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AUTORES E COLABORADORES
Edgar Nunes de Moraes
Flávia Lanna de Moraes
2019
© 2019 Ministério da Saúde. Sociedade Beneficente Israelita Brasileira Albert Einstein
Esta obra é disponibilizada nos termos da Licença Creative Commons – Atribuição – Não Comercial –
Compartilhamento pela mesma licença 4.0 Internacional. É permitida a reprodução parcial ou total
desta
obra, desde que citada a fonte. EQUIPE DE TRABALHO
1. Idoso 2. Saúde do Idoso 3. Rede de Atenção à Pessoa Idosa 4. Idoso Frágil I. Sociedade Beneficente Israelita
Brasileira Albert Einstein – SBIBAE.
APRESENTAÇÃO
(SERÁ ENCAMINHADO)
PREFÁCIO
(SERÁ ENCAMINHADO)
4 SAÚDE
LISTA DE ACRÔNIMOS E SIGLAS
AAE Atenção Ambulatorial Especializada
AAVD atividades avançadas de vida diária
ABVD atividades básicas de vida diária
AGA avaliação geriátrica ampla
AIVD atividades instrumentais de vida diária
AMI avaliação multidimensional do idoso
APS Atenção Primária à Saúde
AVD atividades de vida diária
BPC Benefício de Prestação Continuada
ESF Estratégia Saúde da Família
GFI Groningen Frailty Indicator
ILPI Instituição de Longa Permanência para Idosos
IVCF-20 Índice de Vulnerabilidade Clínico-Funcional 20
MACC Modelo de Atenção às Condições Crônicas
MAO medicamento apropriado omitido
MPI medicamento potencialmente inapropriado
NASF Núcleo de Apoio à Saúde da Família
RAS Redes de Atenção à Saúde
SBQ Sherbrooke Postal Questionnaire
SUAS Sistema Único de Assistência Social
SUS Sistema Único de Saúde
TFI Tilburg Frailty Indicator
UBS Unidade Básica de Saúde
VES-13 Vulnerable Elders Survey-13
SUMÁRIO
◼ INTRODUÇÃO . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .9
◼O PROCESSO DE ENVELHECIMENTO. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 10
◼ OBJETIVO .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. ..
. . . . . 15
1. COGNIÇÃO . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .33
2. HUMOR/COMPORTAMENTO . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .33
3. MOBILIDADE . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .33
4. COMUNICAÇÃO . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .35
◼ REFERÊNCIAS .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. ..
. . .50
◼ ANEXOS. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .52
6 SAÚDE
INTRODUÇÃO
No Brasil, estima-se que a população com 60 anos ou mais seja de 30 milhões de pessoas,
representando cerca de 14% da população geral (210 milhões habitantes). É o segmento
populacional com maior taxa de crescimento – acima de 4% ao ano –, passando de 14,2
milhões, em 2000, para 19,6 milhões, em 2010, e devendo atingir 41,5 milhões, em 2030, e
73,5 milhões, em 2060. Essa é uma consequência da rápida e contínua queda da
fecundidade no país, e da queda da mortalidade em todas as idades. Espera-se, para os
próximos 10 anos, o incremento médio de mais de 1,0 milhão de idosos anualmente.
Esse acelerado envelhecimento da população brasileira não deve ser considerado
necessariamente um problema, mas exige atenção e traz importantes desafios para a
sociedade.[1] No idoso, as condições crônicas de saúde são mais prevalentes, exigindo
respostas capazes não somente de resolver esses agravos, mas de manter ou recuperar sua
autonomia e independência, com qualidade, resolutividade e custo-eficácia.
Segundo Mendes,[2] o termo “condição de saúde” remete a circunstâncias na vida das
pessoas. Com um curso mais ou menos longo ou permanente, as condições de saúde são
consideradas crônicas e devem ser manejadas de forma proativa, contínua e integrada pelo
sistema de atenção à saúde, pelos profissionais e pelas pessoas usuárias, para seu controle
efetivo, eficiente e com qualidade. Inclui-se, nesse conceito, a manutenção da saúde por
ciclos de vida. Assim, a senicultura, ciclo de vida da população idosa, deve ser abordada de
acordo com a lógica das condições crônicas.[3]
A organização da Atenção à Saúde da Pessoa Idosa na lógica das Redes de Atenção à Saúde
(RAS) representa a melhor estratégia de resposta a essa situação de rápido envelhecimento
da população, aliada ao aumento da longevidade e à maior carga de doenças crônicas e,
particularmente, de incapacidades funcionais.
A RAS da pessoa idosa nada mais é do que o conjunto de respostas sociais deliberadas às
necessidades de saúde da população idosa, capazes de manter ou recuperar sua autonomia
e independência, com qualidade, resolutividade e custo-eficácia.
Este documento apresenta as recomendações para organização da RAS da pessoa idosa,
com foco nos processos integrados da Atenção Primária à Saúde (APS) e da Atenção
Ambulatorial Especializada (AAE), de acordo com o Modelo de Atenção às Condições
Crônicas (MACC).
O PROCESSO DE ENVELHECIMENTO
A estruturação da RAS da pessoa idosa tem como ponto de partida a definição clara do que
é saúde do idoso, que não significa somente ausência de doenças. As doenças são mais
frequentes nesta faixa etária, mas nem sempre estão associadas à dependência funcional. [4]
Envelhecer sem doença crônica é mais uma exceção do que a regra. Indivíduos com as
mesmas doenças podem ter capacidades funcionais absolutamente distintas um do outro.
8 SAÚDE
SUPORTE Sistema nervoso central LAZER
FAMILIAR
Sistema
musculoesquelético Nutrição
Sistema
endócrino
metabólico
COGNIÇÃO
Sistema
gastrointestinal HUMOR MOBILIDADE
Funcionalidade Sistema
AAVD geniturinário
AIVD
ABVD
Sono Saúde
bucal
COMUNICAÇÃO
Sistema Pele
respiratório e anexos
SUPORTE SEGURANÇA
Sistema
SOCIAL AMBIENTAL
cardiovascular
Fonte: Moraes.[8]
AAVD: atividades avançadas de vida diária; AIVD: atividades instrumentais de vida diária; ABVD: atividades básicas de vida diária.
Figura 1. Multidimensionalidade da saúde do idoso.
As necessidades biopsicossociais se referem àquelas tarefas fundamentais para a gestão da própria vida e do
autocuidado, denominadas atividades de vida diária (AVD), que podem ser básicas (ABVD), instrumentais (AIVD) ou
avançadas (AAVD) (Quadro 1).
FUNCIONALIDADE
Atividades de Vida Diária
OBJETIVO
A Política Nacional de Saúde da Pessoa Idosa, [24] tem como finalidade primordial “recuperar, manter e promover a
autonomia e a independência dos indivíduos idosos, direcionando medidas coletivas e individuais de saúde para esse
fim, em consonância com os princípios e diretrizes do Sistema Único de Saúde (SUS)”.
Este objetivo deve ser alcançado organizando-se a atenção à saúde dos idosos, de acordo com os microssistemas clínicos
integrados Atenção Primária à Saúde/Atenção Ambulatorial Especializada, segundo as seguintes estratégias:
• Conhecimento da população de idosos do território.
• Estratificação de risco clínico-funcional.
• Manejo adequado das necessidades dos idosos por estrato de risco, com vistas à melhoria da qualidade de vida atual
e futura.
No Brasil, o Estatuto do Idoso definiu como idoso todo indivíduo com 60 anos ou mais. [26] Ele vive em um contexto
bastante heterogêneo, no que se refere ao território, à família, ao ambiente e à comunidade – heterogeneidade tanto
maior, quanto maior for sua idade.[7,27]
O conhecimento da população idosa começa pela identificação desses usuários na população geral residente no território
sanitário, por meio do cadastramento individual e familiar. Devem ser levantados, em seu contexto de vida, os fatores
multidimensionais que determinam sua capacidade de realizar as AVD, considerando tanto os recursos e fatores de
proteção, quanto os fatores de risco relacionados a relações familiares e comunitárias, ambiente domiciliar e
peridomiciliar, atividades produtivas, recreativas e de participação social.
Do ponto de vista sociofamiliar, os principais fatores de risco são:
• Morar sozinho.
• Residir em ILPI.
• Ausência de companheiro ou cônjuge.
• Viuvez recente.
• Ausência de familiares, amigos ou cuidadores com disponibilidade para atender o idoso, principalmente o dependente
de cuidados.
• Ausência de visitas de familiares ou amigos com regularidade.
• Ser responsável pelo cuidado de pessoas dependentes em sua casa.
• Analfabetismo.
• Ser dependente do Benefício de Prestação Continuada (BPC) ou não ter acesso à renda própria capaz de garantir a
própria subsistência.
• Não possuir moradia própria ou ter moradia própria em condições precárias de organização e higiene.
• Não participar de alguma atividade de socialização extradomiciliar, como trabalho, família, igreja, grupo de
convivência etc.
• Ter indícios ou ocorrências de violência doméstica, principalmente quando voltada à pessoa idosa.
Uma forma mais sistematizada de conhecimento da subpopulação de idosos com presença dos principais fatores
multidimensionais determinantes de sua saúde é a avaliação clínicofuncional, por meio do Índice de Vulnerabilidade
Clínico-Funcional 20 (IVCF-20) (Figura 3), instrumento desenvolvido a partir do modelo multidimensional de saúde do
idoso, para rastrear a fragilidade da pessoa idosa (Anexo 1).[19]
da as perguntas abaixo com a ajuda de familiares ou acompanhantes. Marque a opção mais apropriada para a sua
ão de saúde atual.Todas as respostas devem ser confirmadas por alguém que conviva com você. Pontuação
osos incapazes de responder, utilizar as respostas do cuidador.
( ) 60 a 74 anos
1. Qual é a sua idade? ( ) 75 a 84 anos
( ) ≥ 85 anos
PERCEPÇÃO DA SAÚDE 2. Em geral, comparados com outras pessoas de sua ( ) Excelente, muito boa o boa
idade, você diria que sua saúde é: ( ) Regular ou ruim
AVD Instrumental 3. Por causa de sua saúde ou condição física, você deixou de fazer comprar?
Resposta positiva ( ) Sim ( ) Não ou não faz compras por outros motivos que não a saúde
vale 4 pontos
4. Por causa de sua saúde ou condição física, você deixou de controlar seu dinheiro, gastos
cada. Todavia, a
ou pagar as contas de sua casa?
pontuação máxima ( ) Sim ( ) Não ou não controla o dinheiro por outros motivos que não a saúde
do item é de 4 Máximo
pontos, mesmo 4 pts
5. Por causa de sua saúde ou condição física, você deixou de realizar pequenos trabalhos
que o idoso tenha domésticos, como lavar louça, arrumar a casa ou fazer limpeza leve?
respondido ruim ( ) Sim ( ) Não ou não faz pequenos trabalhos domésticos por outros motivos que não a
para todas as saúde
questões 3, 4 e 5.
AVD Básica 6. Por causa de sua saúde ou condição física, você deixou de tomar banho sozinho? (
) Sim ( ) Não
18. Você tem problemas de visão capazes de impedir a realização de alguma atividade do
Visão cotidiano? É permitido o uso de óculos ou lentes de contato.
( ) Sim ( ) Não
Polipatologia 20. Você tem alguma das três condições abaixo relacionadas?
Polifarmácia • Cinco ou mais doenças crônicas ( );
• Uso regular de cinco ou mais
medicamentos diferentes, todo dia ( Máximo
Internação recente ); 4 pts
(< 6 • Internação recente, nos últimos 6 meses (
meses) ).
( ) Sim ( ) Não
AÇÃO FINAL (40 pontos)
continua...
funcional E
estabelecido ● Declínio funcional parcial nas AIVD (dependência parcial)
E
● Declínio funcional em todas as AIVD (dependência completa)
E
● Semidependência nas ABVD: comprometimento de uma das funções
AAVD: atividades avançadas de vida diária; AIVD: atividades instrumentais de vida diária; ABVD: atividades básicas de vida diária; CP: circunferência da panturrilha; CCL:
comprometimento cognitivo leve; VM-4m: velocidade de marcha em 4 metros; TUG: Timed Up and Go.
O idoso frágil é aquele com declínio funcional estabelecido e algum grau de dependência para gerenciar sua vida, em
virtude de incapacidades únicas ou múltiplas, como incapacidade cognitiva (demência, depressão, delirium e doença
mental), instabilidade postural (história de duas ou mais quedas nos últimos 6 meses e/ou dificuldades da marcha
caracterizadas por desequilíbrio e alterações no padrão da marcha, capazes de restringir sua participação social),
imobilidade parcial ou completa, incontinência esfincteriana capaz de restringir a participação social do indivíduo ou
incapacidade comunicativa (distúrbios da comunicação oral/escrita, da audição e da visão, capazes de restringir a
participação social do indivíduo).
Esse grupo de idosos frágeis se divide em três subgrupos, de acordo com a probabilidade de melhora funcional e/ou
qualidade de vida:
• Idoso frágil com alto potencial de melhora funcional: são idosos com maior probabilidade de ganho funcional e/ou
qualidade de vida, beneficiando-se do acompanhamento geriátrico-gerontológico especializado integrado com a APS.
• Idoso frágil com baixo potencial de melhora funcional: são idosos que apresentam declínio funcional estabelecido e
baixo potencial de reversibilidade clínico-funcional. Nesses idosos, o acompanhamento geriátrico-gerontológico
especializado não necessita ser feito de forma intensiva. Este subgrupo deve ser manejado na APS, com apoio da AAE
em saúde do idoso quando necessário, com o objetivo de evitar a piora funcional.
• Idoso frágil em fase final de vida: apresenta grande dependência funcional e sobrevida estimada menor que 6 meses
ou que tem resposta negativa à seguinte pergunta: “Você ficaria surpreso se o paciente falecesse nos próximos meses,
semanas ou dias?”. Apesar da existência de uma clara associação entre maior grau de declínio funcional e maior
mortalidade, alguns idosos podem estar relativamente preservados funcionalmente e apresentar doenças com alto
potencial de mortalidade, como determinados tipos de neoplasia, por exemplo. Este subgrupo também deve ser
manejado na APS, com apoio da AAE em saúde do idoso quando necessário, tendo como foco das intervenções o
cuidado paliativo, baseado no conforto do usuário e de seus familiares.
IDOSO EM RISCO DE
FRAGILIZAÇÃO
30%
IDOSO ROBUSTO
50%
Fonte:Moraes.[8]
Figura 6. Prevalência dos diversos tipos de idosos.
ORGANIZAÇÃO DA ASSISTÊNCIA
1. COGNIÇÃO
• Estimular o máxima a reserva cognitiva, por meio de escolarização, leitura, jogos cognitivos ou qualquer atividade que
exija aprendizado e resolução de problemas (desafios cognitivos).
• Controlar os fatores de risco e doenças cardiovasculares, como diabetes mellitus, hipertensão arterial, obesidade,
inatividade física e tabagismo.
• Prevenir e tratar adequadamente a depressão.
• Prevenir e tratar o delirium.
• Evitar traumatismo craniencefálico e traumas repetitivos associados a esportes violentos.
• Evitar o uso abusivo de álcool e outras drogas, como benzodiazepínicos e drogas com ação anticolinérgica.
• Prevenir e tratar os distúrbios do sono.
• Prevenir e tratar doenças com alto potencial de dano cerebral, como sífilis, infecção pelo HIV, hipotireoidismo,
deficiência de vitamina B12 e doença renal crônica.
2. HUMOR/COMPORTAMENTO
• Diagnosticar precocemente e tratar doenças psiquiátricas e transtornos de personalidade.
• Garantir o diagnóstico precoce e o tratamento adequado dos transtornos depressivos no idoso, facilitando o acesso à
psicoterapia e a medicamentos apropriados para o idoso.
3. MOBILIDADE
3.3 Marcha
• Fazer atividade física regular, com prescrição de exercícios de flexibilidade, como dança, ioga, artes marciais,
alongamento etc.
• Identificar os fatores intrínsecos, extrínsecos e comportamentais, associados ao risco de quedas.
• Fazer adaptação ambiental.
• Usar de maneira adequada dispositivos de auxílio para locomoção, como bengalas, muletas e andadores.
• Evitar o uso de drogas associadas a risco de quedas, como benzodiazepínicos (clonazepam, diazepam etc.), sedativos,
drogas com ação miorrelaxante (orfenadrina, ciclobenzaprina, carisoprodol e tizanidina) e
SAÚDE DA PESSOA IDOSA 27
drogas associadas a parkinsonismo (antivertiginosos, antipsicóticos, metoclopramida etc).
• Evitar polifarmácia.
• Evitar hipotensão ortostática.
• Cuidar dos pés e usar calçados adequados.
• Realizar avaliação oftalmológica regular.
• Evitar traumatismo articular ou sobrecarga de peso.
• Prevenir e tratar osteoporose e fraturas por fragilidade.
3.4 Continência esfincteriana
• Evitar trauma da musculatura pélvica associada à multiparidade e ao cuidado inadequado no parto.
• Realizar exercícios uroginecológicos para fortalecimento do assoalho pélvico.
• Diagnosticar precocemente e tratar de maneira adequada as doenças do trato urinário, incluindo as doenças da
próstata.
• Evitar drogas associadas à urgência ou à incontinência urinária, como diuréticos e drogas anticolinérgicas.
• Fazer avaliação ginecológica regular.
4. COMUNICAÇÃO
4.1 Visão
• Fazer avaliação oftalmológica regular e garantir o acesso às lentes corretivas, quando necessárias.
• Diagnosticar e tratar adequadamente as doenças associadas à retinopatia, como diabetes mellitus, glaucoma e
catarata.
4.2 Audição
• Evitar exposição auditiva prolongada a ambientes ruidosos, música alta, abuso no uso de fones de ouvido e outros
traumas acústicos.
• Evitar uso de drogas associadas à ototoxicidade (aminoglicosídeos, diuréticos e etc.).
• Avaliar a função auditiva regularmente e garantir o acesso às próteses auditivas, quando necessárias.
• Avaliar e remover rolha de cerúmen, quando indicada na Atenção Primária.
A identificação e o manejo dos fatores de risco sociofamiliares e também os específicos são fundamentais. A APS deve
articular equipes, equipamentos e recursos do Sistema Único de Saúde (SUS) e do Sistema Único de Assistência Social
(SUAS) em ações intersetoriais que convoquem também os Conselhos do Idoso, Delegacias do Idoso, Ministério Público e
outros entes (Figura 9).
Ações de cuidado
Nos estratos 6 a 10, o idoso tem seu plano de cuidados elaborado de forma compartilhada pela equipe geriátrica
gerontológica. A APS é responsável por sua implementação (Quadro 8).
Quadro 8. Recomendações para o cuidado do idoso na Atenção Primária à Saúde (estratos 6 a 10).
Estrato 6 Estrato 7 Estrato 8 Estrato 9 Estrato 10
Atendimento semestral e quando houver Atendimento quadrimestral e quando houver evento sentinela
evento sentinela ou conforme o O acompanhamento deve seguir as definições do plano de
grupo de risco das condições crônicas, cuidados elaborado de maneira compartilhada
como HAS e DM com a atenção especializada
O acompanhamento deve seguir as
definições do plano de cuidados
elaborado de maneira compartilhada com
a atenção especializada
Aplicar o IVCF-20
Avaliar o risco sociofamiliar
Os exames complementares para os idosos devem ser solicitados com prudência, evitando procedimentos que não
agregam valor à avaliação clínico-funcional e ao cuidado longitudinal. O quadro 9 apresenta a indicação dos exames, de
acordo com o estrato de risco clínicofuncional.
Quadro 9. Exames complementares rotineiros no idoso.
Quadro 10. Carteira básica de serviços no Ambulatório de Atenção Especializada à Saúde do Idoso.
Profissionais responsáveis pelos ciclos de atendimento:
Médico Residência em geriatria (preferencialmente) ou formação em saúde do idoso
Especialista com experiência em medicina de família e comunidade/saúde
pública/coletiva
Enfermeiro Formação em saúde do idoso
Especialista com experiência em saúde pública/coletiva/saúde da família
Farmacêutico Especialista com experiência em saúde pública/coletiva/saúde da família
Preferencialmente com formação em saúde do idoso
Assistente social Especialista com experiência em saúde pública/coletiva/saúde da família
Preferencialmente com formação em saúde do idoso
Psicólogo Especialista com experiência em saúde pública/coletiva/saúde da família
Preferencialmente com formação em saúde do idoso
Preferencialmente com experiência em abordagem linha teórica comportamental;
cognitivo-comportamental ou sistêmica.
Nutricionista Especialista com experiência em saúde pública/coletiva/saúde da família
Preferencialmente com formação em saúde do idoso
Fisioterapeuta Especialista com experiência em saúde pública/coletiva/saúde da família
Preferencialmente com formação em saúde do idoso
Técnico em enfermagem Com experiência em saúde da família
Na carteira ampliada, estão previstos também os profissionais fonoaudiólogo e terapeuta ocupacional. Caso não estejam
incluídos na equipe do ambulatório, devem ter o acesso pactuado e garantido na RAS, para quando necessários.
As atividades assistenciais são organizadas como demonstra o diagrama da figura 10.
Mecanismos de compartilhamento do cuidado devem ser definidos e pactuados, tanto no fluxo de “ida” – acesso
regulado pelas equipes da APS, critérios clínicos para compartilhamento, formulários, modalidades de agendamento,
checklist para agendamento –, quanto no de “volta” – plano de cuidados, monitoramento da estabilização, retornos. A
continuidade do cuidado e a vigilância da situação de saúde dos usuários devem ser garantidas pelas equipes.
A função assistencial é desenvolvida principalmente no formato de atenção contínua, caracterizada por ciclos de
atendimentos individuais sequenciais, para avaliação clínica pelos profissionais e prescrição das condutas e
recomendações, sistematizadas em um único plano de cuidados. Inclui atendimentos e exames diagnósticos
complementares.
Todos os profissionais da equipe devem participar do primeiro ciclo de atendimentos, compondo uma avaliação
diagnóstica abrangente, e, a partir dela, elaborar o plano de cuidados adequado para a situação do idoso. Nos ciclos de
atendimento subsequentes, a participação deve seguir as definições do plano de cuidados.
A indicação dos exames especializados segue as recomendações apresentadas anteriormente, sendo observadas as
A avaliação multidimensional do idoso, também conhecida como avaliação geriátrica ampla, é uma abordagem diagnóstica sistematizada, que reúne um conjunto
de instrumentos capazes de avaliar a funcionalidade global do idoso, os sistemas funcionais principais, os sistemas fisiológicos, os medicamentos em uso e os
fatores contextuais do idoso, com o objetivo de elaborar um plano de cuidados capaz de maximizar sua independência e autonomia, e de melhorar a qualidade
de vida do idoso e de sua família
Perda de urina ou fezes, sem querer, em algum momento Melhora do controle esfincteriano
documentada pela redução
significativa da quantidade de
fraldas por dia ou necessidade do
uso da fralda somente durante
a noite
Tais intervenções dependem quase que exclusivamente da presença do “olhar geriátricogerontológico” e da tomada de
decisões corretas, conforme o estrato clínico-funcional do idoso. A desprescrição é a principal ferramenta de reversão da
iatrogenia, que representa um dos maiores problemas da população idosa. Por sua vez, a reabilitação pode também
trazer ganhos funcionais exuberantes no idoso frágil e ser oferecida paralelamente às intervenções propostas. Todavia, o
processo de reabilitação é usualmente longo e exige a presença de equipe interdisciplinar e de equipamentos de difícil
acesso. Assim, pode ser realizada em outro ponto da rede, com o apoio e acompanhamento do NASF.
O período de acompanhamento é de 4 a 6 meses, com média de cinco encontros, com intervalos de 30 a 45 dias, durante
os quais as equipes de APS devem monitorar o plano de cuidados elaborado, e apoiar o usuário e sua família. É
fundamental o estabelecimento de modalidades de comunicação entre os profissionais das duas equipes, de maneira a
discutir o caso e a revisar o plano de cuidados sempre que necessário e com prontidão.
Ao final desse período, a equipe deve avaliar a possibilidade de transição do cuidado para a equipe da APS, para
continuidade do acompanhamento longitudinal do idoso, com o apoio da equipe da AAE em saúde do idoso.
Existe a possibilidade de ausência de resposta às intervenções propostas na avaliação inicial da atenção secundária após
4 a 6 meses de acompanhamento. Nestes casos, a equipe deve continuar investindo na implementação de todas as
metas específicas para cada domínio funcional comprometido. A persistência na ausência de resposta indica o
comprometimento da saúde do idoso, que pode ser reestratificado como frágil com baixo potencial de melhora
funcional. Nesse caso, deve ser feita a transição do cuidado para a APS, com metas terapêuticas voltadas para manter a
capacidade funcional e evitar o declínio funcional associado à iatrogenia.
Painel de indicadores
O acompanhamento dos indicadores de processo e resultados são úteis para a avaliação da efetividade da RAS da pessoa
idosa.
O quadro 13 reúne um conjunto de indicadores de processos e resultados do cuidado da pessoa idosa. É importante que
sejam analisados para o grupo total de idosos e por estrato de risco clínico-funcional.
Quadro 13. Painel de indicadores de processo na atenção à saúde da pessoa idosa.
Indicadores de processo Definição
Proporção de Idosos captados Proporção de idosos residentes no território, cadastrados na unidade de
para o acompanhamento pela saúde e com acompanhamento regular pela equipe de saúde
equipe de saúde
Proporção de idosos com Proporção de idosos com avaliação pelo IVCF-20 e definição do grau de
estratificação de risco vulnerabilidade clínico-funcional. Esta classificação de risco é fundamental
para a indicação de avaliação geriátrico-gerontológica especializada e para
elaboração de plano de orientações para o paciente e sua família
Proporção de idosos com O plano de cuidados está indicado para todo idoso com IVCF-20 ≥15 pontos,
IVCF-20 ≥15 pontos com e deverá ser feito pelo centro de especialidades e conter lista de condições
plano de cuidados elaborado de saúde e as intervenções preventivas, curativas, paliativas e reabilitadoras
indicadas para o idoso e sua família, além de estabelecer as prioridades e as
justificativas para as mudanças, bem como o local de atendimento e a
equipe interdisciplinar necessária para seu seguimento
Proporção de idosos com A polifarmácia é definida como o uso diário de 5 ou mais medicamentos
polifarmácia diferentes e representa marcador de maior risco para reações adversas
Frequência do uso de Os medicamentos potencialmente inapropriados para idosos são os que
medicamentos potencialmente devem ser sempre evitados por existirem similares mais seguros. Os critérios
inapropriados para idosos utilizados são os especificados pelas principais listas de MPI para idosos:
Beers, STOPP/START, FORTA, Australian Prescribing Indicators Tool,
Screening Tool for Older Person’s Appropriated Prescriptions for Japanese,
Consenso Brasileiro de Medicamentos Potencialmente Inapropriados para
Idosos, McLeod/IPET, PRISCUS, EU(7)-PIM List, Lista de Taiwan e NORGEP
Taxa de encaminhamento para Mede a percentagem de encaminhamento de idosos pela Atenção Primária
consulta na atenção para as especialidades médicas diversas, excluindo o atendimento
especializada geriátricogerontológico realizado pelo centro de especialidades.
Proporção compartilhamento do Mede a percentagem de idosos frágeis com cuidado compartilhado pela APS
cuidado de idosos com IVCF-20 com equipe geriátrico-gerontológico
≥ 15 pontos com a equipe
geriátrico-gerontológica do
ambulatório de atenção
especializada
Proporção de idosos que Mede a percentagem de idosos frágeis que implementaram todas as metas
implementação das metas específicas para cada domínio funcional comprometido
terapêuticas
Percentual de idosos com Indica os idosos que apresentaram melhora funcional após as intervenções proposta
melhoria na pontuação no plano de cuidados
do IVSCF-20
Taxa de internação de Percentual de internações de idosos de 60 anos ou mais na população residente em
idosos determinado espaço geográfico, no ano considerado
Taxa de internações de Número de internações de idosos por causas evitáveis, causas definidas como
idosos por causas condições sensíveis à Atenção Primária, na população idosa de 60 a 74 anos, por 10
evitáveis (internações mil habitantes de mesma faixa etária, residente em determinado espaço geográfico,
por ICSAP) no ano considerado. O indicador de condições sensíveis à Atenção Primária (ICSAP),
desenvolvido por Billings et al.,[41] representa um conjunto de problemas de saúde
para os quais a efetiva ação da Atenção Primária diminuiria o risco de internações,
tais como a prevenção de doenças, o diagnóstico e o tratamento precoce de
patologias agudas, além do controle e do acompanhamento de patologias crônicas.
A lista de causas sensíveis utilizada foi a estabelecida pelo Ministério da Saúde por
meio da Portaria 221 da SAS/MS, de 17 de abril de 2008[42]
Taxa de readmissão Mede a frequência de reinternação hospitalar no período de 30 dias após a alta. O
hospitalar (todas as indicador é importante para avaliar a qualidade da preparação para a alta hospitalar
causas) dentro de 30 e o atendimento pós-hospitalar, podendo ser considerado parâmetro de avaliação
dias após a alta da continuidade do cuidado na RAS
Taxa de internação Número de internações hospitalares financiadas pelo SUS por fratura de fêmur (CID-
de idosos por fratura 10 S72), na população idosa de 60 anos ou mais, por 10 mil habitantes na mesma
de fêmur faixa etária, residente em determinado espaço geográfico no ano considerado.
Estima o risco de internação por fratura de fêmur (CID-10 S72) na população idosa
de 60 anos ou mais e dimensiona sua magnitude como problema de saúde pública
Taxa de internação de Número de internações hospitalares financiadas pelo SUS por queda em pelo menos
idosos por queda em pelo uma das causas (CID-10 W00-W19) na população idosa de 60 anos ou mais, por 10
menos uma das causas mil habitantes na mesma faixa etária, residente em determinado espaço geográfico
no ano considerado. Estima o risco de internação por quedas na população idosa de
60 anos ou mais e dimensiona sua magnitude como problema de saúde pública
Taxa de óbito domiciliar Proporção de pacientes que vieram a óbito no domicílio. Pode ser considerado um
indicador da capacidade da rede em ofertar assistência domiciliar para idosos em
cuidados paliativos
Mortalidade prematura Indica a proporção dos óbitos de idosos de 60 até 69 anos do total de óbitos de
(<70 anos) pessoas de 30 até 69 anos pelo conjunto das quatro principais DCNTs (doenças do
pelo aparelho circulatório, câncer, diabetes e doenças respiratórias crônicas/CID10 - I00-
conjunto das I99; C00-C97; J30-J98; E10-E14), em determinado espaço geográfico, no ano
4 principais DCNTs considerado. Mede a participação dos óbitos prematuros de idosos de 60 a 69 anos,
em relação ao total de óbitos prematuros de pessoas de 30 até 69 anos. Contribui
para o monitoramento do impacto das políticas públicas na prevenção e no controle
das DCNT e em seus fatores de risco
Proporção de
autoavaliação da saúde
boa ou muito boa
REFERÊNCIAS
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A pontuação a ser somada a cada pergunta está escrita próximo à resposta. Por exemplo: em “Você teve duas
ou mais quedas no último ano? (X)Sim²”, somam-se 2 pontos ao resultado, e em “Algum familiar ou amigo falou
que você está ficando esquecido? (x)Sim¹”, soma-se 1 ponto ao resultado.
Algumas considerações quanto à aplicação do IVCF-20 devem ser feitas:
1) É importante valorizar a resposta do cuidador/acompanhante para definir a pontuação de cada item, uma
vez que este (sobretudo nos casos de incapacidade cognitiva, anosognosia e/ou depressão com
desmotivação grave) fornece informação mais fidedigna do que o próprio paciente.
2) Na parte de “atividades de vida diária” (perguntas de 3 a 6), somente devem pontuar os casos em que
houver declínio funcional, ou seja, quando o idoso fazia a atividade e deixou de fazer (neste momento não
interessa o motivo pelo qual deixou de fazer a atividades de vida diária). Por exemplo, na pergunta 4, se o
idoso não controla as finanças, mas nunca o fez, ele não vai pontuar neste item.
3) No domínio Cognição, a resposta do cuidador muitas vezes será mais valorizada que a do próprio paciente,
uma vez que uma das condições mais comuns de incapacidade cognitiva na população é a doença de
Alzheimer, que leva à anosognosia, fazendo com que o paciente não se sinta “esquecido”.
4) No domínio Comunicação, o objetivo não é avaliar a presença de hipoacuidade visual ou hipoacusia, mas a
presença destes problemas em gravidade suficiente para impedir a realização de alguma atividade do
cotidiano (ainda que simples, como a leitura). Caso o idoso consiga realizar a tarefa com o uso de óculos ou
prótese auditiva, o item não deve ser pontuado.
5) No domínio Comorbidades Múltiplas, o termo “cinco ou mais doenças crônicas” se refere a quaisquer
condições crônicas. Por exemplo: se o idoso tem hipertensão, incontinência urinária, hipoacusia, quedas de
repetição e osteoartrite, ele vai pontuar.
Quanto ao “uso de cinco ou mais medicações diferentes, todo dia” devem ser levados em consideração todos
os fármacos, incluindo os conjugados (por exemplo, o comprimido de cálcio e vitamina D conta como duas
medicações), polivitamínicos, fitoterápicos, ômega-3 e outras medicações – ainda que não tenham sido
prescritas pelo sistema de saúde.
Quanto ao item “internação recente, nos últimos 6 meses”, as internações eletivas ou curtas também devem
pontuar. Observação no hospital por tempo inferior a 24 horas não deve ser pontuada.
O IVCF-20 avalia todos os domínios da funcionalidade (cognição, humor, mobilidade, comunicação e
comorbidades múltiplas), podendo ser considerado uma avaliação geriátrica ampla de rápida aplicação. É
interessante a simplificação em termos de Atenção Primária à Saúde (APS), pelo tempo que se economiza. No
entanto, o IVCF-20 não é capaz de confirmar diagnósticos mais específicos por si só. Quando o idoso pontua em
um dos domínios do IVCF-20, sinaliza à equipe de saúde que é necessário aprofundar mais na avaliação daquele
item.
46 SAÚDE DA PESSOA
A medida da circunferência da panturrilha pode ser feita nas posições sentada ou de pé, com os pés apoiados em uma superfície plana, de
forma a garantir que o peso fique distribuído equitativamente entre ambos os lados. No idoso acamado, fletir a perna de modo que o pé fique
todo apoiado sobre o colchão (Figura 1).
A medida deve ser realizada com uma fita métrica inelástica aplicada ao redor da região que, visualmente, apresenta o maior perímetro, sem
fazer compressão. Fazer medições adicionais acima e abaixo deste ponto, para assegurar-se de que a primeira medida é a maior. Deve-se ter o
cuidado de manter a fita métrica em ângulo reto com o comprimento da panturrilha. Evitar fazer a medida no membro que apresente alguma
alteração local, como linfedema, trombose venosa profunda, erisipela, celulite, atrofia muscular, atrofia cutânea por cicatriz ou fibrose, entre
outras. É necessário também estar atento ao caso de indivíduos obesos, que podem ter circunferência da panturrilha normal ou até aumentada
mesmo na presença de sarcopenia (obesidade sarcopênica).
Referências
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Survival in Oldest Old People. The American Journal of Medicine. 2012;125(12);1118-94.e1.
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reconhecimento rápido do idoso frágil. Rev Saúde Publica. 2016;50:81.
ANEXO 2
Avaliação multiprofissional e interdisciplinar do idoso na Atenção Primária à Saúde
A definição do estrato clínico-funcional pela Atenção Primária à Saúde (APS) depende da aplicação do Índice de
Vulnerabilidade Clínico-Funcional 20 (IVCF-20), da realização da avaliação clínica tradicional do idoso,
sociofamiliar e da avaliação de todas as atividades instrumentais (AIVD) e básicas de vida diária (ABVD).
1. Aplicação do IVCF-20: ver manual de aplicação do IVCF-20 (Anexo 1).
2. Avaliação clínica tradicional do idoso
Consiste na realização da anamnese e do exame físico do idoso, com foco na avaliação dos sistemas fisiológicos
principais (sistema cardiovascular, respiratório, digestivo, musculoesquelético, geniturinário,
endócrinometabólico, sistema nervoso central e pele/anexos) e de outras funções orgânicas, como sono,
nutrição e saúde bucal. Deve-se ter em conta que as queixas apresentadas pelo idoso são habitualmente
subestimadas pelos familiares e por ele próprio, retardando o diagnóstico precoce. O hábito de atribuir-se toda
sintomatologia aos problemas “da idade” é amplamente aceito, inclusive pelos profissionais da área da saúde.
Diferenciar as alterações fisiológicas do envelhecimento (senescência) das doenças, disfunções e incapacidades
(senilidade) que podem se acumular com a passagem do tempo é tarefa difícil. A polipatologia é, muitas vezes,
confundida com problemas psíquicos (“paciente poliqueixoso”), dificultando mais ainda o diagnóstico precoce
dos problemas de saúde no idoso. Como regra geral, nenhuma sintomatologia causadora de limitação ou
48 SAÚDE DA PESSOA
O exame físico do paciente idoso deve ser o mais completo possível. Todavia, por ser extremamente amplo e
variável, o mito da completude deve ser considerado. Desta forma, os procedimentos utilizados dependem do
paciente, das queixas apresentadas, do contexto da consulta e da habilidade do médico. O paciente deve ter
sua privacidade resguardada e não deve ser exposto de forma desnecessária, não havendo necessidade de ficar
totalmente despido. O ambiente deve oferecer conforto e segurança para o paciente. O divã de exame físico
deve ter largura adequada (60 a 70cm) e permitir a elevação da cabeceira para exame do pescoço. A escada de
acesso ao divã deve ser mais larga e mais baixa, permitindo que o paciente faça um giro completo de forma
segura. Macas hidráulicas, que facilitem a transferência de idosos mais frágeis e/ou cadeirantes, podem ser
úteis para reduzir o risco de quedas no consultório. Vale lembrar algumas alterações no exame físico do idoso,
que habitualmente são negligenciadas e têm grande importância na conduta clínica:
Hipotensão ortostática: cerca de um terço dos idosos apresentam hipotensão ortostática, definida como a
queda da pressão sistólica de 20mmHg e/ou da pressão diastólica de 10mmHg, quando o paciente assume a
posição ortostática, associada ou não à sintomatologia de baixo fluxo cerebral. A hipotensão ortostática é causa
frequente de “tonturas”, “labirintite”, astenia e, principalmente, quedas, com risco de fratura de fêmur ou
hematoma subdural. Torna-se, portanto, fundamental a medida da pressão arterial em três posições: deitada,
sentada e de pé, nesta sequência. Uso inapropriado de medicamentos que causam hipotensão ortostática no
idoso ou metas discordantes com o estrato clínico-funcional devem ser sempre investigados.
Presença de fibrilação atrial: a presença de bulhas arrítmicas, com fonese variável, associada à avaliação do
pulso com amplitude variável e à ausência de onda “a” no pulso venoso, sugere o diagnóstico de fibrilação
atrial, presente em cerca de 10% dos idosos. A fibrilação atrial é causa importante de acidente vascular cerebral
cardioembólico e declínio funcional, devendo ser investigada em todo idoso. Pode se apresentar de forma
assintomática, como achado casual do exame físico.
Afecções nos pés: os pés devem ser rigorosamente avaliados em todo idoso, mesmo na ausência de diabetes
mellitus. As afecções dos pés e o uso de calçados inadequados são causas importantes de instabilidade postural
e quedas no idoso. Assim, todo idoso deve ser investigado para a presença de pé equino, valgo, varo, plano ou
desabamento do arco plantar; deformidades nos dedos, incluindo o joanete, fasciíte plantar, atrofia do coxim
plantar, calosidades e artropatia de Charcot. A prescrição de calçados adequados é também de grande
importância na avaliação do idoso.
Úlceras de membros inferiores: as úlceras de pernas constituem importante problema entre idosos, são mais
comuns em mulheres e aumentam sua frequência com a idade. A causa mais importante é a estase venosa, mas
as de origem arterial também aumentam com a idade. As úlceras venosas têm localização preferencial na região
distal da perna, acima do maléolo medial. Têm formas e tamanhos variados, e o fundo mostra algum tecido de
granulação e áreas recobertas por fibrina, às vezes com secreção purulenta. A pele ao redor pode exibir sinais
de insuficiência venosa crônica, como a dermatite ocre, eczematização, e infecção localizada ou do tipo celulite
ou erisipela. Nos casos crônicos e naqueles acompanhados por vários episódios de infecção secundária,
desenvolve-se a lipodermatoesclerose, que deixa a pele inelástica, com edema duro, dificultando a cicatrização.
As lesões extensas e em atividade podem ser dolorosas, são exsudativas e podem ter odor fétido,
comprometendo a qualidade de vida.
Lesão por pressão: são intercorrências comuns no idoso. O risco aumenta para pacientes em situações críticas,
como portadores de doença terminal, tetraplégicos ou imobilizados, desnutridos, com défices mentais, com
incontinência esfincteriana e nos imunossuprimidos. As úlceras surgem na região lombossacra, calcanhares,
tornozelos e outras áreas com proeminências ósseas. São decorrentes do dano tecidual secundário à isquemia
nestas regiões, sujeitas a pressão por longos períodos. Os seguintes estágios são descritos: (1) área
eritêmatopurpúrica na pele intacta; (2) necrose superficial atingindo epiderme e/ou derme; (3) necrose
profunda atingindo toda a espessura da pele, podendo chegar até a fáscia, mas sem ultrapassá-la; (4) a necrose
se estende à fáscia subjacente, podendo atingir o músculo, o osso e os ligamentos. Em pacientes de risco,
devem-se tomar todas as medidas preventivas para se prevenir esta complicação. Assim, deve ser garantidos o
aporte adequado de líquidos e nutrientes e a mobilização frequente no leito, bem como devem-se evitar áreas
de atrito e pressão na pele, usando-se de colchões e almofadas adequados, e fazer o exame diário da pele, com
a finalidade de se detectarem lesões iniciais.
3. Avaliação sociofamiliar
AVALIAÇÃO DA FRAGILIDADE SOCIOFAMILIAR
Sim Não Pontuação
50 SAÚDE DA PESSOA
Presença de companheiro ou cônjuge 0 2
20
SUPORTE Analfabetismo 2 0
SOCIAL
Beneficiário do Benefício de Prestação Continuada (BPC) 4 0
Moradia própria 0 2
Tomar banho Requer ajuda somente para lavar uma única Requer ajuda para lavar mais de uma parte do
parte do corpo (como as costas ou membro corpo ou para entrar ou sair da banheira, ou
deficiente) ou toma banho sozinho não toma banho sozinho
Vestir-se Pega as roupas nos armários e gavetas, Veste-se apenas parcialmente ou
veste-as, coloca órteses ou próteses, não se veste sozinho
manuseia fechos. Exclui-se o ato de
amarrar sapatos
Uso do vaso Vai ao vaso sanitário, senta-se e levanta-se Usa comadre ou similar, controlado por
sanitário do vaso; ajeita as roupas, faz terceiros, ou recebe ajuda para ir até o
a higiene íntima (pode usar comadre ou vaso sanitário e usá-lo
similar somente à noite e pode ou não estar
usando suportes mecânicos)
Transferência Deita-se e sai da cama sozinho, senta e se Requer ajuda para deitar-se na cama ou sentar
levanta da cadeira sozinho (pode estar na cadeira, ou para levantar-se; não faz
usando objeto de apoio) uma ou mais transferências
Continência Micção e evacuação inteiramente Incontinência parcial ou total para micção
autocontrolados ou evacuação; controle parcial ou total por
enemas e/ou cateteres; uso de urinóis ou
comadre controlado por terceiros. Acidentes
“ocasionais”
Alimentar-se Leva a comida do prato (ou de seu Requer ajuda para levar a comida do prato (ou
equivalente) à boca. O corte prévio da carne de seu equivalente) à boca; não come nada ou
e o preparo do alimento, como passar recebe alimentação parenteral
manteiga no pão, são excluídos da avaliação
Quadro 2. Atividades instrumentais de vida diária.
52 SAÚDE DA PESSOA
Com ajuda
Atividade de vida diária Sem ajuda Incapaz
parcial
Você é capaz de preparar suas refeições?
Você é capaz de sair de casa sozinho para lugares mais distantes, usando
algum transporte, sem necessidade de planejamento especial?
(transferência e/ou continência), além de, por decorrência lógica, ser dependente para banharse,
vestir-se e usar o banheiro. Deve-se ter cuidado neste item, pois alguns idosos podem ser
independentes para todas as atividades de vida diária e ter incontinência urinária. Isto se dá pelo
fato da incontinência esfincteriana ser uma função e não uma tarefa do cotidiano ou atividade,
como as outras ABVD propostas por Katz
● Dependente completo: apresenta comprometimento de todas as funções influenciadas pela
ABVD: atividades básicas de vida diária; AIVD: atividades instrumentais de vida diária; AAVD: atividades avançadas de vida diária.
Executante/responsável:
Unidade Básica de Saúde
Resultados esperados: planejar, organizar, supervisionar e executar o Mutirão de Saúde do Idosos no espaço
definido pelo município (ginásio de esporte, escola e/ou nas unidades de saúde)
54 SAÚDE DA PESSOA
Materiais necessários:
● Crachá de identificação dos profissionais que participarão do mutirão
● Ficha de consolidado do número de idosos que participarão do mutirão
● Ficha IVCF-20
● Cartão do idoso
● Fita métrica
● Balança antropométrica
● Cadeiras (levar em consideração número de profissionais que participarão e idosos convidados para o
mutirão)
● Mesas
● Aparelho de som
● Microfone
● Papel higiênico para os banheiros
● Desinfetante/sabão ● Lanche (se possível) Outros materiais:
● Comunicar os idosos sobre local, data e horário do Mutirão de Saúde do Idoso (tentar fazer por bloco de horas)
● Divulgar o Mutirão de Saúde do Idoso na mídia e em instituições (igrejas, associação de moradores etc.)
● Desenhar o layout/croqui do local definido, estabelecendo em qual espaço ocorrerá cada ação (estações)
● Definir equipe responsável por cada ação e um coordenador por cada ação (recepção, informações (“Posso
ajudar?”), atividades de vida diária, mobilidade etc.) e quantidade de profissionais que participarão de cada
ação/estação (serviços gerais para higienização dos banheiro, Agente Comunitário de Saúde, auxiliar
administrativo, auxiliar ou técnico de enfermagem, enfermeiro, médico, profissionais do Núcleo de Apoio à
Saúde da Família etc.)
● Reunir e capacitar todos que participarão do mutirão
Atividade principal:
● A recepção deve registrar a chegada do idoso no mapa de consolidado
● Solicitar à equipe do “Posso ajudar?” que direcione o idoso para as estações, evitando aglomerar idosos em
Estações:
Estação 1
● Autopercepção da saúde
Estação 2
● Atividades instrumentais de vida diária
● Humor
Estação 4
● Mobilidade: verificar peso, altura e calcular índice de massa corporal; medir panturrilha; medir teste de
velocidade
● Alcance, preensão e pinça
● Marcha
● Continência esfincteriana
Estação 5
● Comunicação: verificar fala, visão e audição
Estação 6
● Comorbidades múltiplas
Outras atividades:
Estação 7
Estação 8
Atividades pós-mutirão:
● Proceder ao registro dos idosos avaliados no mutirão por faixa etária (60 a 69; 70 a 79; 80 a 89 etc.) para
conhecer o perfil demográfico (prevalência dos idosos por faixa etária) e epidemiológico (idosos robustos, em
risco de fragilização, frágeis, polifarmácia etc.)
● Encaminhar os dados para a coordenação da APS
● Acompanhar e avaliar se há melhora na autonomia e independência dos idosos após a avaliação do risco
● Definir estratégia e período (tempo) para avaliar os demais idosos do território (por microárea, uma tarde por
ANEXO 4
Plano de cuidados
PLANO DE CUIDADOS PARA A SAÚDE DO IDOSO
56 SAÚDE DA PESSOA
ACS (nome): Prontuário:
Apoio comunitário (nome) (telefone)
Adesão Terapêutica:
( ) Pouco aderente - intencional_( ) Pouco aderente - não intencional_( ) Aderente
cm cm s ºC
mg/dL mg/dL
EXAMES COMPLEMENTARES:
8. ENCAMINHAMENTOS E EXAMES
*Assinalar os problemas por ordem de prioridade: P1, P2, P3 (recomendável até 3 priorizações)
6. MEDICAMENTOS
ORIENTAÇÕES
AQUISIÇÃO
MEDICAMENTO DOSE VIA HORÁRIO (armazenamento, administração,
G/P*
monitoramento com exames, outras):
58 SAÚDE DA PESSOA
DESPRESCRIÇÃO DE MEDICAMENTOS
MEDICAMENTO JUSTIFICATIVA
PROBLEMA AÇÃO META GRAU (1 a 10) INTERESSE GRAU (1 a 10) CONFIANÇA APOIO NECESSÁRIO
P1
P2
P3
ASSINATURAS E CARIMBOS
ANEXO 5
A desprescrição na atenção aos idosos
A prescrição é toda intervenção indicada para melhorar a saúde atual (tratamento) ou futura (prevenção) do
indivíduo. A desprescrição, por sua vez, é a intervenção reversa, ou seja, consiste na suspensão de
medicamentos que podem estar causando danos atuais (medicamentos inapropriados) ou futuros
(medicamentos potencialmente inapropriados) ou que não ofereçam benefícios (medicamentos fúteis). A
redução da dose de medicamentos para ajustar a relação risco-benefício-custo e a suspensão de intervenções
não medicamentosas inapropriadas também podem ser consideradas estratégias de desprescrição. Prescrever
de forma apropriada também inclui a desprescrição de medicamentos que não são mais úteis ou que não
estão mais alinhados com as metas atuais do cuidado. Prescrição e desprescrição podem, portanto, ser
consideradas as “duas faces da mesma moeda”, pois fazem parte do processo terapêutico como um todo e,
consequentemente, têm o mesmo impacto, positivo ou negativo, na saúde do indivíduo. É o que denominamos
de dualidade terapêutica. Ambas são intervenções ativas e estruturadas, que devem ser planejadas,
monitoradas e implementadas de forma individualizada, tendo como princípio a relação risco-benefício-custo e
as preferências, desejos e expectativas do paciente, customizadas pela presença de comorbidades múltiplas,
polifarmácia, idade, expectativa de vida e vitalidade do paciente. Desprescrição é, portanto, um processo
sistemático de identificação e descontinuação de medicamentos nos casos em que os danos existentes ou
potenciais superam os benefícios existentes no contexto dos objetivos de atenção individual de um paciente,
nível de funcionamento atual, expectativa de vida, valores e preferências do paciente.
Todos os idosos podem se beneficiar da desprescrição, todavia, os idosos frágeis são os indivíduos com maior
benefício, exatamente por serem mais vulneráveis e apresentarem menor reserva homeostática e, portanto,
mais suscetíveis aos efeitos adversos dos medicamentos. Idosos robustos têm maior vitalidade, e os
mecanismos homeostáticos encontram-se mais aptos para compensar os efeitos adversos dos medicamentos.
Nestes idosos, a repercussão das alterações da farmacocinética e farmacodinâmica são menos evidentes, na
medida em que apresentam menor número de comorbidades e polifarmácia. A expectativa de vida também é
bem diferente entre eles, de forma que os idosos frágeis têm menor chance de viver tempo suficiente para
obterem o benefício de algumas intervenções preventivas, como o uso de bisfosfonatos para prevenção de
fratura de fêmur, ou o uso de ácido acetilsalicílico e estatina para prevenção de fenômenos aterotrombóticos
futuros.
Existem vários algoritmos de desprescrição, mas não há evidências claras sobre a superioridade de qualquer
um deles. O processo de desprescrição é ainda empírico para a maioria dos medicamentos. A premissa mais
importante é conhecer profundamente o diagnóstico geriátrico-gerontológico e estabelecer relação de
confiança mútua entre a equipe de saúde e o idoso e sua família. A decisão da descontinuidade deve ser
compartilhada, respeitando-se os valores, as preferências, os medos e os desejos do paciente e de sua família.
Outro fator imprescindível para o sucesso da desprescrição é a disponibilidade da equipe de saúde responsável
pela implementação do plano de cuidados, de forma a garantir o vínculo e possibilitar o acesso a todas as
terapias alternativas, caso seja necessário. A desprescrição é um processo ativo e estruturado, que apresenta
riscos, da mesma forma que a prescrição.
A desprescrição pode ser súbita ou gradual, dependendo da presença e da gravidade dos efeitos adversos do
medicamento em uso e de algumas propriedades farmacocinéticas e farmacodinâmicas do fármaco, além das
expectativas e das preferências do paciente e de sua família. A suspensão súbita está indicada quando o
paciente apresenta efeitos adversos diretamente relacionados ao fármaco e sua descontinuidade tem alta
probabilidade de reverter o quadro clínico do paciente, com melhora global de sua funcionalidade ou da
60 SAÚDE DA PESSOA
sintomatologia secundária ao uso do medicamento, como, por exemplo, hipotensão ortostática (anti-
hipertensivos), hipoglicemias e equivalentes (antidiabéticos), tonturas e fraqueza geral (hipotensão arterial
medicamentosa), incontinência urinária (diuréticos), alteração do nível de consciência e confusão mental
(benzodiazepínicos e anticolinérgicos), constipação intestinal (anticolinérgicos), retenção urinária
(anticolinérgicos, anti-hipertensivos), parkinsonismo (antidopaminérgicos, como os
antipsicóticos, antivertiginosos, metoclopramida, diltiazem etc.), dentre outros. Outros
fatores determinantes da suspensão súbita são o alto risco de aparecimento de complicações agudas, como
pode ocorrer com o uso inapropriado de anticoagulantes. A possibilidade de substituição do fármaco por
outros com propriedades farmacodinâmicas semelhantes também facilita a desprescrição súbita.
ANEXO 6
Segurança ambiental para o idoso
Escala ambiental do risco de quedas
62 SAÚDE DA PESSOA
ência que
pre). Não
, fazer a