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ALIMENTAÇÃO E A AGRICULTURA DO
BRASIL
Organizado por:
Brasília – DF
2008
AUTORES
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APRESENTAÇÃO
Reynold Stephanes
Ministro da Agricultura, Pecuária e Abastecimento
iii
COMITÊ CONSULTIVO NACIONAL
Presidente: Helinton José Rocha – MAPA
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INSTITUIÇÕES PARTICIPANTES
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vi
RESUMO EXECUTIVO
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mesmo exportado. Além destas, espécies de forrageiras nativas dão suporte à boa parte da
pecuária nacional. Mais recentemente, plantas medicinais nativas vêm sendo valorizadas
dentro do contexto do agronegócio nacional.
Apesar da dependência de recursos genéticos para os programas de melhoramento as
atividades de pesquisa relacionadas a atividades agropecuárias, na última década o Brasil
tem obtido resultados significativos, principalmente como resultado de investimento em
Ciência & Tecnologia. Novas cultivares e variedades, adaptadas às diversas condições
climáticas do território brasileiro têm permitido um grande avanço na produção de alimentos.
Assim, o aumento da produção agropecuária tem sido resultado do aumento de
produtividade, sem um significativo aumento da área cultivada. Os programas de
melhoramento são responsáveis pela produção de materiais mais resistentes às diferentes
condições, adaptadas a diferentes condições climáticas e, principalmente, resistência a
estresses bióticos e abióticos.
O Brasil, nos últimos dez anos, apresentou significativos avanços no que se refere a
conservação e uso de recursos fitogenéticos, principalmente aqueles relacionados à
produção de alimentos. Considerando a conservação in situ, de forma geral, constata-se
que houve um avanço importante no que diz respeito à necessidade de criar e estabelecer
unidades de conservação para preservar os remanescentes de vegetação nativa em
processo de desaparecimento e os grandes maciços florestais ainda existentes, como no
bioma Amazônia, onde as maiores unidades de conservação foram criadas. Além disso,
outras ações importantes são os estudos para indicação de áreas prioritárias para
conservação in situ e a prospecção de espécies nativas potenciais para o uso sustentável,
as quais foram iniciativas oficiais derivadas da ratificação da Convenção sobre Diversidade
Biológica pelo Brasil, em 1994. Foi criado o Sistema Nacional de Unidades de Conservação
e como resultado, o Brasil detêm atualmente um dos mais completos sistemas de áreas
protegidas do mundo. Estratégias para conservação on farm vem sendo estabelecidas pelo
Governo Brasileiro, visando a manutenção histórica-cultural de espécies e variedades
alimentícias utilizadas pelos agricultores tradicionais. Entretanto, devido a grande
diversidade cultural brasileira ainda é difícil quantificar e modelar o impacto das populações
tracidionais na conservação dos recursos genéticos. O melhoramento participativo, as feiras
de sementes, os bancos de sementes locais e os centros irradiadores da
agrobiodiversidade têm sido incentivados, como estratégias de conservação dos recursos
genéticos de populações tradicionais.
Considerando a necessidade de criar e estabelecer áreas protegidas, houve um avanço
importante nos últimos anos, com o objetivo de preservar os remanescentes de vegetação
nativa em processo de desaparecimento e os grandes maciços florestais ainda existentes,
como no bioma Amazônia, onde foram criadas as maiores Unidades de Conservação
(UCs). Além disso, outras iniciativas oficiais importantes, como os estudos para indicação
de áreas prioritárias para conservação in situ e a prospecção de espécies nativas potenciais
para o uso sustentável decorreram da ratificação da Convenção sobre Diversidade
Biológica pelo Brasil, em 1994. Entre as UC federais, 239 protegem áreas terrestres, 43 são
mistas, protegendo áreas terrestres e marinhas, e 10 protegem exclusivamente áreas
marinhas. Essas unidades abrangem 8,2% do nosso território, sendo 3,9% de Proteção
Integral e 4,3% de Uso Sustentável. Em pouco mais de duas décadas, o País saiu de 15
milhões de hectares de áreas protegidas de âmbito federal, em 1985, para
aproximadamente 70 milhões, em 2007, ou seja, um aumento de aproximadamente cinco
vezes nesse período.
A Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária – Embrapa, coordena o Sistema Nacional
de Pesquisa Agropecuária – SNPA, constituído por instituições públicas federais, estaduais,
universidades, empresas privadas e fundações, que, de forma cooperada, executam
pesquisas nas diferentes áreas geográficas e campos do conhecimento científico. Desde a
sua criação, recebeu a incumbência de promover e viabilizar a internalização segura de
recursos genéticos estratégicos para o país. A Embrapa Recursos Genéticos e
viii
Biotecnologia, um dos 39 Centros de Pesquisa da Embrapa, coordena as atividades de
conservação de recursos genéticos, através de um sistema denominado Rede Nacional de
Recursos Genéticos (RENARGEN), que será substituído, no início do ano de 2009, por uma
estrutura mais ampla, denominada Plataforma Nacional de Recursos Genéticos. O Sistema
de Intercâmbio e Quarentena de Germoplasma movimentou, entre 1976 e 2007, mais de
500.000 amostras, sendo mais de 400.000 importadas de todas as partes do mundo. Esse
sistema alimenta uma rede de 350 Bancos Ativos de Germoplasma, como também uma
Coleção de Base (conservada a longo prazo) que é composta por 212 gêneros, 668
espécies e mais de 107.000 acessos. Todo esse sistema dá suporte a centenas de
programas de melhoramento genético, públicos e privados, desenvolvidos em todo o
território nacional. Em resumo, a rede de Bancos Ativos de Germoplasma e a Coleção de
Base mantêm, atualmente, esse acervo, conservado em câmaras frias, a campo e in vitro. A
Embrapa criou no início da década de 80 o Sistema de Curadoria, sendo que na última
década este sistema foi melhorado, tendo o objetivo de definir, sistematizar e integrar todas
as atividades indispensáveis ao manejo, conservação e uso de germoplasma. Assim, em
2008, existem 38 Curadores de Produtos ou Grupos de Produtos, 35 Curadores Adjuntos,
111 Curadores de Bancos de Germoplasma, além de Curadores Ad hoc, perfazendo um
total de cerca de 200 pessoas envolvidas com curadoria de germoplasma. O
estabelecimento de Coleções Nucleares no Brasil tem merecido atenção prioritária da
Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia que, em uma primeira etapa − em regime de
parcerias − estabeleceu Coleções Nucleares de mandioca, de milho e de arroz. A partir desta
experiência, outras Coleções Nucleares vão ser estudadas.
De 1996 a 2008 houve uma grande evolução nas tecnologias de informação e de
telecomunicações que influenciaram positiva e substancialmente as ações de
documentação e informatização dos recursos genéticos, facilitando o acesso remoto a
bases de dados centralizadas de forma ágil e simplificada. No início dos anos 2000, o
Sistema de Informação de Recursos Genéticos - SIRG foi substituído pelo atual Sistema
Brasileiro de Informação de Recursos Genéticos – Sibrargen, acompanhando as facilidades
oferecidas pela evolução das áreas de tecnologia da informação e de telecomunicações. Os
computadores e softwares utilizados pela Documentação de Recursos Genéticos foram
atualizados sucessivamente para acompanhar a crescente demanda dos usuários do
sistema e a linha de comunicação, que em 1996 era de 2 MBPS, passou recentemente a
operar em 100 MBPS, um aumento de 50 vezes na velocidade de transmissão. Em 2007 o
Brasil foi selecionado pela FAO para fazer parte do teste da integração dos sistemas
nacionais de informação sobre recursos genéticos no âmbito do Sistema Multilateral - MLS
da FAO, ora em desenvolvimento. O objetivo foi o de atender as demandas de intercâmbio
de germoplasma com o padrão MultiCrop Passport Data - MCPD-FAO, que faz parte do
Tratado Internacional de Recursos Fitogenéticos para Alimentação e a Agricultura –
TIRFAA. Atualmente, o Sibrargen disponibiliza os dados de passaporte de acessos de
mandioca (Manihot esculenta Crantz) que o Brasil, por meio da Embrapa, iniciará a
disponibilizar em 2009 para o intercâmbio facilitado.
O conhecimento de genes potencialmente úteis e sua incorporação em cultivares elite, vem
sendo de grande importância para subsidiar a utilização dos recursos genéticos e ampliar a
base genética dos programas de melhoramento. As pesquisas envolvendo a prospecção,
conservação e caracterização de germoplasma têm assumido importância estratégica no
País. Em hortaliças, diversos esforços têm sido realizados no sentido da eficiente e eficaz
utilização da variabilidade conservada em BAGs. Outra importante iniciativa é o projeto
Orygens, que utiliza extensa rede de pesquisadores de diferentes instituições públicas e
privadas do País, com o objetivo de promover a utilização do conhecimento atual do
genoma de arroz para o desenvolvimento de cultivares mais competitivas. Em milho, um
exemplo relevante foi o Latin American Maize Project (Lamp), envolvendo 12 países. Em café,
programas de pré-melhoramento vêm sendo desenvolvidos há vários anos pelo Instituto
Agronômico de Campinas, com resultados bastante significativos para o País.
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As atividades de pré-melhoramento têm sido conduzidas no sentido de selecionar acessos
com características agronômicas e aproveitar a variabilidade oriunda de cruzamentos
naturais. Parentes silvestres de plantas cultivadas representam patrimônio de extrema
relevância para o Brasil e para a humanidade, na medida em que desenvolveram, ao longo
do seu processo evolutivo, mecanismos de sobrevivência a condições desfavoráveis
extremas, como secas, inundações, calor e frio, além de resistência a pragas e doenças
com que conviviam. O Ministério do Meio Ambiente (MMA) iniciou um trabalho pioneiro no
País, com a identificação e mapeamento das variedades crioulas e dos parentes silvestres de
algumas das principais plantas cultivadas no Brasil. Essa é uma tarefa complexa, de
importância singular e estratégica, e que demanda amplo engajamento dos diversos setores
da sociedade brasileira. .Até o presente, sete subprojetos foram concluídos, envolvendo
algumas das principais culturas do País: algodão, amendoim, arroz, cucurbitáceas (abóboras),
mandioca, milho e pupunha. A maioria desses parentes silvestres poderá, como integrante do
pool genético primário, fazer parte do processo de melhoramento de cada cultura específica
ou, por meio do processo de domesticação, tornar-se nova cultura.
Entre 2005 e 2007, o MMA coordenou o projeto Identificação de espécies da flora brasileira
de valor econômico atual e potencial, utilizadas em âmbito local e regional: Plantas para o
Futuro, que visa (a) priorizar novas espécies da flora brasileira comercialmente sub-
utilizadas, oferecendo opções de uso por pequenos produtores; (b) criar novas
oportunidades de investimento pelo setor empresarial no desenvolvimento de novos
produtos; (c) identificar o grau de uso e as lacunas do conhecimento científico e tecnológico
sobre espécies utilizadas local e regionalmente; (d) valorizar a biodiversidade, com
demonstração clara à sociedade da importância e possibilidades de uso desses recursos;
(e) ampliar a segurança alimentar, aumentando as opções até então disponíveis.Os
resultados desse trabalho evidenciaram a importância dessa iniciativa, com a priorização de
775 espécies: sendo 255 espécies da Região Sul, 128 do Sudeste, 131 do Centro-Oeste,
162 do Nordeste e 99 da Região Norte.
A educação superior em áreas relacionadas às Ciências Agrícolas é bastante antiga no
Brasil. Cursos de agronomia foram os primeiros a serem criados no País, em 1892. Apesar
de a grande maioria das faculdades na área de Agricultura ser ligada ao governo federal ou
estadual, recentemente algumas faculdades de agronomia têm sido criadas em
universidades privadas. Em 2006 um total de 143.798 estudantes estava matriculado em
cursos de graduação nas áreas de Agronomia e Ciências Biológicas. Também em nível de
pós-graduação o Brasil possui um grande número de cursos na área de Ciências Agrícolas.
Este número é o resultado direto dos investimentos feitos nas décadas de 70 a 90, quando
um grande número de pesquisadores foi enviado ao exterior para serem treinados em nível
de pós-graduação. Assim sendo, a formação de recursos humanos para a pesquisa no
Brasil está fortemente ligada aos extensivos programas de pós-graduação, os quais
seguem o modelo Americano com programas de mestrado e doutorado. Até o final de 2006
o número de professores em cursos de pós-graduação, nos vários campos da Agronomia,
Floresta, Engenharia Agrícola, Botânica e Genética era de 3.540, enquanto que o número
de estudantes registrados era de 4.960 em cursos de Mestrado e 4.045 em cursos de
Doutorado. Cursos de pós-graduação, específicos da área de recursos genéticos vegetais
vêm sendo estabelecidos a partir de 1997, sendo que alguns outros cursos de pós-
graduação já oferecem disciplinas específicas relacionadas a esta área.
As atividades de Pesquisa e Desenvolvimento no Brasil têm sido essencialmente ações
públicas. A Ciência & Tecnologia no setor rural tem se desenvolvido principalmente nas
escolas públicas e centros de pesquisa, com maior concentração em instituições federais,
com pequena e discreta participação do setor privado e instituições ligadas aos serviços
agrícolas. Algumas áreas ligadas ao setor, em campos definidos como pesquisa
estratégica, em desenvolvimento tecnológico, produção e política industrial, têm sido
financiadas diretamente pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento. A
contribuição da Ciência & Tecnologia para o setor tem se dado basicamente através do
x
amplo sistema de pós-graduação e do financiamento para instituições de pesquisa. A
pesquisa nas universidades brasileiras está concentrada basicamente em universidades
públicas, tanto Federais quanto Estaduais, as quais produzem aproximadamente 90% da
pesquisa científica nacional. As universidades privadas têm pouco a adicionar a este
cenário, com poucas exceções. Geralmente, a pesquisa universitária é financiada com
recursos externos ao orçamento anual, sendo necessários investimentos em infra-estrutura
básica como bibliotecas, computadores, espaços físicos para laboratórios e recursos
humanos, financiados pela CAPES (Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível
Superior), vinculado ao Ministério da Educação. Entretanto, a fonte de financiamento mais
importante para suporte à pesquisa universitária é procedente do Ministério de Ciência e
Tecnologia/MCT, através do CNPq (Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e
Tecnológico) e da FINEP (Financiadora de Estudos e Projetos). Outras importantes fontes
de financiamento da pesquisa no Brasil são as Fundações Estaduais, criadas
especialmente para financiar e apoiar pesquisa, o que tem permitido a expansão da base
científica nacional, ambos em termos qualitativos quanto quantitativos.
Quando o primeiro Relatório Nacional sobre a Situação dos Recursos Fitogenéticos para a
Alimentação e a Agricultura foi preparado em 1995, quando o Brasil havia recém ingressado
na Organização Mundial de Comércio - OMC e ratificado a Convenção de Diversidade
Biológica. Naquela ocasião, a maioria das legislações relacionadas ao acesso e
movimentação de recursos genéticos estava ainda em fase de discussão. Algumas, mais
antigas, como as relacionadas com a fitossanidade ou com a área ambiental, foram
recepcionadas no contexto legal construído desde então. Hoje o País conta com várias
instâncias de contrôle, o que faz com que qualquer utilização que se pretenda dar ao
material genético, tanto nativo quanto exótico, deva estar de acordo com as nomas legais e
infra-legais vigentes. Assim sendo, o uso dos recursos fitogenéticos, entendido como a
importação, a exportação, a pesquisa e o desenvolvimento, é regulado, em especial, pelas
legislações fitossanitária, ambiental, sobre acesso e repartição de benefícios e de
propriedade intelectual. O Brasil possui, hoje, uma legislação moderna, tendo sido editadas
diversas normas regulamentares nos últimos dez anos.
O desenvolvimento de tecnologias para a agricultura tropical tem sido um dos maiores
fatores de fortalecimento do Brasil. O Sistema de Pesquisa Agropecuário Brasileiro tem
desenvolvido trabalhos em genética e melhoramento, culturas e manejo de solos,
permitindo a incorporação de tecnologias avançadas para o sistema de produção,
sobrepujando assim os desafíos ambientais como, plantas daninhas, pragas, seca,
salinidade, toxicidez a aluminio, etc. Como um país que ainda depende fundamentalmente
da agricultura, o Brasil depende de um contínuo suprimento de variabilidade genética e
novas tecnologias para aumentar a produção de alimento, bem como avançar
competitivamente a nível regional e nos mercados exportadores.
xi
xii
SUMÁRIO Pág.
APRESENTAÇÃO iii
INSTITUIÇÕES PARTICIPANTES v
2.1. INTRODUÇÃO 13
2.2. ESTADO DA DIVERSIDADE E IMPORTÂNCIA RELATIVA DAS GRANDES
CULTURAS, PARA A SEGURANÇA ALIMENTAR 13
2.2.1. Intercâmbio e coleta de recursos genéticos 14
2.3 ESTADO DA DIVERSIDADE E IMPORTÂNCIA RELATIVA DE OUTRAS
CULTURAS 14
2.4. ESTADO DA DIVERSIDADE DE RECURSOS FITOGENÉTICOS 15
2.4.1. Análise da diversidade de variedades cultivadas 16
2.4.2. Impacto de tecnologias na diversidade genética e na produção de alimento 18
xiii
2.4.3. Fatores que afetam a diversidade de plantas cultivadas no Brasil 19
3.1. INTRODUÇÃO 21
3.2. CONSERVAÇÃO IN SITU 21
3.3. CONSERVAÇÃO ON FARM 26
3.3.1. Melhoramento Participativo 27
3.3.2. Feiras de Sementes 28
3.3.3. Bancos de Sementes Comunitários 28
3.3.4. Centros Irradiadores da Agrobiodiversidade – CIMAs 29
3.3.5. Reconhecimento e valorização de populações tradicionais 29
4.1. HISTÓRICO 31
4.2 CONSERVAÇÃO EX SITU 32
4.3. CARACTERIZAÇÃO E AVALIAÇÃO 37
4.4. SISTEMA DE CURADORIA DE GERMOPLASMA DA EMBRAPA 39
4.4.1.Histórico do Sistema de Curadorias de Germoplasma 39
4.4.2. Estrutura Organizacional do Sistema de Curadorias de Germoplasma 39
xiv
5.10. UTILIZAÇÃO DE RECURSOS GENÉTICOS NO BRASIL −
ESTUDOS DE CASOS 51
xv
7.3.1. Cooperação em recursos fitogenéticos 94
7.3.2. Cooperação da Embrapa na América Latina e Caribe 95
7.3.3. Cooperação da Embrapa na África 95
7.4. PROGRAMAS DE COOPERAÇÃO NA ÁREA DE EDUCAÇÃO 97
8.1. INTRODUÇÃO 99
8.2. ÁREA AMBIENTAL 99
8.3. ACESSO E REPARTIÇÃO DE BENEFÍCIOS 100
8.3.1. Medida Provisória de Acesso a Recursos Genéticos e ao
Conhecimento Tradicional Associado 102
8.3.2. Atividades de Acesso e Remessa, Regulados pela Legislação Vigente 104
8.4. TRATADO INTERNACIONAL DE RECURSOS FITOGENÉTICOS PARA A
ALIMENTAÇÃO E A AGRICULTURA 104
8.5. DIREITOS DO AGRICULTOR 105
8.6. PROPRIEDADE INTELECTUAL 107
8.7. FITOSSANIDADE 109
8.8. OUTRAS LEGISLAÇÕES E DECRETOS APLICÁVEIS 110
ANEXO 115
xvi
CAPÍTULO 1
1.1.1. Superfície
Com uma área de 8.547.403 km2, o Brasil é o maior país do continente sul-americano.
Comparando-se sua extensão territorial com a de outros países, é superado apenas pela
Rússia, Canadá, República Popular da China e pelos Estados Unidos da América. As
distâncias em linha reta entre pontos extremos são consideráveis e praticamente
eqüidistantes: 4.394,7 km no sentido Norte-Sul e 4.319,4 km no sentido leste-oeste. A
disposição das terras brasileiras permite que seus limites estendam-se por 23.086 km, dos
quais 7.367 km com o Oceano Atlântico. O processo de povoamento privilegiou a
ocupação ao longo da costa e, como conseqüência, a maior parte das fronteiras terrestres
encontra-se em áreas com baixa densidade demográfica.
1.1.2. Clima
O Brasil é cortado pela linha do Equador e pelo Trópico de Capricórnio, tendo a maior parte
de seu território situada em baixas latitudes, tanto ao sul como ao norte, o que lhe
proporciona condições climáticas tropicais na maioria de sua abrangência territorial. O país
apresenta uma ampla diversificação climática no âmbito dos climas tropical e subtropical e
suas respectivas variações, decorrentes de fatores como posição geográfica, maritimidade,
continentalidade, altitude, relevo e dinâmica das massas de ar. As massas de ar de maior
interferência nas diferenciações climáticas no Brasil são: a Equatorial (Continental e
Atlântica), a Tropical (Continental e Atlântica) e a Polar Atlântica. Segundo a Classificação
Internacional de Köppen, os tipos climáticos predominantes, por região no Brasil, são os
1
seguintes: Região Norte - Tropical chuvoso (Am, Aw, Aw’ e Af); Região Nordeste – Tropical
seco (Bsw e Bswh'); Região Centro-oeste - Tropical chuvoso (Aw); Região Sudeste -
Temperado brando seco (Cwa e Cwb) e Região Sul - Temperado brando subtropical (Cfa,
Cfb).
2
Cerrado, Caatinga, Mata Atlântica, Pampa e Pantanal, descrito abaixo. Cabe destacar a
existência de mais um bioma, denominado Zona costeira e marítima, de baixa relevância
para o presente documento, mas de grande impacto e peculiaridades ecológicas no que
toca a atividades econômicas, como a cultura do camarão e a pesca, fundamentadas em
recursos genéticos animais.
1.2.1 Amazônia
1.2.2. Cerrado
3
Pesquisas sobre as potencialidades e limitações do Cerrado, assim como o
desenvolvimento de métodos e práticas adequados de cultivo à região, levaram a um
grande aumento na produção de grãos durante os últimos trinta anos. Devido à sua
topografia, que favorece a mecanização, e a uma boa infra-estrutura, o Cerrado é
atualmente a melhor alternativa para a expansão agrícola no Brasil. No entanto, o impacto
ambiental, embora difícil de determinar, tem sido repetidamente criticado. Importantes
metas agrícolas foram alcançadas no Cerrado, tal como a adaptação da soja às baixas
latitudes. Dez anos de pesquisa agropecuária foram necessários para desencadear a
expansão dessa cultura em larga escala nessa região.
O tipo mais comum de vegetação, ou Cerrado "stricto sensu" é uma formação aberta
dominada por gramíneas, ciperáceas e outras espécies herbáceas intercaladas com
árvores baixas e arbustos. Muitos gradientes de Cerrado são encontrados, variando desde
áreas de pastagens ("Campo Limpo") até regiões de savana dominadas por árvores altas,
passando então a ser conhecido como "Cerradão". Uma característica típica do Cerrado é
o fato de a maioria de suas espécies arbóreas do Cerrado apresentar-se deformada e com
cascas muito espessas. Outros tipos de vegetação são matas de galeria, florestas
mesofíticas, florestas mesófilas como as savanas periféricas do sudeste (São Paulo e
Paraná), e as savanas amazônicas nos Estados do Pará, Amazonas, Roraima e Amapá,
bem como formações localizadas, como charcos permanentes e sazonais, veredas, e
campos de murunduns. Aproximadamente 13 mil táxons de plantas vasculares foram
relatados para este bioma, muitos dos quais também ocorrem em outros biomas.
1.2.3. Caatinga
O bioma Caatinga ocupa uma área de aproximadamente 800.000 km2 na região semi-árida
do Nordeste brasileiro. É o único bioma que é exclusivo do Brasil, e uma grande parte do
seu patrimônio biológico não é encontrada em nenhum outro lugar no mundo. A Caatinga
abrange nove estados e representa cerca de 10% do país. A geologia da caatinga não é
essencialmente muito diferente da do Alto Rio Negro, na Amazônia. Ambas originaram-se
de rochas antigas pré-cambrianas, severamente degradadas no Terciário e cobertas, mais
recentemente, por arenitos e outros sedimentos marinhos. Tal como no Alto Rio Negro, há
resquícios de afloramento cristalino, incluindo platôs monolíticos e cadeias montanhosas
isoladas. Aproximadamente 50% da Caatinga é de origem sedimentar, rica em água
subterrânea. Os rios são, na sua maioria, sazonais. A taxa de precipitação anual é
altamente irregular e varia entre 200 e 800 mm (raramente atingindo 1.000 mm), sendo que
a temporada de chuvas varia entre 3 e 5 meses e a temporada seca entre 7 e 9 meses. A
4
temperatura é isotérmica, com médias entre 25º a 29ºC. Características gerais dos
elementos da caatinga incluem a perda total de folhas na estação seca, folhas pequenas e
firmes (xericas), intensa ramificação das árvores a partir da base (o que lhes confere um
aspecto arbustivo) e a presença de espécies cactáceas e bromeliáceas. A Caatinga é
bastante heterogênea, com 12 fisionomias distintas reconhecidas, sendo que a maioria dos
autores descreve dois principais tipos de Caatinga: Caatinga seca ("Sertão") localizada no
interior e uma Caatinga mais úmida ("Agreste") em direção ao litoral.
Durante a primeira metade do século passado, a expansão da agricultura na Caatinga foi
principalmente devida ao algodão. Com a agricultura mais dependente de tecnologia,
houve uma redução na demanda por mão de obra no campo, o que resultou em um maciço
fluxo migratório para as cidades, que foi agravado na década de 1980, devido ao
aparecimento da praga conhecida como bicudo do algodoeiro. Atualmente a região está
passando por uma grande expansão econômica devido à implantação da agricultura
irrigada. Como resultado dessa agricultura, o Vale do rio São Francisco tornou-se um
grande exportador de frutas, especialmente uvas, papaias e melões.
Este bioma concentra 70% da população brasileira, bem como as maiores cidades e
centros industriais do país. A história do Brasil está intimamente ligada à Mata Atlântica.
Estendendo-se desde o Rio Grande do Norte até o Rio Grande do Sul, concentrando-se ao
longo de uma estreita franja entre o oceano e as terras altas secas, onde são encontrados
alguns dos solos mais ricos do país, sendo que apenas de 2 a 5% da área original, de
1.360.000 km2, permanece coberta pela vegetação original. As ameaças à mata incluem as
atividades de exploração madeireira, a agricultura extensiva, a criação de gado, a
agricultura de subsistência, as plantações de espécies madeireiras para indústria de papel
e a expansão urbana. Como nos outros biomas, a Mata Atlântica é um complexo mosaico
de diversos tipos de vegetação, que inclui manguezais, restingas de florestas litorâneas,
matas mesófilas, bosques de montanhas baixas e altas, florestas úmidas, campos
rupestres e campos de altitude.
5
A atividade agrícola na região concentra-se em uma agricultura altamente mecanizada,
com o uso de insumos modernos, enfatizando-se a lavoura canavieira e as plantações de
eucalipto para a indústria de papel e celulose, que substituíram mais de 90% da vegetação
nativa.
A Mata Atlântica apresenta alta diversidade biológica e espécies endêmicas, sendo
reconhecida, pela Conservação Internacional, como um dos 25 hotspots mundiais,
ocupando o quarto lugar em diversidade de anfíbios e plantas vasculares. Um total de
1.807 espécies de mamíferos, aves, répteis e anfíbios nela ocorrem, das quais 389 são
endêmicas. Incluindo o Escudo Brasileiro, a Mata Atlântica possui uma das mais antigas
formações vegetais do mundo, com muitos elementos remanescentes da flora da
“Gondwana”, podendo ser o centro de origem de muitos táxons neotropicais. Acredita-se
que mais de 50% das espécies de árvores sejam endêmicas da Mata Atlântica, incluindo
os gêneros Rodriguesia, Arapatiella, Harleyodendron (Fabaceae), Santosia (Asteraceae) e
bambus lenhosos ou herbáceos de gêneros como Atractantha, Anomochloa, Alvimia e
Sucrea (Poaceae).
A Mata Atlântica apresenta um grande número de espécies úteis, sendo que muitas delas
também são encontradas em outros habitats. Entre as espécies madeireiras estão o ipê
(Tabebuia spp.), a peroba (Paratecoma peroba), o cedro (Cedrela odorata), o vinhático
(Plathymenia reticulata), o aderno (Astronium concinnum) e o putumuju (Centrolobium
microchaete). Duas espécies são especialmente importantes: o pau-brasil (Caesalpinia
echinata) que deu o nome ao país, e o jacarandá da Bahia (Dalbergia nigra),
provavelmente as espécies madeireiras mais valiosas da América do Sul. Ambas estão em
perigo de extinção, devido a uma super exploração comercial. Duas palmeiras, Euterpe
edulis, que produz o palmito e a piaçava (Attalea funifera) são componentes importantes da
economia local, e também podem estar em perigo. Plantas utilizadas localmente para
alimentação incluem muitas fruteiras encontradas também em outros biomas. A medicina
tradicional utiliza muitas plantas, incluindo a arnica (Lychnophora ericoides), o chapé
(Hyptis lutescens), a paneira (Norantea adamantium), a quina-de-vaca (Remijia ferruginea),
a sambaibinha (Davilla rugosa) e a catuaba (Anemopaegma arvense).
Nos estados sulinos do Paraná e Santa Catarina e na metade norte e mais elevada do Rio
Grande do Sul, o bioma Mata Atlântica expande-se em rumo oeste e engloba extensões
significantes de floresta ombrófila mista, fisionomicamente dominada pelo pinheiro-do-
paraná (Araucaria angustifolia), alternadas com manchas de campos naturais densamente
dominados por gramíneas.
A cultura da maçã (Malus domestica) tem avançado nos estados sulinos, em segmentos do
bioma Mata Atlântica, e as extensões campestres sofrem, nos últimos anos, forte pressão
em favor do estabelecimento de monocultivos madeireiros exóticos do gênero Pinus para
produção de celulose.
1.2.5. Pampa
O pampa é um bioma com formações abertas, cobertas quase só por espécies herbáceas
com predominância de gramíneas, sendo encontradas algumas árvores e arbustos
esparsos próximos a cursos d’água ou em formações arbustivo-arbóreas densas nos
ambientes com relevo mais ondulado. Localiza-se fundamentalmente na metade sul do Rio
Grande do Sul, mas alastra-se aos dois países vizinhos, Argentina e Uruguai.
O clima é subtropical, com temperaturas amenas e chuvas constantes com pouca
alteração durante todo o ano. O solo em geral é fértil e sua utilização na agricultura é
grande, concentrando as maiores lavouras de arroz irrigado do País. Embora a agricultura
tenha se expandido, a pecuária, tanto leiteira quanto a de corte, ainda é a principal
exploração agrícola desse bioma. É nesta região que se encontram os melhores rebanhos
de raças européias do Brasil, que utilizam principalmente as pastagens naturais, ricas em
gramíneas e leguminosas forrageiras nativas de boa qualidade, às quais têm sido
6
adicionadas áreas de pastagens cultivadas de inverno, baseadas em espécies exóticas
européias, como o azevém (Lolium multiflorum), trevos (Trifolium spp.) e cornichão (Lotus
corniculatus).
Ecologicamente, é um bioma caracterizado por uma vegetação composta por gramíneas,
plantas rasteiras e algumas árvores e arbustos que não são abundantes. Comparados às
florestas e às savanas, os campos têm importante contribuição na preservação da
biodiversidade, principalmente por atenuar o efeito estufa e auxiliar no controle da erosão.
Na região brasileira do bioma, existem cerca de três mil espécie de plantas vasculares,
sendo que aproximadamente 400 são gramíneas, entre as quais há forte dominância de
espécies de Paspalum, Axonopus e Andropogon e, na estação fria, de espécies de Stipa
(flexilhas), pelo menos 385 espécies de aves, como pica-pau, caturritas, anus-pretos e 90
de mamíferos terrestres, como guaraxains, veados, tatus.
Nos últimos anos, a fruticultura de clima temperado, que antes era concentrada no
pêssego, tem apresentado avanços significativos, aumentando ainda mais a pressão sobre
a vegetação nativa. Recentemente, tem havido uma pressão enorme por empresas de
reflorestamento que vêm substituindo os campos naturais por plantios de eucaliptos para a
produção de celulose.
7
1.3. REGIÕES FISIOGEOGRÁFICAS DO BRASIL
Uma breve descrição de cada uma das cinco regiões fisiográficas em que o Brasil está
dividido: Norte, Nordeste, Centro-Oeste, Sudeste e Sul. Geralmente cada uma destas
regiões tem mais de um dos biomas acima descritos.
A maior parte da região Nordeste, que tem mais de um milhão de km2, apresenta
condições semi-áridas, sendo quase 90% na Caatinga com a Mata Atlântica e o Cerrado,
compondo os outros 10%. Devido a investimentos em tecnologia, a região passou a ser um
dos maiores pólos exportadores de frutas do país. Variedades de soja adaptadas, estão
sido cultivadas com sucesso, em algumas áreas da região.
Esta região está nos biomas Cerrado e Pantanal, mas também tem uma pequena parte do
bioma Amazônia no norte do Estado de Mato Grosso. A região tem uma grande parte do
rebanho nacional de gado, quase 35%, mais de 57 milhões de cabeças, das quais quase
90% são para carne. Exceto nas áreas suscetíveis à inundação no Pantanal, estes animais
são criados principalmente em pastagens cultivadas, dominadas por gramíneas africanas,
como Brachiaria brizantha e B. decumbens (ou Urochloa brizantha e U. decumbens) e
Panicum maximum (Megathyrsus maximus). A produção de grãos, especialmente soja,
algodão, arroz, milho e girassol, principalmente as duas primeiras, tem grande impacto na
agricultura da região.
Localizada principalmente na Mata Atlântica, com parte do Cerrado de Minas Gerais e São
Paulo, a região concentra os maiores e principais centros urbanos e industriais, agro-
industriais, tecnológicos e financeiros do país. A Região Sudeste comporta 21,26% do
efetivo populacional de gado do País, ou 35,6 milhões de cabeças das quais 71,64% são
para carne. Concentra ainda 45% da indústria avícola para produção de ovos e carne. As
principais bacias leiteiras também estão localizadas nesta região, as maiores fábricas de
processamento do leite e importantes redes de matadouros, armazéns de grãos, e as
grandes unidades de processamento de alimentos. Com o desenvolvimento da produção
de etanol a cana-de-açúcar, que já era importante para a produção de açúcar, assumiu um
papel de destaque como uma cultura de alto valor agregado, para a região. O café, produto
de importância para os mercados interno e externo, é fundamentalmente cultivado nesta
região. A citricultura, outra atividade de destaque tem grande importância na economia da
região, devido à exportação de suco de laranja.
8
1.3.5. Região Sul
Valor
Produto
(US$ milhões)
O Produto Interno Bruto do Brasil (PIB) tem se alterado muito. No ano de 1998, o Brasil já
chegou a ter o 8º PIB do mundo, e em 2003 caiu para a 15ª posição nesse ranking. Em
2007, a posição do país voltou a melhorar, ficando entre a 8ª e a 10ª posição, de acordo
com a metodologia de cálculo utilizada. Apesar desta sensível melhora, o Brasil continua
colocado atrás de países com recursos naturais e com efetivos populacionais muito
inferiores, como Coréia do Sul e Holanda. A diferença entre esses países e o Brasil está na
importância que os mesmos dão à geração de conhecimentos e de recursos financeiros
através da tecnologia e de produtos inovadores.
A contribuição dos produtos agrícolas nas exportações brasileiras tem aumentado
significativamente, sendo que em 2002 somaram US$ 24,86 bilhões, ou 41,2% do total
exportado e em 2003 aumentaram 23%, totalizando US$ 30,64 bilhões. Em 2007 o
agronegócio exportou US$ 58 bilhões, um aumento de aproximadamente 89% em relação
a 2003 (Tabela 1). Todas as análises efetuadas demonstram que o agronegócio brasileiro
tem sido o sustentáculo da economia, a chamada “âncora verde”.
10
recursos financeiros e empregos, só muito recentemente a sociedade passou a se
conscientizar sobre o tema. O desenvolvimento sustentável da agropecuária também é
uma preocupação recente no Brasil. As maiores preocupações são em relação ao uso
desordenado do solo, à expansão da fronteira agrícola nos Cerrados e na Amazônia, à
utilização excessiva de água nas atividades agropecuárias e ao uso sem controle e, às
vezes, irracional de agrotóxicos.
Tradicionalmente, os mercados costumam valorar a maior parte dos bens ambientais de
uso direto e imediato – como madeira, água, óleos e essências, sementes etc. – em
detrimento dos serviços ambientais, ignorando a interdependência existente entre ambos.
A criação de mercados específicos para serviços ambientais, como o de créditos de
carbono, é um fenômeno relativamente recente. No entanto, já indica o reconhecimento da
importância da valoração econômica e financeira desses serviços como forma de evitar a
exploração indiscriminada e irresponsável dos recursos naturais, e ainda estimula a adoção
de práticas ecologicamente corretas por parte da sociedade.
Particularmente em relação ao carbono, um número crescente de países têm se inserido
no mercado mundial de créditos e lançado novos projetos de mitigação do clima ou de
redução comprovada da taxa de emissão de GEEs (Gases de Efeito Estufa). Na realidade,
com a ratificação e entrada em vigor do Protocolo de Kyoto, foram estabelecidas metas
diferenciadas de redução desses gases para os países (5,2% na média, com relação aos
níveis verificados em 1990), em função de suas responsabilidades históricas.
Até outubro de 2005, treze dos 82 projetos de Mecanismos de Desenvolvimento Limpo
(MDL) elaborados no Brasil tinham sido aprovados, colocando o País no segundo lugar no
ranking mundial. Os 82 projetos somavam mais de 17,9 milhões de toneladas de CO2 a
serem reduzidas/ano.
11
12
CAPÍTULO 2
ESTADO DA DIVERSIDADE
2.1. INTRODUÇÃO
O Brasil possui cerca de 44.000-50.000 espécies de plantas vasculares, o que representa
aproximadamente 18% da diversidade vegetal do mundo (considerando a flora mundial
com cerca de 257.400 espécies). Entretanto, a agricultura e a segurança alimentar do
povo brasileiro são, em grande parte, totalmente dependentes de recursos genéticos
originários de outros países. Praticamente todas as atividades da agropecuária brasileira,
bastante diversificadas em função da diversidade ambiental do país, jamais teriam o
destaque atual se não fosse pelo intercâmbio e introdução sistemática e crescente de
recursos genéticos. Esta dependência persistirá, pois a pesquisa voltada para o
desenvolvimento de novas variedades vegetais necessita de materiais genéticos que
apresentem características de adaptação ecológica, como, por exemplo, resistência às
pragas e doenças que ocorram no país, adaptação às condições adversas do ambiente que
podem se originar em função das mudanças climáticas, além da adaptação aos diferentes
solos brasileiros, para atender à crescente demanda por produção de alimentos, fibras e
energia. Com muito menor percentagem de uso que as espécies exóticas, mas com forte
importância regional e local, várias espécies nativas têm sido usadas na alimentação
humana, sendo as mais conhecidas a mandioca, abacaxi, caju, cupuaçu, maracujá,
castanha-do-pará, guaraná, jaboticaba, amendoim, cacau, algumas espécies de palmeiras e
outras fruteiras. Além destas, espécies de forrageiras nativas dão suporte para boa parte da
pecuária nacional. Mais recentemente, as plantas medicinais e ornamentais nativas vêm
sendo mais valorizadas dentro do contexto atual do agronegócio nacional.
A pesquisa em recursos genéticos e melhoramento vegetal é uma das atividades de
inovação mais relevantes para o país, tendo produzido resultados que contribuíram
significativamente para os principais ganhos qualitativos e quantitativos alcançados pela
agricultura brasileira ao longo das últimas décadas. O melhoramento de plantas no Brasil
está entre os mais eficientes do mundo, com contribuições expressivas ao longo do século
XX, com especial destaque para a formação de recursos humanos e para o
desenvolvimento de grande diversidade de plantas adaptadas às condições tropicais. O
processo de melhoramento genético é altamente dependente da amplitude da base
genética disponível que, por sua vez, é influenciada pelo acervo de germoplasma
disponível, na forma de materiais coletados e caracterizados, mantidos nos bancos de
germoplasma, que são insumos importantes para o desenvolvimento de novos cultivares. A
capacidade de acessar esses materiais portadores de variabilidade, por coleta ou por
introdução e intercâmbio, é fator fundamental para o sucesso de qualquer programa de
melhoramento genético vegetal.
14
de matéria prima, consequentemente levando à geração de novas tecnologias que
resultam em novos produtos e novos mercados. Segundo o Ministério do Meio Ambiente,
atualmente, os fitoterápicos representam aproximadamente 25% do mercado mundial, o
que implica em uma movimentação financeira, para produtos derivados de recursos
genéticos situada entre US$ 500 a US$ 800 bilhões anuais.
Devido a ampla diversidade existente no Brasil, a utilização de recursos genéticos
autóctones ainda é pouco explorada, demandando estudos e investimentos na exploração
comercial de novas espécies que podem agregar valor aos produtos da agroindústria,
principalmente aqueles com potencial impacto na segurança alimentar. Além do grande
número de espécies semi-domesticadas, ou em fase de domesticação que podem
apresentar grande valor para o uso na agricultura as espécies da biodiversidade também
podem oferecer genes de resistência a fatores bióticos e abióticos, além de genes de
importância para aumento da qualidade nutricional de alimentos.
Espécies nativas, muitas delas já utilizadas a nível local ou regional podem representar
alternativas para a inserção nos mercados, os quais vêm aumentando a demanda por
novas opções de produtos, principalmente relacionados a alimentação saudável.
O Brasil, através do Ministério do Meio Ambiente, vem coordenando ações voltadas para a
identificação, a priorização e a divulgação de informações sobre o uso de espécies de
plantas nativas em benefício da sociedade, de importância econômica atual ou potencial,
hoje sub-utilizadas. As ações estão voltadas para o aproveitamento dos recursos biológicos
e genéticos da flora brasileira, visando o desenvolvimento sustentável. Inicialmente, está
sendo feito um levantamento do conhecimento técnico-científico das espécies nas diversas
regiões geopolíticas e biomas brasileiros. Este trabalho visa agregar e disponibilizar
informações provenientes de diferentes fontes, para o uso direto pelo setor agrícola, e para
criar outras oportunidades de investimentos com a geração de novos produtos.
Levantamentos feitos pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), no ano-
base 2006, mostram que a Produção, Extração Vegetal e a Silvicultura, somando-se o
valor da produção primária florestal do País, totalizam R$ 10,9 bilhões. Deste total, 66%
(R$ 7,2 bilhões) foram provenientes da silvicultura (exploração de florestas plantadas) e
34% (R$ 3,7 bilhões) do extrativismo vegetal. No segmento do extrativismo vegetal, o valor
da produção madeireira, representada pelos itens carvão vegetal, lenha, madeira em tora e
nó-de-pinho, totalizou R$ 3,2 bilhões, ao passo que o valor da extração vegetal não-
madeireira somou apenas R$ 539,2 milhões. De um total de 37 itens ou produtos não-
madeireiros investigados, destacam-se, em função da magnitude do valor de suas
produções, apenas nove (9): frutos de açaí (R$ 103,2 milhões), amêndoas de babaçu (R$
102,2 milhões), fibras de piaçava (R$ 88,9 milhões), erva-mate nativa (R$ 86,9 milhões), pó
cerífero e cera de carnaúba (R$ 48,6 milhões e R$ 13,3 milhões, respectivamente),
castanha-do-pará (R$ 43,9 milhões), palmito nativo (R$ 9,9 milhões), látex coagulado de
Hevea ou seringueira (R$ 7,9 milhões), os quais, em conjunto, somaram 93,7% do valor
total da produção extrativista vegetal não-madeireira do País (R$ 539,2 milhões).
16
geneticamente diferenciado dos demais acessos; b) estimar a similaridade genética entre
acessos, por meio do cálculo do grau relativo de proximidade ou distância genética
presente na coleção; c) conhecer a estrutura genética da coleção, avaliando como se
distribui a variação genética entre acessos da coleção; d) estimar a riqueza alélica da
coleção, quantificando o número de alelos observados em diferentes locos entre os
acessos da coleção, e possibilitando até mesmo a detecção de alelos de importância
econômica; e) avaliar a representatividade da coleção, comparando a diversidade da
espécie cultivada e a de seus parentes silvestres.
Muitos trabalhos com marcadores moleculares estão em andamento no Brasil, podendo ser
destacados os projetos de caracterização molecular utilizando marcadores RAPD e CAPS
em 22 espécies de pimentas e pimentões, com a descrição de nove espécies novas,
realizados pela Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia. Outros trabalhos envolvem
o uso de marcador RAPD com espécies dos gêneros Heliconia sp., Ananas sp. e
Anthurium sp. Algumas espécies estão bem caracterizadas, utilizando a técnica de RAPD,
sendo que 14 espécies e 1353 amostras, foram analisadas quanto à variabilidade genética
das populações (Tabela 2). A Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia também vem
desenvolvendo marcadores moleculares para espécies nativas. Atualmente 23 espécies já
possuem marcadores SSR desenvolvidos tanto para caracterização quanto para estudo de
genética de populações, sendo estas: Caryocar brasiliense (pequi), Copaifera langsdorffii
(copaíba), Euterpe edulis (palmito), Swietenia macrophylla (mogno), Caesalpinia echinata
(pau-brasil), Capsicum spp (pimentas e pimentões), Cedrella fissilis (cedro), Ceiba
pentandra (sumaúma), Carapa guianensis (andiroba), Amburana cearense (cerejeira),
Manilkara huberi (maçaranduba), Symphonia globulifera (anani), Cocos nucifera (coco),
Araucaria angustifolia (pinheiro-do-paraná), Hymenaea courbaril (jatobá), Bagassa
guianensis (tatajuba), Jacaranda copaia (parapará), Dipteryx odorata (cumarú), Bactris
gasipaes (pupunha), Annona crassiflora (araticum), Bertholletia excelsa (castanha-do-
pará), Orbignya phalerata (babaçu) e Ilex paraguariensis (erva mate).
Nas últimas três décadas o Brasil tem obtido expressivo aumento de produtividade em
seus cultivos, sem, no entanto, aumentar a área cultivada (Figura 3). Isto é fruto do
trabalho de melhoramento genético e de manejo realizado pelas instituições de pesquisa
agropecuária e universidades brasileiras. Com as técnicas de genética molecular, as
plantas geneticamente modificadas têm sido desenvolvidas, possibilitando que se leve ao
agricultor novos materiais genéticos (OGMs – organismos geneticamente modificados). O
Brasil tem investido nas tecnologias de desenvolvimento de OGMs, tendo também a
preocupação em desenvolver pesquisas relativas ao impacto ambiental desses
organismos. A legislação brasileira, acompanhando os avanços científicos, tem se
adequado ao novo cenário, criando leis e mecanismos regulatórios para OGMs (ver
Capítulo 7).
Recentemente, uma questão preocupante em âmbito internacional tem sido a competição
por área de plantio em termos de produção de biocombustíveis versus produção de
alimentos. A experiência brasileira com biocombustíveis, especialmente pela produção de
etanol obtido da cana-de-açúcar, tem se mostrado muito positiva e se constitui em um
exemplo para todo o mundo. Em 2007/2008 o país produziu 487 milhões de toneladas de
cana, processadas por aproximadamente 350 usinas. O cultivo de cana é realizado em 7,8
18
milhões de hectares, o que representa apenas 2,3% da área agricultável total do país
(Figura 3). Até o momento, no Brasil, certamente não há competição entre a área destinada
à produção de biocombustíveis com àquela voltada para produzir espécies destinadas à
alimentação da população, afetando nossa segurança alimentar.
20
CAPÍTULO 3
3.1. INTRODUÇÃO
Tendo entre 44.000 e 50.000 espécies de plantas superiores, o Brasil possui uma das
21
floras mais diversas no mundo. No entanto, poucas dessas espécies foram inseridas em
sistemas de produção de larga escala e alguns recursos fitogenéticos nativos têm perdido
importância de uso ao longo do tempo.
Considerando a necessidade de criar e estabelecer áreas protegidas, houve um avanço
importante nos últimos anos, com o objetivo de preservar os remanescentes de vegetação
nativa em processo de desaparecimento e os grandes maciços florestais ainda existentes,
como no bioma Amazônia, onde foram criadas as maiores Unidades de Conservação.
Além disso, outras iniciativas oficiais importantes, como os estudos para indicação de
áreas prioritárias para conservação in situ e a prospecção de espécies nativas potenciais
para o uso sustentável decorreram da ratificação da Convenção sobre Diversidade
Biológica pelo Brasil, em 1994.
A Tabela 3 apresenta os dados oficiais relativos às Unidades de Conservação (UC) nos
níveis federal e estadual, com duas principais categorias definidas e regulamentadas pelo
Sistema Nacional de Unidades de Conservação-SNUC: Unidades de Proteção Integral,
onde a interferência humana é restrita, não deve haver uso direto de recursos naturais e a
conservação destes é o objetivo maior; e Unidades de Uso Sustentável, onde há diferentes
graus de interferência humana com a intenção de conciliá-los com a conservação dos
recursos naturais.
Entre as UC federais, 239 protegem áreas terrestres, 43 são mistas, protegendo áreas
terrestres e marinhas, e 10 protegem exclusivamente áreas marinhas. Essas unidades
abrangem 8,2% do nosso território, sendo 3,9% de Proteção Integral e 4,3% de Uso
Sustentável. Embora ainda com muitas deficiências em relação ao tamanho ideal das
áreas e os problemas de estrutura e gerenciamento, em pouco mais de duas décadas o
país saiu de 15 milhões de hectares de áreas protegidas de âmbito federal, em 1985, para
aproximadamente 70 milhões, em 2007 (Figura 4).
Categoria
Federais Estaduais Total
nº e área (mil ha) nº e área (mil ha) área (mil ha)
Ao todo, são 1.343 áreas protegidas, sendo 292 federais, 308 estaduais, além de 743
Reservas Particulares do Patrimônio Natural - RPPN. Tomando-se em conjunto as
Unidades de Conservação de âmbito federal, categorias de Proteção Integral (3,9%) e de
Uso Sustentável (4,3%), com as de âmbito estadual, categorias de Proteção Integral (1,0%)
e de Uso Sustentável (2,5%), e ainda as RPPN (0,06%), tem-se um total aproximado de
11,7% do território brasileiro destinado à conservação da biodiversidade brasileira,
representando acima de 100 milhões de hectares. Nesses totais não estão incluídas as
Unidades de Conservação de âmbito municipal.
Ao incluirmos as áreas indígenas, a área protegida do território nacional passa a ser ao
redor de 24,1%. Em relação ao relatório anterior, nota-se que houve avanços em relação à
criação de novas áreas de reserva indígena e mesmo ampliação de outras já existentes,
passando de 554 unidades para 611, um aumento de 11.026.781 ha (12%), totalizando
uma área de 105.672.000 ha (mas somente 87,27% destes estão totalmente
regularizadas). Como o fator terra é um dos principais pontos para que uma população
consiga manter suas tradições, entre elas o cultivo de recursos fitogenéticos, aliado ao fato
de que as reservas indígenas acabam servindo também como unidade de conservação in
situ, uma vez que os recursos naturais tendem a ser melhores mantidos nos seus limites
interiores do que fora destes, a garantia de proteção destas terras é um fator chave para
este tipo de conservação.
Nos últimos anos houve um importante acréscimo em número e área de Unidades de
Conservação oficiais no Brasil. Embora estes números sejam significativos para a
conservação in situ, ainda apresentam um grave desequilíbrio de proteção entre os
biomas.
O bioma Amazônia está representado por uma rede de Unidades de Conservação e áreas
indígenas que cobrem uma área importante. Há também o Programa Áreas Protegidas da
Amazônia (ARPA) do Ministério do Meio Ambiente – MMA, específico para aumentar as
áreas protegidas a 500.000 km2, e que utiliza o conceito de ecorregião como indicador de
conservação da biodiversidade. Porém, biomas como o Cerrado, a Mata Atlântica e a
Caatinga, alvos de intensa ação antrópica e com recursos naturais da mesma importância,
são ainda pouco representados dentro do Sistema Nacional de Unidades de Conservação.
Assim, espécies e populações únicas desses biomas podem desaparecer ou se tornar
seriamente comprometidas pela redução de habitats, como já ocorreu na Mata Atlântica e
está ocorrendo no Cerrado, os dois únicos biomas caracterizados como hotspots no Brasil,
ou seja, onde o elevado endemismo de espécies está associado às ameaças de rápida
perda de habitats.
23
Considerando as Unidades de Conservação de Proteção Integral nos níveis federal e
estadual, cerca de 2,48% da área total está protegida no bioma Cerrado. Se considerarmos
a categoria Uso Sustentável, essencial para ações específicas direcionadas aos recursos
genéticos para alimentação e agricultura, este porcentual cai para apenas 0,03% da área
total do bioma Cerrado. Ressalta-se ainda a preocupação pelo fato de que é sobre este
bioma que houve a maior expansão do agronegócio, com a implantação de vastas áreas
de monocultivos. Outro problema que reduz o número de áreas efetivamente protegidas diz
respeito à falta de implantação de muitas Unidades de Conservação, com carência de
infra-estrutura e pessoal, falta de informações bióticas e abióticas, problemas de
regularização fundiária, ausência de planos de manejo e sistemas de gestão eficientes.
Estes problemas foram bem caracterizados primeiramente para a região Centro-Oeste no
projeto “Realização de levantamento para a identificação das instituições envolvidas com a
conservação ex situ, on farm e in situ de recursos genéticos da flora, da fauna e dos
microrganismos”, executado pela Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia, com apoio
e iniciativa do Ministério do Meio Ambiente. Estes levantamentos, que deverão ser
estendidos para as demais regiões do país, permitirão consolidar um sistema de
informações sobre o que está sendo conservado, as condições de conservação atuais e as
necessidades de melhorias para a conservação dos recursos genéticos. Além da
identificação das instituições envolvidas no tema, esta iniciativa visa: (i) a definição da
representatividade e a abrangência geográfica de cada coleção, tanto em relação às
espécies e populações silvestres quanto de variedades de espécies cultivadas mantidas
em cada coleção e o tamanho de cada acervo; (ii) situação da conservação dos acessos
em cada coleção, seja in situ (reservas genéticas, reservas extrativistas ou de
desenvolvimento sustentável) ou ex situ (câmaras de conservação de sementes, cultura de
tecidos, criogenia e também a campo), bem como os materiais genéticos mantidos na
condição on farm, particularmente pelos agricultores familiares e tradicionais; (iii)
intensidade de intercâmbio praticado nos últimos 10 anos; (iv) atividades de pesquisa
conduzidas em cada coleção e intensidade de uso; (v) indicação da infra-estrutura
disponível em cada local para a manutenção das amostras; e (vi) medidas necessárias a
curto, médio e a longo prazo para manutenção de cada coleção.
Em se tratando de recursos genéticos, a categoria Unidade de Conservação de Uso
Sustentável é a única onde de fato se pode conservar e usar recursos fitogenéticos, ao
contrário da categoria Proteção Integral onde não é possível o uso destes recursos.
Portanto, a conservação de recursos fitogenéticos com uma visão de uso no futuro só pode
ser considerada plenamente, hoje, para as reservas extrativistas, florestas nacionais e
reservas de desenvolvimento sustentáveis, entre outras dentro desta mesma categoria.
Também houve um avanço significativo nos últimos anos com a implementação de muitas
unidades de conservação na categoria Uso Sustentável, particularmente as reservas
extrativistas. Há atualmente 56 Reservas Extrativistas federais, predominantemente na
Amazônia, onde as espécies Bertholettia excelsa (castanheira), Hevea brasiliensis
(seringueira), Euterpe oleracea e Euterpe precatoria (açaí), Theobroma grandiflorum
(cupuaçu) e Attalea speciosa (babaçu) ainda são as principais fontes de extrativismo,
embora a importância do extrativismo continue a diminuir como proporção da subsistência
e renda das famílias. A área total abrange mais de 12 milhões de hectares. As 28 Reservas
Extrativistas estaduais somam mais 2.888.921 ha. Porém, ainda há comunidades que
realizam extrativismo em remanescentes de vegetação natural com acelerado processo de
degradação nos demais biomas.
Importantes fontes para alimentação e alvo de extrativismo em escalas regionais no
Cerrado, como o pequi (Caryocar brasiliense), a cagaita (Eugenia dysenterica), o baru
(Dipteryx alata), o buriti (Mauritia flexuosa), macaúba (Acrocomia aculeata) e a mangaba
(Hancornia speciosa), entre outras, ainda não dispõem de áreas específicas oficiais
significativas para tal fim. Outras categorias de Unidades de Conservação de Uso
Sustentável que poderiam compatibilizar o uso e a conservação in situ de recursos
24
genéticos, com as Reservas de Desenvolvimento Sustentável, ainda são em número
escasso, com apenas uma federal e nove no nível estadual, com uma área total de cerca
de 8.227.032 ha.
Ainda é preciso considerar que algumas unidades de conservação dentro da categoria Uso
Sustentável, como as Áreas de Proteção Ambiental, com uma área total significativa,
principalmente no nível estadual (cerca de 30.711.992 ha), não se qualificam exatamente
como uma área protegida, e sim como um zoneamento de território para ocupação humana
onde a conservação dos recursos naturais é um objetivo secundário. Zonas rurais no
entorno de cidades onde a vegetação nativa foi praticamente eliminada e que estão nesta
categoria são o exemplo mais comum.
As Reservas Genéticas, não enquadradas dentro do SNUC, são unidades de conservação
cujo conceito de criação e estabelecimento, com o objetivo de proteger ecossistemas e
espécies de interesse econômico, não foi disseminado e/ou internalizado pelas instituições
responsáveis pelo fomento e criação de áreas protegidas. Assim, este tipo de unidade de
conservação não sofreu acréscimo nos últimos anos, limitando-se a poucas e pequenas
áreas protegidas nos principais biomas. As categorias classificadas como reserva
extrativista, reserva de desenvolvimento sustentável e floresta nacional podem cumprir a
mesma função prevista para as reservas genéticas e, portanto, não é problemático para a
conservação in situ de recursos fitogenéticos a falta de expansão destas áreas protegidas.
A partir da década de 90, o conceito de corredores de biodiversidade tem direcionado a
criação de Unidades de Conservação para aumentar as conectividades entre as áreas
protegidas já existentes e evitar a formação de ilhas e todos os problemas associados a
este isolamento. Exemplos destes corredores encontram-se principalmente na Amazônia,
onde a Reserva Estadual de Amaná conecta o Parque Nacional do Jaú e a Reserva
Estadual de Desenvolvimento Sustentável de Mamirauá. No Cerrado, as conexões entre a
Estação Ecológica de Serra Geral do Tocantins, o Parque Estadual do Jalapão e o Parque
Nacional Nascentes do Parnaíba formam um conjunto importante em tamanho de área que
também utiliza o conceito de corredores ecológicos.
Também há uma tendência crescente nos esforços de pesquisa que têm sido realizados
em comunidades extrativistas para avaliar a sustentabilidade destas atividades. De forma
geral, os estudos devem responder principalmente questões sobre a dinâmica das
populações sob extração, além da otimização dos sistemas de produção. Outras
considerações importantes devem ser relativas aos vários elos sócio-econômicos das
cadeias produtivas.
Apesar de ainda muito pontuais, algumas iniciativas têm sido realizadas em escalas
maiores, como os projetos de conservação da agrobiodiversidade desenvolvidos em áreas
de agro-extrativismo na Amazônia e em áreas de Cerrado do norte de Minas Gerais, sul do
Ceará (Floresta Nacional do Araripe), Mato Grosso (Parque Indígena do Xingu) e Tocantins
(Terra Indígena Krahô) através do Programa Biodiversidade Brasil-Itália, executado pela
Embrapa e o Instituto Chico Mendes, com a participação de organizações não-
governamentais, movimentos sociais, institutos de pesquisas e universidades. Neste
projeto estão sendo desenvolvidos estudos para conservação in situ e on farm de algumas
espécies nativas, como o pequi (Caryocar brasiliense), a mangaba (Hancornia speciosa) e
o coquinho azedo (Butia capitata), além das variedades crioulas de espécies cultivadas.
Outra iniciativa que merece destaque compreende a realização de estudos para a
avaliação e identificação de áreas e ações prioritárias para conservação, utilização
sustentável e repartição de benefícios da biodiversidade brasileira, sob coordenação do
Ministério do Meio Ambiente, incluindo a participação de diversas organizações não-
governamentais, universidades e institutos de pesquisa, como subsídios à Política Nacional
de Biodiversidade. Esta avaliação indicou 900 áreas consideradas como prioritárias para a
conservação da biodiversidade no país, considerando quatro critérios: extrema importância
biológica; muito alta importância biológica; alta importância biológica; e insuficientemente
25
conhecida, mas de provável interesse biológico. Foram classificadas como de extrema
importância biológica 510 áreas, ou 57% do total. Como resultado desta iniciativa, foram
criadas aproximadamente 57 Unidades de Conservação, baseadas nestes dados.
O Ministério do Meio Ambiente coordenou um levantamento sobre o estado da
conservação das variedades crioulas e dos parentes silvestres de algumas espécies
agrícolas. Executados pela Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária - Embrapa e
pelo Instituto Nacional de Pesquisa da Amazônia – INPA, tiveram como foco específico o
grupo de variedades crioulas e parentes silvestres do algodão, amendoim, arroz, abóbora,
mandioca, milho e pupunha. Este mapeamento incluiu como atividades: a definição
taxonômica dos parentes silvestres; a análise da distribuição geográfica; o status de
conservação; e as medidas necessárias que devem ser tomadas para a conservação
dessas variedades crioulas e dos parentes silvestres.
Outras espécies prioritárias também devem ser incluídas posteriormente, incluindo abacaxi,
cevada, feijão, maracujá e pimenta, dentre outras. A determinação das estratégias
posteriores para conservação in situ destes recursos fitogenéticos depende dessas
informações básicas
26
constante exposição aos fatores ambientais locais, permitindo que estas variedades sejam
selecionadas e adaptadas às variações que ocorram (fatores bióticos e abióticos), fazendo
com que sejam uma fonte importante de Recursos Genéticos para serem utilizados no
futuro. Alguns estudos demonstram que os agricultores tradicionais sabem muito bem
selecionar os componentes dos pacotes de modernização oferecidos pelas instituições de
extensão e de P&D que mais lhes convém, permitindo uma modernização do sistema
tradicional dirigida pelos interessados. Quase todos destes estudos demonstram também
que estes agricultores tradicionais modernos continuam a exercitar praticas tradicionais de
agricultora como uso de variedades crioulas e policultivo e criação animal, e portanto a
conservar muitos RG on farm, mostrando que nem sempre a modernização demole a
tradição.
Entretanto a falta de uma sistematização e dificuldade de gerar um modelo de apoio a
estes agricultores faz com que os trabalhos nesta linha tenham focos e profundidades
muito variados; seus resultados são muitas vezes mais subjetivos do que objetivos, mais
qualitativos do que quantitativos, e, deste modo, o registro sistemático dos diversos
trabalhos e a medição do impacto dos esforços sejam ainda muito incipientes. Ou seja, as
iniciativas acabam tendo uma variação muito grande do impacto gerado, algumas com
muito sucesso prático, outras mais políticas e outros com poucos resultados para a
conservação. Deste modo, há uma necessidade de se criar meios de medir este impacto,
para inclusive poder posteriormente direcionar melhor os esforços e recursos.
Dentre os esforços com aspectos positivos se destacam os realizados pela Articulação
Nacional de Agroecologia. Ela reúne em torno de 80 ONGs, movimentos sociais do campo
e redes agroecológicas, congregando os diferentes movimentos sociais existentes no
Brasil, atuando no apoio aos agricultores familiares e tradicionais em ações de resgate,
avaliação, melhoramento, troca de sementes, produção de sementes, entre outros
enfoques, desde a conservação dos recursos genéticos até as questões relacionadas a
direitos e legislação.
Alguns exemplos de linhas de atuação para promoção da conservação on farm que vem
sendo realizadas no Brasil nos últimos anos, promovidos pelo governo e instituições
sociais, são:
27
Um exemplo de conservação on farm no Parque Indígena do Xingu, é a forma
remanescente de plantio da mandioca – Manihot esculenta. Uma única família da aldeia
Yawalapiti realiza um ritual religioso durante a implantação de sua roça, denominada “Casa
do Kukurro” (Figura 5). O ritual consiste na construção de dois montes ou covas, situados
no limite externo com a floresta, nos quais são plantadas, em uma mesma cova, todas as
variedades de mandioca de seu portfólio (cerca de 16 variedades), para proteger e
fortalecer a energia das outras plantas da roça. Em termos evolutivos, o agrupamento das
variedades facilita a sua recombinação e o surgimento de novas variedades, as quais são
reconhecidas e cuidadas posteriormente. É uma tradição da linha familiar, com impacto na
diversidade genética da espécie, que corre o risco de ser perdida.
As feiras de sementes são iniciativas para reunir grupos de agricultores tradicionais para
troca de experiências e sementes. O número, tamanho e o alcance destas feiras têm
crescido nos últimos anos. Entretanto, mesmo tendo como objetivo o resgate, intercâmbio
e a difusão de variedades locais, criando um potencial de conservação de recursos
fitogenéticos dentro de uma rede, a avaliação do real impacto disto para a efetiva
conservação é algo ainda não bem contabilizado e que merece maiores estudos e apoio.
28
Normalmente os agricultores de uma dada região participam fornecendo parte de suas
sementes para serem guardadas em um local, comumente administrado por eles mesmos,
onde podem buscá-las para a safra seguinte. Isto contribui para proteger os agricultores
quanto à conservação de suas variedades tradicionais e diminuir o risco de possíveis
perdas. Entretanto, as formas utilizadas para esta conservação são ainda muito precárias,
na maioria dos casos, onde, por exemplo, estas sementes ficam expostas a temperaturas e
umidade não totalmente adequadas para a perpetuação de sua viabilidade por muitos
anos. Deste modo, em casos de problemas que ocorram em um dado ano, com perda da
produção e, portanto, não renovação do estoque, pode ocorrer perda de parte destes
recursos. Estudos sobre a viabilidade destes bancos, assim como um maior apoio técnico e
de recursos (equipamentos como geladeira, por exemplo), necessitam ser ampliados no
futuro.
29
30
CAPÍTULO 4
4.1. HISTÓRICO
Desde o começo da década de 1970, tem havido uma crescente preocupação mundial com
a necessidade de preservar os recursos genéticos, que são necessários para se atender às
demandas de variabilidade genética para os esforços contínuos de melhoramento de
plantas, e que são freqüentemente ameaçados de extinção. Esta ameaça surgiu, entre
outras coisas, do desenvolvimento a dispersão da agricultura moderna. Desde o primeiro
Relatório do Estado dos Recursos Genéticos Mundiais para a Alimentação e a Agricultura,
desenvolveram-se novas ameaças para a conservação da agro-biodiversidade e de
grandes extensões de ecossistemas naturais do Brasil, que são fontes de recursos
genéticos valiosos. As ameaças mais recentes são apresentadas pela expansão potencial
de monoculturas de espécies arbóreas para a produção de celulose sobre áreas
subtropicais de agricultura tradicional ou de manejo das pastagens naturais, assim como
pelo estabelecimento de novas áreas de cultivo de cana de açúcar, para fins energéticos,
sobre áreas de agricultura e pecuária do Brasil Tropical, forçando o deslocamento destas
atividades para áreas florestais até agora preservadas. Entretanto, o planejamento
governamental está consciente dessas tendências e os protocolos de licenciamento
ambiental levam em consideração o potencial dessas ameaças crescentes.
Nos anos 70, a FAO estimulou o estabelecimento de uma rede mundial de Centros para
Conservação de Recursos Genéticos, situados nas regiões de mais alta variabilidade
genética. Em 1974, o Consultative Group for International Agricultural Research (CGIAR)
criou o International Board for Plant Genetic Resources (IBPGR), hoje transformado no
Bioversity International. No mesmo ano, a EMBRAPA criou uma unidade de pesquisa, cuja
missão básica era “coordenar os meios apropriados de manejo dos recursos genéticos do
país”. Esta unidade foi denominada Centro Nacional de Recursos Genéticos
(CENARGEN). Em 1984, o CENARGEN também incorporou atividades de pesquisa com
utilização da biotecnologia, voltadas à conservação e utilização dos recursos genéticos. O
nome do órgão foi modificado para Centro Nacional de Pesquisa de Recursos Genéticos e
Biotecnologia, mas sua sigla foi mantida. Mais recentemente, foi adotada a assinatura
síntese Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia.
Antes do estabelecimento do CENARGEN, as atividades relativas aos recursos genéticos
eram conduzidas, no Brasil (com algumas raras exceções), de um modo casual e
esporádico. Freqüentemente havia lacunas em áreas relevantes da pesquisa e duplicações
em outras áreas através do país. Até aquele ponto, as atividades de rotina de introdução,
coleta, e de modo mais importante, de conservação de germoplasma, dependiam
grandemente do esforço, interesse, entusiasmo e relacionamento pessoal de
pesquisadores individuais. Entretanto, deve ser reconhecido que algumas instituições,
dedicadas a amplas áreas de pesquisa de certos produtos, foram pioneiras na formação e
manutenção de bancos de germoplasma.
Alguns exemplos bem conhecidos e bem sucedidos disto são: o Instituto Agronômico do
Estado de São Paulo, localizado em Campinas (IAC), liderando o trabalho com café e cana
de açúcar, o Instituto do Açúcar e do Álcool (IAA) e a Cooperativa dos Produtores de Cana
de Açúcar (COPERSUCAR), trabalhando em neste cultivo, a Comissão Executiva do Plano
da Lavoura Cacaueira, trabalhando com o cacau, a Escola Superior de Agricultura Luiz de
Queiroz (ESALQ/USP), tratando do milho e hortaliças, e a Universidade Federal de Viçosa
(UFV), que conduz, tradicionalmente, estudos sobre o feijão e a soja.
Todavia, em sua maioria, essas coleções eram incompletas ou tinham por alvo a solução
de problemas imediatos e bastante específicos. A perda de materiais antigos, ou mesmo
31
recentemente introduzidos, era um problema constante. Esta situação, enfatizada pelo
aspecto de que a maior parte dos cultivos alimentares usados no país é de origem exótica,
colocava o Brasil em uma posição de forte dependência de germoplasma exótico.
Além disto, a documentação das coleções e/ou os processos de divulgação eram
precários, o que complicava, grandemente, o intercâmbio de germoplasma, tanto em
termos nacionais, quanto internacionais.
32
estados brasileiros que atuam, em conjunção com a Embrapa Recursos Genéticos e
Biotecnologia pode ser vista na Figura 6. Cinquenta e dois por cento desses BAGs
conservam apenas espécies exóticas, enquanto 32% conservam apenas espécies nativas
e os 16% restantes conservam, ao mesmo tempo, espécies nativas e exóticas. O alto
percentual de espécies exóticas conservadas reflete sua importância para agricultura e
alimentação no Brasil.
Deve-se observar que valores mais elevados em termos dos números de bancos de
germoplasma, de localidades e de instituições envolvidas não significam necessariamente
uma conservação mais ampla das espécies ou das plantas cultivadas envolvidas, uma vez
que muitos Bancos de Germoplasma contêm em duplicata uma quantidade significativa de
seus acessos (por exemplo, os de feijão e de cucurbitáceas), e outros (por exemplo, os de
plantas forrageiras) têm-se tornado mais especializados, em realidade reduzindo o número
de espécies consideradas. Por outro lado, esta especialização tem resultado, geralmente,
em um aumento significativo do número de acessos mantidos das espécies mais restritas.
A coleção de base (COLBASE) de germoplasma vegetal é mantida na Embrapa Recursos
Genéticos e Biotecnologia, e as coleções ativas são mantidas nos respectivos BAGs. Um
levantamento atualizado este Sistema mostrou que, no Brasil, há mais de 170.000 acessos
de germoplasma vegetal, incluindo duplicatas, com cerca de 107.000 armazenados na
COLBASE e cerca de 63.000 em outras coleções (ver Tabela 4).
33
Espécies forrageiras nativas de diversos gêneros de gramíneas ou leguminosas (tais como
Centrosema, Cratylia, Stylosanthes, Trifolium, Vicia, Bromus, Paspalum), árvores florestais
nativas, plantas medicinais (Dimorphandra, Maytenus), ornamentais (Heliconia) e
industriais (Paulinia), são continuamente adicionadas ao acervo dos bancos ativos de
germoplasma.
Vê-se claramente que as maiores coleções de germoplasma são de espécies exóticas, que
incluem, principalmente, produtos do interesse social e econômico, de modo que sua
manutenção e ampliação são estrategicamente necessárias.
É oportuno indicar que as principais plantas cultivadas alimentícias de importância para
Brasil são dependentes de germoplasma exótico. Quase 95% dos acessos de cereais
conservados no país, em coleções de SNPA, são de espécies exóticas. A manutenção e o
enriquecimento contínuo da variabilidade genética destas coleções tem sido uma fonte
constante de preocupação, especialmente sob os potenciais cenários futuros de
crescimento das limitações ao intercâmbio internacional. Basicamente, cada banco ativo de
germoplasma considera que há necessidade de enriquecimento taxonômico, geográfico e
genético de seus acervos.
As Tabelas 1A a 10A do Anexo listam as espécies conservadas no SNPA (exceto na
COLBASE), bem como as instituições que as conservam, com o respectivo número de
acessos e a indicação de sua origem (E = exóticos, L = raças locais ou “landraces” e N =
nativos). Observa-se que o feijão, cultivo de grande importância social para o País, é o
produto com maior número de acessos (14.460) seguido pela soja (com 13.300 acessos),
que é o principal produto de exportação do Brasil.
Número de Número de
Gênero acessos % Gênero acessos %
34
instituições associadas, no que toca ao germoplasma vegetal. A infra-estrutura para sua
utilização disseminada ainda está abaixo dos padrões ideais, mas está sendo dada
prioridade à capacitação e estão sob o desenvolvimento protocolos específicos.
No sistema brasileiro de recursos genéticos, a conservação em longo prazo do
germoplasma tem sido realizada principalmente pela conservação de sementes ortodoxas
em câmaras a temperatura abaixo de zero (Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia
e Instituto Agronômico de Campinas - IAC). As sementes ortodoxas também são
armazenadas em câmaras frias em temperaturas acima de zero por períodos curtos e
médios de conservação. O número dos bancos ativos de germoplasma equipados com
câmaras frias acima de zero cresceu significativamente, em unidades de EMBRAPA e em
outras instituições associadas, desde o primeiro Relatório Mundial sobre a Situação dos
Recursos Fitogenéticos para a Alimentação e a Agricultura. Entretanto, a regeneração
periódica da semente continua sendo reconhecida como um ponto de estrangulamento em
muitos bancos ativos de germoplasma, especialmente quando é necessário o isolamento
dos acessos em multiplicação. Por outro lado, foram estabelecidas coleções nucleares
para diversos cultivos com sementes ortodoxas (milho, arroz, feijão). Sua multiplicação é
também uma responsabilidade dos bancos ativos específicos de germoplasma, mas ao
menos essas coleções são reconhecidas por enfatizar as possibilidades da utilização do
germoplasma, acrescentando valor, por decorrência, aos bancos de germoplasma
envolvidos.
Para espécies com sementes recalcitrantes, a conservação in vitro, a curto e médio prazo,
bem como a conservação a campo por meio de coleções de plantas vivas, já mostraram
ser alternativas promissoras para a conservação, e são implementadas rotineiramente.
A conservação a campo de plantas perenes, realizada nas unidades com bancos ativos de
germoplasma, é cara e exige muito trabalho, exigindo mão de obra altamente treinada. Um
outro problema que este sistema apresenta é a vulnerabilidade das plantas, uma vez que
estão expostas a um número de fatores bióticos e abióticos adversos. Muitos desses
cultivos são conservados de modo complementar in vitro, e a conservação de pólen é
realizada em algumas coleções de árvores frutíferas. A falta ou instabilidade de
financiamento afetam fortemente algumas das coleções da plantas vivas, especialmente
aquelas estabelecidas sobre maiores extensões de terra, em que a manutenção dos
campos experimentais em boas condições de limpeza já é por si só, uma séria dificuldade.
A coleção de base do país (COLBASE), situada na Embrapa Recursos Genéticos e
Biotecnologia, tem cinco câmaras disponíveis com uma capacidade atual de manutenção
acima de 250.000 acessos (558m3). Estas câmaras frias de armazenamento operam à
temperatura de -20°C e são projetadas para conservar sementes por um período de tempo
muito longo. O germoplasma mantido na COLBASE é monitorado periodicamente. Pedidos
de germoplasma são atendidos geralmente através dos bancos ativos específicos de
germoplasma dos cultivos em pauta. Sempre que necessário distribuir a partir da
COLBASE, são feitos arranjos para garantir a regeneração adequada em paralelo. No
Instituto Agronômico de Campinas (IAC) há duas câmaras frias de armazenamento
operando a -10ºC.
As instalações para conservação de sementes em longo prazo tem infra-estrutura
adequada para realizar as seguintes atividades: recepção, preparação, controle de
qualidade quanto às condições fisiológicas e fito-sanitárias, empacotamento e
documentação do germoplasma armazenado (utilizando códigos de barra), e casas de
vegetação e telados acessórios para a multiplicação e regeneração estratégica do
germoplasma que, por razões eventuais, não pode ser conduzida nos bancos ativos de
germoplasma. Alguns bancos ativos de germoplasma multiplicam suas amostras suas
amostras em campos únicos, mas alguns cultivos específicos, como o milho, exigem muito
trabalho e disponibilidade de áreas extras de cultivo, para manter o isolamento necessário
durante a multiplicação. O planejamento adequado da rotina dos bancos facilita a
35
integração de atividades simultâneas de conservação e caracterização, mas, em muitos
casos, é necessário o estabelecimento de campos distintos para estes diferentes objetivos.
Para a conservação in vitro, são utilizadas duas câmaras especiais, assim como o
Laboratório de Cultura In vitro (LCV), com uma sala respectiva de isolamento, para a
preparação dos materiais. Há uma câmara para a espécie de clima temperado ou
subtropical, mantida a 10°C. A outra câmara, projetada para espécies de clima tropical, é
mantida a 19°C. Instalações similares estão disponíveis, para determinadas espécies
cultivadas, mas, na maior parte, para aquelas de propagação clonal, em diversas unidades
de EMBRAPA e instituições associadas (IAC, Universidade de Estado de Rio de
Janeiro/UERJ).
Além do trabalho rotineiro de conservação, vem sendo desenvolvidas pesquisas com
sementes de espécies nunca antes estudadas. Estes estudos incluem as áreas de
anatomia, fisiologia e de patologia. O objetivo de longo prazo destes estudos é consolidar o
sistema de conservação de germoplasma, com informação científica original.
O objetivo destes estudos é classificar os distintos tipos de sementes (recalcitrantes,
ortodoxas, ou intermediárias), de acordo com seu comportamento e determinar
metodologias apropriadas e protocolos de rotina para sua conservação em longo prazo.
Na mesma maneira, tem sido desenvolvida pesquisa com criopreservação, usando-se, não
somente sementes, mas também outros tipos de materiais vegetais, especialmente na
situação das espécies tropicais autóctones produtoras de sementes recalcitrantes.
O sistema brasileiro de conservação de recursos genéticos adotou os padrões
internacionais da qualidade da semente, estabelecidos pelo Bioversity International e FAO,
fazendo ajustes quando necessário, o que depende de circunstâncias distintas e das
espécies que estão sendo conservadas. As regras da International Seed Testing
Association/ISTA são seguidas para as espécies com parâmetros fisiológicos bem
conhecidos.
A multiplicação e a regeneração são realizadas geralmente nos bancos ativos de
germoplasma, onde as coleções ativas são mantidas. Além das coleções ativas, algumas
unidades ou instituições que abrigam bancos de germoplasma têm a capacidade manter
coleções para conservação em longo prazo, notavelmente de espécies perenes
conservadas a campo. Neste caso, as coleções são usadas não somente para as
atividades inerentes à conservação de recursos genéticos, mas também para o
melhoramento.
Embora conduzido no âmbito da pesquisa agropecuária, o Sistema Brasileiro de
Conservação Ex Situ de Recursos Genéticos contribui significativamente para a
conservação integral da diversidade vegetal, e tem potencial para uma atuação mais ampla
no país, não só porque muitas espécies nativas têm interesse potencial para a agricultura e
para atividades a ela relacionadas, mas também por manter disponíveis instalações físicas,
onde materiais de quaisquer outras espécies de plantas podem ser adequadamente
armazenados, sempre que os arranjos necessários possam ser negociados neste sentido.
Em linha com a Estratégia Global para Conservação de Plantas, por exemplo, tais
instalações estão preparadas para ajudar o país a alcançar as metas específicas de
conservação ex situ de espécies vegetais brasileiras ameaçadas. A conservação de
germoplasma com vistas à recuperação de áreas e para a restauração de comunidades
vegetais, dois temas importantes de iniciativas mais orientadas para aspectos ambientais,
é baseado freqüentemente na utilização de espécies não tradicionalmente cultivadas, em
cujo manejo as instituições envolvidas raramente estão equipadas para conduzir um bom
trabalho de multiplicação e conservação. A conservação e multiplicação colaborativa de tal
germoplasma seria um bom exemplo do potencial para o uso cooperativo e complementar
das instalações disponíveis.
36
Outro benefício das atividades de conservação de germoplasma vegetal mantidas no
Sistema Brasileiro é sua utilidade como temas para o treinamento de estudantes de
graduação e pós-graduação, o que tem é servido como um fator de ligação, estimulando a
colaboração com o sistema universitário e favorecendo o estabelecimento de redes
regionais produtivas de recursos genéticos.
38
O grande volume de germoplasma que ainda necessita ser caracterizado e avaliado, junto
com a natureza lenta destas atividades e as limitações que existem, de natureza técnica,
política, financeira e de pessoal, indicam que esta situação continuará por um bom tempo.
GRUPO CURADORIAS
40
CAPÍTULO 5
5.1. INTRODUÇÃO
O Plano Global de Ação para Recursos Genéticos para Agricultura e Alimentação (PGA),
aprovado durante a 4ª Conferência Técnica Internacional para Recursos Genéticos de
Plantas (Leipzig, Alemanha, em 1996), enfatiza que somente através do uso é que os
benefícios sociais e econômicos da conservação dos recursos genéticos vegetais (RGVs)
podem ser compreendidos.
Todavia, a baixa utilização dos acessos disponíveis em bancos de germoplasma é uma
realidade mundial, que se estende também ao Brasil, considerando a diversidade disponível
no País. Dentre as várias causas desse fenômeno, citam-se como principais: a falta de
documentação e descrição adequada das coleções; a falta de informações desejadas pelos
melhoristas; adaptação restrita dos acessos; número insuficiente de melhoristas,
principalmente nos países em desenvolvimento; falta de avaliação das coleções; pouca
disponibilidade de sementes devido a esquemas de regeneração inadequados; troca de
materiais entre os melhoristas; satisfação dos melhoristas com a variabilidade genética
encontrada nos materiais elites; dificuldade de identificar genes potencialmente úteis; e
ausência de programas de pré-melhoramento (pre-breeding).
O conhecimento de genes potencialmente úteis e sua incorporação em cultivares elite, vem
sendo de grande importância para subsidiar a utilização dos recursos genéticos e ampliar a
base genética dos programas de melhoramento. Nesse sentido, as pesquisas envolvendo
a prospecção, conservação e caracterização de germoplasma têm assumido importância
estratégica no País.
Em hortaliças, diversos esforços têm sido realizados no sentido da eficiente e eficaz utilização
da variabilidade conservada em BAGs. Na cultura de batata doce (Ipomoea batatas), as
atividades têm por objetivo a identificação de resistência a potyvirus, Alternaria, nematóides e
insetos de solo (Diabrotica). Em cebola (Allium cepa), as atividades se concentram em
qualidade de bulbo e capacidade de bulbificação em condições de elevada temperatura.
Com relação a abóboras (Cucurbita moschata) e morangas (C. maxima) esforços têm sido
empregados para identificar características morfológicas de interesse como também
resistência a potyvirus, murcha de Phytophthora e teor de sóludos solúveis. Entre as
pimentas (Capsicum spp.) foram caracterizados 807 acessos para resitência a doenças,
sendo 403 de C. annuum, 91 de C. baccatum, 261 de C. chinense e 52 de C. frutescens,
ampliando as informações disponíveis para os programas de melhoramento nacionais.
Outra importante iniciativa é o projeto Orygens, que utiliza extensa rede de pesquisadores de
diferentes instituições públicas e privadas do País, com o objetivo de promover a utilização
do conhecimento atual do genoma de arroz para o desenvolvimento de cultivares mais
competitivas. O foco é o estudo integrado da variação de dados fenotípicos, obtidos
extensivamente no campo para alguns caracteres de importância econômica, e das
informações de mapeamento genético, seqüenciamento de DNA e função gênica. Nesse
sentido, experimentos com populações segregantes de cruzamentos intra-específicos de
arroz estão sendo conduzidos em várias partes do País, visando à construção de mapas
genéticos e físicos para a localização e isolamento de genes. Esse trabalho abrange três
frentes: (1) compreensão de controle genético; (2) desenvolvimento de cultivares
superiores pelo emprego de tecnologia genômica em programas de melhoramento; e (3)
utilização de avanços do conhecimento genético da espécie modelo arroz em culturas de
importância econômica como o milho e o sorgo, explorando a sintenia entre essas
espécies.
41
Em milho, um exemplo relevante foi o Latin American Maize Project (Lamp), envolvendo 12
países. Esse projeto teve por objetivo avaliar, para uso futuro, as características agronômicas
dos acessos mantidos em banco de germoplasma. Na primeira etapa, foram avaliados cerca
de 15 mil acessos, através de um esforço conjunto de melhoristas dos setores público e
privado. Os resultados obtidos permitiram determinar, com maior precisão, a situação atual
dos bancos de germoplasma, o número de acessos por banco, a quantidade e qualidade das
sementes por acesso e a relação dos acessos que necessitavam ser regenerados. No Brasil,
cerca de 1.111 acessos − todos adaptados para altitudes < 2.000 m − preencheram as
condições exigidas pelo Lamp (mínimo de 1 kg de sementes e poder germinativo > 75 %).
Indubitavelmente, o reconhecimento e a utilização de recursos genéticos vegetais vem
crescendo sobremaneira na comunidade científica brasileira, tanto em espécies nativas como
exóticas de importância − atual ou potencial − para o abastecimento interno e a balança
comercial brasileira. Neste sentido, inúmeros exemplos do sucesso alcançado a partir da
utilização da variabilidade disponível podem ser citados, conforme depreende-se de alguns
dos estudos de casos apresentados ao final deste capítulo. No caso da soja brasileira, p.ex.,
aumentos de produtividade nas regiões tradicionais de cultivo e a expansão da fronteira
agrícola, incorporando as áreas do Cerrado e o aproveitamento de áreas para rotação de
culturas, são resultados inquestionáveis do benefício alcançado pela criação de novas
cultivares, mais produtivas e adaptadas a essas regiões. Esses resultados são fruto,
basicamente, da utilização de germoplasma introduzido no País, atestando a contribuição da
conservação e utilização de recursos genéticos à agricultura brasileira. E a continuidade
desse progresso genético está condicionada à existência de variabilidade genética e da
exploração dos reservatórios de armazenagem das cultivares. De fato, o rápido avanço na
adaptação e na produtividade da soja levou os melhoristas a restringirem a utilização de
germoplasma aos tipos mais adequados. Como conseqüência, até recentemente, uma das
maiores preocupações nos programas de melhoramento da espécie era a estreita base
genética das cultivares usadas comercialmente, em virtude do reduzido número de
progenitores utilizados na geração de germoplasma elite.
A parte dos exemplos apontados de utilização de recursos genéticos no Brasil, deve ser
promovido o maior, mais eficaz e eficiente uso dos acessos mantidos nos bancos de
germoplasma brasileiros. Dentre as alternativas promissoras para elevar essa utilização, os
programas de pré-melhoramento e as coleções nucleares (core collections) têm merecido a
atenção de pesquisadores que trabalham diretamente com recursos genéticos e também de
melhoristas.
42
Phaeosphaeria maydis, enfezamentos e viroses do milho (micoplasma/espiroplasma). A
partir dos materiais identificados como promissores, foram sintetizadas novas populações
com alta concentração de genes para resistência às respectivas doenças.
No caso do arroz, cultivado principalmente nos estados do Rio Grande do Sul e Santa
Catarina, Mato Grosso e Maranhão, espécies silvestres têm sido utilizadas em pré-
melhoramento para ampliação da base genética e transferência de características específicas
para cultivares elite. Nos dois primeiros, localizados na Região Sul, predomina o arroz irrigado
e um dos principais problemas são as baixas temperaturas durante o cultivo. Já nos estados
do Mato Grosso e Maranhão, predomina o arroz de terras altas, que tem como um dos fatores
limitantes da produção, a ocorrência de veranicos. Nesse contexto, dentre as quatro espécies
silvestres do gênero Oryza que ocorrem no Brasil − O. alta (alotetraplóide), O. latifolia
(alotetraplóide), O. grandiglumis (alotetraplóide) e O. glumaepatula (diplóide) −, Oryza
glumaepatula, por ser autógama, diplóide e possuir genoma AA, a semelhança de Oryza
sativa, é a que apresenta melhor potencial de uso no melhoramento genético do arroz
cultivado. Dessa sorte, trabalhos de introgressão de genes dessa espécie em arroz cultivado
vêm sendo conduzidos pela Embrapa, visando à tolerância à seca e ao ferro tóxico.
Em café, programas de pré-melhoramento vêm sendo desenvolvidos há vários anos pelo IAC,
com resultados bastante significativos para o País. Análises genéticas em Coffea arabica têm
indicado a existência de suficiente variabilidade passível de ser explorada no desenvolvimento
de novas cultivares. Mas, espécies diplóides de Coffea vêm sendo exploradas em pré-
melhoramento de C. arabica e C. canephora para resistência a doenças, pragas e
nematóides, empregando várias técnicas de biotecnologia como cultura de tecidos,
transformação genética e marcadores moleculares. Nesse contexto, através do Genoma
Café, projeto colaborativo entre o IAC e o Consórcio Brasileiro de Pesquisa e
Desenvolvimento do Café, coordenado pela Embrapa, já foram identificados cerca de 30 mil
genes de interesse no germoplasma estudado, que após definição de funções estarão
disponíveis para utilização no desenvolvimento de novas cultivares.
44
Figura 7. Regiões ecogeográficas usadas para
a coleta de mandioca.
Tipo de grão
Região Ecogeográfica Pipoca Dentado Duro Farináceo e outros
CT CN CT CN CT CN CT CN
Sul 29 10 279 17 23 9 5 5
Cerrados 26 10 321 19 77 13 50 12
Cerrados – Norte 12 8 110 14 9 7 6 5
Amazônia 35 12 121 14 94 15 19 8
Caatinga 17 8 169 16 38 11 1 1
Agreste – Litoral 1 1 62 12 14 8 0 0
Sem Classificação 4 0 10 0 5 0 7 0
Os 550 acessos da coleção nuclear de arroz foram avaliados quanto à produtividade, ciclo,
dias até o florescimento, teor de amilose e altura de plantas em experimentos conduzidos em
oito ambientes: Boa Vista, estado de Roraima, Formoso do Aragaia, no Tocantins, Goiânia,
em Goiás, Pelotas e Uruguaiana, no Rio Grande do Sul, Vilhena, em Rondônia, Sinop, no
Mato Grosso e Teresina, no Piauí. Em Goiânia, foram avaliados também o número de
panículas e perfilhos por metro, além do teste de cocção. A caracterização molecular vem
sendo realizadas em 242 acessos, empregando 86 marcadores microssatélites. Os resultados
dessas caracterizações será utilizado pelo programa de melhoramento genético da Embrapa,
fornecendo informações mais completas sobre a estrutura de diversidade da coleção.
Razoável esforço tem sido feito para estabelecer as coleções nucleares para as maiores
coleções do acervo de recursos genéticos da Embrapa - outras certamente surgirão. No
entanto, o maior desafio que se coloca no momento é a utilizaçaõ das coleções já
estabelecidas. A capacidade de se estimular e priorizar a utilização dessas coleções por
parte dos melhoristas, fitotecnistas, biotecnólogos, curadores e pesquisadores de outras
áreas (evolução, ecologia, geoprocessamento etc.) possibilitará a agregação de dados e
informações a essas coleções. Essa fase efetivamente transformará as coleções nucleares
em importante instrumento de ampliação do uso do germoplasma e, assim, dar equilíbrio
ao binômio conservação:utilização.
46
enfatizada no Brasil, por apresentarem alto teor e qualidade de proteína, com ausência de
glúten, podendo ser utilizadas com vantagem nutritiva na alimentação humana e animal,
por suas características de funcionalidade. As atividades de pré-melhoramento têm sido
conduzidas no sentido de selecionar acessos com características agronômicas e aproveitar
a variabilidade oriunda de cruzamentos naturais. Em quinoa, populações com combinações
favoráveis apresentam ciclos diferenciados (90 a 140 dias), elevada produção de grãos e
biomassa, grãos grandes, que atendem à demanda brasileira e mundial, ausência de
acamamento e deiscência. Em amaranto, têm-se mantido populações com ausência de
espinhos na inflorescência, alta produção de grãos e de biomassa e ausência de
acamamento.
48
contempladas na lista foram agrupadas em 12 grupos de uso: alimentícias, fruteiras,
medicinais, aromáticas, ornamentais, oleaginosas, madeireiras, apícolas, fibrosas,
forrageiras, tóxicas/biocidas e ambientais. Algumas espécies já alcançaram algum grau de
projeção no cenário nacional, a exemplo do açaí (Euterpe oleracea) e do cupuaçu
(Theobroma grandiflorum). Outras, apesar de apresentar grande potencial de exploração, a
exemplo da goiabeira-serrana (Acca sellowiana), são conhecidas apenas em âmbito local e
regional.
Tabela 8. Espécies de valor econômico atual e potencial, de uso local e regional identificadas no
projeto Plantas para o Futuro, grupos de uso e número total de espécies priorizadas nas
cinco regiões geopolíticas do Brasil.
Cada vez mais o pesquisador brasileiro vem se conscientizando da importância dos recursos
genéticos para o desenvolvimento de suas atividades. Levantamento realizado entre
melhoristas de milho, dos setores público e privado, apontou que a utilização dos acessos
disponíveis nos bancos de germoplasma de forma regular é muito baixa (14% dos
entrevistados), tendo sido a quantidade de informações sobre esses acessos o fator mais
limitante para sua utilização, de acordo com 70% dos pesquisadores entrevistados.
Há necessidade, portanto, de ampliar os trabalhos de caracterização e avaliação em
bancos de germoplasma. Algumas ferramentas de biotecnologia poderão ser úteis na
identificação de duplicatas, como também na avaliação da diversidade que está sendo
conservada e novas iniciativas para o estabelecimento de coleções nucleares deverão ser
implementadas e incentivadas, como forma de ampliar o uso dos recursos genéticos
conservados. Outra iniciativa a ser priorizada é a alimentação do Sistema Brasileiro de
Informação de Recursos Genéticos (Sibrargen) e sua disponibilização via Internet. Tais
providências são fundamentais para identificar futuras necessidades de coleta,
caracterização, avaliação e, consequentemente, aumentar a utilização do acervo
conservado no País. E, para a eficaz e eficiente exploração e utilização dos recursos
genéticos, são essenciais o fortalecimento e a consolidação de redes de pesquisas
transdisciplinares e interinstitucionais, com a articulação de parcerias para otimização dos
recursos financeiros e humanos e para facilitar e intensificar o intercâmbio de germoplasma
e conhecimento.
50
promissora. Os avanços recentes da genômica abriram possibilidades para estudos
detalhados de funções biológicas importantes, para os quais organismos devidamente
caracterizados são essenciais. Na verdade, o estabelecimento das relações entre estrutura
(genes) e função biológica (caracteres) é extremamente dependente de RGVs
adequadamente organizados para análises mais detalhadas. Surge, portanto, outro usuário
importante para os recursos fitogenéticos – o biotecnologista, interessado em caracteres e
funções biológicas devidamente identificadas em RGVs apropriados para análises mais
elaboradas.
O interesse desse novo usuário vai além do universo dos recursos relacionados à
alimentação e agricultura, uma vez que funções e caracteres identificados na biodiversidade
podem, potencialmente, ser mobilizados para espécies de interesse agronômico, social e
ambiental através da tecnologia do DNA recombinante. Assim, para atender a esse novo
cliente, os bancos de germoplasma precisam ampliar seus acervos, em especial para busca
daquelas funções e caracteres usualmente não disponíveis nos acervos tradicionais. Por
exemplo, a crescente consciência ecológica e a conseqüente pressão para que a agricultura
se torne provedora de “serviços ambientais” como a melhoria da qualidade do solo, fixação de
carbono para contraposição às mudanças climáticas globais, detoxificação do solo e água,
etc. exigirá prospecção dessas funções na biodiversidade e sua mobilização para espécies de
interesse.
1
A soja é uma espécie anual do subgênero Soja e 23 espécies perenes dentro do subgênero Glycine têm sido
relatadas como espécies selvagens relacionadas, sendo consideradas, portanto, recursos genéticos para
propósitos de melhoramento genético da cultura (HYMOWITZ, 2004). A maioria dos acessos de G. max e G.
soja disponíveis no mundo foi coletada na China e no Japão e, de acordo com dados reunidos e atualizados
pelo Bioversity (antes, International Plant Genetic Resources Institute - Ipgri), mais de 170 mil acessos de G.
max são mantidos por mais de 160 instituições em aproximadamente 70 países. A China tem a maior coleção
de germoplasma de soja no mundo, com cerca de 26 mil acessos de G. max e 6,2 mil de G. soja. A coleção de
germoplasma do Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (Usda) é a segunda maior, com 18.570
acessos de G. max, 1.116 de G. soja e 919 de espécies perenes de Glycine. Todas as espécies perenes são
nativas da Austrália, que possui a maior coleção do mundo, com mais de 2,1 mil acessos. Atualmente, mais de
3,5 mil acessos das 22 espécies perenes de Glycine têm sido mantidos em nove coleções mundiais (CARTER
et al., 2004).
51
tropicais brasileiras, essa indução ocorria logo no início do período vegetativo, resultando
em plantas de baixa estatura e pequena produtividade (BONETTI, 1981). Somente depois
da realização de hibridações entre cultivares adaptadas a regiões de latitudes mais
elevadas e fontes de genes para florescimento tardio em dias curtos, também chamados
‘genes para período juvenil longo’ (principalmente do genótipo PI 240664, procedente das
Filipinas), oriundos da coleção americana, foi possível obter genótipos que apresentavam
florescimento tardio e crescimento adequado em baixas latitudes (HINSON, 1989; KIIHL;
GARCIA, 1989). Esse trabalho foi que viabilizou o cultivo da soja em qualquer ponto do
território nacional (KIIHL; BAYS; ALMEIDA, 1986). Na Figura 8, apresenta-se a evolução
da criação de germoplasma de soja no Brasil desde sua introdução no País até o ano de
2003, resultado de introduções sistemáticas e intensa utilização de recursos genéticos
Com o aumento da área cultivada e com a prática do monocultivo da soja, novas doenças
e pragas bastante destrutivas foram aparecendo forçando o desenvolvimento de cultivares
resistente a doenças. A obtenção dessas cultivares foi possível pela utilização de
introduções PIs, fontes de resistência genética armazenadas no banco ativo de
germoplasma (BAG) da espécie, que paralelamente trouxeram significativo aumento da
base genética das cultivares brasileiras. As principais fontes de resistência utilizadas foram
para doenças causadas por bactérias (pústula bacteriana - Xanthomonas phaseoli pv
glycines e crestamento bacteriano - Pseudomonas syringae pv tabaci) e por fungos
(mancha olho-de-rã - Cercospora sojina, mosaico comum da soja – Soybean Mosaic Vírus,
podridão parda da haste - Phialophora gregata f .sp. sojae, cancro da haste - Diaporthe
phaseolorum f.sp. meridionalis, oidio - microsphaera difussa, podridão da raiz e da haste
Phytophthora sojae, podridão vermelha da raiz Fusarium solani f. sp., ferrugem asiática da
soja – Phakopsora pachyrhizi, nematóide de cisto da soja Heretodera glycines,
nematóides-de-galhas – Meloidogyne incognita e Meloidogyne javanica). Outros acessos
introduzidos dos Estados Unidos e também conservados no BAG-soja têm sido utilizados
como fontes de resistência aos insetos Nezara viridula e Anticarsia gemmatalis.
Já no programa de soja para alimentação e tipo vegetal, germoplasma introduzido da
China e do Japão tem sido utilizado como fonte de características especiais para o
desenvolvimento de cultivares adaptadas. Ademais, no sentido de ampliar a base genética
da soja, entende-se que espécies selvagens podem servir como fonte de resistência a
pragas, tolerância à seca, teor e qualidade de óleo. Para tanto, ferramentas da
biotecnologia têm permitido os primeiros sucessos na obtenção dos híbridos
interespecíficos G. max X G. tomentella.
Finalmente, de forma estratégica, visando à ampliação da base genética da soja no Brasil e
assegurar a variabilidade genética necessária por vários anos, iniciou-se, no ano de 2006,
a introdução de toda a coleção de germoplasma de soja dos Estados Unidos.
52
Figura 8. Evolução da criação de germoplasma de soja no Brasil desde sua introdução no País até
o ano de 2003.
53
Referências
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KIIHL, R.A.S.; GARCIA, A. The use of the long-juvenile trait in breeding soybean cultivars. In: CONFERENCIA
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KIIHL, R.A.S; BAYS, I.A.; ALMEIDA, L.A. Soybean breeding for the brazilian tropics. In: SYMPOSIUM [ON]
SOYBEAN IN TROPICAL AND SUBTROPICAL CROPPING SYSTEMS, 1983, Tsukuba. Proceedings...
Shanhua: AVRDC, 1985. p.141-143.
54
A maior parte (> 85%) dos 1.008 acessos que compõem o banco de germoplasma de
Prunóideas é de Prunus persica, havendo representantes, também, de Prunus salicina
(segunda maior espécie em número de acessos) e híbridos de P. salicina; P. domestica; P.
avium; P. amygdalus; P.armeniaca; P. cerasus; P. mume, P. mahaleb; P. nigra; P.
kansuensis e P. manshurica.
A origem desse germoplasma é variada, incluindo desde programas de melhoramento
genético da Embrapa e do IAC, outros estados brasileiros e antigas cultivares, até
introduções de países como Bolívia, Espanha, Estados Unidos, Itália, Ilhas Canárias,
México e Japão. Os trabalhos de caracterização, principalmente morfológica e fenológica,
evidenciam que grande diversidade se encontra disponível para utilização − principalmente
entre os acessos de pessegueiro: tipo e coloração de flores (desde pétalas brancas até
quase vermelhas, com 5 pétalas ou múltiplos de 5, com sépalas em número de 5 ou
dobradas, flores campanuladas ou rosáceas); tipos de glândulas peciolares; cor de polpa
(branco-esverdeada, branco-creme, amarelo-claro, amarelo-ouro, alaranjada); cor da
película com maior ou menor quantidade de vermelho ou, ainda, sem cor de cobertura;
forma, tamanho e grau de firmeza das frutas; necessidade em frio e calor das plantas,
densidade de flor, etc. Para descrição dos frutos, são utilizadas 30 características
morfológicas e físico-químicas, como conteúdo de sólidos solúveis, firmeza e, em poucos
acessos, medida de pH; 5 dados fenológicos e de produção, além da reação a doenças. A
caracterização molecular vem sendo realizada no principal germoplasma do BAG,
incluindo-se aí os clones de fundação. Em um trabalho de parceria com a Texas A&M
University − através do Dr. David Byrne −, há cerca de 2 anos, foi iniciado o
desenvolvimento de microssatélites para caracterizar o germoplasma de pessegueiro. A
idéia é que, no futuro, seja possível fazer uma caracterização sistemática das maiores
coleções de germoplasma do mundo, o que ajudaria a selecionar um conjunto diversificado
de germoplasma de baixo frio (coleção nuclear).
Mas o acervo do BAG não é utilizado apenas pelo programa de melhoramento genético do
pessegueiro e ameixeira da Embrapa Clima Temperado, atendendo também outras
instituições de pesquisa e servindo a programas de melhoramento, inclusive, de outros
países. Assim, 12% dos clones básicos (clones de fundação) usados no programa de
melhoramento de pêssegos de polpa não fundente de Queretaro, no México, e 20% do
programa de Chapingo, México, são brasileiros. O programa da Flórida, Estados Unidos,
utiliza três fontes de clones básicos para obtenção de frutos com o mencionado tipo de
polpa: originários nordeste dos Estados Unidos, México e Brasil. A cv. Oro A, p.ex., foi
obtida por polinização aberta da cultivar brasileira Diamante (Byrne et al, 2000).
O intercâmbio, principalmente de pólen, tem sido bastante exercitado pelos programas de
melhoramento de Prunóideas. No início do trabalho com pêssego no Estado do Rio Grande
do Sul, o programa da Rutgers University, New Brunswick, Estados Unidos, foi de capital
importância no que diz respeito a clones básicos. Do programa de Arkansas, a Embrapa
recebeu pólen de germoplasma com maior firmeza e tamanho dos frutos e resistência à
bacteriose. Por outro lado, o programa da Universidade da Califórnia - Davis, tem usado
‘Bolinha’ − criada na Embrapa − como fonte de resistência à podridão parda, e outras
cultivares brasileiras como fonte de alto teor de sólidos solúveis; e pólen de acessos com
menor suscetibilidade a Monilinia fructicola foi enviado para a Carolina do Norte.
Intercâmbio de informações e germoplasma tem sido mantido também com a Texas A&M
University e a Universidade da Flórida, assim como com a Estação Experimental de Las
Brujas, no Uruguai, dentre outras instituições no Brasil e no exterior. Do Canadá, o
programa da Embrapa Clima Temperado recebeu pólen de cultivares com melhor cor de
película, tamanho dos frutos e, supostamente, resistentes à bacteriose da folha. Mais
recentemente, foi recebido pólen de variedades autóctonas da Espanha, as quais,
seguramente, sofreram seleção natural através dos séculos e, portanto, são extremamente
valiosas do ponto de vista de melhoramento e de conservação de germoplasma.
55
Referências
BYRNE, D.H.; SHERMAN, W.B.; BACON, T.A. Stone fruit genetic pool and its exploitation for growing under
warm winter conditions. In: EREZ, A. (ed.). Temperate Fruit Crops in Warm Climates. Boston: Kluwer Academic
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Fruteiras de Clima Temperado.. 1 ed. Viçosa - MG: Editora UFV, 2002, v. 1, p. 89-126.
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Silva, A. G. da. (Org.). Agricultura Tropical -Quatro décadas de inovações tecnológicas, institucionais e
políticas. 1 ed. Brasília, D.F.: Embrapa INformação Tecnológica, 2008, v. 1, p. 519-529.
Figura 10. Amostra da variabilidade genética de Passiflora spp. Foto: Embrapa Cerrados
Espécies silvestres também vêm sendo utilizadas para melhorar características físicas,
químicas ou sensoriais da polpa do maracujá para novas opções de mercado − seja
57
como fruta exótica ou para incrementar propriedades funcionais. P. caerulea e acessos
silvestres de P. edulis têm apresentado potencial para deixar mais avermelhada a polpa do
maracujazeiro-azedo comercial, melhorando suas propriedades funcionais (Figura 11).
A B
Figura 11. Passiflora caerulea, evidenciando a coloração avermelhada da polpa (A) e Passiflora
odontophylla,evidenciando a curta distância entre as anteras e estigmas e a coroa, que
permite a polinização por pequenos insetos (B). Foto: Embrapa Cerrados.
58
Figura 12. Plantas RC do cruzamento inicial entre P. edulis e P. setacea, ilustrando a recuperação
do genoma recorrente. Foto: Embrapa Cerrados
Entre os híbridos inter-específicos que estão sendo obtidos, destaque especial deve ser
dado a P. coccinea X P. setacea, lançado como o primeiro híbrido ornamental de
maracujazeiro no Brasil, BRS Estrela do Cerrado. Trabalhos de seleção em populações RC
obtidas do retrocruzamento com P. coccinea e P. setacea permitiram a obtenção de mais
dois híbridos ornamentais de maracujá, BRS Rubiflora e BRS Roseflora, respectivamente
(Figura 13).
A B
Figura 13. Capa dos folderes técnicos dos híbridos de maracujazeiro-ornamental lançados em
2007 (A) e dos folderes técnicos dos híbridos de maracujazeiro-azedo lançados para
cultivo comercial em 2008 (B). Foto: Embrapa Cerrados
Outros produtos tecnológicos importantes são os híbridos BRS Sol do Cerrado, BRS
Gigante Amarelo e BRS Ouro Vermelho (Figura 13), resultado da utilização de acessos
silvestres de P. edulis na base dos cruzamentos, o que permitiu a obtenção de materiais
genéticos com a coloração de polpa mais avermelhada e menos dependentes da
polinização artificial. Outro híbrido muito promissor obtido pelo programa de melhoramento
realizado na Embrapa Cerrados envolve as espécies P. caerulea e P. edulis. A partir do
cruzamento base, trabalhos de retrocruzamentos e seleção para coloração avermelhada da
polpa estão sendo feitos. Plantas RC tem apresentado a coloração da polpa mais
avermelhada (Figura 14) e bons níveis de produtividade.
Também merecem destaque os híbridos inter-específicos envolvendo P. nítida, cujo
potencial está relacionado à sua utilização como porta-enxertos, que podem ser obtidos por
estaquia ou sementes. Junqueira et al. (2006b) observaram aumentos de produtividade do
maracujazeiro-azedo enxertados em P. nitida.
Finalmente, além de sua utilização em cruzamentos, algumas espécies silvestres têm
potencial para consumo in natura, considerando suas propriedades como alimento
funcional. Dentro desta linha, o programa de melhoramento realizado na Embrapa
Cerrados tem trabalhado com seleção de populações de P. setacea e de P. nitida
objetivando o aumento do tamanho do fruto para o mercado de frutas frescas e para
produção de matéria-prima para produção de doces e sorvetes.
59
Figura 14. Frutos do genitor
recorrente, Passiflora edulis (A) e
de planta RC2 (B) obtida do
cruzamento base entre P caerulea
e P edulis.
Referências
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60
Caso 4. Utilização de recursos genéticos nativos e conhecimento
tradicional no melhoramento de pupunha (Bactris gasipaes,
Palmae)
Charles Roland Clement
Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia, Manaus, Amazonas
A pupunha foi domesticada pelos primeiros povos do sudoeste da Amazônia –
provavelmente pela madeira –, mas depois tornou-se importante por seu fruto oleoso e,
como apogeu de sua domesticação, por seu fruto amiláceo (Figura 15), ideal para
fermentação para festividades. Foi um componente essencial para a subsistência dos
povos da Amazônia Ocidental, do noroeste da América do Sul e do sul de Mesoamérica,
antes da conquista do continente pelos europeus – tão importante como o milho e/ou a
mandioca, dependendo da etnia. Foi menos importante na Amazônia Central e Oriental,
caracterizadas por distintos povos indígenas e recursos genéticos. Após a conquista
européia, gradualmente, a pupunha perdeu importância, na medida que os povos que dela
faziam uso eram dizimados ou aculturados.
Ao longo do século 20, seu potencial como alimento rico em energia, óleo, amido, proteína,
fibra e beta-caroteno foi aclamado, principalmente porque seu potencial produtivo em solos
sulamericanos é muito maior que o do milho, planta de composição químico-nutricional
similar. No último quarto desse século, Victor Manuel Patiño (Colômbia; falecido em 2001)
e Jorge Mora Urpí (Costa Rica; falecido em 2008) lideraram um esforço multinacional de
pesquisa e desenvolvimento (P&D) em pupunha. No final da década de 1970, através da
parceria entre o Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa) e a Embrapa
Recursos Genéticos e Biotecnologia (Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia), o
Brasil aderiu a esse esforço, de sorte que, hoje, instituições brasileiras e costarriquenhas
lideram os trabalhos com a espécie, com atividades ocorrendo também na Bolívia,
Colômbia, Equador, Panamá, Peru e Venezuela.
Entre 1983 e 1984, representantes de outros países interessados – Costa Rica, Colômbia,
Equador, Peru – passaram a colaborar com a parceria brasileira nos trabalhos de
prospecção da Bacia Amazônica, os quais, financiados pelo governo dos Estados Unidos
da América, mudaram a história da pupunha. As análises da informação dessa prospecção
determinaram que, a partir da domesticação de Bactris gasipaes, existia uma hierarquia
complexa de raças primitivas (variedades locais ou landraces) selecionadas, mantidas e
conservadas pelos povos indígenas e comunidades tradicionais da Amazônia, e outras
partes da distribuição pré-Colombiana. No entanto, ao mesmo tempo, todos os parceiros
internacionais ficaram fascinados com os usos indígenas para a pupunha e passaram a
explorar o potencial de transformar alguns desses usos em nichos nos mercados
modernos. Esse fascínio com os conhecimentos tradicionais complicou a história da
61
pupunha, pois as demandas modernas são muito diferentes das demandas indígenas
Como fruto desse trabalho, a raça primitiva Pampa Hermosa, possuidora de alta proporção
(> 80%) de plantas sem espinhos no estipe, nas bainhas e ráquis das folhas, foi
identificada na região de Yurimáguas, Loreto, Peru. Além de serem inermes, as plantas de
Pampa Hermosa crescem com rapidez e possuemi menos oxalato de cálcio nos tecidos.
Este conjunto de caracteres é quase o ideotipo da pupunha ideal para a produção de
palmito, produto gourmet extraído do ponto de crescimento da palmeira. Hoje, essa raça é
plantada em 80 %, ou mais, dos plantios latino-americanos que atendem a crescente
demanda mundial dessa verdura gourmet. No Brasil, as introduções de acessos de Pampa
Hermosa e a identificação de outras populações com plantas inermes, como a de Benjamin
Constant, Amazonas, da raça primitiva Putumayo, fizeram florescer o agronegócio de
pupunha para palmito.
Esse grupo de materiais vem sendo usado nos programas de melhoramento no Brasil, com
destaque para os programas da Embrapa, do Instituto Agronômico (IAC), em Campinas,
Estado de São Paulo, e do Inpa. A Embrapa Florestas, em Curitiba, Estado do Paraná,
coordena uma rede nacional de ensaios de progênies para identificar germoplasma elite
para a produção de palmito nas regiões Sudeste e Norte do País.
A similaridade da composição química da pupunha com a do milho sugere seu uso na
alimentação animal, bem como na elaboração de farinhas, que poderiam ser usadas para
enriquecer pão ou diversificar a indústria da panificação e confeitaria. No entanto, os custos
de colheita e processamento tornam a farinha de pupunha muito cara, especialmente por
competir com outros amidos e farinhas, todos com preços baixos no mercado porque vêm
de cadeias de produção eficientes. A pupunha é uma batata árborea, apresentada em
cachos formados a 5 m ou 10 m da superfície do solo.
Outro uso indígena que muito interessou aos estudiosos da pupunha e nunca encontrou
entusiastas fora da comunidade de P&D foi a bebida fermentada. Os frutos mais amiláceos
são ideais para fermentação e o processo de fermentação explica o nome em inglês: peach
palm ou palmeira-de-pêssego. Embora o fruto tenha semelhança com o pêssego (Figura
16), o aroma de frutos fermentados com tecnologia indígena é quase idêntico ao aroma de
pêssego maduro na árvore, no meio de uma tarde ensolarada. A bebida fermentada por um
dia tem um sabor agradável de fruta − muito diferente de seu sabor quando cozido − e uma
atrativa cor alaranjada. Se fermentada até o esgotamento dos açucares, alcança 5 % de
álcool; se clarificada, é semelhante a uma cerveja alaranjada, com sabor agradável.
Pesquisas no Brasil, Colômbia e Peru melhoraram as tecnologias indígenas, mas nenhum
empreendedor tem se apresentado até agora para tirar o produto da bancada e levá-lo ao
mercado. Considerando o sucesso recente do açaí, cujo sabor, aroma e aparência são
muito menos atrativos, a falta de interesse em pupunha fermentada é curiosa. Mas as
instituições latino-americanas estão à disposição do setor de bebidas quando este
despertar.
Quando ficou evidente que os usos tradicionais não estavam contribuindo para a ampliação
do público consumidor de pupunha, iniciou-se uma nova fase de P&D desta palmácea,
mais realista. Os consumidores de Manaus, Estado do Amazonas e Belém, Estado do
Pará, não desejam os frutos amiláceos do apogeu da domesticação indígena da espécie.
Eles preferem frutos vermelhos, mais ou menos oleosos, com sabor agradável e sem fiapo.
Este tipo de fruto é típico da Amazônia Central e Oriental, justamente onde os indígenas
consideravam a pupunha como um bom petisco, mas não como a base da alimentação, a
semelhança dos povos da Amazônia Ocidental. De fato, a pupunha-petisco tem sido
vendida nas esquinas das ruas de Belém e de Manaus desde muito antes do início das
pesquisas, nunca tendo sido considerado como produto de primeira importância. Na
realidade, este é o principal mercado da fruta, pois além de ser vendida nas esquinas, o
mesmo preparo é usado nos lares: frutos cozidos em água salgada e consumidos com
café, suco ou cerveja, conforme o horário. Com esse novo reconhecimento, as pesquisas
com a pupunha para produção de frutos recomeçaram na Amazônia brasileira.
62
Figura 16. Uma fração da
variabilidade morfológica de
frutos de pupunha cultivada
(B. gasipaes var. gasipaes)
da raça primitiva Putumayo.
Quanto maior o fruto, maior o
teor de amido e menor o teor
de óleo. Quanto mais
alaranjada a coloração do
fruto, maior a teor de
beta-caroteno.
63
Caso 5. Resgate de recursos genéticos da agricultura tradicional e
melhoramento de cucurbitáceas no Nordeste brasileiro
Manoel Abilio de Queiroz
Departamento de Tecnologia e Ciências Sociais, DTCS-UNEB, Juazeiro, Bahia
As cucurbitáceas compreendem várias espécies, utilizadas na alimentação humana e
animal em diversas partes do mundo e, embora não sejam originárias do Brasil,
representam agronegócio expressivo no País, estimado em mais de R$ 1 bilhão. Deste
total, quase a metade é proveniente do agronegócio da melancia [Citrullus lanatus (Thunb)
Matsum & Nakai]. Vale salientar que a melancia, originária da África e introduzida no Brasil
durante o período da escravatura, foi inicialmente cultivada nas hortas existentes nas
senzalas e depois migrou para o interior do Nordeste brasileiro, durante o processo de
ocupação, onde é mantida, até hoje, pelos pequenos agricultores, que usam a própria
semente para o estabelecimento do próximo plantio, em um sistema de cultivo praticado
quase que na ausência de agroquímicos, principalmente os chamados defensivos
agrícolas.
Dessa forma se hipotetizou que esse germoplasma poderia encerrar genes úteis para o
melhoramento da espécie, uma vez que, introduzidas da África − centro de origem das
principais espécies de Citrullus − persistem na agricultura tradicional do Nordeste brasileiro,
sob cultivo sem pesticidas. O número de cultivares comerciais no Brasil é bastante
reduzido − não passando de dez −, as quais, desenvolvidas nos Estados Unidos e Japão,
embora apresentem boas características de planta e fruto, são suscetíveis às principais
doenças que atacam a cultura. As cultivares comerciais introduzidas no Brasil, na década
de 1950, eram todas suscetíveis a doenças como o oídio, causado pelo fungo
Podosphaera xhantii; a queima de alternaria (Alternaria cucumerina); as potyviroses como
o vírus da mancha anelar do mamão, estirpe melancia (PRSV-w); ao vírus do mosaico da
melancia (WMV); e ao vírus do mosaico da abobrinha (ZYMV), o cancro das hastes
causado pelo fungo Didymella bryoniae, entre vários outros estresses bióticos e abióticos.
Verificou-se que a riqueza encontrada na agricultura tradicional nordestina estava
ameaçada de se perder em virtude de fatores como o êxodo rural, exacerbado nos anos de
secas extremas na Região Nordeste, quando a semente plantada pelos agricultores não
chega a ser colhida e a introdução de variedades comerciais, mais atrativas pela melhor
aparência de seus frutos − especialmente a cor de polpa (Figura 17), entre outros fatores.
64
O resgate dessa variabilidade, iniciado em vários estados do Nordeste, notadamente no
Maranhão e Bahia, na década de 1990, resultou em mais de 1,6 mil amostras, que, hoje,
constituem o BAG-Cucurbitáceas para a Região Nordeste. Desse total, pelo menos 600
amostras são de melancia. Desse material, coletado em cultivos de agricultores que
utilizam as sementes de cucurbitáceas para o próximo plantio, feiras livres, pontos de
venda em margens de rodovias, etc., pelo menos 600 amostras são de melancia.
Principais resultados
A variabilidade genética encontrada nas amostras coletadas na agricultura tradicional da
Região Nordeste era totalmente desconsiderada nos meios acadêmicos brasileiros.
Entretanto, trabalhos de caracterização e avaliação identificaram acessos com alto potencial
para utilização em programas de melhoramento no valioso acervo coletado na década de
1990. Os principais caracteres identificados foram: resistência a oídio (Sphaerotheca
fuliginea), cancro das hastes (Dydimela bryoniae), queima de alternária (Alternaria
cucumerina) e viroses (Papaya ringspot virus – type watermelon – PRSV-w; Watermelon
mosaic virus – WMV, Zucchini yellow mosaic virus – ZYMV), além de precocidade e
tamanho, cor de casca e polpa, padrão de fruto e de sementes, teor de sólidos solúveis e
sementes com dormência. Ademais destas e da ocorrência de plantas andromonóicas, a
prolificidade − plantas com muitos frutos, em geral pequenos − é outra característica
determinada entre o germoplasma coletado, de grande importância para o melhoramento
da melancia.
Essa diversidade vem sendo estudada e, aos poucos, está sendo introduzida em cultivares
comerciais. O primeiro exemplo desse trabalho é ‘Opara’, disponibilizada para cultivo em
julho de 2007, com resistência ao oídio proveniente de uma das amostras de melancia do
BAG, CPATSA 2. Essa característica, monogência e dominante, foi incorporada em muitas
linhas de melancia do tipo Crimson, que deram origem a ‘Opara’ e que, no futuro, darão
origem a muitas outras cultivares com diferentes características.
O lançamento da ‘BRS Opara’ durante o Agrishow, realizado de 3 a 7 de julho de 2007, em
Petrolina, Estado de Pernambuco, se é uma boa notícia para os produtores, destaca a importância
de se preservar a biodiversidade para a sustentabilidade do negócio agrícola. A melancia CPATSA-
2, do ponto de vista estritamente comercial, é um material muito ruim: frutos pequenos, polpa branca
e sem doce algum. Contudo, ao invés de descartado, ele foi reunido a mais de 2000 outros materiais
genéticos (melancia, abóbora, melão, maxixe e bucha) e preservados no BAG-cucurbitáceas do
Nordeste brasileiro, idealizado por Manoel Abílio de Queiróz, pesquisador aposentado da Embrapa e
professor do Departamento de Tecnologia e Ciência Sociais da Universidade do Estado da Bahia
(DTCS-UNEB), sendo um exemplo concreto de utilização do tesouro genético preservado em
benefício da cadeia produtiva da melancia. Texto extraído de
<http://www.embrapa.br/imprensa/noticias/2007/julho/1a-semana/noticia.2007-07-02.3162727370/>.
Acesso em 20 out. 2008.
O segundo grande resultado alcançado nesse projeto de resgate e utilização de recursos
genéticos de cucurbitáceas − talvez o mais significativo − é sua realização a partir da
parceria entre a Embrapa Semi-Árido e o Departamento de Tecnologia e Ciências Sociais
da Universidade do Estado da Bahia (Uneb), oportunizando que vários acadêmicos, a nível
de mestrado e doutorado, sejam treinados nas várias fases dos trabalhos em recursos
genéticos vegetais. Esses estudantes, depois profissionais, vêm sendo engajados em
diferentes instituições de pesquisa. Hoje, o BAG-cucurbitáceas para o Nordeste brasileiro
tem como curadora a primeira estudante a se encantar com a variabilidade genética
encontrada no Nordeste brasileiro, a Dra. Rita de Cássia Souza Dias. Outros estudantes se
engajaram em Unidades da Embrapa (Tabuleiros Costeiros, Recursos Genéticos e
Biotecnologia e Embrapa Rondônia), em universidades (Universidade Estadual de Feira de
Santana, a Universidade Federal da Bahia, Universidade Federal Rural do Semi-Árido) e
outras instituições. Novos estudantes continuam a se encantar com esse trabalho em
recursos genéticos de cucurbitáceas, uma atividade estimulante por tratar de preservar
genes para o futuro do agronegócio das diversas espécies que se encontram no País.
65
Caso 6. Utilização do patrimônio genético, cultural e alimentar de arroz-
vermelho (Oryza sativa)
José Almeida Pereira
Embrapa Meio Norte
O arroz é considerado a principal fonte de energia para a maioria da humanidade e
constitui um dos principais componentes da dieta alimentar dos brasileiros. A preferência
do consumidor por esse cereal, via de regra, está associada a aspectos econômicos,
tradicionais e culturais, variando entre países e mesmo de região para região de um
mesmo país. No Brasil, são encontrados alguns tipos especiais de arroz destinados a
públicos de hábitos alimentares diversos, porém nenhum desses tipos especiais possui
maior importância do que o arroz-vermelho.
O arroz-vermelho é praticamente desconhecido como planta cultivada, muito embora, pelas
suas características diferenciadas em relação ao arroz branco, como sabor, textura e,
provavelmente, valor nutricional, seja plantado em, pelo menos, quatro continentes:
América (Argentina, Brasil, Nicarágua e Venezuela), Europa (França e Rússia), África
(Madagascar e Moçambique) e Ásia (Butão, China, Coréia do Sul, Filipinas, Índia,
Indonésia, Japão, Malásia, Nepal, Sri Lanka e Tailândia).
No Brasil, o arroz-vermelho é cultivado principalmente na Região Nordeste, onde foi
introduzido pelos portugueses ainda no século 16, destacando-se − pela ordem
decrescente de importância − os estados da Paraíba, Rio Grande do Norte e Pernambuco.
Em todas essas áreas, a produção está relacionada com o hábito alimentar das
populações locais, no entanto, apesar de ser alvo de grande interesse para a agricultura
familiar e para milhares de consumidores, esse arroz se encontra em franco processo de
erosão genética, em razão da forte concorrência da indústria do arroz branco e do
despovoamento do meio rural. Estima-se que a área atualmente plantada com esse
germoplasma esteja reduzida a um terço do que já foi no passado.
Plantado predominantemente por pequenos agricultores como lavoura de subsistência, o
arroz-vermelho é considerado um verdadeiro patrimônio genético, cultural e alimentar do
povo nordestino. As poucas cultivares de arroz-vermelho adaptadas às condições
brasileiras e em uso hoje, provavelmente, são resultado de transformações ocorridas na
natureza, devido a cruzamentos naturais e a mecanismos como mutações ou
recombinações gênicas, e foram selecionadas ao longo dos últimos 4 séculos pelos
próprios agricultores. Em anos recentes, uma coleção de cultivares tradicionais, locais ou
crioulas desse arroz foi estabelecida pela Embrapa.
Como produto do trabalho de caracterização morfoagronômica dessa coleção, alguns
acessos foram identificados como potencialmente úteis para o melhoramento genético,
visando à redução da altura de planta, do acamamento da pilosidade das glumas e das
folhas e ao aumento da produtividade de grãos e do porcentual de grãos inteiros após o
beneficiamento. Outro aspecto, também importante, diz respeito ao aproveitamento da sua
variabilidade genética na ciração de cultivares de arroz-vermelho biofortificadas, haja vista
a identificação de alguns acessos com elevados teores dos micronutrientes essenciais,
ferro e zinco.
Com base nesses dados, após a sua caracterização morfoagronômica (Figura 18), a
mencionada coleção de cultivares tradicionais de arroz-vermelho foi devidamente
registrada e se encontra em conservação nos BAGs da Embrapa Recursos Genéticos e
Biotecnologia, da Embrapa Arroz e Feijão e da Embrapa Meio-Norte. Numa segunda etapa,
a Embrapa Meio-Norte, através do método de seleção de plantas individuais com teste de
progênies (Figura 19a), deu início a um programa de melhoramento genético com o
objetivo de desenvolver e liberar comercialmente as primeiras cultivares de arroz-vermelho
para as condições de cultivo da Região Semi-Árida nordestina.
66
Figura 18. Caracterização
morfoagronômica de cultivares
tradicionais de arroz-vermelho na
Embrapa Meio-Norte no ano de
2004.
Nesse caso, como as populações naturais de plantas autógamas, em geral, são uma
mistura de genótipos em homozigose, foi possível a obtenção de linhas puras de arroz-
vermelho adaptadas às condições locais a partir do segundo ano de execução do
trabalho.Numa terceira etapa, num trabalho pioneiro no Brasil, a Embrapa Meio-Norte − em
parceria com a Embrapa Arroz e Feijão − iniciou um trabalho de hibridação artificial de
arroz-vermelho, utilizando como parentais algumas das cultivares tradicionais
selecionadas. Várias linhas (gerações iniciais e avançadas) com características
agronômicas, culinárias e nutricionais de interesse vêm sendo obtidas (Figuras 19b e 19c)
e espera-se a liberação comercial das primeiras cultivares melhoradas de arroz-vermelho
no País nos próximos 2 ou 3 anos.
Essa iniciativa reveste-se de grande relevância, tanto para a preservação como para o
aproveitamento da variabilidade genética do arroz, em consonância com a estratégia
preconizada pelo Plano de Ação Global para Segurança Alimentar da FAO.
A B C
Figura 19. Utilização da variabilidade genética do arroz-vermelho visando à alta produtividade de grãos: PB 13,
cultivar obtida na Embrapa Meio-Norte por seleção individual de plantas com teste deprogênies − ano de 2005
(A); linhas F1 (B) e linhagens F7 (C) obtidas por hibridação artificial nos anos de 2005 e 2007, respectivamente,
na Embrapa Meio-Norte.
67
Caso 7. Preservação e utilização de espécies silvestres de Manihot
Alfredo Augusto Cunha Alves
Embrapa Mandioca e Fruticultura Tropical
Dentro do gênero Manihot, com cerca de 98 espécies documentadas, somente a espécie
M. esculenta é cultivada, ao mesmo tempo que é considerada um dos mais importantes
alimentos básicos na dieta humana dos trópicos. O programa de melhoramento da
Embrapa vem trabalhando apenas com a diversidade genética dessa única espécie
cultivada. Apesar de sua rusticidade, a mandioca sofre grandes perdas causadas por
fatores bióticos e abióticos; e as espécies silvestres, que abrigam genes de resistência aos
principais estresses que afetam a cultura, são muito pouco estudadas e muitas delas estão
ameaçadas de extinção
O Brasil, considerado o principal centro de origem da mandioca, tem a maior diversidade
genética do gênero Manihot, dispersada por todo país. Para permitir a utilização de genes
úteis de espécies silvestres, o estabelecimento e ampliação de uma coleção desse valioso
germoplasma têm sido um dos principais objetivos da Embrapa Mandioca e Fruticultura
Tropical. Nos últimos 4 anos, uma coleção foi estabelecida com acessos obtidos de
diferentes fontes, incluindo de coletas realizadas nas regiões semi-áridas (caatinga) e do
Cerrado (Distrito Federal e entorno). Atualmente, a coleção possui cerca de 920 acessos,
envolvendo, pelo menos, 18 espécies do germoplasma silvestre, exibindo amplo
polimorfismo vegetativo e reunindo potencial para utilização em programas de
melhoramento genético da mandioca (Figura 20). Um banco de sementes sexuais também
vem sendo preservado, com aproximadamente 60 mil sementes obtidas na coleção
(polinização aberta).
Figura 20. Coleção de espécies silvestres de mandioca na Embrapa Mandioca e Fruticultura, em Cruz das
Almas, Estado da Bahia, com 920 acessos de 18 espécies. Em detalhe, a variabilidade genética de
algumas espécies: 1) M. glaziovii; 2) M. dichotoma; 3) M. tomentosa; 4) M. irwinii; e 5) M. anomala.
Figura 21. BRS Dourada (A) e BRS Gema de Ovo (B), cultivares de mandioca
lançadas para cultivo comercial a partir de seleções feitas no
BAG-Mandioca para teores de carotenóides e baixo HCN nas raízes.
Figura 22. Híbridos de mandioca gerados para elevar o teor de carotenóides em raízes de mandioca a partir do
germoplasma selecionado no BAG-Mandioca.
Tabela 10. Conteúdo de ferro e de zinco (mg,kg-1) detrminado nas raízes de landraces mantidas no BAG-
Mandioca e de híbridos das populações 2003,2004 e 2005, gerados na Embrapa Mandioca e
Fruticultura
Resistência à seca
Merece destaque, também, o trabalho que vem sendo conduzido para identificação de
fontes de resistência à seca. Inicialmente, foram avaliados cerca de mil acessos em quatro
ecossistemas do semi-árido Nordestino, tendo sido identificados genótipos que toleravam
períodos de estiagens de até 8 meses com boa produção de raízes e de parte aérea, este
último, importantíssimo para alimentação dos animais nos períodos prolongados de seca
(Figura 23).
A partir de genótipos com estas características, o programa de melhoramento da Embrapa
Mandioca e fruticultura desenvolveu inúmeros híbridos, associando a resistência à seca a
outras características como bacteriose, podridão de raízes, produtividade e teor de amido
70
nas raízes. Dentre elas destacaram-se as cultivares BRS Formosa (Figura 24a) −
resistente à seca e à bacteriose e com alta taxa de adoção pelos agricultores − e BRS
Kiriris (Figura 24b) − resistente à seca e à podridão de raízes. Ademais dessas, inúmeras
outras cultivares vêm sendo criadas a partir das fontes de resistência à seca identificadas
no BAG-Mandioca.
A B
Figura 24. BRS Formosa (A) e BRS Kiriris (B), híbridos de mandioca resistentes à seca, obtidos a
partir de clones selecionados no BAG-Mandioca
71
Caso 9. Utilização, no melhoramento da qualidade nutricional de raízes de
mandioca, de mutações espontâneas encontradas em Manihot
esculenta
Luiz Castelo Carvalho Branco
Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia
Raças locais são formas primitivas das cultivares modernas utilizadas pelos agricultores e
representam o primeiro passo na domesticação da mandioca. A análise genética em
populações naturais dessas raças locais encontradas no centro de origem e domesticação
da mandioca, na Amazônia, tem permitido a descoberta de mutações espontâneas nas
rotas metabólicas de conversão de sacarose para amidos e sínteses/acumulo de
carotenóides. A variabilidade de processos naturais, que requerem grandes número de
proteínas funcionais e que podem concorrer para elevar o conteúdo de proteínas em raízes
de reserva de mandioca, também está sendo analisada. Esses mutantes espontâneos são
utilizados, dentro de uma abordagem evolutiva, para estudos de funcionalidade de genes
que determinam estas características e para incorporação nos programas de
melhoramento mandioca, possibilitando a criação de cultivares com aplicações específicas
em diferentes nichos de mercado.
Figura 26. Variação na quantidade e no tipo de carotenóides presente nas raízes de M. esculenta, resultado
de mutações espontâneas identificadas em germoplasma coletado no Brasil: Mutação rosa (A) e
amarela(B).
73
Figura 27. Correlação entre o teor de proteínas e de carotenóides presentes em raízes do germoplasma de M.
esculenta coletado no Brasil.
Figura 28. Proteínas chaperonas do tipo “Small Heat Chock Proteins” presentes em raízes pigmentadas do
germoplasma de M. esculenta coletado no Brasil.
74
Caso 10. Utilização de recursos genéticos de fruteiras nativas do Sul do
Brasil
Caroline Marques Castro, Maria do Carmo Bassols Raseira, Márcia Vizzotto, Ana Cristina Krolow
Embrapa Clima Temperado
O banco ativo de germoplasma de espécies frutíferas nativas da Região Sul do Brasil
(BAG-Nativas Sul), mantido na Embrapa Clima temperado, conta com 12 espécies nativas
e duas introduzidas. São elas: guabiroba (Campomanesia xanthocarpa); pitanga (Eugenia
uniflora); araçá (Psidium catleyanum); feijoa (Acca sellowiana); ingá (Inga uruguensis);
guabiju (Myrcianthes pungens); araticum (Rollinia sylvatica); butiá (Butia capitata.); uvaia
(Eugenia pyriformis); cereja-do-Rio Grande (Eugenia involucraat.); jabuticaba (Myrciaria
truncifolia) e, recentemente, foram adicionados à coleção, acessos de Rubus sp.,As
espécies exóticas são o araçá-pêra (Psidium acutangulum) e a uva-do-Japão (Hovenia
dulcis). Paralelamente às avaliações de campo e determinações em laboratório, estão
sendo testadas formas de processamento visando à melhor utilização dessas fruteiras e,
em iniciativa conjunta com a Faculdade de Farmácia da Universidade Federal do Rio
Grande do Sul, estão sendo desenvolvidos trabalhos de avaliação do seu valor como
alimento funcional. Óleos essenciais já foram identificados e, atualmente, está sendo
conduzida a determinação de compostos fenólicos, antocianos e capacidade anti-oxidante.
Os primeiros trabalhos realizados no BAG-Nativas Sul foram desenvolvidos em araçazeiro,
envolvendo estudos sobre modo de reprodução, número cromossômico, caracterização
(forma, cor da película, sabor, peso médio, teor de sólidos solúveis, espessura das paredes, firmeza da polpa e
aparência geral dos frutos; tamanho; número e perceptividade das sementes) e seleção dos melhores
acessos. O germoplasma mais interessante é avaliado, também, quanto à produtividade,
tendo sido selecionados e propagados dois clones: Ya-cy − de frutas com película amarela
(Figura 29a) e Irapuã − com frutas vermelho-escuras (Figura 29b).
A partir do trabalho realizado em pitangueira (Figura 29c), envolvendo estudos sobre modo
de reprodução, agentes polinizadores, características das frutas e sua utilização, dispõe-
se, hoje, de mais de 175 seleções caracterizadas morfo-fenológica e agronomicamente.
Adicionalmente, em virtude de suas propriedades anti-inflamatórias, recentemente, foi
iniciada um aparceira com pesquisadores dos Estados Unidos para testar seu efeito sobre
o câncer. Em uvaia e cereja-do-Rio Grande, foi iniciada a caracterização e seleção de
genótipos, ao mesmo tempo que estão sendo implantadas coleções de butiazeiro para
futuros trabalhos de pré-seleção.
A B C
Figura 29. Frutas de araçazeiro − película amarela (A) e vermelha-escura (B) e de pitangueira (C), mantidos no
banco ativo de germoplasma de espécies frutíferas nativas da Região Sul do Brasil. Fotos: Caroline
Marques Castro
Finalmente, os estudos realizados no BAG-Nativas Sul despertou o interesse tanto do setor
primário como da indústria. Mais de 30 mil plantas de araçazeiro, p.ex., foram
disponibilizadas ao longo dos anos e micro e pequenas indústrias da região pretendem a
industrialização da pitanga, do araçá e da feijoa, entre outras. A implantação de pomares
com estas espécies nativas trará benefícios aos fruticultores locais, na medida em que
possibilita complementação de renda − algumas delas, como o araçá e alguns tipos de
pitangueira, produzem após a colheita do pêssego e da ameixa −, ao mesmo tempo que
beneficiará industriais e consumidores, que terão novas opções de produtos, contribuindo,
em última instância, para a preservação das espécies.
75
76
CAPÍTULO 6
78
agrobiodiversidade; (b) Promoção da utilização sustentável das espécies nativas de
importância econômica atual ou potencial, com ênfase para aquelas de valor alimentício e
nutricional; (c) Conservação das variedades crioulas e dos parentes silvestres das espécies
de plantas cultivadas; (d) Proteção e recuperação de espécies da fauna, da flora e de
microrganismos ameaçadas de extinção; (e) Prevenção da introdução, erradicação e
controle das espécies exóticas invasoras que ameaçam os ecossistemas, habitats ou
espécies; (f) Promoção da biossegurança de organismos geneticamente modificados –
OGMs; e (g) Subsidiar a CTNBio na formulação de políticas e normas relacionadas à
biossegurança de OGMs. As ações desenvolvidas no âmbito da Gerência de Recursos
Genéticos – GRG estão inseridas em dois Programas Plurianuais estabelecidos pelo
Governo, ou seja: Conservação, Manejo e Uso Sustentável da Agrobiodiversidade; e
Conservação e Uso Sustentável da Biodiversidade e dos Recursos Genéticos.
Este Programa inclui as seguintes ações desenvolvidas direta ou indiretamente pela GRG:
(a) Conservação de espécies da fauna ameaçada de extinção e espécies migratórias; (b)
Monitoramento e controle de espécies exóticas invasoras; e (c) Desenvolvimento de ações
de biossegurança de OGMs. Integram essas ações as seguintes atividades conduzidas
pela GRG: (i) Revisão das listas e recuperação das espécies da fauna, da flora e dos
microrganismos ameaçados de extinção; (ii) Prevenção, controle e erradicação de espécies
exóticas invasoras, fauna, flora e microrganismos; e (iii) Biossegurança de Organismos
Geneticamente Modificados – OGMs.
79
Tabela 11. Número de Cursos de Ensino Superior nas diversas
áreas de Ciências Agrárias (2006)
Agronomia 163
Ciências Biológicas 247
Engenharia Florestal 39
Engenharia Agrícola 23
Engenharia Ambiental 84
TOTAL 556
Fonte: MEC/ INEP
Agronomia 42 0 74 118
Botânica 4 0 16 20
Engenharia Agrícola 5 0 8 13
Genética 3 2 18 25
Engenharia e Recursos Florestais 5 1 8 14
80
6.2.2.1. Cursos de Pós-graduação em Recursos Fitogenéticos
Apesar dos recursos genéticos terem sido considerados no âmbito da pesquisa,
principalmente com o trabalho pioneiro da Embrapa na década de 1970, ações na área de
ensino têm sido muito tímidas e muito mais recentes. O primeiro curso de pós-graduação
acadêmico na área de recursos genéticos vegetais foi estabelecido na Universidade
Federal de Santa Catarina, localizada em Florianópolis, a qual tem um curso de pós-
graduação acadêmica iniciado em 1997 ao nível de mestrado e em 2003 passou também a
oferecer o doutorado.
A Universidade Estadual de Feira de Santana (UEFS, Feira de Santana-BA) aprovou um
curso de pós-graduação acadêmica, intitulado Recursos Genéticos Vegetais no ano de
2007 e a Universidade Federal do Recôncavo Baiano (UFRB, Cruz das Almas) em parceria
com a Embrapa Mandioca e Fruticultura, também aprovou um curso de pós-graduação
acadêmica em Recursos Genéticos Vegetais no ano de 2007, ambos ao nível de mestrado.
O curso de Feira de Santana tem três linhas de pesquisa: Genética e Melhoramento de
Plantas; Coleta, caracterização e conservação de germoplasma e Biodiversidade,
bioprospecção e manejo sustentável de plantas nativas e exóticas. O curso da
UFRB/Embrapa tem duas linhas de pesquisa: Conservação e Manejo de recursos
genéticos vegetais e Melhoramento e biotecnologia. Ambos tem a disciplina de Recursos
Genéticos Vegetais, sendo que a UEFS tem a mesma em dois semestres (I, II).
Cada um dos cursos tem uma entrada anual de cerca de dez alunos e várias dissertações
estão em andamento. Maiores detalhes poderão ser obtidos nos endereços dos cursos,
facilmente acessados (www.uefs.br e www.ufrb.br).
No entanto, a disciplina de Recursos Genéticos Vegetais também é oferecida no curso de
mestrado em Horticultura Irrigada na Universidade Estadual da Bahia (UNEB,
www.ppghi.uneb.br), que tem uma linha de pesquisa em Recursos Genéticos e
Melhoramento de Espécies Horticolas, bem como, no curso de Fitotecnia da Universidade
Federal Rural do Semi-Árido (UFERSA) em Mossoró-RN, ao nível de mestrado e
doutorado.
Além desses cursos que são mais dirigidos para o estudo dos Recursos Genéticos
Vegetais, vários estudos sobre recursos genéticos vegetais têm sido feitos em cursos de
pós-graduação acadêmicos em Agronomia. Dentro dessa linha se enquadram os cursos de
Mestrado em Produção Vegetal da Universidade do Sudoeste da Bahia (UESB), além, do
curso de Mestrado em Melhoramento de Plantas oferecido pela Universidade Federal Rural
de Pernambuco (UFRPE), entre outros.
Portanto, os recursos genéticos vegetais começam a despertar o interesse dos cursos de
pós-graduação acadêmica no Nordeste brasileiro e vários estudantes estão desenvolvendo
dissertações e teses sobre vários aspectos dos recursos genéticos vegetais e em várias
espécies de interesse da região, especialmente do Semi-Árido.
Vale salientar que o Instituto Agronômico de Campinas (IAC) tem um curso de mestrado
em Agricultura Tropical que tem possibilidade de desenvolver dissertações que abordem os
recursos genéticos, bem como no Instituto de Pesquisa da Amazônia (INPA) o qual tem
uma disciplina intitulada Conservação e Uso dos Recursos Genéticos. A Universidade
Federal de Viçosa –MG, desenvolve vários estudos com recursos genéticos de hortaliças,
tendo uma disciplina no curso de pós-graduação em Fitotecnia (mestrado e doutorado)
intitulada Manejo dos Recursos Genéticos Vegetais e no curso de Melhoramento da
Universidade Estadual do Norte Fluminense (UENF) tem a disciplina de Recursos
Genéticos Vegetais no curso de graduação, bem como na pós-graduação (Curso de
Melhoramento Vegetal), sendo que o curso tem uma linha de pesquisa em Recursos
Genéticos Vegetais.
81
6.2.3. Pesquisa Agropecuária desenvolvida em Universidades
82
inovação institucional; Revitalização e modernização da capacidade intelectual e da infra-
estrutura; Recuperação da capacidade operativa das Organizações Estaduais de Pesquisa
Agrícola; e Monitoramento por satélite das obras do PAC e de seus impactos.
Está sob a coordenação da Embrapa o Sistema Nacional de Pesquisa Agropecuária -
SNPA, constituído por instituições públicas federais, estaduais, universidades, empresas
privadas e fundações, que, de forma cooperada, executam pesquisas nas diferentes áreas
geográficas e campos do conhecimento científico. Tecnologias geradas pelo SNPA
mudaram a agricultura brasileira.
A Embrapa tem três tipos de Centros de Pesquisa Agrícola: Centros de Produtos, Centros
Temáticos e Centros Eco-Regionais. Os Centros de Produtos são estratégicamente
localizados em regiões do País onde as espécies são economicamente importantes. Assim
a Embrapa tem Centros de Pesquisa Nacional para as mais importantes culturas, incluindo
os seguintes: Arroz e Feijão em Goiânia, Goiás; Soja em Londrina, Paraná; Milho e Sorgo
em Sete Lagoas, Minas Gerais; Hortaliças em Brasília, Distrito Federal; Trigo em Passo
Fundo, Rio Grande do Sul; Algodão em Campina Grande, Paraíba; Uva e Vinho em Bento
Gonçalves, Rio Grande do Sul; Florestas em Colombo, Paraná; Mandioca e Fruticultura em
Cruz das Almas, Bahia. Os centros para pesquisa de diferentes ambientes (Centros de
Pesquisa Eco-Regionais) que trabalham com recursos genéticos de plantas, estão
localizados nas seguintes regiões: Região Meio-Norte em Teresina, Piauí; Pantanal em
Corumbá, Mato Grosso do Sul; Tabuleiros Costeiros em Aracajú, Sergipe; Cerrados em
Brasília, Distrito Federal; Semi-Árido em Petrolina, Pernambuco; Sul em Bagé, Rio Grande
do Sul; Sudeste em São Carlos, São Paulo, Oeste em Dourados, Mato Grosso do Sul;
Região Oriental do Amazonas em Belém, Pará; Região Ocidental do Amazonas em
Manaus, Amazonas. Dentre os Centros Eco-Regionais, três são conhecidos como Centros
de Pesquisa Agroflorestais e estão localizados em Boa Vista, Roraima; Rio Branco, Acre e
Porto Velho, Rondonia. A distribuição das unidades da Embrapa está apresentada na
Figura 30.
84
6.3.2. Sistema Nacional de Pesquisa Agropecuária
Coleta Conservação
86
necessários ajustes no sistema e adequação dos dados para atender ao padrão
estabelecido.
Considerando que o Sibrargen já tem mais de sete anos de uso, em 2008 a Diretoria
Executiva da Embrapa decidiu submetê-lo a uma avaliação técnica, visando sua
adequação para os próximos anos. Foram sugeridas alterações, tanto para a aumentar a
satisfação do usuário quanto para, em tecnologia de informação para melhorar a
performance, através do uso de tecnologias Web mais modernas.
Outro aspecto importante que está sendo considerado no contexto de modernização do
Sistema é a possibilidade de integrar o Módulo Vegetal do Sibrargen ao Global GRIN
Germoplasm Resources Information Network, em desenvolvimento, pelo Departamento de
Agricultura dos Estados Unidos em colaboração com o Bioversity International e o Fundo
para Diversidade dos Cultivos (Global Crop Diversity Trust).
87
Tabela 13. Alguns Endereços Eletrônicos com Informações sobre Recursos Fitogenéticos
TIPO
DE SERVIÇO Página Web
88
6.4.3 Informações Impressas
90
CAPÍTULO 7
91
Quanto à Cooperação Técnica Recebida Bilateral (CTRB), o Brasil assinou acordos com os
seguintes países: Alemanha, Canadá, Espanha, Estados Unidos, França, Itália, Japão, Noruega,
Países Baixos, Portugal e Reino Unido.
7.1.2. Cooperação Técnica entre Países em Desenvolvimento/CTPD
O país conta, ainda, com acordos de cooperação técnica com países de diversos
continentes, como pode ser visto a seguir:
Continente Africano: África do Sul (em negociação), Angola, Argélia, Benin, Cabo Verde,
Camarões, Costa do Marfim, Egito, Gabão, Gana, Guiné Bissau, Mali, Marrocos,
Moçambique, Namíbia, Nigéria, Quênia, São Tomé e Príncipe, Senegal, Togo, Zaire e
Zimbábue
América Latina e Caribe: Argentina, Bolívia, Costa Rica, Chile, Colômbia, Cuba, El
Salvador, Equador, Guatemala, Guiana, Honduras, Jamaica, México, Nicarágua, Panamá,
Paraguai, Peru, República Dominicana, Suriname, Uruguai e Venezuela.
Ásia e Leste Europeu: Arábia Saudita, China, Iraque, Israel, Kuwait, Líbano, Palestina,
Rússia (em negociação) e Tailândia.
92
apoiar atividades de cooperação em ciência, tecnologia e inovação entre grupos brasileiros
e sul-americanos, visando o desenvolvimento científico e tecnológico da região, que
possam melhorar a qualidade de vida na região.
Em 1984 foi criado o Programa Ibero-Americano de Ciência e Tecnologia para o
Desenvolvimento (CYTED), que é um programa de cooperação multilateral que tem
atualmente como áreas temáticas a agroalimentação, a saúde, a promoção do
desenvolvimento industrial, o desenvolvimento sustentável, a mudança global e
ecossistemas, as tecnologias de comunicações e informações e a ciência e sociedade. Os
países signatários são a Argentina, Bolívia, Brasil, Colômbia, Costa Rica, Cuba, Chile,
Equador, El Salvador, Espanha, Guatemala, Honduras, México, Nicarágua, Panamá,
Paraguai, Peru, Portugal, República Dominicana, Uruguai e Venezuela, sendo que no
Brasil o organismo signatário é representado pelo CNPq (Conselho Nacional de Pesquisa e
Desenvolvimento).
Visando induzir a geração e a consolidação de base científica e tecnológica para a
inserção da dimensão ambiental no processo de desenvolvimento sustentável do País,
capacitar a pesquisa de ponta brasileira, se inserir no cenário competitivo internacional e
estimular a cooperação em projetos bilaterais, foi criado o Programa Mata Atlântica, no
âmbito do Acordo de Cooperação Brasil-Alemanha. No Brasil o Programa é executado pelo
CNPq, sendo que em sua primeira fase (2001-2005) foram apoiados 7 projetos, cujos
resultados obtidos levaram à prorrogação do Programa.
Em dezembro de 2003 foi proposta a criação do Programa de Cooperação Temática em
Matéria de Ciência e Tecnologia – PROÁFRICA, tendo este sido instituído no Brasil pelo
Ministério de Ciência e Tecnologia ( Portaria MCT 363, de 22 de julho de 2004) e
operacionalizado pelo CNPq. Este programa tem por objetivo a elevação da capacidade
científico-tecnológica dos países africanos, através de financiamento da mobilidade de
cientistas e pesquisadores, que atuem em projetos selecionados. Inicialmente as ações de
cooperação tem como prioridade grupos brasileiros e africanos lusófonos.
Com base na existência de Acordos Bilaterais entre Brasil e Índia e Brasil e África do Sul,
foi criado, por meio da Portaria MCT 481 de 14.07.2005, o IBAS – Programa de Apoio à
Cooperação Científica e Tecnológica Trilateral entre Índia, Brasil e África do Sul. O IBAS
tem o objetivo de apoiar atividades de cooperação em Ciência e Tecnologia que
contribuam, de forma sustentada, para o desenvolvimento científico e tecnológico dos três
países, em temas selecionados e que contribuam para a melhoria da qualidade de vida dos
seus cidadãos. Dentre as áreas temáticas destacam-se as ações/projetos relacionados a
HIV/AIDS, tuberculose, malária, biotecnologia na saúde e agricultura, nanociências e
nanotecnologia e ciências oceanográficas.
7.3. COOPERAÇÃO INTERNACIONAL DA EMBRAPA
A diversidade das pesquisas agropecuárias realizadas pelos diversos centros de pesquisa
da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária - Embrapa pode ser medida pela
diversidade de acordos de cooperação técnica na área de cooperação internacional
assinadas pela Empresa. Até o momento, foram assinados 275 acordos com 56 países e
155 instituições de pesquisa internacionais, envolvendo principalmente a pesquisa em
parceria. Visando promover oportunidades de cooperação internacional em pesquisa
agropecuária, além de acompanhar os avanços, tendências e atividades científicas de
interesse do agronegócio de alguns países parceiros, a Embrapa, implementou dois
laboratórios virtuais (Labex), sendo o primeiro nos Estados Unidos, em colaboração com a
Agricultural Research Service (http://www.embrapa.br/a_embrapa/labex/labex-usa) e o
segundo na Europa (http://www.agropolis.fr/international/labex.html), emparceria com o
INRA.. Além desses, foram criados dois escritórios de negócios, sendo o primeiro para a
África (localizado em Gana) e um para a América Latina, (localizado na Venezuela).
93
7.3.1. Cooperação em recursos fitogenéticos
A disponibilidade dos recursos fitogenéticos para atender a demanda do melhoramento
vegetal é de fundamental importância para o desenvolvimento e sustentabilidade da
agricultura nacional. A introdução de material genético tem tido um fluxo continuo, visando
dar sustentabilidade à agricultura brasileira que está alicerçada principalmente em produtos
não originados no Brasil. Nestes últimos anos, foram introduzidos mais de 16.500 acessos
de germoplasma, principalmente de trigo (CIMMYT), soja (Estados Unidos, com origem na
China e na Coréia do Sul), algodão (Estados Unidos), milho (repatriamento do CIMMYT);
grão de bico (Alemanha), lentilha (Alemanha), Salix spp., (Inglaterra e Alemanha), Oryza
nivara, Nim, girassol (Canadá), mamona (Estados Unidos), rami, Phaseolus (CIAT e
Gembloux - Bélgica), Glycine silvestre (Austrália), ervilha (Alemanha), gergelim (Estados
Unidos) canola/colza (Canadá), banana (Ásia), citros (Estados Unidos e Europa), manga
(Ásia e Estados Unidos), pomáceas (Canadá, Estados Unidos e Europa), prunoideas
(México, Estados Unidos e Europa), uva (México), entre outros. Os recursos genéticos de
espécies florestais exóticas foram enriquecidos com a importação da Austrália de uma
coleção de espécies de mirtáceas de 107 acessos dos gêneros Angophora, Corymbia,
Eucalyptus e Melaleuca. Também foram introduzidos os gêneros Eucalyptus e Corymbia
com as seguintes espécies: E. grandis, E. saligna, E. viminalis, E. cloeziana, E. deanei, E.
camaldulensis, E. pilularis, E. resinifera, E. pellita, E. tereticornis e Corymbia maculata.
Foram ainda introduzidas, na forma de sementes, estacas ou pólen, uma grande variedade
de espécies arbóreas de coníferas ou folhosas exóticas, entre as quais pode ser
mencionadas as seguintes: Abies grandis, Acer platanoides, Aesculus hippocastrum,
Betula platyphylla, Carpinus betulus, Cedrus atlantica glauca, Cedrus deodar, Clematis
viticella, Fagus sylvatica, Gingko biloba, Laurus nobilis, Mucuna deeringiana, Nyssa
sylvatica, Liriodendron tulipeira, Pseudotsuga menziessii, Quercus coccinea, Sequoia
sempervirens, Sequoiadendron gigantum, Araucaria cunninghamii, clones de Pinus taeda;
Cryptomeria japonica, Fagus sylvatica, Alamo Grisalho (Populus tremula x Populus alba),
Khaya anthothec, entre outros.
Os Estados Unidos têm, atualmente, o maior banco de germoplasma do mundo, mantendo,
em suas câmaras de conservação no National Center for Genetic Resources Preservation,
em Fort Collins (CO), cerca de 500.000 acessos de germoplasma com liberdade quase
total para intercâmbio.
A Embrapa, por meio do Programa LABEX (Laboratório Virtual da Embrapa no Exterior)
financiado pelo Banco Mundial e pelo Banco Interamericano de Desenvolvimento, decidiu
abrir, a partir de 2005, uma ampla colaboração com o Agricultural Research Service, em
recursos genéticos. Um pesquisador da Embrapa desenvolve trabalhos no Laboratório em
Fort Collins e, ao mesmo tempo, promove atividades de cooperação entre as Unidades da
Embrapa e instituições de ensino e pesquisa norte-americanos. A partir do início de tal
colaboração, o Brasil recebeu mais de 40.000 acessos de germoplasma provenientes do
NCGRP (soja, arroz, milho, sorgo trigo) e muitos acessos de feijão, pêssego, ameixas,
citrus, forrageiras, pimentas, hortliças, medicinais estão previstos para ser enviados ao
Brasil em 2009 e 2010.
A colaboração Embrapa-ARS também permite a execução de diversos projetos de
pesquisa, como a conservação de espécies em longo prazo, condições de criopreservação
para espécies sensíveis, estudos de conservação de espécies recalcitrantes, etc. Ao
mesmo tempo, amplo programa de treinamento em estãgios curtos (até seis meses) e em
programas de pós-doutorado possibilitam a atualização e formação de pesquisadores da
Embrapa em diversas Universidades americanas. O tipo de cooperação descrita deve
continuar por mais um período de três a quatro anos, período em que diversas outras
atividades serão desenvolvidas, consolidando a colaboração entre Brasil e Estados Unidos
em recursos genéticos.
94
7.3.2. Cooperação da Embrapa na América Latina e Caribe
Diversas áreas prioritárias foram definidas para ações da Embrapa na América Latina e
Caribe. Um grande número de propostas de cooperação já estão sendo avaliadas e
algumas ações/projetos já se encontram em fase de execução. Dentre as prioridades
definidas estão: o fortalecimento e estruturação de instituições de pesquisa agropecuária; a
transferência de tecnologias agrícolas e pecuárias viáveis e economicamente atrativas, que
respondam aos diversos ambientes agro-ecológicos das regiões, para redução do risco
alimentar; a aplicação de instrumentos e tecnologias de geo-processamento, zoneamento
agro-climático, e outros, desenvolvidos pela Embrapa; o manejo conservacionista de solos;
o fornecimento de tecnologias agrícolas e pecuárias em parceria com o agronegócio
brasileiro no exterior; parcerias no estabelecimento e manutenção de campos de
demonstração e testes de validação em diversos países; produtos e processos agro-
industriais: caju, fruticultura tropical, mandioca, arroz de sequeiro, horticultura, milho,
algodão, dendê, soja, bovinocultura, caprinocultura e ovinocultura.
A cooperação com a Argentina visa à transferência de cultivos e técnicas para o
melhoramento da batata (com início ainda em 2008) e a introdução e avaliação da
expressão do fator transcripcional Hahb 10 de girassol em cultivares de soja (em fase de
negociação). Com a Bolívia a cooperação visa o apoio ao desenvolvimento instituicional e
gerencial, desenvolvimento da pecuária de corte e leite, bem como a vitivinicultura na
região de Tarija (em fase de negociação). A cooperação com o Chile visa ao
desenvolvimento de cultivares de batata, e a documentação já está assinada. Os trabalhos
de capacitação técnica em manejo da produção e processamento agroindustrial de frutas
tropicais no litoral equatoriano já está em execução, encontrando-se em fase de
negociação a capacitação técnica em produção integrada com ênfase no manejo de pragas
e doenças de frutas tropicais, espécies amazônicas e andinas, bem como o
desenvolvimento de processos agroprodutivos para biocombustíveis. Os trabalhos com o
Haiti já estão em execução e visam ao processamento do caju e estudos com hortaliças.
Também já estão em execução: os trabalhos de capacitação em manejo de produção de
frutas tropicais com ênfase em manga, em Honduras; e a diversificação e aprimoramento
em fruticultura tropical na Jamaica; a transferência de tecnologia em sistema de produção e
processamento de cajú para o Panamá, no Suriname e na Guiana. Outras ações
envolvendo a fruticultura estão em andamento como no caso do manejo agronômico e
processamento do coco anão, gigante e híbrido em El Salvador. Os projetos de
cooperação com a Venezuela estão em fase de negociação e envolvem a produção de
mudas e beneficiamento ecológico do café, o desenvolvimento de tecnologias alternativas
para a produção de cítricos em pequena escala e a produção de mandioca. Projetos de
capacitação de recursos humanos e transferência de tecnologia estão em fase de
execução junto com o Paraguai, sendo que na área de melhoramento e reprodução de
bovinos para agricultores familiares está em fase incial neste país. Trabalhos de formação
de recursos humanos na áres de melhoramento genético e reprodução de bovinos deverão
ser feitos no Panamá, após assinatura dos Projetos de Cooperação Tecnológica.
Existe uma grande demanda de El Salvador para transferência de tecnologias para
produção de etanol; assim como para estudos de técnicas para a produção de matérias-
primas de biocombustíveis por parte do Paraguai e da Costa Rica.
Tecnologias para produção e utilização de soja vem sendo objeto de cooperação estando
em execução projetos com a Guiana e Cuba. O aprimoramento de técnicas de produção de
hortaliças sob ambiente protegidos na Costa Rica em Cooperação com a Embrapa, já está
em execução, enquanto que outros projetos relacionados tanto a frutas temperadas,
produção animal e outras tecnologias estão em fase de negociação com a Costa Rica,
Guatemala, Nicarárguá, Colômbia e Cuba.
7.3.3. Cooperação da Embrapa na África
Devido à necessidade de contribuir para a elevação da capacidade técnico-científica dos
95
países africanos, a Embrapa estabeleceu um Escritório de Negócios em Gana. Na área de
agricultura o Brasil tem acordos de cooperação bilateral na África (Tabela 14).
96
Desenvolvimento, ITTO/GANA, Fundo IBAS (INDIA, BRASIL e ÁFRICA DO SUL),
Consultores da Fundação Bill-Gates, FAO e FARA (Forum for Agricultural Research in
Africa), e a AGRA (Alliance for a Green Revolution in Africa) que recentemente assinou
documento com a FAO, o FIDA e o FMA, para impulsionar a produção de alimentos na
África. Discussões estão em andamento para envolvimento da Embrapa Agroenergia em
projetos a serem definidos na região e que contariam com suporte/apoio do Banco
ECOWAS.
7.4. PROGRAMAS DE COOPERAÇÃO NA ÁREA DE EDUCAÇÃO
O Ministério da Educação mantém intensa atividade de cooperação internacional, com
vistas não só à cooperação técnica e financeira, mas também à melhoria do atendimento
educacional e do aperfeiçoamento de recursos humanos que colaborem à evolução da
capacidade do país. Participa, nesse sentido, de uma série de reuniões e eventos
internacionais, além das grandes conferências mundiais das Nações Unidas, apresentando
os importantes avanços alcançados pelo Brasil na área educacional.
O Ministério da Educação trabalha em estreita coordenação com o Ministério das Relações
Exteriores, na negociação de acordos educacionais bilaterais e multilaterais, por serem
esses os instrumentos jurídicos que regulam as relações no âmbito da cooperação
internacional entre os países e que possibilitam a implementação da política externa
brasileira na área educacional. No âmbito bilateral, esse Ministério desenvolve uma
proveitosa cooperação com diversos países, dentre os quais Estados Unidos, Canadá,
Argentina, Inglaterra, França, Espanha e Alemanha. No âmbito multilateral, mantém
relacionamento mais estreito com os Organismos Internacionais, como a Organização das
Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco), a Organização dos
Estados Americanos (OEA), a Organização dos Estados Ibero-americanos para a
Educação, a Ciência e a Cultura (OEI), o Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID)
e o Banco Mundial (BIRD), dentre outros.
Atua, ainda, em foros internacionais que visam à integração na área educacional, como a
Reunião de Ministros da Educação dos Países Membros do Mercosul, a Conferência de
Ministros da Educação da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa, a Reunião de
Ministros da Educação do Conselho Interamericano de Desenvolvimento Integral da OEA,
a Conferência Iberoamericana de Educação e a Cúpula das Américas
O Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico - CNPq, um órgão
financiador de pesquisas vinculado ao Ministério de Ciência e Tecnologia, conta com
programas internacionais que contemplam projetos de pesquisa bilaterais e multilaterais.
Tanto os convênios de cooperação bilateral quanto os de cooperação multilateral apoiam
projetos de pesquisa, desenvolvimento e inovação, em áreas preferenciais, acordadas
entre as instituições financiadoras estrangeiras, a fim de abranger um maior número de
missões por projeto e incentivar a participação de grupos de pesquisa. Ambos têm por
objetivo subsidiar o intercâmbio de experiências entre pesquisadores brasileiros e
estrangeiros de alto nível, por meio do desenvolvimento de projetos conjuntos de pesquisa
e organização de eventos científicos.
Ressalta-se a importância do Programa de Estudantes-Convênio de Pós-Graduação PEC-
PG que visa à formação de recursos humanos, possibilitanto aos cidadãos estrangeiros, de
países em desenvolvimento, a realização de estudos de pós-graduação em instituições de
ensino superior no Brasil. Esta atividade de cooperação é exercida exclusivamente com os
países signatários de Acordo de Cooperação Cultural e Educacional com o Brasil. Este
programa concede bolsas de mestrado e doutorado para estrangeiros que sejam
registrados para pós-graduação em instituição brasileira, reconhecidas pela CAPES
(Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior), sendo também
concedidas isenção de taxas escolares e passagens de retorno dos estudantes ao país de
origem após defesa de dissertação/tese.
97
98
CAPÍTULO 8
ACESSO A RECURSOS FITOGENÉTICOS, REPARTIÇÃO DE
BENEFÍCIOS A PARTIR DE SUA UTILIZAÇÃO E DIREITOS DO
AGRICULTOR
8.1. INTRODUÇÃO
Quando o primeiro Relatório Nacional foi preparado em 1995, o Brasil havia recém
ingressado na Organização Mundial de Comércio - OMC e ratificado a Convenção de
Diversidade Biológica, e portanto, a maioria das legislações mais relacionadas com o
acesso e movimentação de recursos genéticos estava ainda em fase de discussão.
Algumas, mais antigas, como as relacionadas com a fitosanidade ou com a área ambiental,
foram recepcionadas no contexto legal construído desde então. Hoje o país conta com
várias instâncias de contrôle, o que faz com que qualquer utilização que se pretenda dar ao
material genético, tanto nativo quanto exótico, deve estar de acordo com as nomas legais e
infra-legais vigentes.
Assim sendo, o uso dos recursos fitogenéticos, entendido como a importação, a
exportação, a pesquisa e o desenvolvimento, é regulado, em especial, pelas legislações
fitossanitária, ambiental, sobre acesso e repartição de benefícios e de propriedade
intelectual.
O Brasil possui hoje uma legislação ambiental moderna, tendo sido editadas diversas
normas regulamentares nos últimos anos. O arcabouço jurídico brasileiro ambiental
referente ao uso de recursos fitogenéticos é formado por disposições legais e infra-legais,
dentre as quais pode-se destacar:
• Lei nº 4.771/65 e Decreto nº 5.975/06 (Código Florestal);
• Lei nº 6.938/85 e Decreto nº 99.274/90 (Política Nacional de Meio Ambiente);
• Lei nº 9.605/98 (Lei de Crimes Ambientais);
• Decreto nº 6.514/08 (Infrações e sanções administrativas ao Meio Ambiente);
• Lei nº 9.985/00 (Sistema Nacional de Unidades de Conservação de Natureza).
• Decreto nº 4.339/02 (Política Nacional da Biodiversidade);
• Decreto nº 4.703/03 (Comissão Nacional da Biodiversidade);
• Lei nº 11.105/05 e Decreto nº 5.591/05 (Política Nacional de Biossegurança).
Embora o Código Florestal Brasileiro tenha sido instituído em 1965 pela Lei nº 4.771, tem
sido frequentemente atualizado por intermédio de Medidas Provisórias e leis ordinárias. Foi
parcialmente regulamentado pelo Decreto nº 5.975/06.
A Lei nº 6.938/85 estabelece a Política Nacional de Meio Ambiente, seus fins e
mecanismos de formulação e aplicação, constitui o Sistema Nacional do Meio Ambiente
(Sisnama) e institui o Cadastro de Defesa Ambiental. A Política Nacional do Meio Ambiente
tem por objetivo a preservação, melhoria e recuperação da qualidade ambiental propícia à
vida, visando assegurar, no País, condições ao desenvolvimento sócio-econômico, aos
interesses da segurança nacional e à proteção da dignidade da vida humana. Os órgãos e
entidades da União, dos estados, do Distrito Federal, e dos municípios, bem como as
fundações instituídas pelo Poder Público, responsáveis pela proteção e melhoria da
qualidade ambiental, constituem o Sistema Nacional do Meio Ambiente – SISNAMA. Essa
lei foi regulamentada pelo Decreto nº 99.274/90.
A Lei nº 9.605/98 dispõe sobre as sanções penais e administrativas derivadas de condutas
e atividades lesivas ao meio ambiente. O Decreto nº 6.514/08 dispõe sobre as infrações e
99
sanções administrativas ao meio ambiente, estabelecendo o processo administrativo
federal para apuração destas infrações.
A Lei nº 9.985/00 instituiu o Sistema Nacional de Unidades de Conservação da Natureza –
SNUC, estabelecendo critérios e normas para a criação, implantação e gestão das
Unidades de Conservação.
O Decreto nº 4.339/02 instituiu os princípios e diretrizes para a implementação da Política
Nacional de Biodiversidade. Essa política tem como objetivo geral a promoção, de forma
integrada, da conservação da biodiversidade e da utilização sustentável de seus
componentes, com a repartição justa e eqüitativa dos benefícios derivados da utilização
dos recursos genéticos, de componentes do patrimônio genético e dos conhecimentos
tradicionais associados a esses recursos. Abrange sete componentes temáticos:
conhecimento da biodiversidade; conservação da biodiversidade; uso sustentável dos
componentes da biodiversidade; acompanhamento, avaliação, prevenção e mitigação dos
impactos sobre a biodiversidade; acesso aos recursos genéticos e aos conhecimentos
tradicionais da biodiversidade, além da repartição dos benefícios; educação e
sensibilização pública; fortalecimento jurídico e institucional para a gestão da
biodiversidade.
O Decreto nº 4.703/03 alterou o nome do Programa Nacional de Biodiversidade para
Comissão Nacional da Biodiversidade – CONABIO definindo sua estrutura como matricial,
com sete componentes temáticos (os mesmos componentes da Política Nacional de
Biodiversidade) e sete componentes biogeográficos (os conjuntos de biomas brasileiros:
Amazônia; Caatinga, Zona Costeira e Marinha; Mata Atlântica e Campos Sulinos; Cerrado
e Pantanal).
A Lei nº 11.105/05 estabelece normas de segurança e mecanismos de fiscalização de
atividades que envolvam organismos geneticamente modificados – OGM e seus derivados.
Criou também o Conselho Nacional de Biossegurança – CNBS, reestruturando a Comissão
Técnica Nacional de Biossegurança – CTNBio. Dispõe sobre a Política Nacional de
Biossegurança – PNB e foi regulamentada pelo Decreto nº 5.591/05.
100
Tabela 15. Processos de socilitação a acesso a patrimônio genético, submetidos ao Conselho de
Gestão do Patrimônio Genético (CGEN) e ao IBAMA.
Processos Ano
**
2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 Total
Autuados**** 66 67 43 44 82 41 27 368
Autorizados 0 0 4 13 20 21 10 69
Renovados - - 0 0 1 4 - 5
Credenciados 5 13 29 27 9 6 3 92
IBAMA*** - n.d. n.d. 50 62 n.d. n.d.
*Inclui as solicitações de autorização simples e especial para acesso a patrimônio genétio para fins de pesquisa
científica que, após a Del. 40 de 23/09/2003, passaram a ser de competência do IBAMA; **Inclui as solicitações
de credenciamento; ***Número de processos referentes a recursos genéticos vegetais somente; n.d. – não
disponível (Dados atualizados até 23/09/2008)
As primeiras iniciativas para regular a matéria no Brasil datam de 1995, com uma proposta
de lei encaminhada ao Congresso pela senadora Marina Silva (PL 306/95). De acordo com
o processo legislativo, uma versão revisada apresentada pelo Senador Osmar Dias, foi
aprovada pela Casa, em 1998 (PL 4.842/98). Outras duas propostas, do Deputado Jaques
Wagner e do Poder Executivo, foram também encaminhadas à Câmara Legislativa,
naquele ano, (PL 4.579/98 e PL 4.751/98, respectivamente). Acompanhando a proposta do
Executivo, foi encaminhada a Proposta de Emenda Constitucional N° 618/98. Enquanto
todas essas propostas eram discutidas na Câmara, em 2000, um contrato assinado entre
uma Organização Social – a Bioamazônia - e a Empresa Novartis alcançou a imprensa, e
foi interpretado pela sociedade e pela Casa Civil da Presidência da República como
inaceitável. Percebendo que a matéria não seria legislada com a devida urgência, o
Governo utilizou-se de uma ferramenta legal que lhe permite baixar uma nova lei por
Medida Provisória. Isso feito, o texto foi revisto e modificado várias vezes, até perenizar-se
na versão da MP. 2.186-16/01, em vigor.
A Medida Provisória nº 2.186-16, de 23 de agosto de 2001, regulamenta os artigos 1º, 8º,
alínea “j”, 10, alínea “c”, 15 e 16, alíneas 3 e 4 da Convenção sobre Diversidade Biológica,
com o intuito de dispor sobre o acesso ao patrimônio genético, a proteção e o acesso ao
conhecimento tradicional associado, a repartição de benefícios e o acesso à tecnologia e
transferência de tecnologia para sua conservação e utilização. Tem por objetivo regular
direitos e obrigações pertinentes ao acesso a componente do Patrimônio Genético e ao
conhecimento tradicional a ele associado, para fins de pesquisa científica e
desenvolvimento tecnológico, bioprospecção ou conservação, visando sua aplicação
industrial ou de qualquer outra natureza.
A expressão Patrimônio Genético é utilizada para designar recursos genéticos em estrita
obediência ao texto constitucional contido no artigo 225, inciso II. A definição de Patrimônio
Genético abrange a totalidade da biodiversidade originária no País, mas é suficientemente
restrita para não se confundir com outros recursos utilizados nas atividades econômicas
como, por exemplo, aqueles envolvidos na agropecuária e no agronegócio (criação de
animais domésticos, cultivo de grãos, legumes, frutas), na exploração madeireira, na pesca
e outras. Portanto, é suficientemente ampla para assegurar a proteção a que se almeja,
mas restrita o bastante para não interferir em atividades lícitas e fundamentais para a
economia do País, como agricultura, indústria e comércio.
Quanto ao conhecimento associado ao componente do Patrimônio Genético, esse se
restringe ao conhecimento tradicional. Não tem a pretensão de alcançar os dados de
passaporte pertinentes à coleta, os dados de caracterização, nem tampouco as tecnologias
modernas vinculadas ao material, nem mesmo aquelas protegidas por direitos de
102
propriedade intelectual. Adota o conceito de conhecimento tradicional associado ao
Patrimônio Genético atrelado à informação ou prática individual ou coletiva de comunidade
indígena ou comunidade local, com valor real ou potencial. Foi inserida também a idéia de
existência contínua desses conhecimentos comunitários associados ao componente do
Patrimônio Genético, ao longo de gerações sucessivas, para contemplar apenas as
comunidades que efetivamente os detenham em detrimento de qualquer apropriação
oportunista que possa direta ou indiretamente eivar de vício o reconhecimento e repartição.
A MP nº 2.186-16/01 contempla o direito do detentor de decidir sobre o acesso de terceiro
ao conhecimento tradicional associado a componente do Patrimônio Genético. Foi,
portanto, garantido o livre arbítrio das comunidades locais e das comunidades indígenas e
respeitadas as características culturais que definirão, caso a caso, a difusão ou não dos
mencionados conhecimentos.
Para assegurar melhor o controle e, ao mesmo tempo, promover maior desenvolvimento
das atividades legais de acesso no País, a MP nº 2.186-16/01 prevê que a autorização de
acesso à amostra de componente do Patrimônio Genético será concedida exclusivamente
à instituição nacional, pública ou privada, que exerça atividade de pesquisa e
desenvolvimento nas áreas biológicas e afins. A instituição estrangeira interessada em
acessar amostra de componente do Patrimônio Genético deverá associar-se a instituição
pública nacional que exercerá, obrigatoriamente, a coordenação das atividades.
A inexistência de um regime ou norma internacional, que garanta o cumprimento das
legislações nacionais de todos os países signatários da Convenção sobre Diversidade
Biológica e que assegure a aplicação dos princípios de repartição justa e eqüitativa dos
benefícios derivados da utilização de amostra do Patrimônio Genético acessado, induziu à
opção pelas vias contratuais, única forma possível, no momento, da lei tornar-se efetiva,
alcançando nacionais e estrangeiros.
O Contrato de Utilização do Patrimônio Genético e de Repartição de Benefícios é firmado
pela instituição de pesquisa com o provedor, pessoa física ou jurídica, com a anuência da
União, representada pela autoridade aplicadora da lei. Caso a instituição interessada
obtenha ou invente um processo ou um produto que tenha como fonte de obtenção ou de
variação o componente do Patrimônio Genético acessado, deverá repartir parte dos
benefícios que venha a auferir.
As formas de repartição de benefícios são variadas e susceptíveis de negociação caso a
caso pela instituição de pesquisa que venha a firmar o Contrato de Utilização do Patrimônio
Genético e de Repartição de Benefícios e compreendem, dentre outras: divisão de lucros
ou royalties; transferência de tecnologia; licenciamento de produtos e processos livres de
ônus para o Brasil; e capacitação de recursos humanos.
A MP nº 2.186-16/01 confere à União a competência para a normatização, autorização e
fiscalização do acesso e da exploração dos recursos genéticos, criando, no âmbito do
Ministério do Meio Ambiente – MMA, o Conselho de Gestão do Patrimônio Genético –
CGEN, o qual é composto por representantes da Administração Pública Federal. É
regulada por dois Decretos editados respectivamente em 2001 e 2005 - Decreto nº 3.945 e
Decreto nº 5.459.
O Decreto nº 3.945 foi modificado por três decretos posteriores: o Decreto nº 4.946 de 31
de dezembro de 2003, o Decreto nº 5.439 de 3 de maio de 2005 e o Decreto nº 6.159 de
17 de julho de 2007. O Decreto nº 4.946/03 introduziu modificações profundas no Decreto
nº 3.945/01 em relação aos requisitos necessários para obtenção de autorizações de
acesso e remessa previstos na MP 2.186-16/01. Acrescentou ainda uma nova modalidade
de autorização especial para realizar o acesso ao patrimônio genético com a finalidade de
constituir e integrar coleções ex situ que visem atividades com potencial de uso econômico,
como a bioprospecção ou o desenvolvimento tecnológico. O Decreto nº 5.439/05 introduziu
apenas modificações pontuais na composição e no quorum do Conselho de Gestão do
103
Patrimônio Genético. O Decreto nº 6.159/07 regulamentou a autorização especial com a
finalidade de bioprospecção e possibilitou a apresentação do contrato em momento
posterior à solicitação de autorização de acesso.
O Brasil ainda não possui lei específica regulamentando a questão dos direitos do
agricultor, os quais, cabe recordar, mais recentemente, provêem da ratificação pelo Brasil
do Tratado Internacional sobre Recursos Fitogenéticos para Alimentação, em 2006.
Segundo o Tratado, os direitos devem ser reconhecidos pelas Partes, em retribuição à
contribuição aportada por comunidades locais e indígenas e por agricultores, na
conservação e no desenvolvimento das variedades locais, tradicionais ou crioulas, em
sistema de agricultura tradicional, e dos conhecimentos tradicionais associados relevantes
aos recursos fitogenéticos para a alimentação e a agricultura.
Essa deficiência legislativa induz a se realizar uma análise acerca das medidas de
proteção e promoção desses direitos, contidas em outras legislações, relativas aos três
componentes constantes do artigo 9.2, (a), (b) e (c) do TIRFAA, ou seja, proteção do
conhecimento tradicional, repartição de benefícios e participação nos processos de
tomada de decisões, bem como do 9.3, relacionado ao direito de conservar, usar, trocar e
vender sementes ou material de propagação.
A Resolução nº 3 da Conferência de Nairóbi para a Adoção do Texto da Convenção Sobre
Diversidade Biológica, que trata da Relação entre a Convenção de Diversidade Biológica e
105
a Promoção da Agricultura Sustentável, reconheceu a necessidade de conferir-se
tratamento especial aos recursos fitogenéticos para a alimentação e a agricultura, o que foi
concretizado por meio do TIRFAA.
Enquanto esse processo avança, a Medida Provisória 2.186-16/01, ao regulamentar alguns
dos dispositivos da Convenção sobre Diversidade Biológica, tratou da proteção e do
acesso a esses conhecimentos tradicionais de forma ampla, embora sem distinção ou
especificação temática.
O artigo 9.1 do TIRFAA se refere às comunidades locais e indígenas e aos agricultores e
portanto merecerá análise daqueles que desenvolvem as políticas públicas, a inclusão ou
não dos extrativistas como beneficiários de direitos do agricultor. Conforme definição
constante do Manual do Crédito Rural – Plano de Safra da Agricultura Familiar 2004-2005,
do Ministério do Desenvolvimento Agrário, extrativista é o produtor rural de sistema de
exploração baseado na coleta e extração, de modo sustentável, de recursos naturais
renováveis(http://www.pronaf.gov.br/plano_safra/2004_05/docs/MANUAL%20DO%20PLAN
O%20SAFRA%20%2004%2005.doc ). Como tal, são beneficiários de crédito rural pelo
Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar - Pronaf, assim como os
indígenas e quilombolas, desde que atendam aos requisitos ali definidos, dentre os quais,
ser agricultor familiar e possuir um percentual mínimo definido da renda bruta familiar
anual, proveniente da atividade agropecuária e não-agropecuária exercida no
estabelecimento, de acordo com os enquadramentos previstos
(http://www.mda.gov.br/saf/index.php?sccid=1243). Já existe, portanto, todo um arcabouço
de reconhecimento ao agricultor, e que poderia fazer parte do todo contido na futura
legislação específica.
No tocante à segunda medida proposta pelo TIRFAA, para proteção e promoção dos direito
do agricultor, ou seja, a repartição de benefícios, é importante registrar que o acesso
facilitado aos recursos fitogenéticos constantes da lista do Anexo I e suas informações
associadas são considerados em si um benefício importante, uma vez que se aumenta a
oportunidade da sociedade como um todo, de obter melhores produtos para sua
alimentação, pois obviamente, o maior benefício a ser alcançado é a disponibilização das
novas variedades para uso dos agricultores e consequente disponibilização ao mercado.
Como o TIRFAA é relativamente recente e ainda está em estágio inicial de implementação
no Brasil, até o presente não existem relatos de casos concretos de repartição de
benefícios relacionados aos direitos do agricultor oriundos do uso de recursos fitogenéticos
para a alimentação e a agricultura, depois da implementação do sistema multilateral per se.
A terceira medida proposta pelo TIRFAA refere-se à participação dos agricultores nos
processos de tomada de decisões. Nesse particular, a Lei nº 8.171/91, que dispõe sobre a
política agrícola, já inclui, entre seus objetivos, a participação efetiva de todos os
segmentos atuantes no setor rural, na definição dos rumos da agricultura brasileira. Além
disso, prevê que o planejamento agrícola será feito de forma democrática e participativa,
através de planos nacionais de desenvolvimento agrícola plurianuais, planos de safras e
planos operativos anuais (artigos 3º e 8º).
Os Conselhos Municipais, Estaduais e Nacional de Desenvolvimento Rural Sustentável,
integrantes do Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar e dos quais
fazem parte representações/instituições de agricultores familiares, constituem um
instrumento de proposição de diretrizes para a formulação e a implementação de políticas
públicas e de articulação entre o governo e as organizações da sociedade civil
(http://www.mda.gov.br/saf/index.php?sccid=1243).
Outro aspecto essencial aos direitos do agricultor refere-se à garantia que lhe deve ser
dada de conservar, usar, trocar e vender sementes ou material de propagação por ele
conservados (artigo 9.3). Sobre o tema, observa-se, com freqüência, a argumentação de
106
que a Lei de Proteção de Cultivares (Lei nº 9.456/97) prevê o chamado “privilégio ou
exceção do agricultor”, por meio do qual, tais direitos já estariam garantidos.
A lei estabelece, de fato, o direito do produtor rural de multiplicar sementes de cultivares
protegidas, para doação ou troca, de acordo com os requisitos ali descritos, bem como de
reservar e plantar sementes para uso próprio e usar ou vender, como alimento ou matéria-
prima, o produto obtido do seu plantio, exceto para fins reprodutivos, sem que isso fira o
direito de propriedade sobre a cultivar protegida sob a égide dessa lei (artigo 10). No
entanto, tais garantias referem-se ao uso das próprias cultivares melhoradas e protegidas e
não de variedades crioulas, não representando qualquer direito, portanto, sobre as
variedades não protegidas.
Tal garantia, apenas no tocante às trocas de sementes e mudas de cultivar local,
tradicional ou crioula, entre agricultores familiares, encontra-se estabelecida na Lei de
Sementes (Lei nº 10.711/03). Esta mesma lei, ao estabelecer a exigência de registro das
pessoas físicas e jurídicas que exerçam as diversas atividades que menciona, com
sementes e mudas, isenta da inscrição os agricultores familiares, os assentados da
reforma agrária e os indígenas que multipliquem sementes e mudas para distribuição, troca
ou comercialização entre si. Além disso, também desobriga essas pessoas da inscrição de
suas cultivares no Registro Nacional de Cultivares (artigos 8º, §3º, 11, §6º e 48).
108
8.7. FITOSSANIDADE
109
8.8. OUTRAS LEGISLAÇÕES E DECRETOS APLICÁVEIS
Além das legislações acima citadas, existem outras que tem impacto sobre a conservação
e o uso sustentável dos recursos fitogenéticos, em especial:
• Lei nº 10.711/03 e Decreto nº 5.153/04 (Sementes e Mudas);
• Decreto nº 6.041/07 (Política de Desenvolvimento da Biotecnologia).
A Lei nº 10.711/03 dispõe sobre o Sistema Nacional de Sementes e Mudas (SNSM), o qual
tem por objetivo garantir a identidade e a qualidade do material de multiplicação e de
reprodução vegetal produzido, comercializado e utilizado em todo o território brasileiro. Foi
regulamentada pelo Decreto nº 5.153/04 e por instruções de serviço, instruções normativas
e portarias do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento.
O Sistema Nacional de Sementes e Mudas (SNSM) compreende as seguintes atividades:
registro nacional de sementes e mudas (Renasem); registro nacional de cultivares (RNC);
produção de sementes e mudas; certificação de sementes e mudas; análise de sementes e
mudas; comercialização de sementes e mudas; fiscalização da produção, do
beneficiamento, da amostragem, da análise, certificação do armazenamento, do transporte
e da comercialização de sementes e mudas; utilização de sementes e mudas.
O Registro Nacional de Cultivares é o cadastro de cultivares habilitadas para a produção,
comercialização e utilização de sementes e mudas em todo território brasileiro.
O Registro Nacional de Sementes e Mudas contém a inscrição das pessoas físicas e
jurídicas que exercem as atividades de produção, beneficiamento, embalagem,
armazenamento, análise, comércio, importação e exportação de sementes e mudas.
O Decreto nº 6.041/07 institui a Política de Desenvolvimento da Biotecnologia, criando o
Comitê Nacional de Biotecnologia. A Política de Desenvolvimento da Biotecnologia tem por
objetivo o estabelecimento de ambiente adequado para o desenvolvimento de produtos e
processos biotecnológicos inovadores, o estímulo à maior eficiência da estrutura produtiva
nacional, o aumento da capacidade de inovação das empresas brasileiras, a absorção de
tecnologias, a geração de negócios e a expansão das exportações.
Dentre as áreas setoriais priorizadas na Política de Desenvolvimento da Biotecnologia,
destaca-se a área da agropecuária. Essa área possui como diretriz o estimulo a geração de
produtos agropecuários estratégicos visando novos patamares de competitividade e a
segurança alimentar, mediante a diferenciação de produtos e a introdução de inovações
que viabilizem a conquista de novos mercados.
Com o apoio à inovação, prometido pelo Programa de Aceleração do Crescimento (PAC)
aprovado em 2008 pelo Governo do Presidente Luiz Inácio Lula da Silva para
implementação até 2010, espera-se a modernização dos laboratórios e a contratação de
um maior número de profissionais para os diferentes setores da pesquisa brasileira. A
resposta à oportunidade aberta pela expansão dos mercados de alimento e de
biocombustível está calcada no aumento da produção brasileira de grãos e matéria-prima
vegetal (feedstocks), que por sua vez depende em linha direta da oferta ao mercado de
novas variedades, melhor adaptadas às pressões bióticas e abióticas. Mesmo com alguns
pontos nevrálgicos, a legislação brasileira referente à matéria é suficientemente robusta
para sustentar tais atividades.
110
CAPÍTULO 9
A CONTRIBUIÇÃO DOS RECURSOS FITOGENÉTICOS PARA
ALIMENTAÇÃO E A AGRICULTURA, NO DESENVOLVIMENTO
SUSTENTÁVEL E NA SEGURANÇA ALIMENTAR
9.1. INTRODUÇÃO
112
desaparecido por força da política indigenista, então adotada, de distribuir sementes
comerciais às tribos brasileiras. Esta substituição, além de ter reduzido drasticamente a
produção, uma vez que os híbridos são mais exigentes, causou uma mudança nos hábitos
culturais e alimentares das comunidades. Felizmente, este valioso tesouro estava
conservado nas câmaras frias da Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia. A
solenidade de cedência deste material genético aos Krahôs aconteceu em 2001 e foi
registrada pela imprensa nacional e internacional. Atualmente vem sendo desenvolvido um
trabalho não só da devolução de espécies autóctones, como também um
acompanhamento e transferência de tecnologias adaptadas às condições da comunidade.
A recuperação de materiais genéticos perdidos ou deteriorados e a valoração de todo o
conhecimento relacionado devem, portanto, ser tratadas como prioritárias.
Neste contexto, o estudo e a promoção do uso sustentável da biodiversidade, em conexão
com a promoção dos conhecimentos tradicionais das populações indígenas, tem se
tornado imensamente importantes. Esta abordagem associativa tem mostrado ser uma
estratégia efetiva para a conservação da biodiversidade, organização e disponibilização da
informação, para o benefício das populaçóes, ciência e sociedade como um todo. Ênfase
tem sido dada à conservação in situ e cultivo on farm para complementar a conservação ex
situ, visando preservar os conhecimentos etno-biológicos expressos em práticas
tradicionais de uso, coleta e conservação de recursos genéticos e biológicos na agricultura
indígena e populações tradicionais. O desenvolvimento e aplicações de métodos de
pesquisa participativa é fundamental para a reintrodução, conservação e circulação de
fontes genéticas de plantas para alimentação, perdidas ou degeneradas, utilizando práticas
adequadas e tecnologias apropriadas para as culturas e ambientes destas populações
tradicionais.
9.2.5. Mudança Global, Diversidade Genética e Futuro da Produção Agrícola nos
Trópicos
As mudanças climáticas têm adicionado mais estresse ao delicado balanço dos agro-
ecossistemas, especialmente nas regiões tropicais, onde os estresses bióticos e abióticos
deverão sofrer significativa intensificação nas próximas décadas. Estes fatores ameaçam
reverter os ganhos obtidos nas décadas pasadas, no que se refere à segurança alimentar,
redução da pobreza e sustentabilidade ambiental. Com as mudanças climáticas previstas,
um novo paradigma deverá ser discutido, para abordagem dos problemas agrícolas que
irão surgir no cinturão tropical mundial. Juntamente com os avanços representados pelo
completo seqüenciamento de genomas, abordagens paralelas devem ser altamente
incentivadas como a disponibilidade de análises de transcritos, proteínas, vías metabólicas
e mais importante ainda, incentivar o uso de variabilidade de fontes de recursos genéticos
armazenados nos bancos de germoplasma. Novas tecnologias genômicas, associadas ao
melhoramento genético, poderão apresentar alternativas para redução dos impactos dos
estresses bióticos e abióticos na produtividade das culturas, bem como melhorar a
segurança, a qualidade nutricional e a funcionalidade dos produtos alimentares. Novas
ferramentas para desvendar e manipular a variabilidade genética serão fundamentais para
uso nos procesos de melhoramento de muitas espécies, geneticamente pouco conhecidas.
Este é o momento de se adotar e adaptar os novos paradigmas de descoberta e uso de
genes no melhoramento de plantas, essenciais para sobrepujar as barreiras que irão limitar
a produção de alimento em condições de estresse, particularmente em ambientes tropicais.
113
Anexo
Tabela 10A. Bancos de Germoplasma de Raízes e Tubérculos, por Instituição e respectivo número de acessos.