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DESAFIOS DO TRABALHO DE

BASE NA PERSPECTIVA DA
EDUCAÇÃO POPULAR

ENCONTRO REGIONAL - MS
JUNHO / 2008

Gouvêa
Lupe
PRINCÍPIOS GERAIS DA EDUCAÇÃO POPULAR
1. Intencionalidade política (excluídos)
2. Pesquisa em educação  processos educativos de participação
3. Conhecimentos populares e científicos  transformação social
4. Prática educativa  totalidade concreta (integração das práticas
sociais e simbólicas, suas bases epistemológicas, culturais e
político-econômicas)
5. Consciência crítica (da consciência à conscientização) 
organização / mobilização dos excluídos (transformação da
realidade injusta)
DIÁLOGO COMO MÉTODO DE TRABALHO POPULAR : PRESSUPOSTOS
Todos têm sabedoria.
Busca o saber sistematizado pertinente às necessidades
A formação se dá a partir da ação: a educação popular é um
processo de luta e de formação permanente
O trabalho popular é crítico:
 parte da visão da classe trabalhadora
 é coletivo e planejado, deve ser feito com a ajuda de todos
 é conflituoso e não inventa necessidades, mas desvela
interesses e intencionalidades
ESCOLA PUBLICA E EDUCAÇÃO POPULAR
Freire, P. Política e Educação (2ª ed.). São Paulo, Cortez, 1995, p.96
“Se a reprodução da ideologia dominante implica a ocultação de
verdades, a distorção da razão de ser de fatos que, explicados, revelados
ou desvelados trabalhariam contra os interesses dominantes, a tarefa das
educadoras e dos educadores progressistas é desocultar verdades”.

 A prática democrática jamais separa do ensino dos conteúdos o


desvelarnento da realidade.
 Estimula a presença das classes sociais populares na luta em
favor da transformação democrática da sociedade, no sentido da
superação das injustiças sociais.
 Não considera suficiente mudar apenas as relações entre
educadora e educandos, mas, ao criticar e tentar ir além das
tradições autoritárias da escola, critica também a natureza
autoritária e exploradora do capitalismo.
 Um equívoco: reduzir a prática educativa ao ensino puro dos
conteúdos; este equívoco é tão carente de dialética quanto o seu
contrário, o que reduz a prática educativa a puro exercício
ideológico.
ANÁLISE DE 2 PROGRAMAÇÕES DE UMA ESCOLA (5ª SÉRIE/ CIÊNCIAS / SP)
CONTEXTO E OBJETIVOS B - Em função de um problema de falta de
esgoto observado na região, o professor resolve
A - Em função de um problema de falta de
abordar as conseqüências do problema para a
esgoto observado na região, o professor
qualidade de vida da comunidade;
resolve abordar as conseqüências do problema
Questão programática: A partir da percepção de
para a qualidade de vida da comunidade;
que a convivência com o esgoto tem
Objetivo: Ao final da programação o aluno
implicações maiores para a qualidade de vida
deverá relacionar a qualidade de vida de uma
que a relacionada com qualidade do ar, como a
população às condições de saneamento básico;
comunidade pode buscar formas de superar o
MOMENTO PROGRAMÁTICO problema do esgoto a céu aberto?
-I
B - Resgate do conhecimento prévio (trabalho em grupo):
A - O professor apresenta o texto Fala freqüente na comunidade: “Um dos problemas que a
Saneamento Básico para os alunos gente enfrenta é o cheiro forte desse córrego no calor,
e organiza a classe em grupos para mas fazer o quê? A Prefeitura não toma providência!”
realizarem as seguintes atividades: # Você concorda com a fala do morador? Como você
# leitura silenciosa do texto; explica esse mau cheiro? # Para onde vai a água usada
# destacar as palavras de difícil de sua casa? Desenhe seu trajeto. # Descreva
compreensão pesquisando no características dessa água. Por que precisamos nos
dicionário o seu significado; livrar da água usada? # A forma como a água usada é
eliminada traz problema para a comunidade? Quais?
MOMENTO PROGRAMÁTICO -II Qual é a diferença entre córrego e esgoto? Síntese das
respostas
A - O professor destaca as B - A partir das respostas e da visão dos alunos, o
palavras no quadro, anota os professor pergunta: # Como podemos saber se uma água é
significados corretos e explica os boa ou não para o uso humano? # Por que as pessoas
conceitos científicos mais dizem que a água de esgoto é suja e causa doenças? # Que
importantes; Os alunos fazem o doenças são essas e o que é uma doença? Leitura em
registro e perguntam as dúvidas; duplas e discussão do texto Convivendo com o Esgoto
MOMENTO PROGRAMÁTICO -III

A - O professor faz um resumo da aula no B -# Retomar as questões iniciais e avaliar se há


quadro destacando a importância do alteração nas respostas; # Propor aos alunos um
saneamento básico para a qualidade de vida; levantamento da incidência das doenças na
comunidade com os sintomas mencionados e
MOMENTO PROGRAMÁTICO -IV suas possíveis causas.Síntese das respostas

B -# Ciclos de transmissão de vários parasitas e


A - Os alunos fazem exercícios de medidas preventivas: a) Construir os ciclos das
fixação sobre os conceitos parasitoses. b) Relacionar os pontos mais adequados
científicos abordados no texto e para interromper os ciclos dos parasitas, deduzindo,
ocorre a correção no quadro; portanto, quais são as medidas profiláticas mais
adequadas. c) Qual a importância da canalização do
MOMENTO PROGRAMÁTICO -V esgoto?
B -# Que propostas poderíamos fazer para resolver o problema
A – Avaliação individual do esgoto em nossa comunidade? De quem depende a
resolução do problema? Por quê? Síntese das respostas

SEQÜÊNCIA PROGRAMÁTICA

A - Poluição do solo em nosso planeta: B - Visita ao Posto de Saúde e análise dos dados
composição e formação do solo, coletados; como explicamos as doenças mais
importância ecológica e contaminação freqüentes do bairro? Além do esgoto, que outros
do solo, erosão e lixo; Os seres vivos: fatores ambientais interferem na qualidade de vida
conhecer e preservar: perceber a da comunidade? Por quê? As doenças afetam todos
interferência do meio ambiente no os moradores do bairro da mesma forma? Em que
comportamento animal e vegetal; condições o organismo está mais suscetível às
formar um pensamento doenças?
conservacionista;
MAS O QUE SIGNIFICA PARTIR DA REALIDADE
DA COMUNIDADE?
“Para muitos, a realidade concreta de uma certa
área se reduz a um conjunto de dados materiais
ou de fatos cuja existência ou não, de nosso
ponto de vista, importa constatar. Para mim, a
realidade concreta é algo mais que fatos ou
dados tomados mais ou menos em si mesmos.
Ela é todos esses fatos e todos esses dados e
mais a percepção que deles esteja tendo a
população neles envolvida. Assim, a realidade
concreta se dá a mim na relação dialética entre
objetividade e subjetividade” (Freire, 1981).
QUADRO SINTÉTICO – PESQUISA E PROPOSTA POLÍTICO-PEDAGÓGICA

PESQUISA SÓCIO-ANTROPOLÓGICA PARTICIPANTE


REALIDADE LOCAL

DADOS QUANTITATIVOS: coletados em órgãos públicos e privados que


possibilitem a análise das condições sociais da localidade em relação ao
acesso aos equipamentos coletivos, ao desenvolvimento cultural, ao
atendimento às condições básicas de sobrevivência, acesso ao trabalho,
às condições de habitação, saúde educação, abastecimento, etc.

VISÃO DOS EDUCADORES:


Identificação de necessidades, conflitos e contradições sociais e de
diferentes formas de preconceitos e de opressões (sociais, culturais,
econômicas, étnicas, de sexo, etc.);
Análise contextualizada e conjuntural da realidade local (caracterização
das relações entre a macro e a micro estrutura social;

VISÃO DA COMUNIDADE:
Resgate dos problemas que a comunidade explicita vivenciar e das
explicações e propostas que ela apresenta para a superação desses
problemas Visitas e entrevistas e dinâmicas na escola envolvendo
pais, alunos, funcionários, moradores lideranças comunitárias;

CONSTRUÇÃO DA PRÁXIS ESCOLAR


PROCESSO DE ORGANIZAÇÃO DA PRÁXIS LIBERTADORA (FREIRE, PO, 1970)

1 INVESTIGAÇÃO TEMÁTICA: “INVESTIGAÇÃO E BUSCA DO UNIVERSO


TEMÁTICO DA COMUNIDADE - “INVESTIGA-SE NÃO OS HOMENS, COMO
SE FOSSEM PEÇAS ANATÔMICAS, MAS O SEU PENSAMENTO-
CODIFICAÇÃO DE
LINGUAGEM REFERIDO À REALIDADE, OS NÍVEIS DE SUA PERCEPÇÃO SITUAÇÕES
DESTA REALIDADE, A SUA VISÃO DO MUNDO”. CONCRETAS

2. CARACTERIZAÇÃO DOS TEMAS GERADORES: “NÚCLEO DE


CONTRADIÇÕES, PROBLEMA OU NECESSIDADE VIVENCIADA PELO TEMAS GERADORES
POVO. SITUAÇÕES-LIMITES”: (situações- limite)
“ NÃO HÁ COMO SURPREENDER OS TEMAS HISTÓRICOS
ISOLADOS, DESCONECTADOS, PARADOS, MAS EM RELAÇÃO
DIALÉTICA COM OUTROS, SEUS OPOSTOS.”

3. REDUÇÃO TEMÁTICA: “OPERAÇÃO DE “CISÃO” DOS TEMAS ANÁLISE CRÍTICA DA


ENQUANTO TOTALIDADES, BUSCANDO SEUS NÚCLEOS REALIDADE LOCAL
FUNDAMENTAIS, QUE SÃO AS SUAS PARCIALIDADES. CONTEXTUALIZA
“REDUZIR” UM TEMA É CINDI-LO EM SUAS PARTES PARA,
VOLTANDO-SE A ELE COMO TOTALIDADE, MELHOR CONHECÊ-LO”.

4. DIALOGICIDADE: “MEDIAÇÃO ENTRE O


“CONTEXTO CONCRETO”, EM QUE SE DÃO OS PRÁTICA DIALÓGICA DE
FATOS, E O “CONTEXTO TEÓRICO”, EM QUE SÃO DESCODIFICAÇÃO DAS
ANALISADAS: REFLEXÃO CRÍTICA.” CONTRADIÇÕES PRESENTES
NA REALIDADE CONCRETA
OBSERVAÇÕES SOBRE A SELEÇÃO DE FALAS SIGNIFICATIVAS
Representa um problema, um conflito, uma necessidade que está presente na
expressão, no mundo visualizado pela comunidade, pelo educando, pelo “OUTRO”;
A seleção se dá por contradições, conflitos, diferenças nas visões de mundo e
concepções da realidade concreta entre educadores e comunidade (evitar a escolha
narcisista, do idêntico) –
Devem ser falas explicativas que extrapolem a simples constatação ou situações
restritas a uma pessoa, que opinem sobre dada realidade e que envolvam a
coletividade;
Geralmente o limite explicativo aparece de forma explícita e pragmática no discurso,
entretanto, quando marcada pela baixa auto-estima, pode estar implícita em diferentes
formas de expressão;

Quem não compreende um olhar


tampouco compreenderá uma longa explicação.

Mário Quintana

Devem ser resgatadas falas como originalmente aparecem, sem o filtro do


pesquisador;
Ao selecionar uma fala significativa já estamos, implícita ou explicitamente,
relacionando informações e conceitos analíticos a serem trabalhados;
A CONSTRUÇÃO POPULAR CRÍTICA DA PRÁTICA DIALÓGICA

Pesquisa qualitativa Seleção de falas e temas Problematização das


envolvendo educadores, locais (problemas, dificuldades
educandos e comunidade conflitos, contradições) observadas no
cotidiano comunitário

Recorte de conteúdos a partir


da contextualização da
realidade local (critérios
dialógicos para o recorte do
conhecimento)

Organização dialógica
da prática pedagógica
(práxis libertadora)
DIMENSÕES DA FALA SIGNIFICATIVA PARA A PRÁXIS DA EDUCAÇÃO POPULAR CRÍTICA

CONTEXTUALIZAÇÃODA
CONTEXTUALIZAÇÃO DAREALIDADE
REALIDADELOCAL
LOCALNA
NA
ORGANIZAÇÃOSOCIOCULTURAL
ORGANIZAÇÃO SOCIOCULTURALEEECONÔMICA
ECONÔMICA

VISÃODOS
VISÃO DOSEDUCADORES:
EDUCADORES:(CONTRATEMA
(CONTRATEMACOMO
COMOUMA
UMASÍNTESE
SÍNTESE
CONCRETADE
CONCRETA DECONTRADIÇÕES
CONTRADIÇÕESSOCIAIS)
SOCIAIS)

MICRO / MACRO DIÁLOGO


ORGANIZAÇÃO SOCIAL CONTEXTUALIZADO

TENSÕES NA APREENSÃO CRÍTICA E CONTEXTUALIZADA DA REALIDADE LOCAL GERAL


GERAL

LIMITEEXPLICATIVO
LIMITE EXPLICATIVODAS
DASSITUAÇÕES
SITUAÇÕESVIVENCIADAS:
VIVENCIADAS:TEMA
TEMAGERADOR
GERADOR

(REALIDADE LOCAL)
FALAS SIGNIFICATIVAS DA COMUNIDADE

PARTICULAR
PARTICULAR

PRÁTICAS SOCIOCULTURAIS
VIVENCIADAS
A problematização das falas significativas na busca de
conhecimentos pertinentes se dá a partir do seguinte movimento:
a) parte-se de falas que expressam problemas e necessidades na
perspectiva da comunidade;
b) faz-se um questionamento problematizador das falas em seu
contexto específico com o objetivo de apontar possibilidades
concretas de superação dos conflitos expressos nas falas a partir da
busca de opções teóricas;
c) os conflitos são tensões entre conhecimentos embasados a partir
de diferentes opções de teorias explicativas do real vivido ao ser
apreendido em diferentes níveis (local, micro e macro-social);
d) as diferenças entre as explicações construídas pela comunidade e
pelos educadores para a realidade analisada são identificadas;
e) seleção de conhecimentos críticos que permitam uma análise
contextualizada da realidade local.
ANÁLISE DE UM EXEMPLO – MACEIÓ /2002
FALAS SIGNIFICATIVAS
Visão da comunidade (limites e
“Aqui só quem trabalha fora é a minha mulher. Eu me contradições)
viro vendendo essas coisinhas”. ... “Hoje não tenho um TRABALHO: EMPREGO E ESTUDOS:
trabalho melhor porque não estudei, a minha vida é
ASCENSÃO SOCIAL
lavar roupa de ganho. Muitas vezes eles dizem que não 
vão para escola porque não tem o que comer, eu digo PAPEL SOCIAL DA ESCOLA
que eles têm que ir, que na escola tem merenda”.

Níveis das
problematizações PROBLEMATIZAÇÃO DAS FALAS

LOCAL Qual é a concepção de trabalho da comunidade? Por que vender e lavar


roupa não é trabalhar? Trabalho físico e trabalho social possuem o mesmo
significado? Por quê? Qual é a diferença entre trabalho e emprego?

MICRO Quais são as formas de trabalho mais valorizadas atualmente? Como esse
↓ sentido dado ao trabalho vem sendo construído? Como modificá-lo? Qual é
MACRO a relação entre trabalho e sobrevivência em nossa sociedade? Qual é a
relação entre qualidade de vida e o trabalho desenvolvido? Em que
dimensões da realidade o trabalho humano historicamente foi
desenvolvido? O acesso ao trabalho garante a qualidade de vida? Por quê?

Quais são as formas de sobrevivência da comunidade? Como conquistar


LOCAL as condições necessárias à reprodução da vida? Do que depende a
transformação das práticas produtivas presentes na comunidade?
ANÁLISE DE UM EXEMPLO – MACEIÓ /2002
FALAS SIGNIFICATIVAS Visão da comunidade (limites e
“Aqui só quem trabalha fora é a minha mulher. Eu me viro vendendo essas contradições)
coisinhas”. TRABALHO: EMPREGO E
“Hoje não tenho um trabalho melhor porque não estudei, a minha vida é lavar ESTUDOS: ASCENSÃO SOCIA
roupa de ganho. Muitas vezes eles dizem que não vão para escola porque não → PAPEL SOCIAL DA ESCOLA
tem o que comer, eu digo que eles têm que ir, que na escola tem merenda”.

Níveis das PROBLEMATIZAÇÃO DAS FALAS Visão dos educadores, conceitos


problematizações selecionados e tópicos do conhecimento

Qual é a concepção de trabalho da comunidade? Por Tópicos (conteúdos):


que vender e lavar roupa não é trabalhar? Trabalho •Formas de trabalho na comunidade
LOCAL físico e trabalho social possuem o mesmo •Concepções de trabalho
significado? Por quê? Qual é a diferença entre •Trabalho x emprego
trabalho e emprego?
Tópicos (conteúdos):
Quais são as formas de trabalho mais valorizadas •Sujeito histórico / conflito político
atualmente? Como esse sentido dado ao trabalho •Papel sociocultural do trabalho
MICRO
vem sendo construído? Como modificá-lo? Qual é a •Valores culturais historicamente

relação entre trabalho e sobrevivência em nossa construídos
MACRO
sociedade? Qual é a relação entre qualidade de vida e
o trabalho desenvolvido? Em que dimensões da Tópicos (conteúdos):
•Análise contextualizada da realidade local
realidade o trabalho humano historicamente foi
•Índices de desenvolvimento humano
desenvolvido? O acesso ao trabalho garante a
•Histórico do trabalho e das classes sociais
qualidade de vida? Por quê?

Tópicos (conteúdos):
Quais são as formas de sobrevivência da •Sujeito/ Conflito Político / Transformação
LOCAL comunidade? Como conquistar as condições plano local
necessárias à reprodução da vida? Do que depende • Condições materiais e socioculturais para o
a transformação das práticas produtivas presentes desenvolvimento da vida comunitária
na comunidade? •Organização social local
ANÁLISE DE UM EXEMPLO: CARACTERIZANDO A LOCALIDADE LAMBICADA
(ANGRA DOS REIS) REPRESENTAÇÃO ESPACIAL DA REGIÃO

RIO DE JANEIRO
N
BR - 101 
S
INTERIOR LITORAL

CAPUTERA

ESTALEIRO
VEROLME
LAMBICADA

ESCOLA

ANGRA DOS REIS


(CENTRO)
FALAS DA COMUNIDADE LAMBICADA SOBRE A ESCOLA

POR QUE A ESCOLA É IMPORTANTE?


“A escola é boa porque evita acidentes na BR 101.”
“Não se pode fazer nada na escola.”
“Sou atendido com simpatia.”
“A escola trouxe cimento e iluminação.”
“Não tenho prazer em aprender.”
“Gostaria de ter um filho para colocá-lo na escola.”
“Procuro participar de tudo. Quando a diretora e
professores mandam, estou sempre participando.”
“Achamos a escola bonita e grande.”
“Presidente da Associação na época é o responsável por
existir a escola.”
“Acho muito legal, tem muito alimento e as crianças não
precisam descer o morro.”
ATIVIDADES DE HISTÓRIA (7 SÉRIE)

Questão geradora: Que mudanças sociais e benefícios (e para quem?), a


construção da estrada trouxe para a região? Por quê?
ATIVIDADE 1
ER - FALAS:
“A escola trouxe cimento e iluminação.” “A escola é boa porque evita acidentes na BR.”
Como era a região da Lambicada antes da construção da BR? Como você obteve (ou
pode obter) essas informações? (Pesquisa) - Síntese das respostas.

OC AC:
- Fontes e Registros históricos (formais e - De que comunidade é mais fácil
informais): Pesquisas nos registros formais obter informações históricas:
da Verolme e com moradores/trabalhadores Lambicada ou Verolme? Como você
antigos da região; explica essa diferença nos Registros?

ATIVIDADE 2

ER
1. Que modificações a construção da BR troxe para a região em relação a: a) Áreas
povoadas; b) Comércio; c) Transporte; d) Educação; e) Lazer; f) Trabalho; .g) Vegetação;
2. Que comunidade foi mais beneficiada com a construção da BR: Lambicada ou
Verolme? Por quê?
Síntese das respostas.
OC - Texto 1: Revolução Industrial (trechos)
“...O êxodo rural aumentou consideravelmente...;” “...As cidades, despreparadas, incharam, gerando periferias
desorganizadas com as mais variadas carências: saneamento, habitação, saúde, educação, ...;” “...Para sobreviver, a
população dessas periferias foi obrigada: a explorar o trabalho do menor e da mulher; aumentar a jornada de
trabalho; residir em moradias sem as mínimas condições de infra-estrutura; ...” “...Portanto, para a maioria da
população, apesar dos avanços tecnológicos e benefícios proporcionados pela Revolução Industrial, houve apenas
uma mudança de camponês para operário, permanecendo a situação de exploração do trabalho.”

Texto 2: O Milagre Econômico (História do Brasil, N. Piletti. Ed. Ática, 1991.)


De 1968 a 1973, período áureo do “milagre”, a economia brasileira teve um crescimento médio anual de cerca de
11%. O “milagre” resultou de fatores: contenção de salários, permitindo maior poupança aos capitalistas para
investir; situação internacional vantajosa: preços altos na venda dos nossos produtos e preços baixos na compra de
alguns produtos estrangeiros, como o petróleo; grandes investimentos estatais; taxas de juros internacionais baixas;
grande endividamento externo, tanto por parte do governo quanto de empresas particulares; participação das
multinacionais. . . . No Brasil a crise mostrou-se duplamente grave porque: ... o “milagre” - construído com base em
financiamentos externos, que acarretaram imensa dívida - não desenvolveu o mercado interno; concentrou-se na
construção de grandes obras, em boa parte desnecessárias (usinas nucleares, por exemplo) e na produção de bens
duráveis (eletrodomésticos, aparelhos eletrônicos, automóveis), inacessíveis à grande maioria da população; com a
crise mundial, os juros subiram muito e o Brasil passou a receber por suas exportações menos do que pagava pelos
juros de seus empréstimos.
De 1970 a 1980 houve uma crescente concentração da renda no Brasil: os ricos ficaram ainda mais ricos e os
pobres ainda mais pobres. Os 5% mais ricos aumentaram sua participação de 30,3% para 34,7% na renda urbana e de
23,7% para 44,2% na renda rural. Enquanto isso, os 50% mais pobres diminuíram sua participação de 16% para 13,1%
na renda urbana e de 22,4% para 14,9% na renda rural. Para justificar tal concentração - que impediu a maioria da
população brasileira de tirar proveito do “milagre” - o governo afirmava que era preciso “fazer o bolo crescer para
depois distribuí-lo”. Mas a distribuição nunca se fez. Com a crise, a situação do povo tornou-se dramática,
principalmente a partir de 1980: a produção diminuiu, o desemprego chegou a taxas nunca antes alcançadas, os
salários reais baixaram, redução drástica do consumo e a fome atingiu proporções alarmantes. Em 1984, dois em
cada três brasileiros passavam fome e cerca de 1000 crianças de até um ano morriam de fome diariamente .

AC
As melhorias na qualidade de vida propiciadas pela construção da BR
favoreceram Lambicada ou Verolme? Por quê?
ATIVIDADE 3 - ER
“Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros
residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à segurança e à propriedade, ...” “São direitos
sociais a educação, a saúde, o trabalho, o lazer, a segurança, a previdência social, a proteção à maternidade e à
infância, a assistência aos desamparados, ...” “São direitos dos trabalhadores urbanos e rurais, além de outros que
visem à melhoria de sua condição social: seguro-desemprego, fundo de garantia, salário mínimo, piso salarial,
décimo terceiro salário, participação nos lucros das empresas, remuneração do trabalho noturno, jornada de
trabalho de seis horas, repouso semanal remunerado, férias anuais remuneradas, proteção ao mercado de trabalho
da mulher, ...” Questões: 1.De que texto foram retirados os trechos acima? 2.Os direitos mencionados
são respeitados na Lambicada? Por quê? Síntese das respostas

OC
Texto 1: A “polis” ateniense “...As decisões eram tomadas por todos os cidadãos atenienses reunidos em
assembléia (eclesia) na praça pública (ágora). Essas decisões é que organizavam as relações de todos os
habitantes de Atenas. Na verdade, não se pode esquecer que cidadãos atenienses representavam apenas 10% dos
seus habitantes, os eu-pátridas (bem nascidos): descendentes dos antigos aqueus e jônios. Os demais - a quase
totalidade - não eram contemplados nas decisões, pois , não sendo cidadãos não participavam da assembléia.”
Texto 2: Revolução Francesa - “...Os ideais da Revolução Francesa, consubstanciados na expressão que se tornou
célebre: Liberdade, Igualdade e Fraternidade, representam, na ver-dade, apenas o deslocamento do eixo de
dominação: da Nobreza para a Burguesia. A grande maioria do povo - responsável pela Revolução - continuou
explorada, não usufruindo daqueles ideais: houve apenas uma troca de donos.”
Texto 3: Reforma Constitucional - “...Para atender os interesses do empresariado nacional, o projeto neo-liberal de
reforma da Constituição investe na retirada de direitos já garantidos, tais como: licença paternidade, diminuição da
licença gestante, aposentadoria por tempo e ou idade, aposentadorias especiais, etc. Na verdade, com essas
mudanças, alguns poucos continuarão mais cidadãos, enquanto a maioria, cidadãos de segunda classe (!).”
O QUE HÁ DE COMUM NOS TRÊS MOMENTOS HISTÓRICOS RELATADOS?

AC - Questões:
1.Todos os segmentos sociais usufruem da cidadania proposta na Constituição? O que podemos
fazer para que isso efetivamente aconteça?
2.Como respeitar as diferenças culturais no exercício da cidadania?
EXEMPLO: ORGANIZAÇÃO METODOLÓGICA DA PROGRAMAÇÃO DA LAMBICADA (JULHO/95)
ESTUDO DA REALIDADE PROGRAMÁTICO
ÁREAS
ER OC AC
TODAS AS -Que diferenças você - Dados estatísticos gerais -Como você explica as
ÁREAS observa entre as duas da região; diferenças observadas entre
comunidades? as duas comunidades?

ORGANIZAÇÃO DO CONHECIMENTO PROGRAMÁTICO

HIST. ER - Que mudanças OC - Participação social x AC - Que comunidade foi mais


sociais a construção .Movimentos sociais; Perif. política beneficiada com a construção da BR?
da estrada trouxe X Perif. geog; Origem dos segm. Como a participação popular deve
para a região? sociais x .Preconceitos sociais; interferir na construção dos
equipamentos coletivos?
QUEST GER/ÁREA: Como as diferenças sociais refletem o histórico do modelo sócio-econômico?
CONCEITOS: SUJEITO DA HISTÓRIA, TRANFORMAÇÕES, ESPAÇO E TEMPO

ER OC AC
GEOGR -Você sabe onde - Histórico; BR-l0l; Ocupação -Mapas representativos das duas
estamos? Quais as do solo por diferentes comunidades; Textos coletivos;
diferenças entre as duas segmentos sociais; Acidentes na estrada x Proxim. da
comunidades? Correntes migratórias; escola;

QUES. GER/ÁREA: Qual a origem das desigualdades sociais na ocupação do solo pelas comunidades?
CONCEITOS: TRANFORMAÇÕES,ESPAÇO E TEMPO;

PORT ER OC AC
-Além de cimento e - Elementos da comunicação; Signo -Que ações expressivas podemos
iluminação, o que lingüístico; Gêneros Literários: construir para manifestarmos o
mais falta? lírico; Estruturação de frase; que queremos enquanto membros
de uma comunidade?

QUESTÃO GERADORA/ÁREA: Como a comunidade pode perceber sua identidade? CONCEITOS:


regularidades, harmonia e identidade;
ER OC AC
MAT - Foi a escola que trouxe - Linha de tempo e Porcentagem; - Leitura e construção de gráficos; Por
cimento e iluminação? Razões, proporções e Funções; que há um atendimento diferenciado
das necessidades básicas na região?
QUES. GER/ÁREA: Como a comunidade pode avaliar a qualidade de
vida nas comunidades? CONCEITOS: RELAÇÕES E DISTRIBUIÇÃO
AC
CIÊN ER OC Que fatores interferem na qualidade
Como as duas comunidades Necessidades básicas dos seres de vida das duas comunidades?
se relacionam entre si? E vivos; Seleção natural X Seleção Caracterização biológica das
com o ambiente? social; Relações harmônicas e relações entre as duas comunidades
desarmônicas; e suas conseqüências ecológicas;
QUEST. GER/ÁREA: Que fatores interferem na qualidade de vida das duas Que transformações as relações
comunidades? CONCEITOS: transformação, regularidade, equilíbrio, poderiam sofrer?
regulação e evolução;
ER OC AC
ED. A “Achamos a - Critérios de valor X questão de gosto; A Que influência a sociedade tem
escola bonita e arte como expressão da identidade de um na nossa visão de belo? Que
grande” Por quê? grupo; Criatividade e liberdade de expressão; relações artísticas podem ser
estabelecidas entre as duas
QUEST. GER/ÁREA: Que fatores interferem na qualificação do comunidades?
feio/bonito? CONCEITOS: regularidades, harmonia e identidade;

ED FÍS ER OC AC -Como o jogo influencia a


Como as relações Jogos como patrimônio cultural participação das pessoas? De
interpessoais dos alunos (sociais e de regras); Competição X que forma podemos nos
interferem na relação cooperação; participação organizar para participar
entre as comunidades? condicionada-introjeção de valores; efetivamente da comunidade?
QUES GER./ÁREA: Como podemos transformar as relações sociais entre as duas comunidades? CONCEITOS:
espaço, tempo e relações;
APLICAÇÃO DO CONHECIMENTO PROGRAMÁTICO AC
TODAS AS ER OC Atividades de conscientização dos
ÁREAS Como poderíamos Formas e instâncias de atuação colegas e da comunidade:
modificar as condições na organização social local; participação no Conselho e na
de vida da região? Papéis e competências sociais; Associação de Moradores;
SISTEMATIZAÇÃO COLETIVA DA PRÁTICA PEDAGÓGICA CRÍTICA: PLANEJANDO A ATIVIDADE

Com clareza da intencionalidade da atividade pedagógica em função da visão


de mundo presente na fala significativa, buscar uma situação emblemática
que traga o conflito em questão em todas as suas dimensões (situação
codificada, para Freire). Para tanto, podemos fazer uso da própria fala
significativa, caso ela seja pertinente aos educandos em questão, mas
também é possível a utilização de desenhos, fotografias, ditos populares,
manchetes de jornais, quadrinhos, vivências teatrais, etc. O que se busca
garantir é a presença clara do conflito em questão na representação de
realidade utilizada.

1º MOVIMENTO METODOLÓGICO DE PLANEJAMENTO

Problematização do conflito – busca-se assumir, por parte do educar, uma


postura de indagação e de provocação em relação à situação apresentada, ou
seja, o educador procura estimular os alunos a se posicionarem em relação
ao problema: concordam ou não, que explicações apresentam, que
informações possuem, como a situação poderia ser evitada, etc., sempre
buscando caracterizar os limites das propostas, relativizando as certezas. É
aconselhável que o educador elabore de antemão algumas questões que irão
orientar o processo de problematização, evitando ficar apenas no relato
descritivo de realidade, mas enfatizando as análises que os educandos fazem
do conflito. Antonio Gouvêa 22
2º MOVIMENTO METODOLÓGICO DE PLANEJAMENTO
Resgatar os conhecimentos sistematizados previamente selecionados,
procurando abordar o conflito explicitado na fala a partir de uma perspectiva
contextualizada e crítica (análise relacional e ampla do real realizada
previamente). Não se trata de uma proposta fragmentada, formal e
quantitativa, é necessário que as informações formais sejam abordadas à luz
de análises sócio-históricas relacionais e amplas. O movimento sempre se dá
de forma indutiva-dedutiva e questionadora, fazendo uso dos conhecimentos
específicos relacionados ao problema e à área do conhecimento, bem como
buscando reconhecer conhecimentos que os alunos já possuem, como
também realizar esclarecimentos sobre tópicos e análises correlatas. Aulas
expositivas dialogadas, textos abordando conhecimentos sistematizados,
práticas experimentais, análise de gráficos e mapas geográficos, consultas
bibliográficas, pesquisas em diferentes fontes, realização de cálculos,
interpretação de textos em diferentes idiomas com a compreensão do
vocabulário e da construção sintática, etc., são fundamentais nesse momento,
sempre no sentido de, a partir de dados e informações, construir análises
sobre o conflito presente na fala. Busca-se, paulatinamente, a compreensão
de que o que se apresentava como um conflito evidencia-se como uma
contradição sociocultural e econômica. Atividades que propiciem evidenciar
se os alunos efetivamente construíram os conhecimentos abordados podem
sintetizar as atividades.
Antonio Gouvêa 23
3º MOVIMENTO METODOLÓGICO DE PLANEJAMENTO
Trata-se do plano de ação, da aplicação e da extrapolação do
conhecimento apreendido. Apresentam-se tanto as situações iniciais
apresentadas na fala, quanto novas situações similares no sentido de
se avaliar, qualitativamente, a aprendizagem. A ênfase se dá na
capacidade de realizar análises a partir de dados e informações e não
na memorização estanque das mesmas. Espera-se a mudança de
atitudes e práticas dos educandos em relação às situações
analisadas, bem como estimula-se o planejamento de ações coletivas
que interfiram na realidade cotidiana. Questões pendentes e novas
indagações permitirão a articulação da atividade com a seguinte de
mesma ou de área distintas. É importante realçar que geralmente a
problemática abordada é complexa e não será em uma atividade que
se dará a mudança qualitativa desejada. Entretanto, é esperado que os
aspectos especificamente abordados sejam compreendidos de outra
forma pelos alunos. Outro aspecto a ser considerado é que falas
significativas que não são pertinentes à análise em andamento,
precisam ser registradas e consideradas no planejamento de práticas
futuras, sendo consideradas novas falas a comporem a pesquisa
inicialmente realizada. Antonio Gouvêa 24
ORGANIZAÇÃO METODOLÓGICA DA APRENDIZAGEM DIALÓGICA E CRÍTICA
1. SITUAÇÃO CONTRADITÓRIA  DETERMINISMO / FATALISMO NA
INTERPRETAÇÃO DO REAL (FALA SIGNIFICATIVA)

2. PROBLEMATIZAÇÃO  LANÇAR DESAFIOS AOS MODELOS


EXPLICATIVOS DE REPRESENTAÇÃO DO REAL PRESENTES
NAS FALAS (PROVOCAÇÕES ÀS VISÕES DE MUNDO)

3. APREENSÃO CRÍTICA DA PROBLEMÁTICA  CONSTRUÇÃO DE


OUTROS CONHECIMENTOS A PARTIR DE NOVOS DADOS E
INFORMAÇÕES PARA A ANÁLISE DA REALIDADE  SUPERAÇÃO NO
PLANO DA CONSCIÊNCIA, DA INTERPRETAÇÃO

4. CONSTRUÇÃO ATRAVÉS DA PRÁXIS  AÇÕES CONCRETAS PARA


A TRANSFORMAÇÃO HUMANIZADORA DO REAL, EXTRAPOLAÇÕES
 CONSCIENTIZAÇÃO A PARTIR DE PRÁTICAS INOVADORAS

PRÁXIS POPULAR CRÍTICA

SUJEITOS CONTEXTOS DE PROCESSOS


CONCRETOS REALIDADE DIALÓGICOS
FALAS E VOZES PRESENTES NA REDE EDUCAÇÃO CIDADÃ

1. "A gente tem vontade de libertação, mas acabamos fazendo a dominação".


2. "Mas isso não é natural? Do homem em si? (as desigualdades)".
3. "A gente tem trabalho, mas não tem metodologia”.
4. "Quem participa de organizações comunitárias sabe que vai dar muita carada no barranco".
5. "Diante de tanta indiferença, às vezes é preciso descer do salto alto e pegar metralhadora para
resolver a questão".
6. "Ação popular está revertendo contra a população. Cajati é um oco de organização".
7. "É necessário ir direto ao ponto. Precisa formação para se espertar, adquirir a malícia para a luta
política. Formação é como posto de abastecimento.
8. "O progresso é lento, mas com muita discussão chegaremos a uma evolução, com troca de
experiências entre outras culturas. Potência de organização, o povo daqui evoluiu, está
conseguindo se organizar, mas temos muito que melhorar e conquistar com o poder público. O
que precisa é evolução econômica."
9. “Temos que convencer a comunidade da importância do nosso projeto”.
10.“Através da informação levar a formação para a superação de problemas”.
11.“Temos que trabalhar bastante material como áudio e vídeo, porque isso é ter bastante didática”
12.“Vamos buscar nossos talentos, todo mundo nasce com talentos”.
13.“Nós temos que fazer bastante curso de artesanato, porque o que as pessoas precisam é
levantar a auto-estima”.
14.“As pessoas não acreditam que as mudanças acontecem de dentro para fora”.
15.“O problema é que ninguém da comunidade gosta de participar, não querem nada com nada.
Tem a visão de que as coisas são fáceis de serem resolvidas”.
16.“Estimular as pessoas é uma grande dificuldade”.
FALAS E VOZES PRESENTES NA
REDE EDUCAÇÃO CIDADÃ

2. "Mas isso não é natural? Do homem em si? (as


desigualdades)". – 3 grupos
9. “Temos que convencer a comunidade da importância
do nosso projeto”. – 1 grupo
14. “As pessoas não acreditam que as mudanças
acontecem de dentro para fora”.
15. “O problema é que ninguém da comunidade gosta de
participar, não querem nada com nada. Tem a visão de
que as coisas são fáceis de serem resolvidas”. - 6
grupos- TEMA GERADOR
CONTRATEMA: As pessoas não participam, não têm
esperança, porque os projetos não são construídos
por elas, não há diálogo, nem uma metodologia
participativa, mas a imposição de um projeto que não
é delas. Falta uma análise crítica que não naturalize a
não participação.

TEMA GERADOR: 15. “O problema é que ninguém da


comunidade gosta de participar, não querem nada com nada.
Tem a visão de que as coisas são fáceis de serem resolvidas”.

14. “As pessoas não acreditam


2. "Mas isso não é natural?
que as mudanças acontecem de
Do homem em si? (as
dentro para fora”.
desigualdades)".

9. “Temos que convencer a


comunidade da importância do
nosso projeto”.
ANÁLISE DE UM EXEMPLO - VIOLÊNCIA ENTRE GRUPOS (“GANGUES”) EM UM
BAIRRO PERIFÉRICO DE UM GRANDE CENTRO URBANO – PROJETO: ZOANDO COM
OUTROS MANOS (ZOM).

Resgate das visões de mundo dos jovens e análise das situações pelos
educadores

FALAS SIGNIFICATIVAS
“Vacilão tem que tomar porrada, tem que morrer.”
DOS JOVENS

“Os caras chegam jogando banca, “Quem gosta de pagode tá no sistema, é


xavecando as mina, querem ser galo coisa de traíra.”
no terreiro dos outros, e você quer
que a gente deixe barato?” “Não tem essa de dois, aqui sou eu ou eles.”

“Se bobear levo a beca e o pisante, aqui otário


não tem vez ..., e se piar leva pipoco.”

1. VISÃO DE MUNDO DOS JOVENS X ANÁLISE DOS CONFLITOS NA


CONCEPÇÃO DOS EDUCADORES
2. ANÁLISE CRÍTICA DA VIOLÊNCIA LOCAL PARA O PLANEJAMENTO DAS
ATIVIDADES DE FORMAÇÃO DESENVOLVIDAS PELO PROJETO ZOM
3. CONTRIBUIÇÕES PARA A FORMAÇÃO E PRÁTICAS SOCIOCULTURAIS
DOS JOVENS A PARTIR DE PRÁTICAS DIALÓGICAS
Violência como forma de desorganização sociocultural e econômica
PLANEJAMENTO A PARTIR Problematização 6
DAS DIMENSÕES DA
VIOLÊNCIA EM Políticas Públicas para a Seguridade Social
DIFERENTES PLANOS DA
REALIDADE - ORIGEM DA Problematização 5
VIOLÉNCIA VIVENCIADA Infra-estrutura e distribuição dos equipamentos coletivos

Problematização 4 Propondo Planos de Ação: da


Plano da violência: falta de violência à humanização comunitária
acesso aos bens sociais
Plano da violência: falta de Plano da violência falta de
acesso aos bens culturais Problematização 3
acesso aos bens materiais
Problematização 2 Planos da violência: física e psicológica Problematização 1

Convivência comunitária conflituosa

Os conflitos na concepção dos educadores – A violência como manifestação primária de pertença


a um grupo a partir da negação do “outro”, de construção de identidade individual e coletiva.

Visão de mundo dos jovens – A legitimidade da disputa hostil: defesa e reconhecimento de


direitos e espaço, competição como prática de sobrevivência e auto-afirmação.

“Não tem essa de dois, aqui sou eu ou eles.” “Se bobear levo a beca e o pisante, aqui
otário não tem vez ..., e se piar leva pipoco.”
“Os caras chegam jogando banca, xavecando as mina, querem ser
galo no terreiro dos outros, e você quer que a gente deixe barato?”
“Vacilão tem que tomar porrada, tem que
morrer.”
“Quem gosta de pagode tá no
sistema, é coisa de traíra.”
Falas significativas dos jovens
A CONSTRUÇÃO POPULAR CRÍTICA DA PRÁTICA DIALÓGICA

Pesquisa qualitativa Seleção de falas e temas Problematização das


envolvendo educadores, locais (problemas, dificuldades
educandos e comunidade conflitos, contradições) observadas no
cotidiano comunitário

Recorte de conteúdos a partir


da contextualização da
realidade local (critérios
dialógicos para o recorte do
Avaliação permanente conhecimento)
das práticas pedagógicas
dos movimentos sociais

Articulação de práticas Organização dialógica


pedagógicas com a transformação da prática pedagógica
da realidade concreta (práxis libertadora)
ATIVIDADE: PREPARAR UMA REUNIÃO DE 3 HORAS PARA OS
MOVIMENTOS SOCIAIS
(EXEMPLO DE ATIVIDADE A PARTIR DAS FALAS)

Objetivo da reunião: trabalhar com uma problematização geral,


programática (local, micro ou macro)

Conteúdo: um ou dois tópicos selecionados a partir da


problematização escolhida

ORGANIZAÇÃO METODOLÓGICA DA ATIVIDADE

Situação codificada – contradição: fala significativa

1 Problematização Inicial – 3 questões que resgatem as visões de


mundo e lancem desafios às concepções da comunidade;

2 Aprofundamento Teórico – técnicas que vamos utilizar para abordar


os conteúdos selecionados
3 Plano de Ação – propostas de atividades que levem o grupo a
formular práticas de transformações na realidade local
PERSPECTIVAS CRÍTICAS PARA A ANÁLISE DAS PRÁTICAS PEDAGÓGICAS
PARTICIPAÇÃO DOS SUJEITOS CONTEXTOS CONCRETOS DA REALIDADE
VIVENCIADA
PROCESSOS DIALÓGICOS
 Realidade local contextualizada como ponto de partida para a organização da
prática curricular
 Saberes e cultura local contempladas nas práticas
 Perspectiva explícita de superação dos limites explicativos da comunidade
 Critérios críticos adotados para a seleção dos conteúdos
 Processo dialógico na organização metodológica das práticas
 Caracterização de práticas que possibilitem a transformação da realidade em que a
comunidade está inserida

CARACTERIZAÇÃO DO MOVIMENTO ÉTICO DE CONSTRUÇÃO DIALÓGICA DA


PRÁTICA PEDAGÓGICA POPULAR
Ouvir o outro
Organização do limite explicativo: seleção e análise de falas
Do senso comum à transformação da realidade: partir das necessidades do
educando para selecionar os conteúdos
A construção de uma prática em que o diálogo é a fundamentação metodológica
Busca de uma organização comunitária que esteja a serviço das reais demandas
reveladas pela realidade da comunidade
MÉTODO DE TRABALHO POPULAR
Caderno de Formação N.º 24, CONCRAB. São Paulo, 1997 (Trechos destacados)

ALGUNS PRINCÍPIOS NO TRABALHO POPULAR

 Todos têm sabedoria. Todas as pessoas têm Como sistematizar a troca de saberes
conhecimento. A vida é uma grande escola e a na prática pedagógica? Que
sabedoria não vem só do estudo. O que existem são intencionalidade deve orientar o
saberes diferentes. Estes se complementam. É preciso sentido desse processo?
garantir a troca de saberes no trabalho popular;

 Buscar acesso ao saber sistematizado. O povo, a Qual é a diferença entre saber popular
partir da experiência, vai desenvolvendo uma e saber científico? E entre ter acesso e
sabedoria popular chamada de empírica. Existe construir um saber científico?
também uma sabedoria chamada ciência. Precisamos,
também, buscar e dominar esta sabedoria da ciência;

 A formação se dá a partir da ação. A


conscientização se dá a partir da ação assumida pelo Qual é a diferença entre consciência e
povo. As ações visam responder às necessidades do conscientização? Entre humanismo e
povo. O papel da teoria é ajudar a aprofundar a humanização?
prática do povo, para que ele possa ver melhor o
caminho. Precisamos estudar para melhor lutarmos
pela transformação da sociedade.
Que metodologias orientam esse
 O trabalho popular é um processo de luta e de processo de luta constante? Quais
formação. É um processo longo e difícil. É um seriam seus princípios? Por quê?
processo com avanços e recuos.
 Precisamos trabalhar a partir da visão da Como as contradições de classe se
classe trabalhadora. Sabemos que é preciso reproduzem em outras formas de opressão?
transformar a sociedade para resolver os Quais as relações entre as partes e as
problemas do povo. totalidades no mundo capitalista?
 O trabalho popular é coletivo, isto é, deve ser O que significa trabalho coletivo? Que
feito com a ajuda de todos. Cada participante relações devem pautar a organização do
deve ser parte interessada. Cada participante trabalho coletivo? Qual é o papel do conflito
deve se sentir parte interessada. Ninguém pode e o da diferença nessa construção?
se sentir excluído;

 O trabalho popular é conflitivo. Ele se dá no Como necessidades, problemas, conflitos,


campo de interesses contrários, pois nem tensões e contradições seriam
sempre a base envolvida quer a mesma coisa. metodologicamente trabalhados na
educação popular?
 O trabalho popular não inventa necessidades.
Ele não inventa a luta. Ele apenas canaliza os O que significa trabalhar na perspectiva do
esforços da base na direção dos interesses da desvelamento da realidade coisificada?
maioria. Ele coloca a base em movimento, todos Que ética perpassa esse trabalho?
na mesma direção, para conseguirem os seus
objetivos;

 O trabalho popular é planejado. O povo Como podemos implementar um


precisa aprender a estabelecer metas, propor planejamento participativo? Qual seria seu
atividades, combinar os prazos, distribuir ponto de partida? Qual é a relação entre
serviços, cobrar as responsabilidades, realizar planejar e avaliar? Que avaliação permite a
avaliações. reorientação constante da prática?
“ Não é na resignação, mas na rebeldia em
face das injustiças que nos afirmamos. A
mudança do mundo implica a dialetização
entre a denúncia da situação
desumanizante e o anúncio de sua
superação, no fundo, o nosso sonho.”

PROJETO POLÍTICO-PEDAGÓGICO
COMPROMETIDO COM A CONSTRUÇÃO
DA EDUCAÇÃO POPULAR CRÍTICA QUE,
ATRAVÉS DO DIÁLOGO, PROPÕEM A
CONSTRUÇÃO DA LIBERTAÇÃO

COMPROMISSO COM A HUMANIZAÇÃO, TRANSFORMAÇÃO DA


REALIDADE INJUSTA;
PARTE DA DENÚNCIA DAS SITUAÇÕES DESUMANAS VIVENCIADAS
PARA O ANÚNCIO DE UMA CONSTRUÇÃO DEMOCRÁTICA DA
ORGANIZAÇÃO SOCIAL;
EDUCAÇÃO DIALÓGICA COMO PRÁTICA ÉTICA, POLÍTICA, COM A
PARTICIPAÇÃO EFETIVA DE TODOS NA CONSTRUÇÃO COLETIVA DO
CONHECIMENTO QUE RESGATE O DIREITO A UMA CIDADANIA PLENA.

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