Deficiência, Incapacidade e Vulnerabilidade: Do Capacitismo Ou A Preeminência Capacitista e Biomédica Do Comitê de Ética em Pesquisa Da UFSC

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DOI: 10.1590/1413-812320152110.

07792016 3265

Deficiência, incapacidade e vulnerabilidade:

ARTIGO ARTICLE
do capacitismo ou a preeminência capacitista e biomédica
do Comitê de Ética em Pesquisa da UFSC

Disability, inability and vulnerability:


on ableism or the pre-eminence of ableist and biomedical
approaches of the Human Subjects Ethics Committee of UFSC

Anahi Guedes de Mello 1

Abstract Anthropology has increasingly ques- Resumo A Antropologia cada vez mais tem ques-
tioned the hegemony of biomedical knowledge in tionado a hegemonia dos saberes biomédicos nos
ethical review processes of social research projects processos de revisão ética de projetos de pesquisa
prevailing in Brazil, which was governed until social atualmente vigente no Brasil, regulado pelo
2012 by the Human Research Ethics Committee of Comitê de Ética em Pesquisa com Seres Humanos
each institution under the auspices of the National de cada instituição sob os auspícios da Comissão
Research Ethics Commission (CONEP). This was Nacional de Ética em Pesquisa (CONEP), atra-
mandated through Resolution No. 196/1996 pre- vés da Resolução nº 196/1996 até então vigente
vailing in 2012 when this field research was con- no momento dessa pesquisa de campo. O objetivo
ducted. The scope of this study is to recount and deste trabalho é relatar e refletir sobre os percalços
reflect upon the barriers to obtaining approval enfrentados para conseguir a aprovação, duran-
in 2012 for my master’s research project from the te o ano de 2012, de meu projeto de pesquisa de
Human Research Ethics Committee of the Feder- mestrado pelo Comitê de Ética em Pesquisa com
al University of Santa Catarina (CEP/UFSC) in Seres Humanos da Universidade Federal de Santa
Florianopolis. In this ethnographic experience, in Catarina (CEP/UFSC), em Florianópolis. Nessa
the light of Crip theory, I observed how the “dis- experiência etnográfica observei, à luz da teoria
ability,” “vulnerability” and “inability” categories crip, como se articulam as categorias ‘deficiência’,
are articulated to reveal the ableism and the pri- ‘vulnerabilidade’ e ‘incapacidade’ para revelar o
macy of the biomedical model in the case of an capacitismo e a primazia do modelo biomédico
ethics review at UFSC regarding the participation dessa instância local reguladora da ética em pes-
and legal capacity of persons with disabilities as quisa na UFSC quanto à participação e capacida-
subjects of research. de legal das pessoas com deficiência como sujeitos
Key words Ethics in research, Disability, Inabil- da pesquisa.
1
Núcleo de Identidades de ity, Vulnerability Palavras-chave Ética em pesquisa, Deficiência,
Gênero e Subjetividades, Incapacidade, Vulnerabilidade
Programa de Pós-
Graduação em Antropologia
Social, Universidade Federal
de Santa Catarina. Campus
Universitário, Pantanal.
88040-900 Florianópolis
SC Brasil.
anahigm75@gmail.com
3266
Mello AG

Introdução this particular contextualizing of disability is offe-


red as part of a much larger and collective project
O impacto causado pela teoria queer também of unraveling and decomposing both systems. The
se refletiu nos estudos sobre deficiência (Disa- idea of imbricated systems is of course not new –
bility Studies), contribuindo para a emergência Rich’s own analysis repeatedly stresses the imbrica-
da teoria crip1,2. Enquanto o principal axioma tion of compulsory heterosexuality and patriarchy.
da teoria queer postula que a sociedade contem- I would argue, however, as others have, the feminist
porânea é regida pela heteronormatividade, na and queer theories (and cultural theories generally)
teoria crip sua máxima se sustenta pelo postu- are not yet accustomed to figuring ability/disabili-
lado da corponormatividade de nossa estrutura ty into the equation, and thus this theory of com-
social pouco sensível à diversidade corporal. A pulsory able-bodiedness is offered as a preliminary
tradução do termo crip para a categoria de alei- contribution to that much-needed conversation10.
jado em português é uma forma de dar o mesmo Os dois campos têm como premissa, respec-
sentido da palavra em inglês, revelando a zona tivamente, a ideia de que as categorias binárias
de abjeção reservada às pessoas com deficiência heterossexualidade/homossexualidade e capa-
no Brasil. Do mesmo modo como ocorre com cidade/deficiência são históricas e socialmente
o termo queer para se referir hegemonicamente construídas. Enquanto a heterossexualidade com-
àqueles que rompem com as normas de gênero e pulsória de Adrienne Rich9 repousa na crítica à
sexualidade3, a terminologia crip, tal como o seu obrigatoriedade da mulher em se submeter a um
equivalente em português, tem uma conotação relacionamento heterossexual e à maternidade, o
assumidamente agressiva, pejorativa e subversi- termo proposto por Robert McRuer10, compul-
va, a fim de marcar o compromisso crip em de- sory able-bodiedness, cuja tradução em português
senvolver uma analítica da normalização do cor- de able-bodied é apto, faz referência à condição de
po contra todos aqueles que fogem dos padrões um corpo apto e fisicamente capaz para o serviço
corporais/funcionais e cognitivos, inspirando-se, militar, por exemplo. Em linhas gerais, dependen-
igualmente, nos trabalhos de Michel Foucault4, do do contexto das frases usadas com este termo,
Jacques Derrida5, Judith Butler6-8 e tantos outros poder-se-ia traduzir como corpos sãos, hábeis,
desconstrucionistas para desenvolver sua crítica aptos, capazes ou sem deficiência. Entretanto,
aos sistemas de opressão marcados pelo patriar- ao invés de “aptonormatividade”, considero cor-
cado, pela heterossexualidade compulsória9 e pela ponormatividade uma tradução mais inteligível
corponormatividade compulsória: para o sentido de able-bodiedness em português.
More than twenty years after it was initially Assim, por convenção, adotarei corpos capazes,
published, Rich’s critique of compulsory heterose- ao invés de corpos aptos. Essa distinção etimoló-
xuality is indispensable, the criticisms of her ahis- gica é necessária para o acionamento da catego-
torical notion of a ‘lesbian continuum’ notwiths- ria capacitismo, materializada através de atitudes
tanding. Despite its continued relevance, however, preconceituosas que hierarquizam sujeitos em
the realm of compulsory heterosexuality might função da adequação de seus corpos a um ideal
seem to be an unlikely place to begin contextua- de beleza e capacidade funcional. Com base no
lizing disability. I want to challenge that by con- capacitismo discriminam-se pessoas com defici-
sidering what might be gained by understanding ência. Poder-se-ia usar também “corporalidade
‘compulsory heterosexuality’ as key concept in di- compulsória” como uma tradução não literal de
sability studies. Through a reading of compulsory compulsory able-bodiedness, mas penso que esse
heterosexuality, I want to put forward a theory of termo, por semanticamente abranger uma infi-
what I call compulsory able-bodiedness. The Latin nidade de corpos, não expressa a hegemonia da
root for contextualize denotes the act of weaving norma de corpos não deficientes. O mesmo não
together, interweaving, joining together, or compo- ocorre com “heterossexualidade compulsória”,
sing. This essay thus contextualizes disability in the em que cognitivamente no primeiro momento se
root sense of the word, because I argue that the sys- percebe os corpos heterossexuais como o padrão
tem of compulsory able-bodiedness that produces hegemônico.
disability is thoroughly interwoven with the system Até onde é do meu conhecimento, no Brasil
of compulsory heterosexuality that produces que- não houve, até o presente ano de 2012, uma cate-
erness; that – in fact – compulsory heterosexuality goria analítica em língua portuguesa que pudesse
is contingent on compulsory able-bodiedness and expressar a “discriminação por motivo de defici-
vice versa. And, although I reiterate it in my con- ência”, da mesma forma que o racismo substituiu
clusion, I want to make it clear at the outset that a antiga expressão “discriminação por motivo de
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cor da pele”. Debora Diniz e Wederson Santos11 aquela, “capacitismo”. Em comunicação pessoal
confirmam essa constatação: ao meu e-mail, datada de 15 de dezembro de
O direito de não ser discriminado pelo corpo 2012, Romeu Kazumi Sassaki esclarece que:
que se habita está em nosso marco constitucional, Na língua inglesa, as palavras ableism e di-
que veda a discriminação por sexo ou raça. Para sablism surgiram há muitas décadas, no tempo
descrever essas formas perversas de opressão pelo em que as terminologias designavam pessoas com
corpo, dispomos de categorias analíticas e discur- deficiência como ‘os deficientes’ e as pessoas sem
sivas: sexismo, no caso da discriminação por sexo; deficiência como ‘os normais’; só mais tarde desig-
homofobia, no caso da discriminação pela orienta- nadas, respectivamente, ‘as pessoas deficientes’ e ‘as
ção sexual; racismo, no caso da discriminação pela pessoas normais’. As palavras ableism e disablism
cor da pele ou etnia. No caso da deficiência, há uma foram construídas com os seguintes componentes:
ausência no léxico ativo da língua portuguesa. Nos- able (o capaz) ou disabled (o incapaz) e o sufixo
sa incapacidade discursiva é um indicador da invi- ism (doutrina, sistema, teoria, tendência, corrente
sibilidade social e política desse fenômeno. Como etc., com sentido pejorativo). Portanto, a tradução
descrever os resultados perversos da ideologia da dessas duas palavras para a língua portuguesa bra-
normalidade sobre os corpos com impedimentos? sileira deveria seguir as terminologias da época,
Como nominar as expressões da desigualdade so- resultando em: ableism = capacitismo; disablism
frida pelas pessoas com deficiência no mundo do = deficientismo. Hoje, na era do termo ‘pessoas
trabalho, nas escolas e nas relações interpessoais? com deficiência’, fica complicado traduzir aquelas
É interessante notar que o Art. 2 da Conven- palavras tão antigas. [...] Mas, a diferença entre es-
ção sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência tas duas palavras está no foco apontado por quem
faz jus a este silêncio, ao definir a “discriminação pratica a tal discriminação, a saber: 1) O ableism
por motivo de deficiência” como: (ou ablism) está focalizado nas supostas capacida-
Qualquer diferenciação, exclusão ou restrição des das pessoas sem deficiência como referência
baseada em deficiência, com o propósito ou efeito para mostrar as supostas limitações das pessoas
de impedir ou impossibilitar o reconhecimento, o com deficiência. No ableism, a ênfase é colocada
desfrute ou o exercício, em igualdade de oportuni- nas supostas pessoas capazes, as quais constituem
dades com as demais pessoas, de todos os direitos a maioria da população e são supostamente consi-
humanos e liberdades fundamentais nos âmbitos deradas normais; e 2) Inversamente, o disablism
político, econômico, social, cultural, civil ou qual- está focalizado nas supostas limitações das pessoas
quer outro. Abrange todas as formas de discrimi- com deficiência como referência para mostrar as
nação, inclusive a recusa de adaptação razoável12. supostas capacidades das pessoas sem deficiência.
Minha proposta é que, a exemplo de Portu- No disablism, a ênfase é colocada na suposta anor-
gal13, passemos a adotar no Brasil a tradução de malidade das pessoas com deficiência, as quais
ableism para capacitismo na língua portuguesa, constituem uma minoria populacional.
por duas razões principais: a primeira é a deman- Acredito que able de ableism seja a palavra
da de urgência para visibilizar uma forma pecu- mais apropriada por ter a capacidade de neutra-
liar de opressão contra as pessoas com deficiência lizar a palavra “capaz”, no sentido de positivida-
e, por consequência, dar maior visibilidade social de da deficiência, do mesmo modo que racismo
e política a este segmento; a segunda deriva do vem de raça e sexismo, de sexo. Desse modo, o
próprio postulado da teoria crip, ou seja, para capacitismo “é um neologismo que sugere um
desconstruir as fronteiras entre deficientes e não afastamento da capacidade, da aptidão, pela de-
deficientes é necessário explorar os meandros da ficiência”14.
corponormatividade de nossa estrutura social ao A Antropologia cada vez mais tem questio-
dar nome a um tipo de discriminação que se ma- nado a hegemonia dos saberes biomédicos nos
terializa na forma de mecanismos de interdição processos de revisão ética de projetos de pesqui-
e de controle biopolítico de corpos com base na sa social atualmente vigente no Brasil, regulado
premissa da (in)capacidade, ou seja, no que as pelo Comitê de Ética em Pesquisa com Seres
pessoas com deficiência podem ou são capazes de Humanos de cada instituição sob a orientação
ser e fazer. Mas, ao contrário de Ana Maria Perei- e normatização da Comissão Nacional de Ética
ra13, a tradução que proponho para a língua por- em Pesquisa (Conep), através da Resolução nº
tuguesa deriva somente do inglês ableism, etimo- 196/1996 do Conselho Nacional de Saúde, vigen-
logicamente distinta de disablism, embora ambas te até o momento da realização dessa pesquisa de
as palavras se refiram à “discriminação por moti- campo, encerrada em outubro de 2012, quando
vo de deficiência”: esta significa “deficientismo”; então essa resolução foi revogada e substituí-
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Mello AG

da pela Resolução nº 466/2012, datada de 12 de trabalho também aponta para a presença do ca-
dezembro de 2012. Esta resolução, ao refletir as pacitismo do Comitê de Ética em Pesquisa com
diretrizes presentes nos principais documentos Seres Humanos da Universidade Federal de Santa
sobre ética em pesquisa lançados por associa- Catarina (CEP/UFSC). Trata-se de um relato et-
ções ou organismos biomédicos internacionais nográfico baseado em minhas reflexões de cam-
reguladores da pesquisa clínica, confrontou o po sobre os percalços enfrentados para conseguir
entendimento do que seja uma “pesquisa com a aprovação de meu projeto de pesquisa de mes-
seres humanos” nos campos biomédicos e so- trado sobre violências contra mulheres com defi-
ciais, uma vez que ignora as especificidades dos ciência pelo CEP/UFSC. Nessa experiência etno-
métodos e técnicas qualitativas de levantamen- gráfica observei como se articulam as categorias
to de dados destes últimos15,16. Segundo Debora “deficiência”, “vulnerabilidade” e “incapacidade”
Diniz16, “pesquisa social” deve ser entendida em para revelar o capacitismo e a primazia do mode-
contraposição à “pesquisa biomédica”, ou seja, lo biomédico dessa instância local reguladora da
uma pesquisa com seres humanos “que faz uso ética em pesquisa na UFSC quanto à participação
de técnicas qualitativas de investigação e/ou que e capacidade legal das pessoas com deficiência
adota perspectivas analíticas das ciências sociais como sujeitos da pesquisa.
e humanas”. Para fundamentar a inviabilidade
desse tipo de exigência na prática etnográfica, Breve itinerário da submissão do projeto
Luís Roberto Cardoso de Oliveira17 propôs uma de pesquisa à revisão ética do CEP/UFSC
distinção entre “pesquisa em seres humanos” e
“pesquisa com seres humanos”: Em que pese a minha sensibilidade antropo-
No caso da pesquisa em seres humanos, a rela- lógica para as implicações éticas do uso contratu-
ção com os sujeitos, objeto da pesquisa, tem como al do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido
paradigma uma situação de intervenção, na qual (TCLE), devido ao fato de periódicos nacionais
esses seres humanos são colocados na condição de na interface entre as áreas biomédicas e humani-
cobaias e, por tratar-se de cobaia de tipo diferen- dades exigirem como condição sine qua non para
te, é necessário que esta condição de cobaia seja a publicação de artigos, a referência ao parecer
relativizada. É neste contexto que o consentimento do Comitê de Ética em Pesquisa (CEP) relativo à
informado se constitui em uma exigência não só aprovação de projetos de pesquisa e/ou mesmo à
legítima, mas da maior importância. Já no caso da citação do TCLE assinado pelos sujeitos de pes-
pesquisa com seres humanos, diferentemente da quisa, optei por submeter meu projeto de pesqui-
pesquisa em seres humanos, o sujeito da pesquisa sa de mestrado à apreciação do CEP/UFSC, uma
deixa a condição de cobaia (ou de objeto de inter- vez que minha pesquisa de mestrado, por abor-
venção) para assumir o papel de ator (ou sujeito dar violências contra mulheres com deficiência
de interlocução). Na Antropologia, que tem no tra- no contexto das relações de cuidado, imbricadas,
balho de campo o principal símbolo de suas ativi- sobretudo, em questões de assistência à saúde e
dades de pesquisa, o próprio objeto da pesquisa é na emergência de políticas públicas “do cuidado”
negociado: tanto no plano da interação com os ato- voltadas não apenas à pessoa com deficiência cui-
res, como no plano da construção ou da definição dada, mas também às suas cuidadoras, também
do problema pesquisado pelo antropólogo. Então, se insere nesta interface entre as ciências da saúde
o consentimento informado me parece pouco pro- e as ciências humanas e sociais.
dutivo para o trabalho do antropólogo. Quando o Após a obtenção da autorização formal da de-
antropólogo faz a pesquisa de campo ele tem que legada de polícia chefe da Divisão de Polícia Es-
negociar sua identidade e sua inserção na comuni- pecializada da Mulher, do Idoso e do Deficiente
dade, fazendo com que sua permanência no campo (DEMID) para a realização da pesquisa de cam-
e seus diálogos com os atores sejam, por definição, po na Delegacia Especializada de Atendimento à
consentidos. Entretanto, o antropólogo sempre tem Pessoa com Deficiência e ao Idoso de Belo Ho-
mais de uma identidade no campo. [...] Uma vez rizonte (DEADI), em Belo Horizonte, iniciei, no
no campo, o antropólogo também se relaciona com mês de maio de 2012, não sem muita dificulda-
os nativos enquanto ator, e frequentemente partici- de, os procedimentos para o cadastro on line do
pa do modo de vida do grupo estudado ou compar- projeto de pesquisa no site da Plataforma Brasil,
tilha experiências com seus interlocutores17. “uma base nacional e unificada de registros de
Mais que a preeminência biomédica nos pro- pesquisas envolvendo seres humanos para todo
cessos de revisão ética de projetos de pesquisa o sistema CEP/Conep”, conforme trecho extraído
social atualmente vigente no Brasil, o presente em sua página, e instituído a partir de novembro
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de 2011 em substituição aos arquivos impressos biomédicas, de modo que isso refletiu nas conse-
que tramitavam e eram entregues dessa forma quências práticas da mesma na Plataforma Bra-
anteriormente no CEP/UFSC, sob as instruções sil19, por meio do preenchimento de quesitos que
normativas do Sistema Nacional de Informação não fazem o menor sentido à pesquisa antropo-
sobre Ética em Pesquisa envolvendo Seres Hu- lógica, por exemplo, definir o tamanho exato da
manos (Sisnep), quando nem todos os procedi- amostra quando se está em jogo a observação da
mentos eram informatizados por esse sistema e premissa antropológica dos “imponderáveis da
a Plataforma Brasil ainda era um processo em vida cotidiana”21, bem como de avaliar e enume-
construção18. A Plataforma Brasil18,19 é um siste- rar os riscos supostamente à saúde dos sujeitos,
ma de informação totalmente informatizado de uma vez que nesse caso não se trata de “interven-
submissão, controle e acompanhamento eletrô- ções em seres humanos”17,19; no segundo caso, en-
nico de projetos de pesquisa avaliados ou em ava- tendo que em muitas situações a garantia da ética
liação por um comitê local de ética em pesquisa em pesquisa social demonstra que na prática os
(geralmente da instituição de origem da pesqui- objetivos tanto da antiga Resolução nº 196/1996
sadora ou pesquisador proponente) e subordi- quanto da Resolução nº 466/2012 em vigor do
nado à Comissão Nacional de Ética em Pesquisa Conselho Nacional de Saúde visam a garantir a
– Conep. Seu desenho se baseia em um modelo proteção jurídica dos interesses de instituições
dedutivista dominado pelas lógicas biomédica, e outros “grupos dominantes” em detrimento
jurídica e informática, o que conjuntamente con- dos sujeitos de pesquisa; e no terceiro caso, mes-
tribuiu para a lentidão do processo de submissão mo que o site do CEP/UFSC disponibilize para
e aprovação do projeto de pesquisa pelo CEP/ download a apostila “Orientações básicas para
UFSC, cujo envio só foi possível de ser concreti- submissão de projetos de pesquisa” do sistema
zado em 04 de setembro de 2012, resultando em CEP/Conep, a Plataforma Brasil não parece ser
três pareceres consubstanciados do CEP/UFSC, fácil de usar, uma vez que não alcança, total ou
emitidos, respectivamente, pela relatoria nos dias parcialmente a depender do usuário, os cinco
24/09, 12/11 e 10/12 do mesmo ano, mas, com critérios básicos de usabilidade na web, que são
exceção do terceiro e último parecer, que foi libe- a facilidade de aprendizagem, eficiência de uso,
rado para leitura na Plataforma Brasil no mesmo facilidade de memorização, baixa taxa de erros e
dia de sua emissão, os demais foram disponibi- satisfação22. Segundo a Norma ISO 94241-11, a
lizados somente a partir dos dias 26/09 e 19/11. usabilidade “é a medida na qual um produto pode
Vale destacar que a pesquisa de campo em Belo ser usado por usuários específicos para alcançar
Horizonte se encerrou no início de outubro de objetivos específicos com efetividade, eficiência
2012, portanto, bem antes da aprovação definiti- e satisfação num contexto específico de uso”. É,
va do projeto, tendo este sido aprovado somente portanto, um atributo de sistemas de informa-
a dois dias da vigência da nova Resolução nº 466, ção que são fáceis de usar e de aprender. Ainda,
de 12 de dezembro de 2012, inviabilizando o uso cumpre esclarecer que a maior parte da demora
do TCLE mesmo ao final do trabalho de campo. se deveu a um problema técnico do sistema para
Enquanto meu projeto tramitava burocratica- inserir, reconhecer e confirmar meu nome como
mente no CEP/UFSC, continuei o trabalho de pesquisadora assistente na Plataforma Brasil, de
campo nessa cidade. Em vários momentos desde modo que, devido à minha condição de pessoa
maio de 2012 estive negociando “informalmente” surda, tive que recorrer várias vezes à assistência
a minha entrada no campo da DEADI. Confor- técnica por escrito. Porém, nem mesmo o atendi-
me sustenta William Whyte20, em muitos casos “a mento para solucionar esse problema por e-mail
observação participante implica, necessariamen- e chat on line em seu site foi eficiente, devido às
te, um processo longo”, em que a pesquisadora condições péssimas de conexão e usabilidade. As
“passa inúmeros meses para “negociar” sua en- respostas que recebi da assistência técnica para
trada na área”. esse problema foram inexistentes ou ineficientes,
A despeito dos avanços proporcionados pela tendo sido solucionado por mim na base de erros
Plataforma Brasil em comparação ao Sisnep, pre- e tentativas.
dominou o modelo dedutivista baseado nas lógi- As explanações levantadas anteriormente ex-
cas biomédica, jurídica e informática: no primei- trapolam, sobretudo, a ideia de uma única con-
ro caso, a Resolução nº 196/1996 em vigor naque- cepção de pesquisa. No caso da pesquisa social,
le momento ainda provocava vários entraves por a inaplicabilidade da Resolução nº 196/1996 se
não considerar as especificidades disciplinares refletiu na submissão e avaliação do projeto de
das ciências humanas e sociais frente às ciências pesquisa na Plataforma Brasil, de modo que optei
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Mello AG

por continuar a pesquisa de campo antes mesmo tece em pesquisas biomédicas? Considerando
da emissão do parecer consubstanciado final pelo que a posição do CEP/UFSC tendia à avaliação
CEP/UFSC. A antecipação da entrada de campo, dos riscos em termos biomédicos e que as vio-
bem como de sua finalização, levou em conta o lências estão sempre no domínio das relações de
rigor teórico e a observância dos preceitos éticos poder, tendo na questão moral um lugar central
do campo da Antropologia, sempre implicados nos estudos das violências27, refleti sobre quais
em uma relação de reciprocidade e dádiva23,24, poderiam ser esses “riscos mínimos” em pesquisa
através de três compromissos ou responsabilida- social e de que maneira eles impactariam na vida
des éticas que os antropólogos devem assumir, a de meus sujeitos de pesquisa. Em um primeiro
saber: a) o compromisso com a verdade e a pro- momento, conclui que seus “riscos” são muito
dução de conhecimento antropológico, seguindo mais em torno de questões de “ordem psicológi-
os critérios de validade científica compartilhados ca”, ou seja, a “quebra de pactos” pode causar rea-
entre seus pares; b) o compromisso ético, moral e ções negativas nos sujeitos após a divulgação dos
político perante seus sujeitos da pesquisa, infor- resultados. Nesse sentido, a fim de minimizá-las,
mando-lhes sobre sua condição de pesquisadora reformulei esta seção esclarecendo com algum
e os objetivos e formas de abordagem da pesqui- destaque na segunda versão do TCLE que “não
sa, sempre respeitando suas práticas culturais, existem riscos associados à saúde com a partici-
sua privacidade e o livre consentimento em par- pação dos sujeitos no projeto”. Como “medidas
ticipar ou não da pesquisa; e c) o compromisso protetivas”, apontei que “qualquer atitude e/ou
com a sociedade e a cidadania, principalmente ao situação antiética de ambas as partes (pesquisa-
retribuir os sujeitos estudados por meio da divul- dora e sujeitos da pesquisa) que não corresponda
gação e publicação dos resultados da pesquisa25. às boas práticas de pesquisa, será imediatamen-
te interrompida ou cessada”, havendo ainda a
A preeminência capacitista e biomédica opção de garantir ao sujeito “o direito à recusa
presente nas recomendações do CEP/UFSC e à interrupção de sua participação na pesquisa
em qualquer momento, sem qualquer prejuízo à
As recomendações do CEP/UFSC constantes sua saúde e dignidade.” Desse modo, ainda que
no primeiro parecer foram no sentido de corrigir subordinada naquele momento aos ditames da
o TCLE e melhorar a avaliação dos riscos, bem Resolução CNS 196/1996, acredito ter resguar-
como prever medidas para a proteção dos par- dado a inviolabilidade do anonimato, da intimi-
ticipantes. Sobre os dados por mim preenchidos dade e da privacidade, bem como da garantia da
na seção de “avaliação de riscos e benefícios” da confidencialidade de informações consideradas
Plataforma Brasil, o CEP/UFSC pondera que “os sigilosas, o compartilhamento de experiências e
riscos são avaliados e até minimizados, com a o compromisso da devolução dos resultados da
informação de que são ausentes, o que evidente- pesquisa.
mente não é o caso em qualquer pesquisa envol- Sobre a outra recomendação, em um primei-
vendo violência domiciliar”. Em relação à apre- ro momento considerei impertinente a sugestão
sentação obrigatória dos documentos, considera de dois TCLE, um para mulheres com deficiên-
que ‘O TCLE é insuficiente, uma vez que único cia; outro, para policiais, uma vez que o objeto
para policiais e mulheres que sofreram violência da investigação não são exatamente as práticas
e linguagem complexa. Embora trabalhando com policiais da delegacia, mas a experiência de mu-
deficientes, não há previsão para que a autorização lheres com deficiência que procuram a delegacia
seja feita por representante nomeado no caso de in- para prestar queixas e registrar denúncias: As
capazes [grifo meu], bem como Termo de Assenti- entrevistas e conversas com policiais ou qualquer
mento das mesmas.’ (Parecer). outro profissional da delegacia não têm o intuito de
Na concepção do CEP/UFSC, o que significa avaliar e analisar as práticas policiais, mas de obter
melhorar os “riscos e benefícios”, salvaguardando desses profissionais dados relevantes unicamente
os direitos dos sujeitos, uma vez que a pesquisa sobre violências contra mulheres com deficiência.
social deve considerá-los contemporâneos26 da (Resposta da pesquisadora ao CEP/UFSC).
pesquisadora e do pesquisador ou, nos termos Desse modo, justifiquei ser suficiente as duas
de Luís Roberto Cardoso de Oliveira, sujeitos de representações em um único TCLE, uma vez que
interlocução17, oferecendo “risco mínimo”15, por- estavam imbricadas entre si. Para me deter com
quanto não implica em intervenções nos corpos mais acuidade de registro etnográfico às experi-
com impedimentos, tratando-os na condição de ências das sujeitas, às várias relações (conjugais,
cobaias de experimentos científicos como acon- de filiação, etárias, socioeconômicas etc.) nas
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quais estão envolvidas e nas ambiguidades vin- tas para proteção dos participantes”, seguida da
culadas à questão da deficiência que dão sentido recomendação de nova correção do TCLE. Cito
às experiências de violência, também era impor- na íntegra a nova demanda feita nesse parecer de
tante observar o contexto da delegacia, localizan- pedido de diligências: O TCLE continua insufi-
do suas práticas no campo geral dos serviços e ciente, uma vez que único para policiais e mulheres
políticas públicas de enfrentamento a todas as que sofreram violência e linguagem complexa. A
formas de violência contra mulheres e pessoas previsão para que a autorização seja feita por re-
com deficiência, aliado ao contexto da cidade e presentante nomeado no caso de incapazes [grifo
estado onde foi feita a pesquisa de campo. Por meu], bem como Termo de Assentimento é citada,
isso, o levantamento de fontes secundárias de da- mas não operacionalidade. São necessários TCLES
dos, tais como os processos de IPLs (inquéritos diferentes para cada grupo de sujeitos. (Parecer).
policiais civis) e os BOs (boletins de ocorrência), A postura reincidente do CEP/UFSC sobre
bem como a observação participante, conversas as pessoas/mulheres com deficiência como “su-
e entrevistas no espaço da delegacia, tanto com jeitos incapazes” mobilizou de vez toda a minha
pessoas com deficiência quanto com policiais que existência como pessoa com deficiência e ati-
as atendem, são importantes fontes de registros vista-acadêmica da deficiência, valendo-me do
etnográficos que, juntos, podem oferecer uma poder de perícia e do poder referente, no sentido
melhor dimensão situacional sobre as violên- de desconstruir a noção de incapacidade, que
cias contra mulheres com deficiência, de acordo está intimamente entrelaçada à de deficiência.
com as especificidades locais. Melhorei a “lingua- Enquanto o poder de perícia se refere ao “uso do
gem complexa” do TCLE, no sentido de torná-la conhecimento teórico na ação militante”; o poder
mais “concisa” e “objetiva”, e dispensei o Termo referente significa “ser referência pela experiên-
de Assentimento e um TCLE para “representan- cia militante para os outros”28. Esta posição do
te nomeado no caso de incapazes”, esclarecendo CEP/UFSC está baseada em um modelo biomé-
no próprio texto da nova versão do TCLE que dico de compreensão da deficiência, assim como
“todos os sujeitos a serem contatados para par- o é a submissão dos projetos de pesquisa social
ticipar deverão ser maiores de idade”. Argumen- à lógica biomédica. Sendo assim, em 27 de no-
tei, a contragosto, que na possibilidade de haver vembro de 2012 enviei uma carta ao CEP/UFSC,
sujeitos interditos (por curatela, caso em que se para questionar a pertinência de ambos os pare-
aplica a interdição de sujeitos que já alcançaram ceres em relação ao TCLE e manifestar surpresa
a maioridade legal), seria requerida a autoriza- com o desconhecimento dos atuais estudos so-
ção expressa de sua curadora ou curador para a bre a temática da deficiência pelo comitê. Dada a
participação na pesquisa, resguardados todos os pertinência de expandir alguns dos argumentos
direitos, do mesmo modo em relação aos demais contidos na carta, assinada conjuntamente com
participantes. Meu contragosto foi no sentido de a professora Miriam Pillar Grossi e o professor
ter que optar pelo caminho “mais fácil”, ou seja, Adriano Henrique Nuernberg, respectivamente
submeter-me, mais uma vez, à lógica biomédica, orientadora e coorientador de meu mestrado,
mesmo sabendo de antemão da existência de um optei por transpor alguns trechos no decorrer
aparato legal e jurídico, que é a Convenção sobre deste trabalho, quer dizer, poucos trechos estão
os Direitos das Pessoas com Deficiência12 da qual citados aqui de modo literal.
o Brasil é signatário desde 2008 e que garante a Em ambos os pareceres, as pessoas com defi-
capacidade legal das pessoas com deficiência em ciência são tratadas como “incapazes”, denotan-
participarem de todos os atos da vida civil, in- do aí uma “violência capacitista”. De fato, o que se
clusive como interlocutoras da pesquisa mesmo chama de concepção capacitista está intimamen-
em situações em que estão interditadas injusta e te ligada à corponormatividade que considera
equivocadamente por força da lei brasileira. determinados corpos como inferiores, incomple-
tos ou passíveis de reparação/reabilitação quan-
Deficiência, incapacidade e vulnerabilidade do situados em relação aos padrões hegemônicos
corporais/funcionais. Atitudes capacitistas contra
Na sequência, a nova resposta do CEP/UFSC, pessoas com deficiência refletem a falta de cons-
por meio de Parecer, manteve praticamente as cientização sobre a importância da sua inclusão
mesmas considerações do anterior em relação e da acessibilidade, porquanto deve-se entender
ao TCLE, nos moldes de resguardar “sujeitos que Esta concepção, bastante antiga neste campo,
incapazes”, e acatou as minhas correções acerca é aquela oriunda do campo da biomedicina, que
da “avaliação de riscos” e das “medidas previs- via até recentemente a deficiência como uma pa-
3272
Mello AG

tologia cujo resultado seria a ‘incapacitação’ social den conseguir, y también a lo que su sociedad les
e muitas vezes também intelectual e de autonomia dije que es una meta adecuada para alguien como
pessoal dos sujeitos com deficiência. (Trecho da ellos. Las mujeres y otras personas desfavorecidas
carta-resposta enviada ao CEP/UFSC). muestran a menudo esta clase de ‘preferencias
Os estudos recentes sobre o tema definem adaptativas’, formadas en el contexto de unas con-
como capacitismo13,14,28-31 a forma como pessoas diciones injustas”36.
com deficiência são tratadas como “incapazes”, Desse modo, “esquece-se” que as pessoas com
aproximando as demandas dos movimentos de deficiência podem desenvolver outras habilida-
pessoas com deficiência a outras discriminações des não agregadas à sua incapacidade biológica
sociais como o racismo, o sexismo e a homofobia. (não ouvir, não enxergar, não andar, não exercer
Para Fiona K. Campbell29,30, o capacitismo, que de forma plena todas as faculdades mentais ou
está para as pessoas com deficiência assim como intelectuais etc.) e serem socialmente capazes de
o racismo está para os negros e o sexismo para as realizar a maioria das capacidades que se exige
mulheres, pode ser associado com a produção de de um “normal”, tão ou até mais que este. Esse
poder e se relaciona com a temática do corpo e por argumento corrobora com o exemplo dado por
uma ideia de padrão corporal/funcional perfeito: Patricia Rosa37 sobre a aprendizagem de crianças
[…] a network of beliefs, processes and practices “normais” e “anormais” na educação, quando faz
that produces a particular kind of self and body (the sua crítica à concepção clássica de categorização
corporeal standard) that is projected as the perfect, que parte do uso de conceitos universais:
species-typical and therefore essential and fully hu- O problema que pode ser ressaltado é que es-
man. Disability is cast as a diminished state of being ses pontos só poderiam ser verdadeiros se todos os
human29. Essa rede de crenças, processos e práti- ‘normais’ tivessem habilidades iguais e todos os ‘a-
cas sobre os corpos com impedimentos tem pro- normais’ tivessem um outro grupo de habilidades
fundas raízes na antiga civilização greco-romana, iguais, mas o que seria destacado é a falta de habi-
quando havia uma generalização consentida do lidade para aquilo que os ‘normais’ são hábeis. En-
infanticídio, seja por razões de ordem econômi- tretanto, algumas crianças ‘normais’ têm grandes
ca (por exemplo, impossibilidade de sustentar a dificuldades para o aprendizado de disciplinas que
criança) ou por considerar socialmente inviável exigem a habilidade da abstração, por exemplo.
a sobrevivência de crianças recém-nascidas com Contudo, a pressuposição dessa habilidade num
alguma deficiência32-35. Nesse sentido, a manifes- grau mínimo exigido dentro da classificação em
tação da deficiência lesiona o ideário eugênico que estão colocados, ‘normais’, faz com que essas
de corporeidade grega tão intimamente enraiza- crianças não tenham os estímulos que seriam ne-
do em nós. No caso do capacitismo, ele alude a cessários para que desenvolvessem aquele grau mí-
uma postura preconceituosa que hierarquiza as nimo exigido [de capacidades]. Por outro lado, al-
pessoas em função da adequação dos seus cor- gumas crianças que são classificadas como ‘a-nor-
pos à corponormatividade. É uma categoria que mais’, com o estímulo adequado, podem alcançar as
define a forma como as pessoas com deficiência habilidades pressupostas para os ‘normais’ de uma
são tratadas de modo generalizado como inca- maneira que muitos ali classificados jamais seriam
pazes (incapazes de produzir, de trabalhar, de capazes, simplesmente porque suas habilidades e
aprender, de amar, de cuidar, de sentir desejo e seus interesses são outros37.
ser desejada, de ter relações sexuais etc.), aproxi- Essa autora sugere rejeitarmos qualquer ca-
mando as demandas dos movimentos de pessoas tegorização que parta de conceitos universais,
com deficiência a outras discriminações sociais, porque eles impõem padrões e valorações arbi-
como o sexismo, o racismo e a homofobia. Essa trárias. Ao invés disso, propõe que se reconheça a
postura advém de um julgamento moral que as- singularidade de cada ser humano. Contudo, em
socia a capacidade unicamente à funcionalidade Antropologia aprendemos que as relações sociais
de estruturas corporais e se mobiliza para avaliar são construídas a partir de categorias binárias ou
o que as pessoas com deficiência são capazes de de oposição, ainda que dediquemos todo nosso
ser e fazer36 para serem consideradas plenamente tempo e empenho a desconstrui-las. A vida de
humanas. Em sua crítica ao enfoque utilitarista, cada pessoa está e sempre estará em relação a al-
a filósofa feminista Martha Nussbaum36 chega a guma coisa e as categorizações sociais da defici-
argumentar que ência também não fogem à regra. Como exemplo,
“[...] también queremos saber que es lo que son cito trechos de alguns trabalhos que evidenciam
realmente capaces de ser y de hacer. Las personas a perpétua associação preeminente da deficiência
ajustan sus preferencias a lo que piensan que pue- à incapacidade:
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Estas [as pessoas com deficiência], indepen- dois lados da mesma moeda, fundamentalmente
dentemente de suas potencialidades individuais, importantes na vida das pessoas com deficiência43.
encontram-se amordaçadas por uma ideia globali- No campo jurídico, a questão da interdição
zante de incapacidade e invalidez, que compromete de pessoas com deficiência, consideradas “inca-
tremendamente seu aproveitamento como força pazes” nos pareceres é citada no Art. 12 da Con-
de trabalho, da mesma forma que diminui suas venção sobre os Direitos das Pessoas com Deficiên-
possibilidades de realização afetiva, educacional e cia (CDPD), que trata do “reconhecimento igual
política38. perante a lei”:
A medicalização e a corporeidade da deficiên- 1. Os Estados Partes reafirmam que as pessoas
cia sugerem que a vida da pessoa com deficiência com deficiência têm o direito de ser reconhecidas
deve ser entendida em termos de incapacidade e em todos os lugares como pessoas perante a lei; 2.
confinamento39. Os Estados Partes reconhecerão que as pessoas com
No Brasil, por exemplo, a regulamentação da deficiência gozam de capacidade legal em igual-
principal política de proteção social às pessoas com dade de condições com as demais pessoas em to-
deficiência, o Benefício de Prestação Continuada dos os aspectos da vida [grifo meu]; 3. Os Estados
da Assistência Social (BPC), declara-se destinado Partes tomarão medidas apropriadas para prover o
a pessoas ‘incapazes para a vida independente e acesso de pessoas com deficiência ao apoio de que
para o trabalho’ [...] O BPC é um benefício mensal necessitarem no exercício de sua capacidade legal
no valor de 1 salário mínimo destinado à pessoas [grifo meu]; 4. Os Estados Partes assegurarão que
idosas e pessoas com deficiência. Para ser elegível todas as medidas relativas ao exercício da capa-
ao benefício, as pessoas com deficiência passam por cidade legal incluam salvaguardas apropriadas
uma perícia médica e social que atestam a sua in- e efetivas para prevenir abusos [grifo meu], em
capacidade. Muito embora atualmente haja uma conformidade com o direito internacional dos di-
Ação de Descumprimento de Preceito Fundamen- reitos humanos. Essas salvaguardas assegurarão
tal – a ADPF 182 – contestando esse entendimento que as medidas relativas ao exercício da capa-
na Suprema Corte Brasileira (Supremo Tribunal cidade legal respeitem os direitos, a vontade e as
Federal), o fato da definição de deficiência como preferências da pessoa, sejam isentas de conflito de
incapacidade ainda estar em vigor é um exemplo interesses e de influência indevida, sejam propor-
claro de como a autonomia das pessoas com defici- cionais e apropriadas às circunstâncias da pessoa,
ência é desrespeitada na sociedade brasileira40. se apliquem pelo período mais curto possível e se-
Apesar dessas ressalvas, as vozes de Paula e jam submetidas à revisão regular por uma autori-
Rodrigo de fato fazem ecoar as palavras de Shakes- dade ou órgão judiciário competente, independente
peare. Em suas narrativas, a noção de ‘deficiência’ e imparcial. As salvaguardas serão proporcionais
emerge como algo inevitavelmente atrelado à ‘limi- ao grau em que tais medidas afetarem os direitos e
tação’ e à ‘incapacidade’: uma categoria, portanto, interesses da pessoa; e 5. Os Estados Partes, sujeitos
a ser recusada na construção de narrativas so­bre ao disposto neste Artigo, tomarão todas as medidas
si41. apropriadas e efetivas para assegurar às pessoas
Todos esses trechos escancaram as narrativas com deficiência o igual direito de possuir ou herdar
hegemônicas sobre as pessoas com deficiência, bens, de controlar as próprias finanças e de ter igual
por assim dizer, “narrativas capacitistas”. Uma acesso a empréstimos bancários, hipotecas e outras
pessoa com deficiência, de acordo com o tipo e formas de crédito financeiro, e assegurarão que as
grau ou severidade da deficiência, pode não re- pessoas com deficiência não sejam arbitrariamente
alizar, sozinha, determinadas atividades, depen- destituídas de seus bens12.
dendo de assistentes pessoais e/ou de cuidadoras. Lembro ainda que esta supracitada Conven-
Mas o poder de tomar decisões, isto é, a capaci- ção, por ter status de Emenda Constitucional,
dade de agência42 para decidir sobre essas ativi- está acima do próprio Código de Processo Ci-
dades deve ser creditada a elas, respeitando suas vil Brasileiro. Desde essa perspectiva, o Art. 12,
opiniões e desejos: ao adotar medidas de salvaguardas, não admite
Uma pessoa com tetraplegia severa pode não mais as interdições judiciais, qualquer que seja
ser, por exemplo, capaz de se vestir sozinha (por o seu tipo. Noutras palavras, a absoluta suprime
restrição de autonomia), mas ela tem independên- completamente a capacidade civil da pessoa, e a
cia para decidir e escolher que tipo de roupa quer relativa, parcialmente, sob pena de tratamento
vestir. A autonomia (controle sobre o próprio cor- desigual e indigno às pessoas com deficiência.
po e sobre o ambiente mais próximo) e a indepen- Assim, esse artigo confere e garante capacidade
dência (faculdade de decidir por si mesma) são os legal às pessoas com deficiência e impõe aos Es-
3274
Mello AG

tados-Parte, entre outras, a obrigação de prover ciência, de acordo com Wendy Rogers e Angela
todos os apoios que permitam a autonomia e o Ballantyne46, a vulnerabilidade “decorre [tanto]
desejo da própria pessoa, agora não mais tratada do contexto socioeconômico no qual vivem os
de forma diferente perante a lei e os atos públi- participantes de pesquisa” (vulnerabilidade ex-
cos da vida. Por isso, a demanda feita pelo CEP/ trínseca), de modo que “circunstâncias sociais
UFSC para que no TCLE haja “previsão para que injustas [impostas] podem resultar em vulnera-
a autorização seja feita por representante nomea- bilidade de várias maneiras”, quanto “advém de
do no caso de incapazes” fere uma convenção in- características específicas relativas a indivíduos
ternacional da qual o Brasil é signatário. Portan- ou populações” (vulnerabilidade intrínseca), ou
to, aceitar a demanda do CEP/UFSC de um TCLE seja, como a deficiência é uma condição intrinse-
ou mesmo um Termo de Assentimento que exige camente adversa, conclui-se que as pessoas com
uma adequação para pessoas “incapazes” é tan- deficiência são intrínseca e socialmente vulne-
to um erro teórico quanto um grave problema ráveis, porquanto vulnerabilidade não deve ser
político, pois estaria tratando como “incapazes” confundida com incapacidade em função de uma
os sujeitos de uma pesquisa que visa justamente premissa capacitista.
reconhecer a autonomia destes, em particular em
sua agência contra as violências das quais foram
(e muitas vezes continuam sendo) vítimas. Em Considerações finais
outras palavras:
[...] se fazemos um TCLE com este termo os O capacitismo pode até ser uma categoria insu-
recolocaremos simbolicamente (e com extrema vio- ficiente na língua portuguesa, mas é justamente
lência) no campo de representação no qual eles jus- a capacidade de ser e fazer que é reiteradamente
tamente estão se distanciando ao se reconhecerem negada às pessoas com deficiência em diversas es-
enquanto cidadãos em busca de seus direitos. Ajus- feras da vida social. Por isso, para efeitos práticos,
tar a segunda versão do TCLE, adaptando-o aos proponho a sua adoção nos movimentos sociais,
critérios desse comitê no que diz respeito aos ‘in- nas produções acadêmicas e em documentos ofi-
capazes’, seria, portanto, agir de forma incoerente ciais e políticas públicas.
tanto no aspecto jurídico-legal quanto em relação Conforme aponta Debora Diniz e Iara Guer-
ao aspecto político no que diz respeito à capacida- riero15, a divergência perante a regulamentação
de legal das pessoas com deficiência. [...] Encami- nacional da ética em pesquisa basicamente se re-
nhamos nova versão do TCLE em dois modelos, tal sume em dois pontos críticos: o primeiro é o mo-
como nos foi demandado, um para os profissionais delo de raciocínio dedutivo que se espera de um
da delegacia e outro para as pessoas com deficiência projeto de pesquisa submetido à avaliação de um
a serem entrevistadas, sem, todavia, acolher a de- comitê de ética em pesquisa, uma vez que no caso
manda deste comitê de tratá-las como ‘incapazes’. de pesquisa social não faz sentido apresentar as
Esperamos ter esclarecido este comitê sobre as im- mesmas seções de uma pesquisa biomédica, isto
plicações éticas, políticas e científicas de nosso en- é, “com especificações sobre pergunta, problema,
caminhamento e colocamo-nos à disposição para hipótese, amostra, critérios de inclusão e exclu-
outros esclarecimentos que se fizerem necessários. são de participantes, riscos ou benefícios pré-es-
(Trechos finais da carta enviada ao CEP/UFSC) tabelecidos”15, porquanto esta perspectiva prima
O desfecho se deu com um Parecer consubs- pela hegemonia da objetividade e racionalidade
tanciado, emitido em 10/12/2012, e dessa vez o científica tratando a ética em pesquisa com seres
CEP/UFSC sinalizou pela aprovação do projeto humanos fora de suas particularidades culturais;
de pesquisa. Mas a esta altura, eu já me encontra- e 2) a obrigatoriedade do termo de consentimen-
va fora de campo, de volta a Florianópolis. Cabe to livre e esclarecido por escrito e anterior à eta-
ainda ressaltar que incapacidade não é o mesmo pa da coleta de dados, especialmente no caso de
que vulnerabilidade. Vulnerabilidade aqui não pesquisas de cunho etnográfico. Não obstante a
implica em coerção da vontade do sujeito para expressiva reação da comunidade antropológica
a ação social, como a de interagir com a pesqui- brasileira à hegemonia do modelo biomédico de-
sadora, mas deve ser compreendida como um dutivista da aplicação da Resolução 196/1996 no
indicador da desigualdade social que se expressa que concerne à ética e regulamentação na pesqui-
nos processos de exclusão de grupos sociais que sa antropológica, bastante documentada em vá-
têm sua capacidade de ação e reação reduzida em rios artigos em coletâneas organizadas por Ceres
função da discriminação e opressão a que são Víctora et al.47, Soraya Fleischer e Patrice Schu-
submetidos44,45. No caso das pessoas com defi- ch48, Cynthia Sarti e Luiz Fernando Dias Duarte49,
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além dos trabalhos de Diniz e Guerriero15, Lang- pesquisas em ciências humanas e sociais, homo-
don et al.50, Rubens Adorno51, Marina Montei- logada como resultado das proposições e debates
ro52, dentre outros, a pesquisa social envolve, via envolvendo toda a comunidade de pesquisadores
de regra, o contato com pessoas ou populações que lidam com o social sobre a inaplicabilidade
muitas vezes em situação de vulnerabilidade46,53, das resoluções nº 196/1996 e nº 466/2012 para a
dentre elas as pessoas com deficiência - em espe- pesquisa social.
cial aquelas com deficiência do tipo intelectual e
psicossocial36,46.
Com este trabalho espero ter contribuído
para o avanço das discussões sobre o capacitis-
mo e a como “operacionalizar” a elaboração de
projetos de pesquisa de cunho social – em espe- Agradecimentos
cial quanto às “exigências” para um TCLE – que
envolvam pessoas com deficiência como interlo- A autora agradece à Capes pela concessão da bol-
cutoras, de acordo com as especificidades da área sa de doutorado e ao CNPq pelo financiamento
de Antropologia, à luz da nova e específica Reso- do projeto Teoria Feminista, Teoria Queer ou Teo-
lução nº 510, de 07 de abril de 2016, que dispõe rias Sociais Contemporâneas? O campo dos estudos
sobre as normativas especialmente aplicáveis a de gênero e sexualidade no Brasil.

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Florianópolis: Letras Contemporâneas; 2010. p. 176. Aprovado em 05/07/2016
Versão final apresentada em 07/07/2016
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