O Julgamento Do Lobo Mau

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DICA DE LEITURA: O JULGAMENTO DO LOBO MAU

O JULGAMENTO DO LOBO MAU

Após ter engolido a vovozinha e perseguido Chapeuzinho Vermelho, o Lobo foi


preso pelo caçador, que abriu sua barriga, tirou a vovó e costurou de novo. Não satisfeito
com essa situação, o caçador levou o lobo a julgamento.
Estavam presentes no tribunal: a vovó, Chapeuzinho, o Lobo Mau, o promotor
(com um terno maior que ele), o juiz (com uma vestimenta que mais parecia um “vestido”
de padre), a mãe de Chapeuzinho, o caçador e os ouvintes.

Juiz: Estamos aqui reunidos para chegarmos a um veredicto sobre o caso Lobo
Mau.

O promotor como era um pouco doido e meio surdo, em pé, exagerando nos
gestos, derrubando os papéis e assustando alguns dos presentes, afetando um mal-humor
sem explicação, disse em alto e bom som:

Promotor: Culpado. Eu o declaro culpado. Culpadíssimo. Culpadérrimo.

Juiz: Calma, nobre colega. Ainda não começamos o julgamento. Temos que ouvir
todos os envolvidos e depois chegar a um veredicto.

Promotor: Ah, sim. Pois bem. (Insiste). Mas, registre aí minha opinião, senhor
escriturário: Culpado.

O Lobo Mau dá uma banana para o promotor.

Juiz: Vamos ouvir primeiro a Chapeuzinho Vermelho.

CV: O dia começou bem para mim. Ensolarado, tempo fresco, ventinho suave...

Juiz: Dona Chapeuzinho Vermelho é para a senhora dar seu depoimento, não a
previsão tempo.
CV. Desculpa, Meritíssimo. Eu estava indo para a casa da vovó toda alegre e
faceira, cantando: “Pela estrada a fora/ eu vou bem sozinha/levar esses doces/para a
vovozinha”. Quando esse lobo mau e traiçoeiro surgiu no meu caminho, dizendo que
conhecia um atalho para eu chegar mais rápido a casa da vovó. Fiquei tão feliz com sua
ajuda que sai cantando: “Quem tem medo do Lobo Mau/Lobo Mau/Lobo Mau? Quem tem
medo do Lobo Mau/Lobo Mau/Lobo Mau?”. Mas era mentira. Andei tanto que quase criei
bolhas nos pés. O senhor quer ver seu juiz?

Chapeuzinho vermelho faz menção de colocar o pé sobre a mesa do juiz.

Juiz: Não filha, prossiga.

CV: Quando cheguei à casa da vovó, o Lobo Mau estava vestido com as roupas
dela. Eu estranhei aqueles olhos esbugalhados, aquelas orelhas grandes da vovó. Mas, só
percebi que era o Lobo Mau quando ele disse que ia me engolir com aquela boca enorme.
Sai correndo e gritando. Gritando e correndo. Até que o caçador apareceu e salvou a mim
e a minha avó.

Juiz: Muito bem. Vamos ouvir o caçador.

O lobo, afoito para contar sua história, se desespera:

Lobo Mau: E eu?

Juiz: Depois seu Lobo. Primeiro as vítimas.

A vovó querendo parecer mais vitima do que realmente era, diz:

Vovó: Então sou eu.

O Lobo Mau, apavorado, corrige o juiz:

Lobo mau: Mas eu só ataquei a velha. De que vítimas ele tá falando?

Vovó: Velha é sua mãe.

O juiz pede silêncio, batendo o martelinho na mesa.

Caçador: Eu saí para caçar...

Lobo Mau: (Irônico, debochado) É, porque se ele é caçador tem que caçar
mesmo. O que ele queria? Pescar.

Juiz: Silêncio seu Lobo. Caso contrário, eu o declaro culpado mesmo.

O promotor acorda de seu torpor para reafirmar sua opinião:

Promotor: Eu já havia dito isso.

Juiz: Promotor, mais uma vez que o senhor se manifestar, tiro o senhor desse
tribunal.

Caçador: Como ia dizendo, sai para caçar. De repente, a menina pediu minha
ajuda. Dei uma paulada no Lobo, abri sua barriga, tirei a velhota de lá dentro e costurei.

O Lobo Mau, com ar de vítima, mostra o corte feito na sua barriga e finge estar
sentindo mais dor do que realmente sente.
Vovó: Agora todos vão me chamar de velha, é?

O Lobo, esquecendo a “dor”, dá uma gargalhada e diz:

Lobo Mau: Jovem é que você não é.

A vovó mostra língua para o Lobo.

Juiz: Agora vamos ouvir a vovó.

Vovó: Eu estava doente, prostrada na cama, quando esse lobo louco adentrou na
minha casa. Engoliu-me tão rápido, com essa boca fedida e cheia de dentes podres. Ele
vai precisar ir ao dentista. (Vira-se para o Lobo). Eu conheço um ótimo, se você quiser seu
Lobo eu dou o endereço para você.

Juiz: Prossiga. (Nervoso). Por favor.

Vovó: Aí, eu fiquei num lugar escuro e apertado que deduzi ser o estômago. Como
esse lobo alimenta-se mal. Come gravetos, pedras, pilhas velhas e papel. Quando pensei
que seria meu fim, o caçador chegou. Abriu a barriga do lobo, quase me cortou, mas me
tirou de lá de dentro.
O Lobo Mau mostra novamente o corte na barriga.

Juiz: Seu Lobo agora é sua vez. Pode falar.

O lobo com ar triste e sofredor, quase chorando começa sua história. Sempre com
a barriga a mostra.

Lobo Mau: Sabe senhor juiz. Eu não sou mau. Eu canto aquela musiquinha: “Eu
sou o Lobo Mau/Lobo Mau/Lobo Mau/Eu pego as criancinhas/Pra fazer mingau”. Mas é
brincadeira. Sou incapaz de fazer mal a alguém. Se cometi esse desatino, é porque a fome
deixou-me desorientado. Não tive culpa. Não estava em mim. Eu saí de dentro de mim.

Vovó: Ainda bem. Porque nós dois aí dentro não ia caber.

Lobo Mau: Engraçadinha. (Voltando-se com ar triste para o juiz). Tente entender
seu juiz. A fome é triste.

O Lobo Mau começou a chorar tão sentido, tão sofrido e com tanto estardalhaço,
que todos os ouvintes começaram a fazer beicinho e chorar também. O juiz, cheio daquela
palhaçada, pediu para que o promotor desse, finalmente, seu parecer:

Promotor: Senhor Juiz, ouvindo os depoimentos, posso garantir que todos, com
exceção do Lobo, são culpados.

O Lobo adorou o que ouviu. Os demais ficaram indignados com o parecer do


promotor.

Caçador: Como? Eu salvei as duas.

Vovó: Mas eu nem fiz nada, fui engolida antes.

CV: Eu, culpada? O Lobo Mau que se aproveitou de minha inocência e me


enganou.
Promotor: Taí. A comprovação do que eu disse. Chapeuzinho Vermelho é
culpada, pois foi avisada que o Lobo era mau e perigoso. Mesmo assim, preguiçosa,
querendo andar o mínimo possível, resolveu acreditar no papo de atalho para chegar logo
a casa da vovó. A vovó, por sua vez, na idade avançada que está, devia ter tomado mais
Vitamina C. Aí, não ficaria de cama, gripada; a neta não teria que levar comida para ela e
nada disso teria acontecido. O caçador é culpado também. Não devia ter aberto a barriga
do lobo dessa maneira, podia ter o matado ou o corte infeccionado. Além do mais, o Lobo
Mau vai ficar com uma cicatriz horrorosa. (Fala essa última palavra de forma afeminada).

O promotor olhou para o Lobo e disse:

Promotor: O Lobo Mau não é culpado. Uma pessoa, quero dizer, uma criatura
faminta é capaz de qualquer loucura por um pouco de comida. Com certeza, ele viu essa
velhota gorda e imaginou uma comida farta.

O Lobo intromete-se:

Lobo Mau: Imaginei uma leitoa bem gostosa.

Vovó: Seu juiz faça alguma coisa. Estou sendo ofendida novamente.

Juiz: Sim. Fique quieta ou mando enquadrar a senhora.

Promotor: Senhor Juiz, eu declaro o Lobo Mau inocente.

Juiz: A corte vai reunir-se e daqui cinco minutos teremos um veredicto. (Já
estressado). Assim espero.

Foram os cinco minutos mais longos da vida dos envolvidos.

Juiz: Diante da decisão da corte, foram declarados culpados: Chapeuzinho


Vermelho, a vovó e o caçador. O Lobo Mau é inocente e, de hoje em diante, não será
chamado mais de Lobo Mau. Apenas de Lobo. A forma dos culpados cumprirem suas
penas será de manter o Lobo bem alimentado. Com todas as guloseimas que ele quiser.
Assim, ele não vai querer comer mais ninguém e não vai por em risco a sua vida e a dos
outros. Caso contrário, eu vou prender todos vocês.

Caçador: Mas, seu juiz...

Chapeuzinho Vermelho: Que injustiça!

Vovó: Que absurdo! Nunca fui tão humilhada em toda a minha vida.

O juiz, com uma papelada embaixo do braço, sai sem dar atenção. O promotor
biruta senta-se na cadeira do juiz, pega o martelinho e aponta para cada um dos réus
dizendo:

Promotor: Culpado...Culpada...Culpada.

E bate o martelinho na mesa. Finalizando o julgamento.

FIM

P.S: Eu, quando criança, me perguntava do porquê que o lobo da Chapeuzinho


Vermelho tinha que ser "mau". Li e reli várias versões onde o lobo comia a
vovó ou a escondia no guarda-roupa. Ficava com dó dele. Sabe, coisas de
criança? Então, em abril de 2008, mais precisamente no dia 6, eu, Marluce
Pereira de Oliveira, escrevi a minha versão, aonde o lobo explica porque
engoliu a vovozinha. Eu tirei da minha cabeça essa versão. Se parecer com
alguma outra história, não é plágio, apenas coincidência. Espero que vocês
gostem. Essa imagem eu peguei de um site muito bom que traz uma versão do
lobo mau que derrubou as casas de dois dos três porquinhos. Vale a pena
visitar esse blog: claudiawas.blogspot.com

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