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Ficha 3

Lê o texto e responde aos itens.

Há livros que são a revolução — mesmo quando não nascem com esse propósito,
sentem-lhe a chegada e são dela a marca. Este foi, desde o primeiro momento,
transgressão e por isso acabou censurado e perseguido. Corajosamente escrito por três
mulheres, chamaram-lhes Marias — Teresa, Fátima e Isabel —, e corajosamente publicado
5 por outra, Natália, o livro foi literatura tornada ação política, manifesto feminista, manifesto
de contestação a um país a rebentar de hipocrisia, injustiça e repressão.
As Três Marias desnudavam um “país amordaçado”, os horrores da guerra colonial, as
situações de desigualdade e pobreza; as Três Marias davam liberdade à voz, à denúncia,
aos corpos e à sexualidade das mulheres. Transgrediram também do ponto de vista literário,
10 nos géneros e nas autorias, “na forma nova de dizer a pessoa humana e o seu modo de
estar no mundo”, como refere Maria de Lourdes Pintasilgo no genial prefácio que lhe fez.
Acabou apreendido pelo regime e as suas autoras levadas a julgamento por crime,
acusados de imorais e pornográficos os seus textos. Acabou censurado e perseguido.
Foi em 1971 que num dos seus almoços semanais no “Treze”, e reagindo à brutalidade
15 da agressão que Maria Teresa Horta acabara de sofrer por publicar Minha Senhora de Mim,
Maria Isabel Barreno e Maria Velho da Costa se questionaram: “Se um livro escrito por uma
mulher gera tamanho ódio e reação da PIDE, que faria se fosse escrito por três?!”. Foi há
50 anos que começaram a escrever as suas cartas e a encontrar-se semanalmente para as
trocar; fizeram-no em nove meses, e só depois disso se aperceberam. Acabou censurado
20 e perseguido.
Na verdade, o livro foi sim censurado e perseguido, mas não acabou. A obra das Três
Marias não acabou porque a sua mensagem e importância se mantêm. Por isso, no ano em
que celebramos o seu cinquentenário, desafiamos-vos ao seu conhecimento, à sua leitura,
à sua partilha. Por ser “uma obra fundamental na nossa literatura e cultura contemporânea”,
25 resgatada pela fantástica edição anotada de Ana Luísa Amaral, em 2010, é urgente trazê-
-la de novo ao conhecimento geral, de modo participado e abrangente. Pelo seu valor, pela
sua absoluta atualidade, porque nela estamos todas nós, nós todas a sermos escritas, e
ainda hoje nos emocionamos com as Cartas. […]
O que queremos é criar uma corrente de leitura das Novas Cartas Portuguesas, por
30 todas as pessoas, para que leiam, gravem e publiquem, nas suas redes sociais, esta obra
maior da nossa literatura, que foi um dos mais fortes ataques ao regime do Estado Novo,
mas que é ainda hoje tão mais do que isso.
Reconheçamos e valorizemos este trabalho, símbolo máximo do feminismo em
Portugal, como alavanca de consciência social e política contra as desigualdades e
35 opressões, que gerou a maior onda de solidariedade feminista e de reconhecimento literário
no estrangeiro, e que queremos mais reconhecido entre nós. É preciso garantir que as
cartas não acabam.
Rosa Monteiro, in Público, 18 de maio de 2021 (texto com supressões, consultado a 11/12/2021)
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1. No contexto em que ocorre, a palavra “dela” (linha 2) assegura a coesão textual por
(A) anáfora.
(B) catáfora.
(C) substituição por hiperonímia.
(D) substituição por holonímia.

2. A oração “que lhe fez” (linha 11) é


(A) subordinada substantiva completiva.
(B) subordinada substantiva relativa.
(C) subordinada adjetiva relativa restritiva.
(D) subordinada adjetiva relativa explicativa.

3. Todas os constituintes seguintes desempenham a função sintática de complemento oblíquo, exceto


(A) “com esse propósito” (linha 1).
(B) “por três mulheres” (linhas 3 e 4).
(C) “de hipocrisia” (linha 6).
(D) “ao conhecimento geral” (linha 26).

4. No segmento “Maria Isabel Barreno e Maria Velho da Costa se questionaram: ‘Se um livro escrito por uma
mulher gera tamanho ódio e reação da PIDE, que faria se fosse escrito por três?!’” (linhas 16 e 17), os
vocábulos destacados são
(A) um pronome e uma conjunção, respetivamente.
(B) uma conjunção e um pronome, respetivamente.
(C) conjunções, em ambos os casos.
(D) pronomes, em ambos os casos.

5. A frase “é urgente trazê-la de novo ao conhecimento geral” (linhas 25 e 26) exprime a modalidade
(A) epistémica, com valor de probabilidade.
(B) epistémica, com valor de certeza.
(C) deôntica, com valor de obrigação.
(D) apreciativa, com valor de apreciação.

6. Em “ainda hoje nos emocionamos com as Cartas” (linha 28), as palavras sublinhadas têm a função de
deítico
(A) pessoal, no primeiro caso, e temporal, no segundo caso.
(B) temporal, em ambos os casos.
(C) pessoal, em ambos os casos.
(D) temporal, no primeiro caso, e pessoal, no segundo caso.

7. Identifica as funções sintáticas desempenhadas pelas expressões:


a) “da guerra colonial” (linha 7);
b) “genial” (linha 11).

8. Classifica a oração “porque nela estamos todas nós”, presente na linha 27.
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1. (A);

2. (C);

3. (B);

4. (A);

5. (C);

6. (D);

7. a) Complemento do nome; b) Modificador restritivo do nome.

8. Oração subordinada adverbial causal.

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