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MEDICANDO
ALMAS
Vivendo o propósito durante o processo

Hellena Villas Boas | Médica de almas

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Dedico esse eBook a todas as pessoas que têm buscado ser as mãos
de Jesus aqui na terra.

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APRESENTAÇÃO

“Medicando almas” surgiu antes mesmo que eu fosse aprovada na


graduação de Medicina. Eu estava aguardando a lista e já tinha no meu
coração a certeza que: mais do que dizer “passei, serei médica”, eu
queria ter em minha história as histórias de Deus.

Acontece que Deus sempre faz mais do que pedimos ou pensamos.


Essa é a Sua essência, e Ele me colocou na medicina para aprender a
medicina dEle – aquela que compreende o sofrimento humano, e o
processo de adoecimento e cura do corpo, alma e espírito. Ao longo dos
6 anos, Jesus foi o meu melhor professor, porque me ensinou aquilo
que a faculdade exigiria de mim, mas era incapaz de me ensinar –
ser humana, amar as pessoas. Não existe nos livros. Não há outro
professor que não o próprio Autor da vida para ensinar a medicar
vidas. Olhar com olhos de esperança, e abrir o caminho para
ressignificação e cura.

Muitos professores tentaram, e apenas UMA foi a mais


semelhante ao médico humano que o CFM busca em suas entrelinhas
do Código de Ética médica.

Neste eBook, iremos juntos reviver os cenários em que o Médico


dos Médicos entrou e demonstrou o que é ser médico. Adianto que por
onde Ele passou, nada mais foi o mesmo.

Disponibilizo minha vida, com tudo o que tenho – que não é


muito, mas todos os meus 5 pães e 2 peixes, coloco à Mesa de Deus -

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para que as palavras aqui tenham tudo a ver com Ele, e que os
ensinamentos do Rei, nos direcionem para aquela medicina que nem a
melhor faculdade do mundo seria capaz de nos oferecer – a como tocar,
consolar, amparar, compreender pessoas, curar almas, e trazer
esperança num cenário de tristeza, dor e morte.

O meu desafio: abra o seu coração e se torne quem Ele diz que
você é, e corresponda ao chamado de amar as pessoas.

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SUMÁRIO

Conhecendo o amor e os seus propósitos.............................................. 9


O início ............................................................................................ 10
Entendendo as metáforas de Deus ............................................... 13
A senhora ..................................................................................... 14
O primeiro apelo sobre humanização .............................................. 21
Aprendi que amar a Deus é amar as pessoas ...................................22
O primeiro amor: O pai e o filho ................................................. 23
O segundo amor: O marido e a esposa ........................................28
O terceiro amor: Os irmãos.......................................................... 31
Os primeiros envios ............................................................................ 35
Jesus ainda opera milagres aos sábados ..........................................35
O milagre inesperado no dia da aflição ...........................................48
Enquanto eu te uso, eu cuido de tudo .............................................. 55
Vento de poder para Esperança ....................................................... 62
O milagre na manhã seguinte .......................................................... 69
A primeira tempestade.....................................................................72
Encontre-me às 15h embaixo da Árvore da Vida............................ 75
As primeiras mortes ............................................................................ 83
O impacto da primeira autópsia....................................................... 84
Primeiras mortes no politrauma ...................................................... 85
Como os médicos morrem ............................................................... 88
Como os médicos morrem? ......................................................... 88
Aprendendo com as minorias .............................................................. 93

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Cegos que veem............................................................................... 93
Dor de médico ................................................................................. 95
Dor de inclusão ................................................................................ 98
Prostituição .................................................................................. 98
LGBTQIA+................................................................................ 100
Dor de desesperança ......................................................................101
Dor de aborto ................................................................................. 105
A minha dor por não ter sido como o Bom Samaritano ................ 107
As marcas do servir ........................................................................... 112
Limpando as feridas ......................................................................112
Segurando em meus braços ........................................................... 115
Tudo o que eu tenho é muito pouco .............................................. 116
Não se conforme ............................................................................ 117
Praticando a arte de ser humano ....................................................... 121
Ela não quer operar........................................................................121
“Se prepare, ela é muito complicada” ........................................... 123
Insônia da alma .............................................................................. 126
A borboleta ........................................................................................ 132
A minha borboleta e o seu significado .......................................... 134

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1 Conhecendo o
amor e os seus
propósitos
“Faze-me discernir o propósito dos teus preceitos; então meditarei
nas Tuas maravilhas.”

Salmos 119:27

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Medicando Almas | Conhecendo o amor e os seus propósitos

CONHECENDO O AMOR E OS SEUS PROPÓSITOS

A verdade é que, nós só vivemos e falamos a respeito daquilo


que previamente conhecemos. Dificilmente, há quem consiga discorrer
bem sobre assuntos que não domina, ou que tenha prática em algo que
nunca fez. Não tinha outra forma de iniciar “Medicando Almas”, senão,
falando sobre o Amor que Deus me permitiu conhecer antes de
ingressar na graduação de medicina.

Deus precisou me ensinar algo novo sobre o amor: a Sua forma


de amar as pessoas através de pessoas; a compreender como cada
indivíduo se sente amado, e a cooperar com isso - não como eu
penso/acredito/ou me sinto amada, mas conforme a necessidade de cada
pessoa que eu me disponibilizasse para amar.

As pessoas se sentem amadas de acordo com as suas


necessidades individuais, que são tocáveis e tangíveis apenas para quem
se permite despir de si mesmo, e vestir as vestes de semelhança do seu
próximo - sem preconceitos, sem julgamentos, sem juízo de valor.

Eu era uma alma ferida. Precisei ser primeiro medicada, para


então compreender “como” e a “importância de” medicar outras almas.
É algo semelhante ao projeto de um engenheiro: quem conhece a
importância dos cálculos no papel, sabe qual é o número necessário de
vigas para sustentar o prédio inteiro.

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Medicando Almas | Conhecendo o amor e os seus propósitos

Em outras palavras: quem conhece o projeto e faz parte dele,


sabe os meios necessários para executá-lo com sucesso.

Se desconheço esse tipo de amor, como posso colocá-lo em


ações e ser um instrumento que toca almas?

Parece estranho iniciar a leitura de um capítulo que fala sobre


“conhecer o amor e os seus propósitos”, já que todos nós amamos algo
ou alguém. Acontece, que essa manifestação de amor, também foi nova
para mim, e transformou tudo em meu interior e ao meu redor. Por isso,
o “início” é exatamente com a história que calculou todas as vigas do
projeto no papel.

O INÍCIO

“O Senhor faz tudo com um propósito.”

Provérbios 16:4

A história a seguir é fiel ao que aconteceu naquela manhã


chuvosa que marcou para sempre a minha memória, e repercutiu ao
longo dos anos. A ação simples de uma desconhecida – que eu daria
tudo para reencontrar e contar o que aquele guarda-chuva causou em
milhares de pessoas – foi o gatilho detalhista de Deus para me ensinar

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Medicando Almas | Conhecendo o amor e os seus propósitos

sobre amar as pessoas, as consequências e a importância de ter as


marcas desse amor em mim.

Naquela manhã, meu pai estacionou o carro do outro lado da


avenida. O céu estava nublado, e a formação de nuvens cinzentas
anunciava a chuva. Desci segurando diversos livros da biblioteca do
cursinho, e ao colocar os pés no asfalto, a garoa começou. Apressei os
passos para alcançar o semáforo verde. Sem sucesso. A chuva começou
a engrossar, e eu fiquei preocupada, afinal, estava molhando os livros
que não eram meus.

Parada no semáforo vermelho, fechei os meus olhos querendo


chorar – claro que hoje, parece besteira chorar porque está chovendo e
os livros molhando, mas naquele momento, outras coisas também
estavam acontecendo: 1) meu emocional estava totalmente abalado
naquele ano de cursinho; e 2) realmente, não tinha para onde fugir da
chuva no meio da avenida e salvar os livros. Foi mantendo meus olhos
fechados para segurar o choro, que eu senti alguém chegar ao meu lado.
Aquela pessoa tirou um guarda-chuva da bolsa e colocou sobre a minha
cabeça. Era uma senhorinha, cuja altura batia no meu ombro. Eu olhei
para ela sem conseguir dizer qualquer palavra. A luz do sinal ficou
verde para nós.

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Medicando Almas | Conhecendo o amor e os seus propósitos

Atravessamos juntas a chuva, e ela me levou até a porta do


cursinho, onde entrei seca.

Quando fui me despedir, eu lhe disse com voz embargada e


olhos embaçados “Deus te abençoe”, foram as únicas palavras que eu
consegui dizer, e era primeira vez dizendo-as também.

Talvez, a senhorinha não tenha entendido o motivo da minha


entonação, o choro preso na garganta, mas era a primeira vez que meu
coração falava por meus lábios, porque realmente, abençoar a vida dela
era todo o desejo da minha alma naquele instante. Ela sorriu com um
“amém” baixinho, e quando virou as costas para seguir o seu caminho,
vi que seus ombros estavam molhados.

Essa história tem oito anos, e o impacto dela em minha vida se


renova toda vez que eu lembro dos detalhes, porque Deus habita em
todos eles.

Deus marcou aquela manhã para me levar a uma aula prática


sobre o poder construtivo do amor; me ensinou a olhar com outros
olhos para as pessoas; a ceder o meu guarda-chuva.

E, é sobre os primeiros ensinamentos que envolveram esse dia e


fundamentaram tudo o que viria a seguir, que nós conversaremos neste
capítulo.
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Medicando Almas | Conhecendo o amor e os seus propósitos

ENTENDENDO AS METÁFORAS DE DEUS

A senhorinha – representa eu/você/o médico/o enfermeiro

Eu – representa o paciente

Os livros – a alma, o coração do paciente

O sinal vermelho – a doença

A chuva – a internação hospitalar/momento difícil da doença/momento


decisivo/ descoberta da enfermidade/ piora da condição

A porta do cursinho – a alta hospitalar, a cura, ou mesmo a morte, a


vida eterna

O guarda-chuva – A PRESENÇA, o amor, a humanidade

Os ombros molhados – as marcas do amor, a memória do testemunho


vivido.

Os momentos decisivos da vida geram expectativa por uma


manifestação de Deus, e inúmeras vezes, a forma como Ele tocará
alguém será através de um outro alguém.

Deus se apraz em tocar pessoas através de pessoas.

E, como podemos fazer parte disso?

Cedendo o nosso guarda-chuva.

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Medicando Almas | Conhecendo o amor e os seus propósitos

O “guarda-chuva” protegeu os livros da chuva.

O amor protege a alma durante os problemas enfrentados.


Somente o amor é capaz de atravessar a tempestade e levar o
“importante” até o seu destino.

Eu começava, então, a entender que se Deus é o amor, amar


seria a Sua manifestação.

Prestes a ingressar na faculdade de medicina, Deus abriu “o


livro dos ensinamentos”, da “conduta” do Médico dos médicos.
Contudo, o entendimento de cada situação vivida e presenciada não
aconteceu de forma imediata: houve uma construção paulatina, de
tijolinho em tijolinho sendo assentado a cada ano, para que pudéssemos
chegar no agora, e compreender a história.

Para isso, vamos olhar para cada personagem da memória que


vivi e entender o que Deus entregou como fundamento para, não
somente ser Médica de almas, mas ter alma de “médica”.

A SENHORA

Quando me dei conta de tudo o que Jesus estava me ensinando,


cheguei à conclusão de que todos os nossos momentos e dias vividos
colaboram com o projeto que o Pai escreveu para nós.

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Medicando Almas | Conhecendo o amor e os seus propósitos

A figura da senhora trouxe todo o entendimento de como


eu/você deveríamos ser/agir para cooperar com a Obra que nos foi
designada – independente de profissão, fomos chamados para a santa
vocação de amar as pessoas.

Se Ele me amou primeiro, eu quero amar como Ele me ama.

Realmente, Jesus chega aos lugares através de nós, e na


essência do cristão é possível encontrá-lo. Porém, para isso, entendi que
existia um pré-requisito.

Quando Jesus estava para ser traído e entregue às autoridades,


Judas precisou beijar o seu rosto, porque a fisionomia de Cristo fazia
dele semelhança do povo daqueles dias. Ele não chamava atenção, era
simples, singelo, pequeno por fora, incrivelmente gigante por dentro.

Lição número 01: Seja como a senhora.

Deus não escolheu uma pessoa imponente, jovem, de discurso


eloquente para me acolher naquele momento – aliás, a única palavra
que eu ouvi dela foi um “amém”. Ele enviou uma pessoa simples,
pequena em estatura, já avançada em idade, e totalmente próspera em
amor e humildade.

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Mas, como eu sei disso?

Sei, porque esses foram os frutos que a sua ação semeou em


mim – amor e humildade.

Deus escolheu alguém que não me constrangeria, não me


acuaria, não me faria ter medo, ou me sentir inferior. Deus escolheu
alguém, que naquele momento fosse capaz de, somente com a sua
presença, me transmitir conforto, segurança, e o sentimento de que
“não estou desamparada.”

Deus enviou alguém com tudo o que eu achei que precisava


naquele momento – um guarda-chuva. Deus enviou alguém com tudo
o que de fato eu precisava naquele momento – entender sobre esse
amor que serve, que ama porque ama, e o impacto dele.

“Ouçam, meus amados irmãos: Não escolheu Deus os que são


pobres aos olhos do mundo para serem ricos em fé e herdarem o Reino
que ele prometeu aos que o amam?”

Tiago 2:5

“Dentre todos os povos da face da terra, o Senhor os escolheu


para serem o seu tesouro pessoal.”

Deuteronômio 14:2

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Medicando Almas | Conhecendo o amor e os seus propósitos

“Portanto, como povo escolhido de Deus, santo e amado,


revistam-se de profunda compaixão, bondade, humildade, mansidão e
paciência.”

Colossenses 3:12

"Pois muitos são chamados, mas poucos são escolhidos".

Mateus 22:14

“Vocês não me escolheram, mas eu os escolhi para irem e


darem fruto, fruto que permaneça, a fim de que o Pai conceda a vocês
o que pedirem em meu nome.”

João 15:16

O que aquela senhora fez foi uma semeadura, que permitiu o


crescimento de uma árvore frondosa, afinal, estamos conversando nas
linhas deste livro, e entendendo a grandiosidade de sermos
pequenos.

E, sabe do mais? Foram as coisas ordinárias que mudaram o


mundo. Foi uma adolescente simples, solteira, que através do seu ventre
deu à luz a Jesus. Maria não precisou ter algo extraordinário para Deus
usar a sua vida. Maria apenas se disponibilizou por inteiro.

"Tudo o que temos aqui são cinco pães e dois peixes".

Mateus 14:17

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O que aquela senhora tinha de especial?

O que ela fez de extraordinário?

Ela tinha apenas 5 pães e 2 peixes. No caso, um coração de


serva e um guarda-chuva. Tudo que ela tinha estava disponível para
Deus, assim, o Senhor lhe deu a oportunidade de fazer o que fez: dividiu
o seu pão, e embora ela não saiba, a multiplicação do que parecia
pouco, foi extraordinária.

Com Deus, o pouco é muito.

O que entendemos?

Entendemos que Deus só precisa de pessoas simples,


disponíveis, humildes, com o que elas já têm em suas mãos. Você não
precisa de mais alguma coisa, mais algum talento, ou mais algum
recurso para fazer o que precisa ser feito para Deus.

Deus precisa somente do seu ordinário, e então Ele entra em


cena e acrescenta o “extra” à frente.

Por quê? Porque antes mesmo de você chegar, Ele já está.

EXTRA – ORDINÁRIO.

Algo que eu achei incrível, foi Deus não me colocar como


agente do Seu serviço ali, mas como paciente, para que eu pudesse
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entender a relevância de receber um cuidado humano simples, e a


repercussão que isso construiria na minha história e a posteriori.

As pessoas naturalmente enfrentam problemas e preocupações


diárias. São muitas as causas que as fazem parar por conta de um sinal
vermelho que acendeu ao longo da jornada. Durante os anos, acaba
sendo até esperado que novamente o sinal se feche, o que muda tudo
é quando “começa a chover.”

Percebi claramente o que acontece quando as pessoas


recebem um diagnóstico médico, quando enfrentam o fim de um
relacionamento, a morte de uma pessoa querida, a mudança de
vida, o próprio enfrentamento da doença. Muitas dúvidas surgem,
sentimentos novos, e a sensação de estar sozinho é comum em todas
elas.

Durante todo o percurso, a preocupação acaba sendo a respeito


da própria vida, do futuro, daquilo que virá a seguir, o eu interior, quem
eu sou, o que sinto e o que acredito - “não chova nos livros”. Algo ainda
mais profundo que me veio, foi quando entendi que: os livros não eram
meus.

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Medicando Almas | Conhecendo o amor e os seus propósitos

Eu chorei ao perceber, que eles metaforizaram toda a minha


história em minhas mãos, e todo o meu destino - a Eternidade, minha
alma, meu espírito.

A preciosidade esteve em ter alguém para atravessar comigo


a chuva quando o sinal abriu. Ajudar a proteger o importante, e seguir
com as marcas invisíveis em seus ombros. Afinal, a chuva secou, e o
que marcou foram as lembranças.

Eram as marcas do servir a Cristo. Ter em nós as Suas marcas,


e a certeza de que por amor escolhemos caminhar com outro filho
durante “a fase decisiva”, levá-lo ao “destino final”, e ainda seguirmos
a nossa jornada.

APLICAÇÃO NA MEDICINA

O médico tem, diariamente, a oportunidade de ser a pessoa que


atravessará a chuva com o doente. Ceder seu “guarda-chuva” envolve
muito mais do que os seus conhecimentos técnicos. Envolve os anos de
vida dedicados e gastados em estudos. Porém, mais poderoso do que
isso, é o seu querer, em de fato escolher olhar para o seu paciente com
olhos humanos.

✓ Em momentos decisivos, onde há tantas dúvidas e


incertezas, medicar a alma de alguém é parte fundamental para o bom
prognóstico.
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Medicando Almas | Conhecendo o amor e os seus propósitos

O PRIMEIRO APELO SOBRE HUMANIZAÇÃO

Então, alguns anos depois, eu entrei na faculdade de Medicina,


e na primeira semana de aula, uma professora nos disse “Eu espero que
vocês se formem com pelo menos 10% do amor que vocês entraram.”
Eu me formei.

Não tem livro médico para te ensinar a amar as pessoas, a de


fato se colocar no lugar delas. É a sua decisão; é escolher doar o seu
guarda-chuva, mesmo que molhe os seus ombros.

APLICAÇÃO PARA A VIDA

O amor é mais que as suas palavras, e será mais do que as suas


ações.

A gente aprende a amar quando o bem-estar do outro é tão


importante quanto o nosso. Inúmeras vezes, o formato do amor é a
renúncia.

A medicina me ensinou muitas coisas. Mas, não me ensinou a


continuar amando as pessoas: ela me deu oportunidades extremas de
resgatar em mim a minha essência.
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Não é o lugar que faz o que somos, é a nossa decisão.

Você pode trabalhar num ambiente ruim, morar num local ruim,
frequentar lugares ruins, mas o que definirá se você será um alguém
“bom” ou não, são as suas escolhas. Escolha amar.

Aquele pequeno gesto realizado há 8 anos mudou a minha vida.


Eu jamais esqueci, tanto é que estou aqui contando para vocês.

Lembre-se: Existem renúncias que valem a pena - ceder um


guarda-chuva pode molhar os seus ombros, ao mesmo tempo que salva
a história e o futuro de alguém.

Aquela senhora salvou a Médica de almas.

Quanto de simplicidade você poderia ter feito em amor e


deixou de fazer”?

APRENDI QUE AMAR A DEUS É AMAR AS PESSOAS

O próximo passo na jornada deste capítulo, após firmarmos


nosso alicerce em como as coisas acontecem e como podemos ser
agentes transformadores de vidas, é compreender onde estão esses
fundamentos.

Nós iremos reconhecer o amor.

Deus usou logo nos primeiros meses na faculdade, a vivência


diária para me mostrar o amor. Não foram histórias em que eu fiz algo,
Ele me levou definitivamente e tão somente para ver e registrar isso.
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O PRIMEIRO AMOR: O PAI E O FILHO

“Filhinhos, não amemos de palavras nem de boca, mas sim de


atitudes e em verdade. Desta forma, saberemos que somos da Verdade
e acalmaremos o nosso coração na presença dele.”

1 João 3:18-19

Não duvide daquilo que queima no seu coração, Deus não erra.

Essa frase que vocês tanto conhecem, porque sempre a


menciono no @medicadealmas e que marcou “Chamados para a
Medicina”, veio ao meu coração quando eu vivi a história que contarei
a seguir. Naquela terça-feira, Deus me levou para ver e testemunhar
do amor entre pai e filho, e os seus propósitos.

O relato foi escrito no mesmo dia em que tudo aconteceu,


presumi que seria importante lermos como a Hellena do 1° período de
Medicina sentiu e viveu tudo isso.

Diariamente, tenho estado entre os leitos das enfermarias dos


hospitais. Ainda me sinto insegura para conversar com os pacientes,
porque sei muito pouco de medicina, e eles estão em fases complicadas
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Medicando Almas | Conhecendo o amor e os seus propósitos

das doenças. Mas, o que tenho em mim já construído disponibilizo


para as pessoas que encontro por esses corredores e quartos.

O dever acadêmico me colocou aqui dentro, porém, são os


propósitos de Deus que têm norteado a minha vida. Tenho percebido
que o acaso nunca existe, e a história de cada vida é essencialmente
sobre Deus, e vem com um toque diferente sobre mim; há um
aprendizado especial que toca a minha alma, um sentimento que me faz
querer ouvir e permanecer, com a certeza de que um dia levarei tudo
isso adiante para inspirar, transformar, motivar e trazer esperança.

Hoje, eu passei pelos quartos procurando o paciente que visitei


na segunda-feira. Acabei não guardando o número da porta, e por isso,
entrei em todos, até que cheguei à penúltima porta, e vi uma cena que
me impressionou: havia um senhor amarelinho – eu estava conhecendo
a icterícia -, de aspecto gentil, e muito enfermo. Ao seu lado, estava um
menino fazendo a sua barba com muito amor. Quando eu digo muito
amor, reitero, era muito amor. Eu nunca tinha visto um amor assim, a
ponto de senti-lo de forma palpável, e de ficar emocionada. Foi esse
amor que me fez permanecer ali.

Apressei em me apresentar toda empolgada, e logo perguntei o


que estava adoecendo aquele homem. A história veio. Quem me
contou foi o menino, que carregava ternura em cada palavra a respeito
daquele homem. Eu imaginei que fosse algum parente, filho, sobrinho,
algo assim. Então, quis saber mais sobre aquela ligação de amor “É o
seu pai?”, e ele me respondeu “Eu tenho certeza de que nasci do
coração dele.” Percebi que tinha um algo a mais a ser dito, assim me
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Medicando Almas | Conhecendo o amor e os seus propósitos

inclinei interessada em ouvir. O jovem continuou “Ele


verdadeiramente me amou como pai. Ninguém mais acreditava em
mim. Eu era um menino desamparado, jogado pelas ruas da cidade,
usando cocaína e outras coisas. Quando estava desistindo de tudo, ele
me encontrou, me levou para a sua casa, cuidou de mim, e me contou
sobre um Deus que me ama. Ele me fez conhecer Jesus.” Eu estava
extasiada.

Conforme o menino falava, aquele senhor ia me olhando e


complementando a história. Ele era pastor, e o seu grande sonho era
ser pai, porém era estéril. Decidiu durante a sua juventude que
socorreria pessoas em situação de rua, que estivessem, por algum
motivo, se sentindo “órfãos”. Construiu uma casa de reabilitação.
Passou 40 anos transformando vidas. Contou que da sua infertilidade
Deus lhe deu mais de 50 filhos, e que todos o tratavam com esse
mesmo amor. Não existe erro, é tudo parte de um plano perfeito.

Existe um Projeto que vai além daquilo que pode ser visto ou
esperado.

Biologicamente incapaz de gerar filhos, mas por amor e


disponibilidade, trouxe vida ao que estava perdido e morto.

A terra fértil para o amor, produz uma multidão de frutos.

Quando Deus me levou como expectadora para essa história, Ele


estava me conduzindo pela aula teórica a respeito do amor.

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Medicando Almas | Conhecendo o amor e os seus propósitos

Aquele senhor nunca foi estéril para Deus. Na verdade, a sua


aparente infertilidade era apenas uma oportunidade para a Glória de
Deus se manifestar com poder, afinal, poderia um casal natural gerar
e cuidar de 50 filhos?

1) O amor traz à tona a nossa fertilidade.

O amor faz fértil o infértil.

Entendi que Deus nos presenteia com as oportunidades diárias


para descobrirmos que Ele nos criou para gerar – vida, esperança,
amor, empatia. Seremos inférteis apenas se quisermos.

2) O amor é a alavanca que muda a história.

“Porque Deus amou ao mundo de tal maneira que deu o seu


filho unigênito, para que todo o que nele crê não pereça, mas tenha a
vida eterna.”

João 3:16

Somente quando eu escrevi a lembrança do que ouvi “Ninguém


mais acreditava em mim... estava desistindo de tudo, ele me encontrou,
me levou para a sua casa, cuidou de mim, e me contou sobre um Deus
que me ama. Ele me fez conhecer Jesus.” É que eu fui entender a
sequência poderosa dos verbos “encontrar”, “levar para a casa”,
“cuidar” e “revelar o Amor (intrínseco em ‘Ele me fez conhecer
Jesus’”, que é exatamente o que Deus faz conosco; é assim que o amor
do Pai chega até nós através do Filho.
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Medicando Almas | Conhecendo o amor e os seus propósitos

E, para mim, foi maravilhoso ver através de pessoas, toda essa


manifestação sendo possível, real e palpável. Ou seja, passei a
entender que eu poderia ser esse tipo de instrumento também: o que
encontra, leva para a casa, cuida, ama e apresenta o Amor.

“Desde quando eu era criança, ouvi falar de um Deus que abriu


o Mar Vermelho; lutava pelos seus contra feras e gigantes, reinos e
nações. E, eu me encantava cantando suas canções. Mas, o tempo foi
passando e eu não quis ouvir, preferi seguir meus rumos, tentei de Deus
fugir. Mas, no final do meu caminho, não conseguia mais andar e senti
a Sua presença convidando-me a voltar. Senhor quero me entregar.
Nos Teus caminhos quero andar, e segurar a Tua mão e receber o Teu
perdão. Eu quero ser a voz que eu ouvia em minha infância. E, vou
cantar que não há distância que te possa afastar.” Volta – Leonardo
Gonçalves

3) O amor gera frutos verdadeiros e que permanecem.

“O amor nunca perece.”

1 Coríntios 13:8

No momento decisivo da vida do senhor, - enfrentamento da


doença, internação hospitalar- foi um dos filhos do amor que esteve
ao seu lado, e que semeou vida na minha história. Porque foi esse o
amor que me atraiu para aquele quarto: do filho pelo pai, que era o
próprio fruto do amor do pai pelo filho.
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Medicando Almas | Conhecendo o amor e os seus propósitos

Deus me levou primeiro para conhecer o amor do Pai pelo


Filho e a resposta do Filho em amor ao Pai, para depois me levar a
compreender o amor do Noivo pela noiva, e o amor entre irmãos.

“Nisto consiste o amor: não em que nós tenhamos amado a


Deus, mas em que ele nos amou e enviou seu Filho como propiciação
pelos nossos pecados. Amados, visto que Deus assim nos amou, nós
também devemos amar uns aos outros. Ninguém jamais viu a Deus; se
amarmos uns aos outros, Deus permanece em nós, e o seu amor está
aperfeiçoado em nós.”

1 João 4:10-12

"Qual pai, do meio de vocês, se o filho pedir um peixe, em lugar


disso lhe dará uma cobra? Ou, se pedir um ovo, lhe dará um escorpião?
Se vocês, apesar de serem maus, sabem dar boas coisas aos seus filhos,
quanto mais o Pai que está nos céus dará o Espírito Santo a quem o
pedir!"

Lucas 11:11-13

O SEGUNDO AMOR: O MARIDO E A ESPOSA

Deus não trabalha com um depósito bagunçado, onde as coisas


vão sendo jogadas. Deus trabalha com uma construção arquitetônica,
planejada, onde cada material tem um propósito para estar onde está.
Deus, com suas próprias mãos, cria os detalhes.

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Medicando Almas | Conhecendo o amor e os seus propósitos

Durante o processo, aquele que permanece com os olhos fixos


no Alvo e se atenta aos detalhes de Deus, passa a compreender o
significado das coisas.

Eu estava com um grupo pequeno de alunos acompanhando as


atividades de habilidades médicas no hospital. O professor nos levou à
ala feminina, onde havia uma moça em estado comatoso há quatro
meses. A sua história era bem triste: ela havia casado no último ano e
sonhou com sua gravidez. Chegou ao hospital carregando gêmeos em
seu ventre, e seu organismo entrando em “pani” – crises convulsivas
associadas a picos hipertensivos - era uma eclâmpsia. Evoluiu
rapidamente para uma parada cardiorrespiratória que foi revertida. A
falta de oxigenação cerebral durante os minutos de parada trouxe as
sequelas irreversíveis que a fizeram permanecer naquele leito há meses
sem respostas.

Ao lado dela estava o marido. Ele a conhecia por inteiro.


Enquanto falava conosco, seus olhos sempre voltavam para ela. Era
algo muito poderoso. Era o amor genuíno do “noivo” pela “noiva”. E,
foram os olhos de amor dele por sua esposa que me envolveram. Eu
não conseguia ver outra coisa; sentir algo diferente, além daquele
amor que queimava em sua alma.

“A candeia do corpo são os olhos; de sorte que, se os teus olhos


forem bons, todo o teu corpo terá luz.”

Mateus 6:22

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Medicando Almas | Conhecendo o amor e os seus propósitos

Eu olhei em seus olhos e vi o que havia em seu coração.

O professor fez suas explicações e partiu para outro leito. Tive


que acompanhar devido as responsabilidades, mas não conseguia ouvir
mais, eu estava lembrando dos olhos daquele marido. Arrastei uma
colega de turma comigo e voltei.

A moça estava com o corpo emagrecido, padecendo por estar


numa cama há tanto tempo, e ele a amava independente de saúde ou
doença. Independentemente de estar bonita. O amor dele não estava
preso a um corpo. Naquele leito de hospital, era somente ela, e isso
bastava para ele: a sua amada. Ele a amava, e ponto. Era algo
independente de tudo e apesar de nada, era real e permanecia imutável.

Me contou que cuidava junto com sua mãezinha dos gêmeos que
nasceram. Ele falava dela, e com ela, como se ela estivesse saudável e
intacta como nós. Me mostrou as úlceras de pressão, os músculos que
tinham desaparecido. E, mesmo assim, em seus olhos eu só podia
encontrar o amor. Disse para ele: “O seu amor por ela, me fez voltar.
Orarei por você e sua família.” Ele começou a chorar. Era da
Congregação Cristã no Brasil, e a igreja estava unida em oração em
várias cidades, e agora eu chegava também, para unir a minha fé a deles.

Deus novamente estava me levando para entender o amor que


transcende o tocável. Um amor que não se prende a matéria, mas
que permanece eternamente. Agora, era o poder do amor do Noivo
pela Igreja sendo manifestado num marido por sua esposa. Ele a amava
independente do seu estado, ou do que ela tinha para lhe
oferecer/retribuir.
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Medicando Almas | Conhecendo o amor e os seus propósitos

Fui enviada para testemunhar a respeito do amor livre de


interesses, e que não espera algo em troca. Um amor tão maduro, a
ponto de salvar.

“Não importa aonde eu for, vou testemunhar do amor, como em


toda a natureza, erguerei o meu louvor. Vivendo para servir, dando
glórias ao Senhor, enquanto eu viver, vou testemunhar do amor.”
Testemunhar do amor – Coral UNASP

O TERCEIRO AMOR: OS IRMÃOS

“Deus entrou aqui”

Foi o que eu escrevi em minha mão naquele dia, para nunca mais
esquecê-lo. Deus havia entrado em nosso consultório naquela tarde. Ele
tinha cabelos brancos, disartria, marcas do tempo em sua pele, cimento
em seus sapatos e um olhar de criança.

Sua história era bem triste: aos nove meses de idade caiu num
tanque de água, demorou para ser socorrido e a hipóxia cerebral
resultou num atraso cognitivo.

Ele entrou no nosso consultório acompanhado pelo irmão de


idade próxima e que dedicava toda uma vida aos seus cuidados.

“A nossa família inteira é nós dois.”

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Medicando Almas | Conhecendo o amor e os seus propósitos

Foi automático. Eles entraram, e eu senti a Presença gloriosa de


Deus. Peguei a caneta e escrevi em minha mão “Deus entrou aqui.”

Aproveitei cada segundo do atendimento contemplando a


grandeza e o amor de Deus naquelas vidas. Naquele sorriso de criança
num rosto de 70 e tantos anos.

Sabe o que ele era? Grato! Ele era grato!

Quanto amor eu pude testemunhar. Jamais me esquecerei.

Eu sempre peço a Deus: “Pai querido, não permita que eu deixe


de reconhecer a Tua Santa presença. Jesus, por favor, que eu possa
contemplar as Tuas histórias!”

“Amados, amemos uns aos outros, pois o amor procede de


Deus. Aquele que ama é nascido de Deus e conhece a Deus.”

1 João 4:7

“Se alguém afirmar: "Eu amo a Deus", mas odiar seu irmão, é
mentiroso, pois quem não ama seu irmão, a quem vê, não pode amar a
Deus, a quem não vê. Ele nos deu este mandamento: Quem ama a Deus,
ame também seu irmão.”

1 João 4:20-21

O incrível foi Deus usar personagens literais, pai e filho, esposo


e esposa, irmãos, para mostrar as suas formas de amar e os frutos disso.
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Medicando Almas | Conhecendo o amor e os seus propósitos

“E quando o Filho do homem vier em sua glória, e todos os


santos anjos com ele, então se assentará no trono da sua glória; E todas
as nações serão reunidas diante dele, e apartará uns dos outros, como
o pastor aparta dos bodes as ovelhas; E porá as ovelhas à sua direita,
mas os bodes à esquerda. Então dirá o Rei aos que estiverem à sua
direita: Vinde, benditos de meu Pai, possuí por herança o reino que vos
está preparado desde a fundação do mundo; porque tive fome, e destes-
me de comer; tive sede, e destes-me de beber; era estrangeiro, e
hospedastes-me; Estava nu, e vestistes-me; adoeci, e visitastes-me;
estive na prisão, e foste me ver. Então os justos lhe responderão,
dizendo: Senhor, quando te vimos com fome, e te demos de comer? ou
com sede, e te demos de beber? E quando te vimos estrangeiro, e te
hospedamos? ou nu, e te vestimos? E quando te vimos enfermo, ou na
prisão, e fomos ver-te? E, respondendo o Rei, lhes dirá: Em verdade
vos digo que quando o fizestes a um destes meus pequeninos irmãos, a
mim o fizestes.”

Mateus 25:31-46

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2 Os primeiros
envios
“Vocês receberão o Espírito Santo, e, quando Ele vier, vocês serão as
minhas testemunhas em Jerusalém, toda Judeia e Samaria, e até
mesmo os confins da Terra.’”

Atos 1:7-8 Versão A mensagem

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Medicando Almas | Os primeiros envios

OS PRIMEIROS ENVIOS

“Agora, a questão é a minha decisão para dizer ‘Senhor, eu


entendo que é perfeito. Eu entendo que não tem a ver com pessoas que
são muito melhores do que eu; tem a ver com Você que é perfeito em
tudo o que faz; a semente foi o Senhor que plantou.’

Deus não chamou para esse tempo só pregadores, cantores,


pastores, missionários. Deus chamou para o nosso tempo, médicos,
psicólogos, advogados... Eu creio, e, eu vi isso com os meus olhos:
médicos cheios do Espírito Santo, que ao final da consulta dizem ‘Eu
posso orar por você também?’. Sabe o que é isso? É gente cheia do
Espírito Santo, plantada no lugar certo para dar frutos.”

Deive Leonardo

Para este capítulo, selecionei algumas histórias que marcaram o


início da jornada médica com Jesus, onde Ele ensinou a amar e como
amar as pessoas.

Após, o próprio Deus me visitar em situações do cotidiano,


revelando o Amor e os seus infindáveis e maravilhosos propósitos, Ele
me levou para viver “medicando almas” ao Seu lado; me mostrou o
quanto de cura pode ser carregado em pequenos gestos, e na
simplicidade de “somente” estar presente com a Presença.

JESUS AINDA OPERA MILAGRES AOS SÁBADOS

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Medicando Almas | Os primeiros envios

A história a seguir é fiel ao que aconteceu naquele dia. Era o


primeiro sábado no hospital, algo totalmente fora da nossa agenda
acadêmica, porém, totalmente dentro da agenda Divina. Os nomes não
são reais e algumas informações foram alteradas, a fim de manter a
privacidade, o sigilo médico e a ética, contudo, sem perder a essência
e a veracidade dos fatos vivenciados.

Sábado, 2016

Eu precisava escrever. Porque eu preciso fazer a minha parte.


Mas, antes, quero lhe dar a oportunidade de escolha: ler ou não a
história que virá a seguir. O que tenho para contar é a respeito de
Deus. Não tenho a intenção de convencê-lo sobre algo, ou mudar seus
pensamentos e ideologias. Apenas, gostaria de compartilhar o que vivi
há 48h, como uma boa memória.

A partir deste momento, você escolhe dar sequência a esta


leitura, ou encerrá-la neste ponto final.

Para você que continuou, proponho uma reflexão acerca das


“coincidências” corriqueiras que nos visitam ao longo da vida. Quando
a primeira acontece, sugerimos o acaso. Quando a segunda chega,
ativamos a desconfiança. Porém, quando vivenciamos a terceira, a
quarta, a quinta... Não tem como não ver Deus. Não existe física que
explique tantos raios caindo num mesmo ponto.

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Medicando Almas | Os primeiros envios

Primeiro, porque não existe um acaso perfeito.

Segundo, porque não existe um acaso que seja capaz de


conectar tamanhos detalhes numa sequência linear de fatos que
cumpram a agenda de um propósito específico. A minha própria
mente racional me impede de chamar de “coincidência”, e talvez,
isso também se deva ao fato de eu não acreditar que elas existam.

Eu vejo o mundo como uma grande rede de porquês. Acredito


no sentido das coisas, desde as mais simples às mais complexas.
Acredito na razão de existir.

Sábado combinei com uma amiga de irmos ao hospital fazer


nossos exames clínicos. Acreditávamos que a escolha por aquela
manhã de sábado fosse fruto de nossas vontades, e que o motivo seria
cumprir com a agenda acadêmica – aprender sobre anamnese, exame
físico e raciocínio clínico. Mas, quando tudo aconteceu, me dei conta,
de que, se fosse de acordo com as nossas medíocres vontades
humanas, permaneceríamos dormindo em nossas casas.

“E, voltando para os discípulos, achou-os dormindo; e disse a


Pedro: Então, nem uma hora pudestes vós vigiar comigo?”

Mateus 26:40

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Medicando Almas | Os primeiros envios

Inúmeras vezes, tomei decisões diferentes daquelas que eu


naturalmente tomaria, e enquanto executava essas decisões, eu me
questionava “Por que estou fazendo isso mesmo? A minha escolha seria
“B”, e numa atmosfera de paz eu optei por “A”, que sai completamente
da minha zona de conforto.”

Sem falhar, em todas essas vezes, eu estava me inclinando


para cumprir com a vontade e a agenda de Deus para com a minha
vida, e eu só consegui compreender os detalhes de tudo depois.
Aquelas escolhas “diferentes”, eram o cumprimento das escolhas
do Senhor.

Aquele que busca a vontade de Deus, recebe do Céu o


direcionamento certeiro para cumprir com a agenda Divina.

“Instruir-te-ei e te ensinarei o caminho que deves seguir; e, sob


as minhas vistas, te darei conselho.”

Salmos 32:8

Na sexta-feira à noite, me dirigi ao quarto dos meus pais e


perguntei o horário em que meu pai trabalharia no dia seguinte, para
tentar uma carona com ele para o hospital. Como o horário era
incompatível, fiquei apreensiva quanto às dificuldades de transporte
que eu enfrentaria para me deslocar e chegar no horário combinado:
seria necessário sair de casa duas horas antes, caminhar alguns
quilômetros na beira da rodovia, até chegar ao ponto de ônibus
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Medicando Almas | Os primeiros envios

mais próximo – nessa época ainda não existia o serviço de transporte


por aplicativo – para pegar uma linha que não me levaria até o meu
destino, mas seu ponto final distaria 20 minutos de caminhada do
complexo hospitalar.

Eram motivos que obviamente me fariam desistir, visto que, eu


poderia muito bem fazer as anamneses durante a semana depois de
alguma aula. O que mudou tudo é que o “Plano” não era esse.

Sai apressada de casa e levei uma Bíblia comigo. Chegando na


faculdade, coloquei todas as minhas coisas no armário. Porém, no
instante que virei a chave para fechar, voltei atrás, peguei novamente a
bíblia, e decidi que a levaria comigo. Dessa forma, duas coisas novas
estavam acontecendo (1) estar no hospital em um sábado, e (2) levar a
bíblia comigo para o atendimento.

Subimos para um dos andares das enfermarias de clínica


médica, e procuramos pela enfermeira chefe do setor. Eu estava
interessada em ouvir e examinar um paciente que fosse recém-chegado,
para não incomodar aqueles que estavam internados há mais tempo,
sendo atendidos por diversos profissionais todos os dias. Ao indagá-la
sobre os novos pacientes, a enfermeira referiu alguns casos que
poderiam nos ajudar, e fez uma repreensão a respeito de visitar uma
determinada paciente. Ela disse: “Só vou pedir para vocês não
visitarem uma pessoa, porque ela está morrendo.” Não precisou de
mais palavras, algo despertou dentro de mim, porque de alguma forma,
existia naquele andar alguém mais enfermo que os demais. Um
reboliço dentro do meu coração se iniciava. Então, eu disse: “Mas é essa
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que eu gostaria de ver, eu posso orar por ela.” A enfermeira repetiu:


“Eu estou dizendo para não irem até ela.”

Aquilo ficou dando voltas dentro de mim. Pedi mais detalhes


sobre a condição de saúde. Apenas me informou que a paciente era
oncológica em estágio terminal.

Visitamos um paciente. Ouvimos. Conversamos. Examinamos.


Mas, “aquela-uma-que-não-podíamos-visitar” permanecia em meus
pensamentos.

Em direção a ala feminina, vi na enfermaria dois médicos


residentes, e quis perguntar para eles sobre “aquela-uma-que-não-
podíamos-visitar”. Os dois disseram que realmente não deveríamos e
não poderíamos, pois a paciente já estava exclusivamente em cuidados
paliativos, sendo aquelas as suas últimas horas de você, e que não
teríamos “nada para fazer por ela, além de atrapalhar.” A conversa
de todo, embora péssima, valeu, porque conseguimos o número do
quarto, mas, ainda assim, não sabíamos qual o leito, o nome, a idade ou
qualquer coisa que servisse para encontrá-la. Não desejavam mesmo
que chegássemos nela.

O que os residentes e a primeira enfermeira não entenderam era


que não queríamos a história ou o exame daquela paciente. Eu queria
algo que ainda não compreendia. Eu apenas sabia que alguma coisa
se agitava dentro de mim, e que se fosse embora sem vê-la, eu não
ficaria bem.

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Medicando Almas | Os primeiros envios

Diante dos empecilhos, eu sabia que não tinha o que ser feito
pela minha própria vontade, ainda mais ações que tinham a ver com
Deus, que envolveriam o Seu nome – afinal, o desejo era única e
exclusivamente de levar amor, fé e conforto espiritual. Então, aquela
Bíblia que no último minuto não tranquei no armário voou para as
minhas mãos, e com muita fé e temor, comecei a orar e pedir a Deus
que me mostrasse o que Ele estava esperando de mim.

“Me conte os teus segredos, e eu vou corresponder. Fazer a


Tua vontade é o meu querer.”

Três vezes eu abri a bíblia, e três vezes palavras vinham para


aquela paciente que eu não conhecia e não sabia nem ao menos o nome.

"Tudo tem o seu tempo determinado, e há tempo para todo o


propósito debaixo do céu. Há tempo de nascer, e tempo de morrer;
tempo de plantar, e tempo de arrancar o que se plantou; Tempo de
matar, e tempo de curar; tempo de derrubar, e tempo de edificar;
Tempo de chorar, e tempo de rir; tempo de prantear, e tempo de
dançar; Tempo de espalhar pedras, e tempo de ajuntar pedras; tempo
de abraçar, e tempo de afastar-se de abraçar; Tempo de buscar, e
tempo de perder; tempo de guardar, e tempo de lançar fora; Tempo de
rasgar, e tempo de coser; tempo de estar calado, e tempo de falar;
Tempo de amar, e tempo de odiar; tempo de guerra, e tempo de paz. Eu
sei que tudo quanto Deus faz durará eternamente; nada se lhe deve
acrescentar, e nada se lhe deve tirar; e isto faz Deus para que haja
temor diante dele.”

Eclesiastes 3
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"E o mundo passa, e a sua concupiscência; mas aquele que faz


a vontade de Deus permanece para sempre.”

1 João 2:17

" E Jesus, ouvindo isto, disse: Esta enfermidade não é para


morte, mas para glória de Deus, para que o Filho de Deus seja
glorificado por ela.”

João 11:4

Eu estava com muito medo, e me sentindo fraca na fé.

Pensei em mandar mensagem para a minha tia, que sempre me


ajudava com orações. Disse a ela o que estava em meu coração “ceder
minha fé, e a minha disponibilidade para orar por um paciente que a
equipe estava considerando muito grave.” Ela me aconselhou, e disse
que eu deveria ir até lá e orar, que ela estaria orando por mim.

Mas, eu estava com medo. Mas, estava me sentindo fraca. Mas,


principalmente, com medo: medo de chegar no quarto que não era
para eu entrar; medo de não ser bem recebida; medo de não conseguir,
ou não saber orar. Contudo, o meu medo de não corresponder ao que
Deus estava colocando no meu coração era muito maior.

O relógio corria e eu não me decidia em ir. Tinha horário para


pegar o ônibus e voltar, e não poderia passar da hora. Olhava para minha
amiga e falava “Ana, estou com medo. E isso me entristece, pois se
estivéssemos cheias de Deus o quanto Ele anseia, o amor pelas vidas
preencheria esse lugar.”
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“No amor não existe medo; antes, o perfeito amor lança fora o
medo. Ora, o medo produz tormento; logo, aquele que teme não é
aperfeiçoado no amor.”

1 João 4:18

Não faltava coragem. Faltava amor.

Aconteceu que, enquanto passávamos pelo corredor, uma


fisioterapeuta saiu do quarto da paciente. Apressei-me em chamá-la e
perguntei todas as informações. Enquanto eu falava e ela me ouvia,
encontrei Jesus em seus olhos. Ela me olhou com carinho, conseguiu
me transmitir sem dizer nenhuma palavra o forte sentimento de
compaixão pelas vidas que lá estavam. Assim que ela me disse o nome
e o leito “daquela-que-não-podíamos-visitar’, restou em seu semblante
uma dúvida “mas por que você está tão interessada nessa paciente?”,
eu respondi “Olha, eu apenas sei que não posso ir embora, se antes eu
não for até ela”. A resposta foi uma melodia suave em meus ouvidos
“Pois então, se é o seu coração que está lhe dizendo, e você está
ouvindo, você precisa ir mesmo”.

Juntei todos os meus medos e a preocupação com o horário,


olhei pra Ana e falei: “Eu vou pegar minha Bíblia, e se eu abrir e estiver
escrito “vai”, eu vou”. Era uma aposta falida. Abri.

“Vai e se alguém lhe chamar diga: Fala Senhor, porque teu


servo ouve”.
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Medicando Almas | Os primeiros envios

Ana arregalou os olhos dizendo: “Agora vai, menina!”.

Dentro de mim eu falava para Deus: “Pai, eu não preciso de


plateia para fazer o que estou sentindo, eu só preciso chegar até ela e
orar no mais íntimo do meu coração, porque eu sei que o Senhor já está
aqui. Ninguém precisa ver, contanto que o Senhor veja.”

Quem acompanhava a moça enferma era o seu filho, que


chorava ao seu lado.

De frente para o quarto, enquanto eu fechava e guardava a minha


Bíblia, o filho saiu. Sem demora, entrei sozinha, me dirigi até o leito
dela, coloquei minhas mãos na grade de metal que protege a cama, e
orei no silêncio da minha alma, com toda a minha fé. Ao som do
“Amém” em minha mente, o filho retornou. Seus olhos eram
assustados, vermelhos e chorosos. Eu não precisei perguntar grandes
coisas, bastou o nosso encontro de almas através das nossas pupilas.

Ele olhou para as minhas mãos encostadas na cama, e constatou


chorando “Você é cristã também.” Claramente, ele havia reconhecido
Jesus naquele ambiente. Comecei a falar “Eu sou sim. Não consegui ir
embora sem antes vê-la. Posso partilhar algo com você, que está no meu
coração?”, ele fez que sim. Dessa forma, eu comecei “Sabe, acima de
qualquer diagnóstico está o nosso Deus, pois Ele é o Médico dos
Médicos, e assim como está escrito no evangelho de João, ‘Eis que essa
enfermidade não vem para a morte, mas para a vida’, eu acredito que
Deus tem o milagre certo e a hora certa para operar, pois há um
tempo determinado para todas as coisas, e Deus não perde o
controle de nenhuma delas. Ele sabe quando o milagre “certo” é a
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Medicando Almas | Os primeiros envios

cura física, e sua mãe pode levantar deste leito e confundir todos os
médicos. Mas, Deus também sabe quando o maior milagre é a cura da
alma, do espírito, a salvação que já está estabelecida, e o descanso
eterno. Por isso, mantenha firme a sua fé e a certeza de que Deus
sempre faz o melhor, e que Ele sempre esteve aqui e agora com
vocês.” Assim, eu coloquei minhas mãos sobre as mãos “daquela-que-
não-podíamos-visitar”, moça tão jovem, que adoecia na cama, fechei
meus olhos junto com o filho, e disse “Jesus, eis aqui a Tua serva, que
seja feito conforme a Tua vontade.”

Me despedi, e parti.

Durante o percurso, como flashes eu fui entendendo o porquê de


ter enfrentado situações para estar naquele sábado no hospital. Eu
entendi que já existia um planejamento divino, antes mesmo de um
planejamento humano com Ana. Deus mudou nossas rotinas, apenas
para levar a Sua palavra de conforto para aquelas pessoas.

Era um chamado ao amor, e pela primeira vez, tivemos a


oportunidade de corresponder a ele dentro do hospital.

Na saída, as enfermeiras nos contaram que a família não


conseguia aceitar a situação de enfermidade daquela senhora. Afinal,
entre o diagnóstico e a evolução para o curso terminal da doença foi
somente um mês.

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Medicando Almas | Os primeiros envios

Entendi que existe um Deus maior do que qualquer aflição, que


carrega o melhor prognóstico, mesmo nos piores cenários. Viver
esse momento, trouxe ao meu coração a compreensão de que o maior
milagre é aquele que cura o que médico nenhum pode curar – a
história de alguém.

O primeiro envio foi num sábado, para mostrar que Jesus


continua o mesmo – operando milagres aos sábados – e, que não há
milagre mais poderoso do que aquele capaz de trazer vida a partir
da morte.

Pouco tempo depois de ter estado no quarto, “aquela-que-não-


podíamos-visitar” se despediu desta terra. A oração feita foi a última
que ela recebeu.

Deus nos levou ao sábado, para viver como primeiro milagre a


vida eterna que Ele tem, a Sua salvação, para nos lembrar de que
SEMPRE, esse deveria ser o primeiro milagre a ser buscado.

Numa escala de prioridades e de importância, o primordial,


o melhor, o excelente, precisa estar no primeiro lugar. É o plano A.

Antes de curar, preocupe-se em salvar.

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Medicando Almas | Os primeiros envios

“E disse-lhes: Ide por todo o mundo, pregai o evangelho a toda


criatura.”

Marcos 16:15

Aplicação e reflexão: Nós, inúmeras vezes, custamos a


entender o porquê dos sofrimentos desta vida, como a doença, o câncer,
ou a morte de uma mãe, ou um pai. O que nos conforta é a certeza da
vida eterna concedida por um Deus que fez a maior entrega de amor
que a História já conheceu: doou o Seu Único Filho. Foi um gesto de
amor gratuito. Amor que ama porque ama se ama. O amor que
mudou o mundo.

Penso eu, na dor de um Pai, que vê o Filho sendo açoitado e


maltratado; inocente, sendo acusado por crimes que não cometeu. A
entrega de Um, em resgate de todos, deu à luz ao amor mais puro e
incondicional que permite que o abraço impedido nesta terra, aconteça
lá no Céu.

Eu, assim como você, aguardo alguns abraços.

“Pois há um só Deus e um só mediador entre Deus e os homens:


Cristo Jesus, o qual se entregou a si mesmo como resgate por todos.”

1 Timóteo 2:5-6

“Jesus, porém, ao ouvir isto, disse: Esta enfermidade não é


para a morte, mas para glória de Deus, para que o Filho de Deus seja
glorificado por ela.”

João 11:4
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Algo a mais

“Não compreendo os Teus caminhos, mas te darei a minha


canção; doces palavras te darei. Me sustentas em minha dor, e isso me
leva mais perto de Ti, mais perto dos Teus caminhos. E, ao redor de
cada esquina, em cima de cada montanha, eu não procuro por coroas
ou pelas águas das fontes. Desesperado eu te busco, frenético acredito
que a visão da Tua face é tudo o que preciso. E, eu te direi que vai valer
a pena.” Vai valer a pena, Juliano Son

Essa foi a canção que tocou em meus ouvidos enquanto eu


estava com medo, em frente ao quarto, e vi o filho saindo.

O MILAGRE INESPERADO NO DIA DA AFLIÇÃO

“Há vazios que só Deus preenche. Há lágrimas que só Ele


entende. Há feridas que só Deus tem poder para curar, são feridas de
uma alma. Você diz ‘Senhor, por que não muda esse cenário? Parece
que quanto mais eu estou lutando, mais o vento sopra ao contrário.
Está difícil. Muda a circunstância que eu vivo; eu luto mas sou soldado
ferido.’” Feridas de um soldado, Cassiane

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Era 21h, horário em que normalmente não estaríamos no


hospital, mas eu havia prometido a um paciente que voltaria a vê-lo
ainda naquele dia.

Eu e Isabela deixamos Ana na biblioteca com as nossas coisas,


e seguimos para o quarto do Sr.D., convictas de que estávamos na
enfermaria naquele horário apenas para testemunharmos a sua melhora.
O Sr.D era um senhorzinho avançado em idade, internado há mais de
14 dias por descompensação hidroeletrolítica. Ele estava em constante
atrito com a equipe de saúde, principalmente, quando falavam sobre a
necessidade de hemodiálise. Mais cedo, cuidamos dele, deixamos ele
falar, e entendemos que o medo da diálise era porque ele passava mal
por estar em jejum, e sentia vergonha por isso, disse que não queria
“passar vexame”. Um acerto no horário da alimentação e a “mágica”
estava feita.

Chegando ao quarto, a notícia foi melhor do que a esperada:


"Depois que vocês passaram aqui, o Sr.D. decidiu fazer a hemodiálise.
Tudo ocorreu tão bem que ele recebeu alta."

Eu e Isabela ficamos várias horas com ele naquela manhã,


explicando a importância do tratamento, pois em mais de duas semanas
de internação, Sr.D se recusava a realizá-lo, evidenciando a tristeza com
a vida e o desejo de morrer. Ao final da nossa longa conversa, ele nos
perguntou “por que todos os médicos não são assim, de explicar as
coisas com calma, paciência e amor para ‘gente simples’?”.
Aconteceu, que, naquele dia, a conversa tomou caminhos diferentes, o
amor de Jesus estava presente, e tocou tão profundamente o Sr.D que
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testemunhei as lágrimas rolando por seu rosto enrugadinho. Como dito,


Sr.D recebeu alta e continuará com o tratamento.

Com a alta do nosso paciente, não tínhamos muito o que fazer


pela enfermaria. O que não sabíamos era que: marcamos um encontro
com o Sr.D., quando na verdade Deus tinha outra pessoa para nos
apresentar.

Não sabíamos ainda o porquê, mas do último quarto da ala


masculina, andamos até os quartos da ala feminina. Eu parei em frente
a um deles para pegar álcool gel. Isabela me olhou com muita tristeza.
Neste instante, meu espírito se agitou. “O que tem nesse quarto?”
Perguntei a ela e, logo seus olhinhos cheios de amor, choraram.

Pronto. Não podíamos ir embora. Deus estava nos chamando.

Paramos em frente a porta. Enxergando pouco pela penumbra,


ela indicou a paciente.

Isabela contou a história: há alguns dias acompanhou o caso


com um professor, a paciente era de cuidados paliativos da oncologia;
a medicina não tinha mais como oferecer uma opção curativa no
estágio da doença em que ela se encontrava. As medidas da equipe
de saúde se resumiam em manter a dignidade, o controle da dor, e o
conforto. Eu sabia que se decidisse ir embora, presa ao horário, ou ao
cansaço, perderíamos algo extraordinário. Algo extraordinário da
parte de Deus.

"Isa, precisamos orar."

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Ficamos alguns momentos no posto de enfermagem, lendo o


prontuário... Pensando... Orando em silêncio.

Descemos para o jardim do hospital, e naquele escuro, entramos


embaixo das árvores, demos as nossas mãos e oramos "Pai, se há algo
do Senhor aqui, prepara os nossos ouvidos para sermos sensíveis a Sua
voz. Se lhe apraz, nos direcione com uma Palavra de amor do Senhor
para esta moça."

Desde que estivemos à porta do quarto, até o momento em que


voltamos à enfermaria depois da oração, se passaram 15 minutos.

Voltamos ao quarto de interesse. Com muito temor entramos. A


lâmpada ainda apagada, fazia com que o quarto fosse iluminado apenas
com as luzes advindas do corredor, criando um ambiente com
penumbra; essa penumbra foi o suficiente para que eu pudesse enxergar
uma Bíblia na mesinha ao lado do leito, e uma plaquinha escrita à mão,
colada na janela, com os dizeres "Não diga que você tem um grande
problema, diga ao seu problema que você tem um grande Deus."
Percebendo os detalhes, agradeci ao Senhor.

A paciente parecia dormir, mas a pessoa que a acompanhava


estava bem acordada.

"Boa noite! Sou Hellena, sei que, talvez, você ache uma loucura
o que vou lhe dizer, mas quando passamos pela porta deste quarto,
sentimos de forma incomum a presença de Deus neste lugar, e por
essa razão decidimos voltar e entrar."

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A acompanhante me olhou com os olhos marejados, e disse "Há


15 minutos, quando vocês passaram por nossa porta, e
permaneceram, eu estava orando a Deus, pedindo que Ele enviasse
as pessoas dEle aqui.".

Logo senti uma brisa suave me envolvendo completamente, era


o Espírito Santo se manifestando com confirmações. Conversamos
bastante, e tudo convergiu para que orássemos juntas naquela noite.
Mas, não poderia ser naquele momento, os nossos pertences estavam na
biblioteca, que iria fechar. "Nós vamos buscar as nossas coisas na
faculdade e voltaremos para orar com calma". "Ok, estaremos
esperando".

No caminho para a biblioteca, liguei para a minha tia,


perguntando se Deus havia falado algo ao coração dela para eu
compartilhar. Segui em chamada entrando na sala onde a Ana estava.
Ela me olhou sem entender nada; eu fui sinalizando com as mãos, e ela
colocando as nossas coisas dentro das mochilas. Na ligação, Deus
havia liberado uma palavra.

Aconteceu que, no caminho para o hospital minha mente ficou


em branco. Eu esqueci tudo o que Deus havia gerado, e mesmo tentando
lembrar, a memória não vinha; só conseguia ouvir Ana, que foi
cantando o refrão de uma música de adoração até chegarmos à
enfermaria.

Entramos no quarto, e bateu o desespero "Qual a palavra


Hellena? Você esqueceu!!!!!", eu me cobrei em pensamento. Então, de

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imediato, dissemos "Ana, você poderia cantar a música que estava


cantando no caminho?"

Ana abriu seus lábios e tudo estremeceu! A primeira estrofe da


canção era exatamente a parte da Bíblia que Deus havia colocado em
meu coração, e eu acabei esquecendo. Por quê? Porque era Ana que
deveria ser usada naquele momento.

Ana precisava estar presente. Tudo foi desenrolando


naturalmente. A acompanhante mencionou canções que a paciente
gostava, e somente Ana conhecia e sabia cantar. Ela louvava, e nós
chorávamos. A outra paciente do quarto, uma jovem da nossa idade,
chorava junto.

Oramos, choramos, e o relógio correu mais rápido que a nossa


percepção do tempo. A paciente que começou sem conseguir se mover
no leito, tamanha a dor, agora estava sentada, testemunhando do amor
de Deus em sua vida. Sua fala era calma, num tom baixo e pausado; a
dor e o desconforto que estava sentindo eram visíveis. E, mesmo
estando nesse momento delicado de sua vida, orava conosco, cantava
com sua alma, embora pudéssemos ouvir poucas palavras de sua boca.
E, não obstante, entregou palavras do Senhor a nosso respeito.

Ela pegou minhas mãos e me falou como Deus me via.


Enquanto eu ouvia, em meu coração eu conversava com o Pai “Como
assim, meu Senhor? O Senhor nos envia aqui para receber? E, eu
pensando que vimos somente para tudo entregar.”.

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Estávamos ali, quase 2h da madrugada, orando, abençoando


outro alguém, mas foi a nossa vida que se transformou. E, foi assim,
doando tudo o que tínhamos, que recebemos algo que jamais
poderíamos comprar – o Amor.

Eu não consigo contar o tudo que Deus operou naquelas vidas,


nas nossas vidas, naquelas famílias, nas nossas famílias. Mesmo
porque, nossa paciente teve alta no final daquela semana. Mas, eu posso
lhe dizer que o plano de Deus na vida dela se cumpriu.

Aquela noite no hospital foi uma nuvem de paz num dos dias
mais aflitos que nossa paciente estava vivendo. Ela nos contou que
estava dizendo em seu coração “Senhor, eu estou esquecida?” e então,
Ele nos enviou. Precisava ser a gente? Não, poderia ser você ou
qualquer outro. Porém, eu louvo a Jesus, pela oportunidade de estar
presente e ser disponível.

A outra paciente que dividia o quarto pediu que orássemos por


ela. O desejo dela? Queria entregar a sua vida a Jesus, porque tinha
descoberto um amor que até então não havia experimentado.

Inesperado. Milagres inesperados.

Deus prova o Seu amor para conosco, quando envia pessoas


para nos amar gratuitamente. Afinal, o que e Quem fariam três
estudantes de medicina passarem uma madrugada no hospital orando,
louvando e chorando com os pacientes?

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"Creio no Deus que faz o milagre inesperado. Quando faço o


que preciso for, Ele sara a minha dor. A minha atitude inesperada, gera
o milagre inesperado". Ministério Mashiah

ENQUANTO EU TE USO, EU CUIDO DE TUDO

“Deixa Eu te usar para curar. Deixa Eu te usar para salvar.


Enquanto Eu te uso, Eu cuido de tudo que te faz chorar.” Deixa Eu te
usar – Sarah Farias

Existe uma agenda Divina, na qual Deus trabalha com datas,


horas, pessoas, lugares e circunstâncias exatas. Não há falhas nos planos
que são do Alto.

Em algum momento da sua jornada você pode ter ouvido que


enquanto faz/busca as coisas do Reino de Deus e para o Reino, Deus
cuida e supre todo o restante. Mas, quantas vezes a gente conseguiu
de fato abrir a nossa agenda e colocar Deus como prioridade?

O dia é preenchido por situações urgentes e estressantes – seja


em casa, no trabalho, na faculdade... Os problemas não param de surgir,
e então, chega a hora de deitar a cabeça no travesseiro. Nesse momento,
se não estivermos totalmente exaustos, faremos uma prece rápida ao
Senhor – muitas vezes, mais pedindo do que agradecendo, afinal o
dia foi tão cheio, às vezes, tão problemático, que todas as pequenas
maravilhas não foram percebidas.

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Quantas vezes eu corri atrás do vento? Ah, foram tantas, e


ainda não estou isenta de fazer isso novamente. Contudo, Deus me deu
a oportunidade de entender que se eu cumprisse com a PRIORIDADE
da agenda, Ele faria mais do que o esperado, e não somente isso, mas
meus olhos veriam o impossível que Ele já tem feito desde sempre
por mim.

A venda que nos impede de ver e contemplar os pequenos


milagres diários é a nossa própria correria em favor daquilo que
nunca foi primordial.

“Então Jesus disse aos seus discípulos: "Se alguém quiser


acompanhar-me, negue-se a si mesmo, tome a sua cruz e siga-me. Pois
quem quiser salvar a sua vida, a perderá, mas quem perder a vida por
minha causa, a encontrará. Pois, que adiantará ao homem ganhar o
mundo inteiro e perder a sua alma? Ou, o que o homem poderá dar em
troca de sua alma?”

Mateus 16:24-26

Logo pela manhã daquele 17 de agosto de 2019, uma situação


corriqueira colocou em jogo a nossa fé. Estávamos com um grupo de
colegas da faculdade que não são cristãos. Isso pouco importava na
verdade, o difícil para nós era o fato de sermos motivo de chacota por
não sermos como eles. Uma circunstância encurralou a gente entre
calar, ou afirmar que nossa fé estava firmada MESMO em Jesus Cristo.

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Declaramos nossa fé, independente do que poderíamos ouvir, ou não.


Sabíamos Quem havia nos chamado.

Tudo o que aconteceu a seguir foi resultado disso. De não


negar nosso Jesus. Aliás, estou emocionada escrevendo, porque eu me
lembro bem do cenário, do coração agitado, e da escolha por Ele. Deus
não permitiu que as bocas se abrissem contra Ele naquele dia.

Assumir Jesus perante os homens é como uma chave mestra,


que abre diversas fechaduras.

Devido ao ocorrido, no horário do almoço, nos reunimos


pedindo que Jesus dirigisse o nosso dia no ambulatório, e que em cada
atendimento Ele se fizesse presente, e que pudéssemos ser usadas por
Ele. Desejámos ansiosamente sermos usadas por seu Espírito Santo.

Era o último paciente da agenda do ambulatório. Ele seria


atendido por mim e por Isabela. Quando o chamei, vi seu semblante
decepcionado “Doutora, eu já estava desistindo da consulta”.

O ambulatório do serviço regional daqui é bem demorado. As


agendas são cheias, e como o hospital atende mais de 40 municípios, as
pessoas vêm de longe, precisando sair muito cedo com a locação

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pública; até mesmo os pacientes da tarde, chegam no horário dos


primeiros atendimentos da manhã. Passar horas aqui é muito cansativo,
e quando se é último a ser atendido, ainda mais.

“Poxa, mas ainda bem que agora é a sua vez!” Respondi


sorrindo.

No consultório ele começou nos dizendo que não sabia ao certo


o porquê daquela consulta, visto que estava realizando todo
seguimento clínico em outra cidade. Até então, nós também não
estávamos entendendo o que foi que “o sistema” aprontou.

Percebi que seria um caso em que a conduta seria a alta


ambulatorial.

Enquanto eu explicava sobre a alta, coloquei uma das mãos no


ombro do paciente e disse: “Vai com Deus então e em nome de Jesus,
vai dar tudo certo na sua cirurgia”.

Ele me olhou estarrecido: “Doutora! Você tem fé?”

Gelei a minha alma por inteira. Em poucos segundos me veio a


lembrança do ocorrido pela manhã; eu não tinha negado a minha fé na
primeira oportunidade, iria negar na segunda por quê?

“Tenho sim”

Ele continuou: “A senhora pode orar por mim então?”

Ajoelhamos no consultório e oramos.

Foi a primeira vez que os joelhos se dobraram no chão do


ambulatório.

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Ao findarmos, ele me olhou emocionado: “Posso lhe contar


algo?” eu fiz que sim.

“Quando me ligaram falando da consulta, eu sequer entendi o


porquê. Faz quase 6 meses que acompanho em outro lugar. Essa
consulta não fazia sentindo, mas eu OBEDECI e vim. Quando
começou a demorar muito lá fora, a todo instante eu pensei em ir
embora, mas “algo” me vez PERSISTIR e ESPERAR. Agora eu
entendo! E, compreendo toda a luta que me fez esperar até esse
momento. Eu sou pastor, e estou passando por essa situação difícil.
Mas, eu creio que Jesus está me vendo.”

Foram palavras muito profundas. Eu não consegui me esquecer.

Por favor, abra o seu coração, vamos entender juntos tudo o que
Deus fez e revelou com esse encontro, e com as palavras do seu amado
pastor.

Mesmo sem fazer sentido, mesmo a escolha natural podendo


ser cancelar e não vir, ou chegar aqui e desistir pela demora, ele tomou
uma decisão diferente, num cenário de paz. Houve obediência, espera
e persistência, até viver algo inesperado da parte de Deus, e
compreender um Plano Perfeito.

Deus faz isso o tempo todo conosco. Acontece que a gente


cancela alguns verbos: às vezes o “obedecer”, às vezes o “esperar”, às
vezes o “persistir”, e inúmeras vezes, o “confiar”.

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Nos abraçamos, e na porta, antes de sair, ele nos disse “Foi a


consulta mais especial de toda a minha vida!”.

Eu agradeci a Jesus.

Algumas horas depois, eu liguei para o meu pai.

“Era para eu estar no hospital”, foi o que ele me disse com a


voz trêmula logo nos primeiros segundos da chamada.

“Como assim? O que aconteceu?”

Enquanto eu orava por esse senhor, o meu pai sofreu um grave


acidente de moto.

Mas o que houve com o meu pai?

NADA! Nenhum arranhão! Mas, a moto e o carro, feitos de


metal, mais fortes do que homens, ficaram destruídos.

Quando cheguei em casa, ele me contava tudo sobre o acidente,


me mostrando o seu corpo.

“Eu senti que Deus me livrou da morte! Algo me segurou! Eu


não sei explicar! Olhe minhas mãos!!!! Não tem nada nelas!!! Olhe
meus joelhos!!! Eu estava de bermuda, o mínimo era ter alguns
arranhões, porque eu fiquei jogado no chão! Eu voei por cima do carro,
e não tenho nada”.

Pois é.

Enquanto eu te uso, Eu cuido de tudo.

Jesus
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ALGO A MAIS

“Enquanto Deus te usa, Ele cuida de tudo.”

Enquanto eu entregava o meu coração em oração por esse


senhor, Jesus derramava novamente seu poderoso sangue sobre a minha
família.

Deus trabalhou há meses para que naquele dia, naquele horário,


naquele ambulatório nós estivéssemos para corresponder e
testemunharmos desse amor!

Jesus atravessa séculos e séculos para cumprir em você e com


você o projeto original.

Às 17h, Isabela que estava presente o tempo todo, vivendo,


orando, amando as pessoas, que se entregou também para atender ao
ide, recebeu a aprovação de seu projeto da faculdade que estava
tramitando há mais de um ano.

“Apeguemo-nos com firmeza à esperança que professamos,


pois aquele que prometeu é fiel.”

Hebreus 10:23

“O teu amor, Senhor, chega até os céus; a tua fidelidade até as


nuvens.”

Salmos 36:5

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Senhor, Jesus eu te agradeço, porque mesmo sem compreender


eu sei que os seus planos são perfeitos e eu quero vivê-los! Mostre-me
a sua Graça e o seu cuidado porque eu quero ser testemunha dos seus
milagres! Faz de mim um instrumento do Teu agir.

Deus tem formas perfeitas de mostrar que há galardão para o seu


trabalho nEle.

“Joelhos se dobram e o coração descansa. A alma aprende e se


prende a Deus, Sua esperança. Eu confio em Ti, espero em Ti dia, após
dia, até que venha sobre minha vida o Teu socorro. Nunca mais viver
ao vento, nunca mais me falte o tempo pra Te buscar e te encontrar.
Não importa o que aconteça, nunca mais eu me esqueça de Te
encontrar pra conversar.”

Primeira oração – Paulo César Baruk

VENTO DE PODER PARA ESPERANÇA

Era uma manhã de sexta-feira, Déborah e eu estávamos a


caminho do hospital. Precisávamos atender alguém que estivesse
doente do aparelho digestório. Naquele dia, fazíamos jejum e oração,
a fim de que Deus nos enviasse àquelas pessoas que necessitavam
do Seu amor.

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Passamos pela biblioteca, e na caixinha de versículos, peguei


um: “Porque para Deus não existe impossível.” Guardei no bolso do
jaleco juntamente com a minha bíblia.

Chegamos ao hospital, e ao invés de procurarmos nos


prontuários pelos pacientes da gastroenterologia, seguimos para as
varandas dos quartos. Déborah precisava me contar sobre o sonho da
noite anterior. Ficamos uns bons minutos conversando sobre Deus e,
depois, seguimos caminhando pela varanda. De repente, de forma
súbita, veio um vento muito forte. Estávamos em frente a porta dos
fundos de um dos quartos. Como na minha casa o meu pai não gosta
que as portas batam, eu disse à Déborah que estava na minha frente:
“Deh, corre, segura a porta porque vai bater!”. E, dessa forma Deus
nos empurrava para dentro daquele quarto.

A porta bateu.

Estávamos em posição de corrida, quando olhei para a mesa ao


lado do leito da paciente: havia um livro conhecido. Quando eu digo
conhecido, refiro-me a ser conhecido por mim, não era nenhum best-
seller nacional, mas um dos livros da Igreja Adventista, por isso eu
conhecia – estudei muitos anos em colégio adventista.

Olhei para Déborah sorrindo: era aquele o quarto.

Começamos a conversar com a acompanhante, que logo nos


contou que a paciente era sua irmã, e que estava doente do aparelho
digestório. Uau! Deus nos empurra de forma inusitada dentro de um

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quarto onde Ele une o que precisávamos da parte acadêmica e o que Ele
tinha de Sua parte.

A paciente era a Dona Esperança, ela estava muito triste quando


chegamos, carregava um semblante de incerteza. Em meu coração
crescia o desejo de ir além da anamnese e exame físico, afinal já havia
entendido que estar naquele quarto era fruto de um propósito muito
maior.

“Senhor, eu já entendi, estamos disponíveis, se é do Teu agrado


mesmo, faz com ela toque no assunto e peça algo de Sua parte.”

Ao terminar meu diálogo silencioso com Deus, Sra. Esperança


me olha e diz “Vocês podem orar por mim?”.

Eu, Déborah, Dona Esperança e a Sra. Fé (sua irmã) demos


nossas mãos, unindo nossos corações, e oramos juntas. Dona Esperança
chorava dizendo “Jesus, eu quero o Senhor, entra em minha vida.”, e
continuava falando, ainda sem acreditar na forma como Deus nos
enviou; ela repetia copiosamente “Duas alunas de medicina foram
empurradas pelo vento de Deus para dentro do meu quarto, para fazer
a oração que eu precisava. Como assim, Senhor? Que coisa linda.”

Eu me lembro da Sra. Fé dizendo que ninguém havia passado


pela porta da varanda desde que Esperança foi internada.

Peguei o versículo que estava no bolso e coloquei nas mãos de


Esperança.

Na despedida, prometi a ela que voltaria com uma amiga para


cantar um louvor.
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A lembrança que Déborah e eu temos ao deixar o quarto é de


uma mulher que sorria semelhante a uma criança, que estava
perdida e agora foi encontrada pelo Pai. A imagem inesquecível, de
como uma porta aberta para o amor, a fé e a esperança, permite que tudo
seja transformado em poucos minutos.

Algumas horas depois, Dona Esperança evoluiu de forma


complicada, com rebaixamento do nível de consciência, sendo
submetida a intubação orotraqueal.

Três dias passados a encontramos na semi-intensiva. Era


necessário que cumpríssemos com a promessa: louvar com ela.
Contudo, como falar isso para o responsável pela semi-intensiva?
Ainda mais com a nossa paciente sob sedação?

Estávamos eu, Ana e Isabela, na semi, aguardando o responsável


chegar. O tempo corria, e nada. Como havia outros compromissos no
mesmo dia, Ana resolveu da melhor forma: orou com autoridade “Pai,
se é da Tua vontade acontecer, coloca o responsável pelo setor aqui
nos próximos 5 minutos, em nome de Jesus.” Ela terminou a oração e
o profissional chegou.

Dirigi-me ao responsável e pedi: “Podemos cantar para ela?”,


falei apontando para o leito da Dona Esperança. Embora, a enfermeira
tenha achado estranho ela disse “Claro!”.

A memória que eu guardei é linda: Ana louvando de olhos


fechados, no ouvido da nossa paciente.

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Um adendo importante é que Ana sequer esteve no primeiro


encontro quando o Vento Impetuoso nos levou para aquele quarto de
enfermaria, e mesmo assim, prontamente assumiu o compromisso com
Deus, sabendo que deveria estar aqui e agora, derramando o seu
louvor.

“Eu juntei meu coração em cada história que um dia eu vivi.


Arrisquei chegar aqui sem medo de me revelar para Ti. Eu não sou
alguém que mereça Tua graça, mas só eu sei tão bem que ninguém mais
poderá me salvar. Eu elevo a minha voz e venho com essa canção
derramar meu louvor. O pouco que eu venho dar é tudo que eu tenho
em mim, eu te amo Senhor.” Derramar meu louvor – Gil Monteiro

Durante algumas semanas, Dona Esperança permaneceu


internada na semi-intensiva. Todos os dias nós cinco (eu, Déborah,
Fernanda, Isabela e Ana) a visitávamos, orávamos e louvávamos.
Alguns médicos nos perguntavam se éramos da família, porque não
entendiam o motivo de sempre estarmos lá, cuidando dela.

Certo dia, ficamos ao redor do leito e mudamos a letra de uma


canção:

“Vento de poder, sopra no viver, faz Teu querer.

Como um vendaval sobrenatural, faz Teu querer.”

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Engraçado, que apenas agora escrevendo, me dei conta de que


foi através de um “Vento de Poder”, que entramos no quarto em que
ela se encontrava.

Da semi-intensiva, Esperança precisou da UTI; seu quadro não


tinha um bom prognóstico; vários órgãos estavam perdendo suas
funções.

Continuamos a interceder muito.

Numa noite de domingo, eu estava muito angustiada com a


situação. Perguntei ao Senhor o que Ele queria de nós. Então, antes de
dormir eu disse ao Pai “Senhor, amanhã quando eu me levantar, me
envia a Tua palavra; o que o Senhor deseja de nós.”

No dia seguinte eu acordei porque me ouvi cantar. Calma, vou


explicar melhor: eu estava louvando enquanto dormia e o som da minha
voz me acordou. Assim, imediatamente eu lembrei: era o Senhor me
acordando para me entregar a Palavra. Eu peguei minha bíblia, agradeci
e veio a mim a palavra do Senhor “jejum e oração por libertação.”

Comuniquei as meninas, que de imediato estavam disponíveis


para esse propósito. Na segunda-feira fizemos um jejum absoluto das
18h às 00h, louvando e adorando ao Senhor.

00h subimos para o hospital. Entramos cantando desde a


recepção, corredores, até chegarmos à UTI.

Em frente à UTI ficamos com muito temor para entrar e fazer o


que estava nos sendo proposto – orar por libertação. Eu nunca tinha
pisado numa UTI e Deus estava nos levando pela primeira vez a uma
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para orar, não para aprender sobre medicina intensiva! O que


acabei entendendo depois, ao longo dos anos, é que o requisito essencial
das UTIs estava em falta – a Medicina do Médico dos médicos.

Para a minha surpresa, o médico responsável pela UTI naquela


noite era um professor muito próximo a nós. Quando nos viu, sorriu e
disse “O que estão fazendo aqui essas horas?”, eu respondi “Ah
professor, estamos aqui para ver uma paciente.” Ele sorriu novamente
dizendo “Fiquem à vontade, a UTI é de vocês!”.

Eu não acreditava no que estava ouvindo, eu sorria e agradecia


a Deus. Deus realmente prepara todas as coisas.

O Deus que envia, é sempre o primeiro a chegar no destino da


jornada, porque antes de ser, Ele é; antes de você chegar, Ele está.

Seguimos para o leito da Dona Esperança e oramos por sua


libertação. Mas, parecia que algo ainda não estava completo.
Entendemos que deveríamos passar em todos os leitos, e orar por todos
os pacientes naquela madrugada de terça-feira.

Terça de manhã a visitamos novamente.

Na quarta, os filhos vieram com o pastor.

Na quinta-feira, ela foi recolhida pelo Senhor.

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Agradeço a Deus o privilégio de ter sido uma das últimas


pessoas que Esperança conscientemente viu, orou, e clamou a Jesus
pela salvação.

ALGO A MAIS

Os milagres de Jesus alcançam as pessoas ao nosso redor. A


próxima história está conectada a esta. Pois, o milagre da vida eterna
para a Dona Esperança se estendeu como milagre de cura física e
salvação para um dos pacientes que estava na mesma ala.

Também, ter cuidado de Esperança trouxe muita gratidão por


parte da família, e isso marcou as nossas vidas. Alguns meses depois,
recebi em casa um presente deles, que materializou o eternizável na
minha trajetória na medicina, antes mesmo de ser médica.

As coisas da terra têm preço. As coisas eternas têm valor.

O MILAGRE NA MANHÃ SEGUINTE

Na semana que sucedeu o falecimento de Dona Esperança, Deus


enviou uma moça – que usarei o codinome Flor - à loja da minha tia
que ficava ao lado do hospital onde eu fazia estágio. Flor acompanhava
o esposo Ebenézer que estava internado. Ela estava à procura de alguém

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para orar por eles. Minha tia anotou o quarto e o andar em que Ebenézer
estava.

Quando chegamos, fiquei em choque: ele era um dos


pacientes que estava na UTI naquela madrugada. Flor começou a
testemunhar, dizendo que seu marido deu entrada como morto, cuja
família recebeu a notícia pela equipe médica a respeito do prognóstico
reservado. Porém, algo mudou a história do seu marido: numa
madrugada de terça-feira, quando ainda estava na UTI ele ouviu
pessoas orando por ele. Poucos dias depois, evoluiu muito bem, sem
necessidade de suporte mecânico, e foi remanejado para a enfermaria
antes de receber alta hospitalar. Nós ficamos sem saber o que dizer.

“Porque somos criação de Deus realizada em Cristo Jesus para


fazermos boas obras, as quais Deus preparou antes para nós as
praticarmos.”

Efésios 2:10

Fico pensando, quais as chances dessa esposa entrar numa loja


de perfumes, e perguntar justo para a minha tia se ela conhecia
alguém que pudesse orar pelos enfermos?

Eu nunca acreditei em coincidências. Acredito num propósito


eterno e real para todas as coisas debaixo do Céu.

Coincidências que não existem, o que existem são sinais que


nos norteiam ao propósito eterno.

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Deus nos levou para ver o milagre “na manhã seguinte”.

Flor queria alguém para orar, porque depois que Ebenézer ouviu
alguém orando por ele na UTI, o desejo do seu coração era se render a
Jesus.

Tivemos o privilégio eterno de fazer essa oração.

ALGO A MAIS

Não duvide Daquele que lhe deu a vida e escreveu a Sua história,
e norteou o seu coração para propósitos específicos.

Por mais que venham lutas, dias difíceis e mesmo o luto, saiba
que existe um Plano superior. Algo para ser aprendido. Uma nova
chance para amadurecer e evoluir.

Todo dia é uma nova oportunidade para crer.

A gente falha quando pensa que a melhor opção é acontecer do


nosso jeito.

A gente falha quando não celebra os pequenos milagres.

Quando esquecemos de agradecer o pão de cada dia, a noite de


descanso, a oportunidade de dormir numa cama, e ter calçados.

Ore e confie.

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Permita que Deus faça o que é aprazível a Ele.

“O que não entendo me machuca ou deu errado. Onde dói o


Senhor sabe e nem precisa de consulta. Sabe até o que eu escondo e
quando choro e ninguém mais escuta. Tu és o médico dos médicos e eu
teu paciente.” Paciente – Marcela Tais

Os propósitos do Senhor são maiores do que os nossos


melhores propósitos humanos.

A PRIMEIRA TEMPESTADE

“Quando todos os meus medos já não cabem mais em mim.


Quando o céu está de bronze e parece que é o fim. Quando o vento está
revolto e o mar não quer se acalmar. Quando as horas do relógio se
demoram a passar. Muitas vezes não consigo os Teus planos
compreender, mas prefiro confiar sem entender, eu creio em Ti.”

Eu cuido de ti – Canção e louvor

Essa era a música que Fernanda estava cantando durante toda


aquela semana.

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Muitas vezes, o caminho para chegar ao seu destino estará


tempestuoso. Essa tempestade, nem sempre, é por sua causa. Mas, ela
vem, porque você pode ser a resposta da oração de alguém.

Chovia. Mas, nem mesmo um temporal poderia impedir o


que estava para acontecer naquela tarde.

Fernanda e eu atravessamos a cidade para chegar até o hospital.


Era a terceira tentativa de visitar um paciente que estava em isolamento
de contato, e havia déficit dos equipamentos de proteção individual
(EPI) para que pudéssemos adentrar o quarto.

Entre as águas que caiam, nós duas andamos a passos largos até
o próximo hospital para emprestar os EPIs.

Paramentadas, antes de entrar no quarto, notamos que o médico


responsável pelo paciente estava na enfermaria e logo faria a visita.
Perguntamos se poderíamos acompanhá-lo. Com um breve "sim", logo
estávamos nós três junto ao leito de Emanuel (codinome).

"Eu terei alta, doutor?" Disse o paciente.

Sobre as máscaras, vi um olhar triste, porém esperançoso.

"Lamento. A infecção ainda persiste, e é grave. Precisamos


encontrar o foco, dessa forma, não posso mandá-lo pra casa ainda."
Foi a resposta do médico. Ele havia nos contado na enfermaria que os
exames tinham acabado de chegar; que a infecção continuava grave,
com formas resistentes de bactérias, e que não poderia dar alta tão cedo,
devido aos riscos.
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O paciente chorou, e o resquício de esperança que eu


contemplava naquele olhar, se fora. Era o seu segundo mês de
internação.

O médico terminou o atendimento, e nós duas pedimos para


permanecer. Havia algo ali.

Começamos a conversar, e o curso dos diálogos chegou até o


ponto crucial: Jesus.

Então, aquelas mãozinhas emagrecidas do Emanuel pegaram


um caderninho.

"Eu tenho escrito aqui algumas músicas sobre Deus..."

Perguntei se poderia ver.

Quando eu abro o caderno, a primeira música era uma que


Fernanda estava cantando e chorando a semana toda. Compreendi,
assim, o motivo por ser Fernanda ao meu lado. Fer, talvez, sentisse o
mesmo que a canção despertava em Emanuel.

"Fer, você poderia cantá-la?" Perguntei. Se de surpresa ou não,


ela me olhou, concordou, e pela primeira vez estava cantando para
um paciente. Senti um grande temor por parte de Fernanda.

Enquanto ela cantava, eu orava, e a preciosa vida que estava


conosco derramava em forma de lágrimas, entre os versos da canção, o
que carregava em seu peito.

Uma atmosfera de amor e esperança encheu o quarto.

Oramos. E, logo os sorrisos.

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Acreditávamos na cura.

Confiávamos.

Nos despedimos.

Lá fora, ouvimos a discussão da equipe, e o esperado era que


Emanuel permanecesse mais longas semanas sob internação e
isolamento.

Passados quatro dias, durante nosso almoço, o médico estava no


nosso refeitório.

Fernanda e eu nos olhamos, curiosas e fomos até ele.

"Doutor, e Emanuel? Como ele está?”

"Teve alta."

"Como assim? E a infecção?"

"Pois é. Naquele mesmo dia, solicitei mais exames, e os


resultados foram todos normais. Não entendi também. Repeti e repeti.
Nada de infecção."

Inesperado.

E, assim tem sido.

ENCONTRE-ME ÀS 15H EMBAIXO DA ÁRVORE DA VIDA

“Sabe o que acontece quando isso se torna uma realidade em


nós? As nossas mãos começam a tocar, não onde nós estamos
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desejando, mas onde Ele deseja tocar, porque é a vida dEle em nós. As
nossas pernas vão em direção ao lugar onde Ele deseja estar. Os seus
olhos começam a olhar em direção àqueles que estão precisando de um
olhar de Cristo, que está em você para olhar pelo perdido. E, a sua voz
não é mais só sua, é o fluir do clamor do Espírito Santo fluindo de
dentro de você. E, aí você e Ele são um só, em uma só voz, mudando a
história.” Vamos mudar a história – Davi Fernandes

A pandemia chegou e nos tirou dos hospitais. Estava passando


online pelo estágio de hematologia. O médico residente passava para
nós os casos, e a missão era estudar a patologia, e atualizar o espelho de
exames.

Designaram que eu ficaria responsável por Miguel (codinome).


Seu caso era muitíssimo complicado; ele estava recebendo cuidados
paliativos exclusivos.

Os dias passavam e eu criava na minha mente a figura daquela


pessoa que eu só conhecia uma parcela bem simplificada da história,
contada por um resumo no censo de internados.

Passei a orar por ele todos os dias. Até que na última semana do
estágio, uma das médicas nos avisou que Miguel estava ainda mais
grave. Naquele dia, sem pensar muito, abri meu microfone e contei que
estava orando por ele, já que a ausência de atividades práticas da
faculdade me impedia de fazer qualquer coisa válida para a medicina.

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A professora ficou surpresa, e surpreendeu todo o grupo que


assistia pelas telas “Ah! Por favor! Ore mesmo! O Miguel é uma pessoa
tão maravilhosa. Ele vem sofrendo tanto e nunca reclamou a respeito
da doença que vem enfrentando ao longo desses anos. É uma pessoa
tão amável. A esposa, Luz (codinome), está sofrendo tanto. Ele com
certeza precisa de orações.” Acabei compartilhando com ela que nós
fundamos na faculdade um grupo de oração, chamado “Doutores da
fé”, e que constantemente, estávamos fazendo acolhimento espiritual
com os pacientes.

A médica me passou o telefone da esposa, e sugeriu que eu


entrasse em contato para perguntar se ela gostaria que estivéssemos no
hospital nos próximos dias para orarmos.

Não esperei muito. Orei a Deus, e enviei a mensagem. A


resposta foi quase uma súplica “Olá, Hellena. Por favor, venham. Nós
precisamos de um momento de fé e oração. Não demore.”

No dia seguinte, Luz combinou um horário conosco que


coincidia com uma aula que a coordenadora de clínica médica iria
ministrar. Saímos durante o EAD, com a aula no alto-falante do carro.

Por conta da pandemia, algumas coisas haviam mudado no


nosso hospital escola: não estávamos podendo entrar. Por isso, uma das
médicas residentes ficou nos esperando além do seu horário para liberar
a nossa entrada por algumas horas.

Entramos no quarto e eu pude conhecer o Miguel real, não


aquele das minhas folhas de evolução. Pude ouvir a sua história pela

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ótica da sua querida Luz. Não uma parcela jogada e quase desconhecida
que o classificava como “paliativo exclusivo.” Pude conhecer o homem
que ela amava, e como ela o amava!

Miguel estava de partida. Bem fraquinho no leito, queria


descansar. Eu, Déborah e Fer nos distribuímos a sua volta, começamos
a louvar, e depois fizemos uma oração.

Quando terminei, cheguei bem próxima a ele, e perguntei


“Miguel, o que você deseja neste dia? Peça em seu coração e o Senhor
o fará.” Ele me olhou com olhos de paz, e eu orei a Deus que se
cumprisse o pedido. Ele queria repousar para sempre nos braços do
Senhor. Sua amada também assim compreendeu.

Lembro da despedida. A sua Luz lhe disse “Querido, descanse,


porque nos reencontraremos em breve, numa linda tarde, embaixo da
Árvore da Vida. Me espere!”

Poucas horas depois, ele já estava esperando por ela no lugar


combinado.

Então, me dei conta de que não fui enviada àquele quarto


para levar cura, fui enviada para ser curada.

ALGO A MAIS

Será que de fato são os nossos pacientes que estão “doentes”?


Porque até hoje, eles que me curaram e me ensinaram a Medicina.

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A gente reclama porque comeu demais e a barriga doeu. Porque


o sapato novo machucou o pé. Porque a etiqueta da roupa está
“pinicando.” Porque o computador travou e você perdeu o arquivo do
trabalho. Porque a bateria do celular está acabando.

Pelos hospitais e ambulatórios eu pude ver pessoas gratas,


cheias de fé, mesmo em estágios avançados de doenças
“incuráveis.”

“Incuráveis” porque a medicina diz que não. Mas, o conceito de


cura é singular para cada indivíduo.

Eu acredito na “cura” sempre.

Quantas vezes, tentei tranquilizar o paciente e foi ele mesmo que


me tranquilizou “Doutora, vai ficar tudo bem comigo, eu creio!”

E, é por eles crerem que eu sei que verão a Glória de Deus.

Muitos dirão várias coisas sobre a medicina. Porque cada um


só pode enxergar com os olhos que tem.

Mas, cada profissão é uma missão - com suas dores, seus


entraves, seus fracassos, mas também com seus sucessos, alegrias e
milagres.

Missão de almas. Missão de vidas. Essa é a Medicina.

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Então, vamos lá! Não deixaremos de acreditar. Não


renunciaremos ao otimismo. Não abandonaremos a fé e a esperança.
Nós escolheremos o amor e nos firmaremos nele.

E de amor em amor, ofereceremos o que mais nenhum


medicamento pode fazer.

“Tudo tem o seu tempo determinado, e há́ tempo para todo o


propósito debaixo do céu.”

Eclesiastes 3:1

Não importa o tempo, todo tempo é tempo de servir ao Senhor.

Chame-nos novamente, Jesus, e nós iremos. Mas, dessa vez,


não iremos somente em 2, 3 ou 5, iremos em milhares, e logo
seremos milhões.

“Quem trabalha só por dinheiro a única coisa que tem na vida


é o dinheiro. Agora, quem trabalha pelo proposito, a última coisa na
vida que importa é o dinheiro.

Pergunta para um médico que trabalha só por dinheiro: ele faz


plantão de dia, de tarde, de noite, mas dentro de casa, quem precisa de
cura é ele e a família dele. Agora, pergunta para quem trabalha pela
medicina amando as pessoas porque o propósito é servir alguém: a
casa dele está estável, a vida dele está emocionalmente saudável, ele

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Medicando Almas | Os primeiros envios

está curado. Porque antes de querer curar alguém, o propósito está


estabelecido por Aquele que determina o propósito, que estabelece a
vida do homem.

Enquanto tem gente vivendo e fazendo só por dinheiro, Deus


está levantando gente que não está nem aí para o dinheiro, mas que é
movido todos os dias pelo propósito. E, é desse tipo de gente que o
sucesso, o dinheiro e as bençãos do Senhor correm atrás.”

Deive Leonardo

Deus trabalha de forma inédita.

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3 As primeiras
mortes
“Todos vão para um lugar; todos foram feitos do pó, e todos voltarão
ao pó.”

Eclesiastes 3:20

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Medicando Almas | As primeiras mortes

AS PRIMEIRAS MORTES

“O mundo corre em busca de sucesso, e a vida em tanta guerra


se desfaz. O homem sonha as glórias do progresso, mas anda
velozmente para trás. Só Deus concede a glória verdadeira. Só Nele a
vida tem real valor. É Ele quem promete o mundo novo, sem medo, sem
tristeza e sem rancor. A glória dessa terra é passageira; a vida passa e
tudo o que ela traz.” Estou em paz – Novo Tom

A gente nunca está preparado o suficiente para ver uma pessoa


morrer; para ver um paciente morrendo; para entender que você fez o
tudo, e que o tudo ainda foi insuficiente.

A primeira vez que um paciente meu faleceu, eu estava no


primeiro ano de medicina, e nada preparada para vivenciar aquilo.
Foi uma questão de poucas horas: continuei conversando com o seu
filho, e ele desceu para a hemodiálise. E, enquanto passávamos o caso,
meu paciente partia na máquina de tratamento. Ficamos aguardando,
mas ele nunca mais subiria para aquele andar. Desci, e recebi a
notícia – ele não resistiu.

A verdade, é que sabemos que as pessoas morrem, porém você


entra romântica na medicina, achando que “vai todo mundo viver” e
que “vai dar tudo certo”. E, não. Meus professores dizem que médico
só cura dois tipos de doenças – as doenças infecciosas e alguns tipos
de cânceres. A medicina ainda é muito insuficiente. Nós precisamos
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encontrar outras formas de curar. Por isso, eu me firmo tanto em amor,


porque o amor é o tipo de doação que nem mesmo a morte pode
roubar.

O IMPACTO DA PRIMEIRA AUTÓPSIA

A primeira autópsia que eu assisti foi uma das grandes aulas de


humanização da minha vida. O corpo era de um senhor que morava
no fundo da casa dos parentes, e foi encontrado quatro dias após o óbito
– precisou de quatro dias para sentirem sua falta? Isso ficou martelando
na minha cabeça. Seus pés tinham feridas com bicheiras, e a conclusão
da causa base que o levou a falecer era uma infecção urinária, que
evoluiu para cistite, pielonefrite, sepse e óbito.

Ver a finitude do homem, a força e a fraqueza do corpo humano,


me levou a uma profunda reflexão naquela época, que envolviam as
questões sociais, o acesso a saúde, a importância da rede de apoio,
e como era terrível o sentimento de presenciar uma morte por causa
evitável. A patologista lamentou para os alunos que estavam
acompanhando “Era só tratar a infecção!”

O choque de ver o corpo aberto, o cheiro de quando a vida não


mais habita, trouxe a existência o que de fato é relevante: fazer o bem,
amar, perdoar, ir além do esperado o máximo de vezes que puder, todas
as vezes que for possível, enquanto pudermos e como pudermos.

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Era um ensino sobre não deixar para amanhã a


oportunidade que bate à porta no agora.

PRIMEIRAS MORTES NO POLITRAUMA

Eu nunca havia presenciado uma ressuscitação cardiopulmonar.


Fazia minutos que a equipe médica especializada trabalhava
arduamente nas tentativas de recuperar o pulso e a respiração de um
paciente que entrou em parada cardiorrespiratória.

Eu vi o primeiro médico suar e cansar na massagem cardíaca...


Vi o segundo... O terceiro... O quarto... E, vimos juntos o desesperador
tempo que passava, e a oxigenação cerebral que não era restabelecida.

"Interna? Quantos minutos?"

"Já se passaram 16 minutos..."

"Se chegar nos 20..."

O pulso voltou. O alarme do monitor parou.

Não durou minutos, e o coração bradicárdico fez novamente


uma assistolia.

A equipe médica corre. Vem de novo o primeiro, o segundo, o


terceiro...

Nada. Nada. Alarme do monitor estoura de novo. Nada.

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Medicando Almas | As primeiras mortes

Forças humanas, forças de máquinas, forças de


medicamentos, forças de neurotransmissores, e nenhuma delas
capaz de trazer Vida.

O espírito que habitava aquele corpo já não estava mais ali. A


cor da pele é diferente - um pálido branco-amarelado, a temperatura
corporal entra em declive. O ambiente fica frio, pesado e vazio. É a
morte.

Eu não entrei na sala da emergência. Pelo vidro eu orava pelo


conforto emocional daquela família que estava perdendo, diante dos
meus olhos, um amado. Senti o peso gélido de uma atmosfera sem
vida.

Eu não queria mais continuar. Minha mente gritava: "A


medicina é insuficiente."

Depois disto, fiz de mim silêncio. Não tinha o que falar. Era com
isso que eu queria lidar a minha vida inteira?

Cheguei em casa e fui falar com Deus. Peguei a minha bíblia e


abri. Era sobre a ressurreição de Jesus.

Jesus ressuscitou. Ele foi o único que venceu a morte.

Ressuscitou. Venceu a morte.

E, tem mais coisa, para essa história ficar ainda mais intrigante:
os relatos dizem que foi colocada uma pedra na porta do sepulcro, a fim
de impedir que Jesus, depois de
morto/açoitado/perfurado/espetado/espinhado escapasse! O povo
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Medicando Almas | As primeiras mortes

tinha medo que o morto fugisse. O medo era tanto, que mandaram
guardas para vigiar a entrada do sepulcro. A parte interessante: Nada
disso impediu que Ele ressurgisse, porque a Palavra era viva e real,
para que permanecesse viva e real para sempre.

O ponto é: a medicina sozinha não basta.

É necessário um mínimo de espiritualidade, pelo menos, para


lidar com a morte.

Eu oro pelo momento em que médicos clamarão pela vida dos


seus doentes; que pedirão/orarão/rezarão para que sejam curados,
sarados, recebam a vida novamente.

Afinal, posso dizer como Ele disse:

"Médico, cura-te a ti mesmo."

Sozinho não dá. Faz subir para o galho a folha que caiu. Fala
para o mar devolver as ondas. Ordene que o sol não nasça na manhã
seguinte. Fala para o espírito não retornar ao Deus que o deu. Pede
ao corpo, que não torne a ser pó.

Implore que a morte lhe separe do amor de Deus.

Não dá.

Porque estou certa de que, nem a morte, nem a vida, nem os


anjos, nem os principados, nem as potestades, nem o presente, nem
o porvir, nem a altura, nem a profundidade, nem alguma outra
criatura nos poderá separar do amor de Deus, que está em Cristo Jesus,
nosso Senhor.

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Medicando Almas | As primeiras mortes

Ele ressuscitou e ressuscita hoje em você os seus sonhos, a sua


saúde, a sua família, a sua alegria, o seu ânimo.

Estou certa de que, tudo toma forma e faz sentido Naquele que
venceu, e me traz a certeza de que “o depois” é real.

Propósitos.

COMO OS MÉDICOS MORREM

Nós sempre falamos muito sobre as mortes de todas as pessoas,


mas não incluímos em “todas”, os médicos. Quando eu entendi sobre o
meu chamado de vida com os Cuidados Paliativos, encontrei o texto
“Como os médicos morrem” do Dr. Ken Murray, médico e professor
de Medicina da família na University of Southern California.

COMO OS MÉDICOS MORREM?

Por Ken Murray

“Anos atrás, Charlie, um ortopedista altamente respeitado e meu


mentor, foi diagnosticado com câncer pancreático por um cirurgião.
Este cirurgião era um dos melhores do país. Mas, Charlie não estava
interessado em seu tratamento. Ele foi para casa no dia seguinte e
fechou seu consultório. Concentrou-se em passar o tempo com a família
e sentir-se o melhor possível. Vários meses depois, ele morreu em

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Medicando Almas | As primeiras mortes

casa. Não recebeu quimioterapia, radiação ou tratamento


cirúrgico.

Não é um tópico frequente de discussão, mas os médicos


também morrem. E eles não morrem como o resto de nós.

Por todo o tempo que passam evitando a morte de outras


pessoas, eles tendem a ser bastante serenos quando confrontados com a
morte. Eles sabem exatamente o que vai acontecer, sabem as opções
e geralmente têm acesso a qualquer intervenção. Porém, resolvem
partir suavemente.

Eles sabem o suficiente sobre a medicina moderna para


compreender os seus limites.

Sabem o suficiente sobre a morte para compreender o que


mais tememos: o morrer com dor e o morrer sozinho.

Eles conversam sobre isso com suas famílias. Querem ter


certeza, quando chegar a hora, que nenhuma medida heroica acontecerá
- ou seja, que eles nunca irão experimentar, durante seus últimos
momentos na terra, alguém quebrar suas costelas na tentativa de
ressuscitá-los com RCP (isso é o que acontece se RCP for bem feito).

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Medicando Almas | As primeiras mortes

Quase todos os profissionais médicos viram o que chamamos de


“cuidado fútil” sendo realizado em pessoas: o paciente será aberto,
perfurado com tubos, conectado a máquinas e atacado com drogas.
Enquanto, algumas equipes médicas usarão medalhões com o carimbo
"SEM CÓDIGO" para dizer aos médicos que não devem realizar a
RCP.

Mas, afinal, como os médicos morrem?

Eles morrem sem cuidados exagerados.

Quase qualquer pessoa pode encontrar uma maneira de morrer


em paz em casa, e a dor pode ser controlada melhor do que nunca.

Os cuidados paliativos, que se concentram em fornecer aos


pacientes terminais conforto e dignidade, em vez de curas fúteis,
fornecem à maioria das pessoas dias finais muito melhores.
Surpreendentemente, estudos descobriram que pessoas colocadas em
cuidados paliativos muitas vezes vivem mais do que pessoas com a
mesma doença que buscam curas ativas. Fiquei surpreso ao ouvir no
rádio recentemente que um famoso repórter havia "morrido
pacificamente em casa, cercado por sua família".

Felizmente, essas histórias são cada vez mais comuns. Vários


anos atrás, meu primo mais velho Torch descobriu um tumor cerebral.
Eu providenciei para ele vários especialistas e aprendemos que com o
tratamento agressivo de sua condição, incluindo três a cinco visitas ao
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Medicando Almas | As primeiras mortes

hospital por semana para quimioterapia, ele viveria, talvez, quatro


meses. No final das contas, Torch decidiu-se contra qualquer
tratamento e simplesmente tomou a medicação para reduzir o edema
cerebral. Ele foi morar comigo. Passamos os oito meses seguintes
fazendo um monte de coisas que ele gostava; nos divertindo juntos
como não fazíamos há décadas. Fomos para a Disneylândia, sua
primeira vez. Nós saíamos em casa. Torch era um fanático por esportes
e ficava muito feliz em assistir esportes e comer minha comida. Ele até
ganhou um pouco de peso, comendo seus alimentos favoritos em vez
de alimentos de hospital. Ele não sentiu nenhuma dor grave e
continuou animado. Um dia, ele não acordou. Passou os três dias
seguintes em um sono de coma e depois faleceu. O custo de seus
cuidados médicos nesses oito meses, para o único medicamento que
estava tomando, foi de cerca de US $20. Torch não era médico, mas
sabia que queria uma vida de qualidade, não apenas quantidade.

E, não é isso que a maioria de nós deseja?

Se existe o estado da arte do cuidado no fim da vida, é este:


a morte com dignidade.

Quanto a mim, meu médico tem minhas escolhas. Elas são


fáceis de fazer. Não haverá heroísmo, e partirei gentilmente numa boa
noite. Como meu mentor Charlie. Como meu primo Torch. Como meus
colegas médicos.”

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4 Aprendendo
com as minorias
“Não há judeu nem grego, escravo nem livre, homem nem mulher;
pois todos são um em Cristo Jesus.”

Gálatas 3:28

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Medicando Almas | Aprendendo com as minorias

APRENDENDO COM AS MINORIAS

“Cai bem, em dias de escuridão ações de luz para o bem de


todos e não só de uns. Faz bem, em meio a tantos medos ecoar a voz do
amor, nutrindo esperança, aliviando a dor. A nossa empatia ameniza
sofrimentos trazendo, em meio ao pranto um pouco de alegria. Assim,
ninguém precisa usar tantos argumentos para cuidar um do outro a
cada novo dia com amor. Cuide bem do amigo. Cuide do enfermo e do
doutor. Seja compassivo. Não ponha em perigo quem Deus ama e você
chama de meu amor.” Cuide – Paulo César Baruk

CEGOS QUE VEEM

Então, você acordou, tomou um banho quente, vestiu roupas


limpas, teve a sua mesa cheia no café da manhã, e dirigiu-se para o
postinho de saúde. Ele ficava lá naquele bairro mais afastado.

Era dia de visita domiciliária, e você viu. Ninguém te contou.


Você viu. Você viu a realidade do Brasil. Eu preciso agradecer a
medicina, porque ela abriu os meus olhos para o mundo real.

A medicina me colocou em prova logo no primeiro encontro,


quando me levou para estagiar em zonas vulneráveis, e atendi pessoas
que sorriam de estômago vazio. E, mesmo assim caçavam pelos
armarinhos e me diziam:

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Medicando Almas | Aprendendo com as minorias

“Doutora, fica mais, deixa eu passar um cafezinho.”

A medicina me mostrou os altos e baixos da vida humana, e


quantas vezes nos baixos é que realmente aprendemos o que de fato
importa.

Faltava carne, mas não faltava amor.

Foram nos leitos de enfermidades incuráveis que vi amor à vida,


esperança e redenção.

Perdão. Gratidão.

No faltar das medicações, nas longas filas do alto custo, nas


lotações que trazem centenas de pessoas aos ambulatórios regionais, eu
vi pessoas indesistíveis. Verdadeiros guerreiros. Vi gente. E,
incontáveis foram as vezes que Deus se vestiu “de gente” e entrou
no consultório.

A medicina não me ensinou a “ser médica.” Me ensinou sobre


vida, e percebendo as vidas, elas me fizeram “médica.”

Posso agradecer a Deus por tudo que Ele me ensinou até aqui,
detalhes que talvez passassem despercebidos.

Lembro de uma visita: minha primeira paciente era cega, ela não
podia me enxergar. Me contava sobre sua vida, suas aflições, seus
medos, anseios, e mesmo com tão pouco, ela tinha uma vida de
gratidão. Não deixava de ir aos cultos na igreja – como não tinha outra
moça para acompanhá-la e ajudá-la a ir ao banheiro durante as reuniões
religiosas, ela vestia fraldas, mas não deixava de ir.

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Medicando Almas | Aprendendo com as minorias

Pois é, foi com uma mulher cega que eu aprendi a ver.

Eu enxergando, não era como ela.

Lembro quando o Amor me tocou: me aproximei devagar para


ela perceber o que eu estava fazendo, a abracei, e falei o quanto Deus a
amava. Naquele abraço, choramos enquanto Deus queimava. A agente
comunitária de saúde se juntou ao nosso choro. Encontro de almas.

A medicina me ensinou que não preciso de muito para fazer a


diferença e ser feliz na minha profissão. Eu só preciso dar o primeiro
passo que é ver as pessoas, ser honesta, responsável e amá-las.

Foram nessas casas mais simples, em que muitas vezes faltava


um pão na mesa, que eu encontrei Jesus. E, era inegável a Sua presença.

DOR DE MÉDICO

“Para a dor que eu sinto, não tem como você me ajudar.”

Outubro, 2020

Ela entrou no consultório onde eu estava atendendo. Perguntei


como eu poderia ser útil, e a resposta veio como flecha no alvo “Veja
os meus exames, porque para a dor que eu sinto, não tem como você
me ajudar.” Aquilo mexeu comigo. Logo eu que não vejo sentido na
medicina se não for para atender o paciente por inteiro, estava de frente
com alguém que me via “só como médica”. Talvez, você não consiga
me compreender, mas o sentimento no meu coração era “como é

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Medicando Almas | Aprendendo com as minorias

horrível ser só médica para eles.” Não sei se foram experiências


negativas de seu passado. Mas, logo entendi, quando ela me disse
“Trabalhei muito anos neste serviço com vários desses médicos.”
Estava explicado.

Procurei brechas no diálogo para criar um vínculo, afinal estava


atendendo com mais duas colegas que são muito humanas e que,
juntamente comigo, poderiam oferecer “outro tipo de remédio” para
aquela dor. O ponto de partida foi perceber que com a sua frase inicial
ela não estava pedindo por seus exames, ela estava pedindo que
olhássemos para ela.

Quase sempre, não é preciso fazer muito. Demonstrar


importância, empatia e compreensão do sofrimento humano é sempre
o bom caminho.

Consegui encontrar algo em comum com ela: a fé. Me dispus a


orar pela causa que lhe afligia, já que tirou a medicina de campo e quase
o seu coração também.

Fiquei me questionando, o quanto as pessoas estão preparadas


(ou não) para serem atendidas por pessoas que de fato partilharão cura
para essas dores que não possuem medicação.

Eu vi claramente que ela nem cogitava a abertura para falar


sobre o que estava sentindo. Ela era expectante por uma consulta
superficial, focada na alteração laboratorial, na doença e não nela. No

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Medicando Almas | Aprendendo com as minorias

que ela sentia. No que estava passando. Em seu processo multifatorial


de adoecimento.

“A minha queixa, doutora, vocês não podem resolver. O meu


neto tem 15 anos e está em estágio avançado de câncer. Eu daria
toda a minha saúde para ele.”

ALGO A MAIS

Você que chegou até aqui e trabalha com pessoas -


independentemente de ser na área da saúde – se você trabalha com
pessoas, você pode ajudá-las em seus processos de cura: basta querer
enxergar, ouvir e suportar – dar suporte mesmo! Se importe!

Hoje em dia, ser “humanamente correto”, assusta. Porque as


pessoas estão mais acostumadas a esperarem o pior dos outros - a
serem tratadas de qualquer jeito, e reduzidas a “coisas”, quando não
“animalizadas”. Aliás, não faz muito tempo que ouvi, na frente da
faculdade, uma mulher dizer “Eu sou gente, não bicho; nem olham na
minha cara!”.

Lembre-se: o mundo melhor começa no espaço dos nossos


braços abertos.

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Medicando Almas | Aprendendo com as minorias

DOR DE INCLUSÃO

PROSTITUIÇÃO

Durante um dos nossos atendimentos no Centro de Atenção


Psicossocial, Deus me direcionou para uma moça que estava
participando da pintura solidária. Ela estava triste e sozinha. Fiquei
olhando de longe a princípio, a fim de compreender melhor como
poderia me aproximar. Percebi que ela estava pedindo para que a
voluntária da pintura lhe ajudasse a fazer um quadro com versículos
bíblicos. Deus amava aquela moça e eu sentia esse amor.

Sentei-me ao seu lado, começamos a conversar, e partilhei com


ela coisas lindas que Deus estava colocando no meu coração. Se eu
pudesse fazer uma síntese do que eu disse, seria: “Você é amada. Você
é querida. Jesus se entregou por você.” Fui percebendo seus olhos
encherem de lágrimas, então a abracei.

Lua (codinome) me contou que era profissional do sexo, e que


naquele dia estava fazendo aniversário, e conversar comigo foi um
“presente” de Amor. Claramente eu entendi, que a sua profissão fazia
com que pessoas não se aproximassem dela, e ela das pessoas. Por isso
a primeira coisa que me disse foi “sou profissional do sexo”, como um
aviso: “Você está falando comigo, mas eu sou profissional do sexo, você
tem certeza que quer falar mesmo comigo?”, doeu entender. Ela se
surpreendeu quando viu que além da minha escolha ser a de permanecer
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Medicando Almas | Aprendendo com as minorias

ao seu lado, me interessei ainda mais por quem ela era. Me contou
sobre sua casa, sobre sua luta contra a dependência química, falou sobre
seu filho e o quanto o amava. Eu só precisei entender que ela era
mulher e eu também, e Deus estava me dando a oportunidade de tocar
a sua alma com alegria bem nessa data especial.

Escolhi naquele dia a aula que me ensinava a sentir o que as


pessoas estavam sentindo, e ser uma porção de transformação para esses
sentimentos. Afinal, o sentimento de tristeza e solidão de Lua
converteram-se em graça. Tenho certeza de que “aquela lua” deu espaço
para um radiante Sol.

“Os escribas e fariseus trouxeram à sua presença uma mulher


surpreendida em adultério e, fazendo-a ficar de pé no meio de todos,
disseram a Jesus: Mestre, esta mulher foi apanhada em flagrante
adultério. E na lei nos mandou Moisés que tais mulheres sejam
apedrejadas; tu, pois, que dizes? [...] Como insistissem na pergunta,
Jesus se levantou e lhes disse: Aquele que dentre vós estiver sem pecado
seja o primeiro que lhe atire pedra [...]. Mas, ouvindo eles esta resposta
e acusados pela própria consciência, foram-se retirando um por um
[...] ficando só Jesus e a mulher no meio onde estava. Erguendo-se
Jesus e não vendo a ninguém mais além da mulher, perguntou-lhe:
Mulher, onde estão aqueles teus acusadores? Ninguém te condenou?
Respondeu ela: Ninguém, Senhor! Então, lhe disse Jesus: Nem eu
tampouco te condeno; vai e não peques mais. De novo, lhes falava
Jesus, dizendo: Eu sou a luz do mundo; quem me segue não andará nas
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Medicando Almas | Aprendendo com as minorias

trevas; pelo contrário, terá a luz da vida. [...] Vós julgais segundo a
carne, eu a ninguém julgo.”

João 8:3-15

LGBTQIA+

De todas as pessoas da retaguarda da cirurgia geral, uma chamou


a atenção de Deus de uma forma especial. Ela era uma mulher
transexual. Entrei em seu quarto logo após os médicos terem saído. Ela
estava chorando.

Deixei de lado tudo o que eu segurava, e peguei as suas mãos,


segurando com muito amor, olhei em seus olhos e disse “Se você se
sentir à vontade, me conte por que está chorando, eu gostaria de lhe
ouvir.” Nesse dia, eu não fiz mais nada além de ouvi-la.

Ela me falou dos exames invasivos, do sentimento de corpo


violado. “Por que tantos exames?!”

Acho necessário pontuar que ela carregava pelo menos quatro


“espinhos” em seu corpo: a imunodepressão, a grande úlcera de pressão
na região sacral, a bolsa de jejunostomia, e um câncer colorretal. Mas,
o motivo de suas lágrimas não era nenhum desses. Aliás, ela nunca
sequer reclamou da condição em que se encontrava, e nunca me disse
“hoje não estou me sentindo bem”. Eu passava toda manhã para
examiná-la, e perguntava como havia sido a noite, se tinha dor, ou
alguma outra queixa. Sua resposta era sempre a mesma “Eu passo bem”,

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Medicando Almas | Aprendendo com as minorias

e sorria sem forças. Seus olhos sempre me contavam a verdade, e eu


pegava as suas mãos e fazia carinho.

Naquela mesma semana fui submetida a vários exames


invasivos e lembrei de suas palavras. Chorei no carro com o mesmo
sentimento “É Deus, agora eu posso compreender parte do que ela
estava sentindo.”

Não tem jeito: só sente o mesmo quem passa pelo mesmo. Só


compreende a dor, quem sentiu a dor. Só é possível se colocar no lugar
quando duas coisas acontecem: (1) você viveu algo muito semelhante
ou (2) você consegue fazer uma projeção para a sua realidade do que
seria aquele sentimento que outro está enfrentando.

Nós somos enviados para amar, e algumas vezes teremos a


oportunidade de ver nossas experiências dolorosas sendo
transformadas em compreensão parcial a respeito da peleja do outro.
Compreensão parcial porque, como humanos, jamais seremos capazes
de compreender o todo – afinal, só habitamos na nossa própria pele.

DOR DE DESESPERANÇA

A vida me ensinou muito nos momentos difíceis. Passei a


entender que além de amar as pessoas, precisamos trazer à memória
todos os dias a importância de amar.

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Medicando Almas | Aprendendo com as minorias

O amor cura.

Não importa se muda algum diagnóstico no papel. Ele cura.


Fim.

Para a vida, levo a certeza, de que tocar pessoas é como tocar


um templo.

“Quando você toca alguém, nunca toque só um corpo. Quer


dizer, não se esqueça de que você toca uma pessoa e que nesse corpo
está toda a memória de sua existência. E, mais profundamente ainda,
quando você toca um corpo, lembre-se que você toca um sopro, que
esse sopro é o sopro de uma pessoa com os seus entraves e dificuldades
e, também, é o grande sopro do universo. Assim, quando você tocar um
corpo, lembre-se de que você toca um templo” Leloup

Ela entrou com muitas expectativas no consultório: “Doutora,


conseguimos algo com essa tentativa?”

A médica abriu o exame...A doença não respondeu ao


tratamento proposto.

Continuava em progressão.

A medicina não lhe ensina a lidar com a alma e a esperança das


pessoas. Não lhe prepara perceber o que se passa dentro de alguém.

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Medicando Almas | Aprendendo com as minorias

Naquela consulta, eu fiquei pensando o quanto eu queria que os


exames estivessem errados. Como queria rasgar os papéis, olhar para a
paciente e dizer “Está livre! Toque o sino!” – porque quando os
pacientes da oncologia tocam o sino, significa que fizeram as suas
últimas sessões de quimioterapia e recebem alta do serviço.

Mas, não. A doença ainda estava lá, consumindo as forças, o


vigor e os anos.

Queria poder dizer “Vamos tentar de outra forma!” Mas, que


forma? Se todas as técnicas curativas da ciência já haviam sido
tentadas? Então, eu ouvi no meu coração.

“Por que a cura precisa estar num exame? Por que a cura
precisa ser a ausência de uma enfermidade? Hellena, somos curados
de dentro para fora. O último estado que importa é a presença ou não
de uma doença. Hellena, olhe para a história. Olhe para a gratidão,
para a fé, para a vida, para a alma dela.”

Então, mas uma vez, eu entendi que ser gente é muito mais.

Ser gente é viver nossas histórias, é amar, é chorar, dançar,


sorrir, falar sobre coisas que gostamos, tomar um café da tarde com
nossos avós, fazer caridade, doar sangue, fazer uma doação anônima,
pintar um quadro, tocar uma música, viajar para a cidade vizinha numa
quarta-feira à noite, ou pegar um avião para qualquer lugar do mundo
com aquele dinheiro que está sendo guardado há tantos anos.
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Medicando Almas | Aprendendo com as minorias

Aliás, por que guardamos tanto dinheiro?

Ser gente é viver o tempo, sem viver em função do tempo.


Ser gente é se despreocupar.

E, quer saber do mais? Ser gente é acreditar além do que


podemos ver.

Acreditaremos em milagres.

Dessa forma, por acreditar no que não vejo, eu creio que um dia
pegarei exames e direi: “Sei que já repetimos. Mas, hoje Jesus entrou
aqui e fez tudo novo! Vamos repetir outra vez.”

E, quando o novo exame chegar eu lerei “Não foram


encontradas células neoplásicas. Não há acometimento linfonodal.
Não há metástases a distância.”

Ninguém vai entender, mas meus joelhos estarão tão gastos


quanto os meus neurônios.

A Medicina nunca me ensinou sobre esperança.

Aliás, muitos professores me disseram “você não pode dar


esperança para um prognóstico fechado”.

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Não foi a medicina que me ensinou a lutar de outras formas pela


vida. Mas, foram as próprias vidas que me ensinaram que algumas lutas
são travadas além do cuidado técnico.

DOR DE ABORTO

Na sala do pronto atendimento a queixa era sangramento e dor.


Nos olhos da gestante você facilmente encontraria o par: angústia e
tristeza. No momento de escutar os batimentos do bebê: silêncio.
Profissionais se olham. Chamam um terceiro para avaliar. Solicitam
ultrassom. Sem batimentos.

A mamãe não conseguiu segurar o choro, seu bebê havia


morrido.

Outro dia, uma nova mamãe.

“Como você está?”

Ela não conseguiu responder. Choro. A queixa era


sangramento e dor novamente.

“Eu não consegui segurar meu filho aqui dentro.”

Mais um dia, e recebemos mais quatro casos de aborto


espontâneo. A mesma pergunta com os olhos vermelhos e chorosos
“Doutor, como está o meu bebê?”. Choro. Dor. Sangramento.

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Medicando Almas | Aprendendo com as minorias

Entendi que algumas dores a literatura descreveria para nós.


Mas, não encontrei nos meus livros sobre a “dor do aborto”, aquela dor
que eu vi nos olhos dessas mulheres.

Dor de um sonho se perdendo dentro delas. Dor de uma vida


escoando pelo “portal da vida”. Dor de não poder ser chamada de
mamãe mais uma vez. Quem cura essa dor? Que alívio receitar?
Existiria uma forma mais humana de acolher?

Chegou o último dia do estágio. A chefe do plantão me viu


preparando imagens e textos para o “@medicadealmas” na hora do
almoço; leu; elogiou; por fim me fez o pedido: “Hellena, eu queria que
você pudesse conversar com uma puérpera. É uma questão bem
complexa e envolve várias áreas da vida humana, acho que seria
importante você ir.”

No caminho para a quarto senti o Espírito Santo de Deus me


envolvendo. “Tudo bem. Já entendi. Estou indo, faz como lhe apraz
Jesus. Eis-me aqui.”

Entrei no quarto e dei de cara com outra mulher segurando a


criança em seus braços. Ela olhava com amor de mãe para aquele
recém-nascido. Mas, pera lá, a mãe da criança era a que estava no leito,
não essa!

Me dirigi a puérpera, peguei em suas mãos e lhe disse “Meu


amor, me conte tudo.” Enquanto ela falava eu via os detalhes de
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Medicando Almas | Aprendendo com as minorias

Deus naquela história. Aos poucos, a outra mulher que segurava a


criança se aproximava de mim toda emocionada. Então, olhei para ela:

“Eu sinto um amor tão grande de Jesus por você, só me diga,


quantos anos sem poder ter um filho?”

Disse: “Doutora, 15 anos!” e desabou a chorar.

A moça era cunhada da puérpera. A puérpera era dependente


química e estava em situação de rua, engravidou e tentou abortar a
criança. Mas, o “Deustino” permitiu que algo mudasse essa história. O
seu irmão a encontrou, levou para casa, cuidou. Ela então entendeu que
a criança que ela nunca quis, nunca pertenceu a ela, mas que o propósito
do Senhor a trouxe porque havia um casal chorando há anos por um
filho – esse casal era o seu irmão e a cunhada que oravam há 15 anos
por uma filha, e agora a menina estava em seus braços de amor.

Eu entrei num quarto coberto de um amor que poucos poderiam


experimentar, de um final divinamente diferente pude testemunhar
vida e novos começos.

A MINHA DOR POR NÃO TER SIDO COMO O BOM


SAMARITANO

Há uns anos saindo pela rua da faculdade após uma reunião de


oração, começamos a cantar músicas sobre Jesus enquanto andávamos
na calçada. Aconteceu que passamos cantando por vários moradores de
rua, e um deles disse “Venham aqui, por favor.” Mas, continuamos
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Medicando Almas | Aprendendo com as minorias

andando e eu respondi “Desculpe, mas, não podemos parar.” Ele


continuou “Por favor, venham, eu não posso ir atrás de vocês.”

Chegando em casa, entendi exatamente o que eu havia feito: eu


tinha condições e segurança para parar, mas eu não fui como o Bom
Samaritano. Eu agi igual aos fariseus: depois de uma reunião de oração,
e cantando louvor na rua, eu não fui capaz de olhar para o sedento.

Deus tocou tanto ao meu coração que eu entendi logo o que Ele
estava me pedindo: “Hellena, amar os seus amigos é fácil, mas Eu vim
para os pequeninos, Eu desejo que você pare por aqueles que ainda
não conhecem o meu amor.” O arrependimento genuíno veio.

“Produzi, pois, frutos dignos de arrependimento.”

Mateus 3:8

Dois anos depois, eu estava no plantão da obstetrícia. Eram os


últimos minutos e o de repente de Deus aconteceu mais uma vez.

A equipe saiu correndo para um dos quartos, e eu fui junto. Mas


antes de entrar, eu vi um familiar da paciente chorando ao lado de fora
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Medicando Almas | Aprendendo com as minorias

do quarto. Eu tinha duas opções: entrar no quarto e ser uma das 6


pessoas ali dentro, ou parar e acolher aquele que estava chorando.

Na hora eu lembrei do que Deus me falara anos atrás. Então, eu


parei no corredor e fui abraçar quem estava chorando sozinho.

Conversamos, falamos sobre fé e perseverança. Eu pude ouvir


“Doutora, o seu amor e o seu olhar são diferentes dos outros. Você
é a médica?”

E eu respondi “Não, não, eu sou apenas a aluna.” Mas, dentro


de mim eu disse a Deus “A Sua aluna Samaritana, Senhor.”

Depois da conversa, entramos juntos no quarto, e eu ainda


aprendi muito sobre Medicina.

ALGO A MAIS

Eu não sei ao certo o que você pensa quando lê textos como


esses. Não sei se consigo transmitir o que de fato almejo: que possamos
amar as pessoas e nos importarmos com elas como Jesus se
importa.

Não é sobre buscar elogios de homens. Na verdade, o percurso


do servir é bem espinhoso.

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Medicando Almas | Aprendendo com as minorias

“Dizer eis-me aqui é uma escolha, é um caminho que não dá


para retornar. É possível, mas já tenho a consciência que seguir é bem
mais fácil que voltar. Elogios não satisfazem minha alma, os aplausos
não compensam o que já sacrifiquei, e o dinheiro nunca poderá
comprar minha vida que no altar já entreguei. Eu vejo que a estrada é
bem longa, e já percebi que fácil não será. Meu Deus, se não fores
comigo nenhum passo adiante eu quero dar.”

Leandro Borges, O chamado

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5 As marcas do
servir
“Seja a atitude de vocês a mesma de Cristo Jesus, que, embora sendo
Deus, não considerou que o ser igual a Deus era algo a que devia
apegar-se; mas esvaziou-se a si mesmo, vindo a ser servo, tornando-
se semelhante aos homens.”

Filipenses 2:5-7

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Medicando Almas | As marcas do servir

AS MARCAS DO SERVIR

“Farei cicatrizar o seu ferimento e curarei as suas feridas"

Jeremias 30:17

“Mas um samaritano, estando de viagem, chegou aonde se


encontrava o homem e, quando o viu, teve piedade dele. Aproximou-
se, enfaixou-lhe as feridas, derramando nelas vinho e óleo. Depois
colocou-o sobre o seu próprio animal, levou-o para uma hospedaria e
cuidou dele.”

Lucas 10:33-34

LIMPANDO AS FERIDAS

Era o meu primeiro ano na faculdade, e eu acompanhava um


plantão no politrauma - a emergência que atende as vítimas de
acidentes. Durante a avaliação secundária, pude escutar um interno do
quinto ano perguntando aos residentes de plantão “O que mais posso
fazer pelo João (codinome)?”. João estava com ferimentos corto-
contusos em face e couro cabeludo. A resposta de uma das médicas foi
“Acho que nada. Ele está bem e estável, vamos dar alta.”

Eu olhei para o leito de João, seu rosto estava sujo, ainda


sangrando. Vi o estudante se dirigindo até ele e analisando suas lesões.

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Medicando Almas | As marcas do servir

Voltou para a residente “Ele está sangrando, vou limpar e fechar as


suas feridas.”

O menino levou João à sala de procedimentos, e nos convidou


para auxiliá-lo. Ele conversava com o paciente, perguntava da vida,
enquanto fazia toda a limpeza da ferida. Anestesiou. Suturou. Pegou os
papeis de retirada de pontos, e tudo aquilo que se fazia necessário
naquele momento. Então, fui surpreendida com a pergunta que ele fez
“João, você tem para onde ir? Eu posso ligar em algum lugar para te
receber.” E, João respondeu “Eu vou para as ruas aqui de perto
mesmo.”

Eu nunca mais encontrei esse moço na faculdade. Ele era mais


velho, e eu, era só uma aluna do primeiro período entre os 100 novos
recém-chegados na faculdade. Estive com esse interno por aqueles
breves minutos, mas a sua atitude me marcou ao longo de todos os anos
que vieram. Naquela noite, eu vi o “bom Samaritano” que ele foi, o
qual, eu também estava decidida a ser.

Cinco anos após esse episódio, no meu sexto ano de medicina,


a mesma situação se repetiria. Um paciente morador de rua estava
com o rosto todo machucado. Já tinham preparado seus papeis de alta
médica, mas as suas feridas ainda sangravam. Prontamente me lembrei
da parábola contada por Jesus, e do menino do quinto ano.

Peguei os materiais para limpar as suas feridas.

Antes, da alta, tirei todo sangue de seu rosto.

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Medicando Almas | As marcas do servir

“Você sabe que você não precisa fazer isso, não é? Não é
trabalho de médico.”

Essa é frase.

E, assim, por “não ser o meu trabalho” o paciente fica sujo. O


paciente fica esperando mais do que deveria, porque também não é
trabalho do enfermeiro ter que levá-lo para a sala de exame. É trabalho
de quem?

Perdi as contas de quantos eu levei até a sala de exames, de


quantos rostos eu limpei. De acessos tirados, curativos feitos e fraldas
trocadas.

Incontáveis foram as vezes em que orei por eles.

Estive junto quando o padre veio.

Fui ao velório.

Não era trabalho de médico. Era coisa de gente.

Não quero ser reconhecida por grandes feitos. Quero impactar


fazendo o mínimo que está em falta, e ao mesmo tempo ao alcance
de todos.

Essas são as marcas do servir, da escolha de servir.

Não é muito, nunca é. Mas, é o pequeno gesto que demonstra


a grande porção que há em sua essência.

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SEGURANDO EM MEUS BRAÇOS

Quando me disseram “Tentamos de tudo para manter Dona


Maria (codinome) sem a ventilação mecânica, porém ela precisou ser
entubada. O Glasgow era 15 – totalmente consciente”, eu me
questionei em silêncio se algum médico ou enfermeiro perguntou a ela
se queria fazer uma oração, ou ligar para algum familiar antes de ser
sedada e entubada.

Na pandemia, recebi por direct o texto de um médico que falava


sobre algo semelhante. Ele contava para a sua Dona Maria como estava
a visão do céu vista pela janela do hospital momentos antes dela ser
entubada. Ela também estava totalmente consciente.

Ele perguntou se ela queria fazer uma oração. Ou qualquer outra


coisa.

Era um texto humano de gente cuidando de gente.

Eu não conheço o “caminho” do tubo. Às vezes, nossas


estatísticas acertam, outras vezes, não. Sei que muitos voltam. Sei que
muitos não. Mas, caminhar consciente para essa condição, exige
humanização, respeito à vida, e empatia.

Requer que você pense “E, se fosse eu?”.

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Medicando Almas | As marcas do servir

Dona Maria era conhecida “antiga” minha. Estive ajudando em


seu caso. Inclusive, no dia que ela estava com dificuldades respiratórias,
eu apoiei seus braços sobre meus ombros, para que conseguisse
deixá-la com o tórax expandido. Quem viu de longe, pareceu um
abraço.

E, talvez, fosse mesmo. Porque nossas almas estavam em


contato, e no meu silêncio, para que o procedimento fosse realizado, eu
estava orando por sua vida.

Dona Maria não resistiu à enfermidade que assolou seus


pulmões e todos os seus sistemas, assim como milhares de pessoas
nesse país e no mundo.

Eu não sei quantos que estavam conscientes receberam a


oportunidade de dizer o que queriam antes de serem entubados.
Não sei quantos puderam voltar.

Sei que a equipe de profissionais de saúde fez o seu melhor, na


medida do possível. Afinal, é só no possível que a gente consegue agir.

TUDO O QUE EU TENHO É MUITO POUCO

Existirão momentos em que você dirá para Deus “Pai, eu só


tenho isso. É muito pouco. Não vai dar para o gasto” e, Ele lhe
responderá “Para você parece pouco, para mim é a ferramenta mais
que necessária para curar e salvar.”

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Medicando Almas | As marcas do servir

Na medicina Deus me ensinou isso.

“Pai, só tenho minhas mãos e a minha vontade de ser alguém


que faz tudo pela vida de outro alguém.”

Entendi que as minhas mãos em Suas mãos, era tudo o que Ele
precisava.

Sinto nos meus ossos do punho a dor do peso do meu corpo


contra tórax de um paciente de ontem durante a ressuscitação
cardiopulmonar. Nesta dor que sinto, está a lembrança de que Deus
usa mãos para recuperar pessoas. Abraços para proteger. Palavras
para encorajar e fortalecer. Amizades para edificar. A ciência para
caminhar junto com a fé.

Pense em tudo isso.

O seu pouco pode ser muito nas mãos de Deus. Não menospreze
o que tem.

NÃO SE CONFORME

Para carregar as marcas do servir, você não pode ser um


alguém conformado.

Se eu tivesse um único pedido a fazer, eu até ajoelharia para lhe


pedir que “Não se conforme.”

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Medicando Almas | As marcas do servir

Não deixe o sofrimento e o não funcionamento do sistema


mudarem o seu coração. Na área da saúde praticamente tudo é
insuficiente, menos o amor. O amor é o que transforma tudo.

Amar é o mínimo que podemos fazer.

Porque eu estou aqui há 6 anos sabendo que mãos de homens


não revertem prognósticos fechados, que a inteligência não devolve
sinapses que foram desligadas, que a força não traz vida, só quebra
costelas. Que até mesmo as medicações mais “potentes” podem ser
ineficazes.

Dentro de um hospital faltarão muitas coisas. E, você não tem


como mudar isso, porque foge do seu domínio, e seu paciente é o mais
prejudicado nisso tudo. Ele é o herói no leito lutando pela vida, não
você. Você pode ajudá-lo, se não se conformar.

Então, por favor, não se conforme.

Mesmo que as suas mãos sejam apenas mãos de carne e osso,


que elas toquem com respeito e empatia; que seus olhos sejam os olhos
da Graça e Amor, porque o seu paciente sentirá. Ele pode estar sedado,
inconsciente, mas ele sentirá. O amor nunca passa despercebido.

Esse texto nasceu quando eu estava cuidando do “meu pequeno”


- o paciente mais jovem da enfermaria - num leito de despedida. Em
meu coração eu orava por ele, e ele me olhava atento, mesmo sem me
entender. Eu sorria debaixo da máscara “Você é amado e importante”,
ele mantinha os olhos fixos em mim.

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Medicando Almas | As marcas do servir

Deus sempre me direciona para ficar com as pessoas que estão


partindo. Por quê? Porque eu decidi amar como Ele me ama; porque eu
entendi que era o mínimo que eu poderia fazer por tudo o que Jesus fez
por mim.

Porque a minha escolha foi doar meu coração, minhas


energias, e segurar em suas mãos [dos pacientes] até a Porta do
Céu.

A medicina tem o suporte e o conforto físico. O médico/


enfermeiro/ técnico/ fisioterapeuta é gente, tem os outros atributos.
Ele pode oferecer muito. Amor. Fé. Ressignificação. Humanidade.
E, isso não está à venda, nem pode ser requerido por licitação.

[A minha oração? Senhor, que eu possa sempre ser as Suas mãos


e os Seus pés aqui na terra. Continue colocando as Suas marcas em
mim, porque eu quero amar as pessoas como o Senhor me ama].

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6 Praticando a
arte de ser
humano
“Acima de tudo, porém, revistam-se do amor, que é o elo perfeito.”

Colossenses 3:14

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Medicando Almas | Praticando a arte de ser humano

PRATICANDO A ARTE DE SER HUMANO

Mas, o que seria, afinal, praticar a “arte de ser humano”? Seria


colocar em ação de forma intencional os valores que constituem a nossa
moral: o respeito, a empatia, a solidariedade, a cordialidade, humildade,
senso de justiça etc. Seria abrir a porta para a humanização.

A humanização faz com que valorizemos as pessoas e que nos


importemos com elas de forma integral. A humanização gera
transformação.

Esse capítulo traz histórias comuns, que nos levam a reflexão de


como “ser humano” é simples, e ao mesmo tempo, revolucionário.

ELA NÃO QUER OPERAR

Há alguns dias Dona Geni (codinome) estava internada conosco


pela cirurgia geral. Seu diagnóstico era de câncer gástrico, e a melhor
opção terapêutica seria cirúrgica. Mas, Dona Geni se negava a operar,
e isso gerou um conflito com a equipe médica.

Durante as passagens das evoluções médicas da manhã, era clara


a quebra de vínculo: a equipe não consiga explicar por que a melhor
opção era cirúrgica, e a paciente não conseguia entender por que eles
insistiam em falar de cirurgia sendo que ela não queria operar. De um

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Medicando Almas | Praticando a arte de ser humano

lado faltava paciência para explicar, do outro faltava vontade para


compreender por que a melhor opção era essa.

Numa dessas manhãs, fiquei responsável por Geni. Na primeira


oportunidade, já sabendo que ela estava com aversão a médico, peguei
em suas mãos e comecei a perguntar sobre sua vida – era a minha
tentativa de encontrar algo para criarmos um vínculo. Depois de alguns
sorrisos, lhe fiz a pergunta que ainda não tinham feito “Dona Geni,
conte-me o seu motivo de não querer a cirurgia.”

Era o que bastava. Dona Geni disse que perdeu um filho jovem
há 2 meses no nosso hospital, e que o marido faleceu de COVID há 1
ano. Dona Geni usou todas as palavras e expressões faciais para me
contar que estava com medo de morrer na cirurgia.

Todos os desgastes durante as passagens de caso com os chefes


do serviço estariam resolvidos, se no primeiro momento alguém tivesse
procurado compreendê-la primeiro, escutá-la, e fornecer-lhe o suporte
integral que fosse necessário.

Nesse mesmo dia, durante a passagem de caso, aconteceu de


novo a mesma ladainha: residente foi passar o caso já falando “Dona
Geni não quer operar, mas essa é a nossa conduta.” Vendo a carinha
de raiva da Dona Geni, pedi licença e me dirigi ao chefe, que era, meu
professor.

“Doutor, eu posso falar? Dona Geni acabou de perder o filho


aqui no nosso hospital, e há um ano o seu marido faleceu também. Ela

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Medicando Almas | Praticando a arte de ser humano

me disse que não quer morrer agora. A sua visão sobre essa cirurgia é
que se ela for para a mesa, ela não volta.”

Ele me olhou. Olhou para os residentes e perguntou “Vocês


sabiam disso?”. Silêncio. Olhou para Dona Geni, e depois voltou-se
para mim: “Doutora, o que você faria nesse caso?”.

Nervosa, eu falei “Eu solicitaria o auxílio da psicologia, para


conversar e compreender melhor a nossa paciente.” Eu tinha acabado
de fazer o comum. Ele então me disse:

“Eu faria mais.” Olhou para Dona Geni e perguntou “A


senhora tem fé em Deus?”, ela fez que sim. Ele voltou para mim e
continuou “Eu solicitaria o serviço de capelania, porque para a nossa
paciente, com toda certeza, Deus está soberano a todos nós aqui, e ela
precisa de paz para ser submetida ao melhor procedimento.” Depois
disso, explicou para ela sobre a sua doença e sobre o procedimento.

“SE PREPARE, ELA É MUITO COMPLICADA”

A equipe da recepção veio me avisar sobre a próxima paciente


“Olha, se prepare, porque ela é muito complicada.” Eu respondi “Tudo
bem. Eu estou aqui por eles.”. Entrou no meu consultório uma senhora
loira, alta, muito bem arrumada, e antes de responder o meu “Boa
tarde”, ela foi me dizendo “Você tem doutorado? Por que se não tiver,
não vou te chamar de doutora.”

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Medicando Almas | Praticando a arte de ser humano

Aconteceu que logo eu percebi que o “problema” ou a


“dificuldade” que a paciente poderia estar enfrentando não tinha a ver
comigo, afinal, ela estava me conhecendo naquele segundo. Pedi que
ela ficasse à vontade e se sentasse. Deixei-a falar, e fui fazendo
perguntas abertas. Sempre a tratando e falando com muito amor e
respeito.

Ela abriu o seu coração sobre diversas feridas.

Ao final da consulta, saiu sorrindo e me disse “Até mais, Dra.


Hellena.” Depois, fiquei sabendo que fez um elogio formal no serviço
onde eu estava trabalhando. Quando passei pela recepção, a equipe me
perguntou “O que você fez para ela sair desse jeito? A gente achava
que ela nem sabia sorrir.”

A paciente daquele dia já estava vacinada de outros


atendimentos, por isso entrou dessa forma no consultório. Ela não
estava preparada para receber gentileza gratuita em troca das
primeiras palavras entrecortadas que ela liberou na porta do
consultório.

Muitas vezes, a medicina exigirá de você uma “elevação de


espírito” que ainda não tem.

Porque estaremos cansados, sem dormir, sem comer, sem ir ao


banheiro, com os nossos problemas existenciais e familiares apenas
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aguardando um final de semana livre para serem colocados em pauta, e


então, entrará pela porta do consultório alguém que não será empático
com você.

Como já estamos “péssimos”, o mais fácil é fazer aquele


atendimento de cara fechada e depois dar continuidade ao ciclo da falta
de compaixão. Quem será o próximo? A equipe. Pois é, a falta de
compaixão de um atinge todos os outros. A falta de amor, caleja.

Concordo que existe uma grande parcela de profissionais que


não tem vocação mínima para trabalhar com pessoas, mas também
existem os vocacionados sendo desmotivados por pacientes ou colegas
da mesma classe.

“Se tá de plantão que fique sem comer mesmo.”

“Eu quero ser atendido por um médico homem. Não confio em


médica mulher.”

Por isso, eu sempre digo que o mais difícil na medicina é


“amar as pessoas”.

Fica a reflexão mais uma vez, e a lembrança de que: empatia


é direcionada ao outro, mas tem tudo a ver com quem você é.

Alguma coisa pode ter se perdido durante o caminho. Que tal


recuperarmos a porção humana? Não é apenas na área da saúde que
percebemos esse desamor.

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INSÔNIA DA ALMA

Andressa (codinome), agente comunitária de saúde, trazia as


queixas de Raquel (codinome) ao postinho “Tonturas, dores de cabeça
e dores na coluna.” Faríamos então uma visita domiciliária para
compreender melhor sua condição de saúde.

Chegamos numa casa limpa, organizada e realmente muito


pequena. Raquel estava lá, bem receptiva. Iniciamos a conversa.

O colega que me acompanhava começou a focar em queixas


extras que foram aparecendo, como a insônia que foi referida.
Enquanto ele procurava causas, fatores, eu percebi que ela ficou muito
triste, parecia que algo a machucava por dentro, então, eu não pensei
duas vezes, olhei em seus olhos e perguntei “Que peso é esse no seu
peito?”. Ela começou a chorar. Eu ajoelhei e a abracei.

Ela nos contou sobre os filhos que estavam no Haiti, e o desejo


de trazê-los para perto. Contudo, sem condições para isso, visto que
agora, além de tudo, teria que arcar sozinha com as despesas da casa,
pois seu companheiro a deixou.

O motivo das noites sem dormir, das dores, talvez mais


emocionais e na alma do que no corpo, tem o nome de saudade, e
somado à incerteza quanto ao dia de amanhã, nos revelaram uma mãe
em desespero, com os olhos tristes pedindo socorro. Eu entendi: o que

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Medicando Almas | Praticando a arte de ser humano

ela mais precisava naquele momento, além do meu ouvir e abraçar, era
de esperança.

Disse a ela aquilo que estava no meu coração: “não desistir e


acreditar, porque há sempre esperança.”

Eu não toquei no nome de Jesus ou de Deus, mas ela me


entendeu e em meio às lágrimas afirmou: “Eu também sou cristã, e
ainda hoje o meu filho mais velho me disse que foi à igreja e que a
palavra foi sobre não desistir e manter a fé e a esperança”. Uau! Eu
fiquei muito feliz.

Nós conversamos mais um pouco.

Ela me contou histórias lindas que o Senhor já havia realizado


em sua vida, e eu tive a certeza de que entrar naquela casa era um fato
escrito há muito tempo.

UM TOQUE FINAL

Não importa onde você escolheu atuar, importa quem você


escolheu ser.

Eu ouvi durante muitos anos sobre humanização como se fosse


algo restrito aos médicos de família e às carreiras clínicas que
acompanham pacientes críticos. Quando me perguntavam qual seria a
minha especialidade e eu dizia “cirurgia” era um grande choque!
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Medicando Almas | Praticando a arte de ser humano

“Como assim você vai pra cirurgia geral com toda essa mentalidade de
clínica?”

E, eu perguntava “Qual mentalidade de clínica?” Era sempre


sobre a visão humana no tratamento e no seguimento dos pacientes.

Mas, está aí, algo relevante - não é a especialidade, não é


profissão, não é o campo missionário ou o centro cirúrgico que faz de
alguém uma “alma humana”, é a própria essência que cada um
carrega.

Já vi muita gente que atendia aqui nos hospitais, fazendo


“missão” em suas férias… E eu ficava “besta”, querendo entender por
que a “missão” não tinha começado aqui dentro. Um campo fértil
enorme.

O primeiro pilar de qualquer terapêutica é a humanização.

Estava segurando sua mãozinha enrugada de 80 anos, esperando


que chegasse sua vez de ser atendida. Então, ela me disse:

“Eu amo o Dr. Fulano, e você verá por quê. Quando chegar a
minha vez, ele virá me buscar. Vai me pegar pelo braço e perguntar
como foi o final de semana, se eu estou bem e se minha novela ainda
passa. Dr. Fulano além de ter me dado saúde, fez por mim o que poucos

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Medicando Almas | Praticando a arte de ser humano

fazem com gente velha hoje: me tratou como gente sábia e deu atenção
às minhas queixas. Eu venho aqui e já saio curada.”

Realmente, ela estava certa.

Ele fez tudo o que ela me disse.

Na consulta, deixou ela falar, perguntava tudo a ela, e quando


necessário recorria a mim.

Vó Maria sabia falar sobre si mesma do jeito dela. Dr.Fulano


sabia entender.

O que cura as pessoas é o cuidado, o amor, a compreensão que


recebem. O vínculo traz confiança e adesão ao tratamento. Traz ânimo
para querer comemorar com o médico o resultado positivo do trabalho
conjunto.

O diploma serve apenas para lhe afirmar o grau.

Mesmo porque muitos saem crus da faculdade. Entendem


pouco de medicina - porque isso será construído com os anos da
prática médica- e, acabam entendendo quase nada sobre pessoas.

O que te faz médico e que diferencia da máquina é a sua porção


humana. E, sabe, é isso que Deus e as pessoas estão esperando de você.

Passei almoçar na casa da minha avó, e na hora de ir embora ela


me disse:

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Medicando Almas | Praticando a arte de ser humano

“Hellena, me promete que será uma médica humana e


amorosa?”.

Ela não pediu títulos. Não me pediu prêmios. Não falou a


respeito de fama. Sequer pensou sobre dinheiro. Mas, ela me pediu o
que de fato importa:

Humanização. Empatia. Amor.

(e tudo isso subentende-se a dedicação nos estudos para fazer o


melhor e o correto).

Eu sorri. Pensei comigo como eu queria que ela assistisse aos


meus atendimentos.

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7 A borboleta
“Quanto à antiga maneira de viver, vocês foram ensinados a despir-
se do velho homem, que se corrompe por desejos enganosos, a serem
renovados no modo de pensar e a revestir-se do novo homem, criado
para ser semelhante a Deus em justiça e em santidade provenientes
da verdade.”

Efésios 4:22-24

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Medicando Almas | A borboleta

A BORBOLETA

Os seis anos da medicina se comparam à metamorfose da


borboleta, que sabiamente acontece em quatro fases: o ovo, a pupa, a
lagarta e a borboleta.

O primeiro ano da faculdade é a primeira fase, o início de tudo


- o ovo sendo gerado a partir do momento da aprovação, e então os
primeiros contatos com as áreas básicas. Vestindo um jaleco branco
pela primeira vez.

Na sequência da metamorfose em se tornar uma borboleta, ou


médica, surge a pupa no segundo ano. Aos conhecimentos básicos de
fisiologia e biologia celular soma-se a fisiopatologia. No cenário
prático, estamos mais inseridos no ambiente da atenção básica do SUS.
Começamos a conhecer um pouco além do prefácio da saúde pública
no Brasil.

A vida caminha para o destino do que significa essa graduação,


porém ainda distante do que será tornar-se borboleta. As visitas
domiciliárias trazem à pupa perdida uma breve degustação do que será
a saída da zona de conforto, para confrontar a triste realidade do país.

As pessoas ainda passam fome.

Ainda vivem sem saneamento básico.

Ainda carecem de acesso à educação.

A pupa eclodiu do ovo, e a gente saiu da bolha.

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Medicando Almas | A borboleta

O terceiro ano, talvez, seja o mais intrigante, afinal agora você


é uma lagarta. Apenas a fisiologia e a fisiopatologia não são suficientes,
você precisa conhecer a apresentação clínica, fazer o diagnóstico
diferencial, e está começando a patinar na terapêutica.

O mais importante nesse processo: você não pode esquecer que,


para se tornar borboleta, é necessário seguir com a essência da lagarta
- sua humanidade, seu amor e empatia precisam seguir vivos para a fase
seguinte.

O terceiro ano termina com você, lagarta, dentro do casulo, no


qual permanecerá por mais três anos, a fim de que se transforme numa
linda borboleta.

Os três anos de casulo - internato - vêm para a metamorfose ser


completa: situações novas, adversas, desafiadoras, de grande
intensidade e aprendizado.

Da vida à morte.

Do choro ao riso.

No último ano, nascendo como médica, o que eu mais desejo


é ser essa linda borboleta, que permanece com o espírito humano
da lagarta.

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Medicando Almas | A borboleta

A MINHA BORBOLETA E O SEU SIGNIFICADO

Eu gosto da forma como Deus costuma agir.

Não espere por acasos ou coincidências humanas. Espere por


surpresas divinas, advindas de uma mente divina. Deus não pensa como
nós. Deus pensa como Deus.

Logo quando entendi sobre ser Médica de Almas, eu fui


direcionada a muitas coisas. Uma delas foi a cor azul como marca desse
nome. Outra, foi a borboleta branca - quando estou nas fotos tem
sempre uma lindinha borboleta branca. É o jeito de deixar subentendido
a presença do Espírito Santo, o amor ágape, a vida, a paz que excede
todo o entendimento que o Príncipe da Paz me contemplou após longos
anos de choro.

A borboleta branca me faz lembrar de Jesus e do propósito que


Ele tem com a minha vida: levar amor, vida, fé e esperança.

A borboleta marca a minha passagem do velho para o novo. A


ressurreição e a vida através de Jesus. A certeza de que nasci na terra,
mas o meu destino é o céu.

Então, vamos a história...

Duas semanas de hospital, e no último dia me deparei com um


dos quartos da UTI: o mundo parou quando eu vi a borboleta azul
colada no vidro da porta.

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Medicando Almas | A borboleta

Lembrei da missão.

A equipe de enfermagem me explicou o porquê “Colocamos a


borboleta azul nos pacientes que estão sob cuidados paliativos
exclusivos, para sabermos que são apenas medidas de suporte, controle
de dor e garantia da dignidade.”

Eu sabia que era a minha borboleta.

Fiquei na porta do quarto, olhando através do vidro e


conversando com a Minha Borboleta branca (o Espírito Santo). Fechei
os olhos e orei. Ao meu lado chegou um familiar do paciente.

Esquecendo-me completamente de qualquer outra coisa, entrei


com a pessoa que chegava.

Conversamos sobre Deus, propósito, vida e descanso. Falamos


sobre salvação. Agradeci a simpatia do familiar. E, ele agradeceu a
Deus por ter me enviado.

Oramos e entregamos ao Senhor a “borboleta azul”.

Aconteceu o que eu sempre entendi, desde o primeiro dia:


precisamos conhecer a teoria, dominar a técnica, mas enquanto eu
estiver em campo, eu precisarei de um coração aberto para atender
ao chamado que me chama – é além da medicina, é sobre medicar
almas.

Afinal, Ele sempre me lembrará “Você me pediu para que lhe


contasse os Meus segredos, agora você precisa continuar
correspondendo a eles.”
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Medicando Almas | A borboleta

Eu corresponderei, Jesus! Com toda a minha vida, com cada


célula do meu corpo, todo meu vigor, meus anos, minha vontade, meu
amor e minha fé. Eu irei. Eu não me cansarei de ir.

Eu irei pelos corredores, quartos, enfermarias, UTIs, centros


cirúrgicos, salas de exames, onde o Senhor estiver, eu irei.

Amar como Você é o mínimo que eu posso fazer. Eu amarei


até o fim dos meus dias, porque aprendi que amar a Deus [a Ti,
Senhor] é amar as pessoas.

Sua Médica de almas, Hellena.

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