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Degradação ameaça a Caatinga

metros de terras degradadas. Se ros mais recentes apontam para 20/03, a Comissão de Constitui-
O bioma sofre não só com os fatores juntarmos às terras onde o pro- desertificação em torno de 16% ção e Justiça da Câmara dos De-
naturais, mas, sobretudo, com a cesso é moderado, esse número
sobe para 600 mil quilômetros.
do território brasileiro, abran-
gendo 1.488 municípios (27%
putados aprovou o projeto de Lei
2447/07, que cria a Política Na-
atuação predadora do ser humano Os dados são do Ministério do
MeioAmbiente(MMA),quecon-
do total), afetando 31.663.671
habitantes (17% da população).
cional de Combate ePrevenção à
Desertificação e Mitigação dos
sidera quatro núcleos de Apropósito,napróximasema- Efeitos da Seca. O Diário do Nor-
A desertificação no Semiárido subúmidas do Planeta, resulta- desertificação mais evidentes: na tem início a 2ª Conferência deste foi a campo e visitou os
brasileiro avança a passos lar- dodefatoresnaturais,comoven- Seridó (RN/PB), Irauçuba (CE), Científica da Convenção das Na- quatro núcleos de desertificação
gos. Ela é definida pela Conven- tos, chuvas e secas, e pela ação Gilbués (PI) e Cabrobó (PE). A ções Unidas sobre Combate à para mostrar essa realidade e o
çãodasNaçõesUnidasparaCom- doserhumano,pormeiodequei- UNCCD estima que o problema Desertificação (UNCCD), em que está sendo feito para rever-
bate à Desertificação (UNCCD) madas, desmatamentos e uso in- atinja34,7%dasuperfíciedoPla- Bonn, na Alemanha, que estava ter o quadro e garantir a manu-
como a degradação das terras tensivo e inadequado do solo. neta,ondevivem cercade 41,3% programada para Fortaleza, em tenção do bioma Caatinga, mos-
das zonas áridas, semiáridas e NoNordeste,jásão200milquilô- da população. No País, os núme- fevereiro passado. No último dia trados hoje e no dia 7 de abril.
2 | DIÁRIO DO NORDESTE
FORTALEZA, CEARÁ - SEXTA-FEIRA, 5 DE ABRIL DE 2013

DESALENTO

No Seridó, MMA investe


em criação de

nanismo e UCs e manejo


sustentável

pasto de MARISTELA CRISPIM


Editora

“A Caatinga tem um imenso po-

pedregulho tencial para a conservação de


serviços ambientais, uso susten-
tável e bioprospecção que, se
bemexplorado, serádecisivo pa-
ra o desenvolvimento da região
Na região, alguns cactáceos presentes na Caatinga edoPaís”,dizochefedoDeparta-
mento de Combate à
praticamente desapareceram para suprir a DesertificaçãodoMMA,Francis-
alimentação dos animais, sobretudo durante os co Campello. Ele destaca, no en-
tanto, que o bioma tem sido des-
períodos de estiagem prolongada, como o atual matado de forma acelerada, de-
vido, principalmente, ao consu-
FERNANDO MAIA No que diz respeito ao mane- mo de lenha nativa, explorada
Repórter jo incorreto do solo, seu Francis- de forma ilegal e insustentável,
co é enfático. “A gente pode até para fins domésticos e indús-
São José do Seridó (RN). estar agindo de forma errada. trias.Frenteaoavançododesma-
“Olha,paradizeraverdade,nun- Mas o fato é que temos de fazer tamento, que chega a 46% da
ca ouvi falar sobre essa história alguma coisa para viver. E por área do bioma, o governo inves-
dedesertificação.Seiqueasitua- aqui não há outra alternativa”. tena criação eampliação de Uni-
ção por aqui não anda nada boa. dades de Conservação (UCs) fe-
Só piora a cada seca. Há alguns Situação crítica derais e estaduais e promovido
anos, tinha um pouco de forra- O secretário de Obras e Meio alternativas para o uso sustentá-
gem para os animais. Agora, é Ambiente de São José do Seridó, vel da sua biodiversidade.
isso que se vê, muita pedra no Josemar Araújo de Medeiros, Em relação às UCs federais,
chão”,exclamaoagricultorFran- alerta para a situação crítica da em 2009 foi criado o Monumen-
cisco Assis de Medeiros, de 67 região. “A vegetação de Caatin- to Natural do Rio São Francisco,
anos, proprietário do Sítio Caja- ga no Seridó praticamente desa- com 27 mil hectares, nos Esta-
zeiras, localizado em São José pareceu. Aquelas plantas que dos de Alagoas, Bahia e Sergipe;
doSeridó,distante227quilôme- ainda resistem sofrem de nanis- e, em 2010, o Parque Nacional
tros de Natal. mo.Essarealidade desesperado- das Confusões (PI) foi ampliado
O sítio de seu Francisco faz rarestringecadavezmaisaativi- em 300 mil ha, passando a ter
parte do assentamento Seridó. dade econômica”. 823.435,7 ha. Em 2011, foi cria-
Ele nasceu e vive desdeentão ali. Josemar,queégeógrafo,espe- do o Parque Nacional da Furna
Ao contrário de outrosagriculto- cialista em Bioecologia e tem Feia, nos municípios de Baraúna
resdo Semiáridoquepassarama mestradoemEngenhariaSanitá- e Mossoró (RN), com 8.494 ha.
terumnovoolharsobreaCaatin- ria, aponta a pecuária extensiva Com isso, a área protegida por
ga, colocando sua preservação como um dos fatores responsá- UCs na Caatinga aumentou para
como prioridade, Francisco des- veis pela situação do Seridó. “Es- cerca de 7,5%. Ainda assim, o
conheceosperigosquerepresen- sa prática ajudou a tornar a terra bioma continua um dos menos
ta a manutenção de velhos prin- totalmentedegradada. As folhas protegidos do País, já que pouco
cípios de lidar com a terra. caem, os animais a comem e o
Tanto é verdade que cria 34 solo fica desprotegido. Além dis-
animais, entre vacas, garrotes e so, os ventos e a erosão funcio- Frente ao avanço do
novilhos, numa área de apenas nam como fatores naturais que
um hectare. O resultado é um forampotencializadospelaativi- desmatamento, que
solo desgastado, onde não se en- dade humana. Em relação às se- chega a 46% do
contra um rastro sequer do ver- cas,oproblemaaumentaempro-
de e preponderam pedregulhos. gressão geométrica, pois o ho- bioma, o governo
mem do campo, sem perspecti- investe em UCs e no
Prejuízo vas, agride mais ainda a nature-
Ironicamente, o gado fica a ro- za, cortando xique-xique ou des- uso sustentável da
dar à procura do pasto. Todos os matando para fazer mais lenha”. biodiversidade
dias, seu Francisco leva a ração A Educação Ambiental é um
que compra e a coloca no solo. dos instrumentos que precisam
“O prejuízo é grande. Já estou há serusadosurgentementenaCaa- mais de 1% destas unidades são
mais de um ano tirando dinheiro tinga, segundo Josemar. “Mui- de Proteção Integral. Além dis-
do bolso para comprar a alimen- tos sertanejos não têm ainda a so, grande parte dessas UCs, es-
tação dos animais. Não dá se- ideia de que a região semiárida pecialmente as Áreas de Prote-
quer para empatar. O custo aqui vem sendo afetada ao longo do ção Ambiental (APAs), têm bai-
é de R$ 2 mil por mês. A produ- tempo com animais de grande xo nível de implementação.
ção de leite e queijo está renden- porte,quecomemmuitoeprovo- Paralelamente, algumas par-
do abaixo disso”, assegura. cam degradação na flora e na cerias vêm sendo desenvolvidas
Parafazer face aoproblema, o fauna”, pondera. entre o MMA e os Estados, desde
homem do campo já adiantou “Maior prova disso, continua 2009,paraa criaçãode UCs esta-
que adotará uma postura co- Josemar, é o cardeiro (cactáceo duais. Os primeiros resultados
mum nos períodos de estiagem. parecido com o mandacaru), são a criação do Parque Estadual
“Quando não tiver mais de onde praticamente desaparecido da da Mata da Pimenteira, em Ser-
tirar, as economias acabarem, nossa região. Minha avó dizia ra Talhada (PE), e da Estação
vou vendendo um animal para ir que esse local era coberto por Ecológica Serra da Canoa, em
salvando os outros. Vou fazer ele. Após ser derrubado para a Floresta (PE), com cerca de 8 mil
isso até não restar mais nenhum. alimentação dos animais, pas- ha, no Dia da Caatinga de 2012,
Se não fosse pela minha aposen- sou-se a fazer o mesmo com o 28deabril.Tambémforamdesti-
tadoria, já teria desistido pois a xique-xique. Os nossos recursos nados recursos estaduais para
terra parece não responder mais naturais foram usados da forma criaçãodeUCsnoCeará,emSan-
como antes”. mais criminosa possível. Só há ta Quitéria e Canindé.
uma saída: obedecer ao princí- Por intermédio do MMA es-
pio da racionalidade ambiental, tão sendo aplicados, desde
de usar a natureza de forma sus- 2012, 20 milhões de reais para a
PERSISTÊNCIA tentável”,conclui.Outraativida- conservação e uso sustentável
de que concorreu e ainda contri- da Caatinga por meio de proje-

34
bui em muito para a degradação tos do Fundo Clima / Banco Na-
na região é a mineração. cional de Desenvolvimento Eco-
nômico e Social (BNDES), do
Paraíba Fundo de Conversão da Dívida
O núcleo de desertificação do Americana/FundoBrasileiropa-
animais são criados no Sítio Seridó (RN), segundo o Ministé- ra a Biodiversidade (Funbio) e
Cajazeiras, de propriedade do rio do Meio Ambiente (MMA) do Fundo Socioambiental Caixa
agricultor Francisco Assis de inclui os municípios de Acari, Econômica Federal e agora o
Medeiros, de 67 anos, numa área Carnaúba dos Dantas, Cruzeta, Fundo Caatinga do Banco do
de apenas um hectare Currais Novos, Equador, Ouro Nordeste (BNB). Estes recursos
Branco, Jardim do Seridó, Pare- apoiam a criação e gestão de
lhas, São José do Seridó e Santa- UCs e custeiam projetos de uso

R$2
na do Seridó. sustentável de espécies nativas,
Entretanto, o Instituto Nacio- manejoflorestal sustentávelma-
nal do Semiárido (Insa), que es- deireiro e não madeireiro e a

mil reais é quanto seu Francisco


tá realizando um levantamento
completo da desertificação em
todo o Semiárido, e outras insti-
C Animais em
demasia contribuem
eficiência energética nas indús-
trias gesseiras e cerâmicas. Em
2012 também foi lançado edital
para a degradação do
recebe como aposentadoria. Ele tuições consideram também no meio ambiente voltado ao uso sustentável da
gasta um salário mínimo por mês mesmo núcleo os municípios pa- FOTO: CID BARBOSA Caatinga, pelo Fundo Clima e
só com ração para alimentar a sua raibanos de São Mamede, Santa Fundo Nacional de Desenvolvi-
pequena criação Luzia, Junco do Seridó, Várzea e mento Florestal/ Serviço Flores-
São José do Sabugi. tal Brasileiro (SFB).

EDITORA VERDES MARES LTDA - PRAÇA DA IMPRENSA DIONÍSIO TORRES - CEP - 60135.690 - FORTALEZA - CEARÁ - EDITORIA DE REPORTAGEM - TELEFONE: (85) 3266.9783 - FAX: (85) 3266.9797- DIRETOR SUPERINTENDENTE: PÁDUA LOPES - DIRETOR EDITOR:
Regional ILDEFONSO RODRIGUES - DIRETOR INDUSTRIAL: A. CAPIBARIBE NETO - GERENTE GERAL DE COMERCIALIZAÇÃO: RUY DO CERÁ FILHO - GERENTE DE MARKETING: ALANA AGUIAR - EDITORA: MARISTELA CRISPIM - REPÓRTERES: EMERSON RODRIGUES E FERNANDO MAIA -
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DIÁRIO DO NORDESTE
FORTALEZA, CEARÁ - SEXTA-FEIRA, 5 DE ABRIL DE 2013 | 3

NETO DO BRUM

C O agricultor
Neto do Brum tenta
recuperar o que resta
da sua propriedade
FOTOS: CID BARBOSA

Visão equivocada
produz grande danos

C Os repórteres Fernando Maia e Flávio

‘‘
Rovere, durante visita à Fazenda Brum

Paracompensaro prejuízo
causadoao longodedécadas
dedesprezoànatureza, em
particularàCaatinga,é
precisose adotarmedidas
novaspara mitigar essemal”

Não deixa de surpreender o depoimento do agricul-


tor e hoje uma liderança ligada às questões ambien-
tais da Região do Jaguaribe, Neto do Brum, sobre a
política oficial que perdurou de forma irresponsável

‘O governo incentivou o
durantedécadas. Sóbem recentemente,os governos
e a sociedade de uma forma geral se conscientiza-
ram de que os recursos naturais são escassos, limita-
dos. Estamos pagando um alto preço por ter usado a
natureza de forma indiscriminada, extrapolando to-

manejo errado da terra’


dosos limites aceitáveis.
O aquecimento global, que era considerado pelas
elites governamentais de todo o mundo como uma
quimera ambientalista, hoje é sentido na própria
pele de todos. Deu a louca no clima? Não. Apenas
sofremos a consequência do nosso descaso históri-
co. Foi a essa conclusão que o agricultor Neto do
A Funceme iniciou tado do Ceará que apresentam, mecei, usava quatro litros de animais nas propriedades dos Brum chegou após observar a maior parte da sua
do ponto de vista físico, sinais agrotóxicos para produzir 400 meus irmãos. Com isso, poupo a terra ficar improdutiva. Ele nos contou que durante
trabalho de recuperação evidentes de degradação am- sacas.Nofim,aequaçãoeraterrí- caatinga da ação dos animais”. anos foi instruído a queimar e desmatar e também a
da área degradada e biental. Além do Médio Jaguari- vel: 38 litros de agrotóxicos para A engenheira agrônoma criar o maior número de animais que pudesse na sua
be, que inclui, afora Jaguaribe, a produção de apenas 50 sacas. SôniaPerdigão,doDepartamen-
espera reverter o Jaguaretama, Jaguaribara e Al- Foi aí que resolvi parar o plantio to de Recursos Hídricos e Meio-
fazenda, sem qualquer preocupação com o meio
ambiente. A equação é das mais trágicas: muitos
quadro em até dez anos to Santo, num total de 92.695 de feijão”. Ambiente da Funceme, explica animaisàprocura de pastoproduzem maisdesmata-
hectares suscetíveis aos proces- Desde então, Neto do Brum que o solo da Fazenda Brum foi mento e compactação do solo, deixando-o à mercê
FERNANDO MAIA sosdedesertificação,foramiden- abandonou as queimadas, o des- desmatado. “Sem proteção, a de um processo que degrada a terra e avança silen-
Repórter tificadas, ainda, as regiões dos matamentoeos agrotóxicos.Co- chuva cai, sai levando os sedi- ciosamente:adesertificação.
Inhamuns/Sertões de Crateús e meçou a estabelecer uma políti- mentos, empobrecendo mais Esse sobrepastoreio, aliado a fatores como a irri-
Jaguaribe (CE). “Nós éramos o município de Irauçuba e re- ca de recuperação do solo. “A ainda o solo até a formação de gaçãoecultivoexcessivos-principalmentemonocul-
incentivados a plantar de qual- giões circunvizinhas. decisão salvou o restante da fa- sulcos e voçorocas. Além disso, o turas- agravaram sobremaneira a situação em locais
quer forma e a criar o máximo Na fazenda Brum, 75% dos zenda. Se não tivesse parado, o material de origem, a rocha, em que já sofrem com maior veemência dos efeitos das
possível de animais, sem qual- 30 hectares estão comprometi- deserto seria total por aqui. “Ho- vários locais encontra-se expos- chamadasintervençõesnaturais,como ventos, secas
quer preocupação com a terra. dos pela degradação. “Nessa je planto feijão e milho apenas to a tal ponto que se quebra com prolongadas,chuvasirregulares etc.
Os financiamentos para esse fim área não tem mais nada. O solo para a subsistência. Vivo da pro- facilidade”. Só recentemente, na última década, o assunto
eram fáceis. O resultado dessa zerou. Mais de 80% da vegeta- dução de leite e queijo por meio Apesar de tudo, Sônia acredi- passou a ser encarado com maior atenção por parte
políticaoficialetotalmenteequi- ção de caatinga desapareceram. da criação de 60 cabeças de ga- ta na recuperação. “Fizemos o dos órgãos públicos. Embora tardia, essa mudança
vocada é o que estamos vendo Não tínhamos ideia de que está- do. Sei que ainda é muito pela estudo do solo. O daqui é em de postura não deixa de ser um alento. A Funceme,
aqui: o solo imprestável”, resu- vamos procedendo de forma er- área que tenho, mas distribuo os relevoondulado.Onossopropó- porexemplo, pretende, com otrabalho quecomeçaa

‘‘
me o agricultor Francisco No- rada. Fazíamos mau uso da terra sito é reter os sedimentos com ser executado na Fazenda Brum, recuperar e conser-
gueira Neto, 53, mais conhecido com queimadas e desmatamen- cordões de pedras e serrapilhei- var o solo com o uso sustentável dos recursos natu-
como Neto do Brum, cuja fazen- tos para o plantio do algodão ra (camada de folhas secas) nas rais. De acordo com o órgão, o projeto ora desenvol-
da localiza-se a pouco mais de com herbicidas e agrotóxicos barragens de contenção. Acredi- vido objetiva também “prover uma ferramenta para
10 Km do Centro de Jaguaribe. nos anos 80. Além disso, numa tamos que, talvez num espaço multiplicação do uso das técnicas de recuperação em
Suapropriedadefazpartedos propriedade onde eram criados de dez anos, o quadro possa ser
10,2% do território cearense 20animais,haviaoincentivoofi- Semproteção, achuva completamente revertido e a
outrasáreas degradadas doSemiárido”.
O órgão, a exemplo do que faz o Instituto Nacio-
que sofrem algum processo de cial para que criássemos o dobro cai,sai levandoos área volte a produzir”. nal do Semiárido (Insa) também está elaborando o
degradação suscetível à ou mais”, relata Neto do Brum. sedimentos, Para tanto, a Funceme, em zoneamento ecológico-econômico das áreas suscep-
desertificação. Isso representa Em 1986, o agricultor come- convênio com o Ministério do
15.130 km². O levantamento é çou a perceber que algo estava empobrecendomais Meio Ambiente (MMA) empre-
tíveis à desertificação no Ceará. Pretende com isso
gerar“uminstrumentolegal de ordenamentoterrito-
daFundaçãoCearensedeMeteo- errado. “A produção de feijão, aindaosolo, até a gará recursos de R$ 222 mil, rial que resulte na melhoria da qualidade de vida da
rologiaeRecursosHídricos(Fun- na represa do Açude Brum, era, formaçãodesulcose com financiamento do Fundo população dessas regiões aliada à manutenção da
ceme), que realizou estudo vi- em média, de 400 sacas por ano. Nacional de Mudanças Climáti-
sando detectar de forma abran- Foi caindo e, quando chegou a voçorocas” cas, para executar, em 24 meses,
capacidade produtiva dos recursos naturais em ba-
sessustentáveis”.Antestardedoque nunca.
gente (escala temática apenas 50 sacas, notei que a ter- SÔNIA PERDIGÃO
projeto de recuperação da área
1:800.000) quais as áreas do Es- ra estava exaurida. Quando co- Engenheiraagrônoma daFunceme de cinco hectares da fazenda.
4 |

EROSÃO AVASSALADORA

Gilbués luta contra o avanço das


voçorocas e a degradação do solo
‘‘
impacto pode ter sido responsá-
O município, situado no Sudoeste do vel pela transformação da rocha
Piauí, sofre com a erosão causada no solo frágil que é encontrado,
hoje, no local.
“Comoéque não
pela ação do homem e das chuvas sofre?Quando sefala
Sobre a hipótese de que a ex-
tração de diamante realizada,
emdegradação, principalmente, nas décadas de
EMERSON RODRIGUES Deacordocomospesquisado- 1930 e 1940 seria a principal
Repórter res da Fundação Agente para o
degradaa terrae responsável pelo avançado esta-
Desenvolvimento do degradaa vida da dodedegradaçãodosolo,Salvia-
Gilbués (PI). Pela janela da Agronegócio e Meio Ambiente, gente,não éisso no afirma que somente 1% do
caminhonete,que avançaaosso- organizaçãoqueestudaoproble- territórioondeestásituadooNú-
lavancos pela Zona Rural de Gil- ma da desertificação e desenvol- mesmo?” cleo de Desertificação de Gil-
bués, município situado no Su- ve projetos na região, essa im- MARIAEXPEDITA BATISTA,74 bués tem registro de mineração.
doeste do Piauí, a 797Km de Te- pressão de que Gilbués vai desa- Agricultora “A área de (exploração do) dia-
resina, a visão da primeira voço- parecer ou virar pó não é real, mante é pequena, não chega a
roca impressiona. A medida em como já foi previsto em um pas- ção do solo nessa região? Estu- 100 hectares”, disse.
que seguimos pela estrada de sado recente. Contudo, adver- dando e desenvolvendo proje- Atualmente, existem dois ga-
terra, novos e maiores buracos tem que a situação ali é preocu- tos desde 1997 na região, o pro- rimpos ativos na região, na loca-
são avistados, ameaçando pro- pante e exige medidas urgentes fessor da Universidade Federal lidadedeBoqueirãoenoMunicí-
priedades rurais, rede de ilumi- das autoridades. do Piauí (UFPI), Adeodato Ari pio de Monte Alegre. Segundo
nação, igrejas e cemitérios, em O município tem 1.760,99 Cavalcante Salviano, também Paulo Folha, a extração de dia-
localidades como a de Vaqueta, km² de área degradada, o que conhecidocomoprofessorVoço- mante trouxe problemas para o
a 10Km da sede do Município. equivale a 49,32% do território. roca, afirma que as principais solo somente nas regiões onde o
A paisagem, que remete a ce- Além de Gilbués, cidades como causas do processo de garimpo existia, nos demais lo-
nas de filmes de ficção científica São Gonçalo do Gurguéia e Re- desertificação em Gilbués e mu- cais, a ação humana, as chuvas e
quando são mostrados outros denção do Gurguéia, que tam- nicípios vizinhos foram o solo a fragilidade do solo foram os
planetas desabitados e devasta- bém fazem parte do que foi defi- frágil e a chuva com energia fatores principais.
dos; proporciona uma sensação nido como Núcleo de cinética duas vezes maior do Adegradaçãotemcausadoso-
de desconforto e apreensãopara Desertificação de Gilbués que em outras regiões do País. frimento à agricultora e dona de
quem não está acostumado com (NDG), tem cerca da metade de Alémdessesfatores,aagricul- casa Maria Expedita Batista, 74.
avoçorocas, que chegama 2qui- suas terras degradadas e em tura inadequada, associada ao Ela mora há 54 anos na localida-
lômetros de extensão e 30 me- avançado estado de processo avançado de desmata- de de Canto Roçado, situada a
tros de profundidade. A impres- desertificação. Em Barreiras do mento e o superpastoreio (gran- cerca de 10Km do Centro de Gil-
são que se tem é que o Município Piauí, são 1.246,46 Km² de ero- de presença de gado na terra) bués, com o marido João Tava-
vai ser engolido por essas gran- são e voçorocas, ou seja, mais de contribuíram fatalmente para a res de Lira, 87. “Como é que não
des crateras causadas pela ero- 60% de terras desertificadas. degradação. “Há uma tendência sofre? Quando se fala em degra-
são do solo. natural do solo daqui, que é frá- dação, degrada a terra e degra-
“Pro lado que você quiser Deserto maior gil, também temos gado pastan- da a vida da gente, não é isso
olhartemburaco”,disse,referin- Ocupando uma faixa de transi- do em grande quantidade e uma mesmo?”, questionou.
do-se às voçorocas, o engenhei- ção entre o clima semiárido e o região em que se concentra chu- E dona Expedita não reluta
ro agrônomo e doutor pela Uni- subúmido seco, o Núcleo de vacom muitaenergiacinética. O em fazer autocrítica sobre a si-
versidade de São Paulo (USP) Desertificação de Gilbués, o tamanho e a velocidade da gota tuação em que o solo se encon-
Milcíades Gadelha de Lima, que maior do País, tem característi- são mais intensos do que em ou- tra. “Aqui é assim, quando não
acompanhou a equipe do Diário casque o diferenciam dos outros tros locais. Se não desmatar, se era o lajeiro, era a erosão. A água
do Nordeste na visita a Gilbués, núcleos do Semiárido, como o tivera vegetaçãonativa...Masse bate e leva tudo. Nós mesmos
juntamente com mais dois pes- solo, identificado como latosso- começou a desmatar e o solo somos os condutores das ero-
quisadores,otambémengenhei- lo, argiloso, oriundo de altera- ficou sem coesão”, explicou. sões. Nós achava (sic) que essa
ro agrônomo e doutor em Ciên- çõesdearenitos,calcáriosesiliti- Em 2011, pesquisadores da erosão era do tempo. Como não
cia do Solo pela USP, Adeodato tos; e um índice de precipitação Universidade de Campinas loca- temos aquela sabedoria, fize-
AriCavalcante Salviano; e Paulo anual que varia de 900 a 1.000 lizaram, em Gilbués, evidências mos tudo errado, derrubamos
Folha Sousa, especialistaem De- milímetros anuais. de uma cratera que pode ter sido até lá perto do Riacho, queima-
senvolvimento Sustentável para Mas o que causou essa degra- causada pela queda de um me- mos. Mas hoje, não, a gente está
o Semiárido. dação e vem agravando a situa- teorito há 65 milhões de anos. O aprendendo a trabalhar”, disse.
, | 5

C Crateras podem
chegar a 2 Km de
extensão e 30 metros
de profundidade
FOTO: KID JÚNIOR

Surpresa, apreensão e
esperança em Gilbués

C Emerson Rodrigues e Kid Júnior em

‘‘
novas experiências na ‘Terra das Voçorocas’

Estigmatizadapelofantasma
dadesertificação,a Cidade de
Gilbuésresiste ejá trilha um
caminhoalém dasvoçorocas
quemargeiam o Riacho”
EMERSON RODRIGUES
Repórter

Foram quatro meses de pesquisas e contatos telefô-


nicos com pesquisadores e ambientalistas da região
antes de encontrar as “famosas” voçorocas de terra
vermelha de Gilbués. Sem dúvida, os “buracos” fo-
ram o ponto alto da viagem de 3.387Km, por três
municípios do Ceará e um do Piauí, na qual não
faltaramprotetor solar,boné e muitadisposição.
Depois do assombro inicial pela dimensão do
problema, a surpresa se transformou em apreensão
e, posteriormente, em esperança de dias melhores
para os agricultores e moradores da região do Su-
doestedo Piauí,castigada pela erosão.
Acompanhados pelos pesquisadores e engenhei-
ros agrônomos Adeodato Salviano, Milcíades Gade-
lha e Paulo Folha, conhecemos, em dois dias, parte
da realidade que aflige e também motiva a luta dos
moradores da bucólica Gilbués. Encontramos pes-
O engenheiro agrônomo Paulo Folha, da Fundação Agente, mostra uma das ações de recuperação da microbacia do Riacho Sucuruiú, em Gilbués, como a plantação de soas como a agricultora Maria Expedita Batista, que,
feijão com uma técnica de terraço de base larga. A terra, manejada corretamente para evitar a erosão, torna-se produtiva novamente FOTO: KID JÚNIOR do alto dos seus 74 anos, ainda “correndo” pelo
terreiro em busca do sonho de terra fértil e sem

Terras desertificadas ‘renascem’ após


erosão,esbanjavaalegria emotivação.
Presenciamos também a serenidade de Manoel
Siqueira, 76, que já viu parentes e vizinhos fugirem
da terra degradada, na localidade de Vaqueta, e,

manejo correto e controle da erosão ainda hoje, luta por dias melhores. Ele acredita que a
erosão não foi causada pela ação do ser humano por
meiodo desmatamento epecuária.
Assim como o dele, ouvimos relatos de outros
moradores que acreditam que a situação da terra
Cinquenta e três hectares cheios tasportodoolado.Aindaépossí- Francisco Ferreira Santana deve tem causas naturais. Muitos não querem ouvir falar
de esperança, pesquisa, traba- vel perceber os estragos que o serconcluído até setembro deste emdesertificação.Quandosãoperguntados, simples-
lhoeconvicção de quea situação processo erosivo fez durante dé- PECHINCHA ano. A recuperação de áreas de- mente desconversam ou repetem a história de que
da degradação do solo no Nú- cadasnosolo,masofimdopasto- gradadas, implantação de estra-

2,4
“aerosãosempre existiu”.
cleo de Desertificação de Gil- reio,oseccionamentodevoçoro- das ecológicas e recomposição Conhecemos, por outro lado, um grupo de mora-
bués (NDG) pode ser revertida. casparabarraraáguaeaimplan- de mata ciliar são algumas das dores, liderado por Ivete Gomes da Silva Oliveira e
A área, que equivale a aproxima- taçãode técnicas de manejoade- ações desenvolvidas. Fabriciano da Cunha Corado, que fundou a organiza-
damente 53 campos de futebol, quadas transformaram o cená- A reportagem também visi- ção SOS Gilbués, e fez questão de “pedir socorro”,
foi comprada, em 2003, pela Se- rio da região. tou plantações de feijão e milho avisando ao Brasil e ao mundo, sobre o drama que a
cretaria do Meio Ambiente e Re- ONuperadeéabertoapesqui- mil foi o valor pago pelo governo em terraço de base larga. Segun- cidade, que tem hoje cerca de 12 mil habitantes,
cursosHídricos doPiauí(Semar- sadores do Brasil e do exterior do Piauí pelos 53 hectares onde, do o professor Milcíades Gade- enfrentoueainda enfrenta.
PI) pela “bagatela” de R$ 2,4 para realização de estudos sobre desde 2004, funciona o Núcleo de lha, o produtor cede a área e o Elesconseguiramchamar a atenção dasautorida-
mil. Desde2004, ali foi instalado o processo de degradação do so- Pesquisa e Recuperação de Áreas trabalho é feito pelos técnicos da des e, junto com pesquisadores, conhecedores do
oNúcleodePesquisaeRecupera- lo. Com o decorrer dos anos, os Degradadas (Nuperade) Fundação Agente. O lucro obti- solo e do clima da região, como Adeodato Salviano,
çãode Áreas Degradadas e Com- experimentos foram sendo apli- do com a produção fica com os Milcíades Gadelha e Francisco Ferreira Santana, es-
bate à Desertificação (Nupera- cados em outras áreas e estão donosdasterras.SegundoAdeo- tão mudando a forma como os visitantes e os nati-
de) a partir de uma proposta da mudando a realidade de agricul- firmou convênio com a Funda- dato Salviano, o solo da região vosse relacionamcom Gilbués.
Fundação Agente. tores da região de Gilbués. Com ção Agente para implantação do de Gilbués, de um modo geral, é Nativos,como o engenheiro Paulo Folha, com seu
Antes tomado por voçorocas recursos do Programa de Projeto de Revitalização da Mi- extremamente rico, com dez a jeito simples e fala mansa, nos ensinaram que a
e com solo improdutivo, o terre- RevitalizaçãodaBaciadoParnaí- crobacia do Riacho Sucuruiú, no 20 vezes o teor de nutrientes que maior desertificação de Gilbués é a humana. “Está
no onde funciona o Nuperade, ba, financiado pelo Programa de município de Gilbués. um solo médio de outras áreas faltando é gente para tocar a terra. Os meios de
hoje tem horta comunitária irri- Aceleração do Crescimento O Programa, coordenado pe- do Piauí. E o custo para recupe- recuperar a terra nós temos, não temos mais é gente
gada, um viveiro com capacida- (PAC), a Companhia de Desen- los engenheiros agrônomos rar a terra da erosão, em área de parafazer otrabalho”,disse.
de de produzir 60 mil mudas, e o volvimento dos Vales do São AdeodatoSalvianoAriCavalcan- malhada, por exemplo, chega a,
melhor,árvores frutíferaseplan- Francisco e Parnaíba (Codevasf) te, Milcíades Gadelha de Lima e no máximo, R$ 2 mil / hectare.
6 | DIÁRIO DO NORDESTE
FORTALEZA, CEARÁ - SEXTA-FEIRA, 5 DE ABRIL DE 2013

ONDE AS PEDRAS CRESCEM

Desmatamento e superpastejo
desertificam o solo de Irauçuba
C Na localidade
de Cacimba Salgada, a
vegetação “sumiu” e
ficaram as pedras
FOTO: KID JÚNIOR

‘‘
Um projeto de pesquisa mandioca nas áreas favorecidas sendo desenvolvido no Assenta-
pelas chuvas, como sopé dos mento Mandacaru, na Zona Ru-
da Universidade Federal
do Ceará mantém
morros e aluviões (às margens
dos rios). As demais são usadas
para pecuária e são as principais
Ohomemem
ral do município.
O assentamento do Instituto
NacionaldeColonizaçãoeRefor-
Degradação agride o
isoladas seis áreas para
estudos do solo
responsáveis pelo processo de
desertificação no Município.
“Eles eliminam as árvores e ar-
Irauçubadeixa avaca
nopastoe elacome
ma Agrária (Incra) conta com 46
propriedades abrigando 130 fa-
mílias. Um dos beneficiados pe-
Sertão dos Inhamuns
EMERSON RODRIGUES bustos para aumentar a produ-
atéo último capim. loprojetoéoagricultorJoséMar-
Repórter ção de forragem e jogam em ci- Depois,ele botaa celino Ferreira Pedrosa, 70. A desertificação do Sertão dos Tauá.Comorgulho,Afonsomos-
ma uma carga animal acima da ovelhapara comero Sorriso fácil, chapéu preto na Inhamuns,queabrangelocalida- tra a recuperação da mata ciliar
Irauçuba. Os xiquexiques e o capacidade do solo, causando o cabeça e fala desenvolta, Marce- des dos municípios de Tauá, In- do Rio Carrapateira e as coiva-
juazeirosão os únicos elementos superpastejo”, explica. resto” lino Ferreira conta como a terra dependênciaeArneiroz, teve co- ras, que antes eram queimadas,
quedãovidaaumgrande“deser- O excesso de animais faz com JOSÉGERARDO BESERRA DEOLIVEIRA foi degradada: “aqui era área de mo causa poucas e irregulares agora são guardadas para se

‘‘
to” no município de Irauçuba, que a cobertura da terra seja eli- Professorda UniversidadeFederal doCeará pisoteio dos bichos e de planta- chuvas, solo cristalino, pecuária transformarememadubo.“Ago-
distante 150Km de Fortaleza. minada, diminuindo a infiltra- ção de algodão. Quando che- extensiva,desmatamentoequei- ra, é só preservar, deixando as
Ali, as “pedras crescem” e to- çãodaágua, causando o acelera- guei, em 1960, isso tudo era ma- madas da mata nativa, além de árvores grandes e retirando só o
mam conta da paisagem. Como do processo de desertificação. É ta,mas hoje nãotem nada mais”. técnicas agrícolas inadequadas. necessário para o plantio”.
diz o mateiro Francisco Coelho o que a reportagem viu na locali- Fernando Antônio Mesquita Somente em Tauá, cerca de Segundo o professor Marcos
Silvino, 55, mas conhecido na dade de Cacimba Salgada, situa- Araújo, engenheiro agrônomo e 40% da terra está degradada e Vieira, que é diretor da Escola
região como Chico Nel, “aqui só da a 6Km da sede de Irauçuba.
Chegueiaqui gerente da Ematerce em Itapajé, em avançado estado de MunicipalAgrícolaFranciscaCa-
tem pedras e chão esturricado”. “O homem, em Irauçuba, dei- pixotinho,quando (a acompanhou a reportagem, em desertificação,segundo levanta- valcante Fialho e presidente do
OsmunicípiosdeItapajé,San- xa a vaca no pasto e ela come até terra)era deoutro uma área que servia apenas para mentosrealizados pelaprofesso- ConselhodoParqueNaturalMu-
ta Quitéria, Miraíma, Canindé e o último capim. Depois, ele bota pastagem e está sendo prepara- ra do Departamento de Geogra- nicipal Themístocles Lins Fia-
parte de Sobral também inte- a ovelha para comer o resto. dono.Em 1960,isso da para cultivo de milho e feijão fia e coordenadora do Programa lho, Tauá está no epicentro do
gram o Núcleo de Desertificação Quando vem a primeira chuva, o tudoera mata,mas com a técnica chamada de Cor- de Doutorado em Rede em De- Semiárido.Vieiraluta paraapro-
de Irauçuba, perfazendo uma impacto da gota d’água desagre- hojenão temnada dão de Controle. senvolvimento e Meio Ambiente var o Plano de Manejo da Reser-
área de 12.305 Km² de terras ga o solo da superfície, que fica O projeto consiste na criação (Prodema), Vládia Pinto Vidal va, de 246 hectares, que foi cria-
degradadas. Em Irauçuba, seis saturado e escorre levando os maisnada” de sulcos na terra, feitos pelo de Oliveira. da por Lei Municipal em 1990 e
áreas são estudadas, desde nutrientes”. O resultado desse JOSÉMARCELINO FERREIRAPEDROSA trator,parafazer comque a água OsecretárioexecutivodoCon- legalizada em 2008. Até agora,
1999, pelo professor do Progra- processo, explica José Gerardo, Agricultor fique na linha. Se houver exces- sórcio Intermunicipal Pacto dos só existe a área, sem sede e nem
madePós-GraduaçãoemDesen- é que os homens do campo cha- so de água, ela passa, mas fica no Inhamuns, Jorge de Moura, co- projetos de preservação efetivos
volvimento e Meio Ambiente mamdecrescimentodaspedras. que os técnicos denominam de nhece de perto a realidade da sendo implementados.
(Prodema), da Universidade Fe- “Elasnaverdadesó fazemapare- cordão de pedra. degradação da região. Moura AcriaçãodeUnidadesdeCon-
deral do Ceará (UFC), José Ge- cer devido ao processo erosivo”, O projeto da Associação e da conta que o Pacto desenvolve servação (UCs) é um dos cami-
rardo Beserra de Oliveira. salientou. Ematerce é feito com chamada projetosem12municípioslevan- nhos apontados pela professora
José Gerardo explica que, em As áreas de estudo da UFC, pública no Ministério do Meio do atividades de educação am- Vládia Pinto como forma de in-
cada área-piloto, foram monta- intocadas desde o segundo se- Ambiente (MMA) com valor de biental e técnicas de convivência terromper o processo de
dos dois conjuntos de amostra- mestre do ano 2000 são monito- R$ 641,7 mil, sendo 10% oriun- com o Semiárido. desertificação. Ela coordenou
gem, constituídos por exclusões radas em períodos pré-determi- dosdo Governo do Estado e90% Um dos exemplos de que o no Estado, o Projeto Waves (Wa-
de 0,25 hectares protegidos por nados.Anualmente,éfeitaaveri- do MMA, com recurso do Fundo trabalho do Pacto tem funciona- ter Avalilability and Vulnerabili-
cercasde arame farpado;eterre- ficação da vegetação Clima. O prazo do convênio é de do, é o depoimento do agricultor ty of Ecosystems and Society in
nos externos não cercados do (frequência e cobertura) dentro 12 meses e a primeira parcela, Afonso Xavier de Santana, 71. the Semiarid Northeast of Bra-
mesmo tamanho. De acordo e fora das exclusões. A cada três de R$ 97,7 mil, já foi liberada. Ele confessa, sem rodeios que zil), financiado pelos governos
com o doutor em Manejo de Pas- anos é analisado o processo de “Se plantar de uma maneira desmatou, queimou e degradou brasileiro e alemão, nos anos 90,
tagens pela Universidade do Ari- erosão e, nos anos de 2001, convencional, a possibilidade é a terra nos anos 80, mas hoje é em Tauá.
zona, nos Estados Unidos da 2007 e 2011, houve análise da não ter cultivo. O que queremos considerado como um sinônimo VládiaPintoafirmaqueasolu-
América (EUA), o objetivo do fertilidade. Segundo Beserra, mostrar é que, com a pouca chu- de preservação da caatinga na ção para o problema envolve
estudo é identificar os proces- além do superpastejo, a média va, poderemos conseguir produ- localidade de Carrapateira, em uma série de medidas baseadas
sos, a intensidade e as causas de chuva na região é de 590mm, ção nessa área que está em pro- numacompreensãointerdiscipli-
naturais da degradação e comvariaçãoacimade50%tam- cesso de desertificação”, disse nar.“A solução requer uma com-
desertificação e verificar as mu- bém é um grande problema. Mesquita. No entanto, mesmo Somente em Tauá, plexidadedeaçõescomo:partici-
danças na biodiversidade e am- com o projeto, ainda é tempo de pação da comunidade nos diver-
biente físico dessas áreas. Ematerce esperar. “Estamos aguardando a cerca de 40% das sos programas e decisões; proje-
A Empresa de Assistência Técni- chuva, qualquer chuva”, disse. terras do município tosinovadores adequadosao Se-
Superpastejo ca e Extensão Rural do Ceará A previsão, no entanto, não é miárido; conscientização e von-
Conforme os estudos coordena- (Ematerce) desenvolve um pro- dasmelhores.Segundooagricul- estão degradadas e tadepolítica; Educação Ambien-
dos pelo professor José Gerardo, jeto para ajudar a frear o proces- tor José Marcelino já são três em processo tal; e a implementação de políti-
as terras em Irauçuba são usadas so de degradação do solo e au- anos sem chuva e sem produção. cas públicas voltadas para o De-
para agricultura familiar com mentar a produção no municí- “Estamos precisando da ajuda avançado de senvolvimento Sustentável”, fi-
plantações de milho, feijão e pio de Irauçuba. O principal está do Homem Maior”, disse. desertificação nalizou.
DIÁRIO DO NORDESTE
FORTALEZA, CEARÁ - SEXTA-FEIRA, 5 DE ABRIL DE 2013 | 7

DESCALABRO

Terra vira sal em fazenda no


município de Cabrobó (PE)
a “limpeza” da terra, veio a água turalmente e em doses precisas. sem qualquer tipo de análise do
A desertificação foi ocasionada pela em excesso. O que sobrou desde “Aprendemos a lição. Se não solo contribuíram para deixar a
retirada da caatinga para a então foi o sal. O pessoal da Em-
brapa esteve aqui e disse que
agirmos de forma sustentável,
tudo um dia se acaba, a exemplo
terra salinizada. Algumas áreas
foram abandonadas pelos agri-
agricultura e excesso de irrigação somente com a implantação de
drenos poderíamos tentar salvar
do que ocorreu aqui do outro
lado”, ensina.
cultores. Hoje, a gente vê o chão
rachado onde os canteiros de ar-
o terreno. Só que, do ponto de Mesmo com as dificuldades, roz existiam. Cabrobó foi por
Recife,àsmargensdaBR- 428.O vista financeiro, é inviável”, la- Cícero ainda vai fazer uma últi- muito tempo o maior produtor
FERNANDO MAIA problema é tão grave e de difícil menta Cícero. Outro aspecto da matentativadepelomenosmini- de arroz de Pernambuco”, diz.
Repórter reversão que onde deveria estar salinização é que a terra, na mizar os efeitos da salinização. Os efeitos do processo de de-
a camada de areia, facilmente se maioria dos trechos, é bem fina e “O sal é tão cruel que nem o gradação da terra estão sendo
Cabrobó (PE). “Aqui não ser- apanha o sal com a mão. aparentemente úmida. capim sobrevive a ele. Vou ten- mitigados após a introdução de
ve mais para nada. O sal tomou O panorama nessa parte da A maior prova de que a ação tar a forrageira atriplex (erva- outras culturas, como melancia,
conta desse pedaço de terra que fazenda impressiona. O verde antrópica foi a responsável pela sal)-umaplantaquesecaracteri- tomate e manga. “Ainda se pro-
nem os animais se aproximam do solo deu lugar ao branco do degradaçãoficanamesmafazen- za pela sua elevada tolerância à duz arroz, em média, 80 a 100
mais”. O depoimento do agricul- sal. O manejo incorreto da terra da, a menos de dez metros de seca e salinidade do solo”. sacas, no máximo, por hectare, a
tor CíceroVieira Rodrigues resu- foi o principal responsável pela distância da área atingida. Ali, a Osecretário deAgriculturade metade do que ocorria antiga-
me a situação em que se encon- completa degradação do local. A plantação de melancia com ou- Cabrobó,MarizanRodrigues,re- mente”,explicaMarizan.Segun-
tram 10% dos 22 hectares da velha prática de retirar a vegeta- tras culturas consorciadas pro- conhece que o manejo de forma do o MMA, até 2008, 546 Km²,
Fazenda Bela Vista, de sua pro- ção para preparar a lavoura, se- duz uma bela imagem verde. Se- abusiva da terra é um dos princi- de uma área total de 1.658 Km²,
priedade, em Cabrobó, um dos guida de enchentes sucessivas, gundo Cícero, a irrigação é feita pais responsáveis pelo processo os seja, quase 33% do municí-
quatro núcleos de desertificação levou o que restava da parte su- por meio de gotejamento, ou se- de desertificação enfrentado pe- pio,sofreramprocessodedesma-
segundo critérios adotados pelo perficial do solo, deixando pe- ja,aáguaéusadade formaparci- lo município. “Durante décadas, tamentos:acaatingafoidevasta-
Ministério do Meio Ambiente quenas voçorocas. “Fomos sur- moniosa.Omesmocuidadoexis- a cultura do arroz, com irrigação da para possibilitar a agricultura
(MMA), localizada a 531 Km de preendidos. Em 2008, logo após te com a adubação, aplicada na- excessiva e adubação realizada e a pecuária.

C Parte da
Fazenda Bela Vista tem
o solo coberto de sal e
não tem mais utilidade
FOTOS: CID BARBOSA
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FORTALEZA, CEARÁ - SEXTA-FEIRA, 5 DE ABRIL DE 2013

ENTREVISTA COM ANTONIO ROCHA MAGALHÃES* *ECONOMISTA

‘Asmudanças
climáticas
tornarãoas
secasfuturas
maisseveras’
terras do Planeta e abrigam um
O economista diz que é preciso haver terço da população mundial e
mais conscientização da sociedade mais da metade das popula-
ções mais pobres. No Nordeste,
para pressionar o governo a assumir são 22 milhões de habitantes
vivendo no Semiárido, muitos
compromissos de sustentabilidade em grande pobreza.

MARISTELA CRISPIM
AConvenção daDesertificação Quetipodeperspectivase
Editora foiumdosdocumentosdaRio desenhaparaocenáriode
92.Qualfoi oimpactodela? desertificaçãoagora?
Emqueníveloaumentoda A Convenção das Nações Uni- As mudanças climáticas refor-
temperaturadaTerrapode das de Combate à çam os fatores que podem agra-
impactarnoprocessode Desertificação teve sua origem var ainda mais a
desertificaçãodoSemiárido? nos estudos da Icid - a primeira desertificação. Porém, o proble-
De acordo com os estudos do Conferência sobre Variações ma pode ser parado, ou mesmo
Painel Intergovernamental de Climáticas e Desenvolvimento revertido. Na Rio+20, foi apro-
Mudanças Climáticas (IPCC), Sustentável em Regiões Se- vada a meta de degradação
todas as regiões serão afeta- miáridas, realizada em Fortale- neutra, isto é, mesmo que a
das, mas as terras secas serão za em 1992. Foi com base nes- degradação e a desertificação
mais atingidas proporcional- ses estudos que a Rio 92 apro- aumentem em alguns lugares,
mente, pelo fato de serem mais vou a proposição de criação da deveria haver recuperação em
vulneráveis, sob os aspectos Convenção da ONU sobre outros, de modo que o efeito
ambientais, econômicos e, so- Desertificação. Assinada em geral fosse neutro.
bretudo, sociais. A pobreza ex- 1994, desde então, tem contri-
trema, no Planeta, assim como buído para aumentar o nível de Emqueosgovernosdonosso
no Brasil, se concentra nas conscientização mundial sobre Semiáridodevem investirpara
áreas secas. As regiões semiári- os problemas da degradação conteroavançoda
das, como o sertão do Nordes- de terras e da desertificação, desertificação?
te, já se encontram no limite do para o fortalecimento de insti- Em primeiro lugar, é preciso
clima e sofrem com as secas tuições e para a mobilização haver maior conscientização
periódicas. Qualquer variação entre os países. No entanto, o na sociedade, porque os gover-
do clima as afeta. Mesmo pe- que está claro é que essa con- nos refletem o que a sociedade
quenas mudanças climáticas, venção não conseguiu empol- quer. Os governos pensam no
que alteram o padrão da varia- gar muito os países. Da mesma curto prazo, nas próximas elei- Segundo o presidente do Comitê de Ciência e Tecnologia da Convenção das Nações Unidas sobre combate à desertificação

‘‘
bilidade normal e das secas, forma que acontece no Brasil, ções. Eles só vão assumir com- (CST/UNCCD), o problema de degradação e desertificação da terra vem aumentando, em vez de diminuir FOTO: KID JÚNIOR
atingem mais profundamente onde os problemas do Semiári- promissos de sustentabilidade
essas regiões, acarretando re- do são relegados, também se descobrirem que isso vai aju- discutir as alternativas econô-
dução na produção agrícola, acontece em relação a outros dar a conseguir mais votos nas micas para o desenvolvimento
perdas de rebanhos, aumento países que contêm regiões se- próximas eleições. Claro que, sustentável das regiões secas. FIQUE POR DENTRO
da pobreza e desertificação. cas, em particular países po- de tempos em tempos, surgem Asregiões semiáridas, Ela será seguida, dentro de

Masestenãoéoprincipal
bres da África, América Latina
e Ásia. Faltam recursos e com-
governantes que pensam além
do seu tempo, que são capazes comoo sertãodo
dois anos, de uma terceira Con-
ferência que se centrará na dis-
Desenvolvimento
motivadordoprocessode promissos políticos provavel- de ver mais que os outros e de Nordeste,já se cussão de soluções, com base Regional
desertificação...
Este processo é causado primor-
mente porque esses locais con-
centram maior nível de pobre-
tomarem decisões consideran-
do o futuro. São estadistas, en-
encontramno limite em experiências mundiais e lo-
cais. Os resultados serão divul- Sustentável
dialmente pelas atividades hu- za e menor poder político e fim. Mas esses são raros. Será doclima esofrem com gados e, espera-se, influencia-
manas, iniciando com o desma- econômico. necessário aumentar o esforço assecas periódicas. rão as políticas internacionais, Antonio Rocha Magalhães nasceu em
tamento, que deixa o solo des- de estudos, pesquisas, geração nacionais e locais sobre o de- Canindé (CE). É economista (UFC) e
coberto, causando erosão, per- Oquemudouduasdécadas de informações e divulgação Qualquervariação do senvolvimento sustentável nas doutor em Economia (USP). Dedicou-
da de biodiversidade, resseca- depois,coma Rio+20? do conhecimento. A imprensa, climaas afeta” regiões secas e sobre a reversão se ao estudo e ao trabalho na área de

‘‘
mento das fontes de água, redu- Dois anos antes da Rio+20, foi a academia, a sociedade civil e, dos processos de Desenvolvimento Regional e Desen-
ção na produtividade agrícola realizada a Segunda Icid em evidentemente, o governo, to- desertificação. Essa conferên- volvimento Sustentável, com foco no
e desertificação. Esse processo Fortaleza, a Icid+18, que mais dos podem ter um papel impor- cia será reforçada com os resul- Nordeste brasileiro. Trabalhou no
é reforçado pelas variações cli- uma vez deu um balanço nos tante. Precisamos contabilizar tados de outros eventos, como BNB, no Ipea, foi secretário de Plane-
máticas, que impõem um es- estudos e nas proposições so- as lições das experiências nos- o Encontro de Alto Nível sobre jamento do Estado do Ceará e secre-
tresse rigoroso, levando à mor- bre os problemas e potenciali- sas e de outros, e nos colocar de Políticas sobre Secas, promovi-
tandade das plantas e dos ani- dades das terras secas, em parti- acordo em estratégias de desen-
Háprojetos grandes e da pela Organização
tárioexecutivo (vice-ministro) do Mi-
nistério do Planejamento. Ensinou
mais. Não fora pelas ações hu- cular as regiões semiáridas. Os volvimento sustentável que in- pequenos,eeles não Meteorológica Mundial e a Economia na UFC e Políticas Públicas
manas insustentáveis, o ecos- resultados da Icid+18 foram cluam a preservação ambiental seexcluem. Devemos Convenção de Combate à na Universidade do Texas, em Austin
sistema resistiria às secas gra- levados à Rio+20 e a outros e a proteção social como pila- Desertificação, em Genebra
ves, como fez por milênios. fóruns mundiais, para destacar res fundamentais, ao lado da evitarasopiniões (de 11 a 15 de março), com
(EUA). Foi oficial principal do Banco
Mundial no Brasil. É membro do Pai-
a realidade das regiões secas. O segurança econômica. maniqueístas,que apoio do Ministério da nel Intergovernamental sobre Mu-
Comoosenhoravaliaa documento final da Rio+20, advogamfazer issoou Integração Nacional. danças Climáticas (IPCC) e do Painel
evoluçãodaconvivênciacom “O Futuro que Queremos”, in- Quetipodeexperiênciasjá Brasileiro de Mudanças Climáticas
asadversidadesclimáticasa cluiu a questão da degradação, existentesosenhorcitaria isso” Osenhorviajourecentemente (PBMC). É também autor e editor de
partirdacriaçãodo da desertificação e da pobreza comodignasdeincentivo? ANTÔNIO ROCHAMAGALHÃES pelosertãoparaveroquadro várioslivros e artigos, sobre diversos
DepartamentoNacional de nas terras secas, como propos- Há muitas experiências interes- Economista daseca.Oquemaiso assuntos, especialmente sobre De-
ObrasContraas Secas? to pela Icid+18, pela Conven- santes, e citar algumas não sig- impressionou? senvolvimentoRegional,Desenvolvi-
No Nordeste, há uma experiên- ção sobre Desertificação (UNC- nifica excluir outras. Além dis- Entre 26 de fevereiro e 1 de mento Sustentável e Impactos Climá-
cia de um século e meio em CD) e por outras instituições. so, as experiências devem ser cluem. Devemos evitar as opi- março, fiz uma viagem ao ser- ticos. Em 1992, organizou, em Forta-
políticas de convivência com as Do ponto de vista institucional, aplicadas nos locais adequa- niões maniqueístas, que advo- tão. Em resumo, os impactos leza, a I Conferência Internacional so-
secas. A criação da Ifocs, que muitas coisas mudaram desde dos, sendo que umas são váli- gam fazer isso ou isso, e não da seca de 2012 foram catastró- bre Impacto de Variações Climáticas
depois virou Dnocs, foi um mo- 1992. Há mais instituições, das em alguns lugares e contex- isso e isso. Por exemplo, cister- ficos para a agricultura, para a e Desenvolvimento Sustentável em
mento muito importante dessa mais pesquisa, mais conheci- tos, mas não em outros. Por nas fazem parte da solução, pecuária e para o abastecimen- Regiões Semiáridas (Icid), com 1.200
política. Ninguém pode negar mento. Do ponto de vista práti- exemplo, a experiência de recu- mas elas não são “a solução”. to de água. Em Tauá, a seca participantes de 45 países, uma con-
o papel desempenhado pelo co, entretanto, os resultados peração de áreas degradadas e Há conflitos que precisam ser praticamente dizimou a ativi- tribuição para a Rio 92. Dirigiu o Pro-
Dnocs ao longo de sua história, são menos animadores. Os pro- combate à desertificação no resolvidos, como gerar renda e dade agrícola. Em todos os lu- jeto Áridas – Uma Estratégia de De-
assim como ninguém também blemas de degradação de ter- Projeto de Desenvolvimento Hi- parar o processo de degrada- gares, lamentamos observar a senvolvimento Sustentável para o
pode negar o enfraquecimento ras e desertificação vêm au- droambiental (Prodham), no ção. Há muitas famílias pobres mortandade dos rebanhos. Ob- Nordeste do Brasil. Em 2010, organi-
das instituições que tratam das mentando, em vez de dimi- Ceará, é muito interessante e cuja renda depende de desma- servamos que os municípios zou a Segunda Conferência Interna-
questões do Semiárido e do nuir. A Convenção de Combate pode ser replicada em lugares tar, de fazer carvão, de vender que contam com fonte de água cional sobre Clima, Sustentabilidade
Nordeste, ao longo dos últimos à Desertificação não atrai mui- semelhantes. Numa escala lenha. Isso é insustentável, e garantida, como os do Vale do e Desenvolvimento em Regiões Se-
anos e até décadas. De qual- to apoio e é considerada como maior, o gerenciamento inte- requer que se busquem alterna- Jaguaribe, procuram soluções miáridas (Icid+18). Hoje é presidente
quer forma, o Brasil acumulou menos importante que suas ir- grado dos recursos hídricos, tivas, como a plantação de flo- baseadas no aproveitamento do Comitê de Ciência e Tecnologia da
uma experiência valiosa para mãs do Rio, as Convenções de uma outra experiência bem-su- restas energéticas. dessas águas. Entretanto, os Convenção das Nações Unidas sobre
convivência com o Semiárido. Mudanças Climáticas e de Bio- cedida no Ceará, incluindo o efeitos devastadores da seca se Combate à Desertificação (CST/UNC-
Essa experiência pode ser mui- diversidade. O tema não atrai papel da Companhia de Gestão Emquea2ªConferência observam a poucos quilôme- CD) e assessor sênior do Centro de
to importante, não apenas para muito apoio nem no Brasil nem dos Recursos Hídricos (Co- CientíficadaONUsobre tros dos reservatórios e rios pe- Gestão e Estudos Estratégicos (CGEE)
melhorar a forma como lida- nos países mais desenvolvidos. gerh), Fundação Cearense de CombateàDesertificação renizados. Voltamos muito sobre temas ligados às regiões se-
mos com as atuais secas, como No entanto, trata-se, provavel- Meteorologia e Recursos Hídri- (UNCCD)podecontribuir? preocupados. Vamos precisar miáridas. Em 2012 e 2013, coorde-
também em relação às secas mente, do tema mais importan- cos (Funceme) e Secretaria de Essa conferência será muito im- de uma grande mobilização pa- nou o Grupo de Trabalho Científico
futuras, as quais, por causa das te do ponto de vista do desen- Recursos Hídricos (SRH), é fun- portante, porque reunirá cien- ra reduzir os sérios impactos de doEncontrodeAltoNívelsobrePolíti-
mudanças climáticas, tendem volvimento, já que as terras se- damental. Há projetos grandes tistas, pesquisadores e delega- mais uma seca severa no Ceará casNacionaisdeSecas (HMNDP).
a ser ainda mais severas. cas correspondem a 40% das e pequenos, e eles não se ex- ções de todos os países para e no Nordeste.

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