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E ela?
Bom, ela me asfixiou com o seu aperto e me deixou implorando
para que não fosse embora.
Se for para ser sincero, essa última parte não me preocupa nem um
pouco, os meus machucados parecem ser um atrativo extra para a maioria
das garotas da Kingly University.
Nolan não espera uma resposta minha, ele não está realmente
interessado em saber se irei foder hoje. Todo o seu foco é voltado para o
balcão à nossa frente, onde ele reparte o pó e o divide em três fileiras.
A mais baixa, que também é a mais peituda, passa por mim tocando
em meu ombro e caminha com a amiga até a porta dos fundos, que dá
acesso direto à nossa piscina e aos barris de cerveja.
Não sabia que hoje a nossa fraternidade estaria dando uma festa,
mas não me surpreendi ao chegar e ouvir a música tocando, assim como
não me impressionei ao ver um casal fodendo no sofá com algumas dezenas
de pessoas transitando para dentro e para fora da casa.
Esse tipo de coisa é bem comum por aqui, eu e os caras não nos
importamos. Na verdade, sempre aproveitamos até demais noites como
essa. Alex, que é líder da fraternidade, aproveita essas festas para vender
suas drogas junto com Hunter.
Não que essa “pausa” tenha surtido muito efeito, as únicas regras
que eles respeitam é a de não quebrar nada e a de não entrar no quarto de
ouro e no de Aiden em hipótese alguma. Da última vez que entraram, até
mesmo a senhora Parker — advogada e mãe de Aiden — precisou ser
acionada.
Acho que nunca a vi por aqui antes, nem pela faculdade. Então
como ela veio parar em uma de nossas festas?
Ainda mais por mim, que sempre lembro das garotas mais gostosas
com quem já transei e até repito aquelas que realmente valem a pena.
Meu olhar fica compenetrado nela, suas mãos deslizam por seu
corpo sensualmente. Seus quadris balançam de modo ritmado, seus olhos
estão fechados e ao mesmo tempo em que ela parece estar fazendo um show
particular, seu corpo se move de forma exibida. Quase como se ela quisesse
que todos a olhassem, que todos prestassem atenção e a admirassem.
E gostosa.
Por alguns segundos ela não se mexe, na verdade, não faz nada além
de devolver a encarada. Quase acredito que ela fica intimidada com a minha
atenção, porém seus olhos logo abandonam os meus e ela volta a se mexer
conforme a música.
Rio. Interessante.
— Eu teria notado.
Ela tem uma delicadeza em seu rosto e uma pureza em seu olhar que
é raro de se ver em pessoas como nós.
— Não conheço você — falo, interessado em saber de onde ela
veio. Ou melhor, interessado em saber para onde ela vai.
Meu quarto seria uma boa opção. A sala, banheiro, quintal e até a
piscina também seriam.
Sendo sincero, não me importo muito com o lugar que vamos usar
para foder, desde que ela esteja pelada gemendo meu nome.
Seus olhos passeiam pelo meu corpo, observo o pescoço fino sem
nenhum acessório e gosto de como sua respiração está desregulada. Mesmo
que o motivo tenha sido a quase queda ou a dança.
Maldito seja John Toland que inventou que dois corpos não podem
ocupar o mesmo lugar no espaço, ao mesmo tempo. Quero ver como ele
seguiria com esse argumento se visse meu pau cravado dentro dela.
A garota que ainda não sei o nome arranha minha nuca, ela é baixa e
delicada demais para beijar desse jeito. Como se em um único beijo
quisesse arrancar minha boca fora.
Sua língua não tem gosto de cerveja, ou qualquer outra bebida. Ela
não bebeu. Não identifico o sabor, tudo o que sei é que é bom para caralho.
Empurro seu corpo para trás sem nem mesmo abrir os olhos para ver
em quantas pessoas esbarramos.
— Achei que você tivesse dito que eles estão chapados o suficiente
para sequer perceberem — murmuro com um sorriso malicioso, usando
suas palavras contra ela.
— Acho que o azar era seu no final das contas — falo, levando meu
braço até a parede atrás dela.
Fixo meu olhar ao seu da mesma forma que fiz quando a vi pela
primeira vez. E mesmo depois de gozar em minha mão no meio da festa, a
delicadeza e pureza continuam ali.
Assisto seu corpo se misturar com o dos outros e a deixo ir, sem me
interessar em descobrir seu nome.
— Achei que fosse comer a ruiva — ele murmura com a voz rouca.
Seus olhos estão avermelhados, a respiração acelerada e seus dedos
empurram a cabeça dela para enfiar todo o seu pau dentro da boca, mas a
morena se engasga.
Eles eram tão intensos e algo nele soava tão perigoso que não
consegui me afastar. Por alguns segundos, não consegui nem respirar.
Eu poderia culpar o álcool, mas não bebo. Jamais ingeri uma única
dose de bebida, com exceção das pequenas taças de vinho que meu pai pede
que tomemos em eventos específicos.
Por que arriscar quando sei que essa pequena aventura pode colocar
tudo a perder? Por que correr o risco de ficar em um castigo eterno e
receber uma punição por minha profanação, quando sei que só agora que
consegui cumprir o primeiro item da minha lista?
Idiota.
Por favor.
Por favor.
Por favor.
Mas por hora não é bom levá-lo comigo, porque mesmo que eu
esteja com uma mochila, já aconteceu dele desconfiar que saí e revistar toda
a minha bolsa.
Minha mãe sempre dorme às dez e o meu pai fica até meia-noite
fazendo suas preces, para só então se permitir descansar. Ele sempre segue
o mesmo padrão no horário das suas orações, às seis da manhã, ao meio-
dia, às seis da noite e a meia-noite. O combinado que fiz com eles foi: ir
para casa da avó de Chloe, me despedir dela e estar aqui antes que eles
fossem se deitar.
Claro que eles não sabiam que minha amiga já tinha voltado para a
nossa cidade natal ontem de noite e que aproveitei essa chance de liberdade
como se fosse única — o que não deixa de ser verdade.
A batida tão agitada criou uma conexão imediata com meu corpo.
Tão imediata que quando vi, já estava rodeada de fumaça e pessoas
dançando.
Desejou agir como uma garota de vinte e um anos que vai em festas
e comete erros.
— Por que você chegou tão tarde? — Olivia Lewis cruza os braços
com uma repreensão no olhar.
Encaro minha mãe com sua longa camisola verde escura e seus fios
ruivos presos em bobes. Eu e ela somos extremamente parecidas, desde a
cor dos cabelos, até a estrutura corporal.
Não herdei nada do meu pai, nem mesmo os olhos verdes que tenho,
e olha que os dele também são dessa cor. Mas os meus pendem mais para o
tom das íris da minha mãe.
— Você sabe que o seu pai não gosta quando você o desobedece.
Pecadora.
— Você poderia, por favor, não contar para ele? — peço. Ouço o
medo em meu tom, ela também o escuta.
Eu, mais do que ninguém, conheço as consequências a serem pagas
quando meu pai descobre qualquer tipo de erro, ou transgressão.
— Mas não precisa mentir, caso ele pergunte pode falar a verdade!
Só que se ele não perguntar…
Aceno rapidamente.
— Obrigada, mãe — digo, dando um rápido beijo em sua bochecha.
— Conto com isso. — Sua voz sai firme. — Boa noite, Morgana.
— Boa noite.
Ela sai com o copo de água que eu sequer havia notado e sou
deixada sozinha, sem nem saber que havia acabado de mentir pela segunda
vez na noite.
Aiden joga uma pasta em cima da mesa de vidro e levanto os olhos
em sua direção.
Morgana Lewis.
— Não sei, Alex não falou nada sobre isso quando saiu mais cedo.
— Dá de ombros.
Elijah Watson é meio que um reitor de fachada, claro que ele tem as
responsabilidades dele e gosta de como as coisas funcionam tendo o posto
que tem, mas o foco dele com a faculdade é esconder o seu negócio de
distribuição de drogas.
Inclusive, é assim que Alex consegue ter acesso à elas. Seu pai é o
maior traficante do Canadá e a relação deles não poderia ser melhor. Ambos
comandam uma universidade que lucra absurdos por mês e ainda
distribuem seus produtos sem levantar suspeitas.
Quero dizer, até levantam. Mas ninguém nunca vai até o fim com
acusação nenhuma. Se escapamos até de uma prisão e do escândalo sobre o
homicídio de Ian LeBlanc — o filho da puta que costumava fazer parte da
nossa fraternidade — por que não nos livraríamos de uma acusação simples
relacionada à venda de drogas?
— Ainda não entendi muito bem qual é a dela, não acho que ela seja
rica, mas também não acredito que ela tenha a mesma condição financeira
de Victoria.
Claro que Alex aceitou, e foi assim que Kian se juntou a nós. Como
ele e Alex se conheceram eu não faço ideia, só sei que ele é bom de briga e
que foi o último a entrar.
— Todos já foram?
— Não. Kian foi buscar a Victoria, Hunter saiu logo cedo e Alex
também — fala, deixando um pouco mais solta a gravata vinho com branco
do seu uniforme. — Mas acho que Nolan ainda está se arrumando, não o vi
desde que cheguei.
Eu: Estou de saída, não esquece que hoje Alex proibiu atraso.
A maioria dos cursos fica neste prédio central de dois andares, mas
diversos outros se espalham pelo perímetro. Dentre eles o auditório —
constantemente usado para palestras e pelos estudantes de direito — , o
campo dos jogadores de futebol americano, o estúdio de dança e a nossa
sala. Porque é claro que Alex pegou uma somente para nós.
Droga.
— Não tenho nada com Candice para que precise ser terminado —
falo, fazendo com que ele pare de observá-los.
Reviro os olhos para a sua fala, mas fico calado. Não é como se ela
me escutasse de qualquer modo.
— É, alguma merda assim. Ainda não sei direito, só sei que a ordem
não veio de Alex e sim de Elijah — Hunter diz e isso me pega
desprevenido.
Ele fala mais alguma coisa que não escuto, antes de caminharmos
em direção à entrada principal. Afinal, assim como aconteceu Victoria, a
garota com certeza foi instruída a nos esperar no pátio.
Covardes.
Eles normalmente são os que mais nos criticam quando não estamos
por perto.
Vejo duas garotas conversando. A que está virada de frente para nós,
já vi pelos corredores antes. Mas a de costas deve ser quem viemos atrás.
Quanta ironia.
Morgana Lewis não é ninguém menos do que a ruiva de sábado à
noite que estava se contorcendo em meus dedos enquanto gozava.
— Morgana, certo? — Ouço a voz rouca desconhecida falar comigo,
sei que eu deveria olhar para ele e responder, mas não consigo.
Uma pessoa ameaça entrar pela porta atrás deles, mas ao vê-los
parados como cinco estátuas gigantes, dá meia volta.
Assim como todos os outros, ele está com uma blusa branca, uma
gravata vermelha com preto, um blazer com o brasão da universidade
bordado e uma calça.
Não sei por que ver todos juntos me causa esse embrulho no
estômago.
— Desculpa ter demorado. — Uma loira alta, que mais parece uma
supermodelo, se aproxima do garoto com o pescoço tatuado.
Ele abre um sorriso, sua carranca se desfazendo um pouco ao passar
o braço por cima dos ombros dela.
Basta olhar em sua direção para saber que ela é tudo isso. E de
qualquer modo, não há como não ser se anda com pessoas como eles.
A loira revira os olhos para ele, mas me mede da cabeça aos pés.
— Só viemos dar boas-vindas — O de cabelos raspados volta a
falar, contudo, a sua atenção está nos alunos ao redor e não em mim. Sua
voz é firme e contém uma leve ameaça que não entendo. — É sempre bom
ter uma nova adição ao nosso grupo.
Eu deveria agradecer?
A sua oferta de ajuda não parece válida, uma vez que ele sequer se
apresenta.
Ele continua parado por mais algum tempo, fixo meu olhar no seu
sem conseguir desviar. O garoto parece ter um magnetismo sobre si que
torna impossível olhar para qualquer outro lugar.
Ele está ainda mais bonito do que sábado e sei que não sou a única a
reparar em quão absurda é a sua beleza.
Ele lembra.
Achei que caras como ele estivessem tão acostumados a ter garotas
aos seus pés, que eu não passaria de mais uma.
— Não.
Ela ri.
— Não sei dizer se você é muito sortuda por isso ou muito azarada
— comenta ao pegar uma apostila gigantesca e segurá-la em seu braço. —
Todos daqui os conhecem como os Víboras, a fraternidade deles é a mais
consolidada da região e a maioria deles já está no último ano ou penúltimo
ano. Mas antes de serem chamados assim, todos se referiam a eles como os
sete pecados.
Vivian ri de novo.
— Não, ele não foi preso e eles não são apenas cinco. É só que o
líder deles, Alex, quase nunca está junto. Eu mesma acho que nunca o vi,
dizem que ele fica muito tempo na sala do reitor, o seu pai.
Ele tem doze publicações e fico curiosa para ver sua aparência. Mas
ele segue um total de dez pessoas, tendo mais de dez mil seguidores. Então
eu duvido que seja possível.
Hunter Roux.
Ela acena.
— Sim, e todos os seus pais são pessoas influentes. Por isso eles são
tão intocáveis.
Seus olhos acendem em curiosidade, sei que ela quer saber o motivo
para isso.
É, somos duas.
Talvez meu pai tenha entrado em contato com o reitor, ele sabe ser
insistente quando quer e essa seria uma boa forma de me manter longe de
problemas, uma vez que a maioria das pessoas irá me ignorar.
Vivian muda o perfil e a facilidade com que ela sabe o user de todos
eles é surpreendente.
As duas únicas em que ele não está sozinho, são uma com o grupo e
outra com uma garota. A cabeça dela está deitada em seu colo, o rosto não é
visível e tudo o que dá para ver são seus cabelos castanhos.
— Ele namora? — Clico na foto, que é uma das últimas, e vejo que
a publicação é de três anos atrás.
— Não, acho que não.
Que estranho.
Se Vivian também pensa assim, não demonstra. Uma vez que logo
muda para o Instagram do garoto com cicatriz no olho.
A marca que vai da testa até a bochecha é algo que chama atenção.
Se for para ser sincera, é a primeira coisa que se repara ao olhar para ele.
— Esse é o Kian Reid, não sei com o quê seu pai trabalha, ou onde
vive. Contudo, sei que a sua mãe é uma agente imobiliária e tem inúmeros
imóveis. Ele é um dos lutadores ilegais dos Víboras e acredito que seja o
mais afastado do grupo. Ele e Aiden são os dois mais misteriosos, é difícil
entendê-los. Só que diferente de Aiden, Kian ao menos tem Victoria. Acho
que eles são melhores amigos, a garota é como um raio de sol e ele parece
uma tempestade sombria. Mas todas as vezes em que o vi sorrir, foram na
presença dela.
— Trent Hill.
— Quem? — Forço um desentendimento em meu tom, mas no
fundo já sei a quem ela se refere.
Onde eu estava com a cabeça quando fui para aquela festa? Por
que não recuei ao vê-lo se aproximar?
Que vergonha.
Engulo em seco.
Ele não me olhou assim, olhou?
Imaginei que ela fosse estar aqui, porque embora a morena não seja
da dança, ela é uma das principais líderes de torcidas e sempre vem ensaiar
depois que as aulas acabam. Não seria diferente no primeiro dia, não
quando ela gosta de ser a melhor.
Desde que a vi na festa soube que ela levava jeito para a coisa. Por
isso não me surpreendi quando Alex me contou qual era o seu curso.
Ela não me escuta chegar, o som alto e o modo como ela está
absorta na sua dança a impedem de prestar atenção no que acontece ao seu
redor.
Fico parado, olhando para o estúdio vazio com exceção dela. Uma
bolsa cor de rosa está jogada no chão, próximo ao grande espelho que
ocupa toda a parede de frente.
Não é esse tipo de dança que ensinam aqui, tenho certeza disso.
Mas se for, por que caralhos nunca vim assistir a nenhuma aula?
Ela se vira de barriga para cima, ainda no chão, suas costas sobem e
sua cabeça pende para trás.
Puta merda.
Morgana está com uma calça legging preta e uma blusa da mesma
cor. Nada na sua roupa deixa sua pele exposta, mas os tecidos marcam cada
curva sua.
Espero que Morgana pare, que pergunte o que estou fazendo aqui,
ou até mesmo que dê um chilique me pedindo para sair.
Girl, why can't you wait? (Why can't you wait, baby?)[2]
O maldito refrão se repete e ela desliza de novo seu corpo pelo chão,
ainda mais lentamente do que da primeira vez. Seus olhos estão fixos em
mim, sua bunda empinada no ar, sua cabeça e seios tocando o assoalho.
Porra.
Fodidamente bom.
— Sempre.
— E você?
— E se eu não quiser?
Ela desvia o rosto, pegando uma pequena toalha para secar sua pele
suada.
— Trent, huh? Então você já sabe meu nome. — Minha boca sobe
em um sorriso malicioso.
— É reversível?
— Não.
— Oi, sei que estou atrasada. — Seu timbre possui um leve tremor.
Seus olhos se fecham ao ouvir a pessoa do outro lado da linha falar. — Eu
sei, sinto muito por isso. Tive uma aula extra onde explicaram como
funciona a faculdade e a metodologia de ensino, mas já estou indo.
Sua cabeça acena em concordância a algo que foi dito, mesmo que a
pessoa do outro lado não possa ver.
— Bom, se esse for o caso, será que o pobre homem sabe que você
rebolava em meus dedos no sábado à noite? Não que eu tenha algum
problema com isso.
— Não achei que eu precisasse dar uma. — Ela mira meu rosto, o
verde das suas íris assumindo uma tonalidade escura. — Disseram que você
fica com todas, mas não é o que parece, visto que não consegue esquecer
algo tão insignificante quanto aquilo. Qual é o seu problema? Nunca tinha
masturbado uma garota antes?
Suas bochechas ficam vermelhas conforme seu tom se eleva.
Sorrio.
Não acredito que isso seja possível, do mesmo modo que não
acredito que ela seja mesmo filha de um pastor.
Desde o momento em que Alex revelou que a sua família se mudou
agora e que assumiram a igreja Temple Of God, seu pai como o pastor e a
sua mãe como a professora do coral, fiquei esperando que admitisse que
havia sido uma brincadeira.
Só achei interessante alguém que deveria ser tão puro, alguém que é
tão puro e correto, de acordo com Alex, ter uma língua tão afiada, uma
dança tão sexy e um beijo tão quente.
O loiro platinado ao meu lado fala algo sobre ela ser gostosa e sobre
como é uma pena que seja tão inacessível.
Nolan não consegue ficar parado por muito tempo sem fazer nada,
por isso agradeço quando menos de dois minutos depois as batidas soam na
porta anunciando a chegada da nossa comida.
Alex e ele se levantam para receber e sigo sentado no sofá, com os
pés apoiados na mesinha de centro, enquanto procuro por seu perfil no
Instagram.
Os dois cursos estão juntos para que haja uma única explicação
sobre o conteúdo, embora as atividades e a forma como se aplique para eles
seja diferente da nossa.
O homem continua falando e faz uma pergunta para uma das garotas
sentadas na frente, paro de escutá-los. Coloco o fone na orelha esquerda e
vou passando as páginas com notas aleatórias sobre técnicas de dança, até
chegar na minha matéria.
Tenho o total de vinte e cinco itens nela, antes eram mais. Todos
escritos à lápis — uma vez que constantemente apago o que escrevi por
acreditar que é impossível ou que jamais serei merecedora de cumpri-los.
E não são coisas grandiosas como ter uma casa própria e conhecer o
mundo. São coisas banais como ficar bêbada ou fazer tatuagem.
Acho que tenho medo de que eles descubram, tenho medo do que
meu pai faria se soubesse. A maior loucura que tive coragem de cometer até
hoje, foi perder a virgindade.
Entreguei meu corpo para uma pessoa e tive relações com ela antes
do casamento. Se descobrissem o que aconteceu, eu seria tachada como
puta, aquela que perdeu o seu valor, impura.
Foi burrice e idiotice, eu estava irritada com o meu pai e sai com
falsos pretextos da faculdade. Fui até a casa do garoto que era apaixonado
por mim desde sempre, ele era mais velho e eu sabia que ele já tinha tido
uma namorada. Entrei para tomar um suco, eu já estava com dezenove na
época e o conhecia há anos, estudamos a vida inteira juntos na mesma
escola. Ele me beijou e me deixei levar.
Só que isso não ameniza o que foi feito. Às vezes, sinto que nunca
serei boa o bastante para eles e que seguirei os desonrando durante a vida
inteira.
Infelizmente jamais pude ter um, sempre disseram que só tem diário
quem precisa esconder algo. E se é necessário esconder, é porque é errado.
Sim, sei disso. Para ele, até "desgraça" é algo feio que não deve ser
pronunciado dentro da nossa casa.
Mas Trent não precisa saber disso, assim como não precisa saber
que esse é um dos únicos palavrões que me permito proferir.
Reviro os olhos, fechando meu caderno para que ele não possa ver
mais nada. Me pergunto se mais alguém estava prestando atenção em mim e
sinto meu rosto esquentar de vergonha só de imaginar.
Patética.
Não sei explicar, mas alguma coisa nele faz com que eu seja alguém
diferente do que normalmente sou, que me comporte de maneira distinta.
— Ele tem o costume de pedir para tudo ser lido em voz alta, se é
para humilhar ou por ser fofoqueiro, não sei. — Engulo em seco, sua fala
me deixando assustada. — Uma vez, uma aluna estava lendo no meio da
sua aula e ele pegou o livro. Tremblay leu em alto e bom som uma cena de
um ménage em uma sauna. A garota saiu correndo com vergonha e mudou
de faculdade no dia seguinte.
Pisco, atordoada.
— Morgana?
— Sim? — Respiro fundo para não me irritar.
— E você acreditou.
Idiota.
Idiota.
Idiota.
— E a segunda?
Ele não pergunta como foi o dia da minha mãe, ou como foi na
faculdade. Não o interessa, não enquanto o seu assunto não tiver sido
finalizado.
Para ser sincera, ele tem total capacidade de falar sobre si e sobre
questões de seu interesse por horas.
Corto o pedaço de carne e o coloco em minha boca, mastigando-o
lentamente.
Ele me sentou no sofá, olhou em meus olhos e disse que não era
fome, era gula; e gula é um pecado. Não fazia sentido na cabeça de uma
garotinha, mas lembro que aceitei e fui para o quarto.
De madrugada, minha barriga doía. Então fui até a cozinha pegar
um pedaço de bolo na geladeira, no dia seguinte ele me deixou trancada por
horas de castigo.
À medida que fui crescendo, percebi que essa frase é bastante usada
por machistas imbecis.
— Tudo normal, os professores são excelentes e a faculdade muito
boa.
— Que bom — Minha mãe comenta, sei que isso é tudo o que dirá.
Hoje nossa casa está ainda mais lotada do que na festa da semana
passada, Alex sempre consegue se superar na quantidade de alunos que
corrompe.
Sei que ele está comendo a garota por trás pelo movimento de
impulso que ela dá a cada estocada. Os ignoro, desistindo de procurar por
Alex e decidindo encontrar algo, de fato, interessante.
Gostosa.
Por um momento, achei que ela viria. Não que eu me importe com a
sua presença, a ruiva não é nada significativa para mim. Só que fiquei
curioso, queria descobrir se ela era do tipo lobo em pele de cordeiro, ou se
tinha sido um lapso sua vinda da última vez.
Instigante.
Passo meu polegar por cima da renda provocando uma fricção que
faz a gemer. Eu deveria estar olhando para o seu rosto, ou para o seu corpo
nesse momento, mas inconscientemente procuro por Nolan.
Dessa vez ele já não está mais de costas, consigo ver claramente a
ruiva com vestido preto de alças finas e um copo vermelho de bebida em
mãos.
Morgana Lewis.
Morgana fodida Lewis está quase rebolando em Nolan, ao mesmo
tempo em que ele segura sua cintura de modo possessivo e sussurra algo
em seu ouvido que a faz rir.
Ele segue com as mãos nela, sei que ele também está alterado.
Nolan já estava bebendo antes mesmo da festa começar. Vejo o momento
em que ele lambe o pescoço dela, Morgana sorri, mas seus olhos ficam
presos aos meus.
As luzes piscam e a música parece ficar mais alta. As suas íris claras
permanecem focadas em mim, mesmo quando Nolan lambe o lóbulo da sua
orelha e ela vira o copo, fazendo uma careta com a bebida. E os meus
seguem fixos nela o tempo inteiro, mesmo com Candice me beijando,
gemendo em meu ouvido e rebolando em meu pau.
A intensidade com que ela me observa, o sorriso largo de quem não
se importa com nada, as pálpebras pesadas devido ao álcool se espalhando
em sua corrente sanguínea e o ambiente no todo, me impedem de olhar para
qualquer lugar que não seja ela.
Não sei por quanto tempo fico preso nessa atmosfera onde tudo o
que vejo é ela, mesmo com diversas pessoas passando na sua frente e a
fumaça dos cigarros começando a circular. Tudo o que sei é que em dado
momento, as paredes internas de Candice me apertam ao gozar.
Ela fala algo para Nolan e se afasta, a morena se apoia em mim com
seu corpo mole depois de chegar ao ápice. Continuo duro dentro dela, então
arremeto algumas vezes para gozar logo.
— Seco.
Bufo entediado.
— Que merda você está fazendo? — Alguém aperta meu braço com
força. Viro para o desconhecido tendo a leve sensação de que já o vi antes.
Franzo o cenho.
— Que pastor?
— Seu pai.
Então começo a rir, porque é claro que meu pai não sabe que estou
aqui.
Tento manter meus pés firmes no chão, mas não consigo. Não
pareço ter controle das minhas mãos.
Ou pés.
— Ir para onde? Quem é você mesmo?
"Socorro, sequestro!"
Dou de ombros saindo do meio dos dois. O mais alto, que chegou
agora, me lança uma encarada que praticamente me impede de me mover.
Não sei.
— Do que ela está falando? Que merda de ambulância é essa? —
pergunta com rigidez.
Mentiroso.
Trent.
Volto a rir sozinha, me sentindo uma idiota por ter esquecido desse
detalhe.
Assassino insensível.
— Sim.
Passo pela porta querendo que ele não insista no assunto, só que
tropeço no nada e por pouco não caio. O movimento brusco faz com que a
tontura aumente e eu não consiga mais prender o vômito.
Sinto meu pé melado, sei que acabei me sujando e sinto meu rosto
esquentar de vergonha.
Não abro os olhos, não quero ver nada ou ninguém. Ele passa seu
braço em minha cintura e praticamente me guia festa adentro.
A música volta a ficar alta, vejo as luzes piscando mesmo com as
pálpebras fechadas e sinto pessoas esbarrando em nós ao passarmos.
Sigo parada de olhos fechados, torcendo para que a pessoa ache que
desmaiei. É menos humilhante se pensarem assim.
Escuto uma porta ser aberta e entreabro uma pequena fresta do meu
olho direito para encarar o quarto espaçoso.
Trent não fala nada e não me tira do seu colo nem quando ficamos
sozinhos no quarto. Na verdade, ele segue em frente e entra na outra porta,
revelando mesmo um banheiro.
— Você consegue ficar em pé? — Seus olhos procuram os meus.
Menti para os meus pais, vim de novo a uma festa, beijei o loiro que
também é um Víbora, assisti Trent transando, o cobicei mesmo que ele
estivesse com outra, tentei seduzi-lo, bebi, vomitei e julguei Aiden sem
motivo algum.
Vestido de prostituta.
— Morgana?
Trent poderia entrar, eu sequer me dei ao trabalho de passar a chave.
Não sou.
Para onde irei dirigir ainda não sei, mas é isso que farei.
Ouço ao fundo alguém entrar, só que o som é distante. Sinto
tocarem minha bochecha e ouço chamarem meu nome, mas meus olhos se
recusam a se abrirem.
— Não entendo você, por que aceitou vir hoje, Morgana? — O tom
é baixo, soa como uma pergunta retórica.
Trent não espera que eu responda, entretanto, o faço mesmo assim.
— Sentir como era ser uma de vocês, sentir como era ser normal —
murmuro de olhos fechados. Tão baixo que não sei se ele me escuta, tão
baixo que sequer sei o que estou falando. — Não que alguém saiba, mas a
verdade é que às vezes estou tão cansada da mesmice e de todas as regras,
que desejo morrer. No fundo, acho que Deus me odeia por isso.
Ele pergunta mais alguma coisa, seu tom soa diferente, contudo, não
identifico o que é dito. Sou levada novamente pelo sono, minha mente
desliga. Esqueço onde estou, como vim parar aqui, o que estou fazendo,
tudo o que falei e apenas durmo.
O barulho de alguém se mexendo ao meu lado e o modo como a
cama afunda, me faz despertar.
Minha cabeça dói de modo tão intenso que quase desejo voltar a
dormir somente para que passe. Minha pele arde e um gosto amargo como
fel enche minha boca.
Trent?
E então? Nada.
Não lembro de mais nada desde o momento em que Trent saiu para
procurar a chave do meu carro.
Eu dormi?
Isso é possível?
Tudo nele é.
Bufo.
— Nós…
— Ajeitei você na cama e voltei para a festa, subi umas duas horas
depois para descansar e isso foi tudo.
Meu Deus.
— Você tem certeza? — insisto, torcendo para que ele esteja errado.
Droga. Droga.
Apoio minha mão em seu peitoral quente e fico na ponta dos pés,
tentando alcançá-las. Ele ri e fico desesperada.
Meu pai acorda às cinco e meia para rezar às seis, ele já sabe que
não dormi em casa.
— E por que tanta pressa? Por acaso somos o seu segredinho sujo,
Morgana? — Ele balança a chave em seus dedos, um sorriso esquisito
enfeita seus lábios.
Ele ri, mas o seu maxilar está travado e fúria contida brilha em suas
íris.
Sou.
Trent larga a chave em minha mão com força, o metal machuca meu
dedo.
— Você sabe onde fica a saída. — Sua dispensa não é nada sutil.
Perdoa-me por julgar Aiden duas vezes, sem sequer saber sua
história.
Inspiro fundo e desço, cada passo que dou até chegar na porta e
bater é calculado. Opto por esperar alguém vir me receber, ao invés de
entrar logo. Na minha cabeça, de alguma forma isso diminuirá minha
ousadia. Como se eu pedisse permissão.
Minha mãe abre a porta na terceira batida, sei que eles devem estar
no café da manhã. Seus olhos não entregam nada, nenhuma única reação de
alívio ou raiva. Em momentos como esse, ela nunca reage.
Sigo até a cozinha sem esperar que ele me chame, meu coração está
acelerado.
Oh meu bom Deus, que hoje ele esteja bondoso.
Meu pai levanta a cabeça assim que entro no cômodo, sua expressão
é implacável. Olho para os cabelos grisalhos na lateral e para a sua
mandíbula bem definida.
Ele é um homem alto, o terno preto em seu corpo mostra que já está
pronto para sair.
— Dormi fora.
Ele empurra a cadeira para trás e se levanta, o mel em cima da mesa
cai.
— Então me explique por que você dormiu fora de casa como uma?
— Não foi intencional, a bateria do meu celular acabou e quando vi
já estava tarde demais. Adormeci na sala e assim que acordei vim correndo
para casa.
Dou uma negativa com a cabeça, ele bate a mão na mesa. Um copo
que estava na ponta dela cai com a brutalidade que ele utiliza, e se espatifa
no chão.
Diversos cacos se espalham próximos a mim, inspiro fundo.
— Abominação ao senhor, é assim que se referem a esse tipo de
mulheres. Eu não estou criando você para ser isso e não estou criando-a
para que seja uma rameira que vive na rua sem dar satisfações.
— Sei disso, foi só um trabalho. — Minha voz não falha, mas sinto
minhas pernas desejarem fazer isso.
Ele para bem em minha frente, seus sapatos sociais passam pelos
vidros sem se abalar. Sua altura se sobrepõe à minha, fazendo com que eu
me sinta ainda mais inferior.
— Fiquei irritado ao acordar e ver que você não cumpriu com o que
foi combinado, Morgana.
Irritado, não preocupado.
O problema não foi eu ter dormido fora, mas sim não ter obedecido
sua ordem.
Ele jamais cogitaria a ideia de eu ter mentido sobre o lugar que fui
ou a minha capacidade de ter estado em uma festa.
Aos seus olhos eu não sou assim, e não costumo ser mesmo.
Mas gostaria.
Ele permanece com a mão em meu ombro, me mantendo lá, até que
eu comece a rezar.
— Pai Nosso que estais nos Céus, santificado seja o vosso Nome,
venha a nós o vosso Reino, seja feita a vossa vontade…
Meu pai caminha até onde minha mãe está, murmura alguma coisa e
beija sua bochecha antes de sair.
Consigo tirar os três maiores, mas alguns são pequenos demais para
que eu consiga removê-los sem uma pinça. Então vou mancando até meu
quarto.
E durante todo o processo de limpar os cortes com algodão
molhado, completamente sozinha, só consigo pensar em como me sinto
culpada.
Não por fazer o que fiz, não por ser uma pecadora e um ser humano
horrível, mas me culpo por não sentir culpa de nada disso.
— Eu sei que você é ocupado, Trent. Mas se estou dizendo que
preciso da sua presença hoje à noite, é porque realmente preciso.
Claro que o senhor Hill deixaria para falar de última hora, como se
eu fosse a porra de um desocupado e não tivesse meus próprios
compromissos.
Claro que ele não poderia me avisar com antecedência ou perguntar
qual horário seria melhor para mim. Afinal, sua agenda e o seu trabalho
sempre serão mais importantes que tudo.
Kian não para de acertar o saco de pancadas, mas sinto sua atenção
em mim.
— Eu não posso apenas querer sair para jantarmos juntos? Caso
não se lembre, você ainda é meu filho.
Olho para Kian com as luvas de boxe em suas mãos. Ele segura o
saco, parando as pancadas no mesmo, e caminha até a parede, se sentando
no chão escorado nela.
Mas dessa vez viemos antes por termos uma luta na quarta à noite.
Tecnicamente, não deveríamos ter preparo algum, é uma luta ilegal.
— Vou — revelo.
E sei que é ela pela música irritante que foi definida para as suas
chamadas.
Imediatamente entendo.
— Ela ainda não sabe que você vai ter outra luta quarta, não é? —
Meu tom é debochado.
Vejo suas mãos tremerem, Kian a deixa de fora de toda essa nossa
merda. Victoria nunca pode participar das festas e só vai para nossa casa se
ele estiver acompanhando-a. Ele a proíbe de assistir as lutas e até mesmo as
corridas.
— Vic não precisa saber nada, diferente de Alex. — Sua voz sai
baixa. — Você, por um acaso, já contou que transou com a filha do pastor?
Ranjo os dentes ao ouvi-lo falar de Morgana. Desde sábado de
manhã que não a vejo, só que não consigo tirá-la da minha cabeça.
O que não faz o menor sentido, não me importo com o que Morgana
Lewis sente ou faz.
Peguei sua grade com o Elijah e fui atrás dela nas suas três primeiras
aulas, até perceber que ela não havia ido.
— Já falei que Vic não tem nada a ver com essas merdas. — Suas
íris brilham em fúria. — Assim como já mandei você parar de chamá-la
assim.
Abro um largo sorriso, pelo olhar em seu rosto, sei que ele adoraria
me acertar.
Mas sei que não é isso o que todos admiram, é a sua mente e o seu
foco. Se Owen tivesse tido metade desse comprometimento com minha
mãe, ou comigo, as coisas seriam diferentes.
Totalmente diferentes.
Irônico e incompreensível.
Suspiro, não sabia que ele tinha prestado atenção. Desde o segundo
ano da faculdade de arquitetura, comecei a fazer pequenos projetos para
clientes que estão começando.
Nos últimos meses, tenho pegado pessoas mais importantes
interessadas no meu trabalho. Sei que eu sou bom, então nem me
surpreendo.
— E Candice?
Rio.
A verdade é que ela nunca gostou muito dos meus pais, Chloe
cresceu comigo e sempre íamos à igreja juntas. Seus pais também são
religiosos e nos demos bem desde sempre.
Eu me sentia especial por ser filha de pastor, achei que tivesse vários
privilégios, que estava mais perto de Deus do que todos os outros e que era
sua filha favorita. Os anos foram passando e alguns pensamentos mudaram,
mas se for para ser sincera, uma parte minha ainda acha que tudo faz
sentido.
E esse é o poder que uma criação tem sobre alguém, porque uma
vez que um conceito for incutido, cultivado e preservado na mente de uma
criança, dificilmente ele será abandonado.
Estou digitando uma resposta sobre o tal dinheiro — que é pouco,
uma vez que só juntei de aniversários e algumas apresentações que foram
pagas — quando sinto a atenção sobre mim.
Trent indica o item sobre a mesa com um aceno, abro o papel sem
saber o que esperar. Um sorriso involuntário brota em meus lábios ao ver o
meu vestido cuidadosamente dobrado dentro dele.
— Você o lavou.
— Não.
— Um o quê?
Como eu sabia que meu pai jamais me deixaria usar algo assim e em
hipótese alguma o compraria para mim, tirei alguns dólares do dinheiro que
tinha guardado e o comprei sozinha.
— O quê?
— Só hipócrita, então?
— Já sou muitas coisas ruins e acho que não quero ser tachada como
isso também.
— Sinto muito pelo que falei sobre Aiden e obrigada por trazer o
vestido. — Encerro a conversa por ele.
— Porque se fizer isso, retiro o que eu disse sobre você ser covarde
e peço desculpas. A grande questão é: você vai provar que estou errado ou
que estou certo, Morgana Lewis?
Não preciso olhá-lo para saber que está sorrindo, a zombaria está
presente em seu tom.
Trent pega uma das minhas batatas e se afasta, com uma leve risada.
Quando olho para trás, vejo Nolan — que apareceu do nada — com
seu braço sobre os ombros de Trent.
Menti, por exemplo, na primeira vez que beijei alguém. Claro que
meus pais acabaram descobrindo dias depois, uma das mulheres que
frequentavam a igreja viu o momento em que Thomas colou inocentemente
seus lábios nos meus em um selinho e não perdeu tempo ao fofocar
diretamente para o pastor.
Eu tinha doze anos, foi algo tão rápido, inesperado e inocente que eu
nem sabia que era errado. Sequer havia sido eu a tomar a atitude, o que não
impediu meu corpo de ficar marcado por punições. Cheguei a ficar uma
semana sem conseguir falar direito de tão machucada que minha boca ficou
depois de Anthony "limpá-la". Mas ele estava certo, eu era o exemplo, eu
sou o exemplo.
Não posso errar nunca, não posso demonstrar tristeza, não posso
falar coisas impuras e não esperam que eu faça nada além de arranjar um
bom casamento muito em breve.
Para quase todos, já é um absurdo que eu faça faculdade de dança e,
sinceramente, por pouco não consegui nem mesmo isso. Mas para minha
sorte, esse foi um dos únicos assuntos que minha mãe lutou por mim e me
ajudou.
Roo a pontinha do meu polegar, ansiosa, vai ser a primeira vez que
fujo. Todas as loucuras e imprudências que cometi até hoje, inventei alguma
desculpa para escapar.
Sei que estarei morta caso eles venham aqui e vejam a porta com
chave e sei que meu pai a arrombaria se eu não respondesse. Só que estou
contando com o fato de que eles nunca falam comigo depois do jantar e isso
já foi há duas horas.
Oh, Deus.
— Isso.
Sinto minha respiração acelerada, me sinto eufórica.
— Sim.
Mas o meu atraso, de uns vinte minutos, não fez diferença alguma.
Porque o homem com quase dois metros parado na porta do galpão, ainda
me deixou passar sem cobrar os cinquenta dólares que vi os outros
pagarem.
Passo pelas poucas pessoas me sentindo perdida, entrei há uns dois
minutos e não sei exatamente o que está acontecendo aqui. Não vi Trent em
lugar nenhum e apenas sigo aqueles que passam pelo corredor estreito, indo
em direção a gritaria. Ao menos eles devem saber o que estão fazendo.
Assim que o espaço se torna mais largo, as paredes cinzas dão lugar
a um preto fosco. A luzes no teto focam no centro do lugar e um grande
ringue se sobressai a tudo. Olho para o tablado elevado que imediatamente
me chama atenção, principalmente por duas pessoas estarem dentro dele.
Passo por três garotas e as escuto falarem sobre procurar Hunter
para aumentar a aposta. Franzo o cenho confusa, mas me aproximo do
ringue mesmo assim, sem conseguir controlar a curiosidade.
Quase de imediato, reconheço Kian sendo um dos dois homens
lutando. Ele está sem camisa e não usa nada além de uma bermuda preta,
que tem uma cobra costurada como se fosse um emblema. Sua boca está
sangrando, ele não usa nenhum tipo de protetor bucal ou luvas. A expressão
em seu rosto é inexistente, não há um sorriso ou um indício do que está
sentindo, concentração pura é tudo o que consigo identificar em seu
semblante.
Não consigo ver o rosto do homem que luta contra ele, uma vez que
o mesmo está virado de costas para mim, mas seu calção é dourado e ele é
um pouco mais alto. Os dois têm a mesma estrutura corporal, ao menos é o
que aparenta.
Entretanto, ela não sorri. Do mesmo modo que o homem ao seu lado
não o faz. Ele também está de preto e a tatuagem de cobra em seu pescoço,
juntamente com seus cabelos raspados, passam uma impressão
intimidadora.
Desvio o olhar, para não deixar tão óbvio que estava os observando,
e continuo analisando o galpão. Quatro mesas retangulares estão espalhadas
pelo lugar e vejo de cinco a oito pessoas sentadas em cima delas. Acho que
o propósito de colocá-las foi exatamente esse, fazer com que as usassem de
banco. Só não deu muito certo, visto que noventa por cento permanecem de
pé, próximos ao tablado.
Noto os músculos em suas costas tensos e cada vez que levanta sua
mão para dar outro soco, o vermelho do sangue em seus dedos aumenta.
Se for para ser sincera, não sei o que vim fazer aqui. Não sei por que
Trent iria me querer aqui.
— Qual é o seu problema? — Minha voz soa nervosa até aos meus
próprios ouvidos. O temor é inevitável, meu estômago embrulha.
O medo de que ele saiba quem é meu pai e que de alguma forma,
prove que eu estive aqui, consegue ser maior que o medo do que ele poderia
fazer comigo.
— Acho que poderíamos nos divertir juntos — sugere em um tom
forçadamente sedutor, sinto vontade de vomitar.
Ele está de jaqueta preta, assim como todo o restante da sua roupa e
sua expressão entediante consegue ser muito mais intimidadora do que
deveria. O encaro com lábios entreabertos sem saber do que ele está
falando.
Sua postura é assustadora, ele está com uma bermuda igual à que
Kian estava usando minutos atrás. Seus olhos, mesmo a distância, estão
nitidamente sombrios. E toda a sombriedade é voltada para o idiota que me
segurava há alguns instantes.
Mas ele não replica, muito pelo contrário, abaixa sua cabeça.
Volto para perto do ringue, achando a ideia bem mais atrativa agora
do que quando cheguei. Trent balança a cabeça, me medindo de cima a
baixo. Ergo o queixo como se o desafiasse.
Eles vão ao chão, Trent o prende pelo pescoço, mas o loiro consegue
se soltar e desfere uma cotovelada certeira em seu rosto. Ele pragueja e seus
dentes imediatamente ficam vermelhos com sangue os manchando.
Trent é atingido por dois cruzados no olho, fico tensa. Ele murmura
alguma coisa que aparentemente deixa o loiro desnorteado e cego de raiva,
uma vez que vai com ainda mais imprudência para cima dele.
E é essa imprudência toda que o faz levar, literalmente, uma rasteira.
Sua cabeça bate no chão e fecho os olhos por um segundo com medo de que
tenha quebrado o pescoço ou algo assim.
Trent parece procurar por algo entre as pessoas, suas íris vão de um
lado para o outro antes de pousarem em mim. Engulo em seco com a visão
dos seus cabelos suados, o abdômen exposto e os machucados visíveis
sendo bem mais excitantes do que deveriam.
Decido ir embora, não tenho mais nada para fazer aqui. Já fugi de
casa, provei que não sou uma covarde, vivi uma experiência insana — que
foi assustadoramente boa — e passei não sei quanto tempo em um galpão
com lutas ilegais.
Foi o bastante, na verdade, foi bem mais do que isso.
Ele dá de ombros.
Olho para seu torso ainda nu, percebendo que tudo o que fez foi
limpar o sangue em seu rosto.
— O suficiente.
— Em casa.
Ele trava o maxilar.
— Cancele.
— O quê? Do que você está falando?
— Ela não vai mais precisar da corrida, vou deixá-la em casa — diz,
estendendo uma nota de cinquenta dólares.
O homem, que deve ter uns sessenta anos, me olha pelo espelho
retrovisor. Seu rosto busca o meu para se certificar que estou de acordo com
isso e acho o gesto fofo.
Alex não vai gostar nem um pouco quando descobrir o que fiz,
principalmente porque depois das lutas eu e Kian ainda ficamos no ringue
por mais algum tempo, gastando o restante da adrenalina enquanto Hunter
vende alguns baseados.
Mas hoje não foi um dia normal, Kian perdeu o controle quando não
deveria e Morgana realmente apareceu. Não esperei que ela fosse ter
coragem de vir, o convite foi feito em um ato impulsivo e não resisti a
vontade de provocá-la.
A verdade é que a garota me instiga e a cada vez que ela faz algo
que não espero, me pego imaginando até onde está disposta a ir. E estou
surpreso por ainda não ter descoberto o seu limite.
Pesquisei por ela na internet e procurei pela sua família. Seu pai, o
pastor Anthony Lewis, é mais conhecido do que imaginei. Suas pregações
são sempre fervorosas e ele é a imagem do homem perfeito, com a família
perfeita.
— Sei disso.
Algo brilha em seus olhos verdes, Morgana não pergunta para onde
vamos. Ela apenas se ajeita no banco, seus dedos delicados seguram o cinto.
— Com a dor?
— Com os cortes.
Passo da estrada que Aiden e Nolan usam para fazer drift, e pego a
esquerda, parando o carro no acostamento vazio. Morgana me olha confusa,
me estico sobre seu corpo para pegar o maço de cigarros de dentro do porta-
luvas e dou um sorriso de lado em sua direção, indicando o lado de fora
com um menear de cabeça.
— Perguntei primeiro.
— Meus pais não sabem que estou fora de casa, não queria correr o
risco ao trazer o carro — revela.
— Quero.
Ela o levanta até o seu rosto e entreabre os lábios para tragá-lo. Seus
olhos estão presos nos meus, a cena tem um quê de erotismo. Talvez seja o
modo como ela suga o cigarro ou a maneira como as suas íris estão um
pouco mais escuras do que o normal.
Suas íris desviam das minhas para minha boca umas três vezes e ela
engole em seco, assentindo. Levo minha mão ao seu joelho exposto e deixo
parada ali enquanto a assisto fumar de novo. Ela solta a fumaça em meu
rosto e a inalo.
Não estou com a nicotina em minha boca, mas a sensação de prazer
que sinto é ainda melhor do que se eu estivesse.
Levo minha mão a sua lombar e puxo seu corpo para a ponta da
caçamba, me encaixando ainda mais nela. Morgana joga sua cabeça para
trás, dando acesso direto ao seu pescoço e distribuo pequenos beijos e
lambidas por toda sua extensão.
Ela geme meu nome, começando a se esfregar em mim, por cima da
bermuda. Seus dedos ágeis exploram meu abdômen exposto e passam por
cima dos meus mamilos com um leve arranhar. Rosno uma imprecação e
sinto o seu sorriso contra os meus lábios.
— Você não deveria estar me beijando assim — sussurro contra seu
ouvido, mordiscando o lóbulo da sua orelha.
Sorrio, levando minha mão até o seu pescoço. Morgana permite que
eu aperte meus dedos ao redor dele, com uma leve pressão para obrigá-la a
manter seus olhos fixos nos meus.
Sua boca está vermelha, suas bochechas com um rubor sexy para
caralho e suas pálpebras um pouco mais pesadas.
— É isso que você quer, Morgana Lewis? Ser fodida na caçamba da
minha picape, no meio de um acostamento?
Deslizo meu polegar por cima de sua pulsação acelerada com desejo
nublando meus sentidos. A fome em seus olhos, faz com que a minha
vontade de tê-la triplique.
Puxo seu rosto para perto do meu e lambo seu lábio inferior. Ao
invés de empurrar sua calcinha para o lado e me afundar dentro dela sem
camisinha, como sinto vontade de fazer, me afasto dela sem dizer nada e
caminho até a frente do carro, pegando um preservativo do porta-luvas.
— Não sou, mas se isso fizer você continuar com suas mãos em
mim, não me importarei em utilizá-lo. — A sinceridade em sua fala tão
direta, me faz desejar fodê-la agora mesmo.
— Trent, o que você está fazendo? — Sua voz sai fraca. Ela se
remexe e ponho minha mão em seu abdômen, mantendo-a parada.
— Estou tentando comer sua boceta, então fique quieta e me deixe
experimentá-la — rosno, admirando seus lábios melados por alguns
segundos.
Fodidamente gostosa.
Minha língua desce até sua abertura e ouço a ruiva engasgar com
minhas lambidas lentas e sucções fortes. Não tenho pressa ao explorá-la,
mas ela sim. Seu quadril começa a esfregar em meu rosto e sinto sua
umidade melar minhas bochechas e meu nariz.
Percebo que Morgana está mais do que excitada e deslizo meu
indicador para dentro dela, a garota arqueja. Por uns dez segundos, não
movimento meu dedo. E não o faço por dois motivos. Primeiro que quero
deixá-la se acostumar com a intrusão e segundo que ela é apertada para
caralho.
— M-meu Deus — Sinto seu quadril retesar, sua boceta fica ainda
mais quente e suas pernas tremem em meus ombros. — Trent, meu Deus.
— Pode apostar que Deus não tem nada a ver com isso, Morgana.
Dou uma última lambida em sua boceta inchada e levanto,
admirando sua respiração acelerada, seus olhos pesados, seus lábios
entreabertos, suas bochechas coradas, seus seios expostos e sua carne
brilhosa.
O verde das suas íris está um milhão de vezes mais escuro do que o
normal, meu cacete pulsa em anseio para estar dentro dela. Pego a
camisinha, rasgando a embalagem com facilidade e abaixo a bermuda de
luta, junto com a cueca.
Meu pau bate em minha barriga duro como uma pedra ao ser
libertado da boxer preta. Morgana, que acompanha cada movimento
enquanto tenta — e falha — regular sua respiração, arregala os olhos.
O canto esquerdo da minha boca se ergue, achando engraçado como
eles triplicam de tamanho em questão de segundos.
Morgana umedece seus lábios, olhando para meu pau como se ele
tivesse sete cabeças ao invés de uma só.
— E se não couber? — insiste.
Seguro sua mão e a trago até meu membro, a ruiva parece ficar mais
interessada ao segurá-lo. Inclino a cabeça para trás deixando escapar um
som rouco do fundo da minha garganta, somente por ter suas mãos em mim.
Ela firma o aperto ao meu redor e movimenta seus dedos delicados
para cima e para baixo, atenta a cada expressão minha. Sinto que não
aguentarei muito se continuarmos assim e pego a camisinha, estendendo em
sua direção para que ela a coloque em mim.
— Hum?
Só que fico preocupado por talvez estar sendo duro demais, rude
demais, e desacelero um pouco.
A ruiva resmunga, arranhando meu abdômen.
Invisto mais umas duas vezes com meu pau meia bomba, antes de
sair de dentro dela. Tiro a camisinha subindo a bermuda, enquanto Morgana
ajeita o seu vestido verde.
— Você está bem? — pergunto, estendendo minha mão para ajudá-
la a descer da caçamba.
— Sim.
Morgana aceita o toque, segurando meus dedos em apoio. Sua
respiração ainda está descompassada.
— O quê? Você acha que armei para transar com você? — Meu tom
sai mais sarcástico do que deveria.
Suas mãos vão até a porta do carro para abri-la, mas a travo. Escoro
minha cabeça no encosto do banco ao encará-la.
Repeti isso durante todo o caminho até minha casa. E ele foi
relativamente longo, uma vez que pedi para Trent me deixar duas ruas
antes.
Mas para a minha sorte, nada havia acontecido, eles não haviam
notado minha ausência. Quase chorei na hora que me dei conta do que tinha
feito e algumas lágrimas de felicidade molharam minha folha ao riscar os
dois itens de uma vez.
Jamais imaginei que fosse ter coragem de realizar nem mesmo um.
Então ver três riscados em meros dias, me deixou em êxtase.
Não por ter pecado e não por não me sentir culpada, mas por saber
que farei isso outras vezes. Por sentir no fundo do meu âmago que algo
havia mudado. Que uma pequena parte minha, aquela sedenta por todas as
coisas que sempre me foram proibidas, se libertou ao perceber que havia
como fugir. Que havia como assistir lutas ilegais e fumar no meio da
estrada vazia, sem ser descoberta.
Meu pai prega sobre a violência cruel que rodeia o mundo, sobre a
Ira, o furor, o adultério, a inveja, a avareza, a impureza, a soberba, a
prostituição e a luxúria. Principalmente a luxúria.
O pastor Anthony aparenta ter predileção por todo e qualquer
sermão que envolva o pecado carnal. E é irônico que eu esteja aqui, sentada
em um banco de madeira de uma igreja cheia de devotos, com os dedos de
Trent marcados em minhas coxas por debaixo da saia.
O que você fez? Por que tem agido dessa forma? Por que se
comportou como uma puta e abriu as pernas para alguém na primeira
oportunidade que teve?
Já elogiaram minha roupa, que não é nada além de uma saia rosa
plissada abaixo dos meus joelhos e uma blusinha branca. Já falaram bem
dos meus cabelos e da minha aparência delicada.
Quando eu era mais nova, era ainda pior. A pressão em cima de mim
era sufocante. Porque afinal, como assim a filha de pastor é amiga de
garotos? Como ela pode tirar notas baixas? Como assim ela usa roupa
preta? Isso é coisa do demônio. Como assim ela não é a imagem e
semelhança de Deus que deveria ser o exemplo para nossos filhos
seguirem?
As cores são tão vivas que me causam uma sensação boa. Incrível
como são poucas e raras as coisas na igreja que me trazem esse sentimento.
Desconhecido: ?
Receio porque tenho medo de meu pai ver o seu número, caso eu o
salve. Curiosidade do que ele poderia querer comigo. E a outra coisa parece
muito com euforia. Mas por que eu ficaria assim somente por estar falando
com ele?
Encaro o celular sem ter a menor ideia do que ele quer dizer. Mas o
cansaço mental de ter ficado horas na igreja, com um sorriso estampado no
rosto e pessoas me bajulando sem me conhecerem, some. E rapidamente é
substituído por uma pequena chama de ansiedade. Uma pequena chama de
vida.
Nós viemos juntos em minha picape porque seu Bugatti preto está
com um problema no motor. Eu normalmente não seria a sua primeira
escolha, mas Hunter precisou ir para um evento importante com seus pais e
não vem.
— Não.
Sua expressão não é muito amigável, seus olhos deixam claro que
não acredita em minhas palavras, mas não questiona. Apenas assente e se
afasta, me deixando sozinho.
A ruiva sorri para algo que a garota fala, seu sorriso é uma das
coisas mais bonitas que já vi e sei que não sou o único a reparar nisso.
Quando percebo que elas não irão se afastar e que entrarão juntas, me
aproximo.
Antes que Morgana possa responder, passo meu braço por cima dos
seus ombros e a trago para perto de mim. A ruiva me fita com um
questionamento silencioso no olhar e ergo o canto da minha boca em um
meio sorriso.
— Morgana ficou de me ajudar com um problema, ela vai depois —
falo para Vivian, voltando a atenção para a garota em meus braços. — A
menos que você queira ir agora.
Ela fica uns quinze segundos em silêncio, onde parece decidir se irá
ficar comigo ou não.
O cheiro suave dos fios invade minhas narinas, é algo doce. Só que
é tão ameno que é agradável.
Alex repetiu, mais de uma vez, que eu deveria manter distância dela,
sua fala foi mais irritada do que o comum. Principalmente por eu tê-los
deixado sozinhos no galpão depois da luta.
Ela não tira os olhos de mim, seu queixo está erguido e sua postura
determinada.
— Então faça.
Ela entra e estou para dar a volta e fazer o mesmo, quando Aiden e
Nolan chegam cantando pneus com suas motocicletas. Os dois têm o
costume de virem disputando para ver quem chega primeiro,
constantemente dá empate. Ambos são insanos dirigindo.
Seus olhos desviam para o vidro da picape e mesmo tendo fumê, sei
que consegue vê-la. Só não sei se a reconhece.
— Acho que você vai querer manter distância dessa vez — aviso.
Aiden ri.
Vou para o carro, o olhar no rosto de Morgana deixa claro que ela
ouviu tudo o que foi dito. Espero que ela comente algo, mas sua expressão
fica indecifrável e o seu silêncio é ensurdecedor.
— O que é isso?
— Um presente.
— Trent.
— Sim?
Rio.
— Estava brincando, Morg. Se você não quiser ficar com eles, basta
me devolver.
A ruiva balança a cabeça em uma negativa.
— Não sei, eu só quero viver, Trent. Quero que parem de ditar o que
devo ou não fazer. Quero experimentar tudo o que tem no seu mundo, todas
as festas, bebidas e drogas que são proibidas no meu. Quero sentir todas as
sensações, desde as mais pecaminosas até as mais inocentes. Quero infinitas
coisas, só que não quero nos meter em problemas — confessa. — Jamais
quis isso.
— Então você quer ser corrompida, mas quer que seja em segredo
— deduzo.
Alex passa a mão em seu rosto com exasperação, o olhar que troca
com Hunter é significativo.
coisa alguma. Desde que Alex nos convocou — como constantemente faz
antes de uma luta, festa e corrida — ele está sentado no sofá dourado, com
Kian ri.
— E você?
— Eu o quê?
— Não vou ter essa conversa de novo, fique fora disso. Ela não é
um assunto seu, do mesmo modo que Morgana não é um meu.
Eu sabia que ela estava lá por mim, para me provar algo. Então odiei
estar no fodido ringue enquanto precisei assistir de longe, ela tentando se
soltar. Odiei não ter tido a oportunidade de desconfigurar o rosto do imbecil
por incomodá-la e odiei principalmente o sentimento de posse e
preocupação.
Só que isso é diferente, não sou obcecado pela ruiva. Sequer sinto
algo pela garota, além de desejo.
— Não sou eu que tenho uma conta falsa e persigo uma garota que
me deixou, está bem? O foco aqui não sou eu.
— Faça-me o favor, você não beija ninguém na boca desde que ela
se foi e só fode as garotas por trás, ou se masturba enquanto assiste algum
ménage nosso.
Sorrio.
— Para o estúdio.
— Estúdio de tatuagem?
Aiden não pergunta o motivo e não reclama, tudo o que faz é dar de
ombros enquanto passamos pela sala vazia e saímos de casa.
As batidas na porta, que mais parecem fodidos tambores dentro da
minha cabeça, são o que me fazem acordar.
— Bom dia, raio de sol. Tenho uma surpresa para você. — O riso
em sua voz é perceptível.
Sempre soube que Nolan gosta do perigo, mas não imaginei que
fosse insano a ponto de me provocar tão cedo.
— Como?
Não faço mais perguntas, passo por Nolan esbarrando em seu ombro
e caminho até as escadas com passos rápidos.
Estou na metade dos degraus, quando consigo vê-la. Ela está parada
bem no meio da sala, usando um vestido azul-bebê abaixo dos seus joelhos.
Seus cabelos estão soltos e nenhuma maquiagem enfeita seu rosto.
A ruiva não responde, sua atenção está em meu corpo. Olho para
baixo imitando seu movimento e percebo o motivo pelo qual ela me encara.
Estou só de cueca.
Mas Morgana não olha para o meu pau e sim para minha cintura.
Mais especificamente, para onde a pele está vermelha e a tatuagem nova de
um escorpião é visível.
— A ruiva é um pouco insistente e não aceitou sair até ver que você
estava bem — Aiden comenta com deboche.
— Você me ligou.
— Liguei?
— Sim, doze vezes. — Dá um meio sorriso.
Era dez e meia da noite, ele não perguntou o que eu estava fazendo
ou se eu estava bem. Mais uma vez o senhor Owen Hill ligou apenas para
falar de negócios.
E o tom que utilizou, deixando a entender que era uma ordem e não
um pedido, foi o que me fez perder a cabeça. Como Kian não estava por
perto e eu não podia arriscar machucar Aiden por causa da corrida de hoje,
fui para um bar e bebi.
Não sei quantas doses, mas com certeza foi uma quantidade
considerável para me deixar com essa ressaca de merda.
Ela assente. Sua aparência está tão angelical com essa roupa, que me
sinto um filho da puta por estar contaminando-a com minha sujeira.
— Quando acordei vi as chamadas perdidas, tentei retornar, mas
você não atendia. Foi quando lembrei da sua última luta e fiquei com medo
de que algo tivesse acontecido.
Eu deveria ignorar porque não é nada demais, ela é boa e sei que
faria isso por qualquer um. É algo que deve ser da sua essência. Só que
ainda assim, não ignoro.
— Ontem à noite.
Rio.
A única coisa que dói aqui é tê-la tão perto e não poder fazer nada.
— Não.
Sinto a pele quente na ponta dos meus dedos, seu peito sobe e desce
com uma respiração pesada e mantenho minha mão ali.
— E o que você tatuaria, Morgana Lewis? — Meu polegar desliza
lentamente por cima do seu seio.
— Um par de asas.
— Como um anjo?
Ela sopra uma risada e estamos tão perto, que seu hálito mentolado
bate diretamente em meu rosto.
Sinto que ela está prestes a perder o controle, só que algo a detém.
Sua boca se afasta da minha e ela dá um passo para trás, saindo do meu
aperto.
Aquiesço e a pureza da roupa enfim faz sentido. Sinto meu pau doer
dentro da cueca e me recrimino mentalmente por isso.
— Não.
— Aiden e Nolan irão correr esta noite. Você disse que quer viver,
certo?
— Mais do que tudo.
Meu pai ficou satisfeito, tanto que me deixou voltar para casa mais
cedo, junto com minha mãe. Ao passo que permaneceu na igreja até às seis.
Tomei banho antes dele chegar em casa, não queria levantar suspeita
alguma. Jantei em silêncio, murmurando pequenas afirmações quando eram
necessárias. Rezei, agradeci pela comida na mesa e aproveitei somente
aquilo que me foi oferecido.
Rio.
Só que ainda assim, ter ciência de que ela sabe sobre meu pai e que
com uma única palavra poderia colocar as coisas a perder, me faz paralisar.
— Vou dar dois conselhos para você, não como amiga, mas como
namorada de um deles e alguém que está dentro. — Ela ergue sua mão, as
unhas bem feitas zombam de mim
Ela ri.
— Você está bem? — Trent se vira para mim, colocando suas mãos
em meu rosto.
— Sim.
Não sei como Trent fez isso, mas de algum modo comprou todas as
peças no tamanho exato. Fiquei receosa em aceitar o presente quando ele
me ofereceu, não apenas por medo de não caber, mas por vergonha.
Pisco algumas vezes, sem saber o que dizer. Sinto uma onda de
frustração me atingir, mas ele está certo.
— E você não vai ficar para assistir? — Deixo de olhar para trás e
reparo na sua picape estacionada há alguns metros de distância.
— Não hoje, nem sempre as assisto. — Dá de ombros. Suas íris
escuras como uma tempestade me observam intensamente. — Falei que
você iria experimentar o que o meu mundo pode oferecer e não estava
brincando, Morgana.
— E se eu me machucar?
— Às vezes a dor compensa. — Sua voz sai sedutora de modo
proposital para me convencer.
Trent sorri.
E mesmo sendo evidente que é uma tática barata para me fazer pular
mais rápido, funciona. Ele sorri.
Pela maneira que ele me guia, tenho certeza de que já invadiu essa
casa antes. Ou isso, ou já esteve aqui e conhece os donos.
Porque não há como ele saber que tudo estaria tão vazio para que
pudéssemos invadir. Ou que a casa tem piscina, o que é originalmente o
nosso plano.
Trent segue nos levando até a parte dos fundos, não encontramos
ninguém no meio do caminho. Nenhum segurança ou pessoa, tudo parece
verdadeiramente abandonado.
— É enorme, Trent.
Sopro uma risada com o duplo sentido em sua frase. Ele aproxima
seu rosto do meu, nossos lábios quase se tocam e sua língua chega a
deslizar sedutoramente no canto da minha boca.
— Você está com roupa demais para quem vai nadar pelada,
senhorita Lewis — Trent provoca, tirando os tênis dos seus pés ao mesmo
tempo em que desabotoa sua calça jeans.
Pelada.
A enfermeira disse que eu era sortuda por ter uma família tão
estruturada. Ganhei doze pontos e saímos de lá com um sorriso no rosto.
— Eu caí.
Trent volta a tirar sua roupa e o único pensamento que consigo ter é:
por que seria pecado desejá-lo tanto?
Pecado deveria ser alguém ter o corpo como o seu, e não o fato de
eu querê-lo por isso.
— E a tatuagem? — indago, olhando para o escorpião em sua
cintura.
— De que?
— S-sim.
Meu tom fraqueja, com o frio e o arrepio que o seu toque causa.
Separo um pouco as pernas para facilitar seu trabalho, ele rosna uma
imprecação. Seu indicador sai totalmente de dentro de mim, somente para
voltar acompanhado do seu dedo médio. Trent mexe sua mão, me fodendo
ao mesmo tempo em que o masturbo.
Seu polegar pressiona meu clitóris e ele movimenta os três dedos
simultaneamente, com uma habilidade absurda. Ofego, a aspereza de sua
mão e os calos na mesma, me deixam com dificuldade de respirar. Meu
aperto ao seu redor vacila, devido ao esforço gigantesco que faço para não
me perder no prazer.
Trent segura seu pau com a mão livre e começa a esfregá-lo em meu
clitóris. Fico na ponta dos pés, cada vez que sua glande passa por cima da
parte sensível e desce até minha entrada, onde seus dedos ainda estão, meu
corpo se arrepia.
Solto um resmungo quando sua mão me abandona, mas sorrio ao
sentir os dedos melados em minha bochecha. Trent segura meu rosto, me
obrigando a encará-lo.
Por mim, ele só iria mais e mais fundo, até que eu conseguisse senti-
lo em meu estômago. Ele inspira profundamente atrás de mim, soltando
pequenos grunhidos do fundo da sua garganta, que são facilmente os sons
mais eróticos que já escutei.
O calor do seu corpo irradia para o meu, o único barulho audível são
o das nossas respirações, dos nossos quadris se chocando e dos meus
gemidos. Uma das suas mãos sobe até meu pescoço e seus dedos fazem
uma pressão considerável nele.
Suas estocadas são fortes, uma mais profunda que a outra. Mas a
cada vez que seu pau sai de dentro de mim, me deixando completamente
vazia, ele aproveita para esfregar toda sua extensão em minha bunda.
— Trent? — gemo, entre uma arremetida e outra, meu corpo se
mantendo firme somente com seu aperto.
— Hum?
Estou para perguntar o que ele está pretendendo fazer ao circundar
seu dedo em meu cu, enquanto me fode, quando escuto a voz de alguém e
ouço passos de aproximarem.
Oh, Deus.
O que eu faço? Como aceitei vir?
— Precisa de mais alguma coisa, Quinn? — Seu tom firme soa perto
do meu ouvido, o hálito quente em minha pele aumenta a sensação de
euforia e me causa arrepios.
— Não.
Sinto a pele da minha boceta sendo esticada cada vez mais, estou
latejando em todos os lugares e não consigo conter os gemidos.
— Trent — choramingo, meus seios esfregando na parede da piscina
a cada investida violenta.
Não tem um único centímetro do seu pau que não esteja em mim.
— Você é ousada o suficiente para conseguir desfrutar disso tudo,
Morgana? — repete, minha mente está tão nublada de prazer que não
consigo raciocinar.
Quando Aiden estava sendo julgado, seu pai arriscou sua carreira
como juiz para defendê-lo no tribunal e comprou diversas pessoas para
conseguir fazer isso.
Quando Nolan sofreu o acidente que quase o matou, sua mãe ficou
no hospital durante dez fucking dias. Se recusando a ir para casa até mesmo
para trocar de roupa.
Quando Hunter foi criticado por aparecer com a cobra tatuada em
seu pescoço, o prefeito fez um pronunciamento público falando sobre como
era um absurdo ainda existir preconceito associado a coisas banais, como
tatuagens. Diversas pessoas discordaram do seu discurso e isso influenciou
o voto de alguns, mas não o impediu de ser reeleito.
Penso em como ele não esteve ao meu lado quando aprendi a dirigir,
não soube quando quebrei o nariz pela primeira vez e sequer notou minha
ausência quando passei uma semana no hospital com as costelas fraturadas.
Ele nunca esteve comigo, assim como não estava com ela no dia em
que Alice morreu.
Então sim, até posso ser um filho da puta rancoroso que não acredita
que as pessoas mudam. Mas na minha cabeça, tenho motivos para tal.
— Seu segurança está tão entediado assim que não tem nada para
fazer, além de fofocar?
Deve ter no mínimo três vapes e uns cinco maços de cigarros. Fora
o narguilé em cima do móvel.
— Vá em frente — oferece.
— Sim.
— Mas?
Soube que ele deu um corte no carro da garota, que quase saiu
capotando da pista. Não que seja algo chocante, afinal, quando o assunto é
insanidade na pista, ele e Aiden gabaritam.
— O quê?
— Tatuar.
Minha mãe lutou por mim e conseguiu adiar esse futuro, foi a
primeira vez que a vi contrariar meu pai. No fundo, acho que ela também
tinha algum sonho que foi abdicado.
Sempre serei grata por essa intervenção, mas a cada semestre que
concluo, me pergunto até quando ela será válida.
Nunca ouvi seu tom tão rude, eles não parecem notar minha
presença.
— Sempre falei que isso não passava de sexo, só que agora perdi o
interesse nesse quesito também. Então agradeço se você mantiver distância.
— Touché.
Encaro suas íris escuras, senti o peso delas durante o dia inteiro, em
todas as vezes que o vi.
O jogador foi para a enfermaria, mas dizem que ele não apareceu
ontem e muito menos hoje. Alguns apostam que ele não voltará, porém a
grande maioria só desconsidera o ocorrido como se fosse insignificante e
estivessem acostumados.
E foi assim que eu percebi que os Víboras não são temidos apenas
por serem ricos, filhos de pessoas influentes e por participarem de coisas
ilegais.
— Sim.
Mas quando encarei a tela do aparelho, não era ela. Chloe ainda não
havia visto minhas últimas mensagens e a notificação tinha vindo de Trent.
Não era nada demais, apenas uma pergunta curiosa sobre o que eu estava
fazendo, só que ainda assim foi surpreendente.
Entreabro os lábios para avisar que ficarei por aqui mais algum
tempo. Contudo, me calo antes de realmente falar. Um homem alto de barba
rala e cabelos castanhos, com laterais grisalhas, entra no estúdio.
O reitor também nota sua atitude protetora, suas íris cinzentas são
curiosas.
— E essa é…?
— Sim.
Trent bufa.
— Podemos pular essa parte de apresentação entre reitor e aluna
para irmos logo? — comenta. Não preciso olhar seu rosto, para saber que a
expressão zombeteira está estampada no mesmo.
Elijah trava uma batalha silenciosa com ele por alguns segundos.
Trent parece ganhar, porque o homem desvia o olhar e me encara.
— Bom, foi um prazer conhecê-la, Morgana Lewis. Espero que
esteja desfrutando da faculdade.
A festa não está tão cheia quanto estamos acostumados, talvez por
ser noite de jogo. Durante a manhã inteira, ouvi as pessoas murmurarem
sobre como estavam ansiosas para a partida desta noite contra os Lions
Steelers.
Reviro os olhos sem lhe dar atenção, se ele não fosse tão seletivo e
não procurasse sempre um padrão nas garotas que fode, já estaria se
divertindo assim como Nolan e teria me deixado em paz.
Sempre gostei da minha picape, mas ela nunca pôde ser considerada
discreta.
— Não vou?
— Sem querer ser o empata foda, mas já sendo, Alex está nos
chamando. — A voz de Kian soa atrás de mim e o idiota surge do além,
quebrando o nosso contato visual.
Kian, que também não usa nada além de uma bermuda, nega.
— É um jogo.
Sei que isso será um teste. E pelo modo que ela me encara, também
sabe disso.
— Vamos lá.
Uma das garotas perto de Aiden, enche dois copos de bebida direto
do barril e nos estende. Morgana aceita antes de mim e toma um grande
gole, sorrio para a atitude.
— Então está fora, sequer deveria ter entrado se não consegue lidar
com elas. — Sua fala é direta, nitidamente com duplo sentido.
Caralho.
— Katniss.
Alex seleciona outras duas pessoas, uma delas recusa e tem o direito
de cumprir a punição, sendo ela nadar pelada. A garota recusa novamente e
é expulsa do jogo.
Reviro os olhos, ao mesmo tempo que Alex. Em alguns aspectos
somos extremamente parecidos e não temos muita paciência para quem
começa algo sem ter pulso para ir até o final.
— Nolan e…. — Alex cantarola e antes mesmo que fale o nome, sei
quem será escolhido. — Morgana.
Rio.
Nem fodendo.
— Não. — Minha resposta é automática, meu tom sai mais irritado
do que deveria.
Mas Alex não sabe de porra nenhuma, tudo o que sinto por Morgana
é desejo. E se eu sou responsável por corrompê-la, farei isso sozinho e sem
dividi-la.
Não vou deixar Nolan lamber alguma parte do seu corpo, não
quando o filho da puta já chegou até a tocá-la semanas atrás.
Não quando seu corpo me pertence e sua pele macia é boa demais
para entrar em contato com a sujeira qualquer um deles.
— Eu cumpro.
Ela dá de ombros.
Quem diria que cheirar uma carreira de cocaína poderia ser tão
excitante.
Quem diria que uma única mulher poderia ser tão enlouquecedora.
Mordo seu peito, com força o suficiente para que ela chie e deslizo a
língua por cima do lugar com suavidade antes de me afastar.
— Eu que fico drogado e as suas pupilas que dilatam? — debocho
com um tom rouco, sentindo ainda mais possessividade ao encarar a marca
dos meus dentes na pele clara.
Não dou à mínima para o que isso pode parecer aos olhos dos
outros, ninguém sabe de nada.
Quanto uma pessoa pode mudar? Quão longe ela irá até se
arrepender?
Ultimamente, ela tem um brilho nas íris esverdeadas que tem me
deixado fascinado e o modo como ela tem aceitado certas coisas, me deixa
obcecado por saber seu limite. Tenho me pegado por vezes ansioso para vê-
la experimentar algo novo, só que agora, vendo o modo como ela segura o
cigarro perfeitamente posicionado entre seus dedos e sopra a fumaça como
se fosse adaptada a tal coisa, me pergunto o quanto isso vai custar para ela
no final de tudo.
Porém, nem essa dúvida é o bastante para me afastar dela agora, não
farei isso até que a maldita lista esteja finalizada e Morgana volte para sua
vida de boa garota obediente.
Ergo seu rosto, com meu polegar em seu queixo e faço com que ela
saia do chão. Sem que tenha tempo de reclamar, colo nossas bocas calando-
a da maneira mais eficaz.
Ela geme e a empurro até minha cama enquanto a beijo, para deixá-
la mais tranquila. Minhas mãos vão até sua cintura e a derrubo no colchão,
cobrindo meu corpo com o seu.
Deito na cama e inverto nossas posições, fazendo com que ela fique
por cima. Mais especificamente, sentada de costas para mim, em meu
abdômen.
Me apoio em meus cotovelos e ela vira seu rosto para me encarar.
Seu peito sobe e desce rapidamente e Morgana morde seus lábios.
— Vá em frente — falo.
Ela sorri, voltando sua atenção para baixo. Puxo sua cintura,
trazendo sua bunda para perto do meu rosto, ao mesmo tempo que inclino
suas costas para frente.
Puta merda.
Caralho.
Meu corpo começa a agir por impulso e meu quadril arremete para
cima contra sua boca, Morgana se esfrega em mim, me deixando com falta
de ar. O cheiro de sexo inunda tudo e sinto a fisgada em meu abdômen,
segundos antes dos meus músculos se contraírem. Dou uma última
investida contra ela, gozando em sua boca.
E é extremamente cansativo.
De acordo com ele: É por isso que as pessoas não evoluem. Afinal,
como o ser humano prefere pregar tragédias e alastrá-las, ao invés de
espalhar a fé e as palavras do senhor?
Meu pai começa a falar sobre o boato que surgiu de uma das noviças
e mastigo a comida saboreando cada garfada.
— Não.
Meu pescoço?
Sua mão vai até minha cabeça e ele segura um punhado dos meus
cabelos com força, inclinando meu rosto para o lado. Chio de dor quando
ele esfrega seus dedos na lateral do meu pescoço.
O toque é bruto e tem intenção de machucar.
Por que não me olhei no espelho? Por que fui tão descuidada?
O segundo tapa vem com tanta força, mas tanta força, que me
desequilibra da cadeira e caio no chão, acuada.
— Não ouse me olhar assim! Você tem noção de que perdeu seu
valor com essas perversidades da carne? Tem ciência de que é uma
prostituta que caiu em depravação? — grita, desabotoando o cinto da sua
calça.
Meu lábio treme e mordo a bochecha me preparando para sentir o
couro marcar minha pele.
Cansaço principalmente.
Ele levanta seu braço e me acerta de novo, dessa vez, pega em meu
quadril. Engatinho para trás e chio de dor ao acertar minha costela em outra
cadeira.
— Ninguém vai querê-la se você for uma prostituta que abre suas
pernas para qualquer um.
— Eu não fiz nada de errado! — Soluço, a convicção em minha voz
o faz vacilar.
— Como.
Cinturada em minha coxa.
— A.
Cinturada em meu abdômen.
— Marca.
— Surgiu?
Tão cansada.
— Ontem meu quarto estava com alguns mosquitos, devo ter sido
picada durante a madruga. — A mentira surge e só me dou conta da história
inventada depois de deixá-la escapar. — Não sei o que aconteceu, está
bem? Eu não sei.
São pesadas demais para alguém que não quer mais segurá-las.
Então eu imploro, imploro ao senhor que ele me mate caso não
acredite porque não consigo mais viver assim.
Obrigada, Deus.
Obrigada.
Levo minha mão aos locais onde mais doem com lágrimas
molhando meu rosto e escuto o barulho da cadeira se arrastar. Assim que
ouço a porta ser batida e meu pai sai de casa, minha mãe se aproxima.
Suas íris, da mesma cor das minhas, carregam uma pontada de culpa
ao me ver caída, segurando meu estômago.
— Eu sei.
— Então por que você nunca me ajuda? — acuso chorando, porque
isso é tão injusto e eu estou tão cansada.
Sou mesmo uma filha tão ruim, Deus?
Noventa por cento das vezes, tento não me ressentir. Não me apego
a sentimentos ruins, mas ultimamente, estou pouco me fodendo para toda
essa merda.
Ela não responde, assim como nunca faz nada. Tudo o que Olivia
faz estender sua mão para me ajudar a levantar, mas recuso a oferta e me
apoio na cadeira sozinha.
Meu corpo todo dói, mas passo direto por ela indo mancando até o
meu quarto e me trancando lá. Quer dizer, não tranco de fato. Não estou
disposta a duas punições em um único dia.
Por que não sou capaz de me acostumar com a dor como Trent?
Inspiro fundo.
Estou cansada, mas as suas palavras sobre eu não ter nada especial
voltam a minha mente em looping.
Ninguém a viu.
Morgana não foi para nenhuma aula, não está no estúdio ou no
refeitório. Para ser sincero, ela não está em nenhuma das salas desse prédio
principal e sei disso porque olhei em todas. Mas seu carro está no
estacionamento e é por isso que continuo a procurá-la.
Ontem fui à sua casa, depois de conseguir seu endereço com Elijah.
E, como um fodido perseguidor, fiquei com o carro parado na rua,
esperando que seus pais saíssem. Bati na porta e apertei a maldita
campainha, só que o silêncio foi tudo o que ganhei em resposta.
Ela assente.
Morgana não fala nada e não faz nada além de engolir em seco.
Apoio meu braço atrás dela, deixando-a presa entre meu corpo e a
estante. Seu peito sobe e desce em uma respiração pesada e seus olhos
fixam nos meus em uma batalha silenciosa.
Eles dizem um milhão de coisas e transpassam um milhão de
sentimentos, mas nada escapa de sua boca.
Ela não rebate, não diz que estou enganado ou que estou sendo
precipitado em minhas palavras.
Rio com zombaria e dou um passo para trás. Morgana parece voltar
a respirar quando faço isso.
— Não se preocupe, ninguém vai saber sobre como você gosta de
ser fodida na calada da noite ou sobre como foge para viver experiências
diferentes. — Camuflo a rejeição em meu tom com ironia. — Pode ficar
tranquila, você é uma ótima atriz, Morgana. Talvez devesse trocar o curso.
Espero alguma coisa, qualquer maldita reação, mas não vem. Não
até que Morgana feche os olhos e uma lágrima escorra em sua bochecha.
O que aconteceu?
Ouvi-la falar tão duramente algo que tenho conhecimento, mas que
jamais tiveram coragem de me dizer, faz com que eu esconda um sorriso
discreto. O que não anula a preocupação.
Já fiz a mesma coisa com meu pai, com os Víboras, com a Candice
e até comigo mesmo. Mas percebo que em nenhuma delas me importei
tanto quanto agora e que em nenhuma senti esse gosto ruim em minha boca,
desejando retirar as palavras ditas.
E de mim.
Olhei algumas vezes pelo retrovisor, me certificando de que a
maquiagem continuava intacta. Ela é à prova d'água, ao menos foi o que
minha mãe disse ao ver meu rosto machucado e perceber que eu precisaria
escondê-lo, então eu sabia que as lágrimas roladas em minha bochecha não
seriam um problema. Ainda assim, quis garantir que os pequenos
hematomas não estavam à mostra. Especialmente o da minha boca.
Meu lábio foi cortado em um dos tapas que meu pai me deu, a pele
ainda está sensível e por isso me esquivei do toque de Trent, pela dor
causada no movimento suave. Mas a rejeição em seu olhar foi o suficiente
para que eu me arrependesse.
Ou talvez fizesse mesmo assim. Você foi criada para ser isso,
Morgana.
Mas será que é tudo o que sou e estou destinada a ser? Não sei.
Ele ri.
O mar.
Nunca estive em uma praia antes, meu pai disse incontáveis vezes
que eu não deveria ir pelo tipo de vestimenta usada. Pedi em diversos
momentos para ir usando um vestido longo, somente para dar uma volta e
pisar na areia, mas ele sempre foi irredutível.
Ou duas.
Ele joga tudo dentro do carro e o trava, se virando para mim ao
terminar.
Arregalo os olhos.
Olho para Trent, que ainda não soltou minha mão e também tem
seus pés tocando a areia. Meu sorriso está tão largo que sinto minhas
bochechas doerem.
A praia não está tão cheia, ao menos não na parte em que estamos.
Talvez por ser uma quarta-feira à tarde, vemos apenas algumas pessoas
deitadas se bronzeando, enquanto outras passeiam com seus cachorros ou
caminham.
Seus olhos fixam nos meus, só que eles estão perdidos dentro de si e
Trent hiperventila levemente.
Ele pisca algumas vezes, seu olhar focando. Seu peito sobe e desce
pesadamente enquanto ele volta à realidade. Sua palidez segue presente,
embora ele coloque um sorriso em seus lábios.
— O que aconteceu? — indago preocupada, alheia a qualquer outra
coisa. — Você está com medo?
— Mas…
— Não.
— E se…
— Não — decreta por fim, interrompendo minha fala novamente.
E a determinação que exibe em seu rosto deixa claro que não existe
a menor possibilidade de que eu faça isso sem ele. O temor nas íris logo é
substituído por foco e Trent respira profundamente.
Água, água para todos os lados é tudo o que sinto com meus olhos
fechados.
Ele não me solta por um único segundo, seus olhos encaram o mar
como se ele fosse um inimigo e sua mão me aperta com força a cada vez
que uma onda se aproxima.
— Já podemos sair, se você quiser.
Puxo a blusa colada do meu corpo, para não correr o risco dos
machucados ficarem visíveis.
Os machucados.
Jamais poderia.
Ele bufa.
— E você nem é uma atriz tão boa assim — zomba e rio, porque ele
sequer faz ideia de que sou mesmo uma boa atriz e de que suas palavras
foram certeiras.
Finjo minha vida inteira.
Ele pede desculpa por ter sido um filho da puta e sorrio, ficando em
silêncio. Trent permite que eu tire a prata de seu dedo e o teste no meu.
Surpreendentemente, cabe em meu anelar e gosto da sensação gelada dele
em minha pele.
— Você acha que eu perdi meu valor por não ser mais virgem? —
sussurro, encarando o horizonte.
Ele se remexe atrás de mim.
— Não sei, só foi algo que passou pela minha cabeça. — Dou de
ombros, soltando uma risada para aliviar o clima tenso.
Ele fica alguns segundos em silêncio.
Não quero que ele olhe para mais ninguém desse jeito.
Eu gostaria de ter esse olhar somente para mim e por isso aproveito
ao máximo cada segundo, por não ter a menor ideia de quanto tempo
durará.
Inclino meu corpo para trás, resvalando meus lábios nos seus com
suavidade, tão suave quanto a brisa que nos rodeia. Trent mordisca meu
lábio inferior e seguro o gemido de dor, me escorando em seu peitoral.
— Sim, Ocean?
— Obrigada por hoje — agradeço.
Aiden ri.
— Porque quero ter alguém para pedir socorro caso você pese sua
mão e enfie milhares de micro agulhas na minha pele.
Desde que Morgana falou sobre querer uma tatuagem, tenho tido
aulas com Nolan para aprender. E nunca fui tão dedicado para merda
nenhuma, com exceção das lutas, como tenho sido ultimamente. Já treinei
cobrir decalque em pele artificial — que comprei somente para isso —, em
bonecos, em papéis e até mesmo testei o peso da minha mão, com a
máquina ligada em minha perna.
Tudo correu bem, a verdade é que levo jeito para isso. Nolan diz que
é devido à arquitetura, uma vez que já estou acostumado a fazer projetos
inteiros à mão. E talvez por ver meu esforço diário e minha notória
evolução, ele tenha sido o único a dizer sim.
Não, não era isso, e embora tenha sido oitenta por cento do motivo,
percebi que eu não estava disposto a compartilhar suas primeiras vezes com
ninguém. Eu não queria que ninguém, além de mim, a ajudasse cumprindo
os itens da sua lista.
E modéstia à parte, concordo com ele, ficou bom para caralho. Não
que eu tivesse dúvidas quanto a isso.
E sem que eu precise pedir para um deles ser cobaia outra vez, Alex
puxa a blusa para cima, ficando só com a calça e se senta na mesma cadeira
que Nolan estava.
Kian rebate dizendo que não quer ter uma infecção e Aiden fala que
a última que fez, sequer cicatrizou. Hunter não usa desculpa alguma, ele é o
menos tatuado de qualquer modo.
Contudo, quando não rebati — por estar cansado dessas merdas que
nunca levam a lugar nenhum — e fiquei calado, com nada além de fúria
gélida no olhar, ele pediu desculpas. E não brigamos desde então.
Quando a chamei para vir até aqui e falei que tinha uma surpresa,
ela aceitou sem nem perguntar o que era. E foi assustador, na verdade, ainda
é.
Ela abre a boca na mesma hora para responder, mas se impede antes
de externar o pensamento. Franzo o cenho e Morgana dá um meio sorriso,
começando a listar:
— Se queimar, se cortar, cair, sofrer um acidente, levar uma facada,
cair de paraquedas, apanhar, se afogar…
— Eu me rebelei?
— E agora encontrou?
— Por arruiná-la?
— Por ter me feito amar a sensação da queda.
Seguro sua bunda ao mesmo tempo em que ela enlaça seus braços
em meu pescoço e suas pernas em minha cintura. Beijos quentes e
molhados são distribuídos em meu rosto e sorrio.
— Obrigada. — Um beijo em minha bochecha. — Obrigada. — Um
beijo em meu queixo. — Obrigada. — Um beijo em minha boca.
— Irei cobrar.
— Conto com isso.
Que merda.
Ela me encara, carregando o sorriso mais bonito do mundo em seus
lábios e segura minha mão, me puxando de volta para o quarto.
Chloe: Medicina é uma merda, todos os meus neurônios estão fritos e tenho
certeza de que se eu precisar aprender o nome de mais palavras esquisitas
que esquecerei em cinco minutos, irei morrer.
Sorrio para o celular.
Eu: Sim.
Acho que só não fui punida, porque ele não deve ter encontrado
nada relevante. Tenho me comportado com excelência para que suas
suspeitas diminuam, apago todas as mensagens o tempo inteiro e tomo o
triplo de cuidado a cada passo dado.
Cerro os olhos para o celular, por “depois” ela quer dizer daqui há
uns cinco dias.
Chloe: Promete me atualizar?
Eu: Sempre.
Acho que tem funcionado, uma vez que ambos ficaram “satisfeitos”
com minhas notas.
Tudo voltará a ser como era? Meu tempo acaba? Trent vai embora
levando consigo tudo o que trouxe e deixando apenas lembranças de
fugazes experiências em que fui feliz?
Sempre que as malditas perguntas voltam à minha mente, vou para o
estúdio e danço. Danço até sentir meus pés doendo, meus pulmões ardendo
e minha mente cansada demais para ter algo além do vazio ruminando-a.
Candice é a única que não me olha com nada disso e sim com raiva,
como se eu tivesse roubado algo que lhe pertencia. É estranho e irritante,
vez ou outra.
Passo meu dedo por cima do papel que jamais cogitei ver tão
marcado.
Está tudo bem, Morgana. Não seja dramática, você sempre soube
que era temporário. Você não é assim, não é de festas ou de bebidas. Você
sequer gosta dele e desse mundo insano em que Trent vive.
Nolan me encara.
É engraçado.
Assistimos Kian levar uma rasteira e chio ao vê-lo cair, mas ao invés
de ficar fora de si, ele se levanta quase em um mortal e escapa de alguns
chutes. Seus movimentos são absurdamente rápidos e os seus reflexos ainda
mais.
Uma garota do lado oposto ao meu grita "Jay", que suponho ser o
nome do gigante de bermuda amarela, uma vez que ele se distrai e Kian
ganha espaço, invadindo sua guarda.
— Morgana Lewis.
— Trent Hill.
Ele espera uma resposta e fico na ponta dos pés, para sussurrar
contra sua boca.
Ele ri, segurando meu queixo para me dar um beijo rápido. Sua
língua invade minha boca, tomando tudo o que deseja, antes de se afastar.
Seus passos são firmes ao caminhar até o ringue, agora vazio. Trent
anda com tanta confiança que mesmo quem não o conhece, percebe que ele
tem o poder sobre algo.
Sei que a maioria das vezes em que Trent usa o anel em seu cordão,
é pelas suas lutas. Então, por que ele não fez o mesmo?
— Ele vai ficar bem, Trent já ganhou lutas piores — garante com
convicção.
Porra.
Braços se enlaçam em minha cintura e me puxam para trás, sinto o
suor do corpo de Trent em minhas costas.
Ele segue me chamando assim desde o dia da praia e ainda não criei
coragem para perguntar o motivo, tenho medo de que ele pare. E eu
verdadeiramente gosto de como soa, principalmente por sempre ser dito em
um tom carinhoso.
Ele beija minha testa com tanta suavidade que me assusta. Nunca
antes tive um toque tão amoroso destinado a mim.
— Que bom.
— É, foi uma luta interessante mesmo — A loira murmura,
passando seu braço na cintura dele ao saírem em direção ao tablado.
Trent suspira e me guia até uma porta perto das escadas. Antes de
entrar, ele acena para Kian e Nolan no mezanino, que nos observam com
preocupação.
E curiosidade.
Um idiota cheirando pó na pia do banheiro nos encara com pupilas
dilatadas. As pálpebras pesadas se erguem levemente ao ver Trent com suas
mãos vermelhas e ele sai, o mais rápido que consegue.
Contudo, quando a busquei uma hora atrás, notei o quanto ela estava
agitada. Não tenho certeza do motivo, talvez seja medo. Um novo boato
tem se espalhado sobre a filha do pastor estar participando de lutas ilegais.
Desde que Morgana subiu no ringue para me defender, a história tem
tomado um rumo que sequer esperei.
Ocean: De emergência.
Seus cabelos estão soltos, o cropped branco que está usando deixa
sua cintura fina à mostra e a saia preta é curta o suficiente para deixar suas
pernas expostas.
— Nenhum.
— Claro — debocho.
Arqueio a sobrancelha.
Se hoje não estivesse tão cheio e eu não tivesse tido que estacionar
duas ruas atrás porque não tinha mais vaga aqui, iria até minha picape
pegar.
A vontade que sinto é de pisar na sua fodida traqueia até que deixe
de respirar e fique largado como um verme no beco escuro. Mas ao invés de
realizar meu desejo, me coloco na frente de Morgana, cerrando os punhos.
Ele me encara, com uma das minhas mãos empurrando-a para trás
de mim e a outra pronta para socá-lo até perder a consciência. E mesmo
bêbado, o desgraçado consegue se levantar e sair correndo, tropeçando em
seus próprios pés.
Viro para Morgana garantindo que ela está bem e noto o canto
esquerdo da sua boca erguido em um sorriso.
— O quê?
— Sim.
—- Quer ir para casa? Falei que as indicações de Nolan não eram
confiáveis.
— Não.
Sua língua desliza sobre a minha de modo erótico, gemo contra sua
boca e a empurro contra as paredes pichadas.
Minha pele arde em cada lugar que seus dedos tocam, ela deixa sua
marca e uma onda de eletricidade por cada fodida célula minha.
Maldito beco.
Caralho.
Molhada demais.
Ela sorri, chupando meu polegar com a pressão exata de força e juro
que sinto o toque de sua língua enviar um comando direto ao meu pau, que
dói de tão duro.
Passo meus dedos melados por todo o meu pau, usando sua
excitação de lubrificante e esfrego a cabeça em seu clitóris uma ou duas
vezes, antes de pegar uma camisinha no bolso da minha calça e investir
contra ela de uma única vez.
Seguro sua cintura erguendo-a do chão sem sair de dentro dela. Seus
braços enlaçam meu pescoço e suas pernas minha cintura.
Invisto contra ela, empurrando cada vez mais fundo. Seu corpo se
choca contra a parede de tijolos a cada estocada.
Morgana empurra seu quadril contra mim, com meu pau já estando
todo cravado dentro dela. Deslizo a língua em seu pescoço, sentindo a
pulsação acelerada ao mesmo tempo em que suas pernas começam a tremer.
Ocean geme e como se desse conta de que está fazendo muito
barulho, morde meu ombro para se conter, causando uma pontada de dor
estranhamente prazerosa.
Alongo meu corpo como sempre faço antes de dormir. Hoje não irei
para lugar nenhum, não costumo correr o risco de ser descoberta em dois
dias seguidos, então sempre alterno as noites em que saio com Trent.
Abaixo meu corpo, a ponta dos meus dedos alcança meus pés com
facilidade, minhas costas estalam e sinto meus músculos relaxarem. Respiro
fundo, me sentando no chão gelado. O short do meu pijama cobre somente
metade das minhas coxas e deixa a pele exposta à frieza da madeira.
Inspiro. Expiro.
Expiro. Inspiro.
Estico meus braços para frente, permitindo que minha barriga
descoberta resvale no assoalho. Um arrepio me atinge, devido ao frio.
Inspiro. Expiro.
Expiro. Inspiro.
Tarde demais.
Tarde demais porque meu pai se aproxima falando para eu não
esquecer do retiro espiritual que acontecerá daqui a duas semanas.
Meu pai não fala nada, sua boca está entreaberta e sua expressão é
de pura incredulidade. Ele não acredita que eu, de fato, faria tal coisa.
Não respiro.
Tarde demais.
Não me mexo.
Tarde demais.
Anthony não diz uma única palavra ao se aproximar, com suas íris
infladas de raiva. Seus dedos são brutos ao apertarem meu braço para me
manter no lugar.
Ele aperta meu braço com violência, solto um chiado. Mas ainda
não reajo.
— Você marcou a pele divina, destruiu todo o seu valor com uma
inutilidade mundana.
Ele me esmurra.
Seus dedos estão fechados e a dor que sinto ao ser acertada é três
vezes maior do que a do tapa.
Tento me soltar do seu aperto e até chego a arranhar sua mão, mas
ele puxa meus cabelos me arrastando para fora do quarto.
Minha mãe não está mais na porta, pelo visto ela não está disposta a
assistir dessa vez.
— Não vou aceitar essa marca do demônio no corpo divino, não vou
aceitar criar uma prostituta — Ele não solta meus cabelos quando chegamos
a cozinha, o aperto é tão forte que meus olhos se enchem de lágrimas.
— É só uma tatuagem, não sou uma prostituta por isso. Não perdi
meu valor. — Soluço, lágrimas molham minhas bochechas.
Tão irritada.
Irritada com todas essas regras e hipocrisias.
Por que ter uma tatuagem me faria melhor ou pior do que alguém
aos olhos de Deus?
Por que o senhor permite que seus filhos sejam punidos quando não
merecem? Porque eu com certeza não mereço nada disso.
Ele abre a gaveta da cozinha, pegando uma das facas grandes dali.
Arregalo os olhos com puro pânico me dominando.
— Não é loucura, Morgana. Só não vou criar uma rameira que diz
adorar a Deus, mas que danifica seu corpo com uma marca permanente. —
Sinto um corte pegar de raspão em meu ombro, enquanto me debato.
Anthony Lewis, meu próprio pai, vai me matar com uma faca de
cozinha enquanto tenta me “purificar”.
— Eu não quero ser digna se esse for o preço! — Minha voz sai
alta, nunca rebati meu pai assim e o ódio que adorna sua feição é
assustador.
Meu ombro arde, meus olhos também.
— Eu não quero que você me toque — rastejo para trás e ele vem
para cima de mim rapidamente.
— Enquanto você estiver vivendo em minha casa e estiver sobre o
meu teto, obedecerá às minhas regras. E eu ordeno que essa coisa do
demônio seja retirada do seu corpo! — ladra, com a faca próxima de mim
outra vez.
Por favor, Deus. Acho que dessa vez não quero morrer.
Sei que estou cansada e já pedi por isso antes, mas não quero
morrer.
Passo pela porta que está destrancada e saio correndo. Ele não ousa
vir atrás de mim, ele jamais faria isso porque o que acontece dentro de casa,
jamais pode ser visível para os que estão fora.
Poderia ser qualquer pessoa entrando pela porta da nossa casa, mas
eu sabia quem era pelo modo que meus olhos foram instantaneamente
atraídos para ela.
Morgana se aproxima e não parece enxergar ninguém à sua frente,
como se tudo o que importasse fosse chegar até mim. Seus passos são
firmes e decididos, embora ela esteja mancando.
O que aconteceu?
Seu corpo treme e a afasto levemente para encará-la. Sua boca está
machucada, a bochecha cortada e lágrimas silenciosas mancham o rosto
perfeito.
Meu Deus.
Por um segundo, minha respiração para.
— Quem fez isso com você, Ocean? — Minha própria voz sai fraca
e sinto vontade de chorar com seu estado.
Abro o chuveiro com uma única mão, sem querer deixá-la longe do
meu aperto. A água quente cai sobre nós dois, seu corpo se arrepia e fico
firmemente abraçado com ela, enquanto a água nos molha.
Claro que eu sempre soube que por ser filha de quem é, Morgana
fosse restrita a muitas coisas e por isso ela tem esse brilho no olhar que
beira a imprudência em busca da liberdade.
— Foi ele, não foi? Seu pai quem marcou você esta noite, Ocean —
afirmo.
Seu corpo fica tenso e é toda a resposta que preciso. Mas ainda
assim, ela é corajosa o suficiente para me dar uma resposta verbal.
— Sim — confessa contra minha pele molhada.
Filho da puta.
Desgraçado.
Covarde.
Filho da puta.
Filho da puta.
Filho da puta.
Caralho.
Ela sorri e não sei dizer se o que escorre em sua bochecha é apenas
água ou lágrimas que se misturaram.
Acaricio seu rosto, reparando só agora na marca dos dedos ali. Está
bem clara e não é nada que vá ficar por horas, mas é o suficiente para me
fazer tremer de raiva.
Saio do box com ela em meu colo e puxo a toalha que deixo de
reserva no banheiro. Tenho costume de esquecê-las na hora que vou tomar
banho, principalmente depois que volto do treino com Kian e nesse
momento agradeço por isso.
Morgana desce do meu colo assim que cubro suas costas. Ela se
seca um pouco com a toalha e faz o mesmo comigo, passando o tecido em
meu rosto suavemente.
Escolho uma das minhas cuecas, uma das blusas que comprei para
ela e pego uma calça moletom, levando até o banheiro.
— Não tenho calcinhas suas aqui e suponho que seja ruim dormir
com uma daquelas saias, shorts ou vestidos que compramos. — Dou de
ombros, parando na sua frente. — Acho que a calça vai ficar grande e se
quiser, posso pegar uma das minhas blusas também. Mas talvez você queira
usar algo seu agora e…
E fodidamente minha.
Passo o algodão umedecido com álcool no seu rosto. Ela chia, mas
não reclama. Vejo um pequeno corte no ombro também e faço a mesma
assepsia no lugar.
— Quer falar sobre o que aconteceu? — Meus olhos se prendem aos
seus.
Ainda é.
— Sim?
Rio.
— Trent?
— Sim?
— Você pode deitar comigo até eu dormir? Não quero ficar sozinha
— pede.
De modo automático, meus pés me guiam até a cama e rapidamente
me deito nela, ficando debaixo das cobertas ao seu lado. Morgana deita a
cabeça em meu peito, abraçando minha cintura.
— Jamais deixaria você sozinha, Ocean. — Beijo o topo da sua
cabeça. — Jamais — prometo.
E sei que essa é uma das promessas que manterei, custe o que custar.
Permaneci na mesma posição com Morgana, até que ela parou de
brincar com o anel em meu cordão e dormiu. Ainda esperei sua respiração
ficar pesada e o ressonar alto, para me permitir levantar e sair do quarto.
— O pai dela.
— Quero matá-lo.
— Por quê?
Aiden ri.
— O quê?
— Por que está falando isso agora? Que diferença faz quando
aconteceu?
— Por quê?
Ele cai e se rende, antes que eu possa subir em seu rosto e acertá-lo.
Kian assiste a tudo com um sorriso irônico, ele ainda não se aproxima.
Nolan leva a luta mais como um jogo, pula, desce e sobe. Direita e
esquerda. A zombaria em seu tom durante cada movimento é o que me
deixa mais intrigado.
Ele tenta me chutar e rio, indo para o lado oposto. Aiden também
tem força, agilidade, raiva e um pouco de técnica. Mas tenho foco e tenho a
adrenalina de ter visto Morgana ferida a meu favor.
Deixo que ele acerte minha lateral e que machuque meu ombro de
raspão, mas o modo que Kian assiste a tudo com deboche, me faz ficar
ansioso para chegar logo a sua vez. Então encerro a luta com Aiden da
mesma forma que fiz com todos os outros.
Seu braço tenta atingir meu rosto e bloqueio o golpe com a mão
direita. Kian não vacila, o soco em cima é meramente distração para acertar
a joelhada em meu quadril.
Vou para cima dele com raiva e Kian se esquiva de uma sequência
de socos, onde consigo acertar três. Ele tenta chutar minha lateral esquerda
dessa vez e seguro sua perna no ar. Atento a cada fodido movimento.
— Por que caralhos você fez isso? — Kian rosna quando levanto e
ele vê minha mão levemente ensanguentada. — Eu teria aguentado a porra
de um soco seu.
— Sei que sim, afinal, você levou vários — debocho, estendendo
meu braço para ajudá-lo e ele nega.
O gesto é suave, então não sinto dor alguma. Se for para ser sincera,
as partes que mais doem do meu corpo inteiro são as pernas, pela corrida
intensa, e o meu rosto, no lugar onde levei o murro. Talvez esse último por
eu jamais ter sido atingida com tanta força.
Agora os cortes, por incrível que pareça, não doem tanto. A menos
que eu toque muito ou me mova de modo brusco.
Ele ri, com a mão em minha cintura. Seu indicador passeia por cima
da minha cicatriz e me remexo sentada em seu colo. Ainda não saímos do
seu quarto desde que acordamos e seguimos na mesma posição.
Suspiro.
Eu sequer sei o que falar. Meu pai não aceitou uma decisão minha e
quis me punir por isso com toda loucura existente em seu ser. Mas até
então, a única diferença das outras vezes é que ele foi longe demais.
Em uma das vezes que ficamos juntos, ele falou sobre seu pai e foi
quando descobri que sua mãe havia falecido. Não perguntei o motivo e
Trent não entrou em detalhes, assim como não tocou mais no assunto.
Até agora.
— Você não…
— Eu sei, e foi a primeira vez que fui desde os dez anos. Foi a
primeira vez que ousei pisar na areia, depois de Alice ter morrido. — Seu
sorriso é sem graça. — Assim como foi a primeira vez que chamei você de
Ocean.
— Por quê?
— Os dois.
Chloe: Mas prometo que irei para a casa da Nana essa semana e verei você.
Não falo para ela que não estou em casa. Assim como não conto
sobre o que aconteceu ontem à noite, sei que isso a deixaria preocupada e a
prejudicaria na faculdade.
Repito o que disse anteriormente, sem falar o quanto queria que ela
estivesse aqui. Trent saiu com Aiden há quase uma hora e fiquei com sede,
por isso troquei de roupa e desci.
Mentirosa.
Analiso seu conjunto perfeito com uma saia preta e uma blusa de
manga da mesma cor. O tecido grita dinheiro e o seu estilo, elegância.
Ela é tão bonita que parece uma boneca.
— Estou bem e…
Alex?
A garota fecha os olhos, apertando a ponte do nariz e ele sai, sem ter
a menor ideia de que eu estava aqui.
Mas então tudo faz sentido, o dia em que Vivian falou sobre eles me
volta à mente com clareza.
Lexie, Alex.
Meu Deus.
E durante todo esse tempo que pensei não tê-lo conhecido, estava
trocando farpas com a garota que lidera tudo.
Ela ri.
— Isso arde.
Perguntei se Morgana não queria dar uma volta, mas ela insistiu em
ficar e aproveitar. E é o que tem feito desde então. Ocean deu uma tragada
em um cigarro de maconha, fumou dois de tabaco e agora decidiu provar a
cocaína. Seu sorriso é fácil e ela está mais agitada do que uma hora atrás. É
como se Morgana estivesse disposta a se desprender de tudo e apenas curtir.
Ela se vira, seus braços sobem até meu pescoço e sem que eu espere,
ela começa a dançar, deslizando seu corpo no meu. Ninguém sequer nos dá
atenção.
Levo minhas mãos à sua cintura e ela fricciona sua bunda em meu
pau, movimentando seu corpo com a batida da música. Vejo a barra do seu
vestido subir levemente e a puxo para ainda mais perto de mim com
possessividade, praticamente juntando nossos corpos em um só.
Sinto meu corpo suar e os fios dos meus cabelos ficarem úmidos.
Uma música se mistura com a outra, não nos afastamos. Em dado momento,
Morgana se vira e fica na ponta dos pés, colando seus lábios aos meus em
um beijo faminto. Sua boca tem um leve gosto de chocolate, o que só me
faz ficar com ainda mais vontade de devorá-la.
Ela pressiona firme contra minha ereção, meu pau dói. Sua língua
brinca com a minha em uma combinação perfeita de firmeza e sedução.
Grunho, segurando sua cintura com força quando a pequena ardilosa aperta
seus dedos por cima da minha calça e sorri no meio do beijo.
Seus dedos estão em minha nuca quando sinto seu corpo ser
empurrado e ela se afasta de mim abruptamente. Procuro entender o que
aconteceu e Morgana começa a rir, com seu braço melado de bebida.
— Não estou.
— Como você sabia que aqui também tinha banheiro? — Aliso suas
costas expostas, meu dedo deslizando lentamente na pele descoberta.
Olho em seus olhos enquanto desço minha mão até onde deveria
estar o tecido da calcinha. Minhas íris são questionadoras ao tocar
diretamente sua boceta quente.
— Não.
Agarro seus quadris e guio meu pau até sua entrada, esfregando a
ponta antes de pressionar e penetrar fundo. Ela grita, impulsionando o corpo
para frente com a invasão, mas está tão molhada que entro sem resistência
alguma.
Sinto sua barriga tensa e rio. O espaço entre nós se preenche com
sons abafados de desejo e súplica.
— Trent?
— Hum?
Engulo em seco e não preciso olhar seu rosto para saber que as
bochechas estão vermelhas.
Porra.
— Aqui onde? Você quer ser fodida por trás, Ocean? — murmuro.
— Uhum.
— Tenho.
Não consigo nem mesmo respirar tão forte é o seu aperto ao meu
redor.
Caralho.
Levo minha mão para frente e começo a deslizar meu dedo em sua
boceta, pressionando o polegar em seu clitóris para estimulá-la e fazer com
que ela relaxe um pouco.
— Pode mexer — sussurra em um tom sofrido e empurro mais um
pouco, colocando metade do meu pau em seu cu.
Seguro uma risada com o uso do “meio que gostei” e deslizo por sua
extensão antes de voltar a penetrá-la. Morgana está gemendo com minhas
estocadas, quando escutamos a porta do quarto ser aberta.
Viro a cabeça bem no momento que Nolan entra aos beijos com uma
garota morena. Eles não olham em direção ao banheiro e se fizessem,
veriam minha bunda branca e Morgana sobre a pia, com sua perna
levantada enquanto a fodo.
Saio de dentro de Morgana com meu pau duro para caralho e ela
fica em pé, ou tenta, porque precisa se apoiar em mim, uma vez que suas
pernas estão fracas demais para se manterem firmes sozinhas.
Seus olhos nublados deixam claro que ele está pouco se fodendo
para quem está do meu lado, todo o seu objetivo é gozar. Sempre é seu
único objetivo.
Ela fica na ponta dos pés e beija minha boca com fogo puro
irradiando de si. Seu corpo me empurra de volta para dentro do banheiro e
Morgana me faz sentar na tampa do vaso sanitário.
Morgana não responde, ela passa suas pernas por cima de mim e
encaixa a cabeça do meu pau na sua entrada.
Ela ri, subindo e descendo no meu pau. Seus peitos balançam a cada
cavalgada, o meu cordão contra sua pele. Seguro seu quadril, fazendo-a
montar em mim como se eu fosse a porra de um cavalo.
Morgana começa a gemer, nossas respirações descompassadas. Suas
pálpebras estão tão pesadas que ela quase não as mantém abertas, os fios
ruivos caem em seu rosto molhados de suor e a expressão de prazer em seu
rosto é uma das coisas mais bonitas que já vi na vida.
Por favor.
Teoricamente, ficar com Trent seria errado por ele ter atacado meu
pai? Mas ele não o teria atacado se meu pai nunca tivesse tocado em mim,
então Trent fez o certo em me defender?
— Por que você não me contou ontem? — Sinto minha voz falhar,
um nó gigantesco se forma em minha garganta.
Rio.
Ele trava o maxilar, seus olhos brilham e ele pisca várias vezes.
Ouço a porta ser aberta atrás de mim e sei que temos uma plateia
neste exato momento, mas não olho para ninguém que não seja Trent. Ele
acompanha minimamente cada movimento meu enquanto tiro o cordão de
meu pescoço e me aproximo.
Parece uma despedida e quando saio, sem olhar para trás, só consigo
pensar que no final fui a Morgana covarde. Porque do contrário, teria
assumido que sou completamente apaixonada por ele e só estou um pouco
confusa.
Entendo Lauren ter sido chamada, ela vai cuidar para que nenhuma
possível prova do invasor seja encontrada, agora não entendi o motivo pelo
qual meu pai precisaria estar aqui.
Encaro a loira sem ter tanta certeza disso, mas torcendo para que ela
esteja certa. Morgana precisa voltar.
Minha mente grita que eu deveria ir atrás dela, mas respiro fundo e
me obrigo a permanecer parado no lugar. Posso ser um filho da puta,
contudo, Ocean deve ser aquela a decidir o que fará.
Já baguncei sua vida o suficiente para forçá-la a ficar. Tudo isso que
aconteceu entre nós sequer deveria ter começado.
Alex faz um gesto para que os outros Víboras se juntem a nós e meu
pai nos observa perdido. Seu terno azul marinho e postura altiva parecem
deslocados em nossa sala.
A loira retoma sua fala, que foi interrompida quando Hunter abriu a
porta para fazer uma ligação e vi Morgana parada nos encarando.
— Como eu estava falando, as pessoas são desocupadas e gostam de
espalhar qualquer boato. Alguns tweets envolvendo o nome dos Lewis estão
rodando e outros já começaram a citar Trent, por ele ter sido visto com
Morgana diversas vezes. É questão de tempo até nossa fraternidade ser
mencionada e envolvida. — Ela faz uma pausa, respirando fundo.
Alex já falou o suficiente sobre eu ter feito merda e sei que ela não
está verdadeiramente irritada comigo, mas sim com a situação. Prometemos
evitar escândalos e posso ter nos envolvido em um dos grandes.
Bom, pelo menos ele ficou vivo, poderia ter sido pior.
— Entro?
Meu pai cerra os olhos e por quase um minuto não fala nada, mas
então acena em concordância.
Surpreendente.
Talvez as pessoas mudem no final das contas, porque eu sei que não
sou o mesmo desde que a conheci.
— Precisarei de alguns dados dele e tenho que ter noção do tipo de
droga que foi implantada, mas posso dar um jeito.
Alex sorri.
— Que segredo?
Todos esboçam algo, exceto Hunter. Todos esperam que Alex fale
que está brincando, mas não acontece. E é então que me dou conta de que
ela está falando sério.
Morgana sabe?
— Não acho que você seja ruim por isso, Morg — Chloe fala,
alisando os fios do meu cabelo.
Olho para o teto da casa, cheguei há três horas e Nana, sua avó,
abriu a porta com um sorriso amigável. Gosto da mulher e me arrependo de
não ter vindo visitá-la antes. Peguei um Uber depois que saí da casa da
fraternidade e demorei cerca de vinte minutos para chegar, nem é tão longe.
Eu poderia ter vindo outras vezes.
A mulher de cabelos grisalhos não tinha lido nada relacionado a
fofoca e apenas me recebeu com uma xícara de café e com seus cookies de
chocolate. Nana ficou conversando comigo por quase uma hora,
reclamando do seu marido preguiçoso e das suas plantas.
Chloe me fez rir com piadas sem graça e me distraiu, fazendo com
que eu relaxasse por completo, antes de tocar no assunto que a trouxe até
aqui tão rápido.
Ela ri.
— Mas…
— O quê?
Claro que gosto dele, mas compensa? Compensa amá-lo com toda a
insanidade, drogas, violência, instabilidade e lutas? Compensa escolhê-lo
mesmo correndo o risco de ser apenas algo passageiro que vai acabar
daqui alguns meses?
Ela sorri.
Lembro da primeira vez que o vi, do modo como ele realizou cada
item da minha lista, do desafio à sua fraternidade ao se envolver comigo, da
sua expressão concentrada me tatuando, da rejeição em suas íris na
biblioteca, do seu medo no mar e da sua confiança ao me falar de sua mãe.
Engulo em seco.
— Tenho?
— Com Chloe.
Aceno, lembrando da garota ter sido citada umas duas ou três vezes,
mas achei que ela não estivesse na cidade.
— E você está bem? — Encaro sua bochecha, a marca do corte
ainda está ali. Contudo, o roxo do soco sumiu.
— Sim.
Não me orgulho das bitucas jogadas no chão, ela não fala nada.
— Eu sei.
— Eu sei.
— Ele provavelmente será preso e a culpa terá sido minha.
E se eu soubesse que ela estava aqui, teria largado tudo para vir vê-
la.
— Alex pediu para que agíssemos normalmente, de acordo com ela,
se não fizemos nada errado, não tem por que nos escondermos. Então
fomos para a faculdade e tivemos a mesma rotina de todos os dias — falo,
brincando com o anel em meu polegar. — Mas se eu soubesse que você
viria, sequer teria ido.
— Mas…?
— Mas antes que fale qualquer coisa, quero dizer que amo você.
Amo de verdade, independente se suas próximas palavras serão para me
expulsar daqui ou dizer que sente o mesmo. — A sinceridade em cada
sílaba é tão grande que me deixa com falta de ar. — Você despertou uma
chama de vida em mim que nunca havia existido e jamais terei como
recompensar todas as experiências que me fez vivenciar.
Ela espera uma reação e puxo sua cintura, colando seus lábios aos
meus. Morgana arfa de surpresa e prazer.
Nos afasto, seu hálito quente bate em meu rosto e encaro os olhos
suaves.
— Sim?
Ela sorri.
Ela geme quando aperto sua cintura. A mistura de sentidos que ela
estimula em mim poderia me levar à loucura.
Não sei por quanto tempo nossas bocas ficam coladas uma na outra
e sequer sei como venho parar por cima dela na cama, mas de algum modo
acontece. Só que ao invés de fodê-la como gostaria, me afasto pela segunda
vez para recuperar o fôlego.
— Sempre.
Mas logo mudo de ideia porque sou um fodido egoísta. Porque sei
que jamais seria esse tipo de homem e não suporto a ideia de que Morgana
não foi criada para ser minha.
Ele não está comigo neste exato momento, ninguém além de Alex e
Elijah está. Estamos em alguma espécie de reunião em família.
Família.
— Eu não sabia que ela era casada, fiz uma viagem para a cidade
vizinha na intenção de entregar uma encomenda a um cliente e a vi no bar.
Minha ex-mulher estava grávida de Alex na época, mas nosso casamento
não estava indo exatamente bem e ela parecia muito mais interessada em se
livrar do bebê para poder voltar a gastar, do que qualquer outra coisa.
A loira revira os olhos ao ter sua mãe citada, Elijah sorri balançando
a cabeça. Os dois nitidamente possuem uma boa relação.
— Isso, foi quando ela me disse que tinha se mudado e que queria
sua filha estudando na Kingly, mas que o valor era muito alto. Fiquei
surpreso em saber que ela era mãe e mais ainda em perceber que ela se
lembrava de mim. Achei estranha a data de nascimento na sua ficha,
coincidia com o período em que dormimos juntos, porém imaginei que
estava sendo paranoico e desconsiderei. Dei um desconto de quase setenta
por cento na mensalidade e sequer sei como ela explicou a Anthony Lewis
o valor tão insignificante para uma universidade do nosso porte, mas de
algum modo ela o fez.
— Sim, eu não conhecia você. Mas sabia que era filha de Olivia
Lewis e na minha cabeça, proteger você amenizava o fato de que dormi
com a mulher de um pastor. Não que eu tenha muita moral ou dignidade, só
que não custava nada garantir que você ficaria bem.
Aceno.
Mas eu não merecia pagar por um erro seu e no fundo, sei que me
ressinto por seu silêncio infindável e falta de apoio. Mesmo que durante
todo esse tempo, eu tenha tentado me convencer do contrário.
— Achei que sua família era estável, e ainda não havia decidido se
estava disposto a criar um escândalo para desestruturar seu lar. Para ser
sincero, eu ainda estava me acostumando com o fato de que tinha outra
filha quando Alex me ligou falando do seu estado. Tomei a decisão assim
que soube, mas então tudo com Trent aconteceu e você foi embora.
Quanta ironia, o pastor que acreditei ser meu pai a vida inteira me
machucou e o reitor que eu sequer conhecia, que na verdade é meu pai,
ficou preocupado.
— Mas não é só isso, né? Trent falou sobre o anúncio público para
esse se tornar o foco, um novo escândalo no lugar de Anthony Lewis
internado.
— Em poucos dias você passou por coisas demais, seu corpo ainda
tem marcas da última agressão e decidi que não irei a expor desse modo, a
menos que queira.
O homem maneja o copo de whisky entre seus dedos, ele não bebeu
um único gole desde que entrei.
— Não sei como seguirá sendo sua relação com Olivia quando
Anthony for preso. Mas contando que seja nula, você precisará de dinheiro
para se manter. Não sei se pretende ficar aqui com Trent ou se irá alugar um
apartamento para você. Apenas saiba que o dinheiro não é um problema e
que, obviamente, sua permanência na faculdade é gratuita.
Verdadeiramente reconfortante.
— Sim.
Tive certeza desde que Trent me falou, apenas estava descobrindo se
havia mesmo o poder de escolha.
No final das contas, sequer sou uma Lewis e não cairei em desgraça
com nenhum dos dois.
Passo por Vivian e a garota me encara como se não me conhecesse,
seus olhos focam nos meus, mas rapidamente desviam. Muitas pessoas
estão fazendo isso desde o anúncio da semana passada.
Ela tem uma grande mesa branca, mas não tem cadeiras. Ao invés
disso, dois sofás em L estão posicionados no cômodo com uma adega do
lado direito. As paredes são cinzas e a estrutura parecida com as das salas
normais.
— É o nosso lugar.
Ele ri.
— Não.
Dou de ombros e agarro a pequena chave com um sorriso no rosto.
Trent sopra uma risada, me olhando.
Ele se estica, deixando o seu rosto quase colado ao meu para abrir a
gaveta da mesa. Fico o encarando fixamente, mesmo quando Trent se
afasta, trazendo um maço de cigarros.
— Quero.
Trent me fez sorrir quando eu não queria, me fez realizar sonhos que
não passavam de rabiscos em um papel gasto, colocou fogo na minha
monotonia e me fez amar a sensação de ser queimada.
Ele me fez amar tudo o que experimentei e tudo que a vida poderia
ser. Mas acima disso, Trent me fez amá-lo.
— Trent Hill?
— Trent?
— Sim?
Rio.
Alex ri ao seu lado, alternando o seu olhar entre o celular e nós três.
— Vai se foder — Trent rosna em sua direção, colocando o decalque
em meu braço, depois de higienizá-lo, para poder tatuar a pele ali.
Decidi essa semana que também faria uma víbora, afinal, sou
oficialmente uma deles. Tenho assistido todas as corridas, auxiliado Trent
nas lutas — o que não tem sido exatamente bom, porque nas horas vagas
ele me leva para treinar junto — e tenho participado das festas. Cheguei até
mesmo a vender dois sacos de cocaína e me senti uma verdadeira fora da
lei.
Foi eletrizante!
— Se sua cobra ficar torta, não diga que não avisei. — Nolan
provoca, piscando para mim.
— A sua mini cobra que será arrancada se você não calar a porra da
sua boca — Trent ralha.
Sorrio, Trent fica nervoso sempre que vai me tatuar e sei disso
porque notei a mesma tensão na primeira vez.
O celular de Trent vibra em meu colo e olho para baixo, vendo que é
uma mensagem de Owen. Ele e seu pai estão evoluindo na relação, eu acho.
— Vá em frente.
— E quem a ocupou?
— Aiden não pode saber disso, está bem? Não agora, Aiden não
pode saber. — Alex frisa para todos nós e não entendo o que está
acontecendo.
Não entendo qual é o problema.
— Mas…?
Trent começa a falar sobre como serei a Víbora mais bonita e a mais
incrível. E como minha tatuagem será a mais fodona somente por ser feita
por ele.
Come quando está ansiosa e fala demais quando está nervosa. Adora
surtos e inclusive aguarda eles ❤ .
Onde encontrá-la:
Instagram:@ninaqueirozautora
Gmail: autora.nina.queiroz@gmail.com
[1]
O transtorno explosivo intermitente, conhecido como TEI, gera comportamentos agressivos
recorrentes. Popularmente chamado de “síndrome de Hulk”, onde a pessoa tem uma fúria
descontrolada
[2]
Eu quero que você fique, mesmo que você não me queira
Garota, por que você não pode esperar? (Por que você não pode esperar, amor?)
[3]
O Gato de Cheshire, Gato Risonho, Gato Listrado ou Gato Que Ri é um gato fictício famoso
através do livro Alice no País das Maravilhas de Lewis Carroll.
[4]
Leptotyphlops carlae é uma espécie de serpente da família Leptotyphlopidae. É considerada a
menor espécie de serpente do mundo, medindo cerca de 10 centímetros de comprimento.