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O DESERTO PESSOAL

Robson Brito
Mateus : 4- 1- 2

Abrindo nossa Bíblia no evangelho segundo escreveu São Mateus no quarto capitu-
lo, lemos nos dois primeiros versículos: "Então foi conduzido Jesus pelo Espírito ao
deserto, para ser tentado pelo Diabo". Essa expressão indica que era da vontade de
Deus que Cristo, agora plenamente cônscio de sua filiação única, bem como de seu
chamamento para ser o Servo ideal de Deus, fosse tentado a ser desobediente às
implicações dessa vocação e, vencendo essa tentação , estivesse capacitado a
entrar num ministério que teria como clímax a sua obediência até a morte na cruz.

Deus também muitas vezes nos conduz ao deserto. Ele pode ser a representação
de uma demissão; de uma reprovação no vestibular; do fim de um noivado; da
sentença de divórcio; da decretação de uma falência irreversível; do diagnóstico
médico que nos desengana ou de qualquer outra frustração a que os mortais estão
sujeitos.

Muitos homens da Bíblia tiveram que ir ao deserto: Moisés ficou lá quarenta anos
(At 7:23,29,30). Paulo também sentiu o seu calor e a sua solidão e foi lá onde pôde
reconstruir sua teologia (Gl 1:17). Malcom X, o famoso nacionalista negro dos anos
setenta, encontrou em uma cela de penitenciária o lugar que o fez um dos
fenômenos intelectuais de sua geração, através do que leu e escreveu nesse
deserto pessoal.

Efetivamente, como filhos de Deus, embora, a princípio, não conseguimos entender


totalmente a vontade do Pai, somos abençoados quando somos conduzidos pelo
Senhor para o deserto pessoal. Podemos refletir em pelo menos três conseqüências
disso em nossa vida.

NO DESERTO ENCONTRAMOS A NÓS MESMOS

O que sou, é difícil dizer até não saber onde estou. São nas situações desérticas da
existência que os problemas, as crises, as provações se instalam em lugares,
estados ou condições que nos levam a nos sentirmos sós, indefesos, abandonados.
Daí é que podemos ter uma verdadeira consciência de nossa identidade. É no
deserto que podemos nos conhecer profundamente. Não há para quem olhar no
deserto - nós mesmos é que somos objeto de nossa análise. Assim, podemos nos
conhecer mais.

Nessa condição de autoconhecimento, refletimos sobre os motivos que nos tem


trazido até ali. Por que estamos no deserto? Pela nossa insensatez? Pela nossa
desobediência? Por que Deus nos quer aperfeiçoar? Por que o Espírito Santo quer
ter mais comunhão conosco? Por que Deus apaixonado por nós quer que digamos a
Ele o quanto O amamos? O certo é que, quando nos quebrantamos, Deus nos reve-
la o porquê do deserto. Daí, podemos escolher as metas corretas para nossa vida.

Nós nos redescobrimos no deserto. A existência passa a ser percebida com um


verdadeiro sentido de ser. É nessa situação que podemos estabelecer um propósito
para vida. No deserto, Cristo teve avivada a consciência de ser Ele o Filho de Deus.
Isso implicava em assumir o motivo de Sua encarnação, o Seu único propósito: a
salvação de milhões de seres humanos - a cruz. Nas situações desérticas nós
também passamos a priorizar nossas metas, tendo a convicção profunda de
vivermos para a glória de Deus, "porque dele, e por ele, e para ele, são todas as
coisas; glória, pois, a ele eternamente; amém. (Rm 11:36).
NO DESERTO ADQUIRIMOS CAPACIDADE ESPIRITUAL

No deserto pessoal, capacitamo-nos para resolver problemas mais ou menos


semelhantes aos que Satanás apresentou a Jesus.

As tentações querem fazer com que usemos nossa vida para nossos próprios
propósitos. Quando somos tentados, somos forçados a nos comprometermos
unicamente com nossas metas. Além disso, as situações tentadoras da vida quer
até mesmo nos impedir de examinar e reavaliar nossos propósitos.

Essa é a tônica desse mundo secularizado e materialista que vivemos. O "curso


desse mundo" quer nos fazer pensar de modo exagerado somente em nossa
posição, em nossa comida, em nossa roupa, em nossos bens, enfim, quer nos
encapsular em nosso próprio egoísmo. Mas, é no deserto que recebemos virtude do
Espírito Santo para percebemos que somente seremos realizados de fato se
tivermos os mesmos propósitos de Jesus - servir à vontade de Deus e ao Seu reino.

Quando estamos no deserto, Deus nos revela que as tentações são um exercício
necessário para a maturidade emocional e espiritual. Somente tem uma vida de
vitória quem tem esperança em Deus. É falsa a idéia popular de que "a esperança é
a última que morre". Para quem entende o significado espiritual dos desertos a que
estamos sujeitos a esperança jamais se extingue. Por isso mesmo tal pessoa jamais
estará totalmente livre dos desertos. Eles fazem parte do processo de conquista da
esperança: "...a tribulação produz a perseverança, e a perseverança a experiência,
e a experiência a esperança; e a esperança não desaponta, porquanto o amor de
Deus está derramado em nossos corações pelo Espírito Santo que nos foi dado"
(Rm 5:3-5).

NO DESERTO NOS FIRMAMOS NO CHAMADO DE DEUS

Quando estamos no deserto a força das circunstâncias, condições e o


estabelecimento de prioridades significativas para nossa vida espiritual nos leva a
renovarmos nossa vida. Assim, o deserto que a princípio seria um lugar de
exaustão e queda passa a ser um ambiente onde o verdadeiro sentido da vida é
valorizado. Dessa forma, reconhecemos nossa identidade como filhos de Deus.

Com dois ataques, Satanás quis criar uma crise de consciência em Jesus a partir da
conjunção condicional "se", a motivadora de tantas dúvidas: "Se tu és Filho de
Deus..."; "se tu és Filho de Deus...". Como Jesus, devemos ter bem nítido a
verdade de que somos filhos de Deus, em quem o Pai tem muito prazer. O Espírito
que impeliu o Salvador ao deserto é o mesmo que "testifica com o nosso espírito
que nós somos filhos de Deus" (Rm 8:16).

O resultado desse testemunho do Consolador é que a consciência profunda de


sermos filhos de Deus nos leva a rendermos nosso ser a vocação que o Senhor nos
tem dado. No deserto pessoal, a convicção do motivo de nossa chamada para o
Reino de Deus se torna viva em nosso coração. Daí, louvamos a Deus sabendo que
as crises nos direcionam a firmarmos o chamado de Deus para nossa vida.

Quando assim, fazemos nocauteamos Satanás como Jesus o fez, isto é, usando a
Palavra da Verdade. No deserto pessoal aprendemos a silenciar Satanás com a
Espada do Espírito. Isaías declara que Jesus "com o sopro dos seus lábios matará o
ímpio" (Is 11:4). Esta profecia foi parcialmente cumprida ao derrotar Ele o maligno
com um bombardeio de referências bíblicas. "Está escrito!". Esta é a forma de nós,
seguidores de Cristo, afugentarmos o enganador. É perigoso considerar
argumentos, por mais plausíveis e sutis que sejam, contra um claro dever. "Está
escrito" - é a nossa segurança. "Com o sopro dos seus lábios", o cristão afugentará
o inimigo, se o que disser for Palavra de Deus. "E eles o venceram pelo sangue do
Cordeiro e a palavra do seu testemunho"(Ap 12:11).

Portanto, se você está no deserto dê glória a Deus, pois no deserto: Você pode
encontrar-se consigo mesmo; você irá aprender a vencer tentações!; você vai ter
uma forte consciência do porquê da sua vida!

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