Você está na página 1de 9

XIII Encontro do Foro de São Paulo:

A cubanização da América Latina


por Carlos I.S. Azambuja
em 25 de janeiro de 2007
© 2007 MidiaSemMascara.org
O XIII Encontro do
Foro de São Paulo
foi realizado em El Salvador, no período de 12 a 14 de janeiro de 2007, com a presença de
596 delegados dentre os quais 219 representando 58 partidos, movimentos sociais e
igrejas, procedentes de 32 países. Entre eles, representantes dos Partido Comunista
Chinês, Partido Comunista do Vietnã e um representante do governo da Líbia.

O Partido dos Trabalhadores fez-se representar por Valter Pomar (Secretário de Relações
Internacionais), Joaquim Soriano (Secretário-Geral), Neila Batista (Secretária-adjunta de
Assuntos Institucionais), Rafael Pops (Secretário da Juventude) e os dirigentes nacionais
Rachel Marques e Flavio Koutzzi.

“A Nova Etapa da Luta pela Integração Latino-Americana e Caribenha”. Foi o tema do


Encontro.

Paralelamente, foram realizados diversos Encontros de Trabalho: - dias 7 e 8 de janeiro, um


“Taller Juvenil Internacional” e dia 11 de janeiro, os Encontros Internacionais de
Parlamentares, de Prefeitos, de Trabalhadores da Cultura, de Movimentos Sociais, de
Igrejas, e o Encontro Internacional sobre Processos Eleitorais.
Os porta-vozes do Foro
insistem em
mostrar essa entidade internacional como propugnando vias democráticas para chegar ao Poder. No
entanto, é um fato por demais conhecido dos estudiosos do assunto – fato inexplicavelmente
ignorado há 16 anos pela mídia nacional – que o Foro de São Paulo defende ditaduras, como as de
Fidel, em Cuba, e grupos guerrilheiros que impõem o terror revolucionário, como as FARC, o EZLN
do México e o MRTA do Peru que, assim como o MST brasileiro – um movimento social, segundo o
atual governo – integram o Foro. Essas organizações criminosas coexistem em harmonia com
esquerdas consideradas moderadas. No substancial, entretanto, são os mesmos fins que emergem
entre as esquerdas radical e moderada, pois a ideologia é comum e os meios utilizados, embora
distintos, são convergentes. Elas avançam juntas, a velocidades diversas. As diferenças são apenas
de ordem metodológica.

Todavia, o documento do XIII Encontro do Foro de São Paulo diz toda a verdade quando confessa que
não existem duas esquerdas diferentes, uma “moderada” (Lula, Kirchner, Tabaré Vasquez e
Bachelet) e outra “radical” (Fidel Castro, Chavez e Evo Morales), mas uma só esquerda . O
documento diz textualmente, anotem: “A maquinaria político ideológica da direita (...) tenta dividir
os governos progressistas em dois grupos: a esquerda moderna e a esquerda atrasada, com a intenção
de apagar os muitos objetivos comuns que unem nossos governos e partidos. Essa diferença é falsa e
o que existe na verdade é uma diversidade de estratégias que respondem às realidades e condições de
luta que existem em cada país”.
Quando da criação do
Foro de São Paulo, em 1990,
apenas o governo cubano estava entregue aos comunistas. Hoje, 16 anos depois, diversos partidos de
esquerda, entre os quais alguns que participaram da sua fundação, estão no Poder em seus países -
Nicarágua, Venezuela, Bolívia, Uruguai e Brasil -, sendo que Michele Bachelet, Nestor Kirchner e
Rafael Corrêa chegaram ao poder com o decisivo apoio de partidos pertencentes ao Foro.

Quanto ao Encontro Juvenil Internacional, realizado dias 7 e 8 de janeiro, é interessante transcrever um


pequeno trecho da Declaração Final: “Os delegados e as delegadas de organizações sociais e
políticas da América Latina e Caribe, reunidos para fazer ouvir a voz dos sem voz, expressar as
idéias, aspirações e sonhos dos excluídos da Pátria Grande, a Pátria de Bolívar, de Martí, de Allende,
de Schafik, Monsenhor Romero, Otto René Castillo, Roque Dalton, Ernesto Che Guevara, Augusto
César Sandino, Francisco Morazán, Camilo Torres e milhares de homens e mulheres que
empunharam seus fuzis, suas idéias, sua coragem, contra o opressor e que hoje nos inspiram”.
A Declaração Final do XIII
Encontro do Foro de São Paulo
assinalou os temas abordados: “a formulação de políticas neoliberais que fomentam uma
genuína democracia política, econômica e social; o desenvolvimento sustentável; a
igualdade plena de todos os seres humanos; uma nova integração solidária; o
enfrentamento à doutrina imperialista de segurança hemisférica que promove a
militarização; a relação entre as forças políticas, os movimentos sociais e os governos de
esquerda e progressistas; e o papel que desempenha a solidariedade internacional”.

Prossegue o documento: “A doutrina hegemônica imposta pelos centros de poder mundial, o


enfrentamento em Ascenso dos povos à seqüela de concentração de riqueza e
massificação da exclusão social, favorece uma acumulação política sem precedentes por
parte da esquerda latino-americana. Esse enfrentamento é um dos fatores fundamentais
que explica os triunfos eleitorais mais recentes, entre eles a segunda reeleição do
presidente Hugo Chavez Frias na Venezuela, a reeleição do presidente Luiz Inácio Lula
da Silva no Brasil, a eleição do presidente Rafael Correa no Equador e do presidente
Daniel Ortega na Nicarágua (...) Os novos triunfos eleitorais da esquerda se somam aos
obtidos com a eleição do presidente Tabaré Vasquez no Uruguai, a eleição do presidente
Evo Morales na Bolívia (...) e a presença ou apoio de partidos integrantes do Foro em
outros governos da região, como é o caso de Michelle Bachelet no Chile e Néstor
Kirchner na Argentina”.
E como em todos os Encontros
anteriores,
este também se solidarizou com Cuba: “Expressamos nossa solidariedade com a revolução cubana,
fazemos votos pela pronta e efetiva recuperação do presidente Fidel Castro, reafirmamos nossa
condenação ao bloqueio imperialista, exigimos a libertação dos cinco cubanos injustamente presos
em cárceres dos EUA pelo suposto delito de lutar contra o terrorismo”. Nesse trecho, os
entusiasmados delegados ao XIII Encontro cometeram um pequeno equívoco – aliás, um pequeno
equívoco proposital -, pois Fidel Castro não é e nunca foi presidente de Cuba e sim Comandante-em-
Chefe das FF AA, presidente do Conselho de Estado, presidente do Conselho de Ministros e
Secretário-Geral e membro do Birô Político do Partido Comunista Cubano, conforme decisão do
último Congresso do partido único, o 5º, realizado há 10 anos (!), em outubro de 1997.

A Declaração Final do Encontro concluiu que “Os povos da América Latina e do Caribe deverão sentar
as bases para a derrota integral do neoliberallismo patriarcal e avançar na construção da alternativa
ao sistema imperante. Isso requer uma ação articulada e uma relação respeitosa e complementar entre
os partidos, movimentos e coalizões políticas de esquerda e a diversidade de organizações e
movimentos populares e sociais (...) Uma ampla frente de luta que integre todos os setores populares
e democráticos afetados pelas políticas do modelo dominante. Nas novas condições históricas que
vivem a América Latina e o Caribe, os partidos membros do Foro se sentem comprometidos a
devotar todos os nossos esforços políticos, materiais e solidariedade para fazer realidade esta grande
oportunidade histórica de derrotar o Neoliberalismo e entrar no caminho da construção de uma nova
sociedade, justa e democrática (...) O Foro de São Paulo se compromete a defender os processos de
mudanças em marcha e utilizar toda a nossa capacidade internacionalista e solidária com Cuba, os
governos democráticos e a luta dos povos".
Ao ler o trecho acima, não
podemos deixar de recordar que
em junho de 1991, no México, o II Encontro do Foro, que abordou o tema “A América Latina e o Caribe
em face da Reconstrução Hegemônica Internacional”, foi precedido de uma reunião preparatória,
também no México, em março de 1991, que definiu, mediante acordo, que a partir do II Encontro
seria firmado o conceito do CARÁTER CONSULTIVO e DELIBERATIVO dos Encontros. Isso
significa que as decisões aprovadas em plenárias e constantes das Declarações finais passaram, a
partir de então, a ser consideradas DELIBERATIVAS, isto é, DECISÓRIAS EM TERMOS DE
ACEITAÇÃO E CUMPRIMENTO pelas delegações e partidos participantes, subordinando-os,
portanto, aos ditames do Foro nas ações a serem desenvolvidas em nível internacional e nos
respectivos países. Não é segredo que tais deliberações obedecem a uma política internacionalista,
com vistas à implantação do socialismo no continente, fato que transfere para um segundo plano os
interesses nacionais e fere os princípios da soberania e autodeterminação. A Lei Orgânica dos
Partidos Políticos e a Constituição da República definem que “A ação do partido tem caráter
nacional e é exercida de acordo com o seu estatuto e programa, sem subordinação a entidades ou
governos estrangeiros” (artigo 17 da Constituição e item II, artigo 5º da LOPP).

A Justiça Eleitoral, os demais partidos políticos, a imprensa do país e o Congresso Nacional permanecem
inertes e fingem ignorar esse pequeno detalhe.

Um ponto interessante sobre como funciona o Foro de São Paulo, à semelhança de todos os partidos
comunistas do mundo: o texto-base dessa Declaração Final foi redigido pelo Grupo de Trabalho –
uma espécie de Comissão Executiva do Foro – composto por representantes do PRD mexicano, PC
Cubano, Frente Farabundo Marti de El Salvador e Partido dos Trabalhadores, em reuniões realizadas
na Colômbia, em 21/23 de abril de 2006 e Uruguai, em 18/20 de agosto de 2006, e apresentada ao
XIII Encontro, realizado cinco meses depois, como um prato-feito.
As delegações participantes se
limitaram a fazer
as seguintes propostas que permitiriam lograr que o Foro seja um instrumento mais eficaz e
permanente para articular o trabalho político dos partidos e movimentos membros: a
publicação de um boletim eletrônico mensal; a constituição de uma escola continental de
formação política; a realização anual de um festival político-cultural; a criação de um
observatório eleitoral; o desenvolvimento de uma política dirigida à juventude e de
promoção da arte e cultura. A implementação dessas propostas será discutida pelo Grupo
de Trabalho.

Finalmente, um outro detalhe extremamente interessante e significativo foi o documento


escrito enviado à Mesa diretora do Encontro, em 16 de janeiro, pela Comissão
Internacional das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia, saudando o Foro de
São Paulo, “trincheira onde puderam se encontrar os revolucionários de diferentes
tendências, de diferentes manifestações de luta e de partidos no governo (...) Na América
Latina não fazemos mais que resenhar, pois todos conhecemos os processos: Cuba,
Venezuela, Bolívia, Nicarágua, Equador, Brasil, Uruguai e Argentina, oito países no
total, se orientam pelo desenvolvimento de modelos de governo e de sistemas diferentes
dos tradicionais impostos pelo imperialismo ianque (...) Cremos oportuno manifestar
nossa inquietação e desagrado pela posição de alguns companheiros que, sob
responsabilidade pessoal, publicamente dizem que as FARC não podem participar do
Foro por ser uma organização alçada em armas (...)".
A importância dada ao Foro de São
Paulo
pela Inteligência cubana pode ser analisada pela participação no Encontro de Ramiro Abreu Quintana,
chefe da Seção América Central do Departamento América, órgão de Inteligência do Comitê Central
do PC Cubano, e de José Antonio Arbezu Fraga, chefe do referido Departamento América desde
março de 1998 – embora os documentos do Encontro, como medida de desinformatzia , o tenham
apresentado como Vice-Chefe do Departamento de Relações Internacionais do Comitê Central.

Para concluir, frase extraída do texto “Foro de São Paulo, uma Versão Anestésica”: “Você acha mesmo
que a organização que planejou e dirigiu a mais espetacular e avassaladora expansão esquerdista já
observada no continente é um nada, um nadinha, no qual só radicais de direita ou teóricos da
conspiração poderiam enxergar alguma coisa?”

Elaborado por

Você também pode gostar