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Espeleoturismo Ubajara 2005
Espeleoturismo Ubajara 2005
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DEGEO/UFC – Cxp: 6021 – Fortaleza, CE – CEP: 60445-760 – verissim@ufc.br
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Curso de Mestrado em Geologia da Universidade Federal do Ceará
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Curso de Graduação em Geologia da Universidade Federal do Ceará
ABSTRACT: The National Park of Ubajara, located in the east border of the Ibiapaba
mountain and close to the boundary between Ceará and Piauí States, possesses one of the
most beautiful examples of Brazilian karst landforms. This area of permanent preservation,
made in April of 1959, shelters the most important speleological patrimony of the Ceará
State. The Ubajara cave, having 1120 m of extension, is the largest and more ornamented
cave of the area and the main tourist attraction of the park. Approximately twenty-eight
thousand tourists visit the cave by year. This elevated visitation rate puts the Ubajara cave
among of the one more visited tourist caves of the Country. The continuous study of the
temperature (T) and humidity (U) parameters, during about one year, allowed to analyze the
effects of the external climatic flotation in the cave, as well as, to establish the physical limit
of its influence in relation to main cave entrance. In the rainy months the cave of Ubajara
registers a significant increase of humidity in certain places, promoting a substantial modi-
fication of the microclimate. The formation of an area of high humidity impedes the pro-
gress of a heat front coming from the east, and limits the influence of the external climatic
flotation for the interior of the cave. No significant changes were observed in the analyzed
environmental parameters (T and U) related with the tourists’ flow increment in the cave,
however, the influence of the spotlights was evidenced in the dilation of the thermal gradi-
ent of the galleries and small cave’s rooms.
forma de cuesta, com o flanco leste íngreme filtração da água ao longo dos principais sis-
denominado de front, e o flanco oeste com temas de fraturas e do acamamento sedimen-
declives bem suaves em direção ao Piauí tar, juntamente com a movimentação do len-
constituindo o reverso da cuesta (Foto 1 – çol freático promoveram a lenta dissolução
Prancha I). A evolução geomorfológica da das rochas calcárias gerando a abertura de
área remonta provavelmente ao final do Pa- pequenos condutos, galerias e salões (fase
leozóico com o encerramentos das trans- freática). O desenvolvimento e ampliação das
gressões e regressões marinhas periódicas, cavernas prosseguiu com o rebaixamento do
e início do soerguimento de toda região freático. A exposição dos salões e galerias
noroeste do Ceará durante o Cenozóico, acima do nível d’água acumulada em seu in-
gerando o basculamento da bacia e a incli- terior ocasionou a queda de blocos e o desa-
nação suave dos estratos sedimentares para bamento dos tetos (fase vadosa).
oeste. O arqueamento regional foi acompa- Especialmente próximo à entrada prin-
nhado por processos de entalhe e erosão cipal da Gruta de Ubajara os espaços vazios
localmente condicionados por falhamentos, deixados pela dissolução e erosão fluvial,
que propiciaram o recuo das vertentes e a bem como as condições de instabilidade do
expansão da depressão periférica, configu- teto, provavelmente durante a transição da
rando por fim um relevo de cuesta. fase freática para vadosa, levaram a forma-
As rochas que afloram na cornija e front ção de salões de grandes dimensões, como
da cuesta de Ibiapaba pertencem a unidade os do Retrato e do Mocosal.
geológica conhecida como Grupo Serra Gran- Atualmente a Gruta de Ubajara encon-
de e consistem, principalmente, de arenitos tra-se estabilizada, predominando a forma-
arcoseanos grossos a conglomeráticos, com ção de depósitos de cavernas. Estes depó-
algumas camadas conglomeráticas interca- sitos, também conhecidos por espeleotemas,
ladas, com aspecto maciço ou com estratifi- formaram-se principalmente pela reprecipi-
cações cruzadas (Formação Ipú), os quais tação do carbonato de cálcio na forma do
gradam em direção ao topo da escarpa para mineral calcita (CaCO3).
arenitos finos com níveis pelíticos intercala-
dos (Formação Tianguá). A erosão e o recuo DESCRIÇÃO MORFOLÓGICA
da serra da Ibiapaba iniciados, provavelmen- A Gruta de Ubajara, com 1120 m de
te, a 65 milhões de anos acabaram por expor extensão é a maior e mais ornamentada das
os metacalcários pré-cambrianos da Forma- cavernas da região, possuindo grandes e
ção Frecheirinha (Grupo Ubajara) a ação da belos salões interligados por galerias e con-
chuva e do sol, formando no local um relevo dutos que abrigam um importante patrimô-
cárstico. No interior de uma das morrarias nio espeleológico. Entre os principais e mais
que compõem este relevo localiza-se a Gruta bonitos espeleotemas encontrados estão
de Ubajara, principal atrativo turístico do estalactites, estalagmites, colunas, cortinas,
Parque Nacional de Ubajara. e travertinos. Os escorrimentos de carbo-
A água da chuva ao cair reagiu com o nato de cálcio (CaCO3) através dos tetos e
gás carbônico contido na atmosfera e no solo paredes da caverna levaram centenas a mi-
gerando um ácido fraco, mas capaz de dis- lhares de anos para criaram formas que lem-
solver com facilidade o calcário. Este proces- bram flores, animais pré-históricos e casca-
so de dissolução química foi o responsável tas de pedra, que hoje são apreciados por
pela formação das grutas e de uma série de turistas provenientes das mais diversas re-
outras feições superficiais que hoje consti- giões do Brasil e do Mundo (Fotos 3 e 4 –
tuem os principais atrativos do parque. A in- Prancha I).
odo seco. Este aumento promove uma mo- No setor sudeste, durante o período seco
dificação substancial do microclima da ca- a maior parte da galeria principal do rio perma-
verna que pode ser visualizada nos mapas nece seca. As águas do riacho do Mucuripe
de isógradas e isotermas (Figura 4). A for- que fluem a partir do fundo da gruta são captu-
mação desta zona de alta umidade no perío- radas por sumidouro localizado a cerca de 75 m
do chuvoso impede o avanço da frente de antes do início da Sala do Mocosal.
calor proveniente do leste, e limita a influ- No período chuvoso o sumidouro não
ência das flutuações climáticas externas nas dá vazão a quantidade de água do riacho, o
estações 13 e 14. qual invade o leito anteriormente seco, che-
gando até a Sala do Mocosal. A água acumu- te. Os valores de temperatura e umidade re-
lada neste período escoa para fora da caver- gistrados a 50cm dos holofotes de 500W
na, por outro sumidouro, situado entre os mostram, respectivamente, aumentos de 6 à
Salões do Mocosal e do Índio. O nível d’água 100C e 20 à 45% em relação aos valores pa-
do riacho Mucuripe eleva-se mais de um drões da gruta, entretanto, o sistema de ilu-
metro e meio acima de seu nível de base ori- minação fixo é utilizado de forma seqüencial,
ginal, atingindo o teto da galeria (Foto 5 – sendo acionado pelos condutores apenas
Prancha I). O registro desta elevação perió- nos trechos a serem visitados e desligados a
dica, ocorrida após dias seguidos de chuva, seguir. Este procedimento reduz a influência
pode ser visto também nos meses secos, pelas do aumento do calor no ecossistema, mini-
marcas d’água deixadas na porção superior mizando os impactos e efeitos nocivos geral-
da galeria e pela presença de pequenas con- mente observados na grande maioria das
chas de gastrópodes aprisionadas em fratu- cavernas turísticas do Brasil e do mundo.
ras e nos planos de acamamento da rocha. O monitoramento dos parâmetros tem-
peratura e umidade durante a entrada de
EQUIPAMENTOS DE ILUMINAÇÃO E grupos de turistas em número superior a trin-
FLUXO DE TURISTAS NA GRUTA ta indicou pequena elevação de temperatu-
Os equipamentos de iluminação atual- ra (inferior a 10C) e diminuição de umidade
mente instalados na Gruta de Ubajara con- (superior a 5%) nos salões de dimensões
sistem de holofotes retangulares com lâmpa- reduzidas, como por exemplo as Salas do
das de halogênio de 500 W e de holofotes Templo, o Corredor das Maravilhas e a Sala
redondos com soquete e lâmpada dicróica das Cortinas. Nos salões de maiores dimen-
de 150W. A distribuição dos principais pon- sões como os dos Retratos, do Índio, da
tos de luz encontra-se ilustrada na Figura 1. Rosa e do Presépio não foram registradas
A influência dos holofotes na dilata- modificações significativas dos parâmetros
ção do gradiente termal dos salões é eviden- ambientais analisados.