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Olhando para Terezinha, Irmã Solange se recordou dos motivos que levaram sua

antecessora a abandonar o cargo de diretora da escola no final do ano passado,


quando então, ela foi convidada a assumir no seu lugar e só ficou sabendo o que
acontecera semanas depois, quando encontrou Irmã Carmem no colégio.
- Então, a irmã já conseguiu dar um jeito nos pestinhas?
- Do que a Irmã está falando?
- Ahh.... então, a Irmã não sabe o que aconteceu comigo?
- Não, eu ainda não sei.
Irmã Carmem gostava de dramatizar e de ser a mártir em tudo, como se sempre
estivessem fazendo um complô contra ela.
- Vou contar porque a Irmã precisa saber, vê lá se não conta pra ninguém.
- Certo.
- No intervalo do recreio, enquanto os professores estavam reunidos na sala da
diretora para conversar, notei que alguns meninos, ficavam saindo e entrando
da sala de aula. Um dia fui verificar, entrei bem devagarzinho para
surpreende-los, sim, porque deveria haver uma coisa errada ali. A Irmã
imagina o que eu vi?
- Não faço a menor idéia.
- Uma menina de apenas 11 anos, com cara de inocente, estava lá no cantinho da
sala, segurando a saia levantada até a cintura e na frente dela três meninos,
com as calças abertas, olhando para ela e fazendo aquilo, assim com as mãos.
Eu não quis mais saber de tomar conta daquela escola, são todos selvagens e
pecaminosos.
Irmã Solange ficou chocada, já havia enfrentado algumas situações difíceis, mas
esta foi demais.
- Não se esqueça de manter as portas das salas fechadas no recreio. Recomendou
Irmã Carmem.
Não conseguia entender porque a humanidade é deste jeito: sexo por todos os
lados. Até no convento era assim, tudo disfarçado, pensam que ela não reparava nos
gritinhos histéricos das colegas, principalmente quando Padre Miguel aparecia para
rezar missa na capela interna, os tapinhas e os beliscões, as frases maliciosas. E o dia
em que foi ao seu quarto buscar um livro e escutou uma batida de porta e depois
cruzou com ele em pleno corredor com a cara constrangida. Virou o rosto, não quis
nem saber o que estava se passando.
Nunca sentira isto, desde pequena, na casa dos seus pais, nem sabia que sexo
existia e depois no convento, foram lhe ensinando como era a reprodução humana e
dos animais nas aulas de biologia, e fora só.
Ali naquela pequena escola, sexo era um problema, já tivera que expulsar um
menino por isto e a toda hora se via nas brincadeiras as referencias ao ato. E esta
história, e agora Terezinha, também com 11 anos de puro sexo, dava para ver no
andar, vestir, falar. Já conversara com a mãe dela para fazer um uniforme com a saia
mais comprida, abaixo do joelho, para ver se os meninos a deixavam de lado, e nada.
No recreio os meninos, que nunca gostavam de brincar com as meninas, porque
possuíam suas próprias brincadeiras, a procuravam para que ela participasse, até os
mais tímidos se aproximavam dela, e o pior é que a sua irmãzinha que estava no
primeiro ano com apenas 7 anos, seguia seus passos, o mesmo sorriso, o mesmo jeito.
O que se há de fazer?
- Só isto? -Tedesco revirava o papel do telegrama para ver se podia ver alguma
coisa mais.
Sua irmã fora chamá-lo no serviço, na casa de Tomate. Haviam recebido noticias
de seu pai. Ele disparou para casa e ao ler as quatro palavras, não sabia se ficava
bravo com a economia de letras ou alegre com a noticia.
- VOLTO BREVE ESTOU BRASILIA
Demorou mas compreendeu, seu pai estava em Brasília trabalhando na construção
da nova capital do Brasil que vai ser inaugurada na próxima semana e eles estavam
precisando do seu pai e do seu caminhão para construir a cidade. Ele devia estar
trabalhando muito e não havia tido tempo de enviar noticias.
Imaginou seu pai dirigindo sem parar o pesado caminhão pelas ruas cheias de
casas em construção e passando em frente ao palácio.
- Qual mesmo o nome do palácio?
Disparou outra vez, agora para a mercearia da esquina para ver na última
revista O Cruzeiro, a reportagem sobre a capital. Viu o preço, custava muito caro, era
muito dinheiro para ele, precisava trabalhar duas tardes inteiras para poder pagar,
mas valia a pena, tinha um montão de fotografias da capital, voltou para casa para
pegar dinheiro e comprou a revista.
Procurou para ver se via algum caminhão nas fotografias, mas só havia prédios
de apartamentos, todos iguais, avenidas largas e planas, todas iguais, o palácio do
presidente com o nome bonito de Alvorada e todos os prédios novos de formato
esquisito onde iriam governar o país. Ficou horas olhando e lendo a reportagem
diversas vezes.
Achou que o presidente tinha um nome estranho Juscelino Kub.. não sabia como
pronunciar, diziam que era mineiro com uma cara estranha parecida com peixe, com
uns olhões enormes e um sorriso diferente e no dia seguinte, quando foi para a escola,
levou consigo a revista para mostrar para a professora e colegas onde seu pai estava e
o que estava ajudando a construir. Estava orgulhoso e a professora anunciou que
fariam uma solenidade na escola no dia da inauguração e queria que todos fizessem
uma redação, em casa, sobre a nova capital.
Tedesco fez a sua, ela falava do monte de ruas e edifícios, do palácio do
presidente e também que seu pai estava trabalhando lá.

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