em preparação
para a volta de Jesus.

Jesus disse que o evangelho do reino seria pregado em todo o mundo (Mateus
24:14). Em Apocalipse 14, João tem a visão acerca de três anjos que proclamam
esse evangelho para preparar o mundo para a volta de Jesus. A passagem nos
mostra o que há de crucial no evangelho e por que é tão importante que
evangelizemos o mundo todo. As mensagens dos três anjos aparecem em
Apocalipse 14:6-12.

Vi outro anjo voando pelo meio do céu, tendo um evangelho eterno para
pregar aos que se assentam sobre a Terra, e a cada nação, e tribo, e língua, e
povo, dizendo, em grande voz: Temei a Deus e dai-Lhe glória, pois é
chegada a hora do Seu juízo; e adorai Aquele que fez o Céu, e a Terra, e o
mar, e as fontes das águas.
Seguiu-se outro anjo, o segundo, dizendo: Caiu, caiu a grande Babilônia
que tem dado a beber a todas as nações do vinho da fúria da sua
prostituição.
Seguiu-se a estes outro anjo, o terceiro, dizendo, em grande voz: Se
alguém adora a besta e a sua imagem e recebe a sua marca na fronte ou
sobre a mão, também esse beberá do vinho da cólera de Deus, preparado,
sem mistura, do cálice da Sua ira, e será atormentado com fogo e enxofre,
diante dos santos anjos e na presença do Cordeiro. A fumaça do seu
tormento sobe pelos séculos dos séculos, e não têm descanso algum, nem de
dia nem de noite, os adoradores da besta e da sua imagem e quem quer que
receba a marca do seu nome. Aqui está a perseverança dos santos, os que
guardam os mandamentos de Deus e a fé em Jesus.

O primeiro anjo proclama o evangelho eterno a todos os que habitam na Terra.
Por várias razões, é significativo o fato de que sua mensagem é eterna, como
também é o “evangelho”. Primeiramente, ele mostra que o evangelho não muda.
Ele é o mesmo desde o começo até o fim. Existe somente um evangelho. A
mensagem divina de salvação é a mesma tanto no Antigo como no Novo
Testamento. Em segundo lugar, a própria palavra “evangelho” significa “boas-
novas”. Precisamos nos lembrar de que a mensagem de Deus, incluindo tudo o
que Ele nos fala sobre o fim do mundo, é uma boa-nova.
Vamos explorar um pouco mais esse pensamento. A boa-nova é que somos
salvos não por nossas boas obras, mas pela graça de Deus revelada em Jesus
Cristo. A segunda vinda é parte da salvação pela graça. Assim, a mensagem final
de Deus para o mundo não é uma má notícia; é uma boa notícia. O fato de que
ela é uma boa-nova eterna mostra que é a mesma história da graça revelada por
Deus a Seu povo desde o princípio. É bem verdade que a compreendemos de
uma maneira plena somente quando Jesus veio ao mundo. Mas, mesmo antes
disso, a humanidade também era salva pela graça de Deus. Alguns têm a visão
equivocada de que Deus tinha uma maneira de salvar as pessoas no Antigo
Testamento e outra maneira depois que Jesus veio. Em certo período, as obras
das pessoas garantiriam a elas a salvação. Elas seriam salvas por guardar a Lei.
Agora, afirmam alguns, tudo isso mudou.
Em Romanos 4, entretanto, Paulo mostra que Abraão foi salvo pela fé. Ele não
tinha conhecimento, naturalmente, do que Jesus viria fazer neste mundo, mas
confiou na promessa de que Deus tomaria providências para a salvação. Foi essa
confiança em Deus que trouxe salvação a Abraão. A única mensagem de
salvação encontrada por toda a Bíblia é: confiar em Deus e em Sua graça
salvadora. Por isso é tão importante entender que o primeiro anjo tem o
“evangelho eterno” para proclamar aos que habitam na Terra. A mensagem do
tempo do fim não é nova. Ela pode até ser apresentada com um novo senso de
urgência, mas é o evangelho eterno.
Essa proclamação do evangelho eterno é o cumprimento de Mateus 24:14 e
prepara o caminho para a volta de Jesus. Ela também mostra o que é crucial para
o homem fazer em resposta a notícias tão boas, preparando-se assim para a volta
de Jesus. Ela envolve nossa adoração. Somos chamados a temer e a reverenciar a
Deus, a dar-Lhe glória e adorá-Lo. Quando compreendemos o que Deus tem
feito por nós, a única resposta possível e apropriada é a adoração.
Você já notou como tendemos a dar louvor àquilo que apreciamos ou àquilo
que nos deixa emocionados? Quando você estiver com um amigo que acabou de
adquirir um carro ou um telefone celular novo, não se surpreenda se ouvir
algumas palavras de louvor. Do mesmo modo, se verdadeiramente entendermos
a enormidade da graça de Deus por nós, a única resposta apropriada é o louvor e
a adoração. Portanto, a mensagem do evangelho eterno é inevitavelmente
seguida de louvor.
Adorar algo que não seja o verdadeiro Deus é adorar um ídolo, pois somente
Ele é digno de adoração. Ao Deus julgar o mundo em preparação para a volta de
Seu Filho, Ele convoca todos os povos da Terra para adorá-Lo. Essa mensagem
da vinda do reino não conhece limites ou distinções entre a humanidade. Ela é
para cada nação, cada etnia, cada língua e cada cultura. Todos são chamados
para adorar o único e verdadeiro Deus. Ele é o Criador de tudo o que existe.
Assim, as boas-novas de salvação mediante a graça de Deus se tornam ainda
melhores pelo fato de incluir a todos.
O segundo anjo fala de um falso sistema de adoração, chamado de Babilônia.
No Antigo Testamento, Babilônia era inimiga do povo de Deus. Ela destruiu o
Templo e levou os judeus ao cativeiro. Portanto, Babilônia representa os valores
opostos a Deus e Seu povo. Apocalipse 18 explica detalhadamente a declaração
acerca da queda de Babilônia. Nesse capítulo, lamentos fúnebres são entoados
por Babilônia, contrastando com os hinos cantados ao longo do Apocalipse em
louvor a Deus.
O que há de tão ruim sobre Babilônia? Em Apocalipse 18, vemos que seu
estilo de vida é o luxo, a ganância e a opressão. O verso 5 diz que seus pecados
se amontoaram até o Céu, mas ela não se lamenta nem reconhece o que tem
feito. O que fez ela, então? Só para dar um exemplo, ela acumulou riquezas para
si mesma à custa de outros. Ela negociou todo tipo de mercadoria, desde o ouro
e a prata até o linho fino e delicadas especiarias (versos 11-13). Além disso, ela
estava interessada em poder e status. Por isso, os reis da Terra lamentaram sua
queda (verso 9).
O que o segundo anjo de Apocalipse 14 está dizendo é que todo sistema de
valores que se concentra na ganância, luxo, poder, status, violência e opressão
representados por Babilônia é um barco naufragado. Pode parecer que detenha o
poder, mas está em oposição ao reino de Deus, o qual triunfará finalmente.
Babilônia pode parecer poderosa e atraente, mas não durará muito. Saia dela,
pois sua queda é inevitável. Babilônia está afundando!
O terceiro anjo alerta contra a adoração da besta e de sua imagem em lugar da
adoração ao verdadeiro Deus. Em outras palavras, Satanás tem um falso sistema
de adoração para levar as pessoas a se afastarem de Deus. A fim de entender essa
besta, precisamos voltar a Apocalipse 12, onde encontramos um dragão. Houve
um tempo em que o dragão esteve no Céu. Ali, ele provocou guerra, e foi
lançado à Terra, onde tentou matar Aquele que nasceu no mundo e um dia sobre
ele governará – uma clara referência a Jesus. Apocalipse 12:9 identifica
claramente esse dragão: “E foi expulso o grande dragão, a antiga serpente, que
se chama diabo e Satanás, o sedutor de todo o mundo, sim, foi atirado para a
Terra, e, com ele, os seus anjos.”
Quando lemos Apocalipse 13, percebemos que o dragão, Satanás, também
opera através de outras entidades. Nos versos 1-4 encontramos uma besta e a
imagem dessa mesma besta, com quem ela divide o poder.

Vi emergir do mar uma besta que tinha dez chifres e sete cabeças e, sobre
os chifres, dez diademas e, sobre as cabeças, nomes de blasfêmia. A besta
que vi era semelhante a leopardo, com pés como de urso e boca como de
leão. E deu-lhe o dragão o seu poder, o seu trono e grande autoridade.
Então, vi uma de suas cabeças como golpeada de morte, mas essa ferida
mortal foi curada; e toda a Terra se maravilhou, seguindo a besta; e
adoraram o dragão porque deu a sua autoridade à besta; também adoraram a
besta, dizendo: Quem é semelhante à besta? Quem pode pelejar contra ela?

Em outras palavras, Satanás usa agências políticas e religiosas no mundo para
executar seus propósitos, tentando seduzir pessoas, afastando-as da verdadeira
adoração ao Deus criador. A segunda besta, que é uma imagem à primeira,
impõe a exigência de ser adorada, a mesma da primeira besta. Outra vez, o
problema é a adoração. A quem adoraremos? Ao Deus verdadeiro ou ao dragão e
aos poderes terrestres por meio dos quais ele opera?
Como reconhecer a diferença? Na mensagem do terceiro anjo, vemos
claramente que os fiéis a Deus, os que O adoram, são aqueles que obedecem a
Seus mandamentos e são fiéis a Jesus (Apocalipse 14:12). Eles guardam Seus
mandamentos não para ser salvos, mas porque foram salvos. Essa sempre foi a
intenção de Deus quanto aos mandamentos. No relato de Êxodo 20 sobre a
entrega dos Dez Mandamentos, encontramos a afirmação de que Deus já havia
tomado a iniciativa de salvar Seu povo. Ele anunciou: “Eu sou o Senhor, teu
Deus, que te tirei da terra do Egito, da casa da servidão” (verso 2).
O livramento do povo de Deus da escravidão do Egito é o grande símbolo de
Sua graça salvadora no Antigo Testamento. O Senhor nunca tencionou que o
povo obtivesse salvação por meio da obediência aos mandamentos. A
observância dos mandamentos era sua resposta à graça salvadora de Deus.
No fim, o povo de Deus será aquele que, por estar tão grato por Sua salvação,
responde adorando-O, observando Seus mandamentos e sendo fiel a Jesus.
Receber a marca da besta é permitir que esse poder mundano substitua a
verdadeira adoração movida pela fé em Deus e a obediência aos Seus
mandamentos por um falso objeto de adoração. A marca está gravada na fronte e
na mão, uma provável referência à fidelidade rendida à besta tanto no
pensamento quanto nas ações.
Duas interessantes referências nas mensagens desses anjos dizem respeito a
um dos mandamentos de Deus frequentemente negligenciado pelo mundo cristão
de hoje. A linguagem usada para descrever o verdadeiro Deus criador que deve
ser adorado (“adorai aquele que fez o céu, e a terra, e o mar, e as fontes das
águas”) é oriunda do quarto mandamento da Lei de Deus, que encontramos em
Êxodo 20:8-11:

Lembra-te do dia de sábado, para o santificar. Seis dias trabalharás e
farás toda a tua obra. Mas o sétimo dia é o sábado do Senhor, teu Deus; não
farás nenhum trabalho, nem tu, nem o teu filho, nem a tua filha, nem o teu
servo, nem a tua serva, nem o teu animal, nem o forasteiro das tuas portas
para dentro; porque, em seis dias, fez o Senhor o Céu e a Terra, o mar e
tudo o que neles há e, ao sétimo dia, descansou; por isso, o Senhor
abençoou o dia de sábado e o santificou.

A segunda referência está em Apocalipse 14:11. Ali encontramos que não há
descanso para aqueles que adoram a besta e sua imagem. O mandamento do
sábado nos pede para lembrar de Deus como o Criador e para descansar em
memória de Sua criação. Assim, Apocalipse parece dar atenção especial ao
mandamento do sábado por manter o povo de Deus focalizado na adoração ao
único Deus verdadeiro. Mas a besta tenta desviar a atenção do Deus criador e de
Seu convite para que Seu povo descanse nEle.
Portanto, um dos mais importantes dentre os eventos dos últimos dias, sobre o
qual devemos saber, é a tentativa da besta de afastar-nos da adoração ao
verdadeiro Deus e criador. É possível identificar a besta e saber quem ela é?
Mais importante, talvez, do que dar à besta uma identidade específica é ver quais
são as questões sobre a sua existência e suas atividades. Pode ser que, em épocas
diferentes, Satanás opere por meio de entidades diferentes. É difícil imaginar que
nos dias de João, quando os membros das sete igrejas destacadas nos capítulos 2
e 3 tomaram conhecimento do livro do Apocalipse, eles não tenham pensado em
Roma pagã como a besta. Roma estava tentando fazer com que eles se
afastassem de Deus e se curvassem diante do imperador e de sua imagem.
Sabemos que pelo menos uma pessoa, na igreja de Pérgamo (ver Apocalipse
2:13), foi martirizada pelas mãos do governo romano por ser fiel a Cristo. Mas,
naturalmente, Roma pagã já não está mais aqui. Que poderes pretendem nos
afastar da verdadeira adoração e da obediência aos mandamentos de Deus hoje?
Eu estava dando uma aula sobre o livro do Apocalipse muitos anos atrás,
expondo minhas ideias sobre a identidade da besta, quando um aluno lá no fundo
da sala levantou a mão e disse: “Eu acho que, em meu país, estamos enfrentando
a besta.” Pedi que ele explicasse melhor. Então, ele contou que no país africano
em que morou, um regime hostil ao cristianismo estava no poder. Ali era exigido
que as pessoas renunciassem à sua fé e adorassem o novo líder do país. Os
soldados iam de porta em porta e ordenavam que as pessoas se curvassem em
adoração diante da estátua de seu líder. Caso não o fizessem, seriam mortos.
Alguns dos familiares daquele aluno chegaram, de fato, a ser mortos. O que eu
poderia dizer a ele? Deveria dizer: “Não, vocês não estavam enfrentando a besta,
pois a besta é algo bem diferente”?
Devo confessar que não disse isso. Parece que os problemas da luta entre
Cristo e Satanás apresentados em Apocalipse 14 são exatamente os mesmos que
aquele aluno e sua família enfrentaram em seu país. Talvez devamos dizer: “Se o
sapato tem sua medida, use-o.” Quer-nos parecer que o aluno experimentou
evidências do poder do dragão.
Mas isso não significa que podemos sair por aí acusando pessoas de serem a
besta só porque não gostamos delas. As Escrituras apresentam algumas
descrições claras desse poder. A besta tenta induzir as pessoas à falsa adoração,
desviando-as do verdadeiro Criador, e procura forçá-las a desobedecer à lei de
Deus. Ela usa a ameaça de morte para minar a obediência à lei divina e a
fidelidade a Jesus.
A boa-nova é que ninguém precisa receber a marca da besta. Em realidade,
não precisamos ficar preocupados com a besta se mantivermos o foco na
adoração ao único Deus verdadeiro, sendo fiéis a Cristo, à Sua mensagem e
guardando os mandamentos de Deus (todos os 10, inclusive o convite para
adorar a Deus no dia de sábado). Esse é o perfil dos que pertencem ao povo de
Deus. Ao estarmos focalizados em Deus, Satanás e Sua besta não têm poder
sobre nós.
Em nossa sociedade agitada, é fácil negligenciar aquilo que esses anjos
requerem como preparação para a volta de Cristo, ou seja, a adoração. O
problema crucial na vida é a quem adoramos. O livro de Hebreus nos adverte
sobre o perigo de negligenciar a adoração em grupo.
“Guardemos firme a confissão da esperança, sem vacilar, pois quem fez a
promessa é fiel. Consideremo-nos também uns aos outros, para nos
estimularmos ao amor e às boas obras. Não deixemos de congregar-nos, como é
costume de alguns; antes, façamos admoestações e tanto mais quanto vedes que
o Dia se aproxima (Hebreus 10:23-25).”
Nossa segurança na preparação para a volta de Cristo tem que ver com a
maneira como adoramos. É importante fazer parte de uma comunidade que
observa os mandamentos de Deus e permanece fiel a Jesus.
Há poucos meses, conversei com uma mulher que havia tido uma péssima
semana. Ela foi ao médico para uma biópsia e voltou com o diagnóstico de
câncer. Desolada, decidiu não ir à igreja. Magoada que estava com Deus, não
queria ver outras pessoas. Além disso, ela realmente não tinha nada para vestir.
Mesmo assim, ela ainda sentia a necessidade de estar com o povo de Deus e
de se unir a ele em adoração ao Criador. Perto da hora do culto, ela percebeu que
tinha, sim, algo para vestir. Aquilo fora apenas uma desculpa. Durante a oração,
na igreja, seu pedido silente foi que Deus lhe tirasse o medo. Nunca, ela me
disse, uma oração foi respondida tão rapidamente. Ela ouviu o testemunho de
outra pessoa que passara por experiência semelhante à dela. Depois, uniu-se ao
cântico de um hino de louvor a Deus, algo que ela achara que nunca mais
poderia fazer, por causa do fardo que tinha no coração. Então foi para casa
agradecida pelo privilégio de poder adorar a Deus e com o sentimento de que um
enorme peso fora retirado de seus ombros.
À medida que nos aproximamos do fim da história do mundo, Deus nos
convida para que O adoremos. Quando assim fazemos, não precisamos estar
preocupados com a marca da besta, pois estaremos em meio ao povo de Deus, os
que obedecem a Seus mandamentos e permanecem fiéis a Jesus.

Ao longo deste livro, temos enfatizado que a prometida volta de Jesus,
doutrina encontrada por toda a Bíblia, é um tema de alegre esperança. O povo de
Deus anela pela volta de Cristo. Assim mesmo, estou certo de que alguns
estejam ponderando: “Você está realmente nos contando toda a história? Quando
lemos a Bíblia, descobrimos relatos surpreendentes, e até assustadores, sobre a
segunda vinda e os eventos que a antecederão. Não haveria, então, razões para
medo e trauma, em vez de alegria e esperança?”
Os que fazem essa pergunta podem ter certa razão. Na Bíblia, encontramos, de
fato, referências a pestilências, perseguições e pragas. Por exemplo, quando
Jesus fala com os discípulos sobre a Sua volta, em Mateus 24, capítulo que já
vimos várias vezes, Ele os adverte de que ainda sofrerão perseguição. Aqui está
o que Ele diz em Mateus 24:9: “Então, sereis atribulados, e vos matarão. Sereis
odiados de todas as nações, por causa do Meu nome.”
De alguma maneira, isso não parece muito alegre ou esperançoso, não é?
Ninguém realmente deseja ser odiado ou perseguido. Mas a situação fica ainda
pior quando vamos ao livro de Apocalipse. Nos capítulos 6 e 7, lemos sobre a
abertura de selos que desencadeiam várias catástrofes. No quarto selo, a profecia
é particularmente amedrontadora: “Quando o Cordeiro abriu o quarto selo, ouvi
a voz do quarto ser vivente dizendo: Vem! E olhei, e eis um cavalo amarelo e o
seu cavaleiro, sendo este chamado Morte; e o Inferno o estava seguindo, e foi-
lhes dada autoridade sobre a quarta parte da terra para matar à espada, pela fome,
com a mortandade e por meio das feras da Terra” (Apocalipse 6:7, 8).
A morte de um quarto da humanidade é algo muito perturbador. Mas quando o
Apocalipse fala sobre as sete trombetas nos capítulos 8 e 9, a situação fica ainda
pior. Notamos, por exemplo, a quinta trombeta (também chamada de “primeiro
ai”). “Foi-lhes também dado, não que os matassem, e sim que os atormentassem
durante cinco meses. E o seu tormento era como tormento de escorpião quando
fere alguém. Naqueles dias, os homens buscarão a morte e não a acharão;
também terão ardente desejo de morrer, mas a morte fugirá deles” (Apocalipse
9:5, 6).
Então, na sexta trombeta (o “segundo ai”), um terço da humanidade perece.

Assim, nesta visão, contemplei que os cavalos e os seus cavaleiros
tinham couraças cor de fogo, de jacinto e de enxofre. A cabeça dos cavalos
era como cabeça de leão, e de sua boca saía fogo, fumaça e enxofre. Por
meio destes três flagelos, a saber, pelo fogo, pela fumaça e pelo enxofre que
saíam da sua boca, foi morta a terça parte dos homens; pois a força dos
cavalos estava na sua boca e na sua cauda, porquanto a sua cauda se parecia
com serpentes, e tinha cabeça, e com ela causavam dano (versos 17-19).

Há nisso alguma semelhança com uma alegre esperança? Mas fica ainda pior.
Ao chegarmos ao capítulo 16, encontramos as sete pragas, as quais conseguem
superar os sete selos e as sete trombetas em sua destruição e terror. Quando os
anjos derramam as sete pragas sobre a Terra, ocorre o seguinte:
1. Chagas afligem os seres humanos.
2. O mar se transforma em sangue.
3. Os rios e fontes de água se transformam em sangue.
4. O Sol queima a Terra com fogo.
5. A Terra fica em total escuridão.
6. O rio Eufrates seca preparando o caminho para a batalha do Armagedom.
7. Relâmpagos, trovões, terremotos e granizo causam desastres na Terra.
Podemos imaginar quão terrível é o granizo em Apocalipse 16:21: “Também
desabou do céu sobre os homens grande saraivada, com pedras que pesavam
cerca de um talento; e, por causa do flagelo da chuva de pedras, os homens
blasfemaram de Deus, porquanto o seu flagelo era sobremodo grande.”
O fato de termos pedras de 35 a 40 quilos aproximadamente caindo do céu
sobre nossa cabeça não é lá uma ideia muito agradável! Como é possível, então,
enfatizar a alegria e a esperança da segunda vinda, quando pestilências,
perseguições e pragas parecem evocar muito mais terror e pânico? Teria o tema
da segunda vinda de Jesus mais relação com pestes e pragas do que com
promessa?
Permita-me dar cinco razões pelas quais podemos estar esperançosos acerca
do futuro e da volta de Jesus, a despeito das menções de pestilências,
perseguições e pragas que encontramos na Bíblia. Todas as cinco razões vêm das
Escrituras. Vamos examiná-las:

1. Deus promete estar conosco.


É verdade que Jesus disse para os discípulos que eles sofreriam perseguição.
Mas, Ele também prometeu que estaria com eles, por meio do Espírito Santo,
quando passassem por isso. Eles não ficariam sós. Em Marcos 13:11, Ele
prometeu: “Quando, pois, vos levarem e vos entregarem, não vos preocupeis
com o que haveis de dizer, mas o que vos for concedido naquela hora, isso falai;
porque não sois vós os que falais, mas o Espírito Santo.”
Os discípulos de Jesus poderiam ser oprimidos e aprisionados, mas não seriam
abandonados. Não precisariam sequer se preocupar com o que dizer nessas
situações, pois o Espírito Santo estaria com eles para guiá-los e protegê-los. Esse
pensamento deve nos confortar se, porventura, viermos a temer os últimos dias.

2. Antes da descrição das pragas, encontramos um grande hino de


vitória.
As sete últimas pragas, que são praticamente a parte final dos tempos de
calamidades na Terra, ocorrem em Apocalipse 16. Mas, o capítulo 15 descreve
cânticos de vitória e livramento. Percebemos que, várias vezes, a visão do povo
de Deus já vitorioso, em volta do trono, interrompe a sequência da narrativa.
Essas visões não são cronológicas, pois aparecem de maneira alternada no
decorrer do livro. A ideia é que, em pontos cruciais, João abre o véu celestial
para mostrar aos leitores seu destino final. Esse destino é estar em volta do trono
de Deus cantando hinos de louvor pela grande vitória da vida eterna que Ele lhes
concedeu. É significativo que uma dessas visões de vitória ocorra exatamente
antes que as pragas sejam derramadas sobre a Terra. Vejamos a alegria e o
sentimento de triunfo que emanam de Apocalipse 15:1-4:

Vi no céu outro sinal grande e admirável: sete anjos tendo os sete últimos
flagelos, pois com estes se consumou a cólera de Deus. Vi como que um
mar de vidro, mesclado de fogo, e os vencedores da besta, da sua imagem e
do número do seu nome, que se achavam em pé no mar de vidro, tendo
harpas de Deus; e entoavam o cântico de Moisés, servo de Deus, e o cântico
do Cordeiro, dizendo: Grandes e admiráveis são as Tuas obras, Senhor
Deus, Todo-Poderoso! Justos e verdadeiros são os Teus caminhos, ó Rei das
nações! Quem não temerá e não glorificará o Teu nome, ó Senhor? Pois só
Tu és santo; por isso, todas as nações virão e adorarão diante de Ti, porque
os Teus atos de justiça se fizeram manifestos.

Por que haveria cânticos de júbilo antes de algo tão terrível como as sete
últimas pragas? Não parece lógico. Mas, para João, faz muito sentido.
Encontramos cânticos associados com as pragas descritas no livro de Êxodo.
Faraó, governador do Egito, estava oprimindo o povo de Deus. Ele os estava
forçando a trabalhar duramente como escravos. O Senhor ordenou-lhe que
deixasse o povo ir. Mas Faraó prosseguia negando-lhes a libertação. Finalmente,
Deus enviou dez pragas para ajudar a convencer Faraó a libertar os israelitas.
Mesmo assim, Faraó ainda se recusava. As dez pragas se assemelham às sete
últimas pragas que vemos em Apocalipse, mas não são idênticas. As dez pragas
do Êxodo foram:
1. O Rio Nilo se transformou em sangue.
2. Rãs
3. Piolhos
4. Moscas
5. Morte de todo o gado
6. Chagas
7. Granizo
8. Gafanhotos
9. Granizo
10. Morte dos primogênitos
Finalmente Faraó deixa o povo ir, somente para mudar de ideia e sair ao
encalço deles. Quando parecia que os havia encurralado, Deus abriu o Mar
Vermelho, e eles atravessaram em segurança. Faraó e suas tropas, porém,
pereceram nas águas ao tentar seguir o povo de Deus.
Depois da vitória, Moisés os liderou ao cantarem o cântico de Moisés, o qual
encontramos em Êxodo 15. Aqui estão apenas os quatro primeiros versos:
“Cantarei ao Senhor, porque triunfou gloriosamente; lançou no mar o cavalo e o
seu cavaleiro. O Senhor é a minha força e o meu cântico; ele me foi por
salvação; este é o meu Deus; portanto, eu o louvarei; ele é o Deus de meu pai;
por isso, o exaltarei. O Senhor é homem de guerra; Senhor é o seu nome. Lançou
no mar os carros de Faraó e o seu exército; e os seus capitães afogaram-se no
mar Vermelho”.
Como você pode ver, esse é um cântico de vitória. Deus resgatou Seu povo.
De acordo com Apocalipse 15, o povo que está ao redor do trono de Deus canta
o cântico de Moisés, um cântico de triunfo. Mas não é apenas o cântico de
Moisés, é também o cântico do Cordeiro, o Cordeiro que tira o pecado do
mundo, o Cordeiro que é digno de louvor. Notamos, porém, mais uma diferença.
Israel cantou o cântico de Moisés depois das pragas e da libertação. O cântico de
Moisés e do Cordeiro é cantado antes das sete pragas, pois a morte e a
ressurreição de Jesus fazem com que a vitória final do povo de Deus seja tão
certa, que o cântico pode ser cantado anteriormente. No Apocalipse, assim como
no livro de Êxodo, as pragas são um prelúdio da libertação do povo de Deus.
Apesar delas, podemos manter a esperança, pois antes mesmo que sejam
derramadas, o povo de Deus obtém a vitória e pode ver, em visão, o seu destino
final com Deus. Se a corte celestial pode cantar com alegria antes das pragas,
não deveríamos ter uma jubilosa esperança, apesar delas?

3. As pragas caem sobre os ímpios.


Vejamos o que é mencionado sobre a primeira praga: “Saiu, pois, o primeiro
anjo e derramou a sua taça pela Terra, e, aos homens portadores da marca da
besta e adoradores da sua imagem, sobrevieram úlceras malignas e perniciosas”
(Apocalipse 16:2).
Durante o Êxodo, as pragas caíram sobre Faraó e seus seguidores. Em
Apocalipse, as pragas atingem os que têm a marca da besta e adoram a sua
imagem. Já vimos que não precisamos receber a marca da besta e, por isso, não
temos que nos preocupar com as pragas. Deus cuidará de Seu povo. Certamente,
isso não significa que os cristãos escaparão do sofrimento, assim como eles não
estão livres dos sofrimentos que os afligem no mundo de hoje. Mas Deus estará
com eles e deles cuidará.
Notamos mais uma vez que, na terceira praga, os que se opuseram ao povo de
Deus e que derramaram o seu sangue são aqueles a quem lhes é dado sangue
para beber: “Então, ouvi o anjo das águas dizendo: Tu és justo, Tu que és e que
eras, o Santo, pois julgaste estas coisas; porquanto derramaram sangue de santos
e de profetas, também sangue lhes tens dado a beber; são dignos disso” (versos
5, 6).
A praga está ligada ao seu pecado. Eles derramaram o sangue dos filhos de
Deus e, agora, o sangue está de volta para atormentá-los. Os ímpios “bebem
sangue”. É o que merecem. O texto original usa o termo “são dignos”, um
contraste óbvio com o Cordeiro de Apocalipse 5, que é digno de louvor. Assim,
Ele é digno de louvor, enquanto eles são dignos de “beber sangue”.
Mesmo aqui, o objetivo de Deus é trazer ao arrependimento aqueles que
recebem as pragas, exatamente como Ele tentou convencer Faraó por meio das
pragas no Egito. E como fez Faraó, os ímpios se recusam a arrepender-se, como
vemos na quarta praga: “O quarto anjo derramou a sua taça sobre o Sol, e foi-lhe
dado queimar os homens com fogo. Com efeito, os homens se queimaram com o
intenso calor, e blasfemaram o nome de Deus, que tem autoridade sobre estes
flagelos, e nem se arrependeram para lhe darem glória” (versos 8, 9).
Deus está fazendo todo o possível para levar todos ao arrependimento, mas
alguns não estão dispostos a isso. Entretanto, se nos voltarmos para Deus e O
glorificarmos, não precisaremos entrar em pânico por causa das pragas. Isso quer
dizer que Deus é bom apenas para aqueles que O servem, derramando Sua ira
sobre os demais? Se compreendida corretamente, até mesmo a ira de Deus nos
dá razões para ficarmos esperançosos. Isso nos leva à quarta razão para estarmos
jubilosos e esperançosos, apesar das pestilências, perseguições e pragas.

4. A ira de Deus é o outro lado do Seu amor.


João nos diz em Apocalipse 15:1 que as pragas são chamadas de “últimas”
pragas porque, com elas, a “ira” de Deus chegará ao fim. A ira divina certamente
parece uma ideia aterradora! Como poderemos evitar o medo e o pânico com
respeito às futuras pragas, quando elas representam a ira divina?
Quando estudamos a ira de Deus na Bíblia, vemos que ela se manifesta de
duas formas. Uma delas é Sua ação contra o opressor e em favor do oprimido.
Pensemos de novo no êxodo do Egito. Se Faraó persistisse em escravizar e
torturar o povo de Deus – e o Senhor amava Seu povo e queria resgatá-lo –
então, Ele tinha que fazer alguma coisa com Faraó. A ira divina, nesse caso, é o
outro lado do Seu amor resgatador e livrador. Vemos esse amor naquilo que Ele
faz pelo oprimido.
A outra forma é permitindo que Seu povo sofra as consequências de suas
decisões. É o lado oposto de Seu princípio de liberdade. Deus nunca força
ninguém; antes, dá liberdade de escolha. Essa liberdade, porém, tem
consequências. Ela não seria uma verdadeira liberdade se Deus não nos
permitisse passar pelos resultados inevitáveis de nossas decisões. Assim, quando
Paulo nos apresenta o que ele chama de revelação da ira de Deus em Romanos
1:18, o que ele está dizendo é que Deus permite que Seu povo passe pelo
resultado de suas escolhas. Ele repete a expressão três vezes em Romanos 1. No
terceiro caso, ele diz: “E, por haverem desprezado o conhecimento de Deus, o
próprio Deus os entregou a uma disposição mental reprovável, para praticarem
coisas inconvenientes, cheios de toda injustiça, malícia, avareza e maldade;
possuídos de inveja, homicídio, contenda, dolo e malignidade” (versos 28, 19).
Deus dá tanto valor à liberdade que permite que Seu povo receba as
consequências de suas decisões. Mas, mesmo nesse caso, Sua ira não é a última
palavra. Deus os entrega às consequências de suas escolhas, mas apresenta
Cristo para ser o seu Salvador (Romanos 8:32 usa o mesmo verbo empregado
em Romanos 1:28, no sentido de Deus entregar os pecadores, para expressar a
ideia de Cristo sendo entregue para nos salvar).
A ira de Deus, portanto, é realmente o outro lado de Seu amoroso desejo de
honrar a liberdade e nos resgatar da opressão. Assim, nem mesmo a ira divina é
razão para medo e pânico. Ela deve levar-nos a ver o quão misericordioso é Deus
quando O buscamos para obter resgate e salvação.
Mas ainda há outra razão para estarmos esperançosos a despeito das
pestilências, perseguições e pragas.

5. Até mesmo o juízo de Deus é uma boa-nova.


Como já vimos na razão 2, onde apresentamos o cântico de Moisés e do
Cordeiro, a questão central das pragas é mostrar que Deus é justo em tudo. Ele é
fiel e amoroso naquilo que faz para cada ser humano, inclusive em Seus juízos:
“Tu és justo, Tu que és e que eras [...]. Certamente, ó Senhor Deus, Todo-
Poderoso, verdadeiros e justos são os Teus juízos” (Apocalipse 16:5-7).
Em tudo o que abrange a interação de Deus com Seu povo e com este mundo,
Ele tem sido amoroso, fiel e justo. É verdade que o livro de Apocalipse apresenta
um retrato de crescentes dificuldades e desastres na Terra à medida que
passamos pelos selos, trombetas e pragas. Mas em tudo o que Deus faz, Ele tem
um propósito em mente: salvar todos os que permitirem que Ele os redima. Seu
objetivo é ter misericórdia de todos, como mostra Paulo em Romanos 11:32:
“Porque Deus a todos encerrou na desobediência, a fim de usar de misericórdia
para com todos.”
Tudo o que Deus quer é salvar. Se mantivermos os olhos focalizados em
Cristo e em Sua promessa, essa boa-nova nos dará certeza e esperança. Não
precisaremos temer o juízo. Lembre-se do que vimos no capítulo 5, “Vida Eterna
Agora”. Se estivermos em Cristo, já passamos da morte para a vida e já fomos
julgados. O juízo de Deus é uma boa-nova, pois significa que Ele colocará um
fim em todos os problemas trazidos pelo pecado. Pestilências, perseguições e
pragas dão lugar a um novo céu e uma nova Terra, como veremos no capítulo
seguinte.
Por essa razão, o pensamento sobre o juízo de Deus não somente deve ser
livre de medo e pânico – ele dever ser algo que almejamos. Para nós, deve ser
motivo de grande alegria saber que, no fim de tudo, não serão os problemas ou
as pragas que terão a última palavra, mas sim o juízo fiel e justo de Deus que
prevalecerá. É por isso que, em Salmos 96, vemos um quadro de júbilo acerca do
juízo. O salmista nos diz que devemos cantar e nos alegrar porque Deus vem
julgar. E esse júbilo brota não apenas dos seres humanos, mas do mundo inteiro.
Toda a natureza se une em louvor a Deus pelo Seu juízo.

Adorai o Senhor na beleza da sua santidade; tremei diante dEle, todas as
terras. Dizei entre as nações: Reina o Senhor. Ele firmou o mundo para que
não se abale e julga os povos com equidade. Alegrem-se os céus, e a Terra
exulte; ruja o mar e a sua plenitude. Folgue o campo e tudo o que nele há;
regozijem-se todas as árvores do bosque, na presença do Senhor, porque
vem, vem julgar a Terra; julgará o mundo com justiça e os povos, consoante
a Sua fidelidade (Salmo 96:9-13).

Que regozijo se vê em toda a criação! Até o juízo é uma boa notícia.
Pestilências, perseguições e pragas não são motivos para pânico, pois nosso foco
deve estar na grande promessa de salvação.
Uma ocasião, quando o meu filho estava na escola primária, ele considerou
que tinha uma boa razão para estar em pânico. Um dia, ao voltar para a escola
depois de um recesso, seu professor lhe informou que o diretor queria falar com
ele em seu escritório. Convenhamos, quando você está no ensino fundamental, a
coisa mais assustadora é ter que ir à sala do diretor. Aquela longa caminhada
pelo corredor até o temido escritório deixa qualquer criança em pânico.
Para piorar, meu filho sabia exatamente por que ele estava sendo chamado à
sala do diretor, e ele sabia que era culpado. Durante o recesso, ele havia se
envolvido em uma luta com pelotas de barro com outro estudante e, agora, tinha
certeza de que aquela era a razão para o diretor querer falar com ele.
E mais: ele escutou aquela história que os alunos veteranos contam para os
novatos sobre a palmatória pendurada na parede da sala do diretor. E não era
uma palmatória qualquer. Tinha pregos por toda a superfície. Se você fosse
chamado à sala do diretor, sentiria o terror daquele instrumento de tortura.
E o mais assustador de tudo: a briga com pelotas de barro tinha sido com o
filho do diretor! De fato, era um menino muito assustado o que entrou naquele
escritório. A primeira coisa que ele fez foi olhar em volta, à procura da
palmatória pendurada na parede. Não estava ali. Em vez de mostrar a ira
esperada, o diretor sorriu e disse: “Larry, eu gosto de você e não queria que você
se machucasse. Esse negócio de atirar pelotas de barro realmente pode ferir
você. É possível você passar sem essas lutas de pelotas de barro? Eu acho que
você pode. Agora, pode sair, e aproveite bem o seu dia.”
Meu filho saiu dali com um largo sorriso e um profundo suspiro de alívio. Em
vez da ira esperada, ele encontrou amor e graça.
O mesmo ocorre com Deus. Até mesmo Seu juízo é uma boa-nova. Podemos
nos unir ao mundo inteiro nessa jubilosa esperança ao cantarmos: “Folgue o
campo e tudo o que nele há; regozijem-se todas as árvores do bosque, na
presença do Senhor, porque vem, vem julgar a Terra; julgará o mundo com
justiça e os povos, consoante a sua fidelidade” (versos 12 e 13).

Muito do que temos visto até agora tem que ver com o tempo anterior à volta
de Jesus. O que acontecerá? Como devemos viver? Neste capítulo, focalizamos
o que ocorre depois do retorno de Jesus. Antes, porém, vamos recapitular
brevemente alguns acontecimentos anteriores à Sua vinda.
Vimos que o mundo ficará muito pior com os eventos que antecedem o
segundo advento de Cristo. Uma série de pragas trará desastres e catástrofes.
Deus, contudo, continuará a cuidar de Seu povo. E a história seguirá seu curso
até o fim. Como disse Jesus, as pessoas estarão cuidando de seus afazeres
normais assim como, no tempo do dilúvio, as pessoas comiam, bebiam e
casavam seus filhos, desapercebidas do desastre iminente. Vejamos o que Jesus
diz em Mateus 24:37-39: “Pois assim como foi nos dias de Noé, também será a
vinda do Filho do homem. Porquanto, assim como nos dias anteriores ao dilúvio
comiam e bebiam, casavam e davam-se em casamento, até ao dia em que Noé
entrou na arca, e não o perceberam, senão quando veio o dilúvio e os levou a
todos, assim será também a vinda do Filho do homem.”
Em outras palavras, as pessoas iam trabalhar, compravam ações, vendiam
casas, mandavam os filhos para a escola, se arrumavam para casamentos,
conversavam com os amigos pelo Facebook, e uma infinidade de outras
atividades diárias, até o momento da vinda de Jesus. Eles não estavam esperando
nada diferente do normal e costumeiro.
Mas o anormal acontecerá de repente. Jesus aparecerá nas nuvens do céu de
uma maneira visível e audível para que todos O vejam. Será como um relâmpago
que se estende de horizonte a horizonte, e cada olho O verá. A voz do arcanjo
chamará, e a trombeta soará. Enquanto Jesus paira sobre a Terra, as sepulturas se
abrem, e os que confiaram em Deus para a sua salvação saem das tumbas. É, em
realidade, um ato de recriação. Deus chama essas pessoas para a vida e as
transforma. Elas passam a ter um novo corpo, tal como o de Cristo, não mais
sujeito à morte. Como diz Paulo em Filipenses 3:20, 21: “Pois a nossa pátria está
nos céus, de onde também aguardamos o Salvador, o Senhor Jesus Cristo, o qual
transformará o nosso corpo de humilhação, para ser igual ao corpo da Sua glória,
segundo a eficácia do poder que Ele tem de até subordinar a Si todas as coisas.”
Esse novo e glorioso corpo será imortal e incorruptível, como mostra Paulo
em 1 Coríntios 15:51-54:

Eis que vos digo um mistério: nem todos dormiremos, mas
transformados seremos todos, num momento, num abrir e fechar de olhos,
ao ressoar da última trombeta. A trombeta soará, os mortos ressuscitarão
incorruptíveis, e nós seremos transformados. Porque é necessário que este
corpo corruptível se revista da incorruptibilidade, e que o corpo mortal se
revista da imortalidade. E, quando este corpo corruptível se revestir de
incorruptibilidade, e o que é mortal se revestir de imortalidade, então, se
cumprirá a palavra que está escrita: Tragada foi a morte pela vitória.

A transformação ocorre não apenas com os mortos ressuscitados naquele
momento, mas também com os justos ainda vivos quando Cristo chegar.
Também eles receberão um corpo imortal e incorruptível. Então, junto com os
que ressuscitaram, eles serão levados para as nuvens, e os dois grupos se unirão
a Cristo para com Ele estar para sempre, como vemos em 1 Tessalonicenses
4:15-17:

Ora, ainda vos declaramos, por palavra do Senhor, isto: nós, os vivos, os
que ficarmos até a vinda do Senhor, de modo algum precederemos os que
dormem. Porquanto o Senhor mesmo, dada a Sua palavra de ordem, ouvida
a voz do arcanjo, e ressoada a trombeta de Deus, descerá dos Céus, e os
mortos em Cristo ressuscitarão primeiro; depois, nós, os vivos, os que
ficarmos, seremos arrebatados juntamente com eles, entre nuvens, para o
encontro do Senhor nos ares, e, assim, estaremos para sempre com o
Senhor.

A fim de descobrir o que acontece depois da segunda vinda, precisamos ir
novamente ao livro de Apocalipse, especialmente aos três últimos capítulos. No
capítulo 20, verso 4, vemos o grupo que acabamos de mencionar, a saber, os
justos mortos, agora ressuscitados, e os justos vivos, que os acompanham.
Aparentemente, é permitido a eles ver a obra do juízo divino e afirmar que Deus
tem sido justo e verdadeiro em todo o Seu tratamento com a humanidade.
Apocalipse 20:4-6 declara:

Vi também tronos, e nestes sentaram-se aqueles aos quais foi dada
autoridade de julgar. Vi ainda as almas dos decapitados por causa do
testemunho de Jesus, bem como por causa da palavra de Deus, tantos
quantos não adoraram a besta, nem tampouco a sua imagem, e não
receberam a marca na fronte e na mão; e viveram e reinaram com Cristo
durante mil anos. Os restantes dos mortos não reviveram até que se
completassem os mil anos. Esta é a primeira ressurreição. Bem-aventurado
e santo é aquele que tem parte na primeira ressurreição; sobre esses a
segunda morte não tem autoridade; pelo contrário, serão sacerdotes de Deus
e de Cristo e reinarão com Ele os mil anos.

Os remidos de todas as eras se unirão a Cristo no Céu e ali viverão com Ele
por mil anos. Durante esse tempo, receberão autoridade para examinar a obra de
julgamento de Deus para confirmar se ela foi justa em todos os aspectos. Esse
grupo pertence à primeira ressurreição. A segunda morte, que é a morte final e
definitiva, não terá poder sobre eles. Sua morte na Terra foi apenas um sono
temporário do qual Deus os acordará com o clamor do anjo e o som da trombeta.
Transformados, eles estarão imunizados contra a morte.
A passagem, porém, faz referência a outro grupo – “os restantes dos mortos”.
Os que compõem esse grupo são diferentes dos justos que morreram. Eles são os
ímpios mortos. Permanecem em suas sepulturas até que os mil anos terminem, o
que significa que não serão ressuscitados ao Jesus voltar. Em vez disso, eles
simplesmente continuam mortos durante todo esse período e não recebem a
bênção dada ao primeiro grupo. Então, por mil anos, os justos habitarão no Céu
com Cristo, enquanto os ímpios permanecerão na Terra.
E onde está Satanás durante o milênio? Ele se encontra acorrentado
circunstancialmente, pois não tem mais a quem tentar. Os justos estão no Céu, e
os ímpios estão mortos. Ele é deixado no abismo (Terra destruída) para pensar
no que fez, conforme lemos em Apocalipse 20:1-3: “Então, vi descer do céu um
anjo; tinha na mão a chave do abismo e uma grande corrente. Ele segurou o
dragão, a antiga serpente, que é o diabo, Satanás, e o prendeu por mil anos;
lançou-o no abismo, fechou-o e pôs selo sobre ele, para que não mais enganasse
as nações até se completarem os mil anos. Depois disto, é necessário que ele seja
solto pouco tempo.”
O diabo fica simplesmente aprisionado por mil anos sem ter ninguém para
enganar. Mas, de acordo com nosso texto, no fim desse período, ele será
libertado por pouco tempo. Para compreender o que vem a ser isso, precisamos
fazer uma importante inferência a partir do verso 5 e, então, avançar até o verso
7 de Apocalipse 20. Conforme você pode ver na tradução que estamos usando, o
verso 5 é uma declaração parentética. Ela anuncia que o restante dos mortos –
isto é, os ímpios – não ressuscitarão até que os mil anos se acabem, o que sugere
uma ressurreição dos ímpios no fim desses mil anos.
De acordo com o verso 7, isso dará ao diabo outra oportunidade para seduzir
seus seguidores. Ele procurará organizar os justos para derrotar a Deus e Seu
povo: “Quando, porém, se completarem os mil anos, Satanás será solto da sua
prisão e sairá a seduzir as nações que há nos quatro cantos da Terra, Gogue e
Magogue, a fim de reuni-las para a peleja. O número dessas é como a areia do
mar. Marcharam, então, pela superfície da Terra e sitiaram o acampamento dos
santos e a cidade querida; desceu, porém, fogo do céu e os consumiu” (versos 7-
9).
Gogue e Magogue vêm de Ezequiel 38 e 39. Aqui em Apocalipse, a expressão
é uma referência à batalha final em que Satanás e os ímpios, depois da
ressurreição que ocorrerá no fim dos mil anos, tentarão usurpar a cidade de Deus
ao ela descer até a Terra. Mas o fogo os devorará, consumindo-os totalmente. De
acordo com o verso 14, essa é a segunda morte. Para ela não há ressurreição. É a
morte final, definitiva, que trará fim ao pecado. Embora não seja, naturalmente,
o desejo de Deus que ninguém sofra a segunda morte, ainda assim Ele respeita a
liberdade daqueles que não desejem fazer parte de Seu reino. Eles escolheram
rejeitar a Deus e, uma vez que Ele é a fonte da vida, perderão a vida eterna para
sempre.
É nesse ponto, após os mil anos, que Deus trará o lar dos remidos desde o céu
até à Terra. Seu desejo é restaurar nosso planeta para que ele volte ao estado
original como era antes que o pecado aqui entrasse e maculasse sua perfeição.
Depois da derrota e destruição final de Satanás e de suas forças, Deus restaurará
nosso mundo.

Vi novo Céu e nova Terra, pois o primeiro Céu e a primeira Terra
passaram, e o mar já não existe. Vi também a cidade santa, a nova
Jerusalém, que descia do Céu, da parte de Deus, ataviada como noiva
adornada para o seu esposo. Então, ouvi grande voz vinda do trono,
dizendo: Eis o tabernáculo de Deus com os homens. Deus habitará com
eles. Eles serão povos de Deus, e Deus mesmo estará com eles. E lhes
enxugará dos olhos toda lágrima, e a morte já não existirá, já não haverá
luto, nem pranto, nem dor, porque as primeiras coisas passaram. E Aquele
que está assentado no trono disse: Eis que faço novas todas as coisas. E
acrescentou: Escreve, porque estas palavras são fiéis e verdadeiras
(Apocalipse 21:1-5).

Imagine um mundo sem dor, sem pranto nem morte. É isso que Deus está
preparando para os remidos. Ao terminarem os mil anos, esse mundo existirá
para sempre. Nunca mais o pecado se levantará para destruir a beleza da ordem
divina. Por toda a eternidade, os remidos estarão na presença divina. Ele será o
seu Deus, e eles serão o Seu povo. Vemos, assim, que a esperança final de
salvação não é escapar da Terra, mas é viver em uma Terra renovada. Não é
viver sem um corpo, mas é viver com um corpo novo e glorioso. Não é uma
existência etérea em um mundo espiritual, mas é a vida vivida neste planeta
como era a intenção original do Criador. A esperança cristã não é uma fantasia,
mas a restauração de tudo o que existe de bom na vida que Deus criou para nós
desde o princípio.
Os que viverão na cidade de Deus comerão da árvore da vida e beberão
livremente da água da vida (ver Apocalipse 22). E a melhor notícia é que todos
nós estamos convidados. Tudo isso pode ser nosso. Deus quer assim. Tudo o que
precisamos fazer é depositar nossa confiança nEle e aceitar o convite que
encontramos em Apocalipse 22:17: “O Espírito e a noiva dizem: Vem! Aquele
que ouve, diga: Vem! Aquele que tem sede venha, e quem quiser receba de graça
a água da vida.”

Para mim e minha esposa, nada é melhor do que ter nossos filhos e os três
netos em casa, todos ao mesmo tempo. Sempre tentamos fazer desses raros
momentos algo superespecial. Um dia, levamos os meninos à Disneylândia,
também conhecida como o Reino Encantado, para que se divertissem um pouco.
Dois deles de fato se divertiram, mas um dos netos, que normalmente é o mais
alegre dos três, teve um dia ruim. Tudo começou antes mesmo que entrássemos
no parque. Quando paramos para tirar uma foto de toda a família, antes de
passarmos pelo portão, ele não quis parar. Na foto, todos estão sorrindo, menos
ele, que está chorando. Pouco depois de entrarmos no parque, ele insistiu que
estava com fome e precisava comer. Enquanto um dos netos brincava no
carrossel, e o outro se divertia em uma atração diferente, o terceiro neto não quis
experimentar nenhuma brinquedo do parque. Em vez disso, fez com que sua mãe
fosse buscar comida para ele.
Quando decidimos almoçar, ele já não estava mais com fome. Não podia
entender por que tinha que entrar no restaurante conosco, visto que nós éramos
os que estávamos com fome. E as coisas só pioraram depois disso. Quando
fomos embora, já de noite, dois netos estavam radiantes, enquanto um deles
estava infeliz e amuado. À mesa do desjejum, no dia seguinte, o menino que
estivera infeliz no dia anterior disse: “Precisamos voltar à Disneylândia. Eu não
me diverti muito, ontem. Eu estava muito chato.” Ninguém discordou.
Três meninos foram ao Reino Encantado naquele dia, mas apenas dois deles
tinham o espírito do Reino Encantado no coração. O outro nem chegou a
desfrutá-lo porque o espírito do reino não estava dentro dele.
Durante o tempo em que Jesus esteve na Terra, Ele falou bastante acerca de
Seu reino. Sabemos que o reino de Deus só virá de maneira plena no futuro. Em
Mateus 24:14, Jesus declara: “E será pregado este evangelho do reino por todo o
mundo, para testemunho a todas as nações. Então, virá o fim.”
Quando Jesus instituiu a Ceia do Senhor para os discípulos, Ele deu graças e
disse: “Recebei e reparti entre vós; pois vos digo que, de agora em diante, não
mais beberei do fruto da videira, até que venha o reino de Deus” (Lucas 22:17,
18).
Um dia, porém, os fariseus Lhe perguntaram sobre o reino. Eles queriam saber
quando ele teria início. A resposta de Jesus foi realmente intrigante. Lemos sobre
isso em Lucas 17:20, 21: “Interrogado pelos fariseus sobre quando viria o reino
de Deus, Jesus lhes respondeu: Não vem o reino de Deus com visível aparência.
Nem dirão: Ei-lo aqui! Ou: Lá está! Porque o reino de Deus está dentro de vós.”
Jesus disse para os fariseus que o Seu reino não era algo que podiam observar
ou tocar. O Seu reino já está aqui. O Salvador deixa claro que, além do aspecto
futuro do reino que acompanhará a Sua volta, há também um elemento presente,
atual. Neste presente momento, o reino está em meio aos que têm olhos para vê-
lo. Jesus está falando sobre a presença do reino onde as pessoas estejam
dispostas a vê-lo e a vivê-lo em concordância com seus valores, agora. O reino é
tanto para o futuro como para o presente.
A poetisa Elizabeth Barrett Browning se expressa dessa forma (tradução
livre):

A Terra está repleta do Céu;
E cada ordinário arbusto arde com a presença de Deus;
Mas somente aquele que O vê tira o calçado;
Os demais ficam por ali somente para colher as amoras. 3

O apóstolo Paulo também nos apresenta o aspecto presente do reino. Em
Colossenses 1:13, 14, ele diz o que Deus já fez por nós: “Ele nos libertou do
império das trevas e nos transportou para o reino do Filho do Seu amor, no qual
temos a redenção, a remissão dos pecados.”
Notemos o verbo no passado. Muito embora ainda vivamos em um mundo de
pecado e morte, ele não tem mais domínio sobre nós. Deus já nos resgatou do
domínio das trevas e nos transportou para o reino de Seu filho. É uma realidade
presente. O livro de Apocalipse nos ajuda a entender como isso funciona. Como
já vimos em um capítulo anterior, por várias vezes durante a apresentação das
visões o fluxo da narrativa é interrompido para mostrar os santos cantando em
volta do trono de Deus. Esses cânticos são os mesmos que os cristãos da igreja
primitiva cantavam em suas casas transformadas em pequenas igrejas, quando
eles adoravam a Deus. João, portanto, liga a vitória futura em volta do trono com
a experiência presente de cristãos em adoração para indicar que quando
adoramos aqui e agora, já antecipamos a vitória futura, na nova terra, quando
cantaremos em volta do trono de Deus.
João está dizendo que podemos começar a experimentar a música do novo
mundo agora. As melodias da música de Deus – aquela do Seu reino – já chegam
a este mundo. Já podemos desfrutar a música celestial quando adoramos a Deus
com nossos cânticos e nossa vida. N. T. Wright, doutor em Novo Testamento,
afirma: “A ética cristã não é descobrir o que está acontecendo neste mundo e
afinar-se com ele. Não é uma questão de fazer coisas para obter o favor de Deus.
Não é tentar obedecer a livros de regras empoeirados de tempos e lugares muito
distantes. A ética cristã é praticar, no presente, as melodias que cantaremos no
novo mundo estabelecido por Deus.” 4
É assim que nos preparamos para o reino eterno. Ao cantarmos ou tocarmos
essas melodias, podemos dizer que já habitamos no reino de Deus.
Isso significa que temos de nos perguntar como são as melodias do reino.
Quais são os temas musicais que precisamos cantar agora para anunciar o reino e
fazê-lo real? Embora possamos relacionar vários deles, nós nos limitaremos a
uns poucos.

Humildade e serviço
Certo dia, os discípulos de Jesus começaram a discutir sobre qual deles seria o
maior no reino quando ele fosse estabelecido. Tiago e João estavam bastante
confiantes de que ocupariam os dois postos mais elevados, depois de Jesus. Eles
chegaram a envolver a mãe na tentativa de que isso se realizasse. Naturalmente,
os demais discípulos ficaram enfurecidos, e houve uma grande discussão. Mas
Jesus virou de cabeça para baixo todo o conceito que eles tinham sobre o tipo de
música do reino. Disse que o reino nada tinha que ver com um assento de honra
e poder. Ao contrário, o reino tem relação com humildade e sacrifício por outros.
Em Marcos 10:42-45, Jesus diz:

Sabeis que os que são considerados governadores dos povos têm-nos sob
seu domínio, e sobre eles os seus maiorais exercem autoridade. Mas entre
vós não é assim; pelo contrário, quem quiser tornar-se grande entre vós,
será esse o que vos sirva; e quem quiser ser o primeiro entre vós será servo
de todos. Pois o próprio Filho do homem não veio para ser servido, mas
para servir e dar a sua vida em resgate por muitos.

Ser escravo de todos pode não parecer uma ideia muito atrativa, mas Jesus
queria deixar a questão muito clara. O reino não tem nenhuma relação com
poder e status, mas com humilde serviço. E isso não é necessariamente o que
vemos no mundo que nos cerca.
Quando se aproxima o dia das eleições em meu país, a caixa de
correspondência de casa se enche diariamente de folhetos e brochuras que
tentam nos convencer a votar em um candidato específico. Mas quando leio esse
material, não me parece que a humildade seja uma virtude muito importante para
esses candidatos. Ou, pelo menos, não vejo muito disso naquelas publicações. Se
quisermos cantar a música do Céu, devemos começar agora a viver uma vida de
humilde serviço para outros.

Generosidade
O reino de Deus é um governo preocupado com os pobres. Quando Jesus
começou Seu ministério na Terra, Ele mostrou o que bem poderia ser uma
declaração de missão de Seu trabalho: “O Espírito do Senhor está sobre mim,
pelo que me ungiu para evangelizar os pobres; enviou-me para proclamar
libertação aos cativos e restauração da vista aos cegos, para pôr em liberdade os
oprimidos” (Lucas 4:18).
A chegada de Jesus foi algo muito bom para os pobres. Seu reino é um reino
de generosidade, não de avareza.
Certa ocasião, um notável jovem perguntou a Jesus o que ele precisava fazer
para herdar a vida eterna. Cristo respondeu que ele precisaria guardar os
mandamentos. O rapaz disse que ele fazia isso desde menino. Jesus, então,
respondeu que ele poderia fazer algo mais – deveria vender tudo o que tinha e
dar aos pobres. A resposta daquele jovem foi se retirar com tristeza. Os
discípulos ficaram surpresos, mas Jesus os deixou ainda mais aturdidos ao
contar-lhes o que está registrado em Marcos 10:24-27:

Os discípulos estranharam estas palavras; mas Jesus insistiu em dizer-
lhes: Filhos, quão difícil é [para os que confiam nas riquezas] entrar no
reino de Deus! É mais fácil passar um camelo pelo fundo de uma agulha do
que entrar um rico no reino de Deus. Eles ficaram sobremodo
maravilhados, dizendo entre si: Então, quem pode ser salvo? Jesus, porém,
fitando neles o olhar, disse: Para os homens é impossível; contudo, não para
Deus, porque para Deus tudo é possível.

Com Deus, até mesmo o rico pode ser salvo! Mas é difícil, pois não se vê
muita generosidade nem espírito de compartilhamento entre muitos ricos, mas
sim avareza e ganância. E a ganância traz, dentro dela, as sementes de sua
destruição. É só observar que muitas crises financeiras que assolam o mundo
são, em última análise, resultado da ganância. Cantar a música do reino neste
mundo é viver com um espírito de generosidade.

Paz
A música do reino de Deus é sobre a paz. Quando Jesus compareceu diante de
Pilatos, depois de ser preso, Ele disse a Pilatos: “O Meu reino não é deste
mundo. Se o Meu reino fosse deste mundo, os Meus ministros se empenhariam
por Mim, para que não fosse Eu entregue aos judeus; mas agora o Meu reino não
é daqui” (João 18:36).
O reino de Jesus é um reino de não violência, no qual não se vence pela força.
É um reino em que as pessoas dão a outra face (ver Mateus 5:39) não em sinal
de fraqueza, mas de um poder que resiste à violência recusando-se a buscar
vingança. Isso faz cessar a espiral da violência, evitando a escalada da mesma, o
que é inevitável quando retaliamos.
Na Missa Solemnis, de Beethoven, o quinto movimento inclui as palavras “O
Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo” e “Dános paz”. Quando o coro
começa a cantar “Dá-nos paz (dona nobis pacem)”, os tímpanos rufam o sonido
da guerra e os trompetes sugerem uma marcha para a batalha. Mas o coro
continua em seu canto pela paz, até que o clamor “dá-nos paz” vence. A
orquestra e o coro terminam a peça musical em uma grande e crescente paz. A
música do reino é a música da paz.

Alegria
A música do reino também é uma música de alegria. Quando Paulo escreveu a
carta aos Romanos, a igreja estava dividida por contender sobre certos detalhes,
como o que deveriam comer e beber. Os membros adotaram posições diferentes,
passando a julgar e a depreciar os que não se mostravam de acordo. O apóstolo
tentou uni-los, dizendo que o reino não tinha nada que ver com aquela atitude.
Em Romanos 14:17, ele diz: “Porque o reino de Deus não é comida nem bebida,
mas justiça, e paz, e alegria no Espírito Santo.”
Visto que a música do reino é uma música de alegria, convém suspeitar das
religiões que promovem o ódio, a hostilidade e a arbitrariedade.

Inclusivismo
O reino de Deus é um reino que busca a todos. Jesus contou a parábola sobre
o homem que ofereceu um banquete e convidou certas pessoas, mas muitas delas
não compareceram. No fim da história, Ele diz: “Muitos virão do Oriente e do
Ocidente, do Norte e do Sul e tomarão lugares à mesa no reino de Deus.
Contudo, há últimos que virão a ser primeiros, e primeiros que serão últimos”
(Lucas 13:29, 30).
Mais uma vez, o reino divino vira as regras de cabeça para baixo. Temos a
tendência de construir muros para manter os indesejáveis do lado de fora. Mas
Deus está empenhado na tarefa de derrubar muros, abrindo Seu reino para todos
os que quiserem entrar, independente de gênero, etnia ou qualquer outra barreira
que tentemos erguer. Cantamos a música do reino quando derrubamos esses
muros, quando unimos as pessoas e quando superamos qualquer vestígio de
preconceito.

Dependência como a de uma criança


Finalmente, o reino de Deus é um reino de dependência como a de uma
criança. Certo dia, algumas mães trouxeram seus filhos para que Jesus os
abençoasse. Seus discípulos estavam certos de que o Mestre estava atarefado
demais para perder Seu tempo com aqueles meninos e meninas, e tentaram
afastá-los dali. Mas Marcos nos conta que Jesus não gostou da atitude dos
discípulos, e lhes disse: “Deixai vir a Mim os pequeninos, não os embaraceis,
porque dos tais é o reino de Deus. Em verdade vos digo: Quem não receber o
reino de Deus como uma criança de maneira nenhuma entrará nele” (Marcos
10:14, 15).
É provável que seja na voz das crianças que ouçamos melhor a música do
reino. Cantar a música do reino é tornar-nos como uma criança, em total
confiança e dependência de Deus.

Resumo
Já podemos cantar aqui a música do reino. Em realidade, é vivendo o reino de
Deus agora que os cristãos dão testemunho do que seja o reino. E ao cantarmos a
música celestial agora, estamos atraindo outros para que também entrem no
reino. A música do reino tem um som diferente e especial. Ela é a música do
Céu, uma vez cantada na Terra em preparação para a volta de Cristo. Os temas
dessa música incluem:
• Humildade, não arrogância.
• Serviço, não status.
• Generosidade, não ganância.
• Paz, não violência.
• Alegria, não hostilidade.
• Braços abertos, não exclusão.
• Dependência como a de uma criança, não autonomia.
Deus nos convida a cantar essas melodias agora. A princípio, pode não parecer
que elas tenham tanto poder. Afinal, ganância, poder, força e arrogância parecem
sempre vencer. Mas Deus diz que Seu reino triunfará no fim de tudo. Apocalipse
11:15 nos assegura que virá o dia – o dia da volta de Jesus – em que “o reino do
mundo se tornou de nosso Senhor e do Seu Cristo, e Ele reinará pelos séculos
dos séculos”.
Embora a manifestação plena do reino de Deus esteja à espera da volta de
Jesus, podemos viver nela até então. Gosto da maneira como N. T. Wright trata
deste assunto no fim de seu livro Simply Christian (Simplesmente Cristão, em
tradução livre). Ele enfatiza que Deus já abriu o novo mundo diante de nós e nos
convida a entrar com Ele.

Feitos para a espiritualidade, chafurdamos na introspecção. Feitos para a
alegria, nos contentamos com prazeres. Feitos para a justiça, clamamos por
vingança. Feitos para a beleza, nos satisfazemos com sentimentos. Mas uma
nova criação já começou. O Sol já desponta no horizonte. Os cristãos são
chamados a deixar para trás, na tumba de Jesus Cristo, tudo aquilo que
pertence ao esfacelamento e ao vazio do mundo presente. Chegou o
momento de, pelo poder do Espírito Santo, assumirmos o papel que nos
compete: nosso papel como seres humanos plenos, agentes, arautos e
mordomos do novo dia que está raiando. É isso, simplesmente, que
significa ser cristãos: seguir a Jesus até o novo mundo, o novo mundo de
Deus, o qual Ele abriu diante de nós. 5

Certa ocasião, perguntaram a Bernice Johnson Reagon, fundadora de um
grupo a capella chamado Sweet Honey in the Rock, como ela conseguia fazer
com que as pessoas que vinham assistir aos concertos do grupo cantassem com
tanto vigor as canções religiosas que o grupo apresentava. Ela disse que tentava
criar um momento em que aquelas pessoas fossem motivadas a cantar, um
momento que as convencia de que elas não tinham outra escolha, senão cantar. E
acrescentou: “Acho que eu faço as pessoas pensarem que, se não cantarem, elas
vão morrer.” 6
Isso resume tudo muito bem. A menos que aprendamos a cantar as músicas do
reino, morreremos, pois é o reino de Deus que triunfará quando Jesus voltar.
Podemos fazer mais do que estar prontos para aquele dia – podemos, agora
mesmo, neste mundo, viver uma vida coerente com o desejo de Deus. Assim
fazendo, poderemos atrair outras pessoas para o reino também. “Certamente,
venho sem demora. Amém! Vem, Senhor Jesus!” (Apocalipse 22:20).

Em uma aula a universitários, eu estava falando sobre a volta de Jesus.
Resolvi perguntar se já haviam sonhado com esse evento. Pensei que haveria
algumas rápidas intervenções antes de continuarmos com o que estava agendado
para a aula daquele dia. Eu estava redondamente enganado! Não fizemos outra
coisa naquele dia a não ser discutir os sonhos que os alunos tiveram. Foram
momentos intensos e de muita emoção.
A primeira surpresa foi descobrir que muitos dos estudantes haviam sonhado
com a segunda vinda. A maioria deles, na verdade. A segunda e mais
perturbadora surpresa foi que todos os sonhos foram negativos. Nenhum deles
jamais havia sonhado com o prazer de ser redimido e passar a eternidade com
Jesus. Cada um dos sonhos era sobre perder a salvação. Jamais me esquecerei de
alguns exemplos vívidos compartilhados por meus alunos.
Um deles disse ter sonhado estar de pé em uma estação, com um grupo de
pessoas que esperava o trem. Quando o trem chegou, o maquinista saiu do trem e
passou a chamar o nome dos passageiros. Uma por uma, aquelas pessoas foram
embarcando. Enquanto esse processo se desenrolava, o estudante reconheceu
que o maquinista era Jesus. O grupo da plataforma ia ficando cada vez menor à
medida que as pessoas embarcavam no trem, até que restou somente um
indivíduo na plataforma. Então, o maquinista disse: “Todos a bordo!” Depois
entrou no trem. O estudante correu até Ele e disse que seu nome deveria estar na
lista. O maquinista disse: “Sinto muito, mas seu nome não está aqui.” Jesus
embarcou no trem e, outra vez, gritou: “Todos a bordo!” O trem partiu deixando
meu aluno sozinho na plataforma. Depois de deixar a estação, o trem começou a
subir ao céu até desaparecer. O rapaz acordou aos prantos.
Outro estudante sonhou que ele, a irmã e os pais estavam no quintal da casa
quando perceberam uma pequena nuvem no céu. Reconhecendo que era a nuvem
que trazia Jesus, os quatro ficaram muito emocionados. À medida que a nuvem
ia se aproximando, eles puderam ver claramente que era mesmo Jesus, e
gritaram: “Este é o nosso Deus a Quem aguardávamos.” Então, a nuvem parou à
altura de suas cabeças. Lentamente, a mãe daquele estudante, o pai e a irmã
começaram a subir. Mas o estudante ficou onde estava. Ele tentava pular e se
agarrar aos familiares. Porém, nada dava certo. Deixado para trás, ele teve que
olhar enquanto sua família subia ao Céu com Cristo.
Naquele dia, outros alunos também descreveram seus sonhos, e todos eram do
mesmo estilo. Nenhum dos sonhos sobre a segunda vinda era alegre e positivo.
Isso é algo terrível e infeliz à luz da mensagem do Novo Testamento acerca da
segunda vinda. Essa mensagem é a boa-nova sobre a qual falamos desde o
primeiro capítulo deste livro. Mas para muitos é difícil acreditar que a notícia
seja realmente boa. Mesmo assim, Pedro convida os cristãos a almejar a volta de
Jesus, ou, como diz ele, o Dia do Senhor. Em sua segunda carta, no capítulo três,
ele descreve vários aspectos da segunda vinda. Primeiramente, fala acerca do
problema sobre o qual tratamos no capítulo quatro, a saber, a sensação de que
Deus está sendo muito lento no cumprimento de Sua promessa. Então, continua
a mostrar certos eventos ameaçadores associados com a segunda vinda. Ele nos
estimula a viver uma vida santa, à luz do que se aproxima. Mas ele termina nos
admoestando a esperar com ansiedade pela volta de Jesus. A passagem é longa,
mas muito rica:

[Tende] em conta, antes de tudo, que, nos últimos dias, virão
escarnecedores com os seus escárnios, andando segundo as próprias paixões
e dizendo: Onde está a promessa da Sua vinda? Porque, desde que os pais
dormiram, todas as coisas permanecem como desde o princípio da criação.
Porque, deliberadamente, esquecem que, de longo tempo, houve céus bem
como terra, a qual surgiu da água e através da água pela palavra de Deus,
pela qual veio a perecer o mundo daquele tempo, afogado em água. Ora, os
céus que agora existem e a Terra, pela mesma palavra, têm sido
entesourados para fogo, estando reservados para o Dia do Juízo e destruição
dos homens ímpios. Há, todavia, uma coisa, amados, que não deveis
esquecer: que, para o Senhor, um dia é como mil anos, e mil anos, como um
dia. Não retarda o Senhor a Sua promessa, como alguns a julgam demorada;
pelo contrário, Ele é longânimo para convosco, não querendo que nenhum
pereça, senão que todos cheguem ao arrependimento. Virá, entretanto,
como ladrão, o Dia do Senhor, no qual os céus passarão com estrepitoso
estrondo, e os elementos se desfarão abrasados; também a Terra e as obras
que nela existem serão atingidas. Visto que todas essas coisas hão de ser
assim desfeitas, deveis ser tais como os que vivem em santo procedimento e
piedade, esperando e apressando a vinda do Dia de Deus, por causa do qual
os céus, incendiados, serão desfeitos, e os elementos abrasados se
derreterão. Nós, porém, segundo a Sua promessa, esperamos novos céus e
nova Terra, nos quais habita justiça (2 Pedro 3:3-13).

Pedro nos aconselha a não desistir da esperança, pensando que, por causa da
demora, a promessa do segundo advento nunca se cumprirá. O tempo de Deus é
diferente do nosso. Isso apenas reforça o que já vimos em Atos 1:6-10 e em
Mateus 24:36. Acrescenta que o dia virá como um ladrão. Ele chegará quando
ninguém o espera. Assim, outra vez, confirma-se o que Jesus disse em Mateus
24. Mas Pedro sugere uma razão pela qual Deus parece estar demorando tanto.
Compassivo e paciente, Ele quer salvar a todos que puder salvar. Ele ainda tem
muitos filhos a quem deseja incluir em Seu reino.
O apóstolo também nos exorta a sermos o tipo de pessoa que devemos ser e a
vivermos o tipo de vida que devemos viver, à luz daquilo que o mundo espera de
nós. Devemos exibir vida santa e piedosa. E ele continua declarando, em 2 Pedro
3:14, que devemos nos apresentar sem mácula, irrepreensíveis, vivendo em paz
com Deus. Mas isso não nos deve assustar, uma vez que entendemos que é Deus,
por meio de Cristo, que nos faz imaculados e irrepreensíveis. Sua graça nos
salva. Deus tomou a iniciativa para que tivéssemos paz com Ele. Como já vimos
antes, precisamos confiar apenas em Sua graça, por intermédio de Cristo. Veja o
que Paulo diz em Romanos 5:1: “Justificados, pois, mediante a fé, temos paz
com Deus por meio de nosso Senhor Jesus Cristo.”
Sendo justificados pela fé, temos paz com Deus. Notemos o que o apóstolo
acrescenta, nos versos 6-10, sobre o fundamento para a paz que temos com
Deus:

Porque Cristo, quando nós ainda éramos fracos, morreu a Seu tempo
pelos ímpios. Dificilmente, alguém morreria por um justo; pois poderá ser
que pelo bom alguém se anime a morrer. Mas Deus prova o Seu próprio
amor para conosco pelo fato de ter Cristo morrido por nós, sendo nós ainda
pecadores. Logo, muito mais agora, sendo justificados pelo Seu sangue,
seremos por Ele salvos da ira. Porque, se nós, quando inimigos, fomos
reconciliados com Deus mediante a morte do Seu Filho, muito mais,
estando já reconciliados, seremos salvos pela Sua vida.

Não precisamos nos preocupar com o que fazer para alcançar o caminho da
piedade e achar paz com Deus. Ele já cuidou disso por meio de Cristo.
Confiamos nEle e vivemos para o Seu reino. Quando compreendemos isso,
então, a última parte do ensinamento de Pedro faz sentido. Ele diz que
esperamos pela segunda vinda. De fato, ele repete esse pensamento duas vezes.
Temo que os sonhos de meus alunos sejam um testemunho de que, no fundo,
temos mais medo da segunda vinda de Cristo do que desejo de que ela aconteça.
No entanto, se realmente é “esse mesmo Jesus” que está voltando, é difícil que
aquilo seja verdade. Devemos ser capazes de esperar ver Aquele que, com Sua
maravilhosa graça e com Seu ilimitado amor, nos oferece gratuitamente a
salvação.
Recentemente, todavia, tenho ouvido boas notícias. Relatei os sonhos de meus
alunos em um sermão que preguei na igreja onde atualmente sou o pastor, e
várias pessoas me disseram depois que têm tido sonhos positivos acerca da
segunda vinda. Eram sonhos, não pesadelos. Essas pessoas se emocionaram com
sonhos em que, certos de estarem salvos por Sua graça, foram arrebatados para
se encontrar com Jesus nos ares. Isso é uma ótima notícia. Talvez esteja sendo
anunciada a mensagem de que a segunda vinda seja uma ótima notícia, e isso
está fazendo uma diferença para os que a ouvem.
Espero que essa mensagem de esperança que vimos na Palavra de Deus seja
uma boa notícia para você. Que, como Pedro, você possa esperar por aquele dia
com ansiosa expectativa. Esse é o convite que Deus nos faz. É sempre uma
grande alegria comemorar o primeiro advento de Cristo no dia de Natal,
especialmente ao nos lembrarmos do cântico dos anjos no céu de Belém: “O
anjo, porém, lhes disse: Não temais; eis aqui vos trago boa-nova de grande
alegria, que o será para todo o povo: é que hoje vos nasceu, na cidade de Davi, o
Salvador, que é Cristo, o Senhor” (Lucas 2:10, 11).
A expectativa do segundo advento deve nos trazer grande alegria, pois Deus
prometeu preparar para aquele dia os que nEle confiam. Sinta a alegria e
maravilhe-se com a seguinte passagem de Judas 24, 25: “Àquele que é poderoso
para vos guardar de tropeços e para vos apresentar com exultação, imaculados
diante da Sua glória, ao único Deus, nosso Salvador, mediante Jesus Cristo,
Senhor nosso, glória, majestade, império e soberania, antes de todas as eras, e
agora, e por todos os séculos. Amém!”
Notas
1
Rudolf Bultmann, “New Testament and Mythology”, em Kerygma and Myth, ed. Hans Werner Bartsch
(Nova York: Harper and Row, 1961), p. 3, 4.
2
Big Little Golden Books, 2004.
3
Citado em William Paul Young, The Shack (Newbury Park, CA: Windblown Media, 2007), p. 250.
4
N. T. Wright, Simply Christian: Why Christianity Makes Sense (Nova York: HarperCollins), p. 222.
5
Ibid., p. 237.
6
Marva J. Dawn, A Royal Taste of Time: The Splendor of Worshipping God and Being Church for the
World (Grand Rapids: Eerdmans, 1999), p. 341.

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