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Texto 7
Texto 7
SUELI CARNEIRO
GeledÈs/Instituto da Mulher Negra
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Esse documento foi entregue a Walter Franco, coordenador das NaÁıes Unidas no Brasil, e a Mary Robinson, Alta
Comiss·ria das NaÁıes Unidas para os Direitos Humanos. Quando da visita desta ˙ltima ao Brasil, tambÈm foi
solicitada sua intervenÁ„o para que o governo brasileiro voltasse atr·s na decis„o de n„o sediar a ConferÍncia
Regional das AmÈricas, preparatÛria para a ConferÍncia Mundial de Racismo. A desistÍncia do Brasil implicou a
escolha do Chile para sediar a ConferÍncia Regional das AmÈricas.
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Dessa articulaÁ„o continental faziam parte, alÈm do Brasil ñ GeledÈs, o Centro de ArticulaÁ„o de PopulaÁıes
Marginalizadas (CEAP), Rede de Advogados e Operadores do Direito Contra o Racismo e o hoje extinto EscritÛrio
Nacional Zumbi dos Palmares (ENZP) ñ, organizaÁıes negras do Uruguai, ColÙmbia, Costa Rica, Guatemala, Honduras,
Peru, Equador, ColÙmbia, Rep˙blica Dominicana e Venezuela, e Redes Regionais tais como Rede de Mulheres Afro-
Caribenhas e Afro-Latino-Americanas, Rede Continental de OrganizaÁıes Afro-Americanas, OrganizaÁ„o Negra
Centro-Americana (ONECA), Rede Andina de OrganizaÁıes Afro, Aser Parlamento Andino.
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PatrÌcia CARDEMIL, 2000, p. 1.
5
CARNEIRO, 2000b, p. 5.
6
F·tima OLIVEIRA, 2001, p. 25.
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Esses temas mantiveram o Canad· e a Uni„o EuropÈia em permanente ameaÁa de tambÈm abandonarem a
ConferÍncia, e foram usados pelos Estados Unidos, durante as trÍs reuniıes do ComitÍ PreparatÛrio, ocorridas em
Genebra, para justificar a sua n„o-participaÁ„o em Durban.
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Par·grafo 5 do Programa de AÁ„o da ConferÍncia de Durban.
O Plano de AÁ„o, por sua vez, apresenta v·rios par·grafos que instam os Estados ‡
adoÁ„o de polÌticas p˙blicas nas diversas ·reas sociais voltadas para a promoÁ„o social
dos afrodescedentes. E o seu par·grafo 176, tendo por base as metas internacionais de
desenvolvimento acordadas nas ConferÍncias da ONU da dÈcada de 1990, estabelece
um marco temporal de atÈ 2015 para que aquelas metas sejam alcanÁadas, ìcom o fim
de superar de forma significativa a defasagem existente nas condiÁıes de vida com que
se defrontam as vÌtimas do racismo, da discriminaÁ„o racial, da xenofobia e das formas
conexas de intoler‚ncia, em particular no que diz respeito ‡s taxas de analfabetismo, de
educaÁ„o prim·ria universal, ‡ mortalidade infantil, ‡ mortalidade de crianÁas menores
de 5 anos, ‡ sa˙de, ‡ atenÁ„o da sa˙de reprodutiva para todos e ao acesso a ·gua
pot·vel; a aprovaÁ„o dessas polÌticas tambÈm levar· em conta a promoÁ„o da igualdade
de gÍneroî.
A III ConferÍncia reconhece a problem·tica especÌfica das mulheres
afrodescendentes e as m˙ltiplas formas de discriminaÁ„o que enfrentam. O par·grafo 9
do Plano de AÁ„o pede aos Estados que ìreforcem medidas e polÌticas a favor das mulheres
e jovens afrodescendentes, tendo presente que o racismo os afeta mais profundamente,
colocando-os em situaÁ„o de maior marginalizaÁ„o e desvantagensî. E o par·grafo 10
insta os Estados a ìgarantirem aos povos africanos e afrodescendentes, em particular a
mulheres e crianÁas, o acesso ‡ educaÁ„o e ‡s novas tecnologias, oferecendo-lhes recursos
suficientes nos estabelecimentos educacionais e nos programas de desenvolvimento
tecnolÛgico e de aprendizagem ‡ dist‚ncia nas comunidades locais, e os insta tambÈm a
que faÁam o necess·rio para que os programas de estudos em todos os nÌveis incluam o
ensino cabal e exato da histÛria e da contribuiÁ„o dos povos africanosî.
Em suma, os documentos aprovados em Durban instam os Estados a adotarem a
eliminaÁ„o da desigualdade racial nas metas a serem alcanÁadas por suas polÌticas
universalistas. No Brasil, isso equivaleria, por exemplo, a alterar o padr„o de desigualdade
nos Ìndices educacionais de negros e brancos, que, segundo os dados do IPEA, manteve-
se inalterado por quase todo o sÈculo XX, apesar da democratizaÁ„o do acesso ‡
educaÁ„o. Significaria redesenhar as polÌticas na ·rea de sa˙de, de forma a permitir a
equalizaÁ„o da expectativa de vida de brancos e negros, que È em mÈdia de 5 anos
menor para os negros; promover o acesso racialmente democr·tico ao mercado de
trabalho, ‡s diferentes ocupaÁıes, ‡ terra, ‡ moradia e ao desenvolvimento cultural e
tecnolÛgico.
Assim posto, a agenda que Durban impıe vai muito alÈm das propostas de cotas
que vÍm monopolizando e polarizando o debate da quest„o racial no Brasil. Embora sejam
um dos efeitos positivos da ConferÍncia, as cotas podem reduzir e obscurecer a amplitude
e diversidade dos temas a serem enfrentados para o combate ao racismo e ‡ discriminaÁ„o
racial na sociedade brasileira. O que Durban ressalta e advoga È a necessidade de uma
intervenÁ„o decisiva nas condiÁıes de vida das populaÁıes historicamente discriminadas.
… o desafio de eliminaÁ„o do fosso histÛrico que separa essas populaÁıes dos demais
grupos, o qual n„o pode ser enfrentado com a mera adoÁ„o de cotas para o ensino
universit·rio. Precisa-se delas e de muito mais.
Como sempre ocorre com as ConferÍncias convocadas pelas NaÁıes Unidas, È
preciso transformar as boas intenÁıes em aÁıes concretas que permitam ao Estado brasileiro
realizar a eq¸idade de gÍnero e de raÁa pela qual lutamos em Durban e sempre.
ReferÍncias bibliogr·ficas
CARDEMIL, PatrÌcia. Notecierres, 2000, p. 1.
CARNEIRO, Sueli. ìA conferÍncia sobre racismoî. Correio Braziliense, 7 jul. 2000a. Coluna
Opini„o.
_____. ìMatriarcado da misÈriaî. Correio Braziliense, p. 5, 15 set. 2000b.
OLIVEIRA, F·tima. ìAtenÁ„o adequada ‡ sa˙de e Ètica na ciÍncia: ferramentas de combate
ao racismoî. Revista Perspectivas em Sa˙de Reprodutiva, ano 2, n. 4, p. 25, maio 2001.