Você está na página 1de 14

www.revistaperspectivas.

org
ISSN 2177-3548

Uma abordagem comportamental para a descrição de competências


em uma instituição pública federal
A behavioral approach to description of competences in a
federal public institution
Un enfoque conductual para la descripción de las competencias
en una institución pública federal
Camila Carvalho Ramos1, Thiago Dias Costa2, Aécio Borba3, Romariz da Silva Barros4

[1-4] Universidade Federal do Pará | Título abreviado: Uso de Decomposição Comportamental para a Descrição de Competências | Endereço para
correspondência: Augusto Corrêa, 1 - Guamá, Belém - PA, 66075-110 | Email: camilakrvalho@gmail.com | DOI: 10.18761/pac.2015.029

Resumo: O modelo de Gestão por Competências foi instituído no Brasil por meio do
Decreto 5.707/2006 para nortear o desenvolvimento de pessoal na Administração Pública
Federal. Apesar de muitas organizações buscarem implantar este novo modelo de gestão,
o conceito de competência tem se mostrado impreciso e controvertido. Além disso, pouca
atenção tem sido dada para a formulação das competências, que é a base de todo o modelo de
gestão. Os objetivos do presente estudo foram a) avaliar a eficácia de se aplicar as categorias
de falsos objetivos educacionais, e outros cuidados metodológicos apontados na literatura,
para avaliar e contornar problemas de formulação de competências no contexto organizacio-
nal e b) à luz dessa avaliação, discutir inadequações quanto ao termo competência e apontar
para a utilização do termo comportamento como alternativa que contribua para a redução
de controvérsia terminológica. O estudo, realizado em uma instituição pública federal, foi
dividido nas seguintes fases: 1) Mapeamento de Competências; 2) Categorização e 3) Análise
das descrições das competências. Como resultado do mapeamento, foram identificadas 191
competências, das quais 93,20% apresentaram pelo menos uma das condições problemáticas
apontadas na literatura. Os resultados confirmam a adequação da abordagem comportamen-
tal para aprimorar a descrição de competências. A categorização das falhas de formulação, de-
senvolvida no contexto educacional, se mostrou útil para o contexto organizacional. Estudos
subsequentes devem explorar o possível impacto do procedimento aqui descrito sobre a efe-
tividade de etapas seguintes do gerenciamento por competências.
Palavras-chave: Competência, Gestão por Competências, Análise do Comportamento,
Serviço Público Federal

Revista Perspectivas 2016 vol. 07 n ° 01 pp. 133-146 133 www.revistaperspectivas.org


Abstract: The Competence Management Model was introduced in Brazil by mean of Decree
5.707/2006 to guide the development of personnel in the Federal Public Administration.
Although many organizations seek to implement this new management model, the concept
of competence turned out to be imprecise and controversial. Besides that, little attention has
been given to the formulation of competences, which is the basis of the whole management
model. The purposes of the current study were a) evaluate the efficacy of applying categories of
false educational objectives, and other methodological recommendations found in the litera-
ture, to evaluate and overcome problems in competence formulation in organizational context,
and b) in light of such evaluation, discuss inadequacy of the term “competence” and suggest
the use of the term “behavior” as a contributing alternative to reduction of terminological
controversy. The study was conducted in a federal public institution and was divided into the
following phases: 1) Competency Mapping, 2) Categorization, and 3) Analysis of the descrip-
tions of competencies. As a result of the competence mapping process, we have identified 191
competencies, 93.20% of which presented at least one of the problematic elements pointed in
the literature. The results confirm the suitability of the behavioral approach to improve the
description of competencies. The categorization of problematic formulations, developed in the
educational context, proved useful to the organizational context. Subsequent studies should
explore the possible impact of the procedure here on the effectiveness of subsequent stages of
management competence.
Keywords: Competence, Competence Management, Behavior Analysis, Federal Public
Service
Resumen: El modelo de Gestión por Competencias se estableció en Brasil a través del
Decreto nº 5.707/2006 para guiar el desarrollo del personal de la Administración Pública
Federal. Aunque muchas organizaciones tratan de implantar este nuevo modelo de gestión,
el concepto de competencia se ha demostrado inexacto y es objeto de controversia. Además,
se ha dado poca atención a la descripción de competencias, que es la base de todo modelo de
gestión. Los objetivos de este estudio fueran a) evaluar la efectividad de la aplicación de las ca-
tegorías de falsos objetivos educativos y otras recomendaciones metodológicas reportados en
la literatura, para evaluar y superar problemas de formulación de competencias en el contexto
de la organización, b) a la luz de esta evaluación, analizar las deficiencias en relación a el tér-
mino “competencia” y sugerir la utilización del término “conducta” como una alternativa que
contribuye a la reducción de la controversia terminológica. Este estudio se llevó a cabo en una
institución pública federal y fue dividido en las siguientes fases: 1) realización del mapa de
competencias; 2) categorización y 3) análisis de las descripciones de las. Como resultado del
mapeo, se identificaron 191 competencias, de los cuales 93,20% tiene al menos una de las con-
diciones problemáticas mencionado en la literatura. Los resultados confirman la idoneidad
del enfoque conductual para mejorar la descripción de las competencias. La categorización
de los errores de formulación, desarrollada en el contexto educativo, se mostró útil para el
contexto organizacional. Estudios posteriores deben estudiar el posible impacto del procedi-
miento descrito aquí sobre la eficacia de los pasos siguientes en la gestión por competencias.
Palabras-clave: competencia, gestión por competencias, Análisis de la Conducta, servicio
público federal

Revista Perspectivas 2016 vol. 07 n ° 01 pp. 133-146 134 www.revistaperspectivas.org


Camila Carvalho Ramos, Thiago Dias Costa, Aécio Borba, Romariz da Silva Barros 133-146

Desde a instituição do Decreto 5.707 de 23 de “Competência”, tal como descrita no Decreto


fevereiro de 2006 (Brasil, 2006), a eficiência e a 5.707, constitui um conjunto de “conhecimentos”,
eficácia das organizações públicas estão cada vez “habilidades” e “atitudes” (CHA) necessários à re-
mais atreladas à sua capacidade de desenvolver e alização de uma atividade. Essa definição está ba-
aprimorar o que o próprio texto do decreto define seada em proposta originalmente apresentada por
como “competências” (Brandão & Bahry, 2005). O McClelland (1973), e posteriormente por Fleury e
decreto instituiu, no Brasil, a política e as diretrizes Fleury (2001), e procura, na visão desses autores,
para o desenvolvimento de pessoal da administra- incorporar aspectos cognitivos, técnicos, sociais e
ção pública federal direta, autárquica e fundacional afetivos relacionados ao trabalho (Durand, 1998).
tendo como uma de suas principais estratégias a Segundo essa perspectiva, o elemento “conheci-
adequação das competências dos servidores aos mento” corresponde às informações reconhecidas
objetivos de cada instituição. e integradas pela pessoa, que repercutem sobre seu
De acordo com o decreto, uma das estratégias julgamento ou seu comportamento. Já o elemento
para a capacitação e o desenvolvimento profissio- “habilidade” se refere à aplicação produtiva desse
nal de servidores públicos federais é a implantação conhecimento. Ou seja, está relacionado à capaci-
do modelo de Gestão por Competências. Assim, dade de o indivíduo utilizar os conhecimentos ad-
este modelo tem sido implantado, em substituição quiridos ao longo da vida em suas ações. O termo
aos modelos tradicionais baseados em cargos, por “atitude” se refere aos aspectos sociais e afetivos en-
exemplo. Ele objetiva planejar, captar, desenvolver volvidos com o trabalho. Atitude, portanto, com-
e avaliar as “competências” imprescindíveis para a preende o sentimento ou predisposição da pessoa,
consecução das metas organizacionais (Brandão que direciona sua conduta com relação aos outros,
& Bahry, 2005; Brandão & Guimarães, 2001; ao trabalho ou a situações (Durand, 2000).
Carbone, Brandão, Leite & Vilhena, 2009; Coelho Teóricos que examinam “competências” no
& Fuerth, 2009; Remedio & Engelman, 2009). O contexto organizacional têm enfatizado o aspecto
termo “captar” aqui se refere à seleção de “compe- superficial, incompleto e contestável da definição
tências” externas à organização e sua integração de “competência” a partir do CHA. Segundo Dutra,
ao ambiente organizacional. No nível individual, Hipólito e Silva (1998), corroborado por Gloria
esta captação pode acontecer por intermédio de Junior, Zouain e Almeida (2014), esse conceito é
ações de recrutamento e seleção de pessoas ca- tecnicamente correto, no entanto, ainda incomple-
pazes de desempenhar a competência e, no nível to. De acordo com Le Boterf (2003) “competência”
organizacional, por meio de parcerias ou alianças não é um resultado ou um conhecimento que se
estratégicas (Brandão & Guimarães, 2001; Freitas possui, seria, portanto, a prática do que se sabe em
& Brandão, 2005). determinado contexto manifestada em ação. O ter-
Durante muito tempo, o conceito de compe- mo se mostra polissêmico e multifacetado, tanto no
tência esteve relacionado à área jurídica, segundo contexto organizacional, quanto na esfera educa-
a qual, competência seria a faculdade atribuída a cional (Araújo, 2007; Brandão & Borges-Andrade,
alguém ou a uma instituição para apreciar ou julgar 2007). De acordo com Costa (2005) e Lopes e
determinados assuntos (Ropé, 1997). No início do Macedo (2002) é crescente a defesa, nos discur-
século passado, o termo competência foi incorpo- sos educacionais, de que a escola deva priorizar o
rado ao contexto organizacional, sendo utilizado desenvolvimento de “competências” em detrimen-
para qualificar o indivíduo capaz de desempenhar to da transmissão de conhecimentos. No entanto,
adequadamente determinado papel (Brandão & Araújo (2007) e Sá e Paixão (2013) ressaltam a falta
Guimarães, 2001). Nas últimas décadas, ganhou de definição mais precisa do conceito de “compe-
força na esfera educacional, evidenciando um novo tência”, o que acaba por gerar confusão termino-
entendimento do papel da escola na formação dos lógica e conceitual. De fato, a discussão em torno
alunos, priorizando o desenvolvimento de “compe- da definição de “competência” a partir do CHA se
tências” em detrimento da transmissão de conheci- estende desde meados dos anos 1980 e 1990, quan-
mentos (Araújo, 2007; Sá & Paixão, 2013). do se discutia que o fato de um profissional deter a

Revista Perspectivas 2016 vol. 07 n ° 01 pp. 133-146 135 www.revistaperspectivas.org


Uso de Decomposição Comportamental para a Descrição de Competências 133-146

qualificação necessária, ou seja, possuir as “compe- dades de professores”, “ações (classes de respostas)
tências” essenciais para realizar determinado tra- dos aprendizes”, “atividades de ensino” e “conteúdos
balho ou atividade não garante que ele irá fazê-la transformados em ações dos aprendizes”.
(Carvalho, Passos, & Saraiva, 2009). Ao elaborar objetivos de ensino como itens de
Apesar de toda a discussão que tem sido fei- conteúdo e conhecimentos já produzidos e acumu-
ta, nos contextos organizacional e educacional, lados como decisão de um processo de ensino, o
em torno do conceito de “competência” (Ruas, professor se torna um transmissor de conteúdo e
Ghedine, Dutra, Becker, & Dias, 2005), críticas ao informações ao invés de produzir condições para a
uso do termo continuam a surgir sem que tenham, aprendizagem dos alunos. Segundo Botomé (1985),
contudo, surgido avanços satisfatórios. Uma rara ao propor objetivos de ensino a partir de intenções
exceção a isso foi tratamento dado ao termo no dos professores, encobre-se ou camufla-se aquilo
contexto educacional como sinônimo de “objetivos que é importante e necessário ser ensinado pelo
educacionais”. professor e aprendido pelo aluno. O que o profes-
Costa (2005) e Lopes e Macedo (2002) defende- sor almeja, deseja ou pretende não é o mesmo que
ram a aplicação do termo “competência” ao contex- identificar aquilo que precisa ser aprendido pelos
to educacional, já que avaliam ser difícil desenvolver alunos. São exemplos desta condição: “instrumen-
“competências” por meio de um currículo, que pri- talizar os alunos para a atuação profissional e con-
vilegie apenas a transmissão de conhecimento, sem tribuir para o desenvolvimento da sociedade”.
permitir a aplicação prática dele. Questionamento Ações ou atividades de professores também são
semelhante foi apresentado e discutido por Matos inadequadas para definir objetivos de ensino (e.g.
(2000), Dias (2001), Botomé e Kubo (2002), Kubo “apresentar aos alunos conceitos de...” e “informar
e Botomé (2003). Eles reconhecem que a substitui- os alunos sobre...”). Ao apresentar ações ou ativida-
ção do tradicional método de ensino baseado na des de professores como objetivos de ensino, des-
distribuição de disciplinas em relação a conteúdos loca-se o núcleo do objeto de ensino da mudança
ou conhecimentos pela orientação explícita das de comportamento do aprendiz para a atividade do
“competências” ou “habilidades” a serem desen- professor. Diante disso, o aluno deixa de ser foco
volvidas por esses futuros profissionais, representa principal do processo de ensino.
um avanço na direção de superar alguns equívocos Ações dos alunos são constantemente con-
realizados nos processos de ensino, principalmente, fundidas com objetivos de ensino. De acordo com
por identificarem aquilo que deve ser priorizado no Franken (2009), objetivos de ensino orientam as
processo de ensino-aprendizagem (Santos, Kienen, decisões do professor com relação às atividades.
Viecilli, Botomé, & Kubo, 2009). É nesse ponto que Além disso, objetivos de ensino devem especificar
se verifica uma aproximação conceitual entre os comportamentos e não apenas ações do aprendiz.
termos “competências” e “objetivos de ensino” no Ações constituem apenas um dos três componentes
contexto educacional (Botomé & Kubo, 2003 cita- de um comportamento (antecedentes-ações-con-
do por Botomé, 2006). Apesar de reconhecerem o sequências). São exemplos dessa condição: “aplicar
avanço trazido pelas mudanças curriculares, esses testes” e “fazer exercícios”.
autores sugerem melhores descrições e definições Outro erro frequente é confundir objetivos de
para os termos a serem utilizados ou, até mesmo, ensino com atividades de ensino. Uma atividade de
a substituição dos termos “competência” e “habi- ensino é tida como uma condição planejada pelo
lidade” por “comportamento” (Santos et al., 2009). professor para que o aluno aprenda determinado
Nessa perspectiva de formular objetivos edu- comportamento. Apresenta-se como exemplo dessa
cacionais sob a forma de descrições de competên- condição: “discutir para avaliar a contribuição de
cias a serem aprendidas, Botomé (1985) identificou diferentes autores para o entendimento do fenôme-
seis tipos de “falsos objetivos” de ensino (portanto no psicológico”.
falsas formulações de competências), ao analisar O último falso objetivo apresentado por Botomé
diferentes planos de ensino. São eles: “itens de con- (1985) é a descrição de informações sob a forma de
teúdo”, “intenção de professores”, “ações ou ativi- ações dos aprendizes. Nesse caso, conteúdos, assun-

Revista Perspectivas 2016 vol. 07 n ° 01 pp. 133-146 136 www.revistaperspectivas.org


Camila Carvalho Ramos, Thiago Dias Costa, Aécio Borba, Romariz da Silva Barros 133-146

tos, informações são associadas a verbos, o que não quais comportamentos deverão ser alvo das ações
caracteriza o que é central no conceito de objetivos de capacitação (Franken, 2009).
de ensino. Este último falso objetivo de ensino está Apesar de o modelo de Gestão por
relacionado, segundo o autor, ao “comportamenta- Competências ter sido adotado por diversas orga-
lizar conteúdos”, ou seja, é transformar substantivos nizações brasileiras, desde a instituição do Decreto
em verbos equivalentes ou equiparáveis, como no 5.707 em 2006, conforme apontado por Fevorini,
exemplo: “diagnosticar organizações” referindo-se Silva e Crepaldi (2014), pouca atenção tem sido
ao assunto “diagnóstico organizacional”. dada no momento de descrever as “competências”
Objetivos de ensino que apresentam, em sua que nortearão todo o processo de identificação de
descrição, verbos ou complementos vagos, abran- “competências”, consequentemente, implantação do
gentes e imprecisos favorecem múltiplas interpre- novo modelo de Gestão. Esse problema parece re-
tações e impossibilitam a verificação da aprendiza- plicar as dificuldades relacionadas a má formulação
gem do aluno. Portanto, sugere-se a utilização de de objetivos educacionais.
expressões que descrevam comportamentos, pois Descrições de “competências” pouco claras,
explicitam aquilo que o aprendiz/profissional deve seguidas de múltiplos comportamentos e/ou com-
ser capaz de fazer, além de constituir o núcleo do plementos, com especificação de verbos que não
conceito de objetivo de ensino. São exemplos de ob- exprimem ações concretas têm sido frequentes na
jetivos de ensino com expressões vagas: “conceber o literatura da área. Planejar ações para desenvolver
processo de mudança como um fenômeno organi- comportamentos definidos de maneira vaga (como
zacional” e “ajeitar as relações entre trabalhadores “pensar”, “saber”, “apreciar” e “acreditar”) tem nor-
e empregadores”. teado os artigos sobre Gestão por Competências.
Franken (2009) apresentou uma análise e cate- Quando a descrição não é suficientemente clara,
gorização dos objetivos de ensino propostos para as pessoas tendem a dar convenientes interpreta-
a formação específica do psicólogo organizacional ções às “competências” (Brandão & Bahry, 2005;
a partir da noção de falsos objetivos de Botomé Carbone et. al., 2009).
(1985). Do estudo de Franken resultaram 10 ca- Dificuldades, como as mencionadas acima, já
tegorias de análise: 1) expressões com múltiplos foram relatadas na literatura sobre avaliação pro-
“objetivos”, 2) expressões designando comporta- fissional. Alguns modelos de avaliação profissional
mentos, 3) comportamentos intermediários, 4) ca- geram questionamentos a respeito da subjetivida-
tegorias de informações, 5) classes de informações, de dos seus critérios e da tendência à complacên-
6) expressões vagas ou genéricas, 7) expressões am- cia por parte dos seus avaliadores (Marconi, 2003;
bíguas, 8) declarações de intenção, 9) atividades ou Schikmann & Crédico, 2007). Geralmente, nas
ações de professores e 10) atividades ou atuações instituições públicas, utilizam-se categorias e indi-
escolares dos alunos. cadores subjetivos nas avaliações. De acordo com
De acordo com Franken (2009), objetivos de Pires et al. (2005), essas categorias não estão rela-
ensino ou, no contexto do presente estudo, “com- cionadas diretamente ao desempenho do servidor,
petências”, que apresentam múltiplos objetivos em ou são considerados fatores sem definição ou defi-
suas descrições podem obscurecer a definição so- nidos de maneira pouco clara.
bre a aprendizagem a ser desenvolvida em situa- De acordo com Fernandes (2013) alguns pon-
ções de ensino. Objetivos de ensino, assim como tos podem ser considerados para melhorar a ava-
“competências”, precisam descrever, de forma cla- liação de competências. O primeiro ponto, men-
ra e precisa, os comportamentos que deverão ser cionado pelo autor, diz respeito à elaboração de
aprendidos ou aperfeiçoados. Esta descrição deve instrumentos de avaliação que enfatizem entregas
ser feita a partir de procedimentos bem definidos evidenciáveis, passíveis de avaliação mediante com-
como a análise documental e os grupos focais, sem portamentos observáveis. Segundo ele, subjetivida-
a camuflagem de expressões gramaticais compostas de na avaliação de competências podem favorecer
por verbo e complemento, justaposição de verbos avaliações distorcidas. O segundo ponto ressalta-
ou expressões que não especificam diretamente do pelo autor diz respeito ao cuidado em capacitar

Revista Perspectivas 2016 vol. 07 n ° 01 pp. 133-146 137 www.revistaperspectivas.org


Uso de Decomposição Comportamental para a Descrição de Competências 133-146

para as avaliações. De acordo com ele, é essencial Método


que a avaliação seja baseada em evidências.
Diante disso, Brandão e Bahry (2005) e Carbone Participantes
et al. (2009) descrevem alguns critérios que pode- Participaram do presente estudo 79 servidores
rão ser seguidos no momento de sugerir e descre- públicos federais lotados nas 18 unidades de uma
ver “competências”, que, posteriormente, comporão instituição pública federal ligada ao Ministério da
a avaliação profissional. Os autores sugerem a des- Fazenda. Ao todo, a instituição possui 189 servido-
crição de “competências” sob a forma de referen- res localizados nas suas diferentes unidades. Para
ciais de desempenho, ou seja, de comportamentos participar da pesquisa, os servidores deveriam estar
objetivos e passíveis de observação e mensuração ativos, não podendo estar afastados por auxílio-do-
no ambiente de trabalho. “Competências” descritas ença, licença maternidade, férias ou aposentadoria.
de maneira pouco clara favorecem múltiplas e con- Os participantes foram selecionados pela pró-
venientes interpretações. pria instituição por serem considerados, por eles,
Ao descrever competências, sugere-se evitar detentores de amplo conhecimento a respeito das
descrições muito longas e utilização de termos rotinas e atividades das suas unidades.
técnicos que dificultem a compreensão das pes-
soas. Ambiguidades também devem ser evitadas Ambiente
por favorecerem múltiplas e convenientes interpre- A coleta de dados foi realizada nas dependências da
tações. Além disso, para obter boas descrições de instituição em salas de aula compostas por cadeiras,
competências, devem ser evitadas: irrelevâncias e quadro branco, data show e computador.
obviedades, duplicidades, abstrações e a utilização
de verbos que não expressem ações concretas, tais Procedimento
como: pensar, saber, apreciar e acreditar (Brandão O presente estudo foi dividido em três fases, a saber:
& Bahry, 2005; Carbone et. al., 2009). 1) Mapeamento de Competências, 2) Categorização
Esses mesmos autores, sugerem, ao descrever das Competências Conforme sua Especificidade
“competências”, a utilização de três termos: 1) verbo Funcional e 3) Análise das descrições das compe-
acrescido de objeto de ação, 2) critério de qualidade tências.
e 3) condição. O verbo exprimiria uma ação a ser
desempenhada pelo profissional no seu ambiente Mapeamento de Competências
de trabalho que seja passível de observação e men- O mapeamento de competências foi realizado com
suração. O critério indica um padrão de qualidade base no procedimento tradicional descrito em
considerado satisfatório para a execução da “com- Brandão (2012), com análise documental e realização
petência” e a condição, indicaria a ferramenta ou o de grupos focais com as 18 unidades da instituição.
instrumento do qual o profissional necessita para O passo inicial do mapeamento das competências
executar a ação. foi a análise dos documentos institucionais dispo-
Considerando todos os elementos acima men- nibilizados pela organização, foram eles: Decreto
cionados, os objetivos do presente trabalho são: a) 7.482 que dispõe sobre a Estrutura Regimental do
avaliar a eficácia de se aplicar as categorias de falsos Ministério da Fazenda; Organograma do Ministério
objetivos educacionais e dos cuidados metodoló- da Fazenda; Regimento Interno e Mapa Estratégico
gicos apontados por Brandão e Bahry (2005) para da Instituição. Essa análise foi feita, pelos pesquisa-
avaliar e contornar problemas de formulação de dores, com o objetivo de identificar categorias e des-
competências no contexto organizacional e b) à luz crever objetivamente os documentos, possibilitando,
dessa avaliação, discutir inadequações quanto ao assim, a inferência sobre competências individuais
termo competência e apontar a utilização do termo e organizacionais relevantes para a consecução dos
comportamento como alternativa que contribua objetivos da instituição.
para a redução de controvérsia terminológica. Os documentos institucionais descreviam, em
forma de incisos, as principais atribuições e res-

Revista Perspectivas 2016 vol. 07 n ° 01 pp. 133-146 138 www.revistaperspectivas.org


Camila Carvalho Ramos, Thiago Dias Costa, Aécio Borba, Romariz da Silva Barros 133-146

ponsabilidades de cada unidade da instituição. Para o agente a apresentar a “competência” – Pessoal e


inferir as “competências” era analisado cada inciso Gerencial e quanto à sua especificidade - Específica
do documento institucional, observando o verbo e Transversal.
que estava descrevendo a ação. Neste momento, Quando a “competência” era exercida por qual-
era analisado o que o servidor deveria ser capaz quer servidor da instituição, a mesma era consi-
de fazer para realizar aquela atribuição descrita. derada uma “competência pessoal”. No entanto,
Para transformá-lo em “competência”, ao verbo, quando a “competência” era exercida somente
era acrescentado um critério de qualidade e uma pelos gestores da instituição, esta era considerada
condição para a realização da ação. “competência gerencial”. No momento em que se
O Regimento Interno, além de descrever as avaliou a especificidade da “competência”, classifi-
atribuições das unidades, também descreve as atri- cou-se como “competência específica”, aquela exer-
buições dos diferentes cargos da instituição. No cida por somente uma unidade da organização.
entanto, no presente estudo, optou-se por analisar Caso a “competência” fosse exercida por duas ou
as atribuições em detrimento dos cargos, já que de mais unidades da organização, esta era considerada
uma unidade para outra as atividades mudam, mas transversal. As “competências” gerenciais e pessoais
não seus cargos de nomeação. poderiam ser avaliadas como essenciais para mais
Portanto, a análise dos documentos institucio- de uma unidade da organização, portanto, também
nais serviu de base para a construção do primeiro eram consideradas transversais.
conjunto de competências apresentados na segunda
fase do mapeamento. Análise das descrições de Competências
A segunda fase do mapeamento envolveu a re- Com a identificação das “competências” conside-
alização de grupos focais com todas as 18 unidades radas essenciais para a realização das atividades
da instituição para validação das competências su- de cada unidade, foi feita a análise das suas descri-
geridas na primeira fase do mapeamento. A quan- ções com base nas categorias de falsos objetivos de
tidade de participantes dos grupos focais variou Botomé (1980) reformulada por Franken (2009) e
conforme o tamanho da unidade. Cada grupo, to- nos cuidados metodológicos descritos por Brandão
davia, era composto de, no mínimo, dois servido- e Bahry (2005); Bruno-Faria e Brandão (2003);
res: o gestor da unidade e mais um servidor-chave Carbone et al. (2009).
do setor. Os servidores-chave foram indicados pela
equipe por serem, na opinião deles, detentores de Categoria A: Expressões amplas.
amplo conhecimento das atividades da unidade. Descrições de competências muito longas, com
Nesta fase, as competências identificadas na múltiplos verbos e/ou complementos. Exemplo:
análise documental, foram apresentadas aos par- Identificar, analisar, tramitar e acompanhar o an-
ticipantes do grupo para que fossem analisadas e damento dos processos da Instituição.
validadas. A validação consistiu na confirmação,
por toda a equipe, de que as competências apresen- Categoria B: Declarações de Intenção.
tadas eram importantes para a realização das ati- Foram consideradas nessa categoria as expressões
vidades da unidade conforme descrito no material apresentadas por verbos e complementos, nas quais
apresentado. Caso fosse necessário, eram incluídas, o verbo indicava uma intenção, desejo, expectati-
modificadas e/ou excluídas competências do mapa va ou a pretensão de algo que deveria acontecer.
de competências da unidade. Assim, o material Exemplo: Engajar diversas áreas em projetos e pro-
produzido no grupo focal representaria, de fato, as gramas da instituição, garantindo seu pertencimen-
necessidades da unidade. to e responsabilização no mesmo.

Categorização das Competências Conforme sua Categoria C: Expressões vagas ou


Especificidade Funcional genéricas.
O produto do mapeamento de competências rea- Descrições de competências utilizando-se compor-
lizado foi organizado levando-se em consideração tamentos definidos de maneira vaga, com a utiliza-

Revista Perspectivas 2016 vol. 07 n ° 01 pp. 133-146 139 www.revistaperspectivas.org


Uso de Decomposição Comportamental para a Descrição de Competências 133-146

ção de verbos que não exprimem ação concreta e Categoria F: Expressões designando
não são passíveis de observação direta. Exemplo: categorias amplas de comportamento.
Capacidade de compartilhar ideias, informações Proposição de competência que possua, em sua des-
e opções para atingir um acordo aceitável para as crição, um verbo fazendo referência a um conjunto
partes envolvidas. de comportamentos muito grande, com um comple-
mento que também fazia referência a uma ou mais
Categoria D: Expressões contendo verbo classes abrangentes (ou grandes). Exemplo: Prestar
observável, objeto de ação e complemento. informação, apoio, suporte e consultoria a setores da
Foram incluídas nessa categoria as descrições de organização, atendendo às demandas internas.
“competência” que indicavam um verbo passível de
observação e mensuração, um objeto de ação e com-
plemento. Este complemento poderia ser um cri- Resultados e Discussão
tério de qualidade ou uma condição exigida para a
execução da “competência”. Exemplo: Selecionar, de A partir do mapeamento de competências realiza-
acordo com a demanda apresentada pela Instituição, do, foram identificadas: 10 competências gerenciais,
a consultoria externa que melhor atenda as necessi-10 competências pessoais, 143 competências espe-
dades da instituição e os objetivos do Órgão. cíficas e 28 competências transversais avaliadas,
pelos servidores das 18 unidades, como essenciais
Categoria E: Expressões contendo termos para a consecução dos seus objetivos estratégicos.
técnicos. Conforme Tabela 1, ao analisar a descrição das
Descrições de competências contendo termos técni- 191 competências foi identificada a ocorrência das
cos que possam dificultar a compreensão das pesso- seis categorias de análise. Condições problemáticas
as. Exemplo: Manusear softwares e hardwares para foram identificadas em 93,20% das descrições de
a realização das atividades que competem ao setor. competências.

Tabela 1 Frequência e percentual de ocorrência das categorias de categorias de análise (1 a 6) nas descrições
das 191 competências (pessoais, gerenciais, transversais e específicas) identificadas na instituição.
Categoria Pessoais Gerenciais Transversais Específicas Freq. total da % de
categoria de competênciascom a
análise categoria de análise
A. Expressões amplas 05 05 14 81 105 54,97%

B. Declarações de 04 03 08 23 38 19,89%
intenção

C. Expressões vagas ou 01 0 02 18 21 10,99%


genéricas

D. Expressões contendo 0 0 0 13 13 6,80%


verbo observável, objeto
de ação e complemento

E. Expressões contendo 0 02 02 7 11 5,75%


termos técnicos

F. Expressões designan-
do categorias amplas de
0 0 02 1 03 1,57%
comportamento

Total de Competências
10 10 28 143 191 100%
por Categoria

Revista Perspectivas 2016 vol. 07 n ° 01 pp. 133-146 140 www.revistaperspectivas.org


Camila Carvalho Ramos, Thiago Dias Costa, Aécio Borba, Romariz da Silva Barros 133-146

A Tabela 1 apresenta a ocorrência das seis cate- Ao analisar a descrição das 191 competências
gorias de análise nas descrições das 191 competên- identificadas no presente estudo, pode-se verificar
cias identificadas como essenciais para a realização que 54,97% das competências apresentaram múl-
das atividades das 18 unidades da instituição. A cate- tiplos verbos ou complementos na sua descrição.
goria que apresentou o maior número de ocorrências De acordo com Franken (2009), um objetivo de
foi a Categoria A – expressões amplas. Nesta catego- ensino, e portanto uma competência, precisa de-
ria, foram identificadas ao todo 105 ocorrências: cin- finir uma unidade específica de comportamento,
co nas competências pessoais, cinco nas gerenciais, já que a multiplicidade dessas unidades parece ter
14 nas transversais e 81 nas específicas. A Condição mais a função de impressionar os aprendizes (ou
B – declarações de intenção – foi identificada na des- mesmo avaliadores do sistema de ensino) com a
crição de quatro competências pessoais, três geren- complexidade daquilo que deverá ser ensinado. No
ciais, oito transversais e 23 específicas. A Categoria momento em que a descrição da “competência”, ou
C - expressões vagas ou genéricas – foi identifica- seja, do comportamento a ser ensinado, apresenta
da em apenas uma competência pessoal, em duas múltiplos verbos ou complementos na sua descri-
transversais e 18 específicas. Na Categoria E – ex- ção, a área de capacitação da instituição poderá
pressões contendo termos técnicos – foram identi- não ter claro qual comportamento deverá ser alvo
ficadas apenas duas competências gerenciais, duas e, consequentemente desenvolvido, a partir das
transversais e sete nas específicas. Nenhuma com- ações de capacitação.
petência pessoal foi identificada nesta condição. A Segundo Botomé (1980), objetivos de ensino
Condição F (expressões designando categorias am- precisam especificar comportamentos de um pro-
plas de comportamento) foi identificada em apenas fissional. Múltiplos objetivos não especificam os
duas transversais e em uma específica. Ao analisar as comportamentos que deverão ser priorizados nas
descrições das 191 competências identificadas, no aprendizagens ou ações de capacitação. Diante
mapeamento de competências, como essenciais para disso, competências, assim como objetivos de en-
a realização das atividades das unidades, verificou- sino, precisam descrever, de forma clara e precisa,
-se que apenas 13 competências, ou seja, 6,80% do os comportamentos que deverão ser aprendidos
total, apresentavam descrições que contemplassem ou aperfeiçoados a partir das ações de capacitação
os cuidados metodológicos (c.f. Brandão & Bahry, e não ser camuflados por expressões gramaticais
2005; Bruno-Faria & Brandão, 2003; Carbone et al., compostas por verbo e complemento, justaposi-
2009) para a descrição de competências. ção de verbos ou expressões que não especificam
As competências levantadas a partir da análi- – diretamente – quais comportamentos deverão ser
se dos documentos institucionais foram descritas alvo das ações de capacitação (Franken, 2009).
e apresentadas à instituição por meio dos grupos Além disso, 16,75% das competências apresen-
focais respeitando os cuidados metodológicos des- taram descrições com expressões vagas ou genéri-
critos por Carbone et al. (2009). No entanto, ao de- cas ou contendo termos técnicos. Expressões vagas
legar ao participante a decisão sobre como descre- ou genéricas devem ser evitadas ao descrever obje-
ver as competências essenciais para a realização das tivos de ensino e/ou competências, já que podem
atividades da sua unidade, muitos desses cuidados não descrever efetivamente o que deverá ser ensi-
foram renegados. nado e, consequentemente, aprendido. Além disso,
Diante disso, os resultados encontrados no pre- a utilização de termos técnicos nas descrições das
sente estudo, que são produto dos grupos focais, competências pode dificultar a compreensão das
mostraram que 93,20% das competências identifi- pessoas com relação ao que deverá ser aprendido.
cadas como essenciais para a realização das ativi- De acordo com Carbone et al. (2009) a descrição
dades da instituição foram descritas apresentando, da competência pouco clara, favorece múltiplas e
pelo menos, uma das cinco categorias descritas no convenientes interpretações.
procedimento. Portanto, apenas 6,80% das compe- O aspecto intencional identificado nos objeti-
tências especificaram comportamentos de forma vos de ensino foi identificado em 19,89% das des-
clara e objetiva nas suas descrições – Categoria D. crições das competências. De acordo com Botomé

Revista Perspectivas 2016 vol. 07 n ° 01 pp. 133-146 141 www.revistaperspectivas.org


Uso de Decomposição Comportamental para a Descrição de Competências 133-146

(1980), intenções do educador/facilitador não são de forma clara e objetiva – os comportamentos que
adequadas para definir objetivos de ensino. A de- deveriam ser desenvolvidos a partir das ações de
claração de intenção é útil para tranquilizar o edu- capacitação, como exemplo a descrição da “compe-
cador e não para descrever o que será aprendido tência”: “criar e aproveitar oportunidades de negó-
pelos alunos. A ocorrência de declarações de in- cio, considerando os recursos disponíveis, os riscos e
tenções nos planos de ensino, ou do contexto do os benefícios resultantes”. Dalmoro (2010), ao des-
presente trabalho, nas descrições de competências, crever a competência Criatividade, especificou os
é inadequada por não especificar o que deverá ser comportamentos que compunham esta competên-
aprendido. É consenso na literatura sobre educação cia: “pensa em novas formas de fazer as coisas; põe
que o objetivo de ensino precisa fazer referência ao em prática formas alternativas de fazer as coisas e
comportamento do aprendiz e não ao do educador. estimula outros a pensar fora da caixa” (p. 73).
Segundo Franken (2009) objetivos de ensino/ Gama, Dias e França (2012) é mais um exem-
competências precisam descrever de forma precisa plo de estudo que apresenta, na descrição de suas
o comportamento a ser desenvolvido, caso contrá- “competências”, as condições problemáticas utili-
rio poderá gerar dificuldades no momento de pro- zadas no presente estudo. Os autores descrevem a
por atividades de ensino e capacitação. Portanto, a competência Trabalho em Equipe como:
identificação e descrição desses comportamentos
de forma clara e objetiva é fundamental para subsi- “compartilha informações e conhecimentos
diar as demais etapas do processo de mapeamento, com a equipe e outras áreas para o alcance de
consequentemente, para a implantação do modelo melhores resultados, reconhece a importância
de Gestão por Competências (Franken, 2009). do seu papel na equipe, atuando de forma in-
tegrada para o alcance dos objetivos comuns,
colabora com o trabalho da equipe e de outras
Considerações Finais áreas, contribuindo para a melhoria do desem-
penho institucional e relaciona-se com a equipe
Os dados aqui relatados mostraram que os avanços respeitando as diversidades, contribuindo para
na direção de refinar o uso do termo “competên- a melhoria no ambiente de trabalho” (p. 09).
cia” no contexto educacional se mostraram úteis
no contexto organizacional. A formulação das Uma descrição inadequada de competências
“competências” de forma objetiva, clara, focada na pode gerar impactos tanto na compreensão de
descrição do comportamento que constitui a com- quem as detêm ou as necessita, quanto no plane-
petência é um passo fundamental para o sucesso jamento das ações de capacitação. Portanto, uma
da Gestão por Competências (Brandão, 2012). É descrição clara e objetiva de competências especifi-
a partir dessas descrições comportamentais que ca, com precisão, os comportamentos que deverão
as demais ações de gestão poderão ser desenvol- ser aprendidos ou aperfeiçoados a partir das ações
vidas com eficiência: avaliação de desempenho, de capacitação (Franken, 2009).
dimensionamento, treinamento, desenvolvimento, A análise procedida no presente estudo, apli-
captação. Esses achados contribuem para preen- cando ao conceito de “competência” com forte
cher a lacuna decorrente da pouca atenção que tem viés comportamental nos leva a concordar com a
sido dada para a descrição das “competências” que proposta de Santos et al. (2009), em favor da subs-
subsidiarão todas as demais etapas do processo de tituição do conceito de “competência” e “habilida-
Gestão por Competências. de” por comportamento, já que este último orienta
Descrições pouco claras, seguidas de múlti- melhor as estratégias de capacitação. A substituição
plos comportamentos e/ou complementos, com desses termos torna mais precisa e objetiva a indi-
especificação de verbos que não exprimem ações cação daquilo que os profissionais devem ser capa-
concretas têm sido frequentes na literatura da área. zes de fazer no seu cotidiano profissional. A visão
Em estudo realizado por Freitas e Brandão (2005) externalista de comportamento tira o locus da com-
as competências foram descritas sem especificar – petência de dentro do organismo. Competência

Revista Perspectivas 2016 vol. 07 n ° 01 pp. 133-146 142 www.revistaperspectivas.org


Camila Carvalho Ramos, Thiago Dias Costa, Aécio Borba, Romariz da Silva Barros 133-146

passa a ser vista como a própria interação entre zer (habilidade) com o primeiro determinando o
aquilo que o indivíduo faz e os eventos anteceden- segundo. Esse tipo de concepção sobre o compor-
tes e consequentes (Skinner, 1969. Ver também tamento, e portanto, sobre as competências, pode
Botomé, 2013). levar, por exemplo, a ações de “capacitação” com
O conceito de comportamento descrito por grande equívoco de foco, com predomínio da no-
Botomé (2013) e Catania (1999) é a relação ou con- ção de que basta informar ou conscientizar o in-
junto de relações entre o que o indivíduo faz, o am- divíduo (conhecimento) para que ele se comporte
biente no qual este fazer é realizado e o ambiente (habilidade). O agente de capacitação, portanto, se
produzido através desse fazer. Não se trata de uma ocuparia muito mais de falar sobre o comporta-
interação qualquer entre organismo e ambiente. A mento que deveria ocorrer do que em criar con-
interação, na perspectiva analítico-comportamen- dições objetivas (contingências ambientais) para
tal, exige a atividade do organismo como parte do que ele ocorra e possa ser praticado. As barreiras
processo de passagem de um ambiente que antece- criadas por esse tipo de concepção em ações de
de esta atividade para outro que a sucede, ou seja, avaliação de desempenho e seleção de pessoal se-
são todas as relações entre as atividades ou ações do guem a mesma direção e, da mesma forma, geram
organismo e o ambiente em que ele está durante e distorções críticas.
após a sua atuação. Diante disso, a especificação de Assim, propomos uma análise dos três elemen-
verbos isolados, como salivar, correr e pular, não é tos constituintes descritos no Decreto sob a ótica
considerada uma especificação de comportamento, da Análise do Comportamento - referencial teórico
mas classes amplas de atividades. Um complemento do presente trabalho. Para a análise do comporta-
somado ao verbo pode configurar uma interação mento o “conhecimento” é produto de uma ação
como parte da delimitação de um comportamento – o conhecer – e este comportamento, por sua vez,
que, por ser considerado um processo, não pode envolve, obrigatoriamente, um indivíduo se com-
acontecer no vácuo. Além disso, a especificação de portando (Andery, Micheletto, & Sério, 2000). De
verbos sempre exige um complemento que faça re- acordo com Skinner (1974) o conceito de conheci-
ferência a um contexto no qual a ação que o verbo mento não está relacionado a algo que usamos, mas
denomina ocorre (Botomé, 2013). à nossa ação ou, pelo menos, regras para ação.
Embora a descrição do conceito de “compe- Para Skinner (1945) conhecer implica compor-
tência”, conforme descrito no Decreto 5.707/2006, tar-se de maneira efetiva com relação a uma parcela
eventualmente inclua algum componente com- da realidade. Em outras palavras, o “conhecimen-
portamental entre os elementos que constituem to” não é algo que o indivíduo possui, mas uma
o CHA, é patente uma visão dualista e mentalista probabilidade deste agir no mundo de maneira
do que seja “competência”. Esse tipo de visão pode produtiva. Por essa perspectiva, o conceito de “co-
estar na base das dificuldades em se operar com o nhecimento” está relacionado a algo que acontece
conceito no contexto aplicado, seja educacional ou no plano das relações com o mundo físico e social
organizacional. Essa visão dualista e mentalista fica e é produto da história dessas relações. Portanto,
patente na especificação dos elementos do CHA. “conhecimento” não descreve ocorrências internas
A definição de “conhecimento” como informações e singulares dos indivíduos, nem instâncias gera-
integradas pela pessoa que repercutem sobre seu doras de comportamento. Descrever como se faz
julgamento ou seu comportamento e “habilidade” uma tarefa, por um lado, e efetivamente executar
como a aplicação produtiva desse conhecimento, essa tarefa, por outro, são ambos comportamentos.
deixa clara uma separação entre um plano cogniti- Cada um desses dois comportamentos distintos é
vo (o conhecimento) e outro da ação. Essa perspec- produto das interações do indivíduo com contin-
tiva dual do funcionamento das pessoas no mundo gências ambientais específicas.
é especialmente perigosa porque pode facilmente Seguindo esta perspectiva, o elemento “conhe-
levar a outra concepção errônea: a de que é o plano cimento” estaria relacionado não às informações
cognitivo que determina as ações dos organismos: reconhecidas e integradas pela pessoa em sua me-
uma separação entre saber (conhecimento) e fa- mória, que repercutem sobre seu julgamento ou

Revista Perspectivas 2016 vol. 07 n ° 01 pp. 133-146 143 www.revistaperspectivas.org


Uso de Decomposição Comportamental para a Descrição de Competências 133-146

comportamento, como descrito no Decreto, mas ao descrevem, objetivamente, os comportamentos que


repertório comportamental desenvolvido por este deverão ser desenvolvidos para que os resultados
indivíduo em sua interação com o ambiente. da unidade e, consequentemente, da organização,
O termo “habilidade”, conforme descrito no sejam atingidos. Geralmente, esses documentos
Decreto, se refere à aplicação produtiva do conhe- descrevem as atividades e atribuições esperadas
cimento. Ou seja, é a capacidade de o indivíduo para seus servidores, no entanto, não descrevem
instaurar conhecimentos e utilizá-los em uma ação. quais comportamentos deverão ser emitidos para
Definir “habilidade” a partir da noção de ação di- que esses resultados sejam alcançados.
reciona este termo à noção de comportamento ori- Diante disso, o presente estudo apresentou e
ginalmente descrita por Skinner (1938). De acordo aplicou uma proposta de descrição de competência
com este autor, o comportamento é ação, ou seja, clara e objetiva baseada em comportamentos que
é o desempenho do organismo no seu processo de poderão ser observados e mensurados no ambiente
ajustamento e adaptação ao ambiente. Ainda mais de trabalho. Estudos subsequentes devem explorar
propriamente, o termo comportamento se refere ao empiricamente o possível impacto do procedimen-
produto da relação entre as ações dos organismos to aqui descrito sobre a efetividade de etapas se-
e o ambiente. guintes do gerenciamento por competências como
O termo “atitude”, conforme descrito no a definição de prioridades de ações de capacitação
Decreto, está envolvido com o sentimento ou pre- para que a instituição atinja os seus objetivos estra-
disposição da pessoa, que direciona sua conduta tégicos. Tomada com enfoque objetivo e operacio-
com relação aos outros, ao trabalho ou a situações nal, a noção de competência pode contribuir para
(Durand, 2000). Portanto, este terceiro termo nos uma gestão de pessoas mais estratégica e focada em
remete ao conceito de motivação inicialmente in- resultados.
troduzido por Skinner (1932) a partir da noção de
drive e, posteriormente, reintroduzido por Michael
(1982/1993) por meio do conceito de operações Referências
estabelecedoras. Skinner (1938, 1953) discute o Andery, M. A., Micheletto, N., & Sério, T. M.
conceito de motivação em termos de operações de (2000). Pesquisa histórica em análise do com-
privação/saciação e estimulação aversiva, ressaltan- portamento. Temas em Psicologia da SBP, 8 (2),
do-as como variáveis ambientais controladoras do 137-142.
comportamento. Portanto, motivação, assim como Araújo, D. (2007). Noção de Competência e
o termo “atitude”, conforme descrito na legislação, Organização curricular. Revista Baiana de
seriam fatores considerados determinantes para a Saúde Pública, 31 (1), 32-43.
ação humana. Botomé, S. P. (1980). Objetivos comportamentais
Portanto, ao analisar os elementos que com- no ensino: a contribuição da análise experi-
põem o conceito de competência, sob a perspecti- mental do comportamento. Tese de Doutorado.
va analítico-comportamental, chegamos à mesma Universidade de São Paulo, São Paulo.
conclusão que Santos et al. (2009) ao analisarem as Botomé, S. P. (1985) O problema dos falsos “objeti-
diretrizes curriculares do curso de Psicologia: am- vos de ensino”. Em S. P. Botomé, Objetivos de en-
bos os termos se referem a comportamentos. sino, necessidades sociais e tecnologia educacio-
Descrever “competências” sob a forma de com- nal. Trabalho premiado no Concurso Nacional
portamentos que poderão ser observados e men- de Monografias sobre Tecnologia Educacional
surados no ambiente de trabalho, evitando as ca- (II Concurso Roquete Pinto de Monografias,
tegorias de condições problemáticas descritas no promovido pela FUNTEVE do Ministério da
presente estudo, poderão nortear, com maior cla- Educação, em 1985.). Páginas 102 a 122.
reza, as ações de capacitação que serão promovidas Botomé, S. P. (2013). O conceito de comportamen-
pelas instituições. Basear os treinamentos, somente to operante como problema. Revista Brasileira
na especificação dos documentos institucionais, de Análise do Comportamento, 9, 19-46.
também não parece adequado, já que estes não Botomé, S. P., & Kubo, O. M. (2002).

Revista Perspectivas 2016 vol. 07 n ° 01 pp. 133-146 144 www.revistaperspectivas.org


Camila Carvalho Ramos, Thiago Dias Costa, Aécio Borba, Romariz da Silva Barros 133-146

Responsabilidade social dos programas de Institui a Política e as Diretrizes para o


pós-graduação e formação de novos cientistas Desenvolvimento de Pessoal da administração
e professores de nível superior. Interação em pública federal direta, autárquica e fundacional,
Psicologia, 8 (1), 81-110. e regulamenta dispositivos da Lei no 8.112, de 11
Botomé, S. P (2006) Comportamentos profissionais de dezembro de 1990. Brasília, DF. Recuperado
do psicólogo em um sistema de contingências em 29 janeiro, 2013, de http://www.planalto.
para sua aprendizagem. Revista Brasileira de gov.br/ccivil_03/_Ato2004-2006/2006/Decreto/
Análise do comportamento, 2 (2), p. 171-191 D5707.htm.
Brandão, H. P. (2012). Mapeamento de Dias, C. A. (2001). Considerações sobre a elabora-
Competências: métodos, técnicas e aplicações em ção de currículos para formação de psicólogos:
gestão de pessoas. São Paulo: Editora Atlas. a partir de uma perspectiva didática. Psicologia,
Brandão, H. P., & Bahry, C. P. (2005). Gestão por Ciência e Profissão, 21, 36-49.
Competências: métodos e técnicas para ma- Durand, T. (1998). Forms of incompetence. Paper
peamento de competências. Revista do Serviço apresentado na Conference of Management of
Público, 56, (2), 179-194. Competence, Oslo.
Brandão, H. P., & Borges-Andrade, J. E. (2007). Durand, T. (2000). L’alchimie de la competétence.
Causas e efeitos da expressão de competên- Revue Française de Gestion, 127, 84-102.
cias no trabalho: para entender melhor a no- Dutra, J. S., Hipólito, J. M., & Silva, C. M. (1998).
ção de competência. Revista de Administração Gestão de pessoas por competências. Anais do
Mackenzie (RAM), 8 (3), 32-49. Encontro Nacional da Associação Nacional de
Brandão, H. P., & Guimarães, T. A. (2001). Gestão Pós-Graduação e Pesquisa em Administração,
de Competências e Gestão de Desempenho: Foz do Iguaçu, PR, Brasil.
tecnologias distintas ou instrumentos de um Fevorini. F. B., Silva, R. T., & Crepaldi, A. M.
mesmo construto. Revista de Administração de (2014). Gestão por Competências no setor pú-
Empresas, 41, (1), 8-15. blico: exemplos de organizações que adotaram
Bruno-Faria, M. F., & Brandão, H. P. (2003). o modelo. Revista de Carreiras e Pessoas, IV (2),
Competências Relevantes a Profissionais da 128-142.
Área de T&D de uma organização pública Fernandes, B. H. R. (2013). Gestão estratégica
do Distrito Federal. Revista de Administração de pessoas com foco em competências. Rio de
Contemporânea, 7, (3), 35-56. Janeiro, RJ: Elsevier.
Carbone, P. P., Brandão, H. P., Leite, J. B. D., Fleury, M. T. L., & Fleury, A. (2001). Construindo
& Vilhena, R. M. P. (2009). Gestão por o Conceito de Competência. Revista
Competências e Gestão do Conhecimento. Rio Administração Contemporânea, 5, Edição
de Janeiro: Fundação Getúlio Vargas. Especial, 183-196.
Carvalho, I. M. V., Passos, A. E. V. M., & Saraiva, S. Franken, V. J. (2009). Avaliação da formação especí-
B. C. (2009). Recrutamento e seleção por compe- fica do psicólogo organizacional e do trabalho a
tências (2ª. reimpr.). Rio de Janeiro: FGV. partir daquilo que está proposto nos planos de en-
Catania, C. A. (1999). Aprendizagem: comporta- sino de disciplinas relacionadas ao seu campo de
mento, linguagem e cognição. Porto Alegre, RS: atuação profissional. Dissertação de Mestrado.
Artmed. Universidade Federal de Santa Catarina.
Coelho, M. P. C., & Fuerth, L. R. A influência da ges- Gloria Junior, O. S., Zouain, D. M., & Almeida, G. O.
tão por competência no desenvolvimento pro- (2014). Competências e Habilidades Relevantes
fissional. Revista Cadernos de Administração, 1, para um Chefe de unidade Descentralizada
(3), 2009. de Perícia da Polícia Federal. Revista de
Costa, T. A. (2005). A noção de competência en- Administração Mackenzie, 15 (4), 15-46.
quanto princípio de organização curricular. Kubo, O. M., & Botomé, S. P. (2003). A transfor-
Revista Brasileira de Educação, 29, 52-63. mação do conhecimento em comportamentos
Decreto 5.707, de 23 de Fevereiro de 2006 (2006). profissionais na formação do psicólogo: as pos-

Revista Perspectivas 2016 vol. 07 n ° 01 pp. 133-146 145 www.revistaperspectivas.org


Uso de Decomposição Comportamental para a Descrição de Competências 133-146

sibilidades nas diretrizes curriculares. Em M. Z. New York: Appleton-Century-Crofts.


S. Brandão, F. C. S. Conte, F. S. Brandão, Y. K. Skinner, B. F. (1945). The operational analysis of
Ingberman, C. B. Moura, V. M. Silva & S. M. psychological terms. The Psychological Review,
Oliane (Orgs.) Sobre comportamento e cogni- 52, 270-277.
ção: a história e os avanços, a seleção por conse- Skinner, B. F. (1953). Science and human behavior.
qüências em ação (Vol. 11, pp. 483- 496). Santo New York: McMillan.
André: ESETec. Skinner, B. F. (1969). Contingencies of reinforce-
Le Boterf, G. (2003). Desenvolvendo a competência ment. New York: Appleton-Century-Crofts.
dos profissionais (3a ed.). Porto Alegre: Artmed. Skinner, B. F. (1974). About behaviorism. New York:
Lopes, A. C., & Macedo, E. (2002). Currículo: de- Alfred A. Knopf.
bates contemporâneos. São Paulo, SP: Cortez.
Matos, M. A. (2000). A definição de diretrizes em
uma estruturação curricular em Psicologia e
o estágio de formação profissional. Psicólogo
InFormação, 4, 11-24.
McClelland, D. C. (1973). Testing for competence
rather than intelligence. American Psychologist,
1, 1-18.
Michael, J. (1982). Distinguishing between discri-
minative and motivational functions of stimuli.
Journal of the experimental analysis of behavior,
37, 149-155.
Michael, J. (1993). Establishing operations. The
behavior analyst, 16 (2), 191-206.
Ruas, R., Ghedine, T., Dutra., J. S., Becker, G. V., &
Dias, G. B. (2005). O conceito de competência
de A a Z: análise e revisão nas principais publi-
cações nacionais entre 2000 e 2004 [Resumo].
Em associação nacional dos programas de pós-
-graduação em Administração (Org.), XXIX
ENANPAD (p.459). Brasília: ANPAD.
Ropé, F. (1997). Saberes e competências: o uso de
tais noções na empresa e na escola. Campinas,
SP: Papirus.
Sá, P., & Paixão, F. (2013). Contributos para a cla-
rificação do conceito de competência numa
perspectiva integrada e sistémica. Revista
Portuguesa de Educação, 26 (1), 87-114.
Santos, G. C. V., Kienen, N., Viecili, J., Botomé,
S. P., & Kubo, O. M. (2009). “Habilidades” e
“Competências” a Desenvolver na Capacitação
Informações do Artigo
de Psicólogos: Uma Contribuição da Análise do
Comportamento para o Exame das Diretrizes Histórico do artigo:
Curriculares. Interação em Psicologia, 13 (1), Submetido em: 09/10/2015
131-145. Primeira decisão editorial: 15/12/2015
Skinner, B. F. (1932). Drive and reflex strength. Aceito em: 27/05/2016
Journal of general psychology, 6, 22-37. Editor Associado: Candido V. B. B. Pessôa
Skinner, B. F. (1938). The behavior of organisms.

Revista Perspectivas 2016 vol. 07 n ° 01 pp. 133-146 146 www.revistaperspectivas.org

Você também pode gostar