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Fam

ília
Wings

Tradu
ção e
Revisão:
Angel e Seraph
Leitura: Aurora
Formatação: Angel e Aurora

09/2021
Aviso
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Sinopse
Maddox ‘Mad Dog’ White odeia tudo o que o nome Vitiello
representa depois de testemunhar seu pai e seus homens sendo massacrados
pelo Capo da máfia italiana em seu território. Criado por seu tio, o
presidente do Tartarus MC, Maddox está destinado a seguir seus passos.
Agora sua sede está em ascensão novamente, mas para seu triunfo final,
eles precisam destruir o império Vitiello. E que melhor maneira de fazer
isso do que roubar a princesa mimada de Vitiello e quebrá-la pedaço por
pedaço até que seu pai implore por misericórdia.
Conhecida como a princesa mimada de Nova York, Marcella Vitiello
cresceu em uma gaiola dourada. Se seu pai é o homem mais temido de
Nova York, as pessoas o tratam com reverência.

Destinada a se casar com o homem aprovado por seu pai, Marcella


está cansada de ser tratada como uma boneca de porcelana intocável.

Ela se ressente da vida forçada por sua família até que tudo o que
considerava como certo é arrancado dela. Onde ela está agora, seu nome
não causa admiração, apenas dor e humilhação. Se você cresceu em um
castelo alto, a queda é ainda maior.

Os pecados cometidos pelos pais têm uma maneira de alcança-lo...


quem sangrará por eles?
Prólogo

Algumas coisas correm em seu sangue. Elas não podem ser abaladas,
não podem ser alteradas, não podem ser perdidas, mas podem ficar
adormecidas. Desde cedo, eu tinha um instinto infalível quando se tratava
de perigo ou farejar uma pessoa em quem não podia confiar. E prestava
atenção, sempre parando antes de agir vislumbrando bem dentro de mim,
por aquela intuição, verificando novamente.

Até que parei de prestar atenção, até que me acostumei com os outros
cuidando da minha segurança, até que confiei em seu julgamento sobre o
meu. Entreguei minha vida para outros, guarda-costas capazes, homens que
eram muito mais preparados para me proteger do que eu, ‘uma mera
menina’ e mais tarde ‘mulher’, era. Se tivesse dado ouvidos aos meus
instintos, ao formigamento na nuca naquela primeira noite, e mais tarde,
quando me levaram, estaria segura. Mas aprendi a ensurdecer minha voz
interior, a um instinto herdado de meu pai, porque deveria estar alheia aos
perigos de nossa vida.

As crianças aprendem rapidamente que fechar os olhos do mal não te


protege. Levei muito tempo para aprender essa lição.
Desde o primeiro momento em que vi Branca de Neve, ela ficou
gravada em meu cérebro. Cada maldita noite, a imagem de seu corpo nu me
torturava em detalhes enlouquecedores.

Às vezes acordava com os resquícios de seu gosto em minha boca,


meio convencido de que realmente enterrei minha língua em sua boceta,
sem dúvida bonita. Porra, não tinha visto um centímetro daquele corpo
lendário ainda, muito menos tocado. Ah, mas tocaria, mesmo que fosse uma
maçã envenenada.

Um cara como eu nunca teria permissão para se aproximar da Branca


de Neve. Eu não era um perdedor do caralho, longe disso. Ia me tornar
presidente do Tartarus MC, seguindo os passos do meu tio, o presidente
atual. Claro, isso me tornava a escória mais baixa da terra se perguntasse a
Branca de Neve e seu maldito pai, Luca Vitiello, o Capo da máfia italiana
na Costa Leste. Eu era um garotinho, de apenas cinco anos, quando a vida
que conhecia foi arrancada de mim. Como filho do presidente da sede de
Nova Jersey do Tartarus MC, vi muitas coisas perturbadoras desde muito
jovem. Irmãos do clube transando com prostitutas no meio da sede do clube
em plena luz do dia, lutas brutais, tiroteios... mas nada havia me marcado
como a noite em que o Capo da Famiglia matou brutalmente meu pai e seus
homens.
O bastardo assassino massacrou a sede inteira de nosso clube,
sozinho.

Risque isso.

Não sozinho, com a porra de um machado e uma faca de esfolar. Os


gritos da minha família do clube morrendo ainda assombravam minhas
noites, o eco de uma memória que não conseguia afastar a menos que
bebesse o suficiente para matar um elefante. Essas imagens foram o
combustível para minha fome de vingança.

A vingança que finalmente conseguiria, com a ajuda da princesa


mimada de Nova York: Marcella Vitiello.
Capítulo 1

Cinco anos de idade

Agachado no piso do clube, eu girava uma garrafa de cerveja vazia.


Minhas palmas estavam pegajosas por causa disso. Quando trouxe meus
dedos à boca para provar, meus lábios se curvaram em uma careta. Um
sabor amargo e podre explodiu na minha língua, agarrando-se às minhas
gengivas e garganta. Cuspi, mas o gosto ruim não desapareceu.

A sala estava cheia de fumaça de charutos e cigarros, fazendo meu


nariz coçar um pouco e às vezes até meu ranho tinha manchas pretas.

Continuei girando a garrafa. Não tinha nenhum outro brinquedo aqui.


Meus brinquedos estavam todos com mamãe, mas papai me pegou lá ontem
e eles gritaram um com o outro como sempre faziam. Papai deu um tapa em
mamãe, deixando uma marca vermelha da mão em sua bochecha, e estava
de mau humor desde então. Eu sempre ficava fora do seu caminho quando
ele estava assim. Agora, ele estava gritando com alguém ao telefone.

Pop, o segundo em comando, geralmente brincava comigo, mas ele


estava sentado no bar com uma mulher loira e a estava beijando. Os outros
motoqueiros se amontoaram ao redor da mesa e jogavam cartas. Eles
realmente não queriam que eu os irritasse. Um deles me empurrou, então
caí de bunda quando perguntei se poderia vê-los jogar. Meu cóccix ainda
doía onde bateu no chão.

Passos trovejaram mais perto. A porta do clube se abriu e um dos


prospectos entrou tropeçando, os olhos arregalados. — Limusine preta!

Todos pularam como se as palavras fossem um código secreto. Minha


cabeça girou para papai, que gritava ordens, saliva voando de sua boca. Não
entendia o que havia de tão ruim em um carro preto. Um grito soou, agudo,
depois gorgolejante. Olhei de volta para a porta e o prospecto caiu para
frente, um machado na parte de trás de sua cabeça, partida como uma
melancia madura. Deixei cair a garrafa, meus olhos se arregalando. O corpo
caiu no chão e sangue espirrou por toda parte quando o machado caiu de
sua cabeça, deixando um corte profundo em seu crânio onde eu podia ver
pedaços de seu cérebro. Exatamente como uma melancia, pensei
novamente.

Papai correu até mim e agarrou meu braço com força. — Esconda-se
embaixo do sofá e não saia! Está me escutando?

— Sim senhor.
Ele me empurrou em direção ao velho sofá cinza e caí de joelhos
rastejando para baixo dele. Já fazia um tempo que não tentava me espremer
embaixo do sofá e quase não cabia mais, mas eventualmente deitei de
barriga, de frente para a porta de entrada e a sala.

Um homem enorme com olhos selvagens invadiu, uma faca e uma


arma na mão. Prendi a respiração quando ele entrou rugindo como um urso
louco. Ele arremessou sua faca no tesoureiro de papai, que havia agarrado
sua arma. Muito tarde. Ele caiu para frente, bem diante do sofá. Seus olhos
enormes me encarando enquanto o sangue se acumulava sob sua cabeça.

Recuei alguns centímetros, mas congelei abruptamente, com medo de


que meus pés ficassem para fora. Os gritos ficaram cada vez mais altos até
que pressionei minhas palmas sobre os ouvidos, tentando bloqueá-los. Mas
não conseguia desviar o olhar do que estava acontecendo. O louco agarrou
sua faca e jogou em Pop. Ele o acertou bem no meio do peito e Pop caiu
para trás como se tivesse bebido demais. Papai correu para trás do bar com
dois prospectos. Eu queria me esconder lá com ele, queria que me
consolasse, mesmo que isso não fosse algo que ele fizesse. O louco atirou
na mão de outro irmão do clube quando ele pegou uma arma caída. Eu
podia ouvir os tiros mesmo através das palmas sobre minhas orelhas,
baques surdos que me faziam estremecer a cada vez.

O louco continuou atirando no bar, mas por fim tudo silenciou. Papai
e os prospectos ficaram sem munição?

Meus olhos se moveram para o arsenal no final do corredor. Um dos


prospectos saiu de trás do balcão, mas o homem o perseguiu e jogou o
machado em suas costas. Fechei os olhos com força, respirando fundo
algumas vezes, estremecendo, antes de ousar abri-los novamente. O sangue
do tesoureiro se espalhava lentamente e começou a ensopar minhas mangas,
mas dessa vez não ousei me mexer. Nem mesmo quando encharcou minhas
roupas e cobriu meus dedinhos. Mais dois homens de papai entraram,
tentando ajudar. Mas o louco era como um urso zangado. Fiquei imóvel
enquanto ouvia gritos de agonia e raiva observando um cadáver após o
outro cair no chão. Havia muito sangue por toda parte.

Papai gritou quando o homem o arrastou de trás do bar. Deslizei para


frente, querendo ajudá-lo, mas seus olhos cortaram para mim e me
alertaram para ficar onde estava. Os olhos do homem mau seguiram os de
papai. Seu rosto era como o de um monstro, coberto de sangue e contorcido
de raiva. Abaixei minha cabeça, com medo de que ele tivesse me visto. Mas
ele continuou arrastando papai para uma cadeira.

Sabia que não devia desobedecer às ordens de meu pai e por isso
permaneci imóvel pelo que pareceram dias, mas provavelmente foram
apenas alguns minutos. O homem mau começou a machucar papai e o
prospecto que ainda estava vivo. Não podia mais assistir e fechei os olhos
com tanta força que minhas têmporas latejaram. Pressionei minha testa em
meus braços. Meu peito e meus braços estavam quentes de sangue e minha
calça estava quente onde tinha feito xixi. Tudo fedia a xixi e sangue, e
prendi a respiração, mas meu peito doía e tive que respirar fundo. Comecei
a contar os segundos, tentei pensar em sorvete, bacon frito e na torta de
limão da mamãe, mas os gritos eram muito altos. Eles afastaram todos os
pensamentos da minha cabeça.

Por fim, o silêncio reinou ao meu redor e ousei levantar a cabeça.


Meus olhos lacrimejaram quando olhei em volta. Havia manchas vermelhas
e pedaços de carne espalhados por toda parte. Estremeci e vomitei, a bile
deixando minha garganta crua, então congelei, com medo de que o homem
mau estivesse por perto para me matar também. Não queria morrer.
Comecei a chorar, mas rapidamente enxuguei as lágrimas. Papai odiava
lágrimas. Por um tempo, ouvi as batidas do meu coração, que soavam em
meus ouvidos e vibravam em meus ossos até que me senti mais calmo e
minha visão clareou.

Finalmente, olhei em volta em busca do homem, mas ele não estava


em lugar nenhum. A porta da frente estava aberta, mas ainda esperei muito
tempo antes de finalmente sair de baixo do sofá. Apesar de minhas roupas
estarem sujas de xixi e sangue, e meu corpo gritando por comida e água,
não fui embora. Fiquei no meio dos corpos dilacerados de homens que
conheci durante toda a minha vida, homens que eram a coisa mais próxima
de uma família normal que já tive. Quase não reconheci nenhum deles. Eles
estavam muito desfigurados.

O corpo do papai era o pior. Não reconheci seu rosto. Apenas a


tatuagem em seu pescoço: uma caveira cuspindo fogo, me disse que era ele.
Queria me despedir dele, mas não me atrevi a me aproximar do que restava
de seu corpo. Ele parecia assustador. Finalmente saí de repente e não parei
de correr até chegar à casa de uma old lady. Era a propriedade do tesoureiro.
Eu a visitei algumas vezes antes, quando ela fez biscoitos para mim.
Quando ela me viu coberto de sangue, imediatamente soube que algo estava
terrivelmente errado.

— Eles estão mortos, — sussurrei. — Todos mortos.

Ela tentou ligar para o telefone do pai, depois do Pop e de outros


irmãos do clube, mas ninguém atendeu. Eventualmente, ela ligou para
minha mãe e me limpou enquanto esperava que eu fosse pego.

Quando a mamãe finalmente chegou, ela parecia branca como um


lençol. — Vamos, temos que sair.

Ela pegou minha mão. — E o papai?

— Não podemos fazer mais nada por ele. Nova York não é mais
segura para nós. Temos que ir embora, Maddox, e não podemos mais voltar.
— Ela me arrastou em direção ao nosso velho Ford Mustang e me sentou
no banco do passageiro. O carro estava tão cheio de malas que eu não podia
olhar pela janela traseira.

— Estamos indo embora? — Perguntei, confuso.


Ela girou a chave na ignição. — Você não ouviu? Temos que partir
para sempre. Este não é mais o território do Tartarus. Vamos morar com seu
tio no Texas agora. Será sua nova casa.

Minha mãe ligou imediatamente para meu tio Earl, pedindo ajuda. Ela
não tinha nenhum dinheiro, era papai que sempre lhe dava, embora sempre
brigassem e não morassem mais juntos. Earl nos ajudou e então nos
mudamos para o Texas, e eventualmente mamãe se tornou a old lady de
Earl e eles tiveram meu irmão Gray.

O Texas se tornou meu lar temporário, mas meu coração sempre


clamava para retornar à minha terra natal, reivindicar meu direito de
nascença e buscar vingança.

Não voltei para Nova Jersey por muitos anos, mas quando finalmente
voltei, foi com um propósito em mente: matar Luca Vitiello.
Cinco anos de idade

Eu me sentei na beira da cama, minhas pernas balançando para cima e


para baixo. Meu olhar estava grudado na porta, esperando que ela se
abrisse. Já eram sete. Mamãe sempre me acordava nesse horário. O relógio
marcou 7:01 e comecei a deslizar para fora da cama. Mamãe se atrasaria
hoje?

Não podia mais esperar.


A maçaneta da porta se moveu para baixo e congelei, sentando no
colchão e observando enquanto mamãe enfiava a cabeça para dentro. Ao
me ver, seu rosto se iluminou e ela riu. — Há quanto tempo você está
acordada?

Dei de ombros e pulei da cama.

Mamãe me encontrou no meio do caminho e me abraçou com força.


— Feliz aniversário, querida.

Me contorci em seu aperto, desesperada para descer as escadas.


Afastando-me, perguntei: — Podemos descer agora? Tem festa?

Mamãe riu de novo. — Ainda não, Marci. A festa é mais tarde.


Agora, somos apenas nós. Venha, vamos dar uma olhada em seus presentes.
Após um breve momento de decepção, peguei a mão de mamãe e a
segui escada abaixo. Eu estava usando minha camisola rosa com babados
favorita, a que me fazia sentir como uma princesa. Papai esperava no
saguão enquanto descíamos as escadas e me pegou antes que eu chegasse
ao último degrau e beijou minha bochecha. — Feliz aniversário princesa. —
Ele me levantou sobre sua cabeça e me carregou para a sala de estar. Estava
decorada com balões cor de rosa e vermelho, uma guirlanda que dizia feliz
aniversário e uma coroa dourada sobre a mesa ao lado de um enorme bolo
rosa de unicórnio. Em outra mesa, uma grande pilha de presentes esperava,
todos embrulhados em papel rosa e dourado. Corri em direção a ela.

— Feliz aniversário! — Amo gritou enquanto corria ao redor da


mesa, tentando roubar o show.

— Eles são nossos, e de seus tios e tias, — mamãe disse, mas só ouvi
metade enquanto começava a desembrulhar tudo ansiosamente.

Ganhei quase tudo que pedi. Quase.

Papai acariciou minha cabeça. — Você vai ganhar mais presentes na


festa de hoje.

Balancei a cabeça e sorri. — Serei a princesa.

— Você sempre é.

Mamãe deu a papai um olhar que não entendi.

Poucas horas depois, a casa estava cheia de amigos, familiares e


homens que trabalhavam para papai. Todos vieram comemorar comigo. Eu
usava um vestido de princesa e uma coroa, adorando como todos me
trouxeram presentes e me parabenizaram e cantaram parabéns para mim. A
torre de presentes era três vezes o meu tamanho. Mais tarde naquela noite,
quando meus olhos não paravam de fechar, papai me carregou para o meu
quarto.

— Precisamos colocar sua camisola, — ele murmurou enquanto me


colocava na cama.

Segurei seu pescoço e balancei a cabeça vigorosamente. — Não,


quero usar meu vestido de princesa. E minha coroa, — acrescentei depois
de um bocejo.

Papai deu uma risadinha. — Você pode usar o vestido, mas a coroa é
muito desconfortável. — Ele gentilmente a tirou e colocou na minha mesa
de cabeceira.

— Ainda sou uma princesa sem coroa?

— Você sempre será minha princesa, Marci.

Sorri. — Me abraça para dormir?

Papai assentiu e desajeitadamente se esticou ao meu lado, com as


pernas penduradas para fora da cama muito pequena. Ele passou um braço
em volta de mim e pressionei minha bochecha contra seu peito, fechando
meus olhos. Meu pai era o melhor pai do mundo.

— Amo você papai. Nunca vou te deixar. Vou morar com você e
mamãe para sempre.

Papai beijou minha testa. — E eu te amo, princesa.


Capítulo 2

O balanço suave da rede me embalava em um meio-sono enquanto


observava as ondas espumosas batendo em nosso cais e na praia. A rede em
nossa mansão nos Hamptons era meu lugar favorito em um dia ensolarado,
e foram semanas de dias ensolarados e quentes de verão desde o início de
junho, mas não tive muito tempo para o lazer.

Mexi meus dedos do pé, soltando um suspiro. Os últimos dias foram


cansativos e, portanto, alguns dias para relaxar eram extremamente
necessários. A organização da festa de meu décimo nono aniversário
significava semanas de preparação intensa com degustação de bolos e
cardápios, compra de roupas, correções na lista de convidados e muitas
outras tarefas. Mesmo uma planejadora de eventos dificilmente reduzia
minha carga de trabalho. Tudo precisava ser perfeito. Meus aniversários
sempre foram um dos eventos sociais mais importantes do ano.

Depois da grande festa, dois dias atrás, mamãe me trouxe, junto com
meus irmãos mais novos, Amo e Valerio, para os Hamptons para uma
semana de relaxamento muito necessário. Claro, Valerio não entendia o
significado de relaxamento. Ele estava nas ondas, fazendo esqui aquático,
enquanto um de nossos guarda-costas conduzia o barco em manobras
arriscadas para satisfazê-lo. Duvido que algum dia tenha tido tanta energia
quanto esse garoto, nem mesmo aos oito.

Mamãe lia um livro em uma espreguiçadeira à sombra, seu cabelo


loiro emoldurando seu rosto em ondas bagunçadas de praia. Meu cabelo
estava sempre liso, mesmo um dia na praia não mudava isso. Claro, meu
cabelo era preto como carvão e não loiro angelical como o da mamãe.

Negro como sua alma, Amo costumava brincar. Meus olhos cortaram
para ele. Ele montou uma academia de CrossFit em uma parte menos
necessária de nossa propriedade e estava fazendo o treino do dia. Parecia
uma tortura auto infligida a julgar por sua expressão. Preferia os cursos de
Pilates da tia Gianna. Claro, a dedicação de Amo o deixou parecido com o
Hulk aos quinze anos.

A porta deslizante se abriu e nossa empregada, Lora, saiu com uma


bandeja. Balancei minhas pernas para fora da rede e sorri quando vi que ela
havia preparado nosso suco de morango favorito. Essa bebida me esfriava
mesmo nos dias mais quentes de verão. Ela serviu um copo e me entregou.

— Obrigada, — falei, estremecendo de satisfação enquanto bebia.

Ela colocou uma tigela com pedaços de abacaxi gelado na mesa


lateral. — O abacaxi não está tão bom quanto da última vez.

Coloquei um pedaço na minha boca. Estava um pouco azedo demais.


Suspirei. — É tão difícil conseguir bons produtos.

Amo correu até nós, o suor voando por toda parte de seu corpo
brilhante.

— Não sue na minha comida, — avisei.


Ele fez um show se sacudindo como um cachorro molhado e pulei da
rede, dando alguns passos para trás salvando meu suco. O amor fraterno só
vai até certo ponto...

Ele comeu alguns dos meus pedaços de abacaxi, nem mesmo se


desculpando por isso. — Por que não pega para você?

Fiz um gesto para Lora, que estava servindo a mamãe seu suco e
frutas. Ele acenou com a cabeça para o livro de Análise de Marketing na
mesa lateral. — É verão. Você realmente precisa desse livro? Você é a
melhor da classe qualquer forma.

— Sou a melhor da classe porque trago meus livros comigo, —


murmurei. — Todo mundo está esperando que eu estrague tudo. Não vou
lhes dar essa satisfação.

Amo encolheu os ombros. — Não entendo porque você se importa.


Nem sempre pode ser perfeita, Marci. Eles sempre encontrarão algo de que
não gostam em você. Mesmo se organizar a festa de aniversário do século,
alguém ainda vai reclamar que as vieiras não estavam vítreas.

Fiquei tensa. — Falei várias vezes ao chef para tomar cuidado extra
com as vieiras por que... — Parei quando vi o sorriso de Amo. Ele estava
zombando de mim. — Idiota.

— Apenas relaxe, pelo amor de Deus.

— Estou relaxada, — falei.

Amo me lançou um olhar que dizia que definitivamente não era uma
pessoa relaxada. — Então, as vieiras estavam vítreas ou não?

Amo gemeu. — Elas estavam perfeitas, não enlouqueça. E sabe de


uma coisa? A maioria das pessoas ainda não vai gostar de você, mesmo que
as vieiras sejam de outro mundo.

— Não quero que gostem de mim, — falei com firmeza. — Quero


que me respeitem.

Amo encolheu os ombros. — Eles respeitam. Você é uma Vitiello. —


Ele correu atrás de Lora para pegar mais abacaxi e suco. Para ele, a
discussão acabou. Amo ia ser Capo, mas ele não sentia a pressão como eu.
Como a Vitiello mais velha e menina, as expectativas eram muito altas. Eu
só podia falhar. Tinha que ser linda e moralmente impecável, pura como a
neve, mas ao mesmo tempo progressiva o suficiente para representar a nova
geração da Famiglia. Amo tirava notas ruins, dormia por aí e saía de
moletom, e todo mundo dizia simplesmente que ele era um menino e
cresceria. Se eu fizesse alguma dessas coisas, estaria socialmente morta.

Meu telefone apitou com uma mensagem de Giovanni.

Sinto sua falta. Se não tivesse tanto trabalho, iria até aí.

Meus dedos pairaram sobre minha tela, mas o afastei. Estava feliz que
seu estágio no escritório de advocacia de nosso advogado da Famiglia,
Francesco, o mantinha ocupado. Precisava de alguns dias longe dele depois
da nossa quase discussão no meu aniversário. Se não conseguisse me livrar
do meu aborrecimento antes da nossa festa oficial de noivado, teria
problemas em manter uma expressão apaixonada.

Coloquei o celular no silencioso e virei a tela sobre a mesa e peguei


meu livro. Estava imersa em uma parte particularmente difícil quando uma
sombra caiu sobre mim.

Olhei para cima encontrando papai elevando-se sobre mim. Ele tinha
ficado em Nova York para negócios urgentes com a Bratva.
— Trabalhando duro como sempre, minha princesa, — ele disse e se
abaixou para beijar o topo da minha cabeça.

— Como foram os negócios? — Perguntei curiosa, colocando o livro


de lado.

Papai sorriu fortemente. — Nada para você se preocupar. Temos tudo


sob controle.

Cerrei meus dentes contra o desejo de questioná-lo. Seu olhar


procurou Amo, que imediatamente parou seu treino e se aproximou de nós.
Papai queria que ele estivesse presente em tudo o que acontecia com a
Bratva, mas mamãe o dissuadiu. Ela não conseguia parar de protegê-lo.

— Ei, pai, — disse Amo. — Você se divertiu esmagando cabeças da


Bratva?

— Amo, — a voz de papai oscilou em advertência.

— Marci não é cega. Ela sabe o que está acontecendo. —Às vezes,
achava que entendia a brutalidade do trabalho de papai melhor do que Amo.
Ele ainda considerava isso muito divertido e realmente não via o perigo.
Mamãe provavelmente estava certa em mantê-lo longe das grandes lutas.
Ele apenas se mataria.

— Preciso falar com você. Desça até o cais comigo, — papai disse a
Amo.

Amo assentiu. — Deixe-me pegar um sanduíche. Estou morrendo de


fome. — Ele correu de volta para a casa, provavelmente para importunar
Lora a lhe fazer um queijo grelhado.

O rosto de papai estava tenso de raiva. Ele obviamente queria falar


imediatamente.
— Ele acha que os conflitos com o Tartarus e a Bratva são muito
divertidos, tipo mais uma fase em um de seus jogos de computador. Ele
precisa crescer, — disse papai. Seus olhos se voltaram para mim, como se
tivesse esquecido que eu estava aqui.

Dei de ombros. — Ele tem quinze anos. Eventualmente crescerá e


perceberá a responsabilidade.

— Gostaria que ele fosse tão responsável e sensato quanto você.

— Ser menina ajuda nisso, — falei com um sorriso. Mas também


significava que minha responsabilidade e sensibilidade nunca seriam úteis
para mim. Eu nunca poderia ser uma parte do negócio.

Papai assentiu, seu rosto se tornando protetor. — Não se preocupe


com nada disso, princesa. Você já tem o suficiente em seu prato com a
faculdade e o planejamento de noivado e festa de casamento... — Ele parou
de falar como se tivesse esquecido o que eu fazia no meu tempo livre. Papai
e eu não tínhamos muitos interesses em comum, não porque não estivesse
interessada nos negócios da Famiglia, mas porque ele não queria que eu me
envolvesse. Ele tentou mostrar interesse nas coisas que achava que eu
gostava, e fingi gostar delas.

— A festa de noivado já está planejada. E ainda há muito tempo até o


casamento. — Nossa festa de noivado estava marcada para dali a duas
semanas, embora estivéssemos noivos por quase dois anos, mas o
casamento ainda demoraria mais dois anos. Um futuro meticulosamente
planejado estava à minha frente.

— Sei que você adora quando as coisas saem perfeitas. — Ele tocou
minha bochecha. — Giovanni virá para cá?

— Não, — disse. — Ele está muito ocupado.


As sobrancelhas de papai franziram. — Posso ligar para Francesco e
pedir-lhe para dar a Giovanni alguns dias de folga, se você quiser...

— Não.

Os olhos de papai se estreitaram com suspeita. — Será que ele...

— Ele não fez nada, pai, — falei com firmeza. — Só quero um pouco
de tempo para estudar e pensar no esquema de cores da festa, — menti e
sorri amplamente como se não pudesse pensar em uma maneira melhor de
passar a tarde do que meditar sobre a diferença entre creme e casca de ovo.
Ainda não tinha começado a planejar nada para o casamento e não me
sentia nem um pouco compelida a fazer isso agora. Depois de alguns dias
relaxando após o planejamento da festa de aniversário, provavelmente me
sentiria mais entusiasmada.

Amo saiu da casa com um prato cheio com três sanduíches, enquanto
comia um quarto. Se eu comesse assim, poderia dar adeus ao espaço entre
minhas coxas. Papai beijou o topo da minha cabeça novamente antes que
ele e Amo descessem até o cais para discutir os negócios da Famiglia.
Suspirei e peguei meu livro, mergulhando nas páginas. Papai queria me
proteger de nosso mundo e eu precisava aceitar isso.
— Você sabe do que se trata? — Gunnar perguntou enquanto
estacionava ao lado de minha Harley. Afastei-me e passei a mão pelo meu
cabelo emaranhado. Foi o mais curto que já usei, longo no topo para que
pudesse escová-lo para trás, mas o capacete ainda o bagunçava.

— Earl não me disse nada.


Gunnar desceu da sua moto, um modelo mais antigo com bastante
cromo. Minha moto era uma Fat Boy toda preta, até os raios eram pretos
foscos. O único traço de cor era o pequeno logo do Tartarus MC costurado
no assento de couro vermelho sangue e o cão do inferno ao lado dele.

Gunnar olhou ao redor. — Onde está a criança?

— Provavelmente perdido em uma boceta em algum lugar, — falei


com um sorriso enquanto seguíamos em direção ao clube. Era nossa quarta
base nos últimos dois anos. Vitiello e seus homens ficavam nos farejando,
então tínhamos que abandoná-las com frequência. Não haveria outro
massacre.
Nós nos acomodamos em torno da mesa de carvalho onde Earl já
estava esperando, recostado na porra de sua cadeira de massagem. Tivemos
que arrastar a coisa pesada de um clube para o outro. Earl tinha uma
expressão como se tivesse ganhado a porra do Prêmio Nobel. Mais e mais
irmãos se acomodaram ao redor da mesa até que todos os membros com
direito a voto estivessem reunidos, exceto um. Earl balançou a cabeça,
levantou-se e removeu a cadeira vazia da mesa, colocando-a em um canto
da sala. Então se acomodou em sua cadeira, pronto para iniciar a reunião.

A porta se abriu e Gray cambaleou para dentro, sua braguilha aberta e


seu colete colocado do avesso. Seu longo cabelo loiro estava em completa
desordem. Reprimi um sorriso. Este menino tinha muito que crescer.
O rosto de Earl escureceu, acentuando ainda mais as muitas cicatrizes.
Mesmo que ele compartilhasse a cor do cabelo de Gray e minha, o dele
ficou cinza com o passar dos anos. — Você está atrasado.

Gray pareceu se encolher enquanto tropeçava em direção ao seu lugar


habitual na mesa, congelando quando percebeu que sua cadeira havia
sumido. Ele olhou ao redor, finalmente localizando-a no canto. Ele foi
pegar a cadeira.
— Você pode sentar no canto até aprender a chegar na hora, garoto,
— Earl latiu.

Gray lançou um olhar incrédulo, mas Earl com certeza não estava
brincando, a julgar pelo brilho de raiva em seus olhos.

— Sente-se ou saia, — ele ordenou. — E coloque essa porra de colete


do lado certo, seu idiota, ou dê o fora dessa reunião.

Gray olhou para si mesmo, seus olhos se arregalando. Ele


desajeitadamente tirou o colete e o virou, em seguida, colocou-o novamente
antes de se sentar no canto.

— Pronto? Não tenho o dia todo. Temos assuntos para discutir. —


Gray assentiu, em seguida, afundou ainda mais em sua cadeira.

Dei uma piscadela para ele e relaxei contra o encosto de cabeça


estofado da minha cadeira. Earl pediu a um carpinteiro que fizesse as
pesadas cadeiras de mogno com forro vermelho para dar à nossa mesa de
reunião uma aparência real. Até sua cadeira de massagem era estofada com
cetim vermelho. Claro, depois que o próprio Earl colocou a primeira marca
de queimadura de cigarro no cetim caro, as coisas só pioraram.
Gray ainda estava curvado em sua cadeira como um cachorro
afogado. Ele sempre levava a sério as reprimendas de Earl. Talvez fosse a
idade, mas eu não era tão ansioso pela aprovação de Earl quando tinha
dezessete anos. No entanto, Earl sempre me deu mais liberdade do que a
seu filho. Mas mesmo eu dificilmente recebi uma palavra calorosa. Aprendi
desde cedo a encontrar palavras calorosas com as mulheres e não com meus
irmãos do clube, muito menos com meu tio.

— Então, o que está acontecendo, Prez? — Cody perguntou.


A desaprovação de Earl foi substituída por um sorriso malicioso. —
Tenho o plano perfeito para chutar a bunda de Vitiello.

— Fale, fale, — eu disse. — O que surgiu na sua linda cabeça?

— Vamos sequestrar Marcella Vitiello.


— Sua filha? — Gray soltou. Seu choque aberto refletia meus
próprios sentimentos, só que havia aprendido a mantê-los para mim. Mais
tarde, falaria com Earl em particular sobre minhas preocupações.

Earl lançou lhe um olhar severo. — Quem mais? Ou você conhece


mais alguém com essa porra de nome? Você acharia que Deus não o
agraciou com mais de duas células cerebrais pela maneira como age às
vezes.

O pescoço de Gray ficou vermelho, um sinal claro de seu


constrangimento.
— Você acha que Luca Vitiello se importa se sequestrarmos sua
prole? Ela não é sua herdeira. Talvez devêssemos sequestrar aquele seu
garoto gigante, — disse Cody. Ele era o sargento de armas de Earl, e muito
puto porque eu era o segundo no comando e não ele.
— Ele comeria o cabelo da porra da nossa cabeça, — murmurei, o
que me rendeu o riso de todos ao redor, exceto Cody e Gray, que ainda
estava alimentando seu orgulho ferido.

— Quero que você a vigie, Maddox. Você vai liderar a operação, —


disse Earl.

Assenti. Isso era pessoal. Teria insistido em fazer parte do trabalho,


mesmo que meu tio não tivesse me pedido para fazê-lo. A mimada princesa
Vitiello seria minha.

Earl empurrou um artigo de jornal para mim. A manchete anunciava o


noivado de Marcella Vitiello com um idiota com cara de inteligente. Meus
olhos foram atraídos para a imagem abaixo.

— Foda-se, — murmurei. — É ela?


Vários homens soltaram assobios baixos. Earl olhou de soslaio. — A
prostituta que custará a Vitiello sua fortuna e sua vida.

— Eles devem ter usado algum tipo de filtro. Ninguém é tão linda
assim, — Gunnar disse. — Acho que meu pau cairia de admiração se
chegasse perto dessa boceta.

— Não se preocupe, não vai, — falei com uma piscadela. — Sua old
lady provavelmente o cortaria antes de você chegar perto.

Gunnar tocou seu coração. Ele tinha sido o tesoureiro de nosso clube
por uma década e muitas vezes agia mais como uma figura paterna do que
Earl.

— A foto foi manipulada, sem dúvida, — disse outro irmão.

Só podia concordar. Vitiello provavelmente pagou a mais, então os


fotógrafos retocaram a imagem de sua filha até que parecesse uma aparição.
Cabelo preto comprido, pele clara, olhos azul-celeste e lábios carnudos e
vermelhos. O idiota ao lado dela em sua camisa social e cabelo escuro
cuidadosamente penteado parecia seu consultor tributário e não aquele que
a fazia ficar molhada.

— Como a Branca de Neve, — sussurrei.


— O que? — Earl perguntou.

Balancei a cabeça, arrastando meus olhos para longe da foto. —


Nada. — Soar como um imbecil de merda não me faria nenhum favor. —
Presumo que ela esteja fortemente protegida?

— Claro. Vitiello mantém sua esposa e filha em uma gaiola dourada.


É seu trabalho encontrar a brecha, Mad. Se alguém pode fazer isso, é você.

Balancei a cabeça distraidamente enquanto examinava as fotos na


mesa mais uma vez. Manobras arriscadas era minha especialidade, mas
fiquei mais cauteloso sobre isso ao longo dos anos. Não era mais
adolescente. Aos vinte e cinco anos, percebi que ser morto antes de me
vingar não resolveria.

Meus olhos voltaram para a foto como se puxados por um fio


invisível. Linda pra caralho para ser real.

Vitiello era o centro das minhas atenções, nunca sua família e,


definitivamente, não seus filhos. Por alguma razão, me irritava pra caralho
que ele fosse o pai de uma filha tão deslumbrante. Realmente esperava que
as fotos estivessem muito retocadas e que a maldita Marcella Vitiello fosse
horrível na realidade.
Usei roupas comuns quando segui Marcella pela primeira vez. Seus
guarda-costas só suspeitariam se um motoqueiro aparecesse repetidamente.
Vitiello certamente havia distribuído fotos de todos os membros conhecidos
do nosso clube para seus soldados praticassem tiro ao alvo, para que
pudessem nos matar à primeira vista. Felizmente, fiquei oculto nos últimos
anos e perdi as feições de menino e o cabelo na altura dos ombros da minha
adolescência. Aqueles anos loucos que quase me custaram a vida e me
renderam o apelido de ‘Mad Dog’. Logo depois de voltar para Nova York,
corri risco atrás de risco atacando estabelecimentos da Famiglia até que
uma bala raspou minha cabeça e quase acabou com minha vida. Eu
morreria assim que Vitiello tivesse o que merecia, nem um dia antes.
Hoje, estava até usando uma maldita blusa de manga comprida e gola
alta para cobrir minhas tatuagens e cicatrizes. Parecia a porra de um menino
do coral. Mas mesmo assim, fiz questão de manter distância. Os guarda-
costas de Marcella eram tão cautelosos quanto se poderia esperar de
soldados que responderiam a Luca Vitiello se algo acontecesse com sua
preciosa prole. Pior do que minha escolha de roupas foi o Toyota Prius que
Earl havia conseguido para seguir nosso alvo. Sentia falta da minha moto,
da vibração entre minhas coxas, o som, o vento. Dirigir este carro, me fazia
sentir uma idiota. Mas minha camuflagem me dava a chance de seguir o
carro de Marcella de perto, e quando finalmente pararam em frente a uma
butique chique, estacionei alguns carros adiante. Saí do meu Prius apenas
quando um dos guarda-costas abriu a porta traseira para Marcella. A
primeira coisa que vi dela foi uma perna longa e magra de salto alto
vermelho. Até a maldita sola era vermelha.

Quando ela se endireitou, tive que suprimir uma maldição. Essa


garota não precisava de retoque. Ela usava um vestido vermelho de verão
que acentuava sua cintura estreita e bunda redonda e fazia suas pernas
parecerem longas, embora fosse uma mulher pequena. Forcei-me a
continuar olhando as vitrines da loja porque congelei instantaneamente ao
avistar a princesa Vitiello. Seu andar mostrava uma confiança inabalável.
Ela nunca oscilou, apesar de seus saltos ridiculamente altos. Ela andava
pelas ruas como se fosse a dona: sua cabeça erguida, sua expressão fria e
dolorosamente bela. Havia garotas que eram bonitas, havia garotas que
eram lindas e havia garotas que faziam homens e mulheres pararem para
admirá-las de queixo caído. Marcella era a última.

Quando ela desapareceu na boutique, balancei minha cabeça como se


estivesse tentando acordar de seu feitiço. Precisava me concentrar. A
aparência de Marcella era completamente irrelevante para nossa missão. A
única coisa que importava era a proteção insana de Vitiello. Se a tivéssemos
em nossas mãos, seríamos donos dele, e então o bastardo pagaria.

Soltei um suspiro de alívio quando tirei a porra da blusa de gola alta


depois de retornar ao clube naquela noite. Só de boxer, desci até a área do
bar e peguei uma cerveja. Mary Lu saiu do quarto de Gray quando abri
minha porta. Ela usava shorts de cintura alta e uma regata sem sutiã.

Seu rosto se iluminou quando me viu. — Parece que você precisa de


companhia.

Tomei um gole da minha cerveja. Precisava de um corpo feminino


para me distrair de Marcella Vitiello. — E suponho que você queira ser essa
companhia?
Ela andou até mim e passou as unhas pelo meu peito nu, puxando
meu piercing de mamilo enquanto fazia isso. Ela se inclinou como se fosse
me beijar.

— Você acabou de dar um boquete a Gray com essa boca? —


Perguntei com um sorriso.
Ela enrubesceu. — Ele desmaiou de bêbado antes de...

— Não quero saber se meu irmão atirou sua carga em sua garganta,
Lu, — murmurei então abri minha porta. —Nada de beijos, mas estou afim
de um boquete e prometo não desmaiar antes de atirar meu esperma nessa
linda garganta.

Ela riu quando bati em sua bunda e fechei a porta atrás de nós. Lu era
uma de nossas garotas compartilhadas, mas tinha todas as ambições de se
tornar uma old lady. Não minha, isso era certo, no entanto.

Acordei no meio da noite de um sonho, ou talvez pesadelo,


dependendo do ponto de vista. Os últimos resquícios dele ainda giravam em
minha cabeça. Olhos azuis olhando para mim, lábios vermelhos separados
por um grito de êxtase e uma boceta sobre minha boca.
Meus olhos se arregalaram. Porra. Quase podia sentir o gosto. Sonhar
em comer Marcella Vitiello era a porra da última coisa que eu deveria fazer.
Um corpo quente se agitou ao lado do meu, e por um segundo de merda me
perguntei se de alguma forma consegui esquecer o sequestro de Marcella e
a trouxe para a minha cama.
— Mad? — Veio a voz sonolenta de Lu, e meu batimento cardíaco
desacelerou novamente.

— Volte a dormir, — falei rispidamente. Meu pau pulsava pelo


excesso de sangue. A última vez que acordei com uma ereção violenta
como essa era um adolescente.
Lu se curvou em minha direção, sua mão escovando meu pau. —
Quer que eu te chupe?

Sim, merda, mas imaginaria que era Marcella. Isso levaria as coisas
por um caminho muito perigoso. — Não, volte a dormir.

Sua respiração se estabilizou em minutos e continuei olhando para o


teto, ignorando meu pau latejante.
Devia saber que a prole de Luca Vitiello tornaria minha vida um
inferno, mesmo antes de estar em nossas mãos. Seu pai havia assombrado
meus pesadelos por anos. Era justo que agora sua filha assumisse o
controle.
Capítulo 3

Verifiquei meu reflexo uma última vez. Tudo estava perfeito.


Exatamente às quatro da tarde, a campainha tocou. Giovanni nunca se
atrasava. Ele nem se adiantava. Chegava sempre no horário. No começo,
achei seu desejo de agradar a mim, e especialmente ao meu pai, adorável.
Agora tinha que sufocar meu aborrecimento quando ele entrou no saguão
depois que nossa empregada Lora o deixou entrar.

Ele usava uma camisa e calça perfeitamente passadas e seu cabelo


estava no lugar, apesar da tempestade forte lá fora. Desci a escada para
cumprimentá-lo. Quando fiquei na ponta dos pés para beijar seus lábios, ele
rapidamente se esquivou e beijou minha palma, lançando um olhar
cauteloso para Lora, que olhava para qualquer lugar menos para nós.

Eu lhe dei um olhar, não mais tentando mascarar meu aborrecimento.


— Giovanni, meu pai não está em casa e mesmo que estivesse, ele sabe que
somos um casal. Estamos noivos, pelo amor de Deus.

Podia ver que minhas palavras não estavam causando o menor


impacto sobre ele. Seu medo de meu pai era muito grande. Isso não era
novidade e nem mesmo particularmente chocante. Giovanni me deu um de
seus sorrisos suplicantes, que sempre parecia um pouco à beira do
sofrimento. Ele pegou minha mão.

— Vamos subir para o meu quarto, — falei, unindo nossas mãos.

Giovanni hesitou. — Eu não deveria cumprimentar sua mãe primeiro?

Essa era sua tentativa miserável de questionar se minha mãe estava


em casa. — Ela também não está em casa, — brinquei, perdendo a
paciência.

Ele finalmente me seguiu escada acima, mas ainda podia sentir sua
preocupação persistente, e ela acabou surgindo quando chegamos ao
patamar do primeiro andar. — E quanto ao seu irmão? Ele é o dono da casa
quando seu pai não está.

— Meu irmão está no quarto dele, provavelmente jogando Fortnight


ou qualquer outra coisa que o interesse no momento. Ele não se importa se
você vai cumprimenta-lo.

— Mas talvez devêssemos alertá-lo da minha presença.

Eu estava começando a perder a paciência. Estreitando meus olhos,


falei: — Ele sabe que você está aqui e não se importa. Sou a Vitiello mais
velha presente.

— Mas você é...

… uma mulher.

Ele não precisava dizer isso. Só uma mulher e, portanto, totalmente


irrelevante. Sufoquei uma nova onda de frustração.
— Não é como se você fosse um estranho, Giovanni. Você é meu
maldito noivo. — Giovanni odiava quando eu amaldiçoava, ele achava
impróprio e não adequado para a filha de um Capo, e era exatamente por
isso que o fazia para irritá-lo. Ele obviamente não tinha nenhum problema
em me irritar com seu medo de ficar sozinho comigo.

Finalmente nos acomodamos na minha cama depois de outra


discussão, se deveríamos deixar a porta do meu quarto entreaberta. Eu
poderia dizer que Giovanni não estava envolvido em nosso beijo. Sua
língua era como um caracol sem vida na minha boca. Beijá-lo nunca
realmente colocou meu sangue em chamas, mas isso era o coroamento de
tudo. Ele parecia estar a quilômetros de distância. Levantei-me com um
sorriso sedutor e puxei meu vestido pela cabeça, apresentando o novo
conjunto de sutiã e calcinha La Perla que comprei na semana passada na
esperança de que alguém além de mim pudesse vê-lo. Era de renda preta,
revelando a sugestão dos meus mamilos.

Os olhos de Giovanni se arregalaram enquanto passavam por mim e a


esperança explodiu em mim. Talvez estivéssemos realmente chegando a
algum lugar. Voltei para a cama, mas já podia ver a apreensão tomando
conta da expressão de Giovanni como se eu fosse forçá-lo. O beijei e tentei
puxá-lo para baixo, mas ele se apoiou nos braços, levitando sobre mim, uma
expressão de dor no rosto. Senti o calor subir por minhas bochechas com
sua rejeição. Nem estava claro por que ainda me sentia assim quando seu
afastamento se tornou uma rotina dolorosa.

Giovanni balançou a cabeça. — Não posso Marcella. Seu pai me


mataria se descobrisse.

— Mas meu pai não está aqui, — resmunguei.


E ainda assim estava. Meu pai sempre estava no cômodo quando eu
estava sozinha com Giovanni, não fisicamente. Ele não precisava estar
porque estava na cabeça de Giovanni. Todo mundo tinha medo do meu pai,
até mesmo meu noivo. A sombra do meu pai me seguia aonde quer que
fosse. Amava minha família mais do que tudo, mas em momentos como
este, desejava não ser Marcella Vitiello. Mesmo que meu pai me permitisse
namorar, apenas sua existência reforçava as velhas tradições às quais
tecnicamente eu não estava mais presa. Ainda deveria permanecer virgem
até minha noite de núpcias, mas tudo o mais entre Giovanni e eu era
problema nosso. Claro, seria, se Giovanni tivesse coragem de me tocar.

Empurrei Giovanni para longe e ele cedeu, recostando-se e afundando


na cabeceira da cama. Ele parecia querer pular da cama se não tivesse medo
de me ofender. Medo de me ofender, medo do meu pai. Sempre com medo.

— Qual é o seu problema? Estamos namorando há mais de dois anos


e você ainda não chegou nem perto da minha calcinha.

Não podia acreditar que estava tendo essa discussão. Não podia
acreditar que estava praticamente implorando ao meu noivo para transar.
Sempre que minhas amigas falavam sobre como manipulavam seus
namorados com sexo, sentia uma pontada de inveja porque Giovanni
provavelmente choraria de alívio se eu parasse de importuná-lo por sexo.
Eu me sentia indesejável. Nem me atrevia a falar com minhas amigas sobre
isso e, em vez disso, fingia que era eu quem queria esperar o casamento
como a filha boa e virtuosa do Capo que todos queriam que eu fosse.

— Marci... — Giovanni começou em um tom que sugeria que eu era


uma garotinha que precisava de repreensão. —Você sabe como são as
coisas.
Oh, eu sabia. Não se tratava de sociedade. Era sobre seu medo de
papai.

Estava farta disso, farta de ser desejada de longe. — Não posso mais
fazer isso. Três pessoas é demais em um relacionamento.

Peguei meu vestido e coloquei com raiva sobre a minha cabeça, sem
me importar quando o ouvi rasgar. Custou uma fortuna, mas podia comprar
um novo. Podia ter qualquer coisa que o dinheiro pudesse comprar e até
coisas além disso, se meu pai puxasse as cordas certas. Todos me tratavam
como uma princesa. A princesa mimada de Nova York. Sabia o apelido
carregado de sarcasmo que era sussurrado desagradavelmente em nossos
círculos. Eu não servia para nada além de comprar sapatos e ser bonita.
Destacava-me em ambos, é claro, mas também era a melhor da classe e
tinha objetivos na vida que nunca importariam.

— Eu nunca... — Giovanni disse, chocado, enquanto se arrastava


atrás de mim.

— Traiu, não, você não o fez.


Parte de mim gostaria que ele tivesse. Então poderia largá-lo e pagar
na mesma moeda, obter uma vingança que poderia me manter ocupada, mas
como estava, sua expressão confusa me fez sentir culpada. — Meu pai
sempre foi e sempre fará parte dessa relação. Ele lançará sua sombra sobre
nosso casamento também. Estou cansada disso. Você quer se casar com ele
ou comigo?

Giovanni me encarou como se eu tivesse duas cabeças. Isso me


deixou louca. Não era culpa dele. Era minha por nunca estar feliz com o
que tenho, por querer um amor que queima tão forte que explodiria a
sombra de papai. Talvez esse amor não existisse, mas não estava pronta
para engolir a pílula amarga da aceitação ainda.

— Escute, Marci, acalme-se. Você sabe que adoro o chão que você
pisa. Eu te adoro, te honro. Serei o melhor marido que puder ser para você.

Ele me adorava como uma princesa inatingível. Cada beijo, cada


toque era encharcado de cuidado, de respeito, de medo... medo do que meu
pai faria se Giovanni desagradasse a mim ou a ele. Eu odiava isso.

No início, sua gentileza e moderação eram cativantes. Ele sabia que


seria meu primeiro beijo e levou três meses para me beijar. Tive que roubar
o beijo dele. Todos os outros passos em nosso relacionamento físico foram
iniciados por mim também, e não havia muitos para contar. Às vezes sentia
como se estivesse me forçando a ele. Eu, que fazia caras quase quebrar o
pescoço para me olhar.

Se fosse a algum lugar onde ninguém me conhecia, poderia ter um


cara diferente todas as noites. Mas não queria fugir. Não queria esconder
quem eu era, quem era meu pai. Queria alguém que me quisesse tanto que
arriscaria a ira de meu pai. Giovanni não era essa pessoa. Percebi isso há
muito tempo, mas me apeguei a esse relacionamento, até disse sim ao seu
pedido de casamento, quando mesmo naquela época sabia que ele não me
daria o que queria. Dois anos, três meses e quatro dias. Outro dia não seria
adicionado ao nosso relacionamento. Dez dias depois do nosso noivado,
tudo acabou. Já podia ver o alvoroço que essa notícia causaria.

— Acabou, Giovanni. Sinto muito. Simplesmente não posso mais


fazer isso.

Eu me virei e saí correndo, mas Giovanni me seguiu. — Marci, você


não está falando sério! Seu pai ficará furioso.
Virei-me para ele. — Meu pai? E você? E quanto a mim? — O
empurrei e fui embora.

Os passos de Giovanni soaram atrás de mim e ele me alcançou na


escada. Seus dedos se fecharam em volta do meu pulso. — Marcella, — sua
voz era baixa, frenética. —Você não pode fazer isso. Devemos nos casar
assim que você se formar.

Em dois anos, teria meu diploma de marketing. A mera ideia de


continuar nosso relacionamento da mesma maneira por tanto tempo fez meu
estômago revirar. Não podia mais fazer isso.

Giovanni balançou a cabeça. — Vamos, Marci. Podemos até casar


mais cedo, então poderemos fazer o que você quiser.

O que eu quisesse? Uma nova onda de sentimentos indesejáveis


tomou conta de mim. — Lamento que seja um fardo para você ter contato
físico comigo.
— Não é, claro que não. Eu te desejo. Você é uma mulher linda e mal
posso esperar para fazer amor com você.

Ele beijou minha mão, mas não senti nada, e a ideia de fazer amor
com Giovanni parecia menos atraente do que antes. Os olhos de Giovanni
me imploravam para reconsiderar, mas me agarrei à minha resolução
mesmo quando me sentia culpada. Só pioraria se terminasse mais tarde, e
terminaria eventualmente. Balancei a cabeça.

O aperto de Giovanni em meu pulso aumentou. Não era doloroso


ainda, mas perto. Ele se aproximou ainda mais. — Você conhece nossas
tradições. A Famiglia ainda é conservadora. Se você não se casar comigo
depois de me namorar por dois anos, perderá sua honra.
— Nós não fizemos nada, exceto beijar, algumas apalpadelas nos
seios e uma escovada na virilha que forcei em você.

— Mas as pessoas vão achar que sim.


Não pude acreditar em sua audácia. — Isso é uma ameaça? —
Assobiei, pronta para bater nele.

Ele rapidamente balançou a cabeça. — Não, claro que não! Só estou


preocupado com a sua reputação, só isso.

Quão atencioso da parte dele. — Amo dormiu com metade de Nova


York. Se os conservadores querem atacar alguém por suas práticas sexuais,
deveriam escolhê-lo.

— Ele é um homem, você vai ser arruinada.

— Foda-se. — Pausei. — Oh, quase esqueci que você não pode.


Provavelmente cagaria nas calças de medo do meu pai. Então vá embora.
— Tentei me livrar de seu aperto, mas ele não me soltou.

Não tínhamos feito metade das coisas que queria, porque Giovanni
não queria arriscar, e agora se atrevia a me chantagear com tudo o que não
fizemos, mas poderíamos ter feito? Idiota.
Algo se moveu na sala de estar e Amo se levantou do sofá onde
aparentemente estava ocupado com seu telefone e lentamente veio em nossa
direção.

Estreitei meus olhos para Giovanni. — Solte-me agora mesmo, ou


juro que você vai se arrepender.

Seus olhos dispararam para a porta onde meu irmão estava se


elevando com um olhar assassino. Giovanni me soltou como se tivesse se
queimado. — Tenho que ir, — ele disse rapidamente. — Ligarei para você
amanhã, quando estiver mais calma.

Meus olhos se arregalaram de fúria. — Não se atreva. Nós


terminamos.

Amo se aproximou. — Você deve sair agora.

Giovanni se virou e seguiu em direção à porta da frente. Amo o


seguiu e fechou a porta. Então voltou na minha direção. Eu estava no último
degrau e ele ainda era mais alto do que eu. Seus olhos queimavam de
proteção. — O que aconteceu? Você quer que eu vá atrás dele e o mate?

Quando outros irmãos diziam essas palavras às irmãs em um ataque


de proteção, era uma figura de linguagem. Amo falava mortalmente sério.
Se eu pedisse, ele iria atrás do meu ex noivo e acabaria com sua vida.
Giovanni me irritou, mas poderia encontrar seu feliz para sempre com outra
pessoa, no que me dizia respeito.
— Ele te forçou a fazer algo que você não queria fazer?

Claro, ele acharia que era esse o caso. Ninguém acreditaria que
precisava implorar para um homem me tocar. — Não, — disparei, sentindo
um peso traiçoeiro na minha garganta e olhos. — Giovanni é o cachorro de
colo perfeito do papai, o cavalheiro contido.

Amo me lançou um olhar que deixou claro que se preocupava com


minha sanidade.

— Se uma garota deitasse seminua na sua frente, você diria não a ela?

Os lábios de Amo se contraíram de desconforto. — Provavelmente


não. Mas realmente não quero imaginá-la nua ou fazendo sexo. Se papai
soubesse, mataria Giovanni só por pensar nisso.
— Por quê? Giovanni foi um cãozinho de estimação bem treinado e
não me desonrou. — Rangi meus dentes contra a sensação de calor em
meus olhos. Não choraria por causa do Giovanni.

Por um tempo, tive certeza de que o amava, mas agora percebi que
queria amá-lo, amei a ideia de amá-lo. Meu alívio por ter acabado com isso
era grande demais para um amor verdadeiro. No entanto, a tristeza também
se instalou dentro de mim. Tristeza pelo tempo perdido ou um futuro
perdido, não tinha certeza. Achei que poderia forçar o amor, podia recriar o
que mamãe e papai tinham por pura força de vontade, mas falhei.
— Preciso pensar, — falei e me virei para voltar ao meu quarto. Amo
era um ótimo irmão, mas conversar sobre relacionamentos com ele era
discutível.

No momento em que entrei no meu quarto, meus olhos pousaram na


moldura da minha mesa de cabeceira. Tinha uma foto minha e de Giovanni
em nossa festa de noivado. Giovanni estava radiante, mas meu rosto
parecia... estranho. Nunca tinha percebido isso antes, mas eu não parecia
uma mulher apaixonada por seu noivo. Parecia uma mulher cumprindo seu
dever.

Fui até minha cabeceira e virei a moldura. Olhar para esta foto não me
ajudaria a limpar a cabeça.

Senti-me um pouco perdida enquanto estava no meu quarto. Cada


momento que não passei com minha família, malhando ou na faculdade foi
dedicado a Giovanni. Agora isso acabou. Não era fácil encontrar alguém em
quem confiar, para amar, para estar, se você fosse eu. Conhecia Giovanni há
muito tempo e ele fazia parte da minha vida desde a infância. Como filho de
um dos capitães de papai, sempre íamos aos mesmos eventos sociais.
Não queria pensar nisso. Pegando meu iPad, me aconcheguei no
recanto da minha ampla janela e cliquei em meus sites de compras
favoritos. Mas mesmo isso não funcionou, então peguei minha bolsa e desci
até o escritório dos guarda-costas no prédio adjacente para lhes dizer que
queria fazer compras.

Duas horas depois, voltei para casa com uma dúzia de sacolas. As
deixei cair sem cerimônia no chão. Agora que a corrida às compras tinha
acabado, um vazio familiar se espalhou em meu peito. Afastando a
sensação, peguei as sacolas mais próximas e as abri. Coloquei o vestido
Max Mara e tirei a caixa de sapatos da outra sacola.
Passos soaram e Amo apareceu. Ele não disse nada por vários
momentos parando com os braços cruzados na porta, os músculos salientes.

Ergui minhas sobrancelhas.

— Quando outras garotas são largadas, elas choram muito. Você gasta
uma fortuna em roupas.

Meu peito se apertou. Quase chorei, mas cutucaria meu olho com
meus estiletes antes de deixar isso acontecer. — Não fui largada, — falei,
deslizando meus novos Louboutins de couro preto. — Garotas como eu não
são largadas.

Giovanni nunca teria me largado. O problema era que não tinha


certeza se o motivo disso era o medo de meu pai ou sua adoração por mim.
Tentei relembrar nossos bons momentos, mas olhando para trás, nenhum
deles teve a profundidade emocional que eu ansiava.

— Ainda posso matá-lo, sabe. Não seria nenhum problema.


Amo estava tentando soar como o papai, mas não estava conseguindo.
Ainda não.

Endireitei-me e me virei para mostrar meu vestido novo para Amo. —


O que você acha?
Ele deu de ombros, mas seus olhos permaneceram preocupados. —
Parece bom.

— Bom? — Perguntei. — Quero parecer gostosa.

Amo ergueu uma sobrancelha. — Você sabe muito bem qual é sua
aparência, e não vou chamar minha irmã de gostosa.

— Quero sair para dançar.

Amo balançou a cabeça. — Mamãe vai me matar se reprovar em


outro teste de matemática. — Amo havia reprovado em matemática no ano
passado, e apenas a reputação de papai o salvou. Agora mamãe o obrigava a
estudar e fazer testes de matemática mesmo no verão.

Revirando os olhos, caminhei até ele e inclinei minha cabeça para


trás. — Mesmo? Prefere matemática a festas?
Amo suspirou. — Alguma das suas amigas vai estar lá?

— Metade delas te odeia porque as largou. E a outra metade sente


tesão por você, então te manterei bem longe delas. — Sem mencionar que
nenhuma delas sabia da minha separação ainda e, por agora, não tinha
intenção de mudar isso.

— Então estou fora.

Fiz uma cara suplicante. — Por favor, Amo. Você sabe que só posso
sair quando você está comigo. Preciso de uma distração.
Amo fechou os olhos, rosnando. — Porra. Realmente não sei como
Giovanni conseguia te dizer não quando você faz essa cara.

Abri um sorriso para ele, sabendo que tinha vencido. Ele, como papai,
tinha dificuldade em me dizer não. — Ele estava muito ocupado se
preocupando em todas as maneiras que papai poderia matá-lo.
Amo riu enquanto pegava o telefone, provavelmente para pedir a
aprovação dos guarda-costas. — Sim. — O sorriso sumiu. — Tem certeza
que está bem?

Empurrei seu peito. Ele não se mexeu. — Estou bem. — Joguei meu
cabelo para trás. — Agora vamos mostrar à população masculina de Nova
York o que eles nunca terão.

— Você é tão vaidosa.

— Diz o Sr. Vaidade.

— Quando você vai contar para a mamãe e o papai?

Parei. Essa era uma conversa pela qual não estava ansiosa. Não
porque me preocupasse que me obrigassem a reconsiderar minha decisão.
Mas não queria lhes explicar minhas razões, e eles certamente pediriam
uma explicação. Nossos círculos certamente fariam perguntas e, se eu não
desse respostas satisfatórias, começariam a espalhar boatos. Provavelmente
fariam isso de qualquer maneira. As pessoas procuravam um escândalo,
principalmente no que dizia respeito a mim. Eu tinha mais inimigos do que
apoiadores.
— Amanhã de manhã, quando eles voltarem.

Mamãe e papai tinham um encontro semanal, que passavam em um


hotel. Valerio estava com tia Gianna e tio Matteo nesse ínterim,
provavelmente fazendo nada de bom com nossa prima Isabella, e Amo e eu
tínhamos a casa só para nós, e os guarda costas.

— Conseguimos o sinal verde dos guarda-costas?


Amo assentiu, erguendo os olhos do telefone. — Podemos ir a um dos
clubes da Famiglia.

Isso era o que eu esperava. Amo e eu tínhamos posto os pés apenas


uma vez dentro de um clube da Bratva e papai perdeu completamente a
cabeça.

— Então vamos nos preparar. Preciso de uma distração.

O clube era frequentado por muitas pessoas de nossos círculos, então


Amo e eu estávamos sob escrutínio no segundo em que entramos. Mas
ambos estávamos acostumados a isso, então ignoramos a atenção constante.
Ou pelo menos fingimos fazer isso. Desde muito cedo, cada um de nossos
passos era monitorado e por isso aprendemos a manter as aparências em
público. Sem crises ou maquiagem borrada. Frequentemente, os paparazzi
nos seguiam. E não queria esse tipo de foto minha no jornal. Isso traria má
imagem a minha família.
Amo e eu seguimos em direção a um dos camarotes VIP com vista
para a pista de dança. Como papai era o dono do lugar, ninguém se
importava se tínhamos idade suficiente para beber e não estávamos
limitados à exigência mínima de mil dólares em bebidas por noite, mas na
maioria das vezes, Amo e eu facilmente superávamos isso com nossos
amigos. Agora que estávamos sozinhos, isso não aconteceria. Beber uma
garrafa Magnum de Dom Perignon sozinha ou com seu irmão mais novo
depois de um rompimento era muito triste. Verifiquei meu telefone
novamente. Perguntei a Maribel e Constance, minhas duas amigas mais
próximos da faculdade, se queriam se juntar a nós, mas elas já tinham
outros planos porque esta era para ser minha noite de encontro com
Giovanni. Ignorei suas perguntas por que de repente estava livre para passar
a noite com elas e desliguei meu telefone.

Só queria esquecer o que tinha acontecido e quem era por alguns


momentos, mas vendo todos os olhares de julgamento sobre mim, pelo
menos o último não aconteceria.

Mantendo minha cabeça erguida, mostrei meu rosto perfeito de


princesa mimada, dando-lhes o que esperavam. Eles me odiavam porque
achavam que eu tinha tudo quando as coisas que mais queria estavam
sempre fora do meu alcance. O dinheiro poderia comprar muitas coisas,
mas nunca felicidade ou amor. Caramba, não conseguia nem escolher a
carreira que queria.

Papai nunca me permitiria fazer parte do negócio, fazer o que nasci


para fazer e seguir o caminho que corria no meu sangue. Joguei meu cabelo
por cima do ombro e pedi uma garrafa de champanhe. Minha vida era cheia
de todas as riquezas que o dinheiro podia comprar e outras garotas me
odiavam por isso. Perguntei-me se ainda me odiariam se soubessem das
algemas invisíveis em torno de meus pulsos. Às vezes, só queria me livrar
delas, mas para fazer isso, teria que deixar a vida que conhecia para trás, e
pior: minha família.
Capítulo 4

Passei uma eternidade me preparando para uma versão diferente de


mim mesmo que atenderia aos requisitos de entrada no clube de dança. Earl
estava aborrecido por eu seguir Marcella dentro de um dos clubes de
Vitiello, preocupado com o perigo, ou provavelmente apenas que nosso
plano fosse detectado. Mas escondido bem embaixo do nariz do inimigo era
um dos melhores lugares para se estar. Luca nunca esperaria que um
membro do Tartarus MC colocasse os pés dentro de um de seus
estabelecimentos. O idiota era muito seguro de si. Para garantir o meu
sucesso, escolhi Mary Lu para me acompanhar. Ela sabia se portar muito
bem e fingir que pertencia a uma boate chique de Manhattan. Caras com
companhia geralmente têm acesso mais fácil às boates.

— Pegue minha mão, — falei quando entramos na fila, e Mary Lu o


fez imediatamente, parecendo como se eu estivesse lhe dando o maior
presente de todos. Certamente não doeu que eu tivesse lhe dado algumas
centenas de dólares para comprar roupas para que ela parecesse uma garota
de Manhattan.
Quando chegamos a um dos babuínos enormes que Vitiello escolheu
como segurança, ele me deu uma olhada, em seguida, verificou Mary Lu e
fez sinal para que entrássemos. Mary Lu agarrou-se com força à minha mão
enquanto entrávamos no clube. Este não era o meu público habitual, nem a
música que eu gostava.

A batida monótona e a multidão se mexendo no ritmo me fez ter


vontade de bater com uma marreta na têmpora. Rapidamente examinei o
clube, mas não demorei muito para localizar meu alvo. Ela e seu irmão
tronavam bem acima da multidão mundana em seu camarote VIP, olhando
para seus súditos como o rei e a rainha de Nova York que achavam que
eram.

— Vamos dançar—, Mary Lu gritou.

Dei-lhe uma olhada. Estávamos aqui a negócios, não por diversão.

— Precisamos nos misturar, — ela me lembrou, como se se


importasse com nossa missão, não que soubesse exatamente por que
estávamos aqui. Earl não confiava nas garotas do clube para manter a boca
fechada. Mas ela tinha razão. Precisávamos nos misturar.

Como de costume, os Vitiellos estavam cercados por uma comitiva de


guarda-costas. Misturar-se não era seu estilo.

O guarda-costas na escada que conduzia ao camarote me deu uma


rápida olhada, mas seu rosto não mostrou nenhum reconhecimento. Com a
camisa passada e o cabelo penteado para trás, eu parecia muito um dos
corretores de Wall Street que frequentavam os clubes de Vitiello para enfiar
cocaína no nariz.

Dancei com Mary Lu, mas meu olhar continuava subindo para o
camarote VIP. Infelizmente, o ângulo não era o melhor, então mal consegui
distinguir Marcella Vitiello. A principal razão pela qual sabia que ela estava
lá em cima eram os muitos olhares curiosos das pessoas na pista de dança.

— Vamos para o bar, — gritei, cansado de dançar.

— Vou ao banheiro, — Mary Lu disse, e balancei a cabeça


distraidamente porque Marcella estava indo em direção à escada que descia
para o andar principal.

Várias pessoas esticaram a cabeça para ver a princesa mimada de


Nova York enquanto ela descia as escadas em um vestido excitante. Meus
olhos estavam grudados nela enquanto ela se dirigia para a pista de dança
no meio da multidão que se abria. Ela usava saltos que faziam minha
cabeça girar. Altos e pontudos, mas dançava com eles como se fossem tênis.
Cada movimento seu, cada movimento do seu cabelo, até mesmo cada
batida de seus cílios estava em perfeita sincronia com a música, como se
tivesse passado meses aperfeiçoando uma coreografia. Marcella Vitiello era
pura perfeição. Ela sabia disso, e todos ao seu redor admitiam isso.

E a desprezava por isso. Ela vivia uma vida mimada, sem privações.
Nunca sofreu como eu. Seu pai a colocou em um trono, fez dela uma
princesa sem nenhuma conquista própria. Trabalho árduo, dor, sacrifício
não significava nada para a princesa de Nova York.

Sua queda seria íngreme. Porra. Eu a faria cair sobre seu nariz
arrogante.

Deixei meu olhar vagar ao redor do clube lotado. Além do irmão dela,
um garoto cuja semelhança com o pai me dava vontade de cortar sua
garganta. Tinha três guarda-costas com ela. Pela primeira vez, seu noivo
cachorrinho não estava ao seu lado. Problemas no paraíso?
Sorri contra a minha garrafa de cerveja e tomei outro gole. Eu deveria
ir embora. Mesmo disfarçado, o risco de ser reconhecido por um dos
soldados da Famiglia era muito alto. Isso estragaria tudo, mas era difícil me
desvencilhar.

Fiquei onde estava por mais alguns minutos e a observei dançar. Essa
garota não precisava de guarda-costas ou de seu irmão gigante para manter
todos à distância. Seus frios olhos azuis sugadores de alma construíam
paredes mais altas do que as dos imperadores chineses.

Outra jogada dos cabelos pretos e de repente as orbes azuis travaram


nas minhas, por menos de um segundo, mas meu pulso acelerou. Foda-se. A
única vez que me senti preso num olhar foi no pai dela, mas de uma
maneira muito diferente. A mesa logo viraria. Sorri. Suas sobrancelhas
franziram e desviei meu olhar. Depois de deixar a garrafa e o dinheiro no
bar, encontrei Mary Lu e saí do clube com ela.

— O que deu em você, Mad? Parece que o diabo está te perseguindo,


— Mary Lu disse enquanto tropeçava atrás de mim em seus saltos, não
exibindo nada da graça que Marcella exibia com facilidade.

Entrei no maldito Prius que Earl me forçou a usar novamente e


esperei Mary Lu entrar também antes de pisar no acelerador. — Vamos
voltar para o clube. Tive o bastante.

Ela me lançou um olhar curioso, mas me concentrei na rua e,


ocasionalmente, no espelho retrovisor enquanto nos apressávamos.
Marcella Vitiello tinha olhos que podiam congelar o sangue nas veias de
qualquer pessoa enquanto o resto de seu corpo tinha o efeito oposto.

Naquela noite foi a segunda vez que sonhei com ela e, daquele dia em
diante, ela assombraria minhas noites.
Normalmente, dançar sempre fazia maravilhas ao meu humor. Era
meu lugar feliz pessoal, o remédio escolhido quando me sentia triste, mas
hoje não surtiu o efeito desejado.

Eu gostava que as coisas fossem do meu jeito, seguir os planos que


havia traçado meticulosamente para o meu futuro. Até agora, todos os meus
planos haviam funcionado. Terminei o colegial como a melhor da classe, e
fui para a universidade que escolhi. Quando começava algo, sempre
terminava e quando terminava fazia como uma das melhores. Romper com
Giovanni, mesmo que fosse a escolha certa, parecia um fracasso, como
admitir a derrota da minha parte. Eu desisti.

— Por que você está fazendo essa cara? Achei que estávamos aqui
para nos divertir, — gritou Amo sobre o som da música.

Meus olhos vasculharam o clube por algo que chamasse minha


atenção e me distraísse dos meus pensamentos errantes. E então localizei o
cara que parecia completamente deslocado neste clube chique de
Manhattan, apesar da roupa padrão de camisa social e calça escura. Algo
em seus olhos me disse que ele desprezava estar aqui, como se estivesse
fingindo ser outra pessoa. Conhecia esse sentimento, mas ninguém jamais
suspeitaria de nada. Aperfeiçoei minha máscara ao longo dos anos. Talvez
ele também, eventualmente, ou simplesmente parasse de se importar com o
que as pessoas pensavam.

Ele estava encostado no bar, uma garrafa de cerveja em uma das


mãos. Meu instinto me disse que ele não se importava com a aprovação de
ninguém, o que tornou sua escolha de roupa ainda mais estranha. Ele
provavelmente não daria a mínima se meu pai ficasse bravo. Gostaria de
poder ser assim, não dar a mínima para o que as pessoas pensavam de mim,
mas isso era um luxo que não podia me dar, praticamente o único. O cara
encontrou meu olhar e seu sorriso em torno da borda da garrafa tornou-se
quase presunçoso. Minha pele começou a formigar de uma forma traiçoeira,
um sinal de perigo iminente, mas meus guarda-costas pareciam
imperturbáveis e então ignorei a reação do meu corpo ao cara, mas não
conseguia parar de olhar em seus olhos. Algo neles arrepiou todo o meu
corpo. Muitas pessoas não gostavam de mim, mas seus sentimentos em
relação a mim pareciam mais sombrios e profundos.
Ele se virou abruptamente e desapareceu na multidão dançante como
um fantasma. Às vezes, gostaria de poder fazer o mesmo, simplesmente
desaparecer nas sombras, no anonimato por um tempo. Olhei para meus
guarda-costas mais uma vez, mas eles nem mesmo prestavam atenção no
cara. E Amo? Ele estava dançando com duas garotas pelo menos cinco anos
mais velhas que ele, que pareciam prestes a arrancar suas roupas.

Revirei os olhos para ele enquanto continuava dançando sozinha, o


habitual um metro de proibição ao meu redor. Os homens não se
aproximavam de mim por medo do meu pai e as meninas mantinham
distância para que pudessem falar mal de mim. Amo acenou para as duas
meninas e dançou na minha direção.
— Você não precisa me fazer companhia como se eu fosse uma
perdedora, — murmurei, mas fiquei feliz com sua presença, que dizia muito
sobre meu dia e minha vida em geral. Ter que contar com seu irmão mais
novo para dançar com você era triste em todos os aspectos.

Amo encolheu os ombros. — Você é a única pessoa com quem posso


ser eu mesmo, perdedora ou não.

Revirei os olhos novamente, mas minha garganta travou de emoção.


— Cale a boca e dance!

Eram quase duas da manhã quando Amo e eu arrastamos nossas


bundas cansadas de volta para casa. Apesar dos três coquetéis de
champanhe que tomei durante a noite, me senti desapontadamente sóbria
assim que me acomodei na cama. Todos os pensamentos sobre Giovanni e
meu futuro agora frustrantemente não planejado voltaram com força total.

Lembrei-me do cara que desapareceu nas sombras e como naquele


momento quis fazer o mesmo, mas não era alguém que fugia. Mesmo que
essa vida fosse uma droga, era muito grata aos meus pais pelo que faziam
por mim.

Apesar de insistir com Amo que não estava nervosa por falar com
mamãe e papai, meu estômago revirou enquanto eu descia as escadas pela
manhã. Já podia ouvir mamãe e papai conversando, e o tilintar ocasional de
talheres.
Quando entrei na cozinha, os dois ergueram os olhos. Mamãe sorriu
brilhantemente, parecendo como se ela e papai tivessem acabado de chegar
da lua de mel. — Como foi a noite de encontro? — Perguntei
desnecessariamente.

— Maravilhosa como sempre, — mamãe disse, dando a papai um


daqueles sorrisos secretos.
Seu rosto sempre se encheu de tanta ternura que percebi por que
nunca poderia dar certo com Giovanni. Estava lutando pelo que mamãe e
papai tinham, mas enquanto Giovanni adorava o chão em que eu pisava por
causa de quem eu era, de quem era meu pai, nunca me olhou como se
andasse no fogo por mim. Papai não teria deixado ninguém lhe dizer como
amar mamãe. Ele definitivamente não teria medo do pai dela.

— Marcella? — Papai perguntou, a preocupação tingindo sua voz e


suas sobrancelhas escuras franzindo.

Passos soaram atrás de mim e Amo entrou, com calça de moletom e


nada mais, parecendo a morte quente e apertando os olhos contra a luz do
sol. A sombra da barba em suas bochechas e queixo ainda me
desconcertava, embora seus pelos faciais estivessem crescendo há um
tempo.

Caso de mamãe e papai ainda não soubessem sobre nossa saída para
dançar na boate, saberiam agora. Amo deu a mais leve sugestão de um
aceno de cabeça enquanto se jogava em uma cadeira com um gemido.

A expressão de papai tornou-se severa. — O que te falei sobre ficar


bêbado?

— Espero que estude para os testes de matemática, mesmo que esteja


com dor de cabeça, — acrescentou a mãe.
— Foi minha culpa, — falei, porque Amo não parecia estar em
condições de se defender e não era justo que tivesse problemas por minha
causa.

Papai se recostou na cadeira com um olhar de expectativa. —


Terminei com Giovanni, — falei.
Os olhos da mamãe se arregalaram e ela saltou imediatamente e
correu até mim. — Oh, Marci, sinto muito. O que aconteceu? — Ela tocou
minha bochecha. Eu era cerca de um centímetro mais alta que mamãe, mas
ela ainda conseguia fazer com que me sentisse cercada por seu conforto.

Papai, entretanto, parecia estar prestes a caçar Giovanni. — O que


aconteceu? — Suas palavras, mesmo que fossem iguais às de mamãe,
tinham um significado muito diferente. Percebi que ele já estava
imaginando todas as coisas horríveis que Giovanni poderia ter feito para me
aborrecer e como fazê-lo pagar dez vezes mais por sua transgressão. — O
que ele fez?

— Nada, — falei com firmeza. Esse era o problema. Não poderia


dizer a papai os motivos exatos pelos quais tinha rompido com Giovanni,
especialmente porque eram os motivos pelos quais papai provavelmente o
escolheu. Eram definitivamente os motivos pelos quais papai me permitiu
namorar Giovanni em primeiro lugar. Papai podia ler as pessoas e
provavelmente cheirou a um quilômetro de distância que Giovanni era
covarde demais para me tocar.
Papai olhou para Amo como se esperasse que meu irmão provasse
que minhas palavras estavam erradas, mas Amo apenas deu de ombros
como se não tivesse a menor ideia e preferisse morrer a participar dessa
conversa mais um momento sofrendo de ressaca.
Os olhos da mamãe suavizaram ainda mais. — Talvez você e
Giovanni possam se reconciliar?

— Não, — falei imediatamente. Se voltasse com Giovanni, seria


apenas por hábito e porque odiava a perspectiva de um futuro incerto, mas
esses não eram motivos bons o suficiente para continuar um
relacionamento. — Simplesmente percebi que não o amo. Não quero me
contentar com menos do que vocês têm.
Mamãe sorriu suavemente. — Às vezes o amor leva tempo. Seu pai e
eu não estávamos apaixonados quando nos casamos.

— Eu sei. Vocês nem mesmo escolheram se casar, mas não


demoraram anos para se amarem. Giovanni e eu estamos juntos há mais de
dois anos, mas não o amo e nunca amei.

Papai finalmente se levantou da cadeira também. — Deve ter


acontecido algo que te fez perceber isso.

— Não aconteceu nada, pai. Honestamente. Percebi isso há um


tempo, mas não queria desistir muito rapidamente, especialmente sabendo
que poderia refletir muito sobre você e mamãe se rompesse o
relacionamento e, pior, o nosso noivado. A Famiglia ainda está presa na
Idade Média em alguns aspectos.

Mamãe assentiu, mas papai ainda me olhava como se esperasse que


lhe desse uma resposta mais satisfatória à sua pergunta. — Vou dar uma
palavrinha com o Giovanni.

Meus olhos se arregalaram em alarme, e mamãe avisou: — Luca, essa


é a decisão de Marcella.
— A decisão é dela, mas ainda devo falar com Giovanni e ver o que
ele tem a dizer.

— Em sua defesa, você quer dizer, — acrescentei com raiva. Amava


meu pai e sua atitude protetora, mas às vezes ia longe demais.
— É meu trabalho garantir que você não seja prejudicada.

Perdi a calma e gritei. — Mas você é a razão pela qual não deu certo!
Portanto, se quiser encontrar uma resposta para sua pergunta, precisa se
olhar no espelho.

— Cuidado com o tom, — papai disse com firmeza, então franziu a


testa. — Agora explique. Apoiei seu relacionamento com Giovanni. Não
foi? — Ele perguntou, virando-se para a mamãe.
— Depois de seus ressentimentos iniciais, você foi a favor do
relacionamento, sim, — mamãe disse neutra.

Amo reprimiu um sorriso, mas estava longe de estar achando graça.

— Você era a favor de Giovanni pela facilidade com que podia


controlá-lo. Ele estava sempre ansioso por sua aprovação. Estava certo de
que ele nunca faria nada que você não quisesse.

— Não vejo problema.

— Claro que você não vê. Mas o que eu quero deve importar em um
relacionamento e não seus desejos!

— Sou quem sou, Marcella. Minha reputação vai além de nossos


círculos. Poucos homens têm a coragem de desconsiderar meus desejos.
Isso é algo que você terá que aceitar. Estou lhe dando mais liberdade do que
a maioria das garotas dos nossos círculos tem, muito mais liberdade do que
sua mãe já teve, mas você sempre estará sujeita a certas regras.
— Então acho que terei que encontrar alguém que tenha bolas para
enfrentá-lo, — falei.

— Linguagem, — disse a mãe.


Balancei a cabeça e me afastei.

— O café da manhã não acabou, — papai me lembrou, mas o ignorei.

Fui direto para o meu quarto e me joguei na cama, deixando escapar


um grito de frustração. Quem teria coragem de ir contra a vontade de papai?
Giovanni e todos os outros soldados da Famiglia até tentavam antecipar os
desejos não expressos de papai. Um homem assim nunca me faria feliz.
Mas os caras normais que conheci na faculdade eram ainda piores. Eles mal
olhavam na minha direção porque temiam que papai os perseguisse no
estilo Al Capone. Eles não sabiam nenhum fato real sobre a Famiglia, mas
até mesmo imaginar era o suficiente para mantê-los à distância. Se eles
realmente soubessem do que papai era capaz, fugiriam chorando. Não,
nunca poderia respeitar um homem assim.
Encarei o teto sem expressão. Talvez alguém de outra família
mafiosa. Mas não tinha absolutamente nenhuma intenção de me mudar para
a Costa Oeste, nem de fazer parte da Camorra. Eles eram loucos demais
para o meu gosto. E alguém da Outfit? Poderia muito bem colocar uma bala
no coração de papai.

Acho que teria que ficar solteira indefinidamente.

Uma batida suave soou e mamãe entrou. — Posso falar com você?
Balancei a cabeça e me sentei. Não queria ficar deprimida na cama
como uma criança de cinco anos. Mamãe se sentou no colchão ao meu lado
e me deu um sorriso compreensivo. Ela sempre foi compreensiva. Suponho
que tenha aprendido essa característica em seu casamento com papai.

— Você está bem?

— Sim, — falei. Não estava triste por perder Giovanni, não mesmo.
— Só estou triste por não ter terminado as coisas antes.

Mamãe inclinou a cabeça. — Há algo que você queira me dizer que


não pode falar na frente do seu pai?

Ri. — Giovanni não fez nada, então não tenho que protegê-lo. Papai
provavelmente lhe daria elogios por ser um cavalheiro tão perfeito.
Mamãe mordeu o lábio, obviamente lutando contra a diversão.

— Vá em frente, ria. Sinto-me motivo de chacota de qualquer


maneira, — murmurei. — É tão errado querer tudo? Amor, paixão e alguém
de quem papai gosta... ou pelo menos tolera?

— Talvez as coisas melhorem depois do seu casamento.

Balancei a cabeça. — Giovanni sempre tentará agradar o papai em


tudo o que fizer.

— Suponho que seja verdade.

— Você tem muita sorte de ter papai. Ele é aquele que todos temem.
Ele nunca tentaria agradar a ninguém. Ele pega o que quer.
— Não vi dessa forma no começo. Tinha medo de seu pai. Amor e
paixão exigiram algum trabalho de ambas as partes.

— Não importa o quanto tente, não consigo imaginá-la com medo de


papai. Vocês são como yin e yang, se complementam.

— Algum dia, você encontrará essa pessoa especial.


— Onde?

— Onde menos espera.


Capítulo 5

Gunnar e eu esperamos na van, fumaça enchendo o interior. Desde


que deixamos o clube, fumei praticamente sem parar. Hoje era o dia. Tinha
que admitir que estava nervoso como uma virgem antes de sua cereja
estourar. Estávamos seguindo Marcella há semanas, esperando o momento
perfeito para sequestrá-la. Infelizmente, as medidas de segurança que
Vitiello estabeleceu para ela eram quase impenetráveis. Earl estava
perdendo a paciência, mas uma manobra arriscada apenas alertaria Vitiello
e não nos levaria a lugar nenhum. Talvez essa fosse nossa única chance. E
não iria estraga-la.

— Talvez ela tenha saído por outra porta, — disse Gunnar. Seu cabelo
grisalho na altura dos ombros tinha caído quase completamente fora de seu
rabo de cavalo por causa de sua preocupação constante. Nunca o tinha visto
tão nervoso.

— Nah, — falei. — Os carros ainda estão aqui. Deixe-me verificar a


área.
Saltei da van e esmaguei meu cigarro debaixo da minha bota antes de
seguir para a calçada. Sentia-me nu sem meu colete, mas vestir qualquer
coisa que me ligasse ao Tartarus teria sido estúpido e quase um suicídio.
Mesmo com roupas civis, o risco de ser reconhecido por um dos guarda-
costas de Marcella ainda era alto, mas podia sentir no meu sangue que hoje
era o dia.

Eventualmente, localizei a princesa mimada. Ela conversava com um


homem mais velho de mocassins e um paletó amarelo mostarda,
provavelmente um professor. Eu nem tinha terminado o ensino médio,
então não tinha muita experiência com essas coisas, mas ele parecia alguém
que passava muito tempo com o nariz nos livros.

Seus guarda-costas mantinham uma distância respeitosa, mas ainda


estavam perto demais para que a agarrássemos. Tínhamos munição e armas
suficientes para conquistar a faculdade inteira, mas queríamos manter as
coisas o mais discretas possível. Não queríamos a polícia em nossas costas.
Ter Vitiello e a Famiglia atirando nos nossos traseiros era mais do que
suficiente. Sem mencionar que Vitiello pagava metade dos policiais, então
eles provavelmente nos entregariam direto a ele e então seríamos lixo.

Segui Marcella a uma distância segura no campus. Até peguei alguns


livros na biblioteca para encenar minha parte. Ela estudava negócios e
marketing ou fingia fazer isso. Aposto que o pai dela comprou o diploma
para ela. Não que precisasse de uma educação universitária, ela se casaria
com aquele noivo piegas e se tornaria uma esposa troféu como todas as
mulheres da máfia.

Não tinha visto Marcella e seu noivo juntos há mais de uma semana, o
que era incomum, mas hoje ele a seguia novamente como um cachorrinho
perdido. Ele não sabia muito sobre mulheres se não conseguia ver quão
irritada ela estava com sua imploração afetada. Mas a choradeira dele
eventualmente funcionou e ela o seguiu até o carro para uma conversa.
Claro, o garoto chique tinha uma Mercedes Cabriolet extravagante. A
Famiglia simplesmente nadava em dinheiro.

Ela ordenou que seus guarda-costas saíssem e eles permaneceram nas


escadas do prédio principal.
Endireitei-me e peguei meu telefone para enviar uma mensagem a
Gunnar. Mantendo um olho em Marcella e seu noivo de brinquedo, corri até
a velha van e sentei no banco do passageiro, onde joguei os livros no chão.
Lentamente, Gunnar dirigiu o carro para o estacionamento onde Marcella e
seu noivo pareciam presos em uma discussão em frente a seu elegante
carro.

Nada era melhor para afastar os guarda-costas do que uma briga


embaraçosa entre pombinhos. Seus guarda-costas fingiam não prestar
atenção a discussão, obviamente constrangidos com a cena. Cães bem
treinados, todos eles. Deslizei o soco inglês de prata na minha mão no caso
do noivo de Marcella resistir mais do que deveria.

— Mais perto, — falei a Gunnar que dirigiu a van ainda mais


próximo de Marcella.

Ela parecia furiosa. As bochechas coradas parecendo absolutamente


marcantes contra sua pele de porcelana.

— Fodida Branca de Neve, — murmurei. A Marcella dos meus


sonhos tinha uma semelhança notável com a Marcella raivosa do momento,
só que suas bochechas coradas tinham um motivo muito diferente.

Gunnar me lançou um olhar curioso, mas o ignorei. Marcella


empurrou o ombro do noivo e girou nos saltos, então seu cabelo o atingiu
bem no rosto. Depois de uma expressão estupefata, ele agarrou o braço dela
e seus guarda-costas eram todos olhos agora. Tínhamos apenas uma chance.
Logo eles estariam enxameando ao redor da princesa novamente e não
teríamos chance de chegar perto dela. Empurrei a porta antes que Gunnar
parasse e saltei da van. Avancei em direção a Marcella com visão afunilada
completa. Seus olhos me atingiram e seu rosto se transformou de confusão
em reconhecimento e depois em choque. Os lábios carnudos se abriram
para um grito. Seus guarda-costas começaram a correr, sacando suas armas.

Gunnar saltou do carro, ergueu sua pistola e atirou. O som


transformou o pacífico campus em um inferno. Gritos soaram e as pessoas
se espalharam, correndo para salvar suas vidas.

O pânico deles foi uma vantagem para nós. Eles tropeçaram nos
guarda-costas de Marcella que tentavam nos alcançar, retardando-os.
Cheguei até Marcella e seu noivo. Ele agarrou sua arma, mas fui mais
rápido e bati meu punho com o soco inglês direto em seu rosto. O sangue
jorrou de seu nariz e boca e ele caiu no chão. Não tinha tempo para mata-lo,
não com todo o inferno acontecendo. Era apenas uma questão de minutos
antes que dezenas de soldados da Famiglia entrassem em cena para proteger
sua princesa. Sabia o que aconteceria se eles colocassem as mãos em mim.
Eles me entregariam a Vitiello e o que ele fez ao meu pai pareceria
brincadeira de criança em comparação com o que faria comigo por atacar
sua preciosa prole. Não ia acontecer.

Nada importava quando finalmente agarrei o braço de Marcella e a


puxei para mim. Seus grandes olhos azuis chocados me atingiram como
uma marreta. Seus olhos se fixaram nos meus, sem medo, apenas surpresa.
O azul de sua íris era acentuado por um anel externo mais escuro. O puxão
a fez colidir contra meu peito. Uma nuvem de seu perfume exótico, algo
sutilmente doce, mas também picante, me atingiu. Ela era ainda mais baixa
do que eu pensava. Mesmo com salto alto, só alcançava meu nariz. Antes
que ela pudesse reagir, pressionei o tecido encharcado de clorofórmio sobre
sua boca. Suas pálpebras caíram e ela cedeu contra mim. A levantei por
cima do ombro e corri em direção à van. Gunnar ainda estava atirando nos
guarda-costas que não tinham escolha a não ser procurar cobertura, mesmo
que o medo da ira de Vitiello os tornasse imprudentes. Coloquei Marcella
na área de carga da van antes de fechar a porta e deslizar para o banco do
passageiro. Depois de um sinal meu, Gunnar saltou e pisou no acelerador.

— Acertei um deles.
Ele estendeu a pistola e a peguei para o caso de ter que lidar com
perseguidores. Logo o campus desapareceu na distância e Gunnar conduziu
o carro até uma garagem onde o trocamos pela primeira vez. A nova van
com o logotipo da lavanderia pertencia a um membro da família de uma das
old ladies. Duvidava que Earl tivesse lhe dito para que a usaríamos. Ele não
se importava se Vitiello colocasse as mãos neles, desde que nosso plano
funcionasse. Danos colaterais sem importância.

Marcella não se mexeu quando a carreguei de um carro para o outro.

Depois de mais trinta minutos, quando tive quase certeza de que não
estávamos sendo seguidos, coloquei a arma no chão. Branca de Neve estava
lentamente voltando a si, gemendo de uma forma que me lembrou do sonho
da noite anterior. Virei-me no assento para observá-la. A dose que usei não
tinha sido muito potente. Seus cílios negros vibraram contra sua pele pálida.
Tinha quase cem por cento de certeza de que suas fotos tinham sido
retocadas pesadamente, mas agora de perto, percebi que Marcella Vitiello
era tão imaculadamente linda quanto seu Instagram e fotos da imprensa
sugeriam. Tive que resistir ao impulso de me aproximar ainda mais, de
tocá-la e descobrir se sua pele era tão lisa quanto parecia. O curto momento
em que a agarrei passou em um flash e não tive tempo para prestar atenção.

Suas pálpebras dispararam e ela olhou para mim, penetrante e sem


medo. Congelei, chocado com a intensidade de seu olhar, pela forma como
ele me agarrou e não me soltou. Felizmente, o momento passou
rapidamente. Seus olhos reviraram e se fecharam, e reprimi um suspiro de
alívio ao me livrar de seu olhar penetrante. Porra.

Trocamos de carro mais duas vezes antes de chegarmos a nossa nova


sede na floresta a nordeste de Morristown. Minha frequência cardíaca
começou a diminuir quando passamos pelos portões da cerca de arame.
Meio que esperava que Vitiello e seus soldados lançassem um ataque contra
nós. Até agora, Marcella estava balançando, ainda fora de si, mas cada vez
mais alerta. Desta vez, não cometi o erro de olhar para ela novamente.

Earl esperava na varanda da velha casa de fazenda com os braços


cruzados. Ele recebeu minha mensagem sobre nosso sequestro bem-
sucedido. Saltei da van com um polegar para cima na direção de Earl e abri
a porta da área de carga. Marcella se sentou, apoiando-se em um braço. Ela
jogou a cabeça para trás para olhar para mim quando me ergui sobre ela.

— É hora de se mudar para sua casa temporária, Srta. Vitiello.

Abaixei-me para pegá-la, mas ela deslizou para trás. —Não me toque
com suas mãos sujas.

Ela mirou um chute na minha virilha, mas agarrei seu tornozelo antes
que pudesse fazer um dano real e a puxei em minha direção. Ela não tinha
nenhuma experiência em luta, então não tive problemas para içá-la para
fora da van. Minha tentativa de colocá-la no chão para que pudesse andar
sozinha foi frustrada quando ela deu outro chute na minha canela.
— Foda-se, vadia.

Seus olhos azuis indignados me atingiram. Provavelmente ninguém


nunca a chamou de vadia antes, e geralmente não era um termo que eu
usava, mas ela realmente me irritou.

— Ande ou vou carregá-la sobre meu ombro para que meus irmãos
possam ver sua bunda empinada.

Ela enrijeceu, o que me deu a chance de colocá-la no chão e agarrá-la


pelo braço para arrastá-la. Marcella lutou contra meu domínio, mas só
apertei meus dedos em torno de seu braço, rosnando.

— Pare com isso.

Ela se encolheu antes de sua boca formar uma linha fina e teimosa,
mas pelo menos finalmente me seguiu sem lutar.

Earl desceu os três degraus da varanda e nos encontrou no meio do


caminho. — Ninguém te seguiu? — Earl perguntou, examinando Marcella
da cabeça ao dedo do pé.

Ela estremeceu. Não tinha certeza se era por causa de Earl ou porque
finalmente sabia quem éramos. Ao contrário de Gunnar e eu, Earl usava seu
colete com o grande logo do Tartarus MC nas costas e o menor na frente.

— Ninguém, não se preocupe. Tomamos cuidado, — falei. Avancei


em direção à casa, mas Earl ergueu a mão para me impedir.

— Os canis, — Earl ordenou com um aceno de cabeça apontando na


direção da fila de gaiolas descendo a encosta da casa.

Hesitei, minhas sobrancelhas se unindo.


Os olhos de Earl estreitaram em advertência. — Mostre à prostituta
seu lugar de direito. — Marcella ficou tensa, mas quando comecei a arrastá-
la em direção ao canil, a luta voltou ao seu corpo. Eventualmente, cansei e a
coloquei sobre meu ombro como prometi. Ela era leve, mas o que faltava
em peso compensava com flexibilidade e mordida. Ela tentou aranhar meu
pescoço e braços, cada centímetro de pele que não estava coberto por
roupas. — Você vai se arrepender disso! Meu pai vai te matar.

Recebendo estoicamente a picada de suas unhas, murmurei: — Tenho


certeza que ele adoraria me desmembrar, mas não lhe darei uma chance.

Latidos nos cumprimentaram quando chegamos aos canis. Eles eram


uma das novas adições à propriedade. Earl nunca ia a lugar nenhum sem
alguns de seus cães de combate.

— Oh Deus, — Marcella sussurrou. Talvez tenha achado que não a


ouvi. Certamente não foi para meus ouvidos, mas pela primeira vez, senti
seu medo e o senti no tremor de seu corpo.

Era estranho, mas não senti nenhuma satisfação com sua angústia.

A carreguei para o único canil vazio, apesar de sua luta. Os


rottweilers enchiam as outras gaiolas, bestas que meu tio transformou em
ferozes máquinas de matar que só obedeciam a ele, e às vezes a mim. O
volume de seus latidos e rosnados aumentaram ao ver uma estranha.

A coloquei de pé sem cerimônia, então me virei e fechei a porta da


gaiola. Os cães imprensados em seu canil saltaram contra as grades,
rosnando e cuspindo, enquanto seus olhos ferozes se fixavam em Marcella,
ansiosos para rasgá-la. Earl ganhava um bom dinheiro com brigas de cães, e
corriam boatos de que ele também havia eliminado traidores dessa forma,
mas isso foi antes da minha época.
Marcella se encolheu e recuou contra a parede do canil, segurando um
de seus sapatos de salto alto preto de aparência cara. Earl assistia tudo com
um sorriso satisfeito antes de andar até mim. Por algum motivo, vê-la em
uma gaiola me deu a mesma sensação desconfortável que experimentei
sempre que via um tigre no zoológico. Ela não pertencia lá, mas isso não
era sobre meus sentimentos irracionais, mas sobre vingança. O desconforto
dela duraria pouco e nada em comparação com o inferno que vivi depois
que o pai dela matou o meu.

— Quietos! — Ele sibilou e os cães em todos os canis deitaram


obedientemente. Ele parou ao meu lado, mas só tinha olhos para a garota
dentro da gaiola.

— Marcella Vitiello, finalmente nos encontramos.

— Eu deveria saber quem você é? — Disse ela com altivez.

Tive a sensação de que ela sabia muito bem quem éramos. Sua reação
ao ver o logo foi muito forte. Ela não podia ser tão alheia. Embora tivesse
certeza de que Vitiello fez o possível para transformar a vida dela em um
conto de fadas do caralho. No entanto, até mesmo seu cérebro de princesa
obcecado por compras tinha que saber as histórias sobre nosso clube e a
Famiglia.

— Talvez você não saiba, — disse Earl com um encolher de ombros.


Ele se virou, mostrando-lhe o logotipo do cão do inferno com nosso nome.
— Sou o presidente do Tartarus MC, e temos contas a acertar com seu pai.
Infelizmente para você, pretendemos resolver isso com a sua ajuda.

Marcella cruzou os braços. — Não vou te ajudar a resolver nada. Seu


plano está condenado. Meu pai vai massacrar todos vocês como deveria ter
feito há muito tempo.
Ela, obviamente, não era alheia ao que tinha acontecido. De repente,
vê-la na gaiola não me incomodou mais. Talvez fosse bom para ela dormir
um pouco com os cachorros.

— Vamos ver por quanto tempo você consegue manter essa


arrogância. Desfrute de nossa hospitalidade, — disse ele com uma risada
gutural. Com um aceno de cabeça para mim, ele se virou e voltou para o
prédio.
Marcella não se mexeu. Ela ainda brandia aquele sapato em sua mão.
Seus pés estavam descalços, então deve ter perdido um sapato no caminho.

— Você não vai precisar de sapatos elegantes por aqui, acredite em


mim, — falei, me encostando nas grades.

Ela olhou para o salto alto e depois para mim. — Não confio em você
ou em qualquer um dos outros caipiras.

— Caipiras? — Sorri e calmamente peguei um cigarro do maço na


minha calça jeans. — Não é uma coisa muito inteligente insultar as pessoas
responsáveis por sua segurança. — Acendi o cigarro, sem tirar os olhos da
garota.

Até seus pés eram imaculados. Seus dedos dos pés estavam pintados
de vermelho, provavelmente por algum salão de beleza chique em
Manhattan. Meninas como ela não faziam suas próprias unhas, cabelo ou
qualquer outra coisa. Estavam acostumadas a ter pessoas fazendo tudo por
elas. Mimadas até o âmago.

Finalmente desviei meus olhos de seus pés, não querendo parecer um


pervertido que gostava de chupar dedos dos pés. Marcella estava me
observando como eu a observava. Seu rosto era uma máscara de controle,
mas seus olhos não conseguiam esconder o medo. Isso não me deu a
satisfação que esperava. Seu pai era quem eu queria em minhas mãos.

— Nem sei o seu nome, — Marcella disse como se apresentações


formais fossem esperadas.
— Maddox ‘Mad Dog’ White.

Observei sua reação ao meu nome, especialmente meu apelido,


atentamente. Se ela reconheceu o nome, não demonstrou, mas meu nome do
meio definitivamente chamou sua atenção.

— Mad Dog, — disse ela, balançando a cabeça com um sorriso


amargo. Ela balançou os dedos bem cuidados na direção dos cachorros. —
Então, eles são seus?
Zombei. — Você acha que me chamam de Mad Dog porque sou louco
por cachorros?

— Como saberia sobre regras de motoqueiros, se é que existe algum


tipo de regra entre a sua espécie.

Cerrei meus dentes. — Mad Dog porque não conheço o medo, como
um cachorro louco.

— Então você nunca conheceu meu pai.

Ri baixinho, balançando a cabeça enquanto empurrava a ponta das


minhas botas pretas no chão. Se ela soubesse. Ela inclinou a cabeça com
curiosidade, mas não tinha intenção de dizer mais nada agora.

— Por que estou aqui? — Ela perguntou quase com altivez.

Tive que admitir que ela me surpreendeu. Achei que ela estaria
implorando e chorando, mas até agora manteve a máscara fria pela qual era
famosa. Talvez Marcella tivesse mais de seu pai nela do que meu tio e eu
pensávamos. —Como meu tio disse, por causa de seu pai e das contas que
queremos acertar.

Ela balançou a cabeça. — O que quiserem dele, vocês não


conseguirão.
— Queremos a vida dele, e tenho certeza que a conseguiremos
considerando que temos sua preciosa filha.

Marcella olhou para o canil à sua esquerda, onde Satan, a cachorra


favorita de Earl, estava sentada atrás das grades e a observava como seu
próximo petisco. Nunca entendi por que ele chamava uma cadela de Satan,
mas entender o raciocínio de Earl era perda de tempo de qualquer maneira.

Ela engoliu em seco e arrastou os olhos de volta para mim. — Meu


pai é o homem mais cruel que você já teve a infelicidade de conhecer. A
única coisa com que ele se preocupa é a Famiglia.
Rio. — Você realmente acha que acredito nisso? Seu pai é bom em
manter sua cara de bastardo frio em público, mas você e sua mãe olham
para ele com amor. Se ele fosse um idiota a portas fechadas, você não o
olharia assim.

Passei horas olhando fotos de Luca com sua família nas últimas
semanas. A internet estava cheia de retratos oficiais, poucos dos quais
transmitiam qualquer emoção honesta, mas algumas fotos indesejadas de
paparazzi revelaram os sentimentos de Marcella e Aria em relação ao
homem que odiava mais do que tudo. Por algum milagre, elas pareciam
adorá-lo, e embora ele sempre mantivesse sua fachada de bastardo frio em
público, tinha a sensação de que ele era, no mínimo, protetor e possessivo
com sua filha e esposa. Ele agiria agora que a tínhamos.
Marcella deu de ombros, tentando parecer blasé, mas cravou as unhas
pintadas de vermelho nos braços. — Se você diz. Muitas vítimas amam e
admiram seus agressores.

Dou uma tragada no meu cigarro. — Algumas fazem. Mas é sempre


misturado com medo. Medo de desagradar seu agressor e depois receber
sua ira.
— Como você sabe? — Ela disse bruscamente. — Você se formou em
psicologia?

Dou-lhe um sorriso tenso. Ela não precisava saber mais sobre meu
passado do que a história da morte de meu pai. —Nah, ao contrário de você,
não tive o privilégio de ir para a faculdade.

— Não pode ser sobre dinheiro. Aposto que seu clube ganha muito
dinheiro com drogas e armas. É um negócio lucrativo.

— Estou surpreso que você saiba mais sobre dinheiro do que o preço
de seus sapatos elegantes.

— Nunca olho para etiquetas de preços, — ela disse secamente,


encolhendo os ombros delicadamente.

Realmente rio. Ela sabe revidar. Gostei disso. Esperava outra coisa.
— Então, seu pai compartilha histórias do negócio com você?
Talvez Marcella pudesse realmente ser útil como mais do que material
de barganha. Earl queria expandir nossos negócios, mas a Famiglia tinha
um controle rígido sobre as drogas e as armas.

— Não, ele não o faz. Isso é algo que todo mundo com um pouco de
cérebro sabe. — Não sabia se ela estava mentindo. Ela tinha uma boa cara
de pôquer. E era definitivamente muito confiante para seu próprio bem.
À medida que o silêncio entre nós se estendia, ela olhou ao redor de
sua cela com cautela.

— Caso você esteja procurando o banheiro, é ali. — Apontei para o


balde enferrujado no canto.
— Não vou usar um balde, — disse ela com desgosto.

— Então pode simplesmente fazer no chão como os cachorros fazem.

Ela olhou para a gaiola à sua esquerda novamente onde Satan estava
agora deitada em seu canil, mantendo um olho atento em Marcella.
O rugido de várias motos me disse que as comemorações de um
sequestro bem-sucedido começariam em breve. Com aplausos e gritos,
vários dos meus irmãos do clube vieram até o canil. Eles bateram em meus
ombros e verificaram a prisioneira com olhos desconfiados e comentários
sujos. Após alguns minutos, nos quais Marcella parecia ter tentado
desaparecer na parede, eles partiram para a sede do clube.

Marcella agarrou seus antebraços com mais força, olhando para mim.
— E agora?

Joguei meu cigarro no chão. — Você fica aqui confortável, e irei até
meus irmãos.
Música country alta explodiu pelas janelas abertas e alguns caras
cantavam junto em um tom desafinado. Eles já devem ter encontrado os
destilados. A porta do clube se abriu e Gunnar saiu cambaleando, sua
camisa meio desabotoada e uma garrafa de uísque em suas mãos.

— Maddox, você está perdendo a festa, — ele gritou.

— Estou indo!
— Suponho que vocês estejam comemorando meu sequestro? —
Marcella perguntou, colocando uma mecha de cabelo atrás da orelha. Hoje
foi a primeira vez que vi seu cabelo não perfeitamente arrumado.

— Isso, e a morte dolorosa e próxima de seu pai assim que ele se


trocar por você.
Marcella me surpreendeu quando se afastou da parede e se
aproximou. Estreitei meus olhos e me afastei das grades. Ela era uma
mulher pequena, um palmo mais baixa que eu, mas às vezes as aparências
enganavam. O sorriso que ela me enviou foi gelado. — Aproveite a festa
enquanto dura, mas não se engane, a única morte que estará comemorando
é a sua.

Gray chegou em sua moto naquele momento.

— Finalmente, Gray, mova sua bunda para cá. Seu velho esteve te
procurando o dia todo, — gritou Gunnar.
Gray me deu um aceno de cabeça enquanto descia da moto. Balancei
a cabeça, me perguntando o que ele tinha feito de novo. Seus olhos
pousaram em Marcella e ele fez uma careta. Seus sentimentos em relação
ao sequestro não mudaram. Os meus também não, mas sacrifícios tinham
que ser feitos se quiséssemos nossa merecida vingança.

Gunnar colocou um braço ao redor de seus ombros e o conduziu para


a sede do clube, embora Gray parecesse preferir passar a noite no canil
comigo.

O olhar de Marcella disparou deles para mim. — Seu irmão?


Inclinei a cabeça, percebendo que ela observava tudo atentamente.
Não tinha certeza de como sabia que éramos parentes. Nós dois tínhamos
cabelos loiros, mas Gray tinha os olhos cinzentos de nossa mãe e seu rosto
era mais suave do que o meu. — Meio irmão, — falei.

Ela assentiu, como se estivesse arquivando as informações para uso


posterior.
Acendi outro cigarro e tirei um chapéu imaginário antes de caminhar
até a sede do clube. — Aproveite o ar fresco.

Ela não disse nada, mas quase pude sentir seus olhos furiosos no meu
pescoço.

Dentro da sede do clube, a festa estava em pleno andamento. A


notícia sobre o sucesso da missão se espalhou rapidamente.
Todos queriam bater no meu ombro e me parabenizar pelo sucesso.
Apenas balancei a cabeça com um sorriso. Earl veio em minha direção e me
entregou uma Budweiser. — Por que você não está comemorando?

— É muito cedo, — gritei em seu ouvido. — Vencemos uma batalha,


mas não a guerra.

— É uma batalha importante, filho. Deixe nossos homens comemorar


e sentir que estamos perto de ganhar a porra da guerra.

Balancei a cabeça, então tomei um gole da cerveja antes de permitir


que Cherry, uma das garotas mais novas do clube, se esfregasse contra mim
em uma dança muito explícita. Minha mente estava em outro lugar. Não
conseguia parar de pensar na garota trancada no canil do lado de fora. Ela
foi um produto da minha imaginação por tanto tempo que tê-la tão perto era
um choque para o meu sistema.

No momento em que terminei a cerveja, Gray empurrou uma garrafa


de cachaça na minha mão. Tomei um pequeno gole e coloquei sobre o bar.
Preferia ficar sóbrio com Marcella nas mãos. Não subestimaria Luca
Vitiello. O homem era um maníaco homicida com um exército de soldados
leais em suas mãos e um protetor mortal de sua família. Sequestrar sua filha
poderia ser o prego em todos os nossos caixões se não fizéssemos isso
direito. Earl deveria ter adiado as comemorações, mesmo que nossos irmãos
não gostassem. O álcool e o sexo podiam esperar até que Vitiello morresse.

Cherry pressionou contra mim. — Você parece entediado. Vamos


subir para o seu quarto. Sei como te entreter.
Eu a deixei me puxar escada acima e entrar em meu pequeno quarto.
A única peça de mobília era uma cama e uma poltrona que usava para jogar
minhas roupas.

Ela me empurrou na cama e começou a se despir. Sempre me satisfiz


com as garotas do clube, mas agora não conseguia parar de compará-las à
porra da Marcella Vitiello. E foda-se, Branca de Neve jogava em uma liga
própria. Cherry deixou cair o sutiã, mas não foi por isso que meu pau
ergueu uma barraca no meu jeans. Uma imagem de olhos azuis frios, cabelo
preto e lábios vermelhos carnudos permaneceu na minha cabeça.

Precisava parar de fantasiar sobre a Branca de Neve, especialmente


agora que ela estava ao alcance.
Capítulo 6

Assisti Maddox desaparecer dentro do prédio da fazenda miserável,


uma arrogância confiante em seu andar. Seus amigos motoqueiros
provavelmente o saudaram como um rei depois que ele me sequestrou.
Movi-me na gaiola, tentando ignorar o rosnado de desaprovação do
cachorro na gaiola ao lado da minha, e minha pulsação acelerada em
resposta. Deve ter chovido não muito tempo atrás, porque o fedor de pelos
molhados e xixi fez meu estômago revirar violentamente. A umidade e o
calor persistente só pioraram as coisas. Tentei não pensar em todas as coisas
que meus pés descalços tocavam no chão sujo. Subi no abrigo,
estremecendo quando lascas da madeira áspera espetaram minhas palmas e
sentei contra a pedra áspera da parede dos fundos. Estava ficando escuro ao
meu redor, apenas fazendo minha situação parecer mais desesperadora. Por
hábito, coloquei a mão no bolso de trás para pegar meu telefone, mas é
claro que eles o descartaram.

Papai sempre me alertou sobre os perigos de nossa vida, mas nem ele
nem eu imaginamos que realmente chegaria a esse ponto. Que eu realmente
seria sequestrada.
Estremeci. Ainda parecia um pesadelo.

Não sabia que horas eram. Devo ter perdido meu relógio como um
dos meus sapatos em minha luta, mas horas devem ter se passado desde que
fui sequestrada. A ideia de que estive desmaiada por horas enviou um
calafrio pela minha espinha, me perguntando o que aqueles animais fizeram
nesse ínterim.

Por agora, papai já saberia. Perguntei-me se ele já tinha contado a


mamãe. Ele preferia esconder certos assuntos obscuros dela e de mim, mas
não éramos estúpidas e sabíamos mais do que ele achava. Ainda assim,
gostaria que houvesse uma maneira de esconder essa notícia de mamãe. Ela
entraria em colapso se descobrisse. Mamãe nunca foi construída para este
mundo.

E Amo? Ele provavelmente faria algo absolutamente estúpido, ainda


mais estúpido do que suas ações habituais. Sorri, mas logo as lágrimas
encheram meus olhos. Pisquei rápido para cessá-las. Não choraria. Em vez
disso, olhei obstinadamente para a floresta que cercava a área, ouvindo os
sons de uma estrada próxima ou de vida humana. Mas além de um pássaro
ocasional se despedindo do sol poente e do farfalhar das árvores, não ouvi
nada, exceto a confusão na sede do clube.

A noite caiu e o canto dos pássaros morreu. Os uivos da festa dos


motoqueiros aumentaram de volume e foram acompanhados pelo som de
vidros quebrando. A exaustão, mais emocional do que psicológica, mas
igualmente potente, tomou conta de mim. No entanto, não dormiria até que
meu corpo não aguentasse mais. Não com esses animais, cães e
motoqueiros, tão próximos.

Seixos rangeram. Fiquei tensa e sentei quando um homem na casa dos


vinte anos tropeçou em minha direção. Ele estava bêbado e não conseguia
nem andar direito, mas tinha o olhar fixo em mim. Ele colidiu com as
grades, em seguida, agarrou-se a elas, pressionando a testa na abertura
como se quisesse se espremer através do metal. Meus olhos dispararam para
a porta, que estava trancada, mas e se ele tivesse as chaves?

Ele me deu um sorriso largo. — Ai está ela. — Ele soava como se


estivesse tentando ser uma cobra, arrastando o s grotescamente. — Princesa
linda. — Ele me despiu com olhos gananciosos e semicerrados.

Minhas mãos tremeram ainda mais e segurei meus joelhos. Seus olhos
dispararam para a porta da gaiola. Rezei para que ele não tivesse as chaves.
Talvez estivesse bêbado o suficiente para que eu pudesse dominá-lo e fugir,
mas talvez ele não estivesse, e era definitivamente mais forte que eu. Ele
cambaleou em direção à porta e a sacudiu, levemente no início, depois com
mais força. Soltei um suspiro de alívio quando suas sacudidas irritadas na
porta não fez nada.

— Que pena. Talvez mais tarde, — ele disse com uma gargalhada
estúpida. Então começou a desafivelar o cinto. Ele precisou de duas
tentativas para abaixar o zíper, e sacudi minha cabeça em desgosto. Ele ia se
masturbar bem na minha frente?

Mas logo o som do líquido batendo na lateral da gaiola ecoou no


silêncio. Algumas gotas quentes atingiram minhas mãos e soltei um grito de
nojo, pressionando ainda mais perto da parede. — Seu animal!

Passos soaram. — Denver, seu idiota! — Maddox rugiu e empurrou o


peito do outro homem com tanta força que ele simplesmente tombou e riu
como um bêbado, depois ficou em silêncio.

Maddox estava de jeans largo, mas sem camisa, e os cadarços de sua


bota arrastavam pelo chão. No brilho suave da varanda, pude ver que ele
tinha várias tatuagens no peito, uma delas, sobre o esterno, uma caveira
cuspindo fogo. As sombras acentuaram as cristas de seu estômago
musculoso até o V de seus quadris.

— Foda-se, — Maddox rosnou e chutou um Denver imóvel cuja


cabeça pendeu para o lado. — O idiota desmaiou e se mijou todo. — Ele se
virou para mim, os olhos enrugando. — Você está bem?

— E você se importa? Você me trancou em uma gaiola de cachorro.


— Minha voz se tornou nasalada enquanto lutava contra as lágrimas.
Segurei minha mão longe de mim, me perguntando como poderia me livrar
do xixi. Meu estômago embrulhou só de pensar nisso.

— Não me importo, — ele disse friamente e se virou para partir. —


Boa noite.

— Ele fez xixi na gaiola e caiu um pouco nas minhas mãos, — disse
apressada, odiando o tom desesperado em minha voz. Nunca fiquei
desesperada, pelo menos não na frente de estranhos.

— Idiota estúpido, — Maddox rosnou na direção de seu amigo


motoqueiro, que definitivamente não o ouviu antes de me dizer: — Vou
pegar uma toalha para você.

Ele se virou e seguiu pelo caminho de pedregulhos que levava ao


clube.

Olhei para o homem desmaiado no chão, mas ele não se mexeu.


Alguns minutos depois, Maddox voltou com uma toalha. Ele a estendeu
para mim através das grades. Pulei do abrigo, tomando cuidado para não
pisar no xixi, e agarrei a toalha. Estava fria e úmida. Cheirei, não confiando
em ninguém por aqui, mas só peguei o mais leve toque de detergente.
— É água e sabão, ou você esperava que eu lhe desse uma toalha com
mais urina? — Maddox disse. Ele realmente parecia ofendido. Que direito
ele tinha de se ofender? Era ele quem estava no canil?

Limpei minhas mãos, resmungando. — Como deveria saber? Aquele


cara queria fazer xixi em mim, e você provavelmente acha que é o que
mereço por ser filha do meu pai.

Meu pai evocou ódio em muitas pessoas e, simplesmente por


compartilhar seu sangue, estava colhendo as mesmas emoções. O poder de
papai me protegeu da força da maldade das pessoas, seu medo sempre
maior do que sua antipatia. Agora eu estava desprotegida.

— Não. Só porque você é uma prisioneira, não significa que deva ser
tratada como lixo. Quero o seu pai, não você.

Continuei esfregando minha mão com a toalha, mas o fedor de xixi do


chão do canil entupia meu nariz, então ainda me sentia suja. — Então, uma
gaiola de cachorro é a sua versão de não me tratar como lixo?

— Essa foi uma decisão do clube.

Inclinei a cabeça curiosamente. — E onde você me manteria?

— Temos um porão.

— Parece esplêndido. — Estendi a toalha.

Ele balançou a cabeça, me olhando de uma forma que parecia muito


pessoal. — Guarde isto.

Balancei a cabeça, em seguida, fiz um caminho mais curto ao redor da


poça de xixi e subi de volta ao abrigo.
— Vou mandar alguém limpar isso de manhã, ou talvez à tarde,
dependendo de quando todos estarão sóbrios. — Ele tinha o sotaque mais
sutil, um que não pertencia aqui e que não consegui identificar, mas era
definitivamente sulista.

— Você sabe que seria fácil para meu pai se atacasse agora.

— Seria, mas seu velho não tem a menor ideia de onde você está. Nos
mudamos recentemente para esta sede.

— Onde estamos? — Perguntei casualmente.

Maddox me observou atentamente e lentamente um sorriso se formou


em seus lábios, formando covinhas em sua bochecha direita. — Por alguma
razão, acho que pode ser um erro falar muito a você.

— Maddox! — Um grito alto e feminino ecoou.

Maddox suspirou, olhando para uma janela onde uma mulher nua
acenava. — Sua namorada está esperando por você para mantê-la entretida,
— murmurei.

— Não é minha namorada, mas devo ir, — ele disse. Ele agarrou o
cara no chão e arrastou-o para longe.

Uma vez que estava fora de vista e do alcance da voz, soltei um


suspiro trêmulo. Lágrimas queimaram meus olhos. Não era forte o
suficiente para segurá-las.

Sentada no escuro, ouvindo os grunhidos, uivos e latidos dos cães ao


meu redor, lágrimas silenciosas escorreram pelo meu rosto. Não estava frio,
mas não conseguia parar de tremer. Sempre soube que o negócio de papai
era perigoso, mas era um perigo distante, apesar dos guarda-costas
seguirem cada passo meu. Eles estavam mortos agora. Ou os motoqueiros
os mataram, ou papai os matou no momento em que descobriu que eles
permitiram que eu fosse sequestrada. Não os culpava. Giovanni tinha me
incomodado tanto até que os mandei sair para ter uma conversa particular
com ele e tirá-lo do meu pé. Papai não veria dessa forma. Ele culparia meus
guarda-costas em sua ira e eu não estava lá para lhe dizer o contrário e
assumir a culpa.

Enxuguei as lágrimas eventualmente e encarei a escuridão sem


expressão, ouvindo o uivo ocasional dos motoqueiros enquanto se
embebedavam. O enorme cachorro do canil esquerdo começou a andar de
um lado para o outro, com as orelhas em pé. Ele arranhou o chão e depois
se enrolou. Apesar do meu medo dos cães, senti pena deles por passarem a
vida trancados em uma pequena gaiola.

Quanto tempo ficaria aqui? Talvez papai e Matteo já estivessem a


caminho para me salvar. Rezei para que fosse esse o caso. Não queria
descobrir o que aqueles motoqueiros tinham em mente para mim. Maddox
pode ter me salvado de ser mijada e fingido que eu seria tratada com
decência, mas até agora tudo apontava para outra direção.

Minha beleza foi uma arma durante toda a minha vida, algo para
intimidar os outros sem armas e violência, mas agora era um risco. Estava
no início da adolescência quando percebi a expressão nos olhos de muitos
homens, e logo aprendi a usá-los a meu favor, mas agora...

Depois de me permitir um bom choro, prometi a mim mesma ser forte


para sair dessa com vida. Papai faria de tudo para me salvar, mas precisava
ter certeza de que ele e Matteo não seriam mortos enquanto o faziam. Tinha
que descobrir uma maneira de tornar as coisas mais fáceis para eles, ou
talvez até mesmo escapar. Esses motoqueiros não eram as velas mais
iluminadas do bolo. Tinha que encontrar uma maneira de enganá-los para
que pudesse fugir.

Minhas pálpebras logo ficaram pesadas, mas as forcei a abrir até que
queimassem ferozmente. Os cães roncavam nos canis ao lado do meu,
provavelmente sonhando em me ter como sua próxima refeição.
Uma figura saiu de casa muito depois que a festa se acalmou.
Reconheci Maddox quando ele se encostou na varanda, iluminado pela luz
da janela. Ele era o mais alto de todos os motoqueiros. De vez em quando, a
ponta do cigarro brilhava. Mesmo sem ver seus olhos, podia dizer que ele
estava me observando. Houve uma sensação de formigamento. Uma que
senti no clube onde o vi pela primeira vez.

Maddox White.

Sabia quem ele era. Papai nunca compartilhou as partes mais


sombrias de sua vida comigo ou com mamãe, como se não pudéssemos
lidar com elas porque éramos mulheres. Mamãe não queria saber e eu nunca
havia realmente me esforçado para descobrir mais, porque parecia inútil.
Isso apenas despertaria meu interesse ainda mais e me deixaria ressentida
pelo fato de nunca poder fazer parte do negócio. No entanto, ouvi a história
do clube de motoqueiros em Nova Jersey que meu pai erradicou sozinho.
Fiz questão de manter meus olhos e ouvidos abertos o tempo todo, e esse
massacre ainda era um tópico popular entre os homens feitos em eventos
sociais. Visto que a maioria dos homens tentava ser excessivamente
divertidos perto de mim para me impressionar, histórias como essa sempre
chegavam aos meus ouvidos.

Respirei fundo e pressionei contra a parede áspera. Meus dedos doíam


de agarrar meu salto alto. Maddox era filho de um dos motoqueiros que
morreram. Ele devia realmente odiar papai, então confiei ainda menos em
sua simpatia. Até agora, não tinha tentado pensar em seu plano de vingança.
Isso só teria me deixado mais nervosa, mas ter uma visão clara do que
poderia acontecer a seguir significava a diferença entre escapar viva ou em
um caixão.

Minha pulsação acelerou ao perceber o quão perto da morte estava.


Durante toda a minha vida, uma possível ameaça à minha segurança pairou
sobre minha cabeça como uma espada de Dâmocles, mas sempre foi
abstrata, nunca algo palpável que pudesse agarrar. Agora as preocupações
de papai haviam se manifestado e meu aborrecimento por sua insistência
em me manter fortemente protegida o tempo todo parecia infantil e
ingênuo. Talvez tivesse sido bom me preparar de uma forma semelhante
como ele fez com Amo, realmente me mostrar os perigos do nosso mundo.
Agora estava sendo confrontada por eles com pouca preparação.
Esses homens queriam meu pai, mas para conseguir isso, certamente
não hesitariam em me machucar. Nunca sofri uma cicatriz na minha vida.
Orei por forças para permanecer digna, mesmo enfrentando a tortura.
Queria deixar minha família orgulhosa. Esses motoqueiros queriam
manchar o nome Vitiello, mas eu faria o possível para frustrá-los. Precisava
confiar que tinha mais do meu pai em mim do que ele sempre esperou.

Não tinha nenhuma arma real, exceto uma. Amo sempre disse que
minha aparência era letal. Tinha que torcer para provar que ele estava certo.
Capítulo 7

Apesar do cansaço profundo dominando meu cérebro, não conseguia


dormir, mesmo muito depois que meus irmãos do clube sucumbiram ao
sono induzido pelo álcool. Por fim, desisti de tentar e passei a noite na
varanda, observando a sombra curvada de Marcella no abrigo, sentindo que
ela também mantinha os olhos em mim. O ocasional pio da coruja ou uma
luta de guaxinins quebrava o silêncio pacífico. Apenas uma pequena parte
do motivo da minha vigília era garantir que nenhum dos homens do meu tio
colocasse a mão em nossa prisioneira, especialmente depois que Denver
agiu como a porra de um animal e mijou na gaiola de Marcella. O outro
motivo era que queria saber mais sobre Marcella Vitiello e, por meio dela,
sobre seu pai. O nome Vitiello havia assombrado minha vida por tanto
tempo que parecia estúpido deixar passar a oportunidade de saber mais
sobre a família.

Quando os primeiros raios de sol nebulosos espreitaram sobre as


copas das árvores, joguei meu cigarro no cinzeiro e me afastei da varanda
me dirigindo para os canis. No fundo, sabia que deveria ficar bem longe de
Branca de Neve. Primeiro por que comecei a chama-la de Branca de Neve
e, segundo, por que não conseguia parar de pensar nela.
Ela estava sentada na parte de cima do abrigo de cães com as pernas
puxadas contra o peito e o queixo apoiado nos braços cruzados sobre os
joelhos. Seus olhos estavam vidrados e vermelhos. Ela deve ter chorado.
Estava muito escuro para ver. O pensamento de suas lágrimas me deixou
desconfortável. Marcella não era a pessoa que eu queria trancar em uma
gaiola e colocar no inferno. Ela era apenas a isca para uma presa muito
maior.

Seu salto alto descansava ao seu lado. O balde foi empurrado para o
canto o mais longe possível dela. Mas mesmo que tivesse uma vontade de
aço, as necessidades de seu corpo devem ter vencido durante a noite. A
madeira do abrigo estava mais escura onde a urina de Denver atingiu.

Quando ela me viu, endireitou-se e sentou-se com as pernas cruzadas


e as costas retas como uma vareta. Sua blusa estava amassada e sua calça
coberta de sujeira, mas ela ainda conseguia parecer exatamente como
deveria. Merda. Essa garota ainda conseguia parecer blasé e como uma
maldita garota da sociedade em uma porra de canil.

Os cachorros ganiram e pularam nas gaiolas, ansiosos por comida.


Mas esse era o trabalho de Gray, não meu. Suspeitei que ele ainda estava de
ressaca da nossa festa de ontem à noite. Enviaria um dos prospectos para
limpar tudo mais tarde.

Parei na frente das gaiolas, olhando para a garota lá dentro por alguns
minutos sem dizer uma palavra. Infelizmente, Marcella simplesmente olhou
para mim, escondendo seu desconforto, se é que sentia algum. — Seus
olhos estão vermelhos. Você chorou?

— Meus olhos estão vermelhos porque lutei contra o sono a noite


toda. Não vou fechar os olhos com tantos animais nojentos por perto. — Ela
fez uma pausa para dar ênfase. — Sem falar nos cachorros.
Sorri. — Seus insultos chegam até mim como pérolas. — Ela deslizou
para fora do abrigo com elegantes pés de dançarina de balé, certificando-se
de ficar longe dos pontos de urina, e agarrou o sapato. Tive que sufocar
minha diversão com sua insistência em manter aquele sapato perto.

— Não vou procurar o outro sapato, por mais caro que eles sejam. E
ninguém se importa com sua aparência. Você não vai precisar de sapatos
elegantes tão cedo. — Sem mencionar que a garota parecia uma bomba
sexual, mesmo com as roupas rasgadas. Ela provavelmente ainda pareceria
uma maldita modelo em um saco de batatas.

Marcella sorriu e veio em minha direção, seus quadris balançando de


um lado para o outro da maneira mais hipnotizante, antes de parar perto das
grades. Ontem à noite, quando peguei Denver urinando contra o abrigo, vi
por trás de sua máscara arrogante por um momento, mas agora sua
expressão era de aço novamente.

— Você parece se preocupar pela maneira como fica me observando.


Estive pensando em você a noite toda...

Levantei uma sobrancelha. — Não vou te libertar para uma foda


rápida, não importa quão fodível você seja. Mas boa tentativa.

Seus lábios se estreitaram. — Prefiro dormir em um canil com esses


cachorros do que transar com você. Mas posso dizer que você pensou muito
sobre isso.

Seus olhos tinham tanta arrogância que tive que resistir à vontade de
abrir a porta e puxá-la contra mim para calá-la.

— De manhã cedo, percebi onde te vi antes. No clube há algumas


semanas. Você estava me observando como todos os homens fazem, como
se vendesse seu rim esquerdo por uma noite comigo.
Peguei uma grade, rindo. — Droga, você é vaidosa pra caralho.
Estava te observando porque estava procurando uma oportunidade de
sequestra-la.

Marcella agarrou a grade abaixo dos meus dedos, inclinando-se para


frente, deixando nossos rostos muito mais perto. Os botões de cima de sua
blusa de seda tinham caído, dando-me uma visão de seu decote e a
ondulação sedutora de seus seios. Desviei meu olhar, mas encontrei seus
olhos destruidores. Nunca tinha visto olhos tão azuis quanto os dela, mas
com um anel mais escuro ao redor deles, nunca tinha visto uma pele tão
imaculada, quase perolada, especialmente contra seu cabelo preto. Era
como se ela realmente tivesse se materializado de um conto de fadas. Um
conto de fadas adulto muito sujo. Branca de Neve, de fato.

— Mas não era por isso que você não conseguia tirar os olhos de
mim. Conheço a expressão que estava em seu rosto. Você pode negar o
quanto quiser, mas aposto que fantasiou sobre mim depois daquele dia.

Gostaria que ela estivesse errada. Mas a garota estava certa. Ela era
tão linda, que mesmo depois de uma noite em um canil sem qualquer acesso
a um banheiro, ela fazia as garotas arrumadas na sede do clube parecerem
ratos de sarjeta. — Sua beleza não vai te tirar daqui, não vai te salvar.

Seu sorriso se alargou como se ela soubesse melhor, como se tivesse


absoluta certeza de que seria salva.

— Mesmo seu pai não encontrará este lugar se é isso que espera. Ele
não pode te salvar, — continuei.

— Meu pai vai me salvar. Ele vai matar todos que estiverem em seu
caminho. Cada homem, cada garota do clube, até mesmo seu irmão mais
novo. Ele vai matá-los tão brutalmente quanto é capaz, e meu pai é o
homem mais capaz quando se trata de brutalidade, Maddox. Você vai vê-los
sangrar até a morte em seus pés, seus intestinos espalhados pelo chão como
confete. Gray vai morrer e, nos últimos momentos de sua vida, você ouvirá
seus gritos e se sentirá culpado por trazer isso para ele e para você.

Suas palavras me pegaram de surpresa, especialmente a veemência e


ferocidade nelas. Essa garota não parecia fugir do lado sujo da vida, mas
duvidava que já tivesse visto sangue e morte, certamente não como eu.

Suas palavras também revelaram quão perceptiva ela realmente era.


Ao nos ver interagindo por apenas um momento, Marcella já havia
percebido que eu me sentia muito protetor em relação a Gray e estava
tentando jogar com a minha preocupação por ele. Ela era boa e mais
perigosa do que acreditava. Precisava ter cuidado com ela por mais de um
motivo.

— Você acha que sabe tudo, não é? Mas não sabe, Branca de Neve,
— rosnei. As sobrancelhas de Marcella se ergueram. — Sei o quão capaz
seu pai é. Você só ouviu as histórias, mas o vi em ação. O observei
desmembrar e esfolar meu pai e seus homens quando era apenas um
garotinho. Ajoelhei-me em seu sangue enquanto seu pai continuava
golpeando seus cadáveres como um maldito maníaco. Mijei nas calças, com
medo de que ele me encontrasse e me matasse também. Ainda ouço os
gritos em meus pesadelos. E você quer me dizer que não sei do que seu pai
é capaz?

Pela primeira vez, minhas palavras romperam sua bela máscara fria.
Seu rosto suavizou com compreensão, e em seguida, compaixão.

Ver os ângulos mais suaves de seu rosto me atingiu como um punho


no estômago.
Tinha ouvido as histórias, incontáveis versões dos eventos. Se os
homens de meu pai contavam a história, elas glorificava a ele e a suas ações
como se ele fosse sobre-humano. Se estranhos sussurravam as histórias em
vozes abafadas na minha presença, suas palavras ainda soavam com
respeito e fascinação doentia. Sentia orgulho sempre que ouvia essa
história. Agora, pela primeira vez na minha vida, não senti. Pela primeira
vez, vi o outro lado da moeda, uma verdade muito sangrenta e dolorosa.

As palavras de Maddox foram cruéis, mas vi a dor que a memória


trouxe aos seus olhos azuis. Não queria imaginar o quão horrível deve ter
sido para um garotinho ver seu pai ser morto, especialmente de uma forma
tão brutal.

Mascarei meus sentimentos, não querendo sentir pena do homem que


me sequestrou. Qualquer crueldade que ele sofreu quando menino não
justificava suas ações agora. —Então deve ser razoável e me soltar antes
que meu pai coloque as mãos em você, — falei.

Maddox se afastou das grades. — Esperei toda a minha vida pela


chance de matar seu pai. Nada me tirará isso. Nada.
Não havia uma centelha de dúvida nos olhos de Maddox. Ele seguiria
com seu plano e todo o clube parecia apoiá-lo. A morte do meu pai era seu
único objetivo. Eles não parariam por nada. — Então, seus amigos
motoqueiros estão dispostos a morrer para que você possa se vingar?

— A vingança não é apenas minha. Cada um de nós tem fome de


vingança. Seu pai matou uma sede inteira. Meu tio perdeu seu irmão.
Nenhum de nós vai descansar antes que as contas sejam acertadas, e
estamos dispostos a morrer por isso.
— Vocês vão, — falei com um encolher de ombros, parecendo certa
disso mesmo quando não estava. Papai era poderoso, mas podia agir
irracionalmente quando me envolvia. Ele não tinha nenhuma fraqueza,
exceto por seu amor pela família. Ele não daria ouvidos à razão se minha
vida estivesse em jogo. E, mamãe, a pessoa que geralmente conseguia
argumentar com ele quando estava enlouquecendo provavelmente não
estaria em condições de pensar com clareza.

— A vingança é uma perda de tempo e energia, — menti.

Maddox sorriu arrogantemente. Tive de admitir que fiquei surpresa


com seus dentes retos e brancos e seu cheiro agradável. Por alguma razão,
sempre imaginei os motoqueiros um pouco maltrapilhos, com o cabelo sujo,
emaranhado por causa do capacete fedorento e dentes manchados de
amarelo. Até mesmo seu cabelo parecia suave como seda quando caia em
seus olhos. Ele o empurrou para trás, um hábito que já havia notado.

— Você usa água sanitária para manter seus dentes tão brancos? Com
todos os cigarros que você fuma, essa parece ser a única maneira de ter
dentes bonitos.
Maddox balançou a cabeça com um olhar incrédulo, uma risada
explodindo. — Porra, só você pode pensar nos dentes de alguém enquanto
está cativa pelo inimigo mortal de seu pai.

Ele se encostou nas grades e tentei vê-lo como um homem que


poderia ter conhecido em um clube, não meu inimigo e captor. Ele estaria
fora dos limites, com suas tatuagens e sua falta de herança da Famiglia,
então não teria lhe dado o segundo olhar que estava dando agora, mas ele
não era ruim de olhar com seu rosto anguloso, olhos azuis e corpo alto e
musculoso. O jeans escuro, a camiseta branca e o colete de couro preto
realmente funcionavam a seu favor, mesmo que nunca tenha sido uma
garota que gostava de um look casual.
Jogar a única carta que tinha, usando minha melhor arma, não seria
impossível com ele. Se fosse qualquer outro dos motoqueiros, mesmo com
minha vida em risco, não poderia pensar em flertar com eles. Mas com
Maddox...

Ele me observou desde o primeiro momento em que me viu, e não


apenas como captor e prisioneira. O desejo de um homem era algo com o
qual estava familiarizada, pelo menos à distância. E Maddox me desejava.
Não tanto quanto a vingança. Ainda não.

— Não há muito mais que eu possa fazer, — falei, minha voz menos
hostil, mais suave e quase brincalhona.
— Você poderia chorar e implorar por misericórdia.

— Isso mudaria alguma coisa? — Perguntei secamente.

— Não.
— Não gosto de perder meu tempo, — disse. — A vida é muito curta
para não fazermos as coisas que gostamos...

Ele sorriu, a covinha, que não era realmente uma, mas uma cicatriz,
aparecendo em sua bochecha. — Então por que você está perdendo seu
tempo flertando comigo, princesa mimada? Talvez ache que eu seja um
animal, mas meu pau não está comandando o show. Desculpe por
desapontá-la.
Ele tirou um chapéu imaginário e se afastou das grades, o sorriso
diminuindo e seus olhos se tornando mais vigilantes. — Mantenha os pés
no chão, e não flerte com meus irmãos do clube, eles podem levar mais a
sério do que você deseja. Mas se mantiver a cabeça baixa, logo voltará para
casa sem um fio de cabelo fora do lugar. Sua herança garantirá uma vida
cheia de viagens de compras depois que secar as lágrimas pela morte de seu
pai.

Sufoquei minha fúria. — Você acha que a morte do meu pai secará as
suas lágrimas por ter perdido seu pai?

Ele estreitou os olhos. — Não perdi apenas meu pai, ele foi arrancado
de mim da maneira mais bárbara possível.

— E você acha que sendo bárbaro, se sentirá melhor.

— Não se trata de se sentir melhor, mas de vingança.

— Mas se você matar meu pai, não o machucará. Meu pai não tem
medo da morte. Se quer vingança, precisa machucá-lo como ele te
machucou.

— E como poderia machucá-lo?


Sorri amargamente. Se Maddox realmente queria vingança, deveria
me machucar. Meu pai sofreria da pior maneira se eu pagasse por seus
pecados do passado.

Maddox inclinou a cabeça. — Suponho que te machucar resolveria.

Eu não disse nada. Não tinha certeza do que estava fazendo aqui.
Queria ser solta o mais rápido possível, mas conhecendo papai, ele trocaria
de lugar comigo sem hesitação.

— Você não é a pessoa que queremos. Não tenho absolutamente


nenhum interesse em machuca-la. Seu pai pagará, não você. — As palavras
soaram definitivas.

— Se matar meu pai e me deixar viver com a culpa de ter sido a razão
de sua morte, eu pagarei por seus pecados.
— Mas se eu te machucar para fazer seu pai sofrer, você pagará pelos
pecados dele também, só que de uma forma mais dolorosa.

— Acho que pagarei de qualquer maneira, — falei suavemente. —


Mas você está errado, a dor física não seria mais dolorosa.

— A menos que você tenha experimentado as duas, não pode ter


certeza.
— Acho que vou descobrir em breve.

— Você não sentirá dor física enquanto estiver aqui, mas não posso
poupá-la da tristeza de ser o motivo da morte do seu velho, — ele
murmurou. Ele enfiou os polegares nos bolsos da calça jeans. — Talvez seja
um consolo saber que ele merece tudo o que planejamos.

Meu estômago embrulhou enquanto minha mente imaginava os


detalhes horríveis. — Maddox, — falei calmamente. — Homens como você
e ele sempre merecem a morte. Em algum ponto, a matança mútua tem que
parar. Se você matar meu pai, meu irmão e meus tios buscarão vingança.

Matteo amava meu pai e Romero respeitava Luca e era quase como
um irmão para ele. Eles não descansariam até que cada motoqueiro
encontrasse um final doloroso.

— Vivo por vingança.

— Parece uma vida sem sentido se for preenchida apenas com um


desejo de vingança.

— Para mim basta.

— Seus irmãos e tio do clube ficarão de luto por você tão


profundamente quanto minha família ficará de luto por meu pai? Alguém
sentirá sua falta tão profundamente porque te amou de todo o coração?

Ele me deu um sorriso severo. — Receio não ter tempo para mais
bate-papo. Tenha um bom dia.

Ao não responder, ele me deu a resposta que esperava. — Isso foi o


que pensei.
Ele inclinou a cabeça em despedida e se virou sem dizer outra
palavra. Definitivamente atingi um ponto fraco. Um movimento na varanda
chamou minha atenção. Outro motoqueiro, muito mais velho que Maddox,
com cabelos grisalhos que chegavam ao seu ombro me observava. Arrepios
subiram na minha pele com o brilho em seus olhos.

Maddox passou por ele em seu caminho para a sede do clube,


dizendo-lhe algo que fez o homem desviar o olhar de mim brevemente.

Mas a interrupção durou pouco. Logo seu olhar ganancioso voltou


para mim, e agora Maddox se foi. Só podia esperar que minhas palavras não
o tivessem afastado. Tinha a sensação de que ele era minha melhor aposta
para passar por isso ilesa.
Capítulo 8

Cody continuou observando os canis como um lobo à caça. Ele estava


com os olhos postos em Branca de Neve, sentindo uma boceta fácil. Ele
nunca entendeu muito bem o significado de consentimento.

Parei ao lado dele na varanda. — Você não tem coisas melhores para
fazer do que salivar pela garota Vitiello?

Ele zombou. — Não passo metade da minha manhã fofocando com


uma boceta.

— Estou tentando reunir informações de nossa cativa enquanto ela


está em nossas mãos, — menti. Esse era o plano original, mas sempre que
estava perto dela, qualquer plano cuidadosamente elaborado evaporava.
— Que tipo de informação? Quanto pau ela pode levar na sua boca
imunda?

— Só fique longe dela. Nós dois sabemos que seu pau tem vida
própria.

Entrei em casa e fui imediatamente atingido pelo cheiro de uma festa


selvagem. Depois de horas ao ar livre, o fedor quase me fez desmaiar. Gray
vomitou em um balde de gelo e outra pessoa mijou em uma garrafa de
cerveja. Isso misturado com o odor de uma dúzia de corpos suados era uma
mistura potente.

Encontrei Earl já de pé e em sua cadeira na nossa mesa de reunião,


fumando um charuto. Ele conseguia aguentar a bebida muito bem depois de
décadas de treinamento. Uma garota seminua estava deitada em cima da
mesa, profundamente adormecida.

— Você saiu da festa mais cedo, — disse ele, sem se preocupar em


tirar o charuto da boca.

— Já tive festas suficientes para uma vida inteira e ainda não acho
que temos motivos para comemorar.

— Quando tinha sua idade, não dizia não a uma festa ou a uma
boceta.

— Então nada mudou, — disse com um sorriso.

Ele riu, tossiu e finalmente tirou o charuto. — O que a vadia disse?


Ela chorou e implorou para que você a soltasse?

Balancei a cabeça. — Ela é muito orgulhosa. Tem mais de seu pai


nela do que eu pensava.

A expressão de Earl ficou sombria. — Vamos ver por quanto tempo


ela mantém a arrogância de Vitiello.

Algo no tom de Earl me deixou inquieto. Se ele não gostava de


alguém, realmente não gostava de alguém, era melhor essa pessoa ficar
longe dele.

— Quando você vai pedir a Vitiello que se troque pela filha? Quero
acabar com isso e, finalmente, colocar minhas mãos no próprio Vitiello.
Earl não reagiu, apenas estreitou os olhos fitando o charuto em suas
mãos.

— Esse ainda é o plano, certo? — Depois da minha relutância inicial


em relação ao sequestro, Earl insistiu que manteríamos Marcella o mínimo
tempo possível. Agora ele parecia estar pensando de novo, e isso nunca era
uma coisa boa.
— É, mas seria muito fácil, e a última coisa que quero dar a Vitiello é
uma maneira fácil de sair dessa. Ele precisa sofrer emocionalmente antes de
nós realmente destruí-lo.

Eu era a última pessoa a querer poupar Luca Vitiello de qualquer tipo


de dor. Ele precisava sofrer o máximo possível por arruinar minha infância.

— Já passamos por muita merda, mas precisamos nos manter no


caminho ou correr o risco de ter nossos traseiros chutados de novo. Tenho
certeza de que o idiota já sofreu muito depois que descobriu que colocamos
as mãos em sua filha.

— Uma noite. Isso é o que você chama de muito sofrimento? Você


mijou nas malditas calças todas as noites durante os primeiros três meses
em que morou comigo. Isso é sofrimento, Mad. Quero Vitiello mijando nas
calças de medo pela vida de sua preciosa filha. Depois que vier rastejando,
ainda podemos trocá-la por ele e torturá-lo até a morte.

A voz de Earl deixou claro que a discussão acabou para ele, e sendo
teimoso como uma mula, sabia que era inútil continuar falando.

Um grito masculino ecoou, seguido por uma maldição e o grito de dor


de Marcella.
— O que foi agora? — Earl murmurou, irritado, empurrando-se para
fora da cadeira, mas eu já estava saindo da sala.

Saí de casa como um furacão, meus olhos se voltando para os canis de


onde vinha o barulho. Os cães latiam como loucos, pulando contra as
gaiolas, mas meus olhos foram atraídos para a gaiola de Marcella. Cody
estava lá dentro, agarrando Marcella pelo braço e sacudindo-a.

Ele esbofeteou Marcella no rosto com tanta força que ela caiu no chão
com um grito. Avancei pelo caminho e entrei na gaiola e agarrei seu braço,
impedindo-o de bater nela novamente.

— O que diabos está acontecendo aqui? — Rosnei.

Marcella sentou-se no chão, tocando sua bochecha, que estava


vermelha brilhante. Pela maneira como pressionava os lábios, poderia dizer
que ela estava lutando contra as lágrimas.

— Responda, — sibilei, sacudindo Cody.

Ele se livrou do meu domínio e pressionou o lado da cabeça, onde


sangrava profusamente de um corte na linha do cabelo. Ele fez um
movimento como se fosse atacá-la novamente, mas o empurrei contra as
grades.

— O que aconteceu aqui?

Por que diabos ninguém respondia?

— A prostituta me atacou com a porra do sapato, — Cody fervia de


raiva.

Segui seu dedo indicador em direção ao salto alto no chão e quase


comecei a rir.
— Isso é um Louboutin, não um sapato, — disse Marcella com
altivez, ainda pressionando sua bochecha, mas não parecendo mais à beira
das lágrimas.

Não tinha ideia do que isso significava. Eu tinha exatamente dois


pares de sapatos. Enviei-lhe um olhar mortal. — É melhor você calar a
boca.

Cody era um idiota vingativo. Provocá-lo não só tornaria a vida dela


muito mais difícil, mas também a minha, se quisesse ter certeza de que ela
sairia ilesa disso. Earl ficou na varanda, observando os acontecimentos. Não
tinha certeza de qual era o seu ângulo, então ele provavelmente não
manteria Marcella segura. Era irônico que coubesse a mim proteger a prole
do meu pior inimigo.

— O que você estava fazendo na gaiola dela?

— Eu deveria alimentá-la. A boceta não merece comida, se você me


perguntar.

— Ninguém te perguntou, Cody. Da próxima vez é melhor prestar


atenção antes que ela arranque seu olho, — disse a ele. — Melhor ainda,
deixe eu ou Gray cuidarmos das refeições.

Preferia Cody longe dela. Eventualmente, ele não seria capaz de


manter seu pau feio nas calças. Realmente não queria adicionar esse tipo de
merda à minha lista de pecados.

— Tanto faz, — murmurou Cody, esfregando a cabeça ao sair da


gaiola. O último olhar que ele enviou para Marcella me disse que eu teria
mais noites sem dormir. Ele se afastou, murmurando insultos.
Earl balançou a cabeça para Cody. Sua desaprovação só aumentaria o
desejo de Cody de cobrar Marcella por tê-lo humilhado.

Virei-me para Marcella. Sua blusa tinha perdido outro botão e estava
coberta de sujeira assim como seus pés, mas o brilho em seus olhos era tão
orgulhoso quanto da primeira vez que a vi. Estendi minha mão e para minha
surpresa ela a pegou sem hesitar. A coloquei de pé. Ela tropeçou sobre mim
e não tive certeza se foi um acidente. Em vez de afastá-la logo, apreciei a
sensação de seus seios pressionados contra meu peito por um momento
enquanto olhava para seu rosto. Agarrando seus ombros, a afastei. — Isso
dói? — Perguntei, apontando para sua bochecha vermelha.

Ela encolheu os ombros. — Seu amigo motoqueiro está pior. Acho


que tirei suas últimas células cerebrais da cabeça.

— Talvez você deva descer do alto de seu cavalo antes que alguém a
derrube. Todos por aqui estão ansiosos para quebrar a princesa mimada.
Tenha isso em mente antes de agir novamente.

— Meu pai me salvará em breve. Aposto que já está a caminho com


um exército de seguidores leais em seus calcanhares. E você descobrirá que
sou difícil de quebrar, — ela disse simplesmente.

Sua certeza absoluta que seu pai a salvaria me incomodou. Sua


confiança absoluta em seu pai me enfureceu. Queria que ela duvidasse dele,
que o odiasse. Queria que ela mostrasse uma rachadura em sua fachada de
princesa fria de Nova York. Esse lado dela era muito parecido com seu pai.

Sorri. — Talvez porque ninguém tentou quebra-la ainda, Branca de


Neve. — Aproximei-me novamente até me elevar sobre ela e inalar seu
perfume. — Você cresceu em um castelo atrás de paredes protetoras
construídas pelo seu maldito pai.
Porra, parte de mim queria quebrá-la, mas a outra, a outra queria
saber mais sobre ela, queria trazê-la para o meu lado. Estuprar mulheres não
era minha praia de qualquer maneira. Cody e alguns outros caras, por outro
lado, poderiam achar isso agradável.

Marcella apenas me observou, mas havia uma centelha de inquietação


em seus olhos. Ela sabia que o que falei era verdade. Ela teve uma vida
muito protegida. Os únicos problemas que encontrou até agora foram se os
sapatos não combinavam com o vestido. Vim de um mundo muito diferente,
cheio de sangue e dor.
— Você quer me quebrar, Maddox? — Marcella perguntou, e a
maneira como disse meu nome, sua língua acariciando cada sílaba, arrepiou
minha pele. Porra. Nunca antes uma mulher me deu arrepios.

Seus olhos azuis pareciam enterrar-se em minha alma, cavando e


procurando. — Estou muito ocupado. — Recuei e peguei o sapato. — Temo
ter que confiscar isso até sua libertação. Porém, tenho certeza de que você
tem uma coleção impressionante em casa e não vai sentir falta.

— Quando serei solta?

Saí da gaiola e fechei a porta. — Quando seu papai estiver pronto


para se entregar. — Ela não precisava saber a verdade. Talvez finalmente
aprendesse a desprezar seu pai se achasse que ele hesitou em se trocar por
ela.

— Você vai me dar roupas para trocar ou uma oportunidade para me


lavar?

Balancei a cabeça. Não tinha certeza se ela estava tentando me irritar


de propósito. — Mandarei alguém com um balde de água mais tarde. Mas
não acho que alguma das garotas queira suas roupas arruinadas nos canis.
— Você provavelmente prefere que me sente aqui nua, — ela
murmurou.

— Não, — falei, e não estava mentindo, porque tinha a sensação de


que ver Marcella nua bagunçaria meu cérebro de uma forma que realmente
não precisava.

Desci até minha motocicleta. Desde a chegada de Marcella, três dias


atrás, sempre estacionava minha moto mais abaixo na colina, então tinha
que passar pelos canis para poder dar uma olhada nela. O que vi me fez
parar.
Sua blusa estava rasgada. Uma daquelas mangas transparentes
chiques penduradas por um fio. Esta manhã, antes da minha corrida,
definitivamente ainda estava inteira. Porra. Por que Earl insistiu para que
verificasse nosso estoque de armas e drogas?

Fiz um caminho mais curto em direção a ela, meu pulso já acelerando.


— O que aconteceu?

Marcella remexia em sua tigela de ovos mexidos. Entendi porque ela


não os comeu. Parecia já ter sido comido.
— Alguém precisa fazer um curso de culinária, — disse ela, como se
não soubesse ao que eu estava me referindo. Ela tinha um talento para me
fazer subir pelas paredes. Destranquei a porta e uma tensão sutil entrou no
corpo de Marcella. Tinha percebido isso antes e, como de costume, me
incomodou.
Fiz um gesto para sua manga rasgada. — O que aconteceu?

Ela finalmente ergueu os olhos da tigela. Sua bochecha ainda estava


ligeiramente inchada de quando Cody a esbofeteou e a visão ainda
aumentou minha raiva.

— Cody não ficou feliz com a minha recusa em reconhecer sua


presença, então se fez inequivocamente presente.

Cerrei meus dentes com o ataque de fúria que senti contra o idiota.
Ele sempre precisava de alguém para importunar, de preferência uma
mulher. — O que exatamente ele fez?

Marcella estreitou os olhos daquela forma avaliadora que fazia. —


Por que você se importa?

— Você é nossa vantagem contra seu pai. Não permitirei que ninguém
atrapalhe meus planos, prejudicando essa vantagem.

— Notícia de última hora: sua vantagem já foi danificada. — Ela


apontou para sua bochecha. — E duvido que rasgar minha manga seja a
última coisa que Cody fará. Ele parece gostar muito. — Ela tentou soar
petulante e fria, como se nada que pudesse acontecer a preocupasse
minimamente, mas havia o menor tremor em sua voz que traía sua frieza
por ser uma farsa.

— Cody não vai tocar na porra de um fio de cabelo da sua cabeça de


novo. Vou me certificar disto.

— Seu último aviso não teve o efeito pretendido. E seu tio não parece
se importar se ele danificar a mercadoria.

Isso era verdade. A preocupação de Earl com a integridade física de


Marcella se limitava a ela estar viva o suficiente para torturar Vitiello com
sua segurança e chantageá-lo para que se entregasse.

Meu telefone tocou. Atendi. Era Leroy, um dos prospectos destacados


para vigiar nossa antiga sede do clube. Sua respiração estava áspera. —
Mad, eles queimaram tudo. — Suas palavras tropeçaram umas nas outras,
cheias de medo.

— Calma, quem queimou o quê? — Tinha uma ideia do que poderia


ter acontecido.

Marcella largou o prato e se levantou. Percebi que não seria a melhor


ideia deixá-la saber muito. Mesmo que ela não tivesse nenhum implante
que pudéssemos detectar, tive a sensação de que ela era inteligente o
suficiente para usar qualquer pedaço de informação contra nós.

Ouvindo as divagações de Leroy, saí do canil e tranquei-o novamente,


para óbvio desgosto de Marcella. Como temia, Vitiello havia incendiado
nossa sede anterior, que também ficava em um local secreto e não era fácil
de detectar. — Você está seguro? — Perguntei ao prospecto.

— Não sei. Alguns deles me seguiram, mas devo tê-los despistado.


Não os vejo mais.

— Você sabe o protocolo. Não venha para cá até ter certeza absoluta
de que ninguém está te seguindo. Até então, fique com uma das garotas. —
Ir para uma das old ladies seria muito arriscado e até que pudéssemos ter
certeza de que nossas casas seguras eram realmente seguras, ele precisava
ficar longe delas também.

— Vou ficar, — disse ele. Ele ainda parecia assombrado.

Ignorando a expressão curiosa de Marcella, desliguei e corri até a


sede do clube para dar a má notícia a Earl. O encontrei em seu escritório
com uma garota do clube, uma das compartilhadas, em seu colo. No
passado, a visão sempre me deixava furioso em nome de mamãe, mas ela
sempre disse que não se importava, contanto que fosse sua old lady. Os
motoqueiros não podiam ser fiéis, especialmente o prez. Achei que ela
estava pegando muito fácil com Earl, mas sua gratidão depois que ele a
levou para sua casa, e para a cama, depois da morte brutal de papai, ia além
do meu raciocínio.

— Negócios do clube, — falei.


Earl sem cerimônia empurrou a garota de seu colo e não olhei em
qualquer lugar perto de sua virilha. Já tinha visto seu pau em muitas
ocasiões como esta.

— O que é tão importante?

— Más notícias sobre nossa antiga sede.


Earl se inclinou para frente em sua cadeira como se estivesse se
preparando para atacar. — Vitiello encontrou e queimou. Ele deve ter
esperado encontrar sua filha lá e provavelmente quis nos enviar uma
mensagem com sua destruição.

Earl saltou de pé. — Filho da puta! Vou enviar-lhe uma porra de


mensagem se ele quiser uma!

Ele parecia lívido. Sua cabeça não apenas ficou vermelha, mas
também roxa e uma veia em sua testa inchou grotescamente. Isso nunca era
bom.
— Ele está tentando nos intimidar. Se ignorarmos sua mensagem, isso
só vai enfurecê-lo mais.
— Ignorar? Foda-se que farei isso. Ele precisa perceber quem está
puxando as cordas, e com certeza não é ele.

— Qual é o seu plano? — Perguntei cuidadosamente enquanto ele


andava pela sala, estalando os nós dos dedos tatuados.
Em vez de uma resposta, ele saiu de seu escritório como um homem
em uma missão. — Reúnam-se nos canis! — Ele latiu para os caras
relaxando na sala.

A maioria dos irmãos do clube estava em corridas, mas Cody, Gunnar,


Gray e um prospecto estavam por perto. Todos se levantaram e me
lançaram olhares questionadores, como se eu soubesse que tipo de loucura
Earl tinha em mente.

— Traga seu telefone com você, Grey! — Earl ordenou.


Segui Earl enquanto ele corria para fora.

— Por que você precisa de um telefone? Você pode usar o meu.

— Ligar para o Vitiello é um grande risco, Prez. Ele pode nos rastrear,
— Cody se intrometeu.
Quase revirei os olhos. Como se Earl não soubesse disso. Todo
mundo que faz merda ilegal há mais de um dia sabe como é fácil rastrear
ligações telefônicas.

— Pareço um idiota? — Earl rosnou. — É para gravar um vídeo para


o filho da puta, Vitiello.

Meu pulso acelerou, perguntando-me que tipo de vídeo Earl tinha em


mente. A expressão de Marcella ficou preocupada quando ela nos viu indo
em sua direção. — Ei princesa, é hora de mostrar ao seu pai que ele não
deve mexer com a gente. — Os olhos de Marcella se voltaram para mim e
depois para Earl.

— Tire a roupa, — Earl ordenou.

Minha cabeça girou. — Por quê? — Perguntei, minha voz alarmada.

— Alguém está ansioso para ver uma boceta, — Cody riu,


confundindo minha preocupação com emoção. Ele era um idiota de merda.
Earl, por outro lado, parecia saber exatamente como me sentia sobre a
situação.

— Você pode subir o vídeo para a internet sem nenhum link para este
local? — Earl perguntou a Gray.

Gray parecia inquieto. — Acho que sim.

Earl deu um tapa na cabeça dele. — Acho que sim não funcionará se
você não quiser que Vitiello esfole suas bolas.

— Posso fazer isso, — Gray disse calmamente.

— Você quer postar um vídeo da Marcella nua online? — Não era tão
ruim quanto o que temia quando Earl pediu que ela ficasse nua, e isso
definitivamente provocaria uma forte reação de Vitiello.

Earl assentiu, mas olhou para Marcella. — Fique nua!

Ela balançou a cabeça, a cabeça erguida. — Certamente não vou me


despir na frente de nenhum de vocês.
— Oh, você não vai? Então teremos que fazer isso por você, — Earl
disse com um sorriso desagradável.

Cody já estava salivando com a perspectiva de colocar as mãos em


Marcella. — Posso fazer isso, — disse ele, soando como se nunca tivesse
visto uma boceta antes.

— Não, eu quero fazer isso, — rosnei, enviando uma carranca a


Cody. Então olhei para Earl e permiti que minha expressão se tornasse
maliciosa. — Quero que Vitiello saiba que fui eu que despi sua preciosa
princesa.
Marcella me lançou um olhar de desgosto.

Earl me deu um sorriso benevolente. — Vá em frente. — Ele acenou


com a cabeça para Gray. — Prepare o seu telefone.

Destranquei a porta e entrei na gaiola, endireitando minhas costas


para que parecesse bom na gravação.

— O resto de nós vai uivar e bater nas grades ao fundo, — Earl


instruiu, como se Cody precisasse de um incentivo para fazê-lo.

Gray se posicionou em um canto do canil para que pudesse filmar


Marcella, mas também os outros enquanto enxameavam ao redor do canil.

Os cães começaram a latir e pular contra as grades, animados pela


atmosfera aquecida.
Marcella deu um passo para trás quando me aproximei dela, mas
então se conteve, endireitou os ombros e ergueu a cabeça para me lançar o
olhar mais condescendente que já vi, como se eu fosse uma barata indigna
de ser esmagada sob seu sapato caro. A raiva correu por minhas veias. Em
momentos como esse, ela me lembrava muito o pai. Por que estava tentando
protegê-la?

Parei bem na frente dela, dividido entre a fúria e a preocupação. Isso


estava ficando rapidamente fora de controle.

— Tire essas roupas dela, — gritou Earl.


— Vou contar até cinco, depois vou começar a gravar, — disse Gray.

Peguei a blusa de Marcella e percebi o leve tremor em seu corpo.


Minha raiva evaporou rapidamente, mas não conseguiria argumentar com
Earl e com certeza não permitiria que Cody colocasse as mãos sobre ela.
Comecei a desabotoar os botões restantes de sua blusa. Meus dedos
roçaram a pele de Marcella e arrepios explodiram por todo o seu corpo, mas
tudo que conseguia pensar era que nunca tinha tocado em uma pele mais
macia do que a dela.

Ela recuou quando alcancei seu diafragma. — Farei isso sozinha.

— Apresse-se, sim? — Rosnei, sabendo que isso alcançaria Vitiello.

Dei um passo para trás e observei Marcella desabotoar o último botão,


em seguida, empurrar a blusa sobre os ombros. Depois disso, ela tirou as
calças pretas. O tecido flutuou até o chão sujo, deixando-a de calcinha de
renda preta e um sutiã preto sem alças. Nem tentei não olhar para ela. Teria
sido fisicamente impossível. O impacto era simplesmente muito forte.
— O resto também, — Earl rosnou.

Os dedos de Marcella tremeram quando ela desabotoou o sutiã e


engoliu visivelmente quando ele caiu no chão. Seus mamilos rosados se
enrugaram. Arrastei meus olhos para longe de seus seios redondos e
encontrei seu olhar, tentando não agir como a porra de um pervertido, mas
isso me custou cada grama de autocontrole que nunca soube que tinha.

Ao fundo, Earl e os outros começaram a uivar e bater nas grades. Os


latidos dos cachorros logo se tornaram estridente e excitados. Marcella
enganchou os dedos no cós da calcinha, seus olhos odiosos me atingindo
antes de empurrar o tecido fino para baixo. Por um segundo, meu olhar
disparou para baixo, como um reflexo que não pude controlar, mas não
houve tempo suficiente para absorver toda a enormidade de sua beleza. Só
tive um vislumbre de um triângulo preto e coxas finas antes de me conter.
Lutei contra a vontade de ficar na frente dela para protegê-la dos olhos
famintos dos outros. Não queria compartilhar a visão com ninguém, embora
não tivesse o direito de ver eu mesmo. Porra. Nunca me importei se alguma
das garotas com quem dormi passasse pelos meus irmãos do clube, então
por que me importava com Marcella?

— Vire-se, — Earl ordenou. A ira de Marcella agora o atingiu. Ela


estava tremendo e o medo nadava nas profundezas de seus olhos azuis, mas
você não notaria por sua expressão fria.

Com uma graça que poucas pessoas conseguiriam em um canil sujo,


cercada por homens maliciosos e cães furiosos, Marcella se virou
lentamente. Percebi que parei de respirar quando a última peça de roupa
dela atingiu o chão e rapidamente respirei fundo. Precisava me controlar.
Concentrei-me em Cody, tentando avaliar sua reação. Ele estava
praticamente salivando, ansioso para montá-la. Felizmente, a expressão de
Earl era principalmente calculista, mesmo que também a observasse com
uma espécie de fome abismada, como qualquer homem ao ver o corpo de
Marcella.

Por fim, Earl sinalizou para Gray encerrar a gravação. Marcella ficou
parada, com os braços soltos ao lado do corpo. Do jeito que estava, ela não
tinha nenhuma razão para ser tímida com seu corpo, mas não era por isso
que parecia completamente imperturbável por sua nudez. Ela era orgulhosa
demais para mostrar qualquer fraqueza. Perguntei-me o que realmente
estava passando por sua cabeça.

— Vamos torcer para que seu pai receba a mensagem, — Earl disse
antes de se virar e voltar para a sede do clube, provavelmente para
mergulhar seu pau na boceta da garota do clube.

Gray, o prospecto e Gunnar logo o seguiram. Apenas Cody


permaneceu, ainda examinando Marcella.
— Por que você não cai fora? — Murmurei.

— Por quê? Pra você mergulhar seu pau nessa bocetinha virgem?
Posso esperar você ser o primeiro.

Olhei para Marcella. Virgem? Ela estava namorando aquele idiota


italiano por mais de dois anos. Sabia que a máfia italiana era tradicional,
mas mesmo eles deviam estar no século vinte e um agora. O rosto de
Marcella ainda era odioso e assustadoramente orgulhoso.
— Ninguém vai esperar nada, — rosnei.

— Veremos, — disse Cody e finalmente se virou e saiu. No momento


em que ele partiu e estava fora do alcance da voz, me virei para Marcella.

— Você pode se vestir.


Ela sorriu severamente, mas não perdi o brilho de seus olhos. — Tem
certeza que é isso que você quer? Você não quer reclamar da minha boceta
virgem? — Ela cuspiu as duas últimas palavras com desgosto. Era óbvio
que ela não estava acostumada a falar sujo.

Quase perguntei se ela era mesmo virgem. Então decidi que seria
melhor se não soubesse. Era completamente irrelevante para o nosso plano,
mas mesmo assim meus pensamentos giraram em torno desse pequeno
pedaço de informação, já que Cody o trouxe à tona como moscas ao redor
da merda. — Basta se vestir, — falei bruscamente, irritado comigo mesmo.

Marcella cobriu os seios enquanto se abaixava para pegar suas roupas,


em seguida, foi na ponta dos pés em direção ao abrigo, onde as apoiou
como se não estivessem rasgadas e empoeiradas.

— Não sabia que isso aconteceria, — falei, embora não tivesse


certeza do por que estava dizendo isso a ela. Não tinha que me justificar ou
as ações do clube para ela.
— Você gostou, — ela murmurou enquanto colocava a calcinha de
volta. Eu a vi lavá-las no balde de água da minha janela na noite passada.

Não havia como negar. Marcella era mais bonita do que na minha
imaginação. Porra, bonita era um insulto para ela. — Há homens que não
gostariam?

— Pelo menos um, — ela disse enquanto se vestia completamente.


Perguntei-me a quem ela estava se referindo.
— Seu noivo?

— Ex noivo. — Ela me olhou fixamente. — Então o que vem agora?


Vocês vão postar um vídeo de cada motoqueiro me estuprando?

Meu pulso acelerou. — Não, — rosnei. A mera ideia de deixar isso


acontecer fez meu sangue ferver. — Não somos animais.
Ela me lançou um olhar duvidoso. Não podia nem a culpar depois do
show que Earl tinha acabado de fazer.
A ferocidade na voz de Maddox me pegou de surpresa. — Por que
você se importa? Ou me quer para você? — Perguntei.

Resisti à vontade de esfregar meus braços. Isso não eliminaria a


sensação de sujeira na minha pele, onde eles me olharam de forma
maliciosa. Focar em Maddox ajudou um pouco. Seu olhar, além do de seus
amigos motoqueiros, não me fez sentir suja. Não tinha certeza do que havia
nele que me acalmava e animava ao mesmo tempo. Era um sentimento
absolutamente irracional.

Ainda assim, meu estômago embrulhou quando pensei na gravação


que logo pararia na internet, em milhões de telas de computador, até mesmo
de papai e Amo. Esperava que eles não assistissem. Também gostaria que
nenhuma das garotas que me desprezavam me visse assim, mas isso era
uma ilusão. Todas aproveitariam a chance de me ver humilhada. À mercê
desses bastardos. Não permitiria que eles me fizessem sentir degradada.
Maddox saiu da gaiola e a trancou, como se não suportasse mais um
segundo na minha proximidade. Ele acendeu um cigarro e olhou furioso
para a sede do clube, mas não respondeu à minha pergunta. Eu não era
cega. Vi o jeito que ele me olhou, não importa o quanto tentasse não olhar.
Ele deu uma longa tragada no cigarro e exalou. — Sou uma escolha
melhor do que Cody, — ele murmurou.

Meu estômago embrulhou com a implicação. A simples ideia de Cody


me tocando me deu vontade de vomitar. Maddox, por outro lado... Não
sentia repulsa por seu corpo e não desgostava dele tanto quanto seria de se
esperar. Sem mencionar que ele provavelmente era a única chance de eu
sair daqui. Nenhum dos outros motoqueiros mostrou o menor interesse no
meu bem estar.
— Você não é uma escolha. Ninguém me perguntou o que quero.

Maddox assentiu. — Tenho que ir.

O medo me oprimiu e me lancei para frente, agarrando as grades. —


E se Cody vier aqui buscar o que quer? Duvido que seu tio se importe.
Maddox ficou tenso, mas não pude ler sua expressão quando ele se
virou para mim. Algumas mechas loiras caíram sobre seus olhos azul bebê e
o corte que parecia uma covinha peculiar se aprofundou ainda mais quando
ele fez uma careta. — Cody não pode fazer nada sem a permissão do meu
tio.

Isso deveria me acalmar? Cody era como um homem faminto que viu
sua próxima refeição quando olhou para mim.

O olhar de Maddox segurou o meu e o que vi nele foi pura fome.


Estremeci e pressionei ainda mais perto das grades.

— Você não pode deixá-lo me ter, — sussurrei. Posso ser sua, deixei
meus olhos dizer. Ele me queria, me desejou desde o primeiro momento.
Precisava dele do meu lado se quisesse sobreviver a isso. Não podia contar
apenas com papai e Matteo para me salvar.
Uma guerra acontecia nos olhos de Maddox. Talvez tenha percebido
porque eu estava flertando com ele. Ele jogou o cigarro fora, pisou nele
antes de chegar bem perto de mim, apenas as grades entre nós. Os cachorros
latiam de excitação. Ele trouxe seu rosto tão perto que nossos lábios quase
se roçaram.

— Não sou estúpido, — ele rosnou. — Não pense que você pode me
manipular. Não sou como seu ex noivo piegas.
Seus olhos furiosos correram para a minha boca, querendo, apesar de
tudo. Ele suspeitava de mim e ainda assim não conseguia parar de querer o
que não deveria. Não desviei o olhar. Exalei, em seguida, inalei seu cheiro,
uma mistura de couro, fumaça e sândalo. Nada que já tenha apreciado, mas
Maddox fez funcionar. Meu corpo estava curioso, ansiava por algo que me
foi negado por tanto tempo.

— Quem disse que estou te manipulando? — Então mudei minha


tática. — Mas mesmo se estivesse tentando fazer isso, você não precisa me
deixar ter sucesso. Poderia simplesmente me usar como acha que estou te
usando.

— Não tenho que usá-la. Você está à nossa mercê, Marcella, talvez
tenha esquecido. Poderia fazer com você o que quisesse, sem quaisquer
consequências.

— Poderia, mas isso não é quem você é. Você me quer, mas me quer
disposta.

Os nós dos dedos de Maddox ficaram brancos quando ele apertou as


grades com mais força.

— Você não me conhece.


— Não, não conheço. Mas sei de uma coisa com certeza, — sussurrei
e então escovei meus lábios levemente sobre os dele, tentando ignorar como
meu corpo aqueceu com o contato leve. — Você não consegue parar de
pensar em mim, e a partir de hoje sonhará com meu corpo e como seria me
tocar a cada momento de vigília e até mesmo quando estiver dormindo.

Ele se afastou de meus lábios como se o tivessem eletrocutado.


Também senti o choque percorrer meu corpo com o breve beijo. — Não
brinque com coisas que não pode controlar, Branca de Neve. Você não sabe
no que está se metendo. — Ele se virou e saiu. Ele provavelmente estava
certo. Maddox era um tipo de homem diferente do que eu estava
acostumada. Ele era rude e não tinha um pingo de respeito por meu pai. Ele
adoraria irritá-lo. Mas isso era parte do motivo pelo qual estava atraída por
ele, apesar da situação horrível. Não que meus desejos tivessem algum
significado. Precisava sair daqui, não importa como.

Maddox manteve distância pelo resto do dia e, felizmente, ninguém


mais apareceu também.

Meu estômago roncou novamente. Depois da gravação, tive certeza


de que nunca mais conseguiria comer de novo, me senti muito mal. Nos
últimos dias, ansiava pelo meu celular, agora estava feliz por ele ter sumido.
Meu Instagram e Messenger provavelmente estavam cheios de mensagens
por causa da gravação de nudez. Afastei o pensamento e olhei para a
esquerda.
Satan andava pelo canil ao lado do meu novamente. Ela
provavelmente também estava com fome. Não tinha visto ninguém trazendo
comida para os cachorros. Saltei do abrigo, o único lugar na sombra, e me
aproximei cautelosamente do cachorro.

Ela me lançou um olhar rápido, então andou de um lado para o outro


na frente da porta da gaiola novamente. Sua tigela de água também estava
vazia. Olhei em direção à casa. No calor da tarde, cachorros precisavam
beber alguma coisa, até eu sabia disso. Pensei em gritar para Maddox.
Talvez ele estivesse em seu quarto e me ouvisse, mas não consegui me
obrigar a fazê-lo.
A porta da casa se abriu e gritei: — Ei, os cachorros precisam de água
e comida! — Então percebi que era Cody. Fechei minha boca, mas ele já
vinha na minha direção com um largo sorriso.

Afastei-me das grades, querendo o máximo de distância possível entre


nós.

— O que você quer, princesa?


Engoli minha repulsa e orgulho. — Os cães não foram alimentados
hoje e Satan não tem água.

— Os cães são mais ferozes quando estão com fome. Há uma luta de
cães esta noite, então eles precisam estar atentos.

Fiz uma careta. — Duvido que possam lutar se morrerem de sede.


Cody se encostou nas grades, deixando seus olhos viajarem pelo meu
corpo de uma forma muito nojenta. — O que ganho em troca se der água a
eles?

Zombei. — Não o que você quer.


Seu rosto endureceu. Ele pegou a mangueira que usavam para encher
as tigelas, mas em vez de apontá-la para lá, brandiu a ponta para mim. Meus
olhos se arregalaram por um segundo antes de a água fria atingir meu peito.
Tropecei para trás, mas não havia nenhum lugar onde pudesse procurar
abrigo, a menos que rastejasse para dentro do abrigo de cachorro, o que
nunca faria. Os cães latiram com entusiasmo. Virei-me para que a água
batesse nas minhas costas. Por fim, Cody fechou a torneira. Eu estava
completamente encharcada. Olhando por cima do ombro, vi Cody sorrindo
maliciosamente.

— Aí está a sua água. Tem certeza que não quer me dar alguma
coisinha para que encha as tigelas dos cachorros?
Fiz uma careta e ele jogou a mangueira para longe antes de ir embora.
Meu canil estava completamente molhado, mas a água escorreu pela ligeira
inclinação em direção a entrada da gaiola e não atingiu as outras gaiolas.
Satan deitou de barriga e tentou apertar seu focinho sob a lacuna entre as
grades e o chão para lamber a água, mas não teve sucesso. Peguei minha
tigela, que estava cheia de água, mas a coisa não passava pelas grades.
Satan me observava atentamente. Eu não tinha nenhuma experiência com
cachorros, então não pude dizer se ela era amigável ou estava esperando por
uma chance para me comer.

Minha pena pela besta venceu mesmo quando meu pulso acelerou.
Peguei água em minhas mãos e cuidadosamente as movi através das grades.
Após um momento de hesitação, Satan se aproximou de mim. Fiquei tensa
quando ela aproximou o focinho, mas apenas sua língua saiu e ela começou
a beber com avidez. Repeti o processo várias vezes até que ela parecesse
satisfeita.
— O que você está fazendo? — Maddox perguntou, me assustando
tanto que machuquei meus pulsos quando os puxei de volta através das
grades. Satan soltou um forte latido com o movimento rápido.

— Dando água a ela.


Maddox examinou minhas roupas encharcadas. — E por que você
está molhada?

— Cody me molhou com a mangueira em vez de dar água aos


cachorros quando lhe pedi para encher as tigelas.

A expressão de Maddox tremeluziu de fúria. — Idiota, — ele


murmurou, então franziu a testa. — Por que você se importa se os cachorros
têm água ou não?
— Eles estão trancados dentro de uma gaiola sem terem culpa de
nada, assim como eu.

Maddox balançou a cabeça com um sorriso estranho enquanto pegava


a mangueira e enchia todas as tigelas com água. Já estava escurecendo.

— É verdade que os cães têm que passar fome para lutar mais
ferozmente esta noite?

— Sim, — disse Maddox. — Ordens de Earl.

— Isso é errado. Brigas de cães são nojentas. Tenho pena deles.

— Também não gosto das lutas, mas o prez toma as decisões e todos
nós as seguimos, mesmo que odiemos.
Fiquei surpresa com sua honestidade e pude ver em seu rosto que ele
não pretendia revelar tanto. — Você foi contra o meu sequestro?
Maddox balançou a cabeça com um sorriso estranho. —Você precisa
de um cobertor ou toalha?

— Não, está quente o suficiente.


Ele tirou um chapéu imaginário antes de voltar para a sede do clube,
onde se sentou no corrimão e acendeu um cigarro. Tive a sensação de que
ele me observaria enquanto pudesse renunciar ao sono.

Logo Denver, que não tinha ousado se aproximar de mim novamente,


e Gunnar pegaram vários cães, entre eles Satan, e os levaram embora. Nas
profundezas da floresta, as luzes foram acesas, mas não consegui distinguir
nenhum detalhe. No entanto, quando os primeiros rosnados e depois uivos e
gemidos ecoaram pela área, fechei os olhos e coloquei as mãos sobre os
ouvidos.
Capítulo 9

A luta de cães era absolutamente desnecessária, até porque esta noite


nem tínhamos visitantes que pudessem apostar no resultado. Isso era apenas
para entretenimento de Earl e do clube. Quando era criança, Earl me
forçava a ver os cachorros se despedaçando, mas agora já tinha idade
suficiente para ficar longe. Gray não tinha tanta sorte. Earl ainda achava
que precisava endurecer o menino, fazendo-o assistir a esse espetáculo
sádico.

Tentei ignorar o som da luta e, em vez disso, observei Marcella. Ela


estava encolhida, cobrindo os ouvidos com as palmas das mãos. Ela me
surpreendeu hoje. Não teria imaginado que ela se importava com nada além
de si mesma. Vê-la ajudar Satan arriscando seus dedos tinha feito algo
comigo que não conseguia explicar.

Era quase meia-noite quando Cody e Gray levaram os cães


sobreviventes de volta aos canis enquanto Earl atirava nos que estavam
gravemente feridos. Marcella se sentou quando Satan entrou mancando no
canil e rolou para o chão. Cody disse algo a ela que fez seu rosto se torcer
de nojo.

Endireitei-me, pronto para correr até lá e enfiar minha bota na bunda


de Cody. Ele estava me irritando mais a cada dia e, ao contrário de Denver,
parecia contente em ignorar meus avisos. Seu interesse por Marcella estava
perdendo a mão. Finalmente, ele caminhou na direção onde Earl sempre
atirava nos cachorros, provavelmente para observar com atenção. Marcella
disse algo para Gray e ele encolheu os ombros.

Estreitei meus olhos, imaginando o que eles estavam falando. Ela


disse mais e Gray assentiu, em seguida, ele se dirigiu para o galpão com a
comida de cachorro e pegou um punhado. Fiquei tenso quando ele entregou
a Marcella através das grades, mas ela simplesmente pegou sem tentar nada.
Gray voltou para a sede do clube, parecendo pálido.

— O que ela queria?

— Ração para Satan.

— E?

— Só isso. Ela me perguntou se eu estava bem porque parecia doente,


— disse ele, esfregando a nuca em constrangimento.

— Diga a Earl que você não quer assistir.

— Eu disse, mas ele não se importa. Hoje foi muito ruim. — Ele
balançou a cabeça como se não quisesse pensar, muito menos falar sobre
isso. — Preciso beber até esquecer, — ele murmurou e desapareceu dentro
do clube.

Resisti ao impulso de ir até o canil por alguns minutos, mas a atração


era muito forte. Marcella ergueu os olhos quando um galho quebrou sob
minha bota. Ela estava ajoelhada ao lado das grades e jogando comida para
Satan, que a comia, mas estava obviamente exausta demais para se levantar
e chegar mais perto.

— Isso é bárbaro, — ela ferveu. — Ela está sangrando. Tem cortes na


orelha e no focinho.

— Se esses são os únicos ferimentos dela, o outro cachorro


provavelmente está morto, — disse. Satan era o favorito de Earl por um
motivo. Ela era grande para uma fêmea, e como teve uma ninhada, que Earl
tirou dela logo após o nascimento, ela era uma lutadora feroz dentro do
ringue.

— Ela não deveria ser forçada a lutar contra outros cães.

Eu a observei, sem dizer nada. O luar fazia sua pele brilhar e seu
cabelo reluzir como petróleo, mas o que realmente a deixou linda naquele
momento foi a expressão carinhosa que ela tinha pelo cachorro. Ela me
lançou um olhar enviesado, jogou o resto da comida na direção de Satan e
limpou as palmas das mãos nas calças antes de se levantar. Ela se
aproximou de mim com um olhar que fez meu estômago revirar. Ela
agarrou as grades e olhou para mim. —Pessoas que gostam de lutas de cães
geralmente gostam de torturar humanos também. Não confio em Cody e
Earl. E você?

Eu ri. — Eles não são meus inimigos.

— Cody com certeza é.

Dei de ombros. — Posso lidar com Cody. — Não confiava em Cody e


confiava em Earl até certo ponto.
— Ele não vai parar de frequentar os canis. Ele está atraído por mim.
Ele não suporta ser rejeitado. Eventualmente, pegará o que quer, Maddox.

Sabia que ela estava certa, mas não podia deixar que nos considerasse
aliados. Nós não éramos. Ela era a cativa e filha do meu pior inimigo.

Ela se inclinou ainda mais perto, com a voz baixa. —Você realmente
quer vir aqui um dia e descobrir que ele abusou de mim? Você quer isso na
sua consciência? — Rangi meus dentes. — Poderia realmente viver consigo
mesmo se Cody pegasse o que você nega a si mesmo?

Recuei, meu pulso acelerado. Suas palavras pareciam afundar em


mim e apodrecer.

— Não... — Avisei, mas nem sabia como terminar a frase. Virei-me e


voltei para o clube.

Porra, porra, porra.

Marcella Vitiello estava tentando me guiar pelas bolas para se salvar,


e eu estava pensando em deixá-la tentar. Arrisquei outro olhar por cima do
ombro para os canis enquanto me dirigia para o clube. Ela ainda estava
pressionada contra as grades, me observando. Seu cabelo estava uma
bagunça e suas roupas já haviam visto dias melhores, mas parecia ter sido
feita para ser assim, como se estivesse encenando alguma fantasia pós-
apocalíptica para uma sessão de fotos da Vogue. Rangi meus dentes e
desviei meus olhos. Tornou-se mais difícil ignorá-la, esquecê-la. Meus
sonhos estavam completamente fora do meu controle agora e depois do que
vi hoje, as coisas certamente não iriam melhorar. Mas meu pau era o menor
dos meus problemas. O tesão de Cody era o verdadeiro problema, porra.
Vê-la nua lhe daria uma tonelada de novas fantasias que ele seguiria em
algum momento. Não podia deixar isso acontecer. As razões da minha
necessidade de proteger Marcella eram irrelevantes. Tudo o que importava
era tirá-la do perigo. Seu pai pagaria por seus pecados, não a filha. Talvez
ela fosse mimada e tivesse levado uma vida boa graças ao seu personagem
podre, mas isso não justificava sua punição, e certamente eu era a última
pessoa que deveria julgar o dinheiro por sangue de uma pessoa.

Andando pela varanda, fumei dois cigarros antes que um plano se


formasse em minha mente. Era arriscado em muitos níveis, mas a única
outra coisa que poderia pensar era deixar Marcella ir e o inferno congelaria
antes que isso acontecesse. Ela era nosso bilhete para a morte de Vitiello.

Apaguei meu cigarro no cinzeiro transbordando e subi para o meu


quarto, determinado a falar com Earl pela manhã. Depois das brigas de
cães, ele não estava em condições de discutir nada. Sentei-me no parapeito
da janela. As palavras de Marcella se repetiram na minha cabeça. E se ele
pegar o que você nega a si mesmo?

Porra. Passaria a noite observando os canis novamente.

Depois de um cochilo rápido pela manhã, saí em busca de Earl, mas


não tive a chance de dizer nada porque ele me enviou para coletar dinheiro
de um de nossos traficantes. Felizmente, Cody não estava por perto, então
não precisava que me preocupar com Marcella. Só teria que me apressar.

Quando voltei para casa no final da tarde, a motocicleta de Cody já


estava estacionada na frente da casa. Desmontei da minha Harley
rapidamente e corri pela trilha até avistar os canis. Marcella estava sentada
ao lado da grade e parecia estar falando com Satan. A cachorra estava
estendida ao lado dela, apenas as grades entre elas.
Tranquilo, entrei. Seguindo os sons de balas atingindo latas,
atravessei a porta dos fundos e encontrei meu tio em sua cadeira de balanço
favorita, atirando em latas apoiadas em arvores. Seu colete com as palavras
Presidente do Tartarus MC estava sobre o encosto. Como de costume,
meu peito inchou ao ver isso. Um dia usaria aquele colete, seria o líder do
nosso clube. Por muito tempo, não considerei isso uma opção, tinha certeza
de que Gray seguiria os passos de seu pai, mas três anos atrás Earl me disse
que eu e não Gray seria o futuro prez do Tartarus. Fiquei mais do que um
pouco surpreso, e Gray ficou arrasado, mas Earl era um idiota teimoso e
não mudava de ideia depois que tomava uma decisão.

Earl olhou por cima do ombro e continuou atirando nas latas. — Não
fique nas minhas costas, porra, está me dando uma coceira de merda.

Sentei na cadeira de balanço ao lado dele, mas firmei meus pés no


chão para impedi-la de se mover. Eu odiava o vai e vem monótono. Preferia
avançar. A sensação de fazer uma viagem por centenas de quilômetros na
minha motocicleta, esse era o tipo de movimento que gostava. Bem, havia
um movimento de vai é vem que eu não me importava...

— Derrame. Você está fodendo com minha mira.

— Você fez mais planos com a garota que não me contou? —


Perguntei.

O rosto de Earl se contraiu com raiva. — Se fiz, você vai descobrir


quando eu achar melhor, garoto.

Balancei a cabeça de má vontade. — Achei que esse plano era nosso,


nossa chance de nos vingar do assassino do meu pai. Achei que estávamos
nisso juntos, mas agora você está fazendo as coisas por conta própria.
Earl suspirou e recostou-se na cadeira, a arma balançando em sua
coxa. — Você terá sua vingança, não se preocupe. Precisamos usar a
pirralha Vitiello enquanto a tivermos, realmente levar o pai dela ao limite,
ver aquele idiota italiano desmoronar aos poucos.

Apoiei meus cotovelos nos joelhos. — É isso aí, — disse, então sorri
torto. — É por isso que a quero na minha cama.

Cody, que havia saído sem que eu percebesse, soltou uma risada
incrédula. — Certo.

Mas o ignorei e apenas continuei: — Ninguém tem mais razão para se


vingar do que eu.

Earl me olhou com curiosidade e acendeu o cigarro. —Por que a


mudança de ideia? Você não disse que ela é apenas uma vantagem e não
devemos machucá-la. Agora quer arrastá-la para a sua cama?
Não tinha absolutamente nenhum proposito em protegê-la. O pai dela
matou meu pai brutalmente diante dos meus olhos, mas não podia permitir
que Cody colocasse as mãos nela. — Não vou arrastar ninguém, — disse
com um sorriso. — A garota está flertando comigo como uma louca,
provavelmente tentando chegar ao meu lado bom. Suponho que esteja
acostumada a conseguir o que quer usando seus seios e boceta.

— Aposto que está. Ela tem seios lindos e uma boceta bonita, pelo
que pude ver, então tem muito com que trabalhar.

Acendi meu próprio cigarro, permitindo que meu sorriso ficasse sujo.
— Se ela quer me influenciar com sua boceta bonita, quem sou eu para lhe
negar? Principalmente quando isso irrita Vitiello.
O rosto de Cody ficou cada vez mais frustrado. — Tenha cuidado
para não cair na armadilha dela. Aposto que ela conduziu mais de um
homem por seu pau.

Earl ainda me observava. Aprendi a ter cautela com sua cara de


pôquer. — Não se preocupe. Meu ódio pelo que seu pai fez vai me ajudar.
Com certeza não serei conduzido pelo meu pau, mas se ela quiser um bom
motoqueiro para se molhar, quem sou eu para dizer não?

Ri para mim mesmo, agarrando minha virilha.

Earl soltou sua risada rouca. — Tesão pra caralho. Por mim, você
pode preencher os buracos dela, contanto que isso não interfira no nosso
plano. Você é quem mais merece uma boceta Vitiello, como disse. Não vou
proibir isso. Mas tome cuidado. Tenho certeza que o rosto bonito é uma
máscara e a boceta vai te apunhalar pelas costas no momento em que não
estiver prestando atenção.

Cody cruzou os braços sobre o peito esquelético. Talvez ele devesse


restringir seus movimentos físicos ao supino em vez de foder cada boceta
disponível no clube. — Acho que seria justo se cada um de nós a tivesse.
Estamos todos nisso. Não acho que seja justo apenas Mad molhar o pau.

— Mad teve que assistir seu pai e seus irmãos do clube sendo
destroçados por Luca Vitiello e arriscou a porra de seu couro sequestrando
Marcella. Como isso é injusto?

Cody se virou para Earl. O ouvi tentando ao máximo colocar as mãos


sujas em Marcella e, enquanto Earl balançava a cabeça, me perguntei por
quanto tempo ele negaria o pedido de Cody. Manter o bom humor no clube
era uma das principais tarefas de um prez. Até agora, nenhum dos outros
irmãos do clube havia pedido abertamente uma chance com Marcella, mas
se Cody começasse a vomitar suas besteiras, isso podia muito bem mudar.
Ele era como a porra de um buldogue quando queria alguma coisa.

Mas se alguém se desse bem com ela, esse seria eu.

— Ela não é uma garota compartilhada. Não vou passá-la como um


troféu. Isso só vai levar a mais discussões entre vocês, pervertidos. Não
quero brigas porque alguém ficou dez minutos a mais com a puta. Contanto
que seja apenas Mad recebendo seu bônus depois de toda a merda que
Vitiello o fez passar, tudo ficará bem.

Cody parecia estar engolido uma pílula amarga, mas não se atreveu a
insistir com Earl. Seu rosto deixou claro que o assunto estava encerrado e
ele queria sua paz do caralho para atirar nas latas.

Enviei a Cody um sorriso malicioso e acenei agradecendo a Earl antes


de me afastar para dar as boas novas a Branca de Neve.

Meu coração batia como um tambor na selva. Estava em êxtase pra


caralho, mas ao mesmo tempo sabia que isso poderia bagunçar as coisas. Já
tinha problemas para tirar minha mente da sarjeta. Dormir no mesmo quarto
com Branca de Neve definitivamente não ajudaria. O aviso de Cody atingiu
o alvo. Por um lado, não sabia muito sobre Marcella. Ela podia muito bem
me apunhalar no olho enquanto eu dormia. Teria que me livrar de todas as
armas em potencial no meu quarto, o que demoraria um pouco.

— Boas notícias, você vai se mudar hoje, — disse a ela. Ela levantou,
os olhos arregalados de esperança.

— Você vai me ajudar, — ela sussurrou, seu olhar passando


rapidamente para a sede do clube como se isso fosse um segredo. Em
momentos como este, sua educação protegida aparecia. Tudo sempre corria
conforme o planejado em sua vida. Seu pai se certificou disso. Que alguém
não caísse de joelhos diante de sua força e seguisse seu comando era
impossível de entender.

— Espero que não esteja pensando que vou levá-la de volta para o
papai ou deixá-la ir. Nem todo o meu sangue saiu do meu cérebro ainda.

Ela franziu a testa, tornando-se vigilante. — Para onde você vai me


levar? — Destranquei a gaiola e entrei, me irritando com a reação dela,
especialmente quando ela deu um passo para trás. Ela achou que eu a
agarraria e a jogaria por cima do ombro? Arrisquei a porra da minha cabeça
por ela e ela agia como se eu fosse algum tipo de pervertido.

— Para o meu quarto. É lá que passará o resto de sua estadia aqui até
que seu pai decida se trocar por você.

Sua boca ficou frouxa. — Você perdeu a cabeça? Não vou dividir o
quarto com você.

— Se ficar no meu quarto, posso protegê-la de Cody. Aqui, você


estará à mercê dele, especialmente à noite. Não vou ficar acordado a noite
toda te olhando pela minha janela. Desculpe, princesa, não vai acontecer.

— Você quer que eu ache que é algum tipo de cavaleiro de armadura


brilhante? — Ela assobiou. Aqueles olhos azuis brilharam com
desconfiança, e ela tinha todos os motivos para não confiar em mim.

— Não me importo com o que você acha Marcella, mas se estou te


dizendo para ficar ao meu lado para sua própria proteção de merda, você
realmente deve fazer isso.

Seus olhos se estreitaram ainda mais. — Não acredito que esteja


fazendo isso pela bondade do seu coração.
— Você pode ficar aqui e esperar que Cody coloque suas mãos
ansiosas sobre você ou pode vir comigo para o meu quarto.

— Para você colocar suas mãos ansiosas em mim.


Soltei uma risada sarcástica. — Não se superestime. — Então inclinei
a cabeça. — E se bem me lembro de nossas últimas conversas, você flertou
comigo e não o contrário.

O olhar que ela me deu deixou claro que sabia muito bem do efeito
que tinha sobre mim, e porra, ela estava certa.

Dei de ombros e girei nos calcanhares para sair da gaiola. Não


imploraria a ela para dormir no meu quarto. Se ela quisesse ficar com os
cachorros. Essa era uma decisão dela. Eles seriam o menor de seus
problemas de qualquer maneira. Cody já estava salivando com a ideia de
colocar seu minúsculo pênis em sua boceta.
Claro, a recusa dela apenas significava que eu passaria o dia e a noite
vigiando os canis da minha janela para ter certeza de que ninguém tocaria
na Branca de Neve.

— Espere, — ela gritou quando eu estava prestes a fechar a gaiola.


Mascarei meu alívio e levantei uma sobrancelha para ela.

— Não tenho o dia todo para você se decidir. Talvez todos tenham
atendido aos seus caprichos até agora, mas eu não vou.
Poderia dizer que ela lutou contra si mesma para manter a réplica
mordaz. — Irei com você, — ela disse a contragosto.

— Então vamos. Apresse-se.

Ela saiu da gaiola na ponta dos pés, mas Satan saltou contra as grades
ansiosamente, fazendo-a pular. Ela se virou para o cachorro. — Vou me
certificar de que meu pai a liberte assim que destruir este lugar.

Zombei. — Seu pai vai fazer um tapete com a pele dela.

— Você não sabe nada sobre meu pai.

Balançando a cabeça em aborrecimento, fiz sinal para ela ir em frente.


Ela finalmente pegou um pouco de velocidade enquanto a levava para o
meu quarto. Os irmãos do clube reunidos na área comum gritaram e
assobiaram ao nos ver. Enviei-lhes um sorriso, o que aumentou a expressão
de cautela no rosto de Marcella.

No momento em que entramos no meu quarto, ela e eu ficamos


tensos, só que por razões diferentes.

Como vice-presidente do Tartarus MC, conseguir uma boceta nunca


foi um problema. Mulheres ansiosas por agradar entravam e saíam do nosso
clube todos os dias. Mas passar a noite em um quarto com Marcella, era
uma tentação de merda diferente de tudo que já encontrei. A trouxe para o
meu quarto para protegê-la, mas agora que ela estava aqui, me perguntei se
isso complicaria seriamente as coisas para mim. Eu a queria, quis desde o
primeiro segundo em que a vi, para ser honesto comigo mesmo.

— Preciso de um banho, — disse ela, tirando-me dos meus


pensamentos. Ela examinou meu quarto. Ela estava acostumada com coisas
melhores, é claro. Eu vivi em todos os casebres imagináveis e não me
importava se ela achava esse abaixo dela. Ela tinha sorte de estar fora do
canil.

— Seja minha convidada. Há um chuveiro atrás daquela porta. Claro,


nada tão sofisticado quanto uma banheira de mármore ou um chuveiro a
vapor.
Ela franziu os lábios, os olhos fixos em mim. — Talvez você ache que
eu seja mimada...

— Acho?

— Talvez seja mimada, mas não acho que tenha o direito de me


julgar. Não saio por aí sequestrando pessoas.

— Não, você só lucra com os crimes de seu pai, e sequestrar pessoas


é o menor de seus pecados.

Sempre que atacava seu pai, suas paredes se erguiam enquanto ela
entrava em modo protetor. Nada poderia fazê-la duvidar dele? — Meu pai
nunca sequestraria uma mulher ou o filho de alguém. Ele tem honra, ao
contrário de você e seu clube de motoqueiros idiota.

— Você pensa muito de seu pai. Se soubesse tudo o que ele fez, tenho
certeza de que mudaria de ideia.

— Nada que você diga mudaria meus pensamentos, Maddox, então


não perca seu fôlego em me convencer.

Não havia uma centelha de dúvida em sua expressão e isso me


enfureceu. Queria destruir a imagem de seu pai. Queria que seu ódio por ele
se igualasse ao meu. Eu a queria do meu lado. Isso realmente quebraria
Luca Vitiello.
Eu precisava desesperadamente de um banho, mas mal podia usar
minhas roupas sujas por mais um dia. Elas cheiravam a cachorro molhado e
suor e estavam manchadas com o que quer que tenha se agarrado ao abrigo
dos cachorros.
— Você deveria se preparar para dormir. Amanhã tenho que acordar
cedo e não posso me dar ao luxo de discutir besteiras com você a noite toda,
— disse Maddox. Ele manteve alguns passos de distância entre nós, o que
me deixou feliz. Não tinha certeza sobre seus motivos.

— Preciso de uma muda de roupa. As minhas estão arruinadas.

Ele apontou para a pilha de roupas amontoadas na poltrona no canto.


— Escolha uma camiseta e uma boxer para dormir. Não vou fazer compras
para você.

Depois de mais uma olhada na cama queen size, fui até a poltrona.
Nos dois anos de nosso relacionamento, Giovanni nunca havia passado a
noite. Era irônico que o primeiro homem com quem passaria a noite em um
quarto era o mesmo que me sequestrou e queria matar meu pai. Um
motoqueiro. Um homem que definitivamente não compartilhava de nenhum
dos nossos valores. Flertei com ele, mas dormir em seu quarto nunca fez
parte dos planos. Olhei ao redor de seu quarto com curiosidade. Não havia
muito nele. Uma cama, uma poltrona e uma escrivaninha. As duas últimas
serviam apenas como um lugar para largar as roupas.

Cuidadosamente peguei uma peça de roupa, perfeitamente ciente dos


olhos de Maddox seguindo cada movimento meu. Pela pilha bagunçada, era
difícil dizer se as roupas estavam sujas ou limpas.
Maddox soltou uma risada baixa enquanto se empoleirava no
parapeito da janela e soprava a fumaça do lado de fora. — Está tudo limpo.
Mas como pode ver, não tenho um guarda-roupa, então a poltrona tem que
servir.

— Passar e dobrar é muito complicado para você? —Perguntei depois


de pegar uma camiseta preta simples e uma boxer preta. Era estranho tocar
a cueca de Maddox. A ideia de usá-la parecia ainda mais estranha. Meu
relacionamento com Giovanni sempre foi muito formal para que tivesse a
chance de usar suas roupas, sem mencionar que ele nunca teria me
permitido chegar perto de sua cueca.

— Fique à vontade se quiser ficar com suas roupas sujas.


Peguei a camiseta e sua boxer e desapareci no banheiro. Era limpo,
mas pequeno. Maddox estava certo. Nunca estive em um banheiro tão
simples quanto este. Até mesmo minhas amigas tinham dinheiro e
banheiros maiores e mais luxuosos do que a maioria das pessoas. Lavei
minha calcinha na pia com sabonete, mas minha calça e blusa estavam
arruinadas. Depois de um banho rápido, me vesti com as roupas de
Maddox. Sua camisa alcançava minhas coxas e sua boxer caiu sobre meus
quadris, quase escorregando. Era estranho estar tão vulnerável perto de um
homem como ele.
Quando saí do banheiro, Maddox havia sumido. Andei em direção à
janela, sem saber o que fazer. Deitar na cama de Maddox parecia uma má
ideia. Estava morta de cansaço, mas minhas suspeitas me mantinham bem
acordada. Depois de um tempo, a porta se abriu e Maddox entrou com um
prato cheio de sanduíches. Ele fez uma breve pausa, seus olhos traçando
desde meus pés descalços e minhas pernas nuas até meu rosto. Ele não
demonstrou nenhuma emoção. Normalmente os homens sempre ficam de
queixo caído, mas geralmente eu estava arrumada.

— Trouxe alguns sanduíches para você.

— Você os fez?

Ele balançou a cabeça com uma expressão divertida, como se a mera


sugestão fosse absurda. — Pedi a Mary Lu que os fizesse. Ela é uma
cozinheira decente.

— A garota com quem você se aconchegou alguns dias atrás?

Ele assentiu, como se não fosse grande coisa. — Ela não se importou
por ter que fazer o jantar para outra mulher passando a noite no seu quarto?

— Não estamos namorando, apenas transando. Ela é uma garota


compartilhada. Ela não liga. Não sou o único cara em quem ela está de
olho. Se outro cara lhe pedisse para ser sua old lady, ela me chutaria em um
piscar de olhos. Tudo o que essas garotas querem é um colete que as declare
propriedade de um motoqueiro.

Meus lábios se curvaram. —Uma garota compartilhada, sério? O


quão sexista você pode ser?
— Não aja tão alta e poderosa. Em seus círculos, as mulheres são
usadas como barganha. Quer dizer, quem ainda usa casamentos arranjados?
— Eles funcionaram por séculos, — falei com altivez. —E não estou
prometida.

— Não mais. Você e aquele cara piegas não deveriam se casar em


dois anos?
— Nós não tínhamos uma data ainda. Mas para sua informação, eu o
escolhi, não meus pais.

— Você escolheu alguém que seu pai permitiu que se aproximasse


para que o escolhesse.

Nunca tinha visto dessa forma, mas era verdade que apenas alguns
meninos tiveram permissão para se aproximar de mim quando atingi a
puberdade. Todos eles bem comportados e respeitosos, para não falar com
medo do meu pai. — Você não sabe nada da nossa vida. Mas certamente é
melhor do que essa vida caipira sem lei que você leva.

— Sou livre para fazer o que quiser. Você está sujeita às suas regras
antiquadas. — Mesmo que ele tivesse razão, não poderia simplesmente não
argumentar. Fiz um gesto para a tatuagem de cão do inferno em seu braço, o
símbolo de seu clube. — Você não pode simplesmente deixar o clube
também. Isso não é liberdade.

— Vivo para o clube. Nunca o deixaria. É a porra da minha vida.

— E minha família é a minha vida, então não sou menos livre do que
você.
— Não acho que você realmente entenda o que significa liberdade.

Muitas vezes ansiava por liberdade, mas não longe da minha família e
do mundo em que cresci.
Maddox estendeu o prato novamente e o colocou na mesa de
cabeceira. — Você pode comer na cama se quiser, não me importo.

— E as migalhas? — Perguntei, mais para ganhar tempo e me livrar


do meu nervosismo repentino.
— Esses lençóis já viram coisas piores, — disse Maddox com uma
risada, caminhando até a poltrona.

Meus lábios se curvaram. — Acho que vou dormir no chão.

Maddox me lançou um olhar irritado. — Os troquei esta manhã, então


não fique nervosinha. Mas se preferir o chão, fique à vontade. Não dou a
mínima.
Ele removeu o colete e o pendurou no encosto. Era a primeira vez que
o via sem ele desde o sequestro. Do jeito que olhava para ele, o pedaço de
couro parecia ser importante.

Ele me lançou um olhar de advertência. — Não toque no meu colete


enquanto tomo banho.

— Não se preocupe.
Ele se virou na porta do banheiro. — E não tente nada ou vou jogar
sua bunda empinada no canil de novo. — Ele fechou a porta.

— Idiota, — murmurei, mas estava quase grata. Se ele realmente fez


isso para me proteger, foi um belo gesto. Porém, não conseguia acreditar
que era só por causa disso.

Herdei a natureza desconfiada de meu pai e isso estava surgindo


agora. Quando a água começou a correr, fui até a porta e empurrei a
maçaneta, mas estava trancada. Vozes masculinas e risadas barulhentas
soaram lá embaixo, então a porta trancada era provavelmente o melhor de
qualquer maneira.

Olhando para a pilha de sanduíches e ouvindo o ronco zangado do


meu estômago, finalmente peguei um com queijo e presunto. Geralmente
não comia carboidratos ou laticínios. Um te engordava e o outro dava
espinhas, mas realmente não me importava. Enfiei um terço do sanduíche
na boca e mordi, mastigando ansiosamente. Depois de viver em uma gaiola
fedorenta por dias e estar à mercê daqueles motoqueiros, a maioria das
minhas preocupações anteriores parecia terrivelmente irrelevante.
Rapidamente minha mente me lembrou do vídeo, se perguntando quem o
teria visto, mas afastei o pensamento. Não era útil no momento. Passado era
passado. Precisava descobrir uma maneira de melhorar meu futuro.
Mais cedo do que o esperado, Maddox saiu do banheiro e quase tive
um ataque cardíaco. Ele usava nada além de boxers, revelando a parte
superior do corpo musculoso coberto de tatuagens. Agora, a barra
pendurada no teto perto da janela fazia sentido. Esse corpo exigia trabalho.
Tive que forçar meus olhos para longe dele. Seu corpo gritava menino mau.
E cresci em torno de homens maus, mas Maddox carregava sua própria aura
proibida de menino mau.

Maddox olhou para mim como se fosse uma intrusa em seu espaço,
como se tivesse pedido para estar aqui, como se tudo isso fosse minha
escolha. Ele andou até a pequena mesa e pegou o maço de cigarros que
estava lá. — Você tocou no meu colete?

Revirei meus olhos. — É um pedaço de couro. — Ele ergueu as


sobrancelhas. — Não, não toquei.
Ele assentiu, obviamente satisfeito. Ele pegou o maço de cigarros e
foi até o peitoril da janela.
— Você vai fumar no seu quarto?

Ele colocou o cigarro na boca, acendeu e deu uma longa tragada antes
de finalmente me considerar com uma resposta. — Tem algum problema
com isso?

Dei de ombros. — É anti-higiênico e nojento. Sem falar que é


perigoso, considerando quantas pessoas adormecem com um cigarro aceso
e se incendiam. É sua saúde. Mas prefiro que você escolha algo que te mate
mais rápido do que a nicotina.

A expressão de Maddox se retorceu de raiva e ele avançou na minha


direção. Obriguei-me a ficar parada e não me afastar de sua fúria. — Sou a
única coisa que fica entre você e um bando de motoqueiros excitados
querendo provar o gostinho da boceta da máfia.

Por que isso o enfureceu tanto? Ele estava particularmente tenso


desde que chegamos ao seu quarto. Enrijeci. — Por que você se importa?
Por que não os deixa me atacar se odeia tanto minha família?
— Odeio seu pai. Você só me irrita pra caralho porque nem percebe
quão privilegiada é.

Devido à sua explosão, ele chegou muito perto de mim, então o cheiro
de seu gel de banho másculo e mentolado inundou meu nariz. Seu cabelo
ainda estava molhado e desgrenhado na testa. Meus olhos foram atraídos
para as tatuagens por toda a parte superior de seu corpo e braços. Imagens
de cães do inferno, facas, caveiras e motocicletas.

— Pare de bancar a vítima aqui, — falei finalmente.

Maddox olhou para mim, mas algo em seus olhos me fez sentir
quente. — Fui vítima há muito tempo, não sou agora.
Meus olhos piscaram do piercing em sua língua para a barra em seu
mamilo.

— Eu tenho mais, — ele disse e deu outra tragada.

— Onde? — Perguntei.

Seu olhar desceu para sua boxer. — Mais dois.

Meu queixo caiu, tentando imaginar onde exatamente ele os tinha.


Minhas bochechas ficaram quentes. — Você está brincando comigo. —
Estreitei meus olhos. — Você só quer me deixar nervosa.

— Por que dois piercings no meu pau te deixariam nervosa? — Ele


perguntou, mas sua voz tinha um timbre novo e mais profundo.

Dei de ombros. — Eles não deixam.

Ele sorriu, vendo através de mim. Tudo sobre Maddox me deixava


nervosa. — Vá para a cama, princesa.
Ele sempre conseguia fazer a palavra soar como o pior insulto
imaginável.

Não querendo parecer assustada, sentei-me na beirada da cama, meus


dedos dos pés no chão. A roupa de cama cheirava fresca e não a fumaça ou
suor. Talvez ele normalmente só fumasse com a janela aberta e
simplesmente não fez hoje para me irritar.

Maddox me lançou um olhar meio divertido, meio irritado. — Os


lençóis estão limpos como falei, não se preocupe.
— Não estou preocupada com isso.

Ele assentiu, estreitando os olhos em pensamento. —Então, com o


que está preocupada?
— Não é óbvio? Não estou muito feliz em dormir ao lado do meu
sequestrador sem proteção.

Ele apontou para o peito. — Sou sua proteção, e você com certeza
não precisa ser protegida de mim. Sua boceta está segura.
Rangi os dentes e finalmente deitei na cama. Era muito diferente do
que estava acostumada em casa, mas parecia uma nuvem macia depois do
abrigo de cães.

Maddox terminou seu cigarro, mas mesmo assim ficou na frente da


janela, olhando para fora. As letras Tartarus MC estavam escritas em suas
costas e ombros, e abaixo delas uma caveira cuspia fogo, a mesma imagem
que em seu esterno. — Por que os crânios?

Ele olhou para o peito. — Meu pai tinha a mesma tatuagem. Não
lembro muito de sua aparência. Sempre que tento me lembrar de sua
aparência, vejo a polpa sangrenta em que seu pai o transformou. Essa
tatuagem é tudo que tenho.
Engoli. — Sinto muito pelo que meu pai fez.

Ele assentiu, me observando intensamente. — Não é você que precisa


se desculpar, e duvido que seu velho algum dia pronuncie essas palavras.

Ele provavelmente não o faria.


Desviei o olhar do seu muito pessoal e examinei suas outras
tatuagens. As palavras ‘sem arrependimentos’ enfeitavam seu antebraço
esquerdo.

— Você só se arrepende das coisas que não faz, — murmurei. Era


uma citação que li em um post motivacional no Instagram uma vez e que
ressoou profundamente em mim.
Maddox me lançou um olhar confuso até que apontei para sua
tatuagem. Ele sorriu ironicamente. — O que você se arrepende de não ter
feito?

A lista era longa, mas nada que me sentisse confortável em discutir


com Maddox. Desviei meus olhos dele e olhei para o teto. O ventilador
estava girando em círculos lentos e hipnotizantes. — Nada.

Ele riu e minha barriga revirou. Ele apareceu ao lado da cama,


elevando-se sobre mim, ainda usando apenas sua boxer. — Não acredito em
você. Tenho certeza de que há muitas coisas que você morre de vontade de
fazer, mas não pode porque seu velho está sempre te vigiando.

Não falei nada. Maddox afundou do outro lado da cama e fechei


minhas mãos em punhos. — Não tente me sufocar enquanto durmo. Se
tentar qualquer coisa, vou entregá-la pessoalmente ao Cody.

Balancei a cabeça, não confiando em minha voz. Senti-me muito


quente quando Maddox se esticou ao meu lado. Sua cama era pequena
demais para duas pessoas que não estavam namorando. Nossos braços
estavam praticamente se tocando. Você mal podia contar um centímetro
entre nós. Cruzei minhas mãos na barriga para criar mais espaço entre
nossos braços.
— Para alguém que estava flertando comigo no canil, você está
terrivelmente quieta agora, — ele brincou, seu rosto inclinado para mim.

Virei minha cabeça em sua direção. Apesar de nossa proximidade,


não estava nem com a metade do medo que deveria. Se quisesse que meu
plano funcionasse, deveria estar flertando com ele agora, mas isso estava
definitivamente fora da minha zona de conforto. — Achei que você queria
dormir.
— Eu quero, — disse ele, mas seus olhos diziam outra coisa. Engoli
em seco quando ele finalmente desviou o olhar e apagou as luzes.

Escutei sua respiração, agarrando-me à consciência, esperando que


ele dormisse antes de mim. Mas simplesmente sabia que ele estava bem
acordado. Perguntei-me o que o impedia de dormir. Não podia ser
preocupação por sua vida. Talvez estivesse imaginando todas as coisas que
poderia fazer comigo. Meu pulso acelerou. O problema é que não era
apenas de ansiedade.
Capítulo 10

Quando acordei na manhã seguinte, sentei na cama, olhando em volta.


Maddox estava empoleirado no parapeito da janela. Sua bochecha formou
uma covinha ao encontrar meus olhos. — Você sobreviveu, viu?

Limpei minha garganta e escovei meu cabelo, me sentindo vulnerável


sabendo que Maddox me viu dormir. Era uma coisa muito pessoal, e nunca
compartilhei com ninguém fora da minha família. O sol tinha acabado de
nascer, mas Maddox parecia estar acordado há um tempo.

— Por que está acordado?

Maddox encolheu os ombros. — Você ocupou muito espaço na cama.

Inclinei minha cabeça em consideração. Quase parecia que Maddox


se sentiu desconfortável comigo na cama. Pelo menos, eu não era a única
que não estava à vontade. Levantei e me espreguicei. Maddox seguiu o
movimento. Talvez ele estivesse com medo de seu próprio desejo. Eu
precisava usar isso. Enquanto andava até ele, sob sua atenção inabalável,
minha coragem se esvaiu. Como afirmou, ele não era como Giovanni.
Maddox não se conteria por medo de meu pai. Ele provavelmente lhe
enviaria uma narração detalhada se alguma vez fizéssemos sexo.

Uma onda quente passou pelo meu corpo com o pensamento.


Passei os braços em volta do meu peito quando parei ao lado dele, e o
ar frio da manhã me atingiu. Meus mamilos endureceram e estava ciente de
que Maddox podia ver através do tecido fino da camiseta.

— Vou estar fora em uma corrida a maior parte do dia, mas deixarei
comida e água suficientes e manterei a porta trancada.

Eu assenti, seguindo seu olhar para o horizonte e maravilhada com


quão estranha a situação era. Em um piscar de olhos, minha vida virou de
cabeça para baixo e tinha a sensação de que isso era apenas o começo.

Verifiquei o perfil de Maddox, os ângulos definidos, então demorei na


cicatriz que parecia uma covinha. — Como você conseguiu essa cicatriz?

Maddox tocou o local e sorriu ironicamente. — Quando tinha nove


anos, tentei libertar os cães de Earl em uma noite de luta. Alguns deles
conseguiram fugir. Ele me bateu com uma das coleiras pontiagudas que usa
nos cachorros.

— Isso é horrível. Mas por que cicatrizou tão mal? A ferida não pode
ter sido tão profunda.

— Ele disse que se eu quisesse escolher o lado dos cães, seria tratado
como um e suas feridas sempre têm que cicatrizar sem tratamento. Ele me
trancou na gaiola por alguns dias também, então eu saberia como é.

Meu queixo caiu. — Não admira que você seja tão confuso.

Ele deu uma gargalhada profunda e completa. — Esse é um motivo,


sim, mas seu velho ainda ganha o prêmio de me ferrar.
Inclinei-me contra a parede, franzindo a testa. — Mas Earl deveria
cuidar de você depois que seu pai morreu, não deixar cicatrizes mental e
fisicamente.

Ele suspirou e balançou a cabeça. — Não sei por que te disse isso.

— Porque você não tem mais ninguém, não confia o suficiente para
compartilhar.

Passei o dia todo sentada no parapeito da janela. A princípio, fiquei


surpresa que Maddox não trancou a janela. Mas logo descobri que escapar
pela janela, além do risco de pular do segundo andar, não era uma opção.
Avistei guardas patrulhando uma cerca de arame e um deles tinha um
rottweiler na coleira. Ele provavelmente soltaria a besta atrás de mim se eu
tentasse fugir. Lembrando-me dos dentes afiados de Satan, estremeci ao
pensar no que eles fariam à minha carne. Satan e eu tínhamos feito uma
trégua, pelo menos temporária, mas não era cega para o perigo que os cães
representavam.

Procurei no horizonte sinais de que papai estava a caminho. Nem


tinha certeza do que estava procurando exatamente. Ele certamente tentaria
manter seu ataque em segredo pelo maior tempo possível para surpreender
os motoqueiros. Eu sabia que ele estava procurando por mim, mas ser
incapaz de contatá-lo ou qualquer outra pessoa da família parecia como se
uma parte de mim tivesse sido arrancada. Mesmo quando estava longe de
casa, sempre tinha meu telefone comigo para contatá-los quando quisesse.
Agora me sentia mais sozinha do que jamais me senti na vida.
Maddox voltou para casa depois do anoitecer, parecendo desgrenhado
e irritado. — O que aconteceu? — Perguntei, sentando na cama.

— Seu pai.

Ele não deu mais detalhes, apenas desapareceu no banheiro. Não pude
deixar de sorrir.

Maddox saiu dez minutos depois e foi para a cama sem dizer uma
palavra, mas não apagou as luzes.

— Eu te disse que meu pai não pararia por nada para me salvar, —
disse, incapaz de conter minha emoção.

Maddox zombou. — Como ele fez uma lavagem cerebral em você


para se tornar sua maior fã, apesar de todos os seus defeitos? Qualquer
droga que ele tenha te dado deve valer milhões.

— Ele é meu pai, é claro que acredito nele. E a droga que você está
procurando é amor. — Me encolhi por dentro com o quão sentimental isso
soou, mas era verdade. Papai não me mimou apenas com presentes e
dinheiro, ele também me mimou com amor e carinho.

— Vou vomitar. — Maddox se virou, me encarando totalmente. —


Vamos lá, seja honesta por um momento. Você deve perceber que tipo de
homem seu pai é. Não me diga que não se importa.

— Sei que tipo de homem ele é. Todos na minha família estão


envolvidos com a máfia. E seus familiares são bandidos, então não me diga
que há muita diferença. Você justifica suas ações com lealdade ao clube e
seu colete, e os membros da minha família justificam com seu juramento e
a lealdade à tatuagem em seu peito.
Maddox balançou a cabeça. — Você defende a Famiglia mesmo
quando eles definem sua vida. Eu serei presidente do clube um dia, mas
você sempre será apenas a esposa de um mafioso. Sua palavra nunca vai
importar na máfia. Ainda assim você defende a causa. Você não parece uma
mulher que gosta de sentar e não fazer nada.

— Quem disse que não vou fazer nada?

— Você não pode governar a Famiglia como seu pai.

— Meu irmão será Capo.

— Você não está chateada porque seu irmão vai se tornar o chefe,
embora seja a mais velha?

Ocasionalmente, imaginei o que faria se me tornasse Capo, mas nunca


considerei realmente uma opção válida. — As mulheres são permitidas no
seu clube?

— Claro, você não as viu?

Revirei meus olhos. — Não para diversão ou para transar. Quero


dizer, como membros.

— Não, é contra as regras.

— Então, se você tivesse uma irmã mais velha, ela não poderia se
envolver com o clube?

Ele franziu a testa. — Ok, tanto o clube quanto a máfia não permitem
mulheres. Mas você parece uma garota acostumada a conseguir o que quer.
Deve ser difícil ficar em segundo lugar, nem isso. Sua palavra nunca
significará nada na Famiglia. Se você se casar com um mafioso italiano
pomposo, ele subirá no ranking da Famiglia e você poderá criar os filhos
dele e lhe dar um boquete se ele voltar para casa depois de um dia duro de
trabalho.

— Boquete? — Repeti com uma torção enojada dos meus lábios


enquanto o calor subia pela minha garganta de uma forma muito
embaraçosa.

Maddox usou sua língua para empurrar sua bochecha de uma forma
muito óbvia.

— Isso é nojento.

— O boquete ou a minha interpretação dele?

— Ambos, — murmurei.

— Não me diga que você nunca deu um boquete naquele pobre idiota
em dois anos de relacionamento. Não admira que ele sempre parecesse tão
tenso. Eu ficaria também se não ganhasse um bom e longo boquete em
anos.

— Pare de dizer essa palavra, — murmurei. Nunca quis dar a


Giovanni prazer oralmente, e ele nunca teria sonhado em me pedir. Ele
nunca me permitiu chegar perto de seu zíper em nosso relacionamento. —
Esta discussão acabou.

— Estou te fazendo se sentir desconfortável? — Maddox perguntou,


obviamente se divertindo.

Ele me deixava desconfortável por vários motivos, nenhum dos quais


discutiria com ele, especialmente não enquanto compartilhava sua cama.

Flerte com ele.


Esse era o plano, mas seguir adiante era mais difícil. Maddox me
observou e minhas palmas ficaram suadas. Meu corpo nunca reagiu à
presença de alguém assim. Eu os deixava nervosos, não o contrário.

— Por que alguém perfuraria seus órgãos genitais? — Soltei,


querendo quebrar o silêncio.

O sorriso de resposta de Maddox só me fez sentir mais quente. —


Para ter mais prazer, e ainda mais importante, para dar mais prazer.

Minha mente disparou. Maddox e eu olhamos nos olhos um do outro,


então ele balançou a cabeça com uma risada e rolou de costas. — Vá dormir
antes que façamos algo de que possamos nos arrepender.

— Duvido que você se arrependa, — falei.


Maddox fechou os olhos com um sorriso sardônico. — Não me
arrependeria.

Sua confirmação me surpreendeu. Meus olhos traçaram seu peito, que


não estava coberto pelos lençóis.

— E você, se arrependeria? — Ele perguntou eventualmente.


— Definitivamente, — falei. Nem mesmo queria considerar a
tempestade de merda na mídia social a que seria submetida se soubessem
que transei com um motoqueiro, mesmo que fosse para me salvar. Em
nossos círculos, as mulheres eram condenadas em um piscar de olhos. E
minha família? Papai enlouqueceria.

Maddox assentiu, os olhos ainda fechados. — Sim. Você


definitivamente se arrependeria.
Marcella passou as últimas três noites na minha cama, e todas as
noites foram torturante do que a anterior. Sentia sua presença em todos os
lugares. Quando deitava ao lado dela à noite, quase não dormia mais, ficava
quase louco por seu cheiro e pelas imagens de seu corpo se repetindo diante
dos meus olhos fechados.

Meio que esperava, meio temia que Marcella fizesse um movimento


sobre mim, mesmo que apenas para se salvar, mas até agora ela se conteve.
Apesar de seu corpo assassino, ela não estava acostumada a fazer avanços
sobre os homens. Não tinha certeza se era devido à sua educação
conservadora ou porque estava acostumada com os homens se jogando a
seus pés.

Eu estava pensando em fazer o mesmo.

Algumas mulheres usavam vestidos caros e colocavam toneladas de


maquiagem para ficarem apresentáveis, mas Marcella com minhas roupas e
sem maquiagem era uma aparição que envergonhava a todas.

— O que você está pensando? — Ela perguntou do nada.

— Essa é uma pergunta que você faz ao seu noivo quando ele passa a
noite?
Ela encolheu os ombros. — Giovanni nunca passou a noite.

Nome estúpido para um idiota, então meu cérebro registrou suas


palavras. — Por quê?

— Somos apegados aos nossos antigos valores, — disse Branca de


Neve com naturalidade. — E moro com meus pais.

Não conseguia parar de olhar para seus olhos azuis, brilhando contra
o carvão escuro de seu cabelo.

— Deixe-me adivinhar, seu noivo mijava nas calças por causa do seu
velho.
Ela sorriu. — A maioria das pessoas o faz.

— Eu não.

— Não, — ela concordou em uma voz suave. — Você não, Maddox.


Porra. Gostaria que ela parasse de dizer meu nome com essa cadência
suave. No entanto, nunca lhe pedi porque no momento em que a última
sílaba morreu em seus lábios, desejei ouvi-la novamente. Ela era como uma
droga que não podia resistir, e nem tinha experimentado ainda. Ela seria
como crack, sem dúvida. Uma dose e você ficaria viciado e, no final das
contas, ela o arruinaria.

— Qual é a sua memória favorita de infância de seu pai?

Não esperava essa pergunta. Ninguém nunca me perguntou algo


assim. Vasculhei meu cérebro, tentando encontrar uma resposta. Muitas das
minhas memórias não eram felizes. Meu velho não foi o melhor pai, mas
era meu pai.
Imagens do meu pai brigando com minha mãe, ou sentado no sofá
com uma cerveja, ou nem mesmo presente, passaram pela minha mente.

— Ele morreu antes que pudéssemos fazer muitas boas lembranças,


— falei. Mas, no fundo, sabia que as memórias felizes teriam sido poucas e
distantes entre si, mesmo que Vitiello não o tivesse matado. Mas ter um pai
ruim era melhor do que não ter nenhum.
— Mas você sente falta dele?

Acima de tudo, sentia falta do que poderia ter sido. Perdi que nunca
tivemos a chance de ter um bom relacionamento. Perdi que meu velho
nunca teve a chance de ser um bom pai. — Claro, — falei, mas as palavras
soaram vazias.

Marcella inclinou a cabeça fazendo seu cabelo se espalhasse como


piche no travesseiro. — E a sua mãe?

— Ela se tornou a old lady do meu tio algumas semanas depois que
meu velho foi morto.

Isso devia responder à sua pergunta. Minha mãe nunca sentiu falta do
meu pai. Ela poderia ter sentido falta da posição de old lady de um prez se
meu tio não a tivesse tornado sua imediatamente.

Acenei para ela. — Sua vez.


Ainda não conseguia superar o fato de que Marcella Vitiello estava
deitada na cama ao meu lado, de camiseta preta e boxer, falando comigo
como se fosse a coisa mais normal do mundo.

— Você quer que lhe conte minha memória de infância favorita? Tem
certeza que quer ouvir alguma história sobre meu pai?
Com certeza não queria imaginar Luca Vitiello como um bom pai.
Desejei que as memórias de Marcella dele fossem tão sombrias quanto as
minhas do meu pai, mas eu não era um maricas. Poderia ouvir a verdade. —
Vá em frente.

O olhar de Marcella ficou distante, então um sorriso suave curvou


seus lábios, um que nunca tinha visto antes em seu rosto normalmente tão
controlado e cauteloso. — Quando tinha sete anos, tive uma fase em que me
convenci de que havia monstros no meu closet e embaixo da minha cama.
Mal conseguia dormir. Portanto, papai certificava-se de verificar todos os
esconderijos possíveis em meu quarto todas as noites e, mesmo quando
chegava em casa tarde da noite, após um dia de trabalho difícil, ele ainda se
esgueirava em meu quarto e se certificava de que eu estava segura. Depois
que ele checava o quarto, sabia que os monstros tinham ido embora e
sempre adormecia em minutos. Mas, segundos antes de adormecer, papai
sempre beijava minha testa.

Não conseguia imaginar Luca Vitiello como Marcella o descreveu,


como o pai amoroso e cuidadoso. Ele tinha sido o monstro que ainda me
assombrava aos sete anos de idade. Quando pensava nele, sempre via o
louco empunhando o machado e a faca que matava pessoas que eram como
minha família. Ele era o homem que tinha sido nosso inimigo antes mesmo
de eu nascer. Esta não era uma nova rixa, mas sim uma que durava
gerações.

Marcella me olhou. — Você não acredita em mim?


— Acredito que é assim que você o vê, mas isso não muda meus
sentimentos em relação a ele. Nada pode apagar meu ódio, nada jamais o
fará.
— Nunca diga nunca.

— Você vai preferir aprender a desprezar o seu velho antes de eu


perdoá-lo, isso é um fato, Branca de Neve.
Eu me encolhi. Esta era a segunda vez que a chamava por esse nome
fora da minha cabeça.

Suas sobrancelhas franziram e ela me olhou como se estivesse


tentando ver dentro do meu cérebro.

— Branca de Neve?
Dei de ombros e rolei de costas, olhando para o teto. Ela continuou
me olhando com expectativa.

— Vamos lá, não se surpreenda. Não acredito que ninguém nunca te


chamou de Branca de Neve antes. Cabelo preto, pele perolada, lábios
vermelhos.

Uma sobrancelha escura se contraiu e percebi que estava apenas


cavando uma cova mais profunda com cada palavra que saía da minha boca
estúpida. O fantasma de um sorriso passou por seus lábios, e fiz tudo o que
pude para não a puxar para cima de mim e beijá-la.

As mulheres ocupam um determinado lugar em clubes de motos e não


estão em pé de igualdade com os homens. Elas só deveriam falar quando
autorizadas e tivessem que agradar seu homem. Nunca falei com uma
mulher mais do que um bate papo sem sentido antes e depois do sexo e, se
possível, até evitava isso. A única mulher com quem já tive uma conversa
decente foi minha mãe, mas nos últimos anos, me fechei até mesmo perto
dela.

Não tinha certeza do que Marcella tinha que me fazia querer falar, ou
pelo menos ouvir. Ela era sofisticada e escolhia as palavras com cuidado.
Nunca conversei com uma mulher que fosse tão educada e inteligente
quanto ela. E às vezes simplesmente gostava de obter uma reação dela. —
O que aconteceu com o seu noivo? Ele te largou por não transar?
Seus lábios se estreitaram. — Garotas como eu não são largadas. Eu
terminei com ele.

— Arrogante pra caralho. Você acha que é um presente para os


homens que ninguém ousaria chutar sua bunda empinada?

— Ninguém me chutaria por causa do meu pai, — ela murmurou.

Eu me animei com o tom amargo em sua voz. — Ele estava com


muito medo do velho, entendi. Mas por que parece que isso te irrita? Você
não gosta das vantagens de ser temida por causa do seu pai assustador?

— Prefiro ser temida ou respeitada por quem sou.

Suas palavras me surpreenderam, mas não pude conter um comentário


sarcástico. — As pessoas geralmente não respeitam ou temem alguém por
suas extraordinárias habilidades de compra.
Ela estreitou os olhos. — Há mais em mim do que apenas compras.
Você não me conhece.

— Então me esclareça, Branca de Neve.

— Minha vida não é um conto de fadas, então pare de me chamar


assim.
Meu sorriso se alargou com sua raiva óbvia. — Pena, tenho certeza
que o lobo mau adoraria comê-la.

Um rubor subiu por sua garganta e bochechas, fazendo-a parecer


ainda mais com a princesa de contos de fadas.
— Estudo marketing e estou entre as melhores.

Não conseguia parar de sorrir.

Ela ficou carrancuda. — Suponho que você se veja como o lobo mau,
Mad Dog?
Definitivamente adoraria comê-la.

Ela balançou a cabeça e ficou muito quieta. — Já faz mais de uma


semana. Quando isso vai acabar?

Não perguntei a Earl novamente. Ele estava punindo Vitiello com


silêncio, esperando que o idiota morresse de preocupação por sua filha. E
não me importava de ter mais alguns dias com Marcella.
Meu sorriso morreu. — Em breve. Quando o seu velho estiver morto.

Ela fechou os olhos. — O que seria necessário para você desistir de


seu plano?

— Não perca seu tempo procurando uma maneira de me convencer.


Não vou mentir, meus sonhos estão cheios de imagens do seu corpo nu em
cima do meu, mas mesmo isso não me fará mudar de ideia, então não tente
me manipular com sexo.
— Ninguém disse nada sobre sexo, — ela murmurou. Então ela a
inclinou a cabeça curiosamente. — Então você prefere que eu não tente
seduzi-lo?
— Tenho esperado todas as noites que você finalmente tente, porra,
mas não faça isso por nenhum outro motivo a não ser porque quer.

— Como se você se importasse do porquê faria um movimento em


você.
Sorri. — Não me importaria, contanto que acabasse entre suas coxas.
Mas quero poupá-la da decepção se você não conseguir nada com isso,
exceto sexo sujo e incrível.

— Se sexo fosse tudo que eu quisesse, poderia ter dormido com caras
mais sexys do que posso contar. Existem poucos homens que não diriam
sim a uma noite comigo.

Sem dúvida...

— Talvez você não tenha escolhido um deles porque todos esses


homens se encolheriam diante de seu pai. Sou o primeiro cara que não tem
medo dele e isso, admita ou não, te excita.

Ela não negou, apenas olhou para mim de uma forma que me enviou
uma onda de desejo.
Capítulo 11

Sentei-me no parapeito da janela, olhando para fora. Como sempre,


tentei encontrar pontos de referência que me dessem uma pista de onde
estava, mas a floresta ao redor da sede do clube não dava nenhuma dica.
Depois de dez dias nas mãos dos motoqueiros, estava começando a perder a
esperança de que papai e Matteo me encontrassem. Uma tábua do assoalho
rangeu no corredor, me deixando tensa. Sempre que Maddox não estava por
perto, meu nervosismo ficava à flor da pele. Por mais insano que fosse, ele
me protegia. Tinha visto os olhares que os outros homens me deram,
famintos e odiosos. Não podia esperar misericórdia deles e, embora
gostasse de dizer que não queria sua misericórdia, estava apavorado com o
que eles poderiam fazer comigo.

— Oh, Princesa Mimada, onde você está se escondendo? — Cody


chamou com uma voz cantante. Era seu hobby favorito se esgueirar em
frente a porta quando Maddox não estava e me torturar com comentários
sobre como me estupraria. Ele fez sons altos de fungada. — Posso sentir o
cheiro dessa boceta italiana. Deixe um homem de verdade preencher esse
buraco sujo.
Fiz questão de não fazer barulho. Talvez então ele fosse embora. Em
vez disso, ele sacudiu a maçaneta da porta. Mesmo sabendo que ele estava
tentando me assustar de propósito, não pude deixar de ficar ansiosa. Apenas
uma porta e o respeito dos motoqueiros por Maddox me mantinham segura.
Ambas não eram coisas nas quais queria confiar.

Quanto mais demorava meu cativeiro, maiores eram as chances de


Earl White eventualmente perder a paciência e me machucar para
pressionar meu pai. Não queria esperar que isso acontecesse, mas escapar
sem a ajuda de Maddox era inútil.
Ele deixou claro que não me ajudaria, não importa o que fizesse, mas,
neste ponto, me perguntei se não deveria testar sua teoria. O ouvi murmurar
meu nome em seus sonhos à noite.

O rugido de um motor virou minha cabeça em direção à garagem e


não pude deixar de sorrir quando vi Maddox em sua Harley parando em
frente à varanda. Ele tirou o capacete e passou a mão pelo cabelo rebelde.
Tinha que admitir que a visão de Maddox montando sua motocicleta era
estranhamente atraente. Até mesmo sua roupa de motoqueiro com o colete
ficava bem nele. Ele desceu da motocicleta e olhou para a janela. Nossos
olhos se encontraram e meu estomago se contraiu de uma maneira que não
queria analisar. Afastei-me da janela como se não me importasse que ele
estivesse de volta, mas o alívio avassalador em meu corpo falava uma
linguagem muito diferente.
Estava escuro e o calor de Maddox estava por toda a parte.
Eventualmente rolei. Mal conseguia distinguir sua silhueta. As cortinas
mantinham muito do luar do lado de fora. Maddox me queria, e mesmo que
eu nunca admitisse, me sentia atraída por ele. Excitada, como ele disse.
Podia seguir meu desejo e esperar que isso me salvasse, ou podia negar a
mim mesma o que queria e confiar que outros me salvariam. Talvez eu
fosse uma princesa mimada, mas não precisava de um príncipe para me
acordar do sono eterno.

A escuridão parecia nos cobrir em um casulo cheio de possibilidades.


Eu estava deitado de costas ao lado de Marcella. Ela cheirava a problemas e
tentação. Ela virou e seu joelho tocou levemente minha coxa, e o toque
pareceu eletrificar todo o meu corpo. Sua proximidade causava estragos em
mim. Ela estava quente e muito perto.

Estar perto dela todas as noites era uma tortura. Earl havia
mencionado que entraria em contato com Vitiello em breve para fazer a
troca e, em vez de ansiar pela vingança, meu único pensamento era que
perderia Marcella antes mesmo de tê-la. Eu era um idiota.

— O que você está pensando? — Ela perguntou.


— Que vou me arrepender de ter te convidado para o meu quarto, —
falei.

— Por quê?

Tive a sensação de que ela sabia de seu efeito sobre mim. Era quase
impossível para eu não olhá-la, não fantasiar sobre ela dia e noite. — Acho
que você sabe, — falei rispidamente.

Ela se moveu, deixando-nos mais perto, mas ainda assim só o seu


joelho me tocava. Queria rolar e puxá-la contra mim, beijá-la, prová-la,
especialmente essa boceta com a qual estava fantasiando.

— Sei?

Minha paciência acabou. Rolei, deixando nossos rostos


impossivelmente perto. Até mesmo sua respiração era doce quando ela
exalou bruscamente. Não a toquei, embora cada parte de mim quisesse. —
Não consigo parar de pensar na sua boceta e se ela está pingando, — falei
rudemente, esperando fazer a princesa mimada recuar, mas ela apenas
engoliu em seco.

— Nada te impede de descobrir, — ela sussurrou.

Tinha certeza que tinha ouvido mal. Toquei seu quadril e depois de
brevemente ficar tensa, ela amoleceu sob meu toque. — O que você está
fazendo? Você acha que pode me seduzir para ajudá-la? Quantas vezes
tenho que dizer que isso não vai funcionar?

— E mesmo se estivesse, não valeria a pena provar o gostinho da


princesa mimada?

Porra. Não pude resistir. Acariciei ao longo de sua coxa, em seguida,


arrastei meus dedos dentro da cueca samba-canção. O hálito quente de
Marcella roçou meus lábios enquanto ela exalava quando meus dedos
deslizaram sob sua calcinha. Sufoquei um gemido ao sentir sua pele quente
e sedosa. Sua boceta era macia pra caralho. Ela prendeu a respiração
quando escovei meu dedo indicador ao longo de sua boceta. Meu dedo
descobriu a sugestão sutil de umidade entre os lábios de sua boceta. —
Foda-se, — gemi.

Determinado a arrancar mais dela, tracei meu dedo para cima e para
baixo em sua boceta.

Sua respiração ainda era lenta e controlada, mas acelerou quando


comecei a tesourar sua boceta, acariciando-a entre o meu dedo indicador e o
dedo médio e escovando as juntas dos meus dedos sobre seu clitóris. Ela
começou a ofegar e logo meus dedos estavam escorregadios com sua
excitação. Não pude resistir. Mergulhei um dedo nela e sufoquei uma
maldição. Senti como se tivesse morrido e ido direto para o céu. Ela era tão
apertada que as palavras de Cody voltaram à minha mente. Talvez ele
estivesse certo. Porra, a toquei vagarosamente, querendo saborear cada
segundo disso. Ela agarrou meus ombros e começou a mover seus quadris
no ritmo dos meus dedos, perseguindo a palma da minha mão com seu
clitóris. Diminuí, e como esperava, ela se esfregou contra minha mão,
enfiando meu dedo nela uma e outra vez. Meu pau estava pronto para
explodir.

— Não pare, — ela sussurrou densamente.

— Porra, você realmente acha que qualquer coisa me impediria de te


dedilhar até que você goze? Eu continuaria fazendo isso mesmo se meus
dedos caíssem.

— Cale a boca, — ela gemeu, então respirou fundo. Bombeei mais


rápido, quase bêbado com seus gemidos e a sensação de suas paredes
apertadas ao redor do meu dedo. Adicionei um segundo dedo, meu pau se
contraindo com sua exalação afiada. Seus lábios encontraram os meus em
um beijo descoordenado.

E então ela explodiu com um grito, suas paredes se fechando ao redor


dos meus dedos. Seu orgasmo foi como uma avalanche imparável, seus
sucos escorrendo pelos meus dedos e pulso. — Pingando, — falei
asperamente.

Marcella só gemia baixinho enquanto eu continuava bombeando para


dentro e para fora dela lentamente, prolongando seu orgasmo.
Eventualmente parei, mas mantive meus dedos dentro dela, saboreando o
espasmo ocasional que tomava conta de suas paredes. Puxei meus dedos e
os trouxe aos lábios, lambendo-os para limpar, certificando-me de que ela
pudesse ouvir o que eu fazia.

— Isso é nojento, — ela sussurrou.

— Tenho que discordar. — Sorri enquanto a inalei após o cheiro do


orgasmo. — Ainda não tenho certeza se isso não é um sonho.

Marcella se virou de costas. — Tenho certeza de que você gozaria no


seu sonho.

Ri, mesmo que meu pau pulsasse com uma necessidade furiosa. —
Isso não vai te render pontos extras.

Ela se inclinou e deu um beijo suave na minha bochecha. — Durma


bem, Maddox. Mal posso esperar para ouvi-lo murmurar meu nome em seu
sono novamente.

Porra.
Claro, sonhei com ela e acordei com tesão. Talvez o sangue não tenha
deixado meu pau a noite toda. Minhas bolas doíam como uma cadela de
qualquer maneira. Depois de um banho rápido, andei completamente nu no
meu quarto, cansei de brincar de esconde-esconde com Branca de Neve.

Ela seguiu meus movimentos com uma expressão indignada, mas seus
olhos mantinham o mesmo desejo que sentia. Logo meu pau ficou duro
novamente. O olhar de Marcella avaliou o piercing de barra na base e o da
ponta. O último na verdade foi o resultado de uma aposta perdida, mas
rapidamente percebi que gostava da sensação do metal frio e as mulheres
também gostavam.

O fascínio de Marcella definitivamente valia a pena. Acariciei o


piercing na base, trazendo sua atenção para lá. — Este é posicionado de
forma a estimular o clitóris, — disse, minha voz mais áspera do que o
normal. — E este aqui, — continuei, tocando o piercing na ponta. —
Estimula o ponto G.

Marcella não disse nada, mas depois de ontem à noite ela não podia
fingir que não sentia tesão por mim. Eu sabia que a encontraria molhada
novamente se tocasse em sua boceta.
A noite anterior com Maddox foi uma revelação. Seu simples toque
acendeu meu corpo. Talvez porque estivesse faminta por toque.

Estava preocupada em sentir arrependimento depois, mas lamentar


algo que você quer fazer novamente parecia hipócrita. Tentei me consolar
com o fato de que estava em uma situação extraordinária que não podia ser
julgada pelas regras padrão. No entanto, no fundo, me perguntei se essa era
a única razão do meu desejo.

Quando saí do banheiro naquela noite, Maddox estava estendido na


cama, me olhando com um sorriso faminto.

Ele estava apenas de boxer, exibindo seu corpo musculoso e tatuado.


Fingi desinteresse.

— Earl disse que vai falar com o seu velho. Esta pode ser uma de
nossas últimas noites juntos.
Meu coração acelerou. — Mesmo?

— Mal pode esperar para se livrar de mim? — Ele perguntou.

Surpreendentemente, queria mais tempo com Maddox, não importa o


quão irritante ele pudesse ser. Estar trancada no quarto com Maddox, longe
dos motoqueiros nojentos, quase me fez esquecer o perigo que corria. Isso
parecia uma versão estranha de um período sabático longe da minha vida
normal.

— Talvez você devesse usar esta noite para me deixar comer sua
boceta antes de voltar para o seu noivo.

— Ex noivo, — falei imediatamente.

Giovanni nunca me lambeu, só me tocou algumas vezes através da


calça jeans (porque estava com medo de me ver nua no caso de meu pai
entrar no quarto), o que não foi uma experiência que gostei muito. No
entanto, considerando que sua língua parecia como se um peixinho dourado
estivesse lutando para sobreviver na minha boca sempre que nos
beijávamos, não estava muito ansiosa para que ele me lambesse. Não gozei
nas poucas vezes que ele me tocou, o que foi um golpe para sua confiança,
o que ele me culpou por querer esperar até minha noite de núpcias... pelo
menos inconscientemente. Isso era uma besteira total, é claro.

Maddox estava deitado de costas, sorrindo sujo. — Poderia te dar um


orgasmo muito bom.

Meus lábios se curvaram. — Orgasmo, realmente? Não perca seu


fôlego, não gosto de oral.

— De dar.

— De receber, — respondi, embora realmente não soubesse.

Nunca tinha feito um boquete em um cara. Giovanni tinha muito


medo de meu pai e não se atreveu a me sujar assim antes do dia do nosso
casamento.

O sorriso de Maddox ficou ainda mais sujo e o calor tomou conta de


mim. Estava um pouco escorregadia entre minhas pernas só de olhar para
ele. — Seu noivo é um verdadeiro perdedor. Ele não te comeu direito ou
você não estaria falando essa merda. Se você fosse minha garota, estaria
esguichando como uma fonte só de pensar na minha língua em sua boceta.

Não o corrigi em sua suposição de que Giovanni havia me comido.


Era irrelevante para o que tínhamos. Aproximei-me da cama, olhando para
ele. — Você tem uma boca suja.
Você só se arrepende das coisas que não fez.
— Mas tenho uma língua mágica, — ele rosnou, sacudindo a língua
para que o piercing brilhasse na luz. Não conseguia parar de me perguntar
como seria a sensação de tê-lo me dando prazer com o piercing. Só de
pensar nisso, minhas coxas cerraram em antecipação. Se esta era realmente
uma de nossas últimas noites, também era minha última chance de tê-lo do
meu lado... e de me divertir um pouco.

Não tinha certeza de por que fiz isso, mas pisei na cama e olhei para
Maddox.
Ele inclinou a cabeça para trás para que pudesse olhar por baixo da
minha camisa. Não estava usando calcinha. Ele assobiou entre os dentes. —
Porra, Branca de Neve, deixe-me comer essa boceta real.

Levantei uma sobrancelha. — Só se isso te calar.

Ele sorriu diabolicamente. — Escarranche na minha cabeça. Vamos.


Espalhe essas coxas leitosas para mim.

Dei-lhe o meu olhar mais condescendente e subi na cama, me


elevando sobre ele com meus pés de cada lado de seus ombros. Sabia que
tipo de visão premium estava lhe dando, e ele gostou. No entanto, não podia
negar que também ficava cada vez mais excitada com a situação, com a
boca suja de Maddox, com o brilho faminto em seus olhos. Duvidei de mim
mesma tantas vezes no passado, mas com Maddox, seu desejo por mim era
flagrantemente claro. Não havia lugar para dúvidas.

— Ajoelhe-se para que eu possa comê-la.

— Vitiellos não se ajoelham.

Ele agarrou minhas panturrilhas e puxou com tanta força que perdi o
equilíbrio e caí para frente, meus joelhos afundando no colchão macio ao
lado de sua cabeça.

— Eu podia ter esmagado seu rosto com o joelho! — Assobiei.


Maddox era minha única chance de sair desse inferno. Mesmo se quisesse
matá-lo, o que não era totalmente verdade neste momento, teria que esperar
até estar livre.

Maddox agarrou minha bunda e me puxou em direção ao seu rosto.


Seus olhos capturaram os meus e, em seguida, sua língua deslizou para fora
lentamente, um sorriso sujo em seu rosto. A ponta de sua língua roçou os
lábios da minha boceta, separando-os para acariciar o interior sensível.
Estremeci com a sensação quase opressora, momentaneamente preocupada
de ter gozado com o breve contato. — Foda-se, — disse ele em um
estrondo baixo, seus lábios vibrando contra a minha carne pulsante. Ele
começou a me lamber com movimentos lentos, o piercing provocando meu
clitóris. Agarrei seu cabelo, puxando sua boca para mais perto da minha
boceta e ele aceitou o convite, mergulhando sua língua em mim. Girei meus
quadris, montando sua boca, sua língua dentro de mim, seu piercing
provocando o que assumi ser o meu ponto G. O observei enquanto ele
levava seu tempo, às vezes até fechando os olhos como se estivesse fazendo
uma refeição que precisava saborear plenamente. O piercing brilhava
enquanto sua língua sacudia meu clitóris vagarosamente. Agarrei seu
cabelo, puxando quase violentamente, mas Maddox apenas sorriu e fechou
os lábios em volta do meu clitóris. Meus dentes cravaram em meu lábio
inferior para conter um gemido.

— Você precisa gritar e gemer. Todas as mulheres fazem isso quando


estão no meu quarto. Meus irmãos do clube vão ficar desconfiados se ficar
em silêncio como um rato de igreja.

O encarei.
Maddox pareceu tomar isso como um desafio para extrair sons dos
meus lábios enquanto chupava e lambia, mordiscava e sacudia. Logo minha
respiração saiu em rajadas agudas e meus quadris balançavam quase
desesperadamente. Até agora estava montando sua boca sem vergonha. As
mãos fortes de Maddox seguraram minha bunda, massageando e guiando
meus movimentos. Ele se afastou cerca de um centímetro e quase o puxei
de volta pelos cabelos. Tão desesperada por liberação que estava perto de
perder qualquer aparência de controle.

— Goze na minha boca, Branca de Neve, — Maddox rosnou. Seus


olhos azuis ficaram presos nos meus enquanto seus lábios seguravam meu
clitóris mais uma vez. O prazer irradiava do meu núcleo, por cada
centímetro do meu corpo em ondas incontroláveis. Gozei com tanta força
que todos os músculos pareciam contraídos ao máximo. Engasguei, minhas
mãos voando até os ombros musculosos de Maddox para me firmar.
Fechando meus olhos, sucumbi às sensações e gritei como se nada existisse
ao nosso redor. E me senti tão bem. Balancei meus quadris para trás e com
força, dirigindo sua língua mais profundamente até que as ondas de prazer
começaram a diminuir. Eventualmente minhas pálpebras se abriram e olhei
para Maddox.
Maddox lambeu minha liberação ansiosamente, sorrindo, seu rosto
brilhando com meus sucos. O observei e continuei esfregando minha boceta
contra seus lábios. Amando como isso era sujo, quão errado. Isto, Maddox,
poderia ser minha salvação, ou poderia ser a queda em desgraça que tantos
esperavam.

Continuei ajoelhada acima dele, meu peito arfando.

Seus lábios e queixo estavam brilhantes. — Veja, eu disse que você


encheria minha boca de creme.
— Você percebe que isso soa nojento, certo? — Mas, no fundo, estava
perversamente excitada. Maddox era proibido, rude e ousadamente livre de
convenções. Isso era para ser um meio para um fim, mas não conseguia me
sentir culpada por gostar disso ao mesmo tempo.

Maddox ergueu a cabeça e esticou a língua. Traçando sua ponta ao


longo de minhas dobras, em seguida, chupando uma delas em sua boca. —
Quem não gosta de creme? Especialmente se tiver um gosto tão bom.
Levantei-me, a camisa caindo nos joelhos mais uma vez, escondendo
minha nudez. Mas minhas pernas estavam pegajosas e meu núcleo ainda
latejava da minha liberação.

Maddox se sentou lentamente. — Você não vai devolver o favor?

Levantei uma sobrancelha. — Por que não pede a uma das garotas
compartilhadas para fazer isso por você? — Apesar do tom áspero de
minhas palavras, a ideia de que Maddox poderia transar com outra mulher
não caiu bem para mim. Ele se empurrou numa posição sentada, sua calça
jeans esticada. Lembrando-me dos piercings e de seu corpo
pecaminosamente sexy, me senti compelida a ficar de joelhos e fazer o que
ele pediu, mas meu orgulho me manteve no lugar. Ele tirou um cigarro do
maço e levantou, parecendo não se importar. Ele deu de ombros e caminhou
até a porta. — Como quiser. Conheço a garota certa para chupar meu pau.
Uma bola quente de fúria cresceu em meu peito. — Se você fizer
isso... — Fervi, sem saber com o que iria ameaçá-lo. Não éramos um casal,
então não podia terminar com ele. Não éramos nada, exceto cativa e captor,
o que tornava a situação ainda mais ridícula. Não tinha nada com que
pudesse chantageá-lo.
— Então o que? — Maddox perguntou, virando-se com um sorriso
satisfeito, como se minha reação fizesse parte de seu plano. Ele me enganou
por uma explosão emocional?

Não podia acreditar nele. Balancei a cabeça em desgosto. — Não me


importo. Faça o que for preciso. Pelo que me importa, pode deixar todas as
garotas... — Queria dizer algo grosseiro para me igualar a ele, mas as
palavras ficaram presas na minha boca. — ...terem o que quiserem com
você. — Terminei sem jeito, e meu rosto esquentou.

O sorriso de Maddox se alargou, tornando-se tão presunçoso que tive


vontade de estrangulá-lo com a corrente de ouro em seu pescoço. — Terem
o que quiserem comigo? — ele repetiu, cheio de dentes e presunção. —
Chupar meu pau é o que elas fariam. Você não consegue dizer as palavras,
Branca de Neve?

— Ao contrário das mulheres que você escolhe para fazer sua jogada,
tenho algum estilo.

— Oh, você tem estilo e muita arrogância para combinar. Você não se
sente hipócrita falando mal daquelas garotas quando sua boceta ainda está
molhada da minha língua mágica.
Ele tinha razão, mas não podia admitir. — Elas escolheram este estilo
de vida. Fui sequestrada. Nada é minha escolha.

— Montar minha boca com sua boceta como a porra de um cavaleiro


de rodeio foi sua escolha, princesa. Seu creme na minha língua é a prova
disso.

Com a mesma frequência com que sua grosseria me excitava, ela me


irritava. — Isso é o que os especialistas chamam de Síndrome de
Estocolmo, — murmurei, odiando que minhas bochechas esquentassem
ainda mais porque me sentia presa. Mesmo que dissesse a mim mesma que
isso era parte do plano para trazer Maddox para o meu lado, para que ele
me ajudasse a escapar, gostei muito de nossos encontros físicos para culpar
a estratégia. Sentia-me devassa, sexy e travessa de uma forma que Giovanni
nunca havia permitido. Eu me sentia livre das algemas que pesavam mais
do que imaginava.

— Besteira, Branca de Neve. Não insulte minha inteligência e


definitivamente não sua própria espinha dorsal. Você nunca deixaria uma
síndrome de merda determinar suas ações. Duvido que alguém ou alguma
coisa possa forçá-la a fazer qualquer coisa que não queira. — Ele fez uma
pausa. — E você me quer. Em sua vida de sociedade recatada, você nunca
teria permissão para transar com alguém como eu, mas agora teve a chance
e a aproveitou avidamente com suas unhas perfeitamente cuidadas.
Ele estava certo. Eu o queria. Senti-me livre das regras da Famiglia
pela primeira vez. Esta era uma zona sem lei. O que quer que aconteça
enquanto estivesse presa aqui, nunca seria culpada por isso.

Isso era covardia, não querer arriscar viver a vida que você deseja.

Seus olhos percorreram meu corpo, fazendo-me sentir calor


novamente. — Você nem precisa dizer. Sei que não quer nada mais do que
ficar ainda mais indecente comigo, realmente libertar a vampira sexy que
esconde atrás desse rosto de Branca de Neve. — Seu sorriso ficou ainda
mais sujo. — Você não está curiosa?
— Sobre seus genitais? — Disse sarcasticamente.

Maddox riu, uma risada profunda de que comecei a gostar demais. —


Não exatamente as palavras que escolheria, mas sim.

— Não, obrigada. A curiosidade matou o gato.


Seu sorriso se alargou. Deus, um sorriso nunca me fez sentir como se
minhas entranhas estivessem pegando fogo.

Ele enfiou a mão em sua boxer e liberou seu pau. Não conseguia
desviar o olhar, embora quisesse fazer isso. Mas o piercing em sua ponta
capturou minha atenção e não a deixou ir. Ele passou o polegar sobre o
pedaço de metal brilhante repetidamente enquanto esfregava a ponta.
Aproximei-me. — Você realmente vai fazer isso na minha frente.
Você não tem vergonha?

— Não tenho vergonha nenhuma, Branca de Neve. Mas se você está


tão preocupada com a minha dignidade, dê-me uma mão.

Balancei a cabeça. — Você é impossível, rude e absolutamente sem


vergonha.

— Culpado da acusação. Mas você é uma covarde, uma hipócrita e


uma mentirosa.

Estreitei meus olhos. — Não sou. — Mas eu era. Maddox segurou


meu pescoço e me puxou até que tive que me apoiar com um joelho no
colchão.

— Você é, — ele murmurou antes de me beijar. Ele continuou se


esfregando e quando finalmente me livrei de seu beijo, meu olhar disparou
para baixo vendo sua mão trabalhar em seu pau.
Minha boca salivou vendo seu abdômen flexionar a cada movimento.
— Covarde.

— Cale-se. Você não pode me provocar para te tocar. Se eu te tocar,


farei porque quero.
— Claro, — ele disse. O tom sarcástico em sua voz mal foi registrado
porque simplesmente não conseguia prestar atenção em nada além do
movimento rítmico de sua mão para cima e para baixo. Uma gota de líquido
leitoso se acumulou em sua ponta.

— Você é impossível, — fervi, beijei-o com raiva e finalmente peguei


seu pau. Meus dedos se fecharam em torno de seu pau duro, mas suave.
Ele soltou um suspiro antes de dizer: — Finalmente corajosa.

O silenciei com outro beijo e comecei a mover minha mão para cima
e para baixo, efetivamente afastando sua mão. Meu polegar explorou o
piercing em sua ponta, emocionada com a ingestão aguda de ar seguida por
um gemido baixo. Arrastei meus dedos mais para baixo, para o outro
piercing na base, como uma decoração para suas bolas, e novamente fui
recompensada por um assobio de Maddox.

— Fique nua, — ele rosnou.

Minhas sobrancelhas franziram. Ainda não tinha decidido se queria ir


até o fim com Maddox. Nos últimos trinta minutos, a balança
definitivamente tinha tombado a favor de Maddox. Simplesmente não
conseguia parar de me perguntar se o sexo seria uma revelação como o oral
foi. Por que deveria esperar por outro Homem Feito, um futuro marido, que
transou com inúmeras garotas antes de nossa noite de núpcias? Por que não
podia me divertir um pouco?

E mais do que isso, uma vozinha, que eu costumava chamar de


instinto, me disse que Maddox era o cara com quem deveria perder minha
virgindade.

Maddox riu como se pudesse ler pelo menos parte dos meus
pensamentos. — Quero gozar em todo o seu corpo perfeito.
— Não tenho certeza se quero pegar alguma doença sexual que você
tenha.

— Se eu tivesse alguma doença, você a teria contraído pela boceta


quando te comi.
Ele tinha razão e odiava me sentir estúpida.

— Mas não se preocupe, costumo usar camisinha e se esqueço, faço o


exame. Estou limpo.

Parei de esfregá-lo e puxei minha camisa pela cabeça. O olhar de


Maddox acariciou minhas curvas. Meus mamilos endureceram, embora não
estivesse frio no quarto. Comecei a esfregá-lo novamente. Maddox
alcançou meu seio, capturando um mamilo duro entre seus dedos e girando-
o entre eles. Sua outra mão acariciou minha bunda antes de serpentear entre
minhas pernas por trás. Seu polegar me separou, roçando meu clitóris, que
já latejava de ansiedade novamente. Um toque seu e estava iluminada de
desejo, pronta para me soltar.

— Achei que era a sua vez, — disse em voz baixa enquanto seu
polegar me estimulava novamente. Tinha que admitir, acariciar Maddox ao
mesmo tempo era muito excitante, me levando em direção à borda muito
mais rápido do que o esperado.

— Vê-la ficar molhada vai me fazer gozar muito mais forte, Branca
de Neve. — Pela primeira vez, não fiz um comentário inteligente. Estava
muito perdida nas sensações, no calor que irradiava da pele de Maddox, na
dureza surpreendente de seu pênis e na necessidade pulsante entre minhas
pernas. Logo meus quadris começaram a se mover, perseguindo o polegar
de Maddox.
Quando meu segundo orgasmo tomou conta de mim, ele também
gozou por todo seu abdômen. Depois de um suspiro profundo, ele agarrou
meu pescoço e me puxou para um beijo. — Realmente vou odiar deixa-la ir.
Capítulo 12

Algo estava diferente hoje. Os motoqueiros que chegaram depois que


Maddox e Gray saíram em uma corrida pareciam agitados enquanto
zumbiam ao redor da varanda. Quando Earl White olhou pela janela,
capturando meu olhar com um brilho de superioridade em seus olhos, meu
estômago revirou. Duvidava que seria solta hoje. Ele tinha mais reservado
para mim.

Earl acenou com a cabeça para Cody, que sorriu.


Meus olhos dispararam para a porta trancada. Alguns momentos
depois, ouvi passos trovejando. Pulei do peitoril da janela e corri para o
banheiro quando a fechadura fez barulho. — Você não pode fugir para lugar
nenhum, boceta.

Cody me agarrou pelos cabelos e me puxou para trás. Gritei com a


dor aguda que atravessou meu crânio. Agarrei seus pulsos, cravando minhas
unhas, mas ele continuou me arrastando para fora da sala e escada
abaixo. Meus joelhos bateram contra vários degraus, me fazendo gritar de
dor novamente.
Ele não parou até chegarmos à área comum no andar de baixo. Meu
estômago já enjoado, revirou quando o fedor de álcool derramado e fumaça
velha encheu meu nariz. O que estava acontecendo? Eles me trocariam pelo
meu pai? A atmosfera estava tensa demais para isso.

— Porra, a puta estúpida me arranhou. — Cody me empurrou para


longe dele. Caí de joelhos diante de Earl, ofegando com a pontada aguda,
mas rapidamente me levantei. Nunca me ajoelharia diante de alguém como
ele.

Ele zombou. — Ainda muito orgulhosa para se curvar aos superiores?


— Ele balançou sua cabeça. — Assim como o seu velho.

— Um dia meu pai fará você se arrepender do dia em que nasceu, —


disse, levantando meu queixo. Um sentimento de total impotência passou
por mim, mas não o deixei assumir o controle.

Earl sorriu de uma forma que congelou meu sangue. — Estive tão
perto de permitir que seu velho se trocasse por você, mas algo na voz dele
não continha a submissão necessária que eu esperava em uma situação
como esta, sabe?

Engoli em seco, não gostando da maneira como os motoqueiros


olhavam para mim. Não podia culpar papai. Não estava em seu sangue ser
submisso. Mesmo se tentasse parecer assim, nunca seria convincente.

— Hoje, vou fazê-lo se arrepender do dia em que contrariou o


Tartarus e mostrar-lhe seu novo lugar.

Ele acenou para Cody, que agarrou meu pescoço e me pressionou


contra o balcão do bar. Uma dor aguda percorreu meus quadris com o
impacto. Ele empurrou minha cabeça para baixo pressionando minha
bochecha direita contra a superfície de madeira pegajosa. O fedor da bebida
barata era quase insuportável. Earl se aproximou, segurando uma longa
faca. Tentei recuar, mas Cody me segurou com força, seu corpo pressionado
contra o meu da maneira mais vil. A lâmina brilhou à luz das lâmpadas
sobre o bar. O pânico percorreu meu corpo como veneno.

Earl ergueu a faca com um sorriso malicioso, observando minha


reação. Gostaria de conseguir parecer corajosa e indiferente, mas estava
com muito medo do que ele poderia fazer. — Você é bonita pra caralho,
puta. Esse rosto perfeito me deixa com raiva toda vez que o vejo.

O medo me sufocou quando ele se aproximou ainda mais, segurando


a ponta afiada da faca bem diante do meu olho esquerdo.

— Eu me pergunto o que você faria sem esses olhos letais. — Ele


sorriu de uma forma de gelar os ossos, revelando um dente de ouro.

— Não, — consegui dizer. Queria soar feroz e ameaçadora, mas


parecia apavorada e quase implorando, mas não pude evitar. E se ele me
cegasse? Ainda havia tanto que queria ver, tantas coisas que não tinha
apreciado o suficiente porque achei que teria tempo de vê-las. Meu coração
batia furiosamente, o sangue bombeando em minhas veias como uma
avalanche.

— Sinto muito, docinho, mas preciso de um presentinho para o seu


velho. Ele precisa saber que não estamos brincando. Nós o destruiremos.

Ele aproximou a faca ainda mais. Onde estava Maddox? Deus


onde ele estava?

Quando a lâmina me cortou, um grito agudo rasgou da parte mais


profunda do meu corpo até que tudo caiu na escuridão.
No momento em que entrei no clube, sabia que algo estava
errado. Ruby, a garota favorita de Earl e estúpida o suficiente para achar
que ele a faria sua old lady, tinha um sorriso malicioso de satisfação no
rosto enquanto Earl limpava o sangue de sua faca. Sangue também cobria o
bar. Meu coração disparou. — O que aconteceu aqui? — Perguntei,
tentando esconder minha preocupação.

Earl embainhou a faca com calma, parecendo entediado pra


caralho. — Ensinei uma lição à princesa Vitiello e ao pai dela também.

Porra. Earl deve ter usado sua chave reserva para entrar no meu
quarto. Passei por um Cody sorridente e corri escada acima, meu coração
batendo forte. O que diabos ele fez? Achei que Vitiello estava pronto para a
troca? Destranquei a porta e invadi o quarto. Respingos de sangue cobriam
o chão, levando ao pequeno banheiro. O sangue nunca me
incomodou. Depois da carnificina que Vitiello causou diante dos meus
olhos quando menino, estava muito endurecido para ser incomodado por
isso. E, no entanto, a visão desses poucos respingos de sangue fez meu
coração disparar.

Eu os segui até o banheiro, em seguida, parei cambaleando na porta.


Marcella estava empoleirada na beira do vaso sanitário, o rosto
pálido, os ombros e a regata cobertos de sangue. Ela pressionava uma
toalha no lado esquerdo do rosto. — O que aconteceu? — Perguntei,
temendo o pior. Earl era como um pai para mim, mas eu sabia do que ele
era capaz. Com o passar dos anos, sua obsessão por vingança havia
aumentado rapidamente, ainda mais do que a minha.

Ela abaixou a toalha que sua mão trêmula segurava na lateral de sua
cabeça. Vendo seus olhos azuis intactos, o alívio tomou conta de mim, mas
então registrei sua orelha, que estava sangrando muito. Levei um momento
para ver que Earl havia cortado o lóbulo da sua orelha esquerda.
Minha visão ficou vermelha e me virei e desci as escadas
barulhentas. Mal conseguia respirar de fúria. Meus ouvidos zumbiam,
minha têmpora latejava. Invadi a área comum. Earl e Cody estavam
sentados nas banquetas do bar e bebiam uísque como se para comemorar o
sucesso.

Corri em direção a Earl e agarrei seu colete, puxando-o para fora do


banquinho. — Nós concordamos em não torturá-la! Você jurou. — Nunca
falei com meu tio assim, especialmente na frente de outras pessoas.

Os olhos de Earl se estreitaram e ele agarrou meu pulso


com força esmagadora, tentando destravar meus dedos, mas não o
soltei. Ele tinha envelhecido, mas não era menos cruel. — O que foi que
você fez? — Fervi. Pela primeira vez na minha vida, queria matá-lo.

— Não se esqueça de quem está puxando as cordas do clube,


Maddox, — ele murmurou, sua expressão cheia de advertência. — E não se
esqueça de quem o acolheu quando o velho da putinha matou seu pai.
Cody havia se levantado de sua banqueta e estava pronto para
interferir. Ele estava de olho na posição de segundo no comando por anos,
sempre dizendo que eu era muito jovem para o cargo. Matar-me faria seu
dia.

Abri meus dedos, respirei fundo e dei um passo para trás. — Você não
deveria ter feito isso. Você foi longe demais. Nunca concordei com essa
merda. Quero torturar e matar Luca Vitiello, não Marcella.

Earl inclinou a cabeça, se aproximando e me olhando com um sorriso


desafiador. — Ela está te influenciando? Onde está sua lealdade?

— Com o clube, — disse.

Os lábios de Earl se apertaram. No passado, sempre estive com ele,


mas depois do que fez hoje, não o seguiria cegamente nunca mais. — Eu
sou o clube, não se esqueça disso, Maddox. Se você quer vingança, é
melhor parar de ir para a cama com a prole de Vitiello. Ela está te fazendo
perder o foco. Talvez não tenha sido sensato da minha parte permitir que a
levasse para o seu quarto. Talvez todos nós devêssemos compartilhá-la.

O rosto de Cody se iluminou como a porra de uma árvore de


Natal. Cortaria seu pau antes de deixá-lo chegar perto de Marcella.

— Não estou perdendo o foco, — falei em uma voz muito mais


calma. — Mas provocar Vitiello assim pode levar a ações precipitadas da
parte dele. Você sabe do que ele é capaz.

Earl sorriu severamente. — Desta vez, estamos no controle. Ele não


vai nos pegar de surpresa como da última vez. Com sua filha em nossas
mãos, ele pensará duas vezes antes de agir.
Até este momento, teria concordado com a avaliação de meu tio. Luca
não arriscaria o bem-estar de Marcella, mas agora que meu tio começou a
torturá-la... meu sangue ferveu, meu peito apertou. Earl não tirou os olhos
de mim. — Com suas ações, você forçou a mão de Vitiello. Ele não vai
esperar que corte mais pedaços da filha dele, tio. Achei que ele estava
pronto para se trocar.

— Ele não vai nos encontrar. Estamos bem escondidos. E se atacar


outro de nossos irmãos, lhe enviaremos outro pedaço dela até que ele
perceba qual é o seu lugar. — Ele subiu de volta na banqueta do bar e
esvaziou seu bourbon. — Ele queria fazer a troca, mas não gostei do tom
dele quando conversamos. Ele ainda acha que é melhor do que nós. Até que
descubra seu lugar, sua filha fica conosco.

Eu secretamente desejava mais tempo com Marcella, mas não


assim.

— Quanto mais tempo levar, maior o risco para todos nós, — disse,
lutando para manter minha voz sob controle.

— Estou no controle, — disse Earl, sua voz misturada com rancor.

Dei um aceno conciso, fervendo. Cody me lançou um olhar superior


que me deu vontade de esmagar o rosto dele contra a parede. Eu podia
imaginar como ele se divertiu ao ver Marcella sendo torturada. Só de pensar
nisso, tive vontade de enfiar uma bala na cabeça dele e na de Earl
também. Porra.

Voltei para o meu quarto, minha mente cambaleando em busca de


uma solução para a situação em que estava. Marcella não estava mais
segura neste lugar. Agora que meu tio começou a torturá-la, não pararia. Ele
gostava disso, muito. Porra. Eu também queria sangue, mas não o de
Marcella. Queria o fim brutal de seu pai, não dela. Encontrei Marcella ainda
no banheiro. Ela não tinha se movido do lugar no assento do vaso sanitário
e estava observando o sangue pingar de sua orelha, gota após gota, caindo
aos pés descalços. Agora, a maior parte do esmalte de suas unhas havia
descascado, mas o que restava tinha a mesma cor de seu sangue.

Ela me ignorou e olhou para seus pés. Então, lentamente, levantou a


cabeça, mas ainda não estava olhando para mim. Encarei seu perfil,
tentando organizar minhas emoções turbulentas.

Mesmo com uma camiseta esfarrapada e ensanguentada e minha


velha cueca samba-canção, Branca de Neve parecia mais majestosa do que
qualquer rainha em um trono de ouro e diamantes poderia. Ela carregava
sua coroa invisível com orgulho descarado. Porra, esta mulher nasceu para
ser uma rainha e possuía esse título.

Ajoelhei-me ao seu lado, mas ela não olhou na minha direção. Em vez
disso, continuou olhando para frente, seus olhos distantes.

— Branca de Neve, — murmurei. Ela não reagiu. — Marcella.

Seus olhos se arrastaram até os meus, tão frios e impenetráveis quanto


gelo. Ela não podia esconder os vestígios de suas lágrimas. — Deixe-me
dar uma olhada em sua orelha, — disse com uma voz acenando.

— O que sobrou dela, você quer dizer? — Ela disse roucamente, seus
olhos cheios de ódio e acusação, mas além dessas emoções óbvias, emoções
que ela queria que eu visse, detectei sua dor e medo, e essas emoções me
cortaram profundamente. Talvez devesse ter previsto. Desde o primeiro
momento em que a vi, ela não saiu da minha mente. O que era luxúria no
início se transformou em algo mais. Eu gostava de conversar com ela,
provocá-la. Porra, até gostava de vê-la dormir. O que quer que eu sentia, e
ainda não estava pronto ou disposto a analisar minhas emoções, estava em
desacordo com meu puro ódio por seu pai.

— Eu não sabia. Não teria permitido que isso acontecesse. Não faz
parte do plano.

Seus lábios se contraíram em um sorriso tenso. — E qual é o


plano?

— Você deve ser trocada por seu pai, como te disse. Era para
acontecer esta semana.

— Mas qual é o plano agora?


Não tinha certeza se lhe dizer melhoraria as coisas, mas sabia que
Marcella era muito inteligente para não perceber o que estava
acontecendo. — Earl quer punir seu pai por meio de seu sofrimento.

Ela assentiu como se tudo fizesse sentido. Sacudiu a cabeça


novamente, seus ombros enrijecendo. Me movi, tentando dar uma olhada
em seu rosto. Podia ver a luta em cada centímetro perfeito, mas finalmente
as lágrimas caíram. Contidas no início, mas depois suas paredes desabaram.

— Branca de Neve, me desculpe, porra, sinto muito, — murmurei,


tocando sua bochecha.
Seus olhos brilharam. — Isto não é um conto de fadas. E é sua culpa
que isso esteja acontecendo.

Ela estava certa. Era irrelevante que Earl ainda seguisse o plano,
mesmo sem minha ajuda.

— Deixe-me tratar do seu ferimento, — disse.

Ela me olhou feio. — É sua culpa. Vá embora.


Mas não saí, não com ela chorando abertamente na minha frente,
vulnerável como nunca tinha visto um Vitiello antes. Peguei bandagens e
desinfetante antes de começar a limpar seu ferimento. O corte estava
razoavelmente limpo e tinha certeza de que os cirurgiões plásticos poderiam
substituir o lóbulo da sua orelha, mas esse não era o ponto. Marcella ficou
quieta enquanto eu cuidava dela e desejei que dissesse algo, mesmo que
fossem palavras de rancor. Qualquer coisa era melhor do que essa versão
triste e tranquila dela.

— Feito, — disse.
Finalmente, seu olhar voltou para mim. O sorriso que ela me deu foi
amargo. — Isso era o que você queria, hein? Trazer um Vitiello às lágrimas.

— O Vitiello errado. Mesmo que nunca tenha visto uma mulher


chorando mais bonita que você, nunca quis suas malditas lágrimas.

Por alguma razão, isso causou uma nova onda de lágrimas, o que só
pareceu deixá-la mais furiosa. Deslizei meus braços sob os joelhos e costas
de Marcella e a levantei em meus braços. Ela não resistiu, em vez disso,
cedeu contra mim. O que isso fez comigo me pegou de surpresa. Senti uma
onda de proteção e afeto que quase me derrubou.
A coloquei na cama e acariciei suas costas. Certo de que ela não me
queria perto, dei um passo para trás, desejando caminhar pela floresta para
limpar minha cabeça e planejar algo.

Seu braço disparou, agarrando minha mão. — Não, fique comigo.

— Marcella, você está...

— Fique.
Me deitei atrás dela e passei meus braços a sua volta. Nunca a abracei
assim, simplesmente para mostrar carinho e consolar. Não me lembrava da
última vez que abracei alguém.

— Isso só vai piorar, — ela sussurrou. — Seu tio quer quebrar meu
pai, mas meu pai não pode ser quebrado, então ele vai me quebrar.

Sabia que ela estava certa. Talvez devesse ter previsto, mas estava
muito desesperado por vingança. — Vou te proteger, — prometi. Esta
promessa seria minha ruína, podia sentir isso no fundo dos meus ossos. No
entanto, não tinha intenção de voltar atrás.

Quando saí do meu quarto com uma Marcella adormecida, uma hora
depois, minha mente ainda estava girando. Não tinha certeza de como
convencer Earl a prosseguir com a troca, especialmente depois de nossa
discussão. Ele provavelmente ainda estava chateado comigo. A área comum
estava cheia de caras. A notícia sobre minha reação à tortura de Marcella
deve ter se espalhado, a julgar pelos olhares curiosos e às vezes
questionadores que recebi. Apenas balancei a cabeça para eles e saí, sem
vontade de me justificar.

Estava andando pela floresta quando avistei Gray. Ele estava curvado
em uma árvore caída, fumando, o cabelo caindo no rosto. Como eu, ele
estava no clube desde os quinze anos, embora os prospectos geralmente
precisassem ter pelo menos dezoito anos.

— Ei, por que você está se escondendo aqui? — Perguntei quando me


aproximei dele e sentei ao seu lado. Parecendo surpreso, ele me ofereceu
um cigarro, que aceitei.

Ele não disse nada, apenas estreitou os olhos para a ponta


brilhante. Traguei profundamente, mas notei um pouco de sangue de
Marcella em meus dedos. Uma nova onda de raiva misturada com aflição
pela situação desesperadora desabou sobre mim. Isso era uma bagunça
maldita.

— Ouvi sobre o que aconteceu com a garota, — Gray disse


finalmente. Sua expressão deixou claro que ele se sentia mal do estômago
por isso.

— Foi um erro, — eu disse.

Surpresa cruzou seu rosto. Raramente criticava as decisões de Earl.

— Achei que você queria o sequestro.

— Não no início, mas depois percebi que era a maneira perfeita de


colocar as mãos em Vitiello.

— E agora você não acha?


— Ainda acho que devemos deixá-lo ser trocado por Marcella. Mas
Earl quer que Vitiello rasteje e implore, e mesmo assim, provavelmente não
ficará satisfeito.

— O cara vai enlouquecer quando vir o lóbulo da orelha de sua filha,


— murmurou Gray. — Earl mandou que enviasse para ele.

Balancei minha cabeça. — Porra. Isso é uma bagunça.

— Como está a garota? Ela está no seu quarto?

— Sim, ela está dormindo agora. Claro, ela está assustada. Quem não
ficaria depois do que aconteceu?
Gray suspirou. — Espero que isso acabe logo.

— O sequestro?

— O sequestro, a vingança. Toda a minha vida, só ouvi Earl e você


falarem sobre vingança contra Vitiello. Só quero seguir em frente e
realmente nos concentrarmos em tornar o Tatarus mais forte.

Uma vida sem vingança como foco parecia impossível. Tornou-se


uma parte integrante do clube. A vingança era a razão pela qual a
autoridade de Earl nunca foi questionada. Brigas dentro do clube
simplesmente não eram uma opção durante a guerra com a Famiglia. Talvez
fosse por isso que Earl de repente não queria acabar com Vitiello.

— Talvez você possa falar com Earl, perguntar-lhe quando a troca vai
acontecer e convencê-lo a se apressar.

Gray me lançou um olhar como se eu tivesse criado uma segunda


cabeça. — Você sabe que papai não me escuta. Ele acha que sou
incapaz. Você é o filho favorito dele.

— Não sou filho dele, — falei com firmeza, me surpreendendo. No


passado, muitas vezes me pegava desejando que Earl fosse meu pai, mas
esse desejo havia desaparecido completamente depois de hoje.

— Alguém tem que falar com ele e fazê-lo ver a razão. O clube
precisa seguir em frente como você disse. E isso só pode acontecer quando
finalmente matarmos Vitiello.
— Às vezes acho que matar Vitiello será apenas mais um passo da
guerra. Depois disso, sua família buscará vingança, e então buscaremos
vingança contra eles novamente, e assim por diante.
No fundo, sabia que Gray provavelmente estava certo, mas não me
importava com o que acontecesse depois, só queria me livrar de Luca. Mas
primeiro me certificaria de que Marcella estivesse segura. O que quer que
viesse depois era irrelevante.
Capítulo 13

Acordei com uma forte pulsação em meu ouvido esquerdo. Sentando-


me, estremeci quando toquei minha orelha enfaixada, lembrando-me dos
eventos de ontem. Desmaiei rapidamente depois que eles cortaram minha
orelha e não senti muita dor, nem vi meu lóbulo cortado. Só acordei quando
Gray desajeitadamente me carregou escada acima e para o quarto. Me
arrastei até o banheiro onde Maddox finalmente me encontrou.

— Há analgésicos na mesa de cabeceira, — disse Maddox. Minha


cabeça girou para onde ele estava sentado no parapeito da janela, apenas de
jeans. Uma onda de alívio com sua presença seguida de raiva percorreu meu
corpo. Isso era culpa dele, e mesmo sua expressão preocupada não o
tornava menos culpado.

Seu colete estava ao lado dele. Nunca estava longe dele. O colete, seu
clube, significava o mundo para ele.

— Você tem todo o direito de me olhar assim. Eu também me odiaria


se fosse você.

Não o odiava, infelizmente. Estava furiosa, mas ainda não o


odiava. Empurrei-me para fora da cama, oscilando brevemente. Maddox
cruzou o quarto em um flash, agarrando minha cintura.

Depois de um momento, o afastei. Precisava de um banho, me limpar


do sangue seco em meu cabelo e pescoço e me sentir mais como eu
novamente. Maddox não me parou enquanto cambaleei em direção ao
banheiro. Encolhida sob a água corrente, o desespero me oprimiu. Estava
com medo do que mais Earl havia planejado para mim. Estava com medo
por papai, por minha família. Estava até com medo por Maddox, o que nem
fazia sentido. Precisava sair daqui.

Quando saí do chuveiro, uma regata e uma boxer limpas esperavam


por mim na tampa do vaso sanitário. Me vesti, depois escovei meu cabelo
sem pressa, tentando me acalmar e descobrir o que fazer, mas não importa
quantas vezes procurasse uma saída, Maddox surgia. Ele era o único que
poderia me salvar, todos nós, até ele mesmo, agora.

Depois de secar o cabelo com a toalha, voltei para o quarto. Maddox


parecia como se também estivesse torturando seu cérebro por uma
solução. Ele precisava ver que isso estava indo na direção errada, que
estava em suas mãos nos guiar para fora da zona de perigo. Ele encontrou
meu olhar e toquei minha orelha, imaginando o que ele via agora.

— Você ainda é linda pra caralho. Ao te conhecer, as pessoas


provavelmente pedirão aos cirurgiões plásticos para cortar os lóbulos das
orelhas porque você iniciou uma tendência.

Soltei uma risada rouca. — Você não conhece as pessoas com quem
tenho que lidar. Eles vão se divertir muito me vendo assim.

— Você não me ouviu? Você ainda é linda pra caralho.

— Até Earl cortar mais pedaços meus.


Era um medo que não tinha permitido mais espaço em meu cérebro,
mas ficou escondido nos recantos a noite toda, enchendo minha noite de
imagens horríveis.

Os olhos de Maddox brilharam de fúria. — Ele não vai. Isso vai


acabar logo. Eu jurei te proteger.

Aproximei-me dele e olhei para cima em seu rosto sério. — Como


isso vai acabar, se não for mal? Como você me protegerá? Você não viu seu
tio quando ele me cortou. Ele fará de novo, não importa o que meu pai ou
você faça. Os irmãos do seu clube ficaram parados e assistiram. Eles
também seguirão seu tio neste caminho.

Ele agarrou meus ombros, parecendo dividido, com raiva e


desesperado ao mesmo tempo. — Este clube é a minha vida, Marcella. Eu
sangro por ele. Sei o que quer que eu faça, mas não posso trair o clube, nem
por você nem por ninguém. E não vou poupar seu pai também. Ele vai
morrer, mas você estará segura.

— Você me perderá, e então meu irmão ou tio ou outra pessoa te


matará para vingar meu pai. É isso que você quer?

Eu podia ver uma coisa que ele queria mais do que tudo, mesmo que
não admitisse.

— Os últimos dias foram mais do que eu esperava com a princesa


mimada de Nova York. — Ele era bom em fugir da verdade amarga.

— E isso é o suficiente? — Perguntei suavemente.

Ele rosnou e me puxou contra seu corpo, seus lábios colidindo com os
meus. Parte de mim queria empurrá-lo para longe, mas a outra queria isso,
ele. Por muitas razões confusas.
Passei meus dedos por seu cabelo, puxando com força, querendo que
doesse. Ele rosnou em minha boca, mas apenas me beijou com mais força,
suas mãos percorrendo minhas costas.

Seu piercing provocou minha língua, enviando picos de prazer por


cada centímetro do meu corpo. Beijar nunca foi assim, como se
relâmpagos ziguezagueassem pelo meu corpo. O mundo ao nosso redor e
tudo o que acontecia desapareceram.

Ele puxou para baixo a regata e lambeu meu mamilo, certificando-se


de sacudir seu piercing contra ele algumas vezes. Então o chupou
profundamente em sua boca, sugando com mais força do que esperava. Meu
núcleo se contraiu. Me inclinei para trás, observando seus lábios em volta
da minha carne sensível. Sua mão deslizou pela minha barriga, as pontas
dos dedos provocando minha pele. Já estava ficando molhada e desesperada
para sentir seu toque entre minhas pernas. Este era o nosso momento, e
minha última chance. Nós tropeçamos para trás contra a porta.

Ele me espalmou através da boxer, deslizando seu dedo médio entre


meus lábios inferiores sobre o tecido fino. A fricção adicional do material
encharcado contra minha carne sensível me fez ofegar. Ele me esfregou
lentamente, estragando completamente minha calcinha, mas não me
importei. Ele se ajoelhou. — Esta será a única vez que me ajoelharei diante
de um Vitiello, — ele rosnou, mas só pude me concentrar em seus lábios
que estavam muito perto da minha calcinha. Ele enganchou a mão sob meu
joelho e empurrou minha perna para cima. Minha bunda bateu contra a
porta, fazendo a madeira velha ranger. Maddox deslizou minha calcinha
para o lado. — Pingando, — ele murmurou. Então enterrou o rosto na
minha boceta. Seu piercing provocou meu clitóris sem piedade.
— Mad, — alguém chamou. Não reconheci a voz em
meu cérebro nebuloso de luxúria. Bateram contra a porta, quase me
causando um ataque cardíaco, mas Maddox não me soltou. Seu rosto ficou
entre minhas pernas.

— Foda-se, estou comendo minha boceta, — Maddox gritou antes de


chupar ruidosamente os lábios da minha boceta.

Queria empurrá-lo para longe, mas ele jogou seu piercing sobre o meu
clitóris antes de chupá-lo em sua boca e eu explodir. Meus dedos puxaram
seu cabelo enquanto pressionava contra ele, cavalgando seu rosto
desesperadamente. Era quase como uma experiência fora do corpo, como se
pudesse deixar todo o peso do passado e o medo do futuro para trás.

Sabia que quem havia chamado o nome de Maddox ainda estava lá,
mas não me importava mais. Ele não viveria para contar a história de
qualquer maneira. Assim que minha família me salvasse, todos morreriam e
levariam tudo o que ouviram ou viram para a sepultura com eles. Só podia
esperar que Maddox visse a razão antes de ter que compartilhar esse
destino.

Maddox se endireitou, e o olhar que ele me deu quase parecia um


adeus. — É muito cedo para um adeus, — sussurrei.

— Não, — ele murmurou. Eu entendi. Ele não queria pensar ou falar


sobre isso agora.

Ele pressionou contra mim, sua expressão se transformando em um


sorriso brincalhão. — É verdade que vocês, garotas italianas, têm que
permanecer virgens até sua noite de núpcias, Branca de Neve? Ou você deu
ao seu noivo um presente antecipado?
Sorri, combinando com sua leveza forçada. — Você terá que
descobrir por si mesmo, Maddox. Mas uma palavra de advertência, meu pai
vai matá-lo por isso.

— Eu acho que a morte valerá a pena.

Ele se firmou contra mim. Deus, nunca estive tão molhada. Um olhar
de Maddox me despertou mais do que horas de beijos com Giovanni.

— Não serei gentil, Branca de Neve. Última chance de me dizer o que


eu quero saber.

Não precisava de gentileza agora. Precisava dele, disso. Mordi seu


lábio com força em resposta. Ele rosnou, seus olhos se tornando
ferozes. Ele empurrou minha boxer para baixo e me levantou do chão
fazendo minhas pernas se enrolarem em torno dele. Então, com um impulso
feroz, ele empurrou para dentro de mim, ou tanto quanto meu corpo
permitia. Exalei, minhas unhas tirando sangue de suas costas.

Maddox exalou, sua testa pressionada contra a minha, seu peito


arfando, os lábios entreabertos enquanto respirava com dificuldade. —
Porra, Branca de Neve. Seu velho definitivamente vai me matar por isso.

— Cale a boca, Maddox. — Um deles morreria, mas não queria


pensar nisso agora. Em breve, a realidade sangrenta nos alcançaria.

Ele se calou. Os músculos da parte interna das minhas coxas tremiam


enquanto me acostumava com a sensação dele dentro de mim. Meu corpo
caiu sobre ele, permitindo que mais e mais de seu comprimento deslizasse
para dentro de mim. Prendi a respiração quando minha pélvis se acomodou
contra a dele e ele estava completamente dentro de mim. Seu piercing
pressionou contra meu clitóris como ele prometeu, mas meu desconforto
não me permitiu sentir meu ponto G.
— Por que seu noivo idiota não tirou sua virgindade?

Cravei minhas unhas ainda mais fundo em seus ombros, mas ele nem
mesmo recuou. — Porque tinha muito medo do meu pai.

— Vale a pena morrer por você. Ele é um idiota se não percebeu.


— Maddox encontrou meu olhar, seus olhos azuis cheios de desafio e fome
sombria. — Não tenho medo do seu velho. Quando o encontrar, vou dizer a
ele que te comi.

— Não, você não vai, — rosnei, mas tive que admitir que me
emocionou saber que este homem não tinha medo de enfrentar meu pai. Eu
só queria que houvesse uma chance para nós, para os dois viverem.

Seus dedos se enredaram no meu cabelo, puxando ligeiramente até


que descobri minha garganta para ele. Ele lambeu meu ponto de pulso
vagarosamente. — Eu com certeza vou, Branca de Neve.
Ele agarrou minha bunda e começou a se mover. Exalei bruscamente
em desconforto e Maddox fez uma breve pausa, seus olhos procurando os
meus.

— Não pare, — ofeguei.

Seus dedos se apertaram ainda mais na minha bunda e ele empurrou


em mim. Engasguei com a dor aguda que foi seguida por um raio de prazer
quando seu piercing esfregou contra meu clitóris. Maddox começou a
empurrar em mim em um ritmo moderado. O suor brilhava em sua testa por
me segurar e pelas estocadas controladas.
— Não se segure, — disse.

Ele bateu em mim, estocadas longas e fortes que fizeram meu núcleo
zumbir de dor. Ele angulou suas estocadas para que seu piercing
continuasse esfregando meu clitóris e então me beijou. A sensação de sua
língua enquanto me reivindicava só aumentou o prazer. Logo era difícil
determinar onde meu desconforto terminava e o zumbido baixo do meu
orgasmo crescente começava.

— Tão molhada, — ele murmurou enquanto batia em mim uma e


outra vez. Meus olhos reviraram. Estava prestes a gozar, mas toda vez que
tinha certeza de que cairia do penhasco, a dor me controlava. Ele inchou,
tornando-se muito maior dentro de mim, e então explodiu com uma
maldição murmurada. Suas estocadas se tornaram ainda mais fortes, mas
menos coordenadas. Minha boca se abriu com a sensação de
transbordamento. Prendi a respiração quando a dor ficou quase
insuportável. Ele mordeu meu ombro enquanto suas estocadas
diminuíam. Ele finalmente olhou para cima, completamente desgrenhado e
suado. — Porra. Você deveria ter gozado.

— A maioria das garotas não goza na primeira vez.

— Besteira, — Maddox rosnou. Ele me ergueu mais alguns


centímetros e puxou. Exalei com a dor aguda. Minhas pernas quase
cederam quando Maddox me colocou de volta no chão, mas ele não me
deixou cair. Ele pressionou contra mim, me olhando com uma nova
possessividade e fome crua que não existia antes.

— Você vai gozar e gritar por mim, Branca de Neve, — ele


murmurou. Ele me esfregou com dois dedos, em seguida, bateu em mim
sem aviso e começou a empurrar rápido e forte. Meus olhos se arregalaram
com a nova onda de desconforto misturado com prazer. Maddox
desacelerou de repente e então acrescentou um terceiro dedo. Respirei
fundo, balançando a cabeça. — Demais? — Maddox murmurou, sugando
meu lábio inferior em sua boca. — Sua linda boceta acabou de tomar meu
pau inteiro. Você pode tomar três dedos. Vai valer a pena, Branca de Neve.

Ele moveu os dedos em um ritmo dolorosamente lento até que


comecei a encontrar suas estocadas e minhas pálpebras fecharam de prazer.

Quando finalmente gozei, agarrei-me firmemente a Maddox. Ele


passou os braços em volta de mim ainda mais forte e descansei meu queixo
em seu ombro. Lentamente, a alegria diminuiu e me dei conta da pulsação
em meu ouvido que combinava com a ardência entre minhas pernas.

Me afastei um pouco e encontrei seu olhar. — Você tem que me


salvar. Só você pode, e sabe que só há uma maneira de fazer isso.

Marcella estava encolhida ao meu lado, suas costas elegantes voltadas


para mim. Meus olhos traçaram as protuberâncias suaves de sua coluna até
sua bunda redonda com as duas covinhas tentadoras acima de suas
nádegas. Lutei contra o desejo de beijar cada centímetro de sua pele
perfeita.

Suas palavras depois de termos fodido repetindo em minha mente. Eu


tinha que salvá-la, mas a opção que ela tinha em mente estava fora de
questão. Não podia deixá-la fugir. Esta era nossa única chance de pegar seu
velho. Se a soltasse, Earl e meus irmãos do clube nunca me
perdoariam. Porra, eles me chamariam de traidor e cortariam minhas bolas e
me alimentariam com elas ou aos rottweilers. Eu não era um traidor.

Meus olhos foram atraídos para a bandagem em sua orelha. Começou


a sangrar novamente durante a nossa foda. Ainda não podia acreditar que
tinha dormido com Branca de Neve, que tinha tirado sua virgindade.
Antes de conhecer Marcella, muitas vezes fantasiei em tê-la em
minha cama, mas nunca foi assim. Achei que me sentiria triunfante por
tocar na prole preciosa de Vitiello. Imaginei provocá-lo com todos os
detalhes sujos, imaginei usar Marcella como parte da minha
vingança. Agora tudo que podia pensar era que queria mantê-la na minha
cama, na minha vida. Quase ri ao pensar em Marcella se tornando minha
old lady. Vitiello enlouqueceria. No entanto, por mais que tentasse, não
conseguia imaginar Marcella como parte do nosso estilo de vida. Ela era de
um mundo muito diferente.

Apesar da nossa impossibilidade, queria prová-la todos os dias, ver a


luxúria substituir a suspeita fria em seus olhos azuis. E a última coisa que
queria fazer era compartilhar qualquer detalhe de nossa primeira noite
juntos com alguém. Queria cada momento, cada centímetro de Marcella
para mim. Mas também a queria segura, e ela precisava estar longe do clube
para isso, longe de mim. Eu pertencia ao clube e ela não podia ficar.

Passei a mão pelo cabelo. — Estúpido idiota.

Marcella se mexeu, virando a cabeça para me olhar com sono. —


Você disse alguma coisa?

— Durma, — murmurei.
Ela simplesmente assentiu, virou-se e voltou a dormir. Me estiquei de
costas, meus braços cruzados atrás da cabeça. Earl estava ficando
desconfiado. Os outros estavam ficando com ciúmes. Não estava indo como
eu planejei. Não queria deixar Marcella ir, mas tinha que deixar. Não podia
esperar que Earl se contivesse em não a machucar ainda mais. Fechei meus
olhos, querendo chutar minha bunda estúpida. Quando a segurança de
Marcella se tornou minha principal prioridade, ainda mais importante do
que a única coisa pela qual trabalhei toda a minha vida: vingança?

Encarei o teto. Marcella disse que seu pai me mataria por tirar sua
virgindade. Considerando tudo o que fiz, ele tinha vários motivos para
acabar com minha vida da forma mais brutal possível. Mas isso, foder sua
filha, era definitivamente a ponta do iceberg.

Mas valia a pena morrer por ela. Porra, morreria mil mortes apenas
por mais uma noite com ela.
Capítulo 14
Luca

Proteger minha família sempre foi minha prioridade. Nada era mais
importante, nem mesmo a Famiglia.

Olhando para a nota de Earl White, percebi que tinha falhado.

É hora da vingança, Vitiello.

Earl White
Presidente do Tartarus MC

— Esse imbecil provavelmente não sabe mais palavras, — murmurou


Matteo. Não reagi. Havia uma onda de estática em meus ouvidos,
semelhante à que experimentei anos atrás, quando achei que Aria estava me
traindo e saí em uma matança no clube dos Tatarus. Perdi o controle
naquela época e estava perto de perdê-lo novamente.

Matteo estava lá naquela época, como estava agora. E seu olhar


mantinha a mesma preocupação enquanto me observava silenciosamente
como no passado.

Meu corpo clamava por sangue, por gritos e carnificina.

Não podia fazer nada além de ouvir as batidas furiosas do meu


coração. — Como vou contar a Aria? — Consegui dizer. Só descobri há
quatro horas que Marcella havia sido sequestrada do campus. Um dos
homens responsáveis por sua segurança me ligou para me dizer. A única
razão pela qual ele ainda não estava morto era que eu precisava que todos
os homens destruíssem o Tatarus e tentar salvar sua pele era um grande
incentivo.

Matteo tocou meu ombro. — Eu posso fazer isso.

— Não, — resmunguei, balançando a cabeça. Lancei um olhar


enviesado para o meu filho, seu rosto ainda enterrado nas palmas das
mãos. Amo estava lá quando recebi a ligação. Seu choque refletia o
meu. Apesar de ter sido apresentado à Famiglia em seu décimo terceiro
aniversário, mantive muitos aspectos horríveis deste mundo longe dele, a
pedido de Aria.

Levantei da cadeira em meu escritório, para onde havíamos retornado


após uma busca inútil. Não havia vestígio de Marcella, nem dos membros
do Tatarus. Todos eles rastejaram para seus esconderijos, com medo do que
faria se pegasse um deles. Eles cantariam como um canário, revelando cada
segundo que nem sabiam que escondiam. — Devo ir para casa agora, antes
que a notícia chegue a Aria.

Já havia convocado uma reunião com cada homem da Família que


estava perto o suficiente para estar presente esta noite. Alguns dos meus
subchefes e seus soldados estavam muito longe para se juntar à busca.
Amo se aproximou de mim, segurando meu antebraço, seus olhos
severos. — Deixe-me fazer parte da busca e destruição do Tatarus. Não
quero proteção. Não preciso ser protegido. Quero salvar Marci e matar cada
filho da puta que a machucou. Quero esmagar seus corpos em uma polpa
sangrenta.

Ele tinha quase minha altura e a ferocidade em seus olhos cinza, meus
olhos, me lembravam mais de mim mesmo do que nunca.
Protegê-lo não era mais uma opção. Eu balancei a cabeça e apertei
seu ombro. Não fui capaz de proteger Marcella e não podia mais proteger
Amo. — Vamos lutar lado a lado.

Sua expressão cheia de determinação e orgulho. Talvez eu devesse tê-


lo deixado fazer parte de uma missão antes. Esta, sua primeira missão real,
era mais arriscada do que qualquer coisa que enfrentamos há muito tempo.

Minha frequência cardíaca aumentou quando entrei em nossa mansão


trinta minutos depois. Matteo e Amo estavam logo atrás de mim, mas isso,
contar tudo a Aria, era meu fardo. Valerio desceu correndo os degraus,
sorrindo, mas bastou olhar para o meu rosto e sua expressão sumiu. — O
que está errado?

Indiquei a Amo e Matteo para cuidar dele. Ele era muito jovem para
os detalhes horríveis, mas também precisava da verdade. No entanto, meu
único foco era Aria por enquanto.

Segui um zumbido suave até a cozinha, onde a encontrei. Ela estava


soprando uma xícara de chá fumegante enquanto lia uma revista. Eu não
esperava encontrá-la cozinhando. Aria era a pior cozinheira do mundo.

Seu cabelo loiro dourado estava preso em um coque bagunçado,


algumas mechas rebeldes emoldurando seu lindo rosto. Marcella herdou a
beleza de Aria e seus olhos, mas meu cabelo preto.

Aria e eu estamos casados há vinte e quatro anos, mais tempo do que


nós dois sem o outro. Ela ainda estava tão bonita quanto no dia do nosso
casamento, talvez até mais. O que a tornava ainda mais bonita era que ela
amava mais ferozmente do que qualquer outra pessoa que eu conhecia, e
por isso essa notícia a revelaria.

— Aria, — forcei minha voz. Cada fibra do meu corpo se revoltou em


perturbar sua serenidade com uma verdade feia que mesmo eu dificilmente
poderia suportar. Jurei manter todos os danos dela e de nossa família e
falhei terrivelmente.

Aria se virou com um sorriso suave que desapareceu com a expressão


no meu rosto. Ela me conhecia melhor do que ninguém, cada contração do
meu rosto e o significado por trás disso. Só podia imaginar como minha
expressão deveria estar.

Ela pousou a xícara lentamente, a preocupação enchendo seus


olhos. — O que há de errado? — Como poderia lhe contar? Queria mentir
para ela, para protegê-la, pelo menos.

Eu não era um homem que recuava de uma verdade feia ou de


qualquer outra coisa. Tinha visto e feito muito para ficar com medo, mas
neste momento estava apavorado pra caralho. — Você se lembra do Jersey
MC?

Suas sobrancelhas se uniram. — Você matou todos eles quando eu


estava grávida de Marcella.

Meu coração encolheu. Claro, ela se lembrava. Eu agi por puro


desespero e fúria naquela época, sem pensar nas consequências de minhas
ações. Queria mutilar e matar, e aqueles motoqueiros pareciam ser o alvo
perfeito. Eles haviam atacado os armazéns da Famiglia e matado meus
soldados antes, então estavam longe de serem inocentes, mas naquela época
os teria matado mesmo se não fosse o caso.
Minhas ações ficaram impunes por décadas, mas agora Marcella
estava pagando por meu pecado.

— Eles reconstruíram suas sedes nos últimos anos.


Ela assentiu porque mencionei isso a ela na ocasião, especialmente se
um de seus ataques insanos me causassem dor de cabeça.

— Luca, você está me assustando. O que há de errado? Por que você


está me contando tudo isso?

Aproximei-me dela e toquei seus ombros. — Marcella, eles a


sequestraram...

Aria deu um passo para trás, o horror torcendo seu rosto. — Não.

— Aria...

— Não, — ela sussurrou. Ela começou a tremer, recuando até que


suas costas bateram no balcão da cozinha. Lágrimas explodiram de seus
olhos. Ela colocou a mão trêmula sobre a boca, tentando recuperar o fôlego
enquanto sua angústia o roubava. Queria tocá-la, consolá-la, mas não tinha
certeza se ela queria meu toque. Eu era o motivo de tudo isso. Marcella se
tornou um alvo por causa de minhas ações no passado. — Ela está viva,
— disse ela, não perguntou, como se dizer isso tornaria as coisas
verdadeiras.

— Sim, claro que ela está viva. O presidente provavelmente quer me


chantagear. Eles não vão matá-la. Eles sabem que eu os pulverizaria e todos
os MC em meu território e além como vingança. — Não confiava na
palavra de Earl White ou em sua honra, mas tinha que confiar em seu
instinto de autopreservação. Isso não significava que eles não a
machucariam. Mas mesmo se não o fizessem, Marcella devia estar
apavorada nas mãos daqueles homens, apavorada com o que eles poderiam
fazer... Não queria considerar as opções horríveis.

Aria fechou os olhos, engolindo. — Oh, Marci. — Aria cedeu contra


mim com um gemido sufocado, seus dedos cravando em meus braços. A
peguei e a pressionei contra meu peito.

Sua dor me cortou mais do que qualquer lâmina já cortou. — Eu sinto


muito amor. Nossa filha está pagando pelos meus pecados. Nunca vou me
perdoar e não espero que você me perdoe também.

Aria se afastou lentamente, enxugando os olhos antes de olhar para


mim. Ela agarrou minha mão. — Esses homens são os culpados, não você,
Luca. Não há nada a perdoar. Quando me casei com você, sabia dos riscos
de estar com um Capo.

O casamento nunca foi sua escolha, embora tivéssemos escolhido um


ao outro uma e outra vez nos anos desde o dia do nosso casamento.

— Vou me oferecer para me trocar por nossa filha. É a mim que eles
querem, não ela.

A expressão de Aria tornou-se inesperadamente feroz. — Salve nossa


filha e mate aqueles homens. Eles não podem sobreviver ou nunca
estaremos seguros. Você é o homem mais forte que conheço. Mostre a eles,
e não se atreva a não voltar para mim.

A fé inabalável de Aria em mim era o maior presente que eu poderia


imaginar e um fardo que carregava com prazer. Não decepcionaria sua
confiança. Salvaria nossa filha com brutalidade absoluta e com a minha
vida se necessário.
Amo entrou na sala de jantar, e seu rosto não era um bom
presságio. Me levantei imediatamente. Não estava com fome de qualquer
maneira. A única razão pela qual estava na mesa de jantar era porque Aria
queria preservar uma aparência de normalidade para Valerio. Ele sabia mais
do que ela queria, mas a divertia fingindo que não.

Aria e Valerio ficaram em silêncio.

Aproximei-me de Amo, mantendo minha voz baixa enquanto


perguntava: — O que há de errado?

O rosto de Amo estava vermelho de raiva. — Os motoqueiros


postaram um vídeo da Marcella na internet.

Aria se levantou e se aproximou de nós. — Marcella está bem? O que


aconteceu?

— Que tipo de vídeo?


O telefone de Amo tocou repetidamente com mensagens
recebidas. Ele olhou de soslaio para a tela. — Porra. Vou matar todos eles.

Agarrei seu pulso. — Amo, que tipo de vídeo? — Meu próprio


telefone começou a zumbir com mensagens.

— Eles postaram um vídeo de Marcella nua e a marcaram nas redes


sociais. Está em tudo Insta, TikTok e Twitter.

Cerrei minhas mãos em punhos, minha fúria tão avassaladora que tive
problemas para controlá-la. Valerio e Aria estavam me olhando
preocupados e eu precisava manter a porra da minha compostura até que
estivesse longe de casa.
Aria olhou para seu telefone celular e a cor sumiu de seu rosto.

— Mãe? — Valério perguntou, mas ela não reagiu.

Fui até Aria e toquei seu ombro. Ela ergueu a cabeça. — Quero todos
eles mortos, — ela sussurrou suavemente. Como se precisasse pedir. Eles
morreriam, de uma forma ou de outra. Por minha mão ou pela de Amo e
Matteo depois que me matassem.

Me curvei sobre a minha mesa, olhando para o meu telefone. Minha


última ligação com Earl White foi ontem. Não tinha ouvido falar dele desde
então e não tinha um número para ligar. Suas últimas palavras me fizeram
temer o pior para Marcella.

Matteo andava pela sala. — Ele quer que você implore. Mal posso
esperar que a situação mude e o façamos implorar.
Quase implorei, não com as palavras exatas e manter minha fúria sob
controle foi quase impossível depois do vídeo de Marcella que o MC
postou, mas me ofereci a Earl White em uma bandeja de prata, mas ele
recusou. Se meus homens estivessem perto de encontrar o atual esconderijo
do Tatarus, as coisas seriam mais fáceis. Pulverizaria cada
motociclista. Porra, gostaria mais do que qualquer coisa que já gostei antes.

— Sonho em matar os Whites todas as noites. É tudo em que consigo


pensar, — Amo disse de seu lugar no meu sofá. Ele passou todas as horas
em que estava acordado procurando pelos Tatarus e sua irmã desde que ela
foi sequestrada. Mesmo Aria, que normalmente era tão inflexível sobre ele
se concentrar no próximo ano letivo, não discutiu.
Nada era mais importante do que a família.

Dois dias atrás, seguimos uma pista a noite toda, mas a cabana que
encontramos era apenas um depósito de armas e munições
abandonado. Não havia nenhum vestígio do atual clube dos Tatarus. Se
pudéssemos colocar as mãos em um dos motoqueiros. Eles revelariam a
localização, mas o último cara que seguimos e encurralamos colocou uma
bala na cabeça antes que pudéssemos pegá-lo.
Uma batida soou e Valerio enfiou a cabeça dentro do meu
escritório. — Mamãe acabou de receber um pacote. Há uma impressão do
cão do inferno1 nele.

Amo deu um pulo do sofá, mas eu já estava fora da porta, correndo


atrás de Valerio, que abriu o caminho até Aria. Nós a encontramos na sala
de estar. Ela olhava para o pacote, uma faca de carta na mão, mas ainda
estava fechado.

— Não abra! — Gritei. Aria saltou, seu olhar disparando para


mim. Eu a alcancei e gentilmente a afastei, protegendo-a com meu corpo.

Amo tirou a faca da mão dela. Balancei a cabeça. — Vou abri-lo.

Ele me entregou a faca e cortei o embrulho. Duvidava que houvesse


algo perigoso dentro, mas se houvesse, eu deveria me machucar.

Rasguei o pacote e encontrei um frasco com um pedaço de carne


ensanguentada dentro. Meu pulso acelerou enquanto lia o rótulo. — O
primeiro pedaço de sua filha que você recebe. Mais chegarão até que você
mostre algum respeito.
Os olhos de Matteo se arregalaram. — O que é isso? — Ele
murmurou. Amo ainda segurando Aria e Valerio para trás.
Aproximei o frasco do rosto. — Um lóbulo de orelha.

Matteo cerrou os dentes e desviou o olhar, murmurando algo sob sua


respiração. Não tinha certeza se podia falar. Minha fúria queimava muito
intensamente.

— Luca? — Aria chamou, sua voz soando em pânico. — O que é


isso?

— Leve sua mãe e seu irmão para cima, — ordenei a Amo. Aria não
aceitou. Ela se livrou das mãos de Amo e ele obviamente não se atreveu a
agarrá-la novamente. Empurrei o pacote para Matteo antes de ir até Aria,
impedindo-a de ver o frasco.

— Luca. — A voz de Aria tremeu, seus olhos se encheram de


lágrimas e terror enquanto ela olhava para mim.
— Confie em mim, amor. Marcella voltará para nós em breve.

— Não sou fraca. Quero saber o que está acontecendo.

Fiz um gesto para Amo retirar Valerio da sala que seguiu seu irmão
sob protesto.

Aria agarrou meus braços. Não conseguia encontrar as palavras, não


conseguia lhe dizer o que estava acontecendo com Marcella e o que não
podia evitar. Mesmo eu, que tinha visto e feito tantas coisas horríveis, não
conseguia suportar a ideia do que Marcella estava passando. A dor, o
medo...

As palavras não passariam pelos meus lábios. Fechei meus olhos


brevemente. — Eles querem me punir, amor. Não vou deixar que
machuquem mais Marcella.
Aria olhou para Matteo, que ainda estava segurando o pacote. Ela
passou por mim. — Mostre-me, — ela ordenou. Matteo olhou para
mim. Assenti.

Aria pegou o frasco e colocou-o de volta no pacote. Passei meus


braços em volta dela por trás, segurando-a enquanto ela chorava.

O Tatarus havia me atingido da pior maneira possível, e Earl White


sabia disso. Ele gostava disso e, conhecendo homens como ele, detestaria
perder essa fonte de poder. Ele não soltaria Marcella. Se não a
encontrássemos logo... Desamparo era um sentimento ao qual não estava
acostumado, e não permiti que criasse raízes. Contanto que respirasse,
procuraria pela minha garota, e mataria cada motociclista no meu caminho
até ela.
Capítulo 15

Estava evitando Earl o máximo possível desde nossa discussão, dois


dias atrás, mas se quisesse ter certeza de que tudo finalmente estava indo na
direção certa, tinha que falar com ele e descobrir o que se passava em sua
cabeça. Tínhamos uma reunião marcada para a noite e quase todos os donos
de patchs concordaram em comparecer.

Marcella tinha ficado terrivelmente quieta o dia todo, e me perguntei


se ela havia se arrependido de nossa noite juntos. Ela havia mencionado que
se arrependeria de mim, mas agora queria que ela mudasse de ideia.

Marcella estava sentada na cama e escovando o cabelo com uma


escova que peguei de uma das garotas do clube, o movimento quase
hipnótico. Não conseguia desviar o olhar. Ela virou a cabeça, fixando-me
com aqueles olhos penetrantes. — O que vocês vão discutir na reunião?

— Quando vamos trocá-la por seu pai.

Marcella me deu um sorriso estranho, como se realmente não


acreditasse nisso. — Vou convencê-los. Eles vão ouvir a razão, — disse,
dificilmente acreditando em mim mesmo.
— O que você quer, Maddox?

Você. Desde que te conheci, só você. Estava meio tentado a fugir com
ela, deixar tudo que sempre conheci, sempre quis, para trás. Mas não
podia. A vida de MC era tudo que conhecia, tudo que queria. Não tinha
amigos ou família fora deste clube. Eu só tinha o Tatarus.

E então... de repente lá estava Marcella, uma mulher, filha do meu


inimigo, ocupando cada vez mais o meu espaço mental.

Não disse nada. Meus pensamentos eram loucura e traição. Fui até ela
e me inclinei sobre ela. Agarrando seu pescoço, inclinei sua cabeça para trás
para um beijo profundo. Ela respondeu no início, mas depois afastou a
boca, roubando-me aqueles lábios irresistíveis. — Isso vai acabar assim que
seu tio me devolver ao meu pai. A menos que ele decida me torturar e matar
para punir meu pai.

Ela disse isso como se estivesse falando sobre outra pessoa, sua voz
fria e controlada, mas seus olhos refletiam o medo que ela nunca
admitiria. Meu coração acelerou com a simples menção de sua morte. — Eu
nunca permitiria que Earl te matasse. Eu te protegerei.

Ela sorriu, mas não estava feliz. — Você pode? Me proteger? Seus
irmãos do clube querem me jogar na fogueira como a bruxa que acham que
sou.

Meus irmãos do clube a queriam de uma maneira muito diferente. Eu


também não permitiria isso. Enquanto Marcella estivesse sob nosso teto, me
certificaria de que ela não fosse prejudicada mais do que já foi. Mas uma
vez que ela fosse liberada...

O pensamento de deixá-la ir, de nunca mais vê-la novamente,


adicionou um peso aos meus ombros.
— Você não quer me perder, — ela sussurrou, se levantando e
agarrando meu colete. Seus olhos me mantiveram cativo como sempre.

Considerei mentir, mas simplesmente não podia fazer isso com ela
olhando para mim assim. Segurei seu pescoço com mais força. — Claro,
não quero te perder. — Peguei minha camiseta que chegava até suas coxas e
empurrei a boxer de lado. — Sentiria falta dessa linda boceta. — Eu
sentiria, mas era apenas uma pequena parte da razão pela qual não
conseguia imaginar deixá-la ir. Compartilhar detalhes da minha infância,
falar sobre mais do que entrega de drogas, álcool e armas, ela era a única
pessoa que eu podia fazer isso.

Meus dedos encontraram seu clitóris e comecei a circulá-lo


levemente, apenas provocando-a quando realmente queria mergulhar nela.

— É mais do que isso, Maddox, — Marcella disse suavemente, sua


respiração falhando enquanto continuava acariciando sua carne sensível.

Inclinei-me e chupei seu lábio inferior em minha boca antes de beijá-


la. Sua língua encontrou a minha em uma dança suave e lenta, muito
diferente de nossos beijos anteriores. Seus olhos ficaram presos nos meus e
ela suspirou em minha boca enquanto meus dedos acariciavam sua boceta
para cima e para baixo, reunindo sua excitação para deslizar ainda mais
facilmente sobre sua pequena protuberância.

— Seja o que for, não podemos ter, não para sempre, —rosnei.

Ela balançou a cabeça. — Podemos ter o que quisermos. Nós só


precisamos alcançá-lo. Você pode me ter só para você se me ajudar a
escapar.

— Escapar, — ecoei. — Meus irmãos me matariam como um traidor.


— Você poderia vir comigo e pedir ajuda ao meu pai.

Fiz uma careta. A simples ideia de pedir ajuda a Luca Vitiello, o


homem que massacrou meu pai, deixou um gosto amargo na boca. — Seu
pai me mataria por sequestrar sua preciosa filha.

— Ele não vai se eu lhe pedir para te poupar.

— Não quero estar à mercê de seu pai. Ele deveria estar a minha e
definitivamente não vou lhe conceder isso.

A expressão de Marcella endureceu e ela tentou se afastar, mas a


segurei pelo pescoço e mergulhei minha língua em sua boca ao mesmo
tempo que dois de meus dedos mergulharam em sua boceta molhada. Ela
gemeu em minha boca, suas paredes apertando deliciosamente. Empurrei
nela em um ritmo rápido, saboreando sua excitação e o fogo queimando em
seus olhos. Desejo e raiva, uma bela combinação. Eventualmente, a pressão
de Marcella em mim tornou-se dolorosa enquanto seus quadris balançavam
contra a minha mão, perseguindo o orgasmo.

Quando suas paredes se fecharam em meus dedos e seus olhos se


arregalaram com a força de seu orgasmo, afastei-me do beijo para ouvi-la
gritar de êxtase.

— Sim, Branca de Neve, — rosnei, dedilhando-a ainda mais


rápido. Ela se agarrou a mim até que finalmente seu orgasmo
arrefeceu. Baixei minha mão e abri minha braguilha.

Marcella puxou meu cabelo, me forçando a encontrar seu olhar. —


Você pode viver e me ter, se deixar sua vida de MC para trás e trabalhar
para meu pai.
Zombei. — Você quer que eu sirva ao seu pai.
Ela ficou séria. — Você pode servir ao comando do meu pai ou
governar um cemitério.

— Não estamos mortos ainda, e eu e meus irmãos somos muito


difíceis de matar, como você verá.

— Meu pai matou homens do Tatarus antes. Ele fará novamente.

Abaixei minhas calças e empurrei Marcella em direção à cama. Ela


me deu um sorriso desafiador e separou suas longas pernas. Agarrei seus
tornozelos e puxei-a em minha direção antes de bater nela com um impulso
forte. Ela ainda estava apertada e seu rosto brilhou de desconforto, mas só
esperei um segundo para sua boceta se adaptar ao meu pau. Minhas bolas
bateram furiosamente contra sua boceta e meus quadris contra sua bunda
até ficar vermelha. Mas isso não era suficiente, nunca seria. Precisava ver
seu rosto, queria vê-lo todas as fodidas manhãs quando acordasse e todas as
noites antes de dormir. Eu a virei e subi em cima dela.

Seus olhos queimaram um buraco em minha alma e coração. —


Foda-se, — rosnei. — Não posso te perder, porra.

Depois da nossa foda, ela deitou em meus braços, com a respiração


suave. Eu logo teria que me levantar para ir à reunião.

— Estou com medo de morrer, com medo de que eles me machuquem


ainda mais, Maddox, — ela sussurrou tão suavemente que, a princípio, não
tinha certeza se a ouvi direito. Ela tinha todos os motivos para estar com
medo.
— Estou aqui, — murmurei, beijando seu pescoço. Sua orelha
enfaixada me provocou com a verdade.

Sua respiração estabilizou e me levantei, sentindo uma energia


nervosa tomar conta do meu corpo. Enquanto descia as escadas, cruzei com
Gunnar. Ele tocou meu ombro. — Você está passando muito tempo com
ela. Todo mundo percebeu. Logo terá que fazer uma escolha.

— Fiz minha escolha há muito tempo, — disse, apontando para o meu


colete. — O Tatarus corre no meu sangue.

Gunnar deu de ombros. — Ainda. Algumas pessoas se preocupam. A


reunião desta noite é sua chance de apaziguá-los.

— Foda-se eles. Sangrei por este clube mais do que a maioria.

— Acalme-se. Só estou falando.

Se um homem como Gunnar já começava a desconfiar de mim,


precisava tomar cuidado. Quando Gunnar e eu entramos na sala de reuniões
cinco minutos depois, a maioria dos membros já estavam sentados ao redor
da mesa e alguns encostados nas paredes. A maioria dos acenos que recebi
foram tão amigáveis quanto no passado, mas podia ver a desconfiança em
alguns rostos. A julgar pela expressão de Cody, provavelmente era ele quem
estava falando merda sobre mim. Earl estava sentado à frente, como de
costume. Sentei-me ao lado dele, mas ele mal reconheceu minha
presença. Nós tivemos discussões no passado, especialmente quando eu era
um adolescente de sangue quente, mas nunca pareceu definitiva. Desta vez,
parecia que uma fenda se abriu entre nós que não poderia ser facilmente
transposta. Não tinha certeza de como fechá-la, não tinha certeza se queria
tentar.
Para minha surpresa, Earl não abriu a reunião com o tema mais óbvio:
o sequestro. Em vez disso, queria discutir novas rotas para nossos
transportes de armas e uma possível cooperação com outros
MCs. Considerando quantos tínhamos matado ao longo dos anos, duvidava
que houvesse muitos dispostos a conversar, mesmo que a Famiglia fosse um
inimigo comum.

Estava perto de explodir quando finalmente estávamos prontos para


passar para o próximo tópico.
— Que tal discutirmos Vitiello agora? — Disse, falhando em
mascarar meu aborrecimento.

Houve algumas risadas de membros mais velhos que provavelmente


se lembraram da minha adolescência quando interrompia Earl
constantemente e era banido da mesa várias vezes por minha explosão
de sangue quente.

Os olhos de Earl cortaram para mim, cheios de fúria. — Não há nada


para discutir neste momento. Vitiello não consegue descer do cavalo e,
enquanto for esse o caso, a prostituta italiana fica conosco.

O insulto provocou em mim uma nova onda de raiva, que tive


dificuldade em extinguir. Bati meu punho na mesa. — O Tatarus não
torturou mulheres. Lidamos com nossos inimigos, não com seus
filhos. Queremos Vitiello e ele se ofereceu a nós. Vamos finalmente nos
vingar. Está na hora. Eu convoco uma votação.

Earl afundou na cadeira, mas sua calma fingida não enganou


ninguém. Seus olhos refletiam a mesma fúria que eu sentia. Se isso não o
fizesse parecer fraco, ele teria gritado comigo e recusado a votação.
— Então vamos votar, — disse ele com um sorriso severo. — Quem
vota sim, devemos manter a prostituta Vitiello até que Luca Vitiello nos
mostre o respeito que merecemos e sofra por todos os irmãos que torturou e
matou. Ou não, se quiser facilitar isso para ele e sua prole.

Cerrei meus dentes. Da forma como ele formulou, a votação já estava


perdida. Podia ver nas expressões dos meus irmãos do clube e seus acenos
afirmativos.

Como esperado, apenas três votaram contra, Gunnar, Gray e eu,


enquanto o resto, mais de dez homens votaram para manter Marcella e
deixar Luca sofrer por ela. Talvez devesse ter previsto. As vozes mais
moderadas em nosso clube se tornaram nômades ao longo dos anos ou se
juntaram a sedes menores do Tatarus no Texas ou no norte porque não
queriam se envolver em nossos planos de vingança. Os homens que
permaneceram eram absolutamente leais a Earl e concordavam com suas
opiniões radicais.

Quando a reunião acabou, fiquei sentado na cadeira e observei


enquanto meus irmãos do clube iam ao bar para comemorar uma reunião
bem-sucedida. Gunnar tocou meu ombro ao passar. — Você tentou, — disse
ele. — Logo isso vai acabar e então podemos nos concentrar em coisas
melhores do que a vingança.

Balancei a cabeça, mas não acreditei.


Earl me viu e voltou, elevando-se sobre mim. — A prostituta precisa
sair do seu quarto, Mad. Ela está mexendo com sua mente. É o gene
Vitiello. Este é o nosso momento de vingança, não permita que ela o
estrague.
Levantei-me e dei a Earl um sorriso forçado. — As últimas semanas
me afetaram muito, Earl. Isso é tudo. Só quero colocar minhas mãos em
Vitiello antes que ele escape.

— Ele não pode. Não dessa vez. Agora vamos comemorar.

O segui em direção ao bar e compartilhei alguns drinks com o clube,


para afastar suas suspeitas e como uma despedida aos que não
sobreviveriam.

Jurei me vingar de Luca Vitiello, fazê-lo sangrar emocionalmente e,


mais tarde, fisicamente. Queria que ele sofresse tanto quanto eu sofri.

Marcella era o meio para um fim. Ela deveria ser o resgate de que
precisávamos para colocar as mãos em Vitiello. Eu a desprezava antes de
conhecê-la, e agora essa mulher me possuía de uma forma que nunca
deveria ter permitido. Não tinha previsto, mas deveria. Marcella Vitiello era
uma mulher diferente de todas as que conheci antes.

E hoje trairia meu clube por ela. Desistiria do meu objetivo de vida
por ela. E talvez até perdesse minha vida por ela. Nunca achei que algo
valeria a pena, muito menos uma mulher. Relacionamentos vão e vêm na
vida de um motoqueiro, o único vínculo duradouro era com seu clube e seus
irmãos, mas com Marcella sabia que queria que fosse um tipo de coisa até
que a morte nos separe. Claro, a morte provavelmente nos separaria muito
em breve.
Ela valia a pena. Porra. Eu sabia agora. Morreria mil mortes por
ela. Dando uma última tragada profunda, joguei fora meu cigarro. Era por
volta das dez da manhã, e vim para cá depois de comemorar com meus
irmãos na noite passada, em vez de ir para a cama. Não conseguia dormir e
também não podia encarar Marcella. Precisava de tempo para pensar. Hoje
Marcella deveria voltar para o canil, o mais longe possível de mim. Earl
tinha me concedido mais algumas horas para fodê-la antes que ela fosse um
alvo. Andei pelo local, verifiquei a cerca, mas ela estava fortemente
protegida.

Peguei meu telefone e olhei para ele quando os primeiros raios de sol
do dia nublado tocaram o chão ao lado dos meus pés. Muitos guardas
cercavam o perímetro para eu salvar Marcella sozinho. Porra.
Meu coração bateu forte quando disquei o número da boate de
Vitiello, onde ficava seu escritório. Nunca tinha falado com ele antes. Esse
sempre foi o privilégio de Earl como Prez.

Depois de alguns minutos, finalmente fui passado para o celular do


Capo porque ele não estava no clube. Não fiquei surpreso por ele não estar
trabalhando. Ele e seus homens provavelmente estavam trabalhando 24
horas nos sete dias da semana para encontrar uma maneira de salvar
Marcella. — O que você quer? — Perguntou Vitiello. Sua voz estava tensa
com raiva reprimida. Podia imaginar o que ele queria fazer comigo, e
provavelmente eu merecia. Mas Vitiello era o último que deveria julgar
alguém. — É melhor ouvir com atenção porque o que vou dizer a seguir é
onde você encontrará Marcella.

Dei-lhe o endereço e acrescentei: — Você deve se apressar se quiser


proteger sua filha de mais danos.
— Nós dois sabemos que é uma armadilha do caralho, — rosnou
Vitiello.
— Isso importa? Você morreria por ela. Esta é a sua chance de provar
isso.

Ele não negou e, pela primeira vez na vida, tinha algo em comum
com meu pior inimigo. O engraçado é que a pessoa que provavelmente
perderá a vida sou eu. Se Vitiello atacasse nosso clube com toda a força de
seus soldados, nenhum de nós sobreviveria. Uma morte rápida era tudo o
que podíamos esperar e provavelmente seríamos negados. — Seja
rápido. Earl tem mais coisas reservadas para sua filha.
— Vou rasgar todos vocês, — ele rosnou, mas desliguei antes que ele
pudesse elaborar sua promessa. Já tinha visto do que ele era capaz.

Sentei contra a parede do galpão, olhando para o céu. Era irônico que
o sol tivesse aparecido agora que decidi destruir a única coisa na qual me
agarrei por toda a minha vida. Então arrastei meus olhos para a tatuagem do
cão do inferno no meu braço. Eu nasci no clube. O amei com todo o meu
coração, jurei minha lealdade e vida a ele e aos meus irmãos do clube, mas
em apenas algumas semanas Marcella virou minha vida de cabeça para
baixo. O sequestro dela me mostrou a cara feia do Tatarus, uma que sempre
tentei ignorar. Ainda lutaria ao lado dos meus irmãos do clube e tentaria
matar Vitiello assim que Marcella estivesse segura. Eu queria ajudá-la, não
poupá-lo.

Afastei-me da parede e saí em busca do meu meio-irmão. Ele


precisava sair daqui antes que Luca chegasse. Encontrei Gray, Gunnar,
Cody e alguns outros reunidos ao redor da mesa, jogando pôquer, a maioria
parecendo a morte por beber demais. Alguns desses homens eram meus
amigos. Não mereciam a morte, mas se lhes dissesse o que estava por vir,
eles contariam a Earl, e ele evacuaria todos e levaria Marcella para um novo
esconderijo. Só que desta vez, não seria capaz de protegê-la. Eu só tinha
essa chance e não estragaria tudo por ninguém.

— Quer se juntar a nós e parar de se lamentar, Mad? — Gunnar


perguntou, um charuto entre os dentes. — Não sei por que você está tão
irritado de qualquer maneira. Se tivesse uma mulher linda na minha cama,
estaria sorrindo de orelha a orelha.

— Você me conhece. Quero a cabeça de Vitiello como troféu na


parede do nosso clube. Não ficarei satisfeito até que esse seja o caso.

Isso ainda era verdade. Queria Vitiello morto. Infelizmente, esse


desejo contrariava minha obsessão por sua filha. Talvez fosse melhor se
Vitiello me matasse, então não enfrentaria esse problema impossível.

— Você não terá que esperar muito mais tempo. Vitiello cortará seu
próprio pau para salvar a filha, uma vez que todos nós tivermos uma chance
com ela, — Cody disse com uma risadinha. Ainda mais do que no passado,
senti a necessidade de esmagar sua cara estúpida.
— Ei Gray, preciso falar com você.

Gray balançou a cabeça. — Estou ganhando aqui. Podemos conversar


mais tarde.

Minha paciência acabou. Provavelmente Vitiello já estava a caminho


com todos os itens de tortura já inventados neste planeta. Aproximei-me
dele e arranquei as cartas de suas mãos. — Desista.

Gray protestou, em seguida, balançou a cabeça. — Qual é a porra do


seu problema?

— Meu problema é que você não segue ordens. Você está abaixo de
mim na hierarquia, não se esqueça disso.
— Por enquanto, — ele murmurou, um leve insulto em sua voz. Ele
deve ter bebido muito para ainda estar bêbado na manhã seguinte. Esse
garoto me tirava do sério. Cody e Gunnar trocaram olhares.

Gray se levantou. Optei por ignorar seu comentário, embora


provavelmente fosse verdade. Seu ciúme só aparecia quando ele estava
bêbado. Earl acabaria por favorecer Gray como seu sucessor. Afinal, ele era
seu filho. Mas nada disso importava mais. Depois de hoje, a sede principal
do Tartarus MC estaria morta e eu era o prego em seu caixão. Talvez os
Nômades se unissem para construir uma nova sede, mas duvido que fariam
isso perto de Nova York.

Gray me seguiu para fora enquanto me dirigia para a floresta. Não


queria arriscar que ninguém nos ouvisse. — O que é tão urgente para você
arruinar meu Straight Flush?

— Preciso que você saia agora e pegue algumas coisas para mim.

— Não posso. Papai convocou todo o clube para outra reunião na


hora do almoço. Por isso acordamos tão cedo. Ele planejou algo.
Minhas sobrancelhas se uniram. Earl não mencionou isso para
mim. — O que é?

Gray encolheu os ombros. — Ele geralmente sempre compartilha


merdas com você, não comigo.

Achei que comemorar com eles na noite passada tinha convencido


Earl da minha lealdade, mas, aparentemente, ele ainda suspeitava de
mim. Por uma boa razão. — O que quer que seja, pode esperar. Você
precisa ir agora.
Gray estreitou os olhos, de repente não parecendo mais bêbado. —
Por que? Qual é o problema?

Essa discussão estava me fazendo perder tempo que não


tínhamos. Agarrei Gray pelo colarinho. — Ouça-me pelo menos uma vez e
saia daqui.
— O que você fez? — Ele falou entre dentes.

— Saia do clube agora.

Ele se livrou do meu aperto. — Não vou fugir, não importa o que
aconteça.

Eu poderia ser capaz de viver comigo mesmo se Vitiello matasse


meus irmãos do clube e até mesmo Earl, mas me odiaria para sempre se
Gray morresse. — Porra, seu idiota, Vitiello sabe nosso paradeiro. Ele
provavelmente já está a caminho para matar todos nós.

Gray deu um passo para trás, a realização horrorizada passando por


seu rosto. — Você disse a ele?

— Eu precisei. Earl foi longe demais. Todos nós fomos. Isso não
deveria se transformar em uma sessão de tortura de sua filha. Vitiello
deveria pagar, não ela.
— Você é um traidor!

Ele girou nos calcanhares como se fosse correr de volta para a casa e
avisar a todos. Não queria que todos morressem, mas se Gray os avisasse,
Earl poderia matar Marcella e provavelmente permitir que todos os irmãos a
atacassem antes disso. Não podia permitir. Peguei minha arma e acertei
meu meio-irmão na cabeça com a coronha. Ele caiu no chão. Agarrando-o
por baixo dos braços, arrastei-o para a floresta e escondi-o sob alguns
galhos e folhas. Com um pouco de sorte, ele não acordaria antes de tudo
acabar. Então, pelo menos, ele sobreviveria. Isso era tudo que eu podia
fazer.

Corri de volta para casa e parei quando notei a máquina de tatuagem


no balcão do bar. — Quem fará uma tatuagem? — Perguntei ao redor.
— A prostituta receberá uma tatuagem que merece, algo realmente
adequado, — disse Cody com um sorriso desagradável, obviamente
gostando de saber mais do que eu. Ele baixou as cartas. — Full House!

Gunnar gemeu enquanto colocava suas cartas e os outros


murmuravam maldições também.

— Uma tatuagem nunca foi mencionada antes, — disse. Sem


conseguir mascarar meu choque.

— O que Vitiello fez precisa ser punido de acordo.

— Ele precisa pagar, não sua filha, — murmurei como um disco


quebrado, ainda esperando contra a razão que meus irmãos do clube
ouvissem.

— É decisão de Earl, garoto, — Gunnar disse diplomaticamente.


— A boceta dela atrapalhou seu julgamento? — Cody
perguntou. Mostrei o dedo para ele. Então saí em busca de Earl. Nem tinha
certeza de por que ainda me incomodava, talvez para me convencer de que
ele não tinha perdido completamente a consciência.

O encontrei em nossa mesa de reunião, perdido em seus pensamentos,


o que nunca era uma coisa boa. A última vez que ele fez essa cara foi
quando descobrimos sobre um traidor em nossas fileiras. Só que desta vez
eu era a porra do traidor. — É verdade o que Cody disse, que você quer
tatuar Marcella?

Earl saiu de seus pensamentos e estreitou os olhos para mim. — Ela


terá o que merece. Achei que tivéssemos concordado com isso ontem à
noite.
Balancei a cabeça. — Isso é levar as coisas longe demais. Vamos
pegar Vitiello e fazê-lo pagar.

Earl levantou e me encarou, e percebi que o estava perdendo, sua


confiança e o pouco de afeto que ele era capaz. Queria salvar qualquer
vínculo que tivéssemos, mas não tinha certeza de como fazer isso sem
sacrificar Marcella e qualquer consciência que ainda tivesse. — Não tenho
certeza se você ainda está do lado certo, filho. — Por um tempo adorei
ouvi-lo me chamar assim, mas recentemente não parecia um termo
legal. Duvidava que Earl realmente tivesse me visto como seu filho. Ele
apreciava meu desejo de vingança e que minha triste história criou um
vínculo mais forte entre nossos homens. — Você vai ser um problema?
— Ele rosnou.

Cody invadiu a sede do clube. — Gray está na floresta. Alguém o


nocauteou.
Earl seguiu Cody imediatamente, mas girei nos calcanhares e corri em
direção à minha jaqueta de couro jogada sobre uma das banquetas para
pegar as chaves da minha motocicleta, então corri para o arsenal. Antes que
pudesse pegar uma metralhadora, algo foi esmagado contra minhas costas e
caí de joelhos com um grunhido de dor. Minha testa colidiu com a parede,
fazendo estrelas dançarem em minha visão. Pisquei para me segurar. O
sangue pingou de um corte na minha testa e escorreu pelo meu olho
esquerdo quando olhei para cima. Cody estava ao meu lado com um taco de
beisebol na mão. — Seu tio estava certo em suspeitar de você. Disse-me
para ficar de olho em você enquanto conversa com Gray. Se o menino
contar a seu pai que você o nocauteou por causa da prostituta, você está
morto.

Me lancei contra Cody, tentando arrancar o taco de beisebol de sua


mão, mas Earl apareceu na porta e apontou a arma para mim. — Parado ou
vou colocar uma bala em seu crânio, Mad.
Fiquei de joelhos, minha visão nublando diante dos meus olhos.

Earl elevou-se sobre mim com um sorriso duro. — Gray me disse que
você ligou para Vitiello para que ele pudesse salvar sua pequena prostituta.

Foda-se, Gray. Esperava que o garoto ouvisse a razão e não seguisse


cegamente o julgamento de seu velho, especialmente quando Earl tinha
enlouquecido.

— Você foi longe demais, Earl. Eu te avisei.

Earl se abaixou, cuspe voando enquanto rosnava: — Esta era a nossa


vingança.

— Devemos deixar o local, — sugeriu Cody, olhando ao redor


nervoso, como se achasse que Vitiello pularia de trás da cortina a qualquer
momento. Era irônico que a chegada de Vitiello fosse minha única
esperança agora. Quem jamais imaginava que esse dia chegaria?
— Não vamos fugir. Temos a filha dele. Ele não pode arriscar
muito. Certifique-se de que o perímetro esteja seguro e leve Gray para
dentro.

Com um sorriso maldoso na minha direção, Cody se afastou.


Os olhos de Earl pousaram em mim. Por muito tempo, ele assumiu o
posto de meu pai, e ainda era a única família que tive ao lado de Gray e
mamãe. Posso tê-los perdido com minhas ações. Talvez pudesse
reconquistar a confiança deles ajudando-os na luta contra Vitiello. Ainda
queria o homem morto, mas não à custa de arriscar a vida de Marcella. Não
importa o quanto odiasse seu pai, meus sentimentos por ela eram ainda mais
fortes. Eu era um filho da puta condenado.

Earl balançou a cabeça com uma risada áspera. — Garoto estúpido.


— Ele mirou o cano de sua espingarda na minha cabeça e tudo ficou preto.
Capítulo 16

Olhei pela janela, a sensação de peso no fundo do estômago


aumentando a cada momento que passava. Maddox não veio para a cama na
noite passada, pela primeira vez desde que me trouxe para seu
quarto. Tentei escutar atrás da porta trechos de conversa que pudessem me
dar uma dica do porquê, mas ninguém se aproximou do quarto.

Vários motoqueiros chegaram em suas motos e uma comoção


estourou na garagem. Sentei-me curiosa. O rosto de todos estava tenso de
preocupação. A esperança encheu meu peito. Talvez papai tenha conseguido
uma pista. Minha mão se moveu para minha orelha, mal tocando a
bandagem. Então rapidamente a afastei. Eu nem tinha visto a ferida
ainda. Não tinha certeza se teria coragem de fazer isso tão cedo.

E se algo tivesse acontecido com Maddox e por isso ele não


apareceu? E se papai fosse o motivo do desaparecimento de Maddox?

A fechadura girou e me levantei, sorrindo. O sorriso morreu quando


Gunnar apareceu na porta.

— Não há razão para sorrir, boneca, — ele disse em sua voz áspera.
— Onde está Maddox? — Perguntei bruscamente, recuando.

Gunnar negou com a cabeça. — Garoto estúpido. — Ele avançou na


minha direção e agarrou meu braço. — Maddox não pode ajudá-la agora. É
melhor você rezar para que seu pai veja a razão.

Ele me arrastou para fora, apesar da minha luta. Meus pés descalços
arranharam no piso áspero. — O que você quer dizer? O que aconteceu?
— Perguntei várias vezes, mas ele me ignorou. Não havia ninguém na área
comum quando a cruzamos. Onde estava todo mundo? E o que estava
acontecendo?

Gunnar me levou até o canil e me empurrou para dentro da mesma


gaiola em que estive antes. Virei-me no momento em que ele trancou a
porta.

— O que está acontecendo? Por favor, me diga, onde está Maddox?

— Ele se juntará a você em breve, — disse ele enigmaticamente antes


de ir embora. Os cães passeavam em suas gaiolas, infectados pela atmosfera
nervosa. Satan não estava em sua gaiola, porém, não pude deixar de me
preocupar com ela também. O cheiro familiar de urina e fezes de cachorro
entupiu meu nariz quase que instantaneamente. Sentei na gaiola,
observando enquanto os motoqueiros juntavam armas e carregavam tábuas
para o clube como se fossem barricar as janelas. Alguns deles passaram
pelos canis apenas para me insultar e olhar maliciosamente para o meu
corpo. Apenas na boxer e regata de Maddox me senti ainda mais exposta.

— Mande mais homens para a cerca! — Alguém rugiu, preocupação


oscilando em sua voz.

A esperança disparou em minhas veias. Isso só podia ser papai. Mas


onde estava Maddox? O que estava acontecendo? E se papai tivesse
Maddox nas mãos? Minha mente não parava de girar. O medo lutou contra
a esperança em mim. Queria ser libertada, mas não queria perder Maddox.

Foi um pensamento fatal, e uma atração fatal.

Abraçando meus joelhos contra o peito, observei meus arredores,


tentando acompanhar o que estava acontecendo. Depois dos insultos
iniciais, ninguém prestou atenção em mim, mas o medo que vi em muitos
de seus rostos só podia ser por causa de papai.

Um movimento atraiu meu olhar de volta para a sede do clube.

Earl White saiu pela porta, arrastando um Maddox imóvel atrás dele
pelo braço. Pulei do abrigo e atravessei o canil sujo com os pés descalços,
meu coração batendo na garganta. Os cães dos canis vizinhos começaram a
latir e pular contra as gaiolas. Quase não vacilei mais. Tinha me
acostumado com sua natureza turbulenta. Eles não eram os animais mais
perigosos ao redor.

Maddox parecia sem vida, membros se arrastando pela terra, a cabeça


pendendo quase comicamente para frente e para trás. Earl sorriu
sombriamente para mim quando nossos olhos se encontraram e
imediatamente arrepios subiram pela minha pele. Tentei mascarar minha
preocupação, mas duvidava que pudesse enganá-lo. Agora, todos pareciam
saber sobre Maddox e eu.

— Talvez isso te ajude a limpar sua cabeça e te faça perceber seu


erro. Se você se desculpar, vou lhe conceder uma morte rápida — Earl disse
enquanto arrastava Maddox para a gaiola ao lado da minha. Morte? O que
ele estava falando? O lado esquerdo do rosto de Maddox estava coberto de
sangue de um corte na linha do cabelo. Finalmente notei o peito de Maddox
subindo e descendo. Pelo menos, ele não estava morto, ainda. Algo estava
terrivelmente errado. Earl se virou e fechou a gaiola, então sorriu
cruelmente para mim. — E para você, tenho uma surpresa especial em
breve.

Nem queria pensar sobre o que isso poderia significar.

Olhei para o cachorro angustiado que andava ao redor de Maddox


como se estivesse esperando o momento perfeito para rasgá-lo. Quando
Earl e Cody se foram, ajoelhei-me nas grades. — Maddox, — sussurrei,
depois mais alto. — Maddox, acorde!

Suas pálpebras tremeram, mas não abriram. O cachorro cheirou seu


ferimento. E se a fera começasse a roê-lo? Eles foram alimentados
hoje? Não prestei atenção aos canis enquanto olhava pelas janelas.

— Xô, — sibilei, tentando assustar o cachorro, mas ele só me deu


uma olhada rápida antes de continuar inspecionando Maddox. — Vá
embora! — Rosnei, batendo nas grades. Quando isso não teve o efeito
desejado, me virei e agarrei minha tigela de água. Joguei a água no cachorro
e ele saltou para trás. Em seguida, investiu contra mim e saltou contra as
grades. Tropecei para trás.

Maddox soltou um gemido. Um pouco da água também o atingiu no


rosto. Seus olhos se abriram e ele rolou, em seguida, apoiou-se nos
cotovelos. Ele balançou a cabeça, como um cachorro antes de olhar ao
redor. Seu olhar se concentrou no cachorro tentando derrubar as grades
entre ele e eu.

— Wesson, deite-se! — Ele ordenou em uma voz tão afiada


quanto um chicote. — Deite! — A besta realmente ouviu e afundou em sua
barriga, sua língua rosa preguiçosamente para fora. Exceto por Satan,
realmente não tinha me conectado com nenhum dos outros cães.
— Você está bem? — Perguntei.

Maddox esfregou a cabeça, fazendo uma careta e levantou. Ele


oscilou um pouco enquanto se aproximava de mim. — Apenas uma dor de
cabeça filha da puta.

— Seu tio estava muito zangado com você.

— Ele está chateado. Ele acha que te escolhi ao invés do clube.

Não disse nada. — Ele disse algo sobre uma surpresa especial para
mim hoje.

Maddox suspirou. — Essa é uma das razões pelas quais queria te tirar
daqui.

— O que é?

— Meu tio quer tatuar algo nas suas costas.

Meu sangue gelou. — Não acho que será algo que eu goste, — falei,
tentando soar blasé, mas falhando. — O que é?

Maddox balançou a cabeça.

— Diga-me.

Ele agarrou as grades com força, seus olhos ferozes. — Honestamente


não sei. Eles não compartilham mais nada comigo.

Assenti. Meus dedos tocaram a bandagem sobre minha orelha


machucada. — Acho que posso me considerar sortuda por eles não
escolherem minha testa para a tatuagem. Talvez na próxima vez?

— Não posso mais te proteger, — Maddox disse calmamente. — Foi


por isso que entrei em contato com seu pai e lhe contei sobre nosso
paradeiro.
Meus olhos se arregalaram e me aproximei mais, meus dedos
fechando sobre os dele. — Você contou ao meu pai? — Apesar de seu ódio
por meu pai, considerando o que ele testemunhou quando criança, eu podia
entender seu raciocínio mesmo que não o compartilhasse, ele o contatou
para me salvar.

— Ele pode te salvar. Ele tem a mão de obra necessária. Ele


provavelmente já está a caminho. Com um pouco de sorte, você voltará
para casa esta noite.

Meu coração bateu mais rápido. — E você? Depois dessa traição, seu
tio não vai perdoá-lo.

— Ele não vai. Ele vai me matar depois que terminar com você. Ele
quer que te veja machucada porque sabe o que isso faz comigo. Mas duvido
que ele sobreviva ao ataque de seu pai, nem eu.

Papai torturaria e mataria todos eles, como mereciam. A menos que


implorasse a papai para poupar Maddox. Esse nunca foi o
plano. Originalmente busquei a confiança e proximidade de Maddox para
me salvar no caso de papai não me encontrar a tempo. Mas as coisas
mudaram, mesmo que não quisesse que isso acontecesse. Não queria que
Maddox morresse. Meu peito apertou dolorosamente com o mero
pensamento de sua morte. Ele não era inocente, longe disso. Ele era culpado
de me sequestrar, de me entregar nas mãos de seu tio em primeiro
lugar. Claro, seu tio teria simplesmente enviado outra pessoa se Maddox
não tivesse concordado, mas esse não era o ponto. — Meu pai não vai
mata-lo se eu pedir que ele te poupe.

Maddox encostou a testa nas grades. — Por que você faria algo
assim?
— Porque quero que você viva, — disse apenas. Havia mais do que
isso, nada que quisesse considerar ou expressar neste momento.

— Mas a que custo? O que seu pai vai querer de mim, se ouvi-la, —
Maddox perguntou baixinho.

— Ele pedirá que você queime seu colete, quaisquer laços com outros
motoqueiros e jure lealdade, pelo menos. — E para que isso acontecesse,
um quase milagre era necessário. O ódio de papai por motociclistas era
ilimitado neste ponto, sem dúvida, e Maddox estaria no topo de sua lista de
ódio.

Maddox balançou a cabeça lentamente, seus lábios torcendo com


nojo, como se o mero pensamento de fazer qualquer uma dessas coisas
fosse impossível para ele. — O que há entre nós é uma coisa, mas meus
sentimentos em relação ao seu pai não mudaram.

— Então você tem que colocá-los para descansar. É sua única chance
se quiser que meu pai te poupe.

— É melhor morrer em pé do que viver de joelhos, Branca de


Neve. Morrerei antes de cair de joelhos diante de seu pai e pedir
misericórdia.

Revirei meus olhos. — As coisas são sempre pretas ou brancas para


os homens, especialmente alfas. Mas a vida está cheia de áreas
cinzentas. Você ainda pode ser livre e manter seu precioso orgulho se jurar
lealdade ao meu pai.

— Branca de Neve, direi mil vezes até que entre na sua linda
cabeça. Seu pai nunca confiará em mim, nem eu confiarei nele. Ele e eu
temos um passado que não pode ser ignorado. Mesmo o seu charme e
nossos sentimentos por você não mudarão isso.
Pressionei minha testa na dele com as grades entre nós. — Que
sentimentos?

Maddox sorriu sombriamente. — Traí meus irmãos do clube e meu


próprio sangue por você. Que tipo de sentimento você acha?
— Luxúria, — brinquei, mas minha voz saiu abafada. Nada disso
fazia parte do plano, nem para Maddox, nem para mim.

— Muito mais.

A comoção e o estalar de galhos fizeram com que Maddox e eu nos


separássemos para observar a área. Cody e Earl vinham na nossa direção
com dois motoqueiros cujos nomes eu não sabia. Earl tinha Satan na coleira
e Cody carregava algum tipo de máquina.

— Que doce, — Cody falou, um sorriso desagradável em seu rosto


feio. O tio de Maddox, por outro lado, parecia furioso. — Se soubesse quão
facilmente você permite que uma boceta atrapalhe seu julgamento, teria me
assegurado de que ficasse longe dela.

Maddox olhou para o tio com desprezo e cautela. — É hora de acabar


com este jogo. Vitiello era nosso alvo, Earl.

Seu tio o ignorou pairando na frente da minha gaiola e me olhando


com um brilho inquietante nos olhos. — Cody tem um talento especial para
tatuagem. Espero que goste.

Ele destrancou a porta da gaiola. Resisti ao impulso de recuar, mesmo


que cada fibra do meu corpo gritasse para fugir. Eu era uma Vitiello. Não
podia parecer fraca, mesmo se estivesse com medo do que estava por
vir. Senti o mesmo terror quando fui sequestrada, pronta para quebrar sob a
força do meu medo, mas não cedi, e também não cederia agora.
Cody carregou a máquina de tatuagem, percebi agora, para dentro da
gaiola antes de agarrar meu braço com força enquanto mais dois
motoqueiros entravam na gaiola estreita. Eles colocaram um gerador ao
meu lado e conectaram a máquina de tatuagem a ele.

— Solte-a, — Maddox fervia, seus olhos transbordando de fúria


enquanto agarrava as grades, parecendo pronto para derrubá-las.
— Sua palavra significa merda, idiota, — disse Cody. Eles nos
torturariam e matariam antes que meu pai chegasse?

Acreditava em um poder superior, mas nunca orei muito. Mesmo


assim, implorei a quem quer que estivesse ouvindo que deixasse meu pai
chegar a tempo. A tempo de me poupar mais dor e tudo o que Cody
colocaria na minha pele. Para salvar Maddox também.

Cody me empurrou contra o abrigo do cachorro e caí para frente,


apoiando-me na superfície suja. Outro homem agarrou meu pescoço e me
segurou. Um rasgo soou e o ar tocou minha pele quando minhas costas
foram expostas. Lutei, mas não tinha chance contra os três homens na
gaiola comigo.
— Earl, seja razoável, pelo amor de Deus. Vitiello chegará aqui a
qualquer momento. Não perca seu tempo com isso, — Maddox tentou
argumentar com seu tio, mas sua voz não soava como a de alguém que
queria negociar. Parecia mortal.

— Vitiello quer nos ferrar? A filha dele pagará o preço.

Virei meus olhos para o lado até que peguei o olhar de Maddox. O
zumbido de uma agulha de tatuagem soou. Cravei meus dentes em meu
lábio inferior. No momento em que a agulha tocou minhas costas, a dor
irradiou pela minha espinha. Fechei os olhos com força, contra a expressão
desesperada de Maddox e do mundo como um todo. Cody provavelmente
estava se certificando de que fosse particularmente doloroso, mas exceto
por algumas inspirações bruscas de ar, não dei a nenhum deles a satisfação
de gritar ou suplicar. Todos eles pagariam dez vezes mais. Mesmo que desse
meu último suspiro, teria certeza disso.

Eventualmente, a dor se transformou em uma queimadura de fogo e


formigamento que acabei me acostumando. Não tinha certeza de quanto
tempo a provação demorou, mas quando finalmente fui solta, me senti
muito fraca para me endireitar. Fingi que tinha desmaiado. Meus olhos
queimavam com lágrimas prestes a cair e então forcei minhas pálpebras a se
fechar.

— Não é tão forte quanto o pai dela agora? — Earl disse.

Não reagi. Deveria ter dado uma resposta, mas neste momento, não
podia fazer isso. Precisava de minha energia para a luta que estava por
vir. Precisava da minha força para o reencontro com minha família, para
que eles não precisassem se preocupar mais do que já se preocupavam. E
não desperdiçaria nada com Earl ou Cody ou qualquer outro motociclista
idiota.

— Você está morto, — Maddox rosnou.

Não tinha certeza de com quem ele estava falando. Provavelmente


Cody. Seu vínculo com seu tio ainda era muito forte.

Um hálito quente passou pelo meu ouvido, arrepiando todo o meu


corpo e enviando um calafrio pela minha espinha, o que fez uma nova onda
de dor percorrer minhas costas. — Isso é o que você ganha por mexer com
a gente. E logo vou foder sua bunda bem na frente dos olhos de seu
pai. Talvez o force a te foder também para salvá-la, — Earl murmurou.
Não queria nada mais do que chutá-lo nas bolas, mas permaneci
imóvel. Ainda não tinha certeza se minhas pernas teriam obedecido se
tentasse. Me sentia trêmula e minhas costas latejavam. Pior do que a dor,
porém, era a incerteza sobre a tatuagem. Deve ser algo desagradável. Earl
parecia muito presunçoso.

— Agora você, Mad. Estava pensando no que fazer com você, se


deveria deixa-lo assistir a prostituta sendo fodida por cada um de nós antes
de matá-la, mas percebi que mantê-lo vivo neste momento é um risco que
simplesmente não posso correr.
Virei minha cabeça para o lado até poder ver tudo. Earl destrancou a
porta da gaiola e Cody tirou o outro cachorro da gaiola. Earl libertou
Satan. — Acho que nós dois sabemos que deve que acabar assim. — O
sorriso de Earl era cruel. Ele trancou Satan na gaiola com Maddox, que se
virou lentamente pressionando suas costas contra as grades.

Meu sangue gelou, percebendo o que Earl estava prestes a fazer. Mas
Maddox conhecia os cães... Satan não o atacaria... certo?

— Satan, mate — gritou Earl.


Me endireitei apesar da dor nas minhas costas. Satan hesitou um
momento antes de atacar Maddox e se lançar contra ele. Maddox ergueu os
braços para proteger o rosto e a garganta. Satan latiu e mostrou seus dentes,
mas não mordeu Maddox ainda.

— Mate-o! — Earl rosnou.

Tropecei em meus pés e em direção às grades, agarrando-as. — Não,


Satan, pare!

— Solte! — Maddox gritou. — Não!


Satan caiu sobre suas patas e se virou, obviamente confusa com a
miríade de ordens. Earl podia ser seu dono, mas nunca a tratou como um
cachorro deveria ser tratado. Talvez isso o mordesse na bunda agora.

— Cadela estúpida, — sibilou Cody. Earl caminhou em direção a


outra gaiola com um grande rottweiler macho e o agarrou pelo pescoço,
arrastando-o em direção à gaiola de Maddox.

— Não, — sussurrei. O sangue correu em meus ouvidos. Estava


começando a sentir náuseas de medo e da tatuagem, mas me agarrei às
grades, apesar das minhas pernas bambas.

Earl destrancou a porta novamente e empurrou o outro cachorro para


dentro. Satan girou, mostrando seus dentes. Esses cães eram treinados para
lutar uns contra os outros.

— Mate, — Earl ordenou, apontando para Maddox, e o cão macho


não hesitou. Ele atacou Maddox, mas Satan obviamente queria defender seu
território e colidiu com ele.
Earl encolheu os ombros. — Ele tem onze quilos sobre ela. Quando
ele a matar, pode mastigar seu rosto, Mad. Aproveite o show, puta.

Cody e Earl se viraram e partiram.

O cachorro maior estava em cima de Satan, mas era difícil


acompanhar sua luta violenta enquanto eles rosnavam, mordiam e lutavam.

Satan gritou de dor. — Maddox!

— Foda-se, — Maddox murmurou. Ele tirou o cinto e o enrolou na


mão para que a fivela cobrisse os nós dos dedos, então andou em direção
aos cães lutando, agarrou o macho maior pela coleira e o puxou para trás. O
animal era pesado, por isso não voou muito longe e rapidamente se voltou
para Maddox, que deu um soco com a fivela no focinho do cachorro. Com
um ganido alto, o cachorro saltou para longe, balançando a cabeça. Maddox
elevou-se sobre ele. — Calma, agora! — O cachorro se deitou, ofegando
pesadamente, o focinho coberto de sangue. Provavelmente de Satan. Ela
estava deitada de lado, respirando pesadamente.

Me ajoelhei, me sentindo trêmula. Minhas costas latejavam e eu


estava apavorada. Por mim, por Maddox, até mesmo por Satan. Era demais
para engolir. Tudo me pegou naquele momento e parte de mim queria se
encolher no canto.

— Branca de Neve? — Maddox murmurou, sua voz misturada com


preocupação. — Marcella?

Levantei minha cabeça muito rapidamente e me arrependi quase que


instantaneamente quando uma dor aguda atingiu minhas costas. Minha pele
parecia muito pequena para o meu corpo e poderia rasgar a qualquer
momento. Ignorando isso, me endireitei totalmente de novo, em seguida,
sentei na beirada da gaiola. Quando minha vertigem desapareceu, fixei meu
olhar em Maddox.

— Satan está gravemente ferida?


Ele balançou a cabeça. — Não pense nisso agora. Temos que tirá-la
daqui viva.

Seu olhar disparou para minhas costas expostas. A culpa e a fúria


criaram uma combinação potente em seus olhos.

— O que a tatuagem diz? — Perguntei, surpresa com o quão crua e


seca minha voz soou.
— Não pense nisso agora. Existem coisas mais importantes com que
se preocupar.

— Não me diga com o que me preocupar, Maddox. Eu quero saber.


— Precisava saber. Tudo era melhor do que
essa incerteza esmagadora. Minha mente invocaria os piores cenários.
— Marcella, — ele murmurou, seus olhos me pedindo para deixar
para lá.

— Diga-me, — rosnei. — Eu não sou frágil, então não me trate


assim!

—Prostituta Vitiello.

Balancei a cabeça, então me levantei e brevemente virei minhas


costas para Maddox escondendo minha expressão dele. Estava tão brava
com ele. Isso era culpa dele.

— Sinto muito, porra. Isso não deveria acontecer. Eu juro. Se eu


soubesse...

— Então o que? — Perguntei asperamente, girando para ele. — Você


não teria me sequestrado?
Maddox encostou a testa nas grades. — Sim. E teria feito tudo ao meu
alcance para impedir Earl de deixar outra pessoa sequestra-la também.

Lhe dei um olhar incrédulo. — Você odeia meu pai mais do que tudo
no mundo. Você mesmo disse. Faria qualquer coisa para se vingar dele. Por
que se importa com a perda do lóbulo da orelha e uma tatuagem insultuosa
para a filha do seu pior inimigo?

— Às vezes, as prioridades mudam. Você não tem que acreditar em


mim, mas é a maldita verdade.
Me aproximei dele. O vento aumentou, tocando minhas costas
doloridas. — E quais são suas prioridades agora, Maddox?

Maddox estendeu um braço tatuado, a palma da mão para cima,


esperando que a pegasse.
Não me mexi.

— Traí meus irmãos por você. Talvez morra por você assim que seu
pai colocar as mãos em mim.

— Você trouxe isso para si mesmo, não por mim.


— Se alguém tivesse matado seu pai bem diante de seus olhos, seu
irmão não desejaria vingança?

— Não apenas meu irmão, — admiti. Maddox assentiu severamente.

Coloquei minha mão na dele e seus dedos se fecharam em torno dos


meus. — Você quer matar meu pai. Enquanto for esse o caso, estamos
perdidos.

— Vivi por vingança por muito tempo, é difícil abrir mão de algo
assim. Mas se há alguém por quem faria isso, é você, Branca de Neve. Faria
qualquer coisa por você.

Queria acreditar nele. Mas depois de tudo o que aconteceu, não estava
disposta a lhe dar o benefício da dúvida.

— Ataque! — Alguém gritou.


A mão de Maddox ao redor da minha se apertou. — Seu pai está aqui
para salvá-la e me matar, Branca de Neve.

— A menos que um de seus irmãos motoqueiros me mate primeiro,


— disse.
Ele me puxou em sua direção, seus olhos queimando de emoção. —
Vou me certificar de que você chegue em segurança ao seu pai. Agora dê a
um homem moribundo seu último beijo.

Permiti que ele me puxasse ainda mais até que meus lábios tocassem
os dele através das grades. Ele aprofundou o beijo, cheio de saudade e
desejo. Afundei nele mesmo que mais gritos ecoassem, enquanto o mundo
ao nosso redor explodia em guerra. Tiros cortaram os gritos. Tiros
rápidos de metralhadoras. Como um homem se afogando tentando respirar,
Maddox se afastou de mim e me soltou. — Pressione-se contra a parede até
que diga para se mover ou veja seu pai. Agora!

Fiz o que ele pediu e tropecei em direção ao fundo do canil. Maddox


e eu nos olhamos de novo, e isso pareceu um adeus.

Provavelmente um de nós morreria, talvez nós dois. Meu coração


se apertou achando que esse era o fim para nós, para um amor que nunca
deveria ser, um amor sem chance de um final feliz.
Capítulo 17

Precisava ter certeza de que Marcella sairia disso viva. Eu morreria de


qualquer maneira, pelas mãos dos meus irmãos do clube ou pelo pai
dela. Havia uma estranha sensação de alívio ao saber da morte certa.

Examinei nossos arredores, esperando que Gray passasse


correndo. Ele era nossa única esperança. Nenhum dos outros homens, nem
mesmo Gunnar me ajudaria a escapar. Nem tinha certeza se Gray faria
isso. O abismo entre nós havia crescido nas últimas semanas. Tiros soaram
na cerca. Nosso poder de fogo manteria Vitiello e seu exército longe por um
tempo. Não esperaria aqui como um rato na armadilha.

Tentei não olhar para Marcella, que estava pressionada contra a


parede de seu canil. A queria fora de perigo. As chances de ser atingida por
uma bala perdida eram muito altas. Sem mencionar que Earl ainda poderia
matá-la para punir Vitiello.

Lancei um olhar cauteloso para o cachorro. Ele não se moveu de seu


lugar, mas estava me observando. Esperava que ele tivesse esquecido as
ordens de Earl. Ser dilacerado por seus dentes não era meu desejo de
morte. Não que a morte nas mãos de Luca fosse muito melhor. Satan ainda
respirava, mas o sangue se acumulava sob sua perna traseira. Duvidava que
ela sobrevivesse.

E então vi um flash de cabelo loiro brilhante e o colete


combinando. — Grey! — Gritei.

Seus olhos dispararam para mim, arregalados de desorientação e


ansiedade. Ele se curvou para escapar das balas.

— Gray! Venha aqui!

Ele olhou na minha direção mais uma vez, o conflito refletindo em


seu rosto. Quando Earl saía com seus irmãos do clube, se embebedando ou
fodendo, e mamãe estava em um surto depressivo, eu cuidava dele, o
segurava à noite quando ele tinha medo dos monstros do escuro.

Então ele correu em minha direção, com a cabeça baixa. Não tinha
certeza se Luca e seus homens já haviam ultrapassado a cerca, mas
suspeitava que sim. Uma cerca de arame não os impediria por muito tempo,
mas passar por nossos guardas armados demoraria mais.

Quando Gray finalmente chegou na frente da minha gaiola, dei um


suspiro de alívio.

— O que aconteceu com os cachorros?

— Você tem que me ajudar, Gray. Morrerei se ficar trancado aqui.

O olhar de Gray voou para Marcella e ele estreitou os olhos. — Você


é a razão pela qual estamos sob ataque. Se te soltar, lutará contra nós.

— Gray, — disse implorando, pressionando com força contra as


grades. — Earl colocou os cachorros em mim para que eles pudessem me
matar.
Gray balançou a cabeça como se não pudesse acreditar. — Ele não
faria...

— Não faria? Vamos, nós dois sabemos que não é verdade.

Gray não disse nada, apenas observou Satan.

— Somos irmãos. Você realmente me quer indefeso em uma gaiola de


cachorro para que Vitiello possa me destruir? Você sabe o que ele fez com
meu pai. E fará o mesmo comigo, não importa se ajudei a filha dele, que foi
o que fiz. Você viu o que Earl fez com ela. Não é certo. Isso não tem nada a
ver com Vitiello. Ainda o quero morto e não hesitarei em matá-lo se tiver a
chance.

Precisava falar com Gray rapidamente antes que Earl nos visse, ou
meu irmão fosse atingido por uma bala da Famiglia.
Ele olhou de volta para o clube e depois para mim. — Não sei se
posso confiar em você.

— Você pode, — disse ferozmente, mas não tinha certeza se ele


poderia. Nesse momento, minha única prioridade era colocar Marcella em
segurança. Uma vez que isso fosse feito, faria o possível para ajudar
Gray. Se algo acontecesse com ele por causa da minha traição, nunca seria
capaz de me perdoar. Eu o queria seguro. Queria uma vida diferente para
ele.

Gray tirou seu chaveiro e tive que resistir à vontade de arrancá-lo de


sua mão. Em vez disso, esperei que ele destrancasse minha gaiola. No
momento em que o clique familiar soou, empurrei a porta e corri para o
canil de Marcella.

— Agora ela.
— Não, — Gray rosnou. — Não me importo com o que acontece com
ela. Ela estragou tudo.

— Não foi escolha dela ser sequestrada por nós.

— Mas foi escolha dela seduzi-lo e bagunçar sua mente. Antes dela, o
clube sempre vinha em primeiro lugar. Você vivia pelo clube, por vingança,
e agora olhe para você.

— Você não queria o sequestro. Olhe para as costas dela! — Me virei


para Marcella. — Mostre a ele.

Ela apresentou suas costas tatuada para nós. A visão ainda fez meu
sangue ferver de raiva. O lugar entre seus ombros estava vermelho e
ensanguentado, e Prostituta Vitiello estava escrito em letras pretas feias em
sua pele.

Os olhos de Gray se arregalaram e ele engoliu em seco.

— Gray, me ajude. Você quer a morte de uma mulher inocente em sua


consciência?

Gritos soaram.

Gray se voltou para a luta, mas não podia permitir que ele saísse com
as chaves. Me lancei contra ele e agarrei seu braço. — Dê-me as chaves.

Ele se virou para mim com uma expressão incrédula. — Eu sabia!

— Você não sabe de nada, Gray. Não seja uma ovelha que segue
cegamente o rebanho até a morte. Fuja enquanto ainda tem chance.

— Não vou sair do clube.

O puxei ainda mais perto. — Gray. Nosso clube tomou o caminho


errado quando sequestramos Marcella, mas com certeza entramos direto no
território do fogo do inferno quando Earl começou a torturá-la. Não me diga
que de repente você concorda com o que aconteceu?

— Não, — ele rosnou. — Fui contra o sequestro desde o início, mas


Earl é o presidente deste clube e é nosso trabalho seguir suas ordens.

Gray livrou-se do meu aperto e saiu cambaleando. Esperava que ele


subisse em sua moto e salvasse sua própria bunda. Ele era um cara legal e
não merecia cair com este clube. Se Vitiello colocasse as mãos nele, ele não
teria misericórdia, mesmo se ele ainda fosse uma criança.

Me virei para a gaiola de Marcella. Ela tropeçou em direção à porta


quando a destranquei e caiu em meus braços. A beijei ferozmente, sem me
importar com as balas e gritos. Precisava prova-la antes que nunca pudesse
vê-la novamente. Ela relaxou brevemente contra mim e o tempo pareceu
parar. Nada importava, exceto seus lábios, seu corpo, o fogo queimando em
seus olhos. — Precisamos leva-la até o seu pai, — disse asperamente.

— E quanto a Satan?

— Marcella, não podemos ajudá-la agora. Ela é muito pesada para


carregarmos. — Uni nossas mãos e a guiei para longe das gaiolas. Os outros
cães se acalmaram e se esconderam em seus abrigos. A visão do meu olho
esquerdo ainda estava prejudicada. Talvez o sangue tivesse secado em meu
globo ocular, ou a batida na minha cabeça tivesse deixado um dano
duradouro, não tinha certeza. Marcella tinha dificuldade em acompanhar
meus passos, mas não reclamou.

Avistei Gunnar e alguns prospectos saindo da sede do clube em


direção à cerca, provavelmente para defender nossas fronteiras, mas
conhecendo os números de Vitiello, duvidava que tivessem alguma
chance. Ele passaria direto por nós e não deixaria nada em seu rastro.
Uma explosão soou, espalhando estilhaços de madeira e cerca ao
nosso redor. Empurrei Marcella para baixo e a protegi com meu
corpo. Minhas costas queimaram, mas não me mexi até que uma nova onda
de gritos e tiros ecoou. O som de espingardas fez minha cabeça girar. Como
temia, Earl e vários motoqueiros saíram da sede do clube em direção aos
canis.

Puxei Marcella de pé. Ela também tinha visto os motoqueiros vindo


em nossa direção. A arrastei para longe, mas correr em direção à cerca onde
a maior parte da luta estava acontecendo apresentava o risco de ser atingido
por uma bala de qualquer lado. Vitiello estava a caminho, só precisava
garantir que Marcella continuasse viva até então. Nada mais importava.

Invadi o lugar mais improvável, a sede do clube. Como esperado,


estava vazia, exceto por um prospecto de aparência aterrorizada. Ele se
atrapalhou com sua arma, mas não conseguiu soltar o pino de
segurança. Soltei a mão de Marcella e me lancei contra ele, arrancando a
arma de sua mão antes de acertá-lo na cabeça com a coronha. Peguei outra
arma e sua faca, então arrastei Marcella para trás do balcão. Tinha sido
reforçado com tábuas de madeira e poderia aguentar algumas balas. Claro,
as espingardas acabariam por rasgá-lo, mas tinha que confiar que Vitiello
nos encontraria.

O tiroteio e os gritos se aproximaram. Parecia que a terceira guerra


mundial havia estourado. Marcella olhou para mim com olhos arregalados,
ofegando suavemente.

— Tudo ficará bem. Seu pai estará aqui a qualquer momento e vou
mantê-la segura até lá. — E então todo o inferno se soltou ao nosso redor. A
prateleira atrás de nós explodiu. Álcool e cacos de vidro foram catapultados
em nossa direção. Minhas costas ascenderam com uma nova dor, mas só me
concentrei em Marcella, que se encolheu na minha frente. Toquei sua
bochecha brevemente, querendo gravar a imagem de seu rosto em minha
mente para que pudesse me lembrar em meus últimos momentos.

Passos soaram e uma porta foi fechada. — Barriquem a porta! — Earl


gritou e prendi a respiração, percebendo que ele estava na casa e, a julgar
pela miríade de vozes, vários homens estavam com ele. Maddox e eu
estávamos presos.

— Earl! — Papai rugiu. — Dou-lhe cinco segundos para entregar


minha filha antes de derrubar a porra da casa e cortar você e sua família em
pedaços.
Meu coração inchou de alívio ao ouvir a voz de papai.

— Foda-se! Vou mandar a cabeça dela para você, é tudo o que


receberá. Vamos ficar com sua boceta fria para nos manter entretidos.

Os músculos de Maddox ficaram tensos quando ele ergueu as


armas. — Fique abaixada, — ele murmurou.

Outra explosão soou e estilhaços voaram pela sala. Um homem


cambaleou em nossa direção, provavelmente procurando abrigo. — Prez,
eles estão...
Maddox atirou em sua cabeça antes que ele pudesse terminar a frase e
todo o inferno desabou. Meus ouvidos zumbiram com o tiroteio. Maddox
deu um pulo, erguendo suas armas. — Earl, não seja estúpido. Todo mundo
vai morrer por causa do seu ego. — Maddox se abaixou e uma bala
explodiu em outra garrafa de bebida.

— Malditos cachorros, vou afogar todos eles.


— Pelo amor de Deus! Seja razoável e entregue Marcella!

Mais tiros soaram seguidos pelo som de madeira quebrando. Um


momento depois, algo atingiu o chão com um estrondo.

— A porta caiu! — Alguém gritou.

Maddox se levantou bruscamente quando Gunnar apareceu com uma


faca nas mãos. Eles começaram a lutar. Era óbvio que Maddox não queria
matar o homem mais velho. Por fim, ele conseguiu acertar com força a
têmpora do homem. Gunnar caiu no chão e não se mexeu novamente.

O próximo motociclista que atacou Maddox não teve tanta


sorte. Maddox empalou sua faca no peito do cara.

Comecei a tremer, meus ouvidos zumbindo por causa dos tiros e


homens feridos gritando de dor. Talvez morresse bem na frente do papai.
Respingos de sangue cobriam o piso de madeira e as paredes. Maddox
saiu da proteção e atirou. Rastejei para frente, espiando por trás do
bar. Uma carnificina brutal reinava ao meu redor. Sangue e partes de corpos
jaziam no piso.

E no meio de tudo isso estavam papai, Matteo e Amo e vários


soldados da Famiglia, bem em frente à porta enquanto Earl e seus homens
se escondiam atrás da mesa de sinuca virada. Levei um momento para
reconhecer Amo. Seus olhos estavam selvagens e em sua mão direita, ele
segurava um machado coberto de sangue e carne. Não sabia quantos dos
motoqueiros selvagemente mortos era culpa dele. Este não era o Amo de
que me lembrava.

O irmão que deixei para trás via as brigas como um jogo


divertido. Tornar-se um Capo era um objetivo distante, para o qual ele ainda
não estava preparado. Ele era um garoto arrogante, em busca de
emoção, que gostava de impressionar as garotas com seu futuro título e
aparência. Sua indução havia sido uma formalidade. Até este ponto, papai o
manteve longe da pior parte dos negócios a pedido de mamãe. Amo sempre
teve uma queda pela violência. Corria em seu sangue, como corria no meu,
embora não tão forte. Mas ele estava adormecido. Agora, quando vi seu
rosto salpicado de sangue e fome crua de vingança em seus olhos, iguais
aos de papai, percebi que sua verdadeira natureza havia sido despertada.
Maddox me empurrou para trás quando outro motociclista pulou em
nós e cravou uma faca no homem, matando outro de seus irmãos MC para
me salvar. Atrás do sofá à direita, localizei Gray. Maddox ficaria arrasado
quando percebesse que seu irmão não tinha fugido, mas ficou para lutar.

Mais homens da Famiglia entraram na casa até que Earl e alguns


outros motoqueiros correram para as escadas em busca de segurança no
segundo andar.

Maddox agarrou meu braço e me ajudou a levantar, me arrastando


pela sala e me protegendo com seu corpo. — Vá para a sua família. — Ele
me empurrou para frente, para longe de seu calor e tropecei alguns passos,
desorientada. Matteo me pegou em seus braços, mas engasguei de dor
quando ele tocou minhas costas. Ele olhou brevemente para minhas costas
expostas, e sua expressão se contorceu em descrença e depois fúria. —
Terei satisfação matando-os.

— Leve Marci para um lugar seguro, — papai rosnou. Marci, o nome


não parecia mais adequado para a garota que eu havia me tornado.

Matteo começou a me arrastar para longe da cena, mas me virei em


seu aperto para me dirigir a papai. — Não o mate! — Apontei para
Maddox, mas não pude dizer mais nada porque Matteo apertou seu domínio
sobre mim e me arrastou para longe. Meu olhar passou por Maddox e seu
sorriso de despedida enquanto estava coberto de sangue entre seus irmãos
mortos do clube. Ele tinha feito as pazes com a morte. A última coisa que vi
foi quando ele pulou atrás do sofá ao lado de seu irmão Gray para lutar ao
seu lado.

— Não! — Gritei.

— Vamos, Marcella. Vamos levá-la a um médico.

Olhei para meu tio. — Diga ao papai que ele não pode matar Maddox.

— Deixe seu pai e eu cuidarmos desses idiotas. E não se preocupe,


seu pai quer manter o maior número possível deles vivos para
questionamentos e tortura completa.

Olhei de volta para o clube enquanto tropeçava junto com meu


tio. Dois guardas armados estavam ao nosso lado e não saíram nem mesmo
quando entramos em uma van preta. Lá dentro, o médico da Famiglia já
estava esperando. Papai pensou em tudo.

— Por que Amo não me trouxe para um lugar seguro? — Perguntei,


surpresa que papai permitiu que ele ficasse.
Matteo torceu a faca na mão, obviamente ansioso para usá-la em
alguém. — Seu irmão insistiu em ter permissão para lutar e seu pai prefere
ficar de olho para que ele não faça algo estúpido. Mas vou mantê-lo seguro.
— Sua boca se abriu em um sorriso que parecia completamente
errado. Matteo era fácil de lidar como um mafioso, mas hoje seu lado mais
sombrio saiu para brincar.

Sua expressão mudou novamente quando ele olhou para minhas


costas. Só podia imaginar como estava. Eu o encarei. — Você não pode ir
até papai e lhe dizer para não matar Maddox? Não vou deixar o médico me
tratar de outra forma.
Matteo examinou meu rosto com curiosidade. — O plano é manter
Earl, Maddox e Gray White, bem como o sargento de armas vivos para que
possamos lidar com eles completamente nos próximos dias. — A excitação
fluiu em sua voz, me lembrando das histórias sobre a tendência de Matteo
para a tortura que tinha ouvido. Sempre era difícil imaginar, considerando o
quão engraçado ele costumava ser.

— Todos os outros estão seguros? Mamãe? Valerio? E quanto a


Isabella e Gianna? Lily e as crianças? — Estava divagando, mas meus
lábios se moviam por conta própria.

— Romero e Growl são responsáveis por sua segurança. Não se


preocupe. Logo tudo estará acabado, e os homens que te machucaram serão
comida de cachorro.

Maddox.

Sabia o que minha família havia planejado, mas isso me dava tempo
para descobrir o que fazer com Maddox e como convencer meu pai a não
cortá-lo em pequenos pedaços. Só podia rezar para que Maddox não
morresse hoje.

— Você tem algum ferimento? — O médico perguntou calmamente


enquanto se sentava no banco ao meu lado.
Toquei cautelosamente minha orelha, que Maddox havia coberto com
uma bandagem nova ontem. — Minha orelha e minhas costas.

— Vamos começar pelas suas costas, certo?

Balancei a cabeça entorpecida. O doutor teve acesso livre às minhas


costas devido à minha camiseta rasgada. Depois de alguns minutos de
estímulo cuidadoso, ele disse: — Vou desinfetar tudo e atualizar sua vacina
contra o tétano. E para cobrir todas as nossas bases, vou fazer alguns
exames de sangue para verificar possíveis infecções que a agulha possa ter
transportado. — O que ele não se atreveu a dizer: possíveis doenças através
da relação sexual.
Meu coração deu um salto e eu o encarei com horror.

— Que tipo de infecções? — Matteo perguntou antes que pudesse


dizer uma palavra.

— Hepatite, HIV, para citar algumas.

Podia sentir o sangue escoar lentamente do meu rosto. Nem havia


considerado que a agulha poderia estar contaminada. A feiura da tatuagem
tinha sido minha única preocupação até agora.

Matteo se agachou diante de mim, me dando um olhar


tranquilizador. — Você vai ficar bem, Marcella.

— Que tal uma possível gravidez? — O médico perguntou em uma


voz muito baixa. A expressão de Matteo mudou para fúria, mas então seu
olhar disparou para mim.

Balancei a cabeça vigorosamente, mas não tinha certeza se não estava


grávida. Tomava pílula há mais de um ano quando Maddox me
sequestrou. Claro, não as tinha comigo. Mas não queria considerar isso
agora. Cuidaria desse problema quando estivesse em casa.
O alívio no rosto de Matteo foi avassalador. Ele tocou meu braço. —
Logo você estará em casa e esquecerá que isso aconteceu.

Balancei a cabeça, mas me sentia trêmula e com frio. Até este ponto,
consegui colocar uma máscara de controle, mas estava escorregando
rapidamente. Mal registrei quando o médico removeu o curativo para
verificar minha orelha. — Existe a opção de remodelar o lóbulo da sua
orelha. Conheço um dos melhores cirurgiões plásticos de Nova York que
terá prazer em atendê-la.

— Como se seu pai e eu lhe déssemos uma escolha, — Matteo


murmurou, batendo em sua palma com a lâmina de sua faca favorita.
Balancei a cabeça. — Fica do jeito que está. Apenas certifique-se de
que não infeccione.

Matteo encontrou meu olhar, obviamente confuso. Talvez ele se


preocupasse que sofresse de PTSD, mas não achei que esse fosse o caso.

— Quero um lembrete.
— Espero que não considere manter a tatuagem também, — ele
brincou com a voz seca.

Dei de ombros. — Quão ruim é?

— Muito ruim, — disse ele. — Existem opções para remover


tatuagens.
— Eu sei, — disse. Nem ousei espiar por cima do ombro ainda. Mais
tarde seria a hora de enfrentar o horror.

O médico cobriu a tatuagem com bandagens e Matteo jogou um


cobertor sobre meus ombros, então ficamos sentados em silêncio, esperando
que a luta acabasse. Pude ver no rosto de Matteo que ele queria voltar e
fazer parte do derramamento de sangue. Estava grata por ele ter ficado
comigo. Não queria ficar sozinha agora.

Minha mente vagou para Maddox, que arriscou tudo para me


salvar. Ligar para meu pai e lhe contar sobre a sede do clube foi
suicídio. Ele disse que me amava. Não confiava em meus próprios
sentimentos. O amor verdadeiro poderia nascer em cativeiro?
Capítulo 18

Observei Marcella sendo arrastada pelo irmão de Vitiello, o amante


de facas. Seus olhos brilharam de pânico quando pousaram em mim, e ela
gritou com seu pai para me poupar.

Sorri ironicamente. A expressão que vi no rosto de Luca Vitiello era a


mesma que vi muitos anos atrás. Ele veio para mutilar e matar, não para
poupar ninguém. Certamente não eu, e tampouco Gray. Não merecia
misericórdia e nunca a quis. Meu olhar disparou para meu irmão curvado
atrás de um sofá. Não me importava com minha vida, mas tiraria Gray
daqui vivo, mesmo que tivesse que matar Luca e seus homens.

Fiz uma corrida louca até o sofá e caí no chão ao lado de Gray. Ele
estava sangrando de um ferimento de bala no braço, mas, fora isso, parecia
ileso. Verifiquei a ferida, ignorando seu estremecimento enquanto cutucava
sua carne dilacerada. A bala estava alojada, o que não era ruim,
considerando que evitava sangramentos ainda maiores. Haveria tempo para
removê-la mais tarde.
Gray segurava uma arma em sua mão esquerda, mas sabendo que ele
usava seu braço direito, agora ferido, poderia muito bem estar desarmado.

— Você tem munição?


Ele assentiu. — Mais quatro tiros.

Isso não era o suficiente contra o exército que enfrentávamos. Não era
nem mesmo o suficiente contra a sede de Luca fodido Vitiello por sangue.

— Ok, me escute, Gray. Vou tentar distraí-los e disparar todas as balas


que tenho sobre eles para que você possa salvar sua bunda.

Seus olhos se arregalaram. — Não vou fugir como um covarde. Papai


precisa da minha ajuda.

— Earl correu escada acima para salvar sua própria bunda, te


deixando aqui para lidar com Vitiello e seu exército. Ele não merece sua
preocupação.

Gray balançou a cabeça. — Não sou um covarde.

— Não, você não é. Mas você também não é idiota, e ficar aqui é
tolice. Não podemos sair disso vivos, não com os números contra nós. Mas
você conhece todos os caminhos secretos para sair da floresta. Se alguém
pode sair daqui, é você. — Gray continuou balançando a cabeça. Agarrei
seu colete. — Porra. Mamãe precisa de você. Se Earl e eu morremos, ela
precisará de você.

Isso pareceu entrar em sua cabeça dura.

— Saia daí, White — disse Luca. Presumi que ele se referia a mim,
considerando que Earl havia subido as escadas correndo para se esconder.
Dei um aceno em direção a Gray. — Corra em direção à porta dos
fundos tão rápido quanto suas pernas o levarem quando lhe der o sinal,
entendido? — Eu não seria responsável por sua morte.

— Entendido, — Gray murmurou.

— Bom. — Me levantei e comecei a atirar em tudo que se


movia. Luca e outro homem que não conhecia procuraram cobertura do
lado de fora, mas continuaram atirando em mim. Amo Vitiello se escondeu
atrás da mesa de sinuca virada, mas também atirou em mim. Me abaixei
atrás do sofá, feliz pelas placas de metal que Gunnar tinha prendido na parte
de baixo algumas semanas atrás, em preparação para um possível ataque.

Pulei de volta no momento em que Luca e dois homens atiraram


novamente. Levantei minha arma, pronta para abrir buracos em todos.

Luca foi distraído por seu filho correndo loucamente escada acima,
provavelmente para matar os motoqueiros restantes sozinho. Conhecia essa
sensação invencível da minha adolescência. — Sigam Amo! — Ele rugiu
para seus homens. Eles não hesitaram e correram atrás do jovem Vitiello,
deixando seu Capo sozinho comigo.

— Corra, — gritei para Gray usando esse momento único e


avancei. Vitiello reagiu tarde demais e me lancei contra ele, fazendo nós
dois voar para o chão. Ele me agarrou pela garganta, cortando meu
suprimento de ar, mas só aumentei meu domínio na faca e a enfiei em sua
perna, o único lugar que pude alcançar. O filho da puta mal estremeceu,
mas seu aperto na minha garganta afrouxou o suficiente para respirar
fundo. Em seus olhos, vi o mesmo ódio que sentia.

Seu filho soltou um rugido no andar de cima, seguido por tiros, gritos
e mais tiros. Lá fora, o tiroteio cessou, o que significava que logo o resto
dos soldados de Vitiello chegariam. O Capo deles estaria morto então.

Vitiello apertou meu pescoço mais uma vez, seus olhos queimando de
raiva. Enfiei minha faca em sua coxa novamente. Minha cabeça começou a
girar por falta de oxigênio. Tentei me afastar dele, mas seus dedos em volta
da minha garganta eram como a porra de um torno. Levantei a faca e sua
outra mão disparou, agarrando meu pulso para me impedir de enfiar a
lâmina em sua cabeça e dividir seu crânio.

Um grito ecoou no andar de cima e por um instante a atenção de


Vitiello mudou, cheia de preocupação, e escapei de suas mãos e abaixei a
faca, mirando em seu olho. Este foi o momento pelo qual esperei por toda a
minha vida.

O rosto de Marcella passou pela minha mente e joguei meu braço para
o lado no último momento, arranhando o lado de sua cabeça e enfiando a
faca no piso de madeira. Não podia fazer isso com ela. Porra. O que essa
mulher fez comigo?

Os olhos de Vitiello fixaram-se nos meus, furiosos e


questionadores. Ele não entendeu por que não o matei. Eu dificilmente faria
isso.

— Isto é por Marcella, apenas por ela, seu bastardo assassino.

Seus olhos se moveram para algo atrás de mim, mas antes que
pudesse reagir, a dor irradiou pelo meu crânio e minha visão tornou-se
negra.
A porta da van se abriu e papai entrou, mancando muito. Um longo
corte na lateral de sua cabeça sangrava profusamente, pingando sangue por
toda a camisa, rosto e braço. Ele imediatamente me puxou para um abraço
apertado, que afrouxou quando estremeci. Ele cheirava a sangue e fluidos
corporais ainda menos atraentes, mas sua proximidade ainda parecia um
bálsamo para minha alma tumultuada. Ele se afastou e segurou minhas
bochechas, examinando meus olhos como se estivesse preocupado que não
fosse a mesma filha de que ele se lembrava. Eu certamente mudei, mas
ainda era eu, a minha versão que nunca veio à tona porque minha vida
aconchegante nunca exigiu isso. Atrás de papai, ainda fora da van, Amo
esperava. Ele limpou sangue e carne de seus braços. Fiquei maravilhada
com as linhas duras de seu rosto que não estavam lá antes. Ele brevemente
olhou para cima e forçou um sorriso que parecia grotesco em seu rosto
ensanguentado.

Por alguma razão, não suportei vê-lo assim. O sequestro me


mudou. Como não poderia? Mas esperava que não causasse um dano
duradouro às pessoas que eu amava. Ao vê-los agora, percebi que meu
desejo não havia sido atendido.

— O que aconteceu com a sua perna? — Perguntei a papai, desviando


o olhar de Amo.
— Nada. Vamos levá-la para casa agora, — ele disse em uma voz
rouca. Nunca vi papai assim, coberto de sangue e à beira do controle.

— E quanto a Maddox? — Perguntei, não pude evitar. Precisava


saber. Talvez sua morte tornasse as coisas mais fáceis, mas meu coração
apertou agonizantemente com o mero pensamento. Ele era a razão pela qual
estava aqui hoje, em mais de um sentido. Ele era culpado pelo meu
sequestro e responsável pela minha liberdade. Eu odiava e... talvez o
amasse, se o amor pudesse florescer em uma situação como a nossa.

Papai empurrou o punho contra a lateral da van, a expressão se


retorcendo de raiva.

Meu coração bateu mais forte. — Pai?

O rosto de papai ficou sombrio. — Ele está vivo como alguns outros e
será levado a um local onde será interrogado.

Alívio passou por mim. Sabia o que interrogar significava em termos


da máfia, mas enquanto ele não estivesse morto ainda, ainda havia
esperança para ele, para nós. Se devesse ter esperança por nós ou por
ele. Meus pensamentos estavam confusos e instáveis demais para
entender. Cada novo pensamento escapava como areia movediça antes que
pudesse terminá-lo.

Matteo pegou seu telefone e saltou da van. — Vou ligar para


Gianna. Ela vai me rasgar ao meio se eu não a avisar que estamos bem.

Tantas pessoas se preocuparam com seus entes queridos arriscando


suas vidas por mim. Não podia imaginar o que Gianna e Isabella estavam
passando enquanto Matteo lutava contra motoqueiros loucos para me salvar.
Papai pegou o telefone. Sua expressão me disse que ele estava ligando
para mamãe. — Ela está segura, — ele disse de cara.

Podia ouvir o suspiro estremecido de mamãe. Então papai estendeu o


telefone para mim. Peguei com dedos trêmulos.

— Mãe, — disse. — Estou bem.

— Oh, Marci, estou tão feliz em ouvir sua voz. Mal posso esperar
para tê-la em meus braços.

— Estaremos em casa em cerca de uma hora, — disse papai.

— Se apressem, — mamãe disse suavemente.

Meu pai passou o braço em volta do meu ombro enquanto me


conduzia para dentro de casa, tentando esconder que mancava, mas deveria
ser ruim se ele não conseguiu esconder da mamãe. E até Amo pairava perto
como se precisasse de vigilância constante agora. Parte da violência havia
deixado sua expressão, mas não toda.

— Controle-se, — papai murmurou. — Sua mãe não precisa vê-lo


assim.

Amo acenou com a cabeça e fechou os olhos brevemente. Podia ver


seu rosto se transformando em algo mais gentil e infantil, mas era uma luta
óbvia, e seus olhos, quando os abriu, ainda pareciam perdidos.

No momento em que entrei na casa, mamãe pulou do sofá. Valerio


estava com ela e as minhas tias Gianna e Liliana, e as minhas primas
Isabella, Flavio, Sara e Inessa. Romero e Growl mantiveram vigilância
como Matteo havia dito. Mamãe correu até mim e papai finalmente me
soltou, apenas para mamãe tomar o seu lugar.

Mamãe me abraçou com tanta força que mal consegui


respirar. Estremeci quando suas palmas roçaram a tatuagem recente nas
minhas costas. Ela se afastou com lágrimas nos olhos cheios de
preocupação. Seu olhar voou sobre minha orelha machucada antes que ela o
forçasse de volta aos meus olhos. Sua palma ainda descansava levemente na
bandagem sobre minhas costas. — O que aconteceu com suas costas?

Não queria lhe contar. Não porque estava com vergonha. Eu não
estava. Estava furiosa e com medo. Furiosa porque Earl fez isso comigo e
com medo de que sempre tivesse que carregar seu julgamento sobre
mim. Quando não disse nada, ela olhou para papai. O homem que
massacrou vários motoqueiros em um ato de fúria e força parecia cansado
naquele momento. Sua culpa pelo que tinha acontecido comigo era
inconfundível em cada linha de seu rosto, mas o pior de tudo em seus
olhos. Amo fez questão de olhar para qualquer lugar, menos para mamãe, o
que provavelmente era o melhor, considerando que ele ainda tinha aquele
brilho de louco nos olhos.

Não queria colocar o fardo de contar a mamãe sobre a tatuagem em


papai. Ela não olhava para ele como se o culpasse pelo que aconteceu, mas
ainda me preocupava que o relacionamento deles tivesse sofrido por causa
do meu sequestro. Meus pais eram objetivos absolutos de relacionamento
em minha mente e o pensamento de que algo poderia mudar isso era quase
pior do que o que tinha acontecido comigo nas últimas semanas.

— Eles me tatuaram, — disse, tentando soar blasé.


A cor sumiu do rosto de mamãe e os lábios de papai se contraíram em
um esforço para conter sua fúria pelos homens que fizeram isso comigo.

Mamãe olhou para papai interrogativamente, mas não perguntou o


que a tatuagem mostrava.

— Vamos removê-la assim que você se sentir bem, — disse papai


com firmeza. — Pedi ao médico que tomasse todas as providências
necessárias.

— Obrigada, pai.

Valerio veio até mim e me abraçou também. — Da próxima vez


também vou chutar a bunda dos motociclistas quando eles te sequestrarem.
Engasguei com uma risada. — Realmente espero que este seja o
último sequestro, e você não deveria amaldiçoar.

Ele revirou os olhos e despenteei sua crina loira antes que ele pudesse
se esquivar. Depois de mais abraços de Gianna e Isabella, tia Liliana,
Romero e meus primos, finalmente subi as escadas, cansada até os
ossos. Rapidamente me desculpei, oprimida pela onda de emoções que
sentia.

Sozinha no meu quarto após o primeiro banho no que pareceram dias,


tirei a bandagem das minhas costas e me virei em direção ao espelho
comprido. Respirei profundamente. Maddox tinha me dito o que a tatuagem
dizia, mas vê-la com meus próprios olhos ainda foi como um soco no
estômago.

As letras pretas pareciam quase borradas e eram finas. Elas me


lembravam das tatuagens que os prisioneiros faziam atrás das grades. As
palavras ‘Prostituta Vitiello’ brilhavam de volta para mim. Elas estavam
bem entre minhas omoplatas, abaixo do meu pescoço. Um carimbo de
prostituta, como Earl disse. Engoli uma vez, então me afastei do
espelho. Assim que as pessoas descobrissem o que havia acontecido entre
Maddox e eu, ouviria o insulto com frequência.

Uma batida soou e saltei, minha frequência cardíaca acelerando


imediatamente. Peguei um roupão de banho e o coloquei antes de ir até a
porta, tentando banir minha ansiedade irracional. Esta era minha
casa. Estava segura aqui. Quando abri a porta, mamãe sorriu para mim. —
Eu só queria verifica-la.
A deixei entrar. — Papai está em casa?

— Sim, ele está lá embaixo com seus tios, discutindo os planos para
amanhã. Ele virá te desejar boa noite mais tarde.

Sorri, me lembrando de todas as vezes que ele fez isso quando era
mais jovem. Mamãe hesitou e então tocou meu ombro. — Existe alguma
coisa que você queira me falar?

Balancei a cabeça. — Ainda não. Estou bem por enquanto. — Havia


tantas coisas sobre as quais estava confusa, precisava de tempo para
processá-las antes de poder falar com alguém.

— Você ficará bem sozinha esta noite? Posso ficar com você.

Beijei a bochecha da mamãe. — Vou ficar bem, mãe. Não tenho medo
do escuro.
Mamãe assentiu, mas pude dizer que ela ainda estava preocupada
comigo. — Boa noite então. — Depois que ela saiu, coloquei uma das
minhas camisolas favoritas para me sentir mais eu mesma novamente e
deslizei para debaixo das cobertas. Enquanto estava acordada, tomei a
decisão de transformar a tatuagem nas minhas costas em algo que provasse
que era mais forte do que Earl achava que eu poderia ser. Não me
esconderia ou recuaria. Eu atacaria.

Peguei meu telefone e comecei a pesquisar tatuadores. Não deixaria o


julgamento de ninguém determinar quem eu era. Nem agora, nem nunca.

Apesar das minhas palavras, imagens horríveis me assombraram no


momento em que apaguei as luzes. Tatuagens grosseiras, pedaços de mim
cortados, corpos dilacerados e cães de luta. Meu estômago embrulhou.

Uma batida me fez pular na cama. — Sim? — Falei, parecendo


trêmula.

Papai entrou, franzindo as sobrancelhas. — Você está bem, princesa?


— Você pode não me chamar assim? — Pedi, lembrando-me das
muitas vezes que Earl ou Cody usaram o termo para me fazer sentir suja.

Papai ficou tenso, mas assentiu. Ele permaneceu na porta como se de


repente não tivesse certeza de como agir perto de mim. Podia dizer que ele
tinha muitas perguntas para fazer, mas não o fez. — Vim desejar-lhe uma
boa noite.

— Obrigada, — disse calmamente. Ele se virou para sair. — Pai?

Ele me encarou novamente.

— Irei com você amanhã quando você interrogar os cativos.

— Marci...

— Por favor.

Ele acenou com a cabeça, mas sua expressão ainda dizia não. — Não
acho que seja uma boa ideia, mas não vou impedi-la. Amo e eu sairemos
muito cedo. Você deve dormir até tarde e ir mais tarde com Matteo.

Depois que ele saiu, me joguei na cama por mais uma hora, mas a
escuridão trouxe lembranças ruins e não consegui dormir com as luzes
acesas. Nas últimas semanas, Maddox esteve ao meu lado durante a noite, e
não importa o quão ridículo fosse, me sentia segura ao seu lado. Agora
sozinha, a ansiedade levou a melhor sobre mim.

Saí da cama, coloquei meu roupão de banho e atravessei o corredor


até o quarto de Amo. Eu bati.

— Entre, — Amo falou.

Entrei e fechei a porta. Amo estava sentado em sua mesa em frente ao


computador, apenas de moletom. — Jogando Fortnight? — Perguntei,
aliviada por ele ter voltado à sua rotina.
— Isso é para crianças e perdedores, — ele murmurou. — Estou
fazendo pesquisas sobre os métodos de interrogatório usados pelo Mossad e
pela KGB.

— Oh, — sussurrei. Tive uma estranha sensação de perda. Meu irmão


mais novo se foi. Ainda faltavam dois meses para seu aniversário de
dezesseis anos, mas ele havia crescido nas semanas em que estive fora.

Amo ergueu os olhos da tela, franzindo a testa. — Você precisa de


ajuda?

Balancei a cabeça. — Posso passar a noite aqui? — Não conseguia


me lembrar da última vez em que Amo e eu dormimos no mesmo quarto
juntos. Estávamos muito velhos para isso, mas não sabia mais para onde ir.

— Claro, — disse ele lentamente, olhando-me criticamente.

Rastejei sob as cobertas. — Vou deitar na beirada.


— Não se preocupe. Não conseguirei dormir de qualquer
maneira. Muita adrenalina.

Assenti. — Você deveria jogar videogame de novo como costumava


fazer, sabe?
— Vou rasgar os motoqueiros em pedaços amanhã. É o único
entretenimento de que preciso, — ele murmurou.

Fechei os olhos, esperando que Amo voltasse ao que era antes, mas
no fundo sabia que nenhum de nós poderia recuperar o que havia perdido.

Não dormi muito, então já estava acordada e de volta ao meu quarto


quando mamãe bateu na minha porta na manhã seguinte. Meus
pensamentos giraram em torno de Maddox e minha família a maior parte da
noite.

— Entre, — disse, sentando na cama. A noite foi cheia de dor nas


minhas costas e incerteza no meu coração.
Mamãe já estava usando um vestido fino de tricô e, ao contrário de
ontem, seus olhos estavam claros. Nenhum sinal de lágrimas. Ela parecia
decidida como se tivesse vindo para salvar nossa velha família sozinha. Ela
segurava algo na mão enquanto se dirigia até mim e se sentava na beira da
minha cama. — Tenho algo para você, — ela disse. Fiquei feliz por ela não
perguntar como tinha sido minha noite. Ela provavelmente poderia
adivinhar que mal dormi. Esperava que Amo não contasse a ela ou a papai
que estava com muito medo de dormir no meu próprio quarto. Esta noite eu
seria forte, não importa o quê.
Ela acariciou meu cabelo como fazia quando eu era uma garotinha,
então abriu a mão, apresentando um brinco alpinista2 de ouro branco
em forma de meia-lua cravejado de diamantes.

Meus olhos se arregalaram. — É lindo. — Cuidadosamente toquei


minha orelha. Ainda estava sensível, mas evitei tocá-la.
— Até que decida consertá-la, pode cobri-la com belas joias.

Peguei o brinco. — Não acho que vou consertá-la. É um bom


lembrete de que não devo considerar nada como garantido. — Levantei o
brinco. — Você pode me ajudar a colocá-lo?

Ainda não tinha olhado a ferida, mas teria que fazer se tentasse
colocar sozinha.
Mamãe se aproximou e, com muito cuidado, prendeu o brinco no meu
ouvido. Controlei um estremecimento quando a joia tocou minha orelha
ainda sensível. — É bom que você tenha mais furos na orelha.

Ri. Ainda me lembrava de como meu pai desaprovou que colocasse


um piercing na orelha, mas sempre usei pequenos diamantes elegantes,
então ele acabou aceitando isso.

— Como ficou? — Perguntei.

Mamãe sorriu. — Absolutamente deslumbrante. Vá, veja por si


mesma.

Saí da cama e verifiquei meu reflexo. O brinco cobriu perfeitamente o


lóbulo da minha orelha perdida. Toquei e sorri. Assim, poderia guardar o
lembrete, mas escolher quando queria apresentá-lo ao mundo.

Me virei para a mamãe. — Como você conseguiu isso tão


rapidamente? Por favor, não me diga que papai ameaçou todos os joalheiros
em Nova York esta noite para tê-lo o mais rápido possível.

Mamãe deu uma risadinha. — Não, não. Na verdade, comecei a


procurar um brinco como esse quando... quando descobrimos que sua
orelha havia sido machucada. — Ela fez soar como se tivesse sofrido um
acidente que me custou o lóbulo da orelha, e não que motociclistas
vingativos o tivessem cortado e enviado para minha família. — Mas seu pai
teria ameaçado todos eles por você, se necessário. Ele faria qualquer coisa
por nós.

— Eu sei, — disse. — Não o culpo, você sabe. Por favor, não me diga
que você e papai brigaram por minha causa.

Mamãe se levantou e veio até mim. Ela tocou minha bochecha. — Eu


estava apavorada por você. E seu pai se culpou. Pude ver o quanto ele se
odiou por isso. Mas não briguei com ele. Todos fazemos parte deste
mundo. Seu pai tenta nos proteger com o melhor de suas habilidades.

— Sempre soube que ele me salvaria. Nunca duvidei disso.


— Ele mal dormiu. Ele e todos os soldados sob seu comando
procuraram por você dia e noite.

Lágrimas brotaram em meus olhos, mas não as deixei cair. Não


gostava de chorar, nem mesmo na frente da mamãe.

Mamãe também lutou contra as lágrimas. Ela tocou meu braço. —


Seu pai disse que um dos motoqueiros revelou o paradeiro do clube para
ele.
Assenti. — Maddox.

O silêncio se estendeu entre nós enquanto mamãe examinava meus


olhos. Minha voz estava desligada, até eu poderia dizer. Limpei minha
garganta. — Ele e eu nos aproximamos durante meu cativeiro.

Mamãe não demonstrou seu choque, se é que sentiu algum. Foi bom
contar a ela. Se alguém entenderia, era ela. Mamãe acreditava no amor
contra todas as probabilidades, no amor verdadeiro. Ela me ensinou a
acreditar nisso também. Agarrei-me a Giovanni, esperando
desesperadamente que o que tínhamos magicamente se transformasse no
tipo de amor que tudo consome como mamãe e papai viviam diante dos
meus olhos todos os dias.
Temia ter encontrado: o tipo de amor que te deixava sem fôlego, que
doía quase tanto quanto te fazia se sentir bem. Era um amor que não tinha
certeza se deveria perseguir.

— Oh, Marci, — disse mamãe, como se pudesse ler todos os meus


pensamentos.

— Queria usá-lo para que me ajudasse a escapar e ele basicamente fez


isso...
— Mas você se apaixonou por ele?

Apaixonada. Nunca entendi realmente o termo, como se o amor fosse


algo tão inevitável quanto a força da gravidade. Como se a agarrasse e a
arrastasse para baixo com ele. Com Giovanni, foi uma escolha lógica. Mas
o que Maddox e eu tínhamos, desafiava a lógica. Isso ia contra tudo em que
ele e eu acreditávamos. Era contra a razão, contra as crenças da minha
família.

— Papai nunca permitiria. Não com um motoqueiro. Não depois do


que Maddox fez.
Mamãe inclinou a cabeça em consideração. — Acho que este último é
o maior problema. E você? Você pode perdoar Maddox pelo que ele
fez? Por sequestra-la? Por permitir que outros te machucassem?

Era uma pergunta que sempre me fazia, já durante meu cativeiro e


ainda mais nas horas desde minha fuga. Meu coração e minha mente
estavam em conflito. Eu não queria perdoá-lo, mas meu coração já havia
perdoado. Mas eu não era alguém que agia por impulso. Pensava bem nas
coisas, pesava os prós e os contras.
O amor não funcionava assim. Mas se o amor de Maddox por mim,
ou meu amor por ele fosse tóxico, preferia encontrar o antídoto o mais
rápido possível.

— Se precisa pensar sobre isso por muito tempo, ele realmente


significa muito para você. Mas, por favor, não se esqueça de que a
confiança é a base para um casamento funcionar.

Meus olhos se arregalaram. — Mãe, nunca disse nada sobre me casar


com Maddox. — Então percebi que seria de se esperar exatamente isso,
casar com ele. Meu namoro com Giovanni foi tolerado porque ele era meu
noivo e nosso casamento estava marcado. O escândalo que se seguiu após
nosso rompimento não foi nada em comparação com as fofocas que um
relacionamento com Maddox criaria. Mesmo que não me importasse com a
reação negativa à minha reputação, precisava considerar o que isso faria à
minha família. Mas mesmo um relacionamento com Maddox parecia
impossível neste ponto. Não conseguia ver como poderíamos fazer um
futuro funcionar.
— Você não tem muito tempo para se decidir, amor, — mamãe disse
suavemente. — Você sabe o que seu pai planejou para os motoqueiros que
capturou.
— Eu sei, — disse. — Tio Matteo vai me pegar e me levar para o
cativeiro da Famiglia.

Mamãe franziu os lábios. — Seu pai mencionou isso. Não acho uma
boa ideia confrontar o homem que fez isso com você.
Sorri. — Não se preocupe, mãe. O jogo virou. Não estou mais nas
mãos deles. Não vou quebrar agora, não depois de sobreviver a semanas de
cativeiro.

— Não duvido. Estou maravilhada com a sua força. — Ela fez uma
pausa. — Se quiser falar sobre o que aconteceu entre Maddox e você, estou
aqui, sabe disso, certo?

Assenti. — Todo mundo viu o meu vídeo?


— Muitos o fizeram, — mamãe disse honestamente. — Seu pai
tentou de tudo para removê-lo e, eventualmente, ele conseguiu.

— A internet nunca esquece, — disse.

E pensar que passei horas agonizando sobre a imagem perfeita para


postar no Instagram. Eventualmente, teria que assistir ao vídeo e enfrentar o
escândalo resultante em minhas contas de mídia social. Mas ainda não.
— Você não tem nada para se envergonhar. Eles te forçaram, e você
parecia orgulhosa e linda, apesar da situação.

— Essa não foi minha escolha, — concordei. — Mas dormi com


Maddox. Não porque ele me forçou e nem mesmo porque esperava que ele
me ajudasse a escapar se o fizesse, mas só porque naquele momento eu
quis.

Queria tirar isso do meu peito.


Por um segundo, mamãe foi incapaz de esconder seu choque, mas
então ela acenou com a cabeça. — Achei que poderia ser o caso, mas
esperava estar errada.

Franzi meus lábios. — Porque deveria permanecer virgem até o


casamento.
Mamãe balançou a cabeça. — Não me importo com isso, Marci.

Não tinha certeza se mamãe realmente estava falando sério. Poucas


coisas mudaram ao longo dos anos. Papai pode ter abolido a tradição dos
lençóis ensanguentados quando me aproximei da idade de casar, mas muitas
pessoas ainda seguiam os velhos hábitos. Agora parecia ser uma escolha da
noiva e não um dever ao qual ela tinha que sucumbir. Mas poucas garotas
tiveram a coragem de decidir contra a tradição dos lençóis ensanguentados
e as que fizeram eram frequentemente vistas como vagabundas que não
queriam correr o risco de revelar seus modos lascivos. Às vezes, uma
escolha não era uma, desde que a sociedade considerasse apenas uma
decisão válida.

— Mas papai se importa.

— Seu pai preferiria que você fosse para um convento e nunca se


envolvesse com meninos.

Reprimi um sorriso. — Mas ele aceitou Giovanni.

— Papai sabia que teria que deixa-la ir e permitir que você


crescesse. Quando você escolheu Giovanni, ele o tolerou porque era alguém
que conhecia e...
— Podia controlar.

Mamãe encolheu os ombros. — Seu pai é controlador.


— Maddox não é tão fácil de controlar. Será que o papai o aceitará?

— Eu não sei. Talvez, mas vai levar tempo e muito trabalho da parte
de Maddox. Talvez você ainda não devesse contar a seu pai que dormiu
com Maddox. Isso só vai complicar as coisas.

— Você realmente acha que ele não suspeita de algo?

— Oh, tenho certeza que sim. Mas seu pai é cego quando se trata de
você se tornar uma mulher.

— Homens.
Mamãe tocou minha mão. — Você usou proteção?

Levei um momento para perceber o que ela queria dizer e o calor


subiu em minhas bochechas. — Não, — admiti.

Mamãe assentiu, engolindo. — Vou comprar um teste de gravidez


para você hoje, então poderá usar caso não fique menstruada.
Minha menstruação chegaria a qualquer momento. Eu não tinha um
círculo regular, então era difícil dizer. — Obrigada, mãe.

Minha vida sempre foi uma construção cuidadosamente planejada,


uma entidade intrincada que passei anos estruturando e construindo. Não
era nada além de um castelo de cartas, percebi agora. Sempre achei que
tinha medidas de segurança suficientes embutidas em meu plano de futuro
que mesmo algumas cartas faltando não derrubariam meu castelo. Claro,
nunca havia considerado alguém invadir minha vida e quebrar meu castelo
de cartas em pedaços. Todos os meus planos arquitetados com inteligência,
de repente estavam prestes a desmoronar.

Eu amava Maddox, amava tanto quanto sempre sonhei em amar


alguém, desejava-o tão ferozmente quanto esperava. Meus pensamentos
giravam em torno dele de uma forma que nunca tinha experimentado antes,
certamente não com Giovanni. Eu o amava, mas também amava minha
família. Como você pode comparar um amor a outro? Como pode pesar um
contra o outro? Não podia fazer isso. Eu não podia desistir de Maddox. Não
podia desistir da minha família.

Olhei de volta para os brincos.


Daria a Maddox uma escolha hoje, uma escolha impossível, uma que
determinaria se nós teríamos uma chance, uma escolha que poderia rasgar
meu coração em dois.
Capítulo 19

Minha cabeça latejava de dor quando voltei a mim. Não tinha certeza
de que horas eram. Podia ouvir o barulho ao meu redor e a respiração
rouca. Com um gemido, forcei meus olhos a abrirem, apesar da agonia que
isso causou.

Paredes cinzentas e úmidas. Fedor de umidade e mofo, mijo e


sangue. Estava em um porão, na câmara de tortura de Vitiello, sem dúvida.

— Finalmente acordado, hein? — Cody murmurou.

Virei minha cabeça e percebi que estava amarrado a uma


cadeira. Tentei derrubá-la, mas suas pernas estavam presas ao chão. Claro,
Vitiello pensaria em tudo.

— Isso é culpa sua, — Earl rosnou.

Ele e Cody estavam em cadeiras à minha esquerda e ao lado deles


estava Smith, um prospecto. Ele parecia muito mal, sangrando de duas
feridas na perna e na lateral. Mas estava feliz que não fosse Gray em seu
lugar. — Há quanto tempo estamos aqui?
Cody cuspiu na minha direção, mas caiu a alguns centímetros das
minhas botas. — Tempo suficiente para que mijasse nas calças duas vezes,
seu idiota.

Earl me encarou com olhos ferozes.

— Se você tivesse me ouvido e trocado Marcella por Vitiello, nós que


estaríamos torturando. Mas você não estava satisfeito, — rosnei.

— Não mencione o nome daquela puta!

Balancei a cabeça. — Espero que Vitiello comece a nos torturar em


breve. Nada pode ser pior do que estar em uma sala com dois idiotas.

— Ele me matará por último, então poderei assistir você morrer lenta
e dolorosamente, — disse Earl com um sorriso desagradável.

— E quanto a Gray? Você o viu?

— O covarde fugiu. Ele está morto para mim. Não vai sobreviver
sozinho por muito tempo de qualquer maneira. Vitiello o pegará em breve.

— Era seu trabalho mantê-lo seguro. Em vez disso, você salvou sua
própria bunda e correu escada acima.

A porta pesada rangeu.

— Oh, merda, — disse Cody. — Por favor, Deus, me ajude.

Enviei-lhe um olhar divertido. — Você realmente acha que Deus te


olha com bondade?

Amo e Luca Vitiello entraram na sala. Um olhar para eles e sabia que
não morreria hoje, mesmo que implorasse por isso.

Fui baleado, esfaqueado, queimado, tinha quebrado incontáveis ossos


em acidentes. Não tinha medo da dor ou da morte, mas sabia que Vitiello
tinha maneiras de fazer até homens endurecidos chorarem pela mãe.

— Marcella está bem? — Perguntei. Earl bufou.

Amo veio até mim e me deu um soco nas costelas e no estômago. —


Nunca a mencione novamente.

Tossi e sorri. — Então você está substituindo o papai como o chefe


torturador agora?

— Não, — disse Luca em voz baixa que poderia ter me feito cagar
nas calças se já não tivesse ouvido antes. — Terei certeza de lidar com cada
um de vocês. Mas temos muito tempo para Amo e meu irmão também
terem sua vez.

Amo foi até uma mesa com instrumentos que não tinha notado
antes.

— Oh Deus, — Cody choramingou quando Amo pegou os pinos.

Me preparei, rezando para ser forte o suficiente para não implorar por
misericórdia. Talvez tivesse coragem de morder minha própria
língua. Fechando meus olhos, lembrei-me de Marcella. Uma imagem digna
dos meus últimos momentos.
Raramente colocava tanto esforço em minha aparência para uma festa
ou evento social como fazia agora para assistir a morte cruel de Earl
White. Comprei a calça de couro preta e a blusa de seda vermelha depois do
meu rompimento com Giovanni, mas nunca tive a chance de usar nenhuma
das duas. Hoje era o dia.

Minhas mãos tremeram quando coloquei meus Louboutins de couro


envernizado preto. Flexionei meus dedos, desejando que parassem de
tremer. Respirando fundo, abri minha porta e saí.

Mamãe esperava por mim no saguão. Seus olhos nadavam com


lágrimas não derramadas e preocupação. Ela pegou minha mão,
examinando meus olhos. — Tem certeza?

Ela não tentou me convencer a não visitar meus captores, mas pude
ver que estava quase doente de preocupação. No entanto, precisava disso
para realmente fazer as pazes com tudo o que aconteceu. Valerio estava na
casa da tia Liliana, então não testemunhou muito do nosso tumulto. Aposto
que ele e nosso primo Flávio não estavam falando nada mais além do
sequestro e do que aconteceria com meus sequestradores de qualquer
maneira. Nossos pais sempre acharam que éramos alheios e que poderiam
nos proteger.

— Absolutamente. Quero estar lá. Quero mostrar a eles, antes que


morram, que estou mais forte do que antes.

— Você está. Estou tão orgulhosa de você, Marci. Você é uma


verdadeira guerreira. Você tem a força do seu pai.

— E a sua. Conheço as histórias de como você arriscou sua vida por


papai, como entrou em território inimigo para ajudar seu irmão mais
novo. Sua ferocidade é mais sutil do que a de papai, mas está lá do mesmo
jeito.

Mamãe engoliu em seco, mas as lágrimas caíram de qualquer


maneira. — Mostre-lhes suas verdadeiras cores.

Balancei a cabeça com um sorriso firme antes de sair.

Tio Matteo esperava por mim em seu carro na garagem e sentei no


banco do passageiro ao lado dele. Ele também tinha uma motocicleta, que
costumava usar para vir até nossa casa quando estava sem Gianna e
Isabella. Era uma coisa que ele e Maddox tinham em comum. E até Amo,
que participava de ralis ocasionalmente. Me peguei imaginando como eles
poderiam um dia fazer uma viagem de motocicleta juntos e imediatamente
tive vontade de me estapear. Esses homens eram inimigos mortais. Nada
havia mudado.

Matteo observou meu rosto. Gostaria que a maquiagem pudesse


cobrir minha turbulência como fazia com as manchas, mas Matteo
provavelmente poderia vê-las claramente.
— Você está pronta para ir? — Matteo perguntou com cuidado. Ele,
como tantos outros, não hesitou em arriscar a vida por mim. Só podia
imaginar quão assustada Isabella estava por seu pai, quão preocupada tia
Gianna deve ter ficado. Tive dificuldade em expressar a quantidade de
gratidão que sentia por eles e também pelos soldados que nem conhecia.

— Estou. Esta é minha batalha e não vou recuar, —disse com


firmeza.

Matteo sorriu. — Essa é minha sobrinha durona.


Sorri, mas lentamente outra questão se formou em minha mente, uma
que não tive tempo de considerar totalmente ainda. — Quantos morreram
na tentativa de me salvar?

Matteo me lançou um olhar cauteloso. — Você deve conversar com


seu pai sobre isso.

— Matteo, — disse exasperada. — Não sou mais uma criança. Posso


lidar com a verdade e preciso dela.

Matteo assentiu. Ele, ao contrário de papai comigo, permitia que sua


filha Isabella tivesse mais liberdade e lhe contava coisas que papai sempre
tentava esconder de mim. — Três homens morreram.

Engoli em seco. Minha vida não valia mais que a deles, mas eles a
colocaram em risco por mim.

— Eles sabem do risco de se tornarem Homens Feitos, e nossa guerra


com os motoqueiros custaram às vidas de muitos mais homens. Isso não é
sua culpa.

Talvez não fosse, mas me sentia culpado de qualquer maneira. —


Quero enviar as minhas condolências às famílias. Eles precisam saber que
sinto muito por sua perda e que compreendo sua tristeza.

— Você cresceu.

— Acho que isso é natural.

— Não, quero dizer, enquanto esteve fora.

— Algo assim muda sua visão da vida, — disse calmamente.

— Sim.
Matteo parou em frente a um armazém em uma área industrial. Nunca
estive aqui, mas antes de hoje nunca tive permissão de estar presente em
qualquer tipo de negócio da Famiglia, muito menos uma sessão de tortura.

Matteo saiu do carro, mas permaneci sentada por mais um


momento. Isso seria um desafio por duas razões. Earl White.

… E Maddox.

Menos de vinte e quatro horas se passaram desde que o vi pela última


vez. Minha primeira noite em liberdade, cheia de pouco sono e muitos
pesadelos. Vivi uma vida privilegiada até o dia em que Maddox me
arrancou da minha zona de conforto. Agora eu havia mudado. Por causa da
dor e da humilhação que sofri, mas também por causa dos meus
sentimentos por Maddox. Sentimentos do quais morria de medo. Minha
vida seria mais fácil se os esquecesse, me esquecesse dele. Se permitisse
que papai e Amo matassem Maddox. Dessa forma, a escolha seria tirada de
minhas mãos.

Matteo me lançou um olhar preocupado. Permaneci congelada no


carro, olhando para o enorme edifício como se isso significasse minha
perdição.
Não era minha perdição.

Esta seria minha libertação final. Minhas mãos ficaram úmidas


enquanto seguia Matteo em direção à porta de aço. Antes de abrir, ele se
virou para mim mais uma vez. — Maddox White, você o quer morto?

Fiquei surpresa com a franqueza de Matteo, mas não deveria ter


ficado.
— Não, — disse, uma verdade que não podia admitir nem para mim
mesma até agora.

— Seu pai não vai gostar, e eu também não. Ele significa problemas.
— Você sempre diz que Gianna é problema e que gosta de
problemas. Porque eu não posso?

Matteo riu. — Você não deve me usar como um exemplo para suas
escolhas de vida.

Encolhi os ombros, em seguida, meus olhos vagaram de volta para a


porta de aço. Meu coração disparou, uma estranha mistura de medo e
excitação. — Não me decidi sobre Maddox ainda.

— Você deve fazer isso rapidamente. Seu pai vai matá-lo em breve.

Matteo finalmente abriu a porta para mim e fomos em direção a outra


porta de aço no final do vasto corredor. Meus saltos clicavam no piso de
pedra e com cada passo que dei, meu pulso acelerou. Matteo tocou meu
ombro. — Espere aqui e deixe-me verificar se podemos entrar.

Balancei a cabeça e não disse que sabia o que papai e Amo estariam
fazendo com os motoqueiros. Matteo enfiou a cabeça para dentro, então
abriu mais a porta e me fez entrar. Respirando fundo para me preparar,
entrei, seguida por Matteo. Com um estrondo de gelar os ossos, a pesada
porta de aço se fechou atrás de mim. Um arrepio correu pela minha espinha
enquanto examinava a sala árida.

Quatro homens estavam amarrados a cadeiras, um deles Maddox. Seu


olhar me atingiu, olhos azuis que despertaram minhas emoções
novamente. O lado esquerdo de seu rosto estava inchado e azulado, mas,
fora isso, papai e Amo ainda não tinham colocado a mão nele. Os outros
homens não tiveram a mesma sorte, um deles era o responsável por tudo.

Earl White tinha um braço quebrado e sua orelha também não parecia
bem. Cody estava inerte na cadeira. Não sabia o nome do quarto
homem. Achei que um dos cativos poderia ser Gray. O fato de ele não estar
aqui me deixou preocupada por Maddox. Era óbvio o quão protetor ele era
com seu meio-irmão. Se ele estivesse morto, isso quebraria o coração de
Maddox e definitivamente não melhoraria seu relacionamento com meu pai.

Papai imediatamente veio em minha direção, protegendo-me dos


homens. — Marci, você sabe que não acho que deveria estar aqui. Não há
nada que esses homens tenham a dizer que você deva ouvir, e eles não são
dignos de ouvir uma única palavra de seus lábios.

— Você disse que não me impediria, — o lembrei. Não fiquei


surpresa por ele ter mudado de ideia. Ele ainda achava que poderia me
proteger do mal.

Meu olhar procurou Maddox mais uma vez. Seu olhar penetrante não
me deixou por um momento.
Papai seguiu meu olhar e suspirou baixinho. — Não chegue muito
perto. — Então ele enfrentou os prisioneiros. — Se algum de vocês tentar
alguma coisa, os farei se arrepender.

A promessa de violência na voz de papai me fez estremecer, mas lhe


dei um pequeno sorriso antes de me mover mais para dentro da sala.

— Veio se juntar à diversão? — Earl perguntou com um sorriso


sombrio, revelando uma boca sangrenta onde faltava alguns dentes. Isso
explicava o alicate ensanguentado em uma das mesas. — Compartilhar a
sede de sangue do seu pai?
Queria um último confronto, mas não tinha decidido se poderia
assistir à tortura que papai, Amo e Matteo certamente tinham em mente
para os motoqueiros. — Seu sangue sujo nunca vai me tocar, — disse
simplesmente, satisfeita com a frieza da minha voz.

Ao ver Maddox amarrado à cadeira, tive que resistir ao desejo de


correr até ele e libertá-lo. Ele não era inocente, e precisava ter certeza de
que realmente podia confiar nele. Talvez ele já tivesse se arrependido da sua
decisão de me ajudar a escapar. No entanto, em seus olhos, podia ver o
mesmo desejo que sentia e tentava desesperadamente esconder.
— Deixando papai e seu irmão fazerem o trabalho sujo, puta? — Earl
disse, explodindo meus pensamentos, obviamente frustrado com a minha
falta de reação. Enrijeci, me lembrando das palavras feias tatuadas nas
minhas costas. Palavras semelhantes provavelmente circulariam
rapidamente se as pessoas descobrissem que dormi com Maddox. Se
estivesse grávida... não me sentia grávida e não queria considerar a
opção. No momento, só podia me concentrar em uma coisa, se Maddox e eu
tínhamos uma chance, se fazia sentido nos dar uma chance.

Papai agarrou Earl pela garganta, parecendo menos humano do que já


o tinha visto. Amo estava ao seu lado. Nenhum vestígio do irmão mais novo
que vi pela última vez antes do meu sequestro. Esses homens me
assustariam se não fossem meu sangue, meus protetores. Se sua raiva
descarada e vingança não fossem emoções que fervilhavam dentro de mim
também.

— Não, — disse com firmeza, tanto para Earl quanto para papai e
Amo. Papai não afrouxou o controle sobre Earl, que estava ficando
vermelho lentamente, gaguejando enquanto lutava para respirar.

— Pai, não.
Papai olhou para mim, obviamente sem saber o que eu queria. —
Vamos lhe dar o que ele merece. Ele vai sofrer mais do que qualquer
homem já sofreu.

Ele achava que queria que ele poupasse meu algoz? Essa era a última
coisa em minha mente. Mamãe era do tipo que perdoava, mas até ela
provavelmente faria Earl sofre uma morte dolorosa nas mãos de papai se ele
pedisse sua opinião. Claro, ele nunca faria tal coisa porque não queria que
ela tivesse sangue nas mãos.
— Deixe-me tirar as bolas dele com uma colher de sorvete, — Amo
rosnou, apontando para a variedade de facas, alicates e outras ferramentas
de tortura espalhados sobre uma pequena mesa de madeira.

Meu estômago revirou com a exibição e o sangue acumulado sob ela,


e afastei meus olhos. Eu não era como papai e Amo. E também não era
como mamãe. Estava em algum lugar no meio. Capaz de certa dose de
crueldade se levada ao limite, mas não capaz de executá-la sozinha. Talvez
isso fosse fraqueza, mas não me esforçaria mais pela perfeição.

Um sorriso desagradável surgiu no rosto de Earl com a minha breve


demonstração de hesitação. Engoli em seco e enrijeci meus ombros antes de
me dirigir até a mesa e pegar uma faca. O cabo parecia estranho na minha
palma. Papai sempre se certificou de que não manuseasse armas. Minha
proteção era tarefa de outros. Aceitei, certa de que nada poderia me tocar
enquanto papai estivesse lá. Mas percebi que não importa quão fortes sejam
seus protetores, você precisa ser capaz de sobreviver por conta própria.

— Ele vai sofrer, mas não pelas suas mãos, pai, — disse com firmeza,
forçando um sorriso, e me virei para Maddox. Seu olhar mudou da lâmina
brilhante para os meus olhos. Como sempre acontecia, meu coração deu um
salto quando encontrei seu olhar. Este era o nosso momento da verdade, o
momento que provaria sua lealdade ou acabaria o que nunca deveria
acontecer. Não tinha certeza se meu coração sobreviveria a este último.

Earl acenou com a cabeça para minha orelha. Outra marca que ele
deixou. Às vezes me perguntava o que mais ele teria feito comigo se
Maddox não tivesse revelado meu paradeiro a papai. Earl White gostou de
me torturar, não apenas porque eu era filha de meu pai. — Você pode cobrir
sua orelha arruinada com joias caras, mas aquela tatuagem...

— Em breve estará coberta por uma linda tatuagem feita pelo melhor
tatuador dos Estados Unidos, — o interrompi. Não o deixaria me fazer
sentir pequena nem por um segundo.

Ele grunhiu. — Há coisas que você nunca será capaz de


encobrir. Deixamos nossa marca dentro de você. Você temerá o escuro até o
dia de sua morte.

Desejei que ele não estivesse certo. Talvez a noite passada tivesse
sido a exceção, mas temia que levaria um tempo para ficar confortável no
escuro novamente, para não vacilar quando alguém batesse e não olhar por
cima do meu ombro. Mas eventualmente superaria isso.

Aproximei-me dele, sorrindo sombriamente. — Tenho a escuridão


correndo em minhas veias. Sou filha do meu pai, nunca me subestime
porque sou mulher. Ser mulher não significa que não seja forte. E acredite
em mim quando digo que nada do que você fez vai deixar uma cicatriz. Seu
nome e família vão desejar ser esquecidos enquanto o meu governará o
Oriente e caçará todos os motociclistas afiliados ao Tatarus.

Me movi em direção a Maddox, seguindo a atração invisível que senti


desde o primeiro momento em que o vi. Ele nunca tirou os olhos de
mim. Ele parecia um homem pronto para morrer. Talvez devesse deixá-
lo. Seria mais fácil para minha família, mais fácil para mim se não levasse
meu coração em consideração, e talvez fosse ainda mais fácil para ele,
porque não tinha certeza se ele poderia lidar com a escolha que logo estaria
lhe dando.

O contornei até que estava em suas costas e me abaixei para cortar


suas amarras. Papai e Amo oscilaram para frente, mas balancei a cabeça. —
Não.
Eles pararam, mas podia dizer que ambos estavam prontos para atacar
se Maddox se movesse para o lado errado. Maddox foi inteligente o
suficiente para deixar seus braços ao seu lado depois que o libertei de suas
amarras. Voltei para sua frente e encontrei seu olhar. Podia ver as perguntas
em seus olhos azuis.

Virando a faca, estendi o cabo para ele. — Marci, — papai rosnou.

Balancei a cabeça novamente. Este era o meu momento da verdade


com Maddox, a decisão definitiva no nosso relacionamento. Precisava da
verdade, mesmo que ela me matasse.
— Maddox, — disse, inclinando-me para ele, apesar do aviso de
papai. Ele não entendia o vínculo que Maddox e eu tínhamos. — Pegue esta
faca e mate seu tio. Faça isso por mim.

Seus olhos azuis seguraram os meus, um deles injetado em


sangue. Seus lábios estavam arrebentados e a parte superior de seu corpo
repleta de cortes e hematomas, seria apenas isso, se eu permitisse. — Mate
seu tio com esta faca. Faça-o sangrar. Faça isso por mim. Deixe-o sentir
cada grama de dor que senti, deixe-o sentir dez vezes. Faça-o implorar por
misericórdia, até mesmo pela morte. Faça isso se você me ama.
Amor. Uma palavra que estava com medo de usar, uma palavra que
ainda abria uma fenda em meu peito, uma que apenas Maddox poderia ser
capaz de fechar. Mal dormi a noite, debatendo se poderia, se deveria
sobrecarregar Maddox com essa escolha, mas era a única opção para curar
algumas das feridas que o sequestro havia aberto.

Não deixaria papai ou Amo matar outra figura paterna de


Maddox. Precisava que ele fizesse isso. Não havia lugar neste mundo para o
homem que cortou minha orelha e me tatuou. O homem que teria me
matado e até mesmo a Maddox, porque estava tão cego pela necessidade de
vingança que não conseguia parar, não importava o preço.
Maddox não tirou os olhos dos meus enquanto movia lentamente os
braços para frente. Eles estavam cortados onde as amarras ficavam e ele
flexionou os dedos como se estivessem rígidos pela posição estranha em
que foram forçados. Os segundos pareceram se arrastar em uma lentidão
excruciante até que ele finalmente tirou a faca da minha mão.

— Marci, — Amo rosnou, vindo em minha direção com sua própria


faca desembainhada, mas levantei minha palma e ele parou em seu
caminho. Sua confusão era palpável, mas como poderia explicar o que mal
entendia?

— Dê um passo para trás, — papai me ordenou.


Não fiz isso. Em vez disso, agarrei o pescoço de Maddox e o beijei
duramente antes de sussurrar contra seus lábios: — Faça-o sangrar pelo que
ele fez comigo. — Puxei meu brinco para lembrá-lo, então levantei meu
cabelo para revelar a tatuagem feia.

Maddox se inclinou para frente, pressionando um beijo quente na


tatuagem. — Você é verdadeiramente filha de seu pai, Branca de Neve, e
uma verdadeira rainha, se é que alguma vez existiu. E se é isso que preciso
fazer para provar meu amor e lealdade a você, então eu farei.

Meu coração se encheu de alívio. Recuei quando Maddox tropeçou


em seus pés, cambaleando ligeiramente pela tortura que sofreu nas mãos de
meu pai e meu irmão. Minhas próprias pernas pareciam instáveis enquanto
recuava. Seus lábios estavam rachados de desidratação, mas ele manteve a
cabeça erguida enquanto cambaleava em direção ao tio.

Papai agarrou meu braço, olhando nos meus olhos com


preocupação. — Confie em mim, — disse. — Maddox o fará sangrar por
mim.

Papai balançou a cabeça como se eu estivesse delirando. — E se ele o


libertar?

— Ele não vai, — disse e senti no fundo do meu coração. Maddox fez
sua escolha e fui eu. Seu tio havia perdido Maddox ao longo da estrada
porque escolheu um caminho que Maddox não podia seguir, não apenas por
causa de seu amor por mim, mas também porque ele era decente no fundo
de seu coração.
Virei-me para Earl mais uma vez com um sorriso duro. — Algumas
pessoas acham que as mulheres não podem ser cruéis. Acho que somos
apenas mais criativas quando se trata de crueldade. Desfrute da dor pelas
mãos de sua própria carne e sangue.

Pratiquei essas palavras várias vezes na noite passada até que soaram
realmente cruéis, como se fosse um negócio diário para mim, mesmo que
não fosse.

— Você pode ter todas as bocetas do mundo, filho. Não deixe a


prostituta brincar com você com sua boceta mágica.
Amo deu um salto para frente e enfiou o punho no rosto de Earl. Sua
cabeça voou para trás e por um momento fiquei preocupada que Amo
tivesse realmente quebrado o pescoço de Earl e bagunçado meu plano. Mas
Earl curvou-se para frente e balançou a cabeça vertiginosamente.

Ele lentamente arrastou seu olhar de volta para cima. — Ela está te
usando. Ela o manipulou desde o início para que você a ajudasse. Não
percebi logo, ou a teria mantido no meu quarto e fodido seus três buracos
até que soubesse seu lugar.
A mão de Maddox disparou para frente, cravando a lâmina no
abdômen de seu tio. Respirei fundo, com certeza ele o matou. Fiquei
dividida entre o alívio por tudo ter acabado e Maddox realmente ter matado
seu tio por mim, e a decepção porque o homem não tinha sofrido o
suficiente ainda. Era uma coisa horrível de se pensar, mas que não consegui
suprimir.

Os olhos de Earl se arregalaram grotescamente e ele soltou um


gemido sufocado. O rosto de Maddox estava a apenas alguns centímetros
do de seu tio e o brilho em seus olhos baniu a última pequena centelha de
dúvida em minha mente. Ele me vingaria e provaria seu amor por mim.

— Você nunca terá a chance de tocar em Marcella. E hoje farei você


se arrepender de cada segundo de dor que a fez sentir. Você vai implorar a
ela por perdão e chamá-la de rainha quando terminar com você.
Pelo canto do olho, vi Amo e papai trocarem olhares perplexos. Meu
peito inchou ainda mais.

Seu primeiro grito disparou pelas paredes. Minha pele se


arrepiou. Alguns meses atrás, não poderia ficar, mas meus próprios gritos de
dor não muito tempo atrás me deixaram entorpecida ao som. Eu ficaria até
o fim amargo e assistiria.

Cruzando os braços, inclinei-me contra a parede e coloquei meu


brinco de diamante de volta na minha orelha arruinada. Outro grito, ainda
mais alto do que o anterior, ecoou. Amo se inclinou ao meu lado, me
olhando como se me visse sob uma nova luz.
— Você mudou, — disse ele calmamente.

— Assim como você.

Ele assentiu. Papai olhou para nós, arrependimento passando por seu
rosto. Ele dedicou sua vida para nos proteger, mas esta vida não deixava
nada intocado. Era apenas uma questão de tempo antes de sermos
arrastados para a escuridão.
Capítulo 20

— Gray vai te odiar por isso, — Earl resmungou, com a respiração


entrecortada. Não disse nada, apenas observei a vida sumir dele enquanto o
sangue deixava seu corpo. Ele não mencionou mamãe. Eu mesmo teria que
contar a ela sobre sua morte. Devia isso a ela, mesmo que nunca falasse
comigo novamente. E Gray? Só podia esperar que ele estivesse longe. Ele
ainda era jovem. Tinha um futuro pela frente. Esperava que ele tentasse
encontrar algo em que fosse bom e não procurasse o próximo MC.

O peito de Earl subiu mais uma vez antes que afundasse em si


mesmo. Senti uma pontada no peito, uma estranha mistura de culpa e
melancolia.

Minha respiração estava superficial e rápida, ainda nada em


comparação com a minha pulsação. Earl jazia sem vida aos meus pés, seus
olhos fixos nos meus. Havia ódio, mas também decepção neles. Talvez
tenha imaginado os dois. Ele nunca foi um bom homem, e definitivamente
não foi um bom pai, ainda menos para Gray do que para mim. Ainda assim,
nunca pensei que o mataria. Ele foi minha orientação para a vingança. Ele
alimentou meu ódio sempre que ameaçou se extinguir. Ele foi meu ídolo
quando se tratava de mulheres, escola e todas as outras opções de
vida. Muitas delas tinham sido uma merda, mas duvidava que minhas
escolhas teriam sido melhores sozinho. Com o sangue do meu velho
correndo em minhas veias, uma vida bagunçada sempre foi meu
destino. Apaixonar-me por uma princesa da máfia era a cereja do bolo.

Não era por isso que estávamos aqui agora, por que matei a única
figura paterna que conhecia desde que era um garotinho. Eu não queria ver
o lado ruim dele, e eu mesmo tinha lado ruim o suficiente, então nunca
ousei lançar meu julgamento sobre outro ser humano. No entanto, Earl tinha
ido longe demais. Ele cruzou uma barreira que sempre existiu, uma barreira
que o levou e ao nosso clube por uma estrada de onde não havia como
voltar. Devíamos ter percebido quando mais e mais membros se tornaram
nômades, muitos homens bons que o clube poderia ter usado durante as
votações.

Eu era culpado por sequestrar uma mulher inocente e até por permitir
que Earl a trancasse em um canil e a tatuasse. Tudo isso me fazia sentir
culpado pra caralho e um grande idiota. Devíamos ter focado em Vitiello e
seus homens. Deveríamos tê-lo atacado diretamente, ou pelo menos ter
mantido Marcella a salvo da dor. Que Earl tinha começado a torturá-la, que
queria continuar fazendo isso, não podia aceitar. Vi a expressão em seus
olhos. Estava tão perdido para ele quanto ele para mim. Ele queria me matar
e teria feito isso se Vitiello não tivesse destruído nosso clube. Ele
provavelmente teria matado Marcella primeiro e me feito assistir. Eu era um
traidor aos olhos dele, quando ele traiu tudo o que sempre quisemos que o
clube representasse. Honra e um estilo de vida livre. Uma casa para todos
aqueles que não se enquadravam nos limites da sociedade. Fraternidade,
amizade. Perdemos tudo isso ao longo do caminho e o que restou foi
amargura e fome de vingança e dinheiro.

Ainda assim, a morte de Earl foi misericordiosa em comparação com


o fim que Luca teria lhe dado.

Finalmente afastei meus olhos de Earl. Meus dedos apertaram em


torno do cabo da faca e minha pele estava pegajosa de suor e sangue. Parte
era meu, mas a maior parte era de Earl. Encontrei o olhar de Marcella. Não
tinha certeza de quanto da tortura ela havia assistido. Ela estava pálida
encostada na parede, seus braços se abraçando e os nós dos dedos brancos
pelo aperto que tinham em seus cotovelos. Ela engoliu em seco, seus olhos
procurando os meus antes de se endireitar e limpar a garganta. — Obrigada,
— ela disse simplesmente.
Balancei a cabeça, sem palavras.

— A faca — disse Luca com a voz de um chicote. Ele provavelmente


estava chateado por Earl ter sofrido apenas por um breve período. Ele sem
dúvida faria com que eu sofresse o dobro para compensar isso.

Abri meus dedos e deixei a faca cair no chão com um estrondo. Esta
podia ser minha última chance de enfiar uma faca no peito de Luca, mas a
fome de vingança foi substituída pela minha necessidade de garantir o bem-
estar de Marcella. Depois que estivesse morto, e não tinha absolutamente
nenhuma dúvida de que seu pai me mataria em breve, Marcella precisaria
de toda a sua família para superar os eventos do sequestro. Mesmo que ela
tivesse dito a Earl que suas ações, nossas ações, não deixaram cicatrizes,
ouvi o tremor em sua voz, vi o breve lampejo de dor em seus olhos.

Amo avançou e pegou a faca, seus olhos nunca me deixando. O ódio


fervilhava neles. Teria sentido o mesmo se estivesse no lugar dele.
— É hora de ir agora, Marcella, — disse Luca com firmeza. Ele
acenou para seu irmão, que assistia a tudo com um olhar calculista.

Ela assentiu, mas em vez de sair, se dirigiu até ele. Ele abaixou a
cabeça para que ela pudesse sussurrar em seu ouvido. Ele balançou a cabeça
a princípio, mas ela agarrou seu braço, seus dedos ficando brancos
novamente, e sussurrou um pouco mais. Eventualmente, ele se afastou e
deu um aceno de cabeça afiado, mas não parecia feliz com o que quer que
tenha concordado.

Seus olhos dispararam para mim, e senti uma porra de pontada no


coração, sabendo que esta seria a última vez que a veria. Queria mais tempo
com ela. Queria outro beijo, outro cheiro de seu perfume. Precisava de mais
segundos, minutos, horas, dias com ela, mas mesmo assim, nunca seria o
suficiente. Tinha a sensação de que mesmo uma vida inteira com Marcella
não saciaria meu desejo por ela. Era uma fome insaciável, uma necessidade
ardente. Não tive uma vida inteira, nem mesmo alguns segundos.

Ela se virou e saiu da sala. A pesada porta de aço se fechou com um


estrondo angustiante.

Earl estava morto. Cody estava praticamente morto, e Smith uma


bagunça simplória. Acho que seria o próximo. Talvez Marcella tenha pedido
a seu pai para me dar uma morte rápida, um fio de misericórdia. Talvez ele
tenha concordado. Talvez ela tenha confiado em sua promessa. Mas ela não
estava aqui agora, e sabia o tipo de ódio que Luca devia sentir por mim. Era
um com o qual estava dolorosamente familiarizado. E desisti do meu por
Marcella.

Sentei na cadeira, esperando que eles fizessem o que


quisessem. Encontrei o olhar de Luca. Não tinha medo dele e morreria de
cabeça erguida. Amo balançou a cabeça e cambaleou na minha direção. Ele
me mataria com a mesma faca que usei em Earl? Seria um final adequado.

Amo agarrou meu braço e tive que resistir à vontade de acertar meu
punho em seu rosto. Esses eram meus inimigos. Meus sentimentos por
Marcella não haviam mudado isso.

— Você tem sorte que minha irmã tenha um coração, — Amo rosnou
enquanto me colocava de pé. — Se dependesse de mim, você sufocaria em
seu sangue. — Ele me empurrou em direção à porta onde Luca estava
esperando. Meu corpo se arrepiou com sua proximidade. Duas décadas de
ódio explodiram.

— Por causa de Marcella, você viverá, mesmo que não mereça, —


Luca rosnou.

Sorri friamente. — Idem.

Seus olhos brilharam de fúria. Ele queria me matar. Podia ver o desejo
queimando-o. Mas a influência de Marcella era muito forte. Esta mulher
tinha mais poder em suas mãos elegantes do que imaginava.

— Leve-o para a outra cela, Growl, — ele ordenou para um cara


grande com tatuagens por toda parte. O cara parecia incerto de ter ouvido
seu chefe direito, mas não protestou, apenas agarrou meu braço e me levou
pelo corredor escuro. Ele destrancou outra porta de aço e me empurrou para
dentro. Minhas pernas quase cederam, mas me segurei contra a
parede. Growl me olhou por mais um segundo.

— Belas tatuagens, — disse secamente.

Ele acenou com a cabeça, mas não se dignou a responder. Sem uma
palavra, ele fechou a porta. Sentei no chão de pedra fria, de repente
sentindo cada corte e hematoma e cada osso quebrado em meu
corpo. Quando esperava a morte, nada importava. Agora me perguntava se
seria deixado para apodrecer neste lugar. Talvez a morte fosse mais gentil
do que ficar trancado no subterrâneo com apenas a memória de Marcella
enquanto ela encontrava um novo cara, provavelmente algum idiota da
Famiglia, para se casar. Por fim, fechei os olhos, esperando a morte ou
qualquer outra coisa que Vitiello reservasse para mim.

Quando a porta de aço se fechou atrás das minhas costas com um


estrondo arrepiante, inclinei-me contra ela e respirei estremecendo. —
Marcella? — Matteo perguntou. Ele deveria me levar para casa.

— Me dê um segundo.

Fechei meus olhos. Maddox realmente matou seu tio. Esperava que
ele não se sentisse culpado por isso. Ele deveria saber que seu tio era um
homem morto no segundo em que minha família o capturou. Papai teria
tornado seu fim muito mais doloroso.

— Assistir algo assim leva algum tempo para se acostumar, — disse


Matteo suavemente.

Abri meus olhos. — Não acho que quero me acostumar com algo
assim.
Matteo sorriu. — Você não precisa. Depois de hoje, pode deixar tudo
isso para trás.

— Você realmente acha que posso?

Matteo encolheu os ombros. — Não se você não tentar. Algumas


coisas sempre ficam com você. Você só aprende a ignorá-las. Vamos te
levar para casa agora. Aria provavelmente já está muito preocupada. Não
quero que ela chute minha bunda.

Não ri, apesar do humor em sua voz. — Eu vou ficar. Vou esperar que
papai e Amo terminem. Quero estar aqui quando eles saírem. Eles estão
fazendo isso por mim. Devo isso a eles, — disse com firmeza.

— Torturar motociclistas não é um grande sacrifício para eles,


acredite em mim. Vá para casa e pense em outra coisa. Que hoje seja um
novo começo para você, — disse Matteo suplicante.
Era um novo começo, mas não da maneira que Matteo sugeria. —
Vou ficar.

Matteo suspirou. — Você avisa sua mãe.

Peguei meu novo telefone e lhe enviei um texto rápido antes de seguir
Matteo em direção a uma mesa e cadeiras ao lado de uma pequena
cozinha. Ele se sentou, mas estava muito agitada.

Andei de um lado para o outro pelo armazém, meus saltos clicando no


enorme edifício. Dei uma olhada em Matteo. — Por que você não está lá,
ajudando papai e Amo a torturar e matar os dois motoqueiros?

— Dois motoqueiros não são suficientes para todos nós,


especialmente porque você cuidou dos dois Whites que realmente
queríamos colocar nossas mãos.
— Você quer Maddox morto.

— Todos nós o queremos morto e ele nos quer mortos.

— Maddox matou seu tio por mim, e papai prometeu poupar a vida de
Maddox.

Matteo riu, balançando a cabeça. — Esse não era o resultado que eu


esperava.

Não era o resultado que ele queria, foi o que ele realmente quis
dizer. Não esperava que seu ódio evaporasse, mas queria que houvesse uma
chance para que eventualmente desaparecesse. — Para onde Growl levou
Maddox?

— Nem pense em ir até lá agora. Converse com seu pai e sua mãe e
durma ponderando o que você acha que quer agora. Tudo bem?

Concordei. Matteo estava certo. Sentei ao lado dele em uma


cadeira. Alguns guardas cruzaram o armazém e me lançaram olhares
curiosos. Balancei a cabeça em uma saudação a eles.

Duas horas se passaram antes que papai e Amo finalmente


aparecessem. Eles haviam mudado de roupa, mas a escuridão ainda se
apegava a eles, especialmente papai parecia exausto. Ele era incrivelmente
forte, mas sua culpa o consumia. Podia ver isso a cada segundo que estava
com ele.

Ele olhou para Matteo. — O que ela ainda está fazendo aqui?

— Me recusei a sair, — falei antes que ele pudesse repreender


Matteo.

— Você deveria esquecer tudo isso, Marci. Viva a vida que costumava
ter. Vou garantir que nada aconteça com você novamente. Vou triplicar sua
segurança e matar todos os homens que representarem perigo para você.

Sorri tristemente. — Este mundo significa perigo. Você não pode me


proteger disso. — Amava que ele ainda achasse que poderia.

Ele balançou sua cabeça. — Isso nunca deveria ter acontecido.

Parecia que ele queria se torturar até a morte. A culpa não era uma
emoção com a qual ele estava muito familiarizado. Isso provavelmente
tornava mais difícil lidar com ela. Fui até ele e abracei sua cintura com
força, minha bochecha pressionada contra seu peito.

— Sou sua filha, pai, — sussurrei com a voz rouca. — E se isso


significa que terei que sangrar por nossa família, então é o que farei. Farei
isso com prazer.

— Você pagou pelos meus pecados, — ele murmurou, e tive que


olhar para cima. Seus olhos estavam tão cheios de escuridão que nem
mesmo a luz da mamãe seria capaz de penetrá-los.

— O que é o pecado senão um fantasma criado pelo homem?

— Muito inteligente e bonita para este mundo.

— Este mundo não me assusta, pai. Sou grata por sua proteção, mas
no final das contas a liberdade sempre vem com certo risco, e prefiro a
liberdade de andar por aí e fazer coisas que gosto do que ficar trancada em
uma mansão. Não espero que você garanta minha segurança, mas te amo
por tentar.

Papai tocou minha bochecha. — Poderia mandá-la para uma


universidade na Inglaterra, onde você estaria mais segura.

— Pai, não importa aonde eu vá, sempre serei uma Vitiello e não
quero ser outra pessoa. — Fiz uma pausa, sabendo que o que diria a seguir
seria uma pílula ainda mais difícil de engolir para papai.

— Quero fazer parte do negócio.


Papai ficou tenso, já começando a balançar a cabeça. Esperava essa
reação e, no passado, teria me feito recuar, mas passei por um inferno.

Me afastei dele. Abraçá-lo como uma criança não aumentaria minhas


chances.

— Não diga que quer me proteger deste lado do nosso mundo,


pai. Mereço colher as recompensas do meu sofrimento.

Papai olhou para Amo, que estava ouvindo com a testa franzida, ainda
limpando as mãos com uma toalha. Amo encontrou meu olhar. Amo era
alfa. Ele nasceu para ser Capo. Ele carregava uma autoridade natural. Ele
seria um bom Capo um dia. E nunca tiraria isso dele. Pude ver que ele e
papai achavam que estava pedindo para me tornar chefe da Família, a
primeira mulher a liderar uma família ítalo-americana. Mas, como papai
havia dito, eu era inteligente e sabia como nossos homens operavam. Eles
nunca me aceitariam, não importa o que fizesse. Poderia governar com a
maior brutalidade e ainda assim eles nunca me admirariam e amariam como
faziam com papai e um dia Amo.

Minha família era mais importante do que ser a número um.

— Você é mais velha, — Amo disse calmamente. — É seu direito de


nascença. — Podia ver o quanto lhe custava me dar isso, e não podia
acreditar no que ele estava oferecendo, que estava realmente disposto a se
afastar da posição para a qual foi preparado desde o nascimento.

Engoli em seco, vencida por uma emoção indesejável. Andei na sua


direção e o abracei, meu rosto pressionado contra seu peito, sentindo seu
coração bater contra minha bochecha.

— Ninguém merece mais do que você, — ele murmurou.


— Você merece, — resmunguei. — E não tirarei isso de você. Nunca.

Me afastei e encarei Amo. Escuridão e raiva ainda fervilhavam em


seus olhos cinzentos e me preocupei que elas nunca sumiriam.

Ele assentiu, obviamente lutando consigo mesmo.


Me virei para papai, que parecia honestamente confuso. — Ainda não
sei que lugar quero na Famiglia. Por enquanto, quero liderar um grupo de
executores que caçarão todos os membros do Tartarus MC em nosso
território que simpatizem com Earl White, e se Remo Falcone permitir, até
mesmo além de nossas fronteiras. Eles poderão morrer ou cair de joelhos e
nos jurar lealdade. Depois de cuidar disso, poderia lidar com a logística ou
negociar novas cooperações.

A admiração cintilou nos olhos de papai, mas, ao mesmo tempo, sua


hesitação permaneceu. O que diria a seguir não tornaria as coisas mais
fáceis para ele.

— E quero Maddox ao meu lado.

A expressão de papai endureceu e Amo zombou. — Ele não é um de


nós.

— Poupar a vida dele é uma coisa, o que ainda considero um erro,


mas permitir que ele trabalhe para nós e esteja perto de você? Isso está fora
de questão, Marci. Nunca permitirei isso.

Endireitei meus ombros, preparada para a batalha. — Ele poderia ser


um de nós. Ele me salvou.
— Depois que te sequestrou, — Amo rosnou. — Essas merdas de MC
não são leais.

— Ele é leal a mim.


Papai ficou carrancudo. — Marci, não confunda a fuga do navio que
está afundando com outra coisa senão o que é: medo de perder a vida.

Estreitei meus olhos. — Não sou uma criança e não sou uma
tola. Maddox não tem medo da morte. Você estava perto de encontrar o
clube deles quando ele te ligou?

Papai e Amo trocaram um olhar. — Teríamos encontrado


eventualmente, — papai disse cuidadosamente.

— Teria sido tarde demais. Earl gostou de me torturar. Ele queria me


usar como um troféu.

Podia ver a batalha nos olhos de papai. — Sua mãe me disse que você
não foi... — Ele engoliu em seco, dividido entre a fúria e o desespero.

— Não fui estuprada, não, pai. Maddox me manteve segura. Ele


arriscou sua vida para me salvar. Ele matou seu tio para me vingar.
— Então por que ele fez isso? — Amo perguntou.

— Porque ele me ama.

Amo riu como se eu tivesse enlouquecido, mas papai apenas me


olhou com preocupação. — Como você sabe?
— Ele me disse, e posso ver em seus olhos. Simplesmente sei disso
no fundo. — Papai desviou o olhar. — Deixe-o provar a si mesmo, para
você, para mim, para nossa família.
— Não vou permitir que ele se aproxime de você, de sua mãe ou de
Valerio sem supervisão.

Toquei o braço de papai. — Confie em mim, pai.

— Confio em você, Marci, mas depois do que ele fez, não posso me
imaginar confiando naquele homem. E duvido que sua mãe iria querer seu
sequestrador perto de você ou de nossa família.

— Conversei com mamãe sobre Maddox. Ela sabe como o amor pode
mudar tudo. Ele te mudou.

Amo fez uma careta como se toda a discussão de amor o deixasse


enjoado. — Se o amor te transforma em um idiota, prefiro não me
apaixonar. É uma perda de tempo e energia. Somos inimigos, Marci. Isso
não vai mudar.

Papai o ignorou. Ele só tinha olhos para mim e parecia quase


assustado ao perguntar: — Quando você fala sobre amor, está se referindo
aos possíveis sentimentos dele por você.

— Seus sentimentos por mim, sim, e meus sentimentos por ele.

Papai soltou um suspiro áspero. — O que você está dizendo,


Marci? Que o ama?
Engoli em seco. — Eu acho que sim.

Amo praguejou em italiano e papai balançou a cabeça, parecendo


desesperado. — Achar não é suficiente neste caso. Ele é a razão pela qual
você tem essa tatuagem horrível. Ele é a razão pela qual você perdeu sua
orelha, e você me diz que gosta daquele bastardo?

— Maddox não é a razão. Ele queria impedir seu tio.


— Mas não fez isso.

— Ele não podia.


Papai balançou a cabeça. — Ele é o inimigo.

— Ele não tem que ser.

— Ele não pode fazer parte do nosso mundo. Nossos homens nunca o
aceitariam.
— Sei que será uma batalha difícil, mas estou disposta a lutar.

— E Maddox, você realmente acha que ele quer trabalhar para mim,
seguir minhas ordens? — Papai apontou para o corte na lateral da cabeça e
depois na perna. — Ele me apunhalou. Ele queria me matar. Provavelmente
ainda quer matar a mim e ao seu irmão.

— Mas ele fez isso?

Papai riu sombriamente. — Você lhe perguntou se ele queria fazer


parte do nosso mundo?

Engoli em seco, tentando aceitar o fato de que Maddox atacou


papai. Talvez seu desejo de vingança ainda fosse muito forte. Mas o que
seria de nós então? Eu não deixaria minha família. — Tenho que falar com
ele.

— Podemos lhe dar uma morte rápida se for o que você quiser depois
da conversa, — disse Amo.
Lhe lancei um olhar duro. — Isso não é engraçado.

— Não, não é, — Amo concordou. — É uma merda que você ache


que ama nosso inimigo.
Papai envolveu um braço a minha volta. — Espere um ou dois dias
antes de falar com ele. Dê a si mesma tempo para esquecer o
sequestro. Fale com sua mãe de novo.

— Tudo bem, — disse. Papai estava certo. Precisava de uma cabeça


limpa para minha conversa com Maddox. Muito estava em jogo. Não
apenas minha felicidade e sua vida, mas também o bem-estar de minha
família. Não podia ser egoísta com isso.

Papai e Amo trocaram um olhar com Matteo. Não foi difícil ler suas
expressões. Todos eles esperavam que mudasse de ideia e os deixasse matar
Maddox.

— Se o deixarmos viver, talvez até soltá-lo, ele pode tentar matar seu
pai e seu irmão novamente. Você realmente quer arriscar? — Matteo
perguntou baixinho enquanto íamos para o carro do lado de fora.
Capítulo 21

Estava escuro na sala sem janelas para a qual me arrastaram depois


que matei meu tio. O fedor de urina e sangue culminou em um odor
avassalador de desespero. Me perguntei quantos morreram dentro dessas
paredes, rasgados pelas mãos hábeis de Vitiello. Agora eram dois Vitiellos,
e não sabia qual era pior, o pai ou o filho.

Minhas mãos ainda estavam pegajosas com o sangue do meu tio. O


tinha matado a pedido de Marcella sem hesitação. Faria isso de novo,
mesmo que me trouxesse para cá para esta prisão sem esperança e não para
os braços da mulher que não conseguia parar de pensar. Talvez devesse
saber que ela não me perdoaria tão facilmente. Mesmo matar meu tio não
mudava o fato de que a sequestrei e fui incapaz de protegê-la da crueldade
do meu tio. Ela carregaria as marcas dos meus pecados por toda a vida.

Perdi a noção do tempo, não que isso importasse. Muitas vezes me


peguei desejando a morte.

A porta se abriu com um rangido e a luz do corredor atingiu meu


rosto, cegando-me momentaneamente. Apertei os olhos contra a claridade
para ver quem veio me ver. Marcella para se despedir antes que o pai
acabasse com isso? Mas o corpo que tomou forma era gigantesco demais
para pertencer a qualquer pessoa, exceto ao próprio Luca Vitiello. Demorou
vários segundos antes de ele entrar em foco.

Sua expressão era de aço puro, seus olhos as piscinas impiedosas de


que lembrava há muitos anos. Ele não disse nada. Talvez esperasse me ver
implorar por misericórdia, mas seria uma perda de tempo. Ele não concedia
misericórdia e eu cortaria meu próprio pau antes de lhe pedir isso. Talvez
tenha matado meu tio e ajudado Vitiello a salvar Marcella, mas com certeza
não fiz isso por ele. Tudo o que fiz foi pela Branca de Neve.
Ainda o queria morto. Talvez sempre fosse assim.

— Está na hora? — Resmunguei. Minha garganta coçando por tantas


horas sem beber.

O rosto de Luca nem mesmo se contraiu. Ele provavelmente estava


imaginando todas as maneiras como me desmembraria e me torturaria. Ele
odiava a porra das minhas entranhas, pelo que fiz com Marcella, e
concordava de todo o coração com ele nesse ponto, mas também por quem
eu era, um motoqueiro, o filho do meu pai, o homem que tocou em sua
filha. Se Marcella lhe contasse que tirei sua preciosa virgindade, ele
provavelmente me mataria apenas por essa transgressão.

Porra, morrer com essa memória em minha mente poderia valer a


pena morrer uma e outra vez.

— Você sequestrou minha filha, arriscou seu bem-estar e segurança,


apenas para salvá-la semanas depois. Me pergunto por que fez isso? Talvez
tenha percebido que a Famiglia e eu a salvaríamos eventualmente e viu isso
como sua única chance de salvar a porra da sua pele.
Me levantei, mas me arrependi quando uma onda de tontura me
dominou, então me sentei no chão. Vitiello me olhou sem emoção. Eu era
menos que sujeira aos seus olhos.

— A mesma razão pela qual não enfiei minha faca em seu olho. Por
Marcella.

— Porque se sentiu culpado? — Ele zombou.

Me sentia culpado, mas isso teria me impulsionado a destruir o


clube? — A culpa é apenas uma pequena parte disso.

— Então por que? — Luca rosnou.

— Porque eu a amo. — Ri, percebendo o absurdo da situação. —


Amo a filha do homem que destruiu minha vida.

Luca acenou para mim. — Muitas pessoas perdem alguém. Isso faz
parte do nosso mundo.

— Tenho certeza que muitas crianças assistem as entranhas de seus


pais sendo espalhadas como a porra de confete, — murmurei. — O que
sempre me perguntei desde que você massacrou meu clube é se me notou
naquele dia?

Luca me encarou como se tivesse duas cabeças. — Do que diabos


você está falando?

Me levantei, mesmo que me sentisse como borracha. Não podia ter


essa conversa sentado aos pés de Vitiello como um cachorro. — Estou
perguntando se você notou aquele menino de cinco anos apavorado
encolhido debaixo do sofá enquanto você mutilava as pessoas que ele
considerava sua família?
O rosto de Luca permaneceu a máscara impassível e severa que
conhecia. Marcella também tinha uma cara de pôquer arrepiante, mas não
era nada em comparação com a de seu velho. — Não vi um menino naquele
dia.

— Isso mudaria as coisas ou você teria me matado ao lado de meu pai


e seus homens?

— Não mato crianças ou mulheres inocentes, — disse Vitiello.

Era difícil acreditar que ele pudesse dispensar alguém. A história de


Marcella sobre seu pai simplesmente não se encaixava na imagem do
homem que eu tinha.

— Então teria girado nos calcanhares e partido se soubesse que estava


lá?

Era uma pergunta retórica. A expressão nos olhos de Vitiello não era a
de um homem capaz de dar as costas ao derramamento de sangue. Ele tinha
sede de violência e fúria. Nada, nem mesmo um garotinho poderia impedi-
lo.

Seu olhar penetrante me deu a resposta que esperava. — O que teria


feito comigo então?

— Te trancado no meu carro para que você não precisasse assistir em


um mundo ideal.

— Seu tipo de mundo ideal inclui trancar um menino em seu carro


para que pudesse massacrar seu pai e seus homens?

— Duvido que seu mundo ideal seja cheio de sol e arco-íris. — Ele
estreitou os olhos. — E você sequestrou uma garota inocente, então
certamente não tem o direito de me julgar. Meu único juiz será Deus.
— Você acredita em Deus?

Ele não respondeu.

— Você está se esquecendo das autoridades legais. Eles podem um


dia julgá-lo também.

— Improvável. Mas esse não é o ponto. Você sequestrou minha filha.

— O que nunca teria acontecido se você não tivesse massacrado meu


pai e seu clube!

Respirava com dificuldade, me perdendo na raiva do passado


novamente. Porra. Ainda queria matá-lo.

— Você merece a morte e não quero nada mais do que matá-lo, mas
não posso porque amo sua filha!

Luca deu um passo à frente, olhando feio. — Você merece a morte


tanto quanto eu, e quero matá-lo mais do que tudo pelo que deixou
acontecer com Marcella, mas não posso porque amo minha filha.

Olhamos um para o outro, presos por nosso ódio e controlados por


nosso amor por uma garota.

— E agora, aqui estamos nós, — disse ironicamente. — Você poderia


mandar um de seus homens me matar e encenar uma cena de suicídio. Diga
a Marcella que a culpa por ter feito meus irmãos do clube serem mortos me
consumiu.

— Essa é uma opção, — disse Luca. — Você está se sentindo culpado


por isso?

— A maioria deles deveria morrer para que Marcella estivesse segura.


Luca não disse nada por um longo tempo. Talvez ele realmente
estivesse considerando o plano de suicídio. — Minha filha acha que você é
leal a ela.

— Eu sou, —disse. — Faria qualquer coisa por ela.

Luca sorriu sombriamente. — Acho que ela vai testar o nosso amor
por ela. Não sei se devo esperar que você falhe ou não. De qualquer forma,
Marcella enfrentará obstáculos que nunca quis para ela. — Ele inclinou a
cabeça em consideração. — Não preciso dizer o que farei se achar que você
está brincando com ela.

— Sacrificaria minha vida por ela. Nunca a machucaria.

— Se é esse o caso, você deve ir embora e nunca mais voltar. Vá para


o Texas e cavalgue para a porra do pôr do sol com seu irmão, mas permita
que Marcella tenha o futuro que merece e sempre planejou para si mesma
antes de você destruir tudo. — Ele jogou um livro para mim que dizia diário
do futuro. — Veja a primeira página.

Abri o livro e olhei para o papel. Era uma espécie de diário com
marcações e Marcella havia listado seu plano para os próximos cinco anos.
Conseguir um diploma aos vinte e dois, casar no mesmo ano, criar planos
de marketing para as empresas da Famiglia, primeiro filho aos vinte e
cinco...

— A vida não pode ser planejada assim, — murmurei, mas ver as


expectativas de Marcella para seu futuro me atingiu. Seus planos não
estavam de acordo com minhas escolhas de vida até agora. — Tem certeza
de que essas não são as coisas que você queria para ela?

— Ela escreveu isso. Você realmente acha que podem ficar


juntos? Marcella é educada e socialmente hábil. Ela prospera em eventos
sociais. Sempre teve o cuidado de proteger sua imagem pública. Se
souberem que está com você, tudo o que ela construiu para si vai
desmoronar. Você realmente quer arruiná-la?

Não podia acreditar que ele estava me jogando o cartão de culpa e não
podia acreditar que isso estava realmente causando um impacto sobre
mim. — Você teria deixado a mulher que ama ir?

Luca sorriu sombriamente. — Sou egoísta. Talvez você queira ser


melhor do que eu.

— Você não está fazendo isso por ela.

Ele me agarrou pela garganta e em meu estado de fraqueza, não pude


lutar contra ele. Minhas costas colidiram com a parede. Seus olhos ardiam
de pura fúria. — Não me diga que não estou fazendo isso por
Marcella. Morreria por ela. Só quero o melhor para ela e isso com certeza
não é você. — Ele me soltou e deu um passo para trás, respirando com
dificuldade.

Esfreguei minha garganta. — Marcella não é uma criança. Ela pode


fazer suas próprias escolhas de vida.

Por um momento, tive certeza de que Luca me mataria na hora, mas


então ele girou nos calcanhares e saiu. Não fiquei surpreso que ele não
aprovasse minha relação com Marcella. Éramos de mundos diferentes, não
havia como negar. Não queria nada mais do que estar com ela, mas não
tinha certeza de como nossos mundos poderiam se fundir.
Poucas horas depois, Marcella entrou, seguida por seu irmão, que me
olhou como se quisesse quebrar minha cara. O sentimento era mútuo. Ela
parecia a garota de antes do sequestro. Saltos altos, calça de couro justa,
blusa de seda e um brinco de diamante sobre o lóbulo da orelha que faltava,
que provavelmente custava mais do que a minha Harley.

Me perguntei por que ela estava aqui. Sua expressão era de puro
controle, a bela perfeição que me provocava e atormentava enquanto me
sentava em meu próprio fedor, esperando o fim.

Marcella se voltou para Amo. — Quero falar com Maddox sozinha.

— Devo ficar de olho em você.

— Não seja ridículo, Amo. Maddox matou seu tio e irmãos


motoqueiros por mim. Ele não vai me machucar.

Amo me lançou um olhar que deixou perfeitamente claro o que


aconteceria se a tocasse.

— Você pode pegar algo para Maddox beber e comer?

Minha última refeição?


Amo deu um aceno conciso e saiu. Marcella fechou a porta atrás dele
antes de se virar totalmente para mim.

Me levantei, tentando esconder o fato de que estava desidratado e


morrendo de fome. Não queria que ela se lembrasse de mim como um
fraco.

— Isso é um adeus? — Perguntei.

— Meu pai não confia em você. Ele não acha que você é leal.
Aproximei-me, cada passo enviando uma pontada pelo meu
corpo. Estava quase certo de que tinha vários ossos quebrados que
precisavam de tratamento. — Não provei isso quando traí o clube por você?

Teria dado qualquer coisa por esta mulher, para provar seus lábios,
para ouvir uma declaração de amor desses lábios vermelhos.
— Achei que sim, mas então você tentou matar meu pai. Vi a facada
na perna e o corte na cabeça que você errou.

— Errei? — Ecoei, então ri. — Não errei nada, Branca de


Neve. Decidi não matá-lo porque não podia fazer isso com você, e foi
exatamente isso que disse a ele. Suponho que ele não mencionou esse
detalhe?

Ela estreitou os olhos, pensativa, mas não disse nada, ainda não estava
disposta a esfaquear o pai pelas costas. — Você desistiu da vingança por
mim?
— Desisti. — Mas depois da minha conversa com Luca hoje, gostaria
de ter continuado com ela.

— E na próxima vez que tiver a chance de esfaquear meu pai? O que


escolherá então?

Queria matá-lo, sem dúvida, mas continuar com isso? Ri. — Acho
que você não entendeu. Há apenas uma escolha, e essa é você. A menos que
queira que mate o seu velho, o que provavelmente só acontecerá em meus
sonhos, não tentarei matá-lo novamente. Não tenho certeza se ele pode
dizer o mesmo.

— Então você quer matá-lo e ele quer te matar, mas os dois não o
farão por mim.
— Mais poderosa do que qualquer rainha que conheço.

Marcella suspirou e tocou os cotovelos com dedos recém-


tratados. Porra. A queria em meus braços. Era fisicamente doloroso tê-la tão
perto e não tocá-la. — O que você quer, Maddox?

— Você.

— Mas venho com bagagem. Sou uma Vitiello. Sempre farei parte da
minha família e até mesmo entrarei no negócio. Se me quiser, terá que
descobrir uma maneira de se tornar parte deles também.

Ri, não pude evitar. — Olha, sou totalmente a favor de sonhar e


estabelecer metas altas, mas seu velho nunca me aceitará como parte do
negócio. — Fiz uma pausa, percebendo o que mais ela havia dito. — Você
me quer como parte da sua família?
— Minha família é parte de mim, então se você me ama, terá que
tentar amá-los também.

Balancei a cabeça, afundando contra a parede. — Só recentemente


desisti da vingança por você. Passar de odiar as entranhas de seu pai para
amá-lo é um salto distante que pode levar várias vidas. Mesmo que seja ágil
como um, não sou um gato.

Marcella revirou os olhos e se aproximou até ficar bem na minha


frente. Não tinha certeza de como ela aguentava o fedor, mas estava feliz
por sua proximidade. — O que meu pai fez com você quando criança foi
horrível, e entendo seu ódio. O perdão leva tempo. Só estou pedindo que
tente superar sua raiva.

Não tinha certeza se era uma opção, tanto para Luca quanto para
mim. — E você? Quanto tempo vai levar para você me perdoar?
— Já te perdoei, — ela disse calmamente.

— Você perdoou?
— Mas não confio totalmente em você ainda. Não posso, não depois
do que aconteceu.

— Se você não confia em mim, seu pai definitivamente não confiará.


— Sorri ironicamente. — Então, isso é um adeus, afinal.

— Não, — disse ela com firmeza. Ela olhou para mim, fixando-me
com aqueles olhos azuis que me assombravam. Olhos que me fizeram
querer acreditar no impossível.

— Não disse a ele. Isso é entre você e eu. Quero você na minha
vida. Agora cabe a você decidir se quer isso também.

Não queria perdê-la. — Perdoar seu pai é uma tortura, — murmurei e


o rosto de Marcella se contraiu de decepção. — Mas sofrerei de bom grado
por você. Vou provar minha lealdade a você um milhão de vezes, se for
preciso, Branca de Neve. Vou ganhar sua confiança. Vou sangrar por
você. Matar por você. Farei qualquer coisa até que confie em mim
totalmente.

— A confiança absoluta é uma coisa rara.

Não queria nada mais do que beijá-la, mas só podia imaginar o quão
vil parecia.

— O que temos também é raro.

— Para ganhar minha confiança, você terá que fazer as pazes com
meu pai, com minha família. Terá que deixar de lado sua fome de
vingança. Precisa estar do lado do meu pai porque é do lado que estou, e
isso não vai mudar. Você pode realmente fazer isso?
— Por você, sim. — Estava disposto a tentar. Não tinha certeza se
teria sucesso.

Amo voltou, olhando-nos criticamente. Ele realmente carregava uma


bandeja com comida e água, embora desconfiasse do conteúdo. — É hora
de ir para casa, — disse ele.
Marcella acenou com a cabeça lentamente, mas não se moveu. —
Você parece uma garota de um milhão de dólares, — murmurei.

— Mais do que você pode pagar, — Amo rosnou.

— Amo, — Marcella sibilou antes de se virar para mim


novamente. — Tome a decisão certa.

Ela se virou, cada movimento cheio de elegância, e saiu. Amo


balançou a cabeça para mim antes que também saísse e batesse a porta.

— Se eu soubesse qual é.
Capítulo 22

Outro dia se passou, em que alguém me trouxe comida e


água. Apesar da minha preocupação de que cuspissem na comida, estava
com muita sede e fome para ser exigente. Meus pensamentos estavam cada
vez mais confusos.

Quando Luca abriu a porta outra vez, sua expressão não revelou
nada. — E agora? — Perguntei.

— Não confio em você. Mas confio em minha filha, e ela quer sua
liberdade.

Me animei. Não podia acreditar que Marcella tinha realmente


convencido seu pai. — Devo dizer que estou surpreso.

A boca de Luca se apertou. — Ainda acredito que você merece a


morte pelo que fez, mas Marcella sofreu e a decisão é dela.

Levantei. — Você realmente vai me deixar ir? Como isso deveria


funcionar? E quanto aos seus soldados, eles não ficarão chateados por você
liberar o inimigo deles?
— Se você tivesse matado um dos meus soldados durante a luta, teria
te matado, não importa o que Marcella dissesse, mas não o fez. Você até
matou outro motoqueiro. Meus homens querem a Famiglia forte e se disser
que tê-lo do nosso lado nos tornará mais fortes, eles acabarão se
acostumando com você.

— Eu duvido, — murmurei. As brigas entre nosso MC e a Famiglia


estavam cada vez mais feias nos últimos anos. Havia muito sangue ruim
entre nós. Levaria anos para superar isso, se é que aconteceria.

Luca estreitou os olhos. — Marcella disse que você gostaria de


cooperar, recrutar motociclistas dispostos a trabalhar conosco e eliminar
aqueles que ainda representam um risco para Marcella.

— Isso mesmo. Mas com certeza não farei um juramento a você,


Vitiello. Farei isso por causa da Marcella, mas ainda tenho meu orgulho.

— Você realmente acha que está em posição de negociar?

Encontrei seu olhar diretamente. — Se você não gosta, me mate. Amo


sua filha. O homem que ela conheceu e se apaixonou tem coragem e
orgulho. Não vou me tornar outra pessoa, para você me poupar. Vou
trabalhar com você, não para você, e o farei com prazer, porque isso tornará
a posição de Marcella na Famiglia mais forte. Isso é tudo. Se não gosta,
coloque uma bala na minha cabeça agora e poupe-nos do bate-papo.

Luca assentiu. Talvez apenas concordasse em acabar comigo. O cara


era impossível de ler. — Você não é um covarde. E não dou a mínima para
você, desde que não faça nada que machuque a Famiglia, e especialmente
Marcella. Nem darei a mínima se tiver seu próprio negócio paralelo, desde
que não interfira nos meus negócios. A Famiglia ganha dinheiro suficiente
para poder abrir mão desses trocados.
Cerrei os dentes contra seu tom condescendente, mesmo que estivesse
aliviado por ele ter me dado essa opção. Tentaria ganhar dinheiro com
contatos antigos de qualquer maneira. Não aceitaria o cheque de pagamento
de Vitiello. — Você não foi tão gracioso quando se tratava do Tartarus
tentando vender drogas e armas em seu território.

— Seu clube inundou meus clubes e ruas com drogas de merda,


inclusive fingiu que era coisa da Famiglia. Sem mencionar que você tentou
bagunçar meu negócio e queimou um dos meus depósitos. — Ele fez uma
pausa, olhando feio. — Talvez não se lembre, mas quando seu pai era o
presidente da sede de Jersey, seu clube ainda praticava tráfico sexual. A
polícia pescou várias prostitutas mortas do Hudson e começou a me
investigar. Avisei seu pai para parar com essa merda, mas ele estava
tentando financiar suas armas com as escravas sexuais.

Earl havia mencionado algo nesse sentido. Naquela época, a sede


principal no Texas ainda estava envolvida com tráfico sexual também, mas
eventualmente, foram perseguidos demais por russos e mexicanos, então
pararam. Felizmente, isso aconteceu anos antes de me tornar parte do
clube. — Não finja que matou meu pai porque sentiu pena das pobres
escravas sexuais. Você estava em busca de sangue naquele dia. Só queria
matar e meu pai e seus irmãos do clube eram um alvo conveniente.

— Eu não nego. E com certeza não vou me desculpar por isso. Seu
pai merecia morrer e não teria hesitado em me matar também. Em
retrospecto, teria certeza de que você não estaria lá para assistir.

Acho que isso era o mais próximo de um pedido de desculpas que


Luca Vitiello daria. Marcella havia mencionado que seu pai não tinha o
hábito de se desculpar. Ficamos em silêncio e apenas nos encaramos. Seus
olhos refletiam a mesma desconfiança e ódio que eu sentia. — Porra, isso
parece errado.

— Não preciso de um maldito juramento seu, mas quero sua palavra


de que não machucará Marcella e nos ajudará com outros motoqueiros.

— Você tem minha palavra. Estou surpreso que se importe com


isso. A palavra de um motociclista vale alguma coisa aos seus olhos?

Luca encolheu os ombros. — Se não cumprir sua palavra, ainda posso


caçar seu irmão Gray.

Entrei na cara dele. — Ele está fora dos limites, Vitiello. Ele está
cuidando da própria vida e isso não mudará. — Com certeza esperava que
fosse realmente o caso. Gray precisava de um sistema de apoio forte, e me
preocupei que ele fosse buscá-lo em outro MC, ou talvez em um Tartarus
reconstruído.

Luca apenas sorriu friamente. Porra, Marcella, como farei isso?

— Onde está Marcella?

Um músculo na bochecha de Luca se contraiu. — Em casa. Ela sabe


que estou aqui para falar com você, mas não achei uma boa ideia tê-la por
perto enquanto ainda precisávamos resolver as coisas.

— No caso de ter que atirar em mim.

Ele não disse nada.

— Se você me deixar ir, terei que cuidar de algumas coisas primeiro,


principalmente falar com minha mãe, depois gostaria de falar com
Marcella. Como posso entrar em contato com ela?

— Vá até o Sphere e marcarei uma reunião.


Tive que engolir um comentário. Esta era uma pílula difícil de engolir
para Vitiello, então cedi um pouco, mas com certeza não lhe pediria cada
vez que encontrasse sua filha.

— Tem certeza de que nenhum dos seus homens vai atirar em mim
acidentalmente porque acham que estou fugindo?

— Meus homens fazem o que digo.

— Aposto que sim, — disse. — Sua reputação os mantém na linha.

— É mais do que isso. A Famiglia é baseada na lealdade. Isso não é


algo que você entenderia.

— A lealdade nunca deve ser dada às cegas. A lealdade deve ser


conquistada, e meu tio e muitos dos meus irmãos do clube escolheram um
caminho que não pude apoiar.

— E quanto ao resto? Não matamos todos os membros.

— Como disse, meu irmão está fora dos limites. Ele é uma criança e
não causará problemas sem Earl. Conhecendo-o, ele se tornará um
mecânico e cuidará da própria vida no meio do nada, no Texas, com minha
mãe. Ela também está fora dos limites.

Luca sorriu severamente. — Não tenho certeza se confio em sua


avaliação da inocuidade de seu irmão. Mas Marcella me pediu para poupá-
lo e a sua mãe, então por ela, farei isso, até que seu irmão me dê motivos
para vê-lo como um perigo para minha família.

— Ele não será. Gray não é vingativo.

— Tem certeza que ele não se importará que você tenha matado o pai
dele?
Não tinha visto Gray desde que ele conseguiu escapar. Não tinha
certeza do quanto ele sabia, definitivamente não que eu tinha matado
Earl. — A menos que você espalhe a notícia, ninguém sabe que matei Earl.

— Então você não planeja contar a ele.

Gray merecia a verdade, mas temia que isso o irritasse, sem


mencionar que tornaria meu trabalho de procurar motoqueiros querendo
matar Marcella ainda mais difícil. Porém, a notícia sobre ser um traidor
provavelmente já estava circulando, então era apenas uma questão de tempo
antes que houvesse uma recompensa pela minha cabeça.

Luca apontou para a porta. — Você está livre para sair.

A surpresa me atravessou. Ainda achei que ele não iria seguir com
isso. Ainda não tinha cem por cento de certeza de que não terminaria com
uma bala na nuca no momento em que virasse as costas para ele.

— Suponho que minha motocicleta tenha virado cinzas, certo?

— Queimamos tudo.

Balancei a cabeça, não realmente surpreso. — E os cachorros?

Eles não eram meus cães e nunca confiei neles, mas realmente não era
culpa deles que Earl os tivesse transformado em máquinas de matar. Eles
mereciam coisa melhor.

— Um de nossos executores, Growl, adotou um e encontrou um lugar


em um abrigo para o resto. Não me pergunte onde. Ele é o único que tem
um coração para feras assim.

Ele se virou e saiu da cela. Mostrar-me suas costas era para me dizer
que não me temia. Mas ele ainda estava mancando um pouco, mesmo
tentando esconder. O segui com cautela, ainda desconfiado de seus
motivos. Lá fora, no longo corredor, esperava o homem alto e tatuado que
me trouxe para a cela.

Luca lhe deu um aceno de cabeça, e meio que esperava que Growl
puxasse uma arma e colocasse uma bala na minha cabeça. Em vez disso, ele
acenou para que o seguisse. Ele carregava um monte de roupas debaixo do
braço. Olhei em volta, mas não vi mais ninguém. Luca ainda me olhava
com uma expressão avaliativa. Ele achava que eu não era bom o suficiente
para sua filha, mas provaria que ele estava errado, mas mais do que isso,
provaria a Marcella que ela podia confiar em mim.
O cara, Growl, parou dentro de um banheiro e colocou as roupas em
um banco em frente a uma fileira de armários. Os boxes eram limpos e
bastante modernos. Luca e seus homens provavelmente tomavam banho
aqui depois que terminavam de torturar seus inimigos. Ainda carregava o
sangue de Earl e também o meu sangue na minha pele, misturado com suor,
fuligem e sujeira. Comecei a tirar minha camisa quando percebi Growl
encostado na parede, sem realmente me observar, focado na tela de seu
telefone.

— Você ficará de olho em mim para que não faça nada estúpido?
— Perguntei ironicamente.

Ele assentiu.
Estremeci. Uma parte da camisa estava presa em um ferimento sob
minhas costelas. Com um puxão, ela saiu. — Foda-se, — murmurei quando
o sangue começou a escorrer.

— Precisará de pontos, — Growl murmurou.

Levantei uma sobrancelha. — Sim, obrigado. Estava ocupado


apodrecendo na minha cela.
Novamente um aceno de cabeça.

— Então você cuidou dos cachorros?

— Eles merecem uma vida melhor.

— Obrigado.

Growl acenou com a cabeça. — A confiança de Luca deve ser


conquistada. Eu costumava ser o inimigo. Agora não sou.
Tirei minhas roupas restantes. — Não tenho certeza se ele realmente
quer tentar.

— Se ele te quisesse morto, você estaria morto, então ele lhe deu uma
chance que poucas pessoas têm. Não estrague tudo.

Entrei no chuveiro com um gemido.


Trinta minutos depois, segui Growl para fora. O jeans e a camisa
eram um pouco pequenos para o meu corpo alto. Obviamente não eram de
Growl. Para minha surpresa, Matteo Vitiello esperava na garagem ao lado
de uma motocicleta. Uma Kawasaki preta elegante.

— Não estrague tudo, — Growl disse como forma de adeus.

Caminhei até Matteo, que aparentemente estava esperando por


mim. — Growl não é o cara mais comunicativo, é?
O sorriso de Matteo se tornou desafiador. — Suponho que verá mais
Growl assim que começar a trabalhar conosco.

Era óbvio que ele não achava que o faria.

— Parece que sim. Talvez você possa chamar um táxi para mim, já
que meu telefone e minha motocicleta viraram cinzas.
— Onde você está indo? — Ele perguntou, ainda com aquele sorriso
que me fez querer nocauteá-lo.

— Preciso cuidar dos negócios e verificar minha mãe.

— Que tipo de negócios? Encontrar velhos amigos?

— Meus velhos amigos estão mortos ou querendo meu sangue, —


falei com um sorriso severo. — Mas há alguns fundos antigos que gostaria
de pegar antes que alguém o faça. Estou sem dinheiro agora. E com certeza
não vou pegar emprestado da Famiglia.

A avaliação e desconfiança nos olhos de Matteo realmente me


irritaram. Depois de dias em uma cela fedorenta, quase sem comida e água,
não estava com humor para conversa fiada. Ele não precisava gostar de
mim ou confiar em mim. Tudo o que importava era que Marcella o fizesse.

Matteo apontou para a Kawasaki. — Quer saber, por que não pega
minha motocicleta. Não é uma Harley, mas o levará aonde precisar ir.

Levantei minhas sobrancelhas. — Você está me oferecendo sua


motocicleta.

— Tenho certeza de que a trará de volta assim que cuidar dos


negócios. — Sua voz deixou claro que ele achava que fugiria e nunca mais
voltaria. Peguei as chaves que ele estendeu.
— Obrigado. Vou cuidar bem dela, — disse com um sorriso forçado.
— Você precisa que chame um táxi?

Matteo me deu um sorriso. — Oh, não se preocupe. Vou pegar uma


carona com Luca. — Claro, o Capo ainda estava por aqui em algum
lugar. Eles provavelmente teriam uma reunião assim que saísse para falar
sobre mim, talvez até mandassem alguém atrás para ver se estava fazendo
alguma coisa contra a Famiglia.

— Quando você voltar, há muito que discutir. Se quiser ficar com


Marcella, temos que fazer os arranjos para o noivado e o casamento, mudar
seu guarda-roupa e lhe dar algumas aulas de etiqueta para que possa fazer
parte do círculo social dela.
Ele estava me provocando, o idiota. Como se ele ou Luca quisessem
que me casasse com Marcella. Infelizmente, suas palavras tiveram o efeito
desejado. Meu corpo se arrepiou com a mera ideia do que ele disse. Não
queria ser preparado para outra pessoa. Porra, o casamento sempre pareceu
desnecessário em minha mente.

Coloquei o capacete e liguei a moto. Matteo deu um passo para


trás. Com uma saudação, parti. Resisti à vontade de olhar por cima dos
meus ombros. Virar as costas para um Vitiello ainda me dava
calafrios. Pilotar a Kawasaki era uma sensação totalmente nova para
mim. Preferia o barulho constante da Harley e senti uma pontada quando
pensei na minha Harley agora queimada. Ainda assim, a sensação familiar
de liberdade que sempre me dominava em uma motocicleta me pegou.

Realmente podia desistir de minha liberdade, meu estilo de vida, até


mesmo parte de mim por Marcella?
Mamãe me olhou preocupada enquanto nos sentávamos à mesa de
jantar. Maddox foi solto pela manhã e Matteo até lhe deu sua motocicleta
porque Maddox tinha alguns negócios para tratar. Suspeitei que ele
procuraria seu irmão e sua mãe para se certificar de que estavam
bem. Ainda assim, esperava que ele descobrisse uma maneira de entrar em
contato comigo agora.
— Matteo não deveria ter lhe dado sua motocicleta. Lhe pedi a coisa
por meses e ele simplesmente dá para o nosso inimigo, — Amo murmurou.

— Não foi um presente. É emprestado até que ele devolva quando


voltar, — disse com firmeza.

Amo balançou a cabeça. — Certo.

— Marcella, — papai começou, obviamente tentando antecipar o


golpe o mais gentilmente possível. Sabia o que todos eles achavam.

— Maddox não fugiu. Ele está cuidando de algumas coisas e voltará


para Nova York para provar a si mesmo.

Papai olhou para mamãe.

— Marcella o conhece melhor do que nós, — ela disse em seu jeito


diplomático usual. — Se ela deposita sua confiança nele, tenho certeza de
que tem seus motivos.

— Obrigada mãe.

— Mas realmente quero conhecê-lo pessoalmente o mais rápido


possível.

Sufoquei um sorriso com o aço repentino em sua voz.

— Vou apresentá-lo a você. — Não perdi a expressão de cautela no


rosto de papai. Ele provavelmente ficaria de guarda a cada segundo quando
mamãe encontrasse Maddox. Era estranho. Apesar da falta de notícias e das
dúvidas da minha família sobre seu retorno, acreditei que ele
voltaria. Depois do que ele arriscou para me salvar, tinha certeza de seus
sentimentos por mim.

Quando não houve notícias de Maddox na manhã seguinte, comecei a


ficar realmente nervosa. Mas não queria perder tempo me
preocupando. Maddox voltaria, e se não voltasse... então ele nunca me
mereceu para começar. Ainda assim, meu coração doeu pensando nisso.
Decidi me distrair com algo que pretendia fazer há alguns dias. Liguei
para Growl e perguntei se ele poderia me pegar e me levar até o abrigo que
construiu com Cara para ajudar cães de briga abusados. Papai mencionou
que eles levaram os rottweilers para lá.

Trinta minutos depois, ele parou na frente de nossa mansão. Dois


guarda-costas esperavam na frente da porta quando saí. Eles me
acompanharam até o carro de Growl, em seguida, entraram em um segundo
carro e nos seguiram. — Obrigada por vir tão rápido, — disse.

— Fiquei surpreso por você querer ver os cachorros.

— Fiquei apavorada com eles no começo, mas meio que me apeguei


ao cachorro que estava ao lado da minha gaiola. O nome dela é Satan, mas
foi gravemente ferida. Você sabe se ela sobreviveu?

— Não sei seus nomes. Ainda preciso nomeá-los.

— Não chame nenhum cachorro de Satan, por favor.


Growl assentiu.

— Tenho que admitir que ver os cachorros de novo não era a única
razão pela qual pedi que você me pegasse.

— Imaginei, — Growl murmurou. — Seu pai me disse que você se


juntará ao negócio.

— Quero liderar nossa equipe de Executores, para coordenar os


ataques aos MCs que estão nos causando problemas e também para
encontrar os motociclistas Tartarus restantes que representam um risco.

Growl apenas acenou com a cabeça, mas realmente queria que ele
dissesse algo.

— Quero saber se teremos um problema porque sou mulher ou


porque você quer estar no comando dos executores.
— Não tenho problemas em servi-la, e nunca quis liderar
ninguém. Estou feliz com o trabalho que faço todos os dias.

— E quanto aos outros executores? Eles disseram algo para você?

— A maioria deles tem muito juízo para falar mal de você.


Eles temiam meu pai, mas não me respeitavam. Faria o meu melhor
para mudar isso. Depois de quase uma hora, chegamos a uma casa de
fazenda com enormes áreas cercadas. Saímos e um cara esguio na
adolescência saiu. — Adolescentes problemáticos dirigem o abrigo sob sua
orientação, certo?

— Isso dá a eles e aos cães um novo lar.

Growl me levou até uma área menor onde dez Rottweiler no total
eram mantidos. — Eles não se dão bem com os outros cães ainda, então
temos que mantê-los separados.

Não demorei muito para localizar Satan e o alívio me invadiu. Sua


lateral estava enfaixada e ela estava usando um cone para não lamber o
ferimento, mas fora isso parecia bem.

— Ela está sozinha na gaiola porque os outros cães não a aceitarão


enquanto estiver ferida.
Para minha surpresa, ela trotou em direção à cerca no momento em
que me viu. Considerando nosso primeiro encontro, percorremos um longo
caminho. — Ei, garota, —disse. Ela bufou e abanou o rabo. Bem
alimentada e com um grande quintal para correr, ela parecia muito mais
relaxada do que o cachorro de que me lembrava.

Vê-la também trouxe de volta muitas memórias do meu cativeiro que


não queria lembrar. Ainda me sentia presa em uma espécie de limbo, em
casa fisicamente, mas com minha mente ainda perdida na sede do
clube. Dei um tapinha gentil nela através das grades. — Você vai encontrar
um bom lar para ela?

— Não será fácil, dada a sua criação.


— Gostaria de poder acolhê-la, mas papai nunca permitiria.

— Seu pai quer protegê-la.


— Eu sei, — disse. — De tudo. Maddox, cachorros...

— Maddox precisa ganhar a confiança de seu pai. Isso não é uma


coisa fácil de fazer, mas já fui inimigo de seu pai uma vez e ele me deu o
benefício da dúvida. Maddox pode fazer o mesmo.

Sorri. — Obrigada, Growl. — Olhei para Satan que me observava. —


Você pode me fazer um favor e chamá-la de Santana? Ainda é parecido com
o nome dela, mas muito melhor.
— Certo. Você quer passar mais tempo com ela?

— Sim. — Fiquei por mais uma hora a acariciando antes de Growl


me levar de volta para casa. Subi para o meu quarto para pesquisar
possíveis tatuagens para não pensar constantemente em Maddox.

No início da noite, o motor de uma motocicleta roncou do lado de


fora. Meus olhos se arregalaram e pulei do sofá do meu quarto. Corri escada
abaixo e em direção à porta da frente, meu coração galopando
loucamente. Abri e murchei quando vi Matteo em sua motocicleta, a que ele
deu a Maddox.
Ele passou a mão pelo cabelo e me deu um pequeno sorriso.

Passos soaram atrás de mim e papai apareceu ao meu lado. Sua


expressão não era um bom presságio.

— O que há de errado? Onde está Maddox?


Matteo subiu as escadas, trocando outro olhar secreto com papai.

— Pai, — disse com raiva. — Onde está Maddox?


Amo e mamãe estavam no saguão agora.

Papai tocou meu ombro. — Ele apareceu no abrigo de Growl esta


tarde e deixou mais dois cachorros e a motocicleta
Devemos ter nos desencontrado por uma hora. — Mas onde ele está
agora?

— Ele fugiu como todos nós sabíamos que faria, — disse Amo.

Virei-me para ataca-lo, mas a expressão compassiva de mamãe me


disse que as palavras de Amo eram verdadeiras.
— O que? — Sussurrei, chocada. — Ele não fugiria
simplesmente. Ele me salvou, traiu seu clube por mim...

— Talvez ele tenha se arrependido de sua decisão, — disse Matteo


gentilmente.

Papai tocou meu ombro. — Maddox só conhece o estilo de vida de


motoqueiro. Ele não quer ser limitado por uma mulher ou por convenções
sociais. O chamado da estrada, da liberdade, foi muito forte.

— Você acha que ele escolheu a liberdade em vez de mim?

— O que ele considera liberdade, pelo menos.

— Isso foi o que ele disse a Growl?

Matteo acenou com a cabeça. — Falei com Growl quando peguei


minha motocicleta. Maddox não demorou muito. Ele fez questão de partir o
mais rápido que pôde. Provavelmente está saindo de nosso território
agora. Os homens que o seguiram ontem o viram pegando uma sacola cheia
de dinheiro.

Engoli em seco. — Ele poderia ser livre ao meu lado.


— Boa escolha. Se ele construir a porra do seu clube de novo, vou
matá-lo, e desta vez Marci não vai nos impedir, — murmurou Amo.

O ignorei. Mamãe passou um braço em volta de mim. — Você tem


um futuro maravilhoso pela frente, Marci. Não precisa dele. Você nos tem.
Não precisava dele, mas o queria ao meu lado. Queria que ele se
tornasse parte da minha vida, da minha família. Achei que poderíamos
superar o abismo entre nossas origens.

Mas nosso vínculo era fatal desde o início. Maddox me salvou e eu o


salvei. Isso foi tudo que existiu.

Agora só tinha que convencer meu coração disso.

Continua em
By Sin I Rise - Parte Dois...
Notes
[←1]
Um hellhound, cão do inferno ou cão negro, é um cão sobrenatural do folclore. Uma grande
variedade de cães infernais sobrenaturais ocorrem em mitologias de todo o mundo, sendo
notável, porém, na Inglaterra
[←2]

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