Você está na página 1de 11

UNIVERSIDADE CATÓLICA DE MOÇAMBIQUE

FACULDADE DE DIREITO

CURSO DE DIREITO

A EUTANÁSIA

Discentes:

Agnesi Cacilda Waissone Muezucauala


António José Pilale
Edmane de Graciosa Raimundo Adriano
Rosa Abílio Tomas Ambrósio
Emília Daniel Martins
Jorge Alberto Juma
Lodovina Iassine Talapa

Nampula

2019
UNIVERSIDADE CATÓLICA DE MOÇAMBIQUE

FACULDADE DE DIREITO

CURSO DE DIREITO

A EUTANÁSIA

Discentes:

Agnesi Cacilda Waissone Muezucauala


António José Pilale
Edmane de Graciosa Raimundo Adriano
Rosa Abílio Tomas Ambrósio
Emília Daniel Martins
Jorge Alberto Juma
Lodovina Iassine Talapa

Trabalho de carácter avaliativo da cadeira de


Fundamentos de Teologia Católica II,
referente ao 2º semestre, curso de Direito, 2º
ano. Turma A, Leccionada pelo Docente: MA.
Pe. Carlos Constantino.

Nampula

2019
Folha de Abreviaturas

C.C - Código Canónico

Cap. – Capitulo.

CIC – Catolicismo da Igreja Católica.

DC – Direito Canónico

Ed. – Edição.

Gs – Géneses.

IC – Igreja Católica.

Ob. Cit. – Obra citada.

P. - Página.

Séc. – Século

III
Índice
Introdução ......................................................................................................................... 2

1. A eutanásia ................................................................................................................... 3

1.1 Origem da expressão .................................................................................................. 3

2.1 Figuras afins à eutanásia ............................................................................................. 4

2.2 Movimentos a favor da eutanásia ............................................................................... 5

3. A igreja católica perante a Eutanásia ............................................................................ 5

3.1 Desenvolvimento da doutrina católica sobre a eutanásia ........................................... 5

4. Eutanásia no ordenamento jurídico moçambicano face ao Direito Canónico .............. 6

Conclusão ......................................................................................................................... 7

Referência Bibliografia..................................................................................................... 8
Introdução
O presente trabalho da cadeira de Fundamentos de Teologia Católica II,
intitulado “a eutanásia”, visa fazer uma abordagem sintética e pormenorizada do tema
supracitado, e como nota introdutória convém ter presente que falar sobre a morte ou
auxílio à morte, aos olhos de muitos, pode parecer desagradável e até chocante. O
progresso científico vem alterando com significância o agir da medicina
tradicionalmente aplicada. A preocupação de que estas novas tecnologias não sejam
utilizadas para o bem-estar do homem, mas sim, apenas para garantir-lhe uma vida mais
prolongada, ainda que com grande sofrimento, físico e psíquico, traz à reflexão a
necessidade de se traçar limites a este desenvolvimento tecnológico, às realizações das
ciências médicas. Com esse objectivo é que nasce a Bioética, que se ocupa da área das
ciências da saúde, ponderando o uso correto destas novas técnicas, buscando soluções às
controvérsias actualmente existentes entre a vida e a morte.
A escolha deste tema funda-se essencialmente pelo facto de estar ligado aos
direitos humanos, sobre a liberdade e autonomia, como queremos viver e o modelo de
sociedade que queremos.
Objectivo geral:

• Analisar a eutanásia.

Objectivos específicos:

• Ilustrar a origem da eutanásia, e sua evolução no mundo e trazer a sua


classificação.
• Ilustrar de forma sintética os aspectos ligados ao posicionamento da igreja
católica e da bíblia perante a eutanásia.
• Analisar a prática da eutanásia no ordenamento jurídico moçambicano face ao
Direito Canónico.

2
1. A eutanásia

1.1 Origem da expressão


A palavra eutanásia, deriva do grego eu (bem) e thanatos (morte), significando a
boa morte, morte suave, calma, doce, indolor e tranquila. Tem-se que o termo foi
empregado pela primeira vez por Francis Bacon, no ano de 1623 (séc. XVII), em sua
obra Historia vitae et mortis, entretanto, a origem do termo é ainda mais antiga.1
A palavra eutanásia no séc. XVIII significava uma acção que produzia uma
morte suave e fácil; no séc. XIX a acção de matar uma pessoa por motivos de piedade; e
apenas no séc. XX passou a ser entendida como a operação voluntária de propiciar a
morte sem dor, tendo por objectivo evitar sofrimentos dolorosos aos doentes. Em Roma
era frequente o acto de lançarem ao mar pessoas com deficiência mental, o Imperador
Júlio César determinou que seus combatentes feridos de morte e que enfrentavam
agonia cruel fossem mortos para que não sofressem. O Vaticano, por sua vez, no ano de
1980, divulgou a Declaração sobre eutanásia, que embora manifeste expressamente ser
desfavorável a esta prática, admite a proposta do duplo efeito e a descontinuação do
tratamento que for considerado fútil.2
Logo, passando a ser considerada um é o acto intencional de proporcionar a
alguém uma morte indolor para aliviar o sofrimento causado por uma doença incurável
ou dolorosa.3

2. Classificação
São muitas as classificações dadas para o termo eutanásia. Entretanto,
utilizaremos a classificação proposta pela doutrina dominante, qual seja, vinculada à
motivação do agente, aos métodos utilizados e à iniciativa.
Quanto aos métodos utilizados a eutanásia, pode ser: 4
a) Natural - o óbito ocorre naturalmente, sem intervenções externas e ou
sofrimento.
b) Provocada - existe a interferência da conduta humana, seja do próprio paciente
ou de terceiro. A eutanásia provocada, portanto, pode ser autónoma ou
heterónima, dependendo da pessoa que a pratica. Autónoma, quando não há

1
GAFO, Javier, Palavras-chave em Bioética, Gráfica de Coimbra, p. 103.
2
Ob. Cit.
3
GAFO, Javier, Palavras-chave em Bioética, Gráfica de Coimbra, p. 103.
4
PESSINI, Leo, Eutanásia, Edições Loyola, São Paulo, p. 250.

3
intervenção de terceiros, ou seja, próprio paciente dá cabo à própria vida;
Heterónima existe a actuação de um terceiro.
c) Activa ou directa - o que se leva em consideração é o modus procedendi, já
que o agente (médico, familiar, paciente) ministra substância capaz de provocar
a morte instantânea e indolor do enfermo.
d) Passiva ou indirecta - a morte do paciente ocorre dentro de uma situação de
término, ou porque não se inicia uma acção médica ou pela interrupção de uma
medida extraordinária, com o objectivo de minorar o sofrimento.
e) De duplo efeito - quando a morte é acelerada por consequência indirecta de
procedimentos médicos, e ou medicamentos ministrados com o fim de aliviar a
dor do paciente que se encontra em estado terminal.
Com relação ao consentimento dado pelo paciente para a prática da Eutanásia, ela
se classifica em: 5
a) Voluntária - quando a morte é provocada a pedido do próprio paciente;
b) Involuntária - morte provocada contra a vontade do paciente;
Quanto à motivação, pode-se classificar a eutanásia em: 6
a) Comum - é a eutanásia propriamente dita, cujo motivo é pura e simplesmente
pôr fim à agonia vivida pelo paciente incurável ou em estado terminal;
b) Económica - consiste na eliminação de pessoas que representam um ónus
económico para a sociedade, tais como deficientes mentais, inválidos e idosos,
alienados irreversíveis, ou seja, pessoas economicamente inactivas.

2.1 Figuras afins à eutanásia


É importante distinguir a eutanásia de outros institutos como o da distanásia, que é a
tentativa, sabidamente inútil, de manter uma pessoa viva, ministrando-lhe
medicamentos diversos; orto tanásia, que é exactamente o seu oposto, já que diz
respeito à omissão de cuidados a fim de que ocorra o evento morte, e, por fim, do
suicídio assistido, vejamos:
• A distanásia - se dá em decorrência do excesso médico em tentar manter a vida
do paciente. Trata-se da chamada obstinação terapêutica, ou seja, utilização de
métodos terapêuticos injustificáveis, inúteis, pelo qual se retarda a morte do

5
PESSINI, Leo, Eutanásia, Edições Loyola, São Paulo, p. 250.
6
Ob. Cit. p. 250.

4
paciente que se encontra em estado terminal, causando-lhe dor e sofrimento, de
modo a prolongar a vida do moribundo sem a mínima certeza de sua eficácia.7
• Ortotanásia - não significa tirar a vida, mas assegurar o direito de morrer com
dignidade. O termo orto tanásia significa “morte correta – orto: certo; thanatos:
morte, ou seja, não prolongar artificialmente o processo natural da morte.8
• O suicídio – assistido - se dá quando uma pessoa que não é capaz de proceder à
própria morte, solicita a ajuda de outrem para a auxiliar no processo de morrer.
Aqui o paciente sempre estará consciente e manifestará sua opção pela morte; na
eutanásia nem sempre é isso o que acontece.9

2.2 Movimentos a favor da eutanásia


O movimento a favor da eutanásia surge no século XX, pela criação de
associações que apresentaram-se como defensoras desta prática, em 1935 funda-se na
Grã-Bretanha a primeira associação que defende o direito de morrer com dignidade,
tendo como designação “ associação para eutanásia voluntária”, e posteriormente estas
associações instalaram-se nos Estados Unidos de América, e em alguns países mundo,
estes movimentos tinham com o principal fundamento que “a morte deve ser vista como
uma parte integrante da vida, uma vez que todo ser humano tem o direito de viver com
dignidade, tem igualmente o direito de morrer dignamente.10

3. A igreja católica perante a Eutanásia

3.1 Desenvolvimento da doutrina católica sobre a eutanásia


O cristianismo considerou a eutanásia irreconciliável com a ética que aparece na
mensagem de Jesus. O conceito e a realidade da eutanásia, eram estranhas ao conteúdo
da bíblia, quando o cristianismo começa a expandir-se e difundir-se no mundo greco-
romano, entra numa cultura onde uma corrente de pensamento tão importante como o
estoicismo. 11
A igreja Católica concebe a vida como um dom e uma bênção que recebemos de Deus e
da qual não se pode dispor, justifica isso dizendo o seguinte: “Deus é o único dono da

7
PESSINI, Leo, Eutanásia, Edições Loyola, São Paulo, p. 245.
8
Ob. cit. p. 245.
9
Ob. cit. p. 246.
10
GAFO, Javier, Palavras-chave em Bioética, Gráfica de Coimbra, p. 105.
11
Ob. Cit.

5
vida humana, e o homem é o seu mero administrador”.12 Considerando desta forma uma
prática inaceitável aos olhos da Igreja Católica (I.C), Pelas seguintes razões:
✓ A apropriação de um direito que pertencente à Deus;
✓ Falta de amor a si mesmo;
✓ É uma desistência indevida as responsabilidades sociais.

Convém, ainda fazer referência de uma passagem do Vaticano II, em que cita a
eutanásia juntamente com o aborto e o suicídio, num tom duro afirmando que estes
homicídios “ são em si mesmos infames, desagradam a civilização humana, desonram
mais os seus autores, que as vitimas e são totalmente contrários à honra devida ao
criador. (Gs cap. 27, 1-20).
Podemos ainda alicerçar este posicionamento com o prescrito no Catolicismo da
Igreja Católica (C.I.C), vejamos:
2276 - Aqueles que têm uma vida deficiente ou enfraquecida e reclamam um
respeito especial. As pessoas doentes ou deficientes devem ser amparadas, para que
possam levar uma vida tão normal quanto possível.13
2277 - Quaisquer que sejam os motivos e os meios, a eutanásia directa consiste em
pôr fim à vida de pessoas deficientes, doentes ou moribundas. É moralmente
inaceitável.14
Nota-se então que esta actitude é inaceitável aos olhos da igreja católica pois somente
Deus da vida, e só ele pode tirar esta mesma vida.

4. Eutanásia no ordenamento jurídico moçambicano face ao


Direito Canónico
No ordenamento jurídico moçambicano, a eutanásia não goza de uma consagração
legal, ou seja o nosso legislador não prevê esta figura, relactivamente ao Direito
Canónico, o código de Direito Canónico apenas faz menção desta figura em seu
apêndice em que preconiza o seguinte: a eutanásia é «uma grave violação da lei de
Deus», o Papa declara que «essa doutrina é fundada na lei natural e na Palavra de Deus
escrita, é transmitida pela tradição da Igreja e ensinada pelo Magistério ordinário e
universal».15

12
Ob. Cit. p. 106
13
Catecismo da Igreja Católica, Gráfica Coimbra, Portugal, p.558.
14
Ob. Cit. 558.
15
Código de Direito canónico, 4ª ed., Editorial apostolado da oração, Lisboa, 1983, p. 411.

6
Conclusão
Depois de uma árdua indagação o grupo saiu a conclusão que: a discussão acerca
da eutanásia é tão antiga como a vida em sociedade. Mas, tão antiga quanto, é o receio
de se falar abertamente sobre a morte, que para muitos é o fim em si mesmo, o que faz
com que o tema seja demasiadamente rejeitado, como visto ao longo deste trabalho o
facto é que, com os avanços tecnológicos ocorridos, o homem, enquanto enfermo,
passou a ser mero objecto sobre o qual os médicos exercem sua profissão, o que
certamente é uma opção extremada e abominável.
Relactivamente a aplicabilidade deste tema o grupo é unânime em desencorajar
as nossas sociedades em optar pela eutanásia, sendo que a igreja católica concebe a vida
como um dom de Deus em que nos somos apenas administradores desta mesma vida. O
que significa que esta vida pertence à Deus e somente ele pode tirar esta vida.
O CC, CIC, e o DC em geral fazem uma severa crítica e reprovação desta prática, sendo
somente Deus pode tirar a vida humana, o medico nem sempre tem a ultima palavra
sobre a vida humana, por vezes este pode afirmar que o paciente não sobrevivera duma
enfermidade, mas este posteriormente mostrar-se resiliente diante desta enfermidade.
Contudo, nos somos da opinião que se deve desencorajar esta prática no nosso
pais e não só no mundo em geral, banindo os movimentos a favor da eutanásia, criando
leis que protejam as pessoas enfermes deste mal e a fixação de margens da ética médico
paciente com vista a evitar este mal, que constitui um atentado contra a vida humana.

7
Referência Bibliografia
GAFO, Javier, Palavras-chave em Bioética, Gráfica de Coimbra, 1996.

VILLASSENOR, Rafael Lopes, Bíblia Sagrada, Edição pastoral, São Pulo, 2004.

Catecismo da Igreja Católica, Gráfica Coimbra, Portugal, 1993.

Código de Direito canónico, 4ª ed., Editorial apostolado da oração, Lisboa, 1983

SANTORO, Luciano de Freitas, Morte digna, Curitiba, 2010.

PESSINI, Leo, Eutanásia, Edições Loyola, São Paulo, 2004.

DWORKIN, Ronald, Domínio da vida: aborto, eutanásia e liberdades individuais,


Estocolmo, 2006.

Você também pode gostar