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UNIVERSIDADE DE MOGI DAS CRUZES

FRANCINE BEZERRA DOS SANTOS


PATRÍCIA GOMES DOS SANTOS

JORNALISMO HÍBRIDO: O JORNALISMO-HUMORISTA


DO CQC.

Mogi das Cruzes, SP

2008
UNIVERSIDADE DE MOGI DAS CRUZES

FRANCINE BEZERRA DOS SANTOS

PATRÍCIA GOMES DOS SANTOS

JORNALISMO HÍBRIDO: O JORNALISMO-HUMORISTA


DO CQC.

Projeto apresentado ao Curso de Comunicação Social/


Jornalismo da Universidade de Mogi das Cruzes como
requisito da disciplina Projeto de Produtos e Processos
Midiáticos

Profa. Dra. Orientadora: Luci Bonini

Profº: Orientador: Sérsi Bardari

Mogi das Cruzes, SP

2008
FRANCINE BEZERRA DOS SANTOS

PATRÍCIA GOMES DOS SANTOS

JORNALISMO HÍBRIDO: O JORNALISMO-HUMORISTA


DO CQC.

Projeto apresentado ao Curso de Comunicação


Social/Jornalismo da Universidade de Mogi das
Cruzes como requisito da disciplina Projeto de
Produtos e Processos Midiáticos

BANCA EXAMINADORA

Profa. Dra. Luci Bonini


Universidade de Mogi as Cruzes - UMC

Profº. Sérsi Bardari


Universidade de Mogi as Cruzes - UMC
Santos, Francine Bezerra dos
Santos, Patrícia Gomes dos

Jornalismo híbrido: o jornalismo-humorista do CQC / Francine Bezerra dos Santos e


Patrícia Gomes dos Santos - 2008-09-26

PPM ( Trabalho Científico de Comunicação Social ) – Universidade de Mogi das Cruzes,


2008.
Área de concentração: Jornalismo
Orientadores: Profa. Dra. Luci Bonini
Profº .Dr. Sérsi Bardari

1. Telejornalismo 2. Programa CQC 3. Humor


DEDICATÓRIA

Dedicamos este trabalho aos nossos familiares, amigos e


professores.
AGRADECIMENTOS

Os nossos sinceros agradecimentos a todos aqueles que


nos ajudaram a concluir esse projeto.

Maria Izilda, Leopoldo Rodrigues, Juliene Rodrigues,


Flávio Gomes, Fátima Gomes, Cláudio Leal, Marília Servo,
Verônica Freire e Fábio Bittencourt.

Agradecemos a assessora de imprensa da Band, Eliane


Leme, ao apresentador e também repórter, por nos conceder a
entrevista, Rafinha Bastos e a toda a produção do programa
CQC.

Agradecemos a todos que nos ensinaram tudo aquilo que


hoje sabemos, Sérsi Bardari, Luci Bonini, Celso Ledo e Nivaldo
Marangoni.

Obrigada a todos que torceram pelo nosso sucesso.


“ Somente as crianças e os loucos dizem a
verdade”
(Platão)
RESUMO

O trabalho tem como tema o jornalismo híbrido do CQC, que é o jornalismo-


humorista, e analisa suas repercussões na mídia.
O objetivo desse projeto é analisar é analisar o produto midiático da rede de
TV Bandeirantes, que é o quadro Proteste já, com Rafinha Bastos, do programa
jornalístico-humoristico CQC e demonstrar como esse novo gênero jornalístico não
delimita a credibilidade do jornalismo priamente dito.
Foi necessário analisar a linguagem e as atitudes dos integrantes assistindo
criticamente o programa e buscando informações com a própria rede Bandeirantes
de televisão. Utilizamos entrevistas com a assessora da Band, Eliane Leme, e com o
repórter do quadro Proteste já, Rafinha Bastos, que é o nosso recorte.
Buscamos especialistas em telejornalismo por meio de bibliografia específica
e do professor universitário da área de telejornalismo, Nivaldo Marangoni.
O programa teve grande repercussão na mídia e veio crescendo no Ibope,
chegando a ficar em terceiro lugar junto com o SBT, atrás somente da Globo e da
Record.
O CQC não deixa de ser um produto midiático que imprime um
comportamento jovem, atraindo um público alvo específico para a publicidade em TV
aberta. Porém, não se torna tão alienante a ponto de deseducar e manipular. Vários
quadros tem um viés político e social. O quadro do Proteste já exerce bem essa
função jornalística, sem nunca deixar de lado o bom humor, a irreverência e a
verdade ácida, marcas fundamentais do programa.

Palavras-chave: Jornalismo, Humor, programa CQC.


SUMÁRIO
JORNALISMO HÍBRIDO: O JORNALISMO-HUMORISTA DO CQC.........................2
JORNALISMO HÍBRIDO: O JORNALISMO-HUMORISTA DO CQC.........................3
1 INTRODUÇÃO.....................................................................................................................9
7 O PROGRAMA DO DIA 22 DE SETEMBRO DE 2008.................................................35
ANEXOS.................................................................................................................................39
9

1 INTRODUÇÃO

O trabalho tem como tema o jornalismo híbrido do programa de TV Custe o


que custar (CQC), que é um tipo de jornalismo-humorista.
Este projeto tem fundamental importância para entender se o tipo de
jornalismo humorístico que o programa CQC faz parte de algum gênero, ajudando a
compreender esse novo tipo de telejornalismo na TV brasileira.
A forma inovadora do programa abre oportunidades para futuras linguagens
jornalísticas.
Essa maneira divertida é utilizada para abordar assuntos semanais
importantes. O programa, especialmente o quadro a ser pesquisado, Proteste já, é
uma prestação de serviço à sociedade.
A análise de atitudes e da linguagem do programa ajuda na formação
jornalística, uma vez que é por meio do estudo de produtos e processos midiáticos
que os alunos entram em contato com a realidade do mercado de trabalho no qual
irão atuar.
O objetivo desse projeto é analisar o produto midiático da rede de TV
Bandeirantes, que é o quadro Proteste Já, com Rafinha Bastos. Nossa pesquisa
consiste em analisar esse quadro do Proteste Já e demonstrar como esse novo
gênero jornalístico não delimita a credibilidade do jornalismo propriamente dito.
Foi necessário analisar a linguagem e as atitudes dos integrantes assistindo
criticamente o programa e buscando informações com a própria rede Bandeirantes
de televisão.
Fizemos pesquisa bibliográfica, em internet, pesquisa de campo e televisiva,
assistindo aos programas semanais.
Tivemos algumas conversas informais com professores especializados na
área de comunicação, para obter dicas de livros e orientações.
Entramos em contato com a assessoria da Rede de televisão Bandeirantes
(Band), via e-mail.
Utilizamos entrevistas com a assessora da Band, Eliane Leme, e com o
repórter do quadro Proteste já, Rafinha Bastos, que é o nosso recorte.
Nesse quadro, Rafinha Bastos vai atrás do problema da comunidade e cobra
soluções e prazos dos responsáveis. Ele concedeu-nos uma entrevista baseada
nesse trabalho que ele faz.
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Eliane Leme, assessora da Band também concedeu-nos informações para


enriquecer o nosso trabalho.
Na pesquisa de campo, o grupo de trabalho se deslocou até a Band São
Paulo, no Morumbi. Necessitamos da ajuda de um cinegrafista para a entrevista com
Rafinha Bastos, o repórter do quadro Proteste já, e com a assessora de imprensa da
Band, Eliane Leme.
Buscamos especialistas em telejornalismo por meio de bibliografia específica
e do professor universitário da área de telejornalismo, Nivaldo Marangoni.
Com base no livro de Nivaldo Marangoni, Televisão: Fácil de ver, difícil de
fazer, pudemos ter uma idéia comportamental no telejornalismo. Com o auxílio da
obra O que é jornalismo, de Clóvis Rossi, exemplificamos o sucesso do jornalismo e
dos jornalistas inovadores, caso da Revista O Cruzeiro, do jornalista Paulo Francis e
do jornal francês Le Monde. Na obra do autor Rivaldo Chinem, Imprensa Alternativa,
ele trata de três jornais do tempo da ditadura, um deles o Pasquim, com críticas
irreverentes de grande sucesso na época, assim como o CQC. Estrutura da notícia,
de Nilson Lage, faz um resumo da história da notícia e das tecnologias de
comunicação, importante para a nossa pesquisa porque o autor trata de alguns
conceitos de cultura de massa e de TV. Também de Nilson Lage, o livro Linguagem
jornalística é importante porque diz respeito sobre as normas de linguagem
jornalística. Para ajudar a entender o gênero do CQC estudamos o livro, de José
Carlos Aronchi de Souza, Gêneros e formatos na televisão brasileira. Para
compreendermos melhor O que é Indústria Cultural, a obra de Teixeira Coelho.
O CQC é um programa contestador, ainda mais no quadro Proteste já.
Esperamos por meio desse projeto mostrar que o CQC também é um
programa importante no contexto jornalístico da televisão brasileira
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2 A TELEVISÃO

Segundo Paternostro (1999) “ [...] o universo da TV em constante (r)evolução:


o alvo é o homem”.
Tudo começou com o aparecimento dos primeiros livros impressos. Esse
processo se desenvolveu na Europa, a partir de método inventado por um alemão,
Johannes Gutenberg, que em 1945 compôs tipograficamente uma tiragem de
duzentas Bíblias. Somente dois séculos depois surgem os jornais periódicos, mas foi
no século XIX que a imprensa se desenvolveu, acompanhando as grandes
transformações sociais e econômicas geradas pela Revolução Industrial desde
1769. As novidades tecnológicas se incorporavam à comunicação e os meios de
informação se afirmavam. Paternostro (1999) afirma que o “homem na sua ânsia de
vencer barreiras, no tempo e no espaço, os queria mais velozes e eficazes. É nesse
processo – urgente, avassalador – que surge a televisão, com a informação na sua
forma mais dinâmica e universal: a imagem.”
A primeira transmissão via satélite, ao vivo, para o Brasil foi de muita emoção,
era o dia 3 de março de 1969. No entanto, a implantação da TV no Brasil se deu
pela iniciativa de um jornalista chamado Assis Chateaubriand.
No começo dos anos 50, a indústria brasileira já se encontrava em processo
de crescimento, atividades comerciais, financeiras, de serviços e de educação
estavam se expandindo. Nesse panorama os Diários e Emissoras Associadas se
voltaram para a TV e Chateaubriand trouxe os técnicos norte-americanos da RCA
para implantar a televisão no Brasil. No dia 18 de setembro de 1950 entrava no ar a
PRF – 3 TV DIFUSORA, depois TV TUPI de São Paulo. “TV NA TABA”, o espetáculo
de estréia, foi ao ar e, na base do improviso, durou quase duas horas, programa
comandado por Cassiano Gabus Mendes, que mostrava artistas de sucesso, como,
Mazzaropi, Lia de Aguiar, entre outros.
A TV ampliava sua área de penetração e começava a atrair as
agências de propaganda e anunciantes e então os anos 60 se resume na disputa a
verbas publicitárias, as emissoras começam a briga pela audiência.
Nos anos 70 a TV brasileira entra sob regras impostas pelo governo militar, é
a fase da censura. Mas com o avanço tecnológico, a TV brasileira passa por uma
mudança importante e ainda no final da década, ao mesmo tempo que suspende a
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censura prévia, o governo se dispõe à “abertura”. E a criatividade começou a


ressurgir.
Paternostro, 1999, diz em seu livro que:

A televisão foi descoberta graças ao trabalho de inúmeros


cientistas e entre o final dos anos 40 e o começo dos anos 50, a
TV entrou na vida de praticamente todos os países e se firmou
como meio de comunicação e nesse momento a indústria passou
a se preocupar com os aperfeiçoamentos para melhor atender ao
seu público. (PATERNOSTRO, 1999)

Surgem nos anos 60, na TV brasileira, os programas de auditório de grande


repercussão e audiência e em 1965 surge a TV GLOBO que, em 1º de setembro de
1969, entra no ar com o Jornal Nacional.
O primeiro telejornal da TV brasileira foi “imagens do Cia”, e nasceu junto com
a TV Tupi de São Paulo, em 1950.
Alguns telejornais são pontos de referência, como o Jornal de
Vanguarda – TV Excelsior, Rio, 1962 a 1965. Telejornal criado pelo jornalista
Fernando Barbosa Lima, feito e apresentado pro jornalistas. Inovou por ter vários
locutores e comentaristas. O jornal Nacional – Rede Globo de Televisão, 1969, Bom
dia São Paulo, entre outros, todos eles são pontos de referência pois sempre
estavam inovando.
Enfim, telejornalismo nada mais é que a prática profissional do jornalismo
aplicada à televisão, divulgam noticias dos mais variados tipos, utilizando imagens,
sons e narração por uma apresentador chamado de âncora.
Segundo Paternostro: “A televisão é superficial por natureza, é limitada
quanto à profundidade das mensagens que emite”.
No entanto Paternostro também afirma que a TV pode abrir o apetite e
estimular a investigação, a busca diversificada da informação, uma vez que seu
público, tendo tomado conhecimento da dimensão de um fato, pode não ter se
satisfeito de forma total.
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Jornalismo de televisão – o telejornalismo: Informação Visual: o


mundo onipresente, a TV mostra e o telespectador vê; Imediatismo: a TV é o
veiculo que torna a informação contemporânea e universal ao apresentar o
acontecimento através da imagem; Penetração: Atinge a todas as camadas
da população; Instantaneidade: a informação da TV requer hora certa para
ser vista e ouvida. Entre outras coisas que estruturam a TV, como a
conhecemos hoje. (PATERNOSTRO, 1999)

Quando se fala em televisão, você está falando de um texto jornalístico


coloquial, claro e preciso. É como disse Carlos Drummond de Andrade, na qual essa
mesma frase é usada no livro de Paternostro, (1999), “Escrever é cortar palavras”.
Em seu livro, O texto na TV, Paternostro acredita que o que importa
verdadeiramente é a qualidade do trabalho que se faz, com honestidade, dignidade,
caráter, princípios. Pegarei nesse momento emprestada as palavras sábias de
Paternostro, “A busca da verdade não termina nunca”. E isso define bem o que é o
CQC, pois na verdade ele busca o esclarecimento e sim para que as pessoas
possam ver que existem programas que podem trazer entretenimento mas também
o esclarecimento.
Escrito por um experiente professor universitário de telejornalismo, Nivaldo
Marangoni, Televisão: fácil de ver, difícil de fazer é uma espécie de manual para
jornalistas interessados no trabalho em TV.
Assim como o CQC faz, chama a atenção o primeiro capítulo da obra que diz
para fazer o telespectador feliz. “[...]Vamos a fundo em nosso riso com o jornalismo
humorístico com prática ” (p. 18).
Ele cita alguns exemplos disso: “Falamos de Maurício Kubrusly, Arnaldo
Jabor, Márcio Canuto, Brito Júnior, sem contar a turma do Casseta e Planeta” (p.
18). Ele explica que infelizmente nem todos tem essa coragem de inovar e
explicitamente diz que isso é um tipo claro de castração. Mas segue esperançoso na
conquista de mudanças: “Quem sabe aqueles que decidem mudam a opinião e
abrem uma brecha para algo mais novo, diferente?” (p. 18).
Porém, ele alerta que sempre que aparece algo diferente na área jornalística
“estruturas balançam”. O livro, editado antes do CQC ir ao ar, explica exatamente o
que aconteceu com o CQC no Congresso. As estruturas parlamentares balançaram
de tal forma que o quadro ficou fora do ar por algum tempo.
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É citada no capítulo Informação “produto”, a responsabilidade social do


jornalista com “[...] a necessidade de se colocar em prática um jornalismo sério,
justo, honesto, com interesses estritamente coletivos” (p. 29). Assim como acontece
no Proteste já, que cobra soluções para os interesses comuns à população.
O autor ainda afirma que “O telespectador quer, gosta, admira e aplaude
quando um repórter pelo menos tenta ousar” (p. 47).
Na obra tem um capítulo inteiro aconselhando que se “Dê uma de louco”
dizendo que é preciso arriscar, ser ousado e criativo na hora de inovar e que isso já
deu certo com muitos profissionais experientes. E no capítulo “Por dentro de tudo”
ele afirma que: “Melhor seria se o curioso repórter, no bom sentido, sempre pudesse
dar um show nos coleguinhas durante as coletivas, na hora de gravar um texto, ou
de produzir uma simples nota”. (p. 65)
Ainda afirma no capítulo de “Toque final”: “Respeitamos as pessoas que
tentam inovar, criar, ser diferentes na busca ou na transformação e propagação dos
fatos” (p. 121).
Diz que é preciso que a programação brasileira melhore e lembra de alguns
“baluartes do passado” que criavam, roteirizavam e interpretavam: “[...] Faziam-se
rir, entretinham, criticavam, mudavam ” (p. 121).
Importante lembrar que hoje o CQC cria roteiros fantásticos e com muito
humor para as críticas semanais e tem um elenco de humoristas e também de
jornalistas que além de entreter, dão voz aos problemas da população e vão em
busca da notícia, custe o que custar.
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3 O QUE É JORNALISMO

O que é jornalismo é um pequeno livro de Clóvis Rossi da coleção Primeiros


passos. Clóvis começou a trabalhar na imprensa antes mesmo de se formar na área
e já participou de trabalhos jornalísticos em todo o mundo. O autor usa de sua
experiência para explicar algumas definições do jornalismo com exemplos reais do
cotidiano profissional.
Ele diz que o jornalismo é uma batalha por mente e corações e que não é
possível praticar a neutralidade: “É realmente inviável exigir dos jornalistas que
deixem em casa todos os condicionamentos [...] ao fazer o seu relato, as emoções e
as impressões puramente pessoais que o fato neles provocou.” (p. 10).
Como inovadores “jornalistas-humoristas”, o tratamento que o CQC dá aos
fatos é com a maior irreverência possível, conquistada com a longa bagagem
humorística do estilo de comédia em pé .
Aliás, Rossi aconselha um estilo de jornalismo todo próprio que o CQC
segue: “O esquematismo exagerado conduziu a tal padronização que repórteres e
redatores deixaram de ter como característica central o domínio do idioma, de seu
próprio estilo pessoal e da melhor maneira de captar o interesse [...]” (p. 27).
O autor dá exemplos bem sucedidos de inovação. A revista O Cruzeiro é uma
delas que vendeu criatividade, apesar da padronização, e nos anos 50 atingiu a
marca de 800 mil exemplares. Outro exemplo é do Jornal da Tarde que não manteve
uma padronização mas manteve uma boa vendagem justamente porque rompeu
com a norma e estilos vigentes. Ele cita também o famoso jornal francês Le Monde
que dá total liberdade a seus repórteres, tanta que eles podem começar uma notícia
com uma narrativa poética. Ele avisa que aqui no Brasil só um nome consagrado
poderia fazer isso.
Então, Rossi cita Paulo Francis, ex-correspondente da Folha de S. Paulo em
Nova Iorque, jornalista de renome,[...] “mistura informações, comentários, ironias
( às vezes pesadas) e recordações pessoais[...]” (p. 34). Ainda explica que “Nem por
isso Francis deixa de ser um dos jornalistas mais lidos do país [...]”. (p. 34)
Rossi ainda afirma que “[...] perante a autoridade, todo-poderosa nos anos da
ditadura, o repórter foi perdendo a postura crítica, a capacidade de formular as
perguntas inconvenientes ou desagradáveis, mas necessárias.” (p. 56).
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Os repórteres do CQC formulam suas questões com base na necessidade


que o assunto exige, sempre inconvenientes, mas com postura crítica o suficiente,
sem precisarem perder o humor para isso.
O autor conta que “O segredo de qualquer comunidade realmente
democrática é justamente a participação de todos[...]” (p.77). Isso incluiria o CQC,
que é um tipo de jornalismo com humor, mas que nem por isso pode ser excluído
dos acontecimentos de interesse público.
Linguagem jornalística é outro livro da série Princípios do autor Nilson Lage.
Trata de normas de redação jornalísticas, inclusive no telejornalismo.
Segundo Lage, a linguagem jornalística não está diretamente relacionada
com o idioma pois em idiomas diferentes há uma linguagem jornalística em comum
que “mobiliza outros sistemas simbólicos além da comunicação lingüística” (p. 5). O
livro seria um estudo mais amplo, de Semiologia, traçado por Ferdinand de
Saussure, no início do século XX.
No capítulo “As imagens em telejornalismo”, ele explica que “[...]o jornalismo
em sua expressão axiomática: aparência, entonação e expressão facial torna-se a
moldura para o entendimento dos fatos” (p. 27). Ele exemplifica isso dizendo que “
Essa constatação conduziu a uma retórica visual que impõe roupas escuras no
vídeo em dias de acontecimentos trágicos ou veste os locutores de uniforme, como
aconteceu na Polônia, quando os militares assumiram o poder” ( p.27). O CQC cuida
da imagem e os integrantes do programa usam uma espécie de uniforme para
ficarem iguais. Porém, não fica explicitado o porquê disso.
Podemos classificar o CQC como telejornalismo pelo padrão de produção
que o programa segue “Nos noticiários de horário certo (os evening news, boletins
do começo de noite, são os de maior audiência, em todo o mundo), as imagens das
notícias aparecem como documentação do lead dito pelo apresentador ou da análise
feita por um anchorman, editor-analista” (p.28). Exatamente como acontece no CQC,
o programa embora exibido uma vez por semana e já de noite, faz um resumo
semanal de notícias com âncoras que faz a análise da notícia de forma humorística.
Para Lage “Reportagens de televisão [...] Podem contar uma história, com a
tradição narrativa do cinema-ficção; defender uma tese; expor assuntos; retornar no
tempo de imagens atuais para precedentes do passado; opor temas conflitivos”
(p.30). Isso engloba muito do que o CQC faz hoje.
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Imprensa alternativa - Jornalismo de oposição e inovação, é uma pequena


obra da série Princípios. O autor, Rivaldo Chinem, trata da oposição do jornalismo
aos militares da ditadura. Ele dá destaque a três jornais da época: Pasquim, Opinião
e Movimento. O Pasquim era um jornal humorístico dessa época difícil.
Logo na introdução o autor diz que: “Uma das funções da imprensa é tentar
propor alternativas, e não apenas de notícia, mas de mercado, de postura, de
organização acionária [...]” (p. 7)
O autor reserva o capítulo 3, intitulado “Os alternativos” (p. 31) para dissertar
sobre a sátira e a irreverência, com exemplos de periódicos da época. É o caso do
jornal Binômio de José Maria Rabelo e Euro Arantes que fazia crítica explícita ao
slogan do binômio energia-transporte de Juscelino Kubitschek . As páginas eram
cheias de humor e o jornal era relativamente próspero com tiragem de 40 mil
exemplares, mas acabou depois do golpe militar. “José Maria Rabelo fugiu para a
Bolívia e só voltou em 1980” (p. 32).
Dois meses depois do golpe, Millôr Fernandes dirige um jornal de irreverência
e crítica chamado Pif Paf. Mesmo título da seção em que escrevia na revista O
Cruzeiro e que foi demitido por “justa causa”, na época da ditadura.
O Pasquim surgiu no ano de 1969, em meio a recuperação da imprensa
depois do AI-5. Havia um jornalzinho chamado Carapuça, escrito por Sérgio Porto,
que também escrevia na Última Hora o “Festival de besteiras que assolam o país –
Febeapá”, segundo o autor “[...]uma seção interessantíssima, de muito bom
humor.”(p.**). Sérgio morreu e então procuraram Jaguar e Ziraldo que recusaram o
trabalho pois estavam interessados em fazer uma publicação deles próprios. Depois
de um tempo o Carapuça acabou. No AI-5 Ziraldo foi preso. Ao sair da prisão ele
pensou numa publicação independente de interesses empresariais como a
Manchete, Globo, Estadão, Folha
O Pasquim não e outros.
era Então
um jornal o Pasquim
político, era apenasfoi
umcriado com o grupo
jornal debochado, de
Carapuça, que procurou Jaguar. indignado,
contestação, “ O Carapuça, no entender
que queria de Ziraldo,
sair do sufoco, foi enterrado
um jornal que não
suportava
para nascer o Pasquim, mais ver
que surgiu outros jornais
exatamente seiscomo a primeira
meses depois página do Jornal do
do AI-5.”(p.43)
Brasil, cheia de insinuações e legendas, e o censor dentro da redação [...]
Paulo Francis, Irreverente,
também colaborador
moleque, comdo
umaPasquim,
linguagemresumiu em bastante
desabrida, suas memórias
atrevido
dizendo que o jornal era
parauma brincadeira
os padrões num tempo triste.
de comportamento da imprensa na época e com boa
distribuição.
Chinem ainda afirma que Fez um sucesso extraordinário.[...] Cada pessoa que estava
na oposição, inconformada com aquele estado de coisas, via nele o seu
jornal. E assim o jornal conquistou várias faixas de leitores.[...] Jaguar
[...]dizia para Ziraldo que não ia torrar um tostão naquele negócio, que
considerava mais uma “porralouquice” de sua vida de jornalista.[...] Quatro
meses depois, a redação fazia uma festa para comemorar os 100 mil
exemplares [...] (CHINEM, 1995)
18

O CQC tem humoristas assim como se tinham no Pasquim “O Pasquim era


feito olhando-se para Jaguar, um humorista puro por excelência[...]Jaguar sempre
dizia que ele tinha mentalidade de 15 anos de idade”.
Na conclusão, o autor ainda lembra que: “Essa luta incessante contra o
arbítrio e a censura deve nos inspirar sempre, para que cada vez mais tenhamos em
nossas mentes que a liberdade de expressão é tão essencial quanto o pão nosso de
cada dia. (p.87)”
Não era apenas o Pasquim que desafiava o jeito clássico de jornalismo que
havia em sua época.
Desde os tempos monárquicos do Brasil, a imprensa sempre esteve
presente na construção da história. Os jornais Revérbero, Constitucional Fluminense
e A Malagueta foram de grande importância no processo de Independência do
Brasil.
O Revérbero, jornal de propriedade de Joaquim Gonçalves Ledo e
Januário da Cunha Barbosa. Foi o primeiro jornal independente do governo no Rio
de Janeiro. A independência do Brasil era sua bandeira – mas sem grandes cortes
dos laços com Portugal. Teve vida curta. Foi lançado em 15 de setembro de 1821 e
veiculou até 8 de outubro de 1822. Composto de 12 páginas, o Reverbero era
vendido por 120 a 160 mil réis. Publicava artigos de Lisboa, Paris e Londres.
Nelson Werneck Sodré, em História da Imprensa no Brasil, classifica o
Revérbero como: “o melhor arauto das reivindicações brasileiras”.
Mas a despeito das considerações do historiador, uma falha jornalística gerou
dúvidas sobre os reais objetivos do jornal. Quando proclamada a independência,
atitude tão “batalhada” pelos redatores, nada foi publicado. Em 15 de outubro, o
Revérbero Constitucional Fluminense, não veiculava mais, explicavam seu
fechamento dizendo que: “empreendido só para o fim de proclamar a independência
de seu País, nada mais lhe resta a desejar, uma vez que ele [o País] vai ter uma
Assembléia Constituinte e Legislativa, que já tem um imperador da sua escolha, que
é nação e nação livre”.
A partir de então surgiram vários problemas para os redatores, explodindo
numa perseguição, pois misturaram os conceitos de independência e liberdade.
A malagueta foi o último jornal que surgiu no Rio de Janeiro, em 18 de
dezembro de 1821. Luís Augusto May, era o dono do veiculo. Cada edição era
19

formada por um artigo somente, escrito na primeira pessoa e na forma de uma carta
ao imperador. Seu objetivo era intervir no debate político e propor medidas
constitucionais. A malagueta se tornou o jornal mais popular do Rio, com cerca de
500 assinaturas – à época, equivalente a milhões. Mesmo sendo um jornal
extremamente crítico ao governo, pois era independência total de Portugal, A
Malagueta usava o bom senso.
Com artigos um tanto “quentes”, o Malagueta foi o primeiro jornal a
sofrer censura. Como conseqüência de uma publicação no dia 5 de junho de 1823,
em que fez diversos ataques a José Bonifacio, May foi vítima de espancamento.
Puseram uma pimenta em sua boca e o obrigaram a mastigar. May levou alguns
meses para se recuperar quando voltou a trabalhar tinha uma visão política
renovada. É o que todos pensavam...e queriam.
Ao terminar esse texto quero informar que esse texto foi retirado de um
artigo na internet chamado Canal da Imprensa, com o titulo de Imprensa Apimentada
escrito por Vanessa Candia, no qual tirou os seus dados históricos nos livros Insultos
Impressos – A guerra dos Jornalistas na Independência, de Isabel Lustosa, e
História da Imprensa no Brasil, de Nelson Werneck Sodré.
O próprio apresentador do programa CQC já fazia um jornalismo
diferente, Marcelo Tas é muito conhecido pelo seu personagem Ernesto Varela. Um
repórter fictício que ironizava personalidades políticas da época. Ficou célebre e
entrou para a história com a sua pergunta direta a Paulo Maluf que, surpreso, virou
as costas e deixou a sala em que estavam:" Muitas pessoas não gostam do senhor,
dizem que o senhor é corrupto. É verdade isso, deputado?".
Também ficou famosa a briga que teve com o então dirigente da
Confederação Brasileira de Futebol (CBF) e deputado Nabi Abi Chedid, nos
bastidores da Copa do Mundo de 1986. “Qual vai ser a sua próxima jogada?
O personagem é considerado o "pai" do Repórter Vesgo (Rodrigo Scarpa),
personagem do programa Pânico na TV que também faz sucesso ao abordar
celebridades e anônimos em festas e eventos com perguntas politicamente
incorretas (mas sem o mesmo viés político de Varela).
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4 HISTÓRIA DO CQC

CQC é a sigla para o programa de TV Custe o que custar, da rede


Bandeirantes. O programa faz um resumo semanal de notícias toda segunda-feira à
noite, com reprise aos sábados. Ele faz um tipo de telejornalismo com humor,
composto por uma bancada de três âncoras e seis repórteres.

Sigla do programa

O formato original veio da Argentina, onde o programa existe desde 1995, e é


também chamado de CQC, mas significando Caiga quem caiga, que, traduzindo,
seria algo como Caia quem cair, transmitido pela Telefe. Porém, já percorreu o
mundo. Na Espanha, é exibido desde 1996, no México e na Itália, desde 1997. Na
Itália tem o único CQC apresentado por uma mulher.
Em Israel foi exibido durante o ano de 2001. No Chile existe desde 2002. O
Uruguai transmite a versão argentina. Portugal começa a exibi-lo a partir de outubro.
Nos Estados Unidos foi feito um piloto. Um dos apresentadores foi Dominic
Monaghan (Charlie do seriado Lost). Eles já entrevistaram o candidato democrata
Barak Obama, mas ainda não tem previsão de ir ao ar.
A Band importou a idéia da produtora argentina Eyemorks Cuatro Cabezas
para co-produzir o programa no Brasil. Assim, o CQC brasileiro, estreou dia 17 de
março de 2008.
O logotipo do programa é uma mosca. Segundo o apresentador Rafinha
Bastos, eles queriam uma abelha mas como nem tudo no Brasil é mel, a mosca
coube perfeitamente nesse contexto do Custe o que custar, porque ela pode entrar
em qualquer lugar.
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Logotipo do programa

Os integrantes do programa se autodenominam um quartel-general em que,


vestidos de terno preto, gravata e óculos escuros, formam uma trupe.

A “trupe” do CQC

Marcelo Tas é o apresentador central do CQC. Ele é jornalista, ator,


apresentador, roteirista e diretor. Ernesto Varella foi um de seus famosos
personagens logo após a abertura política do país. Ele fazia algo parecido com o
que o CQC faz hoje. Abordava os políticos no Congresso de forma bem humorada
com questões relevantes e polêmicas. Chegou a perguntar a Paulo Maluf se ele era
mesmo ladrão, na época em que Maluf era candidato a presidente. Maluf deu às
costas e saiu da sala. Entrou para a história também a discussão na Copa de 1986
que deixou o presidente da CBF e também deputado Nabi Abi Chedid constrangido
ao ser perguntado qual seria sua próxima “jogada”.
Rafinha Bastos também é apresentador e divide a bancada com Marcelo Tas
e Marco Luque. Ele é jornalista, ator e humorista. Jogou basquete durante 15 anos
22

nos Estados Unidos onde se aprofundou no estilo de comédia em pé (Stand–up),


que tem como ícone nos Estados Unidos o humorista Seinfeld. Ele participa da
bancada mas também vai a campo como repórter do quadro Proteste já.
Marco Luque é o terceiro integrante da bancada do CQC, faz a parte mais
cômica na apresentação do programa. É ator e faz parte do elenco fixo da peça
Terça insana e do programa da rádio Mix FM como motoboy chamado Jackson Five.
Danilo Gentili é publicitário, humorista, escritor e cartunista. Fundador da
Comédia ao Vivo, integra também o Clube da Comédia Stand-up
Rafael Cortez é ator, músico e jornalista. Ganhou o 32o Prêmio Abril de
Jornalismo, em 2007, na categoria Conteúdo para Celular. É um dos repórteres do
CQC e apresenta o quadro do CQ Teste.
Oscar Filho é o repórter que cobre principalmente os eventos sociais. Ganha
vários apelidos por ser o mais baixinho da trupe. Ele é ator e humorista.
Felipe Andreoli se formou em jornalismo mas sempre freqüentou redações de
TV desde os seis anos de idade, por causa do pai, também jornalista.
Warley Santana é o mais novo integrante do CQC. Ele é ator e estreou no
CQC com o quadro Em foco onde se passa por um assessor de imagem, além de
repórter.
Algumas matérias vão ao ar sem necessariamente fazer parte de um quadro
dentro do programa. Isso acontece por exemplo com os eventos sociais, geralmente
festas, estréias de filmes, lançamentos de livros, lançamento de capa de revista de
nú feminino, shows e outros.
O programa tem quadros como o Top five, que é a seleção das cinco
“melhores” pérolas da semana na TV.
O CQ Teste avalia a capacidade intelectual das celebridades. São cinco
questões, em que cada resposta errada perde-se 60 segundos de um total de 300.
O tempo restante será igual ao coeficiente de inteligência, segundo o CQ Teste.
Depois de dois meses, com campanha para poder voltar ao Parlamento e
quase 300 mil assinaturas recolhidas, o quadro CQC no congresso voltou. Arlindo
Chinaglia, presidente da Câmara dos deputados, declarou que eles foram
entendidos como programa de humor e não jornalístico. Rafinha Bastos, repórter e
apresentador do programa, afirmou à Folha Online em 19/06/08: “A gente também
faz isso [jornalismo], mas de uma forma irônica e bem humorada. Isso está
assustando a figura política.”
23

Segundo Rivaldo Chinem, autor do livro Imprensa alternativa: “Uma das


funções da imprensa é tentar propor alternativas, e não apenas na notícia, mas de
mercado, de postura, de organização acionária, a sonhada empreita do “jornal de
jornalista” (p. 8).
Segundo Nilson Lage, no livro Estrutura da notícia “[...] cada um de nós
conceitua as coisas por comparação e contraste, do ângulo da utilidade, da
função”(p. 6). O fato é que ninguém escapa da mira crítica e da irreverência da
verdade ácida deles.
O nome do programa faz jus as atitudes dos repórteres, que são bem
audaciosos. Um belo exemplo dessa audácia aconteceu no programa do dia 08 de
setembro. Rafael Cortez fez-se passar por um convidado especial no 65o Festival de
cinema de Veneza. Ele não só passeou pelo tapete vermelho, ao lado de estrelas
hollywoodianas como George Clooney, como também conseguiu entregar uma carta
a Brad Pitt, endereçada à Angelina Jolie.
Alguns quadros do programa são móveis. O quadro do Repórter Inexperiente
foi extinto porque a série de entrevistas foram ao ar e o repórter Danilo Gentili
poderia ser reconhecido. Ele se atrapalhava com personalidades como Datena,
Raul Gil, Inri Cristo, Mãe Dinah, Padre Marcelo Rossi e outras. Tudo
propositalmente, claro.
O Teste da honestidade também foi feito por Danilo Gentili e consistia em
testar a honestidade do brasileiro. Ele se passou por um cego e foi às compras.
Muita gente deu o troco errado a ele. Quando ele voltava como repórter, algumas
pessoas já sabiam do que se tratava e ficavam envergonhadas. Em um desses
testes ele deixou cair na rua o celular. Uma mulher viu que o aparelho era dele e
mesmo assim o guardou para si. Mesmo depois de desmascarada, assistindo ao
flagra na filmagem da produção, eles necessitaram da ajuda da polícia para
recuperar o celular.
CQC investiga é outro quadro com Danilo Gentili, que aborda casos bizarros.
Um deles foi no Reino dos Céus, nome do sítio em que o líder Inri Cristo afirma ser a
encarnação do “Pai”, Jesus Cristo, e mantém discípulos. O outro foi na “capetela” de
Toninho do Diabo, líder de uma doutrina satânica.
O quadro mais recente é o Em Foco, com a entrada do oitavo integrante
Warley Santana. Ele faz o contrário do repórter inexperiente e se apresenta como
24

uma espécie de assessor de imagem com curso no exterior de Carl Fischer, o


mesmo assessor de imagem de Barak Obama. Assim, o entrevistado segue á risca
as instruções dele como repetir frases de efeito que ele pede ou congelar por alguns
segundos, feito uma estátua. Tudo conselhos estratégicos de Warley para se saírem
bem no “programa”, Em Foco, sem perceberem que estão sendo gravados nessa
hora.
O nosso recorte será o quadro Proteste já, que existe desde o início do
programa. Ele presta um serviço à comunidade recebendo denúncias, por e-mail, de
problemas públicos. Assim, Rafinha Bastos vai ao local do problema, escuta o povo
e cobra dos responsáveis atitudes e prazos para resolver a questão. Muitos casos já
foram resolvidos por intermédio dele que nunca perde o senso de humor e o devido
respeito pelas autoridades e assistentes. Sempre questionador protesta de forma
irreverente pegando um objeto do responsável em questão como forma de garantia
para a solução do problema.

Rafinha Bastos, apresentador e repórter do quadro Proteste já


25

5 O GENERO JORNALISMO TELEVISIVO: CQC

“É preciso conhecer os gêneros da televisão para depois subvertê-los. A


subversão dos gêneros é o caminho para descobrir formatos inéditos.” (Gêneros e
Formatos na televisão brasileira; Aronchi)
Outro livro da série Princípios, Estrutura da Notícia, foi escrito por Nilson
Lage, jornalista e professor universitário. O livro trata das tecnologias na
comunicação, dentre elas a TV,
Ele cita que: “[...]a notícia, antes restrita e controlada pelo estado e pela
Igreja, tornou-se bem de consumo essencial (p. 8)”. Porém, “[...] não se trata
exatamente de narrar os acontecimentos, mas de expô-los. (p. 16)”.
Em todas as reportagens do Proteste já, o Rafinha faz questão de expor a
população prejudicada e o responsável por resolver o problema também.
Importante ressaltar também que Lage diz que: “[...]o sistema produtor de
notícias não é, em sentido absoluto, uma fonte, mas um codificador inteligente[...]”
(p. 24).O CQC é um tipo de humor inteligente, mas com notícias.
Lage afirma que “ [...] a televisão realiza, mais do que qualquer outro meio, o
projeto teórico de uma sociedade de massa, em que um sistema transmissor dirige-
se à multidão dispersa de cidadãos inertes e passivos” (p. 43).
O mais interessante é que o próprio autor, Lage, faz um confronto de idéias
sobre a cultura de massa:
Existirá uma massa? Será ela definida por grau de escolaridade, como supõe
a distribuição dos programas em faixas horárias, de modo que os mais
perigosos e complicados – pelo erotismo, pela veemência do discurso
político, pelo grau de abstração -ficam fora do alcance dos trabalhadores em
geral, que dormem mais cedo? A resposta é não. A experiência de quatro
séculos de imprensa mostra que o público pode ignorar métodos e fatos,
pode ser crédulo e de boa fé, mas não é tolo. E, se fosse, não teria o menor
sentido pensar em democracia, isto é, em dar-lhe o poder, em última e
decisiva instância. (LAGE, 1999)

Ponto de vista desafiador visto que em meios acadêmicos aprendemos


exatamente o contrário.
O autor ressalta também que: “[...] existe sempre alguma interpretação nas
reportagens. O importante é que se respeitem os fatos [...]” (p.48). No CQC eles
26

fazem exatamente esse processo de ir atrás da veracidade dos fatos, só que o


interpretando de maneira humorística.
Na obra encontra-se ainda mais um apoio para o CQC, quando Lage afirma
que os veículos de comunicação esgota-se nas possibilidades que são oferecidas, e
que há uma padronização que faz com que todos se pareçam. O CQC é algo
inovador aqui no Brasil.
José Carlos Aronchi de Souza, é jornalista e Mestre em Comunicação
Científica e Tecnológica pela Universidade Metodista e doutor em Ciências da
Comunicação pela ECA/USP. Em seu livro Gêneros e Formatos na Televisão
brasileira ele explora empiricamente o universo televisivo brasileiro. Ele faz uma
analise mais profunda sobre o ano de 1996, no entanto ele acompanhou o período
de 1994 a 2003. Ele irá classificar os gêneros televisivos, formatos, suas variações.
Ele identificou 37 gêneros e 31 formatos que compõem os quadros, separados em
cinco categorias: entretenimento, informação, educação, publicidade e outros. E é
nesse objeto de estudo que classificaremos o formato de programa do CQC.
A televisão tem a possibilidade de cercar e capturar a consciência do público,
Adorno define como: “[...] a totalidade do mundo sensível em uma imagem que
alcança todos os órgãos, o sonho sem sonho”.

Em um depoimento o publicitário brasileiro Mauro Salles afirma:

De outra parte, a televisão se transformou na principal fonte de informação


Existem muitas redes de televisão no Brasil, um exemplo é a Globo que é
e notícia para as mais amplas camadas de espectadores de todos os
comparado aos maiores
níveis,sucessos da cultura
todas as idades, todas aspopular americana
classes, de contemporânea,
todos os rincões deste país. A
existe também as maiores
notícia,redes de TV doomundo,
a reportagem, discurso,como é o caso
o debate, da inglesatelevisivo
o comentário BBC, a
invadiram
RAI (ITALIANA), essas as casas,
emissoras os escritórios,
são fábricas as fábricas,
de programas comas todos
salas, os
os tipos
quartos,
de
trazendo o mundo para perto de nóse, de outra parte, levando-nos para
formatos e gêneros.
mais perto do mundo. (SALLES)
Enfim, o estudo do gênero é a compreensão do desenvolvimento da televisão,
para Len Masterman, “[...] a concepção de gênero é muito útil para introduzir os
alunos mais cedo nos estudos de televisão”. Define-se gênero como um conjunto
de espécies que apresentam certo número de caracteres comuns
convencionalmente estabelecidos. A própria palavra gênero significa simplismente
ordem, quanto aos gêneros na comunicação os gêneros são sistemas de regras aos
quais se faz referência. Barbosa Filho define os gêneros da área de comunicação
como “unidades de informação”.
27

O gênero de um programa associa-se diretamente a um formato, e Aristóteles


define isso da seguinte maneira: “[...] que a realidade consiste em várias coisas
isoladas, que representam uma unidade de forma e substância. A substância é o
material de que a coisa se compõe, ao passo que a forma são as características
peculiares da coisa”.

Ou seja, a “forma” é a característica que ajuda a definir o gênero, e o formato


é simplesmente as características gerais de um programa de televisão. Segundo
Aronchi ele demonstra formato e gênero da seguinte maneira:
“Formato: as características gerais de um programa de televisão.
A forma geral de um programa de TV. Os aspectos de um programa
de TV”.
Formato esta sempre associado a um gênero, assim como
gênero está diretamente ligado a uma categoria. (idem, p. 46).

GÊNERO

Antigamente a emissora Band era conhecida como o canal de esportes, ela


no entanto decidiu diferenciar-se um pouco, investindo mais na área de jornalismo e
telejornalismo, as emissoras classificam de telejornalismo os noticiários, informativos
segmentados ou não, em diversos formatos. Gontijo Teodoro afirma: “[...] os deveres
do telejornal são: informar, educar, servir, interpretar, entreter”.
Ao analisar o programa CQC foi constatado que o programa ele tem quadros
de entretenimento sem vinculo jornalístico, como é o caso do quadro onde o Rafael
Cortez foi para Veneza, era apenas entretenimento, ou seja, foi mostrado nesse dia
(22 de setembro de 2008) lugares turísticos de Veneza. No quadro CPI DOS
GRAMPOS, já existe um pouco de jornalismo ácido, mas ainda não é nada sério,
está muito mais voltado para o humor é um quadro que tenta satirizar com um jeito
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brasileiro, no quadro Proteste já, que é o nosso objeto de estudo, é sim demonstrado
um jornalismo sério, preocupado, não há humor, existe no caso, perguntas
desafiadoras, que tentam realmente “cutucar” , a pessoa que está sendo
entrevistada, que realmente quer escancarar. No meio da analise podemos notar,
que existe muita propaganda de seus patrocinadores, pois a cada chamada de um
novo quadro era mostrada antes alguma propaganda como Pepsi, Skol, etc. Vale
lembrar que nenhum programa sobrevive sem os patrocinadores, vendo pela forma
mais critica, existe uma coisa chamada programação, há muitas redes que planejam
o horário de seus programas, como planejam os seus quadros, para que publico
alvo quer alcançar, e é claro a preocupação com o Ibope.
Walter Clark, executivo da televisão brasileira definiu bem isso, em uma frase:
“TV não é programa, é programação”.
Aronchi também definiu que estavam surgindo gêneros novos, e que para
definir um programa era necessário achar a sua essência, da produção ao publico –
alvo e também que estão surgindo novos gêneros que se misturam, entre eles
então entretenimento e jornalismo e humor. Na analise feita do programa CQC do
dia 22 de setembro de 2008 podemos também perceber que como eu já havia
falado, o programa contem quadros de entretenimento, jornalismo, humor e que no
entanto todos os quadros, até mesmo aqueles mais fúteis, tem uma coisa em
comum, a linguagem que todos usam, o modo como falam, e o que sempre tentam
esperar que aconteça, ou seja, em todos os quadros, o modo como eles falam, e eu
estou incluindo os apresentadores também, é uma linguagem ao mesmo tempo
ácida, incomoda para quem está recebendo a pergunta. É como se a todo momento
eles tivessem fazendo piadas “tirando sarro” as vezes mais sério e as vezes só por
diversão. O pai da psicanálise Freud disse uma vez que: “ Ninguém se contenta em
fazer um chiste para si”. Ou seja, segundo Marcelo Tas, uma piada precisa,
minimamente de dois interlocutores: o que fala e o que escuta.
John Deely diz: “A linguagem como rede objetiva é parte de um todo maior de
relações objetivas. A rede lingüística se alimenta da estrutura da experiência como
um todo e é transformado por ela em sua irredutibilidade ao ambiente físico” (p. 38).
Encerro minha análise do programa com uma frase do próprio Marcelo Tas ao falar
do CQC e com uma doutora em lingüística chamada Helena, ao falar do CQC , a
citarei pelo fato dela definir exatamente o que é o humor: “O homem público existe
para o humorista com metáfora, como símbolo. Essa lógica vai ao encontro da
29

proposta do CQC. Isso fica bem claro quando ao final de cada programa, Tas se
despede do público com a frase “eles estão a solta, mas nós estamos atrás”. Afirma
Helena para um artigo – Humor Eficiente, entrevista fornecida ao portal Imprensa.
Tas diz que “[...] é um gênero muito dificil, porque se pode cair no engraçadinho, no
fútil. É um fio de navalha”. Marcelo Tas em entrevista fornecida ao portal Imprensa.
José Marques de Melo, grande jornalista, tem uma coleção de livros que leva
o seu nome, dentre eles A opinião no jornalismo brasileiro, obra bastante
reconhecida no campo jornalístico brasileiro. O estudo dessa obra nos foi importante
para reconhecer o CQC também como uma categoria do jornalismo.
Segundo Melo, “[...] o jornalismo se articula necessariamente com os veículos
que tornam públicas suas mensagens, sem que isso signifique dizer que todas as
mensagens ali contidas são de natureza jornalística” (p.12). Para ele, “[...] o
jornalismo atém-se ao real, exercendo um papel da orientação racional” (p. 13).
“A chave para apreender a identidade de seu objeto ele a encontrou na
conjugação das quatro características exigidas como parâmetros da “totalidade
jornalística”: periodicidade, universalidade, atualidade e difusão” (p.14).
Quatro elementos que o CQC dispõe, principalmente no quadro Proteste já,
entendendo que, para Melo, universalidade é “[...]uma sintonia com os desejos e as
reações da coletividade” (p. 16). Melo cita também Fraser Bondque dá outras quatro
características principais para o jornalismo ao dizer que “O jornalismo tem quatro
razões de ser fundamentais: informar, interpretar, orientar, entreter [...]” (p. 27). E
entreter é a principal característica do CQC, mas não deixa a desejar nas outras.
O CQC é diferente de outros tipos de jornalismo, mas Melo afirma que:
“[...]cada processo jornalístico tem suas próprias peculiaridades, variando de acordo
com a estrutura sócio-cultural em que se localiza[..]” (p. 15).
O autor conta que “ [...] fica evidente a natureza eminentemente política que
o jornalismo assume desde o seu nascimento como processo social” (p. 20). Nessa
situação, o Proteste já se enquadra como jornalismo pois, tem um processo social e
político muito forte, independente da narrativa humorística que ele utiliza. “Cada
processo jornalístico tem sua dimensão ideológica própria, independente do artifício
narrativo utilizado” ( p. 24). [...] predominam essas duas características no jornalismo
– o informativo e o opinativo – contemporaneamente elas convivem com categorias
novas que correspondem às mutações experimentadas pelos processos jornalísticos
[...]” (p. 26).
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“Paralelamente ao seu propósito de informar, interpretar e moldar opiniões, o


jornalismo dedica um esforço crescente à sua função de entreter” (p.27). O CQC
exerce muito bem essa função, sem deixar de lado o compromisso com a
sociedade, [...]oferecendo informações utilitárias, mantendo seções que buscam
entreter, ou abrindo espaço para preencher o interesse do público, divertindo-o.
Essa função corresponde ao jornalismo diversional” (p. 28-29).
Porém Melo abre uma questão: “ Até que ponto as duas novas categorias, o
jornalismo interpretativo e o jornalismo diversional, adquiriram universalidade
suficiente para figurar como categorias autônomas?” (p. 29).
‘E revela que “O assunto não está ainda muito bem equacionado. Há
estudiosos que aceitam a existência de todas as categorias, mas há alguns que
recusam algumas delas” (p.29).
Porém o autor chega a conclusão de que “[...] ao jornalismo diversional, vale
a pena referir que se trata de uma categoria não legitimada nos círculos acadêmicos
brasileiros” (p. 32).
Fato preocupante é que o CQC se considera um programa também
humorístico [...] os programas humorísticos do rádio e da televisão, por mais que se
articulem com a atualidade, não constituem matérias jornalísticas” (p. 32). Segundo
Melo, isso porque “São mensagens desvinculadas do real, mais próximas do
universo imaginário e portanto classificadas dentro do campo do lazer” (p. 33). Mas
o CQC tem um vínculo com a veracidade dos fatos, tornando mais fácil uma
classificação jornalística.
Um fato importante que o autor analisa e o programa faz, é com o
compromisso de “[...]tirar o homem de sua preocupação cotidiana, profissional ou
familiar. Apresentar-lhe novos horizontes que reanimem seu espírito. E melhor se
tudo isto se obtém com alegria e com graça” (p. 34).
Melo comenta um pouco sobre o Novo Jornalismo norte-americano, que como
o CQC, foi inovador para a época que é a “[...] corrente que inova na forma
jornalística, reintroduzindo a subjetividade do narrador e recorrendo a padrões de
expressão próximos do conto, da novela e de outros gêneros literários [...]” (p. 35).
Ele cita “[...] como figuras representativas Tom Wolfe, Gay Talese, Truman Capote”
(p. 35).
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Explica que “São jornalistas-escritores que registram as ocorrências do real,


mantendo fiéis à veracidade, mas utilizando a sensibilidade aos recursos do relato
ficcional” (p. 35). E continua:
“O interesse [...] por essas produções jornalísticas está menos na informação
em si, ou seja, na essência do fato narrado do que nos ingredientes de estilo a que
recorrem os seus redatores, despertando o prazer estético, em suma, divertindo,
entretendo, agradando” (p. 35).
O CQC tem um estilo próprio que diverte, traz entretenimento e agrada, visto
as suas repercussões na mídia e o Ibope, que veio crescendo.
Melo esclarece que “[...] a mensagem jornalística vem experimentando
mutações significativas [...] sobretudo em função das alterações culturais com que
se defronta e a que se adapta a instituição jornalística em cada país ou em cada
universo geocultural” (p. 37-38). Rafinha Bastos, em entrevista para o nosso projeto
(PPM), afirmou que apesar do programa ter formato argentino, ele tem uma “pegada
brasileira”.
Muito se questiona se o CQC é ou não um programa jornalístico. Melo lança a
pergunta: “O que são gêneros jornalísticos? [...] esse tipo de resposta é buscada
quase que exclusivamente pelos estudiosos europeus e latino-americanos” (p. 38)
Para Gargurevich, gêneros jornalísticos são “formas que busca o jornalista
para se expressar”. Seu traço definidos está portanto no “estilo”, no manejo da
língua: são “formas jornalístico-literárias” porque seu objetivo é o “relato da
informação e não necessariamente o prazer estético” (p. 39)
Na obra podemos encontrar que “[...] as diferenças entre os gêneros surgem
da correspondência dos textos que os jornalistas escrevem em relação às
inclinações e aos gostos do público” ( p.39).
Para Martin Vivaldi pressupõe o uso o uso de “todos os recursos expressivos
e vitais, próprios e adequados para expressar a variadíssima gama do acontecer
diário” ( p.39).
32
33

6 INDÚSTRIA CULTURAL E O CQC

Segundo Teixeira Coelho, em seu livro O que é indústria Cultural: A


Indústria cultural é um daqueles objetos de estudo que se dão a conhecer para as
ciências humanas antes por suas qualidades indicativas, ou aspectos exteriores, do
que por sua constituição interior, estrutural. E um desses traços indicativos é
exatamente o da ética posta em prática por essa indústria. COELHO,
O livro mostra os dois lados, os que são a favor da industria cultural e
os que não são. Adorno acredita que a industria cultural imbeciliza as pessoas, mas
um pensador Canadense chamado Mcluhan acredita exatamente o contrário, ele
pensava que a TV era um meio positivo, um meio possibilitador da revelação e não
da alienação. Nesse momento Teixeira Coelho esclarece que Mcluhan está dizendo
que a participaçao é uma Complementação e mais nada. Que o publico é essa
complementação, a audiência.
Está certo que a industria cultural aliena de alguma maneira, ela dirigi-
se ao consumidor ao invés de colocar-se a sua disposição. Isso é demonstrado ao
nosso redor. Teixeira Coelho cita em seu livro um pensador chamado Dwight
MacDonald que fala na existência de três formas de manifestação cultural: superior,
media e de massa, no caso cultura de massa seria uma cultura inferior. A cultura
média é designada também pela expressão midcult, que remete ao universo dos
pequenos –burgueses, e a cultura de massa é chamada de masscult, pois para ele
não se trataria nem de uma cultura nem de massa e cultura superior, são todos os
produtos ditos eruditos.
A industria cultural aliena, quando nos deixamos levar por produtos
fúteis, mas que nos dão prazer. Em nosso objeto de estudo, que é o programa CQC,
e o nosso recorte no quadro Proteste já, o que queremos por meio deste trabalho é
provar que existe sim no meio desse entretenimento e até mesmo alienação,
jornalismo sério, que queira esclarecer. A industria cultural pode muitas vezes
imbecilizar, mas não somos escravos da industria cultural, pois podemos escolher o
que queremos ver ou ter, a industria cultural nada mais é do que fazer nossas
vontades e prazeres e no meio dessa alienação existem produtos esclarecedores,
que buscam informar as pessoas, que buscam fazer com que as pessoas olhe com
outros olhos o país em que vivemos. O CQC visa isso, ele é um programa
humorístico, que está mais voltado para o jornalismo, ele é um gênero de humor
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inteligente, que fala o que pensa, que tem liberdade para se expressar. Em uma
entrevista concedida para nós, em que o entrevistado era o Rafinha Bastos, eu lhe
fiz uma pergunta sobre como ele via o programa CQC nisso, pois a industria cultural
imbeciliza, aliena as pessoas e o programa ao mesmo tempo que trás o
entretenimento também esclarece, e ele me respondeu que existem coisas que
imbecilizam e outras que não, e aos olhos dele, ele acha que a televisão tem um
papel muito importante, esclarecendo a população através da comédia, através do
jornalismo e é isso que ele diz estar fazendo com o CQC.
E enquanto a industria cultural, tomarei emprestada a frase de Teixeira
Coelho “Encontrar o caminho e o passo certo nesse fio de navalha é tarefa tão árdua
quanto, parece, necessária” (p.97).
35

7 O PROGRAMA DO DIA 22 DE SETEMBRO DE 2008

Antes de começar o programa, é mostrada uma propaganda do seu


patrocinador e então tem um tape do que vai acontecer no programa. Após o tape
vem a abertura, o apresentador Marcelo Tas apresenta Rafinha Bastos e Marco
Luque que também são apresentadores do programa e por fim entra outra
propaganda de um de seus patrocinadores.
Depois de cada comercial, na volta do programa há sempre uma propaganda
de um de seus patrocinadores. No primeiro quadro, CPI dos grampos, o repórter
Danilo Gentili, vai ao congresso nacional investigar o grampo telefônico, o que foi
constatado é que esse quadro é jornalístico, no entanto um jornalístico muito mais
voltado para o humor e muito mais desafiador. As perguntas são extremamente
diretas e causam ao entrevistado momento de tensão, irritação.
“Senhor ministro em vez de você ficar falando sobre escuta telefônica, não é
melhor você falar sobre detector de mentira”. Danilo Gentili fez essa pergunta e a
pessoa em questão não lhe deu ouvidos, as pergunta também tem duplo sentido.
No quadro em que o repórter Rafael Cortez vai para Veneza, ele mostra os
pontos turísticos da cidade, é um quadro estritamente de entretenimento, no entanto
as perguntas são sempre com duplo sentido, mas no caso em questão muito mais
humorístico. Logo após vem o CQ Teste, que é um quadro apenas de humor e
entretenimento, sem muita definição.
Top Five que mostra toda semana os “micos”,(uso esse termo pois define
mais o que quero dizer), que acontecem em outros programas, os apresentador
fazem comentários que denotam humor e que também mostra duplo sentido. Um
exemplo foi o comentário do apresentador Rafinha Bastos sobre o ladrão que ligou
para a polícia para avisar que os pais haviam deixado uma criança no carro. Ele diz:
“Com ladrões como esse o país Brasil seria um país muito mais seguro.” ( Quando
ele disse “seguro” fez um gesto com os dedos fazendo entre aspas). Os quadros do
“assessor de imagem”, apresentado pelo repórter Warley Santana, e o quadro do
repórter Felipe Andreoli, que no dia em questão foi ao Prêmio Comunique-se e do
repórter Oscar filho são entretenimento mas, com perguntas também de duplo
sentido, mas totalmente voltado para o humor, as perguntas são mais para
provocação mesmo, com tom de brincadeira. Por fim vem o quadro Proteste já que é
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muito serio e jornalístico, é um humor sério, pois as pessoas só acham engraçado


pelo motivo da pergunta ter duplo sentido e as pessoas já notarem que há algo
errado.
Na análise do programa podemos identificar que em todos os quadros e até
mesmo nos comentários dos apresentadores a linguagem que eles usam para com
o público é de duplo sentido, e quando digo duplo sentido é no sentido de que eles
falam e mostram a verdade não nua e crua, mas por trás, ou seja, há sempre algo
por trás de cada comentário e é esse algo que instiga as pessoas.
O programa é uma mistura de gêneros de entretenimento, jornalismo, humor
e como Aronchi já havia afirmado, ao estudar os gêneros que estavam surgindo,
novos gêneros na televisão brasileira significa a junção entre eles, como no CQC. O
que foi constatado é que não existe um gênero jornalístico-humorístico mas sim uma
junção de gêneros. O CQC se encaixa nessa junção, são os novos gêneros que
estão surgindo, ao escrever isto não quero de forma nenhuma definir um gênero,
pois não estou definindo, estou apenas emprestando as idéias de Aronchi e
constatando conforme os estudos dos gêneros e formatos definidos por ele, que o
gênero do programa CQC é uma junção de humor, entretenimento, informação e
jornalístico e o que podemos perceber é que o importante do programa não é o seu
gênero mas a sua linguagem que vai defini-lo em todo o seu contexto. A linguagem
do CQC é a linguagem do jornalismo de duplo sentido, onde por trás daquilo já dito,
as pessoas tivessem sempre que fazer uma interpretação de cada coisa dita. O
duplo sentido colocado aqui se define com a intenção de provocar humor ou ironia.
Em geral, o primeiro sentido é literal e ingênuo, enquanto o segundo é sarcástico e
requer do ouvinte/receptor algum conhecimento adicional. Como Aronchi havia dito
que devíamos achar a essência do programa, essa é a essência do CQC.
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CONSIDERAÇÕES FINAIS

O programa teve grande repercussão na mídia brasileira e veio crescendo no


Ibope, chegando a ficar em terceiro lugar junto com o SBT, atrás somente da Globo
e da Record.
O CQC não deixa de ser um produto midiático que imprime um
comportamento jovem, atraindo um público alvo específico para a publicidade em TV
aberta. Segundo Melo, “[...]no século XIX, quando a imprensa norte-americana
acelera seu ritmo produtivo, assumindo feição industrial e convertendo a informação
de atualidade em mercadoria[...] o rádio e a televisão já nascem nesse contexto
mercantil” (p. 23). Em outra ocasião Melo ainda afirma que “[...] suas formas de
expressão buscam adequar-se aos desejos dos consumidores de equiparar-se aos
padrões das mensagens não jornalísticas que fluem através dos mass media” (p.
26). Porém, o CQC não se torna alienante a ponto de deseducar e manipular. Vários
quadros tem um viés político e social. O quadro do Proteste já exerce bem essa
função jornalística, sem nunca deixar de lado o bom humor, a irreverência e a
verdade ácida, marcas fundamentais do programa.
O novo gênero jornalístico do programa não delimita a credibilidade do
jornalismo propriamente dito, ou seja, o trabalho comediante não desacredita o
trabalho jornalístico, ajuda a agregar valores à massa jovem com o humor, que
desperta o interesse para assuntos relevantes da sociedade.
Vários problemas foram solucionados com o quadro Proteste já. Como o
próprio Rafinha concedeu-nos em entrevista, “essa é a melhor parte do quadro”,
provando que a linguagem humorística utilizada não delimitou a prática contestora e
o seu trabalho humoristico não desacreditou o trabalho jornalístico, pois as soluções
para os problemas vieram.
Rafinha Bastos não passou somente a impressão de humorista mas também
de jornalista comprometido com a população, que é o principal intuito do jornalismo,
dando voz e cobrando soluções.
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REFERENCIAS BIBLIOGRÁFICAS

COELHO, Teixeira. O que é indústria cultural. 11 ed. São Paulo: Brasiliense,

1998.

CHINEM, Rivaldo. Imprensa alternativa: jornalismo de oposição e inovação.

São Paulo: Ática,1995.

LAGE, Nilson. Estrutura da notícia. 5 ed. São Paulo: Ática, 1999.

______.Linguagem jornalística. 7 ed. São Paulo: Ática, 1999.

MARANGONI, Nivaldo. Televisão: fácil de ver, difícil de fazer, dicas de como

aparecer bem na telinha. São José dos Campos: Papercrom, 2002.

MATTOS, Laura. “CQC” e “15 minutos” renovam humor televisivo com

atores do teatro alternativo. Disponível em:

http://www1.folha.uol.com.br/folha/ilustrada/ult90u389402.shtml. Acesso em :

20/08/2008.

MELO, José Marques de. A opinião no jornalismo brasileiro. 2 ed.

Petrópolis: Vozes, 1994.

PATERNOSTRO, Vera Íris. O texto na TV: manual de telejornalismo. Rio de

Janeiro: Campus, 1999

PRADO, Miguel Arcanjo. Humor do “CQC” dobra audiência da Band.

Disponível em: http://www1.folha.uol.com.br/folha/ilustrada/ult90u405829.shtml.

Acesso em: 20/08/2008.

ROSSI, Clóvis. O que é jornalismo. 10 ed. São Paulo: Brasiliense, 1995.

SOUZA, José Carlos Aronchi de. Gêneros e formatos na televisão

brasileira. São Paulo: Summus, 2004.


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ANEXOS

Entrevista com Rafinha Bastos

Patrícia: Como surgiu o quadro Proteste Já?


Rafinha: O Proteste já é um quadro que foi criado na Argentina, na execução
inicial do programa, versão inicial na Argentina, que era uma maneira de fazer a
denúncia com bom humor. e é isso que a gente trouxe para o Brasil e eu sou o
repórter que faz esse quadro.

Patrícia: Porque que o logotipo do programa é uma mosca?


Rafinha: A gente gostaria que fosse uma abelha que gosta de comer mel, mas
infelizmente na Argentina colocaram uma mosca porque a mosca ela está sempre se
metendo aonde não é chamada, então é por isso que esse é o logotipo do CQC.

Patrícia: O que você acha desse gênero jornalístico humorístico mas ao


mesmo tempo esclarecedor?
Rafinha: Eu acho horrível (risos). Brincadeira. Eu acho que é a melhor
maneira de se fazer jornalismo. Jornalismo pra mim é fazer através da comédia da
ironia. Eu acho que você pode utilizar e fazer jornalismo de uma forma diferente e é
isso que a gente “ta” fazendo aqui agora.

Patrícia: Você conhece o Adorno, Rafinha?


Rafinha: Adorno? O que seria isso? Seria uma pessoa? É isso? Adorno, um
abraço para o Adorno. Abraço Adorno. Não sei quem é o Adorno.

Patrícia: Então, o Adorno fala da Indústria cultural, ele acredita que a Indústria
cultural imbeciliza, aliena as pessoas, como você vê o CQC nisso, pois o CQC
mostra o entretenimento mas também esclarece?
Rafinha: Olha eu acredito que o Adorno não diga exatamente isso, ele não
pode ser tão geral assim, existem certas coisas da cultura de massa que realmente
imbeciliza e outras coisas que não imbecilizam. Acho que em qualquer lugar existem
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livros que imbecilizam também e existem livros que trazem cultura. Acho que não dá
pra ser tão radical assim, que a televisão tem um papel muito importante,
esclarecendo a população, através do jornalismo, através da comédia, através do
quer que seja, eu acho que é isso que a gente faz na Band, e é isso que a gente “tá”
fazendo com o CQC.

Patrícia: Sobre o programa, o quadro Proteste já, qual o critério de escolha


que vocês utilizam? E-mail, carta?
Rafinha:Carta mandava até a Idade Média, né? Agora já evoluiu o planeta,
então agora a gente “ta” com outras formas de comunicação mais imediata, a gente
recebe e-mail e ligações e faz uma triagem desses contatos. Muitas vezes a
produção descola as pautas de alguns assuntos para a gente fazer e a pauta ela
surge, ela é selecionada nas mais diversas formas, seja importância para uma
comunidade, importância para um número de pessoas, um assunto que seja
importante, que gere identificação com as pessoas do outro lado da tela.

Patrícia: O produtor vai atrás da denúncia antes de você?


Rafinha: Sim, vem o produtor que vai até o lugar onde a gente vai gravar, vai
descobrir como é que é o caso, se é aquilo mesmo que foi relatado. Ele tem um
trabalho de apuração antes de fazer as gravações.

Patrícia: Essas são as pautas, ou, como são as reuniões de pauta?


Rafinha: Existem as reuniões de pauta do programa. Proteste já, é um
pouquinho diferente, ele é separado. Como é uma matéria de quinze minutos
semanais, as reuniões de pauta acontecem entre a produção e o diretor do
programa, “olha isso é legal”, “isso não é legal”, e a gente vai atrás desses assuntos,
a gente não faz parte da pauta, da reunião de pautas das matérias semanais, a
gente tem meio que uma vida própria dentro do CQC, mas a forma de apuração
disso é a mesma de todas as outras matérias do programa.

Patrícia: No quadro Proteste já, tem algum quadro que você gostou mais, que
você achou que aquilo era mesmo o que significava o Proteste já?
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Rafinha: Acho que todos aqueles Proteste que já tiveram a resposta positiva,
que no final tiveram suas resoluções e que a gente mostrou que o problema foi
resolvido, são sempre muito bacanas.

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