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A rosa do povo

Carlos Drummond de Andrade


O Autor
• Drummond era mineiro e nasceu em 1902 na cidade de
Itabira;

• Poeta, contista e cronista, considerado um dos mais


influentes do século XX;

• Foi funcionário público e chefe de gabinete do ministro


da Educação;

• Lecionou geografia e português e escreveu para jornais;

• Faleceu em 1987 deixando vasta obra.


• Algumas obras poéticas:

Alguma Poesia (1930);


Brejo das almas (1934);
Sentimento do mundo (1940);
José (1942);
A rosa do povo (1945);
Claro enigma (1951).
A obra
A obra
• Uma das obras emblemáticas do escritor
mineiro publicada em 1945;

• A Rosa do povo foi o quinto livro de poesia de


Drummond;

• Traz 55 poemas marcados pela temática


social, metalinguagem, hibridismo de gêneros;
A obra
• A obra traz poemas mais longos com o
predomínio de versos livres e brancos;

• Nesta época, Drummond era chefe de


gabinete do então Ministro da Educação do
país;

• 2ª fase da geração modernista da literatura


brasileira.
O que foi o Modernismo?
• Movimento literário e artístico do início do
século XX;

• Seu objetivo foi romper com o tradicionalismo


nas artes;

• Considera-se a Semana de Arte Moderna


como ponto da partida do Modernismo no
Brasil.
O que foi o Modernismo?
• 1ª fase (1922-1930) – compromisso dos artistas com a
renovação estética, com as vanguardas europeias, com uma
nova forma de linguagem (Mário de Andrade, Oswald de
Andrade, Tarsila do Amaral...)

• 2ª fase (1930-1945) – interesse por temáticas nacionalistas e


regionalistas, consciência e crítica social (Vinicius de Moraes,
Graciliano Ramos, Carlos Drummond de Andrade...)

• 3ª fase (1945-1960) – perspectiva mais intimista, psicológica e


introspectiva (Clarice Lispector, Guimarães Rosa, João Cabral
de Melo Neto...)
Contexto histórico –
Segunda geração
• A quebra da bolsa de Nova York;

• A revolução de 1930 e o início da Era Vargas;

• Início da Segunda Guerra Mundial em 1939;

• Lançamento das bombas atômicas, em agosto de


1945, contra as cidades japonesas de Hiroxima e
Nagasaki.
Contexto literário –
Segunda geração modernista

“Exposto ao horror de suas grandes guerras, o ser


humano vive tempos sombrios em meados do século
XX. O que significa estar no mundo? A esperança deve
ser depositada nos indivíduos ou projetada na
espiritualidade? Confrontada com essas questões, a
literatura precisa encontrar novos caminhos,
abandonando a relativa leveza que a marcou no início
do século XX” (ABAURRE; PONTARA, 2005, p. 536)
Contexto literário –
Segunda geração modernista
Instabilidade social e política

Diferentes modos de interpretar a realidade e de


responder às grandes questões humanas

Poesia da segunda geração modernista

Reflexão sobre o mundo contemporâneo


O título
“ROSA”
e
“POVO”
Temas da obra
• Por um lado, “o livro traz poemas que descrevem o
cotidiano, o medo, a guerra e a vida ‘espandongada’
da cidade”;

• Do outro, “ele anota que ‘uma flor nasceu na rua’


furando o asfalto e desafiando o trânsito, impelindo-
o a assentar-se no chão da capital do país às cinco da
tarde para reverenciá-la”.
(Affonso Romano de Sant’Anna, prefácio da obra)
Temas da obra
• Quase todos os poemas têm uma linguagem metafórica;

• Apesar de trazer uma ideologia popular, são poemas refinados e


complexos;

• Participação política versus visão desencantada;

• Esperança versus pessimismo;

• Várias faces da realidade;

• Existência humana;

• Temas cotidianos;

• Engajamento social;

• Hibridismo de gêneros.
“A flor e a náusea”
Preso à minha classe e a algumas roupas, vou de branco pela rua
cinzenta.
Melancolias, mercadorias, espreitam-me.
Devo seguir até o enjôo?
Posso, sem armas, revoltar-me?

Olhos sujos no relógio da torre:


Não, o tempo não chegou de completa justiça.
O tempo é ainda de fezes, maus poemas, alucinações e espera.
O tempo pobre, o poeta pobre
fundem-se no mesmo impasse.

Em vão me tento explicar, os muros são surdos.


Sob a pele das palavras há cifras e códigos.
O sol consola os doentes e não os renova.
As coisas. Que tristes são as coisas, consideradas sem ênfase.
Vomitar este tédio sobre a cidade.
Quarenta anos e nenhum problema
resolvido, sequer colocado.
Nenhuma carta escrita nem recebida.
Todos os homens voltam para casa.
Estão menos livres mas levam jornais
e soletram o mundo, sabendo que o perdem.

Crimes da terra, como perdoá-los?


Tomei parte em muitos, outros escondi.
Alguns achei belos, foram publicados.
Crimes suaves, que ajudam a viver.
Ração diária de erro, distribuída em casa.
Os ferozes padeiros do mal.
Os ferozes leiteiros do mal.

Pôr fogo em tudo, inclusive em mim.


Ao menino de 1918 chamavam anarquista.
Porém meu ódio é o melhor de mim.
Com ele me salvo
e dou a poucos uma esperança mínima.
Uma flor nasceu na rua!
Passem de longe, bondes, ônibus, rio de aço do tráfego.
Uma flor ainda desbotada
ilude a polícia, rompe o asfalto.
Façam completo silêncio, paralisem os negócios,
garanto que uma flor nasceu.

Sua cor não se percebe.


Suas pétalas não se abrem.
Seu nome não está nos livros.
É feia. Mas é realmente uma flor.

Sento-me no chão da capital do país às cinco horas da tarde


e lentamente passo a mão nessa forma insegura.
Do lado das montanhas, nuvens maciças avolumam-se.
Pequenos pontos brancos movem-se no mar, galinhas em pânico.
É feia. Mas é uma flor. Furou o asfalto, o tédio, o nojo e o ódio.

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