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Independência do Brasil

Aclamação de dom Pedro I (cerca de 1831), litografia de Jean-Baptiste Debret que representa a festa de
Aclamação de dom Pedro I como Imperador e Defensor Perpétuo do Brasil, em 12 de outubro de 1822.
Brasil: O Nascimento de uma Nação

O Brasil já foi governado por dois reis. Foi o único país da América do Sul a adotar a
monarquia como forma de governo após sua independência.

O primeiro monarca do Brasil independente foi dom Pedro I, que tomou frente do processo
de independência do país em 1822, mas abdicou o trono em 1831, quando perdeu o apoio
das elites.

Em 1840, seu filho dom Pedro II, com 14 anos, assumiu o poder, tornando-se o segundo
imperador do país.
A Fuga da Corte Portuguesa

No início do século XIX, diversos países travaram guerras contra a França, então governada
por Napoleão Bonaparte, entre eles, a Inglaterra, parceira comercial de Portugal.

Em 1806, Napoleão decretou o Bloqueio Continental da Inglaterra, com o intuito de


prejudicar a economia inglesa, que era, até então, a mais industrializada da Europa. Segundo
o decreto, todo país que comercializasse com a Inglaterra ficava sujeito a ser invadido por
tropas francesas.

O governo português procurou manter a neutralidade no conflito, porém, após um ultimato


francês, se viu em uma situação complicada: se aderisse ao bloqueio, Lisboa seria atacada
pelos ingleses, e, se não aderisse, as tropas napoleônicas invadiriam Portugal.
A Fuga da Corte Portuguesa

Membros do governo português ligados à Inglaterra passaram a defender a mudança


da corte para o Rio de Janeiro, posição também apoiada pelos ingleses, que
pressionaram o príncipe regente, dom João, a fazer a mudança, que foi aprovada
pelo governo de Portugal.

Assim, em novembro de 1807, 15 mil pessoas deixaram o porto de Lisboa em direção ao Rio
de Janeiro em 46 barcos.

Óleo sobre tela, de cerca de 1808, feito por Nicolas Delariva. Representa o embarque para o Brasil do
príncipe regente de Portugal, dom João, e de toda a família real, no Porto de Belém, em 29 de novembro de 1807.
A Travessia do Atlântico

Na época, a viagem pelo Atlântico durava cerca de dois meses e os viajantes enfrentavam
dificuldades, como tempestades, ausência de ventos (ou ventos contrários), falta de comida,
calor, doenças e cansaço.

Nos navios que partiram às pressas e lotados levando a corte portuguesa ao Rio de Janeiro
não havia local adequado para a acomodação de todos, e, assim, muitas pessoas dormiram
no convés.

Os ambientes internos eram fechados e sem ventilação, o que ajudou na proliferação de


pragas, como ratos, carunchos e piolhos – que se proliferaram de tal maneira que em algumas
embarcações foi necessário que as mulheres raspassem os cabelos e untassem a cabeça com
banha de porco.

A alimentação também era precária e escassa, já que, durante a fuga, foi necessário deixar
muitos alimentos para trás.
A Abertura dos Portos às Nações Amigas

Antes de chegar ao Rio, dom João decidiu fazer uma escala em Salvador.

Na Bahia, o imperador assinou um documento que, entre outras medidas, abria os portos do
Brasil às nações amigas, permitindo assim que se estabelecessem relações comerciais com
muitos países, principalmente a Inglaterra, colocando fim ao Pacto Colonial.

Em 1810, outros tratados de amizade e comércio foram estabelecidos com os ingleses. O


Brasil passou a receber cada vez mais mercadorias da Inglaterra, como tecidos de algodão,
cordas, pregos, ferramentas, utensílios para casa, entre outros.
O Desembarque no Rio de Janeiro

Em 7 de março de 1808, dom João


desembarcou no Rio de Janeiro,
que passou a ser a capital do
Império Português, dando início a
um processo de profundas
mudanças sociais, políticas e
econômicas à antiga colônia
portuguesa na América.

Representação, no óleo sobre tela de Geoff


Hunt, da chegada dos navios que trouxeram dom
João e a corte portuguesa ao Rio de Janeiro
vindos de Salvador, em 7 de março de 1808.
Uma Corte no Rio de Janeiro

Apesar de sua importância comercial, em 1808 o Rio de Janeiro ainda era uma cidade
pequena, com cerca de 60 mil pessoas vivendo em habitações precárias, sem rede de esgotos,
com ruas cheias de lixo e infestadas de ratos e moscas, sem condições para abrigar todos os
que lá chegariam com a instalação da corte.

A presença da família real alterou a vida na cidade, já que diversas reformas foram feitas para
tornar o Rio de Janeiro uma cidade digna de servir de moradia à família real portuguesa –
segundo a visão das elites –, e, assim, ruas foram pavimentadas e alargadas e ergueram-se
praças, chafarizes e prédios públicos.
Uma Corte no Rio de Janeiro
Além da paisagem do Rio, a sociedade e a economia também passaram por grandes
transformações:

• fundação do Banco do Brasil;


• criação de indústrias de manufaturas no Brasil;
• fundação de duas escolas
médico-cirúrgicas (uma em Salvador e outra
no Rio de Janeiro);

• criação da Imprensa Régia, da Biblioteca


Real e do Jardim Botânico;
• autorização para a publicação de jornais,
livros e panfletos.

Chegada do príncipe dom João à igreja do Rosário, óleo sobre tela de


Armando de Martins Vianna (1897-1991) que representa a
chegada da família real ao Rio de Janeiro, em março de 1808, para
missa comemorativa.
A Vida Cultural

Em 1815, o Brasil deixou de ser colônia e passou a integrar o Reino Unido de Portugal, Brasil e
Algarves. Com a família real fixada no Brasil, ocorreram diversas mudanças:

• criação de órgãos governamentais para organizar a administração joanina no Brasil, como


o Conselho de Estado e a Intendência de Polícia;
• autorização do ensino laico;
• criação da Academia Real Militar, com o objetivo de formar profissionais, como
engenheiros e geógrafos;
• fundação da Academia de Ciências, Artes e Ofícios;
• fundação da Biblioteca Nacional;
• aumento de eventos sociais no Rio de Janeiro, como jantares, bailes e espetáculos
musicais.
O Brasil Visto pelos Viajantes

A transferência da corte portuguesa para o Brasil trouxe para cá diversos viajantes, a maioria
europeus, que tinham como objetivo estudar a fauna e a flora brasileiras ou representar por
meio da arte a paisagem e a sociedade em sua vida cotidiana.

Representação de um escravizado pastoreando o gado nos arredores de Barbacena (MG).


Aquarela e tinta sobre papel, de 1824, de Johann Moritz Rugendas, integrante da Expedição Langsdorff.
O Brasil Visto pelos Viajantes

Expedições botânicas, como a de Auguste de Saint-Hilaire e Karl Friedrich Philipp


von Martius adentraram o Brasil em busca de amostras de animais e plantas que
pudessem levá-los a desvendar um mundo até então desconhecido para os
europeus.
Com o intuito de registrar as
particularidades da cultura e do
cotidiano brasileiros por meio da arte,
artistas, como o pintor alemão Johann
Moritz Rugendas e integrantes da
Missão Artística Francesa, como o
pintor francês Jean-Baptiste Debret , o
arquiteto Granjean de Montigny, o
paisagista Nicolas-Antoine Taunay e o
escultor
Auguste-Marie Taunay,
vieram ao Brasil.

O Morro de Santo Antônio no Rio de Janeiro (1816), óleo sobre tela de


Nicolas-Antoine Taunay, integrante da Missão Artística Francesa e um dos
fundadores da Academia Imperial de Belas-Artes, no Rio de Janeiro.
O Brasil Visto pelos Viajantes

Jean-Baptiste Debret foi um dos artistas que mais se destacaram. Em seu livro
Viagem pitoresca e histórica ao Brasil, retratou em gravuras e pequenos textos
diversos aspectos do cotidiano brasileiro, como a vida dos escravos, indígenas,
trabalhadores livres e integrantes da elite, paisagens, acontecimentos políticos e
cenas urbanas e rurais.

Tropeiros pobres de São Paulo


(1823), aquarela de
Jean-Baptiste Debret.
Impostos e Mais Impostos

A presença da corte portuguesa no Rio de Janeiro modificou a vida na antiga colônia. Porém,
os altos custos das festas, comemorações, obras e pagamento de funcionários levaram ao
aumento dos impostos pagos
pela população.

A insatisfação atingiu toda a população, que independentemente da classe social e da


atividade desempenhada, teve seus impostos aumentados, situação que se agravou com a
falta de emprego e o aumento dos preços, que atingiu não só a população do Rio de Janeiro,
mas também de outras partes do Brasil.
Revolução em Pernambuco

No início do século XIX, o porto de Recife era um dos mais movimentados do Brasil, graças às
exportações de açúcar e de algodão.

Com o aumento dos impostos por causa da vinda da


família real, os habitantes locais, insatisfeitos com a
coroa desde a época da invasão holandesa e
alimentados com ideias republicanas que já
circulavam em Pernambuco, revoltaram-se.

Benção da bandeira de Pernambuco na Revolução de 1817, pintura de


Antônio Parreiras (1860-1937), representa a benção e hasteamento da
bandeira dos rebeldes republicanos na praça do Erário, atual praça da
República, em Recife, em 3 de abril de 1817.
Revolução em Pernambuco
Em março de 1817, teve início a Insurreição Pernambucana, um movimento armado contra o
domínio português.

As ações dos rebeldes foram:

• ocupação de quartéis e bairros do Recife;

• criação de um governo republicano;

• redação inicial de uma constituição.

Em maio de 1817, dois meses após o início do movimento, o governo português cercou o
Recife com tropas enviadas do Rio de Janeiro e da Bahia.

Os líderes do movimento foram presos. Uns foram executados e outros enviados para uma
prisão em Salvador. Entre os presos estava um frade conhecido como frei Caneca.
A Caminho da Independência

Os portugueses também se mostravam descontentes com a permanência da corte real no Rio


de Janeiro.

Com ajuda dos ingleses, os portugueses conseguiram expulsar as tropas napoleônicas em


1815 e Portugal passou a ser comandada por um inglês.

Em 1817, os portugueses se encontravam totalmente insatisfeitos com o afastamento do rei e


o domínio inglês sobre seu país, situação que se agravava com a perda de espaço dos
produtos de Portugal no mercado
do Brasil.
A Revolução Liberal do Porto

Em 1820, explodiu em Portugal a Revolução do Porto, que tinha como principal objetivo
diminuir os poderes absolutos do rei.

O movimento ganhou força e formou-


se um governo provisório que, por sua
vez, convocou uma assembleia de
representantes eleitos que se
reuniram com o propósito de elaborar
uma constituição para Portugal – essa
assembleia ficou conhecida como
Cortes.

As Cortes Constituintes após a Revolução do Porto,


representada em ilustração de Roque Gameiro,
1917.
A Revolução Liberal do Porto
As Cortes exigiam o retorno de dom João VI a Portugal, o que ocorreu em 1821, quando o rei
retornou às terras portuguesas deixando seu filho Pedro em seu lugar no Brasil.

Ainda descontentes, as Cortes tomaram uma série de medidas mal recebidas no Brasil, entre
elas:

• cada província brasileira deveria acatar às ordens vindas de Lisboa, e não mais do Rio de
Janeiro;
• alguns órgãos públicos brasileiros relacionados ao comércio foram fechados;
• exigência do retorno do príncipe a Portugal.

Para os brasileiros, era como se as Cortes quisessem rebaixar o Brasil à condição de colônia
novamente. Assim, durante todo o ano de 1822,
diversos acontecimentos foram importantes para o Brasil caminhar rumo
à independência.
Ano de 1822

Reagindo a novas pressões portuguesas, o príncipe


O príncipe Pedro decide não acatar as proclama a independência do Brasil, que a partir de
pressões vindas de Portugal e resolve então saía da condição de Reino Unido de Portugal
permanecer no Brasil. e Algarves para se tornar uma nação independente
e soberana.

Janeiro Junho Setembro Dezembro

Dom Pedro convoca uma Assembléia O príncipe regente é coroado


Constituinte com o objetivo de elaborar uma imperador no Rio de Janeiro com
constituição para o título de dom Pedro I.
o Brasil.
Nem Tudo Mudou

Apesar da conquista da independência em 1822, a economia brasileira permaneceu igual à do


período colonial.
A monarquia se manteve, assim
como a grande propriedade rural
voltada para a exportação de
produtos – como o açúcar e,
posteriormente, o café –, e à
utilização e ao tráfico de mão de
obra escrava vinda
da África.

Venda de escravo (cerca de 1829), de autoria


desconhecida. Representação em aquarela, guache
e tinta de um fazendeiro comprando escravos em
mercado da cidade do Rio de Janeiro.
As Lutas pela Consolidação da Independência

Nem todas as províncias brasileiras aprovaram a


independência da mesma maneira: enquanto na capital,
Rio de Janeiro, a população recebeu a notícia com festas e
aclamações, em províncias como Piauí, Bahia, Maranhão e
Grão-Pará, foram grandes as manifestações contrárias
à novidade.

No geral, os comerciantes e grandes proprietários rurais


ligados à Portugal foram
os que não receberam bem a notícia, o que ocasionou
uma fragmentação política.

Dona Maria Quitéria de Jesus (1920), óleo sobre tela de


Domenico Faillutti que representa a heroína baiana
das lutas pela independência do Brasil.
O Governo de Dom Pedro I

Conquistada a independência, era necessário organizar o país, estabelecer leis, criar


instituições, regulamentações, sistema de ensino, símbolos e órgãos administrativos, além de
conciliar os interesses das diferentes camadas da população.

A Constituição de 1824
Em maio de 1823, reuniram-se representantes da Assembleia Constituinte para elaborar o
projeto da primeira constituição brasileira. O projeto não agradou ao monarca que, vendo a
possibilidade da diminuição de seu poderes, diluiu a Assembleia em novembro do mesmo
ano.

O imperador incumbiu o Conselho do Estado, órgão chefiado por ele, de elaborar uma nova
constituição que atendesse às suas exigências.
O Governo de Dom Pedro I
A nova Carta Constitucional estabelecia um poder Executivo forte e criava um novo poder, o
poder Moderador, que deveria ser exercido pelo imperador.
Por meio do poder Moderador, o imperador poderia indicar os presidentes das províncias,
dissolver a Câmara dos Deputados, convocar eleições e aprovar ou vetar as decisões da
Assembleia Geral.

Dom Pedro I renuncia ao trono

A dissolução da Assembleia Constituinte em 1823 provocou a insatisfação de diversas


províncias brasileiras. Províncias como Pernambuco, Paraíba, Rio Grande do Norte e Ceará
se declararam independentes do Brasil, formando a Confederação do Equador. Entretanto, o
movimento foi sufocado pelo governo, que condenou seus líderes à morte, incluindo frei
Caneca.
Abdicação de Dom Pedro I
A população de todas as partes do país condenava a concentração de
poderes nas mãos do imperador e a presença de portugueses na administração imperial, o
que se agravou quando dom Pedro entrou na disputa com seu irmão, dom Miguel, pela
sucessão do trono português após a morte de dom João VI em 1826.

A disputa pelo trono de Portugal agravou os


sentimentos antilusitanos no Brasil, fazendo
com que dom
Pedro I – acusado de se preocupar mais com
os problemas portugueses do que com os
brasileiros – perdesse o apoio popular,
abdicando assim do trono em favor de seu
filho, Pedro de Alcântara, então com 5 anos,
em 1831.

Abdicação do imperador dom Pedro I do Brasil (cerca de 1890),


óleo sobre tela de Aurélio de Figueiredo representando dom
Pedro I entregando a carta de sua abdicação ao trono do Brasil
em abril de 1831.
A Regência (1831-1840)

Com a abdicação de dom Pedro I, o trono brasileiro ficou vago, já que seu filho ainda era uma
criança, o que levou à escolha de representantes escolhidos pela Assembleia Geral, como
previa a Constituição.

Em maio de 1831, uma Regência Trina Permanente foi escolhida e foi também criada uma
Guarda Nacional, que era uma força armada ligada diretamente ao Ministério da Justiça,
criada para defender o cumprimento da Constituição e evitar rebeliões internas.

A Guarda Nacional era formada por milícias civis locais, crucial na consolidação do poder local
dos grandes proprietários de terra. Este período marcou o início do que conhecemos por
coronelismo, já que a base deste sistema político é o poder local dos coronéis.

A Guarda Nacional foi extinta em 1922.


As Províncias se Rebelam

A renúncia de dom Pedro I, somada à pobreza, ao abandono, às disputas políticas,


desigualdades sociais e à continuidade da escravidão, ocasionou um grande número de
conflitos.

Movimento em que participaram as camadas pobres da população, que


Cabanagem Grão-Pará 1835-1840 moravam em casebres nas margens dos rios e igarapés. Lutavam pela
independência do Pará.
Provocada por fazendeiros descontentes com os altos impostos
cobrados sobre seus produtos.
Revolução Rio Grande
1835-1845 Proclamaram a República Rio-Grandense em 1836 e dominaram boa
Farroupilha do Sul
parte do território. Em 1845, num acordo firmado com o governo central,
a revolta chegou ao fim.
Revolta dos Escravizados e libertos reivindicaram o fim da escravidão e da
Bahia 1835
Malês propriedade privada da terra.
Rebeldes tomaram o poder e proclamaram a República Bahiense. Foram
Sabinada Bahia 1837-1838
reprimidos pelo governo regencial.
Revolta das camadas pobres da população (lavradores, vaqueiros,
Balaiada Maranhão 1838-1841
tropeiros, artesãos e escravos).
O Golpe da Maioridade

As revoltas provinciais foram interpretadas como a necessidade de antecipar a maioridade a


Pedro de Alcântara para coroá-lo rei, seguindo a crença de que somente um governante
legítimo poderia restaurar a paz no Império.

Na Assembleia Geral, na imprensa e nas ruas da capital e de outras cidades, a ideia era bem
aceita e até o príncipe era simpático a ela.

Assim, em julho de 1840, aos 14 anos de idade, Pedro de Alcântara foi declarado maior de
idade pela Assembleia Geral e, assim, proclamado imperador com o título de dom Pedro II,
num processo que ficou conhecido como Golpe da Maioridade.
Referência Bibliográfica

Projeto Teláris: História / Gislane Campos de Azevedo,


Reinaldo Seriacopi. – 1ª Edição – São Paulo: Ática, 2012.
Professor Edley

www.professoredley.com.br

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