Você está na página 1de 34

INSTITUTO FEDERAL DE EDUCAÇÃO, CIÊNCIA E TECNOLOGIA FLUMINENSE

CAMPUS CABO FRIO

LICENCIATURA EM BIOLOGIA

ALTERNANTHERA PHILOXEROIDES NO ESTUDO


ETNOBOTÂNICO E ETNOFARMACOLÓGICO DE
PLANTAS UTILIZADAS POR COMUNIDADES
QUILOMBOLAS DA REGIÃO DOS LAGOS/RJ

Aluna: Luiza Gama Carvalho


Orientador: Vinicius Fernandes Moreira
1. INTRODUÇÃO

 O homem primitivo e a utilização dos recursos


oferecidos pela natureza.
 O Brasil é o país de maior biodiversidade do planeta,
em torno de 15 a 20% do total mundial.
 As plantas são utilizadas na fabricação de
medicamentos fitoterápicos e na medicina
tradicional.
 Essas práticas estão associadas à rica diversidade
étnica e cultural no país (AQUINO et al., 2007).

2
1. INTRODUÇÃO

 Trouxeram seus costumes, crenças e mitos (LORENZI e


MATOS, 2008).

 Transmissão oral do conhecimento popular.

 A etnofarmacologia relaciona= TRADIÇÕES


POPULARES + CONHECIMENTO CIENTÍFICO MEDICINAL.

3
1. INTRODUÇÃO
 O interesse populacional por terapias naturais tem
aumentado significativamente nos países
industrializados (WHO, 2001 apud BRASIL, 2006).

 Falta de recursos em populações mais carentes.

 O uso indiscriminado de plantas “in natura” pode trazer


sérios danos à saúde, por conta da presença de
princípios tóxicos (OLIVEIRA e ARAÚJO, 2007).

 Valorizar e compartilhar os saberes populares com


embasamento científico. Além de proteger e conservar
a flora brasileira.
4
2. OBJETIVOS

 Contribuir com o conhecimento etnobotânico e


etnofarmacológico do Brasil.

 Através da realização de testes fitoquímicos e


biológicos na espécie vegetal Alternanthera
philoxeroides, identificar os grupos de metabólitos
secundários presentes, identificar se há toxidade, o
que confirma ou não sua utilização medicinal.

 Assim como a valorização e divulgação desses


saberes populares das comunidades Quilombolas da
Região dos Lagos/RJ.
5
3. REVISÃO DE LITERATURA:
3.1 A etnobotânica

 É o estudo do uso que uma sociedade faz das plantas,


incluindo as crenças e práticas culturais associadas
com este uso.
 Registros do século XIX relatam o uso de plantas no
cotidiano, quando foi encontrado um Papiro de 1500
a.C:
“Aqui começa o livro da produção dos remédios para
todas as partes do corpo humano (...)”
(ALMEIDA, 2011).

6
3. REVISÃO DE LITERATURA:
3.1 A etnobotânica

 O termo foi definido pela primeira vez em 1896, pelo


botânico William Harshberger: “o estudo das
interrelações diretas entre humanos e plantas.”

 De acordo com a literatura, seu objetivo é conectar o


conhecimento tradicional que determinada comunidade
acumulou sobre o ambiente em que vive para que possa
interagir com este ambiente e retirar a base de
sustento para a sobrevivência (MARTIN, 1995).

 Pode ser ramificada em etnofarmacologia.

7
3. REVISÃO DE LITERATURA:
3.2 A etnofarmacologia no Brasil
 O Brasil, com seu imenso patrimônio genético de
biodiversidade, faz a sua maior potencialidade
destacar-se no campo do desenvolvimento de novos
medicamentos (CALIXTO, 2003).

 Decreto nº 5813, de 22 de junho de 2006:


Garantir à população brasileira o acesso seguro e o
uso racional de plantas medicinais e fitoterápicos,
promovendo o uso sustentável da biodiversidade, o
desenvolvimento da cadeia produtiva e da indústria
nacional.

8
3. REVISÃO DE LITERATURA:
3.3 O conhecimento popular das
comunidades quilombolas

 Grupos e comunidades que ainda convivem intimamente com a


natureza;
 A medicina popular vem oferecendo uma contribuição cada vez
maior às ciências;
 Segundo a Fundação Cultural Palmares (BRASIL, 2019), o Brasil
possuí nos dias atuais cerca de 3271 Comunidades
remanescentes de quilombos cadastradas;
 Os quilombolas são descendentes de africanos escravizados que
mantêm tradições culturais, de subsistência e religiosas ao
longo dos séculos (BRASIL, 2016).

9
3. REVISÃO DE LITERATURA:
3.4 Família Amaranthaceae

 Família pertencente às angiospermas.


 Eudicotiledôneas.
 Encontrada predominantemente nas áreas tropicais e
subtemperadas do mundo.
 Apresenta 8 subfamílias, cerca de 180 gêneros e 2.500
espécies.
 Diversas espécies são utilizadas como plantas
ornamentais e medicinais.
 Para o Brasil são referidas 157 espécies distribuídas em
27 gêneros, dos quais três são endêmicos.

10
Gráfico1. Número de espécies da família Amaranthaceae por
região brasileira.

11

Fonte: JBRJ (2014).


3. REVISÃO DE LITERATURA:
3.5 Gênero Alternanthera

 Começou a ser estudado no Brasil nas últimas décadas.

 Algumas espécies passaram a serem utilizadas na


medicina popular devido à atividade terapêutica
proporcionada pela presença de compostos bioativos
(FERREIRA e DIAS, 2000).

 No Brasil, existem cercas de 35 espécies, com


distribuição geográfica em todas as regiões.

12
Gráfico 2. Número de espécies do gênero Alternanthera por
região brasileira.

Fonte: JBRJ (2014). 13


3. REVISÃO DE LITERATURA:
3.5 Gênero Alternanthera

 Variedade de compostos biologicamente ativos;


 Tratamento de infecções virais, problemas renais,
antiinflamatório, analgésico, etc;
 Algumas espécies também possuem atividade
antimicrobiana, antifúngica e antiviral.

14
3. REVISÃO DE LITERATURA:
3.6 Alternanthera philoxeroides

 Diretamente ligada à agricultura;


 Nativa da América do Sul;
 Propagação;
 Estudos relatam possuir potencial de despoluição de
ambientes aquáticos;
 Suporta condições extremas;
 Crescimento rápido (principalmente no verão);
 Ocorrência em todas as Regiões brasileiras (JBRJ, 2014);
 Porém, no Estado do RJ ainda não foi confirmada a
ocorrência;
 Ambientes úmidos, alagados, beiras de rios, etc;
 Conhecida popularmente como “erva-de-jacaré”.
15
Figura 1. Alternanthera philoxeroides- Herbário
Virtual.

16

Fonte: JBRJ (2014).


4. METODOLOGIA
4.1 Identificação e localização das
comunidades Quilombolas da Região dos Lagos

 Localização da Região dos Lagos;


 Composta por sete municípios:
• Saquarema
• Araruama
• Iguaba Grande
• São Pedro da Aldeia
• Cabo Frio
• Arraial do Cabo
• Armação dos Búzios.

 Estudo na literatura e com moradores nativos para a


17
localização das comunidades Quilombolas.
4. METODOLOGIA
4.2 Entrevistas com representantes das
comunidades

 Agendadas visitas em comunidades Quilombolas dos


municípios de:
• Cabo Frio- Preto Forro, Maria Joaquina, Maria Romana.
• Armação dos Búzios- Quilombo da Rasa, Bahia Formosa.

 Perguntas sobre a utilização de plantas para fins


medicinais;

18
4. METODOLOGIA
4.3 Escolha da espécie para aplicação dos
testes

 Alternanthera philoxeroides foi escolhida por:


• Não ter estudo publicado na área da etnofarmacologia;
• Sua forma de utilização e finalidade na medicina popular;

19
4. METODOLOGIA
4.4 Coleta do material vegetal e classificação
botânica

Figura 2. Alternanthera philoxeroides coletada em campo.

20
Fonte: O autor (2018).
4. METODOLOGIA
4.4 Coleta do material vegetal e classificação
botânica

 Coleta em campo (coordenadas: 22°47'12.1"S 41°57'11.0"W).

Tabela 1. Classificação botânica.


Família Amaranthaceae
Gênero Alternanthera
Espécie Alternanthera philoxeroides

21
4. METODOLOGIA
4.5 A secagem, moagem e pesagem da amostra
 A secagem foi feita ao ar livre;
 Moagem utilizando moinho de martelo, em parceria com
o laboratório de produtos naturais da UENF;
 Pesagem no laboratório do IFF;

4.6 A extração dos constituintes químicos do


material botânico
 Percolação de solventes orgânicos (hexano e metanol);
 Após, foram concentrados e destilados em evaporador
rotativo;

22
4. METODOLOGIA
4.7 Testes fitoquímicos para identificação
dos grupos de metabólitos secundários

 Taninos;  Saponinas;
 Flavonoides;  Alcaloides;
 Esteroides;

4.8 Teste histoquímico para detecção de


alcaloides
 Nova coleta em campo;
 Cortes longitudinais no ápice do caule;
 Repetir o teste para identificação de alcaloides;

23
4. METODOLOGIA
4.9 Teste toxicológico frente à Artemia
franciscana

 Organismo alvo para detectar compostos bioativos em


extratos de plantas;
 Metodologia proposta por Meyer et al. (1982);
 Utilizadas 5 concentrações diferentes dos extratos
metanólicos e hexânicos (com 3 réplicas cada);
 Incubação por 24h;
 Contagem do número de organismos vivos e mortos;
 Programa estatístico para determinação da CL50;

24
5. RESULTADOS
5.1 Entrevistas com representantes das comunidades
Tabela 3. Plantas utilizadas para fins medicinais citadas nas entrevistas
Nome Popular Nome científico
Abóbora Cucurbita moschata
Alfazema Lavandula angustifolia
Amora Morus Celtidifolia
Anador Justicia pectoralis
Arnica Arnica montana
Aroeira Schinus terebinthifolius
Arrebenta-cavalo Solanum sisymbriifolium
Arruda Ruta graveolens
Assa peixe Vernonia polysphaera
Batata-tostão/ Erva-tostão Boerhavia diffusa L.
Cabelo de milho Zea mays L.
Caju Anacardium occidentale
Cambuí Myrcia sphaerocarpa
Cânfora Artemisia camphorata
Caninha-do-brejo Costus spicatus
Capim-limão Cymbopogon citratus
Catainha/ Erva-de-bicho Polygonum acre
Cebola Allium cepa 25

Erva-cidreira Melissa officinalis


Erva-de-jacaré Alternanthera philoxeroides
Erva-de-passarinho Struthanthus flexicaulis
Tabela 3. Plantas utilizadas para fins medicinais citadas nas entrevistas
Nome Popular Nome científico
Espinheira santa Maytenus ilicifolia
Folha do abacate Persea americana
Gervão Roxo Stachytarpheta cayennensis
Guandu Cajanus cajan
Guiné Petiveria alliacea L.
Hibisco Hibiscus sabdariffa
Macaé / Maria-Augusta Leonurus sibiricus
Murici Byrsonima crassifolia
Noni Morinda citrifolia
Pau-brasil Caesalpinia echinata
Pé-de-galinha Dactyloctenium aegyptium
Penicilina Alternanthera brasiliana
Picão Bidens alba
Pinhão-roxo Jatropha gossypiifolia
Pitanga Eugenia uniflora
Poejo Mentha pulegium
Quebra-pedra Phyllanthus niruri
Quiabo Abelmoschus esculentus
Romã Punica granatum
Rosa Branca Rosa alba L.
Saião Kalanchoe brasiliensis 26
5. RESULTADOS
5.2 Testes fitoquímicos em A. philoxeroides

Tabela 4. Resultados da Prospecção Fitoquímica dos extratos.


Metabólitos A. philoxeroides
EH EM
Saponinas +
Flavonóides - -
Alcalóides +
Esteróides +
Taninos +
EH: Extrato em hexano das partes aéreas; EM: Extrato em metanol das partes aéreas;
(+) resultado positivo, (-) resultado negativo, em branco= o extrato não foi testado.

27
5. RESULTADOS
5.2 Testes fitoquímicos em A. philoxeroides

Alcalóides:
- analgésico
- psicoestimulante
- antitumoral

Esteroides: Taninos:
- cardiotônico - antibacteriano
- antiinflamatório - estimulador de células
fagocíticas

Saponinas:
- expectorante 28

- diurética
5. RESULTADOS
5.3 Teste histoquímico para detecção de
alcalóides

Figura 3. Detecção histoquímica. Corte paradérmico do caule de A. philoxeroides:


coloração castanho escuro indicando presença de alcalóides.

Fonte: O autor (2018).

29
5. RESULTADOS
5.4 Ensaio de toxidade frente à Artemia
franciscana

 Valores acima 1000 μg/mL são considerados atóxicos;


 Ou seja, quanto menor a CL50, mais tóxico é o produto;

Extrato metanólico Extrato hexânico

CL50= 89, 25 μg/mL CL50= 118, 27μg/mL

30
6. CONSIDERAÇÕES FINAIS

 Conhecimento das comunidades quilombolas;


 Valorização e regate do saber tradicional;
 Os dados deste trabalho contribuem para futuras pesquisas sobre
plantas utilizadas para fins medicinais nas comunidades
estudadas;
 Continuidade da validação dos potenciais terapêuticos através da
avaliação de atividade biológica;
 Relato da espécie Alternanthera philoxeroides no Estado do RJ;
 Destaca-se resultado positivo para a detecção de alcalóides na
espécie;

31
6. CONSIDERAÇÕES FINAIS

32
REFERÊNCIAS
ALMEIDA, MZ. Plantas medicinais: abordagem histórico-
contemporânea. 2011.
AQUINO, D. et al. Nível de conhecimento sobre riscos e benefícios
do uso de plantas medicinais e fitoterápicos de uma comunidade do Recife
— PE. Revista de enfermagem UFPE on line. 2007 jul./set.; 1(1):107-110.
BRASIL. Certificação Quilombola. Fundação Cultural Palmares,
Governo Federal, 2019. Disponível em:
<http://www.palmares.gov.br/?page_id=37551>. Acesso em 21 de março de
2019.
BRASIL. Comunidades remanescentes de quilombos. Fundação
Cultural Palmares, 2016. Disponível em:
<http://www.palmares.gov.br/comunidades-remanescentes-de-quilombos-
crqs>. Acesso em 06 de novembro de 2017.
BRASIL. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do
Brasil - Art. 68 (ADCT). Brasília, DF: Senado Federal.
BRASIL. Ministério da Saúde. Política nacional de plantas medicinais e
fitoterápicos. Secretaria de Ciência, Tecnologia e Insumos Estratégicos.
Departamento de Assistência Farmacêutica. Brasília, 2006.
CALIXTO, João B. Biodiversidade como fonte de medicamentos.
Cienc. Cult., São Paulo , v. 55, n. 3, p. 37-39, Setembro. 2003 .
33
REFERÊNCIAS
FERREIRA, E. O.; DIAS, D. A. A methyllenedioxyflavonol from aerial
parts of Blutaparon portulacoides. Phytochemistry, v. 53, p.145-147, 2000.
JBRJ - Instituto de Pesquisas Jardim Botânico do Rio de Janeiro.
Amaranthaceae in Flora do Brasil. Jardim Botânico do Rio de Janeiro, 2014.
Disponível em:
<http://floradobrasil.jbrj.gov.br/reflora/floradobrasil/FB4301>. Acesso em:
28 Mar. 2019.
JBRJ - Instituto de Pesquisas Jardim Botânico do Rio de Janeiro.
Alternanthera in Lista de Espécies da Flora do Brasil. Jardim Botânico do
Rio de Janeiro, 2014. Disponível em:
<http://floradobrasil.jbrj.gov.br/jabot/floradobrasil/FB15403>.Acesso em: 28
Mar. 2019.
LORENZI, H.; MATOS, F. J. A. Plantas medicinais no Brasil: nativas e
exóticas. Nova Odessa, São Paulo: Instituto plantarum de estudos da flora
LTDA, 2 ed., 2008.
MARTIN, G, J. Ethnobotany: a methods manual. World Wide for Found
Nature, Cambridge, pag. 285, 1995.
OLIVEIRA, C. J; ARAÚJO, T. L. Plantas medicinais: usos e crenças de
idosos portadores de hipertensão arterial. Revista Eletrônica de
Enfermagem, v 9, p. 93 – 105, 2007. Disponível em:
<http://www.fen.ufg.br/revista/v9/n1/v9n1a07.htm>. Acesso em 2 de julho
de 2018.
34

Você também pode gostar