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Com Cristo

Rasga horizontes
ao amor
DEUS É AMOR
"ὁ θεòς ἀγάπη ἐστίν"
(ho theos agape estin)

“Nós conhecemos o amor que


Deus nos tem, pois cremos nele.
Deus é amor, e quem
permanece no amor permanece
em Deus, e Deus nele (I JO 4,16)
I/ Campo semântico

A palavra «amor» abarca, um vasto


campo semântico e uma ampla gama
de significados.
Os gregos utilizavam diferentes
palavras para definir as diversas
dimensões do amor.
«Eros»: exprime o amor como paixão e desejo. 2
vezes na versão grega do A.T. mas não no NT.

«Filia»: define o afecto, a afeição pura e simples, a


simpatia, cortesia e benevolência. É o amor
«amizade». Âmbito limitado, pois a relação estende-
se apenas a um número restrito de indivíduos.

«Ágape»: utilizada pelo NT. Pertence ao universo


da relação: define, normalmente, o acto de
«apreciar», de «estimar». Define o amor enquanto
relação generosa, não marcada por interesses
egoístas, e que é atenção e cuidado pelo outro.
Combina-se com a admiração e pode culminar na
adoração
O amor «ágape» não é exclusivo: une
pessoas de diferentes condições, pode ter um
âmbito universal.

«Ágape» anda associada à alegria, pois


considera-se que este tipo de sentimento não
magoa, mas enche o coração de alegria e de
contentamento.
II / Uma realidade:
vários significados

O amor Homem - mulher


Aceitando que o «amor» é uma única realidade, a
palavra é usada, com diversos significados e em
distintas dimensões: O amor entre pais e filhos, o
amor entre irmãos e familiares, o amor ao próximo
e o amor a Deus.

De todos eles sobressai o amor entre homem e


mulher, no qual intervêm indivisivelmente o
corporal e o espiritual e se abre ao ser humano uma
promessa de felicidade.
O ser humano torna-se realmente ele mesmo,
quando corpo e espírito se encontram em íntima
unidade. Só espírito: sem dignidade. Só corpo: sem
grandeza, só animalidade.
O espírito e o corpo não amam sozinhos. Somente
quando ambos se fundem é que o ser humano se
torna plenamente ele próprio. Assim é que o amor,
o Eros pode amadurecer até á sua verdadeira
grandeza, superando o carácter egoísta.

Assim o amor torna-se cuidado do outro pelo outro,


não se busca a si próprio, procura o bem do amado,
torna-se renúncia e está disposto ao sacrifício.
Querer a mesma coisa e rejeitar a mesma coisa é,
segundo os antigos, o autêntico conteúdo do amor:
um tornar-se semelhante ao outro, que leva à união
do querer e do pensar.
O amor evolui para níveis mais
altos quando procura o carácter
definitivo e exclusivo: Abarca a
totalidade da existência em toda a
sua dimensão, inclusive a
temporal; Para uma única pessoa
e para sempre, o amor visa assim
a eternidade.
II / Uma realidade:
vários significados

O amor de Deus
O ser humano não pode viver exclusivamente
no amor oblativo, deve também receber.
Quem quer dar amor, deve ele mesmo
recebê-lo em dom.

O homem pode tornar-se uma fonte donde


correm rios de água viva (cf. Jo 7, 37-38);
mas, para isso deve ele mesmo beber
incessantemente da fonte que é Jesus Cristo,
de cujo coração trespassado brota o amor de
Deus (cf. Jo 19, 34).
O amor de Deus pelo ser humano é tão
grande, que perdoa e chega a virar Deus
contra si próprio, o seu amor contra a sua
justiça.
Deus ama tanto o ser humano que se fez
ele próprio homem, segue-o até á morte e
deste modo se concilia justiça e amor.

A novidade do NT não reside em novas


ideias, mas na própria figura de Cristo, que
dá carne e sangue ao conceito do amor
com um incrível realismo.
A acção de Deus ganha agora a sua forma
dramática: em Jesus Cristo, o próprio Deus vai
atrás da «ovelha perdida», a humanidade
sofredora e transviada.

Quando Jesus fala, nas suas parábolas, do bom


pastor, da dracma perdida, do filho pródigo,
não se trata apenas de palavras, mas
constituem a explicação do seu próprio ser e
agir. Na sua morte de cruz, cumpre-se aquele
virar-se de Deus contra Si próprio, com o qual
Ele Se entrega para levantar o homem e salvá-
lo — o amor na sua forma mais radical.
II / Uma realidade:
vários significados

Caminho para o amor


ao próximo
É na contemplação do lado
trespassado de Cristo (Jo. 19, 37),
que podemos afirmar que «Deus é
amor» (1 Jo 4, 8). E só a partir de lá
podemos definir em que consiste o
amor. A partir desse olhar, o cristão
encontra o caminho do seu viver e
amar.
Do lado trespassado brota sangue e
água para toda a humanidade. S. Paulo
afirma que no sacramento deste gesto
(eucaristia) eu fico unido ao Senhor
como todos os demais comungantes:
«Uma vez que há um só pão, nós,
embora sendo muitos, formamos um só
corpo, porque todos participamos do
mesmo pão» — diz São Paulo (1 Cor
10, 17).
A união com Cristo é união com todos os outros aos
quais Ele Se entrega.

Eu não posso ter Cristo só para mim; posso


pertencer-Lhe somente unido a todos aqueles que
se tomaram ou tomarão Seus.

A comunhão tira-me para fora de mim mesmo,


projectando-me para Ele e, deste modo, também
para a união com todos os cristãos, e mais com toda
a humanidade.

O amor a Deus e o amor ao próximo estão agora


verdadeiramente juntos: o Deus encarnado atrai-
nos todos a Si.
II / Uma realidade:
vários significados

Amor a Deus e amor ao


próximo

É realmente possível amar a Deus,


mesmo sem O ver? O amor pode
ser mandado?
Ninguém jamais viu a Deus tal como
Ele é em Si mesmo. Mas Deus não nos
é totalmente invisível, não se deixou
ficar pura e simplesmente inacessível a
nós.
Deus amou-nos primeiro (1 Jo. 4, 10),
apareceu no meio de nós, fez-se visível
quando «enviou o seu Filho unigénito
ao mundo, para que, por Ele, vivamos»
(1 Jo 4, 9). Deus fez-Se visível: em
Jesus, podemos ver o Pai (cf. Jo 14, 9).
Existe uma múltipla visibilidade de Deus: vem ao
nosso encontro, procura conquistar-nos até à Última
Ceia, até ao Coração trespassado na cruz, até às
aparições do Ressuscitado, até à acção dos
Apóstolos, até ao caminho da Igreja nascente.

Na história da Igreja, vem ao nosso encontro:


através de homens nos quais Ele Se revela; na sua
Palavra, nos Sacramentos, na liturgia, na oração, na
comunidade, na nossa vida quotidiana.

Ele ama-nos, faz-nos ver e experimentar o seu


amor, e desta «antecipação» de Deus pode, como
resposta, despontar também em nós o amor.
Neste encontro, revela-se que o amor
não é apenas um sentimento. Os
sentimentos vão e vêm. O sentimento
pode ser um aspecto, mas não é a
totalidade do amor. O encontro com as
manifestações visíveis do amor de
Deus pode suscitar em nós o
sentimento da alegria, que nasce da
experiência de ser amados.
O reconhecimento do Deus vivo é
um caminho para o amor. Isto é
um processo continuamente em
caminho: o amor nunca está
«concluído» e completado;
transforma-se ao longo da vida,
amadurece e, por isso mesmo,
permanece fiel a si próprio.
Assim, no amor entre Deus e o homem
a vontade de Deus deixa de ser para
mim uma vontade estranha que me
impõem de fora os mandamentos, mas
é a minha própria vontade, assente na
experiência de que Deus é mais íntimo
a mim mesmo, do que eu sou para
mim próprio. (Dt. 6, 4ss). Cresce
então o abandono em Deus, e Deus
torna-Se a nossa alegria (cf. Sal
73/72, 23-28).
O amor ao próximo no sentido enunciado
por Jesus, na Bíblia:
Eu amo, em Deus e com Deus, a pessoa que
não me agrada ou que nem conheço sequer.

Isto é possível a partir do encontro íntimo


com Deus.
Então aprendo a ver aquela pessoa já não
somente com os meus olhos e sentimentos,
mas segundo a perspectiva de Jesus Cristo.
O seu amigo é meu amigo.
Se na minha vida falta o contacto com Deus,
posso ver no outro apenas o outro e não
consigo reconhecer nele a imagem divina.

Mas, se na minha vida negligencio a atenção


ao outro, importando-me apenas com ser
«piedoso» e cumprir os meus «deveres
religiosos», então definha também a relação
com Deus. Neste caso, trata-se duma
relação «correcta», mas sem amor.
Só a minha disponibilidade para ir
ao encontro do próximo e
demonstrar-lhe amor é que me
torna sensível também diante de
Deus.

Só o serviço ao próximo é que


abre os meus olhos para aquilo
que Deus faz por mim e para o
modo como Ele me ama.
Os Santos rasgaram horizontes à sua
capacidade de amar o próximo, de modo
sempre renovado.

Do seu encontro com Jesus Cristo, ganhou o


seu realismo e profundidade no serviço aos
outros. Amor a Deus e amor ao próximo são
inseparáveis, constituem um único
mandamento.

Mas, ambos vivem do amor preveniente


com que Deus nos amou primeiro.
Propostas de leitura (reflexão e
oração pessoal):
1º - Rever as notas! Parar no que mais
me tocou.

2º - Quais as dimensões do amor que


sou chamado a “aperfeiçoar” para ser
mais testemunha de Jesus. Que
horizontes sou chamado a rasgar?
3º - Lê o texto da lenda chinesa. A partir
dela dá uma definição do amor.

4º - Reza: enumera e dá graças a Deus


pelos gestos de amor que tens sentido na
tua família, à tua volta, no mundo.

5º - Se tiveres tempo: lê o texto e o


comentário de Ac 2, 42-47.Quais as alegrias
e dificuldades que sinto no viver em
comum? Qual o lugar de Jesus, do Amor?
Propostas de partilha
(em grupos):

Partilhar, comentar e
discutir as respostas à 3ª
pergunta

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