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O Julgamento Do Lobo Mau
O Julgamento Do Lobo Mau
O Julgamento Do Lobo Mau
Juiz: Estamos aqui reunidos para chegarmos a um veredicto sobre o caso Lobo
Mau.
O promotor como era um pouco doido e meio surdo, em pé, exagerando nos
gestos, derrubando os papéis e assustando alguns dos presentes, afetando um mal-humor
sem explicação, disse em alto e bom som:
Juiz: Calma, nobre colega. Ainda não começamos o julgamento. Temos que ouvir
todos os envolvidos e depois chegar a um veredicto.
Promotor: Ah, sim. Pois bem. (Insiste). Mas, registre aí minha opinião, senhor
escriturário: Culpado.
CV: O dia começou bem para mim. Ensolarado, tempo fresco, ventinho suave...
Juiz: Dona Chapeuzinho Vermelho é para a senhora dar seu depoimento, não a
previsão tempo.
CV. Desculpa, Meritíssimo. Eu estava indo para a casa da vovó toda alegre e
faceira, cantando: “Pela estrada a fora/ eu vou bem sozinha/levar esses doces/para a
vovozinha”. Quando esse lobo mau e traiçoeiro surgiu no meu caminho, dizendo que
conhecia um atalho para eu chegar mais rápido a casa da vovó. Fiquei tão feliz com sua
ajuda que sai cantando: “Quem tem medo do Lobo Mau/Lobo Mau/Lobo Mau? Quem tem
medo do Lobo Mau/Lobo Mau/Lobo Mau?”. Mas era mentira. Andei tanto que quase criei
bolhas nos pés. O senhor quer ver seu juiz?
CV: Quando cheguei à casa da vovó, o Lobo Mau estava vestido com as roupas
dela. Eu estranhei aqueles olhos esbugalhados, aquelas orelhas grandes da vovó. Mas, só
percebi que era o Lobo Mau quando ele disse que ia me engolir com aquela boca enorme.
Sai correndo e gritando. Gritando e correndo. Até que o caçador apareceu e salvou a mim
e a minha avó.
Lobo Mau: (Irônico, debochado) É, porque se ele é caçador tem que caçar
mesmo. O que ele queria? Pescar.
Juiz: Promotor, mais uma vez que o senhor se manifestar, tiro o senhor desse
tribunal.
Caçador: Como ia dizendo, sai para caçar. De repente, a menina pediu minha
ajuda. Dei uma paulada no Lobo, abri sua barriga, tirei a velhota de lá dentro e costurei.
O Lobo Mau, com ar de vítima, mostra o corte feito na sua barriga e finge estar
sentindo mais dor do que realmente sente.
Vovó: Agora todos vão me chamar de velha, é?
Vovó: Eu estava doente, prostrada na cama, quando esse lobo louco adentrou na
minha casa. Engoliu-me tão rápido, com essa boca fedida e cheia de dentes podres. Ele
vai precisar ir ao dentista. (Vira-se para o Lobo). Eu conheço um ótimo, se você quiser seu
Lobo eu dou o endereço para você.
Vovó: Aí, eu fiquei num lugar escuro e apertado que deduzi ser o estômago. Como
esse lobo alimenta-se mal. Come gravetos, pedras, pilhas velhas e papel. Quando pensei
que seria meu fim, o caçador chegou. Abriu a barriga do lobo, quase me cortou, mas me
tirou de lá de dentro.
O Lobo Mau mostra novamente o corte na barriga.
O lobo com ar triste e sofredor, quase chorando começa sua história. Sempre com
a barriga a mostra.
Lobo Mau: Sabe senhor juiz. Eu não sou mau. Eu canto aquela musiquinha: “Eu
sou o Lobo Mau/Lobo Mau/Lobo Mau/Eu pego as criancinhas/Pra fazer mingau”. Mas é
brincadeira. Sou incapaz de fazer mal a alguém. Se cometi esse desatino, é porque a fome
deixou-me desorientado. Não tive culpa. Não estava em mim. Eu saí de dentro de mim.
Lobo Mau: Engraçadinha. (Voltando-se com ar triste para o juiz). Tente entender
seu juiz. A fome é triste.
O Lobo Mau começou a chorar tão sentido, tão sofrido e com tanto estardalhaço,
que todos os ouvintes começaram a fazer beicinho e chorar também. O juiz, cheio daquela
palhaçada, pediu para que o promotor desse, finalmente, seu parecer:
Promotor: Senhor Juiz, ouvindo os depoimentos, posso garantir que todos, com
exceção do Lobo, são culpados.
Promotor: O Lobo Mau não é culpado. Uma pessoa, quero dizer, uma criatura
faminta é capaz de qualquer loucura por um pouco de comida. Com certeza, ele viu essa
velhota gorda e imaginou uma comida farta.
O Lobo intromete-se:
Vovó: Seu juiz faça alguma coisa. Estou sendo ofendida novamente.
Juiz: A corte vai reunir-se e daqui cinco minutos teremos um veredicto. (Já
estressado). Assim espero.
Vovó: Que absurdo! Nunca fui tão humilhada em toda a minha vida.
O juiz, com uma papelada embaixo do braço, sai sem dar atenção. O promotor
biruta senta-se na cadeira do juiz, pega o martelinho e aponta para cada um dos réus
dizendo:
Promotor: Culpado...Culpada...Culpada.
FIM