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NOTÍCIA DA ATUAL LITERATURA BRASILEIRA

INSTINTO DE NACIONALIDADE
Machado de Assis, 1873

“Quem examina a atual literatura brasileira reconhece-lhe logo,


como primeiro traço, certo instinto de nacionalidade. Poesia,
romance, todas as formas literárias do pensamento buscam vestir-
se com as cores do país, e não há negar que semelhante
preocupação é sintoma de vitalidade e abono de futuro. As
tradições de Gonçalves Dias, Porto Alegre e Magalhães são assim
continuadas pela geração já feita e pela que ainda agora madruga,
como aqueles continuaram as de José Basílio da Gama e Santa Rita
Durão. Escusado é dizer a vantagem deste universal acordo.
Interrogando a vida brasileira e a natureza americana, prosadores
e poetas acharão ali farto manancial de inspiração e
irão dando fisionomia própria ao. pensamento nacional. (...)
Não há dúvida que uma literatura, sobretudo uma literatura
nascente, deve principalmente alimentar-se dos assuntos que
lhe oferece a sua região, mas não estabeleçamos doutrinas tão
absolutas que a empobreçam. O que se deve exigir do escritor
antes de tudo, é certo sentimento íntimo, que o torne homem
do seu tempo e do seu país, ainda quando trate de assuntos
remotos no tempo e no espaço. (...)

A falta de uma crítica assim é um dos maiores males de que


padece a nossa literatura; é mister que a análise corrija ou
anime a invenção, que os pontos de doutrina e de história se
investiguem, que as belezas se estudem, que os
senões se apontem, que o gosto se apure e eduque, e se
desenvolva e caminhe aos altos destinos que a esperam.”
A nacionalidade literária é um

equilíbrio instável, é um
trabalho incessantemente retomado, uma
imagem constantemente retramada, e, como
tal, relê, a cada momento e de acordo com
suas necessidades momentâneas, o percurso
histórico de sua formação. (ALKCIMAR)
Gregório de Matos

• esquecido do século XVIII


• retomado como prenunciador de uma
brasilidade literária a partir do século XIX,
quando os críticos literários querem ver
nele um distanciamento possível da língua
literária lusitana.
• segunda metade do século XX serve de
modelo a uma visão antropofágica da
cultura brasileira
grego kanón >> latim cânon >> ‘regra’

Bíblia >> conjunto de textos considerados autênticos pelas autoridades religiosas

Missa >> equivale à parte fixa (ofertório, consagração e comunhão)

Tempo >> conjunto de textos autorizados, exatos, modelares.


em se tratando de cânone literário, cada
período busca redefini-lo em função da
tradição que melhor se adeqüe ao horizonte de
perspectivas de quem, no presente, o seleciona
(Cairo, 2001, p. 32)
cânone
"eixo" "invenção"
fixidez fenômeno
fecunda tensão entre criação e tradição
(BOSI, 2002)
O conhecimento não pode prosseguir sem
memória, e o Cânone é verdadeira arte
da memória, a autêntica fundação do
pensamento cultural.
(BLOOM, 2001, p. 42)
Os clássicos são livros que exercem uma influência
particular quando se impõem como inesquecíveis e
também quando se ocultam nas dobras da
memória, mimetizando-se como inconsciente
coletivo ou individual.

CALVINO , 1993
História da Literatura Brasileira
José Veríssimo - (1915)

Formação da Literatura Brasileira


Antônio Cândido - (1957)

Introdução à Literatura no Brasil


Afrânio Coutinho - (1959)

História Concisa da Literatura Brasileira


Alfredo Bosi - (1972)
Mário de Manuel
Santa
Andrade Bandeira
Rita Tomás
Durão Antonio
Gonzaga
José Lins Cláudio
Carlos Clarisse do Rego
Drummond Manoel
Lispector da Costa
de Andrade
Graciliano
Ramos

Euclides
da Cunha Álvares
Gonçalves
Machado de Aluisio Dias de
Assis de Azevedo
Azedo
Raul
Pompéia José de Castro
Guimarães Alencar Alves
Rosa
E hoje?
Bosi, 2002
Questão da crítica
“velhos demais para a imprensa e novos demais para a
academia” (RODAPÉ, 2001: 8),

o texto contemporâneo está condenado a um vácuo crítico do


qual precisa, entretanto, ser resgatado.
“Que significa literatura contemporânea?”
Karl Erik Schollhammer

novo cânone?
como estabelecer um princípio de
análise que contemple a diversidade
e negocie com as aporias inevitáveis?
Violência Obsessiva
intertextualidade
Diálogo com
a tradição
culta
espaço Metaficção
social e crítica historiográfica
espaço político
urbano social
cross-border
literature questão
das
Diálogo com minorias
outras mídias narrativas
descontínuas
Patrícia
Paulo
Rubem Melo
Lins
Fonseca

Luis
Fernando Luiza
Veríssimo Lobo
Miguel Fabrício
Sanches Carpinejar
João
Neto
Gilberto
Noll
Daniel João
Galera Silvério
Trevisan

Milton
Hatoum
Chico
Diogo
Buarque
Mainardi
Não nos cabe senão compreender resistindo e resistir
compreendendo. Em face da máquina especular e
espetacular posta em ação pelo capitalismo
ultramodernista, é preciso exercer a mediação da
memória.
 
Lembrar não só tudo quanto a humanidade vem
pensando e sentido e escrevendo desde Homer; mas
reviver as formas libertadoras e contraditórias da
modernidade, de que ainda somos feitos e sem as
quais este nosso discurso seria oco ou mesmo inviáveis.
(BOSI, 2002)
E a escola?
Que representação canônica circula nesse ambiente?
Qual a imagem de literário e de autor/obra canônicos que perpassa o
discurso escolar?
Contexto
Cânone escolar e Livro didático
Cânone literário e Vestibular
Programas Curriculares
Mercado Editorial

Letramento literário dos professores


Letramento literário dos alunos
Multiculturalismo

Recusa ao cânone

Papéis invertidos: cânone não é mais


sacralizado

Escola sem a força e a influência que tinha


sobre a sociedade
PCN, PCN+, PCNEM

Pouca discussão da relevância do cânone no ensino da literatura

Ensino de literatura como uma entre as muitas linguagens, sem


qualquer especifidade

Abertura para interpretação do texto literário como expediente


para o ensino das boas maneiras e dos deveres do cidadão, dos
tópicos gramaticais, das receitas desgastadas do “prazer do
texto”
VESTIBULAR UFMG – 2009
A Alma Encantadora das Ruas – João do Rio;
Meus Poemas Preferidos – Manuel Bandeira;
São Bernardo – Graciliano Ramos;
O Conto da Mulher Brasileira – organização de Edla van Steen;
Auto da Compadecida – Ariano Suassuna.

VESTIBULAR FUVEST – 2010


Auto da barca do inferno - Gil Vicente;
Memórias de um sargento de Milícias - Manuel Antônio de Almeida;
Iracema - José de Alencar;
Dom Casmurro - Machado de Assis;
O cortiço - Aluísio Azevedo;
A cidade e as serras - Eça de Queirós;
Vidas secas - Graciliano Ramos;
Capitães da areia – Jorge Amado;
Antologia poética (com base na 2ª ed. aumentada) – Vinícius de Moraes.
“Apesar da modernização do mercado
editorial, sua realidade econômica é crítica.
Desde 1998 até muito recentemente, nenhum
setor da economia brasileira sofreu tanto
quanto o mercado do livro”.

“O governo ainda é o maior comprador,


responsável por cerca de 24% das vendas do
setor, mas esse número está em queda
contínua”.
Karl Erik Schollhammer
http://veja.abril.com.br/idade/educacao/pesquise/obras_primas/biblioteca_nacional.html
Cânone como repertório cultural

A apropriação desse repertório torna também possível


a pertença a uma comunidade de leitores que arbitra
sobre normas e convenções de leitura, indicando
(definindo) os usos legítimos dos textos, as maneiras de
ler, os instrumentos e procedimentos de interpretação.

Roger Chartier
 
“Tudo o que podemos fazer agora é
manter uma certa continuidade com o
estético e não ceder à mentira de que
nossa oposição é à aventura e a novas
interpretações.” (BLOOM, 2001, p. 26)
Desconhecer a herança literária
é pôr em perigo o nosso futuro.
Devemos hoje lutar pelo cânone.
Nunca, é claro, numa perspectiva devota, mas
localizando nele um emblema de resistência a tempos
em que a cultura padece de guias, de critérios, valores.
(Perrone-Moisés)
Experiência literária
Autonomia para escolher seus próprios
textos
Prazer estético: conhecimento,
participacão, fruição

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