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INFORME NACIONAL SOBRE A SITUAÇÃO

DOS RECURSOS FITOGENÉTICOS PARA A

ALIMENTAÇÃO E A AGRICULTURA DO

BRASIL

Organizado por:

Arthur da Silva Mariante


Maria José Amstalden Sampaio
Maria Cléria Valadares Inglis

Brasília – DF
2008
AUTORES

Capítulo 1 Eduardo Lleras Perez


Arthur da Silva Mariante
Capítulo 2 Luciano Lourenço Nass
Bruno Machado Teles Walter
Lídio Coradin
Ana Yamaguishi Ciampi
Capítulo 3 Fábio de Oliveira Freitas
Marcelo Brilhante Medeiros
Capítulo 4 José Francisco Montenegro Valls
Renato Ferraz de Arruda Veiga
Rosa Lia Barbieri
Semíramis Rabelo Ramalho Ramos
Patrícia Goulart Bustamante
Capítulo 5 Ana Chistina Sagebin Albuquerque
Luciano Lourenço Nass
Capítulo 6 Arthur da Silva Mariante
Tomaz Gelson Pezzini
Capítulo 7 Maria Cléria Valadares Inglis
José Manoel Cabral de Souza Dias
Arthur da Silva Mariante
Capítulo 8 Maria José Amstalden Sampaio
Simone Nunes Ferreira
Capítulo 9 Maurício Antônio Lopes

ii
APRESENTAÇÃO

É com grande satisfação que apresentamos o segundo Relatório Nacional sobre a


Situação dos Recursos Fitogenéticos para a Alimentação e a Agricultura do Brasil,
um documento que mostra o progresso realizado pelo país, nas áreas afins, desde 1996,
quando o primeiro relatório foi preparado.
Este Relatório, que fará parte do Segundo Informe sobre a Situação Mundial dos
Recursos Fitogenéticos para a Alimentação e a Agricultura, além de servir de base para
estabelecer as prioridades nacionais, regionais e mundiais, deverá auxiliar na preparação
de políticas estratégicas para a implementação de ações prioritárias para o
desenvolvimento da agricultura, assim como incentivar a conservação e o uso sustentável
dos recursos da biodiversidade nativa e exótica.
O Brasil, como signatário da Convenção de Diversidade Biológica e do Tratado
Internacional sobre Recursos Fitogenéticos para Alimentação e Agricultura da FAO,
considera prioritárias as atividades relacionadas aos recursos genéticos e vem investindo
no aprimoramento da infraestrutura, capacitação de pessoal e na transferência de
tecnologias que possam melhorar a segurança alimentar, não só de sua população como de
outros países em desenvolvimento.
O documento contém um resumo das principais atividades realizadas pelas diversas
instituições brasileiras visando o enriquecimento da variabilidade genética, bem como a
conservação, a avaliação, a caracterização e a documentação dos recursos fitogenéticos e
é resultado da colaboração de dezenas de pesquisadores da Embrapa, técnicos de
Empresas Estaduais de Pesquisa, professores universitários, bem como de representantes
do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento – MAPA, do Ministério do Meio
Ambiente – MMA e do Ministério de Relações Exteriores – MRE.
A todos aqueles que participaram de sua elaboração, gostaríamos de manifestar
nossos agradecimentos, além de agradecer também o apoio recebido da FAO no decorrer
da elaboração desse trabalho.

Reynold Stephanes
Ministro da Agricultura, Pecuária e Abastecimento

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COMITÊ CONSULTIVO NACIONAL
Presidente: Helinton José Rocha – MAPA

Secretário-Executivo: Arthur da Silva Mariante – Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia

INSTITUIÇÃO NOME DO CONSULTOR

Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia Clara de Oliveira Goedert


Eduardo Lleras Perez
Fábio de Oliveira Freitas
Ivo Roberto Sias Costa
José Francisco Montenegro Valls
Juliano Gomes de Pádua
Marcelo Brilhante Medeiros
Patrícia Goulart Bustamante

Embrapa Sede Ana Christina Sagebin Albuquerque


Maria José Amstalden Sampaio

Embrapa Clima Temperado Rosa Lia Barbieri

Embrapa Tabuleiros Costeiros Semíramis Rabelo Ramalho Ramos

Ministério da Agricultura, Pecuária e Marcus Vinícius de Miranda Martins


Abastecimento
Paulo de Assunção

Roberto Lorena de Barros Santos

Márcio Antônio Teixeira Mazzaro

Tomaz Gelson Pezzini

Leontino Rezende Taveira

Álvaro Antônio Nunes Viana

José Neumar Francelino

Ministério do Meio Ambiente Lidio Coradin

Universidade Federal Rural do SemiÁrido Manuel Abílio Queiroz

Instituto Agronômico de Campinas Renato Ferraz de Arruda Veiga

Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia Charles Roland Clement

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INSTITUIÇÕES PARTICIPANTES

Agência Paulista de Tecnologia do Agronegócio – APTA


Articulação Nacional da Agroecologia – ANA
Assessoria e Serviços a Proteção em Agricultura Alternativa – ASPTA
Centro Pluridisciplinar de Pesquisas Químicas, Biológicas e Agrícolas – CPQBA
Comissão Executiva do Plano da Lavoura Cacaueira - CEPLAC/ CEPEC-
Embrapa Agroindústria Tropical – CNPAT
Embrapa Algodão – CNPA
Embrapa Clima Temperado – CPACT
Embrapa Florestas – CNPF
Embrapa Mandioca e Fruticultura Tropical – CNPMF
Embrapa Meio Norte – CPAMN
Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia – CENARGEN
Embrapa Soja – CNPSo
Embrapa Trigo – CNPT
Embrapa Uva e Vinho – CNPUV
Empresa Baiana de Desenvolvimento Agrícola – EBDA
Empresa Estadual de Pesquisa Agropecuária da Paraíba – EMEPA
Empresa Pernambucana de Pesquisa Agropecuária – IPA
Empresa de Pesquisa Agropecuária e Extensão Rural de Santa Catarina – EPAGRI
Instituto Agronômico – IAC
Instituto de Botânica de São Paulo – IBOT
Instituto Agronômico do Paraná – IAPAR
Instituto Nacional de Pesquisa da Amazônia – INPA
Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento – MAPA
Ministério do Meio Ambiente – MMA
Universidade Estadual de Campinas – UNICAMP
Universidade Estadual de Feira de Santana – UEFS
Universidade Estadual do Norte Fluminense – UENF
Universidade Estadual de Santa Cruz – UESC
Universidade Federal de Alagoas – UFAL
Universidade Federal da Bahia – UFBA
Universidade Federal do Ceará – UFC
Universidade Federal do Piauí – UFPI
Universidade Federal do Recôncavo Baiano – UFRB
Universidade Federal de Sergipe – UFSE
Universidade Federal Rural de Pernambuco – UFRPE
Universidade Federal Rural do Semi-Árido – UFERSA

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vi
RESUMO EXECUTIVO

O Brasil possui um território de dimensões continentais, sendo o terceiro país em extensão


territorial nas Américas. Por causa da extensão da área brasileira e sua localização
geográfica há uma imensa variedade de plantas e animais (biodiversidade), essas derivam
uma grande riqueza de recursos naturais que são utilizados para compor a economia do
país e a elevada temperatura que apresenta em grande parte do território facilita o
desenvolvimento da prática agrícola de praticamente todas as culturas. O país apresenta
uma ampla diversificação climática no âmbito dos climas tropical e subtropical e suas
respectivas variações, decorrentes de fatores como posição geográfica, altitude, relevo e
dinâmica das massas de ar. A diversidade de espécies da flora brasileira é devida às
peculiaridades edafoclimáticas que causam a formação de tipos de vegetação, em seis
diferentes biomas: Amazônia, Cerrado, Caatinga, Mata Atlântica, Pampa e Pantanal.
O País responde por três quintos da produção industrial da economia sul-americana e
participa de diversos blocos econômicos. Seu desenvolvimento científico e tecnológico,
aliado a um parque industrial diversificado e dinâmico, atrai empreendimentos externos. Os
investimentos diretos foram em média da ordem de US$ 20 bilhões/ano, contra US$ 2
bilhões/ano da década passada. O Brasil comercia regularmente com mais de uma centena
de países, sendo que 74% dos bens exportados são manufaturas ou semimanufaturas. Os
maiores parceiros são: União Européia (com 26% do saldo); EUA (com 24%); Mercosul e
América Latina (com 21%) e Ásia (com 12%). Um setor dos mais dinâmicos nessa troca é o
de agronegócio que mantém há duas décadas o Brasil entre os países com maior
produtividade no campo.
Nas últimas três décadas, o salto da produção agropecuária brasileira não teve paralelo em
nenhum país do mundo. Mais que a produção, a produtividade e qualidade de culturas
atingiram e, em alguns casos, superaram o de outras nações grandes produtoras de
alimentos no mundo. Além das políticas macroeconômicas, setoriais e da tecnologia, a
organização do agronegócio tem sido um fator essencial para o seu sucesso. O Brasil é um
dos líderes mundiais na produção e exportação de vários produtos agropecuários. É o
primeiro produtor e exportador de café, açúcar e suco de laranja. Além disso, em 2008, lidera
o ranking das vendas externas de soja, carne bovina, carne de frango, tabaco, couro e
calçados de couro.
O Brasil possui cerca de 44.000-50.000 espécies de plantas vasculares, o que representa
aproximadamente 18% da diversidade vegetal do mundo. Entretanto, a agricultura e a
segurança alimentar do povo brasileiro, são totalmente dependentes da introdução de
recursos genéticos originários de outros países. Dentro deste contexto, praticamente todas
as atividades da agropecuária brasileira, bastante diversificadas em função da diversidade
ecológica do país, jamais teriam o destaque atual se não fosse pela importação sistemática e
crescente de recursos genéticos. Esta dependência persistirá, pois a pesquisa voltada para o
desenvolvimento de novas variedades vegetais necessitará dos materiais genéticos que
apresentam características de adaptação ecológica, como, por exemplo, a resistência às
pragas e doenças que ocorram no país, a adaptação às condições adversas do ambiente que
podem se originar em função das alterações climáticas, além da adaptação ao solo brasileiro,
para atender à crescente demanda por produção de alimentos, fibras e energia. Com muito
menor percentagem de uso que as espécies exóticas, mas com forte importância regional e
local, várias espécies nativas do país têm sido usadas para a alimentação humana, sendo as
mais conhecidas: a mandioca, o abacaxi, o amendoim, o cacau, o caju, o cupuaçu, o
maracujá, a castanha-do Pará, o guaraná, a jabuticaba, bem como algumas espécies de
palmeiras, como é o caso do açaí, cujo consumo até pouco tempo era restrito à região Norte
do País e hoje, na forma de polpa congelada, tem sido consumido em todo o País e até

vii
mesmo exportado. Além destas, espécies de forrageiras nativas dão suporte à boa parte da
pecuária nacional. Mais recentemente, plantas medicinais nativas vêm sendo valorizadas
dentro do contexto do agronegócio nacional.
Apesar da dependência de recursos genéticos para os programas de melhoramento as
atividades de pesquisa relacionadas a atividades agropecuárias, na última década o Brasil
tem obtido resultados significativos, principalmente como resultado de investimento em
Ciência & Tecnologia. Novas cultivares e variedades, adaptadas às diversas condições
climáticas do território brasileiro têm permitido um grande avanço na produção de alimentos.
Assim, o aumento da produção agropecuária tem sido resultado do aumento de
produtividade, sem um significativo aumento da área cultivada. Os programas de
melhoramento são responsáveis pela produção de materiais mais resistentes às diferentes
condições, adaptadas a diferentes condições climáticas e, principalmente, resistência a
estresses bióticos e abióticos.
O Brasil, nos últimos dez anos, apresentou significativos avanços no que se refere a
conservação e uso de recursos fitogenéticos, principalmente aqueles relacionados à
produção de alimentos. Considerando a conservação in situ, de forma geral, constata-se
que houve um avanço importante no que diz respeito à necessidade de criar e estabelecer
unidades de conservação para preservar os remanescentes de vegetação nativa em
processo de desaparecimento e os grandes maciços florestais ainda existentes, como no
bioma Amazônia, onde as maiores unidades de conservação foram criadas. Além disso,
outras ações importantes são os estudos para indicação de áreas prioritárias para
conservação in situ e a prospecção de espécies nativas potenciais para o uso sustentável,
as quais foram iniciativas oficiais derivadas da ratificação da Convenção sobre Diversidade
Biológica pelo Brasil, em 1994. Foi criado o Sistema Nacional de Unidades de Conservação
e como resultado, o Brasil detêm atualmente um dos mais completos sistemas de áreas
protegidas do mundo. Estratégias para conservação on farm vem sendo estabelecidas pelo
Governo Brasileiro, visando a manutenção histórica-cultural de espécies e variedades
alimentícias utilizadas pelos agricultores tradicionais. Entretanto, devido a grande
diversidade cultural brasileira ainda é difícil quantificar e modelar o impacto das populações
tracidionais na conservação dos recursos genéticos. O melhoramento participativo, as feiras
de sementes, os bancos de sementes locais e os centros irradiadores da
agrobiodiversidade têm sido incentivados, como estratégias de conservação dos recursos
genéticos de populações tradicionais.
Considerando a necessidade de criar e estabelecer áreas protegidas, houve um avanço
importante nos últimos anos, com o objetivo de preservar os remanescentes de vegetação
nativa em processo de desaparecimento e os grandes maciços florestais ainda existentes,
como no bioma Amazônia, onde foram criadas as maiores Unidades de Conservação
(UCs). Além disso, outras iniciativas oficiais importantes, como os estudos para indicação
de áreas prioritárias para conservação in situ e a prospecção de espécies nativas potenciais
para o uso sustentável decorreram da ratificação da Convenção sobre Diversidade
Biológica pelo Brasil, em 1994. Entre as UC federais, 239 protegem áreas terrestres, 43 são
mistas, protegendo áreas terrestres e marinhas, e 10 protegem exclusivamente áreas
marinhas. Essas unidades abrangem 8,2% do nosso território, sendo 3,9% de Proteção
Integral e 4,3% de Uso Sustentável. Em pouco mais de duas décadas, o País saiu de 15
milhões de hectares de áreas protegidas de âmbito federal, em 1985, para
aproximadamente 70 milhões, em 2007, ou seja, um aumento de aproximadamente cinco
vezes nesse período.
A Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária – Embrapa, coordena o Sistema Nacional
de Pesquisa Agropecuária – SNPA, constituído por instituições públicas federais, estaduais,
universidades, empresas privadas e fundações, que, de forma cooperada, executam
pesquisas nas diferentes áreas geográficas e campos do conhecimento científico. Desde a
sua criação, recebeu a incumbência de promover e viabilizar a internalização segura de
recursos genéticos estratégicos para o país. A Embrapa Recursos Genéticos e

viii
Biotecnologia, um dos 39 Centros de Pesquisa da Embrapa, coordena as atividades de
conservação de recursos genéticos, através de um sistema denominado Rede Nacional de
Recursos Genéticos (RENARGEN), que será substituído, no início do ano de 2009, por uma
estrutura mais ampla, denominada Plataforma Nacional de Recursos Genéticos. O Sistema
de Intercâmbio e Quarentena de Germoplasma movimentou, entre 1976 e 2007, mais de
500.000 amostras, sendo mais de 400.000 importadas de todas as partes do mundo. Esse
sistema alimenta uma rede de 350 Bancos Ativos de Germoplasma, como também uma
Coleção de Base (conservada a longo prazo) que é composta por 212 gêneros, 668
espécies e mais de 107.000 acessos. Todo esse sistema dá suporte a centenas de
programas de melhoramento genético, públicos e privados, desenvolvidos em todo o
território nacional. Em resumo, a rede de Bancos Ativos de Germoplasma e a Coleção de
Base mantêm, atualmente, esse acervo, conservado em câmaras frias, a campo e in vitro. A
Embrapa criou no início da década de 80 o Sistema de Curadoria, sendo que na última
década este sistema foi melhorado, tendo o objetivo de definir, sistematizar e integrar todas
as atividades indispensáveis ao manejo, conservação e uso de germoplasma. Assim, em
2008, existem 38 Curadores de Produtos ou Grupos de Produtos, 35 Curadores Adjuntos,
111 Curadores de Bancos de Germoplasma, além de Curadores Ad hoc, perfazendo um
total de cerca de 200 pessoas envolvidas com curadoria de germoplasma. O
estabelecimento de Coleções Nucleares no Brasil tem merecido atenção prioritária da
Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia que, em uma primeira etapa − em regime de
parcerias − estabeleceu Coleções Nucleares de mandioca, de milho e de arroz. A partir desta
experiência, outras Coleções Nucleares vão ser estudadas.
De 1996 a 2008 houve uma grande evolução nas tecnologias de informação e de
telecomunicações que influenciaram positiva e substancialmente as ações de
documentação e informatização dos recursos genéticos, facilitando o acesso remoto a
bases de dados centralizadas de forma ágil e simplificada. No início dos anos 2000, o
Sistema de Informação de Recursos Genéticos - SIRG foi substituído pelo atual Sistema
Brasileiro de Informação de Recursos Genéticos – Sibrargen, acompanhando as facilidades
oferecidas pela evolução das áreas de tecnologia da informação e de telecomunicações. Os
computadores e softwares utilizados pela Documentação de Recursos Genéticos foram
atualizados sucessivamente para acompanhar a crescente demanda dos usuários do
sistema e a linha de comunicação, que em 1996 era de 2 MBPS, passou recentemente a
operar em 100 MBPS, um aumento de 50 vezes na velocidade de transmissão. Em 2007 o
Brasil foi selecionado pela FAO para fazer parte do teste da integração dos sistemas
nacionais de informação sobre recursos genéticos no âmbito do Sistema Multilateral - MLS
da FAO, ora em desenvolvimento. O objetivo foi o de atender as demandas de intercâmbio
de germoplasma com o padrão MultiCrop Passport Data - MCPD-FAO, que faz parte do
Tratado Internacional de Recursos Fitogenéticos para Alimentação e a Agricultura –
TIRFAA. Atualmente, o Sibrargen disponibiliza os dados de passaporte de acessos de
mandioca (Manihot esculenta Crantz) que o Brasil, por meio da Embrapa, iniciará a
disponibilizar em 2009 para o intercâmbio facilitado.
O conhecimento de genes potencialmente úteis e sua incorporação em cultivares elite, vem
sendo de grande importância para subsidiar a utilização dos recursos genéticos e ampliar a
base genética dos programas de melhoramento. As pesquisas envolvendo a prospecção,
conservação e caracterização de germoplasma têm assumido importância estratégica no
País. Em hortaliças, diversos esforços têm sido realizados no sentido da eficiente e eficaz
utilização da variabilidade conservada em BAGs. Outra importante iniciativa é o projeto
Orygens, que utiliza extensa rede de pesquisadores de diferentes instituições públicas e
privadas do País, com o objetivo de promover a utilização do conhecimento atual do
genoma de arroz para o desenvolvimento de cultivares mais competitivas. Em milho, um
exemplo relevante foi o Latin American Maize Project (Lamp), envolvendo 12 países. Em café,
programas de pré-melhoramento vêm sendo desenvolvidos há vários anos pelo Instituto
Agronômico de Campinas, com resultados bastante significativos para o País.

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As atividades de pré-melhoramento têm sido conduzidas no sentido de selecionar acessos
com características agronômicas e aproveitar a variabilidade oriunda de cruzamentos
naturais. Parentes silvestres de plantas cultivadas representam patrimônio de extrema
relevância para o Brasil e para a humanidade, na medida em que desenvolveram, ao longo
do seu processo evolutivo, mecanismos de sobrevivência a condições desfavoráveis
extremas, como secas, inundações, calor e frio, além de resistência a pragas e doenças
com que conviviam. O Ministério do Meio Ambiente (MMA) iniciou um trabalho pioneiro no
País, com a identificação e mapeamento das variedades crioulas e dos parentes silvestres de
algumas das principais plantas cultivadas no Brasil. Essa é uma tarefa complexa, de
importância singular e estratégica, e que demanda amplo engajamento dos diversos setores
da sociedade brasileira. .Até o presente, sete subprojetos foram concluídos, envolvendo
algumas das principais culturas do País: algodão, amendoim, arroz, cucurbitáceas (abóboras),
mandioca, milho e pupunha. A maioria desses parentes silvestres poderá, como integrante do
pool genético primário, fazer parte do processo de melhoramento de cada cultura específica
ou, por meio do processo de domesticação, tornar-se nova cultura.
Entre 2005 e 2007, o MMA coordenou o projeto Identificação de espécies da flora brasileira
de valor econômico atual e potencial, utilizadas em âmbito local e regional: Plantas para o
Futuro, que visa (a) priorizar novas espécies da flora brasileira comercialmente sub-
utilizadas, oferecendo opções de uso por pequenos produtores; (b) criar novas
oportunidades de investimento pelo setor empresarial no desenvolvimento de novos
produtos; (c) identificar o grau de uso e as lacunas do conhecimento científico e tecnológico
sobre espécies utilizadas local e regionalmente; (d) valorizar a biodiversidade, com
demonstração clara à sociedade da importância e possibilidades de uso desses recursos;
(e) ampliar a segurança alimentar, aumentando as opções até então disponíveis.Os
resultados desse trabalho evidenciaram a importância dessa iniciativa, com a priorização de
775 espécies: sendo 255 espécies da Região Sul, 128 do Sudeste, 131 do Centro-Oeste,
162 do Nordeste e 99 da Região Norte.
A educação superior em áreas relacionadas às Ciências Agrícolas é bastante antiga no
Brasil. Cursos de agronomia foram os primeiros a serem criados no País, em 1892. Apesar
de a grande maioria das faculdades na área de Agricultura ser ligada ao governo federal ou
estadual, recentemente algumas faculdades de agronomia têm sido criadas em
universidades privadas. Em 2006 um total de 143.798 estudantes estava matriculado em
cursos de graduação nas áreas de Agronomia e Ciências Biológicas. Também em nível de
pós-graduação o Brasil possui um grande número de cursos na área de Ciências Agrícolas.
Este número é o resultado direto dos investimentos feitos nas décadas de 70 a 90, quando
um grande número de pesquisadores foi enviado ao exterior para serem treinados em nível
de pós-graduação. Assim sendo, a formação de recursos humanos para a pesquisa no
Brasil está fortemente ligada aos extensivos programas de pós-graduação, os quais
seguem o modelo Americano com programas de mestrado e doutorado. Até o final de 2006
o número de professores em cursos de pós-graduação, nos vários campos da Agronomia,
Floresta, Engenharia Agrícola, Botânica e Genética era de 3.540, enquanto que o número
de estudantes registrados era de 4.960 em cursos de Mestrado e 4.045 em cursos de
Doutorado. Cursos de pós-graduação, específicos da área de recursos genéticos vegetais
vêm sendo estabelecidos a partir de 1997, sendo que alguns outros cursos de pós-
graduação já oferecem disciplinas específicas relacionadas a esta área.
As atividades de Pesquisa e Desenvolvimento no Brasil têm sido essencialmente ações
públicas. A Ciência & Tecnologia no setor rural tem se desenvolvido principalmente nas
escolas públicas e centros de pesquisa, com maior concentração em instituições federais,
com pequena e discreta participação do setor privado e instituições ligadas aos serviços
agrícolas. Algumas áreas ligadas ao setor, em campos definidos como pesquisa
estratégica, em desenvolvimento tecnológico, produção e política industrial, têm sido
financiadas diretamente pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento. A
contribuição da Ciência & Tecnologia para o setor tem se dado basicamente através do

x
amplo sistema de pós-graduação e do financiamento para instituições de pesquisa. A
pesquisa nas universidades brasileiras está concentrada basicamente em universidades
públicas, tanto Federais quanto Estaduais, as quais produzem aproximadamente 90% da
pesquisa científica nacional. As universidades privadas têm pouco a adicionar a este
cenário, com poucas exceções. Geralmente, a pesquisa universitária é financiada com
recursos externos ao orçamento anual, sendo necessários investimentos em infra-estrutura
básica como bibliotecas, computadores, espaços físicos para laboratórios e recursos
humanos, financiados pela CAPES (Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível
Superior), vinculado ao Ministério da Educação. Entretanto, a fonte de financiamento mais
importante para suporte à pesquisa universitária é procedente do Ministério de Ciência e
Tecnologia/MCT, através do CNPq (Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e
Tecnológico) e da FINEP (Financiadora de Estudos e Projetos). Outras importantes fontes
de financiamento da pesquisa no Brasil são as Fundações Estaduais, criadas
especialmente para financiar e apoiar pesquisa, o que tem permitido a expansão da base
científica nacional, ambos em termos qualitativos quanto quantitativos.
Quando o primeiro Relatório Nacional sobre a Situação dos Recursos Fitogenéticos para a
Alimentação e a Agricultura foi preparado em 1995, quando o Brasil havia recém ingressado
na Organização Mundial de Comércio - OMC e ratificado a Convenção de Diversidade
Biológica. Naquela ocasião, a maioria das legislações relacionadas ao acesso e
movimentação de recursos genéticos estava ainda em fase de discussão. Algumas, mais
antigas, como as relacionadas com a fitossanidade ou com a área ambiental, foram
recepcionadas no contexto legal construído desde então. Hoje o País conta com várias
instâncias de contrôle, o que faz com que qualquer utilização que se pretenda dar ao
material genético, tanto nativo quanto exótico, deva estar de acordo com as nomas legais e
infra-legais vigentes. Assim sendo, o uso dos recursos fitogenéticos, entendido como a
importação, a exportação, a pesquisa e o desenvolvimento, é regulado, em especial, pelas
legislações fitossanitária, ambiental, sobre acesso e repartição de benefícios e de
propriedade intelectual. O Brasil possui, hoje, uma legislação moderna, tendo sido editadas
diversas normas regulamentares nos últimos dez anos.
O desenvolvimento de tecnologias para a agricultura tropical tem sido um dos maiores
fatores de fortalecimento do Brasil. O Sistema de Pesquisa Agropecuário Brasileiro tem
desenvolvido trabalhos em genética e melhoramento, culturas e manejo de solos,
permitindo a incorporação de tecnologias avançadas para o sistema de produção,
sobrepujando assim os desafíos ambientais como, plantas daninhas, pragas, seca,
salinidade, toxicidez a aluminio, etc. Como um país que ainda depende fundamentalmente
da agricultura, o Brasil depende de um contínuo suprimento de variabilidade genética e
novas tecnologias para aumentar a produção de alimento, bem como avançar
competitivamente a nível regional e nos mercados exportadores.

xi
xii
SUMÁRIO Pág.

APRESENTAÇÃO iii

COMITÊ CONSULTIVO NACIONAL iv

INSTITUIÇÕES PARTICIPANTES v

RESUMO EXECUTIVO vii

CAPÍTULO 1 - INTRODUÇÃO SOBRE O PAÍS E O SETOR AGRÍCOLA

1.1 LOCALIZAÇÃO GEOGRÁFICA 1


1.1.1. Superfície 1
1.1.2. Clima 1
1.2. BIOMAS BRASILEIROS 2
1.2.1 Amazônia 3
1.2.2. Cerrado 3
1.2.3. Caatinga 4
1.2.4. Mata Atlântica 5
1.2.5. Pampa 6
1.2.6 Pantanal Mato-grossense 7
1.3. REGIÕES FISIOGEOGRÁFICAS DO BRASIL 8
1.3.1. Região Norte 8
1.3.2. Região Nordeste 8
1.3.3. Região Centro-Oeste 8
1.3.4. Região Sudeste 8
1.3.5. Região Sul 9
1.4. DADOS POPULACIONAIS. POPULAÇÕES URBANAS E RURAIS 9
1.5. SETOR AGRÍCOLA. MERCADO INTERNACIONAL 9
1.6. ASPECTOS ECONÔMICOS E AMBIENTAIS 10

CAPÍTULO 2 - ESTADO DA DIVERSIDADE

2.1. INTRODUÇÃO 13
2.2. ESTADO DA DIVERSIDADE E IMPORTÂNCIA RELATIVA DAS GRANDES
CULTURAS, PARA A SEGURANÇA ALIMENTAR 13
2.2.1. Intercâmbio e coleta de recursos genéticos 14
2.3 ESTADO DA DIVERSIDADE E IMPORTÂNCIA RELATIVA DE OUTRAS
CULTURAS 14
2.4. ESTADO DA DIVERSIDADE DE RECURSOS FITOGENÉTICOS 15
2.4.1. Análise da diversidade de variedades cultivadas 16
2.4.2. Impacto de tecnologias na diversidade genética e na produção de alimento 18

xiii
2.4.3. Fatores que afetam a diversidade de plantas cultivadas no Brasil 19

CAPÍTULO 3 - CONSERVAÇÃO IN SITU DE RECURSOS


FITOGENÉTICOS

3.1. INTRODUÇÃO 21
3.2. CONSERVAÇÃO IN SITU 21
3.3. CONSERVAÇÃO ON FARM 26
3.3.1. Melhoramento Participativo 27
3.3.2. Feiras de Sementes 28
3.3.3. Bancos de Sementes Comunitários 28
3.3.4. Centros Irradiadores da Agrobiodiversidade – CIMAs 29
3.3.5. Reconhecimento e valorização de populações tradicionais 29

CAPÍTULO 4 - CONSERVAÇÃO EX SITU DE RECURSOS


FITOGENÉTICOS

4.1. HISTÓRICO 31
4.2 CONSERVAÇÃO EX SITU 32
4.3. CARACTERIZAÇÃO E AVALIAÇÃO 37
4.4. SISTEMA DE CURADORIA DE GERMOPLASMA DA EMBRAPA 39
4.4.1.Histórico do Sistema de Curadorias de Germoplasma 39
4.4.2. Estrutura Organizacional do Sistema de Curadorias de Germoplasma 39

CAPÍTULO 5 - UTILIZAÇÃO DE RECURSOS FITOGENÉTICOS


5.1. INTRODUÇÃO 41
5.2. PROGRAMAS DE PRÉ-MELHORAMENTO 42
5.3. COLEÇÕES NUCLEARES 43
5.3.1. Coleção nuclear de mandioca 44
5.3.2. Coleção nuclear de milho 44
5.3.3. Coleção nuclear de arroz 45
5.4. USO DE NOVAS ESPÉCIES 46
5.5. CONSERVAÇÃO E USO SUSTENTÁVEL DA
AGROBIODIVERSIDADE EM SISTEMAS COMUNITÁRIOS 47
5.6. MAPEAMENTO DE VARIEDADES CRIOULAS E DE PARENTES
SILVESTRES DAS ESPÉCIES DE PLANTAS CULTIVADAS 47
5.7. ESPÉCIES DE VALOR ECONÔMICO ATUAL E POTENCIAL, DE
USO LOCAL E REGIONAL 48
5.8. FOMENTO AO USO DE PLANTAS MEDICINAIS E FITOTERÁPICOS 49
5.9. AÇÕES PARA AUMENTAR O USO DOS RECURSOS GENÉTICOS
VEGETAIS 50
5.9.1. Bancos de caracteres/funções 51

xiv
5.10. UTILIZAÇÃO DE RECURSOS GENÉTICOS NO BRASIL −
ESTUDOS DE CASOS 51

CAPÍTULO 6 - PROGRAMAS NACIONAIS, TREINAMENTO E


ACORDOS E CONVENÇÕES APLICÁVEIS AOS
RECURSOS FITOGENÉTICOS

6.1. PROGRAMAS NACIONAIS 77


6.1.1. Redes Nacionais de Recursos Genéticos criadas pela Embrapa 77
6.1.2. Programas Plurianuais Desenvolvidos pelo Ministério do Meio Ambiente 78
6.1.2.1. Conservação, Manejo e Uso Sustentável da Agrobiodiversidade 79
6.1.2.2. Conservação e Uso Sustentável da Biodiversidade e dos Recursos
Genéticos 79
6.2. SISTEMA EDUCACIONAL 79
6.2.1. Cursos de Graduação em Ciências Agrárias 79
6.2.2. Cursos de Pós-graduação em Ciências Agrárias 80
6.2.2.1. Cursos de Pós-graduação em Recursos Fitogenéticos 81
6.2.3. Pesquisa Agropecuária desenvolvida em Universidades 82
6.3. ATIVIDADES DE PESQUISA E DESENVOLVIMENTO REALIZADAS NO
BRASIL 82
6.3.1. Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária – EMBRAPA 82
6.3.1.1. Centro Nacional de Pesquisa em Recursos Genéticos e Biotecnologia 84
6.3.2. Sistema Nacional de Pesquisa Agropecuária 85
6.4. SISTEMAS DE INFORMAÇÃO E SERVIÇOS DE INFORMAÇÃO 85
6.4.1. Sistema Brasileiro de Informação e Recursos Genéticos – Sibrargen 85
6.4.2. Métodos de Informação Eletrônica 87
6.4.3 Informações Impressas 89
6.4.3.1. Informação Científica 89
6.4.3.2. Informações Estatísticas Oficiais 89
6.5. ACORDOS E CONVENÇÕES APLICÁVEIS A RECURSOS GENÉTICOS 89
6.6. ORGANIZAÇÕES PRIVADAS VINCULADAS À AGRICULTURA 90
6.6.1. Confederação Nacional de Agricultura 90

CAPÍTULO 7 – COLABORAÇÃO REGIONAL E INTERNACIONAL EM


RECURSOS FITOGENÉTICOS

7.1. COOPERAÇÃO E VÍNCULO COM PAÍSES E ORGANIZAÇÕES


NACIONAIS E ESTRANGENIRAS RELATIVOS AO FINANCIAMENTO, À
PRODUÇÃO E AO DESENVOLVIMENTO DE PESQUISA AGROPECUÁRIA 91

7.1.1. Cooperação técnica recebida, bilateral ou multilateral 91


7.1.2. Cooperação Técnica entre Países em Desenvolvimento/CTPD 92
7.2. PROGRAMAS DE COOPERAÇÃO TÉCNICO-CIENTÍFICOS 92
7.3. COOPERAÇÃO INTERNACIONAL DA EMBRAPA 93

xv
7.3.1. Cooperação em recursos fitogenéticos 94
7.3.2. Cooperação da Embrapa na América Latina e Caribe 95
7.3.3. Cooperação da Embrapa na África 95
7.4. PROGRAMAS DE COOPERAÇÃO NA ÁREA DE EDUCAÇÃO 97

CAPÍTULO 8 - ACESSO A RECURSOS FITOGENÉTICOS E


REPARTIÇÃO DE BENEFíCIOS A PARTIR DE SUA
UTILIZAÇÃO E DIREITOS DOS AGRICULTORES

8.1. INTRODUÇÃO 99
8.2. ÁREA AMBIENTAL 99
8.3. ACESSO E REPARTIÇÃO DE BENEFÍCIOS 100
8.3.1. Medida Provisória de Acesso a Recursos Genéticos e ao
Conhecimento Tradicional Associado 102
8.3.2. Atividades de Acesso e Remessa, Regulados pela Legislação Vigente 104
8.4. TRATADO INTERNACIONAL DE RECURSOS FITOGENÉTICOS PARA A
ALIMENTAÇÃO E A AGRICULTURA 104
8.5. DIREITOS DO AGRICULTOR 105
8.6. PROPRIEDADE INTELECTUAL 107
8.7. FITOSSANIDADE 109
8.8. OUTRAS LEGISLAÇÕES E DECRETOS APLICÁVEIS 110

CAPÍTULO 9 - A CONTRIBUIÇÃO DOS RECURSOS FITOGENÉTICOS


PARA ALIMENTAÇÃO E A AGRICULTURA, NO
DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL E NA
SEGURANÇA ALIMENTAR

9.1. INTRODUÇÂO 111


9.2 PRIORIDADES PARA ENTENDER AS REGRAS E VALORES DO PGRFA 111
9.2.1. Necessidades de estabelecer Prioridades e Sistematizar as Conexões para
Estratégias de Inovações Futuras 111
9.2.2. Trabalhos em Rede e Fortalecimento de Programas de Recursos Genéticos e
Melhoramento no Brasil 112
9.2.3. Ênfase na Capacidade Instituída e na Administração de Pesquisa e
Desenvolvimento 112
9.2.4 Dimensão humana na conservação e uso sustentável da agro-biodiversidade 112
9.2.5. Mudança Global, Diversidade Genética e Futuro da Produção Agrícola nos
Trópicos 113

ANEXO 115

xvi
CAPÍTULO 1

INTRODUÇÃO SOBRE O PAÍS E O SETOR AGRÍCOLA

1.1. LOCALIZAÇÃO GEOGRÁFICA


O Brasil está localizado na América do Sul entre os paralelos 5°16’20” de Latitude Norte e
33°45’03” de Latitude Sul e os meridianos de 34°47’30” e 73°59’32”, a Oeste de Greenwich
(Figura 1). Limita-se ao norte com o Oceano Atlântico, Guiana Francesa, Suriname,
Guiana, Venezuela e Colômbia; ao sul, com o Uruguai, Argentina e Paraguai; a oeste com
o Peru e a Bolívia e a leste com o Oceano Atlântico, onde possui várias ilhas, destacando-
se as de Fernando de Noronha, Abrolhos e Trindade.

Figura: Sérgio Noronha


Figura 1: Localização Geográfica do Brasil

1.1.1. Superfície
Com uma área de 8.547.403 km2, o Brasil é o maior país do continente sul-americano.
Comparando-se sua extensão territorial com a de outros países, é superado apenas pela
Rússia, Canadá, República Popular da China e pelos Estados Unidos da América. As
distâncias em linha reta entre pontos extremos são consideráveis e praticamente
eqüidistantes: 4.394,7 km no sentido Norte-Sul e 4.319,4 km no sentido leste-oeste. A
disposição das terras brasileiras permite que seus limites estendam-se por 23.086 km, dos
quais 7.367 km com o Oceano Atlântico. O processo de povoamento privilegiou a
ocupação ao longo da costa e, como conseqüência, a maior parte das fronteiras terrestres
encontra-se em áreas com baixa densidade demográfica.
1.1.2. Clima
O Brasil é cortado pela linha do Equador e pelo Trópico de Capricórnio, tendo a maior parte
de seu território situada em baixas latitudes, tanto ao sul como ao norte, o que lhe
proporciona condições climáticas tropicais na maioria de sua abrangência territorial. O país
apresenta uma ampla diversificação climática no âmbito dos climas tropical e subtropical e
suas respectivas variações, decorrentes de fatores como posição geográfica, maritimidade,
continentalidade, altitude, relevo e dinâmica das massas de ar. As massas de ar de maior
interferência nas diferenciações climáticas no Brasil são: a Equatorial (Continental e
Atlântica), a Tropical (Continental e Atlântica) e a Polar Atlântica. Segundo a Classificação
Internacional de Köppen, os tipos climáticos predominantes, por região no Brasil, são os

1
seguintes: Região Norte - Tropical chuvoso (Am, Aw, Aw’ e Af); Região Nordeste – Tropical
seco (Bsw e Bswh'); Região Centro-oeste - Tropical chuvoso (Aw); Região Sudeste -
Temperado brando seco (Cwa e Cwb) e Região Sul - Temperado brando subtropical (Cfa,
Cfb).

1.2. BIOMAS BRASILEIROS


O Brasil é um país privilegiado por possuir extensa superfície de terras contínuas, em
grande parte cultiváveis, por dispor de recursos hídricos abundantes (a maior reserva de
água doce do planeta, consistindo em 8% do volume mundial), bem como com diferentes
biomas que o posicionam entre os países com maior diversidade biológica do globo. Das
250 mil espécies de plantas superiores estimadas para o mundo como um todo, cerca de
32 mil são nativas do Brasil. Embora para efeito de descrição dos sistemas de produção a
divisão por biomas seja a mais significativa, é importante que se esclareça que o Brasil
está dividido em cinco regiões fisiográficas: Norte, Nordeste, Centro-oeste, Sudeste e Sul,
que comportam, de uma maneira geral, mais de um bioma. Na Figura 2, os biomas, bem
como a localização das cinco regiões geográficas discutidos neste relatório podem ser
encontrados.

Figura: Sérgio Noronha

Figura 2: Localização dos biomas brasileiros e regiões

A diversidade de espécies da flora brasileira é devida às peculiaridades edafoclimáticas


que causam a formação de tipos de vegetação, em seis diferentes biomas: Amazônia,

2
Cerrado, Caatinga, Mata Atlântica, Pampa e Pantanal, descrito abaixo. Cabe destacar a
existência de mais um bioma, denominado Zona costeira e marítima, de baixa relevância
para o presente documento, mas de grande impacto e peculiaridades ecológicas no que
toca a atividades econômicas, como a cultura do camarão e a pesca, fundamentadas em
recursos genéticos animais.

1.2.1 Amazônia

Constituída por diferentes ecorregiões, o bioma Amazônia abrange 48,1% do território


brasileiro e representa um terço das florestas tropicais do mundo. É um complexo mosaico
de diferentes tipos de vegetação e solo, que compartilham uma drenagem do rio Amazonas
e seus subsidiários. A pluviosidade média anual situa-se entre 2.000 e 3.000 mm, com
algumas áreas chegando a 4.500 mm. A maior parte da região é plana, com média anual
de temperaturas entre 26 e 28oC, e alta umidade relativa. Durante séculos, a ocupação da
Amazônia ocorreu ao longo das vias de comunicação, com uma pequena população
dedicada à exploração extrativa de plantas (borracha, madeira, cacau e Castanha-do-
Pará), animais (caça e pesca), e minerais, em função da procura e do valor econômico. A
partir da década de 1960, houve uma intensa migração de outras partes do país por
pequenos, médios e grandes proprietários, além de empresários atraídos por
assentamentos e por projetos industriais, criados tanto pelo governo quanto por empresas
privadas. Isso levou à introdução de métodos agrícolas e de variedades que não são
adequados às condições locais, contribuindo para a intensificação dos problemas sociais e
ambientais. O tipo mais comum de vegetação é a floresta sempre verde em terra firme,
com grandes áreas cobertas por florestas decíduas ou semidecíduas ou florestas de
altitude, florestas inundáveis associadas a sistemas fluviais eutróficos (várzeas) ou
oligotróficos (igapós), savanas que podem ou não ser cerrados, e vegetação esclerofítica
em solos arenosos, semelhante à caatinga do Nordeste. A Amazônia possui
aproximadamente 14.000 espécies de plantas vasculares, das quais cerca de três mil têm
uso relatado. Em termos de vertebrados, um total de 311 espécies de mamíferos, mais de
1.000 espécies de peixes, 163 espécies de anfíbios, 550 espécies de répteis e mais de
1.000 espécies de aves têm sido relatadas. Existem mais de cem mil espécies de
invertebrados, sendo a imensa maioria insetos. A Amazônia é o centro de origem do cacau
(Theobroma cacao), da seringueira (Hevea spp.), da castanha-do-Pará (Bertholletia
excelsa), da pupunha (Bactris gasipaes) e, provavelmente, da mandioca (Manihot
esculenta) e do abacaxi (Ananas comosus). Mais de 280 espécies de frutos nativos foram
relatadas, sendo que as endêmicas guaraná (Paullinia cupana), cupuaçu (Theobroma
grandiflorum), açai (Euterpe oleracea) e camu-camu (Myrciaria dubia) vêm entrando
lentamente nos mercados internacionais. Mais de seiscentas espécies madeireiras foram
relatadas na região, das quais cerca de 65 já são exploradas comercialmente, embora
basicamente por extrativismo. Dentre estas, pode ser mencionado o mogno (Swietenia
macrophylla), espécie considerada ameaçada de extinção. Mais de 120 espécies
aromáticas são encontradas, sendo o pau-rosa (Aniba rosaeodora) a única relatada como
em perigo de extinção.

1.2.2. Cerrado

O Cerrado é um complexo mosaico de vários tipos de vegetação, que cobrem cerca de


2.000.000 km2 no Brasil Central. A mais importante característica climática do Cerrado é a
sua distribuição da precipitação, com duas estações bem definidas, chuvosa e seca,
ambas com duração entre cinco e sete meses, com uma precipitação média anual ao redor
de 1.500 mm. O Cerrado é freqüentemente associado com um relevo do tipo planalto ou
planície, e apresenta solos profundos com uma textura friável. Estes solos tendem a ser
pesados e com baixa fertilidade natural. Em geral, o tipo de vegetação do Cerrado, pode
ser encontrada em todas as regiões brasileiras.

3
Pesquisas sobre as potencialidades e limitações do Cerrado, assim como o
desenvolvimento de métodos e práticas adequados de cultivo à região, levaram a um
grande aumento na produção de grãos durante os últimos trinta anos. Devido à sua
topografia, que favorece a mecanização, e a uma boa infra-estrutura, o Cerrado é
atualmente a melhor alternativa para a expansão agrícola no Brasil. No entanto, o impacto
ambiental, embora difícil de determinar, tem sido repetidamente criticado. Importantes
metas agrícolas foram alcançadas no Cerrado, tal como a adaptação da soja às baixas
latitudes. Dez anos de pesquisa agropecuária foram necessários para desencadear a
expansão dessa cultura em larga escala nessa região.
O tipo mais comum de vegetação, ou Cerrado "stricto sensu" é uma formação aberta
dominada por gramíneas, ciperáceas e outras espécies herbáceas intercaladas com
árvores baixas e arbustos. Muitos gradientes de Cerrado são encontrados, variando desde
áreas de pastagens ("Campo Limpo") até regiões de savana dominadas por árvores altas,
passando então a ser conhecido como "Cerradão". Uma característica típica do Cerrado é
o fato de a maioria de suas espécies arbóreas do Cerrado apresentar-se deformada e com
cascas muito espessas. Outros tipos de vegetação são matas de galeria, florestas
mesofíticas, florestas mesófilas como as savanas periféricas do sudeste (São Paulo e
Paraná), e as savanas amazônicas nos Estados do Pará, Amazonas, Roraima e Amapá,
bem como formações localizadas, como charcos permanentes e sazonais, veredas, e
campos de murunduns. Aproximadamente 13 mil táxons de plantas vasculares foram
relatados para este bioma, muitos dos quais também ocorrem em outros biomas.

Em relação aos animais vertebrados encontrados no Cerrado, podemos destacar os peixes


com pelo menos 780 espécies, partilhadas com o Pantanal, 180 espécies de répteis, 20
dos quais são endêmicas, e 113 espécies de anfíbios, dos quais 32 são endêmicas. Muitas
espécies de plantas úteis são encontradas no Cerrado. Entre as espécies madeireiras, as
mais importantes são Hymenaea courbaril, Blepharocalyx salicifolius, Ocotea spp.,
Pterodon emarginatus, Copaifera langsdorffii, Astronium urundeuva e Calophyllum
brasiliense. Muitas das árvores do cerrado produzem carvão de boa qualidade, tornando-se
rapidamente uma fonte de rendimento para os agricultores que possuem grandes
extensões intactas de Cerrado. A coleta de plantas silvestres para arranjos florais secos
também é muito comum, especialmente em algumas regiões. Estas duas últimas
atividades são essencialmente de natureza predatória e podem pôr em perigo algumas
espécies desse bioma. As espécies frutíferas mais importantes incluem o pequi (Caryocar
brasiliense), a mangaba (Hancornia speciosa), o baru (Dypterix alata), o araticum (Annona
crassiflora), a gabiroba (Compomanesia cambessedeana) e a cagaita (Eugenia
dysenterica). Mais de 700 espécies de plantas são usadas na medicina popular. Entre as
mais importantes estão: Lychnophora ericoides, Centrosema bracteosum, Pterodon
emarginatus e Anemopaegma arvense.

1.2.3. Caatinga

O bioma Caatinga ocupa uma área de aproximadamente 800.000 km2 na região semi-árida
do Nordeste brasileiro. É o único bioma que é exclusivo do Brasil, e uma grande parte do
seu patrimônio biológico não é encontrada em nenhum outro lugar no mundo. A Caatinga
abrange nove estados e representa cerca de 10% do país. A geologia da caatinga não é
essencialmente muito diferente da do Alto Rio Negro, na Amazônia. Ambas originaram-se
de rochas antigas pré-cambrianas, severamente degradadas no Terciário e cobertas, mais
recentemente, por arenitos e outros sedimentos marinhos. Tal como no Alto Rio Negro, há
resquícios de afloramento cristalino, incluindo platôs monolíticos e cadeias montanhosas
isoladas. Aproximadamente 50% da Caatinga é de origem sedimentar, rica em água
subterrânea. Os rios são, na sua maioria, sazonais. A taxa de precipitação anual é
altamente irregular e varia entre 200 e 800 mm (raramente atingindo 1.000 mm), sendo que
a temporada de chuvas varia entre 3 e 5 meses e a temporada seca entre 7 e 9 meses. A

4
temperatura é isotérmica, com médias entre 25º a 29ºC. Características gerais dos
elementos da caatinga incluem a perda total de folhas na estação seca, folhas pequenas e
firmes (xericas), intensa ramificação das árvores a partir da base (o que lhes confere um
aspecto arbustivo) e a presença de espécies cactáceas e bromeliáceas. A Caatinga é
bastante heterogênea, com 12 fisionomias distintas reconhecidas, sendo que a maioria dos
autores descreve dois principais tipos de Caatinga: Caatinga seca ("Sertão") localizada no
interior e uma Caatinga mais úmida ("Agreste") em direção ao litoral.
Durante a primeira metade do século passado, a expansão da agricultura na Caatinga foi
principalmente devida ao algodão. Com a agricultura mais dependente de tecnologia,
houve uma redução na demanda por mão de obra no campo, o que resultou em um maciço
fluxo migratório para as cidades, que foi agravado na década de 1980, devido ao
aparecimento da praga conhecida como bicudo do algodoeiro. Atualmente a região está
passando por uma grande expansão econômica devido à implantação da agricultura
irrigada. Como resultado dessa agricultura, o Vale do rio São Francisco tornou-se um
grande exportador de frutas, especialmente uvas, papaias e melões.

Diversos gêneros de plantas endêmicas são encontrados incluindo Moldenhawera e


Cranocarpus (Fabaceae), Fraunhofera (Celastraceae); Apterokarpos (Anacardiaceae),
Auxemma (Boraginaceae) e Neoglaziovia (Bromeliaceae). A caatinga tem muitas espécies
úteis, como leguminosas e gramíneas incluindo Stylosanthes, Zornia, Macroptilium,
Galactia, Vigna, Centrosema, Aeschynomene, Chamaecrista, Desmanthus, Paspalum,
Panicum e Digitaria sendo de grande importância como fontes de forragem em terras
áridas. Muitas espécies são fontes valiosas de alimentos, tais como Talisia esculenta,
Spondias mombin (umbu), Spondias tuberosa, Lecythis pisonis, Manilkara rufula
(massaranduba) e Hancornia speciosa (mangaba), utilizadas localmente como frutas.
Importantes espécies madeireiras, algumas das quais também ocorrem em outros biomas,
incluem o angico (Anadenanthera colubrina), o joazeiro (Ziziphus joazeiro), a amburana
(Amburana cearensis), a aroeira (Astronium graveolens e Astronium urundeuva), o ipê
(Tabebuia impetiginosa e Tabebuia aurea), a braúna (Schinopsis brasiliensis), bem como
aquelas encontradas em manchas de outros tipos de vegetação, como o cedro (Cedrela
odorata), o “tulipwood” brasileiro (Dalbergia frutescens), o morototó (Schefflera morototoni)
e o angico-branco (Albizia polycephala). Entre as plantas medicinais, a mais importante é o
jaborandi (Pilocarpus jaborandi), que, juntamente com a Amburana cearensis é
oficialmente listada como ameaçada de extinção. As palmeiras são de especial importância
na medida em que constituem a espinha dorsal da economia doméstica local em muitas
áreas do Nordeste. Populações rurais dependem fortemente de extração de babaçu
(Orbignya phalerata), carnaúba (Copernicia prunifera), tucum (Astrocaryum
aculeatissimum) e, em menor medida, a macaúba (Acrocomia aculeata), além de muitas
espécies de Syagrus, Scheelea e Attalea.

1.2.4. Mata Atlântica

Este bioma concentra 70% da população brasileira, bem como as maiores cidades e
centros industriais do país. A história do Brasil está intimamente ligada à Mata Atlântica.
Estendendo-se desde o Rio Grande do Norte até o Rio Grande do Sul, concentrando-se ao
longo de uma estreita franja entre o oceano e as terras altas secas, onde são encontrados
alguns dos solos mais ricos do país, sendo que apenas de 2 a 5% da área original, de
1.360.000 km2, permanece coberta pela vegetação original. As ameaças à mata incluem as
atividades de exploração madeireira, a agricultura extensiva, a criação de gado, a
agricultura de subsistência, as plantações de espécies madeireiras para indústria de papel
e a expansão urbana. Como nos outros biomas, a Mata Atlântica é um complexo mosaico
de diversos tipos de vegetação, que inclui manguezais, restingas de florestas litorâneas,
matas mesófilas, bosques de montanhas baixas e altas, florestas úmidas, campos
rupestres e campos de altitude.
5
A atividade agrícola na região concentra-se em uma agricultura altamente mecanizada,
com o uso de insumos modernos, enfatizando-se a lavoura canavieira e as plantações de
eucalipto para a indústria de papel e celulose, que substituíram mais de 90% da vegetação
nativa.
A Mata Atlântica apresenta alta diversidade biológica e espécies endêmicas, sendo
reconhecida, pela Conservação Internacional, como um dos 25 hotspots mundiais,
ocupando o quarto lugar em diversidade de anfíbios e plantas vasculares. Um total de
1.807 espécies de mamíferos, aves, répteis e anfíbios nela ocorrem, das quais 389 são
endêmicas. Incluindo o Escudo Brasileiro, a Mata Atlântica possui uma das mais antigas
formações vegetais do mundo, com muitos elementos remanescentes da flora da
“Gondwana”, podendo ser o centro de origem de muitos táxons neotropicais. Acredita-se
que mais de 50% das espécies de árvores sejam endêmicas da Mata Atlântica, incluindo
os gêneros Rodriguesia, Arapatiella, Harleyodendron (Fabaceae), Santosia (Asteraceae) e
bambus lenhosos ou herbáceos de gêneros como Atractantha, Anomochloa, Alvimia e
Sucrea (Poaceae).

A Mata Atlântica apresenta um grande número de espécies úteis, sendo que muitas delas
também são encontradas em outros habitats. Entre as espécies madeireiras estão o ipê
(Tabebuia spp.), a peroba (Paratecoma peroba), o cedro (Cedrela odorata), o vinhático
(Plathymenia reticulata), o aderno (Astronium concinnum) e o putumuju (Centrolobium
microchaete). Duas espécies são especialmente importantes: o pau-brasil (Caesalpinia
echinata) que deu o nome ao país, e o jacarandá da Bahia (Dalbergia nigra),
provavelmente as espécies madeireiras mais valiosas da América do Sul. Ambas estão em
perigo de extinção, devido a uma super exploração comercial. Duas palmeiras, Euterpe
edulis, que produz o palmito e a piaçava (Attalea funifera) são componentes importantes da
economia local, e também podem estar em perigo. Plantas utilizadas localmente para
alimentação incluem muitas fruteiras encontradas também em outros biomas. A medicina
tradicional utiliza muitas plantas, incluindo a arnica (Lychnophora ericoides), o chapé
(Hyptis lutescens), a paneira (Norantea adamantium), a quina-de-vaca (Remijia ferruginea),
a sambaibinha (Davilla rugosa) e a catuaba (Anemopaegma arvense).
Nos estados sulinos do Paraná e Santa Catarina e na metade norte e mais elevada do Rio
Grande do Sul, o bioma Mata Atlântica expande-se em rumo oeste e engloba extensões
significantes de floresta ombrófila mista, fisionomicamente dominada pelo pinheiro-do-
paraná (Araucaria angustifolia), alternadas com manchas de campos naturais densamente
dominados por gramíneas.
A cultura da maçã (Malus domestica) tem avançado nos estados sulinos, em segmentos do
bioma Mata Atlântica, e as extensões campestres sofrem, nos últimos anos, forte pressão
em favor do estabelecimento de monocultivos madeireiros exóticos do gênero Pinus para
produção de celulose.

1.2.5. Pampa
O pampa é um bioma com formações abertas, cobertas quase só por espécies herbáceas
com predominância de gramíneas, sendo encontradas algumas árvores e arbustos
esparsos próximos a cursos d’água ou em formações arbustivo-arbóreas densas nos
ambientes com relevo mais ondulado. Localiza-se fundamentalmente na metade sul do Rio
Grande do Sul, mas alastra-se aos dois países vizinhos, Argentina e Uruguai.
O clima é subtropical, com temperaturas amenas e chuvas constantes com pouca
alteração durante todo o ano. O solo em geral é fértil e sua utilização na agricultura é
grande, concentrando as maiores lavouras de arroz irrigado do País. Embora a agricultura
tenha se expandido, a pecuária, tanto leiteira quanto a de corte, ainda é a principal
exploração agrícola desse bioma. É nesta região que se encontram os melhores rebanhos
de raças européias do Brasil, que utilizam principalmente as pastagens naturais, ricas em
gramíneas e leguminosas forrageiras nativas de boa qualidade, às quais têm sido
6
adicionadas áreas de pastagens cultivadas de inverno, baseadas em espécies exóticas
européias, como o azevém (Lolium multiflorum), trevos (Trifolium spp.) e cornichão (Lotus
corniculatus).
Ecologicamente, é um bioma caracterizado por uma vegetação composta por gramíneas,
plantas rasteiras e algumas árvores e arbustos que não são abundantes. Comparados às
florestas e às savanas, os campos têm importante contribuição na preservação da
biodiversidade, principalmente por atenuar o efeito estufa e auxiliar no controle da erosão.
Na região brasileira do bioma, existem cerca de três mil espécie de plantas vasculares,
sendo que aproximadamente 400 são gramíneas, entre as quais há forte dominância de
espécies de Paspalum, Axonopus e Andropogon e, na estação fria, de espécies de Stipa
(flexilhas), pelo menos 385 espécies de aves, como pica-pau, caturritas, anus-pretos e 90
de mamíferos terrestres, como guaraxains, veados, tatus.
Nos últimos anos, a fruticultura de clima temperado, que antes era concentrada no
pêssego, tem apresentado avanços significativos, aumentando ainda mais a pressão sobre
a vegetação nativa. Recentemente, tem havido uma pressão enorme por empresas de
reflorestamento que vêm substituindo os campos naturais por plantios de eucaliptos para a
produção de celulose.

1.2.6 Pantanal Mato-grossense

Ocupando mais de 110.000 km2, o Pantanal é uma área geologicamente rebaixada,


paulatinamente preenchida, de forma heterogênea, por sedimentos variados oriundos de
sua periferia, resultando em um mosaico de ambientes diversos. As nascentes do Pantanal
Mato-grossense situam-se dentro do domínio do cerrado e sua biota terrestre está
intimamente ligada ao bioma Cerrado. Essa imensa planície sedimentar está na bacia do
Rio Paraguai, integrando áreas terrestres de três países: Brasil, Bolívia e Paraguai. O ciclo
das águas é que controla a vida do Pantanal. As inundações periódicas anuais são devidas
a chuvas e inundações fluviais. A média anual de pluviosidade é cerca de 1.100 mm, com
duas estações bem definidas: chuvosa, entre outubro e março, e seca, entre abril e
setembro.
A ocupação humana começou no século XVIII, com muito pouco impacto sobre o meio
ambiente. Desde a década de 1970, no entanto, perturbação humana, a plantação de
pastos exóticos, a irrigação e outros projetos de engenharia, como barragens, estradas,
rios e drenagem estão modificando rapidamente o ambiente e destruindo a vegetação
nativa. A produção é baseada na agricultura e pecuária. A principal atividade econômica é
a pecuária de corte, com um efetivo populacional de cerca de quatro milhões de cabeças.
A agricultura não é muito importante na região, a não ser aquela de subsistência. Outras
atividades de notável importância econômica são a pesca, o turismo e a mineração. Os
recursos da flora e fauna não são muito utilizados, apesar de seu elevado potencial
econômico.
A flora é composta por espécies do Cerrado, Mata Atlântica, Amazônia e Chaco, com
poucas espécies endêmicas. Mais de 10.000 espécies de plantas já foram catalogadas
neste bioma, incluindo cerca de 200 utilizadas na alimentação humana e animal, bem como
para a indústria em geral. A vegetação do Pantanal é muito variável e determinada por
solos e inundações. Os principais tipos de vegetação estão nas baías, que são formadas
por lagoas, temporárias ou permanentes, de diversos tamanhos, com muitas espécies de
plantas aquáticas, com espécies de Eichornia e Pontederia, entremeadas com
Cyperaceae; cristas (cordilheiras) formadas por pequenas bolsas que não sofrem
inundação, com o Cerrado, Cerradão ou floresta; cambarazal, floresta alagada dominada
por Vochysia divergens.; campos ou várzeas dominadas por gramíneas, que são os
elementos mais importantes do Pantanal; Capão ou povoamentos de árvores que formam
ilhas nos campos.

7
1.3. REGIÕES FISIOGEOGRÁFICAS DO BRASIL

Uma breve descrição de cada uma das cinco regiões fisiográficas em que o Brasil está
dividido: Norte, Nordeste, Centro-Oeste, Sudeste e Sul. Geralmente cada uma destas
regiões tem mais de um dos biomas acima descritos.

1.3.1. Região Norte

Inserida no Bioma Amazônico, com pequenas inclusões de Cerrado e de outros tipos de


savanas, a Região Norte representa quase metade do território nacional. A região Norte
abrange partes do Escudo das Guianas e do Escudo Brasileiro, bem como uma grande
área de planícies sedimentares. As fruteiras nativas, com ênfase em açaí e cupuaçu, vêm
se destacando como grande potencial de exportação para a região, principalmente na
forma de polpa congelada. A castanha do Pará e o palmito são outros produtos da região,
reconhecidos no mercado mundial, mas ainda com um forte componente extrativista.

1.3.2. Região Nordeste

A maior parte da região Nordeste, que tem mais de um milhão de km2, apresenta
condições semi-áridas, sendo quase 90% na Caatinga com a Mata Atlântica e o Cerrado,
compondo os outros 10%. Devido a investimentos em tecnologia, a região passou a ser um
dos maiores pólos exportadores de frutas do país. Variedades de soja adaptadas, estão
sido cultivadas com sucesso, em algumas áreas da região.

1.3.3. Região Centro-Oeste

Esta região está nos biomas Cerrado e Pantanal, mas também tem uma pequena parte do
bioma Amazônia no norte do Estado de Mato Grosso. A região tem uma grande parte do
rebanho nacional de gado, quase 35%, mais de 57 milhões de cabeças, das quais quase
90% são para carne. Exceto nas áreas suscetíveis à inundação no Pantanal, estes animais
são criados principalmente em pastagens cultivadas, dominadas por gramíneas africanas,
como Brachiaria brizantha e B. decumbens (ou Urochloa brizantha e U. decumbens) e
Panicum maximum (Megathyrsus maximus). A produção de grãos, especialmente soja,
algodão, arroz, milho e girassol, principalmente as duas primeiras, tem grande impacto na
agricultura da região.

1.3.4. Região Sudeste

Localizada principalmente na Mata Atlântica, com parte do Cerrado de Minas Gerais e São
Paulo, a região concentra os maiores e principais centros urbanos e industriais, agro-
industriais, tecnológicos e financeiros do país. A Região Sudeste comporta 21,26% do
efetivo populacional de gado do País, ou 35,6 milhões de cabeças das quais 71,64% são
para carne. Concentra ainda 45% da indústria avícola para produção de ovos e carne. As
principais bacias leiteiras também estão localizadas nesta região, as maiores fábricas de
processamento do leite e importantes redes de matadouros, armazéns de grãos, e as
grandes unidades de processamento de alimentos. Com o desenvolvimento da produção
de etanol a cana-de-açúcar, que já era importante para a produção de açúcar, assumiu um
papel de destaque como uma cultura de alto valor agregado, para a região. O café, produto
de importância para os mercados interno e externo, é fundamentalmente cultivado nesta
região. A citricultura, outra atividade de destaque tem grande importância na economia da
região, devido à exportação de suco de laranja.

8
1.3.5. Região Sul

Situado nos domínios da Mata Atlântica, aí incluindo as florestas de Araucaria e as


manchas de campos de altitude, e do Pampa, a Região Sul é a maior produtora de carne
de aves no país com 4,0 milhões de toneladas (55,8% da produção nacional). Existem
abundantes pastagens naturais de elevado valor nutricional, dominadas por espécies
nativas de Paspalum, suplementadas por pastos cultivados de inverno com trevos e
gramíneas européias. Historicamente a região sul destacou-se predominantemente pela
produção pecuária, abastecendo grande parte do país, com carne industrializada
(charque). Com o desenvolvimento da agricultura extensiva, principalmente a soja e arroz,
esta região passou a contribuir significativamente para a exportação de produtos agrícolas,
abrigando hoje somente 16% do rebanho bovino brasileiro, com predominância de raças
européias, devido ao seu clima temperado. Esta região também se destaca como a
principal produtora de frutas de clima temperado. Também é importante notar a magnitude
e o elevado nível tecnológico da indústria instalada para o processamento e
industrialização tanto de carnes e seus derivados, quanto de produtos agrícolas.

1.4. DADOS POPULACIONAIS. POPULAÇÕES URBANAS E RURAIS


A República Federativa do Brasil é composta da União, Distrito Federal, Estados e
Municípios, todos autônomos, nos termos da Constituição Federal, de 5 de Outubro de
1988. O Distrito Federal abriga a sede do Governo Federal com os seus três poderes:
Executivo, Legislativo e Judiciário. O Brasil está dividido em 26 estados e 5.507 municípios.
Em 2007, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE estimou a população
brasileira em 183,9 milhões de habitantes, sendo que nos últimos anos, houve uma grande
migração para grandes centros urbanos, de forma que, atualmente, cerca de 77% da
população vive nas cidades e apenas 23% nas zonas rurais.

1.5. SETOR AGRÍCOLA. MERCADO INTERNACIONAL


Nas últimas três décadas, o salto da produção agropecuária brasileira não teve paralelo em
nenhum país do mundo. Mais que a produção, a produtividade e qualidade de culturas
atingiram e, em alguns casos, superaram o de outras nações grandes produtoras de
alimentos no mundo. Além das políticas macroeconômicas, setoriais e da tecnologia, a
organização do agronegócio tem sido um fator essencial para o seu sucesso. O Brasil é um
dos líderes mundiais na produção e exportação de vários produtos agropecuários. É o
primeiro produtor e exportador de café, açúcar e suco de laranja. Além disso, em 2008, lidera
o ranking das vendas externas de soja, carne bovina, carne de frango, tabaco, couro e
calçados de couro. As projeções indicam que o país também será, em pouco tempo, o
principal pólo mundial de produção de algodão e biocombustíveis, feitos a partir de cana-de-
açúcar e óleos vegetais. Milho, arroz, frutas frescas, cacau, castanhas, nozes, além de suínos
e pescados, são destaques no agronegócio brasileiro, que emprega atualmente 17,7 milhões
de trabalhadores somente no campo. Esses dados mostram que o país é fortemente
competitivo no mercado internacional, ressaltando a importância da agropecuária para a
economia nacional.
A produção nacional de grãos está estimada em 143 milhões de toneladas para a safra
2007/08, superior à colhida na safra anterior, em 8,7%. Desse total, 96,8% são produzidos
na safra de verão e os 3,2% restantes são da safra de inverno. Este aumento foi devido às
boas condições climáticas e ao uso mais intenso de tecnologia. Por sua vez, a área cultivada
com grãos foi de aproximadamente 47 milhões hectares na safra 2007/2008. A região Centro-
Sul, que responde por 79% da área total, apresentou crescimento de 2%, quando comparado
à safra anterior. Desse total, a Região Sul cultivou 46%, a Sudeste 13% e a Centro-Oeste
41%. As Regiões Norte e Nordeste, cultivaram os 21% restantes da área plantada no país,
superando a safra passada em 2,2%. Desse total a Região Nordeste contribuiu com 83% e a
Norte com 17%.
9
Tabela 1. Exportações do Agronegócio por Setores em 2007

Valor
Produto
(US$ milhões)

Complexo soja 11,381


Carnes 11,295
Produtos florestais 8,820
Complexo sucroalcooleiro 6,578
Couros e outros produtos de origem animal 3,968
Café e derivados 3,892
Sucos de fruta 2,374
Fumo e derivados 2,262
Cereais, farinhas e preparações 2,220
Fibras e produtos têxteis 1,558
Outros produtos de origem vegetal 1,160
Frutas (inclui nozes e castanhas) 968
Cacau e derivados 365
Pescados 311
Lácteos 300
Animais vivos 285
Bebidas 252
Produtos oleaginosos (exclui soja) 201
Rações para animais 104
Hortaliças, raízes e tubérculos 102
Produtos apícolas 26
TOTAL 58,422
Fonte: AgroStat Brasil a partir dos dados da SECEX / MDIC
Elaboração: CGOE / DPI / SRI / MAPA

O Produto Interno Bruto do Brasil (PIB) tem se alterado muito. No ano de 1998, o Brasil já
chegou a ter o 8º PIB do mundo, e em 2003 caiu para a 15ª posição nesse ranking. Em
2007, a posição do país voltou a melhorar, ficando entre a 8ª e a 10ª posição, de acordo
com a metodologia de cálculo utilizada. Apesar desta sensível melhora, o Brasil continua
colocado atrás de países com recursos naturais e com efetivos populacionais muito
inferiores, como Coréia do Sul e Holanda. A diferença entre esses países e o Brasil está na
importância que os mesmos dão à geração de conhecimentos e de recursos financeiros
através da tecnologia e de produtos inovadores.
A contribuição dos produtos agrícolas nas exportações brasileiras tem aumentado
significativamente, sendo que em 2002 somaram US$ 24,86 bilhões, ou 41,2% do total
exportado e em 2003 aumentaram 23%, totalizando US$ 30,64 bilhões. Em 2007 o
agronegócio exportou US$ 58 bilhões, um aumento de aproximadamente 89% em relação
a 2003 (Tabela 1). Todas as análises efetuadas demonstram que o agronegócio brasileiro
tem sido o sustentáculo da economia, a chamada “âncora verde”.

1.6. ASPECTOS ECONÔMICOS E AMBIENTAIS

Entre 1945 e 1990, a produção mundial de alimentos e outras atividades humanas


degradaram aproximadamente 3 bilhões de acres de áreas de vegetação o que significaria
uma área igual a da China e Índia combinadas, sendo que dois terços das áreas mais
degradada estão na África e Ásia. Desta forma, o grande desafio mundial é o aumento na
produção de alimentos suficientes para suprir a demanda do crescimento populacional,
utilizando tecnologias ambientalmente seguras e que permitam sustentabilidade dos
sistemas agrícolas. No Brasil, uma das principais metas é a erradicação da fome. Para se
atingir este objetivo, é fundamental que o agronegócio seja fortalecido, com uma
conseqüente redução no custo dos alimentos.
Embora o País detenha uma das maiores biodiversidades do mundo, com recursos
naturais abundantes, e que poderão, muito rapidamente, transformar-se em fonte de

10
recursos financeiros e empregos, só muito recentemente a sociedade passou a se
conscientizar sobre o tema. O desenvolvimento sustentável da agropecuária também é
uma preocupação recente no Brasil. As maiores preocupações são em relação ao uso
desordenado do solo, à expansão da fronteira agrícola nos Cerrados e na Amazônia, à
utilização excessiva de água nas atividades agropecuárias e ao uso sem controle e, às
vezes, irracional de agrotóxicos.
Tradicionalmente, os mercados costumam valorar a maior parte dos bens ambientais de
uso direto e imediato – como madeira, água, óleos e essências, sementes etc. – em
detrimento dos serviços ambientais, ignorando a interdependência existente entre ambos.
A criação de mercados específicos para serviços ambientais, como o de créditos de
carbono, é um fenômeno relativamente recente. No entanto, já indica o reconhecimento da
importância da valoração econômica e financeira desses serviços como forma de evitar a
exploração indiscriminada e irresponsável dos recursos naturais, e ainda estimula a adoção
de práticas ecologicamente corretas por parte da sociedade.
Particularmente em relação ao carbono, um número crescente de países têm se inserido
no mercado mundial de créditos e lançado novos projetos de mitigação do clima ou de
redução comprovada da taxa de emissão de GEEs (Gases de Efeito Estufa). Na realidade,
com a ratificação e entrada em vigor do Protocolo de Kyoto, foram estabelecidas metas
diferenciadas de redução desses gases para os países (5,2% na média, com relação aos
níveis verificados em 1990), em função de suas responsabilidades históricas.
Até outubro de 2005, treze dos 82 projetos de Mecanismos de Desenvolvimento Limpo
(MDL) elaborados no Brasil tinham sido aprovados, colocando o País no segundo lugar no
ranking mundial. Os 82 projetos somavam mais de 17,9 milhões de toneladas de CO2 a
serem reduzidas/ano.

11
12
CAPÍTULO 2
ESTADO DA DIVERSIDADE

2.1. INTRODUÇÃO
O Brasil possui cerca de 44.000-50.000 espécies de plantas vasculares, o que representa
aproximadamente 18% da diversidade vegetal do mundo (considerando a flora mundial
com cerca de 257.400 espécies). Entretanto, a agricultura e a segurança alimentar do
povo brasileiro são, em grande parte, totalmente dependentes de recursos genéticos
originários de outros países. Praticamente todas as atividades da agropecuária brasileira,
bastante diversificadas em função da diversidade ambiental do país, jamais teriam o
destaque atual se não fosse pelo intercâmbio e introdução sistemática e crescente de
recursos genéticos. Esta dependência persistirá, pois a pesquisa voltada para o
desenvolvimento de novas variedades vegetais necessita de materiais genéticos que
apresentem características de adaptação ecológica, como, por exemplo, resistência às
pragas e doenças que ocorram no país, adaptação às condições adversas do ambiente que
podem se originar em função das mudanças climáticas, além da adaptação aos diferentes
solos brasileiros, para atender à crescente demanda por produção de alimentos, fibras e
energia. Com muito menor percentagem de uso que as espécies exóticas, mas com forte
importância regional e local, várias espécies nativas têm sido usadas na alimentação
humana, sendo as mais conhecidas a mandioca, abacaxi, caju, cupuaçu, maracujá,
castanha-do-pará, guaraná, jaboticaba, amendoim, cacau, algumas espécies de palmeiras e
outras fruteiras. Além destas, espécies de forrageiras nativas dão suporte para boa parte da
pecuária nacional. Mais recentemente, as plantas medicinais e ornamentais nativas vêm
sendo mais valorizadas dentro do contexto atual do agronegócio nacional.
A pesquisa em recursos genéticos e melhoramento vegetal é uma das atividades de
inovação mais relevantes para o país, tendo produzido resultados que contribuíram
significativamente para os principais ganhos qualitativos e quantitativos alcançados pela
agricultura brasileira ao longo das últimas décadas. O melhoramento de plantas no Brasil
está entre os mais eficientes do mundo, com contribuições expressivas ao longo do século
XX, com especial destaque para a formação de recursos humanos e para o
desenvolvimento de grande diversidade de plantas adaptadas às condições tropicais. O
processo de melhoramento genético é altamente dependente da amplitude da base
genética disponível que, por sua vez, é influenciada pelo acervo de germoplasma
disponível, na forma de materiais coletados e caracterizados, mantidos nos bancos de
germoplasma, que são insumos importantes para o desenvolvimento de novos cultivares. A
capacidade de acessar esses materiais portadores de variabilidade, por coleta ou por
introdução e intercâmbio, é fator fundamental para o sucesso de qualquer programa de
melhoramento genético vegetal.

2.2. ESTADO DA DIVERSIDADE E IMPORTÂNCIA RELATIVA DAS GRANDES


CULTURAS, PARA A SEGURANÇA ALIMENTAR

Apesar da enorme riqueza em espécies nativas, a maior parte de nossas atividades


econômicas está baseada em plantas exóticas. Nossa agricultura está apoiada em plantas
como, por exemplo, a cana-de-açúcar, proveniente da Nova Guiné; o café, da Etiópia; o
arroz, das Filipinas; a soja e a laranja, da China, o trigo, da Ásia Menor; e até mesmo em
variedades de cacau (uma espécie nativa) provenientes do México. A silvicultura nacional
depende de eucaliptos, da Austrália, e de pinheiros da América Central e do Caribe. A
pecuária depende de bovinos da Índia, de eqüinos da Ásia Central e de capins africanos. A
piscicultura apoia-se fortemente em carpas, da China, e tilápias da África Oriental. A
13
apicultura está baseada em variedades oriundas de cruzamentos de abelhas do gêneros
Apis, provenientes da Europa e da África Tropical.

2.2.1. Intercâmbio e coleta de recursos genéticos

O intercâmbio internacional de recursos genéticos foi praticado ao longo do século XX sem


maiores formalidades, fundamentado na reciprocidade de tratamento entre países e
organizações, processo do qual se beneficiaram instituições públicas de pesquisa e
desenvolvimento, universidades, centros internacionais de pesquisa agrícola, empresas
privadas produtoras de sementes, dentre outros. Este acesso facilitado aos recursos
genéticos teve papel fundamental na evolução da agricultura brasileira.
A Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária - Embrapa, desde a sua criação, recebeu
a incumbência de promover e viabilizar a internalização segura de recursos genéticos
estratégicos para o país. Sob a coordenação da Embrapa Recursos Genéticos e
Biotecnologia – Cenargen, um sistema de intercâmbio e quarentena de germoplasma
movimentou, entre 1976 e 2007, mais de 500.000 amostras, sendo mais de 400.000
importadas de todas as partes do mundo. Esse sistema alimenta uma rede de 350 Bancos
Ativos de Germoplasma, como também uma Coleção de Base (que conserva para o longo
prazo) que é composta por 212 gêneros, cerca de 668 espécies e mais de 107.000
acessos. Todo esse sistema dá suporte a centenas de programas de melhoramento
genético públicos e privados, desenvolvidos em todo o território nacional.
Com relação à coleta de germoplasma, definida como o conjunto de atividades que visa à
obtenção de material vivo, que contenha a composição genética de um organismo, ou
amostra de população de determinada espécie, com a capacidade de se reproduzir,
também coube à Embrapa Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia liderar esta
atividade, cujo início de deu em meados dos anos 1970. Buscando realizar explorações
botânicas em populações naturais, diretamente no campo atuando nos principais biomas
brasileiros, além de obter material cultivado nas mãos de agricultores, pecuaristas, em
feiras, em mercados regionais e outros, desde aquele período foram realizadas mais de
800 missões de coleta pelo País.
Geralmente em parceria com outras instituições de pesquisa, entre as plantas, alguns
produtos que foram objeto de projetos consistentes de coleta desde então cita-se o
abacaxi, algodão, amendoim, arroz, batata-doce, caju, cará, forrageiras nativas (gramíneas
e leguminosas), fava, mandioca, milho, palmeiras, pimentas, seringueira, diversas plantas
ornamentais, florestais e medicinais. Além do foco em produtos específicos, a partir dos
anos 1990 também houve uma preocupação em resgatar germoplasma em áreas
submetidas a impactos ambientais que causam perdas de recursos genéticos, com um
trabalho especial desenvolvido em áreas de futuros lagos de hidrelétricas.
Nos dias de hoje, tanto a coleta de germoplasma quanto o resgate em áreas de impacto
estão internalizados no País, sendo que várias instituições e universidades realizam essas
atividades nas diferentes regiões do Brasil. Até mesmo pela dependência externa por
germoplasma das principais culturas de interesse econômico, é pela investigação e coleta
de germoplasma nativo que novas espécies/produtos estão sendo buscadas como
potenciais alternativas para o setor agrícola e, principalmente, o florestal do país.

2.3 ESTADO DA DIVERSIDADE E IMPORTÂNCIA RELATIVA DE OUTRAS


CULTURAS
O aproveitamento das riquezas biológicas do país tem merecido atenção especial do
Brasil, principalmente devido ao impacto dos recursos genéticos, provenientes da
biodiversidade, nas atividades agropecuárias mais recentemente alavancadas pelos
resultados que a biotecnologia. Apesar da agricultura brasileira estar baseada em espécies
exóticas, os investimentos em estudos da biodiversidade podem ampliar a disponibilidade

14
de matéria prima, consequentemente levando à geração de novas tecnologias que
resultam em novos produtos e novos mercados. Segundo o Ministério do Meio Ambiente,
atualmente, os fitoterápicos representam aproximadamente 25% do mercado mundial, o
que implica em uma movimentação financeira, para produtos derivados de recursos
genéticos situada entre US$ 500 a US$ 800 bilhões anuais.
Devido a ampla diversidade existente no Brasil, a utilização de recursos genéticos
autóctones ainda é pouco explorada, demandando estudos e investimentos na exploração
comercial de novas espécies que podem agregar valor aos produtos da agroindústria,
principalmente aqueles com potencial impacto na segurança alimentar. Além do grande
número de espécies semi-domesticadas, ou em fase de domesticação que podem
apresentar grande valor para o uso na agricultura as espécies da biodiversidade também
podem oferecer genes de resistência a fatores bióticos e abióticos, além de genes de
importância para aumento da qualidade nutricional de alimentos.
Espécies nativas, muitas delas já utilizadas a nível local ou regional podem representar
alternativas para a inserção nos mercados, os quais vêm aumentando a demanda por
novas opções de produtos, principalmente relacionados a alimentação saudável.
O Brasil, através do Ministério do Meio Ambiente, vem coordenando ações voltadas para a
identificação, a priorização e a divulgação de informações sobre o uso de espécies de
plantas nativas em benefício da sociedade, de importância econômica atual ou potencial,
hoje sub-utilizadas. As ações estão voltadas para o aproveitamento dos recursos biológicos
e genéticos da flora brasileira, visando o desenvolvimento sustentável. Inicialmente, está
sendo feito um levantamento do conhecimento técnico-científico das espécies nas diversas
regiões geopolíticas e biomas brasileiros. Este trabalho visa agregar e disponibilizar
informações provenientes de diferentes fontes, para o uso direto pelo setor agrícola, e para
criar outras oportunidades de investimentos com a geração de novos produtos.
Levantamentos feitos pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), no ano-
base 2006, mostram que a Produção, Extração Vegetal e a Silvicultura, somando-se o
valor da produção primária florestal do País, totalizam R$ 10,9 bilhões. Deste total, 66%
(R$ 7,2 bilhões) foram provenientes da silvicultura (exploração de florestas plantadas) e
34% (R$ 3,7 bilhões) do extrativismo vegetal. No segmento do extrativismo vegetal, o valor
da produção madeireira, representada pelos itens carvão vegetal, lenha, madeira em tora e
nó-de-pinho, totalizou R$ 3,2 bilhões, ao passo que o valor da extração vegetal não-
madeireira somou apenas R$ 539,2 milhões. De um total de 37 itens ou produtos não-
madeireiros investigados, destacam-se, em função da magnitude do valor de suas
produções, apenas nove (9): frutos de açaí (R$ 103,2 milhões), amêndoas de babaçu (R$
102,2 milhões), fibras de piaçava (R$ 88,9 milhões), erva-mate nativa (R$ 86,9 milhões), pó
cerífero e cera de carnaúba (R$ 48,6 milhões e R$ 13,3 milhões, respectivamente),
castanha-do-pará (R$ 43,9 milhões), palmito nativo (R$ 9,9 milhões), látex coagulado de
Hevea ou seringueira (R$ 7,9 milhões), os quais, em conjunto, somaram 93,7% do valor
total da produção extrativista vegetal não-madeireira do País (R$ 539,2 milhões).

2.4. ESTADO DA DIVERSIDADE DE RECURSOS FITOGENÉTICOS

O Brasil realiza ações importantes no sentido de ampliar o conhecimento sobre seus


recursos genéticos. Alguns projetos têm sido desenvolvidos visando à identificação dos
parentes silvestres e variedades crioulas de várias espécies de plantas cultivadas, tais
como: abóbora, algodão, amendoim, arroz, mandioca, milho e pupunha. As variedades
crioulas foram incluídas no levantamento, pois apresentam genes potenciais de adaptação
a ambientes específicos, que podem ser úteis aos programas de melhoramento genético.
Os principais objetivos desta iniciativa são a obtenção de dados biogeográficos dessas
espécies, a avaliação das condições de conservação e a determinação das ações
necessárias para a manutenção e maior utilização desse acervo genético. Da mesma
forma, o país necessita de políticas públicas que protejam o seu patrimônio genético
15
nativo. Conforme o país se desenvolve, a sociedade começa a demandar maior variedade
de alimentos na mesa. A importância cada vez maior da agregação de novas espécies à
base da alimentação diária da população, aumenta com a melhoria das condições de vida
e vice-versa. Faz-se necessário, portanto, expandir o conhecimento sobre as plantas
nativas que possam suprir essa demanda, criando-se a infra-estrutura para sua
conservação, domesticação, caracterização, pré-melhoramento e melhoramento, além dos
canais apropriados para sua comercialização, uma vez que existe grande potencial para
seu uso na agricultura familiar, em diferentes nichos de mercado, como o orgânico, o
tradicional, sob plasticultura, hidroponia e outros.
A conservação in situ é altamente recomendável para a manutenção da variabilidade nas
populações naturais de espécies arbóreas. As pressões sobre os biomas e a necessidade
de pronta disponibilidade do germoplasma desejado, exigem atividades paralelas de
conservação ex situ. Nos biomas extra-amazônicos, parte significativa da biodiversidade se
encontra em pequenos fragmentos em meio à matriz antrópica, em sua maioria localizados
em propriedades particulares, sendo a maioria pouco estudados. Na Floresta Atlântica,
reduzida a 8% de sua área original, a maior parte dos fragmentos florestais tem menos de
10 ha e mais da metade das unidades de conservação possui menos que 500 ha.
Fragmentos com essas dimensões são insuficientes para manter muitas espécies
arbóreas. Deve-se atentar para o fato de que muitas espécies arbóreas tropicais, de
fecundação cruzada, ocorrem em baixa densidade e, se forem restritas a pequenos
fragmentos, estarão sujeitas à endogamia e à conseqüente perda da variabilidade
genética. Medidas de resgate do germoplasma das espécies mais importantes,
remanescentes nesses fragmentos e seu plantio em bancos de germoplasma para
conservar a variabilidade genética são imprescindíveis a curto prazo (ver Capítulos 3 e 4).
A conservação in situ e a conservação on farm, se feitas de maneira coordenada, ainda
possuem amplo potencial de crescimento no país. Para a segunda, alguns passos vêm
sendo dados junto às comunidades locais e tradicionais, por intermédio de trabalhos
conjuntos com o Ministério do Desenvolvimento Agrário. Trabalhos inovadores de
mapeamento da importância dos recursos naturais para alimentação, agricultura e
biomedicina, foram recentemente desenvolvidos pelo Ministério do Meio Ambiente, que
contratou a Embrapa para estudos independentes de algumas espécies. Esse trabalho
precisa ser continuado, e seus resultados transformados em programas de conservação e
desenvolvimento das espécies elencadas. A conservação in situ, que poderia utilizar as
unidades de conservação permanentes da União, que cobrem aproximadamente 1 milhão
de km², é incipiente. O mapeamento da ocorrência de espécies nativas ou de parentes
silvestres ainda está por ser feito. O país precisa aproveitar esse potencial e informar à
sociedade sua existência, proporcionando razões inquestionáveis para a manutenção das
próprias áreas de conservação.

2.4.1. Análise da diversidade de variedades cultivadas


A biotecnologia moderna surgiu como uma das mais extraordinárias estratégias de
desenvolvimento científico e tecnológico, perpassando um grande número de áreas e
disciplinas e abrangendo temas tão diversos como a saúde humana e animal, a agricultura, a
pecuária, a indústria de alimentos, o meio ambiente e a ecologia, serviços, etc. Esta nova
vertente tecnológica e suas ferramentas de manipulação e transferência gênica e, mais
recententemente, de estudos de genomas completos, prometem potencializar os métodos
tradicionais de melhoramento genético, permitindo o rápido e preciso desenvolvimento de
plantas e animais melhorados com grande diversidade de atributos e com rapidez e escalas
antes não imaginados. Marcadores moleculares têm sido eficientemente empregados na
resolução de várias questões biológicas, operacionais e logísticas, que afetam a
conservação ex situ de germoplasma. Enfim, são comuns as aplicações de marcadores
moleculares na caracterização molecular de germoplasma vegetal visando: a) analisar a
identidade genética do acesso, verificando se cada acesso da coleção pode ser

16
geneticamente diferenciado dos demais acessos; b) estimar a similaridade genética entre
acessos, por meio do cálculo do grau relativo de proximidade ou distância genética
presente na coleção; c) conhecer a estrutura genética da coleção, avaliando como se
distribui a variação genética entre acessos da coleção; d) estimar a riqueza alélica da
coleção, quantificando o número de alelos observados em diferentes locos entre os
acessos da coleção, e possibilitando até mesmo a detecção de alelos de importância
econômica; e) avaliar a representatividade da coleção, comparando a diversidade da
espécie cultivada e a de seus parentes silvestres.
Muitos trabalhos com marcadores moleculares estão em andamento no Brasil, podendo ser
destacados os projetos de caracterização molecular utilizando marcadores RAPD e CAPS
em 22 espécies de pimentas e pimentões, com a descrição de nove espécies novas,
realizados pela Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia. Outros trabalhos envolvem
o uso de marcador RAPD com espécies dos gêneros Heliconia sp., Ananas sp. e
Anthurium sp. Algumas espécies estão bem caracterizadas, utilizando a técnica de RAPD,
sendo que 14 espécies e 1353 amostras, foram analisadas quanto à variabilidade genética
das populações (Tabela 2). A Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia também vem
desenvolvendo marcadores moleculares para espécies nativas. Atualmente 23 espécies já
possuem marcadores SSR desenvolvidos tanto para caracterização quanto para estudo de
genética de populações, sendo estas: Caryocar brasiliense (pequi), Copaifera langsdorffii
(copaíba), Euterpe edulis (palmito), Swietenia macrophylla (mogno), Caesalpinia echinata
(pau-brasil), Capsicum spp (pimentas e pimentões), Cedrella fissilis (cedro), Ceiba
pentandra (sumaúma), Carapa guianensis (andiroba), Amburana cearense (cerejeira),
Manilkara huberi (maçaranduba), Symphonia globulifera (anani), Cocos nucifera (coco),
Araucaria angustifolia (pinheiro-do-paraná), Hymenaea courbaril (jatobá), Bagassa
guianensis (tatajuba), Jacaranda copaia (parapará), Dipteryx odorata (cumarú), Bactris
gasipaes (pupunha), Annona crassiflora (araticum), Bertholletia excelsa (castanha-do-
pará), Orbignya phalerata (babaçu) e Ilex paraguariensis (erva mate).

Tabela 2. Espécies caracterizadas a nível molecular, utilizando RAPD, mostando a


variabilidade genética das amostras analisadas

Espécies Nome popular Número de Variabilidade


amostras Genética (%)

Bauhinia pulchella Bauhinia 96 67,2*


Butia eriospatha Butiá-da-serra 100 89,9*
Clethra scabra Caujuja 74 50,0
Dicksonia sellowiana Xaxim 290 84,5*
Dorstenia tenuis Figueirilha 66 83,7*
Dyckia distachya Bromélia 100 40,0
Erythrina falcata Corticeira 83 60,0
Ficus enormis Figueira 48 60,0
Maytenus ilicifolia Cancorosa 120 60,0
Myrocarpus frondosus Cabreúva 49 50,0
Podocarpus lambertii Pinheiro-bravo 106 92,5*
Sinningia lineata Rainha-do-abismo 51 40,0
Trithrinax brasiliensis Buriti 50 40,0
Zeyheria tuberculosa Ipê felpudo 120 64,0*
*Variabilidade dentro das populações

Em âmbito nacional, a tentativa de ampliar o uso dos recursos genéticos disponíveis no


País tem sido incentivada por meio de iniciativas voltadas ao desenvolvimento de
programas de pré-melhoramento. Na programação de pesquisa da Embrapa existem
diversos projetos envolvendo gêneros de ampla variabilidade genética disponível em
território nacional, tais como Anacardium, Ananas, Arachis, Capsicum e Manihot. Além
desses, outros gêneros de relevante importância comercial para o país têm sido alvo de
programas de pré-melhoramento (ver Capítulo 5). Destacam-se, o projeto Orygens, que
17
estuda o genoma de Oryza (http://genoma.embrapa.br/orygens/index.html) e o projeto que
estuda o genoma de Eucaliptus, o Genolyptus
(http://ftp.mct.gov.br/especial/genolyptus.htm). Neste último caso, os projetos contam com
uma ampla rede de colaboradores sendo que o projeto Genolyptus é um excelente
exemplo de parceria entre os setores público e privado, fato altamente desejável para o
sucesso dos programas de melhoramento.
Em um ambiente internacional complexo, influenciado por interesses estratégicos em
recursos biológicos, por avanços em vertentes tecnológicas altamente dependentes de
variabilidade genética e pela consolidação do arcabouço legal de proteção do
conhecimento, são inevitáveis alterações nas relações entre os países e entre
organizações de cada país no que se refere ao acesso a recursos genéticos. Em especial,
as provisões da Convenção da Diversidade Biológica, que tem levado à implementação de
legislações nacionais de afirmação de soberania sobre recursos biológicos, têm dificultado
e reduzido o fluxo destes recursos em âmbito mundial (ver Capítulo 8).
É, portanto, fundamental que se compreenda que as atividades de melhoramento genético
no Brasil continuarão sendo altamente dependentes da amplitude da base genética
disponível, na forma de materiais mantidos nos bancos de germoplasma, que são insumos
críticos para o contínuo desenvolvimento do agronegócio nacional. Da mesma forma que o
Brasil necessita de políticas públicas que protejam seu patrimônio genético, é
extremamente importante que se proteja e se amplie o intercâmbio com outros países, de
forma a garantir ao país capacidade de acessar e se beneficiar de variabilidade genética
exótica, bem como de avanços obtidos em âmbito internacional na pesquisa com recursos
genéticos.
No horizonte de dez anos, as atividades do espaço rural e do agronegócio ainda serão
substancialmente ampliadas, com novos produtos de alto valor, como plantas ornamentais,
produtos da aqüicultura, alimentos funcionais (nutracêuticos), biofármacos e novos
derivados dos produtos agrícolas, para substituição daqueles oriundos de fontes não-
renováveis ou poluentes. O ecoturismo e a conservação estarão entre as novas funções
socioeconômicas dos recursos naturais no espaço rural. Observa-se também a evolução
de atividades agropecuárias emergentes, como floricultura, criação de animais silvestres,
cultivo de ervas medicinais e aromatizantes, e horticultura diversificada, que se destinam a
segmentos específicos de mercado e vão criar oportunidades para inclusão social, geração
de empregos e de renda.

2.4.2. Impacto de tecnologias na diversidade genética e na produção de alimento

Nas últimas três décadas o Brasil tem obtido expressivo aumento de produtividade em
seus cultivos, sem, no entanto, aumentar a área cultivada (Figura 3). Isto é fruto do
trabalho de melhoramento genético e de manejo realizado pelas instituições de pesquisa
agropecuária e universidades brasileiras. Com as técnicas de genética molecular, as
plantas geneticamente modificadas têm sido desenvolvidas, possibilitando que se leve ao
agricultor novos materiais genéticos (OGMs – organismos geneticamente modificados). O
Brasil tem investido nas tecnologias de desenvolvimento de OGMs, tendo também a
preocupação em desenvolver pesquisas relativas ao impacto ambiental desses
organismos. A legislação brasileira, acompanhando os avanços científicos, tem se
adequado ao novo cenário, criando leis e mecanismos regulatórios para OGMs (ver
Capítulo 7).
Recentemente, uma questão preocupante em âmbito internacional tem sido a competição
por área de plantio em termos de produção de biocombustíveis versus produção de
alimentos. A experiência brasileira com biocombustíveis, especialmente pela produção de
etanol obtido da cana-de-açúcar, tem se mostrado muito positiva e se constitui em um
exemplo para todo o mundo. Em 2007/2008 o país produziu 487 milhões de toneladas de
cana, processadas por aproximadamente 350 usinas. O cultivo de cana é realizado em 7,8

18
milhões de hectares, o que representa apenas 2,3% da área agricultável total do país
(Figura 3). Até o momento, no Brasil, certamente não há competição entre a área destinada
à produção de biocombustíveis com àquela voltada para produzir espécies destinadas à
alimentação da população, afetando nossa segurança alimentar.

Figura 3. Produção de cereais, leguminosas e oleaginosas, no Brasil e


crescimento da área de plantio.

2.4.3. Fatores que afetam a diversidade de plantas cultivadas no Brasil


O desenvolvimento de novos cultivares, mais produtivos ou com algum outro fator que seja
mais atrativo para os agricultores, como genótipos com maior resistência a problemas
bióticos ou abióticos, podem levar à erosão genética. Outro fator relevante que contribui
nesse sentido é o desmatamento, especialmente em áreas de florestas, quer seja para
exploração de madeira ou para o avanço da fronteira agropecuária. O governo brasileiro
vem envidando esforços no sentido de controlar ações desta natureza, criando
mecanismos legais e regulatórios para o desenvolvimento da agropecuária em associação
com a preservação ambiental (ver Capítulo 8). Além do problema de erosão genética,
existe também a erosão de conhecimentos associados aos cultivares locais ou tradicionais
(raças locais ou landraces), que desaparecem quando tais materiais deixam de ser
conservados. O Ministério do Meio Ambiente, em recente iniciativa, passou a apoiar
projetos que visam à identificação, coleta e conservação de parentes silvestres das plantas
cultivadas, como também de raças locais. O Ministério da Agricultura, por meio da
Embrapa, também tem atuado junto aos pequenos produtores, geralmente detentores
desses materiais, no sentido de garantir sua conservação a longo prazo, como alternativa
para evitar os problemas causados pela erosão genética. Ações de resgate de
germoplasma, utilizando-se de coletas de varredura em áreas submetidas a impactos
também têm sido utilizadas para contornar esse problema (ver Capítulos 3 e 4).
O Brasil possui um extenso sistema de áreas protegidas federais que promovem a
conservação da biodiversidade, incluindo mais de 6% do território em Unidades de
Conservação, mais 12% em terras indígenas, além de Áreas de Preservação Permanente
e de Reservas Florestais Legais. Essa rede de áreas protegidas conta com 646 Unidades
de Conservação, cobrindo uma área total de mais de 50 milhões de hectares. Vale
salientar que, desde 2003, a área protegida do País foi expandida em 8,3 milhões de
hectares, o que significa um aumento de 19% da área existente (ver Capítulo 3). Esses
avanços demonstram claramente a importância e a adequação deste tema para o Brasil.
O País também vem tomando medidas decisivas em relação à implementação das políticas
nacionais voltadas à conservação e à utilização sustentável da biodiversidade. No contexto
dos países ricos em recursos biológicos, conhecidos e identificados como centros de
megadiversidade, o Brasil ocupa posição de destaque, apresentando-se com uma
responsabilidade em nível nacional e mundial absolutamente primordial. Da mesma forma,
19
o Governo Brasileiro reconhece a necessidade de ações urgentes, concretas e
permanentes, para que o quadro de degradação continuada da biodiversidade possa ser
revertido. O enorme esforço que vem sendo empreendido no País para implementar a
Convenção sobre Diversidade Biológica, com ênfase para as recentes e decisivas ações
relacionadas à ampliação das áreas legais para a conservação da biodiversidade, à
promoção da utilização sustentável dos recursos genéticos e os avanços logrados na
aprovação de políticas voltadas ao acesso e à repartição de benefícios derivados do uso
desses recursos, são exemplos disso (ver Capítulo 8).
É fundamental que o País intensifique a implementação de programas de pesquisa na
busca de um melhor aproveitamento da sua biodiversidade e continue a ter acesso aos
recursos genéticos exóticos, também essenciais para o melhoramento da agricultura, da
pecuária, da silvicultura e da piscicultura nacionais.

20
CAPÍTULO 3

CONSERVAÇÃO IN SITU DE RECURSOS FITOGENÉTICOS

3.1. INTRODUÇÃO

A conservação in situ de recursos genéticos, a qual abrange também a conservação on


farm, recebeu maior atenção e discussão nos últimos anos, em decorrência principalmente
da Convenção sobre a Diversidade Biológica-CDB. As políticas públicas, ações de
instituições governamentais e não-governamentais, mudanças de legislação,
reconhecimento e valorização de populações tradicionais e indígenas e seu papel na
conservação de recursos genéticos, e a ampliação e criação de áreas protegidas, entre
outros, são alguns fatores que influíram nesse tipo de conservação nos últimos anos. Cada
um destes fatores teve importância diferenciada e, portanto, grau de impacto (positivo ou
negativo) para a conservação in situ. Apesar da retórica sobre o desenvolvimento
sustentável, a conservação continua a ser subordinada a quase todas as outras políticas
públicas de desenvolvimento, onde muitas vezes percebe-se que sua prioridade ainda não
foi solidificada.
Esta estratégia de conservação é caracterizada por apresentar benefícios que são, de
forma geral, de difícil percepção pela sociedade. Por exemplo, a manutenção de processos
ecológicos associados é vital para os sistemas de produção e para a sociedade, incluindo,
por exemplo, a polinização, a dispersão de sementes, a manutenção da qualidade da água
e do solo e a ciclagem de nutrientes. Além disso, esta estratégia também pode abranger
outras vantagens: a continuidade dos processos evolutivos essenciais para os mecanismos
de adaptação; a conservação de comunidades de forma integral, incluindo muitas vezes
um conjunto diverso de recursos genéticos associados; e a manutenção de populações
viáveis a longo prazo. A conservação in situ é particularmente essencial quando se
considera uma espécie como um recurso genético que também é uma espécie-chave para
um determinado ecossistema, onde sua ausência ou redução populacional pode impactar
outras espécies e comprometer processos ecológicos. Recursos genéticos que são
ameaçados de extinção, endêmicos e/ou raros também demandam sobremaneira essa
estratégia de conservação.
Particularmente, no caso da conservação on farm, o componente humano – os agricultores
– é o fator principal para o sucesso desta estratégia, tanto pela manutenção histórica-
cultural de uma série de espécies e variedades alimentícias por eles utilizadas, como
também devido as variações das formas de manejo praticadas (ver quadro explicativo à
Figura 4), as quais influem na conservação, seleção e geração de diversidade dos recursos
fitogenéticos. Entretanto, é difícil quantificar e modelar o impacto dessas populações sobre
a conservação de recursos genéticos devido a grande diversidade cultural existente no
Brasil (227 etnias indígenas, quilombolas, pantaneiros, caiçaras, ribeirinhos, seringueiros,
castanheiros, quebradeiras de coco de babaçu, geraizeiros, catingueiros, entre outros),
cada qual com suas particularidades culturais e históricas, associado à própria diversidade
de biomas e recursos genéticos alimentícios manejados.
A importância deste tipo de conservação pode ser estimada pelo número de agricultores
tradicionais, pois sabidamente conservam quantias de recursos genéticos, nativos e
exóticos. Mesmo havendo divergências em identificar todos os agricultores que se
enquadram como tradicionais (ponto este que merece levantamento e estudo), estima-se
que sejam entre 3 e 4 milhões de indivíduos, ou 13 % da população agrícola brasileira.

3.2. CONSERVAÇÃO IN SITU

Tendo entre 44.000 e 50.000 espécies de plantas superiores, o Brasil possui uma das
21
floras mais diversas no mundo. No entanto, poucas dessas espécies foram inseridas em
sistemas de produção de larga escala e alguns recursos fitogenéticos nativos têm perdido
importância de uso ao longo do tempo.
Considerando a necessidade de criar e estabelecer áreas protegidas, houve um avanço
importante nos últimos anos, com o objetivo de preservar os remanescentes de vegetação
nativa em processo de desaparecimento e os grandes maciços florestais ainda existentes,
como no bioma Amazônia, onde foram criadas as maiores Unidades de Conservação.
Além disso, outras iniciativas oficiais importantes, como os estudos para indicação de
áreas prioritárias para conservação in situ e a prospecção de espécies nativas potenciais
para o uso sustentável decorreram da ratificação da Convenção sobre Diversidade
Biológica pelo Brasil, em 1994.
A Tabela 3 apresenta os dados oficiais relativos às Unidades de Conservação (UC) nos
níveis federal e estadual, com duas principais categorias definidas e regulamentadas pelo
Sistema Nacional de Unidades de Conservação-SNUC: Unidades de Proteção Integral,
onde a interferência humana é restrita, não deve haver uso direto de recursos naturais e a
conservação destes é o objetivo maior; e Unidades de Uso Sustentável, onde há diferentes
graus de interferência humana com a intenção de conciliá-los com a conservação dos
recursos naturais.
Entre as UC federais, 239 protegem áreas terrestres, 43 são mistas, protegendo áreas
terrestres e marinhas, e 10 protegem exclusivamente áreas marinhas. Essas unidades
abrangem 8,2% do nosso território, sendo 3,9% de Proteção Integral e 4,3% de Uso
Sustentável. Embora ainda com muitas deficiências em relação ao tamanho ideal das
áreas e os problemas de estrutura e gerenciamento, em pouco mais de duas décadas o
país saiu de 15 milhões de hectares de áreas protegidas de âmbito federal, em 1985, para
aproximadamente 70 milhões, em 2007 (Figura 4).

Figura 4. Unidades de Conservação Federais Brasileiras


Fonte: Ministério do Meio Ambiente

No âmbito estadual, essas áreas representam aproximadamente 1,0% (Proteção Integral) e


2,5% (Uso Sustentável) do território nacional. Entre elas, 269 áreas estão localizadas em
22
ambiente terrestre, 36 abrangem ambiente terrestre e marinho e 3 são exclusivamente
marinhas.

Tabela 3. Quantidade e Tamanho das Unidades de Conservação Federais e Estaduais e das


Reservas Indígenas.

Categoria
Federais Estaduais Total
nº e área (mil ha) nº e área (mil ha) área (mil ha)

Unidades de Proteção 128 (33.238,2) 184 (8.365,0) 312 (41.603,2)


Integral

Unidades de Uso 164 (36.491,5) 124 (21.755,8) 288 (58.247,3)


Sustentável

Reservas Indígenas 611 (105.672,0) - 611 (105.672,0)

Total 903 (175.401,7) 308 (30.120,8) 1211 (205.522,5)

Ao todo, são 1.343 áreas protegidas, sendo 292 federais, 308 estaduais, além de 743
Reservas Particulares do Patrimônio Natural - RPPN. Tomando-se em conjunto as
Unidades de Conservação de âmbito federal, categorias de Proteção Integral (3,9%) e de
Uso Sustentável (4,3%), com as de âmbito estadual, categorias de Proteção Integral (1,0%)
e de Uso Sustentável (2,5%), e ainda as RPPN (0,06%), tem-se um total aproximado de
11,7% do território brasileiro destinado à conservação da biodiversidade brasileira,
representando acima de 100 milhões de hectares. Nesses totais não estão incluídas as
Unidades de Conservação de âmbito municipal.
Ao incluirmos as áreas indígenas, a área protegida do território nacional passa a ser ao
redor de 24,1%. Em relação ao relatório anterior, nota-se que houve avanços em relação à
criação de novas áreas de reserva indígena e mesmo ampliação de outras já existentes,
passando de 554 unidades para 611, um aumento de 11.026.781 ha (12%), totalizando
uma área de 105.672.000 ha (mas somente 87,27% destes estão totalmente
regularizadas). Como o fator terra é um dos principais pontos para que uma população
consiga manter suas tradições, entre elas o cultivo de recursos fitogenéticos, aliado ao fato
de que as reservas indígenas acabam servindo também como unidade de conservação in
situ, uma vez que os recursos naturais tendem a ser melhores mantidos nos seus limites
interiores do que fora destes, a garantia de proteção destas terras é um fator chave para
este tipo de conservação.
Nos últimos anos houve um importante acréscimo em número e área de Unidades de
Conservação oficiais no Brasil. Embora estes números sejam significativos para a
conservação in situ, ainda apresentam um grave desequilíbrio de proteção entre os
biomas.
O bioma Amazônia está representado por uma rede de Unidades de Conservação e áreas
indígenas que cobrem uma área importante. Há também o Programa Áreas Protegidas da
Amazônia (ARPA) do Ministério do Meio Ambiente – MMA, específico para aumentar as
áreas protegidas a 500.000 km2, e que utiliza o conceito de ecorregião como indicador de
conservação da biodiversidade. Porém, biomas como o Cerrado, a Mata Atlântica e a
Caatinga, alvos de intensa ação antrópica e com recursos naturais da mesma importância,
são ainda pouco representados dentro do Sistema Nacional de Unidades de Conservação.
Assim, espécies e populações únicas desses biomas podem desaparecer ou se tornar
seriamente comprometidas pela redução de habitats, como já ocorreu na Mata Atlântica e
está ocorrendo no Cerrado, os dois únicos biomas caracterizados como hotspots no Brasil,
ou seja, onde o elevado endemismo de espécies está associado às ameaças de rápida
perda de habitats.
23
Considerando as Unidades de Conservação de Proteção Integral nos níveis federal e
estadual, cerca de 2,48% da área total está protegida no bioma Cerrado. Se considerarmos
a categoria Uso Sustentável, essencial para ações específicas direcionadas aos recursos
genéticos para alimentação e agricultura, este porcentual cai para apenas 0,03% da área
total do bioma Cerrado. Ressalta-se ainda a preocupação pelo fato de que é sobre este
bioma que houve a maior expansão do agronegócio, com a implantação de vastas áreas
de monocultivos. Outro problema que reduz o número de áreas efetivamente protegidas diz
respeito à falta de implantação de muitas Unidades de Conservação, com carência de
infra-estrutura e pessoal, falta de informações bióticas e abióticas, problemas de
regularização fundiária, ausência de planos de manejo e sistemas de gestão eficientes.
Estes problemas foram bem caracterizados primeiramente para a região Centro-Oeste no
projeto “Realização de levantamento para a identificação das instituições envolvidas com a
conservação ex situ, on farm e in situ de recursos genéticos da flora, da fauna e dos
microrganismos”, executado pela Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia, com apoio
e iniciativa do Ministério do Meio Ambiente. Estes levantamentos, que deverão ser
estendidos para as demais regiões do país, permitirão consolidar um sistema de
informações sobre o que está sendo conservado, as condições de conservação atuais e as
necessidades de melhorias para a conservação dos recursos genéticos. Além da
identificação das instituições envolvidas no tema, esta iniciativa visa: (i) a definição da
representatividade e a abrangência geográfica de cada coleção, tanto em relação às
espécies e populações silvestres quanto de variedades de espécies cultivadas mantidas
em cada coleção e o tamanho de cada acervo; (ii) situação da conservação dos acessos
em cada coleção, seja in situ (reservas genéticas, reservas extrativistas ou de
desenvolvimento sustentável) ou ex situ (câmaras de conservação de sementes, cultura de
tecidos, criogenia e também a campo), bem como os materiais genéticos mantidos na
condição on farm, particularmente pelos agricultores familiares e tradicionais; (iii)
intensidade de intercâmbio praticado nos últimos 10 anos; (iv) atividades de pesquisa
conduzidas em cada coleção e intensidade de uso; (v) indicação da infra-estrutura
disponível em cada local para a manutenção das amostras; e (vi) medidas necessárias a
curto, médio e a longo prazo para manutenção de cada coleção.
Em se tratando de recursos genéticos, a categoria Unidade de Conservação de Uso
Sustentável é a única onde de fato se pode conservar e usar recursos fitogenéticos, ao
contrário da categoria Proteção Integral onde não é possível o uso destes recursos.
Portanto, a conservação de recursos fitogenéticos com uma visão de uso no futuro só pode
ser considerada plenamente, hoje, para as reservas extrativistas, florestas nacionais e
reservas de desenvolvimento sustentáveis, entre outras dentro desta mesma categoria.
Também houve um avanço significativo nos últimos anos com a implementação de muitas
unidades de conservação na categoria Uso Sustentável, particularmente as reservas
extrativistas. Há atualmente 56 Reservas Extrativistas federais, predominantemente na
Amazônia, onde as espécies Bertholettia excelsa (castanheira), Hevea brasiliensis
(seringueira), Euterpe oleracea e Euterpe precatoria (açaí), Theobroma grandiflorum
(cupuaçu) e Attalea speciosa (babaçu) ainda são as principais fontes de extrativismo,
embora a importância do extrativismo continue a diminuir como proporção da subsistência
e renda das famílias. A área total abrange mais de 12 milhões de hectares. As 28 Reservas
Extrativistas estaduais somam mais 2.888.921 ha. Porém, ainda há comunidades que
realizam extrativismo em remanescentes de vegetação natural com acelerado processo de
degradação nos demais biomas.
Importantes fontes para alimentação e alvo de extrativismo em escalas regionais no
Cerrado, como o pequi (Caryocar brasiliense), a cagaita (Eugenia dysenterica), o baru
(Dipteryx alata), o buriti (Mauritia flexuosa), macaúba (Acrocomia aculeata) e a mangaba
(Hancornia speciosa), entre outras, ainda não dispõem de áreas específicas oficiais
significativas para tal fim. Outras categorias de Unidades de Conservação de Uso
Sustentável que poderiam compatibilizar o uso e a conservação in situ de recursos

24
genéticos, com as Reservas de Desenvolvimento Sustentável, ainda são em número
escasso, com apenas uma federal e nove no nível estadual, com uma área total de cerca
de 8.227.032 ha.
Ainda é preciso considerar que algumas unidades de conservação dentro da categoria Uso
Sustentável, como as Áreas de Proteção Ambiental, com uma área total significativa,
principalmente no nível estadual (cerca de 30.711.992 ha), não se qualificam exatamente
como uma área protegida, e sim como um zoneamento de território para ocupação humana
onde a conservação dos recursos naturais é um objetivo secundário. Zonas rurais no
entorno de cidades onde a vegetação nativa foi praticamente eliminada e que estão nesta
categoria são o exemplo mais comum.
As Reservas Genéticas, não enquadradas dentro do SNUC, são unidades de conservação
cujo conceito de criação e estabelecimento, com o objetivo de proteger ecossistemas e
espécies de interesse econômico, não foi disseminado e/ou internalizado pelas instituições
responsáveis pelo fomento e criação de áreas protegidas. Assim, este tipo de unidade de
conservação não sofreu acréscimo nos últimos anos, limitando-se a poucas e pequenas
áreas protegidas nos principais biomas. As categorias classificadas como reserva
extrativista, reserva de desenvolvimento sustentável e floresta nacional podem cumprir a
mesma função prevista para as reservas genéticas e, portanto, não é problemático para a
conservação in situ de recursos fitogenéticos a falta de expansão destas áreas protegidas.
A partir da década de 90, o conceito de corredores de biodiversidade tem direcionado a
criação de Unidades de Conservação para aumentar as conectividades entre as áreas
protegidas já existentes e evitar a formação de ilhas e todos os problemas associados a
este isolamento. Exemplos destes corredores encontram-se principalmente na Amazônia,
onde a Reserva Estadual de Amaná conecta o Parque Nacional do Jaú e a Reserva
Estadual de Desenvolvimento Sustentável de Mamirauá. No Cerrado, as conexões entre a
Estação Ecológica de Serra Geral do Tocantins, o Parque Estadual do Jalapão e o Parque
Nacional Nascentes do Parnaíba formam um conjunto importante em tamanho de área que
também utiliza o conceito de corredores ecológicos.
Também há uma tendência crescente nos esforços de pesquisa que têm sido realizados
em comunidades extrativistas para avaliar a sustentabilidade destas atividades. De forma
geral, os estudos devem responder principalmente questões sobre a dinâmica das
populações sob extração, além da otimização dos sistemas de produção. Outras
considerações importantes devem ser relativas aos vários elos sócio-econômicos das
cadeias produtivas.
Apesar de ainda muito pontuais, algumas iniciativas têm sido realizadas em escalas
maiores, como os projetos de conservação da agrobiodiversidade desenvolvidos em áreas
de agro-extrativismo na Amazônia e em áreas de Cerrado do norte de Minas Gerais, sul do
Ceará (Floresta Nacional do Araripe), Mato Grosso (Parque Indígena do Xingu) e Tocantins
(Terra Indígena Krahô) através do Programa Biodiversidade Brasil-Itália, executado pela
Embrapa e o Instituto Chico Mendes, com a participação de organizações não-
governamentais, movimentos sociais, institutos de pesquisas e universidades. Neste
projeto estão sendo desenvolvidos estudos para conservação in situ e on farm de algumas
espécies nativas, como o pequi (Caryocar brasiliense), a mangaba (Hancornia speciosa) e
o coquinho azedo (Butia capitata), além das variedades crioulas de espécies cultivadas.
Outra iniciativa que merece destaque compreende a realização de estudos para a
avaliação e identificação de áreas e ações prioritárias para conservação, utilização
sustentável e repartição de benefícios da biodiversidade brasileira, sob coordenação do
Ministério do Meio Ambiente, incluindo a participação de diversas organizações não-
governamentais, universidades e institutos de pesquisa, como subsídios à Política Nacional
de Biodiversidade. Esta avaliação indicou 900 áreas consideradas como prioritárias para a
conservação da biodiversidade no país, considerando quatro critérios: extrema importância
biológica; muito alta importância biológica; alta importância biológica; e insuficientemente
25
conhecida, mas de provável interesse biológico. Foram classificadas como de extrema
importância biológica 510 áreas, ou 57% do total. Como resultado desta iniciativa, foram
criadas aproximadamente 57 Unidades de Conservação, baseadas nestes dados.
O Ministério do Meio Ambiente coordenou um levantamento sobre o estado da
conservação das variedades crioulas e dos parentes silvestres de algumas espécies
agrícolas. Executados pela Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária - Embrapa e
pelo Instituto Nacional de Pesquisa da Amazônia – INPA, tiveram como foco específico o
grupo de variedades crioulas e parentes silvestres do algodão, amendoim, arroz, abóbora,
mandioca, milho e pupunha. Este mapeamento incluiu como atividades: a definição
taxonômica dos parentes silvestres; a análise da distribuição geográfica; o status de
conservação; e as medidas necessárias que devem ser tomadas para a conservação
dessas variedades crioulas e dos parentes silvestres.

Outras espécies prioritárias também devem ser incluídas posteriormente, incluindo abacaxi,
cevada, feijão, maracujá e pimenta, dentre outras. A determinação das estratégias
posteriores para conservação in situ destes recursos fitogenéticos depende dessas
informações básicas

3.3. CONSERVAÇÃO ON FARM

A conservação on farm é uma estratégia de conservação reconhecida apenas


recentemente, mesmo sendo uma prática antiga, realizado por todos os agricultores
tradicionais. Ao longo das últimas décadas do século passado a comunidade cientifica que
se preocupa com recursos genéticos reconheceu que a maioria absoluta dos recursos
genéticos do mundo continua nas mãos dos agricultores e que estes agricultores,
especialmente os ditos tradicionais, continuam a conserva-los e melhorá-los como sempre
fizeram. Razões pelas quais a CDB e o Tratado Internacional reconhecem a sua
importância, e buscam mecanismos para apoiá-los.
Conseqüentemente, nos últimos anos aumentou a discussão e apoio por parte de
instituições governamentais e da sociedade civil às ações que tenham em foco o apoio ao
agricultor tradicional, para que este mantenha seu modo tradicional de manejo de plantas e
as espécies e variedades crioulas, incluindo em alguns casos a recuperação de alguns
destes recursos fitogenéticos que porventura tenham perdido.
No entanto, este reconhecimento e apoio ocorrem num ambiente mundial de
desenvolvimento do mercado moderno, muitas vezes chocando-se com o setor do
agronegócio capitalizado, freqüentemente visto como o demolidor dos sistemas
tradicionais. Esta visão contém uma parcela de realidade, pois a maioria das políticas
públicas dirigidas ao meio rural ainda busca modernizar os sistemas tradicionais,
freqüentemente considerados atrasados. Buscando minimizar esta tendência, foi criado o
Ministério de Desenvolvimento Agrário e algumas políticas no MMA, cujo mandato é
atender muitas das demandas do meio rural fora do agronegócio capitalizado.
Entretanto, um dos grandes problemas enfrentados no apoio as agricultores tradicionais é
que os programas de governo utilizam exclusivamente editais competitivos, fragmentados,
de curta duração e sem considerar as especificidades locais, para financiar projetos, de
forma que a continuidade destes programas ainda é um fator limitante. Vale ressaltar que
outros países estão enfrentando situações similares, porque a conservação on farm requer,
de fato, mecanismos de apoio que são diferentes aos instrumentos de fomento do
desenvolvimento convencional no meio rural e no setor agrícola, especialmente.
Dentro deste contexto, estudos e publicações que discutem e reconhecem o papel do
agricultor na conservação das variedades crioulas e dos parentes silvestres das plantas
cultivadas aumentaram consideravelmente nos últimos anos. Muitos destes estudos
enfatizam o dinamismo do processo de manejo local, no campo, onde as plantas ficam em

26
constante exposição aos fatores ambientais locais, permitindo que estas variedades sejam
selecionadas e adaptadas às variações que ocorram (fatores bióticos e abióticos), fazendo
com que sejam uma fonte importante de Recursos Genéticos para serem utilizados no
futuro. Alguns estudos demonstram que os agricultores tradicionais sabem muito bem
selecionar os componentes dos pacotes de modernização oferecidos pelas instituições de
extensão e de P&D que mais lhes convém, permitindo uma modernização do sistema
tradicional dirigida pelos interessados. Quase todos destes estudos demonstram também
que estes agricultores tradicionais modernos continuam a exercitar praticas tradicionais de
agricultora como uso de variedades crioulas e policultivo e criação animal, e portanto a
conservar muitos RG on farm, mostrando que nem sempre a modernização demole a
tradição.
Entretanto a falta de uma sistematização e dificuldade de gerar um modelo de apoio a
estes agricultores faz com que os trabalhos nesta linha tenham focos e profundidades
muito variados; seus resultados são muitas vezes mais subjetivos do que objetivos, mais
qualitativos do que quantitativos, e, deste modo, o registro sistemático dos diversos
trabalhos e a medição do impacto dos esforços sejam ainda muito incipientes. Ou seja, as
iniciativas acabam tendo uma variação muito grande do impacto gerado, algumas com
muito sucesso prático, outras mais políticas e outros com poucos resultados para a
conservação. Deste modo, há uma necessidade de se criar meios de medir este impacto,
para inclusive poder posteriormente direcionar melhor os esforços e recursos.
Dentre os esforços com aspectos positivos se destacam os realizados pela Articulação
Nacional de Agroecologia. Ela reúne em torno de 80 ONGs, movimentos sociais do campo
e redes agroecológicas, congregando os diferentes movimentos sociais existentes no
Brasil, atuando no apoio aos agricultores familiares e tradicionais em ações de resgate,
avaliação, melhoramento, troca de sementes, produção de sementes, entre outros
enfoques, desde a conservação dos recursos genéticos até as questões relacionadas a
direitos e legislação.
Alguns exemplos de linhas de atuação para promoção da conservação on farm que vem
sendo realizadas no Brasil nos últimos anos, promovidos pelo governo e instituições
sociais, são:

3.3.1. Melhoramento Participativo


Será abordado apenas a forma de melhoramento participativo descentralizado, no qual a
comunidade local participa do processo como um todo, recebendo apenas um apoio
técnico externo (governamental e/ou não governamental), podendo nesta ajuda externa
estar incluído o fornecimento de amostras de fora. Este enfoque tem o objetivo de garantir
a sustentabilidade alimentar da comunidade, através da adaptação das plantas à realidade
ambiental e cultural de cada uma destas comunidades envolvidas.
Muitos destes projetos visam atender tanto à subsistência como à geração de renda, via
comercialização de excedentes, criando apoio social para a conservação destes RG on
farm. Infelizmente, a maioria absoluta destes projetos é financiada através de editais
competitivos, de forma que a maioria é de curta duração. Se a duração for suficiente para
completar um ciclo de melhoramento e gerar RG mais produtivos ou com maior demanda
de mercado, o projeto pode deixar um impacto duradouro, mas quando a duração for
insuficiente o impacto não aparece ou desaparece rapidamente.

27
Um exemplo de conservação on farm no Parque Indígena do Xingu, é a forma
remanescente de plantio da mandioca – Manihot esculenta. Uma única família da aldeia
Yawalapiti realiza um ritual religioso durante a implantação de sua roça, denominada “Casa
do Kukurro” (Figura 5). O ritual consiste na construção de dois montes ou covas, situados
no limite externo com a floresta, nos quais são plantadas, em uma mesma cova, todas as
variedades de mandioca de seu portfólio (cerca de 16 variedades), para proteger e
fortalecer a energia das outras plantas da roça. Em termos evolutivos, o agrupamento das
variedades facilita a sua recombinação e o surgimento de novas variedades, as quais são
reconhecidas e cuidadas posteriormente. É uma tradição da linha familiar, com impacto na
diversidade genética da espécie, que corre o risco de ser perdida.

Foto:Fábio Oliveira Freitas

Figura 5 . Plantio tradicional de mandioca (“Casa do Kukurro)

3.3.2. Feiras de Sementes

As feiras de sementes são iniciativas para reunir grupos de agricultores tradicionais para
troca de experiências e sementes. O número, tamanho e o alcance destas feiras têm
crescido nos últimos anos. Entretanto, mesmo tendo como objetivo o resgate, intercâmbio
e a difusão de variedades locais, criando um potencial de conservação de recursos
fitogenéticos dentro de uma rede, a avaliação do real impacto disto para a efetiva
conservação é algo ainda não bem contabilizado e que merece maiores estudos e apoio.

3.3.3. Bancos de Sementes Comunitários


Vem crescendo também nos últimos anos iniciativas que apóiam a criação de bancos
locais de sementes, como forma de assegurar a conservação e perpetuação das
variedades locais.

28
Normalmente os agricultores de uma dada região participam fornecendo parte de suas
sementes para serem guardadas em um local, comumente administrado por eles mesmos,
onde podem buscá-las para a safra seguinte. Isto contribui para proteger os agricultores
quanto à conservação de suas variedades tradicionais e diminuir o risco de possíveis
perdas. Entretanto, as formas utilizadas para esta conservação são ainda muito precárias,
na maioria dos casos, onde, por exemplo, estas sementes ficam expostas a temperaturas e
umidade não totalmente adequadas para a perpetuação de sua viabilidade por muitos
anos. Deste modo, em casos de problemas que ocorram em um dado ano, com perda da
produção e, portanto, não renovação do estoque, pode ocorrer perda de parte destes
recursos. Estudos sobre a viabilidade destes bancos, assim como um maior apoio técnico e
de recursos (equipamentos como geladeira, por exemplo), necessitam ser ampliados no
futuro.

3.3.4. Centros Irradiadores da Agrobiodiversidade – CIMAs


Em 2004, o governo brasileiro, capitaneado pelo Ministério do Meio Ambiente, criou um
programa relativo à agrobiodiversidade, em articulação com os movimentos sociais,
profissionais do setor acadêmico-científico e o não-governamental. Este programa atua
junto a agricultores tradicionais e famílias de agricultores em processo de reforma agrária.
Além dos componentes básicos que compõem a proposta dos CIMAs (sementes e
variedades crioulas, plantas medicinais e fitoterápicos, sistemas agroflorestais,
agroextrativismo e manejo animal alternativo), possui sua ênfase também na recuperação
do passivo ambiental (Áreas de Preservação Permanente e Reservas Legais) nas áreas
dos projetos selecionados.
Os resultados já alcançados com o desenvolvimento desta atividade inclui a
implementação de 10 CIMAs, 142 cursos de capacitação, com o envolvimento de 3.503
agricultores; formação de 242 agentes comunitários; implantação de 430 unidades
demonstrativas; estabelecimento de 30 bancos de sementes comunitários; promoção do
resgate de 123 variedades, especialmente feijão e milho e implantação de 138 SAFs. A
expectativa é que novos CIMAs sejam criados nos próximos anos. Massificar e
desburocratizar este programa auxiliaria a conservação dos recursos genéticos on farm.

3.3.5. Reconhecimento e valorização de populações tradicionais


Com o reconhecimento recente de diversos grupos culturais, categorizando-os como
populações tradicionais, deve haver um aumento nas demandas por terras e/ou
conservação de recursos genéticos, como forma de fortalecer sua própria cultura. Cabe às
instituições publicas e da sociedade civil buscarem garantir que esse processo seja
culturalmente e ambientalmente bem conduzido, por exemplo, na recomposição de
vegetação e cultivos das áreas destinadas a elas, que por ventura estejam total ou
parcialmente degradadas, assim como a tentativa de recuperação dos recursos
fitogenéticos que historicamente cada população utilizava e que possa ter perdido ao longo
do tempo, através do levantamento do estado da arte em que se encontram cada uma
destas populações, com foco em sua alimentação.
Dentre estes, pode-se citar o exemplo das quebradeiras de coco Babaçu. É um grupo
estimado de 400 mil pessoas, formado por mulheres que vivem do extrativismo desta
palmeira. O objetivo deste grupo visa tanto a preservação deste recurso como o livre
acesso a ele, uma vez que a maior parte das populações manejadas destas palmeiras se
encontram dentro de propriedades privada. A pressão sobre o legislativo nacional, mas
principalmente os municipais, permitiu a criação de 14 leis municipais nos estados do
Maranhão, Pará e Tocantins, garantindo a elas a preservação e uso deste recurso.
Entretanto, a implementação da lei muitas vezes não garante o direto efetivo, uma vez que
a fiscalização muitas vezes não é executada de forma adequada.

29
30
CAPÍTULO 4

CONSERVAÇÃO EX SITU DE RECURSOS FITOGENÉTICOS

4.1. HISTÓRICO

Desde o começo da década de 1970, tem havido uma crescente preocupação mundial com
a necessidade de preservar os recursos genéticos, que são necessários para se atender às
demandas de variabilidade genética para os esforços contínuos de melhoramento de
plantas, e que são freqüentemente ameaçados de extinção. Esta ameaça surgiu, entre
outras coisas, do desenvolvimento a dispersão da agricultura moderna. Desde o primeiro
Relatório do Estado dos Recursos Genéticos Mundiais para a Alimentação e a Agricultura,
desenvolveram-se novas ameaças para a conservação da agro-biodiversidade e de
grandes extensões de ecossistemas naturais do Brasil, que são fontes de recursos
genéticos valiosos. As ameaças mais recentes são apresentadas pela expansão potencial
de monoculturas de espécies arbóreas para a produção de celulose sobre áreas
subtropicais de agricultura tradicional ou de manejo das pastagens naturais, assim como
pelo estabelecimento de novas áreas de cultivo de cana de açúcar, para fins energéticos,
sobre áreas de agricultura e pecuária do Brasil Tropical, forçando o deslocamento destas
atividades para áreas florestais até agora preservadas. Entretanto, o planejamento
governamental está consciente dessas tendências e os protocolos de licenciamento
ambiental levam em consideração o potencial dessas ameaças crescentes.
Nos anos 70, a FAO estimulou o estabelecimento de uma rede mundial de Centros para
Conservação de Recursos Genéticos, situados nas regiões de mais alta variabilidade
genética. Em 1974, o Consultative Group for International Agricultural Research (CGIAR)
criou o International Board for Plant Genetic Resources (IBPGR), hoje transformado no
Bioversity International. No mesmo ano, a EMBRAPA criou uma unidade de pesquisa, cuja
missão básica era “coordenar os meios apropriados de manejo dos recursos genéticos do
país”. Esta unidade foi denominada Centro Nacional de Recursos Genéticos
(CENARGEN). Em 1984, o CENARGEN também incorporou atividades de pesquisa com
utilização da biotecnologia, voltadas à conservação e utilização dos recursos genéticos. O
nome do órgão foi modificado para Centro Nacional de Pesquisa de Recursos Genéticos e
Biotecnologia, mas sua sigla foi mantida. Mais recentemente, foi adotada a assinatura
síntese Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia.
Antes do estabelecimento do CENARGEN, as atividades relativas aos recursos genéticos
eram conduzidas, no Brasil (com algumas raras exceções), de um modo casual e
esporádico. Freqüentemente havia lacunas em áreas relevantes da pesquisa e duplicações
em outras áreas através do país. Até aquele ponto, as atividades de rotina de introdução,
coleta, e de modo mais importante, de conservação de germoplasma, dependiam
grandemente do esforço, interesse, entusiasmo e relacionamento pessoal de
pesquisadores individuais. Entretanto, deve ser reconhecido que algumas instituições,
dedicadas a amplas áreas de pesquisa de certos produtos, foram pioneiras na formação e
manutenção de bancos de germoplasma.
Alguns exemplos bem conhecidos e bem sucedidos disto são: o Instituto Agronômico do
Estado de São Paulo, localizado em Campinas (IAC), liderando o trabalho com café e cana
de açúcar, o Instituto do Açúcar e do Álcool (IAA) e a Cooperativa dos Produtores de Cana
de Açúcar (COPERSUCAR), trabalhando em neste cultivo, a Comissão Executiva do Plano
da Lavoura Cacaueira, trabalhando com o cacau, a Escola Superior de Agricultura Luiz de
Queiroz (ESALQ/USP), tratando do milho e hortaliças, e a Universidade Federal de Viçosa
(UFV), que conduz, tradicionalmente, estudos sobre o feijão e a soja.
Todavia, em sua maioria, essas coleções eram incompletas ou tinham por alvo a solução
de problemas imediatos e bastante específicos. A perda de materiais antigos, ou mesmo
31
recentemente introduzidos, era um problema constante. Esta situação, enfatizada pelo
aspecto de que a maior parte dos cultivos alimentares usados no país é de origem exótica,
colocava o Brasil em uma posição de forte dependência de germoplasma exótico.
Além disto, a documentação das coleções e/ou os processos de divulgação eram
precários, o que complicava, grandemente, o intercâmbio de germoplasma, tanto em
termos nacionais, quanto internacionais.

4.2 CONSERVAÇÃO EX SITU

Com a criação da Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia e a consolidação do


Sistema Cooperativo de Pesquisa Agropecuária (SCPA), hoje denominado Sistema
Nacional de Pesquisa Agropecuária (SNPA), estabeleceu-se um ambiente propício para
uma rede nacional de recursos genéticos. Isto ajudou a organizar e tornar mais eficientes
as seguintes atividades: Coleta, Intercâmbio e Quarentena, Caracterização, Avaliação,
Documentação, e de modo mais importante, a Conservação e Utilização de Germoplasma.
O SNPA é formado em parte pela EMBRAPA, com suas 41 unidades de pesquisa, suas
corporações congêneres suportadas pela maioria dos estados brasileiros, bem como
outras instituições federais e estaduais de pesquisa agrícola, universidades e empresas
públicas ou privadas, direta ou indiretamente vinculadas à pesquisa agrícola. A maioria das
iniciativas para a conservação de germoplasma vegetal disponível em Brasil (assim como
aquelas relacionadas ao germoplasma animal e de microrganismos) foram integradas
recentemente sob uma Plataforma Cooperativa de Recursos Genéticos, que inclui a
EMBRAPA e muitas instituições associadas.
Diversas novas iniciativas foram estabelecidas no Brasil, em anos recentes, para a
conservação de recursos genéticos. Entretanto, algumas delas não consideram a liberação
ou intercâmbio de germoplasma fora de sua própria circunscrição. Embora tais iniciativas
possam ajudar a preservar a variabilidade para o futuro e, com o tempo, até possam abrir
seu germoplasma para o uso público, não há qualquer evidência, presentemente, de que
tais segmentos da variabilidade algum dia venham a ser disponibilizados. Outras iniciativas
e programas não estão equipados com as facilidades necessárias para conservar o
germoplasma com segurança, e melhor se ajustariam à definição de “coleções de
trabalho”, mas estas podem ter duplicatas de seus acessos incorporadas, atualmente ou no
futuro, a estruturas formais de conservação de recursos genéticos.
Esforços concretos voltados à conservação regional cooperativa de recursos genéticos têm
sido desenvolvidos recentemente pela Rede de Recursos Genéticos Vegetais do Estado da
Bahia, que congrega, na maior parte, pesquisadores, quadros científicos de universidades
e estudantes de pós-graduação, mas é aberta à participação de qualquer pessoa
interessada. Os bancos ativos de germoplasma envolvidos nesta rede conservam acima de
80.000 acessos e foi estabelecida uma colaboração fluente com a Embrapa Recursos
Genéticos e Biotecnologia.
Os jardins botânicos têm conservado tradicionalmente espécie vegetais importantes, mas
geralmente não em uma base populacional. Freqüentemente eles mantêm muitas espécies
a partir de um ou poucos indivíduos representativos. Entretanto, a Rede Brasileira de
Jardins Botânicos foi estabelecida e pode-se antecipar sua participação crescente nos
esforços para conservar adequadamente ex situ segmentos relevantes da diversidade
vegetal brasileira. Geralmente, os jardins botânicos atribuem uma grande prioridade à
conservação de espécies sob ameaça de extinção, e este alvo pode coincidir,
eventualmente, com os objetivos da conservação de parentes silvestres nativos de
espécies cultivadas e de muitas outras plantas com potencial para o uso agrícola.
Com a participação de todas estas diferentes entidades, a Rede Nacional mantêm
presentemente 350 Bancos Ativos de Germoplasma Vegetal (BAGs), sendo 155 no
sistema Embrapa e 195 nas demais instituições do SNPA. A distibuição dos BAGs nos

32
estados brasileiros que atuam, em conjunção com a Embrapa Recursos Genéticos e
Biotecnologia pode ser vista na Figura 6. Cinquenta e dois por cento desses BAGs
conservam apenas espécies exóticas, enquanto 32% conservam apenas espécies nativas
e os 16% restantes conservam, ao mesmo tempo, espécies nativas e exóticas. O alto
percentual de espécies exóticas conservadas reflete sua importância para agricultura e
alimentação no Brasil.
Deve-se observar que valores mais elevados em termos dos números de bancos de
germoplasma, de localidades e de instituições envolvidas não significam necessariamente
uma conservação mais ampla das espécies ou das plantas cultivadas envolvidas, uma vez
que muitos Bancos de Germoplasma contêm em duplicata uma quantidade significativa de
seus acessos (por exemplo, os de feijão e de cucurbitáceas), e outros (por exemplo, os de
plantas forrageiras) têm-se tornado mais especializados, em realidade reduzindo o número
de espécies consideradas. Por outro lado, esta especialização tem resultado, geralmente,
em um aumento significativo do número de acessos mantidos das espécies mais restritas.
A coleção de base (COLBASE) de germoplasma vegetal é mantida na Embrapa Recursos
Genéticos e Biotecnologia, e as coleções ativas são mantidas nos respectivos BAGs. Um
levantamento atualizado este Sistema mostrou que, no Brasil, há mais de 170.000 acessos
de germoplasma vegetal, incluindo duplicatas, com cerca de 107.000 armazenados na
COLBASE e cerca de 63.000 em outras coleções (ver Tabela 4).

Figura 5. Distribuição dos Bancos Ativos de


Germoplasma nos Estados Brasileiros
As espécies nativas abrangem plantas cultivadas locais, tradicionais, ou plantas colhidas
rotineiramente in situ para o consumo direto, tal como fruteiras nativas, e também um grupo
relevante representado pelos parentes silvestres brasileiros de espécies cultivadas nativas
e exóticas, tais como a mandioca (Manihot spp), o caju (Anacardium spp), abacaxi (Ananas
spp), maracujá (Passiflora spp), seringueira (Hevea spp), pimentas (Capsicum spp), batata
doce (Ipomoea spp), amendoim (Arachis spp), arroz (Oryza spp), batata (Solanum spp -
sect. Tuberarium) e a cevada (Hordeum spp). Os parentes silvestres que ocorrem no Brasil
incluem eventualmente todas as espécies conhecidas, em gêneros tais como Anacardium
e Hevea, compreendem 85 espécies de Manihot e de 64 de Arachis, que correspondem
acerca de 80% das espécies existentes em tais gêneros, ou mostram uma representação
genérica pobre, mas não mais menos importante, como as quatro espécies locais de
Oryza, três do Solanum (sect. Tuberarium), duas de Hordeum e uma de Gossypium.

33
Espécies forrageiras nativas de diversos gêneros de gramíneas ou leguminosas (tais como
Centrosema, Cratylia, Stylosanthes, Trifolium, Vicia, Bromus, Paspalum), árvores florestais
nativas, plantas medicinais (Dimorphandra, Maytenus), ornamentais (Heliconia) e
industriais (Paulinia), são continuamente adicionadas ao acervo dos bancos ativos de
germoplasma.
Vê-se claramente que as maiores coleções de germoplasma são de espécies exóticas, que
incluem, principalmente, produtos do interesse social e econômico, de modo que sua
manutenção e ampliação são estrategicamente necessárias.
É oportuno indicar que as principais plantas cultivadas alimentícias de importância para
Brasil são dependentes de germoplasma exótico. Quase 95% dos acessos de cereais
conservados no país, em coleções de SNPA, são de espécies exóticas. A manutenção e o
enriquecimento contínuo da variabilidade genética destas coleções tem sido uma fonte
constante de preocupação, especialmente sob os potenciais cenários futuros de
crescimento das limitações ao intercâmbio internacional. Basicamente, cada banco ativo de
germoplasma considera que há necessidade de enriquecimento taxonômico, geográfico e
genético de seus acervos.
As Tabelas 1A a 10A do Anexo listam as espécies conservadas no SNPA (exceto na
COLBASE), bem como as instituições que as conservam, com o respectivo número de
acessos e a indicação de sua origem (E = exóticos, L = raças locais ou “landraces” e N =
nativos). Observa-se que o feijão, cultivo de grande importância social para o País, é o
produto com maior número de acessos (14.460) seguido pela soja (com 13.300 acessos),
que é o principal produto de exportação do Brasil.

Tabela 4. Gêneros e respectivos números de acessos de germoplasma vegetal mantidos na


Coleção de Base (COLBASE)

Número de Número de
Gênero acessos % Gênero acessos %

Hordeum 29227 27,8 Centrosema 467 0,4


Phaseolus 14069 13,4 Brachiaria 400 0,4
Oryza 9989 9,5 Allium 312 0,3
Glycine 9177 8,7 Panicum 302 0,3
Vigna 5744 5,5 Cajanus 279 0,3
Triticum 5653 5,4 Lagenaria 279 0,3
Zea 4149 3,9 Citrullus 262 0,2
Sorghum 3615 3,4 Cucumis 239 0,2
Gossypium 3179 3,0 Abelmoschus 200 0,2
Amaranthus 2328 2,2 Pennisetum 162 0,2
Helianthus 2312 2,2 Vicia 144 0,1
Sesamum 1950 1,9 Luffa 144 0,1
Cucurbita 1888 1,8 Cuphea 135 0,1
Pisum 1567 1,5 Ipomoea 127 0,1
Lycopersicon 1439 1,4 Nicotiana 114 0,1
Ricinus 778 0,7 Medicago 108 0,1
Brassica 761 0,7 Aegilops 96 0,1
Arachis 702 0,7 Desmodium 87 0,1
Stylosanthes 564 0,5 Aeschynomene 75 0,1
Avena 511 0,5 Capsicum 473 0,4
Solanum 489 0,5 Outros 2753 2,0
Capsicum 473 0,4 Total 107249 100,0
A conservação ex situ no Brasil é rotineiramente realizada pela conservação de sementes
em câmaras frias, pela conservação in vitro, e pela conservação a campo. A
criopreservação em nitrogênio líquido (implementada em passo mais rápido para o
germoplasma animal) ainda está em estágio experimental na EMBRAPA e em algumas

34
instituições associadas, no que toca ao germoplasma vegetal. A infra-estrutura para sua
utilização disseminada ainda está abaixo dos padrões ideais, mas está sendo dada
prioridade à capacitação e estão sob o desenvolvimento protocolos específicos.
No sistema brasileiro de recursos genéticos, a conservação em longo prazo do
germoplasma tem sido realizada principalmente pela conservação de sementes ortodoxas
em câmaras a temperatura abaixo de zero (Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia
e Instituto Agronômico de Campinas - IAC). As sementes ortodoxas também são
armazenadas em câmaras frias em temperaturas acima de zero por períodos curtos e
médios de conservação. O número dos bancos ativos de germoplasma equipados com
câmaras frias acima de zero cresceu significativamente, em unidades de EMBRAPA e em
outras instituições associadas, desde o primeiro Relatório Mundial sobre a Situação dos
Recursos Fitogenéticos para a Alimentação e a Agricultura. Entretanto, a regeneração
periódica da semente continua sendo reconhecida como um ponto de estrangulamento em
muitos bancos ativos de germoplasma, especialmente quando é necessário o isolamento
dos acessos em multiplicação. Por outro lado, foram estabelecidas coleções nucleares
para diversos cultivos com sementes ortodoxas (milho, arroz, feijão). Sua multiplicação é
também uma responsabilidade dos bancos ativos específicos de germoplasma, mas ao
menos essas coleções são reconhecidas por enfatizar as possibilidades da utilização do
germoplasma, acrescentando valor, por decorrência, aos bancos de germoplasma
envolvidos.
Para espécies com sementes recalcitrantes, a conservação in vitro, a curto e médio prazo,
bem como a conservação a campo por meio de coleções de plantas vivas, já mostraram
ser alternativas promissoras para a conservação, e são implementadas rotineiramente.
A conservação a campo de plantas perenes, realizada nas unidades com bancos ativos de
germoplasma, é cara e exige muito trabalho, exigindo mão de obra altamente treinada. Um
outro problema que este sistema apresenta é a vulnerabilidade das plantas, uma vez que
estão expostas a um número de fatores bióticos e abióticos adversos. Muitos desses
cultivos são conservados de modo complementar in vitro, e a conservação de pólen é
realizada em algumas coleções de árvores frutíferas. A falta ou instabilidade de
financiamento afetam fortemente algumas das coleções da plantas vivas, especialmente
aquelas estabelecidas sobre maiores extensões de terra, em que a manutenção dos
campos experimentais em boas condições de limpeza já é por si só, uma séria dificuldade.
A coleção de base do país (COLBASE), situada na Embrapa Recursos Genéticos e
Biotecnologia, tem cinco câmaras disponíveis com uma capacidade atual de manutenção
acima de 250.000 acessos (558m3). Estas câmaras frias de armazenamento operam à
temperatura de -20°C e são projetadas para conservar sementes por um período de tempo
muito longo. O germoplasma mantido na COLBASE é monitorado periodicamente. Pedidos
de germoplasma são atendidos geralmente através dos bancos ativos específicos de
germoplasma dos cultivos em pauta. Sempre que necessário distribuir a partir da
COLBASE, são feitos arranjos para garantir a regeneração adequada em paralelo. No
Instituto Agronômico de Campinas (IAC) há duas câmaras frias de armazenamento
operando a -10ºC.
As instalações para conservação de sementes em longo prazo tem infra-estrutura
adequada para realizar as seguintes atividades: recepção, preparação, controle de
qualidade quanto às condições fisiológicas e fito-sanitárias, empacotamento e
documentação do germoplasma armazenado (utilizando códigos de barra), e casas de
vegetação e telados acessórios para a multiplicação e regeneração estratégica do
germoplasma que, por razões eventuais, não pode ser conduzida nos bancos ativos de
germoplasma. Alguns bancos ativos de germoplasma multiplicam suas amostras suas
amostras em campos únicos, mas alguns cultivos específicos, como o milho, exigem muito
trabalho e disponibilidade de áreas extras de cultivo, para manter o isolamento necessário
durante a multiplicação. O planejamento adequado da rotina dos bancos facilita a
35
integração de atividades simultâneas de conservação e caracterização, mas, em muitos
casos, é necessário o estabelecimento de campos distintos para estes diferentes objetivos.
Para a conservação in vitro, são utilizadas duas câmaras especiais, assim como o
Laboratório de Cultura In vitro (LCV), com uma sala respectiva de isolamento, para a
preparação dos materiais. Há uma câmara para a espécie de clima temperado ou
subtropical, mantida a 10°C. A outra câmara, projetada para espécies de clima tropical, é
mantida a 19°C. Instalações similares estão disponíveis, para determinadas espécies
cultivadas, mas, na maior parte, para aquelas de propagação clonal, em diversas unidades
de EMBRAPA e instituições associadas (IAC, Universidade de Estado de Rio de
Janeiro/UERJ).
Além do trabalho rotineiro de conservação, vem sendo desenvolvidas pesquisas com
sementes de espécies nunca antes estudadas. Estes estudos incluem as áreas de
anatomia, fisiologia e de patologia. O objetivo de longo prazo destes estudos é consolidar o
sistema de conservação de germoplasma, com informação científica original.
O objetivo destes estudos é classificar os distintos tipos de sementes (recalcitrantes,
ortodoxas, ou intermediárias), de acordo com seu comportamento e determinar
metodologias apropriadas e protocolos de rotina para sua conservação em longo prazo.
Na mesma maneira, tem sido desenvolvida pesquisa com criopreservação, usando-se, não
somente sementes, mas também outros tipos de materiais vegetais, especialmente na
situação das espécies tropicais autóctones produtoras de sementes recalcitrantes.
O sistema brasileiro de conservação de recursos genéticos adotou os padrões
internacionais da qualidade da semente, estabelecidos pelo Bioversity International e FAO,
fazendo ajustes quando necessário, o que depende de circunstâncias distintas e das
espécies que estão sendo conservadas. As regras da International Seed Testing
Association/ISTA são seguidas para as espécies com parâmetros fisiológicos bem
conhecidos.
A multiplicação e a regeneração são realizadas geralmente nos bancos ativos de
germoplasma, onde as coleções ativas são mantidas. Além das coleções ativas, algumas
unidades ou instituições que abrigam bancos de germoplasma têm a capacidade manter
coleções para conservação em longo prazo, notavelmente de espécies perenes
conservadas a campo. Neste caso, as coleções são usadas não somente para as
atividades inerentes à conservação de recursos genéticos, mas também para o
melhoramento.
Embora conduzido no âmbito da pesquisa agropecuária, o Sistema Brasileiro de
Conservação Ex Situ de Recursos Genéticos contribui significativamente para a
conservação integral da diversidade vegetal, e tem potencial para uma atuação mais ampla
no país, não só porque muitas espécies nativas têm interesse potencial para a agricultura e
para atividades a ela relacionadas, mas também por manter disponíveis instalações físicas,
onde materiais de quaisquer outras espécies de plantas podem ser adequadamente
armazenados, sempre que os arranjos necessários possam ser negociados neste sentido.
Em linha com a Estratégia Global para Conservação de Plantas, por exemplo, tais
instalações estão preparadas para ajudar o país a alcançar as metas específicas de
conservação ex situ de espécies vegetais brasileiras ameaçadas. A conservação de
germoplasma com vistas à recuperação de áreas e para a restauração de comunidades
vegetais, dois temas importantes de iniciativas mais orientadas para aspectos ambientais,
é baseado freqüentemente na utilização de espécies não tradicionalmente cultivadas, em
cujo manejo as instituições envolvidas raramente estão equipadas para conduzir um bom
trabalho de multiplicação e conservação. A conservação e multiplicação colaborativa de tal
germoplasma seria um bom exemplo do potencial para o uso cooperativo e complementar
das instalações disponíveis.

36
Outro benefício das atividades de conservação de germoplasma vegetal mantidas no
Sistema Brasileiro é sua utilidade como temas para o treinamento de estudantes de
graduação e pós-graduação, o que tem é servido como um fator de ligação, estimulando a
colaboração com o sistema universitário e favorecendo o estabelecimento de redes
regionais produtivas de recursos genéticos.

4.3. CARACTERIZAÇÃO E AVALIAÇÃO


O Brasil tem coleções relevantes de germoplasma da maioria dos produtos agrícolas de
interesse para o consumo humano, para a agroindústria e para exportação. Estas coleções
vêm sendo enriquecidas continuamente, através de material novo, que é introduzido ou
coletado. Não obstante, o grau de utilização da variabilidade disponível ainda está abaixo
da expectativa, devido à falta de intensidade da caracterização e avaliação dos acessos
para seu uso direto ou em programas de melhoramento genético de plantas.
Dentro deste contexto, os estudos desenvolvidos no SNPA têm os seguintes objetivos:
• caracterizar e avaliar o germoplasma coletado ou introduzido no país, com base em
seus atributos taxonômicos, morfológicos, citogenéticos, bioquímicos e moleculares;
• realizar estudos biológicos básicos, a respeito do fluxo gênico e da determinação
dos sistemas reprodutivos;
• analisar e estimar a viabilidade de germinação dos grãos de pólen;
• estudar a instabilidade genética no germoplasma, por métodos citogenéticos e
bioquímicos;
• identificar marcadores relacionados aos distintos níveis de ploidia, modos de
reprodução e mecanismos de polinização;
• desenvolver, consolidar e adaptar metodologias para a caracterização dos recursos
genéticos nas seguintes áreas: taxonomia, morfologia, citogenética, bioquímica e
biologia molecular; e
• promover e fornecer treinamento de recursos humanos na área de caracterização
biológica e especialmente genética.
No SNPA, a caracterização e avaliação são consideradas duas atividades distintas, que
devem ter fundamentos multidisciplinares, necessitam ser específicas para grupos de
plantas que têm um número limitado de acessos, e requerem objetividade.
A caracterização considera aspectos simples e mais descritivos. Quando é de natureza
experimental, os aspectos que examina tendem a ser mais sofisticados. A avaliação, no
entanto, é realizada sempre em comparação com parâmetros conhecidos. O alvo mínimo a
ser alcançado, quando se considera o desempenho, é a perspectiva de uso do acesso em
pauta (ou seja, sua utilidade potencial).
Quando bem direcionadas, a caracterização e a avaliação garantem benefícios adicionais:
• permitem a identificação de duplicatas;
• o desenvolvimento de coleções nucleares; e
• a identificação dos modos de reprodução dos acessos.
Os estágios fundamentais da caracterização e da avaliação incluem:
• a identificação botânica correta de cada acesso;
• a elaboração de um cadastro detalhado dos acessos para cada espécie;
• a caracterização biológica, por si mesmo, baseada em atributos que são
principalmente qualitativos e de alta herdabilidade, que é executada pela aplicação
de listas de descritores;
• a avaliação preliminar, baseada em caracteres mais quantitativos, sempre em
contraste com parâmetros conhecidos; e
37
• a avaliação mais aprofundada, realizada sobre um número menor de acessos, que
permite delineamentos adequados, em experimentos com duplicação temporal e
locacional.
Em relação à caracterização biológica, o uso disciplinado dos descritores é o meio mais
eficiente para buscar a informação desejada. Não obstante, fatores limitantes de natureza
física, temporal, humana e financeira exigem objetividade em seu uso.
Diversos grupos de acessos de germoplasma disponíveis no Brasil mostram situações
distintas, com relação à aplicação de descritores padronizados:
• No grupo mais privilegiado, há manuais internacionais de descritores e mesmo
listas de descritores adaptadas à variabilidade presente no Brasil. Uma grande
parte dos descritores vem sendo aplicada a uma grande parcela dos acessos
disponíveis.
• Há grupos de acessos com descritores internacionais disponíveis, mas com um
nível ainda baixo da aplicação em bancos de germoplasma brasileiros.
• Também há situações em que os descritores internacionais ainda necessitam ser
adaptados para o uso.
• Em outros casos, é necessário criar a própria lista específica dos descritores
(idealmente analisando a capacidade discriminatória dos descritores propostos)
• Outros grupos, em geral englobando espécies nativas associadas com espécies
cultivadas, ainda requerem uma identificação taxonômica correta da maioria de
seus acessos.
• Em outras situações, nem há revisões taxonômicas disponíveis.
• Por fim, há os grupos em que a aplicação de qualquer descritor sem conhecimento
dos modos de reprodução conduz meramente à acumulação de dados de difícil
interpretação.
No SNPA, estão sendo desenvolvidas pesquisas voltadas à caracterização morfológica,
citogenética, genético-bioquímica e molecular. A caracterização morfológica e a avaliação
agronômica vêm sendo conduzidas de modo parcial, tanto quanto ao número dos
descritores quanto ao número de acessos, na rede de bancos ativos de germoplasma.
No que toca aos aspectos bioquímicos e citogenéticos, estes têm se restringido a
determinados laboratórios do SNPA, que têm a infra-estrutura e, mais importante, pessoal
treinado para realizar estas atividades. No entanto, a caracterização molecular tornou-se
muito popular na última década, e seu uso é difundido, especialmente nos bancos ativos de
germoplasma que têm alguma interação com cursos de pós-graduação de universidades
colaboradoras.
A Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia, além de ser equipado com boa infra-
estrutura, tem uma equipe de pesquisa especializada. Isto permite que a unidade não
somente conduza a caracterização de certos materiais, mas também aja como
disseminadora de técnicas modernas, com programas de treinamento e cursos, que
oferece aos técnicos e pesquisadores de universidades e outras instituições.
O Brasil, seguindo as políticas do antigo IBPGR, depois denominado IPGRI e agora
Bioversity internacional, investiu em atividades da introdução de materiais novos no país,
na coleta e na conservação de germoplasma durante as décadas de 1970 e 1980. Porém,
neste mesmo tempo, as atividades da caracterização e avaliação mantiveram-se
marginalizadas. Por esta razão, uma grande coleção de materiais conservados existe
dentro do país, porém somente uma pequena porcentagem desta coleção foi caracterizada
e avaliada, e a informação existente ainda é incompleta.

38
O grande volume de germoplasma que ainda necessita ser caracterizado e avaliado, junto
com a natureza lenta destas atividades e as limitações que existem, de natureza técnica,
política, financeira e de pessoal, indicam que esta situação continuará por um bom tempo.

Entretanto, desde o primeiro Relatório sobre a Situação Mundial dos Recursos


Fitogenéticos para a Alimentação e a Agricultura, métodos modernos de caracterização
bioquímica e molecular passaram a ser crescentemente utilizados e mesmo desenvolvidos
na Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia e na maioria de suas instituições
associadas e, sem dúvida, contribuíram para um incremento relevante no desenvolvimento
da pesquisa vegetal no país. Isto vem encurtando rapidamente o tempo necessário para
conclusão do trabalho de caracterização da diversidade genética, ou mesmo para a
obtenção de conhecimentos genéticos importantes, que enfatizam as possibilidades de
utilização de acessos específicos em programas de melhoramento, incluindo, naqueles
mais sofisticados, o mapeamento genético e a seleção assistida por marcadores.

4.4. SISTEMA DE CURADORIA DE GERMOPLASMA DA EMBRAPA

4.4.1.Histórico do Sistema de Curadorias de Germoplasma

Desde o final da década de 70 e inicio da década de 80, o Cenargen sentiu a necessidade


de um sistema que promovesse a integração das atividades internas do Centro com as
atividades desenvolvidas nos Bancos Ativos de Germoplasma (BAGs), e principalmente
uma interação entre os BAGs. Para tanto foi criada a coordenação de Bancos Ativos de
Germoplasma. Composta inicialmente por três pesquisadores lotados no Cenargen com a
missão de promover a integração das distintas atividades de recursos genéticos, quer
fossem desenvolvidas neste Centro ou em qualquer outra Unidade ou Instituição. Esse foi
o embrião do atual Sistema de Curadorias de germoplasma da Embrapa.
Essas atividades foram evoluindo gradualmente, sempre com a visão global dos recursos
genéticos de um produto ou grupo de produtos. Caracterizou-se por tratar-se de um
sistema pioneiro, e como tal demorou mais de uma década para consolidar-se. Muitas
vezes o sistema foi discutido e avaliado, principalmente porque não era um sistema
formalizado, mas mesmo assim sobreviveu por vários anos na informalidade, e cada vez
mais se mostrava eficiente e consistente.
Diante disso, em 1993, a Diretoria Executiva da Embrapa julgou que seria importante e
oportuno criar um sistema oficial da empresa para o fim especifico de dar legitimidade a
essas atividades de manejo de germoplasma. Assim, o Sistema de Curadorias de
Germoplasma foi criado, através da Deliberação 028/93, publicada no BCA Nº. 29 de 07
de junho de 1993. Em 1999, este Sistema foi ampliado e melhorado (BCA Nº. 030/99 de 9
de agosto de 1999). Seur objetivo é: “definir, sistematizar e integrar todas as atividades
indispensáveis ao manejo, conservação e uso de germoplasma, no âmbito da Empresa, no
contexto do programa de conservação e uso de recursos genéticos da Embrapa”.

4.4.2. Estrutura Organizacional do Sistema de Curadorias de Germoplasma


O Sistema de Curadorias de Germoplasma da Embrapa está estruturado da seguinte
forma: (a) um Supervisor do Sistema, ligado diretamente à Chefia de Pesquisa e
Desenvolvimento da Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia; (b) Curadores de
produtos ou de grupos de produtos e seus Curadores Adjuntos, sendo atualmente todos da
Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia; (c) Curadores de Bancos de Germoplasma,
lotados nas Unidades da Embrapa, que detenham Bancos de Germoplasma; e (d)
Curadores Ad hoc de produto ou de grupo de produtos, que assessoram os Curadores nas
suas atividades e podem ser de qualquer instituição privada ou pública do País.
O Supervisor do Sistema de Curadorias é indicado pelo Chefe Geral da Embrapa Recursos
Genéticos e Biotecnologia e nomeado pelo Diretor-Presidente da Embrapa. Os
39
curadores e curadores adjuntos de produtos ou grupos de produtos são escolhidos pelo
Supervisor do Sistema de Curadorias e nomeados por Ordem de Serviço, pelo Chefe Geral
da Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia. Os curadores de bancos de
germoplasma são indicados pelos respectivos Chefes Gerais das Unidades mantenedoras
dos bancos e designados pelo Diretor - Presidente da Embrapa. Em 2008, existem 38
Curadores de Produtos ou Grupos de Produtos, 35 Curadores Adjuntos, 111 Curadores de
Bancos de Germoplasma, além de Curadores Ad hoc, perfazendo um total de cerca de 200
pessoas.
Como a diversidade dos produtos vegetais, animais e de microrganismos de importância
para o País é muito grande, e considerando-se a impossibilidade de se ter na Embrapa
Recursos Genéticos e Biotecnologia um Curador para cada produto, a Supervisão do
Sistema de Curadorias agrupou os produtos semelhantes em 10 grupos. Os 10 grandes
grupos de produtos são divididos em subgrupos e/ou produtos individualizados. Cada um
desses subgrupos ou produtos constitui-se numa curadoria, que ficou sob a
responsabilidade de um Curador e, em alguns casos, de um Curador Adjunto (Tabela 5).

Tabela 5. Sistema de Curadoria por Grupos de Produtos

GRUPO CURADORIAS

Grupo 1: Animais Domésticos Animais de Grande Porte


Animais de Pequeno Porte
Animais Silvestres
Animais – DNA
Grupo 2: Microrganismos Microrganismos de Interesse Alimentar e Medicinal
Microrganismos de Controle Biológico
Microrganismos de Interesse Veterinário
Microrganismos Fitopatogênicos
Microrganismos do Solo
Microrganismos - DNA
Grupo 3: Adoçantes, Corantes, Estimulantes e Adoçantes e Estimulantes
Condimentares Corantes e Condimentares
Grupo 4: Medicinais, Biocidas e Aromáticas Medicinais e aromáticas
Biocidas
Grupo 5: Cereais Cereais de Inverno
Cereais de Verão
Pseudocereais
Grupo 6: Florestais, Laticíferas e Palmeiras Espécies Florestais Nativas da Caatinga
Espécies Florestais Nativas da Amazônia
Espécies Florestais Nativas do Cerrado e Pantanal
Espécies Florestais Nativas da Mata Atlântica
Espécies Florestais Exóticas
Espécies Laticíferas
Palmeiras
Bambus
Grupo 7: Fibrosas, Oleaginosas e Leguminosas Fibrosas
Oleaginosas
Legumiinosas
Grupo 8: Forrageiras e Adubos Verdes Gramíneas Forrageiras
Leguminosas Forrageiras e Adubos Verdes
Outras Forrageiras
Grupo 9: Fruteiras Fruteiras Convenvionais de Clima Temperado
Fruteiras Convencionais de Clima
Tropical/Subtropical
Fruteiras Não Convencionais
Fruteiras – DNA
Grupo 10: Hortaliças, Raízes e Tubérculos e Hortaliças
Ornamentais Hortaliças Não Convencionais
Ornamentais
Raízes e Tubérculos

40
CAPÍTULO 5

UTILIZAÇÃO DE RECURSOS FITOGENÉTICOS

5.1. INTRODUÇÃO
O Plano Global de Ação para Recursos Genéticos para Agricultura e Alimentação (PGA),
aprovado durante a 4ª Conferência Técnica Internacional para Recursos Genéticos de
Plantas (Leipzig, Alemanha, em 1996), enfatiza que somente através do uso é que os
benefícios sociais e econômicos da conservação dos recursos genéticos vegetais (RGVs)
podem ser compreendidos.
Todavia, a baixa utilização dos acessos disponíveis em bancos de germoplasma é uma
realidade mundial, que se estende também ao Brasil, considerando a diversidade disponível
no País. Dentre as várias causas desse fenômeno, citam-se como principais: a falta de
documentação e descrição adequada das coleções; a falta de informações desejadas pelos
melhoristas; adaptação restrita dos acessos; número insuficiente de melhoristas,
principalmente nos países em desenvolvimento; falta de avaliação das coleções; pouca
disponibilidade de sementes devido a esquemas de regeneração inadequados; troca de
materiais entre os melhoristas; satisfação dos melhoristas com a variabilidade genética
encontrada nos materiais elites; dificuldade de identificar genes potencialmente úteis; e
ausência de programas de pré-melhoramento (pre-breeding).
O conhecimento de genes potencialmente úteis e sua incorporação em cultivares elite, vem
sendo de grande importância para subsidiar a utilização dos recursos genéticos e ampliar a
base genética dos programas de melhoramento. Nesse sentido, as pesquisas envolvendo
a prospecção, conservação e caracterização de germoplasma têm assumido importância
estratégica no País.
Em hortaliças, diversos esforços têm sido realizados no sentido da eficiente e eficaz utilização
da variabilidade conservada em BAGs. Na cultura de batata doce (Ipomoea batatas), as
atividades têm por objetivo a identificação de resistência a potyvirus, Alternaria, nematóides e
insetos de solo (Diabrotica). Em cebola (Allium cepa), as atividades se concentram em
qualidade de bulbo e capacidade de bulbificação em condições de elevada temperatura.
Com relação a abóboras (Cucurbita moschata) e morangas (C. maxima) esforços têm sido
empregados para identificar características morfológicas de interesse como também
resistência a potyvirus, murcha de Phytophthora e teor de sóludos solúveis. Entre as
pimentas (Capsicum spp.) foram caracterizados 807 acessos para resitência a doenças,
sendo 403 de C. annuum, 91 de C. baccatum, 261 de C. chinense e 52 de C. frutescens,
ampliando as informações disponíveis para os programas de melhoramento nacionais.
Outra importante iniciativa é o projeto Orygens, que utiliza extensa rede de pesquisadores de
diferentes instituições públicas e privadas do País, com o objetivo de promover a utilização
do conhecimento atual do genoma de arroz para o desenvolvimento de cultivares mais
competitivas. O foco é o estudo integrado da variação de dados fenotípicos, obtidos
extensivamente no campo para alguns caracteres de importância econômica, e das
informações de mapeamento genético, seqüenciamento de DNA e função gênica. Nesse
sentido, experimentos com populações segregantes de cruzamentos intra-específicos de
arroz estão sendo conduzidos em várias partes do País, visando à construção de mapas
genéticos e físicos para a localização e isolamento de genes. Esse trabalho abrange três
frentes: (1) compreensão de controle genético; (2) desenvolvimento de cultivares
superiores pelo emprego de tecnologia genômica em programas de melhoramento; e (3)
utilização de avanços do conhecimento genético da espécie modelo arroz em culturas de
importância econômica como o milho e o sorgo, explorando a sintenia entre essas
espécies.

41
Em milho, um exemplo relevante foi o Latin American Maize Project (Lamp), envolvendo 12
países. Esse projeto teve por objetivo avaliar, para uso futuro, as características agronômicas
dos acessos mantidos em banco de germoplasma. Na primeira etapa, foram avaliados cerca
de 15 mil acessos, através de um esforço conjunto de melhoristas dos setores público e
privado. Os resultados obtidos permitiram determinar, com maior precisão, a situação atual
dos bancos de germoplasma, o número de acessos por banco, a quantidade e qualidade das
sementes por acesso e a relação dos acessos que necessitavam ser regenerados. No Brasil,
cerca de 1.111 acessos − todos adaptados para altitudes < 2.000 m − preencheram as
condições exigidas pelo Lamp (mínimo de 1 kg de sementes e poder germinativo > 75 %).
Indubitavelmente, o reconhecimento e a utilização de recursos genéticos vegetais vem
crescendo sobremaneira na comunidade científica brasileira, tanto em espécies nativas como
exóticas de importância − atual ou potencial − para o abastecimento interno e a balança
comercial brasileira. Neste sentido, inúmeros exemplos do sucesso alcançado a partir da
utilização da variabilidade disponível podem ser citados, conforme depreende-se de alguns
dos estudos de casos apresentados ao final deste capítulo. No caso da soja brasileira, p.ex.,
aumentos de produtividade nas regiões tradicionais de cultivo e a expansão da fronteira
agrícola, incorporando as áreas do Cerrado e o aproveitamento de áreas para rotação de
culturas, são resultados inquestionáveis do benefício alcançado pela criação de novas
cultivares, mais produtivas e adaptadas a essas regiões. Esses resultados são fruto,
basicamente, da utilização de germoplasma introduzido no País, atestando a contribuição da
conservação e utilização de recursos genéticos à agricultura brasileira. E a continuidade
desse progresso genético está condicionada à existência de variabilidade genética e da
exploração dos reservatórios de armazenagem das cultivares. De fato, o rápido avanço na
adaptação e na produtividade da soja levou os melhoristas a restringirem a utilização de
germoplasma aos tipos mais adequados. Como conseqüência, até recentemente, uma das
maiores preocupações nos programas de melhoramento da espécie era a estreita base
genética das cultivares usadas comercialmente, em virtude do reduzido número de
progenitores utilizados na geração de germoplasma elite.

A parte dos exemplos apontados de utilização de recursos genéticos no Brasil, deve ser
promovido o maior, mais eficaz e eficiente uso dos acessos mantidos nos bancos de
germoplasma brasileiros. Dentre as alternativas promissoras para elevar essa utilização, os
programas de pré-melhoramento e as coleções nucleares (core collections) têm merecido a
atenção de pesquisadores que trabalham diretamente com recursos genéticos e também de
melhoristas.

5.2. PROGRAMAS DE PRÉ-MELHORAMENTO


A intensificação das atividades relacionadas com a identificação de caracteres e/ou genes de
interesse − presentes em materiais não adaptados (exóticos ou semi-exóticos) ou que não
foram submetidos a qualquer processo de melhoramento − e sua posterior incorporação em
genótipos de elevado potencial produtivo (elites) constitui alternativa bastante promissora no
sentido de aumentar a utilização de recursos fitogenéticos. A carência desse tipo de ligação
entre os RGVs e os programas de melhoramento é considerada como um dos principais
responsáveis pelo limitado uso das coleções de germoplasma.
Um dos exemplos relevantes de programas de pré-melhoramento no Brasil é o do milho: o
início da década de 1990 foi marcado pelo incremento da ocorrência de doenças foliares
na cultura. Diante desse quadro preocupante, foi estabelecido, o Núcleo de Apoio à
Pesquisa em Milho (Nap-Milho) da Esalq/USP − composto por instituições públicas e
privadas − para a realização de ampla avaliação do germoplasma de milho disponível no
Brasil. Nesse estudo, foram avaliados cerca de 1,3 mil acessos e 140 populações com
algum grau de melhoramento genético, em 12 locais representativos da cultura no País. As
doenças consideradas nesse projeto foram: mancha por Exserohilum turcicum, ferrugem
polysora (Puccinia polysora), ferrugem branca ou tropical (Physophela zeae), mancha por

42
Phaeosphaeria maydis, enfezamentos e viroses do milho (micoplasma/espiroplasma). A
partir dos materiais identificados como promissores, foram sintetizadas novas populações
com alta concentração de genes para resistência às respectivas doenças.
No caso do arroz, cultivado principalmente nos estados do Rio Grande do Sul e Santa
Catarina, Mato Grosso e Maranhão, espécies silvestres têm sido utilizadas em pré-
melhoramento para ampliação da base genética e transferência de características específicas
para cultivares elite. Nos dois primeiros, localizados na Região Sul, predomina o arroz irrigado
e um dos principais problemas são as baixas temperaturas durante o cultivo. Já nos estados
do Mato Grosso e Maranhão, predomina o arroz de terras altas, que tem como um dos fatores
limitantes da produção, a ocorrência de veranicos. Nesse contexto, dentre as quatro espécies
silvestres do gênero Oryza que ocorrem no Brasil − O. alta (alotetraplóide), O. latifolia
(alotetraplóide), O. grandiglumis (alotetraplóide) e O. glumaepatula (diplóide) −, Oryza
glumaepatula, por ser autógama, diplóide e possuir genoma AA, a semelhança de Oryza
sativa, é a que apresenta melhor potencial de uso no melhoramento genético do arroz
cultivado. Dessa sorte, trabalhos de introgressão de genes dessa espécie em arroz cultivado
vêm sendo conduzidos pela Embrapa, visando à tolerância à seca e ao ferro tóxico.
Em café, programas de pré-melhoramento vêm sendo desenvolvidos há vários anos pelo IAC,
com resultados bastante significativos para o País. Análises genéticas em Coffea arabica têm
indicado a existência de suficiente variabilidade passível de ser explorada no desenvolvimento
de novas cultivares. Mas, espécies diplóides de Coffea vêm sendo exploradas em pré-
melhoramento de C. arabica e C. canephora para resistência a doenças, pragas e
nematóides, empregando várias técnicas de biotecnologia como cultura de tecidos,
transformação genética e marcadores moleculares. Nesse contexto, através do Genoma
Café, projeto colaborativo entre o IAC e o Consórcio Brasileiro de Pesquisa e
Desenvolvimento do Café, coordenado pela Embrapa, já foram identificados cerca de 30 mil
genes de interesse no germoplasma estudado, que após definição de funções estarão
disponíveis para utilização no desenvolvimento de novas cultivares.

No caso do amendoim, esforços de pré-melhoramento vêm sendo realizados pela


identificação de genes de resistência em espécies silvestres da Seção Arachis. As avaliações
realizadas, utilizando a técnica de folhas destacadas, permitiram identificar várias espécies
silvestres com níveis de resistência a mancha preta (Cercosporidium personatum), mancha
castanha (Cercospora arachidicola) e ferrugem (Puccinia arachidis) − doenças
responsáveis por perdas significativas na produção brasileira de amendoim − superiores
aos da espécie cultivada (Arachis hypogaea). Doze acessos de espécies com genoma “A”
foram selecionados e estão sendo utilizados como genitores masculinos e 6 acessos de
genoma “B” como genitores femininos. A partir dos híbridos “AB”, foram obtidos seis
anfidiplóides sintéticos, que foram cruzados com Arachis hypogaea, dando origem a 17
híbridos F1. Alguns desses apresentaram boa produção de sementes F2 porém, apesar de
mostrarem alta resistência a doenças, determinadas combinações mostraram-se estéreis.
Cruzamentos complexos também vêm sendo realizados, tentando aproveitar a alta
cruzabilidade entre A. hypogaea observada no anfidiplóide A. ipaënsis x A. duranensis e a
alta resistência a doenças fúngicas observada nos demais anfidiplóides. Populações de
retrocruzamento (RC1 e RC2) foram geradas, cuja resistência a doenças fúngicas estão sendo
avaliadas em condições de campo, juntamente com os híbridos F1. Resultados preliminares
apontaram indivíduos promissores, que estão sendo multiplicados para utilização nos
programas de melhoramento de amendoim.

5.3. COLEÇÕES NUCLEARES


A coleção nuclear tem por objetivo principal representar a diversidade genética da espécie e
seus parentes silvestres com o mínimo de repetições. Até o momento, ainda são incipientes
as ações visando ao estabelecimento de coleções nucleares no Brasil. Entretanto, esta linha
de pesquisa tem merecido atenção prioritária da Embrapa Recursos Genéticos e
43
Biotecnologia que, em uma primeira etapa − em regime de parcerias − estabeleceu coleções
nucleares de mandioca, de milho e de arroz.

5.3.1. Coleção nuclear de mandioca


A mandioca, por ser uma cultura de propagação vegetativa, apresenta algumas
particularidades que devem ser destacadas. Não é possível considerar alelos como
unidades segregantes, a semelhança de espécies de reprodução sexual. Em geral, a
natureza clonal dessas culturas determina que cada acesso seja usado como um genótipo
e não como uma fonte de genes desejáveis. Embora a mandioca seja uma cultura
propagada vegetativamente, no Brasil, alguns agricultores, ocasionalmente, permitem que
algumas plantas se reproduzam sexuadamente em suas plantações, com a expectativa de
obter novas plantas com combinações de características desejáveis. Nesses casos, as
sementes germinam e produzem plantas adultas e o agricultor escolhe aquelas que,
eventualmente, apresentam novas combinações de interesse e são bem adaptadas às
condições locais do cultivo. Uma vez que esse material é obtido, o agricultor começa a
propagá-lo vegetativamente com outros clones que ele cultiva em sua plantação. Esse
aspecto da biologia da mandioca, juntamente com o fato de que, em muitas regiões do
País, a cultura é conduzida com baixo uso de insumos e pouco impacto ambiental, tem
permitido a geração de combinações genéticas adaptadas a diferentes regiões
ecogeográficas.
Assim, na definição da coleção nuclear de mandioca dois critérios foram utilizados para a
seleção de acessos. O primeiro atende à necessidade de manter na coleção nuclear os
clones de conhecida expressão fenotípica que são considerados importantes para a cultura
no Brasil. O segundo procura recuperar alelos altamente ligados (blocos gênicos) ou
combinações gênicas, que podem ser responsáveis pela adaptação da planta a situações
ambientais específicas. Para implementar o segundo critério de seleção, a classificação
ecogeográfica foi adotada para estruturar a variabilidade genética da coleção. O inventário
usado para estabelecer a coleção nuclear envolveu informações disponibilizadas pelos
curadores dos BAGs até julho de 1998. Nessa ocasião, a coleção contava com 2.931
acessos mantidos a campo (Figura 7). Após a amostragem, a coleção nuclear foi
estabelecida com 486 acessos, sendo 462 selecionados pelo primeiro critério e 24 pelo
segundo.

5.3.2. Coleção nuclear de milho

A coleção de germoplasma de milho da Embrapa constituída por 2.263 acessos (inventário


de 1997), é conservada no BAG-milho, localizado na Embrapa Milho e Sorgo, em Sete
Lagoas, Estado de Minas Gerais. Para selecionar a coleção nuclear dessa coleção, os
acessos foram classificados em quatro grupos, de acordo com a origem do germoplasma:
a) variedades autóctones (1.554 acessos - 68,7 %) (Tabela 6); b) materiais melhorados
(222 acessos - 9,8%); c) introduções (288 acessos - 12,7%); e d) compostos derivados de
variedades autóctones (199 acessos - 8,8%). O grupo d não foi representado na coleção
nuclear porque os compostos são derivados da mistura de variedades autóctones do grupo
a, de modo que sua inclusão resultaria em redundância. Os demais grupos foram
representados na seguinte proporção: grupo a (78%); grupo b (12%); e grupo c (10%).
Essa alocação privilegia a representação do grupo de variedades autóctones, que
representa o germoplasma brasileiro. A coleção nuclear foi estabelecida em 300 acessos,
cerca de 13% de toda a coleção, com o tamanho tendo sido determinado, essencialmente,
por critérios de ordem prática − foi considerado adequado às condições de manejo pelos
curadores.

44
Figura 7. Regiões ecogeográficas usadas para
a coleta de mandioca.

Tabela 6. Distribuição das variedades autóctones brasileiras de milho na coleção


nuclear (CN) e na coleção total (CT), segundo tipo de grão e região
ecogeográfica de origem dos acessos.

Tipo de grão
Região Ecogeográfica Pipoca Dentado Duro Farináceo e outros
CT CN CT CN CT CN CT CN
Sul 29 10 279 17 23 9 5 5
Cerrados 26 10 321 19 77 13 50 12
Cerrados – Norte 12 8 110 14 9 7 6 5
Amazônia 35 12 121 14 94 15 19 8
Caatinga 17 8 169 16 38 11 1 1
Agreste – Litoral 1 1 62 12 14 8 0 0
Sem Classificação 4 0 10 0 5 0 7 0

Em 2002, uma atualização da composição e tamanho da coleção nuclear foi proposta, em


decorrência da incorporação de 1.090 acessos ao BAG-Milho. Esse material foi repatriado
do Centro Internacional de Milho e Sorgo (Cimmyt) ou oriundo de coleta, passando a
integrar o grupo das variedades autóctones da coleção de germoplasma. Assim, a coleção
nuclear foi ampliada para 353 acessos, com o grupo das variedades autóctones passando
a ser representado por 288 genótipos, de acordo com os novos tamanhos de estratos da
coleção total.

5.3.3. Coleção nuclear de arroz


O BAG-Arroz, localizado na Embrapa Arroz e Feijão, em Santo Antônio de Goiás, Estado
de Goiás, mantém 9.890 acessos. Uma coleção nuclear formada por 550 acessos, ou
45
5,6% da coleção total, foi considerada aceitável pelos curadores e melhoristas para um
adequado manejo (caracterização morfológica, molecular, avaliação a campo, etc.). Para
selecionar essa coleção, os acessos foram classificados em três grupos: a) variedades
tradicionais (2.402 acessos), coletadas durante as 4 últimas décadas em plantios de
pequenos agricultores, os quais, de maneira geral praticam agricultura de subsistência, e
variedades comerciais mantidas pelos agricultores por mais de 30 anos; b)
linhagens/cultivares melhoradas, oriundas de programas de melhoramento do Brasil (3.448
acessos); e c) linhagens/cultivares introduzidas no Brasil, oriundas de programas de
melhoramento de outros países (4.040 acessos). Esses três grupos foram representados na
coleção nuclear na proporção de 56%, 17% e 27%, respectivamente.
O estrato das variedades tradicionais foi constituído de uma proporção mais alta por
representar a variabilidade genética do arroz adaptada às diversas condições de cultivo no
Brasil. Por isso, é um recurso genético único e de grande valor para uso e estudos que
demandem representação dessa variabilidade. Por outro lado, a ampliação da base
genética das cultivares de arroz tem sido proposta como uma estratégia para se romper, a
médio e longo prazo, o atual patamar de produtividade e evitar a vulnerabilidade genética
da cultura. Uma das alternativas propostas para isso tem sido intensificar o uso da
diversidade disponível em variedades tradicionais nos programas de melhoramento da
espécie. A coleção nuclear procurou incorporar essa recomendação, dando um peso maior
a esse grupo de materiais na sua composição (Tabela 7).
Tabela 7. Composição dos estratos da coleção nuclear de arroz da Embrapa, de acordo
com o sistema de cultivo.
Sistema de Cultivo
Estratos Total
Irrigado Sequeiro Facultativo*

Variedade tradicionais 77 148 83 308


Linhagens e cultivares brasileiras 37 57 - 94
Linhagens e cultivares introduzidas 73 75 - 148
Total 187 280 83 550
* Acessos que podem ser cultivados em condições de sequeiro e irrigado.

Os 550 acessos da coleção nuclear de arroz foram avaliados quanto à produtividade, ciclo,
dias até o florescimento, teor de amilose e altura de plantas em experimentos conduzidos em
oito ambientes: Boa Vista, estado de Roraima, Formoso do Aragaia, no Tocantins, Goiânia,
em Goiás, Pelotas e Uruguaiana, no Rio Grande do Sul, Vilhena, em Rondônia, Sinop, no
Mato Grosso e Teresina, no Piauí. Em Goiânia, foram avaliados também o número de
panículas e perfilhos por metro, além do teste de cocção. A caracterização molecular vem
sendo realizadas em 242 acessos, empregando 86 marcadores microssatélites. Os resultados
dessas caracterizações será utilizado pelo programa de melhoramento genético da Embrapa,
fornecendo informações mais completas sobre a estrutura de diversidade da coleção.

Razoável esforço tem sido feito para estabelecer as coleções nucleares para as maiores
coleções do acervo de recursos genéticos da Embrapa - outras certamente surgirão. No
entanto, o maior desafio que se coloca no momento é a utilizaçaõ das coleções já
estabelecidas. A capacidade de se estimular e priorizar a utilização dessas coleções por
parte dos melhoristas, fitotecnistas, biotecnólogos, curadores e pesquisadores de outras
áreas (evolução, ecologia, geoprocessamento etc.) possibilitará a agregação de dados e
informações a essas coleções. Essa fase efetivamente transformará as coleções nucleares
em importante instrumento de ampliação do uso do germoplasma e, assim, dar equilíbrio
ao binômio conservação:utilização.

5.4. USO DE NOVAS ESPÉCIES

A partir dos anos de 1990, a introdução de pseudocereais, como quinoa (Chenopodium


quinoa) e amaranto (Amaranthus caudatus, A. hypochondriacos e A. cruentus) tem sido

46
enfatizada no Brasil, por apresentarem alto teor e qualidade de proteína, com ausência de
glúten, podendo ser utilizadas com vantagem nutritiva na alimentação humana e animal,
por suas características de funcionalidade. As atividades de pré-melhoramento têm sido
conduzidas no sentido de selecionar acessos com características agronômicas e aproveitar
a variabilidade oriunda de cruzamentos naturais. Em quinoa, populações com combinações
favoráveis apresentam ciclos diferenciados (90 a 140 dias), elevada produção de grãos e
biomassa, grãos grandes, que atendem à demanda brasileira e mundial, ausência de
acamamento e deiscência. Em amaranto, têm-se mantido populações com ausência de
espinhos na inflorescência, alta produção de grãos e de biomassa e ausência de
acamamento.

5.5. CONSERVAÇÃO E USO SUSTENTÁVEL DA AGROBIODIVERSIDADE EM


SISTEMAS COMUNITÁRIOS
As variedades crioulas ou locais mantidas em unidades produtivas e comunidades
apresentam alta diversidade genética (fenotípica e genotípica), constituindo a interface
entre os tipos silvestres e domesticados. A diversidade agrícola não é só o produto da
seleção em ambientes diversos, mas também da preferência humana, de sorte que a
conservação desse patrimônio genético e cultural depende, fundamentalmente, das
práticas conduzidas pelas comunidades. Dessa forma, por meio da adoção de princípios e
processos agroecológicos, a conservação da agrobiodiversidade tem sido incentivada,
fortalecendo a segurança alimentar no âmbito das propriedades rurais, bem como nas áreas
indígenas e comunidades tradicionais. Especificamente, esse esforço busca o resgate, a
conservação e o uso sustentável de variedades crioulas de plantas domesticadas ou semi-
domesticadas, o uso de plantas medicinais e fitoterápicas, de SAFs, o agro-extrativismo
sustentável de produtos da sociobiodiversidade e o manejo animal alternativo. Esse assunto é
apresentado com maior detalhe no Capítulo 3 deste Relatório.
Entre as atividades desenvolvidas ressalta-se a troca de material genético e a troca de
experiências − incluindo práticas inovadoras − entre as comunidades, gerando um canal de
comunicação. Este trabalho, que inclui a implementação dos Cimas envolve a participação de
órgãos governamentais, dos setores acadêmico-científico e não-governamental. Além dos
componentes básicos que compõem a proposta dos Cimas (sementes e variedades crioulas,
plantas medicinais e fitoterápicos, sistemas agroflorestais, agroextrativismo e manejo animal
alternativo), ênfase tem sido dada também à recuperação do passivo ambiental (Áreas de
Preservação Permanente e Reservas Legais) nas áreas dos projetos selecionados.
O sucesso da primeira fase, relacionada à conservação e ao uso da agrobiodiversidade em
sistemas comunitários, demonstrou o sucesso da atividade e a necessidade de sua
ampliação. Em decorrência do êxito dessa fase piloto, centenas de iniciativas estão sendo
implementadas em diversas regiões do País, por meio de ações organizadas por
agricultores familiares, assentados da reforma agrária e povos e comunidades tradicionais.

5.6. MAPEAMENTO DE VARIEDADES CRIOULAS E DE PARENTES


SILVESTRES DAS ESPÉCIES DE PLANTAS CULTIVADAS
Parentes silvestres de plantas cultivadas representam patrimônio de extrema relevância
para o Brasil e para a humanidade, na medida em que desenvolveram, ao longo do seu
processo evolutivo, mecanismos de sobrevivência a condições desfavoráveis extremas,
como secas, inundações, calor e frio, além de resistência a pragas e doenças com que
conviviam. Estas são algumas das razões por que variedades crioulas e parentes silvestres
de plantas cultivadas são de tanto valor para a humanidade. Apesar disso, predomina
ainda a falta de informação para a maioria dessas espécies, muitas das quais estão com
sua sobrevivência ameaçada.
Nesse contexto, o Ministério do Meio Ambiente (MMA) iniciou um projeto pioneiro no País,
com a identificação e mapeamento das variedades crioulas e dos parentes silvestres de
47
algumas das principais plantas cultivadas no Brasil. Essa é uma tarefa complexa, de
importância singular e estratégica, e que demanda amplo engajamento dos diversos setores
da sociedade brasileira, que objetiva: a) definição taxonômica dos parentes silvestres das
espécies de plantas cultivadas; b) mapeamento da distribuição geográfica das variedades
crioulas e dos parentes silvestres das plantas cultivadas; c) situação de conservação desse
germoplasma, tanto na natureza (in situ) quanto ex situ e on farm; e d) medidas a serem
tomadas para sua manutenção.
Até o presente, sete subprojetos foram concluídos, envolvendo algumas das principais
culturas do País: algodão, amendoim, arroz, cucurbitáceas (abóboras), mandioca, milho e
pupunha. A maioria desses parentes silvestres poderá, como integrante do pool genético
primário, fazer parte do processo de melhoramento de cada cultura específica ou, por meio
do processo de domesticação, tornar-se nova cultura. A execução dos subprojetos coube a
Unidades de Pesquisa da Embrapa e ao Instituto Nacional de Pesquisa da Amazônia –
Inpa. Livros contendo as principais informações resultantes do levantamento serão
publicados, incluindo mapas de distribuição geográfica dos parentes silvestres e variedades
crioulas.
Dada a importância e a repercussão positiva desse trabalho nos diversos setores da
sociedade, é crucial a continuidade da iniciativa, de modo que outras culturas sejam também
contempladas a exemplo do abacaxi (Ananas spp e gêneros afins), do caju (Anacardium spp),
da cevada (Hordeum spp), do feijão [Phaseolus vulgaris (em estado silvestre) e do
Macroptilium spp], do maracujá (Passiflora spp) e das pimentas (Capsicum spp). Entre as
alimentícias, um grupo que também deve ser considerado é o das mirtáceas, uma das
famílias botânicas da maior importância na alimentação humana. Além das espécies de
importância alimentícia, merece destaque o grupo das forrageiras, caso do gênero
Stylosanthes, que mantém ampla diversidade de espécies no País, com várias já em
estado de cultivo.

5.7. ESPÉCIES DE VALOR ECONÔMICO ATUAL E POTENCIAL, DE USO


LOCAL E REGIONAL

A domesticação de espécies nativas, incluindo aquelas já conhecidas e comercializadas


por populações locais e regionais, porém com pouca penetração no mercado nacional ou
internacional, representa grande oportunidade a ser explorada. Essa riqueza, entretanto,
permanece sub-utilizada no Brasil, particularmente em razão de padrões culturais impostos
e fortemente arraigados, que privilegiam produtos e cultivos exóticos. No entanto, os
mercados mais expressivos − nacionais e internacionais − estão ávidos por novos
produtos, razão pela qual os recursos biológicos e genéticos do Brasil apresentam enorme
potencial para satisfazer essas demandas de mercado e gerar riquezas.
Em resposta a essa demanda, entre 2005-2007, o MMA coordenou o projeto Identificação
de espécies da flora brasileira de valor econômico atual e potencial, utilizadas em âmbito
local e regional: Plantas para o Futuro, que visa a) priorizar novas espécies da flora
brasileira comercialmente sub-utilizadas, oferecendo opções de uso por pequenos
produtores; b) criar novas oportunidades de investimento pelo setor empresarial no
desenvolvimento de novos produtos; c) identificar o grau de uso e as lacunas do
conhecimento científico e tecnológico sobre espécies utilizadas local e regionalmente; d)
valorizar a biodiversidade, com demonstração clara à sociedade da importância e
possibilidades de uso desses recursos; e) ampliar a segurança alimentar, aumentando as
opções até então disponíveis.
Para o cumprimento dessa ação, foram contratados cinco subprojetos, um em cada região
geopolítica do País. Os resultados desse trabalho evidenciaram a importância dessa
iniciativa, com a priorização de 775 espécies: 255 espécies da Região Sul, 128 do Sudeste,
131 do Centro-Oeste, 162 do Nordeste e 99 da Região Norte (Tabela 8). As espécies

48
contempladas na lista foram agrupadas em 12 grupos de uso: alimentícias, fruteiras,
medicinais, aromáticas, ornamentais, oleaginosas, madeireiras, apícolas, fibrosas,
forrageiras, tóxicas/biocidas e ambientais. Algumas espécies já alcançaram algum grau de
projeção no cenário nacional, a exemplo do açaí (Euterpe oleracea) e do cupuaçu
(Theobroma grandiflorum). Outras, apesar de apresentar grande potencial de exploração, a
exemplo da goiabeira-serrana (Acca sellowiana), são conhecidas apenas em âmbito local e
regional.

Tabela 8. Espécies de valor econômico atual e potencial, de uso local e regional identificadas no
projeto Plantas para o Futuro, grupos de uso e número total de espécies priorizadas nas
cinco regiões geopolíticas do Brasil.

Região*/ Grupos de uso S SE NE CO N Total


Alimentícias 17 9 - - 16 42
Frutíferas - - 12 16 - 28
Aromáticas - - - - 9 9
Medicinais 30 20 15 16 18 99
Oleaginosas 2 - 16 7 6 31
Ornamentais 21 34 33 42 18 148
Fibrosas 8 18 11 - 16 53
Tóxicas - - - - 3 3
Forrageiras 39 - 22 50 13 124
Madereiras - - 40 - - 40
Apícolas 103 - 13 - - 116
Ambientais 35 47 - - - 82
TOTAL 255 128 162 131 99 775
* S = Sul; SE = Sudeste; NE = Nordeste; CO = Centro-Oeste; N = Norte
Fonte: http://www.mma.gov.br

O avanço no conhecimento, conservação e promoção do uso desses recursos genéticos


nativos contribui, também, para minimizar a fragilidade existente no sistema alimentar
mundial. Adicionalmente, essa iniciativa vem contribuindo de forma decisiva para o
desenvolvimento de componentes relacionados ao treinamento e capacitação, tanto de
pesquisadores quanto estudantes dos níveis de graduação e pós-graduação. Ao longo da
realização desses cinco subprojetos, foram realizados cinco seminários regionais, um em
cada região, além de apresentações em eventos científicos nacionais e internacionais. Os
seminários regionais contaram com a participação de representantes dos setores
governamental e não-governamental, acadêmico-científico e empresarial. Todas as
informações resultantes desse estudo estão sendo sistematizadas para publicação, o que
permitirá, a cada uma das regiões, dispôr de um portfolio das espécies nativas de valor
econômico atual e potencial.

Essa iniciativa é considerada de fundamental importância na implementação dos


compromissos assumidos pelo Brasil ao aderir ao Tratado Internacional sobre Recursos
Fitogenéticos para a Alimentação e Agricultura, no âmbito da Organização das Nações
Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO). Novas ações estão sendo desencadeadas
para a continuidade desse trabalho, com a realização de reuniões específicas envolvendo
os setores empresarial e acadêmico-científico, oportunidade em que serão apresentados
os resultados alcançados e as possibilidades da ampliação do uso dessas espécies,
particularmente as alimentícias, medicinais, ornamentais e aromáticas.
5.8. FOMENTO AO USO DE PLANTAS MEDICINAIS E FITOTERÁPICOS
A biodiversidade, particularmente de plantas superiores, constitui uma das maiores fontes
de matéria-prima para a fabricação de muitos medicamentos de origem fitoterápica. Forma,
também, a base de remédios caseiros e comunitários (medicina tradicional) utilizados em
práticas populares e tradicionais. Representam, ainda, matéria-prima para a fabricação e
49
uso de fitoterápicos, mercado que tem crescido vertiginosamente nas últimas décadas.
Além desse acervo genético, o Brasil é detentor de rica diversidade cultural e étnica. Assim,
ao longo de centenas de anos o País acumulou conhecimentos e tecnologias tradicionais,
passados de geração a geração, onde se destaca o rico acervo de conhecimentos sobre
manejo e uso de plantas medicinais.
Com base nessa riqueza genética e vasta diversidade cultural, o País tem a oportunidade de
estabelecer um modelo de desenvolvimento próprio e autônomo na área de saúde e uso de
plantas medicinais e fitoterápicas, que priorize o uso sustentável da biodiversidade e dos
recursos genéticos e respeite os princípios éticos e os compromissos internacionais
assumidos, principalmente em relação à Convenção sobre Diversidade Biológica,
promovendo, assim, a geração de riquezas com inclusão social. Esse modelo utiliza como
premissa o respeito aos princípios de segurança e eficácia na saúde pública, bem como a
conciliação de desenvolvimento socioeconômico e conservação ambiental, tanto em âmbito
local como em escala nacional.
Para promover o manejo, cultivo, produção e comercialização de plantas medicinais e
fitoterápicos, bem como envolver os diversos setores que atuam nesse tema, em nível
estadual e municipal, está sendo desenvolvido, no âmbito de cada bioma, um processo de
articulação e implementação de Redes de Plantas Medicinais e Fitoterápicos. Este processo
já está avançado no bioma Caatinga, onde já existem diversas experiências institucionais,
governamentais e da sociedade civil, que devem ser potencializadas e ampliadas, em uma
ação conjunta envolvendo o poder público, a sociedade civil, movimentos sociais, produtores
e empresários.

5.9. AÇÕES PARA AUMENTAR O USO DOS RECURSOS GENÉTICOS


VEGETAIS

Cada vez mais o pesquisador brasileiro vem se conscientizando da importância dos recursos
genéticos para o desenvolvimento de suas atividades. Levantamento realizado entre
melhoristas de milho, dos setores público e privado, apontou que a utilização dos acessos
disponíveis nos bancos de germoplasma de forma regular é muito baixa (14% dos
entrevistados), tendo sido a quantidade de informações sobre esses acessos o fator mais
limitante para sua utilização, de acordo com 70% dos pesquisadores entrevistados.
Há necessidade, portanto, de ampliar os trabalhos de caracterização e avaliação em
bancos de germoplasma. Algumas ferramentas de biotecnologia poderão ser úteis na
identificação de duplicatas, como também na avaliação da diversidade que está sendo
conservada e novas iniciativas para o estabelecimento de coleções nucleares deverão ser
implementadas e incentivadas, como forma de ampliar o uso dos recursos genéticos
conservados. Outra iniciativa a ser priorizada é a alimentação do Sistema Brasileiro de
Informação de Recursos Genéticos (Sibrargen) e sua disponibilização via Internet. Tais
providências são fundamentais para identificar futuras necessidades de coleta,
caracterização, avaliação e, consequentemente, aumentar a utilização do acervo
conservado no País. E, para a eficaz e eficiente exploração e utilização dos recursos
genéticos, são essenciais o fortalecimento e a consolidação de redes de pesquisas
transdisciplinares e interinstitucionais, com a articulação de parcerias para otimização dos
recursos financeiros e humanos e para facilitar e intensificar o intercâmbio de germoplasma
e conhecimento.

5.9.1. Bancos de caracteres/funções

Apesar da existência de vários programas de pré-melhoramento em andamento, o País


necessita ampliar suas ações no sentido de ampliar a varibilidade genética de forma
estruturada disponível para os programas de melhoramento genético. Assim, o
estabelecimento de bancos de caracteres e/ou funções constitui uma alternativa

50
promissora. Os avanços recentes da genômica abriram possibilidades para estudos
detalhados de funções biológicas importantes, para os quais organismos devidamente
caracterizados são essenciais. Na verdade, o estabelecimento das relações entre estrutura
(genes) e função biológica (caracteres) é extremamente dependente de RGVs
adequadamente organizados para análises mais detalhadas. Surge, portanto, outro usuário
importante para os recursos fitogenéticos – o biotecnologista, interessado em caracteres e
funções biológicas devidamente identificadas em RGVs apropriados para análises mais
elaboradas.
O interesse desse novo usuário vai além do universo dos recursos relacionados à
alimentação e agricultura, uma vez que funções e caracteres identificados na biodiversidade
podem, potencialmente, ser mobilizados para espécies de interesse agronômico, social e
ambiental através da tecnologia do DNA recombinante. Assim, para atender a esse novo
cliente, os bancos de germoplasma precisam ampliar seus acervos, em especial para busca
daquelas funções e caracteres usualmente não disponíveis nos acervos tradicionais. Por
exemplo, a crescente consciência ecológica e a conseqüente pressão para que a agricultura
se torne provedora de “serviços ambientais” como a melhoria da qualidade do solo, fixação de
carbono para contraposição às mudanças climáticas globais, detoxificação do solo e água,
etc. exigirá prospecção dessas funções na biodiversidade e sua mobilização para espécies de
interesse.

5.10. UTILIZAÇÃO DE RECURSOS GENÉTICOS NO BRASIL − ESTUDOS DE


CASOS

Caso 1. A importância da introdução de germoplasma no melhoramento


de soja (Glycine max).
Marcelo Fernandes de Oliveira, Carlos Arrabal Arias, José Francisco Ferraz de Toledo
Embrapa Soja, Londrina, Paraná
A ampla variabilidade da soja para caracteres fisiológicos, morfológicos e agronômicos tem
possibilitado seu uso per se ou como fontes de genes de interesse econômico em
programas de melhoramento e seleção de cultivares 1 (SINGH; HYMOWITZ, 1989;
CARTER et al., 2004). No Brasil, o cultivo da soja ocorreu, inicialmente, em latitudes entre
30ºS e 20ºS, principalmente nos Estados do Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Paraná e
São Paulo. Na década de 1960, todo o germoplasma introduzido do Sul dos Estados
Unidos − cerca de 200 cultivares e linhagens − foi utilizado diretamente, dando origem às
primeiras cultivares, adaptadas às condições da Região Sul, a exemplo de Hill (1961),
Bienville (1963), Majos (1963), Bossier (1964), Hardee (1964), Hood (1965), Braag (1966),
Davis (1966) e Hale 7 (1967), que passaram a ser utilizadas em programas de
melhoramento para combinar suas características (BONETTI, 1983).
A expansão do cultivo da soja rumo às baixas latitudes do País foi limitada por sua alta
sensibilidade ao fotoperíodo e porte baixo. A soja é uma planta de dias curtos, com o início
do florescimento induzido pelo alongamento das noites. Uma vez que no verão das regiões

1
A soja é uma espécie anual do subgênero Soja e 23 espécies perenes dentro do subgênero Glycine têm sido
relatadas como espécies selvagens relacionadas, sendo consideradas, portanto, recursos genéticos para
propósitos de melhoramento genético da cultura (HYMOWITZ, 2004). A maioria dos acessos de G. max e G.
soja disponíveis no mundo foi coletada na China e no Japão e, de acordo com dados reunidos e atualizados
pelo Bioversity (antes, International Plant Genetic Resources Institute - Ipgri), mais de 170 mil acessos de G.
max são mantidos por mais de 160 instituições em aproximadamente 70 países. A China tem a maior coleção
de germoplasma de soja no mundo, com cerca de 26 mil acessos de G. max e 6,2 mil de G. soja. A coleção de
germoplasma do Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (Usda) é a segunda maior, com 18.570
acessos de G. max, 1.116 de G. soja e 919 de espécies perenes de Glycine. Todas as espécies perenes são
nativas da Austrália, que possui a maior coleção do mundo, com mais de 2,1 mil acessos. Atualmente, mais de
3,5 mil acessos das 22 espécies perenes de Glycine têm sido mantidos em nove coleções mundiais (CARTER
et al., 2004).
51
tropicais brasileiras, essa indução ocorria logo no início do período vegetativo, resultando
em plantas de baixa estatura e pequena produtividade (BONETTI, 1981). Somente depois
da realização de hibridações entre cultivares adaptadas a regiões de latitudes mais
elevadas e fontes de genes para florescimento tardio em dias curtos, também chamados
‘genes para período juvenil longo’ (principalmente do genótipo PI 240664, procedente das
Filipinas), oriundos da coleção americana, foi possível obter genótipos que apresentavam
florescimento tardio e crescimento adequado em baixas latitudes (HINSON, 1989; KIIHL;
GARCIA, 1989). Esse trabalho foi que viabilizou o cultivo da soja em qualquer ponto do
território nacional (KIIHL; BAYS; ALMEIDA, 1986). Na Figura 8, apresenta-se a evolução
da criação de germoplasma de soja no Brasil desde sua introdução no País até o ano de
2003, resultado de introduções sistemáticas e intensa utilização de recursos genéticos
Com o aumento da área cultivada e com a prática do monocultivo da soja, novas doenças
e pragas bastante destrutivas foram aparecendo forçando o desenvolvimento de cultivares
resistente a doenças. A obtenção dessas cultivares foi possível pela utilização de
introduções PIs, fontes de resistência genética armazenadas no banco ativo de
germoplasma (BAG) da espécie, que paralelamente trouxeram significativo aumento da
base genética das cultivares brasileiras. As principais fontes de resistência utilizadas foram
para doenças causadas por bactérias (pústula bacteriana - Xanthomonas phaseoli pv
glycines e crestamento bacteriano - Pseudomonas syringae pv tabaci) e por fungos
(mancha olho-de-rã - Cercospora sojina, mosaico comum da soja – Soybean Mosaic Vírus,
podridão parda da haste - Phialophora gregata f .sp. sojae, cancro da haste - Diaporthe
phaseolorum f.sp. meridionalis, oidio - microsphaera difussa, podridão da raiz e da haste
Phytophthora sojae, podridão vermelha da raiz Fusarium solani f. sp., ferrugem asiática da
soja – Phakopsora pachyrhizi, nematóide de cisto da soja Heretodera glycines,
nematóides-de-galhas – Meloidogyne incognita e Meloidogyne javanica). Outros acessos
introduzidos dos Estados Unidos e também conservados no BAG-soja têm sido utilizados
como fontes de resistência aos insetos Nezara viridula e Anticarsia gemmatalis.
Já no programa de soja para alimentação e tipo vegetal, germoplasma introduzido da
China e do Japão tem sido utilizado como fonte de características especiais para o
desenvolvimento de cultivares adaptadas. Ademais, no sentido de ampliar a base genética
da soja, entende-se que espécies selvagens podem servir como fonte de resistência a
pragas, tolerância à seca, teor e qualidade de óleo. Para tanto, ferramentas da
biotecnologia têm permitido os primeiros sucessos na obtenção dos híbridos
interespecíficos G. max X G. tomentella.
Finalmente, de forma estratégica, visando à ampliação da base genética da soja no Brasil e
assegurar a variabilidade genética necessária por vários anos, iniciou-se, no ano de 2006,
a introdução de toda a coleção de germoplasma de soja dos Estados Unidos.

52
Figura 8. Evolução da criação de germoplasma de soja no Brasil desde sua introdução no País até
o ano de 2003.

53
Referências
BONATO, E.R.; BONATO, A.L.V. A soja no Brasil: história e estatística. Londrina: EMBRAPA-CNPSo,
1987. 61p. (EMBRAPA-CNPSo. Documentos, 21).
BONETTI, L. P. Cultivares e seu melhoramento genético. In: VERNETTI, F. J. (Coord.). Soja: genética e
melhoramento. Campinas: Fundação Cargill, 1983. v.2, p. 741-800.
HINSON, K. Use of a long juvenile trait in cultivar development. In: CONFERENCIA MUNDIAL DE
INVESTIGACION EN SOJA, 4., 1989, Buenos Aires. Actas... Buenos Aires: AASOJA, 1989. p. 983-987.
HYMOWITZ, T. Speciation and cytogenetics. In: BOERMA; H.R.; SPECHT; J.E. (Ed.). Soybeans: improvement,
production and uses. 3. ed. Madison: ASA, 2004. p.97-136. (Agronomy Monograph 16).
KIIHL, R.A.S.; GARCIA, A. The use of the long-juvenile trait in breeding soybean cultivars. In: CONFERENCIA
MUNDIAL DE INVESTIGACION EN SOJA, 4., 1989, Buenos Aires. Actas... Buenos Aires: AASOJA, 1989. p.
994-1000.
KIIHL, R.A.S; BAYS, I.A.; ALMEIDA, L.A. Soybean breeding for the brazilian tropics. In: SYMPOSIUM [ON]
SOYBEAN IN TROPICAL AND SUBTROPICAL CROPPING SYSTEMS, 1983, Tsukuba. Proceedings...
Shanhua: AVRDC, 1985. p.141-143.

Caso 2. Intercâmbio e utilização de recursos genéticos de Prunóideas


Maria do Carmo Bassols Raseira, Caroline Marques Castro, Bernardo Ueno
Embrapa Clima temperado, Pelotas, Rio Grande do Sul
Na Embrapa Clima Temperado, o banco ativo de germoplasma de Prunóideas foi, quase
sempre, coordenado e acompanhado por melhoristas e os acessos caracterizados com
algum atributo interessante são, imediatamente, utilizados em hibridações. Talvez por este
motivo as atividades do banco de germoplasma e do Programa de Melhoramento Genético
de Prunus se intercruzam. Desta forma, é bastante difícil estabelecer o limite entre o que
se refere ao BAG e aquilo que é parte do programa de melhoramento. Assim, discutir sobre
a repercussão do BAG Prunóideas e cultivares criadas a partir da utilização de recursos
genéticos é extremamente difícil. Cerca de 40% do germoplasma que constitui o acervo do
BAG está continuamente sendo utilizado e, nos últimos 10 anos, a Embrapa lançou 20
cultivares (RASEIRA; NAKASU, 2002; 2003; RASEIRA et al, 2008), além de recomendar o
plantio de 2 cultivares de pessegueiros, 3 de nectarineira e 1 de ameixeira, todas oriundas
da Flórida.
A partir do germoplasma mantido no BAG, inúmeras cultivares vêm sendo lançadas no
mercado (Figura 9). ‘Aldrighi’, selecionada por um produtor local, foi um dos clones de
fundação do programa de melhoramento de pessegueiro. A antiga cultivar Ambrósio Perret,
cujos frutos eram considerados de bom tamanho, foi usada em hibridações, que deram
origem a ‘Safira’, ‘BR6’ e ‘Magno’, as duas últimas em cultivo até o presente. ‘Cerrito’,
cultivar caracterizada como sendo de baixa necessidade em frio, é das mais utilizadas
como planta-mãe, sempre que se recebe pólen de pessegueiro de países com invernos
frios. Dentre os genótipos existentes no BAG, este é dos mais eficientes em transmitir o
caráter ‘baixa necessidade em frio’. Foram identificados, também, acessos atualmente
utilizados como fonte de resistência à ferrugem da folha − cv. Cristal Taquari; à podridão
parda − cv. Bolinha; e à bacteriosa das folhas − cultivar americana Norman, que por ser
muito exigente em frio é pouco usada, preferindo-se os acessos ‘Gaúcho’ e ‘Convênio’.

Figura 9. Cultivares desenvolvidas a partir de informações e germoplasma do BAG-


Prunóideas:Atenas, Cons 952m e Sensação:. Fotos: Maria do Carmo Bassols Raseira

54
A maior parte (> 85%) dos 1.008 acessos que compõem o banco de germoplasma de
Prunóideas é de Prunus persica, havendo representantes, também, de Prunus salicina
(segunda maior espécie em número de acessos) e híbridos de P. salicina; P. domestica; P.
avium; P. amygdalus; P.armeniaca; P. cerasus; P. mume, P. mahaleb; P. nigra; P.
kansuensis e P. manshurica.
A origem desse germoplasma é variada, incluindo desde programas de melhoramento
genético da Embrapa e do IAC, outros estados brasileiros e antigas cultivares, até
introduções de países como Bolívia, Espanha, Estados Unidos, Itália, Ilhas Canárias,
México e Japão. Os trabalhos de caracterização, principalmente morfológica e fenológica,
evidenciam que grande diversidade se encontra disponível para utilização − principalmente
entre os acessos de pessegueiro: tipo e coloração de flores (desde pétalas brancas até
quase vermelhas, com 5 pétalas ou múltiplos de 5, com sépalas em número de 5 ou
dobradas, flores campanuladas ou rosáceas); tipos de glândulas peciolares; cor de polpa
(branco-esverdeada, branco-creme, amarelo-claro, amarelo-ouro, alaranjada); cor da
película com maior ou menor quantidade de vermelho ou, ainda, sem cor de cobertura;
forma, tamanho e grau de firmeza das frutas; necessidade em frio e calor das plantas,
densidade de flor, etc. Para descrição dos frutos, são utilizadas 30 características
morfológicas e físico-químicas, como conteúdo de sólidos solúveis, firmeza e, em poucos
acessos, medida de pH; 5 dados fenológicos e de produção, além da reação a doenças. A
caracterização molecular vem sendo realizada no principal germoplasma do BAG,
incluindo-se aí os clones de fundação. Em um trabalho de parceria com a Texas A&M
University − através do Dr. David Byrne −, há cerca de 2 anos, foi iniciado o
desenvolvimento de microssatélites para caracterizar o germoplasma de pessegueiro. A
idéia é que, no futuro, seja possível fazer uma caracterização sistemática das maiores
coleções de germoplasma do mundo, o que ajudaria a selecionar um conjunto diversificado
de germoplasma de baixo frio (coleção nuclear).
Mas o acervo do BAG não é utilizado apenas pelo programa de melhoramento genético do
pessegueiro e ameixeira da Embrapa Clima Temperado, atendendo também outras
instituições de pesquisa e servindo a programas de melhoramento, inclusive, de outros
países. Assim, 12% dos clones básicos (clones de fundação) usados no programa de
melhoramento de pêssegos de polpa não fundente de Queretaro, no México, e 20% do
programa de Chapingo, México, são brasileiros. O programa da Flórida, Estados Unidos,
utiliza três fontes de clones básicos para obtenção de frutos com o mencionado tipo de
polpa: originários nordeste dos Estados Unidos, México e Brasil. A cv. Oro A, p.ex., foi
obtida por polinização aberta da cultivar brasileira Diamante (Byrne et al, 2000).
O intercâmbio, principalmente de pólen, tem sido bastante exercitado pelos programas de
melhoramento de Prunóideas. No início do trabalho com pêssego no Estado do Rio Grande
do Sul, o programa da Rutgers University, New Brunswick, Estados Unidos, foi de capital
importância no que diz respeito a clones básicos. Do programa de Arkansas, a Embrapa
recebeu pólen de germoplasma com maior firmeza e tamanho dos frutos e resistência à
bacteriose. Por outro lado, o programa da Universidade da Califórnia - Davis, tem usado
‘Bolinha’ − criada na Embrapa − como fonte de resistência à podridão parda, e outras
cultivares brasileiras como fonte de alto teor de sólidos solúveis; e pólen de acessos com
menor suscetibilidade a Monilinia fructicola foi enviado para a Carolina do Norte.
Intercâmbio de informações e germoplasma tem sido mantido também com a Texas A&M
University e a Universidade da Flórida, assim como com a Estação Experimental de Las
Brujas, no Uruguai, dentre outras instituições no Brasil e no exterior. Do Canadá, o
programa da Embrapa Clima Temperado recebeu pólen de cultivares com melhor cor de
película, tamanho dos frutos e, supostamente, resistentes à bacteriose da folha. Mais
recentemente, foi recebido pólen de variedades autóctonas da Espanha, as quais,
seguramente, sofreram seleção natural através dos séculos e, portanto, são extremamente
valiosas do ponto de vista de melhoramento e de conservação de germoplasma.

55
Referências
BYRNE, D.H.; SHERMAN, W.B.; BACON, T.A. Stone fruit genetic pool and its exploitation for growing under
warm winter conditions. In: EREZ, A. (ed.). Temperate Fruit Crops in Warm Climates. Boston: Kluwer Academic
Publishers, 2000. p.157-230.
RASEIRA, M. C. B.; NAKASU, B. H. PESSEGUEIRO. In: Claudio Horst Bruckner. (Org.). Melhoramento de
Fruteiras de Clima Temperado.. 1 ed. Viçosa - MG: Editora UFV, 2002, v. 1, p. 89-126.
RASEIRA, M. C. B ; NAKASU, B. H. . Cultivares. In: Maria do Carmo Bassols Raseira; Alberto Centellas
Quezada. (Org.). Pêssego - Produção. 1 ed. Brasília: Embrapa, 2003, v. 49, p. 41-59.
RASEIRA, M. C. B.; Barbosa, W ; NAKASU, B. H.; PEREIRA, J. F. M. . Pêssego. In: Albuquerque, A. C. S. &
Silva, A. G. da. (Org.). Agricultura Tropical -Quatro décadas de inovações tecnológicas, institucionais e
políticas. 1 ed. Brasília, D.F.: Embrapa INformação Tecnológica, 2008, v. 1, p. 519-529.

Caso 3. Utilização de espécies silvestres no melhoramento do


maracujazeiro (Passiflora spp.)
Fábio Gelape Faleiro, Nilton Tadeu Vilela Junqueira
Embrapa Cerrados, Planaltina, Distrito Federal
A utilização de germoplasma silvestre é uma das principais demandas da pesquisa em
maracujá realizada no Brasil (FALEIRO et al., 2006a), pela importância de introduzir no
maracujazeiro comercial características presentes nas várias espécies de passifloras
silvestres da flora brasileira(JUNQUEIRA et al. 2005; 2006). Ao mesmo tempo que vêm
sendo intensivamente utilizadas em programas de melhoramento de maracujazeiro no
País, espécies silvestres vêm sendo testadas como porta-enxertos, visando à resistência a
fungos de solo e à morte precoce, assim como alternativas para diversificar os sistemas
produtivos com novos alimentos funcionais para consumo in natura e para uso como
plantas ornamentais e medicinais (FALEIRO et al., 2005).
Variabilidade genética do maracujazeiro e sua utilização
Estima-se que o gênero Passiflora é composto por 465 espécies, das quais,
aproximadamente 200, são originárias do Brasil e apresentam potencial de uso como
alimento, além das propriedades medicinais e ornamentais − cerca de 70 espécies
produzem frutos comestíveis (SOUZA; MELETTI, 1997). Mas, para que a ampla
variabilidade genética de espécies silvestres do maracujazeiro (FALEIRO et al., 2005;.
2006b) (Figura 10) seja utilizada e aproveitada em programas de melhoramento, torna-se
necessário a realização de hibridações intra-específicas ou o uso da biotecnologia
moderna na obtenção de híbridos somáticos ou na utilização da tecnologia do DNA
recombinante e engenharia genética.
No programa de melhoramento genético realizado na Embrapa Cerrados, híbridos inter-
específicos de P. edulis com P. setacea, P. coccinea e P. caerulea, entre outras, têm sido
obtidos com sucesso (JUNQUEIRA et al., 2005; 2008). Ao mesmo tempo, vários autores
têm sido bem sucedidos utilizando a biotecnologia moderna na obtenção de híbridos
somáticos envolvendo a espécie cultivada e espécies selvagens de Passiflora, a exemplo
de P. edulis, P. incarnata, P. alta, P. amethystina, P. cincinnata, P. gibertii e P. coccinea.
Esses híbridos somáticos, devido à sua natureza tetraplóide, se prestam, em princípio,
como porta-enxertos, uma vez que mostram caules mais vigorosos do que o parental
selvagem resistente. Outrossim, grupos de pesquisa da Escola Superior de Agricultura
“Luiz de Queiroz” (Esalq/USP) têm trabalhado na obtenção de plantas transgênicas para
resistência a bacteriose e virose (VIEIRA et al., 2005) e um grupo da Universidade Federal
de Viçosa (UFV) tem trabalhado com plantas transgênicas para resistência ao CABMV
(ZERBINI et al., 2005).
O grande potencial de uso de espécies silvestres
Avaliações agronômicas de germoplasma silvestre de Passiflora têm mostrado o potencial
das espécies P. actinia, P. setacea e P. coccinea para resistência a viroses, das espécies
P. odontophylla, P. gibertii, P. caerulea, P. serrato-digitata, P. actinia, P. mucronata e
alguns acessos de P. edulis e P. nitida para resistência à bacteriose e das espécies P.
56
serrato-digitata, P. gibertii, P. coccinea, P. actinia, P. setacea, P. nitida, P. caerulea e
alguns acessos de P. edulis para resistência à antracnose.
Adicionalmente, foram identificadas espécies autocompatíveis como a P. tenuifila, P.
elegans, P. capsularis, P. villosa, P. suberosa, P. morifolia e P. foetida, característica
importante para aumentar a produtividade e reduzir custos com mão-de-obra para a
polinização manual, bem como para reduzir o impacto negativo provocado pelas abelhas
africanas. Há espécies como a P. setacea e P. coccinea que, nas condições da região
Central do Brasil, comportam-se como planta de dias curtos, pois florescem e frutificam
durante o período de dias curtos do ano, e a colheita ocorre na época da entressafra do
maracujá-azedo comercial. Essa característica, se incorporada ao maracujazeiro comercial,
poderá eliminar os problemas referentes à sua sazonalidade, permitindo a produção de
frutos durante o ano todo na região Centro-Sul do País. Ademais, a tolerância ao frio
verificada em P. caerulea e P. incarnata é, também, de grande interesse.

Figura 10. Amostra da variabilidade genética de Passiflora spp. Foto: Embrapa Cerrados
Espécies silvestres também vêm sendo utilizadas para melhorar características físicas,
químicas ou sensoriais da polpa do maracujá para novas opções de mercado − seja
57
como fruta exótica ou para incrementar propriedades funcionais. P. caerulea e acessos
silvestres de P. edulis têm apresentado potencial para deixar mais avermelhada a polpa do
maracujazeiro-azedo comercial, melhorando suas propriedades funcionais (Figura 11).

A B

Figura 11. Passiflora caerulea, evidenciando a coloração avermelhada da polpa (A) e Passiflora
odontophylla,evidenciando a curta distância entre as anteras e estigmas e a coroa, que
permite a polinização por pequenos insetos (B). Foto: Embrapa Cerrados.

Outra característica observada em algumas espécies silvestres, relatada por Junqueira et


al. (2006a), é a presença de androginóforo mais curto, que reduz a altura dos estigmas em
relação à coroa, facilitando a polinização por insetos menores. Em alguns acessos de
maracujá roxo silvestre e P. odontophylla, os estigmas chegam a tocar na coroa no
momento de máxima curvatura do estilete (Figura 11) podendo, dessa forma, ser
polinizados por abelhas consideradas pragas importantes por transportarem todo o pólen e
não fazerem a polinização de forma eficaz.
Resultados de pesquisas realizadas na Embrapa Cerrados
Em pesquisas realizadas na Embrapa Cerrados, estudos sobre compatibilidade genética,
índices de cruzabilidade, período da antese, período da viabilidade de pólen e da
receptividade do estigma têm permitido, por meio de cruzamentos artificiais, a obtenção de
vários híbridos inter-específicos férteis, promissores para o programa de melhoramento
genético, e retrocruzamentos auxiliados por marcadores moleculares do DNA têm sido
utilizados para recuperar características comerciais, mantendo-se os genes de resistência
(FALEIRO et al., 2007). A Figura 12 ilustra a recuperação do genoma recorrente a partir do
cruzamento base entre P. edulis e P. setacea. As espécies P. setacea, P. coccinea, P.
caerulea, P. glandulosa, P. mucronata e P.galbana cruzam muito bem com P. edulis
(maracujazeiro-azedo comercial) e com P. alata (maracujazeiro-doce comercial),
produzindo frutos com sementes férteis. Híbridos envolvendo três ou mais espécies
também têm sido obtidos com o objetivo de piramidar diferentes genes de resistência a
doenças, a exemplo do híbrido P. coccinea X P. setacea X P. edulis e do híbrido P. setacea
X P. coccinea X P. mucronata X P. edulis.

58
Figura 12. Plantas RC do cruzamento inicial entre P. edulis e P. setacea, ilustrando a recuperação
do genoma recorrente. Foto: Embrapa Cerrados
Entre os híbridos inter-específicos que estão sendo obtidos, destaque especial deve ser
dado a P. coccinea X P. setacea, lançado como o primeiro híbrido ornamental de
maracujazeiro no Brasil, BRS Estrela do Cerrado. Trabalhos de seleção em populações RC
obtidas do retrocruzamento com P. coccinea e P. setacea permitiram a obtenção de mais
dois híbridos ornamentais de maracujá, BRS Rubiflora e BRS Roseflora, respectivamente
(Figura 13).

A B

Figura 13. Capa dos folderes técnicos dos híbridos de maracujazeiro-ornamental lançados em
2007 (A) e dos folderes técnicos dos híbridos de maracujazeiro-azedo lançados para
cultivo comercial em 2008 (B). Foto: Embrapa Cerrados

Outros produtos tecnológicos importantes são os híbridos BRS Sol do Cerrado, BRS
Gigante Amarelo e BRS Ouro Vermelho (Figura 13), resultado da utilização de acessos
silvestres de P. edulis na base dos cruzamentos, o que permitiu a obtenção de materiais
genéticos com a coloração de polpa mais avermelhada e menos dependentes da
polinização artificial. Outro híbrido muito promissor obtido pelo programa de melhoramento
realizado na Embrapa Cerrados envolve as espécies P. caerulea e P. edulis. A partir do
cruzamento base, trabalhos de retrocruzamentos e seleção para coloração avermelhada da
polpa estão sendo feitos. Plantas RC tem apresentado a coloração da polpa mais
avermelhada (Figura 14) e bons níveis de produtividade.
Também merecem destaque os híbridos inter-específicos envolvendo P. nítida, cujo
potencial está relacionado à sua utilização como porta-enxertos, que podem ser obtidos por
estaquia ou sementes. Junqueira et al. (2006b) observaram aumentos de produtividade do
maracujazeiro-azedo enxertados em P. nitida.
Finalmente, além de sua utilização em cruzamentos, algumas espécies silvestres têm
potencial para consumo in natura, considerando suas propriedades como alimento
funcional. Dentro desta linha, o programa de melhoramento realizado na Embrapa
Cerrados tem trabalhado com seleção de populações de P. setacea e de P. nitida
objetivando o aumento do tamanho do fruto para o mercado de frutas frescas e para
produção de matéria-prima para produção de doces e sorvetes.

59
Figura 14. Frutos do genitor
recorrente, Passiflora edulis (A) e
de planta RC2 (B) obtida do
cruzamento base entre P caerulea
e P edulis.

Referências
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maracujazeiro – desafios da pesquisa In: Faleiro, F.G.; Junqueira, N.T.V.; Braga, M.F. (Eds.) Maracujá:
germoplasma e melhoramento genético. Planaltina,DF: Embrapa Cerrados, 2005. p. 187-210.
FALEIRO, F.G.; JUNQUEIRA, N.T.V.; BRAGA, M.F. Maracujá: demandas para a pesquisa. Planaltina,DF:
Embrapa Cerrados, 2006a. 54p. il.
FALEIRO, F.G.; JUNQUEIRA, N.T.V.; BRAGA, M.F. Importância e avanços do pré-melhoramento de
Passiflora. In: Lopes, M.A.; Fávero, A.P.; Ferreira, M.A.J.F.; Faleiro, F.G. (Eds.) Curso Internacional de pré-
melhoramento de plantas. Brasília: Embrapa, 2006b. p. 138-142.
JUNQUEIRA, N.T.V.; BRAGA, M.F.; FALEIRO, F.G.; PEIXOTO, J.R.; BERNACCI, L.C. Potencial de espécies
silvestres de maracujazeiro como fonte de resistência a doenças. In: Faleiro, F.G.; Junqueira, N.T.V.;
Braga, M.F. (Eds.) Maracujá: germoplasma e melhoramento genético. Planaltina,DF: Embrapa Cerrados, 2005.
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JUNQUEIRA, N.T.V.; FALEIRO, F.G.; BRAGA, M.F.; PEIXOTO, J.R. Uso de espécies silvestres de
Passiflora no pré-melhoramento do maracujazeiro. In: Lopes, M.A.; Fávero, A.P.; Ferreira, M.A.J.F.; Faleiro,
F.G. (Eds.) Curso Internacional de pré-melhoramento de plantas. Brasília: Embrapa, 2006a. p. 133-137.
JUNQUEIRA, N.T.V.; LAGE, D. A. C. ; BRAGA, M. F. ; PEIXOTO, J. R. ; BORGES, T. A. ; ANDRADE, S. R. M.
Reação a doenças e produtividade de um clone de maracujazeiro-azedo propagado por estaquia e enxertia em
estacas de passiflora silvestre. Revista Brasileira de Fruticultura, Jaboticabal, SP, v. 28, n. 1, 2006b.
JUNQUEIRA, K.P.; FALEIRO, F.G.; JUNQUEIRA, N.T.V.; BELLON, G.; RAMOS, J.D.; BRAGA, M.F.; SOUZA,
L.S. Confirmação de híbridos interespecíficos artificiais no gênero Passiflora por meio de marcadores RAPD.
Revista Brasileira de Fruticultura, v.30, n.1, p. 191-196. 2008.
SOUZA, J.S.I. e MELETTI, L.M.M. Maracujá: espécies, variedades, cultivo. Piracicaba: FEALQ, 1997. 179p.
VIEIRA, M.L.C.; OLIVEIRA, E.J.; MATTA, F.P.; PÁDUA, J.G.; MONTEIRO, M. Métodos biotecnológicos
aplicados ao melhoramento genético do maracujá. In: Faleiro, F.G.; Junqueira, N.T.V.; Braga, M.F. (Eds.)
Maracujá: germoplasma e melhoramento genético. Planaltina,DF: Embrapa Cerrados, 2005. p. 411-453.
ZERBINI, F.M.; NASCIMENTO, A.V.S; ALFENAS, P.F.; TORRES, L.B.; BRAZ, A.S.K.; SANTANA, E.N.;
OTONI, W.C.; CARVALHO, M.G. Transformação genética do maracujazeiro para resistência a doenças.
In: Faleiro, F.G.; Junqueira, N.T.V.; Braga, M.F. (Eds.) Maracujá: germoplasma e melhoramento genético.
Planaltina,DF: Embrapa Cerrados, 2005. p. 589-597.

60
Caso 4. Utilização de recursos genéticos nativos e conhecimento
tradicional no melhoramento de pupunha (Bactris gasipaes,
Palmae)
Charles Roland Clement
Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia, Manaus, Amazonas
A pupunha foi domesticada pelos primeiros povos do sudoeste da Amazônia –
provavelmente pela madeira –, mas depois tornou-se importante por seu fruto oleoso e,
como apogeu de sua domesticação, por seu fruto amiláceo (Figura 15), ideal para
fermentação para festividades. Foi um componente essencial para a subsistência dos
povos da Amazônia Ocidental, do noroeste da América do Sul e do sul de Mesoamérica,
antes da conquista do continente pelos europeus – tão importante como o milho e/ou a
mandioca, dependendo da etnia. Foi menos importante na Amazônia Central e Oriental,
caracterizadas por distintos povos indígenas e recursos genéticos. Após a conquista
européia, gradualmente, a pupunha perdeu importância, na medida que os povos que dela
faziam uso eram dizimados ou aculturados.
Ao longo do século 20, seu potencial como alimento rico em energia, óleo, amido, proteína,
fibra e beta-caroteno foi aclamado, principalmente porque seu potencial produtivo em solos
sulamericanos é muito maior que o do milho, planta de composição químico-nutricional
similar. No último quarto desse século, Victor Manuel Patiño (Colômbia; falecido em 2001)
e Jorge Mora Urpí (Costa Rica; falecido em 2008) lideraram um esforço multinacional de
pesquisa e desenvolvimento (P&D) em pupunha. No final da década de 1970, através da
parceria entre o Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa) e a Embrapa
Recursos Genéticos e Biotecnologia (Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia), o
Brasil aderiu a esse esforço, de sorte que, hoje, instituições brasileiras e costarriquenhas
lideram os trabalhos com a espécie, com atividades ocorrendo também na Bolívia,
Colômbia, Equador, Panamá, Peru e Venezuela.

Figura 15. Cachos de frutos


pequenos de pupunha
silvestre (Bactris gasipaes var.
chichagui), encontrados perto
de Rio Branco, Estado do
Acre, e cachos de pupunha
cultivada (B. gasipaes var.
gasipaes), da raça primitiva
Putumayo, com frutos grandes
e amiláceos, encontrados ao
longo do alto Rio Solimões,
Estado do Amazonas.

Entre 1983 e 1984, representantes de outros países interessados – Costa Rica, Colômbia,
Equador, Peru – passaram a colaborar com a parceria brasileira nos trabalhos de
prospecção da Bacia Amazônica, os quais, financiados pelo governo dos Estados Unidos
da América, mudaram a história da pupunha. As análises da informação dessa prospecção
determinaram que, a partir da domesticação de Bactris gasipaes, existia uma hierarquia
complexa de raças primitivas (variedades locais ou landraces) selecionadas, mantidas e
conservadas pelos povos indígenas e comunidades tradicionais da Amazônia, e outras
partes da distribuição pré-Colombiana. No entanto, ao mesmo tempo, todos os parceiros
internacionais ficaram fascinados com os usos indígenas para a pupunha e passaram a
explorar o potencial de transformar alguns desses usos em nichos nos mercados
modernos. Esse fascínio com os conhecimentos tradicionais complicou a história da
61
pupunha, pois as demandas modernas são muito diferentes das demandas indígenas
Como fruto desse trabalho, a raça primitiva Pampa Hermosa, possuidora de alta proporção
(> 80%) de plantas sem espinhos no estipe, nas bainhas e ráquis das folhas, foi
identificada na região de Yurimáguas, Loreto, Peru. Além de serem inermes, as plantas de
Pampa Hermosa crescem com rapidez e possuemi menos oxalato de cálcio nos tecidos.
Este conjunto de caracteres é quase o ideotipo da pupunha ideal para a produção de
palmito, produto gourmet extraído do ponto de crescimento da palmeira. Hoje, essa raça é
plantada em 80 %, ou mais, dos plantios latino-americanos que atendem a crescente
demanda mundial dessa verdura gourmet. No Brasil, as introduções de acessos de Pampa
Hermosa e a identificação de outras populações com plantas inermes, como a de Benjamin
Constant, Amazonas, da raça primitiva Putumayo, fizeram florescer o agronegócio de
pupunha para palmito.
Esse grupo de materiais vem sendo usado nos programas de melhoramento no Brasil, com
destaque para os programas da Embrapa, do Instituto Agronômico (IAC), em Campinas,
Estado de São Paulo, e do Inpa. A Embrapa Florestas, em Curitiba, Estado do Paraná,
coordena uma rede nacional de ensaios de progênies para identificar germoplasma elite
para a produção de palmito nas regiões Sudeste e Norte do País.
A similaridade da composição química da pupunha com a do milho sugere seu uso na
alimentação animal, bem como na elaboração de farinhas, que poderiam ser usadas para
enriquecer pão ou diversificar a indústria da panificação e confeitaria. No entanto, os custos
de colheita e processamento tornam a farinha de pupunha muito cara, especialmente por
competir com outros amidos e farinhas, todos com preços baixos no mercado porque vêm
de cadeias de produção eficientes. A pupunha é uma batata árborea, apresentada em
cachos formados a 5 m ou 10 m da superfície do solo.
Outro uso indígena que muito interessou aos estudiosos da pupunha e nunca encontrou
entusiastas fora da comunidade de P&D foi a bebida fermentada. Os frutos mais amiláceos
são ideais para fermentação e o processo de fermentação explica o nome em inglês: peach
palm ou palmeira-de-pêssego. Embora o fruto tenha semelhança com o pêssego (Figura
16), o aroma de frutos fermentados com tecnologia indígena é quase idêntico ao aroma de
pêssego maduro na árvore, no meio de uma tarde ensolarada. A bebida fermentada por um
dia tem um sabor agradável de fruta − muito diferente de seu sabor quando cozido − e uma
atrativa cor alaranjada. Se fermentada até o esgotamento dos açucares, alcança 5 % de
álcool; se clarificada, é semelhante a uma cerveja alaranjada, com sabor agradável.
Pesquisas no Brasil, Colômbia e Peru melhoraram as tecnologias indígenas, mas nenhum
empreendedor tem se apresentado até agora para tirar o produto da bancada e levá-lo ao
mercado. Considerando o sucesso recente do açaí, cujo sabor, aroma e aparência são
muito menos atrativos, a falta de interesse em pupunha fermentada é curiosa. Mas as
instituições latino-americanas estão à disposição do setor de bebidas quando este
despertar.
Quando ficou evidente que os usos tradicionais não estavam contribuindo para a ampliação
do público consumidor de pupunha, iniciou-se uma nova fase de P&D desta palmácea,
mais realista. Os consumidores de Manaus, Estado do Amazonas e Belém, Estado do
Pará, não desejam os frutos amiláceos do apogeu da domesticação indígena da espécie.
Eles preferem frutos vermelhos, mais ou menos oleosos, com sabor agradável e sem fiapo.
Este tipo de fruto é típico da Amazônia Central e Oriental, justamente onde os indígenas
consideravam a pupunha como um bom petisco, mas não como a base da alimentação, a
semelhança dos povos da Amazônia Ocidental. De fato, a pupunha-petisco tem sido
vendida nas esquinas das ruas de Belém e de Manaus desde muito antes do início das
pesquisas, nunca tendo sido considerado como produto de primeira importância. Na
realidade, este é o principal mercado da fruta, pois além de ser vendida nas esquinas, o
mesmo preparo é usado nos lares: frutos cozidos em água salgada e consumidos com
café, suco ou cerveja, conforme o horário. Com esse novo reconhecimento, as pesquisas
com a pupunha para produção de frutos recomeçaram na Amazônia brasileira.

62
Figura 16. Uma fração da
variabilidade morfológica de
frutos de pupunha cultivada
(B. gasipaes var. gasipaes)
da raça primitiva Putumayo.
Quanto maior o fruto, maior o
teor de amido e menor o teor
de óleo. Quanto mais
alaranjada a coloração do
fruto, maior a teor de
beta-caroteno.

A Embrapa Amazônia Oriental iniciou um programa de melhoramento convencional


direcionado para atender exclusivamente os consumidores de pupunha das ruas de Belém.
Prospecções novas, concentradas nas demandas dos consumidores, permitiram instalar
ensaios de progênies para a rápida geração de novas cultivares. Ao mesmo tempo, o Inpa,
agora em colaboração com a Universidade Federal do Amazonas, iniciou um programa de
melhoramento participativo para atender os consumidores das ruas de Manaus.
Atualmente, o município de Coari, a 300 km ao oeste de Manaus, é o principal produtor da
pupunha comercializada em Manaus. Um grupo de produtores trabalhando com
pesquisadores já identificaram as melhores matrizes e estão se preparando para instalar
ensaios de progênies em seus sítios, ensaios que lhes permitirão comercializar frutos de
melhor qualidade, bem como sementes para expandir a produção de pupunha no
município.
A pupunha tem uma história longa na Amazônia e seu futuro é bastante promissor, agora
que as instituições estão focando sua atenção também para o futuro, em lugar de apenas
no passado, por mais glorioso que esse tenha sido. Atender demandas locais para apoiar
os produtores familiares de pupunha em sistemas agroflorestais parece uma forma lógica
de contribuir para o desenvolvimento sustentável da Amazônia.
Literatura recomendada
Mora Urpí, J.; Weber, J.C.; Clement, C.R. 1997. Peach palm Bactris gasipaes Kunth; promoting the
conservation and use of underutilized and neglected crops. 20. Institute of Plant Genetics and Crop Plant
Research - IPK, Gatersleben/International Plant Genetic Resources Institute - IPGRI, Rome. 83p. (Italy)
http://www.ipgri.cgiar.org/publications/pdf/155.pdf

63
Caso 5. Resgate de recursos genéticos da agricultura tradicional e
melhoramento de cucurbitáceas no Nordeste brasileiro
Manoel Abilio de Queiroz
Departamento de Tecnologia e Ciências Sociais, DTCS-UNEB, Juazeiro, Bahia
As cucurbitáceas compreendem várias espécies, utilizadas na alimentação humana e
animal em diversas partes do mundo e, embora não sejam originárias do Brasil,
representam agronegócio expressivo no País, estimado em mais de R$ 1 bilhão. Deste
total, quase a metade é proveniente do agronegócio da melancia [Citrullus lanatus (Thunb)
Matsum & Nakai]. Vale salientar que a melancia, originária da África e introduzida no Brasil
durante o período da escravatura, foi inicialmente cultivada nas hortas existentes nas
senzalas e depois migrou para o interior do Nordeste brasileiro, durante o processo de
ocupação, onde é mantida, até hoje, pelos pequenos agricultores, que usam a própria
semente para o estabelecimento do próximo plantio, em um sistema de cultivo praticado
quase que na ausência de agroquímicos, principalmente os chamados defensivos
agrícolas.
Dessa forma se hipotetizou que esse germoplasma poderia encerrar genes úteis para o
melhoramento da espécie, uma vez que, introduzidas da África − centro de origem das
principais espécies de Citrullus − persistem na agricultura tradicional do Nordeste brasileiro,
sob cultivo sem pesticidas. O número de cultivares comerciais no Brasil é bastante
reduzido − não passando de dez −, as quais, desenvolvidas nos Estados Unidos e Japão,
embora apresentem boas características de planta e fruto, são suscetíveis às principais
doenças que atacam a cultura. As cultivares comerciais introduzidas no Brasil, na década
de 1950, eram todas suscetíveis a doenças como o oídio, causado pelo fungo
Podosphaera xhantii; a queima de alternaria (Alternaria cucumerina); as potyviroses como
o vírus da mancha anelar do mamão, estirpe melancia (PRSV-w); ao vírus do mosaico da
melancia (WMV); e ao vírus do mosaico da abobrinha (ZYMV), o cancro das hastes
causado pelo fungo Didymella bryoniae, entre vários outros estresses bióticos e abióticos.
Verificou-se que a riqueza encontrada na agricultura tradicional nordestina estava
ameaçada de se perder em virtude de fatores como o êxodo rural, exacerbado nos anos de
secas extremas na Região Nordeste, quando a semente plantada pelos agricultores não
chega a ser colhida e a introdução de variedades comerciais, mais atrativas pela melhor
aparência de seus frutos − especialmente a cor de polpa (Figura 17), entre outros fatores.

Figura 17. Variabilidade genética em acessos de melancia conservados no BAG-Cucurbitáceas


para a Região Nordeste: cor da polpa, capa e forma do fruto.

64
O resgate dessa variabilidade, iniciado em vários estados do Nordeste, notadamente no
Maranhão e Bahia, na década de 1990, resultou em mais de 1,6 mil amostras, que, hoje,
constituem o BAG-Cucurbitáceas para a Região Nordeste. Desse total, pelo menos 600
amostras são de melancia. Desse material, coletado em cultivos de agricultores que
utilizam as sementes de cucurbitáceas para o próximo plantio, feiras livres, pontos de
venda em margens de rodovias, etc., pelo menos 600 amostras são de melancia.
Principais resultados
A variabilidade genética encontrada nas amostras coletadas na agricultura tradicional da
Região Nordeste era totalmente desconsiderada nos meios acadêmicos brasileiros.
Entretanto, trabalhos de caracterização e avaliação identificaram acessos com alto potencial
para utilização em programas de melhoramento no valioso acervo coletado na década de
1990. Os principais caracteres identificados foram: resistência a oídio (Sphaerotheca
fuliginea), cancro das hastes (Dydimela bryoniae), queima de alternária (Alternaria
cucumerina) e viroses (Papaya ringspot virus – type watermelon – PRSV-w; Watermelon
mosaic virus – WMV, Zucchini yellow mosaic virus – ZYMV), além de precocidade e
tamanho, cor de casca e polpa, padrão de fruto e de sementes, teor de sólidos solúveis e
sementes com dormência. Ademais destas e da ocorrência de plantas andromonóicas, a
prolificidade − plantas com muitos frutos, em geral pequenos − é outra característica
determinada entre o germoplasma coletado, de grande importância para o melhoramento
da melancia.
Essa diversidade vem sendo estudada e, aos poucos, está sendo introduzida em cultivares
comerciais. O primeiro exemplo desse trabalho é ‘Opara’, disponibilizada para cultivo em
julho de 2007, com resistência ao oídio proveniente de uma das amostras de melancia do
BAG, CPATSA 2. Essa característica, monogência e dominante, foi incorporada em muitas
linhas de melancia do tipo Crimson, que deram origem a ‘Opara’ e que, no futuro, darão
origem a muitas outras cultivares com diferentes características.
O lançamento da ‘BRS Opara’ durante o Agrishow, realizado de 3 a 7 de julho de 2007, em
Petrolina, Estado de Pernambuco, se é uma boa notícia para os produtores, destaca a importância
de se preservar a biodiversidade para a sustentabilidade do negócio agrícola. A melancia CPATSA-
2, do ponto de vista estritamente comercial, é um material muito ruim: frutos pequenos, polpa branca
e sem doce algum. Contudo, ao invés de descartado, ele foi reunido a mais de 2000 outros materiais
genéticos (melancia, abóbora, melão, maxixe e bucha) e preservados no BAG-cucurbitáceas do
Nordeste brasileiro, idealizado por Manoel Abílio de Queiróz, pesquisador aposentado da Embrapa e
professor do Departamento de Tecnologia e Ciência Sociais da Universidade do Estado da Bahia
(DTCS-UNEB), sendo um exemplo concreto de utilização do tesouro genético preservado em
benefício da cadeia produtiva da melancia. Texto extraído de
<http://www.embrapa.br/imprensa/noticias/2007/julho/1a-semana/noticia.2007-07-02.3162727370/>.
Acesso em 20 out. 2008.
O segundo grande resultado alcançado nesse projeto de resgate e utilização de recursos
genéticos de cucurbitáceas − talvez o mais significativo − é sua realização a partir da
parceria entre a Embrapa Semi-Árido e o Departamento de Tecnologia e Ciências Sociais
da Universidade do Estado da Bahia (Uneb), oportunizando que vários acadêmicos, a nível
de mestrado e doutorado, sejam treinados nas várias fases dos trabalhos em recursos
genéticos vegetais. Esses estudantes, depois profissionais, vêm sendo engajados em
diferentes instituições de pesquisa. Hoje, o BAG-cucurbitáceas para o Nordeste brasileiro
tem como curadora a primeira estudante a se encantar com a variabilidade genética
encontrada no Nordeste brasileiro, a Dra. Rita de Cássia Souza Dias. Outros estudantes se
engajaram em Unidades da Embrapa (Tabuleiros Costeiros, Recursos Genéticos e
Biotecnologia e Embrapa Rondônia), em universidades (Universidade Estadual de Feira de
Santana, a Universidade Federal da Bahia, Universidade Federal Rural do Semi-Árido) e
outras instituições. Novos estudantes continuam a se encantar com esse trabalho em
recursos genéticos de cucurbitáceas, uma atividade estimulante por tratar de preservar
genes para o futuro do agronegócio das diversas espécies que se encontram no País.
65
Caso 6. Utilização do patrimônio genético, cultural e alimentar de arroz-
vermelho (Oryza sativa)
José Almeida Pereira
Embrapa Meio Norte
O arroz é considerado a principal fonte de energia para a maioria da humanidade e
constitui um dos principais componentes da dieta alimentar dos brasileiros. A preferência
do consumidor por esse cereal, via de regra, está associada a aspectos econômicos,
tradicionais e culturais, variando entre países e mesmo de região para região de um
mesmo país. No Brasil, são encontrados alguns tipos especiais de arroz destinados a
públicos de hábitos alimentares diversos, porém nenhum desses tipos especiais possui
maior importância do que o arroz-vermelho.
O arroz-vermelho é praticamente desconhecido como planta cultivada, muito embora, pelas
suas características diferenciadas em relação ao arroz branco, como sabor, textura e,
provavelmente, valor nutricional, seja plantado em, pelo menos, quatro continentes:
América (Argentina, Brasil, Nicarágua e Venezuela), Europa (França e Rússia), África
(Madagascar e Moçambique) e Ásia (Butão, China, Coréia do Sul, Filipinas, Índia,
Indonésia, Japão, Malásia, Nepal, Sri Lanka e Tailândia).
No Brasil, o arroz-vermelho é cultivado principalmente na Região Nordeste, onde foi
introduzido pelos portugueses ainda no século 16, destacando-se − pela ordem
decrescente de importância − os estados da Paraíba, Rio Grande do Norte e Pernambuco.
Em todas essas áreas, a produção está relacionada com o hábito alimentar das
populações locais, no entanto, apesar de ser alvo de grande interesse para a agricultura
familiar e para milhares de consumidores, esse arroz se encontra em franco processo de
erosão genética, em razão da forte concorrência da indústria do arroz branco e do
despovoamento do meio rural. Estima-se que a área atualmente plantada com esse
germoplasma esteja reduzida a um terço do que já foi no passado.
Plantado predominantemente por pequenos agricultores como lavoura de subsistência, o
arroz-vermelho é considerado um verdadeiro patrimônio genético, cultural e alimentar do
povo nordestino. As poucas cultivares de arroz-vermelho adaptadas às condições
brasileiras e em uso hoje, provavelmente, são resultado de transformações ocorridas na
natureza, devido a cruzamentos naturais e a mecanismos como mutações ou
recombinações gênicas, e foram selecionadas ao longo dos últimos 4 séculos pelos
próprios agricultores. Em anos recentes, uma coleção de cultivares tradicionais, locais ou
crioulas desse arroz foi estabelecida pela Embrapa.
Como produto do trabalho de caracterização morfoagronômica dessa coleção, alguns
acessos foram identificados como potencialmente úteis para o melhoramento genético,
visando à redução da altura de planta, do acamamento da pilosidade das glumas e das
folhas e ao aumento da produtividade de grãos e do porcentual de grãos inteiros após o
beneficiamento. Outro aspecto, também importante, diz respeito ao aproveitamento da sua
variabilidade genética na ciração de cultivares de arroz-vermelho biofortificadas, haja vista
a identificação de alguns acessos com elevados teores dos micronutrientes essenciais,
ferro e zinco.
Com base nesses dados, após a sua caracterização morfoagronômica (Figura 18), a
mencionada coleção de cultivares tradicionais de arroz-vermelho foi devidamente
registrada e se encontra em conservação nos BAGs da Embrapa Recursos Genéticos e
Biotecnologia, da Embrapa Arroz e Feijão e da Embrapa Meio-Norte. Numa segunda etapa,
a Embrapa Meio-Norte, através do método de seleção de plantas individuais com teste de
progênies (Figura 19a), deu início a um programa de melhoramento genético com o
objetivo de desenvolver e liberar comercialmente as primeiras cultivares de arroz-vermelho
para as condições de cultivo da Região Semi-Árida nordestina.

66
Figura 18. Caracterização
morfoagronômica de cultivares
tradicionais de arroz-vermelho na
Embrapa Meio-Norte no ano de
2004.

Nesse caso, como as populações naturais de plantas autógamas, em geral, são uma
mistura de genótipos em homozigose, foi possível a obtenção de linhas puras de arroz-
vermelho adaptadas às condições locais a partir do segundo ano de execução do
trabalho.Numa terceira etapa, num trabalho pioneiro no Brasil, a Embrapa Meio-Norte − em
parceria com a Embrapa Arroz e Feijão − iniciou um trabalho de hibridação artificial de
arroz-vermelho, utilizando como parentais algumas das cultivares tradicionais
selecionadas. Várias linhas (gerações iniciais e avançadas) com características
agronômicas, culinárias e nutricionais de interesse vêm sendo obtidas (Figuras 19b e 19c)
e espera-se a liberação comercial das primeiras cultivares melhoradas de arroz-vermelho
no País nos próximos 2 ou 3 anos.
Essa iniciativa reveste-se de grande relevância, tanto para a preservação como para o
aproveitamento da variabilidade genética do arroz, em consonância com a estratégia
preconizada pelo Plano de Ação Global para Segurança Alimentar da FAO.

A B C

Figura 19. Utilização da variabilidade genética do arroz-vermelho visando à alta produtividade de grãos: PB 13,
cultivar obtida na Embrapa Meio-Norte por seleção individual de plantas com teste deprogênies − ano de 2005
(A); linhas F1 (B) e linhagens F7 (C) obtidas por hibridação artificial nos anos de 2005 e 2007, respectivamente,
na Embrapa Meio-Norte.

67
Caso 7. Preservação e utilização de espécies silvestres de Manihot
Alfredo Augusto Cunha Alves
Embrapa Mandioca e Fruticultura Tropical
Dentro do gênero Manihot, com cerca de 98 espécies documentadas, somente a espécie
M. esculenta é cultivada, ao mesmo tempo que é considerada um dos mais importantes
alimentos básicos na dieta humana dos trópicos. O programa de melhoramento da
Embrapa vem trabalhando apenas com a diversidade genética dessa única espécie
cultivada. Apesar de sua rusticidade, a mandioca sofre grandes perdas causadas por
fatores bióticos e abióticos; e as espécies silvestres, que abrigam genes de resistência aos
principais estresses que afetam a cultura, são muito pouco estudadas e muitas delas estão
ameaçadas de extinção
O Brasil, considerado o principal centro de origem da mandioca, tem a maior diversidade
genética do gênero Manihot, dispersada por todo país. Para permitir a utilização de genes
úteis de espécies silvestres, o estabelecimento e ampliação de uma coleção desse valioso
germoplasma têm sido um dos principais objetivos da Embrapa Mandioca e Fruticultura
Tropical. Nos últimos 4 anos, uma coleção foi estabelecida com acessos obtidos de
diferentes fontes, incluindo de coletas realizadas nas regiões semi-áridas (caatinga) e do
Cerrado (Distrito Federal e entorno). Atualmente, a coleção possui cerca de 920 acessos,
envolvendo, pelo menos, 18 espécies do germoplasma silvestre, exibindo amplo
polimorfismo vegetativo e reunindo potencial para utilização em programas de
melhoramento genético da mandioca (Figura 20). Um banco de sementes sexuais também
vem sendo preservado, com aproximadamente 60 mil sementes obtidas na coleção
(polinização aberta).

Figura 20. Coleção de espécies silvestres de mandioca na Embrapa Mandioca e Fruticultura, em Cruz das
Almas, Estado da Bahia, com 920 acessos de 18 espécies. Em detalhe, a variabilidade genética de
algumas espécies: 1) M. glaziovii; 2) M. dichotoma; 3) M. tomentosa; 4) M. irwinii; e 5) M. anomala.

Neste germoplasma silvestre, estão sendo realizados os seguintes estudos: 1) avaliação


de espécies silvestres e híbridos interespecíficos para resistência à seca, a pragas e a
doenças; 2) compatibilidade de cruzamentos entre espécies silvestres e M. esculenta; e 3)
análise citogenética, produção e viabilidade de grãos-de-pólen. O projeto de resistência à
seca tem o apoio do CGIAR − através do Programa “Challenge Generation” − e beneficiará
países em desenvolvimento que utilizam a mandioca como base de sua segurança
alimentar.
68
Caso 8. Utilização da diversidade genética brasileira no melhoramento de
mandioca
Wania Maria Gonçalves Fukuda
Embrapa Mandioca e Fruticultura Tropical
A cultura da mandioca apresenta ampla diversidade genética no Brasil, representada, em
sua maioria, por landraces. Considerado o possível centro de origem e diversificação da
espécie cultivada, já foram catalogados cerca de 4132 acessos no País, que encontram-se
mantidos em coleções e bancos de germoplasma distribuídos em todo o território nacional .
Esta diversidade existente no Brasil representa ampla base genética para programas de
melhoramento genético da cultura em todo o mundo tropical, por concentrar genes que
conferem resistência às principais pragas e doenças que afetam o cultivo, além de
adaptação a diferentes condições edafo-climáticas. De fato, já foi identificada variabilidade
genética para quase todos os caracteres, incluindo aqueles de natureza morfológica,
agronômica e de qualidade nutricional e tecnológica. Variações para caracteres fisiológicos
têm sido menos estudados, mas já existem indicações de alta variabilidade a efeitos de
temperatura, fotossíntese e sensibilidade estomatal à umidade relativa do ar. Apesar de
ainda pouco explorada − relativamente à sua dimensão − a utilização dos recursos
genéticos de mandioca vem sendo extremamente bem sucedida no País.

Teores de caroteno, ferro e zinco nas raízes


A existência de deficiência de vitamina A em regiões do Nordeste brasileiro, onde a cultura
da mandioca é largamente cultivada − e constitui a principal fonte de alimentos dessas
populações − caracteriza esse cultivo como excelente alternativa para o combate de
déficits nutricionais na região. Neste sentido, recentemente, foi identificado que, além de
carboidratos, a cultura da mandioca possui diversidade para teores de caroteno, ferro e
zinco nas raízes, havendo alta correlação entre raízes de coloração amarela e teores de
carotenóides. Os cerca de 1,8 mil acessos de mandioca mantidos no banco ativo de
germoplasma de mandioca (BAG-Mandioca), em Cruz das Almas, Estado da Bahia, foram
avaliados para identificar os acessos mais ricos em carotenóides em suas raízes. Aqueles
com teores mais elevados e baixo ácido cianídrico (HCN) nas raízes, foram usadas como
parentais para o desenvolvimento de novos híbridos, com níveis mais elevados de
carotenóides nas raízes (Figura 21).

Figura 21. BRS Dourada (A) e BRS Gema de Ovo (B), cultivares de mandioca
lançadas para cultivo comercial a partir de seleções feitas no
BAG-Mandioca para teores de carotenóides e baixo HCN nas raízes.

Os ganhos relativos a carotenóides totais nas raízes determinados nos híbridos


desenvolvidos a partir de cruzamentos realizados no programa de melhoramento de
mandioca conduzido na Embrapa Mandioca e Fruticultura foram de 209,4% em relação aos
parentais, apresentando um máximo de 12μg/grama de carotenóides totais nas raízes em
base a peso fresco, além de baixos teores de HCN nas raízes e boa qualidade para o
consumo fresco (Tabela 9 e Figura 22).
69
Tabela 9. Conteúdo de carotenóides totais (μg/g-1) em base a peso fresco de populações
desenvolvidas na Embrapa Mandioca e Fruticultuira (famílias 2003 e 2004)

Família 2003 (228 genótipos) Família 2004 (136 genótipos


Germoplasma Teor de carotenóides Teor de carotenóides
Médio Mínimo Máximo Médio Mínimo Máximo
Progenitores 2,84 2,84 1,50 3,37 2,14 4,01
Híbridos 4,49 4,49 0.87 6,21 2,76 12,41
Ganhos 58,1% -42% 146% 84,2% 28,9% 209,4

Este material, adaptado a regiões carentes do Nordeste brasileiro e com problemas de


déficit de vitamina A, é, indiscutivelmente, uma das grandes contribuições do germoplasma
nativo de mandioca no Brasil.

Figura 22. Híbridos de mandioca gerados para elevar o teor de carotenóides em raízes de mandioca a partir do
germoplasma selecionado no BAG-Mandioca.

Além de Vitamina A, o germoplasma do BAG-Mandioca vem sendo explorado para teores


de ferro e zinco nas raízes, resultando em importantes contribuições para a redução do
déficit nutricional de populações carentes nesses microelementos (Tabela 10), que vem
sendo intensamente utilizado nos programas de melhoramento da espécie

Tabela 10. Conteúdo de ferro e de zinco (mg,kg-1) detrminado nas raízes de landraces mantidas no BAG-
Mandioca e de híbridos das populações 2003,2004 e 2005, gerados na Embrapa Mandioca e
Fruticultura

Teor de Ferro (mg kg-1) Teor de Zinco (mg kg-1)


Germoplasma Nº de Máximo Nº de
Média Mínimo Média Mínimo Máximo
genótipos genótipos
Landraces 72 9,2 0,0 56,5 72 4,14 0,0 26,2
Populações 2003 179 8,2 0,0 511 179 5,20 0,0 34.1
Populações 2004 136 13,1 1,0 77,5 136 12,50 0,5 87,1
Populações 2005 40 23,80 20,54 30,65 40 7,94 1,97 34,38

Resistência à seca
Merece destaque, também, o trabalho que vem sendo conduzido para identificação de
fontes de resistência à seca. Inicialmente, foram avaliados cerca de mil acessos em quatro
ecossistemas do semi-árido Nordestino, tendo sido identificados genótipos que toleravam
períodos de estiagens de até 8 meses com boa produção de raízes e de parte aérea, este
último, importantíssimo para alimentação dos animais nos períodos prolongados de seca
(Figura 23).
A partir de genótipos com estas características, o programa de melhoramento da Embrapa
Mandioca e fruticultura desenvolveu inúmeros híbridos, associando a resistência à seca a
outras características como bacteriose, podridão de raízes, produtividade e teor de amido

70
nas raízes. Dentre elas destacaram-se as cultivares BRS Formosa (Figura 24a) −
resistente à seca e à bacteriose e com alta taxa de adoção pelos agricultores − e BRS
Kiriris (Figura 24b) − resistente à seca e à podridão de raízes. Ademais dessas, inúmeras
outras cultivares vêm sendo criadas a partir das fontes de resistência à seca identificadas
no BAG-Mandioca.

Figura 23. Germoplasma de mandioca


resistente à seca selecionado no BAG-
Mandioca.

Amidos raros e teor de ácido cianídrico


A exploração do BAG-Mandioca para identificar amidos raros, sem dúvida, deverá elevar o
valor agregado do cultivo, por sua alta qualidade para utilização na indústria. Ademais, a
exportação de mandioca de mesa para o Japão e paises da Europa deverá ser incentivada
pelo trabalho de melhoramento genético convencional que vem sendo realizado a partir de
germoplasma do BAG-Mandioca e que já permitiu a redução do teor de ácido cianídrico
nas raízes para 12ppm.

A B

Figura 24. BRS Formosa (A) e BRS Kiriris (B), híbridos de mandioca resistentes à seca, obtidos a
partir de clones selecionados no BAG-Mandioca

71
Caso 9. Utilização, no melhoramento da qualidade nutricional de raízes de
mandioca, de mutações espontâneas encontradas em Manihot
esculenta
Luiz Castelo Carvalho Branco
Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia

Raças locais são formas primitivas das cultivares modernas utilizadas pelos agricultores e
representam o primeiro passo na domesticação da mandioca. A análise genética em
populações naturais dessas raças locais encontradas no centro de origem e domesticação
da mandioca, na Amazônia, tem permitido a descoberta de mutações espontâneas nas
rotas metabólicas de conversão de sacarose para amidos e sínteses/acumulo de
carotenóides. A variabilidade de processos naturais, que requerem grandes número de
proteínas funcionais e que podem concorrer para elevar o conteúdo de proteínas em raízes
de reserva de mandioca, também está sendo analisada. Esses mutantes espontâneos são
utilizados, dentro de uma abordagem evolutiva, para estudos de funcionalidade de genes
que determinam estas características e para incorporação nos programas de
melhoramento mandioca, possibilitando a criação de cultivares com aplicações específicas
em diferentes nichos de mercado.

Mutações espontâneas na síntese de amidos


O amido produzido na raiz da mandioca utilizada comercialmente no Brasil tem
características de funcionalidade distintas, tais como claridade do gel, excelente
capacidade de expansão, sabor natural e excelente qualidade de textura. Todas essas
características são determinadas pelo tipo de amido e pela proporção de amilose e
amilopectina. As pesquisas realizadas na Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia
permitiram identificar germoplasma que apresenta diferentes mutações espontâneas, que
levam as plantas a apresentar elevados teores de açúcares livres, acompanhados de
variantes nos amidos, incluindo amidos sem amilose (CAS36.4), amidos do tipo glicogênio
(CAS36.1), amido com amilopectina de cadeias curtas e ramificação densa (CAS36.3)
(Figura 25). Estes fenótipos bioquímicos são resultantes de mutações nos genes BEI
(amido tipo glicogênio) e do gene GBSS (amido sem amilose).

Fonte: Luiz Castelo Carvalho Branco

Figura 25. Mandioca açucarada, mutação identificada na estrutura da amilopectina de M. esculenta.

Mutações espontâneas na síntese e acúmulo de carotenóides


A pigmentação da raiz das mandiocas encontradas no Brasil varia entre a coloração
branca e a rosa intensa, incluindo gradientes de intensidade da cor amarela (Figura 26). O
72
espectro de separação de carotenóides em HPLC indica que esta coloração é resultante da
variação na quantidade e no tipo de carotenóides presente nas raízes. Essa variabilidade é
resultante de dois tipos de mutações espontâneas identificadas no germoplasma coletado
no País. A mandioca vermelha (Mirasol), que acumula somente licopeno, sofreu uma
mutação no gene que codifica para a enzima licopeno b-ciclase. Na classe das mandiocas
amarelas, a amarela intensa (MC008), que apresenta somente b-caroteno na raiz, sofreu
mutação regulatória no gene que codifica para b-hidroxilas − responsável pela formação
das xantofilas. Em geral, cerca de 54 a 77% dos carotenóides presentes nas raízes das
mandiocas pigmentadas está na forma de b-caroteno.

Figura 26. Variação na quantidade e no tipo de carotenóides presente nas raízes de M. esculenta, resultado
de mutações espontâneas identificadas em germoplasma coletado no Brasil: Mutação rosa (A) e
amarela(B).

Variabilidade natural no conteúdo de proteínas nas mandiocas pigmentadas


O acúmulo de carotenóides é dependente de sua estabilização nas raízes de mandioca,
garantida por proteínas de seqüestro localizadas no cromoplasto. Esse mecanismo
proporciona variações entre 40 % a 60% no conteúdo de proteínas presentes nas raízes
pigmentadas, em comparação com a mandioca branca (Figura 27).

73
Figura 27. Correlação entre o teor de proteínas e de carotenóides presentes em raízes do germoplasma de M.
esculenta coletado no Brasil.

Estas proteínas foram identificadas como pertencentes à classe de proteínas chaperonas


do tipo “Small Heat Chock Proteins” (Figura 28) e a variabilidade encontrada no
germoplasma vem sendo estudada e utilizada para enriquecimento do teor de proteínas
nas raízes de mandioca cultivada.

Figura 28. Proteínas chaperonas do tipo “Small Heat Chock Proteins” presentes em raízes pigmentadas do
germoplasma de M. esculenta coletado no Brasil.

74
Caso 10. Utilização de recursos genéticos de fruteiras nativas do Sul do
Brasil
Caroline Marques Castro, Maria do Carmo Bassols Raseira, Márcia Vizzotto, Ana Cristina Krolow
Embrapa Clima Temperado
O banco ativo de germoplasma de espécies frutíferas nativas da Região Sul do Brasil
(BAG-Nativas Sul), mantido na Embrapa Clima temperado, conta com 12 espécies nativas
e duas introduzidas. São elas: guabiroba (Campomanesia xanthocarpa); pitanga (Eugenia
uniflora); araçá (Psidium catleyanum); feijoa (Acca sellowiana); ingá (Inga uruguensis);
guabiju (Myrcianthes pungens); araticum (Rollinia sylvatica); butiá (Butia capitata.); uvaia
(Eugenia pyriformis); cereja-do-Rio Grande (Eugenia involucraat.); jabuticaba (Myrciaria
truncifolia) e, recentemente, foram adicionados à coleção, acessos de Rubus sp.,As
espécies exóticas são o araçá-pêra (Psidium acutangulum) e a uva-do-Japão (Hovenia
dulcis). Paralelamente às avaliações de campo e determinações em laboratório, estão
sendo testadas formas de processamento visando à melhor utilização dessas fruteiras e,
em iniciativa conjunta com a Faculdade de Farmácia da Universidade Federal do Rio
Grande do Sul, estão sendo desenvolvidos trabalhos de avaliação do seu valor como
alimento funcional. Óleos essenciais já foram identificados e, atualmente, está sendo
conduzida a determinação de compostos fenólicos, antocianos e capacidade anti-oxidante.
Os primeiros trabalhos realizados no BAG-Nativas Sul foram desenvolvidos em araçazeiro,
envolvendo estudos sobre modo de reprodução, número cromossômico, caracterização
(forma, cor da película, sabor, peso médio, teor de sólidos solúveis, espessura das paredes, firmeza da polpa e
aparência geral dos frutos; tamanho; número e perceptividade das sementes) e seleção dos melhores
acessos. O germoplasma mais interessante é avaliado, também, quanto à produtividade,
tendo sido selecionados e propagados dois clones: Ya-cy − de frutas com película amarela
(Figura 29a) e Irapuã − com frutas vermelho-escuras (Figura 29b).
A partir do trabalho realizado em pitangueira (Figura 29c), envolvendo estudos sobre modo
de reprodução, agentes polinizadores, características das frutas e sua utilização, dispõe-
se, hoje, de mais de 175 seleções caracterizadas morfo-fenológica e agronomicamente.
Adicionalmente, em virtude de suas propriedades anti-inflamatórias, recentemente, foi
iniciada um aparceira com pesquisadores dos Estados Unidos para testar seu efeito sobre
o câncer. Em uvaia e cereja-do-Rio Grande, foi iniciada a caracterização e seleção de
genótipos, ao mesmo tempo que estão sendo implantadas coleções de butiazeiro para
futuros trabalhos de pré-seleção.

A B C

Figura 29. Frutas de araçazeiro − película amarela (A) e vermelha-escura (B) e de pitangueira (C), mantidos no
banco ativo de germoplasma de espécies frutíferas nativas da Região Sul do Brasil. Fotos: Caroline
Marques Castro
Finalmente, os estudos realizados no BAG-Nativas Sul despertou o interesse tanto do setor
primário como da indústria. Mais de 30 mil plantas de araçazeiro, p.ex., foram
disponibilizadas ao longo dos anos e micro e pequenas indústrias da região pretendem a
industrialização da pitanga, do araçá e da feijoa, entre outras. A implantação de pomares
com estas espécies nativas trará benefícios aos fruticultores locais, na medida em que
possibilita complementação de renda − algumas delas, como o araçá e alguns tipos de
pitangueira, produzem após a colheita do pêssego e da ameixa −, ao mesmo tempo que
beneficiará industriais e consumidores, que terão novas opções de produtos, contribuindo,
em última instância, para a preservação das espécies.
75
76
CAPÍTULO 6

PROGRAMAS NACIONAIS, TREINAMENTO E ACORDOS E


CONVENÇÔES APLICÁVEIS AOS RECURSOS FITOGENÉTICOS

6.1. PROGRAMAS NACIONAIS

6.1.1. Redes Nacionais de Recursos Genéticos criadas pela Embrapa


Em 1980, a Embrapa criou o Programa Nacional de Pesquisas em Recursos Genéticos,
PNPRG, constituindo a Embrapa Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia, como a
Unidade Coordenadora deste Programa em nível nacional, no qual, foram concentrados
todos os projetos de pesquisa em recursos genéticos de plantas e de animais, executados
pelos Centros da Embrapa e outras instituições participantes do Sistema Nacional de
Pesquisa em Agropecuária. Através do PNPRG, foi organizada a primeira rede de Bancos
Ativos de Germoplasma, em cujos projetos se desenvolveram atividades de introdução,
intercâmbio, coleta, avaliação, caracterização, conservação, documentação e informação
de germoplasma. O período de vigência do PNPRG caracterizou-se pelo esforço da equipe
de Curadores do Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia, para organização dos
Bancos Ativos de Germoplasma nos Centros de Pesquisa da Embrapa, e principalmente,
para a internalização da importância da conservação e uso dos recursos genéticos
naqueles Centros. Foi o período de formação de pessoal técnico na área de recursos
genéticos e do estabelecimento de infra-estrutura adequada para conservação de
germoplasma nas Unidades.
Em 1994, a Embrapa implantou um novo sistema de pesquisa e desenvolvimento, Sistema
Embrapa de Planejamento (SEP) definindo 16 grandes Programas de Pesquisa com
abrangência nacional. Consolidando a extrema importância dada aos recursos genéticos do
país, a Empresa elegeu como um dos seus 16 Programas nacionais de pesquisas
prioritários, o Programa de Conservação e Uso de Recursos Genéticos que tinha como
objetivo “o enriquecimento e a conservação dos recursos genéticos exóticos e nativos de
importância atual e potencial para o país, promovendo e aumentando, através da
caracterização e avaliação, a utilização desses recursos em programas de melhoramento,
para o desenvolvimento de uma agricultura sustentável”. Este Programa se alicerçava no
binômio Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia/Rede de Bancos Ativos de
Germoplasma, cujas ações de manejo e conservação a curto, médio e longo prazo se
complementam de forma integrada em todo o país.
Durante o período de execução do programa, buscou-se especificamente alcançar os
seguintes objetivos: a) Enriquecer a variabilidade genética disponível das espécies de
importância sócio-econômica atual e potencial, por meio de ações de coleta, introdução e
intercâmbio; b) Conservar in situ e preservar ex situ a curto, médio e longo prazo, os recursos
genéticos de espécies de interesse atual ou potencial para a agropecuária brasileira; c)
Caracterizar e avaliar o germoplasma e divulgar esse conhecimento para uso em programas
de melhoramento; d) Definir normas e procedimentos quarentenários para um seguro
intercâmbio técnico-científico de recursos genéticos vegetais, animais e de microrganismos,
assim como estabelecer normas sobre biossegurança para o intercâmbio de organismos
modificados geneticamente; e) Manter um sistema eficiente de informação sobre as
características dos recursos genéticos disponíveis a pesquisa, para o desenvolvimento
agropecuário do país; f) Divulgar informações sobre recursos genéticos para consolidação de
uma consciência nacional, sobre a importância da conservação, preservação e utilização dos
recursos genéticos, dentro do contexto da biodiversidade.
A operacionalização do Programa se fez por meio de projetos de pesquisa e
77
desenvolvimento, submetidos pelas instituições participantes do SNPA, nos quais foram
feitas propostas para solucionar problemas relacionados aos objetivos do Programa. Este
Programa foi mantido até o ano de 2002, quando entrou em curso o novo sistema de
planejamento da Embrapa.
No ano de 2002, foi criado o Sistema Embrapa de Gestão - SEG, o qual objetivou implantar
um sistema competitivo para a pesquisa na Empresa, concentrado em Macroprogramas
com temas definidos e priorizados pelos setores relacionados a P&D na sede da Embrapa.
O novo sistema de gestão de pesquisa acabou com a figura programática de Programa
Nacional, desta forma, o Programa de Recursos Genéticos, após competir com outros
projetos de rede em outros temas, foi aprovado e passou a se constituir em um grande
Projeto em Rede, chamado de Rede Nacional de Recursos Genéticos, RENARGEN. A
reorganização do antigo programa na forma de Rede, objetivou melhorar o atendimento às
demandas nacionais atuais e futuras de recursos genéticos, enfatizando o enriquecimento,
a conservação, a caracterização e a disponibilização de germoplasma autóctone e exótico,
à luz da Segurança Alimentar Brasileira e da necessidade de incremento da capacidade de
barganha para trocas internacionais, em consonância com a Política Nacional de
Biodiversidade, que estava em fase de implementação.
Uma parte significativa das ações da Rede Renargen volta-se a produtos de grande
impacto no agronegócio e na agricultura familiar e o desenvolvimento dos trabalhos aporta
crescentes oportunidades de treinamento e capacitação, seja pelas atividades de inovação
tecnológicas envolvidas, seja pela qualidade das equipes participantes. A Rede, de
natureza multidisciplinar envolve grande número de competências e instituições e está
organizada em Projetos Componentes liderados por diferentes Unidades da Embrapa e
focalizados em temas e desafios de grande relevância. Em 2008, a Rede conta com 11
Projetos Componentes, que totalizam 125 Planos de Ação e 827 Atividades. Estão
envolvidos nessa Rede, 32 Centros de Pesquisa da Embrapa, diversas Universidades e
Instituições Estaduais de Pesquisa, englobando 635 pesquisadores.
A partir de 2009, mais uma vez será alterada a estrutura da Rede Nacional de Recursos
Genéticos, que passará a chamar-se Plataforma Nacional de Recursos Genéticos, que será
formada por quatro Projetos em Rede:
• Rede Vegetal
• Rede Animal
• Rede Microbiana
• Integração das Redes de Recursos Genéticos.

As três primeiras Redes abrigarão os Projetos Componentes que visam a conservação


propriamente dita, ao passo que a quarta Rede, abrigará Projetos Componentes
Transversais, que são comuns às três primeiras Redes (Figura 1). Este conjunto de quatro
Redes é que formará a Plataforma Nacional de Recursos Genéticos. Essa Plataforma
contará com 30 Projetos Componentes assim distribuídos: Rede Vegetal (14 Projetos
Componentes), Rede Animal (seis Projetos Componentes), Rede Microbiana (seis Projetos
Componentes) e Rede de Integração (quatro Projetos Componentes). O objetivo desta
última Rede será o de interligar as demais Redes, através de um Gerenciamento Integrado,
que será exercido através de três Projetos Componentes transversais (Curadoria,
Intercâmbio e Documentação de Recursos Genéticos), que perpassam todos os Projetos
Componentes.

6.1.2. Programas Plurianuais Desenvolvidos pelo Ministério do Meio Ambiente

De acordo com as competências atribuídas à Secretaria de Biodiversidade e Florestas e ao


Departamento de Conservação da Biodiversidade, a Gerência de Recursos Genéticos tem,
por familiaridade com o tema, as seguintes responsabilidades: (a) Conservação,
valorização e promoção do conhecimento e do uso sustentável dos componentes da

78
agrobiodiversidade; (b) Promoção da utilização sustentável das espécies nativas de
importância econômica atual ou potencial, com ênfase para aquelas de valor alimentício e
nutricional; (c) Conservação das variedades crioulas e dos parentes silvestres das espécies
de plantas cultivadas; (d) Proteção e recuperação de espécies da fauna, da flora e de
microrganismos ameaçadas de extinção; (e) Prevenção da introdução, erradicação e
controle das espécies exóticas invasoras que ameaçam os ecossistemas, habitats ou
espécies; (f) Promoção da biossegurança de organismos geneticamente modificados –
OGMs; e (g) Subsidiar a CTNBio na formulação de políticas e normas relacionadas à
biossegurança de OGMs. As ações desenvolvidas no âmbito da Gerência de Recursos
Genéticos – GRG estão inseridas em dois Programas Plurianuais estabelecidos pelo
Governo, ou seja: Conservação, Manejo e Uso Sustentável da Agrobiodiversidade; e
Conservação e Uso Sustentável da Biodiversidade e dos Recursos Genéticos.

6.1.2.1. Conservação, Manejo e Uso Sustentável da Agrobiodiversidade

O Programa inclui as seguintes ações desenvolvidas pela Gerência de Recursos Genéticos


(GRG): (a) Identificação e pesquisa de espécies da fauna e da flora de importância
econômica e (b) Implantação de sistemas comunitários de conservação e uso sustentável
da agrobiodiversidade. Integram essas ações as seguintes atividades, conduzidas
diretamente pela GRG: (i) Conservação in situ, ex situ e on farm de recursos fitogenéticos
no Brasil; (ii) Mapeamento das variedades crioulas e dos parentes silvestres das espécies
de plantas cultivadas; (iii) Espécies de valor econômico atual e potencial, de uso local e
regional – Plantas para o Futuro; (iv) Conservação e uso sustentável da agrobiodiversidade
em sistemas comunitários e (v) Fomento ao uso de plantas medicinais e fitoterápicas.

6.1.2.2. Conservação e Uso Sustentável da Biodiversidade e dos Recursos Genéticos

Este Programa inclui as seguintes ações desenvolvidas direta ou indiretamente pela GRG:
(a) Conservação de espécies da fauna ameaçada de extinção e espécies migratórias; (b)
Monitoramento e controle de espécies exóticas invasoras; e (c) Desenvolvimento de ações
de biossegurança de OGMs. Integram essas ações as seguintes atividades conduzidas
pela GRG: (i) Revisão das listas e recuperação das espécies da fauna, da flora e dos
microrganismos ameaçados de extinção; (ii) Prevenção, controle e erradicação de espécies
exóticas invasoras, fauna, flora e microrganismos; e (iii) Biossegurança de Organismos
Geneticamente Modificados – OGMs.

6.2. SISTEMA EDUCACIONAL

6.2.1. Cursos de Graduação em Ciências Agrárias

A educação superior em áreas relacionadas as Ciências Agrícolas é bastante antiga no


Brasil. Cursos de agronomia foram os primeiros a serem criados no país, com a Faculdade
de Agronomia Eliseu Maciel, a mais velha do Brasil, fundada em 1892, em Pelotas, Rio
Grande do Sul. Inicialmente ligada ao Ministério da Agricultura, as faculdades de Agronomia
passaram para o Ministério da Educação. A grande maioria das faculdades na área de
Agricultura são ligadas ao governo federal ou estadual. Recentemente algumas faculdades
de agronomia têm sido criadas em universidades privadas. Em 2006 um total de 143.798
estudantes estavam matriculados em cursos de graduação nas áreas de Agronomia e
Ciências Biológicas. A Tabela 11 apresenta o número total de cursos de graduação em
várias áreas ligadas as Ciências Agrícolas.

79
Tabela 11. Número de Cursos de Ensino Superior nas diversas
áreas de Ciências Agrárias (2006)

NOME DO CURSO NÚMERO DE CURSOS

Agronomia 163
Ciências Biológicas 247
Engenharia Florestal 39
Engenharia Agrícola 23
Engenharia Ambiental 84

TOTAL 556
Fonte: MEC/ INEP

6.2.2. Cursos de Pós-graduação em Ciências Agrárias

O Brasil possui um grande número de cursos de pós-graduação em Ciências Agrícolas.


Este número é o resultado direto dos investimentos feitos nas décadas de 70 a 90, quando
grande número de pesquisadores foram enviados ao exterior para serem treinados a nível
de pós-graduação, especialmente nos Estados Unidos da América e Europa. Quando do
retorno destes pesquisadores especializados, foi possível a criação de vários programas de
pós-graduação no país, mas também a formação de vários grupos de pesquisa nos
Centros Nacionais de Pesquisa Agropecuária criados com a formação da Empresa
Brasileira de Pesquisa Agropecuária (EMBRAPA), em 1973. Assim sendo, a formação de
recursos humanos para a pesquisa no Brasil está fortemente ligada aos extensivos
programas de pós-graduação, os quais seguem o modelo Americano com programas de
mestrado e doutorado, dom duração de dois e quatro anos, respectivamente. Até o final de
2006 o número de professores em cursos de pós-graduação, nos vários campos da
Agronomia, Floresta, Engenharia Agrícola, Botânica e Genética era de 3,540, enquanto
que o número de estudantes registrados era de 4,960 em cursos de Mestrado e 4,045 em
cursos de Doutorado. O número de cursos de pós-graduação nas várias áreas da Ciência
Agrícola pode ser visto na Tabela 9 apresentada abaixo. Alguns deles oferecem somente
Mestrado, alguns somente Doutorado, mas a maioria oferece ambos os níveis de mestrado
e doutorado.

Tabela 12. Número de Cursos de Pós-graduação nas diversas áreas


de Ciências Agrárias, de acordo com o nível
M.Sc. Apenas M.Sc. e Total
ÁREA Ph.D. Ph.D.

Agronomia 42 0 74 118
Botânica 4 0 16 20
Engenharia Agrícola 5 0 8 13
Genética 3 2 18 25
Engenharia e Recursos Florestais 5 1 8 14

TOTAL 59 3 124 190


Fonte: Capes/MEC – Ano base: 2006

Além dos programas de pós-graduação listados na Tabela 12, os cursos de Ciências


Biológicas oferecem 205 cursos de pós-graduação, muitos dos quais contemplam muitas
das areas das Ciências Agrícolas, como genética e botânica.

80
6.2.2.1. Cursos de Pós-graduação em Recursos Fitogenéticos
Apesar dos recursos genéticos terem sido considerados no âmbito da pesquisa,
principalmente com o trabalho pioneiro da Embrapa na década de 1970, ações na área de
ensino têm sido muito tímidas e muito mais recentes. O primeiro curso de pós-graduação
acadêmico na área de recursos genéticos vegetais foi estabelecido na Universidade
Federal de Santa Catarina, localizada em Florianópolis, a qual tem um curso de pós-
graduação acadêmica iniciado em 1997 ao nível de mestrado e em 2003 passou também a
oferecer o doutorado.
A Universidade Estadual de Feira de Santana (UEFS, Feira de Santana-BA) aprovou um
curso de pós-graduação acadêmica, intitulado Recursos Genéticos Vegetais no ano de
2007 e a Universidade Federal do Recôncavo Baiano (UFRB, Cruz das Almas) em parceria
com a Embrapa Mandioca e Fruticultura, também aprovou um curso de pós-graduação
acadêmica em Recursos Genéticos Vegetais no ano de 2007, ambos ao nível de mestrado.
O curso de Feira de Santana tem três linhas de pesquisa: Genética e Melhoramento de
Plantas; Coleta, caracterização e conservação de germoplasma e Biodiversidade,
bioprospecção e manejo sustentável de plantas nativas e exóticas. O curso da
UFRB/Embrapa tem duas linhas de pesquisa: Conservação e Manejo de recursos
genéticos vegetais e Melhoramento e biotecnologia. Ambos tem a disciplina de Recursos
Genéticos Vegetais, sendo que a UEFS tem a mesma em dois semestres (I, II).
Cada um dos cursos tem uma entrada anual de cerca de dez alunos e várias dissertações
estão em andamento. Maiores detalhes poderão ser obtidos nos endereços dos cursos,
facilmente acessados (www.uefs.br e www.ufrb.br).
No entanto, a disciplina de Recursos Genéticos Vegetais também é oferecida no curso de
mestrado em Horticultura Irrigada na Universidade Estadual da Bahia (UNEB,
www.ppghi.uneb.br), que tem uma linha de pesquisa em Recursos Genéticos e
Melhoramento de Espécies Horticolas, bem como, no curso de Fitotecnia da Universidade
Federal Rural do Semi-Árido (UFERSA) em Mossoró-RN, ao nível de mestrado e
doutorado.
Além desses cursos que são mais dirigidos para o estudo dos Recursos Genéticos
Vegetais, vários estudos sobre recursos genéticos vegetais têm sido feitos em cursos de
pós-graduação acadêmicos em Agronomia. Dentro dessa linha se enquadram os cursos de
Mestrado em Produção Vegetal da Universidade do Sudoeste da Bahia (UESB), além, do
curso de Mestrado em Melhoramento de Plantas oferecido pela Universidade Federal Rural
de Pernambuco (UFRPE), entre outros.
Portanto, os recursos genéticos vegetais começam a despertar o interesse dos cursos de
pós-graduação acadêmica no Nordeste brasileiro e vários estudantes estão desenvolvendo
dissertações e teses sobre vários aspectos dos recursos genéticos vegetais e em várias
espécies de interesse da região, especialmente do Semi-Árido.

Vale salientar que o Instituto Agronômico de Campinas (IAC) tem um curso de mestrado
em Agricultura Tropical que tem possibilidade de desenvolver dissertações que abordem os
recursos genéticos, bem como no Instituto de Pesquisa da Amazônia (INPA) o qual tem
uma disciplina intitulada Conservação e Uso dos Recursos Genéticos. A Universidade
Federal de Viçosa –MG, desenvolve vários estudos com recursos genéticos de hortaliças,
tendo uma disciplina no curso de pós-graduação em Fitotecnia (mestrado e doutorado)
intitulada Manejo dos Recursos Genéticos Vegetais e no curso de Melhoramento da
Universidade Estadual do Norte Fluminense (UENF) tem a disciplina de Recursos
Genéticos Vegetais no curso de graduação, bem como na pós-graduação (Curso de
Melhoramento Vegetal), sendo que o curso tem uma linha de pesquisa em Recursos
Genéticos Vegetais.

81
6.2.3. Pesquisa Agropecuária desenvolvida em Universidades

A pesquisa nas universidades brasileiras está concentrada basicamente em universidades


públicas, tanto Federais quanto Estaduais, as quais produzem aproximadamente 90% da
pesquisa científica nacional. As universidades privadas tem pouco a adicionar a este
cenário, com poucas exceções. Geralmente, a pesquisa universitária é financiada com
recursos externos ao orçamento anual, sendo necessários investimentos em infraestruturas
básicas como bibliotecas, computadores, espaços físicos para laboratórios e recursos
humanos, financiados pela CAPES (Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível
Superior), vinculado ao Ministério da Educação. Entretanto, a fonte de financiamento mais
importante para suporte da pesquisa universitária é procedente do Ministério de Ciência e
Tecnologia/MCT, através do CNPq (Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e
Tecnológico) e da FINEP (Financiadora de Estudos e Projetos). Outras importantes fontes
de financiamento da pesquisa no Brasil são as Fundações Estaduais, criadas
especialmente para financiar e apoiar pesquisa, o que tem permitido a expansão da base
científica nacional, ambos em termos qualitativos quanto quantitativos.

6.3. ATIVIDADES DE PESQUISA E DESENVOLVIMENTO EM RECURSOS


FITOGENÉTICOS REALIZADAS NO BRASIL

As atividades de Pesquisa e Desenvolvimento no Brasil tem sido essencialmente ações


públicas. A Ciência e Tecnologia no setor rural tem se desenvolvido principalmente nas
escolas públicas e centros de pesquisa, com maior concentração em instituições federais,
com pequena e discreta participação do setor privado e instituições ligadas aos serviços
agrícolas. Algumas áreas ligadas ao setor, em campos definidos como pesquisa
estratégica, em desenvolvimento tecnológico, produção e política industrial, têm sido
financiadas diretamente pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento. A
contribuição da Ciência e Tecnologia para o setor tem se dado basicamente através do
amplo sistema de pós-graduação e do financiamento para instituições de pesquisa.

6.3.1. Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária - EMBRAPA


A Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) vinculada ao Ministério da
Agricultura, Pecuária e Abastecimento, foi criada em 26 de abril de 1973. Sua missão, foi
revista no V PDE (Plano de Desenvolviemnto Estratégico), aprovado em 2008 é:
“Viabilizar soluções de pesquisa, desenvolvimento e inovação para o
desenvolvimento sustentável da agricultura e agroindústria em benefício da sociedade
brasileira. A Embrapa atua por intermédio de 39 Unidades de Pesquisa e três Serviços
estando presente em quase todos os Estados da Federação, nos mais diferentes biomas
brasileiros.
Para ajudar a construir a liderança do Brasil em agricultura tropical, a Empresa investiu
sobretudo no treinamento de recursos humanos; possuindo hoje cerca de 8.623
empregados, dos quais 2.294 são pesquisadores, sendo 66% com Ph.D. e 25% com M.Sc.
No ano de 2007, incluindo a folha de pagamento, o orçamento da Empresa ficou ao redor
de U$ 740 milhões. Naquele mesmo ano, o oçamento de custeio e capital teve um
incremento de 24,8% sobre o orçamento de 2006.
Em abril de 2008, a Embrapa foi aquinhoada com um segmento do Plano de Aceleração do
Crescimento (PAC) instituído pelo Governo Federal, que prevê a utilização de R$ 200
milhões em 2008 e outros R$ 300 milhões no biênio 2009/10, de forma a reforçar a atuação
da empresa. Estes recursos serão investidos em dez grandes projetos: Agricultura
Amazônia sustentável; Segurança alimentar e alimentos seguros; Aproveitamento dos
recursos naturais e produção agrícola sustentável; Competitividade e sustentabilidade da
agricultura familiar; Avanço da fronteira do conhecimento; Agroenergia; Governança e

82
inovação institucional; Revitalização e modernização da capacidade intelectual e da infra-
estrutura; Recuperação da capacidade operativa das Organizações Estaduais de Pesquisa
Agrícola; e Monitoramento por satélite das obras do PAC e de seus impactos.
Está sob a coordenação da Embrapa o Sistema Nacional de Pesquisa Agropecuária -
SNPA, constituído por instituições públicas federais, estaduais, universidades, empresas
privadas e fundações, que, de forma cooperada, executam pesquisas nas diferentes áreas
geográficas e campos do conhecimento científico. Tecnologias geradas pelo SNPA
mudaram a agricultura brasileira.

A Embrapa tem três tipos de Centros de Pesquisa Agrícola: Centros de Produtos, Centros
Temáticos e Centros Eco-Regionais. Os Centros de Produtos são estratégicamente
localizados em regiões do País onde as espécies são economicamente importantes. Assim
a Embrapa tem Centros de Pesquisa Nacional para as mais importantes culturas, incluindo
os seguintes: Arroz e Feijão em Goiânia, Goiás; Soja em Londrina, Paraná; Milho e Sorgo
em Sete Lagoas, Minas Gerais; Hortaliças em Brasília, Distrito Federal; Trigo em Passo
Fundo, Rio Grande do Sul; Algodão em Campina Grande, Paraíba; Uva e Vinho em Bento
Gonçalves, Rio Grande do Sul; Florestas em Colombo, Paraná; Mandioca e Fruticultura em
Cruz das Almas, Bahia. Os centros para pesquisa de diferentes ambientes (Centros de
Pesquisa Eco-Regionais) que trabalham com recursos genéticos de plantas, estão
localizados nas seguintes regiões: Região Meio-Norte em Teresina, Piauí; Pantanal em
Corumbá, Mato Grosso do Sul; Tabuleiros Costeiros em Aracajú, Sergipe; Cerrados em
Brasília, Distrito Federal; Semi-Árido em Petrolina, Pernambuco; Sul em Bagé, Rio Grande
do Sul; Sudeste em São Carlos, São Paulo, Oeste em Dourados, Mato Grosso do Sul;
Região Oriental do Amazonas em Belém, Pará; Região Ocidental do Amazonas em
Manaus, Amazonas. Dentre os Centros Eco-Regionais, três são conhecidos como Centros
de Pesquisa Agroflorestais e estão localizados em Boa Vista, Roraima; Rio Branco, Acre e
Porto Velho, Rondonia. A distribuição das unidades da Embrapa está apresentada na
Figura 30.

Figura 30. Distribuição das Unidades de Pesquisa do SNPA

O Centro Nacional de Pesquisa em Recursos Genéticos e Biotecnologia – Embrapa


Recursos Genéticos e Biotecnologia, localizado em Brasília, Distrito Federal, é um dos
83
Centros Temáticos de Pesquisa, tem a importante função na conservação de recursos
genéticos de plantas, animais e microrganismos. O Embrapa Recursos Genéticos e
Biotecnologia coordena as atividades de conservação de recursos genéticos, através de
um sistema denominado Rede Nacional de Recursos Genéticos (RENARGEN), que será
substituído no início do ano de 2009 por uma estrutura mais ampla, denominada
Plataforma Nacional de Recursos Genéticos.

6.3.1.1. Centro Nacional de Pesquisa em Recursos Genéticos e Biotecnologia


A criação do Centro Nacional de Pesquisa em Recursos Genéticos e Biotecnologia
(Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia) ocorreu em 1983 e atendeu a uma
conscientização científica mundial sobre a importância dos recursos genéticos, consolidada
a partir da Primeira Conferência Mundial sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento,
realizada em Estocolmo, na Suécia, em 1972. Quase vinte anos mais tarde, a realização
da Rio-92 (II Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente e o Desenvolvimento
– Earth Summit) no Rio de Janeiro, tornou evidente o impacto potencial dos recursos
genéticos e das pesquisas biotecnológicas na sustentabilidade econômica e ecológica dos
agro-ecossistemas, o que fez com que a responsabilidade do Embrapa Recursos
Genéticos e Biotecnologia fosse ampliada.
O Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia é um dos centros temáticos da Embrapa e
tem como objetivos a conservação e a caracterização dos recursos genéticos (plantas,
animais e microrganismos), assim como o desenvolvimento de biotecnologias.
A Unidade contribui de forma decisiva para o desenvolvimento de uma agricultura
sustentável e ambientalmente equilibrada no país, já que além das atividades mencionadas
desenvolve trabalhos na área de controle integrado de pragas, além de ações específicas
de defesa agropecuária.
Para desenvolver as pesquisas nas quatro grandes áreas de atuação - recursos genéticos,
biotecnologia, controle biológico e segurança biológica - a Embrapa Recursos Genéticos e
Biotecnologia conta com um quadro de pessoal de 289 empregados, sendo 130
pesquisadores, 80 de apoio à pesquisa e 79 de administração. Dentre a equipe de
pesquisadores, 92 possuem doutorado no país e no exterior, 36 são mestres e dois são
bacharéis. A Unidade mantém um programa de treinamento na forma de cursos formais e
apóia cursos de graduação e pós-graduação em universidades brasileiras. Seus
pesquisadores orientam mais de 80 bolsistas e estagiários com o suporte de instituições
financeiras de apoio à pesquisa.
Uma das principais missões do Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia é a
conservação de germoplasma em longo prazo. Esta atividade é desenvolvida através de
um Banco Base de Germoplasma Semente (COLBASE), criado em 1976, com o objetivo
de garantir por muitas décadas, a sobrevivência das sementes de espécies de interesse
socioeconômico, assegurando desta forma, as fontes para a alimentação e para
agricultura. O manejo da COLBASE segue normas internacionais de operacionalização e
dispõe de câmaras frias (-20ºC), com capacidade atual para 240 mil acessos. O
enriquecimento da variabilidade genética das espécies armazenadas no Banco Base é
realizado através de coleta, introdução, intercâmbio e material genético enviado pelos
Bancos Ativos. Testes em laboratório são realizados para avaliar a qualidade fisiológica e
sanitária dos acessos. Atualmente a COLBASE possui 107.000 acessos de 745 espécies.
Detalhes sobre os gêneros e a quantidade de acesso armazenados podem ser vistos nas
Tabelas 1A a 10A do Anexo deste Relatório. As Tabelas 1A a 10 A foram organizadas por
grupos de produtos; 1A – Espécies Arbóreas e Palmeiras; 2 A – Cereais e Pseudocereais;
3A – Forrageiras; 4A – Fruteiras; 5A – Hortaliças; 6A – Industriais; 7A – Leguminosas,
Oleaginosas e Fibrosas; 8A – Medicinais, Aromáticas, Estimulantes, Corantes e Inseticidas;
9A - Ornamentais e 10A – Raízes e Tubérculos.

84
6.3.2. Sistema Nacional de Pesquisa Agropecuária

O Sistema Nacional de Pesquisa Agropecuária – SNPA, é constituído basicamente por


instituições públicas federais e estaduais, as quais, de forma cooperativa, conduzem
pesquisa em diferentes regiões geográficas e em diversos campos do conhecimento
científico. O SNPA é coordenado pela EMBRAPA, tendo como parte do sistema as
seguintes instituições estaduais: PESAGRO – Empresa de Pesquisa Agropecuária do
Estado do Rio de Janeiro; EPAMIG – Empresa de Pesquisa Agropecuária do Estado de
Minas Gerais; APTA – Agência Paulista de Tecnologia Agropecuária; IAPAR – Instituto de
Agronomia do Estado do Paraná; FEPAGRO – Fundação de Pesquisa Agropecuária do
Estado do Rio Grande do Sul; INCAPER – Instituto de Pesquisa, Assistência Técnica e
Extensão Rural do Estado do Espírito Santo; AGÊNCIA RURAL – Agência para o
Desenvolvimento Rural do Estado de Goiás; EPAGRI – Empresa de Pesquisa
Agropecuária e Extensão Rural do Estado de Santa Catarina; AGRAER - Agência de
Desenvolvimento Agrário e Extensão Rural do Estado de Mato Grosso do Sul; UNITINS
AGRO – Organização Estadual de Pesquisa Agropecuária do Estado de Tocantins;
AGẾNCIA RURAL - Agência Goiana de Desenvolvimento Rural e Fundiário do Estado de
Goiás; EMPAER – Empresa Mato-Grossense de Pesquisa Agropecuária e Extensão Rural;
EMEPA – Empresa de Pesquisa Agropecuária do Estado da Paraíba; EBDA – Empresa
Baiana de Desenvolvimento Agropecuário; EMDAGRO – Empresa de Desenvolvimento
Agropecuário do Estado de Sergipe; AGERP - Agência de Pesquisa Agropecuária e
Extensão Rural do Estado do Maranhão; DIPAP – Divisão de Pesquisa Agropecuária do
Estado de Alagoas; EMPARN – Empresa de Pesquisa Agropecuária do Estado do Rio
Grande do Norte e IPA – Empresa de Pesquisa Agropecuária do Estado de Pernambuco. A
Figura 2 mostra a distribuição dos Centros de Pesquisa da Embrapa, bem como as
Empresas Estaduais de Pesquisa.

6.4. SISTEMAS DE INFORMAÇÃO E SERVIÇOS DE INFORMAÇÃO

6.4.1. Sistema Brasileiro de Informação e Recursos Genéticos - Sibrargen


De 1996 a 2008 houve uma grande evolução nas tecnologias de informação e de
telecomunicações que influenciaram positiva e substancialmente as ações de
documentação e informatização dos recursos genéticos, facilitando o acesso remoto a
bases de dados centralizadas de forma ágil e simplificada. Os computadores e softwares
utilizados pela Documentação de recursos genéticos foram atualizados sucessivamente
para acompanhar a crescente demanda dos usuários do sistema e a linha de comunicação,
que em 1996 era de 2 MBPS, passando recentemente a operar em 100 MBPS, um
aumento de 50 vezes na velocidade de transmissão.
No início dos anos 2000 o Sistema de Informação de Recursos Genéticos - SIRG foi
substituído pelo atual Sistema Brasileiro de Informação de Recursos Genéticos - Sibrargen
acompanhando as facilidades oferecidas pela evolução das áreas de tecnologia da
informação e de telecomunicações. O SIRG foi desenhado para ser executado em
computadores pessoais com os aplicativos Coleta, Registro, Colbase, Colativa, Dicatab e
Avalia. Cada um desses aplicativos era executado em computadores diferentes e com isso
o compartilhamento de informação gerava redundância de dados e inconsistência nas
informações. Como os computadores não estavam conectados via rede, a informação não
era disponibilizada para acesso remoto, sendo possível somente uma consulta por vez, em
único computador. O SIRG foi desenvolvido na linguagem Basic com as bases de dados
em arquivos indexados.
O Sibrargen foi projetado para criar e manter um banco de dados centralizado com a sua
atualização descentralizada executada pelas equipes geradoras das informações, via
Internet. As bases de dados que são temáticas e inter-relacionadas, estão centralizadas
em um único banco de dados que armazena e que pode disponibilizar as informações
85
produzidas pelas várias atividades relacionadas aos recursos genéticos: Intercâmbio,
Coleta, Conservação (ex-situ com plantas no campo, banco de sementes e in-vitro),
Caracterização e Avaliação de Germoplasma. Os diferentes módulos do Sibragen podem
ser vistos na Figura 31.

Curadoria Passaporte Intercâmbio Quarentena

Coleta Conservação

Caracterização Avaliação Tabelas


Taxonomia Auxiliares

Figura 31. Módulos do Sistema Brasileiro de Informação de Recursos Genéticos - Sibrargen

O Sibrargen foi desenvolvido em ferramentas Oracle (sistema gerenciador de banco de


dados, Forms e Reports) para manutenção das bases de dados e sua Homepage
desenvolvida em ferramentas Web (HTML e JSP) utilizando a infra-estrutura de Rede da
Embrapa. Numa primeira fase, a implantação do sistema ocorreu no âmbito da Embrapa,
no entanto está previsto o seu uso por outras instituições brasileiras, principalmente
aquelas que integram o Sistema Nacional de Pesquisa Agropecuária – SNPA.
A tecnologia disponível nos últimos anos permitiu que:
• as informações sejam padronizadas, organizadas, agrupadas e disponibilizadas de
forma integrada evitando redundância;
• sejam realizadas consultas que envolvam critérios de seleção de diferentes áreas
temáticas;
• os usuários tenham acesso remoto e instantâneo às informações disponibilizadas
pelo Sibrargen; e
• as equipes trabalhando em diferentes locais possam fazer a manutenção das bases
de dados.
Em 2007 o Brasil foi selecionado pela FAO para fazer parte do teste da integração dos
sistemas nacionais de informação sobre recursos genéticos no âmbito do Sistema
Multilateral - MLS da FAO, ora em desenvolvimento. O objetivo foi o de atender as
demandas de intercâmbio de germoplasma com o padrão MultiCrop Passport Data -
MCPD-FAO, que faz parte do Tratado Internacional de Recursos Fitogenéticos para
Alimentação e a Agricultura – TIRFAA. Atualmente, o Sibrargen disponibiliza os dados de
passaporte de acessos de mandioca (Manihot esculenta Crantz) que o Brasil, por meio da
Embrapa, iniciará a disponibilizar em 2009 para o intercâmbio facilitado. Para isso, foram

86
necessários ajustes no sistema e adequação dos dados para atender ao padrão
estabelecido.
Considerando que o Sibrargen já tem mais de sete anos de uso, em 2008 a Diretoria
Executiva da Embrapa decidiu submetê-lo a uma avaliação técnica, visando sua
adequação para os próximos anos. Foram sugeridas alterações, tanto para a aumentar a
satisfação do usuário quanto para, em tecnologia de informação para melhorar a
performance, através do uso de tecnologias Web mais modernas.
Outro aspecto importante que está sendo considerado no contexto de modernização do
Sistema é a possibilidade de integrar o Módulo Vegetal do Sibrargen ao Global GRIN
Germoplasm Resources Information Network, em desenvolvimento, pelo Departamento de
Agricultura dos Estados Unidos em colaboração com o Bioversity International e o Fundo
para Diversidade dos Cultivos (Global Crop Diversity Trust).

Paralelamente à avaliação e adequação do módulo de recursos genéticos vegetais do


Sibrargen, estão em desenvolvimento os módulos de recursos genéticos de animais e de
microrganismos. O módulo de recursos genéticos animais será o GRIN-animal versão dois,
que está sendo desenvolvido, por meio de uma parceria estabelecida entre Brasil, Estados
Unidos e Canadá, com o envolvimento da Embrapa, ARS e AAFC, respectivamente. O
módulo de recursos genéticos de microrganismos está sendo desenvolvido pela própria
Embrapa, com a utilização de software livre para desenvolvimento de aplicação Web como
ambiente operacional.

6.4.2. Métodos de Informação Eletrônica

Existem muitos sites de informação eletrônica relacionados a Recursos Genéticos de


Plantas, no Brasil. Muitos organismos governamentais, universidades, sociedades
científicas, bem como seções de imprensa ligados ao setor agrícola, têm páginas
específicas, como pode ser visto na Tabela 13.

O Sistema Integrado de Informação sobre Financiamento de Ciência e Tecnologia


(Prossiga), do Ministério da Ciência e Tecnologia (MCT) tem informações sobre atividades
de pesquisa conduzidas no país, por agências financiadoras. O principal público inclui
cientistas, professores universitários e administradores. Prossiga é um sistema cooperativo
que integra as principais agências federais e estaduais de financiamento de ciência e
tecnologia: CNPq, FINEP, CAPES, FAPERGS, FAPESP, FAPEMIG, FAPERJ, FACEPE e
FUNCAP. Estas agências enviam mensalmente os dados para o Prossiga, garantindo
assim a atualização da informação. O sistema pode ser acessado para pesquisa de
informações por agências, tipo de financiamento, nome de instituições, nomes de
pesquisadores, assunto, área de conhecimento, cidade, estado, etc. Outra fonte importante
é o Catálogo Nacional de Coleções de Publicações Seriadas – NCC, coordenado pelo
Instituto Brasileiro de Informação em Ciências e Tecnologia – IBICT, um sistema
cooperativo de fontes de informação de instituições brasileiras. Este Catálogo permite o
acesso a publicações técnicas periódicas e reune informações de centenas de catálogos,
produzidos pelas principais bibliotecas do País, em um único Catálogo Nacional de acesso
público. O NCC tem por objetivo otimizar a disponibilização de recursos para bibliotecas e
serviços de documentação, participando de uma rede e melhorando os serviços para o
usuário final. Isto é feito pela disponibilização para: a difusão, identificação e localização
de séries de ciência e tecnologia, tanto nacionais quanto internacionais, disponíveis no
país; o estabelecimento de uma política de aquisição coordenada; empréstimos entre
bibliotecas, através de um sistema comum de bibliografias e padronização de entradas de
títulos. O NCC é aberto para livre participação de bibliotecas que tem relevante acervo
automatizado de publicações seriadas em ciência e tecnologia.

87
Tabela 13. Alguns Endereços Eletrônicos com Informações sobre Recursos Fitogenéticos
TIPO
DE SERVIÇO Página Web

Governamental www.agricultura.gov.br; www.embrapa.br; www.mct.gov.br;


www.cenargen.embrapa.br; www.mma.gov.br; www.cnpq.br;
www.finep.gov.br; ipe.ibict.br/fomento; www.fapesp.br;
www.ebda.ba.gov.br; www.sdr.ce.gov.br; www.emater.df.gov.br;
www.emater.mg.gov.br; www.emater.pr.gov.br;
www.empaer.pantanal.br; www.epagri.rct-sc.br; www.cati.sp.gov.br;
www.prodase.com.br/emdagro; www.agenciarural.go.gov.br;
www.seagri.ba.gov.br; www.sdr.ce.gov.br; www.pr.gov.br/seab;
www.fisepe.pe.gov.br/sprra; www.ibama.gov.br;
www.agricultura.sp.gov.br
Universidades e www.mec.gov.br; www.unb.br; www.usp.br; www.unesp.br;
Institutos www.ufmg.br; www.ufg.br; www.ufv.br; www.ufrgs.br; www.unifap.br;
www.fua.br; www.ufpa.br; www.ufg.br; www.ufmt.br; www.ufms.br;
www.ufal.br; www.ufba.br; www.ufc.br; www.ufla.br; www.ufmg.br;
www.ufu.br; www.ufrj.br; www.uff.br; www.ufrrj.br; www.ufpr.br;
www.ufsm.br; www.ufsc.br; www.unicamp.br; www.uece.br;
www.uem.br; www.uerj.br; www.uel.br; www.esalq.usp.br
Periódicos e www.globorural.globo.com; www.rbspa.ufba.br; www.scielo.br/scielo;
Jornais http://www.periodicos.capes.gov.br
Outros www.wwf.org.br; www.brasilnature.org.br; www.finatec.org.br;
www.cna-rural.com.br; www.faeg.com.br; www.famasul.com.br;
www.faemg.org.br; www.faep.com.br; www.senar.com.br;
www.fundacaoabc.com.br; www.sidronet.com.br/fundacaoms;
www.fundecitrus.com.br; www.abmr.com.br; www.apacame.org.br

O Programa Bibliográfico Comum (COMUT), criado em 1980 pelo Ministério da Educação,


através da CAPES (Coordenação de Aperfeiçoamento em Pesquisa e Ensino Superior),
está atualmente organizado pelo IBICT, SESU (MEC) e FINEP (MCT), tendo por objetivo
privir o país de um eficiente acesso a informação. O COMUT permite que a comunidade
acadêmica e pesquisadores tenham acesso a documentos em todas as áreas do
conhecimento (através de cópias de papers de revistas técnicas-científicas, teses e anais
de congressos), exclusivamente para uso acadêmico, em consonância com a legislação de
Direitos Autorais. A estrutura funciona através de uma rede de bibliotecas, chamadas
bibliotecas bases, as quais têm bibliografias adequadas, recursos humanos e tecnologias
para responder a solicitação dos usuários. A CAPES também criou o Portal de Periódicos
que oferece acesso aos textos completos de artigos de mais de 12.365 revistas
internacionais, nacionais e estrangeiras, e 126 bases de dados com resumos de
documentos em todas as áreas do conhecimento. Inclui também uma seleção de
importantes fontes de informação acadêmica com acesso gratuito na Internet. Professores,
pesquisadores, alunos e funcionários de 191 instituições de ensino superior e de pesquisa
em todo o País têm acesso imediato à produção científica mundial atualizada através deste
serviço oferecido pela CAPES. O uso do Portal é livre e gratuito para os usuários das
instituições participantes. O acesso é realizado a partir de qualquer terminal ligado à
Internet localizado nas instituições ou por elas autorizado. Todos os programas de pós-
graduação, de pesquisa e de graduação do País ganham em qualidade, produtividade e
competitividade com a utilização do Portal que está em permanente desenvolvimento.

88
6.4.3 Informações Impressas

6.4.3.1. Informação Científica

O Brasil tem algumas publicações seriadas em diferentes áreas do conhecimento ligadas


mais especificamente a Ciências Agrícolas ou assuntos correlatos. As principais
publicações seriadas, apresentadas abaixo, em ordem alfabética e por assunto, utilizam
um sistema de referência e possuem rigoroso corpo editorial.
Ciências Agrárias em Geral: Brazilian Archives of Biology and Technology; Ciência Rural;
Pesquisa Agropecuária Brasileira - PAB.
Ciências Biológicas em Geral: Bragantia; Brazilian Archives of Biology and Technology;
Brazilian Journal of Biology; Brazilian Journal of Medical and Biological Research; História,
Ciências, Saúde: Manguinhos; Interciência; Revista Brasileira de Biologia.
Genética: Brazilian Journal of Genetics.

6.4.3.2. Informações Estatísticas Oficiais

O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE é a principal organização brasileira,


responsável por disponibilizar informações atualizadas sobre territórios, demografias,
índices de preços, indústrias, comércio, previões de tempo, agricultura, produção animal,
produção vegetal, agroflorestas, acesso, população, orçamento familiar e orçamento
nacional. Esta informação está disponível através da Base de Dados conhecida como
SIDRA (Sistema IBGE de Recuperação Automática), por meio eletrônico
(www.sidra.ibge.gov.br), ou através de Estatísticas Anuais, publicadas anualmente.

6.5. ACORDOS E CONVENÇÕES APLICÁVEIS A RECURSOS GENÉTICOS


O comprometimento e as obrigações legais visam promover a conservação da diversidade
biológica, o uso sustentável de seus componentes e a divisão justa e equitativa dos
benefícios provenientes da utilização dos recursos genéticos, bem como o respeito, a
preservação e a manutenção e proteção dos conhecimentos tradicionais provenientes de
diversas fontes. As ações mais significantes neste sentido originaram da Convenção da
Diversidade Biológica (CDB). Na última década, importantes medidas foram tomadas pelo
Brasil para proteger, promover e preservar o conhecimento tradicional. Para atingir estes
objetivos, o Brasil tem adotado, individualmente e como grupo, medidas especiais a nível
internacional, nacional e regional.
Um dos aspectos mais positivos para promover a conservação e o uso sustentável da
diversidade biológica, bem como a proteção do conhecimento tradicional, reside no fato do
Brasil ter assinado e ratificado a CDB. Como signatário da CDB e sendo um dos países de
maior diversidade biológica do mundo, o Brasil tem adaptado suas políticas públicas
necessárias para garantir o uso e a conservação de recursos biológicos, destacando-se a
Política Nacional da Biodiversidade.
Outra importante medida adotada pelo Brasil, juntamente com a China, Colômbia, Costa
Rica, Equador, India, Indonésia, Quênia, México, Perú, África do Sul e Venezuela, foi a
criação do grupo denominado Grupo dos Países de Megadiversidade (LMMC), registrada
na Declaração de Cancun. Após a criação, outros países como Bolívia, Malásia e
República Democrática do Congo se juntaram ao grupo. Mais de 70% da diversidade
biológica global está localizada em territórios destes 15 países. O LMMC foi criado como
um mecanismo especial de consulta recíproca e cooperação, visando promover, junto aos
países membros, interesses comuns e prioridades com relação a preservação e o uso
sustentável da diversidade biológica. Pela primeira vez, o Brasil assumiu a presidência do
LMMC, para o período de 2009 -2010, o que deverá impulsionar bastante a coordenação
desses países na defesa de pontos delicados durante as reuniões preparatórias para a
89
COP 10 da CDB. Durante esses dois anos, o grupo participará ativamente das discussões
do Regime Internacional sobre acesso e repartição de benefícios oriundos da utilização
sustentável da biodiversidade e dos conhecimentos tradicionais associados (ver também
Capítulo 8).
O Brasil possui um rica diversidade social que inclui mais de 200 tribos indígenas e grande
número de comunidades locais (quilombolas, calungas, caiçaras, seringueiros e outros)
que possuem grande conhecimento tradicional relacionado a conservação e
sustentabilidade do uso da biodiversidade local. Devido a esta grande diversidade, a
proteção ao conhecimento e uso da diversidade local tem sido uma constante preocupação
legal, principalmente no que se refere ao potencial econômico associado, o qual envolve o
desenvolvimento de produtos biotecnológicos tanto para uso na agricultura quanto para
uso médico. Diante disso, o acesso à biodiversidade e ao conhecimento trandicional é
permitido, desde que vinculado a pesquisa científica, bio-prospecção e desenvolvimento
tecnológico de acordo com as normas da legislação vigente (ver Capítulo 8)

6.6. ORGANIZAÇÕES PRIVADAS VINCULADAS À AGRICULTURA

6.6.1. Confederação Nacional de Agricultura


A Confederação Nacional de Agricultura tem, juntamente com o setor público e privado,
amplo reconhecimento junto a classe rural, participando ativamente das discussões e
decisões relacionadas a agricultura brasileira. A área técnica da CNA trabalha em defesa
da classe de produtores rurais, com ênfase nos seguintes temas: política agrária, política
agrícola, taxações, fundo de pensão rural, legislação dos trabalhadores rurais bem como
nos mercados internos e externos.
O sistema sindical, com seções em fazendas no Brasil, tem a forma de pirâmide, tendo em
sua base aproximadamente 2,000 sindicatos. Estes sindicatos são representados pelos 27
estados da federação, tendo o CNA como sua representação máxima. O CNA, como líder
do sistema, é reconhecido como a única instituição legalmente constituída, para a
associação da categoria. Esta estrutura permite alta capilaridade do sistema, com mais de
um milhão de associados, voluntáriamente inscritos nos Sindicatos, em todo o território
nacional. Como o CNA, a federação atua nos estados, estimulando o fortalecimento
sindical rural. Os sindicatos conduzem ações de apoio direto aos produtores, buscando
soluções para problemas locais, de maneira agregada.

90
CAPÍTULO 7

COLABORAÇÃO REGIONAL E INTERNACIONAL EM RECURSOS


FITOGENÉTICOS

7.1. COOPERAÇÃO E VÍNCULO COM PAÍSES E ORGANIZAÇÕES


NACIONAIS E ESTRANGEIRAS RELATIVOS AO FINANCIAMENTO,
À PRODUÇÃO E AO DESENVOLVIMENTO DE PESQUISA
AGROPECUÁRIA
Na área das relações internacionais, destaca-se a contribuição do Ministério das Relações
Exteriores/MRE na formulação da política exterior, especificamente nas questões
relacionadas às atividades de C&T, advogando as posições brasileiras na negociação e
implementação de programas de cooperação bilaterais e multilaterais.
A cooperação internacional é um instrumento essencial para a promoção do
desenvolvimento dos países e para a dotação de capacidade técnica e comercial a
empresas, universidades e institutos de pesquisa, aliando a busca de bem-estar da
população nacional às exigências de competitividade da nova economia mundial. Seja
ocorrendo diretamente entre instituições de diferentes países, seja por intermédio da
mediação de um organismo internacional, que pode, inclusive, apoiar financeiramente e
administrativamente as atividades previstas, a cooperação internacional age, ademais,
como um instrumento seguro e eficaz de aproximação e estreitamento de laços político-
econômicos entre os países envolvidos.
A Agência Brasileira de Cooperação/ABC integra a estrutura do Ministério das Relações
Exteriores/MRE. Tem como atribuição coordenar e supervisionar os programas e projetos
de Cooperação Técnica em que o Brasil participe. Os programas e projetos são
negociados e implementados ao amparo dos Acordos firmados pelo Brasil com os países
parceiros e com os organismos internacionais. Para desempenhar sua missão, a Agência
Brasileira de Cooperação orienta-se pela política externa brasileira, emanada do MRE, e
pelas prioridades nacionais de desenvolvimento, definidas nos diversos planos e
programas setoriais do Governo. Os programas e projetos de cooperação técnica são
desenvolvidos segundo duas grandes vertentes: a cooperação horizontal e a cooperação
recebida do exterior. A cooperação horizontal refere-se à cooperação técnica
implementada pelo Brasil com outros países em desenvolvimento. A cooperação recebida
do exterior abrange a cooperação técnica recebida bilateral e a recebida multilateral.
Basicamente, pode-se distinguir três modalidades de cooperação. Segundo o fluxo de
conhecimento, podem ser classificadas em: i) cooperação recebida, na qual uma
necessidade ou demanda interna é atendida, ii) cooperação prestada, na qual atende-se as
necessidades e demandas externas e iii) cooperação mútua, que consiste no intercâmbio
de conhecimentos e produtos, beneficiando ambos as partes. Com base em critério de
abrangência política, podemos classificar em: cooperação bilateral - entre governos e
instituições de dois países - e multilateral - quando envolve organismos internacionais ou
vários países.
7.1.1. Cooperação técnica recebida, bilateral ou multilateral
O Brasil conta ainda com diversos convênios ou acordos bilaterais e multilaterais. Em termos de
Cooperação Técnica Recebida Multilateral (CTRM) podem ser citados o convênio assinado em
1959 com o BID - Banco Interamericano de Desenvolvimento; o acordo assinado em 1984 como
o IICA - Instituto Interamericano de Cooperação para a Agricultura; o acordo assinado em 1992
com a Comunidade Econômica Européia; e o acordo assinado em 1964 com a OEA –
Organização dos estados Americanos.

91
Quanto à Cooperação Técnica Recebida Bilateral (CTRB), o Brasil assinou acordos com os
seguintes países: Alemanha, Canadá, Espanha, Estados Unidos, França, Itália, Japão, Noruega,
Países Baixos, Portugal e Reino Unido.
7.1.2. Cooperação Técnica entre Países em Desenvolvimento/CTPD
O país conta, ainda, com acordos de cooperação técnica com países de diversos
continentes, como pode ser visto a seguir:
Continente Africano: África do Sul (em negociação), Angola, Argélia, Benin, Cabo Verde,
Camarões, Costa do Marfim, Egito, Gabão, Gana, Guiné Bissau, Mali, Marrocos,
Moçambique, Namíbia, Nigéria, Quênia, São Tomé e Príncipe, Senegal, Togo, Zaire e
Zimbábue
América Latina e Caribe: Argentina, Bolívia, Costa Rica, Chile, Colômbia, Cuba, El
Salvador, Equador, Guatemala, Guiana, Honduras, Jamaica, México, Nicarágua, Panamá,
Paraguai, Peru, República Dominicana, Suriname, Uruguai e Venezuela.
Ásia e Leste Europeu: Arábia Saudita, China, Iraque, Israel, Kuwait, Líbano, Palestina,
Rússia (em negociação) e Tailândia.

7.2. PROGRAMAS DE COOPERAÇÃO TÉCNICO-CIENTÍFICOS


O Brasil é membro do Inter-American Institute for Cooperation on Agriculture (IICA) que
tem como propósito encorajar e dar apoio ao desenvolvimento agrícola e ao bem estar de
populações rurais dos países membros. Portanto o Brasil participa de vários programas,
dentre eles o PROCISUR, o TROPIGEN e o PROCITRÓPICOS.
O PROCISUR é o Programa de Desenvolvimento Tecnológico Agro-alimentar e Agro-
industrial dos Países do Cone Sul. Foi criado em 1980 com o objetivo de contribuir com a
construção e inovação do sistema regional, tendo o enfoque na geração de conhecimentos
e tecnologias, em um esforço conjunto das instituições nacionais para a pesquisa agrícola,
tendo como signatários a Argentina, Bolívia, Brasil, Chile, Paraguai, Uraguai e o IICA. Em
2000 foi assinado um termo de compromisso de melhoria do programa visando a inserção
do ambiente tecnológico gerado pela globalização, abertura econômica e integração
regional, tendo sido estabelecidos planos de trabalho, a médio prazo, para o período de
2001 a 2004.
O PROCITRÓPICOS é o Programa Cooperativo de Pesquisa, Desenvolvimento e Inovação
Agrícola para os Trópicos Sul-americanos. Este programa promove a integração de
esforços de instituições de pesquisa agrícola da Bolívia, Brasil, Colômbia, Equador,
Guiana, Peru, Suriname, Venezuela e IICA, tendo como objetivos a formação de alianças
estratégicas, a identificação, o desenvolvimento e a monitoração de oportunidades, bem
como cooperação em ações estratégicas e prioritárias para os países. O uso de
informações e recursos institucionais e a administração das informações geradas são
outros objetivos do programa.
Em 1978 foi assinado, pela Bolívia, Brasil, Colômbia, Equador, Guiana, Perú, Suriname e
Venezuela, o Tratado de Cooperação Amazônica, com o objetivo de promover ações
conjuntas para o desenvolvimento harmônico da Amazônia. Para fortalecer e implementar
os objetivos do tratado, foi criada a OTCA em 1995. Em 2002 foi estabelecida a Secretaria
Permanente da OTCA com sede em Brasília que vem trabalhando o compromisso comum
de preservação do meio ambiente e o uso racional dos recursos naturais da Amazônia.
Em 2002 foi também criado o Programa Sul-Americano de Apoio às Atividades de
Cooperação em Ciência e Tecnologia – PROSUL. Este programa foi organizado pelo
Ministério da Ciência e Tecnologia - MCT, operacionalizado pelo CNPq e foi instituído pela
Portaria MCT Nº 872, de 20.12.2001. A gestão do Programa é realizada somente pelo
Governo Brasileiro, por meio do Comitê Gestor do PROSUL, composto por representantes
do MCT e da comunidade científica e tecnológica brasileira. O programa tem o objetivo de

92
apoiar atividades de cooperação em ciência, tecnologia e inovação entre grupos brasileiros
e sul-americanos, visando o desenvolvimento científico e tecnológico da região, que
possam melhorar a qualidade de vida na região.
Em 1984 foi criado o Programa Ibero-Americano de Ciência e Tecnologia para o
Desenvolvimento (CYTED), que é um programa de cooperação multilateral que tem
atualmente como áreas temáticas a agroalimentação, a saúde, a promoção do
desenvolvimento industrial, o desenvolvimento sustentável, a mudança global e
ecossistemas, as tecnologias de comunicações e informações e a ciência e sociedade. Os
países signatários são a Argentina, Bolívia, Brasil, Colômbia, Costa Rica, Cuba, Chile,
Equador, El Salvador, Espanha, Guatemala, Honduras, México, Nicarágua, Panamá,
Paraguai, Peru, Portugal, República Dominicana, Uruguai e Venezuela, sendo que no
Brasil o organismo signatário é representado pelo CNPq (Conselho Nacional de Pesquisa e
Desenvolvimento).
Visando induzir a geração e a consolidação de base científica e tecnológica para a
inserção da dimensão ambiental no processo de desenvolvimento sustentável do País,
capacitar a pesquisa de ponta brasileira, se inserir no cenário competitivo internacional e
estimular a cooperação em projetos bilaterais, foi criado o Programa Mata Atlântica, no
âmbito do Acordo de Cooperação Brasil-Alemanha. No Brasil o Programa é executado pelo
CNPq, sendo que em sua primeira fase (2001-2005) foram apoiados 7 projetos, cujos
resultados obtidos levaram à prorrogação do Programa.
Em dezembro de 2003 foi proposta a criação do Programa de Cooperação Temática em
Matéria de Ciência e Tecnologia – PROÁFRICA, tendo este sido instituído no Brasil pelo
Ministério de Ciência e Tecnologia ( Portaria MCT 363, de 22 de julho de 2004) e
operacionalizado pelo CNPq. Este programa tem por objetivo a elevação da capacidade
científico-tecnológica dos países africanos, através de financiamento da mobilidade de
cientistas e pesquisadores, que atuem em projetos selecionados. Inicialmente as ações de
cooperação tem como prioridade grupos brasileiros e africanos lusófonos.
Com base na existência de Acordos Bilaterais entre Brasil e Índia e Brasil e África do Sul,
foi criado, por meio da Portaria MCT 481 de 14.07.2005, o IBAS – Programa de Apoio à
Cooperação Científica e Tecnológica Trilateral entre Índia, Brasil e África do Sul. O IBAS
tem o objetivo de apoiar atividades de cooperação em Ciência e Tecnologia que
contribuam, de forma sustentada, para o desenvolvimento científico e tecnológico dos três
países, em temas selecionados e que contribuam para a melhoria da qualidade de vida dos
seus cidadãos. Dentre as áreas temáticas destacam-se as ações/projetos relacionados a
HIV/AIDS, tuberculose, malária, biotecnologia na saúde e agricultura, nanociências e
nanotecnologia e ciências oceanográficas.
7.3. COOPERAÇÃO INTERNACIONAL DA EMBRAPA
A diversidade das pesquisas agropecuárias realizadas pelos diversos centros de pesquisa
da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária - Embrapa pode ser medida pela
diversidade de acordos de cooperação técnica na área de cooperação internacional
assinadas pela Empresa. Até o momento, foram assinados 275 acordos com 56 países e
155 instituições de pesquisa internacionais, envolvendo principalmente a pesquisa em
parceria. Visando promover oportunidades de cooperação internacional em pesquisa
agropecuária, além de acompanhar os avanços, tendências e atividades científicas de
interesse do agronegócio de alguns países parceiros, a Embrapa, implementou dois
laboratórios virtuais (Labex), sendo o primeiro nos Estados Unidos, em colaboração com a
Agricultural Research Service (http://www.embrapa.br/a_embrapa/labex/labex-usa) e o
segundo na Europa (http://www.agropolis.fr/international/labex.html), emparceria com o
INRA.. Além desses, foram criados dois escritórios de negócios, sendo o primeiro para a
África (localizado em Gana) e um para a América Latina, (localizado na Venezuela).

93
7.3.1. Cooperação em recursos fitogenéticos
A disponibilidade dos recursos fitogenéticos para atender a demanda do melhoramento
vegetal é de fundamental importância para o desenvolvimento e sustentabilidade da
agricultura nacional. A introdução de material genético tem tido um fluxo continuo, visando
dar sustentabilidade à agricultura brasileira que está alicerçada principalmente em produtos
não originados no Brasil. Nestes últimos anos, foram introduzidos mais de 16.500 acessos
de germoplasma, principalmente de trigo (CIMMYT), soja (Estados Unidos, com origem na
China e na Coréia do Sul), algodão (Estados Unidos), milho (repatriamento do CIMMYT);
grão de bico (Alemanha), lentilha (Alemanha), Salix spp., (Inglaterra e Alemanha), Oryza
nivara, Nim, girassol (Canadá), mamona (Estados Unidos), rami, Phaseolus (CIAT e
Gembloux - Bélgica), Glycine silvestre (Austrália), ervilha (Alemanha), gergelim (Estados
Unidos) canola/colza (Canadá), banana (Ásia), citros (Estados Unidos e Europa), manga
(Ásia e Estados Unidos), pomáceas (Canadá, Estados Unidos e Europa), prunoideas
(México, Estados Unidos e Europa), uva (México), entre outros. Os recursos genéticos de
espécies florestais exóticas foram enriquecidos com a importação da Austrália de uma
coleção de espécies de mirtáceas de 107 acessos dos gêneros Angophora, Corymbia,
Eucalyptus e Melaleuca. Também foram introduzidos os gêneros Eucalyptus e Corymbia
com as seguintes espécies: E. grandis, E. saligna, E. viminalis, E. cloeziana, E. deanei, E.
camaldulensis, E. pilularis, E. resinifera, E. pellita, E. tereticornis e Corymbia maculata.
Foram ainda introduzidas, na forma de sementes, estacas ou pólen, uma grande variedade
de espécies arbóreas de coníferas ou folhosas exóticas, entre as quais pode ser
mencionadas as seguintes: Abies grandis, Acer platanoides, Aesculus hippocastrum,
Betula platyphylla, Carpinus betulus, Cedrus atlantica glauca, Cedrus deodar, Clematis
viticella, Fagus sylvatica, Gingko biloba, Laurus nobilis, Mucuna deeringiana, Nyssa
sylvatica, Liriodendron tulipeira, Pseudotsuga menziessii, Quercus coccinea, Sequoia
sempervirens, Sequoiadendron gigantum, Araucaria cunninghamii, clones de Pinus taeda;
Cryptomeria japonica, Fagus sylvatica, Alamo Grisalho (Populus tremula x Populus alba),
Khaya anthothec, entre outros.
Os Estados Unidos têm, atualmente, o maior banco de germoplasma do mundo, mantendo,
em suas câmaras de conservação no National Center for Genetic Resources Preservation,
em Fort Collins (CO), cerca de 500.000 acessos de germoplasma com liberdade quase
total para intercâmbio.
A Embrapa, por meio do Programa LABEX (Laboratório Virtual da Embrapa no Exterior)
financiado pelo Banco Mundial e pelo Banco Interamericano de Desenvolvimento, decidiu
abrir, a partir de 2005, uma ampla colaboração com o Agricultural Research Service, em
recursos genéticos. Um pesquisador da Embrapa desenvolve trabalhos no Laboratório em
Fort Collins e, ao mesmo tempo, promove atividades de cooperação entre as Unidades da
Embrapa e instituições de ensino e pesquisa norte-americanos. A partir do início de tal
colaboração, o Brasil recebeu mais de 40.000 acessos de germoplasma provenientes do
NCGRP (soja, arroz, milho, sorgo trigo) e muitos acessos de feijão, pêssego, ameixas,
citrus, forrageiras, pimentas, hortliças, medicinais estão previstos para ser enviados ao
Brasil em 2009 e 2010.
A colaboração Embrapa-ARS também permite a execução de diversos projetos de
pesquisa, como a conservação de espécies em longo prazo, condições de criopreservação
para espécies sensíveis, estudos de conservação de espécies recalcitrantes, etc. Ao
mesmo tempo, amplo programa de treinamento em estãgios curtos (até seis meses) e em
programas de pós-doutorado possibilitam a atualização e formação de pesquisadores da
Embrapa em diversas Universidades americanas. O tipo de cooperação descrita deve
continuar por mais um período de três a quatro anos, período em que diversas outras
atividades serão desenvolvidas, consolidando a colaboração entre Brasil e Estados Unidos
em recursos genéticos.

94
7.3.2. Cooperação da Embrapa na América Latina e Caribe
Diversas áreas prioritárias foram definidas para ações da Embrapa na América Latina e
Caribe. Um grande número de propostas de cooperação já estão sendo avaliadas e
algumas ações/projetos já se encontram em fase de execução. Dentre as prioridades
definidas estão: o fortalecimento e estruturação de instituições de pesquisa agropecuária; a
transferência de tecnologias agrícolas e pecuárias viáveis e economicamente atrativas, que
respondam aos diversos ambientes agro-ecológicos das regiões, para redução do risco
alimentar; a aplicação de instrumentos e tecnologias de geo-processamento, zoneamento
agro-climático, e outros, desenvolvidos pela Embrapa; o manejo conservacionista de solos;
o fornecimento de tecnologias agrícolas e pecuárias em parceria com o agronegócio
brasileiro no exterior; parcerias no estabelecimento e manutenção de campos de
demonstração e testes de validação em diversos países; produtos e processos agro-
industriais: caju, fruticultura tropical, mandioca, arroz de sequeiro, horticultura, milho,
algodão, dendê, soja, bovinocultura, caprinocultura e ovinocultura.
A cooperação com a Argentina visa à transferência de cultivos e técnicas para o
melhoramento da batata (com início ainda em 2008) e a introdução e avaliação da
expressão do fator transcripcional Hahb 10 de girassol em cultivares de soja (em fase de
negociação). Com a Bolívia a cooperação visa o apoio ao desenvolvimento instituicional e
gerencial, desenvolvimento da pecuária de corte e leite, bem como a vitivinicultura na
região de Tarija (em fase de negociação). A cooperação com o Chile visa ao
desenvolvimento de cultivares de batata, e a documentação já está assinada. Os trabalhos
de capacitação técnica em manejo da produção e processamento agroindustrial de frutas
tropicais no litoral equatoriano já está em execução, encontrando-se em fase de
negociação a capacitação técnica em produção integrada com ênfase no manejo de pragas
e doenças de frutas tropicais, espécies amazônicas e andinas, bem como o
desenvolvimento de processos agroprodutivos para biocombustíveis. Os trabalhos com o
Haiti já estão em execução e visam ao processamento do caju e estudos com hortaliças.
Também já estão em execução: os trabalhos de capacitação em manejo de produção de
frutas tropicais com ênfase em manga, em Honduras; e a diversificação e aprimoramento
em fruticultura tropical na Jamaica; a transferência de tecnologia em sistema de produção e
processamento de cajú para o Panamá, no Suriname e na Guiana. Outras ações
envolvendo a fruticultura estão em andamento como no caso do manejo agronômico e
processamento do coco anão, gigante e híbrido em El Salvador. Os projetos de
cooperação com a Venezuela estão em fase de negociação e envolvem a produção de
mudas e beneficiamento ecológico do café, o desenvolvimento de tecnologias alternativas
para a produção de cítricos em pequena escala e a produção de mandioca. Projetos de
capacitação de recursos humanos e transferência de tecnologia estão em fase de
execução junto com o Paraguai, sendo que na área de melhoramento e reprodução de
bovinos para agricultores familiares está em fase incial neste país. Trabalhos de formação
de recursos humanos na áres de melhoramento genético e reprodução de bovinos deverão
ser feitos no Panamá, após assinatura dos Projetos de Cooperação Tecnológica.
Existe uma grande demanda de El Salvador para transferência de tecnologias para
produção de etanol; assim como para estudos de técnicas para a produção de matérias-
primas de biocombustíveis por parte do Paraguai e da Costa Rica.
Tecnologias para produção e utilização de soja vem sendo objeto de cooperação estando
em execução projetos com a Guiana e Cuba. O aprimoramento de técnicas de produção de
hortaliças sob ambiente protegidos na Costa Rica em Cooperação com a Embrapa, já está
em execução, enquanto que outros projetos relacionados tanto a frutas temperadas,
produção animal e outras tecnologias estão em fase de negociação com a Costa Rica,
Guatemala, Nicarárguá, Colômbia e Cuba.
7.3.3. Cooperação da Embrapa na África
Devido à necessidade de contribuir para a elevação da capacidade técnico-científica dos
95
países africanos, a Embrapa estabeleceu um Escritório de Negócios em Gana. Na área de
agricultura o Brasil tem acordos de cooperação bilateral na África (Tabela 14).

Tabela 12. Cooperação Bilateralda Embrapa na África

País Tipo de Cooperação Ofertada/Situação


1
Angola Apoio à re-estruturação do Sistema Nacional de Investigação Agrária
1
Cabo Verde Apoio ao fortalecimento institucional do INIDA
1
Apoio ao desenvolvimento da Caprino-Ovinocultura
1
Apoio ao desenvolvimento da horticultura
2
Congo/Brazzaville Formação de recursos humanos e transferência de tecnologia para modernização do
setor sucro-alcooleiro
2
Formação de recursos humanos e transferência de tecnologia para cultivo da palma
africana
Gabão Desenvolvimento sustentável da cultura da mandioca
Gana Desenvolvimento das bases para estabelecimento da agro-energia
1
Procedimentos laboratoriais em biotecnologia e manejo de recursos genéticos da
mandioca
3
Desenvolvimento de plantações florestais
3
Transferência de tecnologias em sistemas de produção e processamento da caju
3
Guiné-Bissau Transferência de tecnologia e capacitação técnica para segurança alimentar e
desenvolvimento do agro-negócio
1
Moçambique Projeto de apoio ao desenvolvimento e fortalecimento do Setor de Pesquisa
Agropecuária/IIAM
1
Apoio ao desenvolvimento da horto-fruticultura
3
Construção de cisternas, barragens subterrâneas, captação de água da chuva in situ
e jardins produtivos em comunidades rurais de Gaza, Tete e Inhambane
3
Projeto Brasil-França de treinamento de técnicos moçambicanos na área de
agricultura de conservação
3
Nigéria Produção e processamento de frutas tropicais e hortaliças
3
Produção e processamento agro-industrial da mandioca
2
Quênia Bases para estabelecimento da produção de bio-energia
2
Introdução de tecnologias agrícolas para o melhoramento de culturas de grãos
2
Desenvolvimento da capacidade de produção pecuária
3
Senegal Capacitação técnica em sistemas de produção de pecuária de corte e de leite
3
Capacitação técnica em manejo de produção e processamento agro-industrial de
arroz e hortaliças
2
Apoio ao programa nacional de bio-combustíveis
2
Serra Leoa Agregação de Valor aos produtos agrícolas de pequenos agricultores
2
Tanzânia Melhoramento de tecnologias pós-colheita de castanha de caju
2
Introdução de tecnologias agrícolas para mandioca e frutas tropicais
2
Melhoria da capacidade da Tanzânia de implementar agricultura de conservação em
sistemas de produção de soja
2
Introdução de tecnologias pós-colheita de hortaliças
2
Desenvolvimento da capacidade de produção pecuária
2
Zâmbia Estabelecimento da política de agro-energia e sua regulamentação
2
Fortalecimento da capacidade do Zâmbia de usar a biotecnologia como instrumento
na identificação e teste de sementes
2
Promoção do desenvolvimento da capacidade de produção pecuária
2
Promoção do enriquecimento dos solos através do uso de práticas de agricultura de
conservação
1 - Em execução, 2 - Em discussão, 3 - Em revisão (Coordenação ABC/MRE)

Existem ainda acordos trilaterais já implementados ou em fase de negociação. Os acordos


trilaterais envolvem diferentes instituições como o FIDA, JICA, AFDB (Banco Africano de

96
Desenvolvimento, ITTO/GANA, Fundo IBAS (INDIA, BRASIL e ÁFRICA DO SUL),
Consultores da Fundação Bill-Gates, FAO e FARA (Forum for Agricultural Research in
Africa), e a AGRA (Alliance for a Green Revolution in Africa) que recentemente assinou
documento com a FAO, o FIDA e o FMA, para impulsionar a produção de alimentos na
África. Discussões estão em andamento para envolvimento da Embrapa Agroenergia em
projetos a serem definidos na região e que contariam com suporte/apoio do Banco
ECOWAS.
7.4. PROGRAMAS DE COOPERAÇÃO NA ÁREA DE EDUCAÇÃO
O Ministério da Educação mantém intensa atividade de cooperação internacional, com
vistas não só à cooperação técnica e financeira, mas também à melhoria do atendimento
educacional e do aperfeiçoamento de recursos humanos que colaborem à evolução da
capacidade do país. Participa, nesse sentido, de uma série de reuniões e eventos
internacionais, além das grandes conferências mundiais das Nações Unidas, apresentando
os importantes avanços alcançados pelo Brasil na área educacional.
O Ministério da Educação trabalha em estreita coordenação com o Ministério das Relações
Exteriores, na negociação de acordos educacionais bilaterais e multilaterais, por serem
esses os instrumentos jurídicos que regulam as relações no âmbito da cooperação
internacional entre os países e que possibilitam a implementação da política externa
brasileira na área educacional. No âmbito bilateral, esse Ministério desenvolve uma
proveitosa cooperação com diversos países, dentre os quais Estados Unidos, Canadá,
Argentina, Inglaterra, França, Espanha e Alemanha. No âmbito multilateral, mantém
relacionamento mais estreito com os Organismos Internacionais, como a Organização das
Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco), a Organização dos
Estados Americanos (OEA), a Organização dos Estados Ibero-americanos para a
Educação, a Ciência e a Cultura (OEI), o Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID)
e o Banco Mundial (BIRD), dentre outros.
Atua, ainda, em foros internacionais que visam à integração na área educacional, como a
Reunião de Ministros da Educação dos Países Membros do Mercosul, a Conferência de
Ministros da Educação da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa, a Reunião de
Ministros da Educação do Conselho Interamericano de Desenvolvimento Integral da OEA,
a Conferência Iberoamericana de Educação e a Cúpula das Américas
O Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico - CNPq, um órgão
financiador de pesquisas vinculado ao Ministério de Ciência e Tecnologia, conta com
programas internacionais que contemplam projetos de pesquisa bilaterais e multilaterais.
Tanto os convênios de cooperação bilateral quanto os de cooperação multilateral apoiam
projetos de pesquisa, desenvolvimento e inovação, em áreas preferenciais, acordadas
entre as instituições financiadoras estrangeiras, a fim de abranger um maior número de
missões por projeto e incentivar a participação de grupos de pesquisa. Ambos têm por
objetivo subsidiar o intercâmbio de experiências entre pesquisadores brasileiros e
estrangeiros de alto nível, por meio do desenvolvimento de projetos conjuntos de pesquisa
e organização de eventos científicos.
Ressalta-se a importância do Programa de Estudantes-Convênio de Pós-Graduação PEC-
PG que visa à formação de recursos humanos, possibilitanto aos cidadãos estrangeiros, de
países em desenvolvimento, a realização de estudos de pós-graduação em instituições de
ensino superior no Brasil. Esta atividade de cooperação é exercida exclusivamente com os
países signatários de Acordo de Cooperação Cultural e Educacional com o Brasil. Este
programa concede bolsas de mestrado e doutorado para estrangeiros que sejam
registrados para pós-graduação em instituição brasileira, reconhecidas pela CAPES
(Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior), sendo também
concedidas isenção de taxas escolares e passagens de retorno dos estudantes ao país de
origem após defesa de dissertação/tese.

97
98
CAPÍTULO 8
ACESSO A RECURSOS FITOGENÉTICOS, REPARTIÇÃO DE
BENEFÍCIOS A PARTIR DE SUA UTILIZAÇÃO E DIREITOS DO
AGRICULTOR

8.1. INTRODUÇÃO

Quando o primeiro Relatório Nacional foi preparado em 1995, o Brasil havia recém
ingressado na Organização Mundial de Comércio - OMC e ratificado a Convenção de
Diversidade Biológica, e portanto, a maioria das legislações mais relacionadas com o
acesso e movimentação de recursos genéticos estava ainda em fase de discussão.
Algumas, mais antigas, como as relacionadas com a fitosanidade ou com a área ambiental,
foram recepcionadas no contexto legal construído desde então. Hoje o país conta com
várias instâncias de contrôle, o que faz com que qualquer utilização que se pretenda dar ao
material genético, tanto nativo quanto exótico, deve estar de acordo com as nomas legais e
infra-legais vigentes.
Assim sendo, o uso dos recursos fitogenéticos, entendido como a importação, a
exportação, a pesquisa e o desenvolvimento, é regulado, em especial, pelas legislações
fitossanitária, ambiental, sobre acesso e repartição de benefícios e de propriedade
intelectual.

8.2. ÁREA AMBIENTAL

O Brasil possui hoje uma legislação ambiental moderna, tendo sido editadas diversas
normas regulamentares nos últimos anos. O arcabouço jurídico brasileiro ambiental
referente ao uso de recursos fitogenéticos é formado por disposições legais e infra-legais,
dentre as quais pode-se destacar:
• Lei nº 4.771/65 e Decreto nº 5.975/06 (Código Florestal);
• Lei nº 6.938/85 e Decreto nº 99.274/90 (Política Nacional de Meio Ambiente);
• Lei nº 9.605/98 (Lei de Crimes Ambientais);
• Decreto nº 6.514/08 (Infrações e sanções administrativas ao Meio Ambiente);
• Lei nº 9.985/00 (Sistema Nacional de Unidades de Conservação de Natureza).
• Decreto nº 4.339/02 (Política Nacional da Biodiversidade);
• Decreto nº 4.703/03 (Comissão Nacional da Biodiversidade);
• Lei nº 11.105/05 e Decreto nº 5.591/05 (Política Nacional de Biossegurança).
Embora o Código Florestal Brasileiro tenha sido instituído em 1965 pela Lei nº 4.771, tem
sido frequentemente atualizado por intermédio de Medidas Provisórias e leis ordinárias. Foi
parcialmente regulamentado pelo Decreto nº 5.975/06.
A Lei nº 6.938/85 estabelece a Política Nacional de Meio Ambiente, seus fins e
mecanismos de formulação e aplicação, constitui o Sistema Nacional do Meio Ambiente
(Sisnama) e institui o Cadastro de Defesa Ambiental. A Política Nacional do Meio Ambiente
tem por objetivo a preservação, melhoria e recuperação da qualidade ambiental propícia à
vida, visando assegurar, no País, condições ao desenvolvimento sócio-econômico, aos
interesses da segurança nacional e à proteção da dignidade da vida humana. Os órgãos e
entidades da União, dos estados, do Distrito Federal, e dos municípios, bem como as
fundações instituídas pelo Poder Público, responsáveis pela proteção e melhoria da
qualidade ambiental, constituem o Sistema Nacional do Meio Ambiente – SISNAMA. Essa
lei foi regulamentada pelo Decreto nº 99.274/90.
A Lei nº 9.605/98 dispõe sobre as sanções penais e administrativas derivadas de condutas
e atividades lesivas ao meio ambiente. O Decreto nº 6.514/08 dispõe sobre as infrações e
99
sanções administrativas ao meio ambiente, estabelecendo o processo administrativo
federal para apuração destas infrações.
A Lei nº 9.985/00 instituiu o Sistema Nacional de Unidades de Conservação da Natureza –
SNUC, estabelecendo critérios e normas para a criação, implantação e gestão das
Unidades de Conservação.
O Decreto nº 4.339/02 instituiu os princípios e diretrizes para a implementação da Política
Nacional de Biodiversidade. Essa política tem como objetivo geral a promoção, de forma
integrada, da conservação da biodiversidade e da utilização sustentável de seus
componentes, com a repartição justa e eqüitativa dos benefícios derivados da utilização
dos recursos genéticos, de componentes do patrimônio genético e dos conhecimentos
tradicionais associados a esses recursos. Abrange sete componentes temáticos:
conhecimento da biodiversidade; conservação da biodiversidade; uso sustentável dos
componentes da biodiversidade; acompanhamento, avaliação, prevenção e mitigação dos
impactos sobre a biodiversidade; acesso aos recursos genéticos e aos conhecimentos
tradicionais da biodiversidade, além da repartição dos benefícios; educação e
sensibilização pública; fortalecimento jurídico e institucional para a gestão da
biodiversidade.
O Decreto nº 4.703/03 alterou o nome do Programa Nacional de Biodiversidade para
Comissão Nacional da Biodiversidade – CONABIO definindo sua estrutura como matricial,
com sete componentes temáticos (os mesmos componentes da Política Nacional de
Biodiversidade) e sete componentes biogeográficos (os conjuntos de biomas brasileiros:
Amazônia; Caatinga, Zona Costeira e Marinha; Mata Atlântica e Campos Sulinos; Cerrado
e Pantanal).
A Lei nº 11.105/05 estabelece normas de segurança e mecanismos de fiscalização de
atividades que envolvam organismos geneticamente modificados – OGM e seus derivados.
Criou também o Conselho Nacional de Biossegurança – CNBS, reestruturando a Comissão
Técnica Nacional de Biossegurança – CTNBio. Dispõe sobre a Política Nacional de
Biossegurança – PNB e foi regulamentada pelo Decreto nº 5.591/05.

8.3. ACESSO E REPARTIÇÃO DE BENEFÍCIOS

A noção sobre a importância econômica da biodiversidade bem como a necessidade de


sua conservação e uso sustentável são relativamente recentes na comunidade
internacional. O despertar dessas preocupações culminou com a elaboração de um marco
legal internacional, com destaque para a Convenção sobre Diversidade Biológica - CDB e o
Tratado Internacional sobre os Recursos Fitogenéticos para Alimentação e Agricultura -
TIRFAA.
A partir da vigência desses diplomas legais, as atividades das instituições de pesquisa que
utilizam a biodiversidade nativa e/ou conhecimentos tradicionais associados vêm sendo
induzidas às modificações necessárias. Tanto as pesquisas que envolvem acesso a
recursos genéticos, quanto as que remetem material para o exterior com esta finalidade,
necessitam de uma autorização governamental, a ser concedida por uma autoridade
nacional. Também o acesso ao conhecimento tradicional associado, bem como a sua
disponibilização, passaram a ser regulados, envolvendo a necessidade de anuência prévia
por parte dos detentores e autorização governamental. A Tabela 15 apresenta o número de
processos submetidos à autoridade nacional, neste caso o CGEN e IBAMA.

100
Tabela 15. Processos de socilitação a acesso a patrimônio genético, submetidos ao Conselho de
Gestão do Patrimônio Genético (CGEN) e ao IBAMA.

Processos Ano
**
2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 Total

Autuados**** 66 67 43 44 82 41 27 368
Autorizados 0 0 4 13 20 21 10 69
Renovados - - 0 0 1 4 - 5
Credenciados 5 13 29 27 9 6 3 92
IBAMA*** - n.d. n.d. 50 62 n.d. n.d.
*Inclui as solicitações de autorização simples e especial para acesso a patrimônio genétio para fins de pesquisa
científica que, após a Del. 40 de 23/09/2003, passaram a ser de competência do IBAMA; **Inclui as solicitações
de credenciamento; ***Número de processos referentes a recursos genéticos vegetais somente; n.d. – não
disponível (Dados atualizados até 23/09/2008)

As autorizações de acesso e/ou remessa são prévias e concedidas somente a instituições


nacionais que exerçam atividades de pesquisa e desenvolvimento nas áreas biológicas e
afins, na forma disposta pela MP nº 2.186-16/01 e demais instrumentos legais. As
autorizações podem ser simples ou especiais; diferenciam-se entre si conforme o objeto,
se tratam de acesso ao patrimônio genético ou acesso ao conhecimento tradicional
associado e, quanto à finalidade, se são para pesquisa científica, bioprospecção ou
desenvolvimento tecnológico.
As autorizações com a finalidade de pesquisa científica podem ser solicitadas junto ao
Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis – IBAMA,
cadastrado pelo CGEN desde 2003, e recentemente re-estruturado como Instituto Chico
Mendes. As autorizações que envolvam acesso a conhecimentos tradicionais associados
ou tenham finalidade de bioprospecção e/ou desenvolvimento tecnológico devem ser
solicitadas diretamente ao CGEN.
Existem condições gerais para a solicitação de autorizações, independentemente de sua
finalidade, tais como comprovações institucionais, projeto de pesquisa e depósito de
amostra em instituição credenciada como fiel depositária. Conforme a finalidade da
autorização solicitada, surgem as exigências específicas.
O arcabouço jurídico brasileiro referente a acesso aos recursos genéticos e ao
conhecimento tradicional associado é formado por disposições legais e infra-legais, dentre
as quais pode-se destacar:
• Decreto Legislativo nº 2/94 e Decreto nº 2.519/98 (Convenção sobre Diversidade
Biológica);
• Medida Provisória nº 2.181-16/01 e Decreto nº 3.945/01 (Acesso a Recursos
Genéticos e aos Conhecimentos Tradicionais Associados);
• Decreto Legislativo nº 70/06 e Decreto nº 6.476/08 (Tratado Internacional sobre
Recursos Fitogenéticos para a Alimentação e a Agricultura),
• Decreto nº 5459/05 (sanções administrativas da Medida Provisória de Acesso);
• Resoluções, deliberações e orientações técnicas do Conselho de Gestão do
Patrimônio Genético (CGEN).
A Convenção sobre Diversidade Biológica (CDB) foi aprovada pelo Congresso Nacional por
intermédio do Decreto Legislativo nº 2/94 e incorporada à legislação brasileira pelo Decreto
nº 2.519/98. O Governo brasileiro depositou o instrumento de ratificação da Convenção em
28 de fevereiro de 1994, passando a mesma a vigorar para o Brasil em 29 de maio de
1994, na forma de seu artigo 36.
O arcabouço legal desenvolvido para a implementação da CDB no que tange o acesso a
recursos genéticos e ao conhecimento tradicional associado envolve uma série de
aspectos técnicos, legais e econômicos, cujo entendimento não é tarefa trivial. A legislação
101
traz especificidades como a construção do consentimento prévio fundamentado junto a
comunidades indígenas, locais ou quilombolas; a negociação de Contratos de Utilização de
Componente do Patrimônio Genético e de Conhecimento Tradicional Associado e
Repartição de Benefícios; o controle de transferência de germoplasma e de informações de
conhecimento tradicional associado.
Também relacionado com o acesso e a repartição de benefícios, mas especificamente para
tratar de material genético vegetal utilizado na agricultura e alimentação, o Tratado
Internacional sobre Recursos Fitogenéticos para a Alimentação e a Agricultura (TIRFAA) foi
aprovado pelo Congresso Nacional por intermédio do Decreto Legislativo nº 70/06 e
promulgado pelo Decreto nº 6.476/08. O Governo brasileiro depositou o instrumento de
ratificação em 22 de maio de 2006, passando a mesma a vigorar para o Brasil em 21 de
agosto de 2006, na forma de seu artigo 28.

8.3.1. Medida Provisória de Acesso a Recursos Genéticos e ao

Conhecimento Tradicional Associado

As primeiras iniciativas para regular a matéria no Brasil datam de 1995, com uma proposta
de lei encaminhada ao Congresso pela senadora Marina Silva (PL 306/95). De acordo com
o processo legislativo, uma versão revisada apresentada pelo Senador Osmar Dias, foi
aprovada pela Casa, em 1998 (PL 4.842/98). Outras duas propostas, do Deputado Jaques
Wagner e do Poder Executivo, foram também encaminhadas à Câmara Legislativa,
naquele ano, (PL 4.579/98 e PL 4.751/98, respectivamente). Acompanhando a proposta do
Executivo, foi encaminhada a Proposta de Emenda Constitucional N° 618/98. Enquanto
todas essas propostas eram discutidas na Câmara, em 2000, um contrato assinado entre
uma Organização Social – a Bioamazônia - e a Empresa Novartis alcançou a imprensa, e
foi interpretado pela sociedade e pela Casa Civil da Presidência da República como
inaceitável. Percebendo que a matéria não seria legislada com a devida urgência, o
Governo utilizou-se de uma ferramenta legal que lhe permite baixar uma nova lei por
Medida Provisória. Isso feito, o texto foi revisto e modificado várias vezes, até perenizar-se
na versão da MP. 2.186-16/01, em vigor.
A Medida Provisória nº 2.186-16, de 23 de agosto de 2001, regulamenta os artigos 1º, 8º,
alínea “j”, 10, alínea “c”, 15 e 16, alíneas 3 e 4 da Convenção sobre Diversidade Biológica,
com o intuito de dispor sobre o acesso ao patrimônio genético, a proteção e o acesso ao
conhecimento tradicional associado, a repartição de benefícios e o acesso à tecnologia e
transferência de tecnologia para sua conservação e utilização. Tem por objetivo regular
direitos e obrigações pertinentes ao acesso a componente do Patrimônio Genético e ao
conhecimento tradicional a ele associado, para fins de pesquisa científica e
desenvolvimento tecnológico, bioprospecção ou conservação, visando sua aplicação
industrial ou de qualquer outra natureza.
A expressão Patrimônio Genético é utilizada para designar recursos genéticos em estrita
obediência ao texto constitucional contido no artigo 225, inciso II. A definição de Patrimônio
Genético abrange a totalidade da biodiversidade originária no País, mas é suficientemente
restrita para não se confundir com outros recursos utilizados nas atividades econômicas
como, por exemplo, aqueles envolvidos na agropecuária e no agronegócio (criação de
animais domésticos, cultivo de grãos, legumes, frutas), na exploração madeireira, na pesca
e outras. Portanto, é suficientemente ampla para assegurar a proteção a que se almeja,
mas restrita o bastante para não interferir em atividades lícitas e fundamentais para a
economia do País, como agricultura, indústria e comércio.
Quanto ao conhecimento associado ao componente do Patrimônio Genético, esse se
restringe ao conhecimento tradicional. Não tem a pretensão de alcançar os dados de
passaporte pertinentes à coleta, os dados de caracterização, nem tampouco as tecnologias
modernas vinculadas ao material, nem mesmo aquelas protegidas por direitos de
102
propriedade intelectual. Adota o conceito de conhecimento tradicional associado ao
Patrimônio Genético atrelado à informação ou prática individual ou coletiva de comunidade
indígena ou comunidade local, com valor real ou potencial. Foi inserida também a idéia de
existência contínua desses conhecimentos comunitários associados ao componente do
Patrimônio Genético, ao longo de gerações sucessivas, para contemplar apenas as
comunidades que efetivamente os detenham em detrimento de qualquer apropriação
oportunista que possa direta ou indiretamente eivar de vício o reconhecimento e repartição.
A MP nº 2.186-16/01 contempla o direito do detentor de decidir sobre o acesso de terceiro
ao conhecimento tradicional associado a componente do Patrimônio Genético. Foi,
portanto, garantido o livre arbítrio das comunidades locais e das comunidades indígenas e
respeitadas as características culturais que definirão, caso a caso, a difusão ou não dos
mencionados conhecimentos.
Para assegurar melhor o controle e, ao mesmo tempo, promover maior desenvolvimento
das atividades legais de acesso no País, a MP nº 2.186-16/01 prevê que a autorização de
acesso à amostra de componente do Patrimônio Genético será concedida exclusivamente
à instituição nacional, pública ou privada, que exerça atividade de pesquisa e
desenvolvimento nas áreas biológicas e afins. A instituição estrangeira interessada em
acessar amostra de componente do Patrimônio Genético deverá associar-se a instituição
pública nacional que exercerá, obrigatoriamente, a coordenação das atividades.
A inexistência de um regime ou norma internacional, que garanta o cumprimento das
legislações nacionais de todos os países signatários da Convenção sobre Diversidade
Biológica e que assegure a aplicação dos princípios de repartição justa e eqüitativa dos
benefícios derivados da utilização de amostra do Patrimônio Genético acessado, induziu à
opção pelas vias contratuais, única forma possível, no momento, da lei tornar-se efetiva,
alcançando nacionais e estrangeiros.
O Contrato de Utilização do Patrimônio Genético e de Repartição de Benefícios é firmado
pela instituição de pesquisa com o provedor, pessoa física ou jurídica, com a anuência da
União, representada pela autoridade aplicadora da lei. Caso a instituição interessada
obtenha ou invente um processo ou um produto que tenha como fonte de obtenção ou de
variação o componente do Patrimônio Genético acessado, deverá repartir parte dos
benefícios que venha a auferir.
As formas de repartição de benefícios são variadas e susceptíveis de negociação caso a
caso pela instituição de pesquisa que venha a firmar o Contrato de Utilização do Patrimônio
Genético e de Repartição de Benefícios e compreendem, dentre outras: divisão de lucros
ou royalties; transferência de tecnologia; licenciamento de produtos e processos livres de
ônus para o Brasil; e capacitação de recursos humanos.
A MP nº 2.186-16/01 confere à União a competência para a normatização, autorização e
fiscalização do acesso e da exploração dos recursos genéticos, criando, no âmbito do
Ministério do Meio Ambiente – MMA, o Conselho de Gestão do Patrimônio Genético –
CGEN, o qual é composto por representantes da Administração Pública Federal. É
regulada por dois Decretos editados respectivamente em 2001 e 2005 - Decreto nº 3.945 e
Decreto nº 5.459.
O Decreto nº 3.945 foi modificado por três decretos posteriores: o Decreto nº 4.946 de 31
de dezembro de 2003, o Decreto nº 5.439 de 3 de maio de 2005 e o Decreto nº 6.159 de
17 de julho de 2007. O Decreto nº 4.946/03 introduziu modificações profundas no Decreto
nº 3.945/01 em relação aos requisitos necessários para obtenção de autorizações de
acesso e remessa previstos na MP 2.186-16/01. Acrescentou ainda uma nova modalidade
de autorização especial para realizar o acesso ao patrimônio genético com a finalidade de
constituir e integrar coleções ex situ que visem atividades com potencial de uso econômico,
como a bioprospecção ou o desenvolvimento tecnológico. O Decreto nº 5.439/05 introduziu
apenas modificações pontuais na composição e no quorum do Conselho de Gestão do
103
Patrimônio Genético. O Decreto nº 6.159/07 regulamentou a autorização especial com a
finalidade de bioprospecção e possibilitou a apresentação do contrato em momento
posterior à solicitação de autorização de acesso.

O Decreto nº 5.459, de 7 de junho de 2005, disciplina as sanções aplicáveis às condutas e


atividades lesivas ao patrimônio genético e ao conhecimento tradicional associado. Com a
sua publicação, as instituições que exercem atividades de pesquisa utilizando
componentes da biodiversidade brasileira sem a autorização do Conselho de Gestão do
Patrimônio Genético tornaram-se passíveis de instalação de processos administrativos que
podem culminar com a interdição do estabelecimento e com a aplicação de multas.
8.3.2. Atividades de Acesso e Remessa, Regulados pela Legislação Vigente
As atividades de acesso e remessa reguladas pela MP nº 2186-16/01 e que necessitam de
autorização da União para sua execução são aquelas que utilizam:
• Material animal, microbiano, fúngico ou vegetal nativo ou ainda material exótico
domesticado que tenha desenvolvido propriedades características;
• Conhecimentos tradicionais associados ao recurso genético de comunidades locais
ou indígenas.
É importante ressaltar que atividades de acesso que utilizem material proveniente dos
Bancos Internacionais ou de outros países, desde que não tenham sido coletados no
Brasil, não necessitam solicitar autorização de acesso. Os conhecimentos tradicionais
associados são a informação ou prática individual ou coletiva de comunidade indígena ou
de comunidade local, com valor real ou potencial, associada ao patrimônio genético.
Atendida uma das duas primeiras condições, as atividades de acesso devem ainda utilizar
informação de origem genética, bem como ter a finalidade de pesquisa científica,
bioprospecção ou desenvolvimento tecnológico.
A remessa de amostra de componente do patrimônio genético para o exterior depende da
assinatura de termo de transferência de material – TTM pelos representantes legais das
instituições, sujeito ao cumprimento de condições específicas. O TTM é o instrumento de
adesão a ser firmado pela instituição destinatária antes da remessa de qualquer amostra
de componente do patrimônio genético, indicando, quando for o caso, se houve acesso a
conhecimento tradicional associado.
O transporte de amostra de componente do patrimônio genético para o exterior depende da
assinatura de termo de responsabilidade para transporte de material – TRTM pelo
pesquisador e pelo representante legal da instituição autorizada, sujeito ao cumprimento de
condições específicas.
Após a aprovação do Tratado Internacional sobre Recursos Fitogenéticos para a
Alimentação e Agricultura da FAO – TIRFAA, as espécies do Sistema Multilateral de
Acesso e Repartição de Benefícios (listadas no Anexo I do Instrumento) passaram a ser
utilizadas de acordo com as regras estabelecidas pelo Órgão Gestor, conforme determina o
parágrafo segundo do artigo 19 da Medida Provisória nº 2186-16/01. Ressalta-se que o
Brasil é um dos únicos, senão o único, cuja legislação, construída para a implementação
da CDB, já se preocupava em 2000, com a futura implementação do Tratado Internacional
da FAO, uma vez que as discussões vinham ocorrendo em paralelo. O artigo 19 permitiu
ao país implementar o Tratado sem a necessidade de nova legislação específica, evitando
assim os conflitos que vêm sendo enfrentados, por exemplo, nos países do Pacto Andino.

8.4. TRATADO INTERNACIONAL DE RECURSOS FITOGENÉTICOS PARA A


ALIMENTAÇÃO E A AGRICULTURA

A partir de junho de 2008, data da promulgação do Tratado Internacional, as instituições


públicas podem utilizar o instrumento legal aprovado pelo seu Órgão Gestor, e do qual o
104
Brasil faz parte, denominado de acordo padrão de transferência de material (“SMTA”), para
movimentar o material genético colocado pelas Partes no Sistema Multilateral. Esse
mesmo instrumento traz as regras a que se submetem as instituições signatárias para a
futura repartição de benefícios financeiros oriundos da comercialização de produtos que
tenham derivado de qualquer material originário do Sistema Multilateral. Embora pareça
simples, a implementação do Tratado no Brasil ainda é incipiente, dada a sua recente
promulgação. Como o controle do uso do “SMTA” é feito através de relatórios anuais a
serem enviados à FAO, que desempanha a função de terceira parte beneficiária e
acompanha a implementação dos “SMTAs”, não há controle nacional de sua utilização,
nem do possível impacto na pesquisa agropecuária. Dados da Embrapa indicam que cinco
instrumentos foram assinados com Centros Internacionais do CGIAR para internalização
de germoplasma e três instrumentos estão em fase de preparação para envio de material
genético em desenvolvimento, para instituições africanas.
Cabe às autoridades nacionais divulgar e capacitar as instituições públicas e privadas para
a implementação do Tratado. O Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento e o
Ministerio do Meio Ambiente deverão desenvolver tais atividades mais fortemente a partir
de 2009, pois foi necessário dotar as instituições dos recursos financeiros necessários para
tal. Como instituição pública diretamente responsável pela conservação de recursos
genéticos (ver CAP. 5) a Embrapa iniciou alguns trabalhos em conjunto com o Secretariado
do Tratado Internacional, ligados ao desenvolvimento e teste de sistema on line de
informação sobre o germoplasma disponibilizado ao Sistema Multilateral. Vários técnicos
da Embrapa e do Bioversity International participaram desse esforço, cujo resultado foi
demonstrado aos demais países durante a Segunda Reunião do Orgão Gestor. Foi
solicitado à Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia, que fizesse o levantamento
junto aos bancos ativos de germoplasma de mandioca (Manihot esculenta), para selecionar
os acessos e informações correspondentes, que serão disponibilizados em 2009, ao
Sistema Multilateral do Tratado Internacional. Durante 2008, os acessos foram
multiplicados e estão sendo colocados em cultura in vitro, para que possam ser mais
rapidamente disponibilizados. Durante os próximos anos, o mesmo procedimento será
realizado com cada uma das espécies que as autoridades brasileiras definam como
prioritárias para o cumprimento das obrigações do Brasil no âmbito do TIRFAA. Novos
esforços continuarão a ser desenvolvidos em coordenação com o Secretariado do Tratado,
no sentido de avançar e acumular experiências na implementação do instrumento, tanto a
nível nacional como internacional.

8.5. DIREITOS DO AGRICULTOR

O Brasil ainda não possui lei específica regulamentando a questão dos direitos do
agricultor, os quais, cabe recordar, mais recentemente, provêem da ratificação pelo Brasil
do Tratado Internacional sobre Recursos Fitogenéticos para Alimentação, em 2006.
Segundo o Tratado, os direitos devem ser reconhecidos pelas Partes, em retribuição à
contribuição aportada por comunidades locais e indígenas e por agricultores, na
conservação e no desenvolvimento das variedades locais, tradicionais ou crioulas, em
sistema de agricultura tradicional, e dos conhecimentos tradicionais associados relevantes
aos recursos fitogenéticos para a alimentação e a agricultura.
Essa deficiência legislativa induz a se realizar uma análise acerca das medidas de
proteção e promoção desses direitos, contidas em outras legislações, relativas aos três
componentes constantes do artigo 9.2, (a), (b) e (c) do TIRFAA, ou seja, proteção do
conhecimento tradicional, repartição de benefícios e participação nos processos de
tomada de decisões, bem como do 9.3, relacionado ao direito de conservar, usar, trocar e
vender sementes ou material de propagação.
A Resolução nº 3 da Conferência de Nairóbi para a Adoção do Texto da Convenção Sobre
Diversidade Biológica, que trata da Relação entre a Convenção de Diversidade Biológica e
105
a Promoção da Agricultura Sustentável, reconheceu a necessidade de conferir-se
tratamento especial aos recursos fitogenéticos para a alimentação e a agricultura, o que foi
concretizado por meio do TIRFAA.
Enquanto esse processo avança, a Medida Provisória 2.186-16/01, ao regulamentar alguns
dos dispositivos da Convenção sobre Diversidade Biológica, tratou da proteção e do
acesso a esses conhecimentos tradicionais de forma ampla, embora sem distinção ou
especificação temática.
O artigo 9.1 do TIRFAA se refere às comunidades locais e indígenas e aos agricultores e
portanto merecerá análise daqueles que desenvolvem as políticas públicas, a inclusão ou
não dos extrativistas como beneficiários de direitos do agricultor. Conforme definição
constante do Manual do Crédito Rural – Plano de Safra da Agricultura Familiar 2004-2005,
do Ministério do Desenvolvimento Agrário, extrativista é o produtor rural de sistema de
exploração baseado na coleta e extração, de modo sustentável, de recursos naturais
renováveis(http://www.pronaf.gov.br/plano_safra/2004_05/docs/MANUAL%20DO%20PLAN
O%20SAFRA%20%2004%2005.doc ). Como tal, são beneficiários de crédito rural pelo
Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar - Pronaf, assim como os
indígenas e quilombolas, desde que atendam aos requisitos ali definidos, dentre os quais,
ser agricultor familiar e possuir um percentual mínimo definido da renda bruta familiar
anual, proveniente da atividade agropecuária e não-agropecuária exercida no
estabelecimento, de acordo com os enquadramentos previstos
(http://www.mda.gov.br/saf/index.php?sccid=1243). Já existe, portanto, todo um arcabouço
de reconhecimento ao agricultor, e que poderia fazer parte do todo contido na futura
legislação específica.
No tocante à segunda medida proposta pelo TIRFAA, para proteção e promoção dos direito
do agricultor, ou seja, a repartição de benefícios, é importante registrar que o acesso
facilitado aos recursos fitogenéticos constantes da lista do Anexo I e suas informações
associadas são considerados em si um benefício importante, uma vez que se aumenta a
oportunidade da sociedade como um todo, de obter melhores produtos para sua
alimentação, pois obviamente, o maior benefício a ser alcançado é a disponibilização das
novas variedades para uso dos agricultores e consequente disponibilização ao mercado.
Como o TIRFAA é relativamente recente e ainda está em estágio inicial de implementação
no Brasil, até o presente não existem relatos de casos concretos de repartição de
benefícios relacionados aos direitos do agricultor oriundos do uso de recursos fitogenéticos
para a alimentação e a agricultura, depois da implementação do sistema multilateral per se.
A terceira medida proposta pelo TIRFAA refere-se à participação dos agricultores nos
processos de tomada de decisões. Nesse particular, a Lei nº 8.171/91, que dispõe sobre a
política agrícola, já inclui, entre seus objetivos, a participação efetiva de todos os
segmentos atuantes no setor rural, na definição dos rumos da agricultura brasileira. Além
disso, prevê que o planejamento agrícola será feito de forma democrática e participativa,
através de planos nacionais de desenvolvimento agrícola plurianuais, planos de safras e
planos operativos anuais (artigos 3º e 8º).
Os Conselhos Municipais, Estaduais e Nacional de Desenvolvimento Rural Sustentável,
integrantes do Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar e dos quais
fazem parte representações/instituições de agricultores familiares, constituem um
instrumento de proposição de diretrizes para a formulação e a implementação de políticas
públicas e de articulação entre o governo e as organizações da sociedade civil
(http://www.mda.gov.br/saf/index.php?sccid=1243).
Outro aspecto essencial aos direitos do agricultor refere-se à garantia que lhe deve ser
dada de conservar, usar, trocar e vender sementes ou material de propagação por ele
conservados (artigo 9.3). Sobre o tema, observa-se, com freqüência, a argumentação de

106
que a Lei de Proteção de Cultivares (Lei nº 9.456/97) prevê o chamado “privilégio ou
exceção do agricultor”, por meio do qual, tais direitos já estariam garantidos.
A lei estabelece, de fato, o direito do produtor rural de multiplicar sementes de cultivares
protegidas, para doação ou troca, de acordo com os requisitos ali descritos, bem como de
reservar e plantar sementes para uso próprio e usar ou vender, como alimento ou matéria-
prima, o produto obtido do seu plantio, exceto para fins reprodutivos, sem que isso fira o
direito de propriedade sobre a cultivar protegida sob a égide dessa lei (artigo 10). No
entanto, tais garantias referem-se ao uso das próprias cultivares melhoradas e protegidas e
não de variedades crioulas, não representando qualquer direito, portanto, sobre as
variedades não protegidas.
Tal garantia, apenas no tocante às trocas de sementes e mudas de cultivar local,
tradicional ou crioula, entre agricultores familiares, encontra-se estabelecida na Lei de
Sementes (Lei nº 10.711/03). Esta mesma lei, ao estabelecer a exigência de registro das
pessoas físicas e jurídicas que exerçam as diversas atividades que menciona, com
sementes e mudas, isenta da inscrição os agricultores familiares, os assentados da
reforma agrária e os indígenas que multipliquem sementes e mudas para distribuição, troca
ou comercialização entre si. Além disso, também desobriga essas pessoas da inscrição de
suas cultivares no Registro Nacional de Cultivares (artigos 8º, §3º, 11, §6º e 48).

8.6. PROPRIEDADE INTELECTUAL

A legislação brasileira sobre direitos de propriedade intelectual relacionada aos recursos


fitogenéticos é composta pela propriedade industrial e proteção de cultivares. Pela Lei de
Patentes, podem ser patenteados microrganismos geneticamente modificados e
processos, como genes resultante de engenharia genética. Pela Lei de Proteção de
Cultivares, são protegidas as espécies superiores de plantas.
Os principais instrumentos legais são os seguintes:
• Lei nº 9.279/96 (Propriedade Industrial);
• Lei nº 9.456/97 e Decreto nº 2.366/97 (Proteção de Cultivares);
• Decreto Legislativo nº 30/94 e Decreto nº 1.355/94 (Acordo sobre Aspectos dos
Direitos de Propriedade Intelectual Relacionados ao Comércio);
• Decreto Legislativo nº 28/99 e Decreto nº 3.109/99 (Convenção internacional para a
Proteção das Obtenções Vegetais).
O Acordo sobre Aspectos dos Direitos de Propriedade Intelectual Relacionados ao
Comércio (TRIPS), Anexo 1C do Tratado de Marrakesh, foi aprovado no Brasil pelo
Decreto Legislativo nº 30/94 que incorporou a Ata final da Rodada Uruguai das
Negociações Comerciais Multilaterais do GATT, ratificado pelo Decreto nº 1.355/94.
A Convenção Internacional para a Proteção das Obtenções Vegetais, de 2 de dezembro de
1961, revista em Genebra, em 10 de novembro de 1972 e 23 de outubro de 1978 foi
aprovada pelo Decreto Legislativo nº 28/99 e promulgada pelo Decreto nº 3.109/99.
A Lei nº 9.279/96 regula direitos e obrigações relativos à propriedade industrial, mediante a
concessão de patentes de invenção e de modelo de utilidade, concessão de registro de
desenho industrial, concessão de registro de marca, repressão às falsas indicações
geográficas e repressão à concorrência desleal. A legislação brasileira não considera como
patenteável o todo ou parte dos seres vivos, exceto os microorganismos transgênicos que
atendam aos três requisitos de patenteabilidade - novidade, atividade inventiva e aplicação
industrial e que não sejam mera descoberta. A autoridade nacional aplicadora da lei é o
Instituto Nacional de Propriedade Industrial, INPI (www.inpi.gov.br) vinculado ao Ministério
de Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior.

A proteção dos direitos intelectuais sobre a cultivar se efetua mediante a concessão de um


certificado de proteção de cultivar, conforme estabelecido na Lei nº 9.456/97. Este
107
certificado é a única forma de proteção de cultivares e de direitos que poderá obstar a livre
autorização de plantas ou de suas partes, de reprodução ou multiplicação vegetativa no
País. O Decreto nº 2.366/97 regulamenta a referida lei e dispõe sobre o Serviço Nacional
de Proteção de Cultivares (SNPC), vinculado ao Ministério da Agricultura, Pecuária e
Abastecimento.
Desde a criação do Serviço Nacional de Proteção de Cultivares, em 1998, já foram
protocolados 1.628 pedidos de proteção, sendo que 1.284 tiveram a proteção concedida
dos quais 1.118 certificados estão em vigor. Criado em 2006, o Laboratório Nacional de
Análise, Diferenciação e Caracterização de Cultivares do Ministério da Agricultura,
Pecuária e Abastecimento (LADIC/MAPA) passou a ser o responsável pelo
armazenamento das cultivares protegidas em suas câmaras frias, a -20°C. Em novembro
de 2008, o Banco de Cultivares contava com 821 amostras, encaminhadas pela Iniciativa
Privada, por Empresas Estaduais de Pesquisa, por Universidades, assim como pela própria
Embrapa, como pode ser visto na Tabela 16. A diferença entre o número de cultivares
armazenadas e a quantidade de cultivares cuja proteção está em vigor refere-se às
cultivares que não podem ser conservadas a -20°C e encontram-se com os obtentores, sob
o controle do MAPA.
A implementação da legislação de proteção de cultivares é considerada um sucesso pelos
obtentores de novas cultivares e um grande passo em favor do desenvolvimento de
mercado interno de sementes de qualidade superior, incluindo nesse esforço a iniciativa
pública e a iniciativa privada.
Empresas
Cultivar Embrapa Iniciativa Estaduais de Universidades T OTAL
Privada Pesquisa
Abacaxi 3 - - - 3
Alface - 15 - - 15
Algodão 22 33 - - 55
Arroz 32 24 5 - 61
Aveia - 5 1 1 7
Brachiaria 1 - - - 1
Café - - 1 - 1
Capim colonião - 1 - - 1
Capim elefante - 1 - - 1
Cebola 1 - - - 1
Cenoura - 3 - - 3
Cevada 4 - - - 4
Ervilha - 2 - - 2
Feijão 13 6 6 - 25
Feijão guandú 1 - - - 1
Feijão vagem - 2 - - 2
Macrotyloma - 1 - - 1
Milheto - 5 - - 5
Milho 28 4 - 3 35
Soja 145 314 15 14 488
Sorgo 12 2 2 - 16
Trigo 33 47 9 - 89
Triticale 3 1 - - 4
Total 298 466 39 18 821
Tabela 16. Número de cultivares protegidas armazenadas no MAPA, por instituição detentora.

108
8.7. FITOSSANIDADE

A introdução de recursos fitogenéticos no Brasil, para fins comerciais ou científicos, é


regulada por disposições legais e infra-legais. Os principais instrumentos legais
fitossanitários são os seguintes:
• Decreto nº 24.114/34 (Regulamento de Defesa Sanitária Vegetal);
• Decreto nº 5.759/06 (Convenção Internacional para a Proteção dos Vegetais
(CIVP))
• Lei nº 7.802/89 e Decreto nº 98.816/90 (Agrotóxicos);
• Instruções Normativas do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento: IN
nº 6/05, IN nº 14/05, IN nº 23/04 (Análise de Risco de Pragas);
• Instruções Normativas do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento: IN
nº 1/07, IN nº 13/06, IN nº 16/06, IN nº 29/07, IN nº 37/07, IN nº 42/06, IN nº 41/06,
IN nº 1/00, IN nº 9/06, IN nº 23/07, IN nº 32/06, IN nº 23/08, IN nº 16/03, IN nº 3/08,
IN nº 2/07, IN nº 5/08, IN nº 48/07, IN nº 17/05 (Prevenção e Controle de Pragas);
• Instruções Normativas do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento: IN
nº 1/98, IN nº 14/05, IN nº 23/04 (Quarentena Vegetal);
• Instruções Normativas do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento: IN
nº 54/07, IN nº 55/07 (Trânsito de vegetais).
O Decreto nº 24.114/34 aprova o Regulamento de Defesa Sanitária Vegetal,
estabelecendo: normas para exportação e importação de vegetais e suas partes; medidas
necessárias para vigilância, erradicação, tratamentos, inspeção, pontos de ingresso e
egresso, quarentena, etc.
Qualquer material vegetal introduzido para as atividades de pesquisa desenvolvida no país
obrigatóriamente passa pelas quarentenas de pós-entrada mantidas pela Empresa
Brasileira de Pesquisa Agropecuária e pelo Instituto Agronomico de Campinas, ambas
credenciadas pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento. Muitas vezes, esse
é ainda um dos maiores gargalos para o desenvolvimento da pesquisa e para o
enriquecimento dos bancos de germoplasma. A falta de pessoal especializado, em número
suficiente, e de infraentrutura adequada, tem atrasado bastante a fluidez dos processos.
Maiores investimentos são necessários, principalmente porque os mesmos serviços
precisam ser divididos com a iniciativa privada, cuja demanda vem crescendo muito nos
últimos anos.
Entretanto, mesmo necessitando de melhor infraestrutura, os serviços de quarentena
relatam a entrada e a exportação de um número muito expressivo de acessos, significando
que os programas de melhoramento vegetal e os projetos de conservação do material
genético estratégico, que dependem do trânsito e acesso a novos materiais, continuam
bastante ativos nas diferentes instituições nacionais, publicas e privadas.
De acordo com o último relatório emitido pelo setor responsável na Embrapa, somente
entre 2005 e 2007, foram abertos 967 processos para atendimento de pedidos de
intercâmbio de germoplasma. 891 materiais foram recebidos para análise e 538 produtos
puderam ser liberados. Os demais foram condenados por estarem contaminados com
pragas de importancia quarentenária. Entre 1977 e 2006, mais de 500 mil acessos foram
movimentados. Das 1.730 pragas detectadas nos últimos dois anos, 95 são exóticas ao
país. Pela média, mais de 15 mil pragas foram identificadas desde o início dos trabalhos.
Tais dados refletem a enormidade do trabalho desenvolvido, bem como a contínua
necessidade de otimização de protocolos para identificação e diagnose de pragas,
absolutamente necessários para a segurança e proteção da agricultura brasileira.

109
8.8. OUTRAS LEGISLAÇÕES E DECRETOS APLICÁVEIS

Além das legislações acima citadas, existem outras que tem impacto sobre a conservação
e o uso sustentável dos recursos fitogenéticos, em especial:
• Lei nº 10.711/03 e Decreto nº 5.153/04 (Sementes e Mudas);
• Decreto nº 6.041/07 (Política de Desenvolvimento da Biotecnologia).
A Lei nº 10.711/03 dispõe sobre o Sistema Nacional de Sementes e Mudas (SNSM), o qual
tem por objetivo garantir a identidade e a qualidade do material de multiplicação e de
reprodução vegetal produzido, comercializado e utilizado em todo o território brasileiro. Foi
regulamentada pelo Decreto nº 5.153/04 e por instruções de serviço, instruções normativas
e portarias do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento.
O Sistema Nacional de Sementes e Mudas (SNSM) compreende as seguintes atividades:
registro nacional de sementes e mudas (Renasem); registro nacional de cultivares (RNC);
produção de sementes e mudas; certificação de sementes e mudas; análise de sementes e
mudas; comercialização de sementes e mudas; fiscalização da produção, do
beneficiamento, da amostragem, da análise, certificação do armazenamento, do transporte
e da comercialização de sementes e mudas; utilização de sementes e mudas.
O Registro Nacional de Cultivares é o cadastro de cultivares habilitadas para a produção,
comercialização e utilização de sementes e mudas em todo território brasileiro.
O Registro Nacional de Sementes e Mudas contém a inscrição das pessoas físicas e
jurídicas que exercem as atividades de produção, beneficiamento, embalagem,
armazenamento, análise, comércio, importação e exportação de sementes e mudas.
O Decreto nº 6.041/07 institui a Política de Desenvolvimento da Biotecnologia, criando o
Comitê Nacional de Biotecnologia. A Política de Desenvolvimento da Biotecnologia tem por
objetivo o estabelecimento de ambiente adequado para o desenvolvimento de produtos e
processos biotecnológicos inovadores, o estímulo à maior eficiência da estrutura produtiva
nacional, o aumento da capacidade de inovação das empresas brasileiras, a absorção de
tecnologias, a geração de negócios e a expansão das exportações.
Dentre as áreas setoriais priorizadas na Política de Desenvolvimento da Biotecnologia,
destaca-se a área da agropecuária. Essa área possui como diretriz o estimulo a geração de
produtos agropecuários estratégicos visando novos patamares de competitividade e a
segurança alimentar, mediante a diferenciação de produtos e a introdução de inovações
que viabilizem a conquista de novos mercados.
Com o apoio à inovação, prometido pelo Programa de Aceleração do Crescimento (PAC)
aprovado em 2008 pelo Governo do Presidente Luiz Inácio Lula da Silva para
implementação até 2010, espera-se a modernização dos laboratórios e a contratação de
um maior número de profissionais para os diferentes setores da pesquisa brasileira. A
resposta à oportunidade aberta pela expansão dos mercados de alimento e de
biocombustível está calcada no aumento da produção brasileira de grãos e matéria-prima
vegetal (feedstocks), que por sua vez depende em linha direta da oferta ao mercado de
novas variedades, melhor adaptadas às pressões bióticas e abióticas. Mesmo com alguns
pontos nevrálgicos, a legislação brasileira referente à matéria é suficientemente robusta
para sustentar tais atividades.

110
CAPÍTULO 9
A CONTRIBUIÇÃO DOS RECURSOS FITOGENÉTICOS PARA
ALIMENTAÇÃO E A AGRICULTURA, NO DESENVOLVIMENTO
SUSTENTÁVEL E NA SEGURANÇA ALIMENTAR

9.1. INTRODUÇÃO

Durante as últimas décadas, a comunidade científica nacional e internacional tem sido


capaz de suprir muitas das limitações da produção agrícola, especialmente nos países em
desenvolvimento. Avanços substanciais em genética e melhoramento, bem como o
desenvolvimento de sistemas de produção mais adequados têm levado a um amplo
espectro de tecnologías que permitiram o desenvolvimento de sistemas de produção
necessários em países pobres. No Brasil estes avanços foram muito significativos. O País
tem usado sua diversidade e recursos para promover, com sucesso, a melhoria de
condições de vida da população e se tornar um líder mundial em muitos setores, incluindo
a agricultura. A diversidade climática do país, de temperado a tropical, juntamente com os
avanços no desenvolvimento e capacidade tecnológica – incluindo acesso ao uso
sustentável dos recursos genéticos – permitiu considerável diversificação da produção
agrícola, o que tem feito do Brasil um dos maiores produtores em diversas áreas da
agricultura. De importador de muitos componentes alimentares, o país tem se tornado auto-
suficiente na produção da maioria dos bens agrícolas em menos de 30 anos. Atualmente, o
fortalecimento dos produtos brasileiros no mercado mundial tem resultado numa robusta
demanda para a exportação agrícola, levando o país a se tornar um dos quatro maiores
exportadores do setor. Uma das principais alavancas do enorme avanço tecnológico obtido
na agricultura brasileira nas últimas três décadas tem sido a habilidade do sistema de
pesquisa e desenvolvimento de incorporar e utilizar recursos genéticos como fonte básica
para a geração de novos cultivares de plantas, melhoramento animal e linhagens de
microrganismos de interesse para o sistema agrícola.
O desenvolvimento de tecnologias para a agricultura tropical tem sido um dos maiores
fatores de fortalecimento do Brasil. O Sistema de Pesquisa Agropecuário Brasileiro tem
desenvolvido trabalhos em genética e melhoramento, culturas e manejo de solos,
permitindo a incorporação de tecnologias avançadas para o sistema de produção,
sobrepujando assim os desafíos ambientais como, plantas daninhas, pragas, seca,
salinidade, toxicidez a aluminio, etc. Como um país que ainda depende fundamentalmente
da agricultura, o Brasil depende de um contínuo suprimento de variabilidade genética e
novas tecnologias para aumentar a produção de alimento, bem como avançar
competitivamente a nível regional e nos mercados exportadores. Adicionalmente, forte
ênfase tem sido dada à produção como suporte a segurança alimentar e alivio da pobreza,
entendendo-se também que quanto mais o Brasil exporta, mais o país poderá investir em
serviços que beneficiam sua população. Programas de redução da pobreza, os quais têm
sido uma das estratégias centrais do governo atual, são sempre dependentes de quanto
sucesso o país pode obter na administração da sua economia.

9.2 PRIORIDADES PARA ENTENDER AS REGRAS E VALORES DO PGRFA

9.2.1. Necessidades de estabelecer Prioridades e Sistematizar as Conexões para


Estratégias de Inovações Futuras
A futura configuração dos recursos genéticos de plantas e programas de melhoramento é
dependente de conhecimentos que possam guiar as decisões estratégicas sobre
estruturas, métodos e capacidades, no sentido de se obter vantagens e explorar novas
oportunidades e espaços tecnológicos que possam beneficiar os fortes programas de
conservação e uso de recursos genéticos. Infelizmente, poucos esforços tem sido feitos
111
no sentido de se pensar no futuro dos recursos genéticos e programas de melhoramento,
especialmente em países em desenvolvimento. Organizações de pesquisa necessitam de
informações que nem sempre estão disponíveis, sobre as influências e as mudanças, e
seus impactos nas atividades estratégicas futuras, como culturas e recursos genéticos
animais e melhoramento. Os estudos de prospecção e estabelecimento de mecanismos de
priorização, juntamente com análises de custo benefício devem ser avaliados para guiar
decisões em como organizar e administrar o futuro dos programas de recursos genéticos e
melhoramento de plantas no Brasil.

9.2.2. Trabalhos em Rede e Fortalecimento de Programas de Recursos Genéticos e


Melhoramento no Brasil
A conservação e o desenvolvimento do uso sustentável de recursos genéticos de plantas
tem sido compreendido como parte de um processo complexo. Complementariedade,
associação de tecnologias e capacidades, juntamente com uma abordagem efetiva de
colaboração deve ser visto como o principal enfoque para o desenvolvimento correto deste
processo. Um dos principais problemas que limitam a efetiva implementação de um
processo complexo é a dificuldade de se criar equipes efetivas e estabelecer redes de
cooperação. Complementação, associação de tecnologias e capacidades, juntamente com
uma abordagem de redes, devem ser vistos como ingredientes fundamentais para o
correto desenvolvimento do processo. Um dos problemas fundamentais que limitam a
efetiva implementação de sistemas complexos é a dificuldade de se construir equipes e
redes. Abordagem de rede e colaboração têm sido importantes para as organizações
atingirem os objetivos traçados, adicionarem valores aos seus produtos e processos, bem
como reduzirem custos. Existe uma demanda para que os programas de Pesquisa e
Desenvolvimento se tornem mais eficientes e relevantes, direcionando seus esforços para
alinhamento e cooperação. A moderna biotecnología, por exemplo, não pode ser
considerada como um produto final ou uma ferramenta não associada às complexidades
da conservação e uso de recursos genéticos e das estratégias de melhoramento. Deve-se
entender e analisar o contexto como uma mistura interativa de ferramentas e estratégias
para se atingir os objetivos de melhoramento de culturas, de forma coordenada. A
necessidade de se expandir a estratégia de rede, para as pesquisas de melhoramento e
biotecnologia, deve ser sempre um objetivo a ser alcançado.

9.2.3. Ênfase na Capacidade Instituída e na Administração de Pesquisa e


Desenvolvimento
O futuro das pesquisas em recursos genéticos aponta para um aumento da
interdependência entre as disciplinas tradicionais, tornando-se necessário a construção de
equipes multidisciplinares, objetivo nem sempre fácil de ser atingido. Adicionalmente ao
desafio de se trabalhar em equipes alinhadas e cooperativas, existe a necessidade de
desenvolvimento de mecanismos de divisão de capacidades, infraestrutura, materiais e
informação entre as equipes localizadas em diferentes países, regiões e até mesmo
continentes. Treinamentos efetivos e desenvolvimento de infraestrutura para preparar os
cientistas para os desafios futuros são essenciais, bem como o desenvolvimento de
sistemas organizacionais eficientes, com capacidade de definir estratégias, construir e
administrar programas compatíveis com as necessidades e desafíos do país.
9.2.4 Dimensão humana na conservação e uso sustentável da agro-biodiversidade
Profundo conhecimento dos recursos genéticos, seu uso e manuseio é característica de
sociedades indígenas tradicionais; sendo que a perda destes recursos é sempre uma
ameaça a própria existência destas sociedades. No Brasil, um exemplo concreto, e de
elevado cunho social na trajetória da conservação dos recursos genéticos teve início na
década de 70, quando foram coletados, em roças da etnia Xavante, sementes de
variedades de milho resistentes às condições adversas de solo e clima, que os indígenas
denominavam pôhypey. Passados cerca de 25 anos, essas variedades de milho tinham

112
desaparecido por força da política indigenista, então adotada, de distribuir sementes
comerciais às tribos brasileiras. Esta substituição, além de ter reduzido drasticamente a
produção, uma vez que os híbridos são mais exigentes, causou uma mudança nos hábitos
culturais e alimentares das comunidades. Felizmente, este valioso tesouro estava
conservado nas câmaras frias da Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia. A
solenidade de cedência deste material genético aos Krahôs aconteceu em 2001 e foi
registrada pela imprensa nacional e internacional. Atualmente vem sendo desenvolvido um
trabalho não só da devolução de espécies autóctones, como também um
acompanhamento e transferência de tecnologias adaptadas às condições da comunidade.
A recuperação de materiais genéticos perdidos ou deteriorados e a valoração de todo o
conhecimento relacionado devem, portanto, ser tratadas como prioritárias.
Neste contexto, o estudo e a promoção do uso sustentável da biodiversidade, em conexão
com a promoção dos conhecimentos tradicionais das populações indígenas, tem se
tornado imensamente importantes. Esta abordagem associativa tem mostrado ser uma
estratégia efetiva para a conservação da biodiversidade, organização e disponibilização da
informação, para o benefício das populaçóes, ciência e sociedade como um todo. Ênfase
tem sido dada à conservação in situ e cultivo on farm para complementar a conservação ex
situ, visando preservar os conhecimentos etno-biológicos expressos em práticas
tradicionais de uso, coleta e conservação de recursos genéticos e biológicos na agricultura
indígena e populações tradicionais. O desenvolvimento e aplicações de métodos de
pesquisa participativa é fundamental para a reintrodução, conservação e circulação de
fontes genéticas de plantas para alimentação, perdidas ou degeneradas, utilizando práticas
adequadas e tecnologias apropriadas para as culturas e ambientes destas populações
tradicionais.
9.2.5. Mudança Global, Diversidade Genética e Futuro da Produção Agrícola nos
Trópicos
As mudanças climáticas têm adicionado mais estresse ao delicado balanço dos agro-
ecossistemas, especialmente nas regiões tropicais, onde os estresses bióticos e abióticos
deverão sofrer significativa intensificação nas próximas décadas. Estes fatores ameaçam
reverter os ganhos obtidos nas décadas pasadas, no que se refere à segurança alimentar,
redução da pobreza e sustentabilidade ambiental. Com as mudanças climáticas previstas,
um novo paradigma deverá ser discutido, para abordagem dos problemas agrícolas que
irão surgir no cinturão tropical mundial. Juntamente com os avanços representados pelo
completo seqüenciamento de genomas, abordagens paralelas devem ser altamente
incentivadas como a disponibilidade de análises de transcritos, proteínas, vías metabólicas
e mais importante ainda, incentivar o uso de variabilidade de fontes de recursos genéticos
armazenados nos bancos de germoplasma. Novas tecnologias genômicas, associadas ao
melhoramento genético, poderão apresentar alternativas para redução dos impactos dos
estresses bióticos e abióticos na produtividade das culturas, bem como melhorar a
segurança, a qualidade nutricional e a funcionalidade dos produtos alimentares. Novas
ferramentas para desvendar e manipular a variabilidade genética serão fundamentais para
uso nos procesos de melhoramento de muitas espécies, geneticamente pouco conhecidas.
Este é o momento de se adotar e adaptar os novos paradigmas de descoberta e uso de
genes no melhoramento de plantas, essenciais para sobrepujar as barreiras que irão limitar
a produção de alimento em condições de estresse, particularmente em ambientes tropicais.

113
Anexo
Tabela 10A. Bancos de Germoplasma de Raízes e Tubérculos, por Instituição e respectivo número de acessos.

BANCOS DE GERMOPLASMA DE RAÍZES E TUBÉRCULOS


Banco de Instituição Nome científico N° de Origem
Germoplasma Acessos E/L/N
Batata IAC Solanum spp. 80 E/N
Batata Embrapa Clima Temperado Solanum tuberosum 331 E
Solanum (sect. Tuberarium ) spp. N
Batata Doce Embrapa Hortaliças Ipomoea batatas 1.043 E/L
Batata Doce Embrapa Clima Temperado Ipomoea batatas 55 E/L
Batata Doce IAC Ipomoea batatas 13 E/L
Espécies Silvestres de Mandioca Embrapa Mandioca e Fruticultura Tropical Manihot anomala 152 N
Manihot caerulescens 35 N
Manihot dichotoma 104 N
Manihot flabellifolia 215 N
Manihot glaziovii 91 N
Manihot peruviana 260 N
Manihot tomentosa 31 N
Manihot spp. 40 N
Mandioca Embrapa Clima Temperado Manihot esculenta 12 N
Mandioca EPAGRI - Urussanga Manihot esculenta 624 N
Mandioca Fepagro- Fruticultura Manihot esculenta 160 N
Mandioca IAPAR Manhiot esculenta 420 N
Mandioca Embrapa Mandioca e Fruticultura Tropical Manihot esculenta 1.961 N
Mandioca Embrapa Cerrados Manihot esculenta 378 N
Mandioca Embrapa Semi-Árido Manihot esculenta 529 N
Mandioca Embrapa Amazônia Oriental Manihot esculenta 58 N
Mandioca Embrapa Amazônia Ocidental Manihot esculenta 236 N
Tabela 1A. Bancos de Germoplasma de Espécies Arbóreas e Palmeiras, por Instituição e respectivo número de acessos.

BANCOS DE GERMOPLASMA DE ESPÉCIES ARBÓREAS E PALMEIRAS


Banco de Instituição Nome científico N° de Origem
Germoplasma Acessos E/L/N
Açai Embrapa Amazônia Oriental Euterpe oleracea 137 N
Euterpe precatoria N
Babaçu Embrapa Meio Norte Orbignya phalerata 185 N
Orbignya spp. N
Attalea spp. N
Bacaba Embrapa Amazônia Oriental Oenocarpus bacaba 208 N
Oenocarpus spp. N
Caiauê Embrapa Amazônia Ocidental Elaeis oleifera 244 N
Dendê Embrapa Amazônia Ocidental Elaeis guineensis 320 E
Eucalipto Embrapa Florestas Eucaliptus spp. 2.000 E
Corymbia spp. 25 E
Euterpe IAC Euterpe edulis 36 N
Euterpe oleracea N
Euterpe spp. N
Florestais Nativas e Exóticas Embrapa Florestas Araucaria angustifolia 162 N
Pinus spp. E
Acacia melanoxylon E
Acrocarpus fraxinifolius E
Calycophyllum spruceanum E
Cryptomeria japonica E
Cupressus spp. E
Grevillea robusta E
Liquidambar styraciflua E
Patauá Embrapa Amazônia Oriental Jessenia bataua 122 N
Pupunha Embrapa Amazônia Oriental Bactris gasipaes 38 L
Pupunha Embrapa Amazônia Ocidental Bactris gasipaes 72 L
Pupunha IAC Bactris gasipaes 332 L
Tucumã Embrapa Amazônia Oriental Astrocaryum spp. 215 N
Tabela 2A. Bancos de Germoplasma de Cereais e Pseudocereais, por Instituição e respectivo número de acessos.
BANCOS DE GERMOPLASMA DE ESPÉCIES DE CEREAIS E PSEUDOCEREAIS
Banco de Instituição Nome científico N° de Origem
Germoplasma Acessos E/L/N
Arroz Embrapa Arroz e Feijão Oryza sativa 10.980 E/L
Arroz IAPAR Oryza sativa 1.400 E/L
Aveia Embrapa Trigo Avena sativa 331 E
Avena spp. E
Aveia IAPAR Avena sativa 500 E
Aveia Branca APTA Avena sativa 350 E
Centeio Embrapa Trigo Secale cereale 106 E
Secale spp. E
Cevada Embrapa Trigo Hordeum vulgare 2.467 E
Cevada IAPAR Hordeum vulgare 656 E
Cevada APTA Hordeum vulgare 2.500 E
Cevada - Espécies afins Embrapa Trigo Hordeum vulgare 1.375 E
Hordeum stenostachys N
Milheto Embrapa Milho e Sorgo Pennisetum glaucum 7.225 E
Milho Embrapa Milho e Sorgo Zea mays 3.800 E/L
Zea mays ssp. mexicana E
Tripsacum spp. E
Milho IAC Zea mays 83 E/L
Milho IAPAR Zea mays 2.500 E/L
Milho Subtropical Embrapa Clima Temperado Zea mays 200 E/L
Sorgo Embrapa Milho e Sorgo Sorghum bicolor 7.225 E
Sorgo Fepagro- Fruticultura Sorghum bicolor 220 E
Sorgo IAPAR Sorghum spp. 100 E
Trigo Embrapa Trigo Triticum aestivum 11.252 E/L
Trigo IAPAR Triticum aestivum 6.010 E
Triticum durum 609 E
Trigo IAC Triticum aestivum 5.659 E
Triticum durum 892 E
Trigo - Espécies afins Embrapa Trigo Triticum spp. 2.212 E
Aegilops spp. E
Triticale Embrapa Trigo Triticum aestivum x Secale cereale (= xTriticosecale spp.) 162 E
Triticale IAPAR Triticum aestivum x Secale cereale (= xTriticosecale spp.) 390 E
Triticale IAC Triticum aestivum x Secale cereale (= xTriticosecale spp.) 50 E
Tabela 3A. Bancos de Germoplasma de Espécies Forrageiras, por Instituição e respectivo número de acessos .
BANCOS DE GERMOPLASMA DE ESPÉCIES FORRAGEIRAS
Banco de Instituição Nome científico N° de Origem
Germoplasma Acessos E/L/N
Alfafa Embrapa Gado de Leite Medicago sativa 8 E/L
Amendoim Forrageiro Embrapa Acre Arachis pintoi 103 N
Arachis repens N
Arachis glabrata E/N
Azevém Embrapa Gado de Leite Lolium spp. 213 E
Brachiaria Embrapa Gado de Corte Brachiaria spp.( = Urochloa spp.) 461 E
Capim lanudo Embrapa Gado de Leite Holcus lanatus 3 E
Capim-elefante Embrapa Gado de Leite Pennisetum purpureum 110 E
Pennisetum spp. 7 E/N
Cenchrus Embrapa Semi-Árido Cenchrus ciliaris 117 N
Forrageiras (Poaceae) EPAGRI - Lages Agrostis spp. 1.383 E
Arrhenatherum elatius E
Avena spp. E
Bromus spp. E/N
Dactylis spp. E
Festuca spp. E
Holcus lanatus E
Lolium spp. E
Paspalum spp. N
Phalaris spp. E
Phleum pratense E
Poa spp. E
(Fabaceae) Adesmia spp. N
Desmodium spp. E/N
Lathyrus sativus E
Medicago spp. E
Melilotus alba E
Ornithopus spp. E/N
Pisum sativum E
Trifolium spp. E/N
Vicia spp. E/N
Forrageiras (Poaceae) Instituto de Zootecnia SP Acroceras macrum 1 E
Andropogon gayanus 8 E
Tabela 3A. Bancos de Germoplasma de Espécies Forrageiras, por Instituição e respectivo número de acessos . (cont.)
Banco de Instituição Nome científico N° de Origem
Germoplasma Acessos E/L/N
Forrageiras (Poaceae) Instituto de Zootecnia SP Avena spp. 3 E
Axonopus spp. 4 N
Brachiaria spp.( = Urochloa spp.) 24 E
Cenchrus spp. 2 E
Chloris spp. 5 E
Coix lacryma-jobi 1 E
Crysopogon montanus 1 E
Cynodon spp. 3 E
Dichantium aristatum 1 E
Digitaria spp. 13 E
Echinochloa spp. 4 N
Eragrostis spp. 4 E
Hemarthria altissima 3 E
Heteropogon spp. 2 E
Homolepis aturensis 1 N
Hyparrhenia spp. 6 E
Lolium spp. 3 E
Melinis minutiflora 1 E
Panicum maximum (= Megathyrsus maximus ) 16 E
Panicum spp. 49 E
Paspalum spp. 18 N
Pennisetum spp. 5 E
Setaria spp. 11 E
Tripsacum fasciculatum 1 E
Urochloa spp. 2 E
Zoysia japonica 1 E
(Fabaceae) Aeschynomene spp. 48 N
Alysicarpus vaginalis 3 N
Arachis sp. 1 N
Bauhinia sp. 1 N
Cajanus spp. 7 E
Calliandra calothyrsus 1 E
Calopogonium mucunoides 12 E/N
Camptosema spp. 8 N
Tabela 3A. Bancos de Germoplasma de Espécies Forrageiras, por Instituição e respectivo número de acessos . (cont.)
Banco de Instituição Nome científico N° de Origem
Germoplasma Acessos E/L/N
(Fabaceae) Instituto de Zootecnia SP Canavalia spp. 16 E/N
Cassia spp. 4 N
Centrosema pubescens 48 E
Centrosema virginianum 11 N
Centrosema spp. 55 E/N
Chamaecrista spp. 16 N
Cleobulia multiflora 1 N
Clitoria spp. 13 N
Codariocalyx gyroides 1 E
Collaea spp. 3 N
Cologania sp. 1 N
Cratylia spp. 4 N
Crotalaria spp. 17 E/N
Desmanthus spp. 12 N
Desmodium barbatum 11 N
Desmodium incanum 11 N
Desmodium spp. 49 E/N
Dolichos spp. 3 E
Dypterix alata 1 N
Eriosema spp. 4 N
Galactia spp. 33 N
Galactia striata 10 N
Glycine spp. 25 E
Indigofera spp. 49 N
Lablab purpureus 3 E
Leucaena leucocephala 9 E
Leucaena spp. 7 E
Macroptilium spp. 41 N
Macrotyloma spp. 6 E
Medicago sativa 2 E
Mimosa spp. 55 N
Mucuna pruriens 1 E
Neonotonia wightii 53 E
Ornithopus sativus 1 E
Tabela 3A. Bancos de Germoplasma de Espécies Forrageiras, por Instituição e respectivo número de acessos . (cont.)
Banco de Instituição Nome científico N° de Origem
Germoplasma Acessos E/L/N
(Fabaceae) Instituto de Zootecnia SP Periandra spp. 3 N
Poiretia spp. 2 N
Psophocarpus tetragonolobus 6 E
Pueraria phaseoloides 3 E
Rhynchosia spp. 22 N
Schrankia leptocarpa 2 N
Senna spp. 5 N
Sesbania spp. 30 E/N
Stylosanthes guianensis 51 E/N
Stylosanthes scabra 20 E/N
Stylosanthes spp. 96 E
Tephrosia spp. 8 N
Teramnus spp. 36 N
Trifolium spp. 4 E
Vicia sativa 1 E
Vigna spp. 43 E/N
Zornia spp. 21 N
(Chenopodiaceae) Atriplex nummularia 1 E
Forrageiras (Poaceae) Embrapa Pecuária Sudeste Paspalum spp. 200 N
Bromus auleticus N
Forrageiras Nativas Embrapa Meio Norte Diversos gêneros (Poaceae e Fabaceae) 215 E/N
Forrageiras Nativas Embrapa Pantanal Hemarthria altissima 30 N
Hymenachne amplexicaulis N
Mesosetum chaseae N
Panicum laxum N
Paspalum oteroi N
Forrageiras (Poaceae) Embrapa Cerrados Andropogon gayanus 2.812 E
Brachiaria spp.( = Urochloa spp.) E
(Fabaceae) Aeschynomene spp. N
Arachis spp. N
Calopogonium spp. E/N
Cassia spp. N
Centrosema spp. E/N
Cratylia spp. N
Tabela 3A. Bancos de Germoplasma de Espécies Forrageiras, por Instituição e respectivo número de acessos . (cont.)
Banco de Instituição Nome científico N° de Origem
Germoplasma Acessos E/L/N
(Fabaceae) Embrapa Cerrados Crotalaria spp. E/N
Desmodium spp. E/N
Galactia spp. N
Indigofera spp. N
Macroptilium spp. N
Neonotonia wightii E
Panicum Embrapa Gado de Corte Panicum maximum (= Megathyrsus maximus ) 426 E
Paspalum Embrapa Pecuária Sudeste Paspalum spp. 327 N
Stylosanthes Embrapa Gado de Corte Stylosanthes spp. 1.062 E/N
Tabela 4A. Bancos de Germoplasma de Fruteiras, por Instituição e respectivo número de acessos.
BANCOS DE GERMOPLASMA DE ESPÉCIES DE FRUTEIRAS
Banco de Instituição Nome científico N° de Origem
Germoplasma Acessos E/L/N
Abacate Embrapa Cerrados Persea americana 44 E
Abacate EBDA Persea americana 33 E
Abacate IAPAR Persea americana 41 E
Abacaxi Embrapa Mandioca e Fruticultura Tropical Ananas spp. 741 N
Pseudananas sagenarius N
Abacaxi IAC Ananas comosus 137 E/N
Ananas spp. 19 E/N
Pseudananas sagenarius 5 E/N
Abiu EBDA Pouteria caimito 2 N
Abiu UFRB Pouteria caimito 2 N
Acerola Embrapa Mandioca e Fruticultura Tropical Malpighia spp. 154 E
Acerola UFRPE Malpighia glabra 42 E
Acerola IPA Malpighia glabra 14 E
Acerola EMPARN Malpighia glabra 5 E
Acerola EBDA Malpighia glabra 4 E
Acerola IAPAR Malpighia glabra 65 E
Ameixa IAPAR Prunus salicina 265 E
Amora APTA Morus spp. 88 E
Amora-preta IAPAR Rubus spp. 60 E
Annona UNESP/FCAV Annona spp. 20 E/N
Annona IAC Rollinia emarginata 6 E/N
Annona cherimola E
Annona cherimola x Annona squamosa E
Araçá-comum IPA Psidium araca 110 N
Bacuri Embrapa Tabuleiros Costeiros Platonia insignis 78 N
Bacuri Embrapa Amazônia Oriental Platonia insignis 48 N
Banana Embrapa Mandioca e Fruticultura Tropical Musa spp. 400 E
Banana INCAPER Musa spp. 60 E
Banana EMPARN Musa acuminata x Musa balbisiana 13 E
Banana IAC Musa spp. 14 E
Butiás Fepagro Porto Alegre Butia capitata 12 N
Cacau de Pariquera-Açu IAC Theobroma cacao 178 E/N
Cainito EBDA Chrysophyllum cainito 2 E
Tabela 4A. Bancos de Germoplasma de Fruteiras, por Instituição e respectivo número de acessos. (cont.)
Banco de Instituição Nome científico N° de Origem
Germoplasma Acessos E/L/N
Cainito UNESP/FCAV Chrysophyllum cainito 2 E
Cainito UFRB Chrysophyllum cainito 5 E
Cajá Embrapa Tabuleiros Costeiros Spondias mombin 30 N
Cajá IPA Spondias lutea 33 E
Cajá EMEPA Spondias lutea 21 E
Cajá EBDA Spondias lutea 2 E
Cajá UFRB Spondias lutea 3 E
Caju UFAL Anacardium occidentale 35 N
Caju UNESP/FCAV Anacardium occidentale 5 N
Caju EMPARN Anacardium occidentale 12 N
Caju EBDA Anacardium occidentale 5 N
Cajú Embrapa Agroindústria Tropical Anacardium occidentale 621 N
Anacardium spp. N
Cajuí Embrapa Meio Norte Anacardium spp. 35 N
Camu-camu Embrapa Amazônia Oriental Myrciaria dubia 10 N
Camu-camu Embrapa Amazônia Ocidental Myrciaria dubia 10 N
Camu-camu INPA Myrciaria dubia 40 N
Canistel EBDA Pouteria campechiana 2 E
Canistel UNESP/FCAV Pouteria campechiana 2 E
Canistel UFRB Pouteria campechiana 2 E
Caqui EBDA Diospyros kaki 3 E
Caqui IAC Diospyros kaki 37 E
Carambola IPA Averrhoa carambola 69 E
Carambola UNESP/FCAV Averrhoa carambola 5 E
Carambola EBDA Averrhoa carambola 45 E
Castanha do Brasil Embrapa Amazônia Oriental Bertholletia excelsa 45 N
Champedaque EBDA Artocarpus integer 2 E
Chichá Embrapa Meio Norte Sterculia striata 14 N
Citros Embrapa Mandioca e Fruticultura Tropical Citrus spp. 811 E
Citros UFAL Citrus spp. 40 E
Citros Epagri Citrus spp. 20 E
Citros Fepagro Citrus spp. 229 E
Citros IAPAR Citrus spp. 400 E
Citros IAC Citrus aurantium 48 E
Tabela 4A. Bancos de Germoplasma de Fruteiras, por Instituição e respectivo número de acessos. (cont.)
Banco de Instituição Nome científico N° de Origem
Germoplasma Acessos E/L/N
Citrus IAC Citrus grandis 47 E
Citrus limon 140 E
Citrus limonia 58 E
Citrus paradisi 64 E
Citrus reticulata 172 E
Citrus sinensis 651 E
Citrus spp. 308 E
Citrus - Hibridos Interespecíficos 360 E
Poncirus spp. 25 E
Outros gêneros 18 E
Híbridos intergenéricos 210 E
Coco EBDA Cocos nucifera 2 E
Coco Embrapa Tabuleiros Costeiros Cocos nucifera 22 E
Coco EMPARN Cocos nucifera 3 E
Cupuaçu Embrapa Amazônia Ocidental Theobroma grandiflorum 524 N
Theobroma spp. 16 N
Durião EBDA Durio zibethinus 2 E
Fruteiras Nativas do Norte Embrapa Amazônia Oriental Bertholletia excelsa 290 N
Byrsomina crassifolia N
Myrciaria dubia N
Platonia insignis N
Spondias monbim N
Fruteiras Nativas do Sul Universidade Federal de Pelotas Acca sellowiana 165 N
Butia capitata N
Inga uruguensis N
Myrcianthes pungens N
Psidium cattleyanum N
Rollinia rugulosa N
Fruteiras Nativas do Sul Embrapa Clima Temperado Acca sellowiana 76 N
Butia capitata N
Campomanesia xanthocarpa N
Eugenia spp. N
Inga uruguensis N
Myrcianthes pungens N
Tabela 4A. Bancos de Germoplasma de Fruteiras, por Instituição e respectivo número de acessos. (cont.)
Banco de Instituição Nome científico N° de Origem
Germoplasma Acessos E/L/N
Fruteiras Nativas do Sul Embrapa Clima Temperado Plinia trunciflora N
Psidium spp. N
Rollinia sylvatica N
Rubus spp. N
Goiaba IPA Psidium guajava 55 N
Goiaba UNESP/FCAV Psidium guajava 14 N
Goiaba UFRB Psidium guajava 5 N
Goiaba EBDA Psidium guajava 31 N
Goiaba APTA Psidium guajava 30 E/N
Goiaba IAC Psidium guajava 105 E/N
Goiaba-serrana EPAGRI - São Joaquim Acca sellowiana 193 N
Graviola IPA Annona muricata 63 E/N
Graviola Embrapa Amazônia Oriental Annona muricata 25 E/N
Graviola UNESP/FCAV Annona muricata 5 E/N
Graviola EBDA Annona muricata 12 E/N
Guabiroba EBDA Eugenia myrabolana 2 N
Guabiroba IPA Eugenia myrabolana 41 N
Guabiroba UNESP/FCAV Eugenia myrabolana 5 N
Guabiroba UFRB Eugenia myrabolana 5 N
Guaraná Embrapa Amazônia Ocidental Paullinia cupana 150 N
Guaraná Embrapa Amazônia Oriental Paullinia cupana 88 N
Jabuticaba EBDA Plinia cauliflora 3 N
Jabuticaba IPA Plinia cauliflora 5 N
Jabuticaba UNESP/FCAV Plinia cauliflora 5 N
Jabuticaba UFRB Plinia cauliflora 5 N
Jaca IPA Artocarpus heterophyllus 42 E
Jambo vermelho EBDA Eugenia malacense 2 E
Jenipapo EBDA Genipa americana 2 E/N
Jenipapo UFRB Genipa americana 5 E/N
Lichia UNESP/FCAV Litchi chinensis 10 E
Lichia EBDA Litchi chinensis 3 E
Maçã EPAGRI - Caçador Malus domestica 474 E
Malus spp. E
Maçã IAPAR Malus domestica 1.464 E
Tabela 4A. Bancos de Germoplasma de Fruteiras, por Instituição e respectivo número de acessos. (cont.)
Banco de Instituição Nome científico N° de Origem
Germoplasma Acessos E/L/N
Macadâmia EBDA Macadamia integrifolia 11 E
Macadâmia UNESP/FCAV Macadamia integrifolia 6 E
Macadâmia INCAPER Macadamia integrifolia 15 E
Mamão UFAL Carica papaya 10 E
Mamão INCAPER Carica papaya 18 E
Mamão UENF Carica papaya 17 E
Mamão Papaya Embrapa Mandioca e Fruticultura Tropical Carica papaya 165 E/N
Jaracatia spinosa E/N
Vasconcellea spp. E/N
Manga Embrapa Semi-Árido Mangifera indica 150 E
Mangifera spp. E
Manga EMPARN Mangifera indica 20 E
Manga UNESP/FCAV Mangifera indica 60 E
Manga EBDA Mangifera indica 50 E
Mangaba Embrapa Tabuleiros Costeiros Hancornia speciosa 42 N
Mangaba Embrapa Meio Norte Hancornia speciosa 16 N
Mangaba EMEPA Hancornia speciosa 540 N
Mangaba UFAL Hancornia speciosa 20 N
Maracujá Embrapa Mandioca e Fruticultura Tropical Passiflora spp. 212 N
Maracujá Embrapa Semi-Árido Passiflora edulis 59 N
Maracujá UFPI Passiflora edulis 12 N
Maracujá UNESP/FCAV Passiflora edulis 60 N
Maracujá Embrapa cerrados Passiflora edulis 145 N
Maracujá UESC Passiflora edulis 523 N
Maracujá IAPAR Passiflora edulis 80 E/N
Maracujá IAC Mitostemma spp. 2 E/N
Passiflora spp. 57 E/N
Tetrastylis ovalis 1 E/N
Morango Embrapa Clima Temperado Fragraria spp. 20 E
Morango IAC Fragraria spp. 140 E
Nozes IAC Macadamia integrifolia 12 E
Castanea spp. 19 E
Oliveira Embrapa Clima Temperado Olea europaea 24 E/N
Passiflora IAC Passiflora spp. 144 E/N
Tabela 4A. Bancos de Germoplasma de Fruteiras, por Instituição e respectivo número de acessos. (cont.)
Banco de Instituição Nome científico N° de Origem
Germoplasma Acessos E/L/N
Pecan UFV Carya illinoinesis 15 E
Pêra e Marmelo Embrapa Uva e Vinho Pyrus ssp. 198 E
Pêra EPAGRI - Cacador Pyrus communis 210 E
Pêssego e Nectarina APTA Prunus persica 29 E
Pinha Embrapa Meio Norte Annona squamosa 48 E/N
Pinha IPA Annona squamosa 78 E/N
Pinha EBDA Annona squamosa 52 E/N
Pitanga IPA Eugenia uniflora 117 N
Pitanga EBDA Eugenia uniflora 5 N
Pitanga UFRB Eugenia uniflora 10 N
Pomóideas IAC Chaenomeles spp. 60 E
Cydonia sp. E
Eriobotrya japonica E
Malus spp. E
Pyrus spp. E
Prunóideas Embrapa Clima Temperado Prunus domestica 1.006 E
Prunus persica E
Prunus spp. E
Prunóideas IAC Prunus mume 109 E
Prunus persica E
Prunus salicina E
Psidium Embrapa Semi-Árido Psidium guajava 152 N
Psidium spp. N
Rambutão INPA Nephelium lappaceum 8 E
Rambutão EBDA Nephelium lappaceum 45 E
Romã IPA Punica granatum 35 E
Romã EBDA Punica granatum 2 E
Sapoti IPA Achras sapota 270 E
Sapoti UNESP/FCAV Achras sapota 6 E
Sapoti EBDA Achras sapota 4 E
Sapucaia Embrapa Tabuleiros Costeiros Lecythis pisonis 16 N
Sirigüela IPA Spondias purpurea 11 E
Spondias Embrapa Tabuleiros Costeiros Spondias spp. 42 E
Spondias Embrapa Mandioca e Fruticultura Tropical Spondias spp. 21 E
Tabela 4A. Bancos de Germoplasma de Fruteiras, por Instituição e respectivo número de acessos. (cont.)
Banco de Instituição Nome científico N° de Origem
Germoplasma Acessos E/L/N
Tâmara Embrapa Semi-Árido Phoenix dactylifera 20 E
Tâmara EMPARN Phoenix dactylifera 10 E
Tâmara Embrapa Semi-Árido Phoenix dactylifera 20 E
Tamarindo EBDA Tamarindus indica 2 E
Tamarindo UNESP/FCAV Tamarindus indica 3 E
Umbu Embrapa Semi-Árido Spondias tuberosa 80 N
Umbu IPA Spondias tuberosa 31 N
Umbu EBDA Spondias tuberosa 2 N
Umbu EMPARN Spondias tuberosa 10 N
Umbu cajá Embrapa Meio Norte Spondias mombin 11 N
Umbu cajá IPA Spondias mombin 36 N
Uva Embrapa Uva e Vinho Vitis vinifera 1.345 E
Vitis spp. E
Uva Embrapa Semi-Árido Vitis spp. 223 E
Uva IAC Vitis bourquina 360 E
Vitis labrusca E
Vitis vinifera E
Híbridos E
Videira IAC Vitis spp. 20 E
Tabela 5A. Bancos de Germoplasma de Hortaliças, por Instituição e respectivo número de acessos.
BANCOS DE GERMOPLASMA DE HORTALIÇAS
Banco de Instituição Nome científico N° de Origem
Germoplasma Acessos E/L/N
Abóboras Embrapa Hortaliças Cucurbita maxima 4.000 E/L
Cucurbita moschata E/L
Cucurbita ficifolia E/L
Cucurbita spp. E/L
Lagenaria siceraria E
Luffa aegyptiaca E
Alface APTA Lactuca sativa 3 E
Alho Embrapa Hortaliças Allium sativum 148 E
Alho IAC Allium sativum 20 E
Batata (Itararé) APTA Solanum tuberosum 200 E
Beringela Embrapa Hortaliças Solanum melongena 287 E
Brassicáceas Embrapa Hortaliças Brassica campestris 934 E
Brassica napus E
Brassica oleracea E
Eruca sativa E
Raphanus sativus E
Capsicum IAC Capsicum spp. 300 N
Cebola Embrapa Clima Temperado Allium cepa 172 E
Cebola Embrapa Hortaliças Allium cepa 120 E
Cebola Embrapa Semi-Árido Allium cepa 27 E
Cebola IAC Allium cepa 1 E
Cenoura Embrapa Clima Temperado Daucus carota 77 E
Couve de Folhas IAC Brassica oleracea var. acephala 20 E
Cucurbita IAC Cucurbita maxima 130 E/L
Cucurbita moschata 156 E/L
Cucurbita pepo 79 E/L
Cucurbita IAC Cucurbita spp. 55 E/L
Cucurbitáceas Embrapa Clima Temperado Cucurbita maxima 426 E/L
Cucurbita moschata E/L
Cucurbita ficifolia E/L
Cucurbita pepo E/L
Citrullus lanatus E/L
Cucumis melo E/L
Tabela 5A. Bancos de Germoplasma de Hortaliças, por Instituição e respectivo número de acessos. (cont.)
Banco de Instituição Nome científico N° de Origem
Germoplasma Acessos E/L/N
Cucurbitáceas Embrapa Clima Temperado Cucumis spp. E
Luffa aegyptiaca E
Lagenaria siceraria E
Momordica charantia E/L
Sicana odorifera E/L
Cucurbitáceas Embrapa Semi-Árido Citrullus lanatus 753 E/L
Cucumis spp. 200 E/L
Cucurbita maxima 230 E/L
Cucurbita moschata 599 E/L
Cucurbitáceas UFERSA Cucumis melo 200 E/L
Cucumis anguria 18 E/L
Citrullus lanatus 29 E/L
Cucurbitáceas não-tradicionais IAC Luffa cylindrica 52 E/L
Luffa acutangula E/L
Cucurbitáceas não-tradicionais IAC Cucumis anguria 29 E/L
Lagenaria siceraria 39 E
Momordica charantia 8 E
Sicana odorifera 7 E/L
Fava Embrapa Algodão Vicia faba 813 E/N
Feijão Fava UFCG Phaseolus lunatus 50 E/N
Feijão Fava Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia Phaseolus lunatus 1.225 E/L
Grão-de-bico IAC Cicer arietinum 50 E
Hortaliças Leguminosas Embrapa Hortaliças Cicer arietinum 775 E
Lens culinaris 522 E
Pisum sativum 1.958 E
Hortaliças Não-convencionais Embrapa Hortaliças Colocasia sp. 3 E
Dioscorea spp. 10 E/N
Maranta sp. 1 E
Pachyrrhizus sp. 8 E
Pereskia sp. 2 N
Jiló IAC Solanum aethiopicum 2 E/L
Mandioquinha-salsa Embrapa Hortaliças Arracacia xanthorrhiza 22 E
Melancia Embrapa Hortaliças Citrullus vulgaris 280 E/L
Melancia UFERSA Citrullus lanatus 29 E
Tabela 5A. Bancos de Germoplasma de Hortaliças, por Instituição e respectivo número de acessos. (cont.)
Banco de Instituição Nome científico N° de Origem
Germoplasma Acessos E/L/N
Melão Embrapa Hortaliças Cucumis melo 1.200 E/L
Melão UFERSA Cucumis melo 200 E/L
Melão IPA Cucumis melo 85 E/L
Nabo Forrageiro IAPAR Raphanus sativus 200 E
Pepino Embrapa Hortaliças Cucumis sativus 1.200 E
Cucumis spp. E
Pimenta-do-reino Embrapa Amazônia Oriental Piper spp. 20 E
Pimentão - Capsicum IAC Capsicum annuum 642 E
Pimentas - Capsicum IAC Capsicum annuum 1.379 E
Capsicum baccatum E/L/N
Capsicum chinense E/N
Capsicum frutescens E/N
Pimentas - Capsicum Embrapa Hortaliças Capsicum sp. 2.000 E/N
Capsicum annuum E
Capsicum baccatum E/L/N
Capsicum chinense E/N
Capsicum frutescens E/N
Pimentas - Capsicum Embrapa Clima Temperado Capsicum annuum 347 E/N
Capsicum baccatum E/L/N
Capsicum chinense E/N
Capsicum frutescens E/N
Quiabo IAC Abelmoschus esculentus 50 E
Tomate Embrapa Hortaliças Solanum spp. 1.735 E
Tomate IAC Solanum lycopersicum 1.688 E
Solanum spp. E
Tabela 6A. Bancos de Germoplasma de Espécies Industriais, por Instituição e respectivo número de acessos.

BANCOS DE GERMOPLASMA DE ESPÉCIES INDUSTRIAIS


Banco de Instituição Nome científico N° de Origem
Germoplasma Acessos E/L/N
Café IAPAR Coffea spp. 3.335 E
Café IAC Coffea arabica 2.000 E
Coffea canephora 1.000 E
Coffea spp. 152 E
Híbridos interespecíficos diversos 1.000 E
Psilanthus ebracteolatus 6 E
Cana-de-açucar IAC Saccharum officinarum 630 E
Cana-de-açucar C.T. Canavieira Saccharum officinarum 5.000 E
Cana-de-açucar Ridesa Saccharum officinarum 2.700 E
Cana-de-açucar IAC Saccharum officinarum 36 E
Saccharum spontaneum 2 E
Saccharum barberi 1 E
Saccharum (Erianthus sp.) 1 E
Saccharum (híbr. interespecíficos; variedades) 255 E
Seringueira Embrapa Cerrados Hevea brasiliensis 762 N
Seringueira IAPAR Hevea spp. 106 N
Seringueira IAC Hevea spp. 1.000 N
Tabela 7A. Bancos de Germoplasma de Leguminosas, Oleaginosas e Fibrosas, por Instituição e respectivo número de acessos.
BANCOS DE GERMOPLASMA DE LEGUMINOSAS, OLEAGINOSAS E FIBROSAS
Banco de Instituição Nome científico N° de Origem
Germoplasma Acessos E/L/N
Algodão Embrapa Algodão Gossypium spp. 3.018 E/N
Algodão IAPAR Gossypium spp. 310 E/N
Algodão IAC Gossypium spp. 400 E/N
Amendoim Embrapa Algodão Arachis hypogaea 240 E/L
Amendoim Embrapa Clima Temperado Arachis hypogaea 10 E/L
Amendoim IAPAR Arachis hypogaea 240 E/L
Amendoim IAC Arachis hypogaea 2.000 E/L
Caupi Embrapa Meio Norte Vigna unguiculata 1.077 E/L
Vigna angularis 1 E
Vigna mungo 5 E
Vigna radiata 49 E
Vigna umbellata 1 E
Curauá Embrapa Amazônia Oriental Ananas comosus var. erectifolius 20 N
Espécies Silvestres de Arachis Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia Arachis glabrata 116 E/N
Arachis kuhlmannii 41 N
Arachis pintoi 144 N
Arachis repens 44 N
Arachis stenosperma 62 N
Arachis spp. 1.635 E/N
Feijão Embrapa Arroz e Feijão Phaseolus vulgaris 14.460 E
Feijão Embrapa Clima Temperado Phaseolus vulgaris 403 E
Feijão IAPAR Phaseolus vulgaris 7.460 E/L
Phaseolus coccineus E
Phaseolus lunatus E/L
Feijão IAC Phaseolus vulgaris 1.981 E/L
Phaseolus lunatus E/L
Phaseolus spp. 70 E
Feijão Vagem Embrapa Hortaliças Phaseolus vulgaris 64 E/L
Gergelim Embrapa Algodão Sesamum indicum 1.450 E
Girassol Embrapa Soja Helianthus spp. 2.400 E
Leguminosas Diversas IAC Aeschynomene sp. 1 N
Arachis sp. 2 N
Astragalus sinicus 1 E
Tabela 7A. Bancos de Germoplasma de Leguminosas, Oleaginosas e Fibrosas, por Instituição e respectivo número de acessos. (cont.)
Banco de Instituição Nome científico N° de Origem
Germoplasma Acessos E/L/N
Leguminosas Diversas IAC Cajanus cajan 10 E
Calopogonium mucunoides 1 E
Canavalia spp. 3 E
Centrosema pubescens 1 E
Clitoria ternatea 1 N
Cratylia floribunda 1 N
Crotalaria spp. 13 E/N
Cyamopsis tetragonoloba 30 E
Desmodium sp. 1 N
Lablab purpureus 2 E
Galactia striata 1 N
Indigofera spp. 2 N
Lathyrus sativus 2 E
Lens culinaris 2 E
Leucaena spp. 2 E
Lupinus albus 15 E
Lupinus spp. 2 E
Macroptilium atropurpureum 1 E
Medicago sativa 1 E
Melilotus sp. 1 E
Mucuna pruriens 7 E
Neonotonia wightii 2 E
Phaseolus lunatus 3 E/L
Pisum sativum 10 E
Psophocarpus tetragonolobum 1 E
Pueraria spp. 2 E
Sesbania bispinosa 1 E
Stylosanthes humilis 1 N
Tephrosia spp. 2 N
Trifolium repens 1 E
Vicia spp. 3 E
Vigna spp. 25 E/N
Zornia sp. 1 N
Mamona Embrapa Algodão Ricinus communis 1.000 E/L
Tabela 7A. Bancos de Germoplasma de Leguminosas, Oleaginosas e Fibrosas, por Instituição e respectivo número de acessos. (cont.)
Banco de Instituição Nome científico N° de Origem
Germoplasma Acessos E/L/N
Mamona Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia Ricinus communis 100 E/L
Mamona IAC Ricinus communis 500 E/L
Pinhão-manso Embrapa Algodão Jatropha curcas 143 E
Sisal Embrapa Algodão Agave sisalana 90 E
Soja Embrapa Soja Glycine max 11.800 E
Soja IAC Glycine max 1.500 E
Tabela 8A. Bancos de Germoplasma de Espécies Medicinais, Aromáticas, Estimulantes, Corantes e Inseticidas, por Instituição e respectivo número de
acessos.
BANCOS DE GERMOPLASMA DE ESPÉCIES MEDICINAIS, AROMÁTICAS, ESTIMULANTES, CORANTES E INSETISIDAS

Banco de Instituição Nome científico N° de Origem


Germoplasma Acessos E/L/N
Espinheira santa Embrapa Clima Temperado Maytenus spp. 33 E/N
Pimenta longa Embrapa Acre Piper hispidinervum 1.900 N
Piper aduncum 800 N
Plantas medicinais e aromáticas UNICAMP Plantas medicinais e aromáticas 2.073 E/N
Plantas medicinais e condimentares IAPAR Plantas medicinais e condimentares 400 E/N
Plantas medicinais, aromáticas e condimentareEmbrapa Amazônia Ocidental Croton spp. 28 N
Arrabidaea spp. N
Plantas repelentes e inseticidas IAPAR Plantas repelentes e inseticidas 200 E/N
Timbó Embrapa Amazônia Oriental Derris spp. 110 N
Serjania paucidentata N
Clitoria sp. N
Phyllantus brasiliensis N
Urucum Embrapa Amazônia Oriental Bixa orellana 12 N
Tabela 9A. Bancos de Germoplasma de Espécies Ornamentais, por Instituição e respectivo número de acessos.
BANCOS DE GERMOPLASMA DE ESPÉCIES ORNAMENTAIS
Banco de Instituição Nome científico N° de Origem
Germoplasma Acessos E/L/N
Amarilis APTA Hippeastrum hybridum 400 E
Bromélia Jardim Botânico - SP Aechmea spp. 1.272 N
Billbergia amoena N
Catopsis berteroniana N
Dyckia brevifolia N
Ernesea bocainenesis N
Hohenbergia augusta N
Neoregelia spp. N
Nidularium spp. N
Orthophytum albopictum N
Portea alatisepala N
Quesnelia arvensis N
Racinea aeris-incola N
Tillandsia spp. N
Vriesea spp. N
Cártamo Embrapa Algodão Carthamus tinctorius 800 E
Cuphea Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia Cuphea spp. 50 N
Dimorphandra IAC Dimorphandra spp. 21 N
Gladíolo APTA Gladiolus spp. 50 E
Ornamentais IAC Heliconia spp. (incl. híbridos) 109 E/N
Dimerocostus strobilaceus 1 E
Cheilocostus speciosus 1 E
Tapeinochilos ananassae 1 E
Costus arabicus 18 E
Costus spp. 18 E/N
Etlingera spp. 22 E
Alpinia spp. 10 E
Zingiber spp. 3 E
Ornamentais IAC Anthurium spp. 500 E/N
Alstroemeria spp. 200 E/N
Hippeastrum spp. 200 E/N
Hemerocallis spp. 100 E
Gladiolus spp. 50 E
Tabela 9A. Bancos de Germoplasma de Espécies Ornamentais, por Instituição e respectivo número de acessos. (cont.)
Banco de Instituição Nome científico N° de Origem
Germoplasma Acessos E/L/N
Ornamentais Diversas ornamentais nativas 50 N
Ornamentais da Amazônia Oriental Embrapa Amazônia Oriental Alocasia spp. 59 E/N
Monstera spp. N
Philodendrum spp. N
Plantas Ornamentais Embrapa Agroindústria Tropical Heliconiaceaee 150 E/N
Bromeliaceae E/N
Araceae E/N
Costaceae E/N
Marantaceae E/N
Zingiberaceae E
Cactaceae E/N
Plantas Ornamentais UENF Arecaceae 13 E/N
Bromeliaceae 50 E/N
Costaceae 2 E/N
Heliconiaceae 11 E/N
Orchidaceae 9 E/N
Strelitziaceae 3 E
Zingiberaceae 5 E/N
Cycadaceae 1 E

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