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OLHA O OLHO DA MENINA

Texto de Marisa Prado


Ilustrado por Ziraldo
Menina crescia escutando
que no adiantava mentir
porque Me sempre sabia.
Me dizia que lia
na testa da Menina,
e que s Me
sabia ler testa.
Menina tentava
tapar a testa com a mo
na hora de mentir.
Me achava graa.
Muita graa.
E continuava lendo
assim mesmo.
Menina precisava entender
como essa coisa misteriosa
acontecia.
No espelho do banheiro,
mentia muito em silncio.
E na testa, nada escrito!
A, Menina descobriu
que Me tambm mentia.
E que ento, no era
testa - era o olho, com um
brilho diferente - que
entregava a mentira.
Menina ento tentava
fechar o olho com fora,
para esconder a mentira.

Mas nem isso resolvia,


pois Me sempre
adivinhava.
Menina tinha era que aprender
a fingir de olho aberto,
que mentira era verdade.
Menina tentou, tentou...
e aprendeu.
Era essa a soluo.
Mas de noite
Menina ficava
apertada por dentro.
Assim meio sufocada,
no podia nem piscar.
Com o olho muito aberto,
no conseguia dormir.
Faltava ar pra Menina.
Igual quando a gente fica
quase sem respirar
rindo de uma cosquinha.
S que no tinha graa.
Menina - sem querer - tinha
descoberto a Conscincia,
uma coisa que toma conta
da gente mesmo quando
Me no est lendo testa,
nem adivinhando olho.
Menina tinha aprendido
que ter que fingir doa.
E que desse jeito
ia ficar muito sem graa
ser gente grande.
Menina desistiu de crescer.
Mas no adiantava.
Menina via que agora
j estava quase da altura
do mvel da sala da vov.
E ficava muito triste,
o aperto apertando mais.
E de tanto que o aperto
apertava,
Menina achou que fingir
s podia doer tanto
porque era dor sozinha.
Menina teve uma ideia,
e ainda no sabia
se era ideia brilhante.
Mas sabia - isso sim -
que precisava testar,
pra conseguir descobrir.
A ideia da Menina
foi dizer para Me
que era difcil fingir.
Menina achava ruim
aprender montes de coisas
sem dividir com ningum.
Menina falou pra Me
que era muito complicado
e que no era nada bom
ter que crescer sozinha.
Me abraou
muito apertado a Menina.
E no colo to esperado
Menina estava sendo
me da Me.
Menina sentiu
que Me estava
chorando.
E que Me
ainda no tinha
aprendido tudo.
Me no falava nada
Mas uma e outra sabiam
naquele abrao apertado
que em Me tambm doa
ser gente grande sozinha.
Nessa hora
Menina entendeu tudinho.
Descobriu que s carinho
que espanta a solido.
E que dor, se dividida,
fica dor menos doda.
E que a,
d at vontade de continuar a crescer

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