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Tomografia Principios+fundamentais
Tomografia Principios+fundamentais
“Tomos” é uma palavra grega que significa “corte” ou “seção”. As primeiras imagens
deste tipo foram obtidas por meio da superposição de várias aquisições mantendo-
se um objeto de interesse em foco e todos os outros apareciam desfocados (Figura
1). Esta técnica ficou conhecida por: estratigrafia, planigrafia, planeografia,
laminografia ou ainda tomografia convencional1.
1
Física Médica do Instituto de Física da Universidade de São Paulo. Doutora em Tecnologia Nuclear -
Aplicações (Instituto de Pesquisas Energéticas e Nucleares - SP), Especialista em Radiologia Diagnóstica
(Associação Brasileira de Física Médica)
1
Figura 1 Representação do princípio de funcionamento de um planígrafo. (a) Raios X e filme
produzem as imagens A1 e B1 dos objetos A e B, (b) raios X e filmes se movem
simultaneamente, de forme que a imagem A2 se sobrepõe a imagem de A1, o mesmo
não acontece com B2, assim gera-se uma imagem desfocada de B
2
⇒ Radioisótopo: é um material radioativo que possui um núcleo instável que
emite energia transformando-se em um átomo mais estável. É aplicado na
medicina tanto para tratamento em radioterapia quanto no diagnóstico em exames
de medicina nuclear.Error! Bookmark not defined.
131
Figura 2 Experimento de Oldendorf utilizando uma fonte de I colimado e um detector
composto por um material cintilador acoplado a uma fotomultiplicadora
3
Godfrey Newbold Hounsfield1: nasceu no ano de 1919 (Nottinghmshire,
Inglaterra) e estudou engenharia eletrônica e mecânica. Ele fazia parte do
grupo de desenvolvimento da empresa EMI, a mesma que produzia os
discos dos “The Beatles”. Nos experimentos laboratoriais, Hounsfiled
utilizou um conjunto fonte-detector composto por uma fonte de raios gama
que executava um movimento de varredura através de uma plataforma,
onde era posicionado o objeto de interesse. Esta plataforma girava em
intervalos de um grau e cada corte registrava 28 mil medições
armazenadas em uma fita de papel. Todo o processo de aquisição e
processamento das imagens da peça anatômica sob estudo levava nove
dias. Posteriormente, ele conseguiu otimizar este tempo para 9 horas,
substituindo a fonte gama por uma tubo de raios X.
O primeiro protótipo de equipamento aplicado clinicamente foi
apresentado em 1971, era dedicado a exames do crânio e o tempo total
de aquisição e geração das imagens era de 20 minutos. Com os avanços
dos microcomputadores este tempo foi reduzido para 5 minutos. O
primeiro estudo clínico foi realizado no Atkinson-Morley Hospital em uma
paciente com suspeita de lesão cerebral e a imagem obtida pelo exame
mostrava um grande cisto circular de aparência escura6.
4
Figura 3 Histórico das descobertas que precederam a tomografia
5
1.1 GERAÇÕES DOS EQUIPAMENTOS DE TOMOGRAFIA
6
A. PRIMEIRA GERAÇÃO
7
B. SEGUNDA GERAÇÃO
Detector: 30 unidades
8
C. TERCEIRA GERAÇÃO
Equipamentos desta geração (Figura 6) realizavam uma coleta completa dos perfis
das projeções em rotação de 360o do conjunto fonte-detector. A geometria do feixe
ainda possui formato de leque e atingia o conjunto de detectores posicionados em
arcos de 30º a 40º1,5,6. As limitações de aquisição estavam no sistema gerador, pois
o tubo de raios X era alimentado por cabos de alta tensão, que ficavam torcidos ao
final de cada giro do gantry, era necessário então rotacionar no sentido contrário
para “desenrolar” os cabos e assim possibilitar uma nova aquisição. Assim,
sequências axiais, com incremento da mesa eram realizadas em diversos exames.
9
Figura 6 Equipamento de tomografia de 3ª geração
D. QUARTA GERAÇÃO
10
uma grande quantidade de fótons de raios X (isto devido à geometria do feixe e à
maneira como os fótons chegavam ao detector), o que minimizou os artefatos de
descontinuidade. Era possível também, calibrar e normalizar (equalizar) o sinal em
cada detector, isto evitou artefatos do tipo anel, nesta geração de equipamentos.
Porém, como cada detector era atingido por fótons provenientes de feixes muito
largos, isto produzia muita radiação espalhada. Outra desvantagem estava
associada ao custo de um equipamento deste tipo, pois eram necessários cerca de
4000 elementos detectores distribuídos em uma grande circunferência ao redor do
paciente. Tal número era devido a uma abertura de suficiente do gantry para caber
um paciente e também para manter o tubo de raios X a uma distância aceitável até o
paciente.
11
E. QUINTA GERAÇÃO – EBCT
Os tomógrafos desta geração foram construídos entre 1980 e 1984 com a finalidade
de aplicação em exames cardíacos. Os tomógrafos por feixe de elétrons (do inglês:
electron beam computer tomography – EBCT) eram capazes de obter imagens do
coração praticamente sem movimento, pois conseguiam adquirir imagens em 50
milissegundos minimizando assim artefatos de movimento, inerentes às imagens
cardíacas. Nestes equipamentos, a rotação da fonte era obtida por meio de campos
magnéticos, atingindo anéis de tungstênio, gerando radiação X. Os fótons de raios X
atravessavam o paciente e eram capturados por detectores que estavam
posicionados em oposição aos anéis de tungstênio. Neste sistema, tanto a fonte
(anéis-alvo) quanto os detectores eram estacionários (Figura 8).
12
F. HELICOIDAL
13
Figura 9 Equipamento de tomografia helicoidal
MULTIDETECTORES (MULTISLICE)
14
Figura 10 Equipamento de tomografia de múltiplos detectores (multislice)
Na tomografia de uma única fileira detectora (single slice), a espessura de corte era
determinada pela abertura do colimador, o que era bom para aumentar a quantidade
de fótons de raios X que atingia o paciente (Figura 11a)1,3,5,6. Porém, a resolução
espacial piorava, pois a quantidade de radiação espalhada aumentava no paciente
e, consequentemente, esta atingia os detectores elevando o ruído, o que
comprometia a visualização de estruturas importantes em um exame. Nos
equipamentos de múltiplos detectores, a colimação (n x d) passou a ser determinada
pela combinação, entre o tamanho do elemento detector (d) associado à quantidade
de fileiras de detectores selecionadas (n); a espessura de corte pode ser escolhida
entre as possibilidades de cada colimação (Figura 11b).
15
(a) (b)
Por serem detectores do tipo estado sólido, já não seria mais possível mudar
fisicamente a largura do detector para atender a um protocolo de exame. Era
necessário agrupá-los entre si, por meio de controle computacional, para se
ajustarem à espessura selecionada para a representação da imagem. Os fabricantes
escolheram construir as fileiras detectoras de duas maneiras: homogêneas (todas as
fileiras com o mesmo tamanho de detector - Figura 12a) e híbridas (fileiras com
tamanhos diferenciados - Figura 12b) 7 . Atualmente, encontram-se equipamentos
com 4, 8, 16, 32, 40, 64, 128 e 320 fileiras detectoras. Apenas como um exemplo:
um equipamento de 16 fileiras possui, em média, 750 detectores por fileira,
chegando a um total de 12 mil detectores individuais. Os arranjos entre as fileiras
detectoras podem ser exemplificados para um equipamento de 16 fileiras com
espessura de detector de 0,625 mm (colimação = 16 x 0,625 mm), é possível
selecionar espessuras de corte de 0,625, 1,25, 2,5 e 5,0 mm, gerando 16, 8, 4 e 2
imagens, respectivamente (Figura 13).
16
(a)
(b)
17
2 COMPONENTES DO EQUIPAMENTO DE TOMOGRAFIA
A. GANTRY
Colimador
pré-paciente
Conjunto de
detectores Cúpula com
tubo de raios X
18
Figura 15 Ilustração que representa o gantry e seus componentes internos e externos com a
identificação dos planos considerando o sistema de alinhamento laser
(a) (b)
Figura 16 Painel de comando do Philips, modelo Brilliance 64 (a) e do Philips modelo Brilliance
iCT (b) para movimentar a mesa e o gantry
19
Os circuitos atuais são de alta frequência (3000 Hz) e funcionam transformando a
baixa tensão de entrada da rede elétrica em alta tensão que alimenta o tubo de raios
X para produção da radiação. Por serem pequenos, todos os circuitos que compõem
o gerador ficam dentro do gantry e giram ao redor do paciente (Figura 17b). Nestes
geradores, aplica-se a tecnologia dos anéis deslizantes (slip rings) que permitem a
rotação contínua do conjunto fonte-detector enquanto a mesa com o paciente de
desloca pelo gantry.
(a) (b)
Figura 17 Equipamento de 3ª geração, utilizando cabos de alta tensão entre tubo de raios X e
gerador, o que obrigava o conjunto a retroceder a cada rotação do gantry (a) e
Equipamento helicoidal com a tecnologia dos anéis deslizantes (b)
C. TUBO DE RAIOS X
20
Os tubos convencionais de vidro (borosilicato) que garantiam o bom isolamento
térmico e elétrico deram lugar a tubos com revestimento metálicos e isolantes
cerâmicos entre o anodo e catodo. Com isso, anodos mais espessos e maiores -
diâmetro de 200 mm comparados aos 120 mm dos anodos convencionais - foram
construídos melhorando a relação de troca de calor. Outra inovação foi a utilização
de novos materiais para o anodo, a antiga composição possuía um base de titânio,
zircônio e molibdênio, com uma pista de ponto focal contendo 10% de rênio e 90%
de tungstênio. Porém, todo este conjunto era muito pesado e foi substituído por uma
base de grafite, que tem uma capacidade dez vezes maior que o tungstênio para
dissipar o calor e por ser mais leve, pode ser utilizado na tomografia helicoidal, a
pista do ponto focal permaneceu a mesma. A capacidade térmica de um tubo de
raios X para tomografia é da ordem de 8 MHU e a taxa de dissipação é de
1 MHU/min. A vida útil de um tubo com essa tecnologia pode variar de 10 mil a 40
mil horas, dependendo dos cuidados com sua utilização, enquanto os tubos
convencionais duram aproximadamente mil horas4,6,8.
9
D. FILTROS
21
Figura 18 Espectro de radiação X gerado para 120 kV
22
atravessar espessuras maiores ou com de maior densidade do corpo do paciente
(Figura 19). O termo adotado para este efeito é endurecimento do feixe. Novamente,
cabe lembrar que isto favorece o paciente, pois reduz a dose de radiação eliminando
os fótons de baixa energia que seriam absorvidos por ele antes de atingir com os
detectores. Porém, verificou-se nas primeiras gerações de equipamentos, que estes
filtros causavam artefatos provenientes do endurecimento do feixe, ou seja, o
sistema detector não conseguia responder adequadamente a esse efeito na
varredura de objetos circulares. Atualmente, os equipamentos de tomografia
possuem recursos em seus softwares de reconstrução das imagens que minimizam
tal artefato.
Figura 19 Princípio de funcionamento para dois modelos do filtro tipo gravata borboleta
E. COLIMADORES
23
radiologia convencional, reduzir a dose no paciente e melhorar a
qualidade da imagem. Nos equipamentos com uma fileira detectora têm,
ainda, a função de definir a espessura do corte tomográfico.
Pós-paciente (pré-detector): tem a finalidade de minimizar a radiação
espalhada pelo paciente.
F. TIPOS DE DETECTORES
24
São dois os tipos de detectores associados aos equipamentos de tomografia
computadorizada: detectores à gás e detectores cintiladores. O primeiro tipo foi
utilizado na terceira geração dos equipamentos de tomografia, mas atualmente não
são mais encontrados. Resumidamente, os detectores a gás convertem a radiação
incidente diretamente em sinais elétricos, enquanto que os cintiladores convertem a
radiação em luz e depois esta luz é convertida em sinal elétrico (Figura 20)10.
(a) (b)
Figura 20 Dois tipos de detectores: (a) detector cintilador que converte a radiação em luz e depois
em sinal elétrico e (b) câmara de ionização (gás) que convertem a radiação diretamente
em sinal elétrico
25
xenônio (Xe+) - Figura 21. Geralmente, esta tensão era mantida em 500 V,
de forma que se minimiza a possibilidade de recombinação destes pares
de íons, garantido que a quantidade de ionização fosse linearmente
proporcional à quantidade de energia absorvida pelos fótons de raios X.
Uma das maneiras de se avaliar o desempenho de um detector é a
verificação de quantos fótons de raios X incidentes são atenuados ou
detectados pelo conjunto de detectores; este parâmetro é chamado de
Eficiência Quântica Detectável (do inglês: Detective Quantum Efficiency).
Sob este aspecto, os detectores a gás apresentavam uma baixa eficiência
devido à baixa densidade do gás xenônio - alguns fótons de raios X
passavam pelo detector sem interagir com ele e, portanto, não eram
contados. Assim, constatou-se que uma eficiência de apenas 50 % a
60 % neste tipo de detector, isto é, apenas metade dos fótons que
atingiam o conjunto detector interagia por meio da ionização do gás no
interior da cavidade.
27
Para facilitar a compreensão relativa à eficiência destes tipos de detectores, veja a
Figura 23 que ilustra a diferença de Eficiência Quântica Detectável entre ambos.
Vamos dizer que temos 10 fótons de radiação incidindo sobre ambos os tipos de
detectores. Na Figura 23a, o detector tipo cintilador será capaz de detectar, pelo
menos, 90 % dos fótons incidentes e na Figura 23b, o detector a gás apresentará
uma eficiência de detecção de apenas 50 %.
Para se garantir uma boa qualidade de imagem, é esperado que uma quantidade
suficiente de fótons, chegue ao sistema detector, e tal quantidade depende das
interações dos fótons com o paciente. Portanto, espessuras maiores atenuam mais
fótons que espessuras menores e assim, uma menor quantidade de fótons chegam
28
ao detector. Com este conceito podemos concluir que um paciente pequeno pode
ser irradiado com uma corrente menor que um paciente grande consequentemente;
reduzindo a dose nestes pacientes (Figura 24).
Outro conceito diz respeito à densidade do material (tecido) que está sendo
irradiado. Sabemos que o ar dentro dos pulmões é menos denso que os ossos,
produzindo as imagens escuras (pouco atenuadas pelo ar) e as imagens claras
(muito atenuadas nos ossos), respectivamente. Por meio do topograma (scout), o
equipamento de tomografia registra a posição de cada região anatômica sob estudo
associada à posição da mesa (eixo z), considerando os níveis de atenuação em
cada uma delas, durante a realização da aquisição das imagens para o exame, o
equipamento diminui o valor da corrente de irradiação quando passa por regiões de
menor atenuação e, consequentemente, aumenta a corrente quando se trata de
tecidos mais densos (Figura 25).
29
Figura 25 Modos de operação do controle automático de exposição nos equipamentos de
tomografia computadorizada: posição no eixo z
o
Figura 26 Diagrama do topograma para varredura do paciente com o tubo de raios X em 0 para
o
vista AP do paciente (a) e com o tubo de raios X em 90 para vista LAT (b)
30
Figura 27 Modos de operação do controle automático de exposição nos equipamentos de
tomografia computadorizada: variação angular
Tamanho
Fabricante Eixo z Variação angular
do paciente
GE Auto mA Smart mA
31
H. COMANDO DO EQUIPAMENTO
Nome do paciente
Sexo
Idade
Peso
32
Em seguida, de acordo com o pedido médico, selecionamos no “menu” do
equipamento a região anatômica onde será realizado o exame. Geralmente, os
fabricantes disponibilizam essas informações utilizando uma figura anatômica de
corpo inteiro (Figura 29) e ao selecionarmos a região de interesse, abre-se uma
nova janela onde configuramos os detalhes para execução do exame.
33
A próxima etapa é a configuração topograma (scout) conforme exemplo da Figura
30:
- Posição do paciente: supino, decúbito, pé primeiro, cabeça primeiro;
- Plano do topograma: 0o (vista anteroposterior do paciente) ou 90o (vista
lateral do paciente)
- Tensão e corrente
- Posição da mesa de exames para início e final da aquisição da imagem
O resultado deste procedimento será uma imagem semelhante à Figura 31, que
mostra um topograma da região entre o tórax e o abdômen. As linhas em azul
mostram a seleção da região anatômica onde se deseja adquirir a imagens
tomográficas.
34
Figura 31 Imagem do topograma de um exame de abdômen; as linhas delimitam a extensão de
varredura do exame
Uma vez que definimos a região de varredura, prosseguimos para a próxima tela de
exame, onde selecionamos: as técnicas radiográficas, os dados de aquisição e os
dados de reconstrução das imagens, conforme descrito na Tabela 2 para um exame
típico. Existem ainda procedimentos específicos que exigem a escolha e
configuração de protocolos em outros níveis, mas isto depende dos recursos
disponíveis nos equipamentos de tomografia de acordo com cada fabricante.
35
Tabela 2 Parâmetros radiográficos: aquisição e reconstrução de imagens em um exame típico
de tomografia
36
3 FORMAÇÃO DE IMAGENS
A. RECONSTRUÇÃO DE IMAGEM
90o
0o
o
Figura 33 Aquisição em duas projeções (0 e 90º), com respectivos perfis de atenuação.
37
Figura 34 Aquisição em diversos ângulos com a formação do sinograma
38
0o
90o
180o
270o
Coluna
39
⇒ Algoritmos: rotinas de programação que descrevem as etapas que precisam ser
realizadas para que um programa específico execute corretamente suas tarefas.
40
⇒ Campo de visão (Field of View – FOV): é o diâmetro selecionável de interesse
em uma imagem. Aqui é importante registrar que podem-se ajustar dois tipos de FOV em
um equipamento: o SFOV (scaned field of view), que é geralmente selecionado de acordo
com a parte anatômica a ser estudada e o DFOV (displayed field of view), que é
geralmente escolhido no processamento de forma a agrupar ou magnificar uma região
onde se tenha interesse diagnóstico. Outra questão importante é que o FOV está
associado ao tamanho do pixel e ao tamanho da matriz da imagem conforme:
41
Figura 36 Exemplo de reconstrução em retroprojeção simples
Para melhorar a aparência, cada projeção precisa passar por um filtro de convolução
(também chamado de kernel ou algoritmo de reconstrução) antes da retroprojeção,
que nada mais é do que uma manipulação matemática dos dados de atenuação de
todas as projeções. Este algoritmo de reconstrução é chamado de projeção
retrofiltrada (do inglês: Filtered Back Projection – FBP) e é amplamente utilizada nas
imagens de tomografia. Utilizando as mesmas seis projeções, obtemos um bom
resultado de qualidade de imagem (Figura 37).
42
Existem, ainda, outros tipos de filtros de reconstrução, transformadas de Fourier,
analíticas e iterativas. Algumas têm aplicações específicas e vêm ganhando
importância à medida que componentes eletrônicos mais rápidos e de menor custo
se tornam accessíveis. Esses métodos são mais suscetíveis aos efeitos de ruído e,
normalmente, os tempos de reconstrução são significativamente altos, quando
comparados ao FBP.
I = I 0 ⋅ e − µ ⋅x (1)
x – Espessura de material
43
simples entre o coeficiente de atenuação linear (µ) e a espessura do absorvedor (x).
Se a espessura x for conhecida, obtém-se facilmente o valor de µ.
De qualquer maneira, para a visualização direta dos µ, seria necessário realizar uma
comparação entre vários equipamentos em faixas de energia e filtração diferentes, o
que é inviável. Então, foi estabelecida uma equação relativa ao coeficiente de
atenuação entre um material de referência e os outros órgãos e tecidos. Esses
valores são conhecidos como “Números CT”. Utiliza-se a água como referência por
que seu número CT é similar ao dos tecidos moles e também por ser de fácil
obtenção para calibrar os equipamentos.
44
Os números de CT variam de -1000 para o ar até +1000 para o osso, com valor zero
para água, em unidades “Hounsfield” - uma homenagem ao inventor do primeiro
tomógrafo comercial. A fórmula matemática para seu cálculo está definida na
equação (2 ):
µT − µagua
Núm. CT = K (2)
µagua
Tecido HU m
Músculo 50 0,231
Sangue 20 0,182
Água 0 0,180
Ar -1000 0,0003
45
Normalmente, a escala Hounsfield é apresenta entre os valores de número CT para
o ar (-1000) e para o osso (+1000)6, mas não existe um limite superior para a escala
Hounsfield. Encontra-se disponível nos equipamentos clínicos uma faixa entre -
1024 HU até +3071 HU, que totaliza 4096 (212) tonalidades de cinza, referente a 12
Bits de profundidade.
Entretanto, toda esta faixa fica disponível no equipamento e pode ser selecionada
em intervalos que facilitem a visualização de estruturas específicas, mais ou menos
densas, por exemplo. Esse processo é chamado de janelamento e pode ser
realizado diretamente no comando do equipamento de tomografia1,6,8.
A largura da janela (window width - WW) é faixa de números CT que pode ser
selecionada de forma a favorecer a visualização de diferentes tecidos, isto é quando
se deseja visualizar grandes diferenças como as apresentadas nas imagens de
pulmão ou do esqueleto, uma janela larga deve ser escolhida; e quando se deseja
visualizar pequenas diferenças de atenuação, como no cérebro, deve ser escolhida
uma janela estreita. O valor central (window level - WL) da faixa escolhida
corresponderá ao valor médio de número CT das estruturas sob estudo6.
46
4 PROGRAMA DE GARANTIA DE QUALIDADE EM TOMOGRAFIA COMPUTADORIZADA
o
Figura 38 Diagrama ilustrando a definição de CTDI, onde o tubo de raios X rotacional 360 ao redor do
paciente, irradiando uma espessura equivalente a colimação do feixe dada por (n x T), onde
n – número cortes para cada varredura e T – espessura nominal de corte
47
A Portaria SVS MS 45316 e o Guia RE 101617 regulamentam a medição do CTDI e
na prática empregada nos Programas de Garantia de Qualidade (PGQ), esta
grandeza pode ser avaliada com uma câmara de ionização do tipo “lápis” (Figura 40)
obtendo-se o CTDIw (ponderado). O CTDIw é o resultado da combinação do CTDI
medido na região central (CTDIc) e na perifieria (CTDIp) de um objeto simulador de
paciente cilíndrico de polimetilmetacrilato (PMMA), conforme Equação (3):
1 2
CTDI w = CTDI c + CTDI p
3 3 (3)
Para se determinar quais são as doses aplicadas aos pacientes adultos, utiliza-se
um objeto simulador cilíndrico contendo um orifício central e quatro orifícios
localizados em sua periferia e composto de polimetilmetacrilato (PMMA)18,19. Para os
exames de corpo (abdome, coluna lombar, tórax etc) é utilizado o cilindro de 32 cm
de diâmetro e para a região da cabeça (crânio, seios da face etc) emprega-se outro
cilindro de 16 cm de diâmetro, estes simuladores estão apresentados na Figura 39.
Figura 39 Simulador de paciente para medição do CTDI: (a) Corpo e (b) Crânio
48
O detector de radiação apropriado para este tipo de avaliação é uma câmara de
ionização conhecida como “lápis” que possui um comprimento ativo de 100 mm para
detecção dos feixes de radiação7,17,18,19,20 . Como um exemplo de modelo deste
detector veja a Figura 40, onde está apresentada a câmara da Radcal Corporation,
EUA, modelo 10 x 5 - 3CT acoplada ao monitor 9015.
Figura 40 Conjunto detector para medição do CTDI: Monitor de radiação - modelo 9015 e
câmara de ionização 10 x 5 - 3CT
I
p=
n ⋅T (4)
49
Também relacionado ao pitch, podemos definir o mAs efetivo que é dado pela
relação (5):
!"#
!"#!"!#$%& =
!
(5)
Figura 41 Para um mesmo mAs e diferentes valores de pitch, teremos diferentes mAs efetivos
50
É interessante notar, também na Figura 41, que quanto maior for valor do pitch,
menor será a dose no local do exame, pois o feixe de raios X passará por menos
tecidos do paciente, depositando menor quantidade de energia por unidade de
massa irradiada22.
CTDI w
CTDI vol =
p (6)
O Produto Dose Comprimento (Dose Length Product - DLP)5,7,8,20 foi introduzido nos
estudos da radiação em tomografia e é definido conforme a Equação (7), onde o
51
CTDIvol é multiplicado pelo comprimento irradiado durante o exame e é apresentado
em unidades mGy•cm.
Para que se possa avaliar a qualidade das imagens (QI) em tomografia são
necessários dispositivos de imagem adequados a esta modalidade diagnóstica23. De
aplicação semelhante à radiologia convencional, fluoroscopia e mamografia; a
tomografia precisa de objetos simuladores que representem estruturas de alto e
baixo contraste, componentes geométricos e regiões homogêneas que permitam
determinar, tanto de forma qualitativa quanto de forma quantitativa, os fatores de QI.
Figura 42 Simulador de paciente para avaliação da qualidade de imagem: Catphan Phantom – The
Phantom Lab (a), CT Performance Phantom - CIRS (b) e ACR CT Phantom Gammex (c)
52
A avaliação da qualidade da imagem e dos parâmetros geométricos do equipamento
de tomografia começa com o bom alinhamento do simulador no interior do gantry,
conforme a Figura 43:
Na Figura 45 temos a imagem do módulo CTP 401, ele é utilizado para avaliar
parâmetros relacionados a geometria do equipamento de tomografia. Neste módulo,
podemos analisar a espessura de corte e simetria da imagem, além disso;
53
verificamos o alinhamento do sistema laser utilizado para posicionar o paciente. Ele
contém ainda, quatro estruturas distintas: Teflon, Acrílico, LDPE (Low Density
PolyEthylene) e Ar que permitem avaliação da linearidade dos números CT para
toda a escala Hounsfield.
A precisão do sistema laser pode ver verificada por meio deste módulo, utilizando-se
as quatro guias de referência na imagem, conforme mostra a Figura 46. Então, as
linhas de referência são marcadas para que a distância (A) possa ser medida em
cada uma das quatro rampas. O limite de alinhamento aceitável é ≤ 2,0 mm.
54
Figura 46 Verificação da precisão de alinhamento do sistema laser, detalhe do procedimento na
rampa do lado direito do objeto simulador.
b. Espessura de corte
55
Figura 47 Exemplo de verificação da espessura de corte, neste caso a espessura nominal era
de 1,25 mm e a calculada foi de 1,28 ± 0,11 mm
56
Figura 48 Verificação do incremento entre cortes
57
Figura 49 Verificação da exatidão do posicionamento da mesa
e. Linearidade espacial
Distância horizontal
Razão = ≈1
Distância vertical (8)
58
Figura 50 Verificação da linearidade espacial
f. Linearidade de número CT
Três são compostos por plásticos comerciais: teflon, acrílico e polietileno de baixa
densidade (LDPE), o quarto é um furo preenchido com ar. Estes alvos possuem
valores tabelados e variam entre -1000 HU a +1000 HU. Utilizando a ferramenta de
ROI, selecionamos uma ROI circular sobre cada um dos alvos, registrando os
valores médios de sinal e de ruído em cada um deles. O que se espera com bom
resultado é que os valores medidos sejam próximos dos valores tabelados,
resultando em uma reta no gráfico comparativo entre esses valores (Figura 52).
59
Figura 51 Seleção de ROIs para teste de linearidade de número CT
1200%
800%
Número'CT'medido'
400%
0%
!1200% !800% !400% 0% 400% 800% 1200%
!400%
!800%
!1200%
Número'CT'tabelado'
#CT'medido' Linear'(#CT'medido)'
60
CTP 528 – Módulo de alto contraste
Um padrão de barras contendo 21 grupos e confeccionadas com 2 mm de alumínio
e dispostas no sentido radial é utilizado para determinação da resolução em alto
contraste.
61
CTP 515 – Módulo de baixo contraste
62
A avaliação da resolução de baixo contraste é realizada por meio da aquisição de
imagem de um objeto simulador de paciente que contenha estruturas com baixos
níveis de contraste e, observando-se essa imagem, identifica-se a estrutura de
menor diâmetro que pode ser visualizada. Além disso, pode-se quantificar a razão
contraste ruído (RCR) por meio de uma Região de Interesse (ROI) medido na
estrutura de maior diâmetro e outro na região de fundo calculando-se a RCR; pode
ainda, determinar curvas de “contraste detalhe” com estudos mais detalhados.
63
Figura 55 Determinação da resolução de baixo contraste: aquisição com 300 mAs – espessuras
de corte diferentes (1,25 mm e 5,0 mm)
64
CTP 486 – Módulo de uniformidade
Feito de um material uniforme que possui equivalência com a água dentro de 2 %,
isto é, 20 HU e permite a verificação da uniformidade, bem como, a avaliação do
ruído e da razão sinal ruído (RSR) nos sistemas de tomografia.
i. Ruído da imagem
O aspecto granulado que aparece na imagem é chamado de ruído, ele depende do:
Número de fótons de raios X que chegam ao detector (ruído quântico);
Ruído eletrônico do sistema de detecção; e
Escolha do filtro de reconstrução.
65
Figura 57 Avaliação do ruído no módulo CTP 486 do objeto simulador Catphan
j. Uniformidade do número CT
66
Figura 58 Avaliação da uniformidade do número CT utilizando o módulo CTP 486 do objeto
simulador Catphan 500
k. Calibração do número CT no ar
67
Na imagem obtida utilizando-se a ferramenta de medição de ROI circular, seleciona-
se uma área grande no centro conforme mostra a Figura 59. De acordo com a
Portaria MS 453/9816 e com o Guia da ANVISA17, o valor encontrado para o número
CT no ar deve ser de (-1000 ± 5) HU.
68
a angulação obtida no feixe, ou então, ele pode ser digitalizado e a imagem ser
avaliada em um programa de computador que contenha ferramentas de medição de
ângulo.
69
(a)
(b)
Figura 61 Verificação da tensão e tempo de irradiação (a) e determinação da camada semirredutora (b)
70
Tais escolhas precisam ser acordadas entre toda equipe multidisciplinar envolvida,
médicos, técnicos e físicos.
Avalia-se em três níveis:
Verificação do CTDI,
Quantificação dos parâmetros de qualidade de imagem com objeto simulador
físico e
Avaliação da qualidade de imagens clínicas de simuladores antropomórficos
(ou peças anatômicas).
71
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