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Curso de formação de Defensoras e Defensores Públic@s

DIREITO CIVIL
Parte geral (módulo 2)

Daniella Bonilha de Carvalho


Aula 1 – Pontos do edital VII Concurso DPE/SP:

Adimplemento das obrigações: sujeitos, objeto, prova do pagamento.


Adimplemento Obrigacional (Teoria do Pagamento)
Pagamento é o cumprimento espontâneo (voluntário) e integral de uma
prestação, qualquer que seja ela (dar, fazer, não fazer), pelo devedor ou
por terceiro, extinguindo o vínculo obrigacional existente.
Pagamento é sinônimo de adimplemento = momento extintivo da
obrigação.
De acordo com Gustavo Tepedino, o adimplemento é apenas uma das
espécies do gênero da extinção das obrigações. Esta poderá ocorrer
pela:
(a) execução forçada (tutela especifica ou perdas e danos);
(b) impossibilidade da prestação;
(c) demais modos de extinção, como a novação, compensação,
remissão, etc.
Toda relação obrigacional nasce para extinguir-se, pois transitória. O
cumprimento da obrigação, portanto, não é apenas um dever do
devedor, mas também um direito. Direito de exonerar-se, ver-se livre do
vínculo obrigacional. O devedor tem o direito de pagar.
Superação da visão restritiva e dualista do direito das obrigações, em
que devedor e credor ocupam polos antagônicos.

Processo dinâmico de satisfação: o conteúdo da prestação


extrapola os termos contratuais, alcançando os deveres anexos
emanados da boa-fé objetiva.

Princípios norteadores do Código Civil no âmbito da teoria do


pagamento:

*Eticidade: princípio da boa-fé objetiva. Impõe às partes uma


atuação leal, cooperativa, em cumprimento ao dever de informação,
que atenda às expectativas comuns.

*Operabilidade: considera-se o contexto da relação, considerando


as circunstâncias do caso e a (des)igualdade das partes.

*Socialidade: prepondera-se o bem comum pelo cumprimento da


função social do contrato, relativizando a autonomia privada.
Requisitos do pagamento:

a) Exatidão: o cumprimento deve ser integral para haver o


adimplemento. Se o cumprimento é parcial, não houve pagamento.

b) Licitude: o pagamento deve ser lícito.

c) Espontaneidade: o pagamento deve ser voluntário.

O efeito do pagamento é a liberação do vínculo obrigacional decorrente


de um ato exato, lícito e espontâneo.

Karl Larenz: o pagamento tem por natureza a execução real da relação


jurídica, pois extingue a obrigação.

E se o credor recebeu o pagamento, mas vem a demandar,


posteriormente, o devedor?

Nos termos dos artigos 939 e 940, Código Civil, quem cobra dívida já
paga, no todo ou em parte, responde em dobro ou pelo equivalente –
responsabilidade civil pela cobrança indevida.
Art. 940, CC: “Aquele que demandar por dívida já paga, no todo ou em
parte, sem ressalvar as quantias recebidas, ou pedir mais do que for
devido, ficará obrigado a pagar ao devedor, no primeiro caso, o dobro do
que houver cobrado e, no segundo, o equivalente do que dele exigir,
salvo se houver prescrição”

Qual o limite processual para que o devedor alegue que já pagou?

O STJ já enfrentou este tema em que há verdadeiro conflito entre


enriquecimento sem causa e segurança jurídica:

AgRegREsp 849.434/PR: “AGRAVO REGIMENTAL EM RECURSO


ESPECIAL. EMBARGOS À EXECUÇÃO DE TÍTULO JUDICIAL. ALEGAÇÃO
DE PAGAMENTO EFETUADO ANTERIORMENTE À SENTENÇA. ART. 741,
VI, DO CPC. IMPOSSIBILIDADE. PRECEDENTES DA CORTE. 1. A
jurisprudência desta Corte se firmou no sentido de que não é possível a
alegação em embargos de pagamento efetuado anteriormente à
sentença exequenda. 2. Agravo regimental a que se nega provimento”.

STJ: até o limite da prolação da sentença na respectiva ação. Crítica:


deveria ser até a formação da coisa julgada ou no cumprimento de
sentença (por meio dos embargos).
Requisitos subjetivos do pagamento

1. Quem paga? O solvens

Sujeito ativo do pagamento (artigos 304/307, CCB)

Quem DEVE pagar: devedor

Quem PODE pagar: terceiro (interessado ou não)

*Devedor: ordinariamente, o pagamento será feito pelo devedor,


seu mandatário ou, ainda, por seus herdeiros (até as forças da
herança – art. 1997, CC), excetuando-se as obrigações
personalíssimas, que demandam a atividade pessoal do devedor.

*Terceiro interessado: é a pessoa que integra a relação


obrigacional por estar indiretamente responsável pela solução do
débito, e, portanto, legitimada para adimpli-lo, sob pena de sofrer os
efeitos do inadimplemento. Possui o direito de pagar para ver-se livre
do agravamento.
Art. 346, III, Código Civil: “A sub-rogação opera-se, de pleno
direito, em favor: III – do terceiro interessado, que paga a dívida pela
qual era ou podia ser obrigado, no todo ou em parte”.

Ex. 1. O sublocatário. Se o locatário não pagou o aluguel ao locador,


aquele que subloca terá sua esfera jurídica de interesses atingida, ao
correr o risco de sofrer um despejo

Ex. 2. O fiador. O garante também poderá sofrer os efeitos deletérios


do inadimplemento se o devedor principal não cumprir sua obrigação.

Para Jorge Cesa Ferreira da Silva, não se poderia aceitar que o


fiador, avalista, codevedor solidário e codevedor em obrigação
indivisível sejam considerados terceiros, por configurarem no polo
passivo da relação.

Contudo, a lei visa a relação interna entre os devedores, fazendo


do coobrigado um terceiro com relação à parte na qual não é devedor,
mas responsável.
Efeitos do pagamento efetuado pelo terceiro interessado

Art. 304, CC: “Qualquer interessado na extinção da dívida pode


pagá-la, usando se o credor se opuser, dos meios conducentes à
exoneração do devedor”.

Se houver recusa por parte do credor do pagamento oferecido pelo


terceiro interessado, a este será autorizado usar de todos os meios
concedidos ao devedor para a sua exoneração.

O pagamento realizado pelo terceiro interessado gera sub-rogação,


ou seja, aquele que paga passa a titularizar o crédito, com o direito
de cobrar do devedor.

Art. 349, CC: A sub-rogação incorpora ao patrimônio do terceiro


interessado que pagou todos os direitos, ações, privilégios e
garantias do credor primitivo em relação à dívida, seja contra o
devedor principal ou perante os garantidores.
O devedor poderá elidir a tentativa de pagamento pelo terceiro
interessado nas seguintes hipóteses:

- Quando a obrigação for personalíssima (só o devedor tem aptidão para


prestar a demanda obrigada perante terceiro).

- Quando houver convenção na qual credor e devedor expressamente


excluam a possibilidade de cumprimento por terceiro.

Quais as consequências se o terceiro interessado pagar em tais


situações?

O terceiro não terá direito subjetivo ao pagamento, não titularizando,


portanto, o crédito.

Limites de atuação do terceiro interessado: a ele não é conferida


legitimidade para pleitear a revisão do contrato principal ou anulação de suas
cláusulas abusivas, mesmo sendo responsável subsidiário ou solidário.

O garante só poderá discutir a legalidade do contrato secundário e acessório,


por tratar-se de relação jurídica materialmente distinta do contrato-base.
“O fiador de mútuo bancário não tem legitimidade para, exclusivamente e em nome
próprio, pleitear em juízo a revisão e o afastamento de cláusulas e encargos abusivos
constantes do contrato principal. Com efeito, a fiança é obrigação acessória, assumida
por terceiro, que garante ao credor o cumprimento total ou parcial da obrigação
principal de outrem (o devedor) caso este não a cumpra ou não possa cumpri-la
conforme o avençado. (...). A despeito disso, a relação jurídica que se estabelece entre
o credor e o devedor do negócio jurídico principal não se confunde com a relação
estabelecida no contrato secundário (de fiança), firmado entre aquele mesmo credor e o
fiador, que se apresenta como mero garantidor do adimplemento da obrigação principal.
Cuida-se, portanto, de contratos que, apesar de vinculados pela acessoriedade da
fiança, dizem respeito a relações jurídico-materiais distintas. Essa distinção existente
entre as relações de direito material é que torna evidente a ilegitimidade do fiador para,
exclusivamente e em nome próprio, postular em juízo a revisão e o afastamento de
cláusulas e encargos abusivos constantes do contrato principal (mútuo bancário),
materializador, como de outro modo não poderia ser, da comunhão de vontades,
exclusivamente, dos contratantes (credor e devedor). É que não se pode confundir
legitimidade para agir (...) com interesse de agir, nem, menos ainda, conceber a ideia
de que o exercício da ação estaria sujeito apenas à existência do segundo. Desse modo,
apesar de ser inconteste a existência de interesse econômico do fiador na eventual
minoração da dívida que se comprometeu garantir perante o credor, não é sua a
legitimidade para demandar a revisão das cláusulas apostas no contrato principal, sendo
irrelevante, nesse aspecto, o fato de responder de modo subsidiário ou mesmo
solidariamente pelo adimplemento da obrigação. Isso porque, para tanto, a titular do
direito material correlato é pessoa jurídica distinta e o fiador, como consabido, não está
autorizado por lei a atuar como seu substituto processual”. (REsp 926.792-SC Rel. Min.
*Terceiro não interessado: trata-se de figura estranha à relação
obrigacional, e, portanto, imune aos efeitos deletérios de eventual
inadimplemento pelo devedor.

A princípio, trata-se de pessoa que não possui interesse jurídico ou econômico


em sanar o débito, contudo, foi reconhecido pelo ordenamento a faculdade de
figurar como solvens.

Art. 305, CC: “O terceiro não interessado, que paga a dívida em seu próprio
nome, tem direito a reembolsar-se do que pagar; mas não se sub-
roga nos direitos do credor. Parágrafo único: Se antes de vencida a dívida, só
terá direito ao reembolso no vencimento”.

Duas são as formas de intervenção:

a) Pagamento por conta e em nome do devedor: trata-se de verdadeira doação


incondicional, extinguindo-se a dívida, sem que surja nova obrigação entre o
terceiro e o devedor, afastando-se, por conseguinte, seu direito ao reembolso.

Ex. é o caso do amigo do devedor, que preocupado com a sua situação, sana a
dívida.
O credor não poderá recusar o pagamento, sob pena de o terceiro utilizar
os meios conducentes à exoneração do devedor, tal como ocorre com
relação ao terceiro interessado.

Parágrafo único do art. 304, CC: “Qualquer interessado na extinção da


dívida pode pagá-la, usando, se o credor se opuser, dos meios conducentes
à exoneração do devedor. Parágrafo único: Igual direito cabe ao
terceiro não interessado, se o fizer em nome e à conta do devedor,
salvo oposição deste”.

É possível que o devedor recuse o pagamento do terceiro. Neste caso, se o


credor não aceitar, o terceiro não terá à sua disposição meios
exoneratórios.

E ainda, em que pese eventual recusa do devedor, caso o credor aceite o


pagamento oferecido pelo terceiro, ele não se encontrará em mora frente
ao devedor.
b) Pagamento em seu próprio nome: o terceiro não interessado, nesta
hipótese, terá direito ao reembolso.

Não terá direito à sub-rogação, pois inexiste vínculo entre o solvens e o


devedor. O terceiro, portanto, não vai incorporar a qualidade creditória
e os privilégios e garantias do credor originário, pois não há motivação
jurídica que fundamente o pagamento.

O terceiro não interessado apenas pleiteará a quantidade efetivamente


despendida através do ajuizamento da actio in rem verso para evitar o
enriquecimento sem causa do devedor.

Art. 884. Aquele que, sem justa causa, se enriquecer à custa de


outrem, será obrigado a restituir o indevidamente auferido, feita a
atualização dos valores monetários.

Trata-se de ação de conhecimento, e em seu bojo, poderá demonstrar


seu direito de ressarcimento para, posteriormente, munido de título
judicial, executar tal dívida.
“Recurso Especial. Direito Civil e Processual civil. Ação de reparação de
danos. Acidente de trânsito. Pagamento de despesas por terceiro
desinteressado. Legitimidade ativa ad causam. - O terceiro não
interessado que paga em seu próprio nome as despesas com
tratamento médico-hospitalar de vítimas de acidente de trânsito é parte
legítima para propor ação contra aquele que, segundo alega, deu causa
ao sinistro, para reembolsar-se daquilo que pagou”. (STJ, REsp
332.592/SP).

Art. 305. O terceiro não interessado, que paga a dívida em seu próprio
nome, tem direito a reembolsar-se do que pagar; mas não se sub-roga
nos direitos do credor. Parágrafo único. Se pagar antes de vencida a
dívida, só terá direito ao reembolso no vencimento.

O terceiro não interessado que paga em seu próprio nome deverá


respeitar o termo de vencimento originário para recobrar o valor
despendido. Do contrário, se pudesse exigir o débito logo após solver a
obrigação, culminaria por agravar ainda mais a situação do devedor, o
que não é justificável pelo princípio da boa-fé objetiva.
Existem duas situações em que o pagamento feito em nome próprio pelo
terceiro não interessado gera sub-rogação:

a) Em caso de sub-rogação convencional, ou seja, quando o credor


originário, expressamente, transferir-lhe as suas garantias contra o
devedor. Art. 347, I, CC.

Art. 347. “A sub-rogação é convencional: I - quando o credor recebe o


pagamento de terceiro e expressamente lhe transfere todos os seus
direitos”.

b) Alienação fiduciária em garantia.

Ex. “A” adquire um automóvel em alienação fiduciária. O banco, credor da


dívida, é proprietário do bem. “A”, por complicações financeiras, acaba
devendo ao banco três parcelas. Resolve, então, dirigir-se a outra
instituição financeira para contrair empréstimo para efetuar o pagamento.
Neste caso, ainda que terceiro seja não interessado, a referida instituição
poderá sub-rogar-se de pleno direito no crédito e na propriedade fiduciária.

Art. 1368, CC: “O terceiro, interessa ou não que pagar a dívida, se sub-
rogará de pleno direito no crédito e na propriedade fiduciária”.
Caso o credor recuse o pagamento pelo terceiro não interessado, a ser
efetuado em nome próprio, não lhe será lícito exercitar a pretensão de
consignação para constranger o credor ao recebimento, pois não se trata
de pagamento do devedor, do terceiro interessado ou do desinteressado
que paga em nome do devedor.

Art. 306, CC: “O pagamento feito por terceiro, com desconhecimento ou


oposição do devedor, não obriga a reembolsar aquele que pagou, se
o devedor tinha meios para ilidir a ação”.

Afasta-se o direito ao reembolso nas hipóteses em que o pagamento é feito


por terceiro, quando o devedor desconhecia ou possuía razões para negá-
lo, pois contava com meios para evitar que o credor exercitasse o seu
direito de cobrança.

Ex. Nulidade ou anulabilidade do negócio jurídico; compensação do débito,


prescrição da pretensãao, etc.
O dispositivo se refere àquelas hipóteses em que o devedor poderia
suscitar as exceções, defesas indiretas de mérito, pelas quais não se opõe
o devedor à pretensão do credor, mas envolvem fatos impeditivos,
modificativos ou extintivos ao seu direito.

A mencionada norma alcança os terceiros interessados e desinteressados:

Se o devedor tiver meios de excepcionar parcialmente a dívida, a sua


oposição será eficaz no sentido de restringir a sub-rogação (do terceiro
interessado) ou o direito de reembolso (do terceiro não interessado) até o
limite em que se elidiu o débito.

No entanto, se o devedor não tinha como elidir o pagamento, mesmo que


surpreendido com a atitude do terceiro, terá de reembolsá-lo.

Combinação entre os artigos 306 e 871, CC: caso o terceiro pague dívida
de alimentos, obterá ressarcimento em face do devedor, ainda que não
tenha por este sido ratificado. Privilegiar as finalidades do alimentário em
detrimento da formalidade da prévia interpelação. Contudo, se o devedor
tiver argumento hábil a elidir a sua obrigação de prestar (ex. a maioridade
do credor alimentar) não poderá ser constrangido ao reembolso.
“PAGAMENTO. TERCEIRO INTERESSADO. DIREITO DE
REEMBOLSO. 1- O pagamento de dívida por terceiro (CC/2020, art.
306), de modo a não ensejar o direito de reembolso, deve
preencher três condições: a) o pagamento de dívida é feita
por terceiro; b) o devedor desconhece o pagamento ou se
opõe ao pagamento; c) o devedor tinha meios para "ilidir a
ação", ou seja, a cobrança da dívida feita pelo terceiro. 2- Não
apresentando o devedor fato "sério e sua admissibilidade
provável", para se opor ao pagamento efetuado por terceiro,
torna irrelevante ter ou não conhecimento do pagamento. 3-
Incidência de correção monetária e juros de mora sobre o valor
devido como reembolso, sob pena de enriquecimento ilícito do
devedor. 4- Apelação não provida”. (TJSP, Ap. n. 990093532883, 18ª
Câmara de Direito Privado, rel. Alexandre Lazzarini, D.J>
04/05/2010).
Art. 307. “Só terá eficácia o pagamento que importar transmissão da
propriedade, quando feito por quem possa alienar o objeto em que ele
consistiu.
Parágrafo único. Se se der em pagamento coisa fungível, não se poderá
mais reclamar do credor que, de boa-fé, a recebeu e consumiu, ainda
que o solvente não tivesse o direito de aliená-la”.

O dispositivo exige a legitimação (poder de dispor do titular), ou seja, o


sujeito deve ser efetivamente o titular do bem transmitido, sob pena de se
reputar ineficaz o pagamento.

O negócio é válido, mas o pagamento é ineficaz perante o verdadeiro


proprietário, podendo ele retirar o bem do credor. O pagamento irregular
conduz à ineficácia do negócio jurídico, eis que afasta a sua força
liberatória.

Se o bem transmitido for bem fungível, e o credor de boa-fé consumi-lo, na


ilusão de que havia adquirido do verdadeiro dono, só restará ao verdadeiro
proprietário do bem o ajuizamento de ação indenizatória em face do
solvens. Verificada, no entanto, a má-fé do credor, responderá por perdas e
danos.
Consignação em pagamento

E se o credor se opuser, há possibilidade de consignação em


pagamento.

Art. 334, CC: “Considera-se pagamento e extingue a obrigação o


depósito judicial ou em estabelecimento bancário da coisa devida, nos
casos e nas formas legais”.

Art. 539, NCPC: “Nos casos previstos em lei, poderá o devedor ou


terceiro requerer, com efeito de pagamento, a consignação da quantia
ou da coisa devida”.

Art. 540, NCPC: “Requerer-se-á a consignação no lugar do pagamento,


cessando para o devedor, à data do depósito, os juros e os riscos, salvo
se a demanda for julgada improcedente”.
Questão – Banca FMP - DPE/PA (2015)

Assinale a alternativa INCORRETA.

a) A boa-fé objetiva configura norma impositiva de limites ao exercício


de direitos subjetivos, configurando, assim, importante critério de
mensuração da ocorrência do adequado adimplemento e dos limites do
enriquecimento ilícito.

b) O adimplemento substancial deriva do postulado ou princípio da boa-


fé objetiva e obsta o direito à resolução do contrato, como exceção ao
princípio da exatidão do dever de prestar, em contratos bilaterais ou
comutativos.

c) O terceiro não interessado que paga a dívida em seu próprio nome se


sub-roga no direito do credor.

d) A falência do devedor é causa legal de vencimento antecipado da


obrigação, que não atinge devedores solidários solventes.

e) A cláusula penal tem natureza de obrigação acessória.


Questão – Banca FMP - DPE/PA (2015)

Assinale a alternativa INCORRETA.

a) A boa-fé objetiva configura norma impositiva de limites ao exercício


de direitos subjetivos, configurando, assim, importante critério de
mensuração da ocorrência do adequado adimplemento e dos limites do
enriquecimento ilícito.

b) O adimplemento substancial deriva do postulado ou princípio da


boa-fé objetiva e obsta o direito à resolução do contrato, como exceção
ao princípio da exatidão do dever de prestar, em contratos bilaterais ou
comutativos.

c) O terceiro não interessado que paga a dívida em seu próprio nome


se sub-roga no direito do credor.

d) A falência do devedor é causa legal de vencimento antecipado da


obrigação, que não atinge devedores solidários solventes.

e) A cláusula penal tem natureza de obrigação acessória.


2. A quem se deve pagar? O accipiens

Accipiens: sujeito passivo do pagamento. Aquele que recebe.

*Credor: A pessoalidade e identidade do credor são essenciais,


tendo em vista que a obrigação se constitui, primeiramente, para a
sua satisfação.

Art. 308, CC: “O pagamento deve ser feito ao credor ou a quem de


direito o represente, sob pena de só valer depois de por ele
ratificado, ou tanto quanto reverter em seu proveito”.

Ponto interessante: o dispositivo viabiliza que o pagamento feito ao


incapaz seja válido, desde que haja posterior ratificação ou na
hipótese de prova de que reverteu em seu proveito.

- Credor originário: é o que recebe o pagamento em virtude de


sua participação no próprio nascimento da relação obrigacional.
- Credor derivado: substitui o credor originário em virtude de negócio
jurídico ou morte, autorizando, portanto, ao recebimento do pagamento
por parte do devedor. Ex. herdeiros, legatários, cessionários, sub-rogados.

Diante da pluralidade de herdeiros, quando a obrigação foi originalmente


contraída pelo devedor com o de cujus, o espólio assume a posição de
credor da integralidade da prestação, já que por sua natureza legal, a
herança é uma massa indivisível. Contudo, se o pagamento se der
após a partilha, viabiliza-se o fracionamento da prestação, a depender
do número de sucessores.

- Credor putativo: aplica-se a teoria da aparência. Quando alguém se


apresenta socialmente com título aparentemente válido, propiciando ao
solvens de boa-fé a incidência de erro escusável, induzindo à falsa
percepção de estar autorizado a receber.

Ex. caso do sucessor que obteve pagamentos, mas cujo testamento


venha a ser posteriormente nulificado. Neste caso, o credor putativo agiu
de boa-fé por ignorar a sua real situação.
Art. 309, CC: “O pagamento feito de boa-fé ao credor putativo é válido,
ainda provado depois que não era credor”.

O pagamento só será eficaz se, à luz do caso concreto, restar claro o


exercício do dever anexo de diligência do devedor no sentido de efetuar
responsavelmente o pagamento a quem parecia, perante todos, idôneo a
receber. Boa-fé objetiva.

Evidente que aquele que recebeu o pagamento na qualidade de credor


putativo, fica obrigado a reembolsar o verdadeiro credor, sob pena de
enriquecer ilicitamente.

Art. 876, CC: “Todo aquele que recebeu o que lhe não era devido fica
obrigado a restituir; obrigação que incumbe àquele que recebe dívida
condicional antes de cumprida a condição”.
*Representante do credor: tem legitimidade para o recebimento do
pagamento , oportunizando ao solvens a facilitação de sua liberação do
vínculo obrigacional.

- Representante legal: representa o absoluta e relativamente incapaz.

- Representante judicial: conferido por meio de decisão judicial. Ex.


inventariante, síndico.

- Representante convencional: aquele nomeado pelo credor para


receber o pagamento (mandatário)

As categorias acima se diferem no que se refere à extinção da dívida.

Caso haja representante convencional, efetuado o pagamento diretamente


ao credor, haverá a automática liberação obrigacional do devedor. No
entanto, em caso de ter sido constituído representante legal ou judicial, o
pagamento efetuado ao credor, não exonerará o devedor, o qual poderá ser
coagido a pagar novamente, assumindo o ônus de provar que o
pagamento reverteu em beneficio do credor para liberar-se.
Mandatário tácito: trata-se de pessoa autorizada a receber, sem
configurar-se como credor real ou representante legal, judicial ou
convencional. É aquele munido de quitação outorgada pelo credor.

Art. 311, CC: “Considera-se autorizado a receber o pagamento o


portador da quitação, salvo se as circunstâncias contrariarem a
presunção daí resultante”.

Se o devedor possuir razões objetivas para desconfiar da credibilidade do


portador (“circunstâncias contrariarem a presunção”), e mesmo assim,
acaba solvendo a dívida, acabará pagando novamente ao verdadeiro
credor.

A parte final do dispositivo afasta a presunção juris tantum de


legitimidade do portador da quitação. Ex. título foi perdido, extraviado,
furtado.
Em geral, é reputado como ineficaz perante o verdadeiro credor o pagamento
feito ao accipiens que não seja credor ou representante.

No entanto, no final do artigo 308, CC há a previsão de duas hipóteses que


exoneram o devedor da obrigação:

a) Caso o pagamento não seja realizado ao real representante do credor, mas


posteriormente seja por este ratificado.

b) Caso o solvens demonstre que o pagamento reverteu em proveito do


verdadeiro credor, apesar de ter sido realizado perante outra pessoa.

Art. 310, CC: “Não vale o pagamento cientemente feito ao credor incapaz de
quitar, se o devedor não provar que em benefício dele efetivamente reverteu”.

Se o solvens souber da incapacidade do credor, o pagamento será ineficaz.


Mas se aquele que paga não tiver ciência da incapacidade de quem recebe, o
ato terá efeito liberatório. Se suscitada a incapacidade, deverá o solvens
demonstrar que o valor despendido reverteu em proveito do próprio incapaz
para liberar-se da obrigação. Ex. pai paga alimentos ao filho menor de idade.

Obs. Art. 180, CC – relativamente incapaz. Ocultação maliciosa.


Questão – FFC – DPE/MA (2015):

Humberto devia a Teobaldo a importância de dez mil reais. Entretanto, realizou o


pagamento desta dívida a Petronílio. Nesta hipótese, o pagamento

a) somente terá eficácia liberatória caso o devedor comprove que o pagamento foi
feito de boa-fé em favor de credor putativo, como decorrência da boa-fé objetiva e
da teoria da aparência, sendo irrelevante no caso relatado verificar se houve a
anuência ou a reversão do valor em favor do credor originário (accipiens)

b) somente será válido com a aceitação de Teobaldo, uma vez que a legitimidade é
elemento de validade do negócio jurídico, e, neste caso, o pagamento não foi feito
ao credor originário (accipiens).

c) é válido e eficaz, sendo absolutamente irrelevante o fato de ter sido feito a


pessoa diversa do credor, pois a cobrança em duplicidade de um débito já pago
não é admitida no ordenamento jurídico brasileiro.

d) não tem validade, uma vez que o pagamento feito a terceiro estranho à relação
obrigacional não admite ratificação.

e) poderá ter eficácia liberatória caso Teobaldo ratifique o pagamento ou que o


devedor comprove que o pagamento foi feito de boa-fé em favor de credor
putativo, ou, ainda, que o devedor prove que o valor reverteu em favor do
Gabarito:

Humberto devia a Teobaldo a importância de dez mil reais. Entretanto, realizou o


pagamento desta dívida a Petronílio. Nesta hipótese, o pagamento

a) somente terá eficácia liberatória caso o devedor comprove que o pagamento foi
feito de boa-fé em favor de credor putativo, como decorrência da boa-fé objetiva e
da teoria da aparência, sendo irrelevante no caso relatado verificar se houve a
anuência ou a reversão do valor em favor do credor originário (accipiens)

b) somente será válido com a aceitação de Teobaldo, uma vez que a legitimidade é
elemento de validade do negócio jurídico, e, neste caso, o pagamento não foi feito ao
credor originário (accipiens).

c) é válido e eficaz, sendo absolutamente irrelevante o fato de ter sido feito a pessoa
diversa do credor, pois a cobrança em duplicidade de um débito já pago não é
admitida no ordenamento jurídico brasileiro.

d) não tem validade, uma vez que o pagamento feito a terceiro estranho à relação
obrigacional não admite ratificação.

e) poderá ter eficácia liberatória caso Teobaldo ratifique o pagamento ou que o


devedor comprove que o pagamento foi feito de boa-fé em favor de credor putativo,
ou, ainda, que o devedor prove que o valor reverteu em favor do verdadeiro credor.
Requisitos objetivos do pagamento

1) Objeto do pagamento: o que se deve pagar?

Art. 313, CC: “O credor não é obrigado a receber prestação diversa da que
lhe é devida, ainda que mais valiosa”.

Consagração do princípio da identidade ou exatidão da prestação,


ou seja, o cumprimento da obrigação deve se ajustar perfeitamente ao
projeto contratual, à luz da boa-fé objetiva.

Qualquer mudança do objeto devido na prestação depende da


concordância e vontade das partes. O credor não pode ser compelido a
receber outra coisa, ainda que mais valiosa, bem como o devedor não é
obrigado a prestar algo distinto do acordado.

O art. 313, CC deve ser interpretado à luz da boa-fé objetiva, ou seja, tal
rigidez poderá ser relativizada quando a inflexibilidade representar
exercício de abuso do direito por parte do credor (art. 187, CC).
A autonomia privada deve ser balizada pelos princípios éticos do
sistema

Ex. devedor cumpriu a obrigação quase que integralmente.


Adimplemento substancial. Sob pena de agir com abuso de direito,
o credor só poderá pleitear a indenização, não impondo a rescisão
contratual, sob pena de incidir em abuso de direito.

Ex. Diante de hipótese de onerosidade excessiva, o magistrado


poderá determinar a revisão contratual em prol de uma das partes,
relativizando, portanto, o princípio da identidade do pagamento.

Ex. Moratória legal. Permissão do CPC: faculta-se ao devedor, na fase


na ocasião da oposição dos embargos à execução, o direito de pleitear
o parcelamento da dívida em até 6 vezes, mediante depósito inicial de
30% do total a ser pago. Há uma chancela do Estado, com vistas a
efetivar o processo.
Uma situação curiosa se dá no âmbito das obrigações facultativas,
nas quais o devedor tem a faculdade de substituir a obrigação originária
por uma modalidade de adimplemento diverso. Permissivo contratual
que derroga o dispositivo.

Art. 314, CC: “Ainda que a obrigação tenha por objeto prestação
divisível, não pode o credor ser obrigado a receber, nem o devedor a
pagar, por partes, se assim não se ajustou”.

O dispositivo cuida do vetor quantitativo do pagamento.

Art. 315, CC: “As dívidas em dinheiro deverão ser pagas no vencimento,
em moeda corrente e pelo valor nominal, salvo o disposto nos artigos
subsequentes”.

Princípio do nominalismo: consagra o valor consignado na moeda.


Contudo, considerando o fenômeno inflacionário, a moeda apresenta
relativa estabilidade, e o valor nominal da dívida teria, portanto, caráter
enunciativo, diante da mutabilidade.
Desta forma, interpreta-se o dispositivo com a presunção de estar contida a
correção monetária. A atualização monetária não gera acréscimo, mas
apenas atualiza o valor nominal expresso em moeda. Tal instituto não afasta
o nominalismo, pois decorre da simples passagem do tempo.

“PROCESSUAL CIVIL. DIREITO ECONÔMICO. EXECUÇÃO DE SENTENÇA.


CORREÇÃO MONETÁRIA. IGP-M. ÍNDICES DE DEFLAÇÃO. APLICABILIDADE,
QUANDO NÃO IMPORTEM REDUÇÃO DO VALOR NOMINAL ORIGINAL. 1. A
correção monetária nada mais é do que um mecanismo de manutenção do
poder aquisitivo da moeda, não devendo representar, consequentemente, por si
só, nem um plus nem um minus em sua substância. Corrigir o valor nominal da
obrigação nada mais representa do que manter, no tempo, o seu poder de
compra original, alterado pelas oscilações inflacionárias positivas e negativas
ocorridas no período. Atualizar a obrigação levando em conta apenas oscilações
positivas importaria distorcer a realidade econômica produzindo um resultado
que não representa a simples manutenção do primitivo poder aquisitivo, mas
um indevido acréscimo no valor real. Nessa linha, estabelece o Manual de
Orientação de Procedimento de Cálculos aprovado pelo Conselho da Justiça
Federal que, não havendo decisão judicial em contrário, "os índices negativos
de correção monetária (deflação) serão considerados no cálculo de atualização",
salvo "se a atualização implicar redução do principal", hipótese em que "deve
prevalecer o valor nominal". 2. Recurso especial provido”. (STJ, REsp1240963,
Rel. Min. Teori Zavascki, D.J. 24/08/2011).
Art. 316, CC: “É lícito convencionar o aumento progressivo de prestações
sucessivas”.

Gustavo Tepedino conceitua a cláusula da escala móvel como “a que faz


oscilar a prestação do devedor segundo os índices do custo de vida, os
preços de determinadas mercadorias, ou a variação dos salários”.
(TEPEDINO, Gustavo. Código Civil interpretado. V.1., p. 607).

Tal cláusula excepciona o princípio do nominalismo ao permitir a revisão


das prestações com base em índices fixados pelas partes, desde que
respeitados os vetores do sistema, os princípios da eticidade e a função
social do contrato.

A CF (art. 7º, IV) veda o reajuste com base no valor do salário mínimo.
Exceção: prestação de alimentos.
Art. 318, CC: “São nulas as convenções de pagamento em ouro ou em
moeda estrangeira, bem como para compensar a diferença entre o
valor desta e o da moeda nacional, excetuados os casos previstos
na legislação especial”.

Lei 10.192/2001 (dispõe sobre medidas complementares do Plano


Real) prevê que as estipulações de pagamento de obrigações
pecuniárias exequíveis no território nacional serão feitas em real,
vedando-se a estipulação em moedas estrangeiras, com exceção dos
contratos de exportação, importação, câmbio e leasing com recursos
captados no exterior.

A cláusula de escala móvel deve ser afastada em negócios jurídicos


que se verifica assimetria entre as partes contratantes, em especial em
contratos cujo objeto sejam bens essenciais, ligados ao “patrimônio
mínimo” para a manutenção da dignidade humana (moradia, saúde,
educação e alimentos), sob pena de violar a função social do contrato.

Art. 2035, parágrafo único, CC: “Nenhuma convenção prevalecerá se


contrariar preceitos de ordem pública, tais como estabelecidos por este
Código para assegurar a função social da propriedade e dos contratos”.
Art. 317, CC: “Quando, por motivos imprevisíveis, sobrevier
desproporção manifesta entre o valor da prestação devida e o do
momento de sua execução, poderá o juiz corrigi-lo, a pedido da parte,
de modo que assegure, quanto possível, o valor real da prestação”.

Sob a perspectiva da obrigação como processo dinâmico, há interesse em


adaptar a relação jurídica às vicisssitudes que a passagem do tempo produz.
O direito subjetivo ao crédito será balizado pela preservação do vínculo
jurídico originário, pois a autonomia privada não pode conduzir à injustiça
ou opressão econômica.

As relações duradouras, de execução diferida no tempo, possuem em seu


núcleo basilar o permanente dever de revisão do conteúdo da relação
jurídica, à luz da boa-fé objetiva, para obstar a desproporção entre as
prestações.

Teresa Negreiros defende que “o princípio do equilíbrio econômico incide


sobre o programa contratual, servindo como parâmetro para a avalição do
seu conteúdo e resultado, mediante a comparação das vantagens e
encargos atribuídos a cada um dos contratantes”. (NEGREIROS, Teresa.
Teoria do contrato: novos paradigmas, p. 157).
Análise conjunta dos art. 317 e 478, ambos do CC:

Art. 478, CC: “Nos contratos de execução continuada ou diferida, se a


prestação de uma das partes se tornar excessivamente onerosa, com
extrema vantagem para a outra, em virtude de acontecimentos
extraordinários e imprevisíveis, poderá o devedor pedir a
resolução do contrato. Os efeitos da sentença que a decretar
retroagirão à data da citação”.

Ambos os dispositivos versam sobre a cláusula rebus sic stantibus,


prevendo o desequilíbrio das prestações em razão da incidência de
eventos supervenientes e imprevisíveis.

Todavia, o art. 478,CC adere à teoria da imprevisão, a qual requer,


além da imprevisibilidade do evento, a extraordinariedade da álea.

O art. 317, CC aproxima-se da teoria da excessiva onerosidade,


substituindo o requisito do fato extraordinário pela desproporção
manifesta entre as prestações. Tal dispositivo deve ser interpretado
conforme a Constituição, à luz do princípio da solidariedade.
Outra distinção entre os artigos remonta aos efeitos da aplicação de cada
uma das teorias.

Preenchidos os requisitos para a aplicação do art. 478, CC, a saída


legislativa será a resolução contratual, ou seja, incide o direito
potestativo do devedor desconstituir o negócio, caso a parte contrária se
recuse a restaurar a situação de equilíbrio.

Já o art. 317, CC permite que o magistrado possa conservar o


negócio jurídico, mediante a revisão de seus termos, a fim de que os
efeitos econômicos e sociais sejam protegidos, visando à igualdade
substancial.

Há uma verdadeira aproximação deste dispositivo com o art. 6º, V, CDC,


ao permitir a revisão contratual e correção do desequilíbrio das
prestações.

Outro ponto distintivo:


O art. 317, CC estende sua eficácia a qualquer relação obrigacional,
enquanto o art. 478, CC limita-se ao campo dos contratos.
3. Prova do pagamento

Art. 319, CC: “O devedor que paga tem direito a quitação regular, e
pode reter o pagamento, enquanto não lhe seja dada”.

Este artigo atesta que o pagamento não é dever, mas direito subjetivo
do devedor ou do terceiro que paga de ver o reconhecimento pelo
credor ou de quem o recebeu, para, então, exonerar-se do débito.

O recibo é o instrumento que certifica a quitação. Diante da


inviabilidade de sua obtenção, a demonstração do pagamento poderá
se dar por outros meios (art. 212, CC):

I) Confissão
II) Documento
III) Testemunha
IV) Presunção
V) Perícia
Além do direito à retenção do pagamento, a recusa à quitação induz o
credor à mora (art. 394, CC), e faculta ao devedor exercer o direito de
pretensão de consignação em pagamento, por tratar-se de recusa
injustificada de receber a prestação (art. 335, I, CC).

Art. 335, CC: “A consignação tem lugar: I – se o credor não puder, ou,
sem justa causa, recusar receber o pagamento, ou dar quitação na
devida forma”.

A quitação é revogável: se, em momento posterior, o credor perceber


que parte do pagamento ainda está em aberto, poderá buscar a
diferença em juízo, assumindo o ônus probatório.

Conceito de quitação ampliado: meios eletrônicos ou outras formas de


comunicação à distância, não exigindo a presença corpórea das
partes.
Art. 320, CC: “A quitação, que sempre poderá ser dada por instrumento
particular, designará o valor e a espécie da dívida quitada, o nome do
devedor, ou quem por este pagou, o tempo e o lugar do pagamento,
com a assinatura do credor, ou do seu representante”.

Ainda que se refira a contrato solene, que exija a escritura pública, como
no caso de compra e venda de imóvel com valor superior a 30 salários
mínimos, a quitação poderá ser dada por instrumento particular.

De acordo com o ordenamento, qualquer forma de quitação será suficiente


para facilitar a exoneração do devedor.

Elementos da quitação:

1) Valor
2) Identificação do débito (relação obrigacional)
3) Identificação do devedor
4) Tempo do pagamento (evitando discussões sobre mora)
5) Local do pagamento
6) Assinatura do credor ou seu representante (mecânica ou eletrônica)
Parágrafo único, art. 320, CC: “Ainda sem os requisitos estabelecidos
neste artigo, valerá a quitação, se de seus termos ou das
circunstâncias resultar haver sido paga a dívida”.

Presunção de pagamento à luz da função interpretativa do princípio da


boa-fé objetiva (art. 113, CC) – usos locais, padrões de conduta.

Art. 321, CC: “Nos débitos, cuja quitação consista na devolução do


título, perdido este, poderá o devedor exigir, retendo o pagamento,
declaração do credor que inutilize o título desaparecido”.

Enquanto não for adotada a providência exigida (declaração do


credor), o devedor terá direito de retenção do pagamento. Poderá ele,
ainda, exercer o direito de consignar o pagamento para
descaracterizar a sua mora.
Presunção legal do pagamento: arts. 322/324, CCB

Art. 322, CC: “Quando o pagamento for em quotas periódicas, a


quitação da última estabelece, até prova em contrário, a presunção de
estarem solvidas as anteriores”.

Presunção relativa: o credor pode demonstrar a falta de pagamento de


uma das prestações, afastando a presunção.

Art. 323, CC: “Sendo a quitação do capital sem reserva de juros, estes
presumem-se pagos”.

Se o credor exonerou o devedor do principal, sem menção ao


acessório, isso importa reconhecer o completo adimplemento da
obrigação.

Prevalece a corrente doutrinária que tal presunção seria juris tantum,


facultando ao credor provar que a quitação foi obtida de forma viciada,
demonstrando que os juros estão em aberto. Criticar tal corrente.
Art. 324, CC: “A entrega do título ao devedor firma a presunção do
pagamento”.

A entrega do título supre a quitação exigida pelo art. 320, CC. Ao


efetuar a tradição do título ao devedor, o credor está admitindo a sua
satisfação pelo pagamento, pois trata-se de prova da existência da
própria obrigação.

Parágrafo único: “Ficará sem efeito a quitação assim operada se o


credor provar, em sessenta dias, a falta do pagamento”.

Ex. se o devedor recebeu o título por meios não idôneos (ex.


subtração), o credor poderá, dentro do prazo de 60 dias, exercer o
direito de destituir a eficácia da quitação.

Art. 325, CC: a regra geral demanda que todas as despesas


relacionadas com o pagamento e quitação ocorrem por conta do
devedor (ex. taxas bancárias, transporte de mercadorias), salvo se
houver convenção em sentido contrário ou se as despesas
extraordinárias forem produzidas exclusivamente pelo credor.

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