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By Sin I Rise Part One Cora Reilly
By Sin I Rise Part One Cora Reilly
ília
Wings
Tradu
ção e
Revisão:
Angel e Seraph
Leitura: Aurora
Formatação: Angel e Aurora
09/2021
Aviso
A tradução foi efetuada pelo grupo Wings Traduções (WT), de modo
a proporcionar ao leitor o acesso à obra, incentivando à posterior aquisição.
O objetivo do grupo é selecionar livros sem previsão de publicação no
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Sinopse
Maddox ‘Mad Dog’ White odeia tudo o que o nome Vitiello
representa depois de testemunhar seu pai e seus homens sendo massacrados
pelo Capo da máfia italiana em seu território. Criado por seu tio, o
presidente do Tartarus MC, Maddox está destinado a seguir seus passos.
Agora sua sede está em ascensão novamente, mas para seu triunfo final,
eles precisam destruir o império Vitiello. E que melhor maneira de fazer
isso do que roubar a princesa mimada de Vitiello e quebrá-la pedaço por
pedaço até que seu pai implore por misericórdia.
Conhecida como a princesa mimada de Nova York, Marcella Vitiello
cresceu em uma gaiola dourada. Se seu pai é o homem mais temido de
Nova York, as pessoas o tratam com reverência.
Ela se ressente da vida forçada por sua família até que tudo o que
considerava como certo é arrancado dela. Onde ela está agora, seu nome
não causa admiração, apenas dor e humilhação. Se você cresceu em um
castelo alto, a queda é ainda maior.
Algumas coisas correm em seu sangue. Elas não podem ser abaladas,
não podem ser alteradas, não podem ser perdidas, mas podem ficar
adormecidas. Desde cedo, eu tinha um instinto infalível quando se tratava
de perigo ou farejar uma pessoa em quem não podia confiar. E prestava
atenção, sempre parando antes de agir vislumbrando bem dentro de mim,
por aquela intuição, verificando novamente.
Até que parei de prestar atenção, até que me acostumei com os outros
cuidando da minha segurança, até que confiei em seu julgamento sobre o
meu. Entreguei minha vida para outros, guarda-costas capazes, homens que
eram muito mais preparados para me proteger do que eu, ‘uma mera
menina’ e mais tarde ‘mulher’, era. Se tivesse dado ouvidos aos meus
instintos, ao formigamento na nuca naquela primeira noite, e mais tarde,
quando me levaram, estaria segura. Mas aprendi a ensurdecer minha voz
interior, a um instinto herdado de meu pai, porque deveria estar alheia aos
perigos de nossa vida.
Risque isso.
Papai correu até mim e agarrou meu braço com força. — Esconda-se
embaixo do sofá e não saia! Está me escutando?
— Sim senhor.
Ele me empurrou em direção ao velho sofá cinza e caí de joelhos
rastejando para baixo dele. Já fazia um tempo que não tentava me espremer
embaixo do sofá e quase não cabia mais, mas eventualmente deitei de
barriga, de frente para a porta de entrada e a sala.
O louco continuou atirando no bar, mas por fim tudo silenciou. Papai
e os prospectos ficaram sem munição?
Sabia que não devia desobedecer às ordens de meu pai e por isso
permaneci imóvel pelo que pareceram dias, mas provavelmente foram
apenas alguns minutos. O homem mau começou a machucar papai e o
prospecto que ainda estava vivo. Não podia mais assistir e fechei os olhos
com tanta força que minhas têmporas latejaram. Pressionei minha testa em
meus braços. Meu peito e meus braços estavam quentes de sangue e minha
calça estava quente onde tinha feito xixi. Tudo fedia a xixi e sangue, e
prendi a respiração, mas meu peito doía e tive que respirar fundo. Comecei
a contar os segundos, tentei pensar em sorvete, bacon frito e na torta de
limão da mamãe, mas os gritos eram muito altos. Eles afastaram todos os
pensamentos da minha cabeça.
— Não podemos fazer mais nada por ele. Nova York não é mais
segura para nós. Temos que ir embora, Maddox, e não podemos mais voltar.
— Ela me arrastou em direção ao nosso velho Ford Mustang e me sentou
no banco do passageiro. O carro estava tão cheio de malas que eu não podia
olhar pela janela traseira.
Minha mãe ligou imediatamente para meu tio Earl, pedindo ajuda. Ela
não tinha nenhum dinheiro, era papai que sempre lhe dava, embora sempre
brigassem e não morassem mais juntos. Earl nos ajudou e então nos
mudamos para o Texas, e eventualmente mamãe se tornou a old lady de
Earl e eles tiveram meu irmão Gray.
Não voltei para Nova Jersey por muitos anos, mas quando finalmente
voltei, foi com um propósito em mente: matar Luca Vitiello.
Cinco anos de idade
— Eles são nossos, e de seus tios e tias, — mamãe disse, mas só ouvi
metade enquanto começava a desembrulhar tudo ansiosamente.
— Você sempre é.
Papai deu uma risadinha. — Você pode usar o vestido, mas a coroa é
muito desconfortável. — Ele gentilmente a tirou e colocou na minha mesa
de cabeceira.
— Amo você papai. Nunca vou te deixar. Vou morar com você e
mamãe para sempre.
Depois da grande festa, dois dias atrás, mamãe me trouxe, junto com
meus irmãos mais novos, Amo e Valerio, para os Hamptons para uma
semana de relaxamento muito necessário. Claro, Valerio não entendia o
significado de relaxamento. Ele estava nas ondas, fazendo esqui aquático,
enquanto um de nossos guarda-costas conduzia o barco em manobras
arriscadas para satisfazê-lo. Duvido que algum dia tenha tido tanta energia
quanto esse garoto, nem mesmo aos oito.
Negro como sua alma, Amo costumava brincar. Meus olhos cortaram
para ele. Ele montou uma academia de CrossFit em uma parte menos
necessária de nossa propriedade e estava fazendo o treino do dia. Parecia
uma tortura auto infligida a julgar por sua expressão. Preferia os cursos de
Pilates da tia Gianna. Claro, a dedicação de Amo o deixou parecido com o
Hulk aos quinze anos.
Amo correu até nós, o suor voando por toda parte de seu corpo
brilhante.
Fiz um gesto para Lora, que estava servindo a mamãe seu suco e
frutas. Ele acenou com a cabeça para o livro de Análise de Marketing na
mesa lateral. — É verão. Você realmente precisa desse livro? Você é a
melhor da classe qualquer forma.
Fiquei tensa. — Falei várias vezes ao chef para tomar cuidado extra
com as vieiras por que... — Parei quando vi o sorriso de Amo. Ele estava
zombando de mim. — Idiota.
Amo me lançou um olhar que dizia que definitivamente não era uma
pessoa relaxada. — Então, as vieiras estavam vítreas ou não?
Sinto sua falta. Se não tivesse tanto trabalho, iria até aí.
Meus dedos pairaram sobre minha tela, mas o afastei. Estava feliz que
seu estágio no escritório de advocacia de nosso advogado da Famiglia,
Francesco, o mantinha ocupado. Precisava de alguns dias longe dele depois
da nossa quase discussão no meu aniversário. Se não conseguisse me livrar
do meu aborrecimento antes da nossa festa oficial de noivado, teria
problemas em manter uma expressão apaixonada.
Olhei para cima encontrando papai elevando-se sobre mim. Ele tinha
ficado em Nova York para negócios urgentes com a Bratva.
— Trabalhando duro como sempre, minha princesa, — ele disse e se
abaixou para beijar o topo da minha cabeça.
— Marci não é cega. Ela sabe o que está acontecendo. —Às vezes,
achava que entendia a brutalidade do trabalho de papai melhor do que Amo.
Ele ainda considerava isso muito divertido e realmente não via o perigo.
Mamãe provavelmente estava certa em mantê-lo longe das grandes lutas.
Ele apenas se mataria.
— Preciso falar com você. Desça até o cais comigo, — papai disse a
Amo.
— Sei que você adora quando as coisas saem perfeitas. — Ele tocou
minha bochecha. — Giovanni virá para cá?
— Não.
— Ele não fez nada, pai, — falei com firmeza. — Só quero um pouco
de tempo para estudar e pensar no esquema de cores da festa, — menti e
sorri amplamente como se não pudesse pensar em uma maneira melhor de
passar a tarde do que meditar sobre a diferença entre creme e casca de ovo.
Ainda não tinha começado a planejar nada para o casamento e não me
sentia nem um pouco compelida a fazer isso agora. Depois de alguns dias
relaxando após o planejamento da festa de aniversário, provavelmente me
sentiria mais entusiasmada.
Amo saiu da casa com um prato cheio com três sanduíches, enquanto
comia um quarto. Se eu comesse assim, poderia dar adeus ao espaço entre
minhas coxas. Papai beijou o topo da minha cabeça novamente antes que
ele e Amo descessem até o cais para discutir os negócios da Famiglia.
Suspirei e peguei meu livro, mergulhando nas páginas. Papai queria me
proteger de nosso mundo e eu precisava aceitar isso.
— Você sabe do que se trata? — Gunnar perguntou enquanto
estacionava ao lado de minha Harley. Afastei-me e passei a mão pelo meu
cabelo emaranhado. Foi o mais curto que já usei, longo no topo para que
pudesse escová-lo para trás, mas o capacete ainda o bagunçava.
Gray lançou um olhar incrédulo, mas Earl com certeza não estava
brincando, a julgar pelo brilho de raiva em seus olhos.
— Eles devem ter usado algum tipo de filtro. Ninguém é tão linda
assim, — Gunnar disse. — Acho que meu pau cairia de admiração se
chegasse perto dessa boceta.
— Não se preocupe, não vai, — falei com uma piscadela. — Sua old
lady provavelmente o cortaria antes de você chegar perto.
Gunnar tocou seu coração. Ele tinha sido o tesoureiro de nosso clube
por uma década e muitas vezes agia mais como uma figura paterna do que
Earl.
— Não quero saber se meu irmão atirou sua carga em sua garganta,
Lu, — murmurei então abri minha porta. —Nada de beijos, mas estou afim
de um boquete e prometo não desmaiar antes de atirar meu esperma nessa
linda garganta.
Ela riu quando bati em sua bunda e fechei a porta atrás de nós. Lu era
uma de nossas garotas compartilhadas, mas tinha todas as ambições de se
tornar uma old lady. Não minha, isso era certo, no entanto.
Sim, merda, mas imaginaria que era Marcella. Isso levaria as coisas
por um caminho muito perigoso. — Não, volte a dormir.
Ele finalmente me seguiu escada acima, mas ainda podia sentir sua
preocupação persistente, e ela acabou surgindo quando chegamos ao
patamar do primeiro andar. — E quanto ao seu irmão? Ele é o dono da casa
quando seu pai não está.
… uma mulher.
Não podia acreditar que estava tendo essa discussão. Não podia
acreditar que estava praticamente implorando ao meu noivo para transar.
Sempre que minhas amigas falavam sobre como manipulavam seus
namorados com sexo, sentia uma pontada de inveja porque Giovanni
provavelmente choraria de alívio se eu parasse de importuná-lo por sexo.
Eu me sentia indesejável. Nem me atrevia a falar com minhas amigas sobre
isso e, em vez disso, fingia que era eu quem queria esperar o casamento
como a filha boa e virtuosa do Capo que todos queriam que eu fosse.
Estava farta disso, farta de ser desejada de longe. — Não posso mais
fazer isso. Três pessoas é demais em um relacionamento.
Peguei meu vestido e coloquei com raiva sobre a minha cabeça, sem
me importar quando o ouvi rasgar. Custou uma fortuna, mas podia comprar
um novo. Podia ter qualquer coisa que o dinheiro pudesse comprar e até
coisas além disso, se meu pai puxasse as cordas certas. Todos me tratavam
como uma princesa. A princesa mimada de Nova York. Sabia o apelido
carregado de sarcasmo que era sussurrado desagradavelmente em nossos
círculos. Eu não servia para nada além de comprar sapatos e ser bonita.
Destacava-me em ambos, é claro, mas também era a melhor da classe e
tinha objetivos na vida que nunca importariam.
— Escute, Marci, acalme-se. Você sabe que adoro o chão que você
pisa. Eu te adoro, te honro. Serei o melhor marido que puder ser para você.
Ele beijou minha mão, mas não senti nada, e a ideia de fazer amor
com Giovanni parecia menos atraente do que antes. Os olhos de Giovanni
me imploravam para reconsiderar, mas me agarrei à minha resolução
mesmo quando me sentia culpada. Só pioraria se terminasse mais tarde, e
terminaria eventualmente. Balancei a cabeça.
Não tínhamos feito metade das coisas que queria, porque Giovanni
não queria arriscar, e agora se atrevia a me chantagear com tudo o que não
fizemos, mas poderíamos ter feito? Idiota.
Algo se moveu na sala de estar e Amo se levantou do sofá onde
aparentemente estava ocupado com seu telefone e lentamente veio em nossa
direção.
Claro, ele acharia que era esse o caso. Ninguém acreditaria que
precisava implorar para um homem me tocar. — Não, — disparei, sentindo
um peso traiçoeiro na minha garganta e olhos. — Giovanni é o cachorro de
colo perfeito do papai, o cavalheiro contido.
— Se uma garota deitasse seminua na sua frente, você diria não a ela?
Por um tempo, tive certeza de que o amava, mas agora percebi que
queria amá-lo, amei a ideia de amá-lo. Meu alívio por ter acabado com isso
era grande demais para um amor verdadeiro. No entanto, a tristeza também
se instalou dentro de mim. Tristeza pelo tempo perdido ou um futuro
perdido, não tinha certeza. Achei que poderia forçar o amor, podia recriar o
que mamãe e papai tinham por pura força de vontade, mas falhei.
— Preciso pensar, — falei e me virei para voltar ao meu quarto. Amo
era um ótimo irmão, mas conversar sobre relacionamentos com ele era
discutível.
Fui até minha cabeceira e virei a moldura. Olhar para esta foto não me
ajudaria a limpar a cabeça.
Duas horas depois, voltei para casa com uma dúzia de sacolas. As
deixei cair sem cerimônia no chão. Agora que a corrida às compras tinha
acabado, um vazio familiar se espalhou em meu peito. Afastando a
sensação, peguei as sacolas mais próximas e as abri. Coloquei o vestido
Max Mara e tirei a caixa de sapatos da outra sacola.
Passos soaram e Amo apareceu. Ele não disse nada por vários
momentos parando com os braços cruzados na porta, os músculos salientes.
— Quando outras garotas são largadas, elas choram muito. Você gasta
uma fortuna em roupas.
Meu peito se apertou. Quase chorei, mas cutucaria meu olho com
meus estiletes antes de deixar isso acontecer. — Não fui largada, — falei,
deslizando meus novos Louboutins de couro preto. — Garotas como eu não
são largadas.
Amo ergueu uma sobrancelha. — Você sabe muito bem qual é sua
aparência, e não vou chamar minha irmã de gostosa.
Fiz uma cara suplicante. — Por favor, Amo. Você sabe que só posso
sair quando você está comigo. Preciso de uma distração.
Amo fechou os olhos, rosnando. — Porra. Realmente não sei como
Giovanni conseguia te dizer não quando você faz essa cara.
Abri um sorriso para ele, sabendo que tinha vencido. Ele, como papai,
tinha dificuldade em me dizer não. — Ele estava muito ocupado se
preocupando em todas as maneiras que papai poderia matá-lo.
Amo riu enquanto pegava o telefone, provavelmente para pedir a
aprovação dos guarda-costas. — Sim. — O sorriso sumiu. — Tem certeza
que está bem?
Empurrei seu peito. Ele não se mexeu. — Estou bem. — Joguei meu
cabelo para trás. — Agora vamos mostrar à população masculina de Nova
York o que eles nunca terão.
Parei. Essa era uma conversa pela qual não estava ansiosa. Não
porque me preocupasse que me obrigassem a reconsiderar minha decisão.
Mas não queria lhes explicar minhas razões, e eles certamente pediriam
uma explicação. Nossos círculos certamente fariam perguntas e, se eu não
desse respostas satisfatórias, começariam a espalhar boatos. Provavelmente
fariam isso de qualquer maneira. As pessoas procuravam um escândalo,
principalmente no que dizia respeito a mim. Eu tinha mais inimigos do que
apoiadores.
— Amanhã de manhã, quando eles voltarem.
Dancei com Mary Lu, mas meu olhar continuava subindo para o
camarote VIP. Infelizmente, o ângulo não era o melhor, então mal consegui
distinguir Marcella Vitiello. A principal razão pela qual sabia que ela estava
lá em cima eram os muitos olhares curiosos das pessoas na pista de dança.
E a desprezava por isso. Ela vivia uma vida mimada, sem privações.
Nunca sofreu como eu. Seu pai a colocou em um trono, fez dela uma
princesa sem nenhuma conquista própria. Trabalho árduo, dor, sacrifício
não significava nada para a princesa de Nova York.
Sua queda seria íngreme. Porra. Eu a faria cair sobre seu nariz
arrogante.
Deixei meu olhar vagar ao redor do clube lotado. Além do irmão dela,
um garoto cuja semelhança com o pai me dava vontade de cortar sua
garganta. Tinha três guarda-costas com ela. Pela primeira vez, seu noivo
cachorrinho não estava ao seu lado. Problemas no paraíso?
Sorri contra a minha garrafa de cerveja e tomei outro gole. Eu deveria
ir embora. Mesmo disfarçado, o risco de ser reconhecido por um dos
soldados da Famiglia era muito alto. Isso estragaria tudo, mas era difícil me
desvencilhar.
Fiquei onde estava por mais alguns minutos e a observei dançar. Essa
garota não precisava de guarda-costas ou de seu irmão gigante para manter
todos à distância. Seus frios olhos azuis sugadores de alma construíam
paredes mais altas do que as dos imperadores chineses.
Naquela noite foi a segunda vez que sonhei com ela e, daquele dia em
diante, ela assombraria minhas noites.
Normalmente, dançar sempre fazia maravilhas ao meu humor. Era
meu lugar feliz pessoal, o remédio escolhido quando me sentia triste, mas
hoje não surtiu o efeito desejado.
— Por que você está fazendo essa cara? Achei que estávamos aqui
para nos divertir, — gritou Amo sobre o som da música.
Apesar de insistir com Amo que não estava nervosa por falar com
mamãe e papai, meu estômago revirou enquanto eu descia as escadas pela
manhã. Já podia ouvir mamãe e papai conversando, e o tilintar ocasional de
talheres.
Quando entrei na cozinha, os dois ergueram os olhos. Mamãe sorriu
brilhantemente, parecendo como se ela e papai tivessem acabado de chegar
da lua de mel. — Como foi a noite de encontro? — Perguntei
desnecessariamente.
Caso de mamãe e papai ainda não soubessem sobre nossa saída para
dançar na boate, saberiam agora. Amo deu a mais leve sugestão de um
aceno de cabeça enquanto se jogava em uma cadeira com um gemido.
Perdi a calma e gritei. — Mas você é a razão pela qual não deu certo!
Portanto, se quiser encontrar uma resposta para sua pergunta, precisa se
olhar no espelho.
— Claro que você não vê. Mas o que eu quero deve importar em um
relacionamento e não seus desejos!
Uma batida suave soou e mamãe entrou. — Posso falar com você?
Balancei a cabeça e me sentei. Não queria ficar deprimida na cama
como uma criança de cinco anos. Mamãe se sentou no colchão ao meu lado
e me deu um sorriso compreensivo. Ela sempre foi compreensiva. Suponho
que tenha aprendido essa característica em seu casamento com papai.
— Sim, — falei. Não estava triste por perder Giovanni, não mesmo.
— Só estou triste por não ter terminado as coisas antes.
Ri. — Giovanni não fez nada, então não tenho que protegê-lo. Papai
provavelmente lhe daria elogios por ser um cavalheiro tão perfeito.
Mamãe mordeu o lábio, obviamente lutando contra a diversão.
— Você tem muita sorte de ter papai. Ele é aquele que todos temem.
Ele nunca tentaria agradar a ninguém. Ele pega o que quer.
— Não vi dessa forma no começo. Tinha medo de seu pai. Amor e
paixão exigiram algum trabalho de ambas as partes.
— Talvez ela tenha saído por outra porta, — disse Gunnar. Seu cabelo
grisalho na altura dos ombros tinha caído quase completamente fora de seu
rabo de cavalo por causa de sua preocupação constante. Nunca o tinha visto
tão nervoso.
Não tinha visto Marcella e seu noivo juntos há mais de uma semana, o
que era incomum, mas hoje ele a seguia novamente como um cachorrinho
perdido. Ele não sabia muito sobre mulheres se não conseguia ver quão
irritada ela estava com sua imploração afetada. Mas a choradeira dele
eventualmente funcionou e ela o seguiu até o carro para uma conversa.
Claro, o garoto chique tinha uma Mercedes Cabriolet extravagante. A
Famiglia simplesmente nadava em dinheiro.
O pânico deles foi uma vantagem para nós. Eles tropeçaram nos
guarda-costas de Marcella que tentavam nos alcançar, retardando-os.
Cheguei até Marcella e seu noivo. Ele agarrou sua arma, mas fui mais
rápido e bati meu punho com o soco inglês direto em seu rosto. O sangue
jorrou de seu nariz e boca e ele caiu no chão. Não tinha tempo para mata-lo,
não com todo o inferno acontecendo. Era apenas uma questão de minutos
antes que dezenas de soldados da Famiglia entrassem em cena para proteger
sua princesa. Sabia o que aconteceria se eles colocassem as mãos em mim.
Eles me entregariam a Vitiello e o que ele fez ao meu pai pareceria
brincadeira de criança em comparação com o que faria comigo por atacar
sua preciosa prole. Não ia acontecer.
— Acertei um deles.
Ele estendeu a pistola e a peguei para o caso de ter que lidar com
perseguidores. Logo o campus desapareceu na distância e Gunnar conduziu
o carro até uma garagem onde o trocamos pela primeira vez. A nova van
com o logotipo da lavanderia pertencia a um membro da família de uma das
old ladies. Duvidava que Earl tivesse lhe dito para que a usaríamos. Ele não
se importava se Vitiello colocasse as mãos neles, desde que nosso plano
funcionasse. Danos colaterais sem importância.
Depois de mais trinta minutos, quando tive quase certeza de que não
estávamos sendo seguidos, coloquei a arma no chão. Branca de Neve estava
lentamente voltando a si, gemendo de uma forma que me lembrou do sonho
da noite anterior. Virei-me no assento para observá-la. A dose que usei não
tinha sido muito potente. Seus cílios negros vibraram contra sua pele pálida.
Tinha quase cem por cento de certeza de que suas fotos tinham sido
retocadas pesadamente, mas agora de perto, percebi que Marcella Vitiello
era tão imaculadamente linda quanto seu Instagram e fotos da imprensa
sugeriam. Tive que resistir ao impulso de me aproximar ainda mais, de
tocá-la e descobrir se sua pele era tão lisa quanto parecia. O curto momento
em que a agarrei passou em um flash e não tive tempo para prestar atenção.
Abaixei-me para pegá-la, mas ela deslizou para trás. —Não me toque
com suas mãos sujas.
Ela mirou um chute na minha virilha, mas agarrei seu tornozelo antes
que pudesse fazer um dano real e a puxei em minha direção. Ela não tinha
nenhuma experiência em luta, então não tive problemas para içá-la para
fora da van. Minha tentativa de colocá-la no chão para que pudesse andar
sozinha foi frustrada quando ela deu outro chute na minha canela.
— Foda-se, vadia.
— Ande ou vou carregá-la sobre meu ombro para que meus irmãos
possam ver sua bunda empinada.
Ela se encolheu antes de sua boca formar uma linha fina e teimosa,
mas pelo menos finalmente me seguiu sem lutar.
Ela estremeceu. Não tinha certeza se era por causa de Earl ou porque
finalmente sabia quem éramos. Ao contrário de Gunnar e eu, Earl usava seu
colete com o grande logo do Tartarus MC nas costas e o menor na frente.
Era estranho, mas não senti nenhuma satisfação com sua angústia.
Tive a sensação de que ela sabia muito bem quem éramos. Sua reação
ao ver o logo foi muito forte. Ela não podia ser tão alheia. Embora tivesse
certeza de que Vitiello fez o possível para transformar a vida dela em um
conto de fadas do caralho. No entanto, até mesmo seu cérebro de princesa
obcecado por compras tinha que saber as histórias sobre nosso clube e a
Famiglia.
Ela olhou para o salto alto e depois para mim. — Não confio em você
ou em qualquer um dos outros caipiras.
Até seus pés eram imaculados. Seus dedos dos pés estavam pintados
de vermelho, provavelmente por algum salão de beleza chique em
Manhattan. Meninas como ela não faziam suas próprias unhas, cabelo ou
qualquer outra coisa. Estavam acostumadas a ter pessoas fazendo tudo por
elas. Mimadas até o âmago.
Cerrei meus dentes. — Mad Dog porque não conheço o medo, como
um cachorro louco.
Tive que admitir que ela me surpreendeu. Achei que ela estaria
implorando e chorando, mas até agora manteve a máscara fria pela qual era
famosa. Talvez Marcella tivesse mais de seu pai nela do que meu tio e eu
pensávamos. —Como meu tio disse, por causa de seu pai e das contas que
queremos acertar.
Passei horas olhando fotos de Luca com sua família nas últimas
semanas. A internet estava cheia de retratos oficiais, poucos dos quais
transmitiam qualquer emoção honesta, mas algumas fotos indesejadas de
paparazzi revelaram os sentimentos de Marcella e Aria em relação ao
homem que odiava mais do que tudo. Por algum milagre, elas pareciam
adorá-lo, e embora ele sempre mantivesse sua fachada de bastardo frio em
público, tinha a sensação de que ele era, no mínimo, protetor e possessivo
com sua filha e esposa. Ele agiria agora que a tínhamos.
Marcella deu de ombros, tentando parecer blasé, mas cravou as unhas
pintadas de vermelho nos braços. — Se você diz. Muitas vítimas amam e
admiram seus agressores.
Dou-lhe um sorriso tenso. Ela não precisava saber mais sobre meu
passado do que a história da morte de meu pai. —Nah, ao contrário de você,
não tive o privilégio de ir para a faculdade.
— Não pode ser sobre dinheiro. Aposto que seu clube ganha muito
dinheiro com drogas e armas. É um negócio lucrativo.
— Estou surpreso que você saiba mais sobre dinheiro do que o preço
de seus sapatos elegantes.
Realmente rio. Ela sabe revidar. Gostei disso. Esperava outra coisa.
— Então, seu pai compartilha histórias do negócio com você?
Talvez Marcella pudesse realmente ser útil como mais do que material
de barganha. Earl queria expandir nossos negócios, mas a Famiglia tinha
um controle rígido sobre as drogas e as armas.
— Não, ele não o faz. Isso é algo que todo mundo com um pouco de
cérebro sabe. — Não sabia se ela estava mentindo. Ela tinha uma boa cara
de pôquer. E era definitivamente muito confiante para seu próprio bem.
À medida que o silêncio entre nós se estendia, ela olhou ao redor de
sua cela com cautela.
Ela olhou para a gaiola à sua esquerda novamente onde Satan estava
agora deitada em seu canil, mantendo um olho atento em Marcella.
O rugido de várias motos me disse que as comemorações de um
sequestro bem-sucedido começariam em breve. Com aplausos e gritos,
vários dos meus irmãos do clube vieram até o canil. Eles bateram em meus
ombros e verificaram a prisioneira com olhos desconfiados e comentários
sujos. Após alguns minutos, nos quais Marcella parecia ter tentado
desaparecer na parede, eles partiram para a sede do clube.
Marcella agarrou seus antebraços com mais força, olhando para mim.
— E agora?
Joguei meu cigarro no chão. — Você fica aqui confortável, e irei até
meus irmãos.
Música country alta explodiu pelas janelas abertas e alguns caras
cantavam junto em um tom desafinado. Eles já devem ter encontrado os
destilados. A porta do clube se abriu e Gunnar saiu cambaleando, sua
camisa meio desabotoada e uma garrafa de uísque em suas mãos.
— Estou indo!
— Suponho que vocês estejam comemorando meu sequestro? —
Marcella perguntou, colocando uma mecha de cabelo atrás da orelha. Hoje
foi a primeira vez que vi seu cabelo não perfeitamente arrumado.
— Finalmente, Gray, mova sua bunda para cá. Seu velho esteve te
procurando o dia todo, — gritou Gunnar.
Gray me deu um aceno de cabeça enquanto descia da moto. Balancei
a cabeça, me perguntando o que ele tinha feito de novo. Seus olhos
pousaram em Marcella e ele fez uma careta. Seus sentimentos em relação
ao sequestro não mudaram. Os meus também não, mas sacrifícios tinham
que ser feitos se quiséssemos nossa merecida vingança.
Ela não disse nada, mas quase pude sentir seus olhos furiosos no meu
pescoço.
Papai sempre me alertou sobre os perigos de nossa vida, mas nem ele
nem eu imaginamos que realmente chegaria a esse ponto. Que eu realmente
seria sequestrada.
Estremeci. Ainda parecia um pesadelo.
Não sabia que horas eram. Devo ter perdido meu relógio como um
dos meus sapatos em minha luta, mas horas devem ter se passado desde que
fui sequestrada. A ideia de que estive desmaiada por horas enviou um
calafrio pela minha espinha, me perguntando o que aqueles animais fizeram
nesse ínterim.
Minhas mãos tremeram ainda mais e segurei meus joelhos. Seus olhos
dispararam para a porta da gaiola. Rezei para que ele não tivesse as chaves.
Talvez estivesse bêbado o suficiente para que eu pudesse dominá-lo e fugir,
mas talvez ele não estivesse, e era definitivamente mais forte que eu. Ele
cambaleou em direção à porta e a sacudiu, levemente no início, depois com
mais força. Soltei um suspiro de alívio quando suas sacudidas irritadas na
porta não fez nada.
— Que pena. Talvez mais tarde, — ele disse com uma gargalhada
estúpida. Então começou a desafivelar o cinto. Ele precisou de duas
tentativas para abaixar o zíper, e sacudi minha cabeça em desgosto. Ele ia se
masturbar bem na minha frente?
— Ele fez xixi na gaiola e caiu um pouco nas minhas mãos, — disse
apressada, odiando o tom desesperado em minha voz. Nunca fiquei
desesperada, pelo menos não na frente de estranhos.
— Não. Só porque você é uma prisioneira, não significa que deva ser
tratada como lixo. Quero o seu pai, não você.
— Temos um porão.
— Você sabe que seria fácil para meu pai se atacasse agora.
— Seria, mas seu velho não tem a menor ideia de onde você está. Nos
mudamos recentemente para esta sede.
Maddox suspirou, olhando para uma janela onde uma mulher nua
acenava. — Sua namorada está esperando por você para mantê-la entretida,
— murmurei.
— Não é minha namorada, mas devo ir, — ele disse. Ele agarrou o
cara no chão e arrastou-o para longe.
Minha beleza foi uma arma durante toda a minha vida, algo para
intimidar os outros sem armas e violência, mas agora era um risco. Estava
no início da adolescência quando percebi a expressão nos olhos de muitos
homens, e logo aprendi a usá-los a meu favor, mas agora...
Minhas pálpebras logo ficaram pesadas, mas as forcei a abrir até que
queimassem ferozmente. Os cães roncavam nos canis ao lado do meu,
provavelmente sonhando em me ter como sua próxima refeição.
Uma figura saiu de casa muito depois que a festa se acalmou.
Reconheci Maddox quando ele se encostou na varanda, iluminado pela luz
da janela. Ele era o mais alto de todos os motoqueiros. De vez em quando, a
ponta do cigarro brilhava. Mesmo sem ver seus olhos, podia dizer que ele
estava me observando. Houve uma sensação de formigamento. Uma que
senti no clube onde o vi pela primeira vez.
Maddox White.
Não tinha nenhuma arma real, exceto uma. Amo sempre disse que
minha aparência era letal. Tinha que torcer para provar que ele estava certo.
Capítulo 7
Seu salto alto descansava ao seu lado. O balde foi empurrado para o
canto o mais longe possível dela. Mas mesmo que tivesse uma vontade de
aço, as necessidades de seu corpo devem ter vencido durante a noite. A
madeira do abrigo estava mais escura onde a urina de Denver atingiu.
Parei na frente das gaiolas, olhando para a garota lá dentro por alguns
minutos sem dizer uma palavra. Infelizmente, Marcella simplesmente olhou
para mim, escondendo seu desconforto, se é que sentia algum. — Seus
olhos estão vermelhos. Você chorou?
— Não vou procurar o outro sapato, por mais caro que eles sejam. E
ninguém se importa com sua aparência. Você não vai precisar de sapatos
elegantes tão cedo. — Sem mencionar que a garota parecia uma bomba
sexual, mesmo com as roupas rasgadas. Ela provavelmente ainda pareceria
uma maldita modelo em um saco de batatas.
Seus olhos tinham tanta arrogância que tive que resistir à vontade de
abrir a porta e puxá-la contra mim para calá-la.
— Mas não era por isso que você não conseguia tirar os olhos de
mim. Conheço a expressão que estava em seu rosto. Você pode negar o
quanto quiser, mas aposto que fantasiou sobre mim depois daquele dia.
Gostaria que ela estivesse errada. Mas a garota estava certa. Ela era
tão linda, que mesmo depois de uma noite em um canil sem qualquer acesso
a um banheiro, ela fazia as garotas arrumadas na sede do clube parecerem
ratos de sarjeta. — Sua beleza não vai te tirar daqui, não vai te salvar.
— Mesmo seu pai não encontrará este lugar se é isso que espera. Ele
não pode te salvar, — continuei.
— Meu pai vai me salvar. Ele vai matar todos que estiverem em seu
caminho. Cada homem, cada garota do clube, até mesmo seu irmão mais
novo. Ele vai matá-los tão brutalmente quanto é capaz, e meu pai é o
homem mais capaz quando se trata de brutalidade, Maddox. Você vai vê-los
sangrar até a morte em seus pés, seus intestinos espalhados pelo chão como
confete. Gray vai morrer e, nos últimos momentos de sua vida, você ouvirá
seus gritos e se sentirá culpado por trazer isso para ele e para você.
— Você acha que sabe tudo, não é? Mas não sabe, Branca de Neve,
— rosnei. As sobrancelhas de Marcella se ergueram. — Sei o quão capaz
seu pai é. Você só ouviu as histórias, mas o vi em ação. O observei
desmembrar e esfolar meu pai e seus homens quando era apenas um
garotinho. Ajoelhei-me em seu sangue enquanto seu pai continuava
golpeando seus cadáveres como um maldito maníaco. Mijei nas calças, com
medo de que ele me encontrasse e me matasse também. Ainda ouço os
gritos em meus pesadelos. E você quer me dizer que não sei do que seu pai
é capaz?
Pela primeira vez, minhas palavras romperam sua bela máscara fria.
Seu rosto suavizou com compreensão, e em seguida, compaixão.
— Você usa água sanitária para manter seus dentes tão brancos? Com
todos os cigarros que você fuma, essa parece ser a única maneira de ter
dentes bonitos.
Maddox balançou a cabeça com um olhar incrédulo, uma risada
explodindo. — Porra, só você pode pensar nos dentes de alguém enquanto
está cativa pelo inimigo mortal de seu pai.
— Não há muito mais que eu possa fazer, — falei, minha voz menos
hostil, mais suave e quase brincalhona.
— Você poderia chorar e implorar por misericórdia.
— Não.
— Não gosto de perder meu tempo, — disse. — A vida é muito curta
para não fazermos as coisas que gostamos...
Ele sorriu, a covinha, que não era realmente uma, mas uma cicatriz,
aparecendo em sua bochecha. — Então por que você está perdendo seu
tempo flertando comigo, princesa mimada? Talvez ache que eu seja um
animal, mas meu pau não está comandando o show. Desculpe por
desapontá-la.
Ele tirou um chapéu imaginário e se afastou das grades, o sorriso
diminuindo e seus olhos se tornando mais vigilantes. — Mantenha os pés
no chão, e não flerte com meus irmãos do clube, eles podem levar mais a
sério do que você deseja. Mas se mantiver a cabeça baixa, logo voltará para
casa sem um fio de cabelo fora do lugar. Sua herança garantirá uma vida
cheia de viagens de compras depois que secar as lágrimas pela morte de seu
pai.
Sufoquei minha fúria. — Você acha que a morte do meu pai secará as
suas lágrimas por ter perdido seu pai?
Ele estreitou os olhos. — Não perdi apenas meu pai, ele foi arrancado
de mim da maneira mais bárbara possível.
— Mas se você matar meu pai, não o machucará. Meu pai não tem
medo da morte. Se quer vingança, precisa machucá-lo como ele te
machucou.
Eu não disse nada. Não tinha certeza do que estava fazendo aqui.
Queria ser solta o mais rápido possível, mas conhecendo papai, ele trocaria
de lugar comigo sem hesitação.
— Se matar meu pai e me deixar viver com a culpa de ter sido a razão
de sua morte, eu pagarei por seus pecados.
— Mas se eu te machucar para fazer seu pai sofrer, você pagará pelos
pecados dele também, só que de uma forma mais dolorosa.
— Você não sentirá dor física enquanto estiver aqui, mas não posso
poupá-la da tristeza de ser o motivo da morte do seu velho, — ele
murmurou. Ele enfiou os polegares nos bolsos da calça jeans. — Talvez seja
um consolo saber que ele merece tudo o que planejamos.
Matteo amava meu pai e Romero respeitava Luca e era quase como
um irmão para ele. Eles não descansariam até que cada motoqueiro
encontrasse um final doloroso.
Ele me deu um sorriso severo. — Receio não ter tempo para mais
bate-papo. Tenha um bom dia.
Parei ao lado dele na varanda. — Você não tem coisas melhores para
fazer do que salivar pela garota Vitiello?
— Só fique longe dela. Nós dois sabemos que seu pau tem vida
própria.
— Já tive festas suficientes para uma vida inteira e ainda não acho
que temos motivos para comemorar.
— Quando tinha sua idade, não dizia não a uma festa ou a uma
boceta.
— Quando você vai pedir a Vitiello que se troque pela filha? Quero
acabar com isso e, finalmente, colocar minhas mãos no próprio Vitiello.
Earl não reagiu, apenas estreitou os olhos fitando o charuto em suas
mãos.
A voz de Earl deixou claro que a discussão acabou para ele, e sendo
teimoso como uma mula, sabia que era inútil continuar falando.
Ele esbofeteou Marcella no rosto com tanta força que ela caiu no chão
com um grito. Avancei pelo caminho e entrei na gaiola e agarrei seu braço,
impedindo-o de bater nela novamente.
Virei-me para Marcella. Sua blusa tinha perdido outro botão e estava
coberta de sujeira assim como seus pés, mas o brilho em seus olhos era tão
orgulhoso quanto da primeira vez que a vi. Estendi minha mão e para minha
surpresa ela a pegou sem hesitar. A coloquei de pé. Ela tropeçou sobre mim
e não tive certeza se foi um acidente. Em vez de afastá-la logo, apreciei a
sensação de seus seios pressionados contra meu peito por um momento
enquanto olhava para seu rosto. Agarrando seus ombros, a afastei. — Isso
dói? — Perguntei, apontando para sua bochecha vermelha.
— Talvez você deva descer do alto de seu cavalo antes que alguém a
derrube. Todos por aqui estão ansiosos para quebrar a princesa mimada.
Tenha isso em mente antes de agir novamente.
Cerrei meus dentes com o ataque de fúria que senti contra o idiota.
Ele sempre precisava de alguém para importunar, de preferência uma
mulher. — O que exatamente ele fez?
— Você é nossa vantagem contra seu pai. Não permitirei que ninguém
atrapalhe meus planos, prejudicando essa vantagem.
— Seu último aviso não teve o efeito pretendido. E seu tio não parece
se importar se ele danificar a mercadoria.
— Você sabe o protocolo. Não venha para cá até ter certeza absoluta
de que ninguém está te seguindo. Até então, fique com uma das garotas. —
Ir para uma das old ladies seria muito arriscado e até que pudéssemos ter
certeza de que nossas casas seguras eram realmente seguras, ele precisava
ficar longe delas também.
Ele parecia lívido. Sua cabeça não apenas ficou vermelha, mas
também roxa e uma veia em sua testa inchou grotescamente. Isso nunca era
bom.
— Ele está tentando nos intimidar. Se ignorarmos sua mensagem, isso
só vai enfurecê-lo mais.
— Ignorar? Foda-se que farei isso. Ele precisa perceber quem está
puxando as cordas, e com certeza não é ele.
— Ligar para o Vitiello é um grande risco, Prez. Ele pode nos rastrear,
— Cody se intrometeu.
Quase revirei os olhos. Como se Earl não soubesse disso. Todo
mundo que faz merda ilegal há mais de um dia sabe como é fácil rastrear
ligações telefônicas.
— Você pode subir o vídeo para a internet sem nenhum link para este
local? — Earl perguntou a Gray.
Earl deu um tapa na cabeça dele. — Acho que sim não funcionará se
você não quiser que Vitiello esfole suas bolas.
— Você quer postar um vídeo da Marcella nua online? — Não era tão
ruim quanto o que temia quando Earl pediu que ela ficasse nua, e isso
definitivamente provocaria uma forte reação de Vitiello.
Por fim, Earl sinalizou para Gray encerrar a gravação. Marcella ficou
parada, com os braços soltos ao lado do corpo. Do jeito que estava, ela não
tinha nenhuma razão para ser tímida com seu corpo, mas não era por isso
que parecia completamente imperturbável por sua nudez. Ela era orgulhosa
demais para mostrar qualquer fraqueza. Perguntei-me o que realmente
estava passando por sua cabeça.
— Vamos torcer para que seu pai receba a mensagem, — Earl disse
antes de se virar e voltar para a sede do clube, provavelmente para
mergulhar seu pau na boceta da garota do clube.
— Por quê? Pra você mergulhar seu pau nessa bocetinha virgem?
Posso esperar você ser o primeiro.
Quase perguntei se ela era mesmo virgem. Então decidi que seria
melhor se não soubesse. Era completamente irrelevante para o nosso plano,
mas mesmo assim meus pensamentos giraram em torno desse pequeno
pedaço de informação, já que Cody o trouxe à tona como moscas ao redor
da merda. — Basta se vestir, — falei bruscamente, irritado comigo mesmo.
Não havia como negar. Marcella era mais bonita do que na minha
imaginação. Porra, bonita era um insulto para ela. — Há homens que não
gostariam?
Isso deveria me acalmar? Cody era como um homem faminto que viu
sua próxima refeição quando olhou para mim.
— Você não pode deixá-lo me ter, — sussurrei. Posso ser sua, deixei
meus olhos dizer. Ele me queria, me desejou desde o primeiro momento.
Precisava dele do meu lado se quisesse sobreviver a isso. Não podia contar
apenas com papai e Matteo para me salvar.
Uma guerra acontecia nos olhos de Maddox. Talvez tenha percebido
porque eu estava flertando com ele. Ele jogou o cigarro fora, pisou nele
antes de chegar bem perto de mim, apenas as grades entre nós. Os cachorros
latiam de excitação. Ele trouxe seu rosto tão perto que nossos lábios quase
se roçaram.
— Não sou estúpido, — ele rosnou. — Não pense que você pode me
manipular. Não sou como seu ex noivo piegas.
Seus olhos furiosos correram para a minha boca, querendo, apesar de
tudo. Ele suspeitava de mim e ainda assim não conseguia parar de querer o
que não deveria. Não desviei o olhar. Exalei, em seguida, inalei seu cheiro,
uma mistura de couro, fumaça e sândalo. Nada que já tenha apreciado, mas
Maddox fez funcionar. Meu corpo estava curioso, ansiava por algo que me
foi negado por tanto tempo.
— Não tenho que usá-la. Você está à nossa mercê, Marcella, talvez
tenha esquecido. Poderia fazer com você o que quisesse, sem quaisquer
consequências.
— Poderia, mas isso não é quem você é. Você me quer, mas me quer
disposta.
— Os cães são mais ferozes quando estão com fome. Há uma luta de
cães esta noite, então eles precisam estar atentos.
— Aí está a sua água. Tem certeza que não quer me dar alguma
coisinha para que encha as tigelas dos cachorros?
Fiz uma careta e ele jogou a mangueira para longe antes de ir embora.
Meu canil estava completamente molhado, mas a água escorreu pela ligeira
inclinação em direção a entrada da gaiola e não atingiu as outras gaiolas.
Satan deitou de barriga e tentou apertar seu focinho sob a lacuna entre as
grades e o chão para lamber a água, mas não teve sucesso. Peguei minha
tigela, que estava cheia de água, mas a coisa não passava pelas grades.
Satan me observava atentamente. Eu não tinha nenhuma experiência com
cachorros, então não pude dizer se ela era amigável ou estava esperando por
uma chance para me comer.
Minha pena pela besta venceu mesmo quando meu pulso acelerou.
Peguei água em minhas mãos e cuidadosamente as movi através das grades.
Após um momento de hesitação, Satan se aproximou de mim. Fiquei tensa
quando ela aproximou o focinho, mas apenas sua língua saiu e ela começou
a beber com avidez. Repeti o processo várias vezes até que ela parecesse
satisfeita.
— O que você está fazendo? — Maddox perguntou, me assustando
tanto que machuquei meus pulsos quando os puxei de volta através das
grades. Satan soltou um forte latido com o movimento rápido.
— É verdade que os cães têm que passar fome para lutar mais
ferozmente esta noite?
— Também não gosto das lutas, mas o prez toma as decisões e todos
nós as seguimos, mesmo que odiemos.
Fiquei surpresa com sua honestidade e pude ver em seu rosto que ele
não pretendia revelar tanto. — Você foi contra o meu sequestro?
Maddox balançou a cabeça com um sorriso estranho. —Você precisa
de um cobertor ou toalha?
— E?
— Eu disse, mas ele não se importa. Hoje foi muito ruim. — Ele
balançou a cabeça como se não quisesse pensar, muito menos falar sobre
isso. — Preciso beber até esquecer, — ele murmurou e desapareceu dentro
do clube.
Eu a observei, sem dizer nada. O luar fazia sua pele brilhar e seu
cabelo reluzir como petróleo, mas o que realmente a deixou linda naquele
momento foi a expressão carinhosa que ela tinha pelo cachorro. Ela me
lançou um olhar enviesado, jogou o resto da comida na direção de Satan e
limpou as palmas das mãos nas calças antes de se levantar. Ela se
aproximou de mim com um olhar que fez meu estômago revirar. Ela
agarrou as grades e olhou para mim. —Pessoas que gostam de lutas de cães
geralmente gostam de torturar humanos também. Não confio em Cody e
Earl. E você?
Sabia que ela estava certa, mas não podia deixar que nos considerasse
aliados. Nós não éramos. Ela era a cativa e filha do meu pior inimigo.
Ela se inclinou ainda mais perto, com a voz baixa. —Você realmente
quer vir aqui um dia e descobrir que ele abusou de mim? Você quer isso na
sua consciência? — Rangi meus dentes. — Poderia realmente viver consigo
mesmo se Cody pegasse o que você nega a si mesmo?
Earl olhou por cima do ombro e continuou atirando nas latas. — Não
fique nas minhas costas, porra, está me dando uma coceira de merda.
Apoiei meus cotovelos nos joelhos. — É isso aí, — disse, então sorri
torto. — É por isso que a quero na minha cama.
Cody, que havia saído sem que eu percebesse, soltou uma risada
incrédula. — Certo.
— Aposto que está. Ela tem seios lindos e uma boceta bonita, pelo
que pude ver, então tem muito com que trabalhar.
Acendi meu próprio cigarro, permitindo que meu sorriso ficasse sujo.
— Se ela quer me influenciar com sua boceta bonita, quem sou eu para lhe
negar? Principalmente quando isso irrita Vitiello.
O rosto de Cody ficou cada vez mais frustrado. — Tenha cuidado
para não cair na armadilha dela. Aposto que ela conduziu mais de um
homem por seu pau.
Earl soltou sua risada rouca. — Tesão pra caralho. Por mim, você
pode preencher os buracos dela, contanto que isso não interfira no nosso
plano. Você é quem mais merece uma boceta Vitiello, como disse. Não vou
proibir isso. Mas tome cuidado. Tenho certeza que o rosto bonito é uma
máscara e a boceta vai te apunhalar pelas costas no momento em que não
estiver prestando atenção.
— Mad teve que assistir seu pai e seus irmãos do clube sendo
destroçados por Luca Vitiello e arriscou a porra de seu couro sequestrando
Marcella. Como isso é injusto?
Cody parecia estar engolido uma pílula amarga, mas não se atreveu a
insistir com Earl. Seu rosto deixou claro que o assunto estava encerrado e
ele queria sua paz do caralho para atirar nas latas.
— Boas notícias, você vai se mudar hoje, — disse a ela. Ela levantou,
os olhos arregalados de esperança.
— Espero que não esteja pensando que vou levá-la de volta para o
papai ou deixá-la ir. Nem todo o meu sangue saiu do meu cérebro ainda.
— Para o meu quarto. É lá que passará o resto de sua estadia aqui até
que seu pai decida se trocar por você.
Sua boca ficou frouxa. — Você perdeu a cabeça? Não vou dividir o
quarto com você.
O olhar que ela me deu deixou claro que sabia muito bem do efeito
que tinha sobre mim, e porra, ela estava certa.
— Não tenho o dia todo para você se decidir. Talvez todos tenham
atendido aos seus caprichos até agora, mas eu não vou.
Poderia dizer que ela lutou contra si mesma para manter a réplica
mordaz. — Irei com você, — ela disse a contragosto.
Ela saiu da gaiola na ponta dos pés, mas Satan saltou contra as grades
ansiosamente, fazendo-a pular. Ela se virou para o cachorro. — Vou me
certificar de que meu pai a liberte assim que destruir este lugar.
— Acho?
Sempre que atacava seu pai, suas paredes se erguiam enquanto ela
entrava em modo protetor. Nada poderia fazê-la duvidar dele? — Meu pai
nunca sequestraria uma mulher ou o filho de alguém. Ele tem honra, ao
contrário de você e seu clube de motoqueiros idiota.
— Você pensa muito de seu pai. Se soubesse tudo o que ele fez, tenho
certeza de que mudaria de ideia.
Depois de mais uma olhada na cama queen size, fui até a poltrona.
Nos dois anos de nosso relacionamento, Giovanni nunca havia passado a
noite. Era irônico que o primeiro homem com quem passaria a noite em um
quarto era o mesmo que me sequestrou e queria matar meu pai. Um
motoqueiro. Um homem que definitivamente não compartilhava de nenhum
dos nossos valores. Flertei com ele, mas dormir em seu quarto nunca fez
parte dos planos. Olhei ao redor de seu quarto com curiosidade. Não havia
muito nele. Uma cama, uma poltrona e uma escrivaninha. As duas últimas
serviam apenas como um lugar para largar as roupas.
— Você os fez?
Ele assentiu, como se não fosse grande coisa. — Ela não se importou
por ter que fazer o jantar para outra mulher passando a noite no seu quarto?
Nunca tinha visto dessa forma, mas era verdade que apenas alguns
meninos tiveram permissão para se aproximar de mim quando atingi a
puberdade. Todos eles bem comportados e respeitosos, para não falar com
medo do meu pai. — Você não sabe nada da nossa vida. Mas certamente é
melhor do que essa vida caipira sem lei que você leva.
— Sou livre para fazer o que quiser. Você está sujeita às suas regras
antiquadas. — Mesmo que ele tivesse razão, não poderia simplesmente não
argumentar. Fiz um gesto para a tatuagem de cão do inferno em seu braço, o
símbolo de seu clube. — Você não pode simplesmente deixar o clube
também. Isso não é liberdade.
— E minha família é a minha vida, então não sou menos livre do que
você.
— Não acho que você realmente entenda o que significa liberdade.
Muitas vezes ansiava por liberdade, mas não longe da minha família e
do mundo em que cresci.
Maddox estendeu o prato novamente e o colocou na mesa de
cabeceira. — Você pode comer na cama se quiser, não me importo.
— Não se preocupe.
Ele se virou na porta do banheiro. — E não tente nada ou vou jogar
sua bunda empinada no canil de novo. — Ele fechou a porta.
Maddox olhou para mim como se fosse uma intrusa em seu espaço,
como se tivesse pedido para estar aqui, como se tudo isso fosse minha
escolha. Ele andou até a pequena mesa e pegou o maço de cigarros que
estava lá. — Você tocou no meu colete?
Ele colocou o cigarro na boca, acendeu e deu uma longa tragada antes
de finalmente me considerar com uma resposta. — Tem algum problema
com isso?
Devido à sua explosão, ele chegou muito perto de mim, então o cheiro
de seu gel de banho másculo e mentolado inundou meu nariz. Seu cabelo
ainda estava molhado e desgrenhado na testa. Meus olhos foram atraídos
para as tatuagens por toda a parte superior de seu corpo e braços. Imagens
de cães do inferno, facas, caveiras e motocicletas.
Maddox olhou para mim, mas algo em seus olhos me fez sentir
quente. — Fui vítima há muito tempo, não sou agora.
Meus olhos piscaram do piercing em sua língua para a barra em seu
mamilo.
— Onde? — Perguntei.
Ele apontou para o peito. — Sou sua proteção, e você com certeza
não precisa ser protegida de mim. Sua boceta está segura.
Rangi os dentes e finalmente deitei na cama. Era muito diferente do
que estava acostumada em casa, mas parecia uma nuvem macia depois do
abrigo de cães.
Ele olhou para o peito. — Meu pai tinha a mesma tatuagem. Não
lembro muito de sua aparência. Sempre que tento me lembrar de sua
aparência, vejo a polpa sangrenta em que seu pai o transformou. Essa
tatuagem é tudo que tenho.
Engoli. — Sinto muito pelo que meu pai fez.
— Vou estar fora em uma corrida a maior parte do dia, mas deixarei
comida e água suficientes e manterei a porta trancada.
— Isso é horrível. Mas por que cicatrizou tão mal? A ferida não pode
ter sido tão profunda.
— Ele disse que se eu quisesse escolher o lado dos cães, seria tratado
como um e suas feridas sempre têm que cicatrizar sem tratamento. Ele me
trancou na gaiola por alguns dias também, então eu saberia como é.
Meu queixo caiu. — Não admira que você seja tão confuso.
Ele suspirou e balançou a cabeça. — Não sei por que te disse isso.
— Porque você não tem mais ninguém, não confia o suficiente para
compartilhar.
— Seu pai.
Ele não deu mais detalhes, apenas desapareceu no banheiro. Não pude
deixar de sorrir.
Maddox saiu dez minutos depois e foi para a cama sem dizer uma
palavra, mas não apagou as luzes.
— Eu te disse que meu pai não pararia por nada para me salvar, —
disse, incapaz de conter minha emoção.
— Ele é meu pai, é claro que acredito nele. E a droga que você está
procurando é amor. — Me encolhi por dentro com o quão sentimental isso
soou, mas era verdade. Papai não me mimou apenas com presentes e
dinheiro, ele também me mimou com amor e carinho.
— Você não está chateada porque seu irmão vai se tornar o chefe,
embora seja a mais velha?
— Então, se você tivesse uma irmã mais velha, ela não poderia se
envolver com o clube?
Ele franziu a testa. — Ok, tanto o clube quanto a máfia não permitem
mulheres. Mas você parece uma garota acostumada a conseguir o que quer.
Deve ser difícil ficar em segundo lugar, nem isso. Sua palavra nunca
significará nada na Famiglia. Se você se casar com um mafioso italiano
pomposo, ele subirá no ranking da Famiglia e você poderá criar os filhos
dele e lhe dar um boquete se ele voltar para casa depois de um dia duro de
trabalho.
Maddox usou sua língua para empurrar sua bochecha de uma forma
muito óbvia.
— Isso é nojento.
— Ambos, — murmurei.
— Não me diga que você nunca deu um boquete naquele pobre idiota
em dois anos de relacionamento. Não admira que ele sempre parecesse tão
tenso. Eu ficaria também se não ganhasse um bom e longo boquete em
anos.
— Essa é uma pergunta que você faz ao seu noivo quando ele passa a
noite?
Ela encolheu os ombros. — Giovanni nunca passou a noite.
Não conseguia parar de olhar para seus olhos azuis, brilhando contra
o carvão escuro de seu cabelo.
— Deixe-me adivinhar, seu noivo mijava nas calças por causa do seu
velho.
Ela sorriu. — A maioria das pessoas o faz.
— Eu não.
Acima de tudo, sentia falta do que poderia ter sido. Perdi que nunca
tivemos a chance de ter um bom relacionamento. Perdi que meu velho
nunca teve a chance de ser um bom pai. — Claro, — falei, mas as palavras
soaram vazias.
— Ela se tornou a old lady do meu tio algumas semanas depois que
meu velho foi morto.
Isso devia responder à sua pergunta. Minha mãe nunca sentiu falta do
meu pai. Ela poderia ter sentido falta da posição de old lady de um prez se
meu tio não a tivesse tornado sua imediatamente.
— Você quer que lhe conte minha memória de infância favorita? Tem
certeza que quer ouvir alguma história sobre meu pai?
Com certeza não queria imaginar Luca Vitiello como um bom pai.
Desejei que as memórias de Marcella dele fossem tão sombrias quanto as
minhas do meu pai, mas eu não era um maricas. Poderia ouvir a verdade. —
Vá em frente.
— Branca de Neve?
Dei de ombros e rolei de costas, olhando para o teto. Ela continuou
me olhando com expectativa.
Não tinha certeza do que Marcella tinha que me fazia querer falar, ou
pelo menos ouvir. Ela era sofisticada e escolhia as palavras com cuidado.
Nunca conversei com uma mulher que fosse tão educada e inteligente
quanto ela. E às vezes simplesmente gostava de obter uma reação dela. —
O que aconteceu com o seu noivo? Ele te largou por não transar?
Seus lábios se estreitaram. — Garotas como eu não são largadas. Eu
terminei com ele.
Ela ficou carrancuda. — Suponho que você se veja como o lobo mau,
Mad Dog?
Definitivamente adoraria comê-la.
— Se sexo fosse tudo que eu quisesse, poderia ter dormido com caras
mais sexys do que posso contar. Existem poucos homens que não diriam
sim a uma noite comigo.
Sem dúvida...
Ela não negou, apenas olhou para mim de uma forma que me enviou
uma onda de desejo.
Capítulo 11
Estar perto dela todas as noites era uma tortura. Earl havia
mencionado que entraria em contato com Vitiello em breve para fazer a
troca e, em vez de ansiar pela vingança, meu único pensamento era que
perderia Marcella antes mesmo de tê-la. Eu era um idiota.
— Por quê?
Tive a sensação de que ela sabia de seu efeito sobre mim. Era quase
impossível para eu não olhá-la, não fantasiar sobre ela dia e noite. — Acho
que você sabe, — falei rispidamente.
— Sei?
Tinha certeza que tinha ouvido mal. Toquei seu quadril e depois de
brevemente ficar tensa, ela amoleceu sob meu toque. — O que você está
fazendo? Você acha que pode me seduzir para ajudá-la? Quantas vezes
tenho que dizer que isso não vai funcionar?
Determinado a arrancar mais dela, tracei meu dedo para cima e para
baixo em sua boceta.
Ri, mesmo que meu pau pulsasse com uma necessidade furiosa. —
Isso não vai te render pontos extras.
Porra.
Claro, sonhei com ela e acordei com tesão. Talvez o sangue não tenha
deixado meu pau a noite toda. Minhas bolas doíam como uma cadela de
qualquer maneira. Depois de um banho rápido, andei completamente nu no
meu quarto, cansei de brincar de esconde-esconde com Branca de Neve.
Ela seguiu meus movimentos com uma expressão indignada, mas seus
olhos mantinham o mesmo desejo que sentia. Logo meu pau ficou duro
novamente. O olhar de Marcella avaliou o piercing de barra na base e o da
ponta. O último na verdade foi o resultado de uma aposta perdida, mas
rapidamente percebi que gostava da sensação do metal frio e as mulheres
também gostavam.
Marcella não disse nada, mas depois de ontem à noite ela não podia
fingir que não sentia tesão por mim. Eu sabia que a encontraria molhada
novamente se tocasse em sua boceta.
A noite anterior com Maddox foi uma revelação. Seu simples toque
acendeu meu corpo. Talvez porque estivesse faminta por toque.
— Earl disse que vai falar com o seu velho. Esta pode ser uma de
nossas últimas noites juntos.
Meu coração acelerou. — Mesmo?
— Talvez você devesse usar esta noite para me deixar comer sua
boceta antes de voltar para o seu noivo.
— De dar.
Não tinha certeza de por que fiz isso, mas pisei na cama e olhei para
Maddox.
Ele inclinou a cabeça para trás para que pudesse olhar por baixo da
minha camisa. Não estava usando calcinha. Ele assobiou entre os dentes. —
Porra, Branca de Neve, deixe-me comer essa boceta real.
Ele agarrou minhas panturrilhas e puxou com tanta força que perdi o
equilíbrio e caí para frente, meus joelhos afundando no colchão macio ao
lado de sua cabeça.
O encarei.
Maddox pareceu tomar isso como um desafio para extrair sons dos
meus lábios enquanto chupava e lambia, mordiscava e sacudia. Logo minha
respiração saiu em rajadas agudas e meus quadris balançavam quase
desesperadamente. Até agora estava montando sua boca sem vergonha. As
mãos fortes de Maddox seguraram minha bunda, massageando e guiando
meus movimentos. Ele se afastou cerca de um centímetro e quase o puxei
de volta pelos cabelos. Tão desesperada por liberação que estava perto de
perder qualquer aparência de controle.
Levantei uma sobrancelha. — Por que não pede a uma das garotas
compartilhadas para fazer isso por você? — Apesar do tom áspero de
minhas palavras, a ideia de que Maddox poderia transar com outra mulher
não caiu bem para mim. Ele se empurrou numa posição sentada, sua calça
jeans esticada. Lembrando-me dos piercings e de seu corpo
pecaminosamente sexy, me senti compelida a ficar de joelhos e fazer o que
ele pediu, mas meu orgulho me manteve no lugar. Ele tirou um cigarro do
maço e levantou, parecendo não se importar. Ele deu de ombros e caminhou
até a porta. — Como quiser. Conheço a garota certa para chupar meu pau.
Uma bola quente de fúria cresceu em meu peito. — Se você fizer
isso... — Fervi, sem saber com o que iria ameaçá-lo. Não éramos um casal,
então não podia terminar com ele. Não éramos nada, exceto cativa e captor,
o que tornava a situação ainda mais ridícula. Não tinha nada com que
pudesse chantageá-lo.
— Então o que? — Maddox perguntou, virando-se com um sorriso
satisfeito, como se minha reação fizesse parte de seu plano. Ele me enganou
por uma explosão emocional?
— Ao contrário das mulheres que você escolhe para fazer sua jogada,
tenho algum estilo.
— Oh, você tem estilo e muita arrogância para combinar. Você não se
sente hipócrita falando mal daquelas garotas quando sua boceta ainda está
molhada da minha língua mágica.
Ele tinha razão, mas não podia admitir. — Elas escolheram este estilo
de vida. Fui sequestrada. Nada é minha escolha.
Isso era covardia, não querer arriscar viver a vida que você deseja.
Ele enfiou a mão em sua boxer e liberou seu pau. Não conseguia
desviar o olhar, embora quisesse fazer isso. Mas o piercing em sua ponta
capturou minha atenção e não a deixou ir. Ele passou o polegar sobre o
pedaço de metal brilhante repetidamente enquanto esfregava a ponta.
Aproximei-me. — Você realmente vai fazer isso na minha frente.
Você não tem vergonha?
O silenciei com outro beijo e comecei a mover minha mão para cima
e para baixo, efetivamente afastando sua mão. Meu polegar explorou o
piercing em sua ponta, emocionada com a ingestão aguda de ar seguida por
um gemido baixo. Arrastei meus dedos mais para baixo, para o outro
piercing na base, como uma decoração para suas bolas, e novamente fui
recompensada por um assobio de Maddox.
Maddox riu como se pudesse ler pelo menos parte dos meus
pensamentos. — Quero gozar em todo o seu corpo perfeito.
— Não tenho certeza se quero pegar alguma doença sexual que você
tenha.
— Achei que era a sua vez, — disse em voz baixa enquanto seu
polegar me estimulava novamente. Tinha que admitir, acariciar Maddox ao
mesmo tempo era muito excitante, me levando em direção à borda muito
mais rápido do que o esperado.
— Vê-la ficar molhada vai me fazer gozar muito mais forte, Branca
de Neve. — Pela primeira vez, não fiz um comentário inteligente. Estava
muito perdida nas sensações, no calor que irradiava da pele de Maddox, na
dureza surpreendente de seu pênis e na necessidade pulsante entre minhas
pernas. Logo meus quadris começaram a se mover, perseguindo o polegar
de Maddox.
Quando meu segundo orgasmo tomou conta de mim, ele também
gozou por todo seu abdômen. Depois de um suspiro profundo, ele agarrou
meu pescoço e me puxou para um beijo. — Realmente vou odiar deixa-la ir.
Capítulo 12
Earl sorriu de uma forma que congelou meu sangue. — Estive tão
perto de permitir que seu velho se trocasse por você, mas algo na voz dele
não continha a submissão necessária que eu esperava em uma situação
como esta, sabe?
Porra. Earl deve ter usado sua chave reserva para entrar no meu
quarto. Passei por um Cody sorridente e corri escada acima, meu coração
batendo forte. O que diabos ele fez? Achei que Vitiello estava pronto para a
troca? Destranquei a porta e invadi o quarto. Respingos de sangue cobriam
o chão, levando ao pequeno banheiro. O sangue nunca me
incomodou. Depois da carnificina que Vitiello causou diante dos meus
olhos quando menino, estava muito endurecido para ser incomodado por
isso. E, no entanto, a visão desses poucos respingos de sangue fez meu
coração disparar.
Ela abaixou a toalha que sua mão trêmula segurava na lateral de sua
cabeça. Vendo seus olhos azuis intactos, o alívio tomou conta de mim, mas
então registrei sua orelha, que estava sangrando muito. Levei um momento
para ver que Earl havia cortado o lóbulo da sua orelha esquerda.
Minha visão ficou vermelha e me virei e desci as escadas
barulhentas. Mal conseguia respirar de fúria. Meus ouvidos zumbiam,
minha têmpora latejava. Invadi a área comum. Earl e Cody estavam
sentados nas banquetas do bar e bebiam uísque como se para comemorar o
sucesso.
Abri meus dedos, respirei fundo e dei um passo para trás. — Você não
deveria ter feito isso. Você foi longe demais. Nunca concordei com essa
merda. Quero torturar e matar Luca Vitiello, não Marcella.
— Quanto mais tempo levar, maior o risco para todos nós, — disse,
lutando para manter minha voz sob controle.
Ajoelhei-me ao seu lado, mas ela não olhou na minha direção. Em vez
disso, continuou olhando para frente, seus olhos distantes.
— O que sobrou dela, você quer dizer? — Ela disse roucamente, seus
olhos cheios de ódio e acusação, mas além dessas emoções óbvias, emoções
que ela queria que eu visse, detectei sua dor e medo, e essas emoções me
cortaram profundamente. Talvez devesse ter previsto. Desde o primeiro
momento em que a vi, ela não saiu da minha mente. O que era luxúria no
início se transformou em algo mais. Eu gostava de conversar com ela,
provocá-la. Porra, até gostava de vê-la dormir. O que quer que eu sentia, e
ainda não estava pronto ou disposto a analisar minhas emoções, estava em
desacordo com meu puro ódio por seu pai.
— Eu não sabia. Não teria permitido que isso acontecesse. Não faz
parte do plano.
— Você deve ser trocada por seu pai, como te disse. Era para
acontecer esta semana.
Ela estava certa. Era irrelevante que Earl ainda seguisse o plano,
mesmo sem minha ajuda.
— Feito, — disse.
Finalmente, seu olhar voltou para mim. O sorriso que ela me deu foi
amargo. — Isso era o que você queria, hein? Trazer um Vitiello às lágrimas.
Por alguma razão, isso causou uma nova onda de lágrimas, o que só
pareceu deixá-la mais furiosa. Deslizei meus braços sob os joelhos e costas
de Marcella e a levantei em meus braços. Ela não resistiu, em vez disso,
cedeu contra mim. O que isso fez comigo me pegou de surpresa. Senti uma
onda de proteção e afeto que quase me derrubou.
A coloquei na cama e acariciei suas costas. Certo de que ela não me
queria perto, dei um passo para trás, desejando caminhar pela floresta para
limpar minha cabeça e planejar algo.
— Fique.
Me deitei atrás dela e passei meus braços a sua volta. Nunca a abracei
assim, simplesmente para mostrar carinho e consolar. Não me lembrava da
última vez que abracei alguém.
— Isso só vai piorar, — ela sussurrou. — Seu tio quer quebrar meu
pai, mas meu pai não pode ser quebrado, então ele vai me quebrar.
Sabia que ela estava certa. Talvez devesse ter previsto, mas estava
muito desesperado por vingança. — Vou te proteger, — prometi. Esta
promessa seria minha ruína, podia sentir isso no fundo dos meus ossos. No
entanto, não tinha intenção de voltar atrás.
Quando saí do meu quarto com uma Marcella adormecida, uma hora
depois, minha mente ainda estava girando. Não tinha certeza de como
convencer Earl a prosseguir com a troca, especialmente depois de nossa
discussão. Ele provavelmente ainda estava chateado comigo. A área comum
estava cheia de caras. A notícia sobre minha reação à tortura de Marcella
deve ter se espalhado, a julgar pelos olhares curiosos e às vezes
questionadores que recebi. Apenas balancei a cabeça para eles e saí, sem
vontade de me justificar.
Estava andando pela floresta quando avistei Gray. Ele estava curvado
em uma árvore caída, fumando, o cabelo caindo no rosto. Como eu, ele
estava no clube desde os quinze anos, embora os prospectos geralmente
precisassem ter pelo menos dezoito anos.
— Sim, ela está dormindo agora. Claro, ela está assustada. Quem não
ficaria depois do que aconteceu?
Gray suspirou. — Espero que isso acabe logo.
— O sequestro?
— Talvez você possa falar com Earl, perguntar-lhe quando a troca vai
acontecer e convencê-lo a se apressar.
— Alguém tem que falar com ele e fazê-lo ver a razão. O clube
precisa seguir em frente como você disse. E isso só pode acontecer quando
finalmente matarmos Vitiello.
— Às vezes acho que matar Vitiello será apenas mais um passo da
guerra. Depois disso, sua família buscará vingança, e então buscaremos
vingança contra eles novamente, e assim por diante.
No fundo, sabia que Gray provavelmente estava certo, mas não me
importava com o que acontecesse depois, só queria me livrar de Luca. Mas
primeiro me certificaria de que Marcella estivesse segura. O que quer que
viesse depois era irrelevante.
Capítulo 13
Seu colete estava ao lado dele. Nunca estava longe dele. O colete, seu
clube, significava o mundo para ele.
Soltei uma risada rouca. — Você não conhece as pessoas com quem
tenho que lidar. Eles vão se divertir muito me vendo assim.
Eu podia ver uma coisa que ele queria mais do que tudo, mesmo que
não admitisse.
Ele rosnou e me puxou contra seu corpo, seus lábios colidindo com os
meus. Parte de mim queria empurrá-lo para longe, mas a outra queria isso,
ele. Por muitas razões confusas.
Passei meus dedos por seu cabelo, puxando com força, querendo que
doesse. Ele rosnou em minha boca, mas apenas me beijou com mais força,
suas mãos percorrendo minhas costas.
Queria empurrá-lo para longe, mas ele jogou seu piercing sobre o meu
clitóris antes de chupá-lo em sua boca e eu explodir. Meus dedos puxaram
seu cabelo enquanto pressionava contra ele, cavalgando seu rosto
desesperadamente. Era quase como uma experiência fora do corpo, como se
pudesse deixar todo o peso do passado e o medo do futuro para trás.
Sabia que quem havia chamado o nome de Maddox ainda estava lá,
mas não me importava mais. Ele não viveria para contar a história de
qualquer maneira. Assim que minha família me salvasse, todos morreriam e
levariam tudo o que ouviram ou viram para a sepultura com eles. Só podia
esperar que Maddox visse a razão antes de ter que compartilhar esse
destino.
Ele se firmou contra mim. Deus, nunca estive tão molhada. Um olhar
de Maddox me despertou mais do que horas de beijos com Giovanni.
Cravei minhas unhas ainda mais fundo em seus ombros, mas ele nem
mesmo recuou. — Porque tinha muito medo do meu pai.
— Não, você não vai, — rosnei, mas tive que admitir que me
emocionou saber que este homem não tinha medo de enfrentar meu pai. Eu
só queria que houvesse uma chance para nós, para os dois viverem.
Ele bateu em mim, estocadas longas e fortes que fizeram meu núcleo
zumbir de dor. Ele angulou suas estocadas para que seu piercing
continuasse esfregando meu clitóris e então me beijou. A sensação de sua
língua enquanto me reivindicava só aumentou o prazer. Logo era difícil
determinar onde meu desconforto terminava e o zumbido baixo do meu
orgasmo crescente começava.
— Durma, — murmurei.
Ela simplesmente assentiu, virou-se e voltou a dormir. Me estiquei de
costas, meus braços cruzados atrás da cabeça. Earl estava ficando
desconfiado. Os outros estavam ficando com ciúmes. Não estava indo como
eu planejei. Não queria deixar Marcella ir, mas tinha que deixar. Não podia
esperar que Earl se contivesse em não a machucar ainda mais. Fechei meus
olhos, querendo chutar minha bunda estúpida. Quando a segurança de
Marcella se tornou minha principal prioridade, ainda mais importante do
que a única coisa pela qual trabalhei toda a minha vida: vingança?
Encarei o teto. Marcella disse que seu pai me mataria por tirar sua
virgindade. Considerando tudo o que fiz, ele tinha vários motivos para
acabar com minha vida da forma mais brutal possível. Mas isso, foder sua
filha, era definitivamente a ponta do iceberg.
Mas valia a pena morrer por ela. Porra, morreria mil mortes apenas
por mais uma noite com ela.
Capítulo 14
Luca
Proteger minha família sempre foi minha prioridade. Nada era mais
importante, nem mesmo a Famiglia.
Earl White
Presidente do Tartarus MC
Ele tinha quase minha altura e a ferocidade em seus olhos cinza, meus
olhos, me lembravam mais de mim mesmo do que nunca.
Protegê-lo não era mais uma opção. Eu balancei a cabeça e apertei
seu ombro. Não fui capaz de proteger Marcella e não podia mais proteger
Amo. — Vamos lutar lado a lado.
Indiquei a Amo e Matteo para cuidar dele. Ele era muito jovem para
os detalhes horríveis, mas também precisava da verdade. No entanto, meu
único foco era Aria por enquanto.
Aria deu um passo para trás, o horror torcendo seu rosto. — Não.
— Aria...
— Vou me oferecer para me trocar por nossa filha. É a mim que eles
querem, não ela.
Cerrei minhas mãos em punhos, minha fúria tão avassaladora que tive
problemas para controlá-la. Valerio e Aria estavam me olhando
preocupados e eu precisava manter a porra da minha compostura até que
estivesse longe de casa.
Aria olhou para seu telefone celular e a cor sumiu de seu rosto.
Fui até Aria e toquei seu ombro. Ela ergueu a cabeça. — Quero todos
eles mortos, — ela sussurrou suavemente. Como se precisasse pedir. Eles
morreriam, de uma forma ou de outra. Por minha mão ou pela de Amo e
Matteo depois que me matassem.
Matteo andava pela sala. — Ele quer que você implore. Mal posso
esperar que a situação mude e o façamos implorar.
Quase implorei, não com as palavras exatas e manter minha fúria sob
controle foi quase impossível depois do vídeo de Marcella que o MC
postou, mas me ofereci a Earl White em uma bandeja de prata, mas ele
recusou. Se meus homens estivessem perto de encontrar o atual esconderijo
do Tatarus, as coisas seriam mais fáceis. Pulverizaria cada
motociclista. Porra, gostaria mais do que qualquer coisa que já gostei antes.
Dois dias atrás, seguimos uma pista a noite toda, mas a cabana que
encontramos era apenas um depósito de armas e munições
abandonado. Não havia nenhum vestígio do atual clube dos Tatarus. Se
pudéssemos colocar as mãos em um dos motoqueiros. Eles revelariam a
localização, mas o último cara que seguimos e encurralamos colocou uma
bala na cabeça antes que pudéssemos pegá-lo.
Uma batida soou e Valerio enfiou a cabeça dentro do meu
escritório. — Mamãe acabou de receber um pacote. Há uma impressão do
cão do inferno1 nele.
— Leve sua mãe e seu irmão para cima, — ordenei a Amo. Aria não
aceitou. Ela se livrou das mãos de Amo e ele obviamente não se atreveu a
agarrá-la novamente. Empurrei o pacote para Matteo antes de ir até Aria,
impedindo-a de ver o frasco.
Fiz um gesto para Amo retirar Valerio da sala que seguiu seu irmão
sob protesto.
Você. Desde que te conheci, só você. Estava meio tentado a fugir com
ela, deixar tudo que sempre conheci, sempre quis, para trás. Mas não
podia. A vida de MC era tudo que conhecia, tudo que queria. Não tinha
amigos ou família fora deste clube. Eu só tinha o Tatarus.
Não disse nada. Meus pensamentos eram loucura e traição. Fui até ela
e me inclinei sobre ela. Agarrando seu pescoço, inclinei sua cabeça para trás
para um beijo profundo. Ela respondeu no início, mas depois afastou a
boca, roubando-me aqueles lábios irresistíveis. — Isso vai acabar assim que
seu tio me devolver ao meu pai. A menos que ele decida me torturar e matar
para punir meu pai.
Ela disse isso como se estivesse falando sobre outra pessoa, sua voz
fria e controlada, mas seus olhos refletiam o medo que ela nunca
admitiria. Meu coração acelerou com a simples menção de sua morte. — Eu
nunca permitiria que Earl te matasse. Eu te protegerei.
Ela sorriu, mas não estava feliz. — Você pode? Me proteger? Seus
irmãos do clube querem me jogar na fogueira como a bruxa que acham que
sou.
Considerei mentir, mas simplesmente não podia fazer isso com ela
olhando para mim assim. Segurei seu pescoço com mais força. — Claro,
não quero te perder. — Peguei minha camiseta que chegava até suas coxas e
empurrei a boxer de lado. — Sentiria falta dessa linda boceta. — Eu
sentiria, mas era apenas uma pequena parte da razão pela qual não
conseguia imaginar deixá-la ir. Compartilhar detalhes da minha infância,
falar sobre mais do que entrega de drogas, álcool e armas, ela era a única
pessoa que eu podia fazer isso.
— Seja o que for, não podemos ter, não para sempre, —rosnei.
— Não quero estar à mercê de seu pai. Ele deveria estar a minha e
definitivamente não vou lhe conceder isso.
Marcella era o meio para um fim. Ela deveria ser o resgate de que
precisávamos para colocar as mãos em Vitiello. Eu a desprezava antes de
conhecê-la, e agora essa mulher me possuía de uma forma que nunca
deveria ter permitido. Não tinha previsto, mas deveria. Marcella Vitiello era
uma mulher diferente de todas as que conheci antes.
E hoje trairia meu clube por ela. Desistiria do meu objetivo de vida
por ela. E talvez até perdesse minha vida por ela. Nunca achei que algo
valeria a pena, muito menos uma mulher. Relacionamentos vão e vêm na
vida de um motoqueiro, o único vínculo duradouro era com seu clube e seus
irmãos, mas com Marcella sabia que queria que fosse um tipo de coisa até
que a morte nos separe. Claro, a morte provavelmente nos separaria muito
em breve.
Ela valia a pena. Porra. Eu sabia agora. Morreria mil mortes por
ela. Dando uma última tragada profunda, joguei fora meu cigarro. Era por
volta das dez da manhã, e vim para cá depois de comemorar com meus
irmãos na noite passada, em vez de ir para a cama. Não conseguia dormir e
também não podia encarar Marcella. Precisava de tempo para pensar. Hoje
Marcella deveria voltar para o canil, o mais longe possível de mim. Earl
tinha me concedido mais algumas horas para fodê-la antes que ela fosse um
alvo. Andei pelo local, verifiquei a cerca, mas ela estava fortemente
protegida.
Peguei meu telefone e olhei para ele quando os primeiros raios de sol
do dia nublado tocaram o chão ao lado dos meus pés. Muitos guardas
cercavam o perímetro para eu salvar Marcella sozinho. Porra.
Meu coração bateu forte quando disquei o número da boate de
Vitiello, onde ficava seu escritório. Nunca tinha falado com ele antes. Esse
sempre foi o privilégio de Earl como Prez.
Ele não negou e, pela primeira vez na vida, tinha algo em comum
com meu pior inimigo. O engraçado é que a pessoa que provavelmente
perderá a vida sou eu. Se Vitiello atacasse nosso clube com toda a força de
seus soldados, nenhum de nós sobreviveria. Uma morte rápida era tudo o
que podíamos esperar e provavelmente seríamos negados. — Seja
rápido. Earl tem mais coisas reservadas para sua filha.
— Vou rasgar todos vocês, — ele rosnou, mas desliguei antes que ele
pudesse elaborar sua promessa. Já tinha visto do que ele era capaz.
Sentei contra a parede do galpão, olhando para o céu. Era irônico que
o sol tivesse aparecido agora que decidi destruir a única coisa na qual me
agarrei por toda a minha vida. Então arrastei meus olhos para a tatuagem do
cão do inferno no meu braço. Eu nasci no clube. O amei com todo o meu
coração, jurei minha lealdade e vida a ele e aos meus irmãos do clube, mas
em apenas algumas semanas Marcella virou minha vida de cabeça para
baixo. O sequestro dela me mostrou a cara feia do Tatarus, uma que sempre
tentei ignorar. Ainda lutaria ao lado dos meus irmãos do clube e tentaria
matar Vitiello assim que Marcella estivesse segura. Eu queria ajudá-la, não
poupá-lo.
— Você não terá que esperar muito mais tempo. Vitiello cortará seu
próprio pau para salvar a filha, uma vez que todos nós tivermos uma chance
com ela, — Cody disse com uma risadinha. Ainda mais do que no passado,
senti a necessidade de esmagar sua cara estúpida.
— Ei Gray, preciso falar com você.
— Meu problema é que você não segue ordens. Você está abaixo de
mim na hierarquia, não se esqueça disso.
— Por enquanto, — ele murmurou, um leve insulto em sua voz. Ele
deve ter bebido muito para ainda estar bêbado na manhã seguinte. Esse
garoto me tirava do sério. Cody e Gunnar trocaram olhares.
— Preciso que você saia agora e pegue algumas coisas para mim.
Ele se livrou do meu aperto. — Não vou fugir, não importa o que
aconteça.
— Eu precisei. Earl foi longe demais. Todos nós fomos. Isso não
deveria se transformar em uma sessão de tortura de sua filha. Vitiello
deveria pagar, não ela.
— Você é um traidor!
Ele girou nos calcanhares como se fosse correr de volta para a casa e
avisar a todos. Não queria que todos morressem, mas se Gray os avisasse,
Earl poderia matar Marcella e provavelmente permitir que todos os irmãos a
atacassem antes disso. Não podia permitir. Peguei minha arma e acertei
meu meio-irmão na cabeça com a coronha. Ele caiu no chão. Agarrando-o
por baixo dos braços, arrastei-o para a floresta e escondi-o sob alguns
galhos e folhas. Com um pouco de sorte, ele não acordaria antes de tudo
acabar. Então, pelo menos, ele sobreviveria. Isso era tudo que eu podia
fazer.
Earl elevou-se sobre mim com um sorriso duro. — Gray me disse que
você ligou para Vitiello para que ele pudesse salvar sua pequena prostituta.
— Não há razão para sorrir, boneca, — ele disse em sua voz áspera.
— Onde está Maddox? — Perguntei bruscamente, recuando.
Ele me arrastou para fora, apesar da minha luta. Meus pés descalços
arranharam no piso áspero. — O que você quer dizer? O que aconteceu?
— Perguntei várias vezes, mas ele me ignorou. Não havia ninguém na área
comum quando a cruzamos. Onde estava todo mundo? E o que estava
acontecendo?
Earl White saiu pela porta, arrastando um Maddox imóvel atrás dele
pelo braço. Pulei do abrigo e atravessei o canil sujo com os pés descalços,
meu coração batendo na garganta. Os cães dos canis vizinhos começaram a
latir e pular contra as gaiolas. Quase não vacilei mais. Tinha me
acostumado com sua natureza turbulenta. Eles não eram os animais mais
perigosos ao redor.
Não disse nada. — Ele disse algo sobre uma surpresa especial para
mim hoje.
Maddox suspirou. — Essa é uma das razões pelas quais queria te tirar
daqui.
— O que é?
Meu sangue gelou. — Não acho que será algo que eu goste, — falei,
tentando soar blasé, mas falhando. — O que é?
— Diga-me.
Meu coração bateu mais rápido. — E você? Depois dessa traição, seu
tio não vai perdoá-lo.
— Ele não vai. Ele vai me matar depois que terminar com você. Ele
quer que te veja machucada porque sabe o que isso faz comigo. Mas duvido
que ele sobreviva ao ataque de seu pai, nem eu.
Maddox encostou a testa nas grades. — Por que você faria algo
assim?
— Porque quero que você viva, — disse apenas. Havia mais do que
isso, nada que quisesse considerar ou expressar neste momento.
— Mas a que custo? O que seu pai vai querer de mim, se ouvi-la, —
Maddox perguntou baixinho.
— Ele pedirá que você queime seu colete, quaisquer laços com outros
motoqueiros e jure lealdade, pelo menos. — E para que isso acontecesse,
um quase milagre era necessário. O ódio de papai por motociclistas era
ilimitado neste ponto, sem dúvida, e Maddox estaria no topo de sua lista de
ódio.
— Então você tem que colocá-los para descansar. É sua única chance
se quiser que meu pai te poupe.
— Branca de Neve, direi mil vezes até que entre na sua linda
cabeça. Seu pai nunca confiará em mim, nem eu confiarei nele. Ele e eu
temos um passado que não pode ser ignorado. Mesmo o seu charme e
nossos sentimentos por você não mudarão isso.
Pressionei minha testa na dele com as grades entre nós. — Que
sentimentos?
— Muito mais.
Virei meus olhos para o lado até que peguei o olhar de Maddox. O
zumbido de uma agulha de tatuagem soou. Cravei meus dentes em meu
lábio inferior. No momento em que a agulha tocou minhas costas, a dor
irradiou pela minha espinha. Fechei os olhos com força, contra a expressão
desesperada de Maddox e do mundo como um todo. Cody provavelmente
estava se certificando de que fosse particularmente doloroso, mas exceto
por algumas inspirações bruscas de ar, não dei a nenhum deles a satisfação
de gritar ou suplicar. Todos eles pagariam dez vezes mais. Mesmo que desse
meu último suspiro, teria certeza disso.
Não reagi. Deveria ter dado uma resposta, mas neste momento, não
podia fazer isso. Precisava de minha energia para a luta que estava por
vir. Precisava da minha força para o reencontro com minha família, para
que eles não precisassem se preocupar mais do que já se preocupavam. E
não desperdiçaria nada com Earl ou Cody ou qualquer outro motociclista
idiota.
Meu sangue gelou, percebendo o que Earl estava prestes a fazer. Mas
Maddox conhecia os cães... Satan não o atacaria... certo?
—Prostituta Vitiello.
Lhe dei um olhar incrédulo. — Você odeia meu pai mais do que tudo
no mundo. Você mesmo disse. Faria qualquer coisa para se vingar dele. Por
que se importa com a perda do lóbulo da orelha e uma tatuagem insultuosa
para a filha do seu pior inimigo?
— Traí meus irmãos por você. Talvez morra por você assim que seu
pai colocar as mãos em mim.
— Vivi por vingança por muito tempo, é difícil abrir mão de algo
assim. Mas se há alguém por quem faria isso, é você, Branca de Neve. Faria
qualquer coisa por você.
Queria acreditar nele. Mas depois de tudo o que aconteceu, não estava
disposta a lhe dar o benefício da dúvida.
Permiti que ele me puxasse ainda mais até que meus lábios tocassem
os dele através das grades. Ele aprofundou o beijo, cheio de saudade e
desejo. Afundei nele mesmo que mais gritos ecoassem, enquanto o mundo
ao nosso redor explodia em guerra. Tiros cortaram os gritos. Tiros
rápidos de metralhadoras. Como um homem se afogando tentando respirar,
Maddox se afastou de mim e me soltou. — Pressione-se contra a parede até
que diga para se mover ou veja seu pai. Agora!
Então ele correu em minha direção, com a cabeça baixa. Não tinha
certeza se Luca e seus homens já haviam ultrapassado a cerca, mas
suspeitava que sim. Uma cerca de arame não os impediria por muito tempo,
mas passar por nossos guardas armados demoraria mais.
Precisava falar com Gray rapidamente antes que Earl nos visse, ou
meu irmão fosse atingido por uma bala da Famiglia.
Ele olhou de volta para o clube e depois para mim. — Não sei se
posso confiar em você.
— Agora ela.
— Não, — Gray rosnou. — Não me importo com o que acontece com
ela. Ela estragou tudo.
— Mas foi escolha dela seduzi-lo e bagunçar sua mente. Antes dela, o
clube sempre vinha em primeiro lugar. Você vivia pelo clube, por vingança,
e agora olhe para você.
Ela apresentou suas costas tatuada para nós. A visão ainda fez meu
sangue ferver de raiva. O lugar entre seus ombros estava vermelho e
ensanguentado, e Prostituta Vitiello estava escrito em letras pretas feias em
sua pele.
Gritos soaram.
Gray se voltou para a luta, mas não podia permitir que ele saísse com
as chaves. Me lancei contra ele e agarrei seu braço. — Dê-me as chaves.
— Você não sabe de nada, Gray. Não seja uma ovelha que segue
cegamente o rebanho até a morte. Fuja enquanto ainda tem chance.
— E quanto a Satan?
— Tudo ficará bem. Seu pai estará aqui a qualquer momento e vou
mantê-la segura até lá. — E então todo o inferno se soltou ao nosso redor. A
prateleira atrás de nós explodiu. Álcool e cacos de vidro foram catapultados
em nossa direção. Minhas costas ascenderam com uma nova dor, mas só me
concentrei em Marcella, que se encolheu na minha frente. Toquei sua
bochecha brevemente, querendo gravar a imagem de seu rosto em minha
mente para que pudesse me lembrar em meus últimos momentos.
— Não! — Gritei.
Olhei para meu tio. — Diga ao papai que ele não pode matar Maddox.
Maddox.
Sabia o que minha família havia planejado, mas isso me dava tempo
para descobrir o que fazer com Maddox e como convencer meu pai a não
cortá-lo em pequenos pedaços. Só podia rezar para que Maddox não
morresse hoje.
Balancei a cabeça, mas me sentia trêmula e com frio. Até este ponto,
consegui colocar uma máscara de controle, mas estava escorregando
rapidamente. Mal registrei quando o médico removeu o curativo para
verificar minha orelha. — Existe a opção de remodelar o lóbulo da sua
orelha. Conheço um dos melhores cirurgiões plásticos de Nova York que
terá prazer em atendê-la.
— Quero um lembrete.
— Espero que não considere manter a tatuagem também, — ele
brincou com a voz seca.
Fiz uma corrida louca até o sofá e caí no chão ao lado de Gray. Ele
estava sangrando de um ferimento de bala no braço, mas, fora isso, parecia
ileso. Verifiquei a ferida, ignorando seu estremecimento enquanto cutucava
sua carne dilacerada. A bala estava alojada, o que não era ruim,
considerando que evitava sangramentos ainda maiores. Haveria tempo para
removê-la mais tarde.
Gray segurava uma arma em sua mão esquerda, mas sabendo que ele
usava seu braço direito, agora ferido, poderia muito bem estar desarmado.
Isso não era o suficiente contra o exército que enfrentávamos. Não era
nem mesmo o suficiente contra a sede de Luca fodido Vitiello por sangue.
— Não, você não é. Mas você também não é idiota, e ficar aqui é
tolice. Não podemos sair disso vivos, não com os números contra nós. Mas
você conhece todos os caminhos secretos para sair da floresta. Se alguém
pode sair daqui, é você. — Gray continuou balançando a cabeça. Agarrei
seu colete. — Porra. Mamãe precisa de você. Se Earl e eu morremos, ela
precisará de você.
— Saia daí, White — disse Luca. Presumi que ele se referia a mim,
considerando que Earl havia subido as escadas correndo para se esconder.
Dei um aceno em direção a Gray. — Corra em direção à porta dos
fundos tão rápido quanto suas pernas o levarem quando lhe der o sinal,
entendido? — Eu não seria responsável por sua morte.
Luca foi distraído por seu filho correndo loucamente escada acima,
provavelmente para matar os motoqueiros restantes sozinho. Conhecia essa
sensação invencível da minha adolescência. — Sigam Amo! — Ele rugiu
para seus homens. Eles não hesitaram e correram atrás do jovem Vitiello,
deixando seu Capo sozinho comigo.
Seu filho soltou um rugido no andar de cima, seguido por tiros, gritos
e mais tiros. Lá fora, o tiroteio cessou, o que significava que logo o resto
dos soldados de Vitiello chegariam. O Capo deles estaria morto então.
Vitiello apertou meu pescoço mais uma vez, seus olhos queimando de
raiva. Enfiei minha faca em sua coxa novamente. Minha cabeça começou a
girar por falta de oxigênio. Tentei me afastar dele, mas seus dedos em volta
da minha garganta eram como a porra de um torno. Levantei a faca e sua
outra mão disparou, agarrando meu pulso para me impedir de enfiar a
lâmina em sua cabeça e dividir seu crânio.
O rosto de Marcella passou pela minha mente e joguei meu braço para
o lado no último momento, arranhando o lado de sua cabeça e enfiando a
faca no piso de madeira. Não podia fazer isso com ela. Porra. O que essa
mulher fez comigo?
Seus olhos se moveram para algo atrás de mim, mas antes que
pudesse reagir, a dor irradiou pelo meu crânio e minha visão tornou-se
negra.
A porta da van se abriu e papai entrou, mancando muito. Um longo
corte na lateral de sua cabeça sangrava profusamente, pingando sangue por
toda a camisa, rosto e braço. Ele imediatamente me puxou para um abraço
apertado, que afrouxou quando estremeci. Ele cheirava a sangue e fluidos
corporais ainda menos atraentes, mas sua proximidade ainda parecia um
bálsamo para minha alma tumultuada. Ele se afastou e segurou minhas
bochechas, examinando meus olhos como se estivesse preocupado que não
fosse a mesma filha de que ele se lembrava. Eu certamente mudei, mas
ainda era eu, a minha versão que nunca veio à tona porque minha vida
aconchegante nunca exigiu isso. Atrás de papai, ainda fora da van, Amo
esperava. Ele limpou sangue e carne de seus braços. Fiquei maravilhada
com as linhas duras de seu rosto que não estavam lá antes. Ele brevemente
olhou para cima e forçou um sorriso que parecia grotesco em seu rosto
ensanguentado.
O rosto de papai ficou sombrio. — Ele está vivo como alguns outros e
será levado a um local onde será interrogado.
— Oh, Marci, estou tão feliz em ouvir sua voz. Mal posso esperar
para tê-la em meus braços.
Não queria lhe contar. Não porque estava com vergonha. Eu não
estava. Estava furiosa e com medo. Furiosa porque Earl fez isso comigo e
com medo de que sempre tivesse que carregar seu julgamento sobre
mim. Quando não disse nada, ela olhou para papai. O homem que
massacrou vários motoqueiros em um ato de fúria e força parecia cansado
naquele momento. Sua culpa pelo que tinha acontecido comigo era
inconfundível em cada linha de seu rosto, mas o pior de tudo em seus
olhos. Amo fez questão de olhar para qualquer lugar, menos para mamãe, o
que provavelmente era o melhor, considerando que ele ainda tinha aquele
brilho de louco nos olhos.
— Obrigada, pai.
Ele revirou os olhos e despenteei sua crina loira antes que ele pudesse
se esquivar. Depois de mais abraços de Gianna e Isabella, tia Liliana,
Romero e meus primos, finalmente subi as escadas, cansada até os
ossos. Rapidamente me desculpei, oprimida pela onda de emoções que
sentia.
— Sim, ele está lá embaixo com seus tios, discutindo os planos para
amanhã. Ele virá te desejar boa noite mais tarde.
Sorri, me lembrando de todas as vezes que ele fez isso quando era
mais jovem. Mamãe hesitou e então tocou meu ombro. — Existe alguma
coisa que você queira me falar?
— Você ficará bem sozinha esta noite? Posso ficar com você.
Beijei a bochecha da mamãe. — Vou ficar bem, mãe. Não tenho medo
do escuro.
Mamãe assentiu, mas pude dizer que ela ainda estava preocupada
comigo. — Boa noite então. — Depois que ela saiu, coloquei uma das
minhas camisolas favoritas para me sentir mais eu mesma novamente e
deslizei para debaixo das cobertas. Enquanto estava acordada, tomei a
decisão de transformar a tatuagem nas minhas costas em algo que provasse
que era mais forte do que Earl achava que eu poderia ser. Não me
esconderia ou recuaria. Eu atacaria.
— Marci...
— Por favor.
Ele acenou com a cabeça, mas sua expressão ainda dizia não. — Não
acho que seja uma boa ideia, mas não vou impedi-la. Amo e eu sairemos
muito cedo. Você deve dormir até tarde e ir mais tarde com Matteo.
Depois que ele saiu, me joguei na cama por mais uma hora, mas a
escuridão trouxe lembranças ruins e não consegui dormir com as luzes
acesas. Nas últimas semanas, Maddox esteve ao meu lado durante a noite, e
não importa o quão ridículo fosse, me sentia segura ao seu lado. Agora
sozinha, a ansiedade levou a melhor sobre mim.
Fechei os olhos, esperando que Amo voltasse ao que era antes, mas
no fundo sabia que nenhum de nós poderia recuperar o que havia perdido.
Ainda não tinha olhado a ferida, mas teria que fazer se tentasse
colocar sozinha.
Mamãe se aproximou e, com muito cuidado, prendeu o brinco no meu
ouvido. Controlei um estremecimento quando a joia tocou minha orelha
ainda sensível. — É bom que você tenha mais furos na orelha.
— Eu sei, — disse. — Não o culpo, você sabe. Por favor, não me diga
que você e papai brigaram por minha causa.
Mamãe não demonstrou seu choque, se é que sentiu algum. Foi bom
contar a ela. Se alguém entenderia, era ela. Mamãe acreditava no amor
contra todas as probabilidades, no amor verdadeiro. Ela me ensinou a
acreditar nisso também. Agarrei-me a Giovanni, esperando
desesperadamente que o que tínhamos magicamente se transformasse no
tipo de amor que tudo consome como mamãe e papai viviam diante dos
meus olhos todos os dias.
Temia ter encontrado: o tipo de amor que te deixava sem fôlego, que
doía quase tanto quanto te fazia se sentir bem. Era um amor que não tinha
certeza se deveria perseguir.
Mamãe franziu os lábios. — Seu pai mencionou isso. Não acho uma
boa ideia confrontar o homem que fez isso com você.
Sorri. — Não se preocupe, mãe. O jogo virou. Não estou mais nas
mãos deles. Não vou quebrar agora, não depois de sobreviver a semanas de
cativeiro.
— Não duvido. Estou maravilhada com a sua força. — Ela fez uma
pausa. — Se quiser falar sobre o que aconteceu entre Maddox e você, estou
aqui, sabe disso, certo?
— Eu não sei. Talvez, mas vai levar tempo e muito trabalho da parte
de Maddox. Talvez você ainda não devesse contar a seu pai que dormiu
com Maddox. Isso só vai complicar as coisas.
— Oh, tenho certeza que sim. Mas seu pai é cego quando se trata de
você se tornar uma mulher.
— Homens.
Mamãe tocou minha mão. — Você usou proteção?
Minha cabeça latejava de dor quando voltei a mim. Não tinha certeza
de que horas eram. Podia ouvir o barulho ao meu redor e a respiração
rouca. Com um gemido, forcei meus olhos a abrirem, apesar da agonia que
isso causou.
— Ele me matará por último, então poderei assistir você morrer lenta
e dolorosamente, — disse Earl com um sorriso desagradável.
— O covarde fugiu. Ele está morto para mim. Não vai sobreviver
sozinho por muito tempo de qualquer maneira. Vitiello o pegará em breve.
— Era seu trabalho mantê-lo seguro. Em vez disso, você salvou sua
própria bunda e correu escada acima.
Amo e Luca Vitiello entraram na sala. Um olhar para eles e sabia que
não morreria hoje, mesmo que implorasse por isso.
— Não, — disse Luca em voz baixa que poderia ter me feito cagar
nas calças se já não tivesse ouvido antes. — Terei certeza de lidar com cada
um de vocês. Mas temos muito tempo para Amo e meu irmão também
terem sua vez.
Amo foi até uma mesa com instrumentos que não tinha notado
antes.
Me preparei, rezando para ser forte o suficiente para não implorar por
misericórdia. Talvez tivesse coragem de morder minha própria
língua. Fechando meus olhos, lembrei-me de Marcella. Uma imagem digna
dos meus últimos momentos.
Raramente colocava tanto esforço em minha aparência para uma festa
ou evento social como fazia agora para assistir a morte cruel de Earl
White. Comprei a calça de couro preta e a blusa de seda vermelha depois do
meu rompimento com Giovanni, mas nunca tive a chance de usar nenhuma
das duas. Hoje era o dia.
Ela não tentou me convencer a não visitar meus captores, mas pude
ver que estava quase doente de preocupação. No entanto, precisava disso
para realmente fazer as pazes com tudo o que aconteceu. Valerio estava na
casa da tia Liliana, então não testemunhou muito do nosso tumulto. Aposto
que ele e nosso primo Flávio não estavam falando nada mais além do
sequestro e do que aconteceria com meus sequestradores de qualquer
maneira. Nossos pais sempre acharam que éramos alheios e que poderiam
nos proteger.
Engoli em seco. Minha vida não valia mais que a deles, mas eles a
colocaram em risco por mim.
— Você cresceu.
— Sim.
Matteo parou em frente a um armazém em uma área industrial. Nunca
estive aqui, mas antes de hoje nunca tive permissão de estar presente em
qualquer tipo de negócio da Famiglia, muito menos uma sessão de tortura.
… E Maddox.
— Seu pai não vai gostar, e eu também não. Ele significa problemas.
— Você sempre diz que Gianna é problema e que gosta de
problemas. Porque eu não posso?
Matteo riu. — Você não deve me usar como um exemplo para suas
escolhas de vida.
— Você deve fazer isso rapidamente. Seu pai vai matá-lo em breve.
Balancei a cabeça e não disse que sabia o que papai e Amo estariam
fazendo com os motoqueiros. Matteo enfiou a cabeça para dentro, então
abriu mais a porta e me fez entrar. Respirando fundo para me preparar,
entrei, seguida por Matteo. Com um estrondo de gelar os ossos, a pesada
porta de aço se fechou atrás de mim. Um arrepio correu pela minha espinha
enquanto examinava a sala árida.
Earl White tinha um braço quebrado e sua orelha também não parecia
bem. Cody estava inerte na cadeira. Não sabia o nome do quarto
homem. Achei que um dos cativos poderia ser Gray. O fato de ele não estar
aqui me deixou preocupada por Maddox. Era óbvio o quão protetor ele era
com seu meio-irmão. Se ele estivesse morto, isso quebraria o coração de
Maddox e definitivamente não melhoraria seu relacionamento com meu pai.
Meu olhar procurou Maddox mais uma vez. Seu olhar penetrante não
me deixou por um momento.
Papai seguiu meu olhar e suspirou baixinho. — Não chegue muito
perto. — Então ele enfrentou os prisioneiros. — Se algum de vocês tentar
alguma coisa, os farei se arrepender.
— Não, — disse com firmeza, tanto para Earl quanto para papai e
Amo. Papai não afrouxou o controle sobre Earl, que estava ficando
vermelho lentamente, gaguejando enquanto lutava para respirar.
— Pai, não.
Papai olhou para mim, obviamente sem saber o que eu queria. —
Vamos lhe dar o que ele merece. Ele vai sofrer mais do que qualquer
homem já sofreu.
Ele achava que queria que ele poupasse meu algoz? Essa era a última
coisa em minha mente. Mamãe era do tipo que perdoava, mas até ela
provavelmente faria Earl sofre uma morte dolorosa nas mãos de papai se ele
pedisse sua opinião. Claro, ele nunca faria tal coisa porque não queria que
ela tivesse sangue nas mãos.
— Deixe-me tirar as bolas dele com uma colher de sorvete, — Amo
rosnou, apontando para a variedade de facas, alicates e outras ferramentas
de tortura espalhados sobre uma pequena mesa de madeira.
— Ele vai sofrer, mas não pelas suas mãos, pai, — disse com firmeza,
forçando um sorriso, e me virei para Maddox. Seu olhar mudou da lâmina
brilhante para os meus olhos. Como sempre acontecia, meu coração deu um
salto quando encontrei seu olhar. Este era o nosso momento da verdade, o
momento que provaria sua lealdade ou acabaria o que nunca deveria
acontecer. Não tinha certeza se meu coração sobreviveria a este último.
Earl acenou com a cabeça para minha orelha. Outra marca que ele
deixou. Às vezes me perguntava o que mais ele teria feito comigo se
Maddox não tivesse revelado meu paradeiro a papai. Earl White gostou de
me torturar, não apenas porque eu era filha de meu pai. — Você pode cobrir
sua orelha arruinada com joias caras, mas aquela tatuagem...
— Em breve estará coberta por uma linda tatuagem feita pelo melhor
tatuador dos Estados Unidos, — o interrompi. Não o deixaria me fazer
sentir pequena nem por um segundo.
Desejei que ele não estivesse certo. Talvez a noite passada tivesse
sido a exceção, mas temia que levaria um tempo para ficar confortável no
escuro novamente, para não vacilar quando alguém batesse e não olhar por
cima do meu ombro. Mas eventualmente superaria isso.
— Ele não vai, — disse e senti no fundo do meu coração. Maddox fez
sua escolha e fui eu. Seu tio havia perdido Maddox ao longo da estrada
porque escolheu um caminho que Maddox não podia seguir, não apenas por
causa de seu amor por mim, mas também porque ele era decente no fundo
de seu coração.
Virei-me para Earl mais uma vez com um sorriso duro. — Algumas
pessoas acham que as mulheres não podem ser cruéis. Acho que somos
apenas mais criativas quando se trata de crueldade. Desfrute da dor pelas
mãos de sua própria carne e sangue.
Pratiquei essas palavras várias vezes na noite passada até que soaram
realmente cruéis, como se fosse um negócio diário para mim, mesmo que
não fosse.
Ele lentamente arrastou seu olhar de volta para cima. — Ela está te
usando. Ela o manipulou desde o início para que você a ajudasse. Não
percebi logo, ou a teria mantido no meu quarto e fodido seus três buracos
até que soubesse seu lugar.
A mão de Maddox disparou para frente, cravando a lâmina no
abdômen de seu tio. Respirei fundo, com certeza ele o matou. Fiquei
dividida entre o alívio por tudo ter acabado e Maddox realmente ter matado
seu tio por mim, e a decepção porque o homem não tinha sofrido o
suficiente ainda. Era uma coisa horrível de se pensar, mas que não consegui
suprimir.
Ele assentiu. Papai olhou para nós, arrependimento passando por seu
rosto. Ele dedicou sua vida para nos proteger, mas esta vida não deixava
nada intocado. Era apenas uma questão de tempo antes de sermos
arrastados para a escuridão.
Capítulo 20
Não era por isso que estávamos aqui agora, por que matei a única
figura paterna que conhecia desde que era um garotinho. Eu não queria ver
o lado ruim dele, e eu mesmo tinha lado ruim o suficiente, então nunca
ousei lançar meu julgamento sobre outro ser humano. No entanto, Earl tinha
ido longe demais. Ele cruzou uma barreira que sempre existiu, uma barreira
que o levou e ao nosso clube por uma estrada de onde não havia como
voltar. Devíamos ter percebido quando mais e mais membros se tornaram
nômades, muitos homens bons que o clube poderia ter usado durante as
votações.
Eu era culpado por sequestrar uma mulher inocente e até por permitir
que Earl a trancasse em um canil e a tatuasse. Tudo isso me fazia sentir
culpado pra caralho e um grande idiota. Devíamos ter focado em Vitiello e
seus homens. Deveríamos tê-lo atacado diretamente, ou pelo menos ter
mantido Marcella a salvo da dor. Que Earl tinha começado a torturá-la, que
queria continuar fazendo isso, não podia aceitar. Vi a expressão em seus
olhos. Estava tão perdido para ele quanto ele para mim. Ele queria me matar
e teria feito isso se Vitiello não tivesse destruído nosso clube. Ele
provavelmente teria matado Marcella primeiro e me feito assistir. Eu era um
traidor aos olhos dele, quando ele traiu tudo o que sempre quisemos que o
clube representasse. Honra e um estilo de vida livre. Uma casa para todos
aqueles que não se enquadravam nos limites da sociedade. Fraternidade,
amizade. Perdemos tudo isso ao longo do caminho e o que restou foi
amargura e fome de vingança e dinheiro.
Abri meus dedos e deixei a faca cair no chão com um estrondo. Esta
podia ser minha última chance de enfiar uma faca no peito de Luca, mas a
fome de vingança foi substituída pela minha necessidade de garantir o bem-
estar de Marcella. Depois que estivesse morto, e não tinha absolutamente
nenhuma dúvida de que seu pai me mataria em breve, Marcella precisaria
de toda a sua família para superar os eventos do sequestro. Mesmo que ela
tivesse dito a Earl que suas ações, nossas ações, não deixaram cicatrizes,
ouvi o tremor em sua voz, vi o breve lampejo de dor em seus olhos.
Ela assentiu, mas em vez de sair, se dirigiu até ele. Ele abaixou a
cabeça para que ela pudesse sussurrar em seu ouvido. Ele balançou a cabeça
a princípio, mas ela agarrou seu braço, seus dedos ficando brancos
novamente, e sussurrou um pouco mais. Eventualmente, ele se afastou e
deu um aceno de cabeça afiado, mas não parecia feliz com o que quer que
tenha concordado.
Amo agarrou meu braço e tive que resistir à vontade de acertar meu
punho em seu rosto. Esses eram meus inimigos. Meus sentimentos por
Marcella não haviam mudado isso.
— Você tem sorte que minha irmã tenha um coração, — Amo rosnou
enquanto me colocava de pé. — Se dependesse de mim, você sufocaria em
seu sangue. — Ele me empurrou em direção à porta onde Luca estava
esperando. Meu corpo se arrepiou com sua proximidade. Duas décadas de
ódio explodiram.
Seus olhos brilharam de fúria. Ele queria me matar. Podia ver o desejo
queimando-o. Mas a influência de Marcella era muito forte. Esta mulher
tinha mais poder em suas mãos elegantes do que imaginava.
Ele acenou com a cabeça, mas não se dignou a responder. Sem uma
palavra, ele fechou a porta. Sentei no chão de pedra fria, de repente
sentindo cada corte e hematoma e cada osso quebrado em meu
corpo. Quando esperava a morte, nada importava. Agora me perguntava se
seria deixado para apodrecer neste lugar. Talvez a morte fosse mais gentil
do que ficar trancado no subterrâneo com apenas a memória de Marcella
enquanto ela encontrava um novo cara, provavelmente algum idiota da
Famiglia, para se casar. Por fim, fechei os olhos, esperando a morte ou
qualquer outra coisa que Vitiello reservasse para mim.
— Me dê um segundo.
Fechei meus olhos. Maddox realmente matou seu tio. Esperava que
ele não se sentisse culpado por isso. Ele deveria saber que seu tio era um
homem morto no segundo em que minha família o capturou. Papai teria
tornado seu fim muito mais doloroso.
Abri meus olhos. — Não acho que quero me acostumar com algo
assim.
Matteo sorriu. — Você não precisa. Depois de hoje, pode deixar tudo
isso para trás.
Não ri, apesar do humor em sua voz. — Eu vou ficar. Vou esperar que
papai e Amo terminem. Quero estar aqui quando eles saírem. Eles estão
fazendo isso por mim. Devo isso a eles, — disse com firmeza.
Peguei meu novo telefone e lhe enviei um texto rápido antes de seguir
Matteo em direção a uma mesa e cadeiras ao lado de uma pequena
cozinha. Ele se sentou, mas estava muito agitada.
— Maddox matou seu tio por mim, e papai prometeu poupar a vida de
Maddox.
Não era o resultado que ele queria, foi o que ele realmente quis
dizer. Não esperava que seu ódio evaporasse, mas queria que houvesse uma
chance para que eventualmente desaparecesse. — Para onde Growl levou
Maddox?
— Nem pense em ir até lá agora. Converse com seu pai e sua mãe e
durma ponderando o que você acha que quer agora. Tudo bem?
Ele olhou para Matteo. — O que ela ainda está fazendo aqui?
— Você deveria esquecer tudo isso, Marci. Viva a vida que costumava
ter. Vou garantir que nada aconteça com você novamente. Vou triplicar sua
segurança e matar todos os homens que representarem perigo para você.
Parecia que ele queria se torturar até a morte. A culpa não era uma
emoção com a qual ele estava muito familiarizado. Isso provavelmente
tornava mais difícil lidar com ela. Fui até ele e abracei sua cintura com
força, minha bochecha pressionada contra seu peito.
— Este mundo não me assusta, pai. Sou grata por sua proteção, mas
no final das contas a liberdade sempre vem com certo risco, e prefiro a
liberdade de andar por aí e fazer coisas que gosto do que ficar trancada em
uma mansão. Não espero que você garanta minha segurança, mas te amo
por tentar.
— Pai, não importa aonde eu vá, sempre serei uma Vitiello e não
quero ser outra pessoa. — Fiz uma pausa, sabendo que o que diria a seguir
seria uma pílula ainda mais difícil de engolir para papai.
Papai olhou para Amo, que estava ouvindo com a testa franzida, ainda
limpando as mãos com uma toalha. Amo encontrou meu olhar. Amo era
alfa. Ele nasceu para ser Capo. Ele carregava uma autoridade natural. Ele
seria um bom Capo um dia. E nunca tiraria isso dele. Pude ver que ele e
papai achavam que estava pedindo para me tornar chefe da Família, a
primeira mulher a liderar uma família ítalo-americana. Mas, como papai
havia dito, eu era inteligente e sabia como nossos homens operavam. Eles
nunca me aceitariam, não importa o que fizesse. Poderia governar com a
maior brutalidade e ainda assim eles nunca me admirariam e amariam como
faziam com papai e um dia Amo.
Estreitei meus olhos. — Não sou uma criança e não sou uma
tola. Maddox não tem medo da morte. Você estava perto de encontrar o
clube deles quando ele te ligou?
Podia ver a batalha nos olhos de papai. — Sua mãe me disse que você
não foi... — Ele engoliu em seco, dividido entre a fúria e o desespero.
— Confio em você, Marci, mas depois do que ele fez, não posso me
imaginar confiando naquele homem. E duvido que sua mãe iria querer seu
sequestrador perto de você ou de nossa família.
— Conversei com mamãe sobre Maddox. Ela sabe como o amor pode
mudar tudo. Ele te mudou.
— Ele não pode fazer parte do nosso mundo. Nossos homens nunca o
aceitariam.
— Sei que será uma batalha difícil, mas estou disposta a lutar.
— E Maddox, você realmente acha que ele quer trabalhar para mim,
seguir minhas ordens? — Papai apontou para o corte na lateral da cabeça e
depois na perna. — Ele me apunhalou. Ele queria me matar. Provavelmente
ainda quer matar a mim e ao seu irmão.
— Podemos lhe dar uma morte rápida se for o que você quiser depois
da conversa, — disse Amo.
Lhe lancei um olhar duro. — Isso não é engraçado.
Papai e Amo trocaram um olhar com Matteo. Não foi difícil ler suas
expressões. Todos eles esperavam que mudasse de ideia e os deixasse matar
Maddox.
— Se o deixarmos viver, talvez até soltá-lo, ele pode tentar matar seu
pai e seu irmão novamente. Você realmente quer arriscar? — Matteo
perguntou baixinho enquanto íamos para o carro do lado de fora.
Capítulo 21
— A mesma razão pela qual não enfiei minha faca em seu olho. Por
Marcella.
Luca acenou para mim. — Muitas pessoas perdem alguém. Isso faz
parte do nosso mundo.
Era uma pergunta retórica. A expressão nos olhos de Vitiello não era a
de um homem capaz de dar as costas ao derramamento de sangue. Ele tinha
sede de violência e fúria. Nada, nem mesmo um garotinho poderia impedi-
lo.
— Duvido que seu mundo ideal seja cheio de sol e arco-íris. — Ele
estreitou os olhos. — E você sequestrou uma garota inocente, então
certamente não tem o direito de me julgar. Meu único juiz será Deus.
— Você acredita em Deus?
— Você merece a morte e não quero nada mais do que matá-lo, mas
não posso porque amo sua filha!
Luca sorriu sombriamente. — Acho que ela vai testar o nosso amor
por ela. Não sei se devo esperar que você falhe ou não. De qualquer forma,
Marcella enfrentará obstáculos que nunca quis para ela. — Ele inclinou a
cabeça em consideração. — Não preciso dizer o que farei se achar que você
está brincando com ela.
Abri o livro e olhei para o papel. Era uma espécie de diário com
marcações e Marcella havia listado seu plano para os próximos cinco anos.
Conseguir um diploma aos vinte e dois, casar no mesmo ano, criar planos
de marketing para as empresas da Famiglia, primeiro filho aos vinte e
cinco...
Não podia acreditar que ele estava me jogando o cartão de culpa e não
podia acreditar que isso estava realmente causando um impacto sobre
mim. — Você teria deixado a mulher que ama ir?
Me perguntei por que ela estava aqui. Sua expressão era de puro
controle, a bela perfeição que me provocava e atormentava enquanto me
sentava em meu próprio fedor, esperando o fim.
— Meu pai não confia em você. Ele não acha que você é leal.
Aproximei-me, cada passo enviando uma pontada pelo meu
corpo. Estava quase certo de que tinha vários ossos quebrados que
precisavam de tratamento. — Não provei isso quando traí o clube por você?
Teria dado qualquer coisa por esta mulher, para provar seus lábios,
para ouvir uma declaração de amor desses lábios vermelhos.
— Achei que sim, mas então você tentou matar meu pai. Vi a facada
na perna e o corte na cabeça que você errou.
Ela estreitou os olhos, pensativa, mas não disse nada, ainda não estava
disposta a esfaquear o pai pelas costas. — Você desistiu da vingança por
mim?
— Desisti. — Mas depois da minha conversa com Luca hoje, gostaria
de ter continuado com ela.
Queria matá-lo, sem dúvida, mas continuar com isso? Ri. — Acho
que você não entendeu. Há apenas uma escolha, e essa é você. A menos que
queira que mate o seu velho, o que provavelmente só acontecerá em meus
sonhos, não tentarei matá-lo novamente. Não tenho certeza se ele pode
dizer o mesmo.
— Então você quer matá-lo e ele quer te matar, mas os dois não o
farão por mim.
— Mais poderosa do que qualquer rainha que conheço.
— Você.
— Mas venho com bagagem. Sou uma Vitiello. Sempre farei parte da
minha família e até mesmo entrarei no negócio. Se me quiser, terá que
descobrir uma maneira de se tornar parte deles também.
Não tinha certeza se era uma opção, tanto para Luca quanto para
mim. — E você? Quanto tempo vai levar para você me perdoar?
— Já te perdoei, — ela disse calmamente.
— Você perdoou?
— Mas não confio totalmente em você ainda. Não posso, não depois
do que aconteceu.
— Não, — disse ela com firmeza. Ela olhou para mim, fixando-me
com aqueles olhos azuis que me assombravam. Olhos que me fizeram
querer acreditar no impossível.
— Não disse a ele. Isso é entre você e eu. Quero você na minha
vida. Agora cabe a você decidir se quer isso também.
Não queria nada mais do que beijá-la, mas só podia imaginar o quão
vil parecia.
— Para ganhar minha confiança, você terá que fazer as pazes com
meu pai, com minha família. Terá que deixar de lado sua fome de
vingança. Precisa estar do lado do meu pai porque é do lado que estou, e
isso não vai mudar. Você pode realmente fazer isso?
— Por você, sim. — Estava disposto a tentar. Não tinha certeza se
teria sucesso.
— Se eu soubesse qual é.
Capítulo 22
Quando Luca abriu a porta outra vez, sua expressão não revelou
nada. — E agora? — Perguntei.
— Não confio em você. Mas confio em minha filha, e ela quer sua
liberdade.
— Eu não nego. E com certeza não vou me desculpar por isso. Seu
pai merecia morrer e não teria hesitado em me matar também. Em
retrospecto, teria certeza de que você não estaria lá para assistir.
Entrei na cara dele. — Ele está fora dos limites, Vitiello. Ele está
cuidando da própria vida e isso não mudará. — Com certeza esperava que
fosse realmente o caso. Gray precisava de um sistema de apoio forte, e me
preocupei que ele fosse buscá-lo em outro MC, ou talvez em um Tartarus
reconstruído.
— Tem certeza de que nenhum dos seus homens vai atirar em mim
acidentalmente porque acham que estou fugindo?
— Como disse, meu irmão está fora dos limites. Ele é uma criança e
não causará problemas sem Earl. Conhecendo-o, ele se tornará um
mecânico e cuidará da própria vida no meio do nada, no Texas, com minha
mãe. Ela também está fora dos limites.
— Tem certeza que ele não se importará que você tenha matado o pai
dele?
Não tinha visto Gray desde que ele conseguiu escapar. Não tinha
certeza do quanto ele sabia, definitivamente não que eu tinha matado
Earl. — A menos que você espalhe a notícia, ninguém sabe que matei Earl.
A surpresa me atravessou. Ainda achei que ele não iria seguir com
isso. Ainda não tinha cem por cento de certeza de que não terminaria com
uma bala na nuca no momento em que virasse as costas para ele.
— Queimamos tudo.
Eles não eram meus cães e nunca confiei neles, mas realmente não era
culpa deles que Earl os tivesse transformado em máquinas de matar. Eles
mereciam coisa melhor.
Ele se virou e saiu da cela. Mostrar-me suas costas era para me dizer
que não me temia. Mas ele ainda estava mancando um pouco, mesmo
tentando esconder. O segui com cautela, ainda desconfiado de seus
motivos. Lá fora, no longo corredor, esperava o homem alto e tatuado que
me trouxe para a cela.
Luca lhe deu um aceno de cabeça, e meio que esperava que Growl
puxasse uma arma e colocasse uma bala na minha cabeça. Em vez disso, ele
acenou para que o seguisse. Ele carregava um monte de roupas debaixo do
braço. Olhei em volta, mas não vi mais ninguém. Luca ainda me olhava
com uma expressão avaliativa. Ele achava que eu não era bom o suficiente
para sua filha, mas provaria que ele estava errado, mas mais do que isso,
provaria a Marcella que ela podia confiar em mim.
O cara, Growl, parou dentro de um banheiro e colocou as roupas em
um banco em frente a uma fileira de armários. Os boxes eram limpos e
bastante modernos. Luca e seus homens provavelmente tomavam banho
aqui depois que terminavam de torturar seus inimigos. Ainda carregava o
sangue de Earl e também o meu sangue na minha pele, misturado com suor,
fuligem e sujeira. Comecei a tirar minha camisa quando percebi Growl
encostado na parede, sem realmente me observar, focado na tela de seu
telefone.
— Você ficará de olho em mim para que não faça nada estúpido?
— Perguntei ironicamente.
Ele assentiu.
Estremeci. Uma parte da camisa estava presa em um ferimento sob
minhas costelas. Com um puxão, ela saiu. — Foda-se, — murmurei quando
o sangue começou a escorrer.
— Obrigado.
— Se ele te quisesse morto, você estaria morto, então ele lhe deu uma
chance que poucas pessoas têm. Não estrague tudo.
— Parece que sim. Talvez você possa chamar um táxi para mim, já
que meu telefone e minha motocicleta viraram cinzas.
— Onde você está indo? — Ele perguntou, ainda com aquele sorriso
que me fez querer nocauteá-lo.
Matteo apontou para a Kawasaki. — Quer saber, por que não pega
minha motocicleta. Não é uma Harley, mas o levará aonde precisar ir.
— Obrigada mãe.
— Tenho que admitir que ver os cachorros de novo não era a única
razão pela qual pedi que você me pegasse.
Growl apenas acenou com a cabeça, mas realmente queria que ele
dissesse algo.
Growl me levou até uma área menor onde dez Rottweiler no total
eram mantidos. — Eles não se dão bem com os outros cães ainda, então
temos que mantê-los separados.
— Ele fugiu como todos nós sabíamos que faria, — disse Amo.
Continua em
By Sin I Rise - Parte Dois...
Notes
[←1]
Um hellhound, cão do inferno ou cão negro, é um cão sobrenatural do folclore. Uma grande
variedade de cães infernais sobrenaturais ocorrem em mitologias de todo o mundo, sendo
notável, porém, na Inglaterra
[←2]