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O PROVINCIAL E O CARCEREIRO:
— Dorme.
— Dorme como se não fosse com ele.
— Dorme como uma criança dorme.
— Dorme como em pouco, morto, vai dormir.
— Ignora todo esse circo lá embaixo.
— Não é circo. É a lei que monta o espetáculo.
— Dorme. No mais fundo do poço onde se dorme.
— Já terá tempo de dormir: a morte inteira.
— Não se dorme na morte. Não é sono.
— Não é sono. E não terá, como agora, quem o acorde.
— Que durma ainda. Não tem hora marcada.
— Mas é preciso acordá-lo. Já há gente para o espetáculo.
NA PORTA DA CADEIA
• Estática e Dinâmica.
• Espaço -> Princípio organizador.
• Fala do Meirinho, repetida 14 (15) vezes:
“Vai ser executada a sentença natural na fora, proferida
contra o réu Joaquim do Amor Divino Rabelo, Caneca”
• A primeira fala de Frei Caneca é uma reflexão sobre o
sono e a vigília, na qual o primeiro é associado à
interioridade e o segundo, à exterioridade. Desta maneira,
Caneca afirma que dormimos em nós e acordamos através
do outro.
• “A gente na calçada” destaca a serenidade, a clareza do
discurso, a fé no mundo e a calma de Frei Caneca.
NA PORTA DA CADEIA
FREI CANECA: — sempre à espera dessa voz
— Acordo fora de mim — que autorize o que é sua sina,
— como há tempos não fazia. — esses padres que as invejam
— Acordo claro, de todo, — por serem mais efetivas
— acordo com toda a vida, — que os sermões que passam largo
— com todos cinco sentidos — dos infernos que anunciam.
— e sobretudo com a vista — Essas coisas ao redor
— que dentro dessa prisão — sim me acordam para a vida,
— para mim não existia. — embora somente um fio
— Acordo fora de mim: — me reste de vida e dia.
— como fora nada eu via, — Essas coisas me situam
— ficava dentro de mim — e também me dão saída;
— como vida apodrecida. — ao vê-las me vejo nelas,
— Acordar não é de dentro, — me completam, convividas.
— acordar é ter saída. — Não é o inerte acordar
— Acordar é reacordar-se — na cela negra e vazia:
— ao que em nosso redor gira. — lá não podia dizer
— Mesmo quando alguém acorda — quando velava ou dormia.
— para um fiapo de vida,
— como o que tanto aparato
— que me cerca me anuncia:
— esse bosque de espingardas
— mudas, mas logo assassinas,
Da Cadeia à Igreja do Terço
• Dinâmica.
•A calma e serenidade de Caneca, unidas ao apreço que o povo tem
por ele e a ausência do Juiz, transformam o cortejo em uma
procissão.
• O andar de Frei Caneca orienta o passo dos demais, é calmo e
sereno.
• O conduto mais se aproxima de uma procissão, quando a gente
nas calçadas o coloca como o santo, que caminha sem andor.
• Em sua segunda fala, o Frei considera seu conduto como
procissão, mas logo pondera que é, de fato, enterro. No caminho,
repara na forma do evento, que desconhece, mas também as casas e
as pessoas, das quais é íntimo.
• A seguir, Frei Caneca faz um comentário sobre a paisagem do
Recife, para, por fim, refletir sobre paisagem, luz e criação.
• Há também a apresentação, por parte do povo, da visão de Nossa
Senhora, que protege Frei Caneca do Sol.
Da Cadeia à Igreja do Terço
— O raso Fora-de-Portas — Sei que traçar no papel
— de minha infância menina, — é mais fácil que na vida.
— onde o mar era redondo, — Sei que o mundo jamais é
— verde-azul, e se fundia — a página pura e passiva.
— com um céu também redondo — O mundo não é uma folha
— de igual luz e geometria! — de papel, receptiva:
— Girando sobre mim mesmo, — o mundo tem alma autônoma,
— girava em redor a vista — é de alma inquieta e
— pelo imenso meio-círculo explosiva.
— de Guararapes a Olinda. — Mas o sol me deu a ideia
— Eu era um ponto qualquer — de um mundo claro algum
— na planície sem medida, dia.
— em que as coisas recortadas — Risco nesse papel praia,
— pareciam mais precisas, — em sua brancura crítica,
— mais lavadas, mais dispostas — que exige sempre a justeza
— segundo clara justiça. — em qualquer caligrafia;
— Era tão clara a planície, — que exige que as coisas nele
— tão justas as coisas via, — sejam de linhas precisas;
— que uma cidade solar — e que não faz diferença
— pensei que construiria. — entre a justeza e a justiça.
— Nunca pensei que tal mundo
— com sermões o implantaria.
NO ADRO DO TERÇO
• Estática.
•A justiça passa-o à Igreja Frei Caneca e recebe-o Joaquim do Amor
Divino. A justiça não poderia condená-lo enquanto membro da Igreja,
por isso faz-se necessária a execração.
• Algumas falas preveem a execução por fuzilamento: