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BEATRIZ NASCIMENTO

CONCEITO DE QUILOMBO
 Em 1976, Beatriz Nascimento, há 43 anos,
introduz academicamente o conceito de “paz
quilombola”, indo contra todos os estudos da
época.

 Isto quer dizer que ela não via os quilombos como


algo sempre focado para resistência. Não, não era
isso.
Ela os via produzindo
conhecimento, olhares,
movimentos estudados, dentro
uma resistência inteligente à ação
repressiva oficial escravocratas.
•Isto porque, na guerra colonial, entre escravos e
escravocratas, o quilombo produzia “paz”, segundo ela, ou
seja, o processo civilizacional africano não deixava de
coexistir no campo de batalha.

•Uma sacada diferente e inovadora na historiografia,


podemos dizer assim.
•Beatriz, assim, vai mais longe, além da perspectiva teórica
dos historiadores oficiais e não oficiais dos anos 1970.

•Beatriz não reduz os quilombos a um mero local de


resistência ao escravismo. Ela diz outra coisa, ela dá outro
fundamento aos quilombos.
Foi a pioneira no estudo critico dos quilombos no Brasil, talvez,
podemos alegar aqui, a mais importante intelectual feminina negra
da história do Brasil.

A historiadora Beatriz Nascimento (1942-1995), nasceu, em Sergipe,


e veio morar no Rio de Janeiro com os pais e irmãos aos oito anos,
onde, aqui, se formou em História, na Universidade Federal
Fluminense (UFF).

Dos anos 1970 aos 1990, se destacou como a mais fulgurante


intelectual e militante afro feminina da história negra.
Foi uma das fundadoras do Grupo de Trabalho André Rebouças da
Universidade Federal Fluminense (UFF) e também do Centro de
Estudos Afro-Asiáticos (CEAA) da Universidade Cândido
Mendes(UCAM).
Recentemente, a Editora Filhos da África, de São
Paulo, lançou o livro “Beatriz Nascimento, quilombola
e intelectual: possibilidade nos dias da destruição”,
reunindo sua história de vida e seus escritos
impactantes sobre quilombos, negros, mulheres,
militância, escravidão.
AS FUGAS
Este pequeno estudo se propõe, de forma simplificada, o demonstrar que a
fuga, longe de ser espontaneísmo ou movido por incapacidade para lutar, é,
antes de mais nada, a decorrência de todo um processo de reorganização e
contestação da ordem estabelecida. É o coroamento de uma série de
situações e etapas nas quais estão jogo diversos fatores: físicos, materiais,
psicossociais, ideológicos e históricos.
AS ETAPAS
 A característica peculiar de Palmares e da maior parte dos grandes
quilombos é que, num primeiro momento, são os homens quem primeiro
fogem. Estes homens quando do surgimento do quilombo, na sua forma
acabada, vão constituir os chefes de campo, dirigentes de vários
mocambos, distribuídos pela designação de importância, conforme as sem
aptidões militares de seus chefes. Assim, podemos presumir que a fuga é
motivada por uma necessidade de resistência e não para acomodação. O
quilombo, portanto, não pode ser reduzido a fuga.
Esta é uma etapa; etapa para se compreender a luta, ainda que
neste momento seja evidente que não se organizou a repressão da
sociedade oficial. Isto diminui o peso da expressão “negro fujão”.
Não é uma fuga espontânea do sentido de anarquia e
desorganização, pelo contrário, o fato de que são os primeiros os
homens a fugirem prova que ela está voltada para uma
organização de combate à sociedade negada.

 Destarte, podemos concluir que, vivendo ainda sob o regime escravista


oficial, o quilombo ou seus correlatos são tentativas vitoriosas de reação
ideológica, social, político militar, sem nenhum romantismo
irresponsável.
GOVERNO
 (...) a fuga surge como decorrência de um
processo iniciado na fazenda ou lugares onde se
encontravam grupos de homens trabalhando sob
o regime escravista. Eles a empreendiam
conscientes de que o rompimento com a sociedade
só poderia ser feito dentro de uma luta. Isto se
torna patente com o exemplo de Palmares, onde
os homens saem primeiro para organizar a
resistência, constituindo-se naquilo que Edison
carneiro, citando Nina Rodrigues, diz que é o
governo nas mãos dos que dá prova de maior
valor e astúcia, isto é, nas mãos dos mais capazes
para a luta.
PAZ

 (...) presumivelmente nas matas, o quilombo começa a


organizar sua estrutura social interna, autônoma e articulada
com o mundo externo. Entre um ataque e outro da repressão
oficial ele se mantém ora retroagindo, ora se reproduzindo.
Este momento chamaremos de “paz quilombola”, pelo caráter
produtivo que o quilombo assume como núcleos de homens
livres, embora potencialmente passiveis de escravidão.
Pensamos que, pela duração no tempo e pela expansão no
espaço geográfico brasileiro, o quilombo é um momento
histórico brasileiro de longa duração e isto graças a esse
espaço de tempo que chamamos de “paz”, embora muitas vezes
ela não surja na literatura existente. Creio que o escravo negro
brasileiro tivesse podido deixar um relato escrito, com certeza,
teríamos mais fontes da “paz’ quilombola do que guerra.

Fonte: Beatriz Nascimento, quilombola e intelectual:


possibilidade nos dias da destruição (Filhos da África, São
Paulo, 2018)

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